Inteligência

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Psicologia ERS 8ª Unidade - Inteligência 1 Inteligência (Capacidade de adaptação às circunstâncias) Composição Natureza Capacidade geral Conjunto de aptidões Hereditária Adquirida Inteligência prática . Capacidade para resolver problemas novos postos por circunstâncias concretas, mediante percepções, acções, criação e adaptação de instrumentos. A inteligência será a capacidade que, mediante a resolução de problemas práticos e abstractos, nos permite aprender com a experiência e efectuar uma adaptação bem sucedida no meio, enfrentando de modo eficaz os desafios que este apresente. COMPOSIÇÃO DA INTELIGÊNCIA Charles Spearman: a inteligência como capacidade geral (o factor G) Há duas ideias centrais no pensamento de Spearman: 1) a inteligência é uma capacidade unitária subjacente a todas as nossas capacidades intelectuais; 2) uma pessoa tende a manifestar o mesmo grau de inteligência em diferentes àreas. A inteligência, de acordo com Spearman é uma capacidade global semelhante em todas as pessoas e que, de pessoa para pessoa, só difere em grau. Essa capacidade unitária e o factor G (de geral). Método Factorial (análise factorial) um teste de inteligência deveria ser composto por vários subtestes, incidindo em áreas ou competências diferentes, a análise factorial permite detectar correlações entre os resultados de diferentes testes. Inteligência conceptual . Capacidade para resolver problemas novos por intermédio de conceitos e símbolos exprimíveis verbalmente.

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Psicologia ERS 8ª Unidade - Inteligência 1

Inteligência (Capacidade de adaptação às circunstâncias) Composição Natureza Capacidade geral Conjunto de aptidões Hereditária Adquirida

Inteligência prática

. Capacidade para resolver problemas novos postos por circunstâncias concretas, mediante percepções, acções, criação e adaptação de instrumentos.

• A inteligência será a capacidade que, mediante a resolução de problemas práticos e abstractos, nos permite aprender com a experiência e efectuar uma adaptação bem sucedida no meio, enfrentando de modo eficaz os desafios que este apresente.

• COMPOSIÇÃO DA INTELIGÊNCIA• Charles Spearman: a inteligência como capacidade geral (o factor G)

• Há duas ideias centrais no pensamento de Spearman:• 1) a inteligência é uma capacidade unitária subjacente a todas as nossas capacidades intelectuais;• 2) uma pessoa tende a manifestar o mesmo grau de inteligência em diferentes àreas.• A inteligência, de acordo com Spearman é uma capacidade global semelhante em todas as pessoas e que, de pessoa

para pessoa, só difere em grau. Essa capacidade unitária e o factor G (de geral).

• Método Factorial (análise factorial) um teste de inteligência deveria ser composto por vários subtestes, incidindo em áreas ou competências diferentes, a análise factorial permite detectar correlações entre os resultados de diferentes testes.

Inteligência conceptual

. Capacidade para resolver problemas novos por intermédio de conceitos e símbolos exprimíveis verbalmente.

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L.L. Thurstone: a teoria ou concepção multifactorial da inteligência.Aplicou o método factorial com uma maior variedade de sub testes, Thurstone detectou diferenças de desempenho que o levaram a desvalorizar o factor G e a destacar a existência de sete capacidades ou aptidões mentais básicas.

Aptidões Mentais

Primárias

Exemplos

Compreensão verbal

Identificar sinónimos;

Compreende, pelo contexto, o significado de palavras desconhecidas.

Fluência verbal Fala e escreve de forma clara e bem articulada; domina a linguagem oral e escrita.

Aptidão numérica

Capacidade para efectuar cálculos numéricos.

Relações espaciais

Identifica figuras geométricas de diferentes perspectivas; calcula intuitivamente dimensões e distâncias.

Memória Recorda nomes em contexto aproximados.

Raciocínio Deduz, induz e estabelece analogias apropriadas.

Rapidez de percepção

Identifica semelhanças e diferenças entre objectos.

Howard Gardner: A teoria das inteligências múltiplas.

Howard Gardner é um ardoroso defensor de uma concepção alargada de inteligência. Este define a inteligência como a capacidade ou conjunto de capacidades que torna possível a um indivíduo resolver problemas mas também criar ou inventar objectos, ideias e outros produtos relevantes e influentes num dado contexto cultural.

Gardner sustentou que o termo «inteligência» estava a ser usado em sentido muito estrito, designando apenas ou sobretudo capacidades cognitivas e académicas – aquelas mais facilmente avaliadas por testes de “papel e lápis”. Não abrangia, portanto, os tipos de inteligência que encontramos em grandes artistas, atletas e criadores de opinião. Os sucessos destas pessoas deviam ser suficientes, pensou, para adoptarmos uma definição mais vasta de inteligência. A sua proposta é radical: não há inteligência, há múltiplas formas de inteligência que pouco dependem uma das outras.

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As inteligências múltiplas segundo Gardner

Inteligência lógico - matemática

Competência em matérias de natureza lógico - abstracto, em estabelecer relações entre objectos e abstracções dominando os princípios nas quais elas se baseiam.

Inteligência espacial

Aptidão para a percepção precisa do mundo visível, para modificar e transformar as percepções, recriando as experiências visuais mesmo sem o apoio dos estímulos físicos.

Inteligência musical

Competência em matéria de frequência, ritmo e timbre, na composição e execução de obras musicais assim como também na sua audição. Estabelece ligações com a inteligência linguística e espacial.

Inteligência corporal -

cinestésica

Competência no controlo e harmonização dos movimentos do corpo e capacidade de orientação e manipulação de objectos.

Inteligência linguística

Domínio da linguagem e das palavras, capacidade de exploração das suas múltiplas potencialidades. Lêem e escrevem bem e também de forma criativa.

Inteligência intrapessoal

Aptidão para se compreender a si mesma, para se observar e analisar a si próprio, descrevendo os seus estados de alma, determinando com precisão sentimentos e outras situações mentais.

Inteligência interpessoal

Capacidade de compreender, de se identificar com os outros e de comunicar com eles. Inteligência presente nos políticos em geral e em pessoas pertencentes a diversas profissões.

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Os testes de inteligência• O teste ou escala de Stanford – Binet• Os responsáveis pela educação em França, em 1904, pouco depois de terem instituído a

escolaridade obrigatório, convidaram Binet a encontrar uma fórmula objectiva de identificar as crianças que teriam dificuldades na aprendizagem do currículo normal e que, portanto, necessitassem de atenção especial.

• Apesar de estar convicto de que múltiplos factores influenciam o nosso desempenho intelectual, Binet, com a ajuda de Simon, construiu um teste cujo resultado revelaria o nível de funcionamento intelectual de cada criança e poderia facilmente utilizado pelo sistema escolar. O teste, criado em 1905, continha questões acerca de resolução de problemas, aritmética, vocabulário, raciocínio lógico, conhecimentos gerais e memória – competências tipicamente necessárias para o sucesso no meio escolar.

• Construído o teste, as questões eram organizadas numa ordem de dificuldade crescente, ou seja, o teste era construído por vários subtestes que atendiam à idade das crianças. As centenas de questões que Binet e Simon administraram aos estudantes de Paris, além de permitirem de permitirem elaborar o teste que os tornou famosos, tornaram possível definir médias estatísticas correspondentes a diversas faixas etárias. Por isso mesmo, a cotação do teste determinava a idade mental de uma criança. Possuindo a média estatística do desempenho de crianças com a mesma idade cronológica, era relativamente fácil determinar o nível de aptidão mental de cada criança, ou seja, se possuía uma capacidade intelectual inferior, idêntica ou superior ao «normal» (à média). A idade mental de uma criança indicava se ela exibia ou não aptidões intelectuais típicas da sua idade cronológica ou real.

• Os testes ou escalas de Wechsler• Wechsler discordava da ideia de que a inteligência fosse uma capacidade unitária, expressa

na aptidão verbal e o raciocínio lógico – matemático. Por isso, além de elaborar um teste especificamente para adultos, reduziu significativamente o peso do material verbal e conceptual, incluindo muitos items que exigiam raciocínio não – verbal, ou seja, o seu teste contemplava múltiplos aspectos da inteligência.

• A outra inovação de Wechsler consistiu em, abandonando a ideia de idade mental, manter um sistema de cotação com as mesmas características (a média designada por 100) mas alterando o significado do Q.I. Este passará a indicar simplesmente o resultado obtido por um indivíduo num teste de inteligência é superior, igual ou inferior à média do grupo etário em que é integrado. O Q.I. já não compara a idade cronológica com a idade mental mas mede o grau de afastamento do Q.I. em relação à média de resultados de um dado grupo, isto é, indica se nos afastamos muito, pouco ou nada de tal média.

Quociente = Idade Mental (I.M) x100

Intelectual Idade Cronológica (I.C)

Suponhamos que uma criança de 8 anos tem um desempenho igual à média das crianças da sua idade, ou seja, consegue um resultado que também é conseguido por 50% das crianças da sua idade. Nesse caso, a sua idade mental será idêntica à sua idade cronológica. O seu Q.I será de 100.

Q.I. = I.M. (8) x100 = 100

I.C.(8)

Imaginemos uma segunda situação: uma criança de oito anos (I.C.) responde ao teste tal como a média das crianças de 10 anos. Nesse caso, a sua idade mental será superior à sua idade cronológica. O seu Q.I. será de 125.

Q.I. = I.M.(10) x 100 = 125

I.C.(8)

Suponhamos finalmente que uma criança de 12 anos (I.C.) consegue um resultado igual à média das crianças de 10 anos. O seu Q.I. será inferior a 100, isto é4 inferior à média

Q.I. = I.M. (10) x 100 = 83

I.C. (12)

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Críticas aos testes de inteligência• Múltiplas críticas são dirigidas ao uso dos testes de inteligência. Vejamos algumas das críticas mais

frequentes: 1 – Não é legitimo medir a inteligência porque nenhuma definição clara e consensual de inteligência foi

estabelecida. 2 – Os testes de inteligência induzem a confundir inteligência e Q.I. Por que não devemos confundir Q.I. e

inteligência? Por várias razões: 1º porque o Q.I. é simplesmente uma avaliação comparativa, num dado momento, das aquisições e condutas adaptativas de um sujeito. A inteligência é evolutiva, não está definitivamente fixada e depende factores psicossociais; 2º porque o Q.I. é uma medida de performances intelectuais que, por si sós, não esgotam o domínio das «aptidões mentais». Os testes de Q.I. põem sobretudo à prova a inteligência verbal (escrita, leitura, cálculo, compreensão da linguagem, ou seja, o seu universo é o mundo escolar) e isso sempre numa determinada época e numa dada cultura. Vários aspectos da actividade cognitiva e intelectual são negligenciados nos testes de Q.I.: o sentido prático, e a capacidade de orientação no espaço, a habilidade corporal, a criatividade, a competência quer a compor, a executar ou a ouvir uma obra musical, etc.

3 – O uso dos testes de inteligência tende a abstrair de influências exteriores importantes para o desempenho intelectual. A inteligência é sempre a inteligência de alguém numa determinada situação. Não se exerce em abstracto. Por isso, o seu funcionamento pode ser afectado por factores emotivos, pela existência de problemas psicológicos, etc. Por outro lado, está provado que o treino e a familiaridade com testes de inteligência têm como efeito uma melhoria dos resultados. E não dependerão os resultados no teste mais da motivação para o sucesso do que a inteligência real do indivíduo?

4 – Os testes de inteligência são constituídos por informação aprendida no ambiente escolar e, por isso, reflectem a qualidade dessa aprendizagem e não a inteligência efectiva e real do indivíduo. Os testes de inteligência são acusados de sobrevalorizarem as capacidades indispensáveis ao sucesso escolar desvalorizando ou esquecendo muitas outras desenvolvidas fora do ambiente educativo formal.

5 – Os testes de inteligência são pouco flexíveis quanto aos critérios de correcção porque para cada item somente admite como correcta uma resposta.

6 – Os testes de inteligência não medem nem podem avaliar as capacidades criativas.7 – Os teste s de inteligência são culturalmente tendenciosos e desfavorecedores. São acusados de favorecer

determinados grupos socio - culturais em detrimento de outros. Normalmente, os testes, quanto ao seu conteúdo, exigem o conhecimento da cultura dominante, sendo elaborados por e para indivíduos de uma cultura específica pelo que pessoas de outros contextos culturais – no interior de um mesmo país – podem estar desde logo numa situação de desvantagem. Tendo em conta, por outro lado, que os testes de inteligência tendem a avaliar aptidões e conhecimentos relacionados com a aprendizagem escolar, os indivíduos oriundos de classes sociais economicamente desfavorecidas e com escassa instrução estarão em situação desvantajosa. Nos testes de inteligência está implícita uma concepção de inteligência. Os testes de inteligência e a própria concepção de inteligência são construções culturalmente condicionadas.

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Inteligência e criatividade

A definição de criatividade varia conforme as culturas mas é geralmente aceite que ela é a capacidade de pensar de forma inovadora e de encontrar soluções únicas para problemas práticos abstractos combinando de modo geral diversos elementos existentes ou introduzindo outros.

“ Criatividade é a capacidade de desenvolver respostas originais, novas e apropriadas a um

problema. Uma resposta original é uma resposta que não imita ou copia uma outra, ou seja, uma resposta cuja origem reside em quem reside em quem responde ao problema (é pessoal) e que não é habitualmente dada. Uma resposta nova é uma resposta nova é uma resposta inovadora, que não tem precedente.Mas, para a maioria dos psicólogos, uma resposta original e inovadora só é criativa se fôr

igualmente apropriada. Uma resposta apropriada é uma resposta razoável, tendo em conta a situação problemática.”

Lester Lefton, Psychology, Allyn and Bacon, 6.ª edição p. 24

O pensamento convergente é uma operação cognitiva de carácter essencialmente lógico – dedutivo que resolve problemas aplicando esquemas mentais já utilizados em situações semelhantes às que se colocam no momento. O problema a resolver é encaixado em moldes de resolução adquiridos, convencionais, convergindo a análise e o raciocínio para uma resposta única. Centrando-se na produção de uma única solução, o pensamento convergente restringe as possibilidades de resoluçãoO pensamento divergente é um processo mental que se desenvolve afastando-se de esquemas pré – estabelecidos ou de formas padronizadas de resolução de problemas.Mais do que a precisão lógico dedutiva valorizam-se a intuição e a imaginação, a liberdade de experimentar hipóteses variadas de solução. Assim, ao contrário da fixidez funcional típica do pensamento convergente, o pensamento divergente revela fluidez funcional.

INTELIGÊNCIA FLUÍDA E CRISTALIZADAA inteligência é um processo de adaptação à realidade. A adaptação implica a necessidade de resolver problemas (tais como: «o que fazer para combater o efeito de estufa?»). A resolução de problemas implica: 1- tentar atingir o objectivo (solucionar o problema); 2 –uma sequência de passos em direcção ao objectivo e 3 – a utilização do pensamento.À capacidade para enfrentar e tentar resolver novos problemas deu Raymond Cattell o nome de inteligência fluida. Opôs a esta, a inteligência cristalizada, dotada de eficácia em virtude da prática e da familiaridade com os problemas mas cujas soluções são pouco inovadoras. Há uma certa semelhança entre inteligência fluida e pensamento divergente.

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O que caracteriza o comportamento criativoO que caracteriza o comportamento criativo?O comportamento criativo implica as seguintes características:

1 – A capacidade de definir claramente um problema, de adoptar um modo de pensar não limitado às estratégias conhecidas.2 – Ter capacidade de iniciativa e empenhamento para persistir na procura de soluções, isto é, para investir energia e tempo em determinada actividade (a motivação é uma componente fundamental da criatividade) aceitando fracassos e erros.3 – Ter um bom conhecimento do campo teórico ou prático em que os problemas a resolver se situam.

Que relação existe entre inteligência e criatividade?Em termos gerais, as pessoas com quocientes intelectuais mais elevados não são necessariamente as mais criativas.