Iniciativa privada bancou apenas dos estadios Copa · 2015. 2. 24. · ra a Copa, garantiu R$3,816...

6
Iniciativa privada bancou apenas 7% dos estadios da Copa Gastos dos governos com as arenas representaram 47%; financiamento publico atingiu 46% MARCEL RIZZO DE SAO PAULO PAULO PASSOS EDITOR-ASSISTENTE DE ESPORTE 0s numeros oficiais do go- verno federal mostram que a iniciativa privada arcou ape- nas com 7,2% do custo dos es- tadios construidos e reforma- dos para a Copa de 2014. A vers5o final da matriz de responsabilidade do torneio aponta investimento majori- tario do poder publico nas 12 arenas que receberam as 64 partidas da competiq50. 0 s numeros desmentem a tese defendida por Ricardo Teixeira, entfio presidente da CBF (Confederaqgo Brasilei- ra de Futebol), quando o Bra- sil foi escolhido para receber o Mundial, em 2007. Relat6rio de comissfio da Fifana epoca, baseado em in- formaqdes de dirigentes de futebol e de representantes do poder publico, dizia que "o modelo de construqfio e re- forma dos estadios daria prio- ridade ao financiamento pri- vado por meio de concessdes de largo prazo e, s6 eventual- mente, usaria as PPPs". Ao todo, foram gastos R$ 8,384 bilh6es em estadios. A maior parte desse investi- mento saiu dos cofres de pre- feituras, governos estaduais e do Distrito Federal. Somando as 12 arenas, o poder publico bancou 47% (R$ 3,956 bilhdes) do total gasto em obras nos locais que receberam jogos do Mundial no ano passado. 0 restante dos recursos veio de financiamentos do BNDES (Banco Nacional de DesenvolvimentoEcon6mico e Social).Uma linha de credi- to, criada especialmente pa- ra a Copa, garantiu R$3,816 bilhdes, ou 46% do valor to- tal gasto na construqfio dos estadios que foram usados no Mundial. A iniciativa privada gastou R$611,6 milhdes. Em 2007, quando o Brasil foi escolhido pela Fifa como sede da Copa do Mundo de 2014, governo federal e CBF, que apresentaram a candida- tura do pais para sediar o evento, diziam que as arenas seriam construidas utilizan- do 100% de recursos da ini- ciativa privada. "A Copa do Mundo sera melhor quanto menos dinhei- ro publico for investido. 0 in- vestimento maior tera de vir da iniciativa privada", disse Ricardo Teixeira, em nota di- vulgada em maio de 2009. CONTA MAIS CARA A matriz de responsabili- dade da Copa de 2014 mostra um aumento real de 20% no custo dos estadios que foram construidos ou amplamente reformados para o Mundial, na comparaqfiocom a primei- raversgo do projeto, divulga- da em janeiro de 2010. Cinco anos atras, eram pre- vistos gastos de R$ 6,955 bi- lhdes, levando em conta no calculo a inflaqso do periodo. "As novas arenas multiu- so, que foram constmidas ou reformadas para a Copa, tive- ram custos alinhados com a media mundial para esse ti- po de construqfio e sfio parte do legado esportivo deixado pel0 megaevento", afirmou o Ministkrio do Esporte. Bancado 100% com verba publica, do governo do Dis- trito Federal, o Man6 Garrin- cha, em Brasilia, foi o estadio mais car0 da Copa do Mundo de 2014. Custou R$1,4 bilhfio, 44% a mais do que a previsgo inicial, tambkm descontada a inflaqfio no periodo. "Boa parte desse aumento se deve ao estadio de Brasi- lia. 0 primeiro valor anuncia- do n5o continha quanto ia custar o gramado, a cobertu- ra. Acho que para n5o causar um impact0 maior sobre va- lor, parte do projeto estrutu- ral foi acrescentado depois," avalia Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas.

Transcript of Iniciativa privada bancou apenas dos estadios Copa · 2015. 2. 24. · ra a Copa, garantiu R$3,816...

Page 1: Iniciativa privada bancou apenas dos estadios Copa · 2015. 2. 24. · ra a Copa, garantiu R$3,816 bilhdes, ou 46% do valor to- tal gasto na construqfio dos estadios que foram usados

Iniciativa privada bancou apenas 7% dos estadios da Copa

Gastos dos governos com as arenas representaram 47%; financiamento publico atingiu 46%

MARCEL RIZZO D E SAO PAULO

PAULO PASSOS EDITOR-ASSISTENTE DE ESPORTE

0 s numeros oficiais do go- verno federal mostram que a iniciativa privada arcou ape- nas com 7,2% do custo dos es- tadios construidos e reforma- dos para a Copa de 2014.

A vers5o final da matriz de responsabilidade do torneio aponta investimento majori- tario do poder publico nas 12 arenas que receberam as 64 partidas da competiq50.

0s numeros desmentem a tese defendida por Ricardo Teixeira, entfio presidente da CBF (Confederaqgo Brasilei- ra de Futebol), quando o Bra- sil foi escolhido para receber o Mundial, em 2007.

Relat6rio de comissfio da Fifa na epoca, baseado em in- formaqdes de dirigentes de futebol e de representantes do poder publico, dizia que "o modelo de construqfio e re- forma dos estadios daria prio- ridade ao financiamento pri- vado por meio de concessdes de largo prazo e, s6 eventual- mente, usaria as PPPs".

Ao todo, foram gastos R$ 8,384 bilh6es em estadios. A maior parte desse investi- mento saiu dos cofres de pre- feituras, governos estaduais

e do Distrito Federal. Somando as 12 arenas, o

poder publico bancou 47% (R$ 3,956 bilhdes) do total gasto em obras nos locais que receberam jogos do Mundial no ano passado.

0 restante dos recursos veio de financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econ6mico e Social). Uma linha de credi- to, criada especialmente pa- ra a Copa, garantiu R$3,816 bilhdes, ou 46% do valor to- tal gasto na construqfio dos estadios que foram usados no Mundial. A iniciativa privada gastou R$611,6 milhdes.

Em 2007, quando o Brasil foi escolhido pela Fifa como sede da Copa do Mundo de 2014, governo federal e CBF, que apresentaram a candida- tura do pais para sediar o evento, diziam que as arenas seriam construidas utilizan- do 100% de recursos da ini- ciativa privada.

"A Copa do Mundo sera melhor quanto menos dinhei- ro publico for investido. 0 in- vestimento maior tera de vir da iniciativa privada", disse Ricardo Teixeira, em nota di- vulgada em maio de 2009.

CONTA MAIS CARA A matriz de responsabili-

dade da Copa de 2014 mostra

um aumento real de 20% no custo dos estadios que foram construidos ou amplamente reformados para o Mundial, na comparaqfio com a primei- raversgo do projeto, divulga- da em janeiro de 2010.

Cinco anos atras, eram pre- vistos gastos de R$ 6,955 bi- lhdes, levando em conta no calculo a inflaqso do periodo.

"As novas arenas multiu- so, que foram constmidas ou reformadas para a Copa, tive- ram custos alinhados com a media mundial para esse ti- po de construqfio e sfio parte do legado esportivo deixado pel0 megaevento", afirmou o Ministkrio do Esporte.

Bancado 100% com verba publica, do governo do Dis- trito Federal, o Man6 Garrin- cha, em Brasilia, foi o estadio mais car0 da Copa do Mundo de 2014. Custou R$1,4 bilhfio, 44% a mais do que a previsgo inicial, tambkm descontada a inflaqfio no periodo.

"Boa parte desse aumento se deve ao estadio de Brasi- lia. 0 primeiro valor anuncia- do n5o continha quanto ia custar o gramado, a cobertu- ra. Acho que para n5o causar um impact0 maior sobre va- lor, parte do projeto estrutu- ral foi acrescentado depois," avalia Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas.

Page 2: Iniciativa privada bancou apenas dos estadios Copa · 2015. 2. 24. · ra a Copa, garantiu R$3,816 bilhdes, ou 46% do valor to- tal gasto na construqfio dos estadios que foram usados

Com desisttncia de obras, custo total fica menor

Em janeiro de 2010, a previs5o do governo fede- ral era de que a Copa do Mundo no Brasil custaria R$ 33 bilhoes, somando gastos com estadios e, principalmente, obras de mobilidade urbana e in- vestimento el?] turismo.

Cinco anos depois, ova- lor final do Mundial ficou em R$27,12 bilhoes, quase R$ 6 bilhoes mais barato. Essa diferenqa se explica, principalmente, devido i s diversas obras que esta- vam na primeira Matriz de Responsabilidade, do ini- cio de 2010, mas foram re- tiradas do projeto.

Em SZo Paulo, por exem- plo, a mudanqa de esthdio para receber o Mundial fez o VLT (Veiculo Leve sobre Trilhos) que chegaria atk o estadio do Morumbi ser re- tirado dos projeto da Copa.

A obra, que estava pre- vista para estar pronta em 2014, ainda n5o foi entre- gue. 0 estadio acabou sen- do construido bem distan- te, em Itaquera, na zona leste da capital paulista.

A reforma no aeroporto de Recife tambkm estava na matriz inicial e depois retirada, assim como o VLT de Brasilia. Essa obra esta- va orqada em R$276,9 mi- lhoes, sendo que R$ 263 milhdes seriam responsa- bilidade do governo fede- ral e R$ U,9 milhoes do go- verno do Distrito Federal.

"0 que a populaqZo te- ra pronto s5o esthdios ca- ros, alguns deles elefantes brancos, que pouco ser5o usados, mas as obras de mobilidade urbana eram mais importantes, e mui- tas delas n5o sairam dopa- pel", disse Gil Castello Branco, representante da ONG Contas Abertas.

Page 3: Iniciativa privada bancou apenas dos estadios Copa · 2015. 2. 24. · ra a Copa, garantiu R$3,816 bilhdes, ou 46% do valor to- tal gasto na construqfio dos estadios que foram usados

A maior parte do dinhei- ro usado nas obras da Co- pa foi de financiamento fe- deral (por meio de bancos publicos) e de gastos de govern0 estaduais ou de prefeituras das cidades que receberam jogos da Copa do Mundo de 2014.

Este montante atingiu aproximadamente 65% do total utilizado.

0 gasto privado no total foi de 15%, superior aos 7,2% usados apenas nas obras dos esthdios. (MR E P P )

Page 4: Iniciativa privada bancou apenas dos estadios Copa · 2015. 2. 24. · ra a Copa, garantiu R$3,816 bilhdes, ou 46% do valor to- tal gasto na construqfio dos estadios que foram usados

QUEM PAGOU os EST~DIOS Veia de onde veio o dinheiro paia construg30 das arenas

A

Page 5: Iniciativa privada bancou apenas dos estadios Copa · 2015. 2. 24. · ra a Copa, garantiu R$3,816 bilhdes, ou 46% do valor to- tal gasto na construqfio dos estadios que foram usados

I

CUSTOS DE OUTROS SETORES

Mobilidade

M638iM Aeroportos

as m l m i InstalaqGes complementares

Page 6: Iniciativa privada bancou apenas dos estadios Copa · 2015. 2. 24. · ra a Copa, garantiu R$3,816 bilhdes, ou 46% do valor to- tal gasto na construqfio dos estadios que foram usados