Inibicao, Sintoma e Angustia-Para Uma Clinica Nodaal Das EstruturasNieves Soria Dafunchio

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    Inibio, Sintoma e Angstia

    Nieves Soria Dafunchio

    Traduo livre do espanhol: Beatriz Lavieri

    I. I nt roduo ao Terr itrio das NeurosesProponho o trabalho deste ano em continuidade com o do ano passado, no qual com algunsde vocs nos dedicamos a trabalhar sobre os confins das psicoses, tratando de abordar,dentro do campo clnico das psicoses, a variedade da estrutura, tentando lev-la ao nborromeano.

    Este ano nos dedicaremos ao campo das neuroses, centrando-nos no trpode freudiano dainibio, sintoma e angstia, que retomado por Lacan desde a perspectiva dos trsregistros. Parece-me que pode ser muito enriquecedor na hora de dar conta da variedade

    clnica dentro do campo da neurose, articular ao mesmo tempo os conceitos de inibiosintoma e angstia (que so centrais) com os registros imaginrio, simblico e real,especificando tipos de ns muito distintos nas neuroses.

    Para isso vamos dedicar algumas das primeiras aulas para abordar os textos,fundamentalmente o texto freudiano Inibio, Sintoma e Angstia, e sua leitura por partede Lacan, fundamentalmente no Seminrio X, o Seminrio da Angstia, e no SeminrioXXII,R.S.I. Com essas primeiras aulas vamos fazer um percurso para chegar aoR.S.I., ao nborromeano, tal como o prope Lacan no Seminrio XXII, retomando o trpode freudiano deinibio, sintoma e angstia.

    A de hoje ser uma aula do percurso que vamos fazer nesta primeira parte do seminrio e,na segunda parte, alguns praticantes de psicanlise vo trazer seus casos e vamos situandoessas diferenas no n nos distintos casos.

    Para introduzir este primeiro trajeto que vamos fazer, vou comear com a imagem quevocs tero visto por e-mail ou no cartaz que escolhi para anunciar este seminrio, que este quadro de Dal que se chama Complexo de dipo.

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    Esta pintura foi muito inspiradora para mim, j que uma imagem na qual, por um lado,encontramos uma estrutura que tem uma forma difcil de definir, um tanto amorfa, comocostumam ser as formas de Dal, que tambm est esburacada, tem algumas fissuras, halgumas manchas. Parece-me que uma imagem que nos submerge, com toda a fora dapintura de Dal, no campo da estrutura neurtica tal como tentaremos abord-la aqui neste

    espao.

    Por outro lado, no quadro est este objeto que est na frente, que parece ser um tipo de cetrocom plumas, ao estilo das plumas do pavo real. Proponho imaginar a o emblema do paicado, do pai morto, dipo tendo matado seu pai e dirigindo-se a esse horizonte que seencontra no final da pintura.

    E, por outro lado, embaixo desta forma, desta estrutura que se encontra no centro do quadro,encontramos um pequeno objeto que est cado, que tambm um objeto difcil de definir,um tanto amorfo, que deixa uma sombra inquietante sobre a estrutura; e, por outra parte,temos esta figura, que uma figura humana semi-esqueltica, bastante indefinida tambm

    em relao ao sexo, que me parece encarnar, por excelncia, o que seria o sujeito neurticoem sua indeterminao, sem rosto e, ainda, no lugar em que deveria estar a cabea, o que h um tipo de signo de interrogao, h um vazio, no qual podemos situar a dimenso dapergunta.

    Queria transmitir-lhes de alguma maneira o que me causou este quadro de Dal na hora depensar em abordar o campo da neurose, que desde a psicanlise fica definido a partir docomplexo de dipo freudiano; este campo que, por um lado, parece to conhecido e, poroutro lado, sempre volta a ser to alheio para ns.

    Escolhi este trpode da inibio, sintoma e angstia, porque considero que ser de utilidadepara nos introduzir ao n e, nesse sentido, gostaria de expor um tipo de contraponto entre oque seria uma primeira vertente no ensino de Lacan, um primeiro tempo em seu ensino, queseria o perodo conhecido como o Lacan clssico, o Lacan da lgica do significante, quetambm o Lacan que se apoia naqueles textos freudianos nos quais Freud transmite amaravilha da descoberta da linguagem e seus efeitos no inconsciente: A Psicopatologia daVida Cotidiana, O Chiste e sua Relao com o Inconsciente, A Interpretao dosSonhos, que so o eixo das referncias freudianas do primeiro Lacan.

    II. A Clnica da PerguntaEste primeiro Lacan vai abordar a estrutura, seja neurtica ou psictica, sob a modalidadedo que ganha forma altura do Seminrio IIIe da em diante como a clnica da pergunta.Esta lgica significante levada a sua mxima formalizao no primeiro Lacan constitui umaclnica, e poderamos dizer que o aparato conceitual que melhor desdobra, que melhorexplora o terreno, o territrio da clnica da pergunta, o grafo da subverso do sujeitoquevocs podem encontrar no Seminrio Ve no escrito Subverso do Sujeito e Dialtica doDesejo. Neste texto vocs vo encontrar uma primeira verso do grafo, no qual Lacan vaijustamente dar forma ao grafo a partir dessa interrogao, dessa pergunta pelo desejo doOutro, que a pergunta que anima o sujeito neurtico.

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    Esta primeira verso do grafo animada por esta pergunta: Che vuoi?, que queres? apergunta que interroga o desejo do Outro. Este grafo do desejo o grafo que vai dar conta eque vai tentar desdobrar a estrutura da pergunta pelo desejo do Outro que anima o sujeitoneurtico.

    Diana Rabinovich abordou em detalhe as consequncias clnicas do grafo em um livrinhoque se chama Una Clnica de la Pulsin. Las Impulsiones,ionde ela dividia o grafo pelametade, situando o lado direito como o lado das perguntas e o esquerdo como o dasrespostas.

    O primeiro marco neste caminho que nos leva abordagem da estrutura neurtica no n ografo do desejo que desdobra a estrutura da pergunta em que consiste a neurose. Aquelesque estiveram no seminrio do ano passado recordaro que trabalhamos a questo dapergunta nas psicoses tambm, tal como a expe Lacan no Seminrio III, onde situajustamente nas psicoses uma pergunta, mas uma pergunta que se faz sem sujeito; ou outra possibilidade que expe Lacanque haja uma resposta antes que se possa colocar apergunta na psicose. Estas so as duas alternativas que ele d para distinguir o estatuto dapergunta na psicose do estatuto da pergunta na neurose.

    Podemos fazer uma primeira abordagem da estrutura desde o grafo. Na psicose, essa

    estrutura da pergunta de algum modo abortada no primeiro nvel, antes que possa chegar aser colocada pelo sujeito j que a dimenso da pergunta se abre agora[recin, de novo?]no piso superior do grafo antes que possa se formular se faz presente a resposta no planoimaginrio, no eixo especular.

    Do lado da neurose, por outro lado, a pergunta chega a se formular, mas no a se desdobrar,j que o sujeito recorre ao curto-circuito da fantasia como resposta em vez de continuar como percurso que o levaria confrontao com esse buraco enigmtico, do qual a pintura deDal nos d um reflexo.

    Finalmente, h um terceiro trajeto possvel, que justamente o que habilita a experincia

    analtica, que leva a pergunta a desdobrar-se e a que o sujeito se confronte com estesignificante da falta no Outro, quer dizer, com a castrao, o que implica um atravessamento

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    do plano da fantasia como nvel de resposta pergunta. Este tema poderia ser bem maisdesdobrado, mas como no o objetivo deste seminrio nos centrarmos na clnica dapergunta, formulo-o rapidamente.

    Ento, no grafo podemos situar, no primeiro nvel, a psicose, no segundo nvel, a neurose e,

    finalmente, no circuito mais amplo, a anlise.

    Trata-se, ento, de um aparato conceitual que est construdo a partir da lgica simblica, dalgica do significante, j que a estrutura mnima aqui a estrutura binria prpria dosignificante, S1-S2, e a complexificao dessa estrutura mnima que leva a essedesdobramento no grafo.

    E desde a perspectiva do grafo poderamos dizer que o que Lacan vai formular que essapergunta pelo desejo do Outro vai se modalizar na histeria a pergunta vai ser que queruma mulher? a pergunta pelo ser feminino, pelo ser de desejo feminino; e, por outrolado, a modalidade obsessiva, que Freud j situa como um dialeto da histeria, como uma

    complexificao superior dessa primeira pergunta sobre o feminino e, ento, vai avanarsobre a morte.

    Essas duas modalidades da pergunta no podem ser distinguidas enquanto tais no grafo, nopodemos fazer uma clnica diferencial da histeria e da obsesso com a estrutura do grafo,como tampouco podemos distingui-las da fobia, ainda que possamos nos perguntar queacontece com a pergunta na fobia.

    A fobia parece ser o impasseda pergunta. O sujeito fbico um sujeito a quem a angstia oimpede de formular a pergunta, por isso Lacan vai definir a fobia como placa giratria,como um guarda-trilhos. mais um momento lgico da estrutura que um tipo de neurose

    em si mesma. Trata-se de um momento de impasseda estrutura que tambm constitutivodo sujeito. Isto algo que Freud assinala, as fobias infantis como constitutivas do sujeito.Poderamos dizer que o sujeito se constitui fobicamente.

    Mas h certo ponto de falha da estrutura neurtica na fobia que tambm um pouco difcilde abordar desde o grafo. Podemos dizer em princpio que na fobia o sujeito atravessa oprimeiro nvel, o piso do grafo, o sujeito sai do campo da psicose, mas tem dificuldade paraconstruir sua fantasia. Por exemplo, no caso do pequeno Hans, sua fobia e sua anliseconsistem em toda uma srie de operaes de construo da fantasia.

    Ento, poderamos dizer que este aparato conceitual, que o grafo do desejo, que to

    interessante para dar conta de toda uma srie de questes da estrutura subjetiva e daestrutura da experincia analtica enquanto tal, nos permite interrogar acerca da diversidadeclnica. um aparato que nos permite situar em si mesmo estas diferenas dos tipos clnicosdentro das neuroses, que o que vamos tratar de abordar neste seminrio.

    Posteriormente, quando Lacan abre sua abordagem da estrutura concepo topolgica damesma, abre a estrutura para outros dois registros. Este grafo, por outro lado, fundamentalmente simblico, lgica do significante pura, uma tentativa de dar conta doimaginrioque vai estar neste primeiro nvel e do realque vai estar no ltimo nvel desde o simblico. desde a primazia que Lacan atribui ao simblico que neste momento

    de seu ensino ele vai abordar simbolicamente tanto o imaginrio como o real.

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    III. O Trpode FreudianoMas podemos, no ensino de Lacan, seguir o fio da outra vertente, da vertente que tenta,desde o incio, dar autonomia prpria aos registros. Lembrem que o primeiro Lacan escreveo estdio do espelho, que uma tentativa de dar conta do registro imaginrio enquanto tal.

    Esse outro Lacan, que na realidade est desde o princpio, mas que parece que consegueagora [recin] desdobrar toda sua fora conceitual nos ltimos seminrios, vai se apoiarfundamentalmente no texto de Freud: Inibio, Sintoma e Angstia.

    Este outro Lacan, que no se interessa s pela lgica do significante, mas tambm umLacan matemtico que se interessa pelo estatuto real do nmero, encontra neste trpodefreudiano, neste trs de Freud, algo real da estrutura que verifica em sua experincia comoanalista.

    Teremos mais de uma oportunidade de voltar sobre o texto de Freud. De momento mereferirei ao que considero central do mesmo para fazer uma introduo ao percurso que

    faremos.

    Se vocs lerem este texto freudiano, se daro conta imediatamente de que, na realidade,mais do que tudo um tratado sobre a angstia. Mas o mais interessante que um tratadoda angstia que vai terminar sendo definida como angstia de castrao, retificando aprimeira concepo freudiana da castrao. O que Freud est propondo neste texto, e o dissecom todas as letras no incio de um dos captulos, que a neurose gira em torno da angstiade castrao, de modo que a estrutura neurtica uma resposta angstia de castrao.

    Assim, tanto a inibio como o sintoma vo ser abordados desde a perspectiva da angstia,da que Freud diga que a inibio uma deteno de todo movimento com a finalidade de

    evitar o desenvolvimento da angstia, uma soluo contundente e radical ao problema daangstia. Produz-se uma deteno no movimento, questo que vai ser retomada por Lacanno famoso quadrinho do Seminrio da Angstia, que vamos trabalhar, cujos dois eixos sojustamente a dificuldade e o movimento. A inibio tende a deter o movimento, odesdobramento mesmo da estrutura se detm com a inibio e se consegue expulsar apossibilidade da angstia.

    O sintoma neste texto vai ser abordado por Freud como um resultado do desenvolvimentoda angstia, como sinal da castrao. De modo que quando a angstia funciona como sinalda castrao, quando est delimitada, quando est localizada neste funcionamento de sinal

    da castrao, ento promove a formao do sintoma. Neste plano do sintoma,diferentemente da inibio, temos certo desenvolvimento da angstia, mas que leva formao do sintoma, a qual poderia chegar a desterrar totalmente o desenvolvimento daangstia. O exemplo que Freud fornece de sucesso mais radical do sintoma contra aangstia o sintoma conversivo, como o sintoma que tem mais xito na evitao daangstia, mas sua constituio no alcanada sem o desenvolvimento prvio da angstia.O que diferencia ento o sintoma da inibio este primeiro tempo de desenvolvimento daangstia e, depois, um segundo tempo, em que o sintoma vem para resolver ou para tentarsolucionar este problema que lhe coloca a angstia.

    Quando nos detemos no conceito da angstia neste texto a vemos bifurcar-se. Por um lado,

    a angstia como sinal da castrao, que vai ser absolutamente evitada na inibio e qualse vai dar um tratamento no sintoma, mas vai haver outra vertente da angstia que vai

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    atravessar todo o texto, que a angstia que deixa de lado diz Freudas vassalagens doeu e da castrao. Nesta vertente, a angstia no se limita a ser um sinal. Trata-se daangstia que se manifesta nas neuroses traumticas, que rompe o anteparo [pantalha, defesa]do eu e que deixa de funcionar em relao castrao, deixa de estar delimitada como sinal.

    Poderamos qualificar esta vertente da angstia de angstia pura. Angstia pura um termoque Lacan vai utilizar no Seminrio da Angstia para se referir justamente ao primeirotempo da angstia do pequeno Hans, quando ele ainda no consegue armar um sintoma comela. Aqui o sujeito est totalmente tomado, arrasado pela angstia. A a angstia toma todoo ser do sujeito, no est localizada nem funciona como um sinal. Nestes casos o modo deser do sujeito a angstia.

    I nterveno:E no ataque de pnico?

    Nieves: Teria que definir como o ataque de pnico se articula com a estrutura, mas, emprincpio, poderamos situ-lo como uma irrupo da angstia pura, onde deixam de

    funcionar as vassalagens do eu e da castrao e que, por isso, vivida como angstia demorteque tambm a angstia que est em jogo nas neuroses traumticas. Freud faz estadistino entre angstia de castrao e angstia de morte. Se bem que logo tente dar contada angstia de morte em termos de castrao, ao mesmo tempo situa claramente um campoclnico no qual se manifesta a angstia como pura angstia de morte, desbordando estesdiques e perdendo a relao com a castrao.

    Nestes casos h algo do narcisismo que se desarmacomo ocorre efetivamente no ataquede pnicoe tampouco est localizada a funo da falta. Ento, o sujeito sente que se morre essa a experincia do ataque de pnico. Esta tambm pode, eventualmente, ser aexperincia na neurose traumtica, onde justamente o que se escuta que o sujeito volta aviver exatamente igual ao momento do trauma, onde se perde a referncia funoretroativa que possibilita a funo da falta.

    I nterveno: Para voc a castrao um efeito de localizao da angstia pura?

    Nieves: Se seguimos a lgica do texto de Freud, efetivamente a castrao funciona como apossibilidade de fazer a angstia entrar no regime do signo. Quando a angstia funcionacomo sinal acomoda o sujeito a respeito da castrao, em relao falta e, ento, o sujeitoou bem se inibe ou bem faz um atoque a soluo no neurtica angstia.

    A relao entre angstia e ato tambm desdobrada por Freud neste texto, e retomada por

    Lacan. Existe uma possibilidade no neurtica de enfrentar a angstia, que com algum atoque nos ponha em relao com nosso desejo. Isso o interessante da angstia quandofunciona como sinal, que o sujeito em vez de inibir-se covardemente, ou de armar umsintoma, pode atuar em conformidade com seu desejo.

    Ento, por um lado, temos a angstia que funciona como sinal da castrao no eu e, poroutro, esta outra angstia que perde as vassalagens do eu e da castrao, que inclusiveproduz certo desarmamento do narcisismo, quediz Freud pura reproduo do trauma,na qual falta esta segunda volta que localizaque seria justamente a funo da castrao nofuncionamento propriamente neurtico da estrutura.

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    IV. A Pr imeira Volta LacanianaLacan vai retomar este texto em vrias oportunidades. A primeira oportunidade oSeminrio da Angstia. A primeira aula dedicada a este texto de Freud Inibio,Sintoma e Angstia. Lacan comea a construo de seu esquema, que tridico,

    diferentemente do grafo, em que constam dois lados. Trata-se de um quadro de duplaentrada na qual Lacan distingue trs nveis, e em cada um deles vai situar estes termos.

    O que ele vai colocar que a inibio opera no campo do movimento, quer dizer, o que faza inibio deter um funcionamento. Se vocs forem ao texto de Freud, vo encontrarexemplos nos quais o sujeito deixa de poder realizar alguma funo, por exemplo, tocarpiano, cozinhar. Finalmente, Freud formula a questo da inibio como podendo segeneralizar a todas as funes, e vai dizerquando termina o primeiro pargrafo dedicado inibio que o estudo da inibio vai permitir aos psicanalistas explicar a depresso e amelancolia como inibies generalizadas. De modo que quando esta funo da inibio levada a sua mxima potncia, se transforma em depresso e, no caso mais extremo, emmelancolia. Nesses casos se detm todo movimento na estrutura.

    Nesta via da deteno do movimento, Lacan vai distinguir mais dois escales, que so oimpedimento e o embarao [embarazo]. Depois vamos v-los mais em detalhe, mas o quetem de interessante neste quadro que, por exemplo, o impedimento tem em comum com ainibio que se trata de algo que se detm, onde o sujeito est impedido de realizardeterminada ao, mas no exatamente o mesmo que a inibio, porque se joga no planodo sintoma, de modo que j temos a certo entrecruzamento entre inibio e sintoma.

    O mesmo ocorre com o termo embarazo que Lacan toma explicitamente do termoespanhol, que lhe interessa especialmente, porque tem esta significao da mulher que levauma criana em seu ventre, que no se encontra na lngua francesa no termo embarras, oqual no utilizado para o estado de gravidez da mulher em francs. Por isso usa o termoembarazo do espanhol, porque d conta desse estado de certa deteno no plano domovimento, mas que vai ficar mais ligado angstia. O sujeito que est embarazado,poderamos dizer que est um pouquinho angustiado, h algo com que no sabe muito bemo que fazer, est em situao embarazosa, e h certa angstia.

    Depois temos o outro eixo, que o eixo do movimento. Lacan vai situar em primeiro lugar aemoo, e em segundo lugar a turbao [perturbao, comoo, desassossego, inquietaoconfuso, alvoroo, exaltao, rebulio, grande impacto, desordem]. Tanto a flecha domovimento como a da dificuldade parte da inibio. Para Lacan tampouco casual que aprimeira seja a inibio, por isso vamos seguir o seminrio com esta ordem: inibio,

    sintoma e angstia. Vamos fazer umas aulas de introduo geral, mas quando formos aoscasos vamos seguir essa mesma ordem.

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    Aqui vai situar a emoo, que vai estar em sintonia com o sintoma e a turbao que umfenmeno mais angustiante. E posteriormente, na aula 6, vai acrescentar o acting-out, e apassagem ao ato, que abordaremos mais adiante.

    Ento, aqui temos um esquema tridico, 3 ao quadrado que d 9, so 9 classificadores

    [casilleros], e j abrem para um movimento que no binrio, que no se reduz lgica dosignificante. O que est em jogo a o trs e no o dois. Vemos como do grafo do sujeito aeste esquema se opera uma passagem do dois ao trs para dar conta da estrutura e paracomear a definir certos fenmenos no campo das neuroses, que em sua diversidade e emsua complexidade no so abordveis desde a estruturao dualista.

    V. Do Dois ao Trs este trs que de alguma maneira vai levando Lacan at o Seminrio 22, R.S.I., que umseminrio no qual Lacan aborda a estrutura como um n borromeano, tomando estes trsnomes freudianosinibio, sintoma e angstiacomo as trs nominaes constitutivas do

    n.

    Ali Lacan vai propor que o n borromeano se constitui por trs nomeaes: a nomeao doimaginrioque vai ser a inibioa nomeao do simblicoque vai ser o sintomae anomeao do real que vai ser a angstia. Quer dizer, Lacan vai propor que o n do serfalante se constitui nestas trs operaes, e cada uma delas cumpre uma funo deenodamento na estrutura e de constituio do n borromeano enquanto tal.

    Para trabalhar a questo do n borromeano enquanto tal, vou voltar a lhes propor o mesmotexto que lhes propus o ano passado para comear, que o texto de Fabin Schejtmanchamado Acerca de los Nudos, que est publicado em um livro que se chama Las Dos

    Clnicas de Lacanii, e que me parece que d de um modo muito claro as bases mnimas paraentender o que vamos abordar como n borromeano. O que este texto de Schejtman tem deinteressante que em sua leitura do ltimo Lacan prope uma distino muito clara entre on borromeano como n neurtico e o n no borromeano como o n na psicose. Trata-sede uma distino que no evidente lendo Lacan, mas que considero fundamental parapoder avanar na clnica dos ns.

    No Seminrio R.S.I.Lacan vai abordar a estrutura do n como n borromeano, e o que vaiterminar colocando que esse n borromeano de trs enquanto tal no existe. Trata-se daestrutura do ser falante como uma relao borromeana entre trs nominaes: uma

    imaginria, uma simblica e uma real, que est sempre falhada, e a particularidade queassume essa falha, assim como a reparao dessa falha, o que vai dar conta dos distintostipos clnicos.

    Referir-nos ao enodamento borromeano supe a funo de mediao, que o que vamosnos centrar este ano. Assim como o ano passado nos centramos na interpenetrao entre osregistros, este ano vamos trabalhar em torno da funo da mediao. O prprio da estruturaneurtica que cada um dos trs registros est relacionado com algum outro pela mediaode um terceiro. Ento, por exemplo, imaginrio e simblico na neurose se relacionam via oreal, real e simblico se relacionam via o imaginrio, e assim os trs.

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    A funo de nomeao em Lacan a funo de enodamento. Para Lacan, o nome enoda, uma funo que enoda os registros, da a importncia que lhe d no incio de seu ensino aoNome do Pai como funo de nomeao por excelncia.

    O ttulo deste seminrio, R.S.I., e hrsieque quer dizer heresia so homofnicos. Este

    seminrio ento a heresia lacaniana ao dogma do pai na psicanlise, ao se propor abordar aestrutura por essas nomeaes, tentando prescindir da nomeao paterna, coisa que no vaiconseguir. Mas, finalmente, o que vai dizer que inibio, sintoma e angstia so nomes dopai. Proporei a vocs abordar desde a as trs vertentes do pai: a vertente imaginria, avertente simblica e a real, seu particular enodamento ou desenodamento em cada tipo deneurose, e finalmente seus efeitos.

    VI. A Segunda Volta LacanianaNesta colocao que Lacan vai fazer do n R.S.I., vai tomar o texto de Freud novamente evai dizer que a nomeao do imaginrio a inibio, j que a inibio o que detm o

    funcionamento simblico da estrutura. O simblico o que prprio do ser falante, j quesomos seres de linguagem, viemos ao mundo imersos na linguagem, imersos no simblico.

    A linguagem, o simblico, pode ser uma reta infinita. E, o que que detm? O que que lhepe um limite? O que que funciona como ponto? A nomeao imaginria, o sentido. Nacadeia significante o sentido imaginrio, o que detm o deslocamento metonmico. Da,o fundamental da inibio, necessrio que em algum momento o simblico pare, sedetenha, para constituir a estrutura neurtica. O imaginrio, ento, detm o desdobramentodo simblico e permite fechar o crculo do simblico, em relao aos outros dois, [para] queno seja uma reta aberta ao infinito. Por isso, Lacan comea pela inibio, como Freud,porque diz que somos seres de linguagem, estamos imersos na linguagem, e a primeiranomeao, o primeiro limite que encontramos o imaginrio.

    por isto que, para Freud, a primeira operao que se realiza na constituio do ser falante o narcisismo. Chega-se em um estado catico, fragmentrio, autoertico e a primeiranomeao, a primeira funo de enodamento, a primeira funo de constituio, vai ser umafuno imaginria: a constituio do eu, do narcisismo, que vai inibir esse caos originriodo autoerotismo.

    Segunda nomeao: a nomeao do simblico. A nomeao do simblico no o mesmoque o simblico, seno que Lacan vai dizer que justamente o Nome do Pai. esta funo

    que faz com que algo, se desdobre no campo do significante, algo, um significante, a funodo significante Mestre, do S1 que ordena, o S1 que tambm media entre imaginrio e real,que pe um nome nas coisasdiz Lacan sobre o final do seminrio.

    Nestes seminrios, no XXII, com sua heresia, depois no XXIII, quando aborda a obra doescritor James Joyce, muito imbudo de sua prpria formao jesuta, e inspirado por ele,Lacan vai ter como referncia permanente a Bblia para falar das origens e da constituioda estrutura e do n do ser falante. Ento, a nomeao do simblico referida ao momentono qual Ado pe nome nas coisas. A nomeao do simblico como mediao entreimaginrio e real, abotoando imaginrio e real com um nome. A coisa, essa coisa que aomesmo tempo uma imagem, vai estar mediada por um nome.

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    Mas Lacan vai distinguir esse momento no qual Ado nomeia os animais do momento dacriao, momento prvio em que estar em jogo uma nomeao do real. Vai dizer quecolocar nomes nas coisas uma nomeao simblica, mas h outra nomeao, que quandoesse buraco que esse Deus da Bblia que diz Eu sou o que sou, que puro sem sentido ,que puro S1 que no remete a um S2, porque no diz Eu sou tal coisa, mas Eu sou o

    que sou, um S1 que remete a si mesmo, ou em todo caso remete a um objeto a: Sou oque sou, essa coisa, isso. Lacan coloca que essa funo de nomeao um buraco quecospe um nome.

    A nomeao do real fica situada, ento, nesse momento angustiante, no qual algo surge donada, no qual um buraco cospe um nome. Como pode um nome sair do buraco? Em outravia, a pergunta que se fazem os cientistas: que havia antes do Big Bang? Que foi queexplodiu no Big Bang? Era um nada que explodiu? Mas, como pode explodir um nada?

    I nterveno: Freud diz que o recalque primrio uma operao de contrainvestimento, eque o contrainvestimento o modo de operao da fobia. Eu queria te perguntar se voc

    considera isso como uma nomeao imaginria, ou como uma nomeao real.

    Nieves: Lacan situa o recalque primrio como nomeao do real. Trata-se de um ponto queno imaginrio em nada, que fica totalmente fora do sentido. Deus no diz nada, umnome puro, e nesse sentido fica totalmente fora do sentido. um buraco que cospe umnome. Parece-me importante estabelecer a diferena entre recalque primrio e secundrio, eentre nomeao real e simblica.

    Na nomeao real estamos no plano do recalque primrio, e tambm da identificaoprimria, que o momento de incorporao do pai, que um momento no qual h umaprimeira operao efetiva do sujeito que funciona segundo Freud por introjeo, e que vaidar lugar a uma identificao que vai ser primeira; as outras identificaes vo sersecundrias em relao a ela. Isto est no captulo VII de Psicologa de las Massas yAnlisis del Yoiii, onde Freud vai dar conta de como as identificaes que do lugar aosintoma so secundrias, so segundas em relao a esta identificao primria que deoutra ordem, que anterior a toda relao de objeto, e onde se trata justamente do que comLacan podemos chamar a admisso no simblico do Nome do Pai. De modo que h umprimeiro momento no qual se produz essa primeira nomeao que a constituio do Nomedo Pai como um significante real, que vai ter um valor real no simblico. E depois h ummomento segundo no qual esta funo vai operando distintas nomeaes, distintossintomas. O que produz esta nomeao real angstia, porque no liga nada.

    Nesse sentido Lacan vai seguir o texto freudiano e vai dizer que o que liga o significante, oque liga representaes, o sintoma, a nomeao do simblico, que situamos na relao S1-S2. Enquanto que a angstia a nomeao do real, um S1 puro, esse Deus que diz Eu souo que sou e cospe um nome, fora de sentido.

    A nomeao do real uma nomeao difcil de apreender, justamente porque no podemosabord-la nem em termos imaginrios, nem em termos simblicos, por isso estas metforasdo que havia antes do Big Bang interrogam algo [que] surge do nada, ou como vai dizerLacan, algo que passa a ex-sistiralgo que lanado fora desse buraco. A Lacan diz Deuscospe o nome. Um nome cuspido por esse buraco que Deus, lanado ex-sistncia, lanado fora, comea a se sustentar fora.

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    Lacan situar a ex-sistnciano registro do real, e o buraco no registro do simblico. Desde aperspectiva de Inibio, Sintoma e Angstia, proponho a vocs situar a nomeao dosimblico em relao com a funo de castrao, que localiza e media entre imaginrio ereal; e o imaginrio como consistncia, como o que une, o que mantm juntodiz Lacan.

    Cada uma dessas nomeaesque so constitutivas do nao mesmo tempo participam decada um dos trs registros, de modo que cada registro tem sua consistncia, seu buraco e, aomesmo tempo, ex-siste aos outros dois. Isto nos possibilita referncias tais como oimaginrio do real, o simblico do imaginrio, etc.; por isso vamos trabalhar no somentecom o n, mas tambm com os trs registros, tal como os abordamos em alguns lugares,como se fossem conjuntos ou crculos de Euler, e onde tambm se vai fazendo diferenteslocalizaes em distintos espaos que vo nos permitir distinguir verses das neuroses emfuno do registro que prevalece na apresentao da estrutura.

    I nterveno: Acerca da distino das nomeaes entre nome prprio como nome lanadodesde esse buracoe os nomes das coisas.

    Nieves: Esse nome prprio, que o nome lanado por esse buraco, ao mesmo tempo possibilitado pelo Nome do Pai, da as dificuldades nas quais muitas vezes o psictico seencontra quando tem que assumir o prprio nome. Efetivamente, nessa operao se trata deuma nomeao do real, pela qual se constitui o sujeito como nome prprio, que h quedistinguir dos sintomas que seriam essas nomeaes que podem ir ao mesmo tempovariando na estrutura. E se poderia dizer que o real o que volta sempre ao mesmo lugar, o que no se pode mudar ainda quando se queira.

    Lacan diz em algum lugar que o neurtico quer se esquecer de seu nome prprio, que querser um sem nome, mas sempre vai voltar a encontrar com seu nome prprio, que o quevolta ao mesmo lugar, o mais real da estrutura. Essas outras nomeaes, que so ossintomas, podem mudar, podem cair e podem vir outras nomeaes, mas o que vai estarsempre no mesmo lugar vai ser o nome prprio.

    Finalmente Lacan vai se dar conta emR.S.I. que no existe o n borromeano de trs no serfalante. O ser falante uma estrutura falida, falhada, como assinalou em vriasoportunidades, particularmente em O Mal Estar na Cultura, onde faz referncia a umdesregramento fundamental no ser falante. Lacan traduzir isso nestes termos: A relaosexual no existe. H algo que no anda no ser falante, que faz que as coisas no seacomodem, que faz que a relao sujeito-objeto, homem-mulher, no se acomode, e isso

    que no anda vai se manifestar como lapsos no n.

    O n borromeano de trs no existe e, ento, ou surgem outros tipos de enodamentosqueso o que vimos o ano passado, no borromeanos, que vo dar lugar diversidade daspsicosesou bem vai vir um quarto para enodar esses trs que esto soltos, para enod-losborromeanamente. Mas a questo interessante de RSI que esse quarto pode ser em simesmo imaginrio, simblico ou real, o que vai dar lugar aos diferentes tipos de neurose.

    Proponho a vocs a princpio abordar a histeria como uma estrutura borromeana enodadasimbolicamente, a neurose obsessiva como uma estrutura borromeana enodadaimaginariamente, e a fobia como uma estrutura enodada pelo registro do real, quer dizer,

    pela angstia, que no enoda muito, da que na fobia no se termina de captar a estrutura.

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    E o que vai expor Lacan emRSI que esse quarto n pode duplicar algum dos trs registros.O quarto que enoda pode duplicar o imaginrio, duplicar o real ou duplicar o simblico, eisto vai dar distintos efeitos na estrutura. No o mesmo uma estrutura por mais que sejaneurtica e borromeana que esteja enodada pelo imaginrio, inibida, na qual ofuncionamento da estrutura seja a inibio, que seja o sintoma, ou que seja a angstia. E,

    ento, isso o que tambm vai nos permitir trabalhar depois nos casos que veremos e, nadireo da cura, saber por onde entrar. Porque no se vai entrar na estrutura desde ainterveno analtica da mesma maneira, j que os registros se apresentam de maneiradiferente quando a estrutura est nomeada pela inibio, pelo sintoma ou pela angstia.

    Aula de 3 de abril de 2008

    iRabinovich, Diana. Uma clnica de la pulsin. Las impulsiones. Ed. Manantial. Buenos Aires, 1989.iiScfhejtman, F. Acweca de los Nudos, em Mazzuca, R., Schejtman, F., Zlotnik, M., Las dos clnicas de

    Lacan. Buenos Aires, 2001. Ed. Tres Haches.iii

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