INTERPRETAÇÕES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA … · Espera a cura do mal E a loucura finge...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE HISTÓRIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL DANILA CARRIJO INTERPRETAÇÕES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA EM GRUPO DE APOIO FRANCA 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA F ILHO”

FACULDADE DE HISTÓRIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL

DANILA CARRIJO

INTERPRETAÇÕES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL

SISTÊMICA EM GRUPO DE APOIO

FRANCA

2008

DANILA CARRIJO

INTERPRETAÇÕES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL

SISTÊMICA EM GRUPO DE APOIO

Dissertação apresentada à Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como requisito ao Título de Mestre em Serviço Social. Área de Concentração: Serviço Social: Trabalho e Sociedade Orientadora: Profª Drª Íris Fenner Bertani

FRANCA

2008

Carrijo, Danila Interpretações da hipertensão arterial sistêmica em grupo de apoio / Danila Carrijo. –Franca : UNESP, 2008. Dissertação – Mestrado – Serviço Social – Faculdade de História, Direito e Serviço Social – UNESP. 1.Serviço Social – Saúde pública – Brasil. 2.Hipertensos – Qualidade de vida.

CDD – 362.10981

DANILA CARRIJO

INTERPRETAÇÕES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL

SISTÊMICA EM GRUPO DE APOIO

Dissertação apresentada à Faculdade de História, Di reito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita F ilho”, como requisito ao Título de Mestre em Serviço Social. Área de Concent ração: Serviço Social: Trabalho e Sociedade.

BANCA EXAMINADORA

Presidente: ________________________________________ _________________

Profa. Dra. Íris Fenner Bertani

1ª Examinadora: ____________________________________ _________________

Profa. Dra. Cirlene Ap arecida Hilário de Oliveira - FHDSS/Unesp

2ª Examinadora: ____________________________________ _________________

Profa. Dra. Elaine Fon seca Amaral da Silva (InCor - HCFMUSP)

Franca, _____ de ________________ de 2008.

Dedico este trabalho aos meus pais, Leonaldo e Geralda, e aos meus irmãos,

Daniel e Débora, que, sem dúvida alguma, são o maior tesouro que possuo nesta

vida.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por não ter permitido minha desistência e ainda por ter me fortalecido a

seguir na caminhada até o fim,

À orientadora e amiga, Prof. Dra. Íris Fenner Bertani, que, com infinita paciência,

companheirismo, confiança e respeito, acreditou em mim, na realização deste

trabalho, estimulando de maneira decisiva a sua conclusão. Meus eternos

agradecimentos.

A todos os meus familiares, meus amigos e amigas, em especial à amiga Gisela,

Às assistentes sociais da Santa Casa de Franca e a toda a equipe do Centro de

Reabilitação,

A todos os sujeitos participantes desta pesquisa.

Paciência

Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calma Até quando o corpo pede Um pouco mais de alma

A vida não pára,

Enquanto o tempo Acelera e pede pressa

Eu me recuso faço hora Vou na valsa

A vida é tão rara,

Enquanto todo mundo Espera a cura do mal

E a loucura finge Que isso tudo é normal Eu finjo ter paciência,

O mundo vai girando Cada vez mais veloz

A gente espera do mundo E o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência,

Será que é tempo Que lhe falta prá perceber? Será que temos esse tempo

Prá perder? E quem quer saber?

A vida é tão rara Tão rara,

Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calma

Mesmo quando o corpo pede Um pouco mais de alma Eu sei, a vida não pára A vida não pára não,

Será que é tempo

Que lhe falta prá perceber? Será que temos esse tempo

Prá perder? E quem quer saber?

A vida é tão rara Tão rara...

(Lenine)

LISTA DE SIGLAS

AIS Ações Integradas de Saúde

AVC Acidente Vascular Cerebral

CAPS Caixas de Aposentadorias em Pensões

CEBES Centro Brasileiro de Estudo de Saúde

CGR Colegiado de Gestão Regional

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

CNS Conferências Nacionais de Saúde

CRSC Centro de Reabilitação Santa Casa

DRS VIII Departamento Regional de Saúde

FCCMF Fundação Civil Casa de Misericórdia de Franca

FMUSP Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

HAS Hipertensão Arterial Sistêmica

IAPS Institutos de Aposentadorias em Pensões

ICC Insuficiência Cardíaca Congestiva

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

InCor Instituto do Coração

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

OMS Organização Mundial de Saúde

PA Pressão Arterial

PNHAH Programa Nacional de Humanização no Atendimento Hospitalar PSF Programa Saúde da Família

RDNPM Reeducação do Desenvolvimento Neuro-Psico-Motor

RH Recursos Humanos

SBC Sociedades Brasileiras de Cardiologia

SNS Sistema Nacional de Saúde

SUDS Sistema Unificado Descentralizado de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

UBS Unidade Básica de Saúde

CARRIJO, Danila. Interpretações da hipertensão arterial sistêmica e m grupo de apoio . 2008. 96 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2008.

RESUMO

A trajetória da saúde pública brasileira é marcada por vários anos de prevalência do caráter curativo em suas ações, com o acesso restrito a uma minoria. O Sistema Único de Saúde, resultado de um longo período de lutas, revela direitos nunca antes contemplados pela população do país. Dentre uma diversidade de questões que merecem destaque na área de saúde, temos a Hipertensão Arterial Sistêmica, responsável por grande número de internações e por sérios prejuízos à qualidade de vida de seus portadores. No Centro de Reabilitação Santa Casa de Franca, em decorrência de um alto índice de hipertensos, criou-se um grupo de apoio ao controle da doença. Neste trabalho, apresentamos uma investigação com os participantes deste grupo. O objetivo foi o de conhecer as concepções individuais referentes a Hipertensão Arterial Sistêmica, relacionadas às causas e aos aspectos que dificultam o controle. Realizamos a coleta de dados utilizando a técnica de Grupo Focal e, para o tratamento dos relatos, foi empregada a análise de conteúdo. As interpretações da doença, elaboradas pelos sujeitos, representam a realidade vivenciada de uma forma mais concreta, demonstrando a leitura que fazem de sua morbidade, sendo esta uma possível influenciadora do controle e tratamento a serem realizados. Ressaltamos a importância de conhecer a realidade dos doentes, para assim serem elaboradas propostas de atuação, e entendemos que nossos grandes aliados são as práticas interdisciplinares pactuadas à humanização e à bioética. Palavras-chave: Serviço Social. saúde pública. controle da doença. grupo focal.

qualidade de vida.

CARRIJO, Danila. Interpretaciones de la tensión arterial sistemática en grupo de apoyo. 2008. 96 f. Disertación (Maestría en Servicio Social) – Facultad de Historia, Derecho y Servicio Social, Universidad Estatal Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Franca, 2008

RESUMEN La trayectoria de la salud pública brasileña ha sido marcada por el carácter curativo en sus acciones, con el acceso restringido a una minoría. El Sistema Único de Salud, resultado de un largo período de luchas, revela derechos que nunca habían sido reconocidos por la población del país. Entre una diversidad de cuestiones que merecen sobresalir en el área de la salud, tenemos la Tensión Arterial Sistemática, responsable del gran número de internaciones en nuestro país y por serios perjuicios a la calidad de vida de sus portadores. En el Centro de Rehabilitación Santa Casa de Franca, por cuenta de un alto índice de hipertensos, se ha creado un grupo de apoyo para el control de la enfermedad. En este trabajo, presentamos una investigación con los participantes de este grupo. El objetivo fue conocer las concepciones individuales que se refieren al Tensión Arterial Sistemática, relacionadas a las causas y a los aspectos que dificultan el control. Realizamos la colecta de datos utilizando la técnica de Grupo Focal y, para la recolección de los datos, fue empleado el análisis de contenido. Las interpretaciones de la enfermedad, elaboradas por los sujetos, representan la realidad experimentada una forma más concreta, demostrando la lectura que hacen su lentitud, siendo esta una posible influencia del control y tratamiento a ser realizado. Resaltando la importancia de conocer la realidad de los enfermos, para así elaborarse propuestas de actuación, y entendemos que nuestros aliados son las prácticas interdisciplinares pactadas a la humanización ya la bioética. Palabras clave : Servicio Social. salud pública. control de la enfermedad. grupo

focal. calidad de vida.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11

CAPÍTULO 1

SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL............................. ......................................................16

1.1 Reflexões sobre a Saúde no Brasil .............. ....................................................17

1.2 Abordagem Histórica da Relação Saúde-Doença .... ......................................25

1.3 A Hipertensão Arterial Sistêmica............... ......................................................28

1.4 Serviço Social e Saúde ......................... ............................................................31

1.4.1 Serviço Social na Fundação Civil Casa de Misericórdia de Franca .................36

CAPÍTULO 2

SAÚDE: ASPECTOS COMPLEMENTARES E SUA REALIDADE NO

MUNICÍPIO DE FRANCA ............................... .........................................................39

2.1 A Saúde em Franca .............................. .............................................................40

2.2 O Centro de Reabilitação da Fundação Civil Casa de Misericórdia

de Franca ......................................... ...................................................................41

2.3 Humanização .................................... .................................................................42

2.4 Interdisciplinaridade .......................... ...............................................................45

2.5 Bioética ...................................... .......................................................................49

2.6 O Grupo Controlando a Hipertensão.............. .................................................51

CAPÍTULO 3

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA............................ .................................................54

3.1 Perfil dos Sujeitos ............................ .................................................................55

3.2 Lócus da Pesquisa....................................... .....................................................58

CAPÍTULO 4

ANÁLISE DOS DADOS.................................. ..........................................................62

4.1 Identificação dos Sujeitos ..................... ...........................................................63

4.2 Percepções e Interpretações das Falas .......... ................................................64

4.2.1 Condições Emocionais .....................................................................................65

4.2.2 Questões Familiares ........................................................................................68

4.2.3 Dificuldades no Enfrentamento dos Limites Impostos por outras Doenças......69

4.2.4 Situação Sócio-Econômica...............................................................................70

4.2.5 Trabalho ...........................................................................................................71

4.2.6 Alimentação......................................................................................................73

4.2.7 Dificuldades para Agendamento de Consultas.................................................73

4.3 Dificuldades para Realização do Controle ....... ...............................................74

4.3.1 Tabagismo........................................................................................................75

4.3.2 Falta de Aderência ao Tratamento ...................................................................75

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... ......................................................77

REFERÊNCIAS .......................................................................................................83

APÊNDICES

APÊNDICE A - Formulário Utilizado para Levantamento do Perfil dos Sujeitos.....91

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclare cido ............................92

ANEXOS

ANEXO A - Prevenção e Tratamento da Hipertensão Art erial .............................94

ANEXO B - Tabela de Índice de Hipertensos .......... ..............................................96

INTRODUÇÃO

“Estou sempre fazendo coisas que não consigo, e é assim que faço

coisas” (Pablo Picasso).

As mudanças no pensar em saúde, iniciadas no final da década de

1970, com o movimento de Reforma Sanitária, e reconhecidas legalmente com a

promulgação do Sistema Unificado Descentralizado de Saúde (SUDS), traçam um

novo perfil referente à maneira de ver a saúde. Esta passa então a ser conceituada

não somente como a ausência de doenças, mas representada com uma amplitude

de aspectos, sendo um deles a questão da prevenção, raramente abordada em

práticas anteriores, que evidenciavam o curativismo. Esta foi uma conquista

consagrada pela Constituição de 1988, que estabelece as bases para a implantação

do Sistema Único de Saúde (SUS) atualmente vigente no país.

O SUS, instituído na década de 1990, inaugura uma nova etapa da

política de saúde brasileira, trazendo as concepções de universalidade e

descentralidade, sendo o Estado o seu provedor, sem a necessidade de contribuição

prévia para acesso, ressaltando-se ter sido esta uma característica historicamente

marcante na saúde.

Na Lei 8080/90, que dispõe sobre o SUS, temos:

Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social.

O Serviço Social tem presença significativa nesta área, onde a maioria

dos profissionais está inserida. O atendimento em ambulatórios hospitalares

caracteriza-se como uma rica possibilidade, no sentido de que proporciona

oportunidades de atuação, com trabalhos diversificados, sobretudo, quando estes

contam com a participação de uma equipe multiprofissional.

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma doença crônica que

anualmente leva grande número de pessoas à morte e, quando isto não ocorre,

muitas se tornam portadoras de seqüelas, devido às suas conseqüências. Atinge a

todas as classes sociais e possui a multicausalidade como característica

intrínseca.

As diversas conseqüências da hipertensão arterial atribuem a esta a

participação na origem das doenças cardiovasculares; portanto, caracterizando-a

como uma das causas de maior redução da qualidade e expectativa de vida dos

indivíduos. No Brasil, as doenças cardiovasculares são responsáveis por grande

parte dos óbitos, sendo também identificadas como as mais freqüentes causas de

hospitalizações do setor público.

Na maioria dos casos, há a possibilidade de controle da doença, com

condutas adequadas a serem seguidas e o uso de medicação que, entretanto, não

acarretarão limites de grande relevância na rotina diária dos portadores; assim, o

hipertenso poderá ter uma vida praticamente normal. É neste aspecto que

percebemos a importância de um trabalho preventivo

Diante da problemática da hipertensão arterial, julgamos ser

pertinente uma investigação na qual fosse possível conhecer o universo dos seus

portadores, seu ponto de vista e os aspectos que para os mesmos estivessem

dificultando o controle da doença. Entendemos que as representações pessoais

sobre uma determinada doença demonstram a realidade vivenciada pelos

portadores de uma forma mais concreta, caracterizando a leitura que fazem de

sua morbidade, sendo esta uma possível influenciadora do controle a ser

realizado, caso seja equivocada.

A identificação dos aspectos mencionados acima poderá auxiliar na

busca de alternativas preventivas, ao oferecer subsídios para a formulação de novas

propostas na área da HAS. Este trabalho, portanto, apresenta tais aspectos, com

um recorte em um grupo de orientações sobre a hipertensão arterial.

As atividades preventivas vão ao encontro da proposta apresentada na

lei 8080/90. Dentre estas podemos citar os grupos, campanhas e semanas.

Contudo, a elaboração das mesmas sem o prévio conhecimento da realidade em

questão, provavelmente, não trará resultados satisfatórios.

A implantação de medidas preventivas deve ocorrer após a

identificação dos fatores que podem vir a provocar o aparecimento da doença e é

por este fato que optamos por uma pesquisa qualitativa, pois, se fosse realizada

uma análise quantitativa, o conhecimento das “particularidades”, que são os fatores

de interesse centrais desta investigação, seria prejudicado.

A pesquisa qualitativa presta grande contribuição neste tipo de

trabalho, e a abordagem adotada possibilitou a captação de aspectos subjetivos da

realidade social. A técnica de grupo focal é pertinente, por tornar possível conhecer

o universo de referência dos portadores da HAS, significando a oportunidade de

aprender como as pessoas efetivamente pensam sua doença, no seu cotidiano, e a

expressam em rodas de conversa, quando compartilham experiências comuns, de

uma maneira mais descontraída do que em uma entrevista formal. Ressaltamos que

o referencial teórico adotado para a análise das informações obtidas em nossas

entrevistas foi o materialismo histórico dialético, por permitir o entendimento da

realidade a partir de suas próprias contradições e em constante transformação de si

mesma e dos sujeitos que a escrevem.

A Fundação Civil Casa de Misericórdia de Franca foi um local em que

pude vivenciar uma intensa experiência dentro do Serviço Social, referente às

questões da área de saúde, o que muito me encantou e que me despertou várias

indagações profissionais. Uma das mais significativas surgiu enquanto assistente

social da equipe do Centro de Reabilitação Santa Casa (CRSC), no desenvolvimento

do grupo de apoio “Controlando a Hipertensão”.

Durante o período de atuação profissional no CRSC, foram diversos os

encontros do grupo “Controlando a Hipertensão”, e entendemos que tal fato

possibilitou desvendar a dinâmica dos mesmos e, assim, estruturar a metodologia a

ser utilizada na atual investigação.

A realização deste trabalho propiciou momentos de grande satisfação,

por ter tornado possível meu retorno ao grupo, uma vez que a pesquisa ocorreu em

ocasião em que eu não mais atuava profissionalmente no ambulatório.

A presente dissertação conta com quatro capítulos. No primeiro,

procuramos abordar os aspectos relacionados à saúde no Brasil, apresentar dados

referentes a atuação do Serviço Social nesta área e conceituar a hipertensão

arterial sistêmica, doença identificada como tema central deste trabalho.

No segundo capítulo, apresentamos dados referentes ao lócus de

nossa pesquisa e pontuamos aspectos relacionados à interdisciplinaridade,

humanização e bioética que, em nossa opinião, são imprescindíveis à proposta de

saúde do SUS, por entendermos que estão estreitamente ligados e se

caracterizarem como complementares e inerentes à prática na área de saúde.

No terceiro capítulo, abordamos todos os passos seguidos na trajetória

metodológica, detalhando, assim, o transcorrer dos grupos pesquisados e as

intercorrências observadas.

No último capítulo, estão os resultados de nossa investigação, em que

pontuamos as reflexões que julgamos relevantes diante dos dados, embora

reconheçamos nossa limitação ao tratá-los, diante da amplitude e riqueza dos

mesmos.

No decorrer deste trabalho, optamos por utilizar os termos hipertensão

arterial e HAS, pelo fato de estes serem os usualmente empregados ao se tratar do

assunto.

CAPÍTULO 1

SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL

“Nada é permanente no mundo, exceto sua constante transformação”

(Heráclito).

1.1 Reflexões sobre a Saúde no Brasil

Propomos algumas reflexões acerca da Saúde no Brasil com um

recorte após 1930, período no qual se inicia a intervenção do Estado. Foram

retomados alguns aspectos históricos; todavia, por ser este um tema susceptível de

profundas e inúmeras análises que emergem ao se tratar do mesmo, buscamos uma

contextualização.

O direito à saúde, que no Brasil esteve ligado em suas origens à

Previdência Social, surge como uma questão social através de uma política de

caráter nacional, com divisão entre setores de saúde pública e o de medicina

previdenciária.

Em 1923, através de uma iniciativa do Poder Central, foram criadas as

Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPS), com a finalidade de prestação de

benefícios (pensões e aposentadorias) e assistência médica aos seus filiados e

dependentes. Destinaram-se primeiramente às empresas de estradas de ferro e são

consideradas como uma primeira modalidade de seguro para trabalhadores do setor

privado, embora saibamos que desde 1919 já existia o seguro de acidentes de

trabalho.

As CAPS eram financiadas pela União, empresas empregadoras e

empregados e possuíam um caráter puramente assistencial. Desde então

observamos algumas características marcantes da saúde em nosso país, que não

ocupava um patamar de direito e dever do Estado, uma vez que somente aqueles

que estavam inseridos no mercado formal tinham acesso à mesma e o enfoque

curativo sobrepondo-se ao preventivo.

Outros traços também marcam o sistema previdenciário brasileiro: a

instituição pelo Estado de um seguro social com caráter controlador, a forma

tripartite de financiamento (empregadores, trabalhadores e Estado) e o acesso do

trabalhador e seus dependentes à assistência médica na condição de filiado ao

seguro social por categoria profissional.

Nos anos entre 1933 e 1938, as CAPS foram sendo unificadas e

absorvidas pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS), que englobavam

vários segmentos de trabalhadores: comerciários, bancários, industriários, etc. A

característica mais marcante é a de serem nacionais e contarem com a presença

direta do Estado.

O contexto brasileiro, de 1930 até 1945, caracteriza-se pela existência

de saúde pública e medicina previdenciária (BRAVO; MATOS, 2004). A primeira

exerce domínio até meados de 1960, havendo assim uma presença marcante das

campanhas sanitárias, serviços de combate às endemias1, com uma interiorização

das ações para o atendimento das áreas rurais.

Os anos de 1950 foram marcados pelo modelo desenvolvimentista e

constata-se o aprofundamento das dicotomias existentes entre a atenção médica

curativa e medidas preventivas de caráter coletivo, caracterizando uma oposição

entre serviços públicos e privados de saúde. No período da ditadura militar, os

problemas estruturais do país se agravaram, sendo a intervenção estatal

caracterizada como repressão-assistência (BRAVO; MATOS, 2004).

A criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) data de

1966, quando foi unificado todo o sistema previdenciário até então existente.

Configura-se em um aprofundamento do perfil assistencialista da Previdência Social

e ênfase nos serviços médicos (COHN et al, 1991), sem o controle das classes

assalariadas. É caracterizado como uma modernização da máquina estatal, que

acarretou uma reorientação das relações entre Estado e as classes trabalhadoras.

A articulação da Previdência com o setor privado se sucedeu a partir

da compra de serviços médicos, por meio do credenciamento pelo INPS dos

serviços privados, para o atendimento de pacientes segurados. Alguns anos mais

tarde, o INPS tornou-se o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência

Social (INAMPS).

Através dele a Previdência substitui seus próprios serviços pelo

atendimento oferecido em hospitais particulares. Houve então uma lógica de

favorecimento ao setor privado de assistência médica.

Esse processo de privatização da esfera pública, não exclusivo da saúde, tem como conseqüência o prevalecimento da lógica do lucro e da capitalização nos investimentos do setor. Em decorrência, constata-se hoje uma distribuição fortemente desigual dos equipamentos de saúde no país [...] (COHN et al, 1991, p. 18).

1 Entende-se por endemia uma doença própria de determinada região, na qual ocorre constantemente.

O período compreendido entre 1968 e 1974 é caracterizado pela

inexistência de planejamentos ou planos de saúde globais em um sentido rigoroso.

O que ocorreu foi a integração de programas setoriais destinados à atenção médica,

sob a proteção da previdência social, que, partindo de um conjunto de regulamentos,

organizou o funcionamento e financiamento dos mesmos.

O Sistema Nacional de Saúde (SNS), estabelecido em 1975, teve

como intuito disciplinar e articular os órgãos atuantes no setor de saúde. Com isto a

Previdência se viu obrigada a cortar gastos, o que ocasionou a diminuição nos

valores dos serviços comprados e, conseqüentemente, a diminuição da qualidade

dos serviços oferecidos à população.

O movimento sanitarista emergiu no final da década de 1970 e contou

com a participação de profissionais de saúde, estudantes, intelectuais, lideranças

políticas e sindicais. Almejavam a democratização da saúde, com a construção de

um projeto que ficou conhecido como a Reforma Sanitária, que se apresentava

crítico a uma dimensão individual, pensando uma prática de saúde na qual houvesse

uma dimensão social da doença.

Deste modo, colocaram em debate as ações de saúde existentes até

então no país. Neste período, buscou-se a formulação de propostas que pudessem

viabilizar o reconhecimento da saúde como um direito de todos e definir o papel do

Estado na prestação de tal serviço.

A Reforma Sanitária possui uma posição de destaque no panorama

histórico da saúde brasileira, pois trouxe as idéias de democratização do acesso,

universalidade das ações, descentralização e controle social. Tais princípios

defendidos pela Reforma Sanitária foram a base para nosso sistema atual de saúde.

Essas proposições nucleares ao movimento repousam seus princípios articuladores na estatização dos serviços de saúde, na constituição do Sistema Único de Saúde, na descentralização, na universalização e na equidade do direito a saúde, em que pesem, sempre, as distintas interpretações sobre cada um desses aspectos (COHN et al, 1991, p. 23).

A década de 1980, se por um lado experimentava o fim da ditadura

militar e assim um processo de democratização política, por outro, vivenciou uma

profunda e prolongada crise econômica. Buscou-se, nesse período, consolidar o

processo de expansão da cobertura assistencial, que havia sido iniciado no final da

década de 1970, para que fossem atendidas às proposições formuladas pela OMS

na Conferência de Alma-Ata (1978), que preconizava "Saúde para todos no ano

2000", enfocando, sobretudo, o nível da atenção primária.

Em 1983 surgem os primeiros convênios das Ações Integradas de

Saúde (AIS), envolvendo os Ministérios da Previdência e da Saúde e as Secretarias

Estaduais e Municipais. Com as AIS, percebe-se a existência de estratégias que

almejavam a descentralização da saúde.

[...] as AIS institucionalizam um novo padrão de relação entre a Previdência Social e os setores públicos da saúde - estadual e municipal -, na medida em que criam mecanismos de repasse de recursos para essas instâncias que passam a ser responsáveis pelo atendimento médico individual da população previdenciária (COHN, 2003, p. 46-47).

Com a promulgação da Lei 6229 2, intensificam-se no país as

discussões relativas à criação do Sistema Nacional de Saúde, ocorrendo algumas

Conferências Nacionais de Saúde (CNS) com o intuito de analisar e definir quais as

mudanças que surgiriam no novo sistema.

A VIII Conferência de Saúde, ocorrida no ano de 1986 e que pode ser

considerada um marco histórico de grande relevância na política pública de saúde

no Brasil, conceituou a saúde interligada a direitos sociais como alimentação,

moradia, emprego e outros. Contou com grande participação popular; nela foi

aprovada a Reforma Sanitária.

O Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) foi

transformado em decreto em 20/07/87. Como o próprio nome já diz, buscou a

descentralização da saúde. Havia a preocupação, em seu estatuto, com a expansão

e fortalecimento do setor estatal em níveis federal, estadual e municipal.

Foram as modificações ocorridas na década de 1980 que contribuíram

para a promulgação da Constituição Federal, em 05 de outubro de 1988, a qual

trouxe avanço significativo ao sistema de proteção social, que é a universalidade em

relação ao direito à saúde a todos os cidadãos, contribuintes ou não do sistema;

2 Em 1975 a Lei 6.229 organiza o Sistema Nacional de Saúde e estabelece as principais

competências das distintas esferas de governo. Essa organização tinha forte característica centralizadora no nível federal e nítida dicotomia entre as ações coletivas (competência do Ministério da Saúde) e individuais (competência do Ministério da Previdência e Assistência Social), o que fazia com que não se estabelecesse um comando único em cada esfera de governo. No nível federal, além das competências do Ministério da Previdência e Assistência Social e do Ministério da Saúde, também se definiam competências para os Ministérios da Educação, do Trabalho e do Interior.

portanto, a eqüidade ao acesso. Os artigos que tratam da saúde em nossa

constituição são de 196 a 200.

O autor Paulo Eduardo Elias tece alguns comentários acerca do que é

apresentado pela constituição brasileira em relação à saúde.

Segundo este texto legal a organização do SUS deve obedecer às seguintes diretrizes: descentralização com a fixação das direções pelas esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal), atendimento integral que compatibilize as atividades preventivas e as assistências, e a participação da comunidade, difundida como controle social (no sentido daquele controle exercido pela sociedade) (ELIAS, 2003, p. 68, destaque do autor).

O princípio básico que regeu a proposta deste sistema foi a

possibilidade de um atendimento universalizado à medida que a saúde era

considerada um direito que, além de universal, deveria ser também gratuito,

hierarquizado segundo a complexidade do atendimento, e regionalizado conforme o

número de habitantes e o quadro de morbidade. Assim, prevê a estruturação do

Sistema Único de Saúde com uma proposta de acesso universal, igualitário e um

atendimento equânime.

Foi por meio da Seguridade Social que foi estruturado o Sistema de

Saúde no Brasil, destacando que seu tripé engloba Saúde, Assistência e

Previdência Social.

Na década de 1990, embora estando vigente o projeto neoliberal de

Fernando Collor de Mello, ocorre a regulamentação das Leis 8.080 e 8.142 3, que

são as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).

[...] a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício (art.2º parágrafo 1º). [...] o dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação (Titulo I, art. 2º). [...] são objetivos do Sistema Único de Saúde a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde com realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas (cap. I, art. 5º).

3 A Lei 8.080/90 disciplina a descentralização político-administrativa do SUS, enfatizando seus

aspectos de gestão e financiamento, e regulamentando as condições para sua promoção, proteção.

No contexto deste novo sistema, se considerarmos o discurso que é

apresentado, constatamos inúmeras mudanças em relação às políticas de saúde

anteriores; porém, na prática não se efetivou, como destaca Paulo Eduardo Elias

(2003, p. 68):

Não obstante o arcabouço legal mínimo da área da saúde estar praticamente concluído desde 1990, tornando-a a primeira, e até muito recentemente a única, dentre as áreas sociais a ter completa a sua regulamentação após a promulgação da Constituição, suas conseqüências não surtiram os efeitos previstos e desejados em grau e velocidade compatíveis com as exigências para a estruturação do SUS [...]

As inovações que surgiram em termos legais demonstraram novas

conquistas emergentes, e a implantação do SUS foi resultado de um grande período

de lutas. Contudo, ainda são insuficientes e precárias em decorrência de diversos

fatores, um destes, os investimentos em saúde, que, segundo Paulo Elias, no bloco

dos países em desenvolvimento (onde se concentra 78% da população mundial), no

qual está inserido o Brasil, são de apenas 10%.

Segundo o Banco Mundial, para 1990, os gastos mundiais em serviços de saúde alcançaram a espantosa cifra de US$ 1,7 bilhão, o equivalente a cerca de 8% do total do produto mundial, sendo que apenas 10% deste corresponde ao gasto dos países de renda per capita baixa e média. Baseado ainda no Informe sobre o Desenvolvimento Mundial, os dados de 1990 apontam que o grupo de países com economia de mercado consolidada concentram apenas 15% da população mundial e respondem por 87% do gasto mundial em saúde (ELIAS, 2003, p. 62, grifo do autor).

Diante de todas as dificuldades econômicas e sociais e por não estar

atendendo às normas do Banco Mundial, o Ministério da Saúde apresenta o

Programa Saúde da Família (PSF), em 1994, como uma proposta de reorganização

da atenção básica.

Mesmo com o neoliberalismo, a necessidade de intervenção do Estado

na saúde é reconhecida por seus defensores; porém, as divergências referem-se ao

questionamento de qual seria o papel do mesmo nesta área (ELIAS, 2003).

Ao se tratar da denominação Sistema Único de Saúde, Elias (2003)

traz algumas reflexões acerca do uso do termo sistema, destacando que este implica

a existência de partes articuladas que funcionem como estruturas organizadas.

Considera que as formas de reorganização do setor da saúde pautam-se na divisão

das responsabilidades entre o público e o privado.

No caso brasileiro, comenta que as competências das esferas federal,

estadual e municipal de certo modo são concorrentes, o que pode ser visto como

algo prejudicial à efetivação da descentralização do SUS. Para que o sistema

“funcione”, aponta o autor ser necessário que as políticas macroeconômicas se

articulem com as políticas sociais, principalmente com as da saúde e educação.

Deve-se, portanto, eleger como prioridade nacional o combate à pobreza e à

exclusão social (ELIAS, 2003).

O atendimento à saúde em nosso país é dividido em três níveis:

primário (unidades e postos de saúde), secundário (clínicas de especialidades) e

terciário (hospitais).

A realidade brasileira atual retrata um atendimento público concentrado

na atenção básica, e o privado, nos níveis secundários e terciários. No entanto, vale

ressaltar que os grandes hospitais onde há a presença de alta tecnologia, pertencem ao

setor público. Alguns exemplos a citar são o Instituto do Coração (InCor) do Hospital

das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e o

Hospital Sara Kubitscheck em Brasília. Verifica-se, também, que os principais

atendimentos de alta complexidade são custeados pelo Estado. Nesta lógica,

entendemos que o Estado caracteriza-se como o principal financiador da saúde.

No Brasil, considerando todo o território, há ainda uma distribuição

desigual dos serviços oferecidos, com um índice maior nos de atenção básica.

Algumas regiões, sobretudo do norte e nordeste, são um retrato de tal realidade. É

devido a esta questão que se explica grande número de pessoas que têm que se

deslocar de sua cidade ou até mesmo de seu estado de origem para receber o

atendimento necessário.

Dentre os hospitais privados, observamos que a maioria não é lucrativa

e verificamos a presença das “Santas Casas”, que é o caso da instituição onde foi

realizada a pesquisa, tema deste trabalho.

Para a efetivação do SUS, o Ministério da Saúde apontou alguns desafios:

[...] a incorporação da agenda ético-política da Reforma Sanitária; a construção de novos modelos de fazer saúde com base na integralidade, a intersetorialidade e a atuação em equipe; o estabelecimento da cooperação entre ensino-gestão - atenção; o controle social e a supressão dos modelos assistenciais verticais voltados somente para a assistência médica (BRAVO; MATOS, 2004, p. 40-41)

E como principais diretrizes são destacadas pelos autores “[...] a

ampliação do atendimento no SUS, de modo especial na atenção básica; o combate às

endemias; e a melhoria do acesso aos medicamentos.” (BRAVO; MATOS, 2004, p. 41).

Algumas estratégias que têm sido ressaltadas para a viabilização dos

objetivos e metas a serem alcançados são a política de educação para o SUS; a

capacitação continuada de conselheiros de saúde; o acesso à informação; a ênfase

na educação para saúde; a ampliação das contratações de diversos profissionais, o

fortalecimento do Programa Saúde da Família (BRAVO; MATOS, 2004, p. 41).

Observa-se que o SUS traz uma ampliação dos direitos, entretanto,

este não é claro ao vincular ou determinar as fontes responsáveis ao seu

financiamento. São observados avanços e recuos, estes últimos provavelmente

ocasionados pelo processo neoliberal vigente.

Uma questão relevante é o fato de o SUS pressupor a participação da

população, assegurando assim uma transparência das ações do mesmo. O controle

social consiste na participação da sociedade civil na elaboração, implantação e

fiscalização das políticas públicas, considerando o público como uma expressão do

conjunto das necessidades apresentadas pelos diversos segmentos da sociedade.

Com o propósito de facilitar a intervenção nas diversas áreas brasileiras,

considerando a dimensão do território nacional e as peculiaridades regionais, foi

instituído o Pacto pela Saúde, sendo então divulgado pela portaria n. 399, de 22 de

fevereiro de 2006. Este contempla o compromisso firmado entre as três instâncias

federativas de gestão do SUS e suas prioridades são: o pacto pela vida, o pacto em

defesa do SUS e o pacto de gestão.4

Os projetos de Reforma Sanitária e Privatista ainda se chocam nos

dias atuais. Entendemos, assim, que o processo histórico de saúde no Brasil tem

estreita relação com os interesses ideológicos, políticos e econômicos. Tais

características observadas são fatores presentes em uma sociedade capitalista, na

qual se prioriza o lucro, a acumulação de capital, e a hegemonia de uma classe

dominante em detrimento de interesses e necessidades da maioria da população.

Consideramos que o Art. 196 da Constituição Brasileira - “Saúde direito

de todos e dever do Estado” - apresenta uma grande conquista e, por si só, define

uma amplitude de compreensões, uma vez que traz a concepção da universalidade

4 Para um aprofundamento no tema, consultar a Portaria n. 399/GM de 22 de fevereiro de 2006,

disponível no site do Ministério da Saúde.

e da responsabilização do Estado. Não há mais, portanto, a exigência de outros

fatores para o acesso à saúde, como estar inserido no mercado de trabalho.

Especificamente sobre este artigo, atualmente verificamos que são

movidas várias ações judiciais, que buscam o atendimento de direitos que na prática

ainda não são concedidos, como exemplo, a distribuição gratuita de medicamentos

de alto custo não padronizados pelo SUS.

A saúde atualmente já é “entendida” por muitos como um direito

fundamental, havendo o compromisso com o acesso universal, equânime e integral

às ações e serviços; todavia, ainda constatamos que o curativismo supera os

esforços preventivos. Sabe-se, porém, que prevenir é “o melhor remédio” e um

exemplo está na Hipertensão Arterial, a qual, como veremos a seguir, acarreta

conseqüências muito sérias aos seus portadores, e evitá-las irá contribuir muito para

a qualidade de vida das pessoas e para a política de saúde do país, com redução de

gastos em tratamentos mais dispendiosos decorrentes deste problema.

Sabemos que ainda são necessárias várias conquistas para que se

efetive o que está documentado referente ao sistema de saúde brasileiro; que a

mudança não ocorre da “noite para o dia”. É um processo amplo e lento, porque

nele se observa a necessidade de que ocorra modificação no comportamento das

pessoas envolvidas.

Entretanto, mesmo considerando as falhas e lacunas existentes, os

avanços ocorridos nos últimos anos não podem ser menosprezados, pois,

retomando historicamente, verificamos que os mesmos são muito positivos,

constituindo direitos nunca antes contemplados.

1.2 Abordagem Histórica da Relação Saúde-Doença

[...] doença é um antigo acompanhante da espécie humana. Pesquisas paleontológicas revelam achados patológicos em antiqüíssimos restos fósseis e nas múmias egípcias: seqüelas traumáticas, evidências de doenças infecciosas e parasitárias (SCLIAR, 1987, p. 9).

A antropologia de saúde ou médica pode ser considerada como um

ramo da antropologia que possui como objeto de estudo a maneira como as

pessoas, em diferentes culturas e grupos sociais, explicam as causas referentes à

saúde e à doença, suas crenças no que se refere a tratamentos e quem devem

procurar quando doentes. Também é reconhecida como estudo das crenças e

práticas relativas ao corpo, seja nos estados de saúde como nos de doença.

Possui um desenvolvimento relativamente recente na academia,

cresceu nas últimas décadas, devido ao surgimento de um interesse por parte de

diversos profissionais atuantes na área de saúde em nosso país.

Os estudiosos deste tema referem algumas dificuldades, dentre elas, o

fato da literatura relacionada ao mesmo ser escrita em inglês ou francês (grande

parte dos estudos ocorre nos Estados Unidos, França, Inglaterra e Canadá).

Retomando alguns elementos sobre as morbidades no decorrer da

história, verificamos que a etiologia foi vista de diferentes maneiras. Os assírios e os

babilônios, por exemplo, acreditavam que as doenças eram causadas por demônios.

Já os hebreus as consideravam como o resultado de uma fúria divina,

desencadeada por pecados humanos.

Em passagens bíblicas, verificamos a lepra5 como algo muito

assustador, responsável pelo isolamento e discriminação dos portadores. Foi a

doença endêmica mais temida.

Os romanos, assim como os gregos, entendiam haver uma influência

ambiental na saúde. O mundo grego da era clássica pertencia ao apto e ao sadio,

todavia, as doenças eram presentes com uma expectativa de vida de somente trinta

anos. “O ser humano ideal era uma criatura equilibrada no corpo e na mente e, de

proporções definitivamente harmoniosas.” (SCLIAR, 1987, p.16).

Para os gregos, a cura era buscada através do uso de plantas e

métodos naturais, e não somente em procedimentos ritualísticos. Não obstante

esses povos desconhecerem a etiologia exata, utilizavam certas medidas ou práticas

preventivas que muitas vezes funcionavam.

Nos dias atuais, ainda verificamos práticas de cura, utilizadas por

muitas pessoas, baseadas em crenças.

Até a Renascença ou século XIX, a prática médica esteve

estreitamente ligada à cultura ou à época na qual estava inserida, sempre próxima a

uma superstição religiosa. Tal fato ocorreu antes de Hipócrates ou da chamada

5 Atualmente denominada de Hanseníase.

especulação filosófica. Na Renascença, temos um período de transição em que

práticas esotéricas já conviviam com o pensamento científico.

Hipócrates, considerado o pai da medicina, desenvolveu a observação

empírica, e dentre outros fatores, enfatizou a multicausalidade na gênese das

doenças. Os primeiros hospitais surgem no final da Idade Média.

Bacon foi quem trouxe a necessidade do questionamento da natureza

através do método científico, e foi por volta dos anos de 1800 que a medicina

passou a ser vista como uma ciência objetiva.

Pasteur, químico, em 1975 buscou estabelecer em princípios a

explicação da doença, destacando esta como uma infecção, cujas causas eram

exclusivas de uma invasão microbiana, sendo, uma etiologia exógena, ou seja, que

provém de uma causa externa. Tal teoria microbiana exerceu um papel de grande

relevância na saúde contribuindo para novas descobertas e tratamentos.

Abaixo pontuaremos apenas alguns dados referentes à obra

Antropologia da Doença do antropólogo francês Laplantine6 (1996). Nesta

encontramos vários sistemas de representações da experiência mórbida e

selecionamos alguns por considerarmos serem estes os mais pertinentes ao tema

abordado em nosso trabalho.

Em sua pesquisa, que ocorreu na França, Laplantine utilizou-se de

relatos médicos, de doentes e obras de escritores, ressaltando serem, essas últimas,

obras gerais, específicas e textos literários.

Em uma destas representações encontradas, a doença é vista como

maléfica, nociva e perniciosa, um mal absoluto. Já em outras, como algo benéfico,

no qual o indivíduo possa ter um ganho secundário (neste caso o autor exemplifica

com as dependências sociais ou subjetivas).

Outra representação identificada refere-se a uma abordagem

psicossomática. Nela considera-se o método endógeno, no qual o indivíduo seria o

participante, ou melhor, o responsável por sua doença, portanto, um estado mórbido

criado por ele.

Groddeck (apud LAPLANTINE, 1996) é quem radicaliza com seu

pensamento sobre a psicogênese das doenças. Ele declara que qualquer sintoma

6 Considerando não ser nosso objetivo central o de promover uma discussão, sobre esta temática.

Para maiores esclarecimentos sugerimos a consulta da obra completa “Antropologia da Doença”, do autor Laplantine.

não está alheio ao desejo do indivíduo, que todas as criações são endógenas. É de

responsabilidade do doente a gênese de seu estado mórbido; ele é o gerador

daquilo que lhe acontece.

Para Laplantine, uma tendência que prevalece na saúde é a biomédica

e não a sociomédica. Todavia, em sua obra, verificamos que o autor menciona que

alguns sujeitos atribuem causas sociais como desencadeadoras das doenças.

Havendo então uma postura sociogênica, a qual reconhece a grande influência dos

fatores sociais na etiologia das morbidades.

Agora que se sabe bem que a doença é o resultado físico e psíquico dos conflitos e das rebeliões contra o esquema imposto: familiar, social, econômico e político (se é que ela é apenas isso, o que ainda falta provar). (CARPENTIER apud LAPLANTINE, 1996, p. 72).

Minayo (1988, p. 379), nos diz que o sistema etiológico popular não é

unicausal, que se define através do pluralismo, que é holístico e que se articula com

as condições materiais da existência e as expressa. Para a autora, a visão de

saúde-doença da população se apóia nas suas condições reais de existência.

A medicina, vista somente como biomédica, demonstra uma

supervalorização do trabalho médico em detrimento da relevância da participação de

outros profissionais nos tratamentos. Desconsidera as condições dos indivíduos, sua

realidade e cultura. Contudo, veremos no próximo capítulo, questões que

demonstram o equívoco neste modo de pensar, que são a humanização,

interdisciplinaridade e bioética.

Apresentamos, muito brevemente, apenas a título ilustrativo, questões

relacionadas à etiologia das doenças. Defendemos que estas não podem restringir-

se à biogênese, à sociogênese, ou à psicogênese, todas têm a sua influência.

1.3 A Hipertensão Arterial Sistêmica

Ribeiro (1993, p. 45-46) diz que para a ciência médica moderna e para

o Estado, o doente é aquele portador de algum mal conhecido e classificado. Para

um indivíduo ser considerado doente, faz-se necessário que o mesmo tenha,

anteriormente, recorrido a um médico.

Ainda demonstra o autor que a ciência positiva vê a doença como um

resultado de desvios para mais ou para menos, acarretando assim as denominações

que comumente vemos: hiper ou hipo.

Consta que a primeira aferição experimental da pressão arterial foi feita

em 1711, por Stephen Halles, na Inglaterra, em um cavalo (LUNA, online).

Os primeiros aparelhos de medida datam do início do século XX,

inventados pelo italiano Riva Rocci. Os critérios para o diagnóstico da hipertensão

eram ainda muito variados.

Somente após 1950 é que surgiram os tratamentos medicamentosos

mais efetivos para a HAS.

Até o final da Segunda Guerra Mundial, não havia um consenso no que

se refere à redução da pressão arterial, ou seja, se tal fato seria ou não benéfico ao

ser humano, conseqüentemente, muitas mortes decorrentes de Insuficiência

Cardíaca Congestiva (ICC), coronariopatia, insuficiência renal e hemorragia cerebral.

Após 1960, diversos estudos demonstraram que a HAS reduziria de forma gritante a

expectativa de vida das pessoas.

Para conceituarmos esta doença, primeiramente é necessário

conhecermos o coração. Este órgão é considerado como uma “pequena bomba” de

valor vital à sobrevivência. É o responsável por bombear em média cinco litros de

sangue a cada minuto.

A circulação sangüínea é a responsável pela distribuição dos nutrientes

e do oxigênio para as células do corpo humano, o transporte de hormônios, defesa

imunológica e remoção das toxinas. Deste modo, verificamos ser ela indispensável

ao equilíbrio do organismo, vital para a manutenção da vida.

A pressão arterial é, portanto, a força com a qual o coração bombeia o

sangue através dos vasos e artérias. É determinada pelo volume de sangue que saí

do coração e a resistência que ele encontra para circular no corpo. A HAS, mais

conhecida por “pressão alta”, é um problema que atualmente atinge grande parte da

população mundial. Estima-se que uma em cada cinco pessoas no Brasil sofra desta

patologia, sendo que grande parte destas desconhecem serem hipertensas.

No Anexo B consta tabela, onde podemos observar dados referentes à

realidade brasileira em relação a esta doença.

Segundo Busato (2001, online), a Pressão Arterial (PA) será

considerada Hipertensão Arterial quando estiver acima de 140x90 mmhg (milímetros

de mercúrio) em adultos maiores de 18 anos, ao ser aferida após um repouso de

quinze minutos, confirmadas três vezes consecutivas e em várias visitas médicas.

Destaca, também, que uma PA normal ocorre quando a pressão sistólica (máxima)

não ultrapasse a 130 e a diastólica (mínima) for inferior a 85 mmhg.

A HAS é uma doença crônica, muitas vezes assintomática, que,

quando não tratada, acarreta conseqüências que atingem órgãos e sistemas de

variadas formas: infartos, hemorragias, cardiopatia isquêmica (angina), insuficiência

cardíaca, aneurisma de aorta, doença vascular periférica dos membros inferiores,

retinopatia, dentre outras.

Há estudos que comprovam que algumas pessoas apresentam maior

propensão à hipertensão, sendo estas as: obesas, diabéticas e negras.

Uma questão que merece ser destacada é de que o fato de um

indivíduo ter a pressão elevada em algumas ocasiões não quer dizer que o mesmo

seja hipertenso, pois há fatores que contribuem para a elevação da PA como as

atividades físicas, sono, alimentação, estado emocional ou stress. Deste modo, a

pressão pode subir a níveis bem altos, o que não significa que a pessoa seja

hipertensa. Essa elevação da pressão, porém, não dura e, no final do dia, os seus

valores podem até ter voltado ao normal.

A HAS caracteriza-se por sua “multicausalidade”, e os fatores

contribuintes para a mesma são, dentre outros:

[...] excesso de peso, sedentarismo, elevada ingestão de sal, baixa ingestão de potássio, consumo excessivo de álcool, no grupo com pressão limítrofe também contribuem para o aumento do risco cardiovascular as dislipidemias, intolerância à glicose e diabetes, tabagismo, menopausa e stress emocional (BUSATO, 2001, online).

Quanto as formas de tratamento, temos o tratamento medicamentoso e

não medicamentoso.7

Estudos realizados mostram que a HAS pode ser considerada como

um problema de saúde pública de grande dimensão. Informações sobre o

conhecimento desta doença para população, seu tratamento e formas de controle

devem ser priorizados.

Entendemos que a prevenção e o controle têm extrema relevância,

uma vez que as conseqüências são graves e acarretam grandes prejuízos à 7 Para aprofundamento no assunto vide Anexo A.

qualidade de vida dos portadores; portanto, há a necessidade de intervenção da

saúde pública, na tomada de medidas preventivas, que visem a abordagem geral

dos fatores de risco.

Uma vez instalado o problema, as medidas terapêuticas de controle da

doença podem ser realizadas pelo próprio paciente, desde que seja orientado para

esse fim, resultando o controle como uma medida preventiva dos “picos

hipertensivos” com suas graves intercorrências.

O dia 26 de abril é considerado o dia Nacional de Combate à

hipertensão, especificamente neste ano de 2008 o tema da campanha realizada foi

“Tratar a pressão alta é um ato de fé na vida” e contou com algumas parcerias, dentre

estas: Ministério da Saúde, rede de paróquias da Conferência Nacional dos Bispos do

Brasil (CNBB), e as Sociedades Brasileiras de Cardiologia, sendo comum a

distribuição de cartilhas com orientações sobre a doença, porque e como controlá-la.

Em relação a HAS, foram firmadas algumas portarias do Ministério da

Saúde, dentre estas, a Portaria n. 235/GM de 20 de fevereiro de 2001 e a Portaria nº

16/GM de 03 de janeiro de 2002 e o Plano de Reorganização da Atenção à

hipertensão arterial e ao Diabetes Mellitus.8

A experiência com grupos de apoio ao controle desta doença mostra

que há muitas pessoas que iniciam o tratamento e, após ocorrer a estabilização dos

níveis pressóricos, ou seja, quando estes encontram-se satisfatórios, abandonam-no.

1.4 Serviço Social e Saúde

A área de saúde é a que absorve número significativo de assistentes

sociais. Para Bravo (1996), tal fato deve-se à articulação da saúde com a produção e

reprodução de capital, sendo destinada aos assistentes sociais a atuação nas

instituições médicas em meio às tensões existentes entre uma demanda que

necessita de atendimento e os insuficientes recursos para a prestação dos mesmos.

8 Para a leitura do Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial, acessar o site do

Ministério da Saúde.

Entendemos ser relevante uma breve retomada do contexto histórico

do Serviço Social no âmbito da saúde na conjuntura brasileira.

Bravo e Matos (2004) apresentam algumas evidências significativas em

relação ao Serviço Social de 1930 a 1964. Embora nesse período conste que a área

de saúde ainda não se configurava como a que mais concentrava assistentes

sociais, o processo de formação já contava com disciplinas relacionadas à saúde.

A profissão apresentou um crescimento acentuado após 1945; neste

período, também observamos que a área de saúde passa então a ser a que mais

aglutina assistentes sociais e a influência americana substitui a européia, até então

presente.

Historicamente, a atuação profissional esteve voltada à prestação de

serviços clínico – assistencialistas, com ações muitas vezes destinadas à seleção

socioeconômica, triagem, encaminhamentos e aumento da rotatividade dos leitos

hospitalares.

A prática do assistente social inicialmente ocorreu com predominância

em hospitais e ambulatórios, sendo esta voltada ao Serviço Social de casos. Em

postos de saúde embora conste que estes existam desde a década de 20, os

profissionais somente foram inseridos após 1945. Na época a denominação mais

usual era a de Serviço Social Médico, a que comumente ainda é utilizada nos dias

atuais.

Para Bravo e Matos (2004), o motivo pelo qual o profissional foi

requisitado nessa área, dentre outros fatores, deve-se ao conceito de saúde definido

pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1948: “[...] saúde é o estado de

mais completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de

enfermidade.” Tal conceito apresenta um enfoque nos aspectos biopsicossociais, o

que, portanto, sugere a atuação de outros profissionais.

O assistente social enfatizou a prática educativa com intervenção normativa no modo de vida da “clientela”, com relação aos hábitos de higiene e saúde, e atuou nos programas prioritários estabelecidos pelas normatizações da política de saúde (BRAVO; MATOS 2004, p. 29, destaque do autor).

Muitos assistentes sociais priorizavam em suas ações o caráter

curativo nos hospitais. Os autores acima apresentam uma hipótese vinculada a esta

questão, que é o fato de este profissional, uma vez atuando na assistência

hospitalar, lidar com as contradições de um “sistema” excludente, que não supria às

necessidades da demanda.

Os interesses do capitalismo eram os que norteavam a ação

profissional, no qual o assistente social era solicitado para lidar com uma demanda

reprimida, inserida em uma política de saúde excludente.

Outra característica do Serviço Social foi uma ação voltada para o

atendimento de casos individuais sem procedimentos e técnicas do

Desenvolvimento de Comunidade.

Até final da década de 1970 a profissão demonstrava não provocar

ameaças à hegemonia conservadora. Parecia haver uma postura de neutralidade

por parte dos profissionais da área em relação à situação sócio-política do país,

destacando que ocorreram, após o golpe militar, algumas discussões referentes ao

tema “desenvolvimentista”.

Com a proposta da reforma sanitária, os profissionais de Serviço

Social, embora influenciados pela conjuntura da mesma, estavam passando por um

processo de revisão, no qual era negado o Serviço Social tradicional, executado

antes de 1980.

Nesta década, as mudanças foram caminhando para o que temos hoje,

ou seja, na relação da profissão com o marxismo. Todavia, consta que, nas ações

dos profissionais, as mudanças foram poucas, uma vez que os que participavam de

tal revisão eram normalmente os vinculados a universidades.

Se o Serviço Social cresceu na busca de fundamentação e consolidação teóricas, poucas mudanças consegue apresentar na intervenção. Sem dúvida, para se avançar hoje na profissão, faz-se necessário recuperar as lacunas da década de 80. E a intervenção é uma prioridade, pois poucas alterações trouxeram os ventos da vertente intenção de ruptura para o cotidiano dos serviços. Este fato repercute na atuação do Serviço Social na área de saúde. (BRAVO; MATOS, 2004, p. 34).

Embora o movimento de Reforma Sanitária tenha influenciado o debate

do Serviço Social, as autoras também consideram que na década de 90 o Serviço

Social continuava desarticulado da mesma. Nesta mesma década, também temos o

projeto neoliberal de Fernando Collor de Mello com o choque entre o projeto

privatista e o da Reforma Sanitária.

O projeto Privatista requisitou, e vem requisitando, ao assistente social, entre outras demandas: seleção socioeconômica dos usuários, atuação psicossocial por meio de aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos planos de saúde, assistencialismo através da ideologia do favor e predomínio de abordagens individuais (BRAVO; MATOS, 2004, p. 36).

Quanto ao projeto sanitário, este trouxe à profissão de Serviço Social,

O projeto da Reforma Sanitária vem apresentando como demandas que o assistente social trabalhe as seguintes questões: busca de democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde, atendimento humanizado, estratégias de interação da instituição de saúde com a realidade, interdisciplinaridade, ênfase nas abordagens grupais, acesso democrático às informações e estímulo à participação cidadã. (BRAVO; MATOS, 2004, p. 36).

Uma “marca” forte na área da saúde é o interesse, sobretudo do

Estado, de que o assistente social realize trabalhos de orientação, com uma atuação

voltada a alcançar o ajustamento dos pacientes às condições do seu tratamento, a

aceitação em relação às unidades e serviços de saúde existentes e disponíveis em

atendê-lo. Há, portanto, a necessidade de rompimento com este paradigma.

Nesta área cumpre ao profissional compreender os aspectos sociais,

econômicos e culturais que prejudiquem o processo saúde doença, de forma a

buscar alternativas para o enfrentamento de tais questões. É importante que haja

um comprometimento em estar articulando o projeto ético político da profissão com o

da Reforma Sanitária.

Assim, compreende-se que cabe ao Serviço Social - numa ação necessariamente articulada com outros segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único de Saúde (SUS) - formular estratégias que busquem reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito social à saúde, atentando para o fato de que o trabalho do assistente social na saúde que queira ter como norte o projeto ético político profissional tem que, necessariamente, estar articulado ao projeto da reforma sanitária (Matos 2003). Considera-se que o nosso código de ética apresenta ferramentas fundantes para o trabalho dos assistentes sociais na saúde. (BRAVO; MATOS, 2004, p. 43)

No âmbito da saúde, o assistente social é caracterizado muitas vezes

como um profissional de apoio ao médico e aos outros profissionais, e é posto a dar

uma resolutividade a situações em que aqueles não conseguem solucionar.

Contudo, o profissional deve estar atento para assim demonstrar que a problemática

existente “reside” em um âmbito maior.

Um exemplo de tal fato é o citado por Ana Maria Vasconcelos (2002),

no qual apresenta uma situação em que um paciente é atendido por um médico e

este lhe define o diagnóstico, prescreve o tratamento e o encaminha para uma

avaliação com nutricionista. Tal profissional, após avaliar o caso, prescreve a dieta

necessária. Todavia, o paciente por não possuir condições econômicas para adquirir

o medicamento prescrito, bem como a dieta, procura o assistente social, que na

ocasião não possui meios para o atendimento.

Diante de tal situação, o médico e o nutricionista são avaliados muitas

vezes como competentes, pois diagnosticaram e prescreveram, e o assistente

social? Como é visto nesta situação? A condição socioeconômica do paciente não

pode ser desconsiderada, o mesmo está inserido em uma sociedade desigual,

capitalista, e a circunstância vivenciada pelo mesmo deve ser concebida como um

problema de todos os envolvidos.

Na área de saúde o assistente social trabalha muitas vezes com

demandas imediatas e neste aspecto reside um desafio, o de atuar em dada

realidade sabendo que o “problema” encontra-se em um âmbito maior.

O assistente social deve ser cauteloso em sua ação, ter sempre claros

os princípios éticos da profissão, caso contrário, poderá ser visto como somente

aquele capaz de “apagar incêndios”, acionado sempre para resolver situações

emergenciais, que na realidade não consistem em apenas uma responsabilidade

sua.

Há uma separação visível entre os papéis dos profissionais que atuam

em hospitais e ambulatórios, o que poderia ser modificado a partir de uma

interligação entre as áreas, uma ação interdisciplinar.

O Serviço Social é uma profissão de caráter mediador, e o profissional

muitas vezes faz mediações entre o usuário e a instituição, usuário e os

profissionais; entre a realidade das políticas de saúde existentes e as condições

estruturais das instituições, dentre outros.

É importante destacar que uma doença surge em um “meio social” e

influencia tanto o paciente quanto seus familiares. O assistente social, a partir desta

realidade, utiliza-se de metodologia própria, na busca de propostas de resoluções

para a problemática ocorrente.

A presença de um caráter educativo é de grande relevância, sendo o

assistente social um dos principais responsáveis por orientar a população quanto

aos direitos sociais que possuem. Portanto, o profissional tem um importante papel

na busca da efetivação do que consta na proposta do SUS e na promoção da saúde

e qualidade de vida.

A atuação com portadores de hipertensão arterial muitas vezes ocorre

com tal profissional assumindo um papel de integrante de equipe multiprofissional.

1.4.1 Serviço Social na Fundação Civil Casa de Misericórdia de Franca

Na Fundação Civil Casa de Misericórdia de Franca (FCCMF), o Serviço

Social foi implantado há mais de trinta anos. Inicialmente, havia uma profissional

contratada para dar assessoria à “distância” a uma estagiária de Serviço Social 9.

Posteriormente, após o processo de implantação, durante vários anos

a instituição continuou a contar com apenas uma profissional. Houve mais uma

contratação e por um longo período a instituição contou com duas assistentes

sociais, sendo uma responsável pela área de Recursos Humanos (RH), e outra

responsável pelo atendimento aos pacientes em geral.

Quanto ao processo de implantação, salienta-se que, ao o retomarmos

historicamente, verificamos que a necessidade de contratação de um assistente

social foi impulsionada pelo fato de que haveria um acréscimo no repasse de verbas

do Estado por cada paciente atendido.

Esta é uma situação ainda freqüente, em que as contratações dos

profissionais da área muitas vezes ocorrem mediante uma exigência estatal e não

um reconhecimento por parte das instituições. No ano de 2002, foi o que também

aconteceu no Centro de Reabilitação Santa Casa (CRSC), local onde se realizou

nossa pesquisa. A profissional foi contratada mediante a exigência do Ministério da

Saúde de que o Serviço Social compusesse o quadro dos profissionais da equipe

multidisciplinar.

Assim, houve uma ampliação no quadro e a assistente social

responsabilizava-se pelo atendimento no complexo hospitalar da FCCMF, composto

pelo Hospital do Câncer, Hospital do Coração e CRSC.

9 Já abordamos o histórico do Serviço Social na Fundação Civil Casa de Misericórdia de Franca em

trabalho de conclusão de curso. Para maiores esclarecimentos consultar Carrijo e Lisboa (2001)

Atualmente, a equipe é composta por seis assistentes sociais, sendo

que quatro atuam na Santa Casa, e duas, no complexo hospitalar. Havendo,

também, estagiários da área.

Em contato realizado com as assistentes sociais da FCCMF, foram

informadas as atividades desenvolvidas pelo setor, sendo estas apresentadas a

seguir.

- Ouvidoria, que objetiva oferecer a oportunidade de comunicação entre

a instituição e o usuário e avaliar o nível do atendimento hospitalar;

- Datas e eventos comemorativos, com o objetivo de informar sobre a

importância da data em questão e proporcionar atividades que visem ao acolhimento

e à humanização do atendimento;

- Sala de plantão, busca-se informar, orientar e encaminhar conforme

as necessidades dos usuários. Dentre as atividades oferecidas, há o atendimento do

público em geral (interno e externo), tabulações e arquivos, ligações telefônicas,

elaboração de relatórios, providências relativas ao transporte de usuários,

localização de família, agilização de “alta problema”, dentre outros;

- Busca Ativa, realizada nas clínicas da Santa Casa, para elucidar

situações sociais que emergem no período de internação. Há entrevistas com os

usuários em seus quartos, objetivando alcançar uma humanização do atendimento,

investigar e identificar casos sociais com possíveis problemas. São realizados

contatos com familiares, colaterais e recursos da comunidade, visando, assim

proporcionar uma internação satisfatória ao usuário.

- Visitas ao leito, também ocorrem nas clínicas, buscando oferecer

apoio, orientações e encaminhamentos, quando necessário.

Dentre alguns projetos em desenvolvimento ou já desenvolvidos,

citaram:

- Cuidando de quem Cuida, realizado nas diversas clínicas da

instituição, é direcionado aos cuidadores, almejando capacitá-los e contribuir para a

qualidade de vida dos mesmos e dos pacientes, diminuir o índice de reinternação

hospitalar e orientar quanto a recursos municipais existentes;

- Acolher, realizado na clínica de psiquiatria, objetivando acolher,

orientar e refletir com os familiares dos pacientes internados no setor, acerca das

questões sociais que envolvem o portador de doença mental;

- Cordão Umbilical, busca propiciar às mães uma reflexão sobre

aspectos emocionais, físicos e legais que envolvem a maternidade;

- Acolhimento aos Acompanhantes, propõe refletir com os usuários

sobre as normas e rotinas do hospital e orientar quanto a diretos e recursos

municipais;

- Brinquedoteca, realizado na pediatria, desenvolve atividades de

relaxamento e entretenimento e busca propiciar a interação sócio-educativa entre

crianças e seus acompanhantes;

- Assistência Humanizada ao Recém Nascido de Baixo Peso,

desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica e unidades

neonatais. Busca conhecer a realidade sócio-econômica da família, identificar e

apoiar as situações de risco social, informar os familiares sobre seus direitos e

deveres, orientar e incentivar quanto ao Método Canguru10;

- Conheça seus Direitos, realizado no Hospital do Câncer, direcionado

aos pacientes e familiares com orientações quanto aos direitos sociais existentes

buscando promover um espaço de acolhimento aos mesmos onde possam

esclarecer dúvidas;

- Normas e Rotinas, realizado no CRSC, orienta pacientes e familiares

quanto às normas e rotinas do local, esclarece dúvidas, proporcionando um

acolhimento aos pacientes que irão iniciar seu tratamento;

- Grupo de Apoio Psico-Social, realizado no CRSC, direcionado aos

pacientes que enfrentam dificuldades psicossociais, desencadeadas pelo processo

de adoecimento;

- Controlando a Hipertensão, um grupo direcionado aos portadores de

HAS que freqüentam o CRSC. Caracteriza-se como o lócus de nossa pesquisa e

será descrito detalhadamente no próximo capítulo.

Os instrumentais relatados pelas profissionais da instituição foram:

avaliação social, reuniões, grupos, relatórios, encaminhamentos, pesquisa, dentre

outros.

10 O Método Mãe-Canguru surgiu como uma alternativa em que a assistência tradicional não fosse

possível. A prática foi implantada em 1979, na Colômbia e consiste no contato pele a pele entre a mãe e o bebê, incentivado desde o nascimento, sendo a criança colocada entre as mamas da mãe. Aplicada a recém nascidos de baixo peso, e considerada como uma alternativa muito defendida, pois contribui que ocorra uma alta hospitalar mais rápida e, assim, benefícios para a mãe e o bebê.

CAPÍTULO 2

SAÚDE: ASPECTOS COMPLEMENTARES E SUA REALIDADE NO

MUNICÍPIO DE FRANCA

“É melhor tentar e falhar, que se preocupar e ver a vida passar;

é melhor tentar, ainda que em vão, que se sentar fazendo nada até o final.

Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder.

Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver "

(Martin Luther King).

2.1 A Saúde em Franca

A cidade de Franca localiza-se na região nordeste do estado de São

Paulo, com aproximadamente trezentos e cinqüenta mil habitantes. Sua economia

central destina-se ao setor calçadista masculino.

Especificamente em relação ao atendimento em saúde na cidade, é

oferecido nos níveis primário, secundário e terciário. O atendimento no nível primário

é aquele que busca prevenir o desenvolvimento ou agravo de doenças na

população, assim temos o Programa Saúde da Família (PSF) e as Unidades Básicas

de Saúde (UBS). No nível secundário, temos os atendimentos especializados e, no

nível terciário os atendimentos de alta complexidade. Ressalta-se que na FCCMF o

serviço oferecido se dá nos níveis secundário e terciário. No local onde realizamos

nossa pesquisa, o CRSC, podemos referir o atendimento como terciário.

Abaixo apresentamos sinteticamente alguns dados referentes à

situação da saúde no município.

Franca pertence ao Departamento Regional de Saúde VIII (DRS), com

área de abrangência que compreende uma região com vinte e dois municípios,

sendo estes divididos em três colegiados. Franca é a sede do colegiado ao qual

pertence.

A divisão ocorre de acordo com a regionalização das cidades, vejamos:

- Colegiado Três Colinas, composto pelos municípios de Franca, São

José da Bela Vista, Restinga, Ribeirão Corrente, Cristais Paulista, Jeriquara, Rifaina,

Pedregulho, Itirapuã e Patrocínio Paulista.

- Colegiado Alta Anhanguera, composto pelos municípios de São

Joaquim da Barra, Ipuã, Morro Agudo, Nuporanga, Orlândia e Sales Oliveira.

- Colegiado Alta Mogiana, composto pelos municípios de Ituverava,

Aramina, Buritizal, Guará, Igarapava e Miguelópolis.

O colegiado de gestão regional (CGR) caracteriza-se como instância

de negociação, articulação e decisão quanto aos aspectos operacionais do SUS no

âmbito regional de saúde, constituindo-se num local de permanente negociação.

Propõe um espaço de decisão através da identificação, definição de prioridades e de

pactuação de soluções para organização de uma rede regional de ações e serviços

de atenção à saúde, integrada e resolutiva.

Quanto aos serviços no município de Franca direcionados ao

atendimento dos portadores de HAS, segundo dados obtidos, há o Programa de

Controle da Hipertensão, no qual são realizados diagnósticos clínicos, verificação de

PA de usuários, visitas domiciliares, acompanhamento ambulatorial, fornecimento de

medicamentos, realização de exames de eletrocardiograma, ações educativas,

grupo de hipertensos nas unidades do PSF e orientações individuais e coletivas.

2.2 O Centro de Reabilitação da Fundação Civil Casa de Misericórdia de Franca

A Fundação Civil Casa de Misericórdia de Franca (FCCMF) constitui

um setor privado não lucrativo. Vincula-se ao SUS por meio de um contrato de

prestação de serviços com atendimento da população de Franca e região.

Retomando aspectos históricos11 da FCCMF, verificamos que o seu

Livro de Atas número um registra que a primeira reunião da diretoria ocorreu no dia

02/01/1897, constando nesta que em 04/07/1894 “nasceu” o hospital Santa Casa de

Misericórdia de Franca.

O CRSC compõe seu complexo hospitalar; foi criado em julho do ano

de 2002 e caracteriza-se por oferecer um atendimento multiprofissional: assistente

social, enfermeira, fisioterapeutas, fonoaudióloga, médicos (fisiatras), nutricionista,

psicóloga, técnicas em Enfermagem e terapeuta ocupacional.

O Serviço de Fisioterapia da FCCMF existe há vários anos, porém

contava com a presença do fisioterapeuta, médico e auxiliares de fisioterapia; a

ampliação da equipe profissional somente ocorreu com a criação do CRSC. A

proposta para a elaboração do centro baseou-se nos moldes do serviço existente na

FMUSP.

O CRSC oferece atendimento à população que necessita de

reabilitação física, mediante encaminhamento médico dos serviços de saúde do

município de Franca e região. O maior percentual dos casos atendidos é pelo SUS,

havendo assim uma demanda inferior de convênios particulares.

11 Para um aprofundamento dos aspectos históricos da FCCMF sugerimos consultar o trabalho de

conclusão de curso: Interdisciplinaridade em Oncologia, um estudo do serviço de oncologia clínica da Fundação Civil Casa de Misericórdia de Franca. (CARRIJO, 2001).

Os usuários atendidos são de diferentes idades e com morbidades na

seguintes áreas: Traumatologia, Ortopedia, Neurologia, Fisioterapia Respiratória,

Neurologia, Pediatria e Hebiatria 12.

Os diagnósticos mais comuns na rotina de atendimento são: Hérnia de

Disco13 e outros problemas da coluna vertebral, Acidente Vascular Encefálico

(AVE - I), poli-traumatismos (principalmente vítimas de acidentes motociclísticos),

pós-operatório de cirurgias oncológicas, Paralisia Braquial Obstétrica (PBO)14,

reeducação do movimento neuro-psico-motor (RDNPM).

O número de pacientes atendidos atualmente é em média de mil, e o

tempo de permanência de cada um dependerá do diagnóstico, com variação entre

vinte e sessenta sessões, podendo este ser ampliado, caso seja necessário. Há uma

lista de espera, contudo, para alguns casos o início é imediato, como os de Pediatria

e Hebiatria. Semanalmente são duas ou três sessões de fisioterapia realizadas por

cada usuário, ressaltando-se que, considerando ser o CRSC um espaço composto

por uma equipe multiprofissional, os pacientes também são submetidos a outros

atendimentos pela equipe.

2.3 Humanização

Humanização é um assunto atualmente de grande destaque e objeto

de diversos debates na saúde coletiva brasileira. Este tema ganhou uma maior

amplitude no ano 2000, quando o Ministério da Saúde regulamentou o Programa

Nacional de Humanização no Atendimento Hospitalar (PNHAH) e também por ter

composto a pauta da 11º Conferência Nacional de Saúde.

12 Hebiatria é uma referência à Hebe, deusa da juventude na mitologia grega. É um ramo

relativamente novo da medicina direcionado ao atendimento de adolescentes (12 aos 18 anos). 13 A Hérnia de Disco é um processo em que ocorre a ruptura do anel fibroso, com subseqüente

deslocamento da massa central do disco nos espaços intervertebrais. É considerada uma patologia extremamente comum, que causa séria inabilidade em seus portadores. Estima-se que 2 a 3 % da população sejam acometidos desse processo, cuja prevalência é de 4,8% em homens e 2,5% em mulheres, acima de 35 anos.

14 Paralisia braquial obstétrica (PBO) é uma paralisia do membro superior que pode ocorrer com a criança no momento do parto. Ela é devida à lesão do plexo braquial (nervos responsáveis pelo movimento e sensibilidade das mãos, dos braços e dos dedos) e é, geralmente, atribuída a tração da cabeça e do pescoço durante a liberação dos ombros na apresentação cefálica ou a tração sobre os braços estendidos acima da cabeça na apresentação pélvica. Um ou dois em cada 1000 recém-nascidos têm esta condição.

Foi criado no ano 2000, o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que procurou melhorar a qualidade das relações humanas no atendimento à saúde: relações que se estabelecem entre profissionais de saúde e usuários, entre as diferentes categorias de profissionais da saúde e entre os hospitais e a comunidade. (CARRIJO; LIPORONI; SILVA, 2005, p. 82).

No Ministério da Saúde, na área da assistência, sentiu-se a

necessidade da criação da Política Nacional de Humanização. Surgiram os

seguintes programas: Programa Nacional de Humanização da Atenção Hospitalar

(2000 a 2002), Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento em 2000, a

norma de Atenção Humanizada ao Recém - Nascido de Baixo Peso – Método

Canguru em 2000 e, em 2003 o Humanizasus.

Muitos hospitais têm realizado investimentos nessa linha de trabalho, a

humanização, como é o caso da FCCMF. Esses incentivos partem de exigências do

Ministério da Saúde e, atualmente, uma das equipes envolvidas na instituição é do

Serviço Social.

Pensar em Humanização não se constitui como uma tarefa fácil, pois é

necessário considerar o ser humano em suas inter-relações com outros atores no

campo da saúde.

A humanização tem sido associada a distintas e complexas categorias relacionadas à produção e gestão de cuidados em saúde, tais como: integralidade, satisfação do usuário, necessidades de saúde, qualidade da assistência, gestão participativa, protagonismo dos sujeitos e a intersubjetividade envolvidas no processo de atenção. (DESLANDES, 2006 p.15).

Os avanços científicos na área médica permitiram muitas descobertas

com novos tratamentos, ampliação da sobrevivência e cura. Porém, há questões

que ainda necessitam serem revistas, como o caso da relação entre os profissionais

da área e os usuários.

A proposta de humanização objetiva a criação de uma nova cultura de

atendimento, baseada na comunicação. Supõe uma caminhada na direção de uma

valorização dos sujeitos, das relações dialógicas e de troca solidárias. (BONFIM,

2006, p. 187).

Há a necessidade de que ocorra uma comunicação mais aberta entre

os profissionais atuantes na saúde por meio do diálogo com os usuários, no qual os

mesmos sejam reconhecidos como possuidores de desejos, medos e carências.

Deve haver sintonia e valorização de todos os sujeitos envolvidos no processo e a

busca de um atendimento de qualidade, articulado aos avanços tecnológicos.

Para caminharmos rumo à humanização, é necessário romper com

certas estruturas rígidas existentes no campo da saúde, nas quais observamos uma

hierarquização dos profissionais.

Uma das contribuições mais significativas para o entendimento do contexto interpessoal, interacional, relacional é o estudo da intimidade da relação profissional – paciente. As angústias ligadas ao adoecer são parte integrante dessa relação, que é o campo dinâmico que se estabelece entre o paciente e aquele que o assiste. (MARTINS, 2006, p. 142).

São necessárias mudanças iniciadas desde o processo de formação

profissional, mas que não poderão ser limitadas neste aspecto com oportunidades

posteriores de aprimoramento. Considera-se também a importância de alterações

nos aspectos organizacionais e gerenciais, nas estruturas físicas dos

estabelecimentos de saúde e melhoria das condições de trabalho do cuidador.

Em relação à qualidade dos serviços oferecidos na área de saúde,

muitas vezes observamos serem estes impessoais, não consideram o contexto

sócio-cultural e a história de vida dos pacientes. Assim, o paciente não é visto como

um sujeito nas relações. Normalmente os atendimentos são rápidos, sem tempo

suficiente para a escuta e orientações.

É necessário privilegiar a dimensão dialógica entre os usuários e os

profissionais, na qual cada um poderá ouvir o outro. Neste caso temos como

exemplo o trabalho em grupos e a relação interdisciplinar.

O acolhimento é um aspecto que compõe a humanização, segundo

Ayres (2006, p. 71). Este não deverá ser confundido com recepção, pois nele estão

presentes todas as oportunidades, nas quais há a escuta do outro, destacando-se

que esta deve ser de qualidade.

Quando há uma preocupação com as conseqüências que certas

condutas acarretarão sobre o outro, quando se percebe o outro, observamos a

presença da ética, a qual também está relacionada com um trabalho humanizado.

O Cuidado em humanização refere-se a um conjunto de princípios e

estratégias que irão nortear a relação entre o paciente e o profissional de saúde

responsável pelo mesmo.

Entendemos aqui como Cuidado uma sabedoria prática que, em estreita relação com saberes tecnocientíficos, quer fazer das ações de saúde a busca de êxitos técnicos imediatamente entendidos como sucesso prático, isto é, como o desenvolvimento de ações instrumentais subordinadas a escolhas compartilhadas de modos de vida julgados desejáveis, adequados e corretos (AYRES, 2006, p. 56).

O Cuidado em saúde pode ser entendido como um conhecimento

prático que mantém relação com os saberes científicos e que busca êxito em suas

ações, pressupondo que sejam desenvolvidas mediante escolhas compartilhadas.

É necessário almejarmos uma medicina mais humana do que científica,

e cada vez mais uma prática de saúde voltada para a resolução de problemas

cotidianos, humanisticamente.

2.4 Interdisciplinaridade

“[...] as doenças, especialmente as decorrentes do estresse enquanto

fenômeno humano, têm componentes sócio-históricos e psicológicos que não podem

ser compreendidos sem ajuda do método interdisciplinar.” (RODRIGES; GASPARINI

apud PARZEWSKI, 2002, p.129).

A interdisciplinaridade se constitui como uma proposta de grande

relevância no âmbito da saúde. Este tema tem sido, nos últimos anos, alvo de várias

discussões por parte de diferentes profissionais, dentre eles, os assistentes sociais.

Há várias explicações para o termo interdisciplinaridade, o qual é amplo e engloba

uma complexidade teórica e prática.

O desenvolvimento científico trouxe uma vasta divisão do saber em

especialidades, acarretando assim uma fragmentação do mesmo, ou seja, a

alienação científica. A ciência, a partir da intensificação de seus avanços,

proporcionou o surgimento de uma diversidade de especialidades, mas é preciso

observar que nem mesmo o grande aumento do número de disciplinas, não é capaz

de abranger toda a complexidade do real.

Esta fragmentação, que ocorre principalmente a partir do século XIX,

torna-se perigosa, pois a idéia de conjunto e do todo acaba sendo ignorada.

No que se refere ao conhecimento humano, um fator primordial é o de

reconhecer a importância de todas as áreas, portanto, que nenhuma deve ser

destituída de seu lugar. É preciso buscar a essência de cada uma delas,

constituindo assim um todo.

O termo interdisciplinaridade pode ser definido como uma relação de

reciprocidade, de mutualidade e pressupõe substituir uma concepção fragmentária

por uma concepção unitária do ser humano.

Há a necessidade de uma busca pela unidade. Cada área do

conhecimento proporciona uma visão do real, segundo a sua especificidade; então,

verifica-se que esta visão é parcial. A interdisciplinaridade objetiva proporcionar uma

reformulação de tal fragmentação, buscando-se uma visão de totalidade do real.

Nessa relação interdisciplinar, cada profissional deverá preparar-se para visualizar

suas funções, para não negligenciar o seu campo de atuação em específico e

buscar compreender a visão da unidade através de seus diversos prismas.

A interdisciplinaridade caracteriza-se como não preconceituosa, não

desmerecendo assim, diferentes áreas do conhecimento. Tudo tem seu importante

valor. O saber universal deve sobrepor-se ao conhecimento individual. Na busca

pela unidade, pode-se destacar a relação interdisciplinar como aquela que direciona

um trabalho entre disciplinas, com troca de conceitos e experiências, interação e

cooperação entre as mesmas.

Existem algumas distorções quanto a definições do trabalho

interdisciplinar e do trabalho em grupo, pois muitos os confundem. É relevante

destacar que não é correto considerar qualquer grupo como uma equipe

interdisciplinar. Em uma equipe interdisciplinar, há a participação de profissionais de

disciplinas diversificadas e o que importa não é a quantidade de membros, mas o

nível de intensidade de integração e interação entre os mesmos.

Algo de grande destaque na interdisciplinaridade é a crítica construtiva,

fundamentada em uma atitude reflexiva em relação à atuação profissional, sempre

considerando como meta o alcance dos objetivos em questão. Um deles é o de

encontrar o que existe de comum entre as disciplinas, que poderá ser alcançado,

mediante o confronto dialético entre as mesmas, proporcionando assim uma visão

do todo e de suas partes.

Partindo de tal confronto, percebe-se que as contradições e diferenças

existentes entre as disciplinas irá contribuir para uma transformação das mesmas,

das ciências e da realidade.

Segundo Japiassu (1976) “[...] a característica central da

interdisciplinaridade consiste no fato de que ela incorpora os resultados de várias

disciplinas, tomando-lhes de empréstimo esquemas conceituais de análise a fim de

fazê-los integrar, depois de havê-los comparado e julgado.”

As disciplinas, com suas particularidades e especificidades, dificultam

uma verdadeira relação interdisciplinar. Destarte, é necessário uma colaboração

entre os profissionais, respeitando-se os limites.

Quer dizer, em termos concretos: não escapamos de ser especialistas, em nome do conhecimento aprofundado, analiticamente capaz; mas precisamos de especialistas que componham grupos diversificados, ou seja, que saibam dialogar com companheiros especialistas. (DEMO, 1997, p. 86).

Há alguns obstáculos à interdisciplinaridade. Na contemporaneidade, o

positivismo é considerado o maior deles e um dos principais responsáveis pela

fragmentação do saber. Este propõe a ampliação das especialidades e não

demonstra a importância da interligação dessas disciplinas, contribuindo assim para

uma desarticulação entre as mesmas.

Referenciando a divisão sócio - técnica do trabalho e a constituição

dos saberes, percebemos que cada profissão se insere no mercado de maneira

gradativa, buscando, desse modo, conquistar seu espaço, havendo muitas vezes

competições.

Um outro obstáculo é a conceituação da interdisciplinaridade, a qual se

posiciona entre outros termos, como: disciplinaridade, multidisciplinaridade,

pluridisciplinaridade e transdiciplinaridade15.

Os especialistas, cada vez mais, isolam-se em sua esfera profissional,

havendo assim estudos mais precisos, específicos e rápidos das questões, mas há

um desconhecimento em relação a posições exteriores, não havendo uma

interligação entre diferentes posições profissionais.

15 Por não ser tema central deste trabalho, restringimo-nos a citar tais denominações; todavia, para

um maior aprofundamento no tema, sugerimos a consulta a uma pesquisa que já realizamos em trabalho de conclusão de curso. (CARRIJO; LISBOA, 2001).

Ao se considerar que na atualidade há uma busca em resolver os

problemas que afligem a sociedade, a perspectiva interdisciplinar poderá vir a

proporcionar práticas profissionais que possam auxiliar no combate desses problemas, a

partir de um real compromisso por parte dos profissionais das diversas áreas.

Considerando o que de fato a proposta interdisciplinar busca,

perceberemos que ela não procura eliminar as especialidades, nem mesmo o saber

individual; ela busca a unidade, a interação e a troca de idéias e práticas.

Para haver realmente um diálogo, não apenas uma conversa entre os

profissionais de uma equipe, por exemplo, é necessário um direcionamento dos

mesmos para trocas de idéias em comum ou divergentes. Como resultado de um

diálogo verdadeiramente interdisciplinar, temos um enriquecimento tanto dos

profissionais em particular, quanto da equipe profissional.

Pedro Demo (1987, p. 88-89), em sua concepção de interdisciplinaridade,

faz a seguinte colocação:

Pode-se definir a interdisciplinaridade como a arte do aprofundamento com sentido de abrangência, para dar conta, ao mesmo tempo, da particularidade e da complexidade do real. Precisamente porque este intento é complexo, a interdisciplinaridade leva a reconhecer que é melhor praticada em grupo, somando qualitativamente as especialidades.

Podemos verificar que a proposta interdisciplinar propõe uma interligação

de diferentes disciplinas, para que, juntas, possam ter uma melhor visão do real, e

possam intervir nesta realidade, de forma mais concreta e abrangente.

Para que esta proposta ocorra, é necessário que os profissionais

envolvidos tenham o objetivo de aprender e ensinar conhecimentos, pensar e agir

sobre a problemática do trabalho em questão.

Na relação interdisciplinar, a práxis é um fator fundamental, pois, a partir

da teoria que se estrutura a formação profissional, juntamente com as trocas de

conhecimentos com outros profissionais, há uma melhor atuação na prática

profissional para a resolução das problemáticas em questão.

“Assim, não é número maior de pessoas no grupo que traz a

interdisciplinaridade, mas sua formação diversificada” (DEMO, 1997, p. 111).

Percebemos que a atitude interdisciplinar engloba atitudes de construções

gradativas no decorrer da prática profissional, sendo que não há uma “receita” pronta de

como ser um profissional interdisciplinar. Cada um deve buscar juntamente com seu

grupo de trabalho uma atuação cooperativa e de respeito mútuo, almejando atingir o

que fora definido e que possa trazer os melhores resultados.

Para haver uma relação interdisciplinar, é necessário que os profissionais

tenham um bom conhecimento do seu trabalho, de sua especificidade, e que

estejam “abertos” a um processo de interação, de seus conhecimentos, com

profissionais de outras áreas. Esta relação é difícil, pois necessita de um total

desprendimento de todos os envolvidos, e que os mesmos exteriorizem o que

sabem e interiorizem as informações que recebem, para que, em conjunto,

consigam uma visão de totalidade da situação, dos sujeitos e dos objetos em

questão.

Há a necessidade de profissionais transformadores e integradores, para

que seja possível uma melhor análise da complexidade atual. Estes devem

direcionar sua prática de forma reflexiva, aceitando as diferenças existentes em

relação ao outro e ter conhecimento da importância da inter-relação.

A exigência de unidade faz parte da própria natureza de nosso conhecimento. Ela está na origem de todo saber, permanecendo imanente a cada uma de suas formas, por mais especializada que seja. O conhecimento humano é sintético e global antes de ser analítico e especializado (JAPIASSU, 1976, p. 112-13).

É importante se destacar que a relação interdisciplinar não deverá ser

permeada de atitudes de dominação entre as ciências, mas pela busca por atitudes

mais humanizadas, com o objetivo da unidade de conhecimentos.

2.5 Bioética

Bioética é um neologismo derivado das palavras gregas bios (vida) e ethike (ética). Pode-se defini-la como o estudo sistemático das dimensões morais – incluindo visão, decisão, conduta e normas morais – das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto interdisciplinar. (REICH, 1995 apud PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2000, p.17).

Nos dias 23 e 24 de setembro de 1992, realizou-se em Seattle na

Universidade de Washington, uma conferência sobre o nascimento da bioética, a

qual reuniu vários pioneiros estudiosos do tema.

Essa conferência ocorreu devido à comemoração do trigésimo

aniversário de uma publicação da revista Life, com um artigo de nome “Eles decidem

quem vive e quem morre” (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2000, p. 20).

A publicação relatava a história de um comitê de Seattle, em 1962, que

tinha o objetivo de selecionar as pessoas que seriam atendidas no programa de

hemodiálise. Nesta ocasião, as máquinas para tratamento dos pacientes renais

eram insuficientes e, assim, os responsáveis pelo atendimento dos casos teriam que

determinar aqueles que seriam beneficiados. A correspondente da revista Life, que

fez a cobertura dos fatos, os descreveu como “O nascimento da bioética”.

A bioética ainda é um campo novo e pode ser conceituada como um

estudo sistemático da conduta humana no âmbito das ciências da vida e da saúde,

quando examinada por uma ótica de valores e princípios morais.

Os avanços científicos, nas últimas décadas, podem ser vistos como

maiores do que os dos últimos séculos. O avanço da medicina propiciou inúmeras

possibilidades como, por exemplo, tratamentos capazes de manter a vida através de

máquinas.

O surgimento da bioética pode ser considerado como uma resposta às

novas tecnologias, mas baseada numa cultura sensível de dimensões éticas, em

específico pelo direito e necessidades dos indivíduos contra o abuso de instituições

de saúde.

[...] a bioética é o debate sobre as recentes descobertas tecnocientíficas em biologia, biofísica, bioquímica, genética e ciências médicas, que trazem novos problemas às ciências humanas dos valores éticos, das convicções milenares das pessoas, de escolas filosóficas, teológicas e jurídicas, que tratam do sentido da vida e da morte, da convivência política e da relação da natureza com o ser humano. (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2000, p. 65-66)

As inovações tecnológicas na área de saúde são conseqüência das

revoluções terapêutica e biológica.

A revolução terapêutica é aquela produzida através de um

aperfeiçoamento de medicamentos, podemos citar nesse caso o exemplo das

sulfamidas, que proporcionaram o tratamento de doenças fatais, como a

tuberculose, a sífilis e as septicemias. Todavia, identificamos uma preocupação

ética, na qual se busca uma normatização de testes com tais medicamentos, pois se

por um lado pode haver a cura, por outro, temos prescrições incontroladas de

remédios, que almejam, sobretudo, a satisfação da indústria farmacêutica, sem,

muitas vezes, as devidas experimentações.

Em relação à revolução biológica, surge a partir de um

aperfeiçoamento das técnicas de diagnóstico e de engenharia genética (esta

representada pela descoberta do código genético). Busca dar ao ser humano um

domínio sobre as áreas de reprodução, hereditariedade e sistema nervoso. Nesses

casos são diversas as questões éticas, dentre as quais, a reprodução assistida e o

caso de embriões supranumerários.

A bioética estuda, portanto, os avanços recentes da ciência em função

da pessoa humana. Sua referência central é o ser humano, principalmente em dois

momentos básicos, o nascimento e a morte.

Existem temas específicos relacionados ao tema bioética, dentre

outros, a pesquisa com seres humanos, a reprodução medicamente assistida, o

aborto, a eutanásia, os transplantes e doações de órgãos.16

É importante mencionar que a bioética não se restringe a questões

relativas aos valores que surgem na relação médico-paciente. É mais ampla, e

abarca fatores relacionados a todas as profissões de saúde, às investigações

médicas e do comportamento, às questões sociais amplas relacionadas à saúde

ocupacional e internacional, ao controle da natalidade, dentre outras. Transcende a

vida e saúde humanas, pois compreende também questões relativas a todos os

seres vivos, preocupando-se inclusive com as vidas de animais e plantas.

(PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2000, p. 32).

2.6 O Grupo “Controlando a Hipertensão”

Este grupo é o lócus de nossa pesquisa. Apresentaremos abaixo

dados referentes ao mesmo. Já vimos no capítulo I dados referentes ao CRSC e, portanto, sabemos

que não é objetivo central deste o atendimento de casos de hipertensão arterial,

trata-se de um local destinado à reabilitação física. Todavia, uma das principais

16 Por não ser objetivo deste trabalho não serão abordados tais aspectos, porém, para um

aprofundamento no assunto, sugerimos a consulta da obra de Pessini e Barchifontaine (2000).

atividades realizadas pelo serviço de Enfermagem (técnicas) é a verificação da PA

dos pacientes, a cada sessão, antes dos mesmos iniciarem o atendimento. Tal fato

ocorre porque é orientação adotada pela instituição de que não sejam realizados

exercícios ou esforços físicos com quadro hipertensivo alterado.

Com a atividade executada pelas técnicas em enfermagem, constatou-

se um alto índice de pacientes hipertensos que freqüentavam o setor. Assim, além

dos grandes prejuízos e riscos à saúde dos mesmos, temos o fato de serem

impedidos de passar pelo atendimento de reabilitação, e, conseqüentemente, o

tratamento ficava prejudicado.

Muitos destes usuários enfrentavam grande dificuldade para

comparecer ao tratamento tanto por limitações físicas como por limitações

econômicas, no que se refere, sobretudo, às questões de transporte. Era muito

comum no CRSC situações em que os pacientes não autorizados a realizarem o

tratamento na referida data, devido ao quadro hipertensivo, passarem por grande

alteração de humor.

Frente a essa problemática existente no CRSC, na qual vários doentes

tinham seu tratamento de reabilitação interrompido devido à alteração da pressão

arterial, foi criado o grupo de apoio multiprofissional “Controlando a Hipertensão”, em

fevereiro do ano de 2005.

Os profissionais envolvidos são os integrantes da equipe do CRSC,

das seguintes áreas: Enfermagem, Nutrição, Serviço Social e Psicologia.

O agendamento para a participação nas reuniões ocorre após a

identificação de quadro hipertensivo, realizado pelos técnicos em Enfermagem.

Neste grupo, os pacientes hipertensos recebem orientações referentes

à doença, suas causas e conseqüências, além de serem investigados os fatores e

as particularidades que interferem no controle.

Cada profissional realiza orientações pertinentes a sua área de

atuação, de forma a se complementarem entre si, sem haver uma separação entre o

que é relatado.

Os encontros ocorrem semanalmente, sendo agendados doze usuários:

seis que realizam tratamento no período da manhã e seis do período da tarde.

Depois de agendados, estes participarão de apenas um encontro do

grupo, ressaltando que a duração do mesmo é a de aproximadamente uma hora.

Contudo, caso o paciente demonstre interesse, poderá retornar, mediante simples

solicitação verbal, ao profissional responsável pelo agendamento.

A observação da dinâmica deste grupo possibilitou a constatação de

que os participantes desconheciam vários aspectos acerca da doença, bem como as

conseqüências da falta de controle.

Com uma avaliação realizada pela equipe do Centro de Reabilitação,

após o início do grupo, observou-se que o mesmo trouxe resultados positivos,

comprovados pela redução do número de casos de hipertensão, sendo este um

indício de que estes pacientes passaram a realizar o controle.

Tal fato também lhes evitou o sofrimento da instalação de doença

incapacitante e, inclusive, os prejuízos ao processo de reabilitação, já que não

perderam mais sessões de atendimento por elevação da pressão arterial - PA.

O atendimento oferecido em ambulatórios hospitalares é muito rico, no

sentido de que proporciona a implantação de trabalhos diversificados, sobretudo,

quando estes contam com a participação de uma equipe multiprofissional. A

realização destes trabalhos e atividades preventivas vai ao encontro desta nova

proposta de saúde e, também, são aspectos muito importantes; porém, só terão

êxito se forem desenvolvidos de forma a atingir um grupo de pessoas, ou seja, a

coletividade.

Entendemos que o trabalho realizado pelo grupo no CRSC consiste em

uma proposta de humanização em saúde e um momento interdisciplinar.

CAPÍTULO 3

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

“Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, Mas a poesia (inexplicável) da vida”

(Carlos Drummond de Andrade).

3.1 Perfil dos Sujeitos

Para a realização desta pesquisa, procedemos primeiramente a um

levantamento bibliográfico e documental a fim de fundamentarmos nosso trabalho,

contextualizar a saúde no Brasil e traçar aspectos relevantes relacionados à mesma,

na ação profissional do assistente social, como a humanização, a bioética e a

interdisciplinaridade.

O recorte para a realização desta investigação foi o grupo Controlando

a Hipertensão, já caracterizado em capítulo anterior.

Partimos de um problema de saúde pública que é a HAS, com dúvidas

pautadas nas causas e prejuízos ao controle, vivenciados pelos sujeitos da

pesquisa. Nosso questionamento foi o de quais os determinantes, na visão dos

sujeitos, estariam prejudicando o controle da doença.

O despertar de tal interesse investigativo surgiu enquanto profissional

do setor. Para Otávio Cruz Neto (1996): “As inquietações que nos levam ao

desenvolvimento de uma pesquisa nascem no universo cotidiano.”

A aproximação maior com o campo de investigação, propiciada por ser,

na ocasião, profissional do CRSC, possibilitou-nos conhecer a dinâmica do grupo e

assim ser verificada a aplicabilidade da pesquisa.

O projeto se submeteu à avaliação do comitê de ética em pesquisa da

FCCMF, preenchendo, portanto, todos os requisitos exigidos pela instituição.

A intenção foi a de avaliar um processo social, diagnosticá-lo e

descrevê-lo. Assim, tornou-se possível conhecer e analisar significados e crenças.

O grupo em questão caracteriza-se como um espaço muito rico, onde

temos sujeitos que vivenciam uma situação semelhante, que, todavia, têm sua

particularidade.

Consideramos de relevância também a coleta de dados relativos ao

perfil dos participantes (Apêndice A), pois como já fora mencionado neste trabalho, a

HAS tem como característica sua multicausalidade, também havendo aquelas

pessoas que apresentam uma maior predisposição à mesma.

A pesquisa realizada propôs a análise de dados coletados no grupo

“Controlando a Hipertensão” durante um mês, utilizando-se da técnica de grupo

focal, através de uma pesquisa qualitativa.

Triviños (1987, p. 120) refere que:

O aparecimento da pesquisa qualitativa na Antropologia surgiu de maneira mais ou menos natural. Os pesquisadores perceberam rapidamente que muitas informações sobre a vida dos povos não podem ser quantificadas e precisavam ser interpretadas de forma muito mais ampla que circunscrita ao simples dado objetivo [...].

Para Minayo (1996, p. 15), “O objeto das ciências sociais é

essencialmente qualitativo. A realidade social é o próprio dinamismo da vida

individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordante.”

A expressão “Pesquisa Qualitativa”, segundo José Luis Neves (1996),

assume diversos significados no campo das ciências sociais. Compreende um

conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os

componentes de um sistema complexo de significados. Esta análise, que vai ao

encontro dos objetivos propostos neste trabalho, possibilitou o conhecimento de

fenômenos singulares.

[...] as Metodologias de Pesquisa Qualitativa entendidas como aquelas capazes de incorporar a questão do SIGNIFICADO e da INTENCIONALIDADE como inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas. (MINAYO, 2004, p. 10, grifo da autora)

Segundo Minayo (1996), esse tipo de pesquisa busca respostas a

questões particulares. Nas ciências sociais, sua preocupação refere-se a um nível

da realidade que não pode ser quantificado.

Esta abrange um universo de significados, motivos, aspirações,

crenças, valores e atitudes que compõem um espaço mais profundo das relações,

dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalizações

de variáveis.

Ainda entendemos que a pesquisa qualitativa mergulha no âmbito dos

significados das ações e relações humanas, é uma face que não pode ser abrangida

em médias e estatísticas.

A sociologia compreensiva define como uma tarefa central das ciências

sociais a compreensão da realidade vivida socialmente, o significado é considerado

o conceito geral da investigação.

A técnica de Grupo Focal contribui para que o sujeito possa refletir

sobre um determinado tema, propiciando, dessa maneira, a percepção das

diversidades que envolvem uma mesma questão. Os sujeitos da pesquisa atendem

aos critérios exigidos nesta técnica, já que possuem características comuns:

hipertensão e o fato de estarem realizando tratamento de reabilitação física.

“Nessa estratégia, como em outras técnicas grupais, as idéias são

construídas, na medida em que um sujeito fala, o outro constrói seus pensamentos se

baseando nestas idéias e assim por diante.” (PARZEWSKI; BERTANI, 2005, p. 48).

Entendemos que esta técnica oferece a oportunidade para que os

sujeitos expressem suas opiniões, compartilhando e complementando com os outros

participantes.

[...] a pesquisa qualitativa proposta aqui reconhece o sujeito como autor, sob condições dadas, capaz de “retratar e refratar” a realidade. Não apenas como um sujeito sujeitado, esmagado e reprodutor das estruturas e relações que o produzem e nas quais ele produz. (MINAYO, 2004 p. 252, destaque da autora)

No que se refere à análise dos dados, o referencial adotado foi a

técnica de análise de conteúdo, explicitada por Minayo (2004, p. 203, destaque do

autor).

Do ponto de vista operacional, a análise de conteúdo parte de uma literatura de primeiro plano para atingir um nível mais aprofundado: aquele que ultrapassa os significados manifestos. Para isso a análise de conteúdo em termos gerais relaciona estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas (significados) dos enunciados. Articula a superfície dos textos descrita e analisada com os fatores que determinam suas características: variáveis psicossociais, contexto cultural, contexto e processo de produção da mensagem.

Os registros das falas dos sujeitos, relacionados aos questionamentos

“O que consideram como o fator que esteja contribuin do para a elevação de

sua pressão arterial? Quais as dificuldades encontr adas para a realização

deste controle?”, foram realizados pelas profissionais participantes do grupo

(assistente social, psicóloga e nutricionista). Ressalta-se que, deste modo, ao final

de cada uma das quatro reuniões dos grupos pesquisados, tínhamos mais de um

registro referente a um mesmo sujeito, o que permitiu uma complementação das

falas registradas na íntegra, por cada profissional.

Optamos pelos registros manuscritos. Não utilizamos filmadoras ou

gravadores, o que normalmente é comum em grupos focais, uma vez que, já

conhecendo o perfil do grupo, acreditamos que tal fato poderia inibir os participantes.

Em relação aos dados obtidos, foram divididos por categorias de

análise. Triviños (1987) define as categorias de análise como classificações,

elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito.

Segundo Minayo (1996, p. 70), as categorias podem ser utilizadas em

qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa e podem ser estabelecidas antes,

durante ou após a realização da fase exploratória da pesquisa.

Sabemos que, na análise de conteúdo, cabe-nos ir além das aparências,

verificar, portanto, o que possivelmente está por trás dos conteúdos manifestos.

Sobre a metodologia dialética, Minayo (2004, p. 253) afirma que:

Quando se trata dos fatos referentes à saúde, essa forma de abordagem abrange a historicidade dos fenômenos (concepções, relações sociais e institucionais, políticas, etc), sua localização no modo de produção, que é a totalidade maior, incorpora a cultura como sendo cultura de classe e as representações sociais como expressões do lugar e das condições sociais de vida e de trabalho dos sujeitos em questão.

Após a definição do trabalho, realizou-se um pré-teste a fim de serem

analisados os fatores que viessem carecer de mudanças; contudo, o resultado do

mesmo foi positivo, no sentido que demonstrou que a metodologia proposta poderia ser

utilizada de maneira satisfatória, inclusive o modo escolhido para o registro dos dados.

Neste pré-teste, os participantes do grupo foram questionados sobre

os fatores contribuintes para a elevação da PA e as dificuldades encontradas para a

realização do controle, assim, foi possível constatar que a técnica de grupo focal

poderia ser adotada para o alcance dos objetivos propostos.

3.2 Lócus da Pesquisa

A presente pesquisa ocorreu durante um mês, no período

compreendido entre os dias 14/08/07 a 04/09/07, portanto, quatro encontros do

Grupo “Controlando a Hipertensão”. No total foram trinta e nove participantes, sendo

assim divididos: Grupo I (11), Grupo II (11), Grupo III (7) e Grupo IV (10).

Ressalta-se que quatro participantes eram familiares dos pacientes

(cônjuges ou filhos), sendo o motivo apresentado as limitações físicas dos mesmos,

que os impossibilitaram de comparecer ao setor.

O local utilizado para a realização dos grupos foi a sala de Psicologia

do CRSC, destacando-se que esta se caracteriza como o espaço mais amplo do

local, sendo normalmente a utilizada nas reuniões grupais. O posicionamento dos

assentos foi em círculo, o qual facilita e a aplicabilidade da técnica proposta.

A duração de cada encontro, no período da realização da pesquisa, foi

de um pouco mais de uma hora. A pesquisadora foi a “direcionadora” das

discussões e as profissionais participantes, as responsáveis pelos registros

(manuscritos) dos relatos.

Os procedimentos iniciais foram os mesmos existentes no grupo, ou

seja, procuramos preservar ao máximo a rotina do local. As modificações ocorridas

são as relatadas a seguir.

No Grupo I, os pacientes, após chegarem à sala de espera do CRSC,

foram chamados individualmente na sala de Serviço Social e assim informados

sobre a pesquisa a ser realizada, sendo então lhes apresentado o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B).

Após a confirmação de acordo dos mesmos, foi realizada a entrevista

para coleta de dados referente ao perfil dos sujeitos.

Nos grupos seguintes, todos os participantes foram levados até a sala

onde ocorrem as reuniões e, conjuntamente, receberam as orientações sobre a

pesquisa, havendo, portanto, a leitura e assinatura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido. Constatou-se que as orientações e leitura do termo em grupo

seria mais viável. Os dados referentes ao perfil dos sujeitos foram coletados no final

do encontro.

Não houve nenhum caso de recusa à participação, sendo que o único

comentário feito por alguns participantes foi o de “eu aceito, se não tiver que voltar

outras vezes”. Assim, após serem esclarecidos de que seria apenas uma

participação, demonstraram acordo.

Ao iniciar os grupos, tudo ocorreu em conformidade com a rotina de

trabalho da equipe, ou seja, primeiramente foram indagados sobre o que entendem

em relação ao conceito de hipertensão arterial e quais são suas causas e,

posteriormente, receberam as orientações devidas pelas profissionais participantes.

Em um segundo momento, houve os questionamentos que são os

temas centrais deste trabalho: “O que consideram como o fator que esteja

contribuindo para a elevação de sua pressão arteria l? Quais as dificuldades

encontradas para a realização deste controle?”

Há que se ressaltar que, embora o primeiro contato em grupo dos

sujeitos da pesquisa tenha ocorrido na data da realização da mesma, estes foram

espontâneos, não sendo evidenciada postura de inibição ou timidez, sendo assim

demonstrada tranqüilidade.

A manifestação foi voluntária. Ainda que todos tenham exprimido

acordo em participar da referida pesquisa, não foram questionados diretamente.

Houve expressividade de maneira surpreendente, sendo demonstrado pelos

participantes grande interesse pelo assunto.

No primeiro grupo, dois pacientes não manifestaram sua opinião; no

segundo apenas um paciente não se manifestou; no terceiro grupo, todos se

manifestaram e, no quarto grupo, três não se manifestaram. Todavia,

freqüentemente foi observado que, enquanto um companheiro falava, aqueles que

ainda não haviam se expressado de forma verbal, gesticulavam com a cabeça

afirmativamente.

Em algumas situações foi necessário aos profissionais do grupo

“interferir”, devido a relatos simultâneos.

Todavia entendemos não ter havido prejuízo na coleta dos dados, uma

vez que todos profissionais participantes realizavam os registros das falas.

O grupo constitui-se em um espaço no qual foi possível compartilharem

uma experiência comum de um problema vivenciado que tem lhes acarretado

algumas dificuldades e dessa maneira puderam identificar que os outros também

enfrentam uma situação semelhante a sua, compartilhando experiências. Ocorreram

casos daqueles que se emocionaram ao falar do assunto.

Há algumas intercorrências em relação aos grupos que merecem ser

destacadas. Como já fora relatado, normalmente há a presença do profissional da

área de Enfermagem; todavia, em nenhum dos quatro encontros ocorreu, sendo

justificado, na ocasião, a falta de profissionais disponíveis. Contudo, os outros

profissionais participantes - assistente social, nutricionista e psicóloga - fizeram os

esclarecimentos normalmente realizados pela Enfermagem, no que se refere à

doença e suas causas e conseqüências.

No grupo I, houve a ausência da nutricionista; no grupo II e IV,

contamos com a presença das três profissionais (assistente social, psicóloga e

nutricionista) e, no grupo III, houve a ausência da psicóloga.

Entendemos que tais intercorrências de certa forma contribuíram para

a investigação, uma vez que a ausência da profissional atuante na área de

Psicologia não alterou de forma significativa o enfoque apresentado pelos sujeitos,

como veremos a seguir, na apresentação dos dados obtidos.

CAPÍTULO 4

ANÁLISE DOS DADOS

“Na própria essência de nosso esforço de compreensão, está o fato de por um lado,

tentar englobar a grande e complexa variedade de experiências humanas, e de

outro lado, procurar a simplicidade e a economia nas hipóteses básicas”

(Albert E instein).

4.1 Identificação dos Sujeitos

O perfil dos participantes da pesquisa, conforme mencionado

anteriormente, foi obtido durante entrevista previa destinada à coleta de dados.

Estes foram analisados com resultados apresentados abaixo, a partir de indicadores

tradicionalmente usados, como sexo, idade, etnia, grau de instrução e situação

ocupacional.

Os sujeitos participantes são tanto do sexo feminino quanto do

masculino, não havendo maior predominância em um ou em outro. A faixa etária de

maior destaque encontrada foi entre cinqüenta e setenta anos, sendo mais marcante

os maiores de sessenta anos.

Embora o CRSC atenda a pessoas de faixa etária diversa, os

resultados acima observados confirmam estatísticas de saúde que definem a HAS

como normalmente ampliada com o avanço da idade.

Quanto à etnia, a maioria dos participantes é branca, apesar de sabermos

que um outro fator de risco, segundo dados epidemiológicos, é a prevalência da

enfermidade em população afrodescendente, sobretudo em mulheres.

Outro aspecto que merece destaque nesse trabalho é o grau de

instrução. A maior incidência foi a freqüência escolar de 1ª a 4ª séries (extinto ensino

primário), atualmente, denominado de ensino fundamental incompleto. Apenas um

entrevistado identificou-se como analfabeto e nenhum cursou o ensino superior.

O baixo nível de educação formal pode estar relacionado com a

dificuldade no controle da doença, pois pode haver um distanciamento entre os

meios de comunicação científica e o acesso a informações, levando assim a uma

compreensão da HAS de maneira insuficiente e unifatorial.

Um número elevado de sujeitos é dependente do INSS, seja pelo

benefício Auxílio-Doença, seja por aposentadoria, destacando-se serem mais

comuns os casos de aposentadoria por invalidez.

Houve uma representação significativa de situação de desemprego,

sendo relevante ressaltar que, no universo pesquisado, observamos haver aqueles

que, após a instalação da doença, deixaram o trabalho por falta de condições físicas

e, por não serem vinculados à Previdência Social, não foi possível pleitear um

benefício, ou este lhes foi negado.

No que se refere à composição familiar dos mesmos, residem com

cônjuges ou companheiros e com alguns filhos, o que confirma que a maioria

mantém núcleo familiar de apoio. Apenas dois usuários moravam sozinhos.

Outra característica importante da hipertensão arterial, a

hereditariedade, pôde ser observada nos dados obtidos por meio da grande

incidência de sujeitos com familiares portadores de HAS, sendo normalmente os

genitores ou irmãos. .

A religião que prevaleceu, dentre os participantes dos grupos, é a

católica, havendo um número bem inferior de evangélicos. Apenas um entrevistado

se identificou como budista e outro declarou não possuir religião.

Algo a ser destacado quanto à hipertensão é que, em grande parte dos

casos, os sujeitos tiveram conhecimento da doença entre o período de um e

quarenta anos, assim, não foi no CRSC que a identificaram. Todavia, em relação a

este aspecto, embora conhecessem o problema, não realizavam o controle, ou as

medidas preventivas seguidas não eram satisfatórias, visto que somente foram

encaminhados ao grupo de apoio pelo fato de estarem com quadro hipertensivo.

4.2 Percepções e Interpretações das Falas

Desde que descobri que tenho e vou olhar está alta... ela é silenciosa (referindo-se à hipertensão arterial) (Maria das Graças)

Muitas vezes é comum a incidência de um olhar mágico ou

sobrenatural em pesquisas sobre a etiologia das doenças; contudo, nesta

investigação tal aspecto não foi observado.

Minayo (1988), em um estudo sobre a concepção popular da etiologia

das doenças, encontrou numa população estudada a idéia de que muitas doenças

físicas são originadas de problemas emocionais, justificados na visão da

somatização de sofrimentos, processados pela relação da subjetividade com as

dificuldades da concretude.

A análise dos dados obtidos em nosso trabalho nos mostrou que

também na população estudada no CRSC, os aspectos emocionais foram

relevantemente os mais apontados.

Apresentamos a seguir os depoimentos dos sujeitos, referentes aos

fatores indicados como os responsáveis pela elevação da pressão arterial, pela

ordem de prevalência observada.

Os nomes utilizados são fictícios, conforme o que fora estabelecido

previamente em termo de consentimento livre e esclarecido, no qual afirmamos que

a identidade seria preservada.

Com a finalidade de imprimir maior clareza à compreensão dos relatos,

estes foram divididos em categorias, ou pontos de apoio para análise, obtidos por

meio dos conteúdos das falas, coletados durante a realização dos grupos. São elas

as condições emocionais, as questões familiares, as dificuldades no enfrentamento

dos limites impostos por outras doenças, a situação sócio-econômica, o trabalho, a

alimentação e as dificuldades para agendamento de consultas.

4.2.1 Condições Emocionais

Nesta categoria, o maior destaque dado pelos sujeitos, como o

responsável pela elevação da pressão arterial e o que dificulta o controle, nos quatro

grupos pesquisados, foi o nervosismo, seguido de ansiedade, contrariedade e depressão.

[...] eu sou muito nervosa e é uma coisa difícil de controlar. (Lourdes)

A maioria das pessoas que sofrem de pressão alta é nervoso, eu não sou aquela nervosa de brigar, mas eu fico quieta. (Cássia) O dele é emocional, faz a pressão subir. Quando recebe, por exemplo, notícias de falecimento de uma pessoa, a pressão já altera (Rita, esposa de Matheus). Contrariedade, muito serviço no final de semana, agitação, me deixa doente. (Clara).

Nos relatos, verificamos que Lourdes destaca a dificuldade de controlar

o estado emocional alterado, ao qual se refere como o nervoso (sic), demonstrando

assim uma condição de impotência diante do fato. Cássia expressou ser este o

principal desencadeador da hipertensão arterial para a maioria das pessoas.

Ressalta-se que entendemos ser o termo “nervoso” popularmente empregado para

representar conflitos emocionais.

Os seres humanos, desde a sua origem no mundo, buscam

transformar o meio ambiente no qual vivem, com alternativas que propiciem o

atendimento de suas necessidades e o seu bem-estar; no entanto, no ambiente

externo, poderá haver fatores que desencadeiem abalos emocionais, os quais, caso

não sejam elaborados, de acordo com a abordagem psicossomática, tendem a

manifestarem-se no corpo, através de doenças.

Referindo-se à psicossomática, o autor abaixo assim define: “[...] esse é o

termo correntemente usado para fazer referência a um determinado conflito psíquico com

expressão sintomática por meio de afecção orgânica.” (NOGUEIRA, 1996, p. 33).

Por muito tempo, havia uma relação direta de causa e efeito para o

tratamento dos sintomas das doenças. Desta maneira, acreditava-se que estes não

mantinham relação com as condições emocionais, portanto, não era considerada a

possibilidade de que estas pudessem influenciar os sistemas imunológicos,

orgânicos ou hormonais de nosso corpo.

Algo de grande relevância observado foi que alguns sujeitos, embora

apresentassem outros fatores de risco, conhecidos na literatura médica, ainda assim

ressaltaram a importância das questões emocionais na elevação da PA.

Eu tenho colesterol alto... quando dá nervoso, a pressão sobe. (Catarina)

[...] fator hereditário, diabetes, mas eu acho que a ansiedade é o principal.Tomo ansiolítico (Rosa). Eu fazia comida muito gorda, mas ela sobe mais com a depressão. Eu vivo angustiada demais da conta. Com 34 (anos) eu tive um AVC e agora com 60 (anos) outro. (Benedita).

Quando um indivíduo não consegue elaborar psiquicamente determinadas

situações mentais, ocasionadas, por exemplo, pelas pressões do dia-a-dia, como os

conflitos vivenciados no trabalho, na família, na sociedade, que de alguma forma teriam

que ser dissipados, para não acarretar uma pressão no aparelho mental, mas que não

foram, poderão assim atingir os aparelhos somáticos17. Os conflitos psíquicos podem

evidenciar-se através de alterações orgânicas.

Casos somáticos acontecem quando o indivíduo inconscientemente

escolhe o sofrimento físico para evitar o psíquico (PARZEWSKI, 2002, p.131).

A interpretação psicossomática entende que os sintomas podem estar

relacionados às pressões diárias, à maneira como a pessoa lida com os desafios

advindos das relações ou vivências.

Diante do fato de vários relatos destacarem questões emocionais como

desencadeadoras da HAS, tornando perceptível uma dificuldade no controle destas,

entendemos haver a necessidade de um aprofundamento, ou seja, conhecer o que

leva ao surgimento deste quadro, quais as suas causas. Alguns relatos foram

esclarecedores neste aspecto.

[...] às vezes eu fico contrariado, na hora não acontece nada, no outro dia minha pressão sobe. Tenho um filho que dá muito trabalho, mexe com drogas, tirando isso é tudo normal. (Paulo)

Qualquer coisinha me abala. Quando minha filha chega em casa e fala sobre problemas no serviço minha pressão altera. Já tratei de depressão também. (Isabel) Minha filha na escola, ela é teimosa, dá vontade de pegar ela e bater, mas não adianta. (Fátima)

O meu é nervoso. Moro sozinha, meus filhos ficam preocupados, quando visitam, tenho cinco netos e eles desorganizam a casa, aí eu começo, eu vou bater no menino e o menino corre [...] Lúcia

Assim como observado no depoimento de Paulo, a presença do termo

“contrariedade” também foi destacada em relatos de outros sujeitos. Paulo, ao

comentar suas dificuldades familiares, demonstra que tal insatisfação está

desencadeando uma situação de estresse e assim contribuindo para a elevação da

PA. O autor a seguir assim define o estresse.

[...] O stress crônico costuma ser conseqüente à sobrecarga de trabalho, diminuição das horas de descanso, problemas de ordem familiar, instabilidade financeira, problemas de ordem profissional, mudanças bruscas no dia-a-dia, falta de confiança na equipe com a qual se trabalha, falta de perspectiva para o futuro, falta de amigos com quem se possa desabafar e compartilhar bons momentos (BUSATO, 2001, online).

17 Soma é conceituado como corpo, para assim diferenciar-se do psiquismo.

Sabemos que o controle do estresse compõe uma das medidas

preventivas necessárias, pois quando nosso corpo enfrenta uma situação de

estresse, há maior produção de adrenalina18, o que aumenta a freqüência cardíaca

causando a hipertensão.

Há relativamente pouca produção científica no país sobre a relação

intrínseca entre o estresse e hipertensão arterial, outros fatores de risco são mais

presentes em trabalhos científicos e leigos.

4.2.2 Questões Familiares

Nos dados obtidos por meio da entrevista individual já apresentados,

verificamos haver grande número de sujeitos que residem com o grupo familiar.

Foram freqüentes os relatos de enfrentamento de problemas de relacionamento,

seja com cônjuges ou companheiro ou com filhos.

Os mais comuns foram aqueles desencadeados pelo uso de álcool ou

de substâncias entorpecentes.

A minha pressão sobe também eu acho que é pelo nervoso, eu tenho um filho que bebe e aí ele bate no irmão que é deficiente (Teresa) O meu esposo é alcoólatra, chega em casa jogando as panelas ... Também tenho problemas cardíacos. (Aparecida)

Ela é muito nervosa. Só tem um filho... só que ele mexe com drogas. A pressão dela era 22x18. Depois que o filho tratou das drogas melhorou, acabou o problema. (José, esposo de Cecília)

Observamos que no universo pesquisado fatores referentes a vícios

em álcool ou substâncias entorpecentes, por parte de familiares dos sujeitos,

demonstram serem os maiores desencadeadores de desentendimentos. Os recursos

para atendimento de tal realidade em nosso país ainda são muito escassos. As

clínicas de recuperação em sua maioria são particulares, com um alto custo mensal.

18 A adrenalina é um hormônio secretado pela glândula supra-renal cuja ação antagônica à da

acetilcolina, acelera o ritmo cardíaco e eleva a pressão arterial.

Diante dessa realidade, a família, sem meios para custear um

tratamento, vê-se desamparada, e ainda constatamos que o sofrimento não é

pertinente ao viciado, mas aflige os que convivem com os mesmos.

4.2.3 Dificuldades no Enfrentamento dos Limites Impostos por Outras Doenças

Refere-se à dificuldade no enfrentamento das limitações impostas pela

doença para a qual estavam realizando tratamento de reabilitação. No relato abaixo,

a usuária foi vítima de uma paralisia facial e comenta que, após a instalação do

quadro, passou a ser portadora de HAS.

Ah, o meu é ansiedade e nervoso, me deu paralisia facial, minha boca entortou, depois disso todo dia em tomo remédio (referindo-se ao medicamento para controle da HAS) (Ana).

Fico nervoso querendo fazer as coisas e não consigo fazer (Joaquim)

Nervoso né. Sei lá, sou muito ansiosa, agora minhas pernas não ajudam mais. Tenho que reconhecer que eu tô velha e não tenho condições de andar mais. (Helena)

Helena apresenta limitações decorrentes da morbidade para a qual faz

tratamento no CRSC, tem 71 anos e possui um quadro de doenças osteo-

musculares. Ela e Joaquim demonstram então a dificuldade no enfrentamento de

tais limitações, já agravadas com o avanço da idade.

Percebemos, no relato acima, indícios de dificuldades por sentimentos

de impotência. Uma persistente auto-avaliação de menos valia, gerando uma

percepção de si mesmo como imprestável, algo a ser descartado.

Nestes relatos, observamos um fato relevante, pois neles o “nervoso”

não surge mais como a causa de uma doença, no caso já visto da hipertensão.

Surge como uma conseqüência de uma doença. Identificamos, mais uma vez, o

reconhecimento do universo pesquisado quanto aos fatores emocionais e sua

estreita relação com os quadros mórbidos.

4.2.4 Situação Sócio-Econômica

Os dados obtidos foram relacionados à condição ocupacional dos

sujeitos ou à renda insuficiente.

Vivemos em uma sociedade regida pela lógica do consumo, onde o

incentivo para a aquisição de bens está cada vez maior, com ofertas de

parcelamentos “a perder de vista”.

Muitas pessoas, após adoecerem e, sem condições de continuidade de

pagamento das prestações de produtos já adquiridos, têm seus nomes inclusos em

serviços de proteção ao crédito, o que lhes impede de adquirir novos produtos

necessários a sua manutenção, como por exemplo, medicamentos que muitas vezes

não são encontrados nos postos de distribuição gratuita do SUS.

Ela sobe quando eu fico preocupada demais, eu fico pensando como eu vou pagar as coisas [...] (Madalena)

Dependendo do estado em que eu estou, minha pressão sobe na hora, situação financeira, problemas na família, já tratei de depressão. Eu fiquei viúvo, perdi minha esposa. (Pedro)

Pedro apresenta várias questões, em um único discurso, às quais

confere o poder de elevarem sua pressão arterial e, dentre outras, menciona a

situação financeira. Diante destas, demonstra vivenciar situações de estresse. O

aspecto referente à situação financeira ou a problemas de ordem econômica merece

destaque, pois, retomando o perfil dos sujeitos, verificamos que estes em sua

maioria são dependentes do INSS, ou estão desempregados, o que dificulta até

mesmo as oportunidades de lazer em família, um dos fatores condicionantes do

próprio conceito ampliado de saúde.

[...] Ansiedade, querer fazer e não conseguir, querer por exemplo passear com os filhos e não ter dinheiro, a pressão sobe (Glória)

Considerando o grau de instrução, ou até mesmo aqueles que

mencionaram a profissão exercida, verificamos haver indícios de renda mensal

baixa, embora na entrevista individual, não houvesse uma pergunta direcionada ao

valor exato desta.

Eu gasto R$ 197,00 com os remédios para o tratamento da perna. (João)

João menciona dificuldades para custear as despesas com

medicamentos para o tratamento do problema que possui, uma neuropatia19, e

refere que tal despesa tem lhe acarretado grande preocupação e contribuído para a

elevação da PA.

Há inúmeros tratamentos de saúde cujos medicamentos de alto

custo, ainda não se encontram padronizados para que ocorra uma distribuição à

população. Deste modo, o doente não vê outra alternativa, exceto deixar de atender

outras necessidades básicas, para a aquisição do medicamento.

Falta dinheiro para haver uma alimentação adequada (Giana).

Tais situações apresentadas, nesta categoria, consistem em um

agravante, haja vista que há carência do atendimento das necessidades humanas

básicas20.

4.2.5 Trabalho

Questões referentes à situação laborativa ou de inserção no mercado de

trabalho também estiveram presentes nos relatos dos sujeitos.Um fato relevante

observado se refere à condição daqueles usuários afastados do trabalho por motivos de

saúde, que são os beneficiários do auxílio-doença ou os aposentados por invalidez.

Entendemos que esta condição muitas vezes poderá ampliar a idéia

de “inutilidade” por parte dos doentes. Durante nossa atuação profissional no CRSC,

foi muito comum ouvir relatos queixosos daqueles que estavam afastados de suas

atividades laborativas, em decorrência da morbidade que enfrentavam, porém

19 Definida como uma classificação geral de distúrbios que envolvem lesão ou destruição dos nervos,

exceto os nervos do cérebro ou da medula espinhal. 20 Terno empregado pela autora Potyara Pereira (2000).

demonstravam grande dificuldade e vergonha ao ouvir de outras pessoas

comentários do tipo: “nossa, você é tão forte e não trabalha” (sic).

A dor é algo subjetivo e só aquele que a sente tem a consciência de

sua intensidade e, portanto, das limitações que impõe. A dor não é visível, assim,

aos olhos dos outros parece não existir. A HAS, embora também não seja visível, é

muitas vezes assintomática, conhecida, inclusive, como a assassina silenciosa.

Fui atropelado há quarenta e cinco dias... sou pedreiro autônomo, estou sem trabalhar.(Jonas)

O trabalho é parte inerente da identidade humana. Todavia, sabemos

que a questão do desemprego é um grande agravante social.

As contradições existentes no capitalismo geram sofrimentos não só pela

ausência do trabalho, mas também, pelo trabalho, pois temos aquelas pessoas que se

encontram em situação de desemprego e que, por conseguinte, sofrem com as carências

materiais, para o atendimento do mínimo necessário, e o medo e a angústia de não

conseguir emprego também representam graus diferenciados de sofrimento.

Entendemos que a condição de dependência do INSS pode ocasionar

situações de ansiedade, estando estas relacionadas ao fato de uma possibilidade de

suspensão do benefício, mesmo ainda em condição de incapacidade, decorrente do

quadro mórbido, o que muitas vezes temos visto no cotidiano de trabalho na área de

saúde, através dos relatos dos usuários. A suspensão de tal benefício acarreta um

transtorno aos dependentes, uma vez que a renda obtida é a responsável pela

manutenção das despesas mensais, considerando-se a falta de condições de saúde

para o retorno ao trabalho.

Nos encontros do grupo Controlando a Hipertensão, também foram

comuns os relatos de situações negativas vivenciadas no INSS, dentre estas,

relacionadas ao atendimento oferecido pelos peritos, nos quais os usuários

ressaltaram terem observado uma postura de desrespeito e descaso quanto à

condição de saúde dos mesmos.

4.2.6 Alimentação

A alimentação inadequada foi representada pelos sujeitos com

excesso de sal e o consumo de produtos gordurosos.

Ah, eu acho que é o sal. Depois que aconteceu o problema com ela (referindo-se a um AVE) melhorou, eu é que faço a comida lá em casa. (Tiago, filho da paciente)

No relato acima, o filho de uma paciente do CRSC menciona ser a alta

ingestão de sal o fator desencadeador da elevação da PA.

Sabemos que em grande parte dos atendimentos médicos, quando

constatada a existência da HAS, ao serem abordados os fatores de risco, há uma

maior freqüência que estes sejam restritos ao controle da alimentação; sem, no

entanto, abordagem dos outros existentes. O atendimento médico normalmente é

muito rápido, o que não propicia o esclarecimento das dúvidas.

Ainda referente à alimentação, há um outro relato que demonstra

dificuldade por parte do usuário em seguir hábitos ou dieta necessários ao controle.

No consigo deixar de comer gordura no final de semana, a costelinha... (Ronaldo).

4.2.7 Dificuldades para Agendamento de Consultas

Uma outra categoria, esta com menor incidência, foram dificuldades no

agendamento de consultas médicas.

[...] e lá no pronto-socorro você passa tanta raiva que é capaz de morrer lá. Você não é bem atendido e, se você consegue controlar a pressão até as datas de consulta prevista, tudo bem, senão é difícil (referindo-se a uma necessidade de atendimento antes da data pré-agendada). (Marília) A coisa mais difícil é marcar com o médico na UBS [...] (Antônio)

Verificamos nos relatos acima a existência de dificuldades para o

agendamento de consultas médicas pelo SUS, em que ficou demonstrado que estas

ocorrem com um longo intervalo e parece não haver a possibilidade de atendimento

antes da data pré-estabelecida.

Essa situação ainda é muito comum em nosso país. O número de

profissionais demonstra ser insuficiente para o atendimento da demanda existente. E

tal fato não é observado somente referindo-se ao tratamento de doenças crônicas,

pois, em atendimentos de emergência, muitas vezes os pacientes ainda aguardam

horas em corredores hospitalares. É uma questão muito preocupante, que recorda a

uma frase da canção que inicia este estudo, que diz “A vida não pára; a vida é tão

rara”. Em algumas situações, o atendimento chega tarde demais.

Especificamente em relação à hipertensão arterial, poderíamos pensar

em uma circunstância na qual não houvesse uma adaptação ao medicamento de

controle, ou que este não tenha sido eficaz, ou ainda, que os efeitos colaterais não

fossem tolerados pelo paciente, poderia levar o hipertenso até a abandonar o

tratamento, assim, uma consulta tardia, que é o que freqüentemente ocorre, poderia

acarretar grandes prejuízos ao mesmo.

4.3 Dificuldades para a realização do controle

Em relação aos fatores que dificultam o controle da hipertensão

arterial, que é o segundo questionamento proposto em nosso trabalho, a maioria dos

sujeitos condensou em uma única resposta ambas as indagações, referentes aos

aspectos que contribuem para a elevação e aqueles que dificultam seu controle.

Sendo assim, como já verificado, há a prevalência da categoria emocional.

Em alguns casos os sujeitos mencionaram os fatores que lhes

dificultavam o controle. Nestes relatos, identificamos a categoria do tabagismo e a

falta de aderência ao tratamento.

4.3.1 Tabagismo

Não consigo parar de fumar. (Penha) Eu tenho dificuldade porque eu fumo. Fiquei vinte e três anos sem fumar, depois que minha esposa faleceu, ficou mais difícil e voltei a fumar. (Pedro)

Pedro, ao apresentar outro fator de risco para a HAS, que é o

tabagismo, ainda assim evidencia no seu discurso as questões emocionais.

Foram vários os relatos daqueles que enfrentam dificuldades para

abandonarem o tabagismo. Entendemos, neste aspecto, que os serviços de saúde

existentes em nosso país ainda são carentes de programas para o atendimento de tal

realidade. Muitas vezes o fumante é totalmente responsabilizado pelo seu vício, sendo

lhe atribuída a responsabilidade para que o abandone. Nesta maneira de pensar, não é

reconhecida a importância do desenvolvimento e execução de medidas públicas para a

mudança do quadro, fornecendo aos fumantes um suporte para o abandono do vício.

4.3.2 Falta de Aderência ao Tratamento

Uma categoria de pouca freqüência foi a falta de uso da medicação.

Quanto a este aspecto, verificou-se que não há queixas por parte deste grupo,

quanto à aquisição dos medicamentos para o controle da HAS. Na realidade

estudada, foram raros os relatos daqueles que não conseguiam gratuitamente pela

rede pública.

Eu esqueço de tomar o remédio (Adolfo)

Dentre as dificuldades identificadas para o controle da doença, o fato

da HAS muitas vezes ser assintomática também deverá ser considerado um

agravante. Há grande número de portadores que abandonam o tratamento por se

considerarem curados.

Foram freqüentes no grupo relatos nos quais usuários, após serem

questionados sobre o fato de serem ou não hipertensos, dizerem “eu era e agora

não sou mais”, em seguida, sobre o uso de medicação, comentam que continuam a

utilizar, mas que acham que já devem parar. Neste aspecto, também constatamos a

importância das orientações e informações pertinentes referentes ao controle desta

doença.

Diante de tais dados, parece não haver falta de medicamentos para o

controle da hipertensão arterial, mas falta consciência da necessidade de utilizá-los.

A pouca informação sobre as causas da HAS, direcionada aos seus portadores,

deve-se também ao fato desta ser de natureza multifatorial, assim, os próprios

médicos têm a dificuldade em estabelecer uma causa única para cada paciente e é,

neste aspecto, que é relevante a existência de um trabalho interdisciplinar. Há que

se ressaltar que alguns participantes desta pesquisa reconheceram

espontaneamente a multicausalidade da HAS.

Entendemos que as crenças que muitos têm acerca de uma doença

influenciam diretamente na maneira pela qual lidam com a mesma. Assim um

possível desconhecimento da etiologia, ao ignorar os chamados fatores de risco,

poderá trazer prejuízos aos seus portadores.

Eu sou muito ansioso, como carne até... depois que eu comecei a fazer fisioterapia melhorou, tô começando a controlar minha pressão. Minha pressão sobe e eu não sinto nada (Roberto).

Roberto demonstrou em seu relato que passou a controlar a HAS após

iniciar o tratamento de reabilitação física, ou seja, depois de ser orientado quanto

aos riscos desta doença pelos profissionais do setor.

Verificamos então, com a análise dos dados, que, no transcorrer das

reuniões, foram abordadas questões relacionadas aos fatores de risco já

conhecidos, porém, a predominância foi referente a problemas emocionais

desencadeados em sua maioria por questões sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua,

por conta própria, o seu caminho...” (Mario Quintana)

As condições reais de existência de uma determinada população

constroem a compreensão das definições ou conceitos referentes à saúde e à

doença. Assim, defendemos que os conceitos são socioculturais, que se modificam

dependendo das características do universo pesquisado.

A concepção da doença muda de acordo com o tempo histórico e é

condicionada e influenciada por vários fatores. Não se pode compreender ou

transformar a situação de saúde de um indivíduo ou de uma coletividade sem levar

em conta que ela é produzida nas relações com o meio físico, social e cultural.

Deste modo, conhecermos a visão de mundo, crenças e percepções

dos doentes é algo fundamental no aperfeiçoamento dos programas e práticas de

saúde e se constitui uma característica central, somente efetivada ao considerarmos

alguns aspectos indispensáveis, que são: interdisciplinaridade, humanização e

bioética.

Observamos, durante a investigação realizada, a importância do

paciente ser participante de seu processo de tratamento, e de que ocorra uma

conscientização, na qual o hipertenso tenha a oportunidade de conhecer a sua

morbidade, suas reais causas e assim, identificar o seu papel como o principal

sujeito para o controle.

Como nos referimos no atual trabalho, viver com qualidade e prevenir a

HAS é possível, com modificações no estilo de vida, como alimentação adequada,

consumo moderado de sal, controle do peso, prática de atividade física e evitar o

tabagismo e o uso abusivo do álcool.

Vimos também que um problema que ocorre no tratamento da HAS,

após sua instalação como doença, relaciona-se à observância das orientações

recebidas, seja no que se refere a medicamentos, seja no que se refere à prática

cotidiana a ser seguida.

A informação é um fator de grande relevância. A realidade verificada

em nossa pesquisa, após a caracterização do perfil dos usuários, demonstrou que

estes compõem uma população com condição sócio-econômica e cultural na qual o

acesso a informações revela-se mais restrito.

A experiência vivenciada enquanto profissional participante do grupo

de apoio ao controle da HAS demonstra que há muitas pessoas que iniciam o

tratamento, mas o abandonam, quando os níveis pressóricos estão satisfatórios, ou

seja, quando a doença está controlada. Verifica-se, assim, uma dificuldade na

compreensão de que é uma doença crônica e, portanto, que o controle deverá ser

realizado durante toda a vida.

Consideramos que não basta a distribuição de folhetos explicativos, a

abordagem direcionada à população deve ser clara e realizada de diversas

maneiras, como por exemplo, por meio dos grupos educativos de apoio.

A educação para a saúde possui uma função destacada, a qual

colabora para a consciência do direito à saúde e instrumentaliza para a intervenção

individual e coletiva sobre os determinantes do processo de saúde.

Podemos recomendar que os trabalhos preventivos devam priorizar

locais onde haja prevalência da hipertensão arterial, nos quais as informações

acerca do problema ainda não estejam disponíveis, e enfocar globalmente todos os

fatores de risco para doenças cardiovasculares.

A utilização de práticas e modelos centrados em hospitais, em

consultas médicas e no incentivo ao consumo abusivo de medicamentos resulta

numa atenção à saúde baseada, sobretudo, em ações curativas, originadas apenas

quando uma doença já está instalada e o indivíduo necessita de socorro.

Durante a investigação realizada neste trabalho, verificamos ainda que

o interesse pelo assunto por parte dos participantes foi marcante. O grupo constituiu-

se em um espaço no qual foi possível compartilharem uma experiência comum de

um problema vivenciado, que lhes acarretou algumas dificuldades e, dessa forma,

puderam identificar que outros doentes enfrentam uma situação semelhante.

A faixa etária predominante nos grupos, em nossa investigação, foi a

denominada terceira idade, sendo esta um agravante para o surgimento da

hipertensão arterial, considerando que a maioria dos eventos cardiovasculares,

dessa natureza, ocorreu sem distinção de sexo; porém, com maior freqüência, com

o aumento da idade.

Não obstante termos identificado no discurso dos sujeitos a

interpretação da origem da HAS relacionada a um contexto emocional, não podemos

nos restringir somente a ele na explicação da doença, pois é necessária uma análise

mais completa e crítica de tal elemento.

Através desta análise, no universo pesquisado, observamos estar

oculto no discurso dos sujeitos que as condições emocionais são ocasionadas por

problemas sociais diversos, dentre eles: familiares, econômicos e referentes ao

trabalho.

As questões sociais observadas, elípticas nos relatos, retratam a

configuração atual do capitalismo global em nosso país, traduzido em condições de

desemprego, descaso da previdência social, insuficiência de políticas públicas, nas

quais os usuários estão longe de serem reconhecidos como cidadãos portadores de

direitos sociais.

A HAS é uma doença multicausal que atinge a todas as classes

sociais, embora apresente rebatimentos diferentes nas populações conforme as

condições econômicas. Deste modo, temos que conhecer as condições sócio-

culturais em que se dá a doença e, principalmente, conhecer o doente, sua condição

de vida, e isso somente será possível, mediante uma abordagem multiprofissional.

Consideramos, nesses casos, o atendimento multidisciplinar de

extrema importância, ressaltando que trabalhos envolvendo grupos de pacientes

parecem adequados para o tratamento, com base no que foi observado no grupo

Controlando a Hipertensão.

É na integração de posturas diferenciadas que se percebe a

importância da conjunção entre a teoria e a prática, pois, a partir desta relação, é

que se consegue uma visão do todo. Cada vez mais, com o desenvolvimento das

diversas ciências, torna-se necessário um elo entre as disciplinas, enriquecendo-as

em seus conceitos, metodologias, posturas ideológicas e práticas profissionais.

O não reconhecimento da importância de todos os profissionais que

compõem as equipes de saúde ou a separação visivelmente demarcada dos papéis

destes, poderia ser modificado a partir de uma interligação entre as áreas, mediante

um trabalho interdisciplinar.

Ressaltamos que o assistente social tem presença marcante na área

de saúde e assim atua freqüentemente com demanda de usuários portadores de

doenças crônicas e tem papel fundamental neste trabalho em equipe.

Uma doença surge em um meio social e influencia tanto o paciente

quanto seus familiares. O assistente social, a partir desta realidade, irá se utilizar de

metodologia própria, na busca de propostas de resoluções para a problemática

ocorrente.

O atendimento na área da saúde não deve restringir-se apenas à cura

de doenças, uma vez que o doente pode ser atingido em vários aspectos que

abalam suas condições físicas, mentais e sociais. Todavia, as políticas públicas para

o setor muitas vezes ainda favorecem a cultura de que a saúde se concretiza

mediante o acesso a serviços, particularmente ao tratamento médico.

No que se refere à saúde no Brasil, tem sua trajetória marcada por

uma vertente curativista. Uma crítica maior a tal padrão é observada nos ideais do

projeto de Reforma Sanitária, que culminaram com a promulgação da lei 8080/90,

cujos princípios consistem na universalidade do atendimento, eqüidade das ações,

descentralização dos serviços e participação social em seu controle.

Em termos legais, atualmente, há a concepção de saúde como um

direito de todos e dever do Estado, sendo este o maior financiador desta área.

Considerando a trajetória da saúde, entendemos que o Brasil vive hoje

um momento favorável a população, pois nem sempre foi vista como um direito. Não

obstante, há ainda a necessidade de modificações e reflexões, pois percebemos que

as mudanças dão-se em passos lentos, avançando em direção ao que é

preconizado no SUS.

A profissão de Serviço Social também passou por um processo de

revisão conceitual. Considerando que sua trajetória foi marcada em meio às tensões

existentes na área da saúde, que têm como seu maior empregador o Estado; os

assistentes sociais muitas vezes eram vistos como meios para o alcance de

interesses do Estado com a população. O reposicionamento do Serviço Social como

práxis de saúde tem provocado, entre os profissionais, manifestações que

possibilitam a compreensão ampla dos fatores intervenientes no desencadeamento

da doença e dos compromissos políticos necessários para uma intervenção efetiva.

Vários foram os aspectos levantados pelos sujeitos da pesquisa. Nossa

intenção neste trabalho foi a de abordá-los, e entendemos que tais resultados

podem ser um alicerce para trabalhos futuros, em que poderão ser elaboradas

propostas para a atenção da doença em questão, de responsabilidade da saúde

pública.

Enfocamos a problemática da HAS, mas podemos trazer a discussão

de que muitas das reflexões apresentadas são válidas para grande parte das

morbidades existentes. Mas, como pode ser observado, a HAS pode ser entendida

muitas vezes como um sensível termômetro individual de resistência às pressões

sociais.

Esperamos que os resultados desta pesquisa possam proporcionar

uma avaliação consistente de uma realidade da HAS, efetivada por meio de um

recorte em um grupo de portadores da doença. É nossa expectativa que possam ser

considerados subsídios para futuras discussões e, portanto, para o desenvolvimento

de estratégias criativas e inovadoras de ação.

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VÍCTORA, Ceres G. et al. Pesquisa qualitativa em saúde: uma introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo Editorial. 2000.

APÊNDICES

APÊNDICE A - Modelo do formulário utilizado para l evantamento do perfil dos

sujeitos

Nome:______________________________________________Idade:________

Escolaridade:_________________Profissão:___________________Cor:______

Religião:_____________________Situação Ocupacional:__________________

Situação Previdenciária:_____________________________________________

Quando descobriu ser hipertenso?_____________________________________

Diagnóstico para tratamento no CRSC?_________________________________

Pessoas que residem com o entrevistado:

1) _______________________________________________________________

2) _______________________________________________________________

3) _______________________________________________________________

5)________________________________________________________________

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclare cido

O(a) senhor(a) está sendo convidado a participar de uma pesquisa, dirigida aos participantes do grupo de apoio “Controlando a Hipertensão”, que é realizado no Centro de Reabilitação da Santa Casa.

Nosso objetivo é o de conhecer os fatores individuais, coletivos e estruturais que estejam interferindo no controle da Hipertensão Arterial dos usuários deste serviço. Há, portanto, a busca de uma oportunidade de aprender como as pessoas efetivamente pensam sobre sua doença no seu cotidiano e o expressam em rodas de conversa, quando compartilham experiências comuns, de uma maneira mais descontraída do que em uma entrevista formal.

Este estudo se caracteriza também por sua importância, podendo oferecer subsídios para a formulação de novas propostas de trabalhos preventivos na área da Hipertensão Arterial.

Sua participação neste estudo é voluntária. Se o senhor(a) não quiser participar, pode recusar, e nada mudará em relação ao seu tratamento no Centro de Reabilitação. Caso o senhor(a) aceite o convite, poderá mudar de idéia a qualquer momento e interromper sua participação no estudo, sem qualquer problema. Da mesma forma, se aceitar o convite, não contará com qualquer vantagem adicional em seu tratamento no CRSC.

A única vantagem proporcionada pela sua participação neste estudo é a contribuição que prestará para que sejam identificados os fatores que estejam prejudicando o controle da Hipertensão Arterial de algumas pessoas, sendo que o resultado poderá fornecer subsídios para a elaboração de trabalhos futuros por outros profissionais.

A pesquisadora responsável participa do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Unesp –Campus de Franca, e os dados coletados serão utilizados em sua dissertação de mestrado.

Sua identidade não será revelada. Consentimento Pós-Esclarecido Declaro que fui convenientemente esclarecido sobre a pesquisa, que entendi as informações que me foram transmitidas acima e concordo em participar deste estudo. Local e data: _____________________________________________ Nome do entrevistado: ______________________________________ Nome da pesquisadora: Danila Carrijo Nome da testemunha: _______________________________________ Nome da testemunha: ______________________________________ Orientadora: Profª Drª Iris Fenner Bertani – Departamento de Serviço Social-UNESP campus de Franca. Rua Major Claudiano, 1440 / Tel 3711 1897.

ANEXOS

ANEXO A – Prevenção e Tratamento da Hipertensão Art erial

HIPERTENSÃO ARTERIAL - PREVENÇÃO E TRATAMENTO

A hipertensão arterial é um dos problemas médicos mais comuns da população mundial. É muito sério, porque é silencioso e só reconhecido pelas lesões dos órgãos atingidos. É uma doença vascular de todo o organismo e deixa "marcas" nos órgãos atingidos: coração, cérebro, rins, vasos e visão.

Há duas formas de tratamento: sem e com medicamentos.

O tratamento sem medicamentos tem como objetivo auxiliar na diminuição da pressão, e se possível evitar as complicações e os riscos por meio de modificações nas atitudes e formas de viver, são elas:

1. Reduzir o peso corporal através de dieta calórica controlada: substituir as gorduras animais por óleos vegetais, diminuir os açúcares e aumentar a ingestão de fibras

2. Reduzir o sal de cozinha, embutidos, enlatados, conservas, bacalhau, charque e queijos salgados

3. Reduzir o consumo de álcool 4. Exercitar-se regularmente 30-45 minutos, de três a cinco vezes por semana 5. Abandonar o tabagismo 6. Controlar as alterações das gorduras sangüíneas (dislipemias), evitando os

alimentos que aumentam os triglicerídeos como os açúcares, mel, melado, rapadura, álcool e os ricos em colesterol ou gorduras saturadas: banha, torresmo, leite integral, manteiga, creme de leite, lingüiça, salame, presunto, frituras, frutos do mar, miúdos, pele de frango, dobradinha, mocotó, gema de ovo, carne gorda, azeite de dendê, castanha, amendoins, chocolate e sorvetes

7. Controlar o estresse 8. Reduzir o sal é muito importante para os hipertensos da raça negra, pois neles a

hipertensão arterial é mais severa e provoca mais acidentes cardiovasculares, necessitando controles médicos constantes e periódicos

9. Evitar drogas que elevam a pressão arterial: anticoncepcionais, antiinflamatórios, moderadores de apetite, descongestionantes nasais, antidepressivos, corticóides, derivados da ergotamina, estimulantes (anfetaminas), cafeína, cocaína e outros.

O tratamento medicamentoso visa reduzir as doenças cardiovasculares e a mortalidade dos pacientes hipertensos. Até o momento, a redução das doenças e da mortalidade em pacientes com hipertensão leve e moderada foi demonstrada de forma convincente com o uso de medicamentos rotineiros do mercado. Na hipertensão severa e/ou maligna, as dificuldades terapêuticas são bem maiores. A escolha correta do medicamento para tratar a hipertensão é uma tarefa do médico.

Na hipertensão arterial primária ou essencial, o tratamento é inespecífico e requer atenções especiais por parte do médico. A hipertensão secundária tem tratamento específico, por exemplo, cirurgia nos tumores da glândula supra-renal ou medicamentos no tratamento do hipertireoidismo.

O tratamento medicamentoso deve observar os seguint es princípios:

1. O medicamento deve ser eficaz por via oral e bem to lerado 2. Deve permitir o menor número de tomadas diárias 3. O tratamento deve ser iniciado com as doses menores possíveis e se

necessário aumentado gradativamente ou associado a outros, com o mínimo de complicações

4. O medicamento deve t er custo compatível com as condições socioeconômicas do paciente para permitir a continu idade do tratamento

5. O mais sério problema no tratamento medicamentoso d a hipertensão arterial é que ele pode ser necessário por toda a vida. Aí e ntão o convenciment o da necessidade do tratamento é muito importante para q ue o paciente tenha uma aderência permanente

6. Os controles médicos devem ser periódicos para o ac erto das dosagens medicamentosas e acompanhamento da evolução da doen ça cardiovascular

Perguntas que você pode fazer ao seu médico O que é pressão alta? Qual o nível da minha pressão? Devo fazer verificação da minha pressão em casa? O que pode me acontecer se eu não tratar a pressão alta? Quais os efeitos colaterais do tratamento? Fonte: BUSATO, Otto. Hipertensão arterial: prevenção e tratamento. Disponível em:

<http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?246>. Acesso em: 10 jan. 2006.

ANEXO B - Tabela de Índice de Hipertensos

D.27 Taxa de prevalência de hipertensão arterial Percentual de indivíduos que referiram ter diagnóst ico clínico de hipertensão em pelo menos uma consulta, entre os que referiram ter real izado exame para medir a pressão arterial nos últimos dois anos, na população de 25 anos ou mais, por sexo, Distrito Federal e 17 capitais brasileiras, 2002-2003 e 2004-2005.

Masculino Feminino Total Capitais

% IC 95% % IC 95% % IC 95%

Manaus 17,9 (14,5-21,4) 26,0 (23,0-29,0) 22,7 (20,4-25,0)

Belém 18,7 (14,2-23,2) 23,5 (19,4-27,6) 21,6 (18,7-24,5)

Palmas 16,3 (13,3-19,3) 17,4 (13,5-21,4) 16,9 (14,3-19,5)

São Luís 18,2 (14,4-21,9) 26,4 (22,8-30,1) 23,1 (20,2-26,0)

Fortaleza 23,3 (19,9-26,7) 28,4 (24,9-31,9) 26,3 (23,7-28,8)

Natal 21,9 (*) (16,5-27,4) 28,6 (23,6-33,6) 25,9 (22,1-29,7)

João Pessoa 19,7 (15,0-24,4) 23,4 (19,4-27,4) 22,0 (18,5-25,6)

Recife 26,5 (21,1-32,0) 31,6 (26,4-36,7) 29,5 (25,5-33,5)

Aracaju 20,4 (*) (14,8-26,0) 29,5 (24,3-34,8) 25,8 (21,5-30,2)

Belo Horizonte 22,7 (19,7-25,6) 28,0 (24,8-31,3) 25,8 (23,6-28,0)

Vitória 25,9 (20,6-31,1) 27,2 (20,1-34,2) 26,6 (21,5-31,7)

Rio de Janeiro 27,3 (24,4-30,1) 33,3 (30,8-35,8) 31,0 (29,1-32,8)

São Paulo 26,5 (22,1-30,9) 31,2 (26,9-35,6) 29,3 (26,1-32,4)

Curitiba 23,6 (20,3-26,9) 28,5 (25,0-31,9) 26,4 (23,8-29,0)

Florianópolis 21,6 (16,1-27,1) 32,1 (26,0-38,2) 27,7 (23,0-32,4)

Porto Alegre 24,9 (20,4-29,3) 34,1 (29,9-38,2) 30,2 (27,0-33,4)

Campo Grande 20,5 (*) (14,4-26,6) 29,5 (23,9-35,1) 25,7 (21,4-30,0)

Brasília 19,7 (16,6-22,8) 27,3 (23,9-30,6) 24,0 (21,9-26,1)

Fonte : Ministério da Saúde/SVS e Instituto Nacional do Câncer (INCA): Inquérito Domiciliar de Comportamentos de Risco de Morbidade Referida de Doenças e Agravos Não Transmissíveis.

Notas : 1. Informações de 2004-2005 para Palmas e São Luís e de 2002-2003 para demais capitais. 2. A coluna IC 95% apresenta o intervalo de confiança (α = 0,05) da taxa de prevalência, levando-se

em consideração o efeito do desenho do estudo. 3. (*): O número de entrevistados que referiram ter diagnóstico clínico de hipertensão nesta capital e

neste grupo é inferior a 50; portanto, recomenda-se cautela na interpretação dos resultados

Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Indicadores de morbidade e fatores de risco: taxa de prevalência de

hipertensão arterial. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2006/d27a.htm>. Acesso em: 5 maio 2008.