Instituto A Vez do Mestre LICENCIATURA EM PEDAGOGIA ... · Por.: Roberta Brito Azevedo Glioche...

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1 Instituto A Vez do Mestre LICENCIATURA EM PEDAGOGIA EDUCAÇÃO E O MUNDO DO TRABALHO Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre, como requisito parcial para obtenção do grau de licenciatura em pedagogia. Por.: Roberta Brito Azevedo Glioche Orientador: prof. MS. Andressa Maria Freire da Rocha Rio de Janeiro 2009 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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Instituto A Vez do Mestre

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

EDUCAÇÃO E O MUNDO DO TRABALHO

Apresentação de monografia ao

Instituto A Vez do Mestre, como

requisito parcial para obtenção do grau

de licenciatura em pedagogia.

Por.: Roberta Brito Azevedo Glioche

Orientador: prof. MS. Andressa Maria

Freire da Rocha

Rio de Janeiro

2009

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pois sem a sua vontade nem

uma folha cai sobre a terra;

As minhas amadas filhas que me

deram amor e carinho até o último

minuto desta jornada;

A minha avó, simplesmente por estar

sempre ao meu lado;

A minha irmã, Daniella, pelo amor e

compreensão;

Ao Alexandre, pelo seu amor, carinho e

dedicação extra em todas as horas;

A Luciana, minha amiga de todas as

horas;

A minha orientadora, professora Ms.

Andressa, pela força nos 45 minutos do

segundo tempo, quando tudo já parecia

perdido.

3

DEDICATÓRIA

A minha mãe, que tão jovem me

deixou, mas que deixou plantada a

semente do gosto pela educação;

Ao meu maravilhoso marido que me

suporta no meus dias ruins;

As minhas amadas filhas que apesar

de minhas ausências me deram força

para continuar minha empreitada me

amando incondicionalmente.

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RESUMO

Somos atingidos diariamente por mudanças em diversas áreas de

nossas vidas. Tais mudanças veem ocorrendo gradativamente, sem contudo

mudar seus objetivos, quais sejam, a busca da compreensão da fase

contemporânea de acumulação de capital.

De acordo com alguns estudiosos, o fenômeno que desencadeou tais

mudanças, forma as modificações nos processos de trabalho iniciadas em

1973 – A grande depressão, e transcorrem até os dias atuais.

É de conhecimento geral, que a sociedade em que vivemos se constitui

de relações mercantis, contudo, é necessário que compreendamos que uma

sociedade capitalista, onde o trabalho é a principal mercadoria, é uma

sociedade produtora de mais-valia, e não apenas de valores de uso, que se

originam no trabalho concreto.

Esta concepção nos traz ao tema desta monografia, a relação entre o

trabalho e a educação. Esta que vem sofrendo profundas transformações como

forma de se adequar as necessidades contemporâneas do mundo do trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................8 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..........................................................10 CAPÍTULO I

1. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO X TRABALHO..........................................11 1.1 Educação e o Fordismo X Taylorismo....................................................12 1.2 Educação e o Toyotismo........................................................................17

CAPÍTULO II 1. A EDUCAÇÃO FRENTE AS EXIGENCIAS DO MERCADO....................20

CAPÍTULO III

1. A EDUCAÇÃO FORMANDO O PROFISSIONAL....................................28 3.1. Educação básica ..................................................................................28 3.2. Escolas técnicas...................................................................................30 3.2. Universidades corporativas...................................................................35 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................41

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INTRODUÇÃO

O encontro entre o trabalho e o conhecimento se dá como forma de

propiciar ao individuo mecanismos que o permitam se adequar as novas

necessidades do mundo moderno, buscando uma educação que atenda a tais

necessidades.

Tal conhecimento é algo que se origina na necessidade, na curiosidade

em se obter a solução de certa atividade, quando orientada inteligentemente.

Durante a evolução do homem, a educação vem sofrendo mudanças,

sempre no sentido de capacitar o homem às novas diretrizes a qual a

sociedade a época lhe impõe, deixando clara a função da educação, frente a

natureza do homem, do conhecimento, e de seu comportamento social, moral.

Somos atingidos diariamente por mudanças em diversas áreas de

nossas vidas. Tais mudanças vem ocorrendo gradativamente, sem contudo

mudar seus objetivos, quais sejam, a busca da compreensão da fase

contemporânea de acumulação de capital.

Este trabalho constitui-se de pesquisa bibliográfica sobre a relação entre

trabalho e educação. Inicia-se numa análise sobre a história da educação e dos

modos de produção. Buscaremos aprender o complexo da estrutura produtiva

que iniciou as formas de produção flexíveis que se e em novas formas de

organização e gestão do trabalho.

Trata-se de compreendermos as consequências desse processo para a

formação do trabalhador que, segundo os pressupostos organizacionais do

toyotismo, tem que ser qualificado, polivalente e multifuncional. Trataremos

também nesse contexto histórico, a heterogeneidade, fragmentação e

precariação do “mundo do trabalho”, que convive com políticas públicas de

formação profissional norteadas pela pedagogia de aprender continuamente.

Essas mudanças geram novas exigências para o trabalhador, de que as

empresas passam a exigir novos “atributos, atitudes e habilidades”.

Dessa forma, surge o conceito de empregabilidade que modifica a teoria

do capital humano. Consolida-se, desta forma, o conceito do capital sob a ótica

do toyotismo, que espalha-se pelo mundo da educação, numa apologia de

governos e empresas.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Desenvolver estudo bibliográfico dos movimentos sociais e políticos, das

intervenções educativas e das elaborações teóricas sobre a educação, de cada

item temático em seu respectivo momento histórico.

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CAPÍTULO I

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO X TRABALHO

De acordo com Teixeira (2006), nossa civilização vem “progredindo

materialmente e se deteriorando espiritualmente, acrescentando muitos que

isto se vem dando pelo abandono dos valores morais e humanos”.

Durante a Idade Média, a educação era voltada apenas por um pequeno

grupo de pessoas que buscavam o crescimento intelectual e espiritual,

enquanto aos demais (escravos) ficavam a responsabilidade de atender as

necessidades materiais de toda a população. Porém essa formula, jamais

atenderia as necessidades de uma sociedade moderna. Essa por sua vez

busca até hoje, soluções para seus problemas de organização e bem-estar.

Ainda de acordo com Teixeira (2006)

“Os gregos já alicerçados em um regime escravocrata, chegaram,

efetivamente, a desenvolver toda uma filosofia para esse tipo especial de

homem “livre” e ‘espiritual”. Aceita que fosse a teoria de que certos homens são

“escravos”, até por natureza, a teoria social consequentemente importaria em

um conceito de homem livre a maneira grega, isto é, cujas necessidades

matérias seriam atendidas por escravos e que se entregaria as delicias da vida

mental...” (p.50)

Ainda segundo Teixeira, 2006 estamos na busca de uma “...organização

social em que todos os homens tenham oportunidades iguais para se

desenvolverem aqui e agora uma vida decente e de progressivo bem-estar,

fundada no trabalho e em uma organização social justa”.

1.1.Educação e o fordismo/Taylorismo

9

Fordismo foi o modelo de produção desenvolvido por Henry Ford o qual

tinha o objetivo era produzir a preços baixos, para compra em massa pelos

norte-americanos. Enquanto Taylorismo foi desenvolvido pelo engenheiro

Frederick Winslow Taylor.

Segundo LACOMBE (2008),

“Taylorismo é o sistema de produção baseado na organização racional do

trabalho e na sua remuneração das pessoas pelo resultado obtido, para obter o

máximo de produção, com alta qualidade e no tempo mínimo” (p43,44)

Suas principais medidas forma a desqualificação dos operários, que

montavam o carro do inicio ao fim, e parcelou as atividades como forma de

agilizar o processo. Os trabalhadores repetiam os mesmos movimentos

indefinidamente durante a jornada de trabalho.

De acordo com KUENZER (1985), “Começa aí a história da

desqualificação do trabalhador, que tem na manufatura, com sua forma

característica de divisão de trabalho, a sua causa principal, apoiada,

evidentemente, na extração da mais valia”. (p.40)

As empresas passam a buscar uma mão de obra mais capacitada,

aumentando dessa forma os salários e consequentemente o poder aquisitivos

dos funcionários, aumentando assim o número de consumidores.

Segundo Saviani (2005), em seu livro, capitalismo, trabalho e educação

cita:

[...] “Estado de bem-estar” traduziu um determinado grau de

compromisso entre estado, empresas e sindicatos de trabalhadores que, numa

fase de crescimento da economia, assegurou um relativo equilíbrio social e

impulsionou significativamente o desenvolvimento das forças produtivas

10

capitalistas, cujo resultado se materializou num avanço tecnológico de tal

proporção que deu origem a uma nova “revolução industrial”: a revolução

microeletrônica, também chamada de “revolução da informática ou revolução

da automação”. (p.32)

Durante esse período,a educação buscou um padrão que se adequasse

a uma demanda crescente de mão de obra que abastecesse a industria.

Despreocupada com a formação do individuo como um ser crítico, e sim

apoiada na memorização de conceitos e rotinas, este “operário” ideal, era ao

mesmo tempo consumidor e produtor disciplinado e especializado.

De acordo com KUENZER (1985),

[...] “ela deve ser combinada com a persuasão e com o consentimento, o

que se dá, entre outras coisas, pela remuneração mais alta da força de

trabalho que lhe permita alcançar o nível de vida adequado aos novos modos

de produção, que exigem uma forma particular de dispêndio de energias

musculares e nervosas”. (p.51)

As empresas estabeleciam hierarquias na produção, onde haviam os

planejadores e os executadores, ambos disciplinados e especializados.

Ainda de acordo com KUENZER (1985),

“Daí constitui-se a fábrica capitalista em campo fundamental para a

investigação, compreendida como a concretização mais completa e acabada

da divisão do trabalho na sociedade contemporânea, com todos os seus

recursos de exploração, e alienação do trabalho representados pela

especialização de funções, hierarquização do trabalhador coletivo,

automatização do processo produtivo e distribuição desigual de educação,

11

representada pela qualificação dos níveis decisórios e desqualificação dos

níveis ligados a execução.” (p.20)

Inicia-se então o processo de massificação da educação para atender a

demanda desses tipos de trabalhadores. E essa educação também era

estruturada e hierarquizada, onde nos 1° e 2° grau eram voltados para a

formação dos níveis inferiores da fábrica e a formação universitária investia em

pesquisa e qualificação para os planejadores especializados.

Como aponta SANFELICE (2007),

[...] “O que parecia bom para as elites – independentemente de estarem

decadentes ou dependentes, era considerado bom para seus próprios

interesses e, consequentemente, deveria ser bom também para cada cidadão.

Estava em voga o papel da educação em preparar o trabalhador para obedecer

e agir conforme as ordens ditadas por aqueles que estavam no topo

hierárquico da estrutura produtiva industrial, de modo a revelar uma educação

massificada, plenamente adaptável ao modelo produtivo vigente, que requeria

um grande número de trabalhadores para as tarefas rotineiras, a serem

executadas sem questionamentos ou qualquer outro tipo de resistência. (p.544)

Max Weber, intelectual alemão, já falava sobre o tipo de formação

oferecida aos estudantes universitários, como um ensino seriado com o intuito

de formar especialistas capazes de gerir empresas. Calculistas, administrariam

as empresas de forma a evitar desperdícios e, desta forma, potencializar o

acúmulo de capital.

Esse tipo de formação, despreocupada com o cognitivo do ser humano,

e se apoiando única e exclusivamente com a memorização de uma sequencia

12

de disciplinas seria a responsável pela formação do profissional ideal para

aquela época.

Alterando o papel do professor de intelectual prestigiado, onde ele era

parte fundamental da formação do cidadão distinto e autônomo, para um

simples técnico que deveria utilizar-se de mecanismos que o auxiliassem na

memorização de conteúdos sem questionamentos por parte dos alunos. O

ensino passa a adotar um currículo fechado, afastando cada vez mais o aluno

de seu cotidiano, consequentemente criado cidadãos incapazes de

compreender o mundo em que viviam ou de construírem novos conhecimentos.

Porém, este período, facilitou em demasia tanto a organização sindical

quanto a regulamentação estatal, uma vez que, decorrente da grande

necessidade de trabalhadores para atender ao consumo de massa daquela

época, assegurou um equilíbrio social e impulsionou fortemente o avanço

tecnológico.

De acordo com SAVIANI (2005),

“[...] o chamado “estado de bem estar” traduziu um determinado grau de

comprometimento entre o estado, empresas e sindicatos de trabalhadores que,

numa fase de crescimento da economia, assegurou um relativo equilíbrio social

e impulsionou significativamente o desenvolvimento das forças produtivas

capitalistas, cujo resultado se materializou num avanço tecnológico de tal

proporção que deu origem a uma nova “revolução industrial”: a revolução

microeletrônica, também denominada “revolução da informática” ou “revolução

da automação”

Este avanço se originou na nova revolução industrial, que diferente da

primeira, transferiu para as máquinas não só as funções manuais, como

13

também as intelectuais, liberando assim o homem para, mais uma vez, o

cultivo do intelecto, do corpo e da alma.

Após a grande depressão de 1930 o processo produtivo e a organização

do trabalho, égide ao Fordismo/Taylorismo, acabou por causar um grande

problema de acumulação de capital e consequentemente de desemprego em

massa.

Entretanto, essas práticas são tolhidas pela sociedade e devido a tal

avanço o padrão produtivo é modificado, uma vez que a sociedade encontra-se

mais uma vez em crise, devido ao número de desempregos causados pela

revolução industrial, buscando um novo padrão de acumulação de capital,

como forma de flexibilizar o processo até então existente. Surge então o

Toyotismo.

Ainda de acordo com SAVIANI (2005).

“Nessas condições o avanço tecnológico foi utilizado para alterar o

padrão produtivo, introduzindo a acumulação flexível a qual substitui o

taylorismo fordismo pelo toyotismo[...]” (p.21)

MÉSZAROS (2003), um dos maiores escritor e pensador Marxista dos

nossos tempos em sua obra A educação para além do capital, disserta sobre

as mudanças nos processos produtivos.

“ A razão principal por que este sistema forçosamente escapa a um

significativo grau de controle humano é precisamente o fato de ter ele próprio,

surgido no curso da história como uma poderosa – na verdade, até o presente,

de longe e mais poderoso – estrutura “totalizadora” de controle a qual tudo o

mais, inclusive seres humanos, deve se ajustar, e assim provar sua “viabilidade

produtiva” ou perecer, caso não consiga se adaptar.” (p.96).

14

1.2 Educação e o toyotismo:

O toyotismo surgiu no Japão após a II Guerra mundial, mas só a partir

da crise de 70 é que foi caracterizado como organização de produção

capitalista.

Diferente do cenário onde foi desenvolvido o taylorismo e o fordismo, o

toyotismo desenvolveu-se num pequeno mercado consumidor, capital e

matérias-primas escassos e grande disponibilidade de mão de obra não

especializada. O resultado foi o aumento da produtividade de pequenas

quantidades de números modelos de produtos voltados para o mercado

externo.

Há então o processo de, de acordo com SAVIANI (2005),

“desaquecimento de economia como forma de mantê-la ajustada as relações

sociais vigentes, comandadas pelos interesses do sistema financeiro

internacional” (p.22)

Esta resposta equipamentos e bens de capital necessários para

reconstrução do país após a guerra.

O sistema de ensino atender as demandas do referido modelo também

foi alterado. A mão de obra não poderia ser especializada em funções únicas e

restritas como a fordista, sendo necessária então investir numa educação não

voltada para o trabalho e sim para o enriquecimento do mesmo.

Acrescenta SAVIANI (2005),

“ a partir do final dos anos 1980, entram em cena as reformas educativas

ditas neoliberais que se encontram em andamento. Sob a inspiração do

toyotismo, busca-se flexibilizar e diversificar a organização das escolas e o

trabalho pedagógico, assim como as formas de investimento”.(p.23)

15

O funcionário torna-se polivalente em uma atividade produtiva onde

busca identificar o mais rápido possível um problema, através de um sistema

de luzes, verde, laranja e vermelho, resolve-lo e acelerar a produção.

Para esse novo paradigma produtivo, exige a educação de

trabalhadores de um novo tipo para a adequação aos métodos flexíveis de

organização e gestão de trabalho.

De acordo com Saviani (2005), a educação passa a ser vista como

investimento conforme trecho de seu livro abaixo.

[...] os dispêndios com educação passaram a ser considerados

desejáveis, não apenas por razões sociais ou culturais, mas especificamente

por motivos econômicos, e transformam-se num investimento de retorno ainda

mais compensador do que outros tipos de investimento ligados a produção

material. A educação passou, pois a ser concebida como dotada de um valor

econômico próprio e considerada um bem de produção (capital) e não apenas

de consumo” (p.22).

Pode-se afirmar que é imprescindível a necessidade de posse da

escolaridade básica, compreensão global de um conjunto de tarefas e elevação

da capacidade de abstração e seleção e trato de informações.

Com o intuito de criar um novo padrão de acumulação de capital, em

1973, surge então o toyotismo, como forma de flexibilizar o processo até então

existente.

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CAPÍTULO II

A EDUCAÇÃO FRENTE AS EXIGÊNCIAS DO MERCADO

A globalização é um processo de integração global que induz ao

crescimento da interdependência entre as nações. De ordem política, social e

econômica, tem seus pontos positivos e negativos, pontos esses definidos

pelas relações sociais existentes.

A revolução burguesa foi o que mais acelerou esse processo de

globalização. Uma vez que a sociedade capitalista leva as mercadorias a

ultrapassarem as fronteiras e buscarem mercados mais distantes

De acordo com FRIGOTTO, Boletim técnico do SENAC, volume 25 n°2

“sem dúvida, foi a revolução burguesa que acelerou exponencialmente o

processo de globalização, mormente das mercadorias. Os pensadores que

formularam o pensamento clássico da economia, Adam Smith e Marx, cada um

dentro de sua perspectiva analítica, mostram que a sociedade capitalista

impulsiona as mercadorias para mercados os mais distantes.”

“Num dos mais divulgados e discutidos textos escritos por Marx e

Engels, o Manifesto Comunista, que completou 150 anos em março de 1998, a

positividade e negatividade da globalização é descrita de forma emblemática.”

“Onde quer que tenha assumido o poder, a burguesia pôs fim a todas as

relações feudais, patriarcais e idílicas. (...) A burguesia não pode existir sem

revolucionar constantemente os meios de produção e, por conseguinte, as

relações de produção e, com elas, as relações sociais”. (...) (abud)

De acordo com Kuenzer (1999) em seu trabalho editado no boletim

técnico do SENAC

17

“embora não sejam a principal causa, os avanços da ciência e da

tecnologia, resultantes do investimento do grande capital e dos Estados

Nacionais, passam a ser estruturalmente constituintes do novo modo de

acumulação, contribuindo desta forma para o desemprego não apenas porque

os investimentos geram poucos postos, mas também porque o geram no setor

mais dinâmico, que não por acaso vem sistematicamente substituindo a força

de trabalho pela tecnologia, como estratégia de competitividade e imperativo de

sobrevivência das grandes empresas no âmbito da internacionalização.” (v.25,

n°2)

A velocidade assustadora na qual ocorre hoje a globalização, é

viabilizada por meio de novas tecnologias e uma política orientada para garantir

os lucros do capital financeiro.

Segundo FRIGOTTO (1999)

“Estamos diante, pois, de um processo de globalização com uma

velocidade sem precedentes viabilizada por novas tecnologias

microeletrônicas, informacionais e energéticas e com formas de exclusão,

também sem precedentes, sustentadas pela ideologia e políticas neoliberais.

Trata-se de políticas fundamentalmente orientadas para garantir os lucros do

capital financeiro, em sua maior parte especulativos”. (Boletim Técnico do

SENAC, volume 25 n°2)

Essas dimensões nos permitem compreender o sentido e a função que

assumem as políticas de formação profissional.

As mudanças ocorridas marcaram a transição de uma sociedade

industrializada para uma sociedade tecnológica, onde a tecnologia é o fator

decisivo para justificar as mudanças ocorridas.

18

Segundo SAVIANI (2005),

“Diferentemente da primeira revolução industrial, que operou a

transferência das funções manuais para as máquinas, essa nova revolução

transfere para as máquinas as próprias operações intelectuais, razão pela qual

esta época é chamada de “era das máquinas inteligentes” (p.21)

A sociedade tecnológica não é uma evolução do industrial e sim algo

novo, que não modifica a essência do modo de produção capitalista, mas lhe

traz novos contornos, sobretudo nas exigências de qualificação do trabalhador.

A introdução da microeletrônica, a partir dos anos 90, constituiu-se num

fato constatável em vários setores da vida produtiva e tem acarretado

consequências importantes para o movimento de desqualificação da força de

trabalho.

Ainda citando SAVIANI (2005),

“Os dispêndios com educação passaram a ser considerados desejáveis,

não apenas por razões sociais ou culturais, mas especificamente por motivos

econômicos, e transformam-se num investimento de retorno ainda mais

compensador do que os outros tipos de investimento ligados a produção

material. A educação passou, pois, a ser concebida como adotada de um valor

econômico próprio e considerada em bem de produção (capital) e não apenas

de consumo.” (p.22)

Com a aplicação da microeletrônica, os equipamentos tornam-se mais

“flexíveis” e podem ser programados para diversas finalidades, o que

oportuniza atender a crescente diversificação do mercado. A parcela de

trabalhadores que tem acesso a programação precisa se apresentar com maior

qualificação.

19

A essa base produtiva correspondem processos de trabalhos flexíveis e

maleabilidade das funções. Essa flexibilização traz a possibilidade de uma

redução dos níveis de divisão e fragmentação do trabalho, pois oportuniza a

troca entre as funções e favorece a poli valência, como novo perfil de

qualificação da força de trabalho.

De acordo com Tassigny (2005)

“A mudança da base eletromecânica para a base microeletrônica, passa

a exigir o desenvolvimento de habilidades cognitivas e comportamentais tais

como: capacidade de análise, síntese, rapidez de respostas, criatividade diante

de situações inesperadas, interpretação e uso d diferentes linguagens,

capacidade para trabalhar em grupos etc. As demandas do processo de

valorização do capital, dentro desse novo paradigma produtivo chamado de

“toyotismo” (de inspiração japonesa), exigem a educação de trabalhadores de

novo tipo para adequação aos métodos flexíveis de organização e gestão do

trabalho” (revista Iberoamericana de educação periódico 36-9)

O mercado atual exige pessoas polivalentes, flexíveis, ágeis, com visão

de todo, que leiam e escrevam em vários idiomas e que possuam habilidade

múltiplas. Aquele que não possuir estes pré requisitos estão fadados a

exclusão do processo produtivo e consequentemente ao desemprego, fome e

miséria.

Kuenzer, 2005 cita que essas competências devem fazer parte do perfil

do novo trabalhador como forma de fazer parte dos empregáveis na sociedade.

“[...] passam a exigir o desenvolvimento de competências cognitivas

superiores e de relacionamento, tais como análise, síntese, estabelecimento de

relações, criação de soluções inovadoras, rapidez de resposta, comunicação

20

clara e precisa, interpretação e uso de diferentes formas de linguagem,

capacidade para trabalhar em grupo, gerenciar processos para atingir metas,

trabalhar com prioridades, avaliar, lidar com as diferenças, enfrentar os

desafios das mudanças permanentes, resistir a pressões, desenvolver o

raciocínio lógico-formal aliado a intuição criadora, buscar aprender

permanentemente, e assim por diante. Mesmo para desempenhar tarefas

simplificadas, o elevado custo de um investimento tecnologicamente sofisticado

exige trabalhadores potencialmente capazes de intervir crítica e criativamente

quando necessário, além de observar normas que assegurem a

competitividade e, portanto, o retorno do investimento, através de índices

mínimos de desperdício, retrabalho e risco.” (Boletim Técnico do SENAC, v.37,

n°5).

Diante desta nova e assustadora realidade a maioria dos governos,

buscam políticas de inserção para a população desempregada, e a escola

possui um papel fundamental enquanto importante instrumento de inserção

desses trabalhadores.

Desta forma a reestruturação no âmbito educacional torna-se

imprescindível, fundado na perspectiva das habilidades básicas e específicas

de conhecimentos, atitudes e de gestão da qualidade, construtora de

competências polivalentes e, supostamente, geradoras de empregabilidade.

Segundo Tassigny (2005)

“A mudança da base eletromecânica para a base microeletrônica, passa

a exigir o desenvolvimento de habilidades cognitivas e comportamentais tais

como: capacidade de analise, síntese, rapidez de respostas, criatividade diante

de situações inesperadas, interpretação e uso de diferentes linguagens,

21

capacidade para trabalhar em grupos etc. As demandas do processo de

valorização do capital, dentro desse novo paradigma produtivo chamado de

“toyotismo” (de inspiração japonesa), exigem a educação de trabalhadores de

novo tipo para adequação dos métodos flexíveis de organização e gestão do

trabalho” (Revista Iberoamericana de educação, periódico 36/9)

Mediante urgência da reestruturação da educação regular e

principalmente da formação técnico-profissional, a educação surge como

fórmula para ajustar a sociedade a nova ordem mundial. Sendo que ao invés

de buscar formar cidadãos com habilidades básicas que geram empregos,

buscam sim gerar competências e habilidades que garantam a

empregabilidade. Trata-se agora de serviços ou bens a serem adquiridos para

competir no mercado produtivo.

Outra dimensão que as diretrizes do ensino médio consideram diz

respeito ao que está ocorrendo no mundo do trabalho e no mundo da prática

social, já que, diz a lei, a educação escolar deverá ser vinculada a ambos. As

mudanças em curso na organização do trabalho deixam muitos educadores

atônitos em relação ao perfil de habilidades e competências. O que aumenta a

possibilidade de empregabilidade no mundo de hoje é a ênfase nas habilidades

básicas gerais, tem grande importância a capacidade de análise, a capacidade

de resolver problemas, a capacidade de análise, a capacidade de resolver

problemas, a capacidade de tomar decisões e, sobretudo, ter flexibilidade para

continuar aprendendo.

De acordo com Mello (1999),

[...] Fala-se inclusive em “laborabilidade” em lugar de empregabilidade

na medida em que essas competências constituem na verdade um trabalhador

22

polivalente que pode, quando bem preparado, ser mais autônomo para decidir

seu percurso no mercado de trabalho. (p.166).

A cada dia discuti-se mais sobre uma nova ordem mundial em vários

campos de nossa sociedade, tais como: política, economia, educação e etc.

Essas mudanças estão relacionadas com o processo de globalização.

A globalização repensa a formação educacional dos indivíduos, vindo a

afetar principalmente a classe mais pobre, que sofre com a postura elitista e

seletiva que a educação assume nos dias atuais. O distanciamento entre os

países ricos e pobres fez com que aumentasse a dependência dos pobres em

relação aos ricos. O poderio econômico e político nas mãos de poucos, ditam

as regras de todo o mundo e as políticas educacionais são projetadas e

implantadas segundo as exigências da produção e do mercado.

É o que diz a professora Renata Zanette,

“Na medida em que os Estados Nacionais já não são mais o único

sustentáculo dos sistemas econômicos, estes se encontram com um elevado

grau de exposição e vulnerabilidade, submetidos a tensões de diferentes

lógicas de funcionamento que movem os mercados globais, permitindo que

estados hegemônicos, controladores do processo econômico em escala

mundial, determinem suas leis e a forma de condução das políticas sociais e

educacionais”. (WWW.centrorefeducacional.com.br/estaeduc.htm)

Numa sociedade invadida pela renovação tecnológico-científica, o centro

do processo produtivo está no conhecimento e desta forma na educação. Isto

ocorre porque do ponto de vista global, a força motriz e o eixo da

transformação produtiva são a educação e o conhecimento. Desta forma, bens

necessários a transformação da produção, ao aumento do potencial cientifico e

23

tecnológico e ao aumento do lucro e do poder de competição num mercado

cheio de livres concorrências. Torna-se clara a conexão estabelecida entre

educação e o trabalho.

24

CAPÍTULO III

A EDUCAÇÃO FORMANDO O PROFISSIONAL

Tendo como ponto de partida a educação básica, as transformações

atuais do mundo do trabalho levam hoje aos indivíduos a completarem seus

estudos através de uma aprendizagem constante.

MIESTER (1999), afirma que “nosso conhecimento e nossa qualificação

só são adequadas durante um período de 12 a 18 meses, depois do qual

precisamos reabastecê-los para competir na economia global do

conhecimento”. (p.12).

3.1 EDUCAÇÃO BÁSICA

Em 1549, chegaram os primeiros jesuítas ao Brasil. Quinze dias após

sua chegada, foi edificada a primeira escola elementar brasileira. De lá pra cá,

muitos anos se passaram e a educação brasileira sofreu várias modificações e

avanços até os dias atuais.

Em 1996, com o intuito de melhorar a educação no Brasil, o Governo

Federal criou o PDE (Plano de desenvolvimento da educação). O PDE tem por

finalidade oferecer a todos uma educação de qualidade, realizando

investimentos na educação profissional superior.

A lei de diretrizes básicas 9394/96 foi baseada no principio do direito

universal que rege a educação para todos, bem como uma série de mudanças

voltadas para a garantia da educação básica.

Como forma de auxiliar na busca dessas melhorias, Governo Federal

regulamentou o Fundo de manutenção e desenvolvimento do ensino

fundamental e de valorização do magistério (FUNDEF) como forma de apoiar

as referidas melhorias.

A nova LDB estabelece que a finalidade da educação é o pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho”. (LDB, art 2°)

A pesar desse discurso, KUENZER (1999) discorda dizendo:

“Embora o discurso oficial reproduza o compromisso como

generalização da educação básica, modelo do mundo desenvolvido, que

mesmo não tendo resolvido a questão do emprego já atinge patamares

25

elevados de educação superior para a população, no Brasil ainda lutamos para

universalizar o ensino básico para os que estão na faixa de 7 a 14 anos.

(KUENZER, Boletim Técnico do SENAC)

A educação básica surge então, segundo (1999), “condição de

continuidade de formação, de compreensão dos fundamentos científico-

tecnológicos do trabalho de formação ética e crítica, tendo em vista a

participação cidadã nas relações sociais produtivas”.

CORDÃO (1999) já discorre dizendo:

“Assim, a articulação entre a educação básica e a educação técnica

deve sinalizar as escolas médias quais as competências gerais que as escolas

técnicas esperam que os alunos levem do ensino médio” (BOLETIM TÉCNICO

DO SENAC)

É preciso, contudo, termos consciência das dificuldades e atrasos do

nosso sistema educacional, e da necessidade iniciar urgentemente um

processo de melhoria. De acordo com CORDÃO (1999)

“ É essencial que se concentrem os esforços na instauração de um

processo de contínua melhoria da qualidade da educação básica, o que

significa, sobretudo, preparar crianças e jovens para um mundo regido,

fundamentalmente, pelo conhecimento e pela mudança rápida e constante.

Importa, portanto, capacitar cidadãos para uma aprendizagem autônoma e

contínua, tanto no que se refere as competências essências, comuns e gerais a

todos os cidadão, quanto no tocante as competências profissionais

especificas.” (Boletim técnico do SENAC)

3.2 ESCOLAS TÉCNICAS

Desde as primeiras décadas do Brasil República já existiam escolas

para formação para o trabalho. Como forma de prover as classes menos

abastadas meios que propiciassem meios que garantissem sua sobrevivência.

Segundo PELIANO (1989)

“A formação nas primeiras décadas do Brasil republicano, de modo

geral, foi um expediente largamente usado pela classe dirigente como meio de

contenção do que ela considerava “desordem social”, na verdade, sinais

presentes em cenário dinâmico e em transição, moldado fortemente pelo

processo de urbanização, com notável mobilização popular e classista em

busca de melhores condições de vida e de trabalho”. (p.156)

26

Com a evolução da atividade agrária para industrial, forma criadas em

1942 as escolas industriais e técnicas, tomando lugar as escolas de aprendizes

artífices, criadas em 1909. Segundo KUENZER (1985),

[...] o abandono violento do sistema artesanal pela introdução da

máquina no processo produtivo. Ao mesmo tempo que revolucionou os

métodos de organização do trabalho, a heterogestão trazida pelo novo modo e

produção que se iniciava, o capitalista, revolucionou as formas de educação

para o trabalho, a medida que a maquinaria substituiu o artesão, o aprendizado

longo de um trabalho completo foi sendo substituído por um aprendizado mais

fragmentado de uma tarefa parcial. (p.25)

Porém, podemos reconhecer que a formação dessa mão de obra

contribuiu sobre maneira, as demandas do setor industrial. (Cunha, 2000, p.66)

PELIANO, (1989) discorre sobre as claras intenções do governo com a

criação escolas industriais e técnica no trecho abaixo: “ A criação das escolas

industriais e técnicas evidencia, em maior grau, que o objetivo principal destas

instituições era a qualificação de mão de obra para as atividades industriais, ou

seja, estas instituições afastavam-se sobremaneira – de modo direto – de

objetivos associados a disciplina social, ainda que o público alvo a ser

alcançado continuasse a ser a população de baixa renda”. (p.158).

De qualquer forma, é posterior as décadas de 60-70, período em que o

parque industrial teve seu forte desenvolvimento, que a educaçao profissional

de nível médio foi considerada como de importância primordial em termos de

formação de mão de obra.

Assim, segundo Peliano (1989), “é que em 1971, a lei de diretrizes e

bases da educação brasileira tornou, de maneira compulsória, técnico

profissional todo o currículo do segundo grau. Um novo paradigma se

estabeleceu, formar técnicos sob regime de urgência.” (p.159)

Muito ajudava o fato do sucesso dessas escolas o fato das industrias

empregarem quase todos seus egressos.

MACHADO (1982) corrobora, “No ano de 1965 o ministério da

educação, Flávio Suplicy de Lacerda, recomenda a concentração de todos os

esforços na ampliação de matriculas nos cursos técnicos, extinguindo-se o 1°

ciclo nestas escolas de formação profissional. Neste caso, a responsabilidade

por este nível de ensino não deveria recair sobre as escolas técnicas, que

27

deveriam se voltar unicamente para o 20 ciclo. Um dos argumentos formulados

em defesa desta medida afirma que é a formação de técnicos de 2° ciclo que é

o fator preponderante para a maior industrialização, já que as industrias

buscam os técnicos e não os estudantes de ginásio (p.53).

Naquele tempo, a expansão da industria no Brasil, exigiu a alteração na

formação profissional. Sob a ótica da organização do trabalho, isto

representava uma mudança substancial em sua configuração: instala-se o

trabalho complexo, deixando-se a distancia o trabalho simples. De acordo com

KUENZER (1985),

“Assim há uma pedagogia para ensinar o conteúdo do trabalho ao

trabalhador, como uma forma separada da educação como um todo. Mesmo

assim, elas não se dão de um único modo, revestindo-se de características

diferentes em função do fim a que se destinam. Para maioria da força de

trabalho ligada as tarefas de execução, a pedagogia do trabalho assume as

características de um ensino “prático” e parcial de uma tarefa fragmentada,

ministrado no próprio trabalho ou em instituições especializadas de formação

profissional”. (p.47-48).

Colocava-se necessária a ampliação da base cientifica da formação dos

técnicos, para que fosse possível ao profissional ter conhecimento das ciências

e poder compreender e acompanhar a rapidez com que as tecnologias se

substituíam.

A estrutura do modelo taylorista-fordista da produção passava por um

esgotamento com a inserção das novas tecnologias na produção e a escola de

formação profissional precisava estar atenta a essas questões.

As mudanças no processo de produção, certamente ignoradas por

algumas escolas técnicas, fazem com que se fizesse uma releitura de suas

propostas curriculares.

Esse movimento, entretanto, cresceu lentamente e só nos anos iniciais

de 1990, vai ganhando mais amplitude e densidade.

Em 1993, muitas escolas técnicas, cujos gestores se dispõe a colocar

em pauta a questão. Segundo Peliano (1989),

“ Segundo a concepção e objetivo de implantar novos centros de

educação tecnológica, foi em 1994, através da lei federal n°8948, instituiu-se o

sistema nacional de educação tecnológica. Através desse expediente legal,

28

todas as escolas técnicas federais, até aquele ano criadas, seriam

transformadas gradativamente em centros federais de educação. (p.160)

Porem, o que se tratava eram as mudanças na estrutura das escolas,

sua reforma curricular, não apenas dentro da lógica discursiva, mas

principalmente numa outra pedagogia institucional. Pedagogia esta que

trouxesse para a escola técnica a característica de um local destinado ao

trabalho educativo, de (re)produção de conhecimento e de inter relacionamento

humanos dos quais participam as condições materiais.

O inicio dessas discussões forma baseadas nas mudanças ocorridas no

mundo produtivo na medida que elas se alinhavam com as propostas políticas

nacionais e internacionais, as possíveis consequências disto para ávida social

e só então deliberar ações que as instituições implementariam a partir da

(relativa) autonomia que possuem.

No final de 1996, as diretrizes e bases para a educação, em especial

para a formação profissional são colocadas pelo ministério da educação (MEC)

através da secretaria de educação média e tecnológica (SEMTEC) e a pauta

de discussões se altera na rotina educacional. É também neste momento, que

o governo retoma o dispositivo da lei n°8948, de 08 de dezembro de 1984, que

dispõe sobre a instituição do sistema nacional de educação tecnológica e

reafirma o compromisso da transformação das escolas técnicas e agro técnicas

federais em centros federais de educação tecnológica (CEFETs), nos moldes

dos demais centros federais já existentes.

De acordo com MEHEDEFF em palestra apresentada no seminário

internacional sobre avaliação do ensino médio e acesso ao ensino superior,

realizado em Brasília-DF, no período de 30 de junho a 2 de julho de 1997,

“[...] uma gama de instituições que estão se mobilizando, melhorando a

sua competência e provocando, umas das outras, uma profunda discussão

sobre a metodologia de educação profissional e a readaptação de todo o tema

da formação profissional e a readaptação de todo o tema da formação

profissional do trabalhador brasileiro”.

Passado esse período econômico, de intenso crescimento da industria

brasileira, a crise começa a se anunciar, e a nova mudança no processo de

produção se anuncia. Entra então o Toyotismo para mais uma vez gerar

mudanças no que diz respeito a formação profissional.

29

Porem essas mudanças nas escolas técnicas foram pouco significativas,

apenas a inserção das disciplinas de inglês e informática em todos os cursos

foi levantada.

As mudanças mesmo ficaram por conta da criação das universidades

corporativas, assunto que trataremos a seguir.

3.3 UNIVERSIDADES CORPORATIVAS

A universidade corporativa vem como vantagem competitiva no

mercado. MEISTER (1999) complementa:

“As universidades corporativas são essencialmente as dependências

internas de educação e treinamento que surgiram nas empresas por causa, de

um lado, da frustração com a qualidade e conteúdo da educação pós

secundarias e de outro, da necessidade de um aprendizado permanente. Em

muitas corporações elas se transformaram em complemento estratégico para

educar não apenas os funcionários, mas também parceiros, fornecedores,

clientes e a comunidade (p.12)

As empresas estão, a cada dia mais inseridas no setor da educação a

distancia, parcerias com universidades, criação de ambientes para a gestão de

infamações e a institucionalização de modelos educacionais voltados para as

necessidades do mercado. Procurando atender as necessidades de

capacitação de seus funcionários, as empresas a cada dia investem mais em

educação. Segundo MEISTER (1999)

“As empresas mais bem-sucedidas, ao invés de esperar que as escolas

tornem seus currículos mais relevantes para a realidade empresarial,

resolveram percorrer o caminho inverso e trouxeram a escola para dentro da

empresa. Abandonaram o paradigma de que a educação seria um capitulo da

responsabilidade social da empresa e passaram de forma muito pragmática a

entender que o diferencial decisivo de competitividade reside no nível de

capacitação em todos os níveis de seus funcionários, fornecedores principais,

clientes e até mesmo membros das comunidades onde atuam. (p.14)

Por outro lado, aparece a academia, fazendo duras críticas a estas

novas propostas e necessidades de qualificaçao. Estudiosos deste novo

conceito de formação continuada tentam estabelecer os limites e as relações

entre as necessidades de formação do mundo acadêmico para qualificação

humana.

30

BELLONI (1999) ressalta a importância da ligação entre os dois campos

de atuação da humanidade ao citar que:

“[...] a formação ao longo da vida trata de um campo novo que se abre e

requer a contribuição de todos os atores sociais e especialmente um forte

sinergia entre o campo educacional e o campo econômico no sentido de

promover a criação de estruturas de formação continuada mais ligadas aos

ambientes de trabalho”. (p.28)

As decisões sobre as adequações necessárias tanto das escolas,

quanto das universidades com relação ao conteúdo oferecido frente as

necessidades de trabalho, vem tornando novos contornos.

Hoje coloca-se uma educação para todos e para toda a vida, porem

discuti-se sobre qual tipo de educação deve ser oferecida.

Peter Druker (1993), em uma de suas obras – Sociedade pós-capitalista

fala da escola responsável como sendo aquela que ensina coisas úteis e

aplicáveis. Ele se posiciona em favor de uma educação voltada aos interesses

e necessidades imediatos do mercado, onde as instituições de ensino não são

mais as únicas a oferecer formação a indivíduos. Ele discorre:

“Finalmente, o ensino não pode mais ser um monopólio das escolas. Na

sociedade pós-capitalistas, a educação precisa permear toda a sociedade. As

organizações empregadoras de todos os tipos – empresa, agencias

governamentais, instituições sem fins lucrativos – também precisam se

transformar em instituições de aprendizado e de ensino. As escolas devem,

cada vez mais, trabalhar em parceria com os empregadores e suas

organizações. (p.154)

Peter Senge (2002), outros divulgador das novas estratégias de

gerenciamento, corrobora com esta perspectiva de que a empresa é uma

“organização de aprendizagem”. E argumenta que fomos criados tanto no

estudo quanto no trabalho, a separar o todo em partes para nos apossarmos

dele. Hoje não é mais possível utilizarmos o raciocínio sistêmico, chamado por

ele de Quinta disciplina. Segundo o autor:

“Livrando-nos dessa ilusão (fragmentação) podemos então formar

“organizações de aprendizagem”, nas quais pessoas expandem continuamente

sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde a

31

aspiração coletiva é libertada e onde as pessoas aprendem continuamente a

aprender em grupo (p.11)

MEISTER (1999), não somente concorda, como também sai em defesa

dessas ideias apresentando dados incontestáveis para comprovar que o

investimento na educação é fator decisivo para o sucesso das empresas. Ela

vai mais além e afirma que “o mercado empresarial englobou a educação

superior e invadiu o seu solo sagrado”. (p.230)

Ao tentarmos seguir a ideia da universidade corporativa, algumas

questões são levantadas tais como: a inadequação dos conteúdos ensinados

nas universidades tradicionais, das metodologias empregadas e das técnicas

utilizadas; destacam-se novos tempos, lugar e formas de se ensinar e são

trocados também os personagens, tais como instrutores no lugar de

professores. Porém apesar destas questões, que jugo serem de suma

importância, o que se leva hoje em consideração são as vantagens

competitivas que serão trazidas as empresas.

MEISTER, tenta situar as diferenças: “As principais universidades

corporativas tem responsabilidade de operar como unidades de negócios (...)

como centro de lucro” (p.27). Ou por TEIXEIRA, como “verdadeiras

universidades negociais” (p.32)

Desta forma a imagem da universidade que nos era conhecida, nos é

inserida de novos conceitos. De espaço lúdico e cultural para contencioso e

concorrente, a universidade dos dias atuais se abre como espaço de

qualificação de trabalhadores que se origina no mercado e se forma para ele.

32

CONCLUSÃO

As mudanças da estrutura produtiva no mundo, geram um novo

significado na teoria do capital humano, que direciona as políticas de educação

profissional no Brasil.

A ideologia dominante, no contexto da reestruturação produtiva, sugere

uma redefinição da teoria do capital humano, na medida em que articula a

educação profissional e a empregabilidade

As grandes inovações no campo das telecomunicações, também

interferiu no âmbito educacional. Forçando ao sistema educacional a nova

realidade.

No Brasil, as políticas do governo, no que diz respeito a educação,

sociedade e economia, continuam tendo por parâmetro as propostas do

mercado mundial. As palavras de ordem são: modernização na educação,

produtividade, eficácia e competência.

Na perspectiva das instituições empresariais e de seu sistema de

formação profissional prevalece a concepção de que o novo paradigma

produtivo exige novos perfis profissionais, a poli-Valência e a flexibilidade.

Desta forma, pressupondo que a qualificação e o treinamento para o

trabalho são suficientes para garantir a empregabilidade, no contexto a

mundialização do capital. Essa ideologia que deu as diretrizes para a

concepção de qualificação profissional para o governo, pressupondo a

qualificação profissional e o treinamento profissional, voltada para o

desenvolvimento de competências adequadas para garantir a empregabilidade

do trabalhador, bem como o aumento de seu rendimento.

33

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