INTERDISCIPLINARIDADE_2

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INTERDISCIPLINARIDADE / PROJETOS

Que se entende por interdisciplinaridade? Como se dá nossa relação com o mundo social, natural e cultural? Esta relação se dá fragmentada, de tal modo que cada fenômeno observado ou vivido é entendido ou percebido como fato isolado? Ou essa relação se dá de forma global, entendendo que cada fenômeno observado ou vivido está inserido numa rede de relações que lhe dá sentido e significado? Enfim como se dá o conhecimento? E como se realiza um fazer docente pautado no conceito de interdisciplinaridade?As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – Parecer CEB/CNB no. 15/98, instituídas pela Resolução nº. 4/98, entre outras disposições, determinam que os currículos se organizem em áreas – “a base nacional comum dos currículos do ensino médio será organizada em áreas de conhecimento” – estruturadas pelos princípios pedagógicos da interdisciplinaridade, da contextualização, da identidade, da diversidade e autonomia, redefinindo, de modo radical, a forma como têm sido realizadas a seleção e organização de conteúdos e a definição de metodologias nas escolas em nosso país.Foram organizadas e propostas três áreas curriculares: Linguagens e Códigos e suas tecnologias, Ciências da Natureza e Matemática e suas tecnologias e Ciências Humanas, Filosofia e suas tecnologias.Entre os princípios pedagógicos que estruturam as áreas de conhecimento destaca-se como eixo articulador, a interdisciplinaridade. Para observância da interdisciplinaridade é preciso entender que as disciplinas escolares resultam de recortes e seleções arbitrários, historicamente constituídos, expressões de interesses e relações de poder que ressaltam, ocultam ou negam saberes.E mais: alguns campos de saber são privilegiados em sua representação como disciplinas escolares e outros não. Historicamente são valorizados determinados campos do conhecimento escolar, sob o argumento de que se mostram úteis para resolver problemas de dia a dia. A forma de inserção e abordagem das disciplinas num currículo escolar é em si mesma indicadora de uma opção pedagógica de propiciar ao aluno a construção de um conhecimento fragmentário ou orgânico e significativo, quanto à compreensão dos fenômenos naturais, sociais e culturais.É importante deixar claro que a prática docente, ao adotar a interdisplinaridade como metodologia no desenvolvimento do currículo escolar, não significa o abandono das disciplinas nem supõe para o professor uma “pluri-especialização” bem difícil de se imaginar, com o risco do sincretismo e da superficialidade. Para maior consciência da realidade, para que os fenômenos complexos sejam observados, vistos, entendidos e descritos torna-se cada vez mais importante a confrontação de olhares plurais na observação da situação de aprendizagem. Daí a necessidade de um trabalho de equipe realmente pluridisciplinar.A contextualização, outro princípio pedagógico que rege a articulação das disciplinas escolares, não deve ser entendida como uma proposta de esvaziamento, como uma proposta redutora do processo ensino aprendizagem, circunscrevendo-o ao que está no redor imediato do aluno, suas experiências e vivências. Um trabalho contextualizado parte do saber dos alunos para desenvolver competências que venham a ampliar este saber inicial. Um saber que situe os alunos num campo mais amplo de conhecimentos, de modo que possam efetivamente se integrar na sociedade, atuando, interagindo e interferindo sobre ela.

Os conteúdos são necessários e necessitam ser claramente compreendidos e sabemos que os alunos precisam se apropriar desse conhecimento. Porém, as habilidades precisam dividir o centro das atenções porque elas indicam o “saber fazer”, ou seja, transpor os conteúdos assimilados para situações do cotidiano. O professor precisa, hoje mais do que nunca, estar atualizado e ser um orientador da aprendizagem, ser criativo, articular conhecimentos e facilitar a aprendizagem de seu aluno.Segundo Giassi (2008) para aplicar a contextualização o professor necessita mais do que simples graduação em sua área, ele precisa avançar em sua compreensão de aprendizagem, dos seus desafios e obstáculos. Partimos, então, do pressuposto de que a formação da aprendizagem acontece baseada na reflexão sobre o vivido, pela interpretação teórica da prática, pela partilha coletiva do conhecimento, pelo rompimento com os esquemas curriculares tradicionais e em redes muito mais amplas do que só aquelas tecidas nas salas de aula.O que todo professor precisa fazer é incorporar metas comuns às várias disciplinas do currículo, como “informações, conceitos, conhecimentos, valores, práticas e todas as formas culturais que os alunos devem

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aprender “ aliadas ao desenvolvimento da leitura, da escrita, da resolução de problemas, da interpretação das diferentes linguagens desenvolvidas nos demais componentes curriculares e oferecer uma opção de desenvolvimento de habilidades e competências através de procedimentos e métodos envolventes, sinalizando uma nova atitude da escola e dos professores.O projeto deve ser elaborado coletivamente e servir de base para todas as atividades de ensino e de aprendizagem planejadas pelos professores para serem desenvolvidas em sala de aula. E sala de aula, aqui, não deve ser considerada apenas o espaço de quatro paredes com carteira e lousa, mas todo o ambiente onde uma aprendizagem acontece: a sala de leitura, o pátio da escola, a quadra de esportes, as imediações da escola, o comércio local.Dentro desta perspectiva, o projeto deve ter como base, três questões principais:● Como os conteúdos, centrados na aprendizagem interligada à interdisciplinaridade, contribuem

para que os professores e alunos construam uma concepção de investigação, diferente da recorrente?

● Como é possível estabelecer relações entre o discurso dos professores das diferentes áreas de forma abrangente e diferenciada a fim de conseguirem fazer da escola ou sala de aula um ambiente transformador?

● Que saberes norteiam a prática pedagógica dos professores e alunos de todas as séries ?As escolhas pedagógicas feitas numa disciplina não devem ser independentes do tratamento dado às demais, uma vez que deve ser uma ação de cunho interdisciplinar que articula o trabalho das disciplinas, no sentido de promover competências – deve haver a preocupação de saber quem são os alunos, quais são as experiências de vida e os conhecimentos que eles trazem, quais são suas expectativas e suas dificuldades. Essa preocupação é fundamental para que os professores não confundam o aluno real com o aluno idealizado: bem nascido, bem cuidado, com uma família que valoriza o mesmo que a escola valoriza, com acesso a computador, biblioteca e demais bens. O projeto deve levar em conta os alunos provenientes de famílias de baixa renda e pouca escolaridade, que não possuem muitos livros em casa, que não leem jornal diariamente e a preocupação inicial deve ser suprir essas deficiências.

“...a reforma deve se originar dos próprios educadores e não do exterior.”

(Morin, 2002 B, p.35)

No final, o projeto da escola deve avaliar : Os alunos aprenderam os conceitos? As atividades propostas foram adequadas? Os objetivos propostos foram atingidos? Novas habilidades foram desenvolvidas? Todos os alunos se envolveram na resolução dos problemas propostos? Houve “mudança de atitude” por parte dos alunos?

O que deve servir de base para o sucesso do projeto é a preocupação com o aluno que aprende, o professor que ensina e os conteúdos ensinados, além das habilidades desenvolvidas.

“O grande problema, pois, é encontrar a difícil articulação entre as ciências que têm, cada uma delas, não apenas sua linguagem própria, mas também conceitos fundamentais que não podem ser transferidos de uma linguagem para outra.

(Morin, 2002 A, p.113