Inovação tecnológica: Ciência e Indústria, uma parceria possível

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L ______ _j I SBPC: 50 ANOS NOVOS ESTUDOS EM DEFESA SOBRE DIARRÉIA DA CIÊNCIA BACTERIANA Pág.3 Pág. l2 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA COMO VOTA O ELEITOR BRASILEIRO Pág. 14 CIÊNCIA E INDÚSTRIA, UMA PARCERIA POSSÍVEL A FAPESP apresentou, em seminário realizado no Salão Nobre da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) , e para uma platéia de pesquisadores e empresários, o funcionamento e os resultados dos seus dois programas de inovação tecnológica , selando , em definitivo, um modelo de desenvolvimento unindo instituições acadêmicas e o setor empresarial.

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Notícias FAPESP - Ed. 32

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I

SBPC: 50 ANOS NOVOS ESTUDOS EM DEFESA SOBRE DIARRÉIA DA CIÊNCIA BACTERIANA

Pág.3 Pág.l2

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

COMO VOTA O ELEITOR

BRASILEIRO Pág.14

CIÊNCIA E INDÚSTRIA, UMA PARCERIA POSSÍVEL A FAPESP apresentou, em seminário realizado no Salão Nobre da Federação

das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), e para uma platéia de pesquisadores e empresários, o funcionamento e os resultados dos seus dois

programas de inovação tecnológica, selando, em definitivo, um modelo de desenvolvimento unindo instituições acadêmicas e o setor empresarial.

As chances de reeleição A tipologia do eleitorado brasi­

leiro começou a ser levantada em 1990, quando foi realizada uma pes­quisa nacional com base nas eleições presidenciais de 1989. A intenção era conhecer a motivação estratégi­ca do voto. O trabalho continuou em 1994, quando ocorreram eleições nacionais e estaduais e buscou-se conhecer o perfil do eleitor do Es­tado de São Paulo. Nesta fase , a fi­nalidade era confirmar a primeira hipótese e ainda observar se em uma eleição mais complexa haveria continuidade de coerência.

A resposta foi positiva. O com­portamento do eleitorado levou à seguinte conclusão: as pessoas ten­dem a votar nos mesmos partidos ou em partidos com a mesma tendên­cia ideológica ao longo do tempo. Em 1996, quando houve eleições municipais, o alvo foi o eleitor da Capital. E mais uma vez a estabili­dade da escolha eleitoral se confir­mou.

Todas as conclusões levam a crer que o presidente Fernando Henrique Cardoso tem boas chan­ces de reeleição. "Para Lula ganhar, ele precisa passar uma imagem con­fiável de alguém capaz de promo­ver uma reforma moderada na soci­edade, que promova melhoras sem colocar em risco a estabilidade" co­menta o professor Guilhon.

O método utilizado nesse tra­balho foi a pesquisa de amostragem probabilística, em que as amostras basearam-se em como as pessoas ti­nham votado anteriormente. Os pesquisadores elaboraram um ques­tionário em que indagavam sobre fi­liação partidária, preferência parti­dária, inclinação ideológica, atitu­des e opiniões políticas e orientação do voto. Primeira surpresa: as pes­soas sabiam distinguir ideologica­mente o seu partido e votavam de acordo com sua orientação. Ponto para o eleitor.

Além do professor Guilhon, fa­zem parte do Grupo de Pesquisas Eleitorais os professores Elizabe­th Balbachevsky e André Singer, do Departamento de Ciência Política, Carlos Alberto Bragança Pereira e Sérgio Weschler, do Instituto de Matemática e Estatística, além dos assistentes de pesquisa Amâncio Jorge de Oliveira, doutorando em Ciência Política, e Denilde Silva de Oliveira, mestranda. Em 1994, par­ticiparam o professor Fernando Li­mongi, de Ciência Política, e a as­sistente de pesquisa Lourdes Inoue, mestranda em Estatística.

Tabela 1

1990- VOTO NO SEGUNDO TURNO POR RAZÃO DE VOTO NO CANDIDATO

BENEFÍCIO OPOSIÇÃO IDENTIFICAÇÃO TOTAL LULA 19,7% 43,2% 48,4% 649

38,2% COLLOR 80,3% 56,8% 51,6% 1.048

61,8% TOTAL 544 308 844 1.697

32,1% 18,2% 49,8% 100,0% A orientação ou estratégia do voto foi decisiva para explicara preferência por Collor no segundo turno, bem como o desempenho inferior

de Lula. Como mostra o quadro, os elertores que votaram por identificação e por oposição se dividiram entre os dois candidatos, com

vantagem reduzida para Collor. Entre os que votaram por benefício, a vrtóna de Collor foi avassaladora, na proporção de SOo/, a 20%.

Como vota o paulistano Na pesquisa de 1996, desta vez sobre a

Tipologia do Eleitorado Paulistano, a grande revelação ficou por conta do voto eletrônico, que provou ser um instrumento eficaz de de­mocratização do pleito, reduzindo praticamen­te a zero o número de pessoas que votavam em branco ou anulavam o voto porque não entendiam o sistema de votação.

O eleitor gostou da novidade e 91 ,6% dos entrevistados responderam que o voto ele­Irânico facilitou o ato de votar. Diante dos da­dos, os pesquisadores chegaram à conclusão de que o voto eletrônico melhorou o processo eleitoral, deixando claro que o ato de não vo­tar foi realmente uma decisão do eleitor e não o resultado de um erro.

Nos demais quesitos, a pesquisa não apresentou surpresas. Os dados indicaram es­tabilidade de ponta a ponta: na escolha eleito­ral, nos fatores que determinam o voto, nas in­clinações ideológicas e identidade partidária. A eleição do prefeito Celso Pitta é um exemplo claro deste quadro.

Na avaliação dos pesquisadores, Pitta manteve-se na frente porque conseguiu repre­sentar estabilidade e realizações para um pú­blico que tende a preferir cada vez mais estes valores: o público conservador. Com isso, o candidato conseguiu conquistar todo o voto

conservador e a maioria do centrista. A estabilidade da escolha eleitoral pode

ser confirmada a partir das seguintes consta­tações da pesquisa, que foi realizada após os resultados do primeiro tu mo: dentre os eleito­res que votaram em algum candidato no pri­meiro turno, 95% pretendiam votar no segun­do turno. Destes, 58,2% disseram que votari­am em Pitta e 28,8%, em Erundina. Outro indi­cador foi a fidelidade demonstrada aos candi­datos escolhidos em 3 de outubro. Dos que optaram por Pitta, 95% continuariam votando nele, enquanto 93% disseram manter seu voto em Erundina.

A identidade partidária também se mos­trou estável em seu efeitos sobre a eleição. Os partidos conservadores votaram maciçamen­te em Pitta, numa proporção entre 80% e 90%. Enquanto isso, a candidata petista continuou a ter como base essencialmente o próprio PT (79,5%).

A partir do quadro esboçado em 96, se­gundo o professor José Augusto Guilhon, é possível prever o que vai acontecer este ano. Na sua opinião, não é tanto o desgaste de Paulo Maluf que vai influenciar os resultados: • A mesma tendência que beneficiou Pitta, de não arriscar mudanças radicais, pode benefi­ciar o governador Mário Covas".

Tabela2

FHC

OUTROS

LULA

TOTAL

1994- VOTO PARA PRESIDENTE POR RAZÃO DE VOTO

RAZÃO DO VOTO IDENTIFICAÇÃO OPOSIÇÃO BENEFÍCIO

53,1% 68,0% 71,3%

14,3% 11,3% 9,5%

32,6% 20,7% 19,2%

350 646 1.103 16,7% 30,8% 52,5%

TOTAL 1.411 67,2% 228 10,9% 460 21,9% 2.099 100,0%

O que diferenciou os eleitores de Fernando Hennque Cardoso dos demais, no quadro acima, foi a escolha por expectativa

de benefício, enquanto a preferência por Lula esteve nitidamente associada à identificação do eleitor com o candidato.

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LIVRO

A habitação como questão social

O padrão da periferia de São Pau­lo, a partir dos anos 40, com loteamen­tos caóticos e favelas, e o processo que levou a moradia a se tomar uma ques­tão social a ser enfrentada pelo gover­no contam agora com uma análise abrangente e meticulosa no livro Ori­gens da Habitação Social no Brasil. Arquitetura Moderna, Lei do Inquili­nato e Difusão da Casa Própria (1998, Editora EstaçãoLiberdade/ FAPESP), de Nabil Bonduki.

Nessa edição em livro de sua tese de doutorado, Bonduki mostra como a moradia da classe trabalhadora foi motivo de intervenção direta do Esta­donumperíodoemquetambémemer­giu a autoconstrução da casa própria pelos trabalhadores, que foram sedes­locando para os inúmeros loteamen­tos que começaram a surgir na perife­ria nos anos 40.

O Estado Novo interferiu de duas formas principais: a adoção de uma Lei do Inquilinato, que congelou os aluguéis em 1942 e desestimulou a produção de imóveis para locação (em 1920, apenas 19,1% dos imóveis pau­listanos eram de propriedade de seus moradores; em 1940, esse percentual ainda era de apenas 25%) e o estabe­lecimento de iniciativas de construção e fmanciamento através dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs).

ALei do Inquilinato tomou-seuma medida planificadora que visava, de um lado, "reduzir o custo de reprodução da força de trabalho urbana, ampliando a taxa de acumulação da empresa indus­trial e, de outro, transferir para o setor industrial, estatal ou privado, investi­mentos que normalmente se inclinariam para o mercado de locação".

Professor de História daArquite­tura e Urbanismo na Escola de Enge­nharia de São Carlos da USP e ex-su­perintendente de Habitação Popular da prefeitura de São Paulo (1986-92), Bonduki não vê o congelamento de alu-

guéiseaconstruçãodosconjuntoscomo uma tentativa de implantação de uma política habitacional, porém, identifica nos dois fatos um ponto em comum: "O reconhecimento de que a provisão ha­bitacional era uma responsabilidade do Estadoequeex.igiasuaintervençãopara ser equacionada de forma adequada. Enfim, era uma questão social".

Apesar de tratar de aspectos de caráternacional, o objetivo empírico do estudo é a cidade de São Paulo, onde aconteceram situações peculiares que não podem ser generalizadas. Um exemplo é a complementação urbana dos loteamentos de periferia, que Bon­duki considera um aspecto da incorpo­ração da habitação como uma questão social no âmbito de "um clima políti­co próprio do populismo paulistano".

Essas questões e outras, como o • crescimento demográfico, a imigração, a proliferação de cortiços, a industria­lização, as vilas operárias, as primeiras favelas e os problemas sanitários, são abordadas de forma multidisciplinar, com enfoques políticos, econômicos, sociológicos, urbanísticos, arquitetôni­cos e de história social. A obra conta com vasto material iconográfico - fo­tografias, plantas e outras ilustrações­sobre a maioria dos temas.

Um dos destaques do trabalho é o resgate da arquitetura e do urbanismo dos primeiros conjuntos habitacionais. Fica evidente como a transformação da habitação numa questão social foi acompanhada pela adoção de propos­tas do movimento moderno de arquite-

SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

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tura e urbanismo e da produção em série, com padronização e pré-fabrica­ção, para atender à grande demanda.

Essa parte da pesquisa é impor­tante para uma revisão da historiogra­fia da arquitetura modema brasileira, "que tem omitido sistematicamente a massiva produção habitacional dos anos 40, realizada pelos IAPs e apre­sentada pela primeira vez, de modo sistemático, neste livro".

O capítulo dedicado à produção dos IAPs é rico em informações sobre as influências da arquitetera modema (Le Corbusier, sobretudo) e dos ideais social-democrata europeus do período entre guerras nas concepções dos arqui­tetos e engenheiros responsáveis pelos projetos de conjuntos habitacionais como os de Pedregulho, Gávea e Rea­lengo, no Rio de Janeiro, e o da Baixa­da do Carmo, em São Paulo, ou ainda do Edifício Japurá- que substituiu o grande cortiço Navio Parado, na baixa­da do Bexiga, também em São Paulo.

O livro destaca a atuação dos pi­oneiros desse período, entre eles a en­genheira Carmen Portinho e os arqui­tetos Carlos Frederico Ferreira, Eduar­do Reidy,Attílio Corrêa Lima e Eduar­do Kneese de Melo.

As características básicas dos con­juntos eram a integração com a paisa­gem, construção sobre pilotis- permi­tindo um espaço de integração social no térreo-, áreas de serviço comuns- ge­ralmente no último piso-e complemen­tos como escolas e áreas esportivas. Em sua construção, era enfatizada a redu­ção de custos, racionalidade do proje­to e a utilização de novos materiais e elementos pré-fabricados.

A despeito da forte preocupação com a redução de custos, a qualidade e a durabilidade da construção eram requisitos essenciais, ainda mais por­que os conjuntos constituíam patri­mônio dos IAPs, que alugavam os imóveis aos associados. As unidades habitacionais só foram vendidas em 1964, ano em que foi criado o Banco Nacional de Habitação (BNH) e a produção da moradias populares to­mou outros rumos.

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