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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRO-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE INFORMÁTICA PARA CIDADANIA IVANA DE OLIVEIRA LIMA ORIENTADOR: ANTÔNIO FERNANDO VIEIRA NEY RIO DE JANEIRO, ABRIL/2002

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRO-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE

INFORMÁTICA PARA CIDADANIA

IVANA DE OLIVEIRA LIMA

ORIENTADOR: ANTÔNIO FERNANDO VIEIRA NEY

RIO DE JANEIRO, ABRIL/2002

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRO-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE

INFORMÁTICA PARA CIDADANIA

IVANA DE OLIVEIRA LIMA

Trabalho monográfico como requisito

para a obtenção do grau de especialista

em Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO, ABRIL/2002

Agradeço à Deus por sempre está ao meu lado guiando-me e iluminando os meus caminhos; Aos meus pais por proporcionarem minha capacitação constante e colaborarem para o meu crescimento profissional; E a César por está ao meu lado em todos os instante dessa caminhada, dando-me força e apoio.

Dedico essa obra às colegas Suely, Ivone, Maria Regina, Márcia, Mirian, e Paula, e ao colega Horácio por me receberem de braços abertos nessa cidade e por me ajudarem a alcançar mais uma vitória na vida.

“Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.(...) Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.”

PAULO FREIRE

SUMÁRIO

RESUMO.............................................................................................................................07

INTRODUÇÃO....................................................................................................................08

CAPÍTULO I – EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA: UMA VISÃO

SÓCIOCONSTRUTIVISTA E PROGRESSISTA..............................................................09

1. Breve retrospectiva da educação no Brasil: a educação dos anos 60 aos dias

atuais............................................................................................................09

2. A relação histórica entre educação e cidadania...........................................10

3. Educação para Cidadania............................................................................13

4. O Sócioconstrutivismo de Vygotsky...........................................................15

5. A Pedagogia Progressista proposta por Paulo Freire..................................20

CAPÍTULO II – INFORMÁTICA PARA CIDADANIA: UMA PROPOSTA DE

EDUCAÇÃO POPULAR.....................................................................................................24

1. Informatização da Sociedade.......................................................................24

2. Informática e Educação...............................................................................28

3. O trabalho do Comitê para Democratização da

Informática..................................................................................................33

CONCLUSÃO .....................................................................................................................36

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................37

RESUMO

Esse trabalho consiste em uma reflexão sobre a Informática para Cidadania, na qual

não só apenas a Informática é discutida, como também a educação popular e seus

benefícios para a construção da cidadania.

Lançando mão do referencial teórico das idéias e pensamentos de Vygotsky e Paulo

Freire, essa obra nada mais é que um estudo de como se pode trabalhar o ensino-

aprendizado da informática de forma mais dinâmica, democrática e menos tecnicista.

INTRODUÇÃO

Informática para Cidadania, consiste na temática principal deste trabalho, o qual

emerge a partir da idéia de se propor um ensino-aprendizado de informática menos

tecnicista, no qual se acredita que é possível através do computador refletir sobre

cidadania.

Esse trabalho tomou como base a proposta de educação para cidadania, idealizada

pelo Comitê para Democratização da Informática. E tem como referencial teórico o

sócioconstrutivismo de Vygotsky e a pedagogia progressista de Paulo Freire.

Na sua elaboração foi realizada revisão bibliográfica, a qual foi de suma

importância para a contextualização do tema escolhido. Além disso, foram realizadas

visitas ao Comitê de Democratização da Informática e a uma Escola de Informática e

Cidadania a fim de obter dados e informações que contribuíssem na construção do

trabalho.

Para melhor compreensão, o trabalho está estruturado em dois capítulos. No

primeiro, faz-se uma reflexão histórica sobre a educação no Brasil, sobre o que é cidadania

e como este conceito se apresenta na educação popular. É apresentado ainda as principais

idéias de Vygotsky e Paulo Freire em torno do aprendizado humano.

No segundo capítulo, faz-se inicialmente uma retrospectiva de como o homem

chegou a era da informatização. Logo depois é discutido como a informática pode ser

viabilizada na educação, e por fim é apresentada a proposta do Comitê para

Democratização para Informática.

Contudo, essa obra deve ser considerada como uma colaboração no ensino-

aprendizado da informática.

CAPÍTULO I – EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA: UMA VISÃO

SOCIOCONSTRUTIVISTA E PROGRESSISTA

1. Breve retrospectiva histórica da educação no Brasil: a educação dos anos

60 aos dias atuais.

A questão da educação vem sendo amplamente debatida nos últimos quinze

anos, seja por causa da situação crítica do setor escolar, em especial a escola pública; em

função dos discursos e propostas governamentais ou de representantes da sociedade civil;

ou ainda pelos diversos exemplos de novas práticas pedagógicas de aprendizagem e

exercício da cidadania.

Durante o século XX ocorreram no Brasil diversas reformas educacionais e

surgiram novas propostas pedagógicas na área escolar.

No final da década de 60 e início da de 70, o regime militar realizou reformas

preocupadas em adequar a educação brasileira às exigências do capital internacional. O

crescimento desorganizado do setor da educação formal, nos anos 70, sua burocratização e

a queda geral de sua qualidade levaram, nos anos 80, ao ressurgimento de novas formas da

educação popular, e de experiências na área da educação não-formal, geradas a partir da

prática cotidiana de grupos sociais organizados em movimentos e associações populares.

Nos anos 90, um novo cenário surgiu, em que a sociedade aprendeu a

organizar-se e a reivindicar seus direitos de cidadania, a partir da constatação da qualidade

de não-cidadãos, que são na prática. Essa constatação vem atrelada a um sentimento de

descrença generalizado na política, nos políticos e nos organismos estatais.

Paralelo a esse processo político-social pelo qual passou a sociedade nos anos

90, pode-se dizer que ocorreu também nesse período a elaboração de políticas estatais ditas

modernizadoras, nas quais a educação foi enfatizada como setor prioritário, e os processos

econômicos foram privilegiados a fim de darem visibilidade política ao governo.

Por fim, as discussões do século XXI em torno da educação vêm tentando

modificar as práticas pedagógicas tradicionais e viabilizar de forma concreta uma educação

mais democrática, voltada para a construção de cidadãos. E para tanto se faz necessário

refletir historicamente a questão da cidadania.

2. A relação histórica entre educação e cidadania

Apesar de historicamente serem apresentadas de forma diferenciada e muitas

vezes distanciadas, educação e cidadania completam-se mutuamente, visto que são

elementos interdependentes inerentes a sociedade.

No liberalismo, a questão da cidadania estava associada à noção dos direitos

naturais e indispensáveis ao homem (liberdade, igualdade perante a lei e direito à

propriedade); e dos direitos da nação (soberania nacional e separação dos poderes:

executivo, legislativo e judiciário). Nesse modelo econômico, o cidadão era aquele homem

suficientemente esclarecido para escolher seus representantes, com conhecimento de causa,

independente das pressões; e era ainda, acima de tudo, um proprietário de terras e imóveis.

A educação para a cidadania não fazia parte do universo da classe trabalhadora,

visto que esta não era considerada cidadã. A igualdade natural, inata entre os homens, não

se efetivava na prática e o que predominava era a desigualdade entre cidadão-proprietário e

o não-cidadão, o não-proprietário.

No século XVIII com o racionalismo ilustrado o conceito de cidadão será

ampliado ao não-proprietário e as classes populares, os quais passam a ser considerados

sujeitos de direitos.

A idéia nesse período era que, através de uma reforma política, o homem

pudesse se tornar um sujeito histórico capaz de modificar a realidade. Para tanto, ele

precisava ser livre e consciente, e a questão da cidadania deveria se resumir a uma questão

educativa.

Com a consolidação do capitalismo, a educação volta a ser pensada pelas

classes dirigentes como mecanismo de controle social, que servia para evitar desordens.

Adam Smith justifica a necessidade da educação em função da divisão do

trabalho, em que cabia ao Estado facilitar, encorajar e até mesmo impor a toda população a

importância do aprendizado mínimo ás necessidade de capital, tais como: ler, contar,

apreender conhecimentos geométricos e de mecânica.

Essa era a base da economia clássica do século XVIII em que o cidadão era

passivo, e ao contrário do racionalismo ilustrado, às massas populares deveriam tornar-se

ordeiras. O importante não era instituir, racionalizar o indivíduo, mas racionalizar a visa

econômica, a produção, o tempo das pessoas, o ritmo dos corpos, a disciplina, as mentes. A

educação, dentro dessa perspectiva, constituía-se na formação e produção da mercadoria

para o trabalho.

A noção de cidadania descaracterizou-se de sua concepção original clássica e

passou a ter uma conotação eminentemente moral de disciplinamento. Consequentemente,

a questão da cidadania desloca-se para questão do poder.

Na concepção clássica, a cidadania estava vinculada à noção de direitos; à

liberdade dos cidadãos, ainda que restrita a poucos, aos proprietários. A cidadania do

século XIX, ao contrário dos séculos anteriores, se dirigia a todos, inclui as massas, porém

para discipliná-las e domesticá-las; a educação tinha destaque e a prática pedagógica

enfatizava as estratégias de persuasão, esclarecimento e moralização de cada futuro

cidadão.

No século XX o projeto burguês destacava a questão dos direitos dos

indivíduos, menos como direitos e mais como deveres. A questão da cidadania deixou de

ser conquista da sociedade civil e passou a ser competência do Estado.

Paralelo a cidadania regulamentada pelo Estado, encontrava-se o

desenvolvimento do neoliberalismo comunitarista, onde a cidadania era definida como

retorno à idéia de comunidade em contraposição à sociedade urbano-industrial

burocratizada.

O cidadão era o homem civilizado, participante de uma comunidade de

interesses, solidário com seus pares. A noção de educação era bastante conservadora:

educar para a cooperação geral.

A escola tinha um papel fundamental neste processo, onde as condições

concretas vivenciadas não era as fontes alimentadoras do processo de aprendizagem, mas

sim uma visão romântica, estigmatizada, da vida no campo, das relações diretas, primárias

da pequena comunidade. O livro didático era o representante máximo deste processo.

Em função da grande contradição entre o discurso neoliberal e a realidade da

população, elaborou-se outro referencial sobre cidadania, no qual o cidadão civilizado seria

aquele que teria superado os estágios iniciais da convivência grupal, da barbárie, para

estágios avançados, modernos, de convivência harmoniosa na sociedade urbanizada.

Entretanto, atualmente existe uma concepção de cidadania elaborada a partir

de grupos organizados da sociedade civil, através de movimentos. Trata-se da cidadania

coletiva.

O cidadão coletivo presente nos movimentos sociais reivindica, baseado em

interesses da coletividade de diversas naturezas. São diversos grupos: de mulheres, de

moradores pobres, de negros, homossexuais, dentre outros, lutando pelo exercício da

cidadania.

A educação ocupa lugar central nessa concepção coletiva da cidadania, visto

que ela se constrói como um processo de luta que é, em si próprio, um movimento

educativo.

Na realidade, a cidadania não se constrói por decretos ou intervenções

externas, programas ou agentes pré-configurados. Ela se constrói como um processo

interno, no interior social em curso.

Maria Gohn ao refletir sobre movimentos sociais e educação define que :

“A cidadania coletiva é constituidora de novos sujeitos históricos: as massas urbanas espoliadas e as camadas médias expropriadas. A cidadania coletiva se constrói no cotidiano através do processo de identidade político-cultural que as lutas cotidianas geram” (Gohn, 1999:16-17).

A partir dessa concepção de cidadania coletiva pode-se pensar em educação

para cidadania, uma vez que estas duas concepções estão intrinsecamente interligadas.

3. Educação para Cidadania

Os anos 80, foram marcados por uma série de demandas educativas, as

quais estavam articuladas às conjunturas políticas que o Brasil passou à busca de resolução

para problemas de ordem estrutural, gerados pelo modo de acumulação capitalista no país.

Dentre as diversas demandas que surgiram nesse período, a educação para

cidadania foi predominante e esteve associada à idéia de como as relações sociais se

apresentavam em relação às leis, aos direitos, á construção de uma nova Constituição, à

elaboração de leis orgânica, planos diretores, etc.

Na realidade, a educação para cidadania engloba várias outras tais como: educação

contra discriminação, educação para o trânsito, respeito às minorias étnicas, educação

infantil, etc.

A partir desta perspectiva, Maria Gonh define: “Ser cidadão é ter direitos, deveres,

consciência social e ser respeitado em todos os aspectos”(Idem:63).

Essa definição ainda não se concretiza na prática, visto que a consciência social de

uma cidadania plena não se difundiu no Brasil.

Devido ao tipo de desenvolvimento social existente no país, à situação de carência e

miserabilidade de grandes contingentes populacionais, as demandas por cidadania se

restringem aos aspectos legais (de igualdade jurídica), e às questões básicas, elementares

para a sobrevivência humana tais como: moradia, saúde e alimentação.

Os direitos modernos de cidadania não foram suficientemente demandados, e

quando o foram partiram de minorias politicamente bem organizadas em situação exemplar

em face da desorganização e falta de informações e de formação da maioria da população.

A educação para cidadania acima de tudo constitui-se no aprendizado diário da

escola chamada vida. E é nessa escola que se aprende desde os pequenos e mais simples

hábitos de cidadania, até os mais complexos conceitos sócio-políticos que significam ser

cidadão.

E nesse processo de aprendizagem do cotidiano, o sujeito aprende, ensina e passa

por uma tomada de consciência do seu papel e do exercício da cidadania.

Esta concepção de educação para cidadania traz em si reflexões e conceitos muito

próximos do socioconstrutivismo (ou sóciointeracionismo) de Vygotsky e da pedagogia

progressista de Paulo Freire.

Portanto, refletir sobre a produção científica e as principais idéias desses dois

autores é de suma importância para definir um referencial teórico da educação para

cidadania. Além de possibilitar a construção de mecanismos metodológicos para efetivação

dessa nova proposta pedagógica.

4- O Sócioconstrutivismo de Vygotsky

A educação para cidadania nada mais é que uma forma de se viabilizar o complexo

processo de aprendizagem, o qual se dá em todas relações sociais, que os indivíduos

estabelecem.

No decorrer da história, o homem, mergulhado nesse processo contínuo, passou a

ter curiosidade de saber como se aprende, e a questionar qual teoria estava embutida no

processo de aprendizagem. Isso porque quando uma pessoa ensina, mesmo que não defina

explicitamente, ela se baseia em uma teoria, que é possível ser deduzida a partir de sua

atuação.

Na realidade, cada teoria da aprendizagem tem implícito um conjunto de práticas

escolares, em que a elaboração de um currículo e de um planejamento, a seleção de

material e recursos didáticos, além da escolha de técnicas de instrução vão caracterizar a

teoria utilizada pelo educador.

O que se pretende com esse trabalho seria então, refletir sobre conceitos científicos

que mais se aproximam da educação para cidadania.

Dentre diversas teorias da aprendizagem (Teoria do Behaviorismo, Teoria da

Gestalt, Teoria Piagetiana,, dentre outras), acredita-se que a concepção sócio-histórica da

aprendizagem constitui-se em um referencial teórico a ser adotado pela educação para

cidadania.

A concepção sócio-histórica é baseada em pressupostos encontrados na dialética

marxista, que considera a natureza como um todo coerente, em que os fenômenos

articulam-se reciprocamente, e onde os processos de crescimento realizam-se

principalmente por mudanças de ordem quantitativa e qualitativa resultantes das lutas de

classes.

Segundo Maria Teresa Freitas, nessa perspectiva sócio-histórica: “ o conhecimento

é constituído numa relação dialética entre sujeito e objeto, isto é, entre o sujeito e o meio

histórico (Freitas, s.d.:11)”.

O conhecimento, portanto se constrói em uma relação não só com objetos, mas

principalmente uma relação entre pessoas, entre sujeitos.

Esse é o pensamento do psicólogo Vygotsky, que ao empreender uma crítica da

psicologia de seu tempo, apresentou uma outra via para se compreender a construção do

conhecimento.

Vygotsky afirma que as características tipicamente humanas não estão presentes

desde o nascimento do indivíduo, nem são mero resultado das pressões do meio externo.

Elas resultam da interação dialética do homem e seu meio sócio-cultural. Ao mesmo tempo

em que o ser humano transforma o seu meio para atender suas necessidades básicas,

transforma a si mesmo.

Esse grande cientista não ignorava as definições biológicas da espécie humana,

porém atribuiu uma enorme importância à dimensão social, que fornece instrumentos e

símbolos que medeiam a relação do indivíduo com o mundo.

Essa relação não é direta, mas mediada via um outro, através da linguagem, que

para esse estudioso, é um signo mediador muito importante, pois carrega em si os

conceitos generalizados e elaborados pela cultura humana.

Essa posição de Vygotsky enfatiza a relação do sujeito com o conhecimento como

uma interação entre sujeitos viabilizada pela linguagem. Dessa forma o conhecimento se

constrói nas relações interpessoais, sobre as quais Vygotsky assim comentou:

“ Um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social e depois, mo nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica) e depois, no interior da criança (intrapsicológica).” (Vygotsky, 1991:64).

Portanto, o sujeito do conhecimento para Vygotsky não é apenas ativo

mais interativo, e a construção individual é o resultado das interações entre indivíduos

mediados pela cultura.

Para Vygotsky, as funções psicológicas humanas se originaram nas relações do

indivíduo e seu contexto cultural e social. Isto é, o desenvolvimento humano não é dado a

priori, não é imutável e universal, não é passivo, nem independente do desenvolvimento

histórico e das formas sociais da vida humana, uma vez que sua formação psicológica se dá

mediante a internalização dos modos historicamente determinados e culturalmente

organizados para operar com informações.

Segundo o psicólogo, a criança nasce dotada apenas de funções psicológicas

elementares, como os reflexos e a atenção involuntária, presentes em todos os animais

mais desenvolvidos. Com o aprendizado cultural, no entanto, parte dessas funções básicas

transformam-se em funções psicológicas superiores, como a consciência, o planejamento e

a deliberação, características exclusivas do homem.

Vygotsky identifica ainda dois níveis de desenvolvimento: o nível de

desenvolvimento real ou afetivo e o desenvolvimento potencial.

O desenvolvimento real refere-se àquelas conquistas que já estão consolidadas na

criança, aquelas funções ou capacidades que ela já aprendeu e domina, pois já consegue

utilizar sozinha, sem assistência de alguém mais experiente da cultura (pai, mãe, professor,

criança mais velha, etc.). Este nível indica, assim, os processos mentais da criança que já se

estabeleceram, ciclos de desenvolvimento que já se completaram.

O nível de desenvolvimento potencial também se refere àquilo que a criança é

capaz de fazer, só que mediante a ajuda de outra pessoa. Nesse caso, a criança realiza

tarefas e soluciona problemas através do diálogo, da colaboração, da imitação, da

experiência compartilhada e das pistas que lhe são fornecidas. Este nível é, para Vygotsky,

bem mais indicativo de seu desenvolvimento do que aquilo que ela consegue fazer sozinha.

A distância entre aquilo que ela é capaz de fazer de forma autônoma (nível de

desenvolvimento real), e aquilo que ela realiza em colaboração com os outros elementos de

seu grupo social (nível desenvolvimento potencial), Vygotsky definiu como zona de

desenvolvimento proximal.

Nesse sentido, o desenvolvimento da criança é visto de forma prospectiva, pois a

“zona de desenvolvimento proximal” delimita aquelas funções que estão em processo de

maturação.

O aprendizado é o responsável por criar a zona de desenvolvimento proximal, na

medida em que, em interação com outras pessoas, a criança é capaz de colocar em

movimento vários processos de desenvolvimento que sem a ajuda externa, seriam

impossíveis de ocorrer.

Muitos estudiosos consideram o conceito de zona de desenvolvimento proximal de

suma importância para as pesquisas do desenvolvimento infantil e para o plano

educacional, justamente porque permite a compreensão da dinâmica interna do

desenvolvimento individual, e colabora para a elaboração de estratégias pedagógicas que

auxiliem nesse processo.

Esse conceito possibilita analisar ainda os limites dessa competência, ou seja,

aquilo que está além da zona de desenvolvimento proximal da criança, aquelas tarefas que

mesmo com a interferência de outras pessoas, ela não é capaz de fazer.

Essas reflexões de Vygotsky são adotadas pela psicologia sócio-histórica, da qual

derivam algumas práticas pedagógicas.

Nessas práticas, alunos e professores participam de uma construção partilhada do

saber. Pode-se dizer então que, o conhecimento não se restringe a uma construção

individual mas, se realizado no coletivo, é uma construção social.

Na sala de aula não há espaço para o ensinar e o aprender de forma isolada. Toda

ênfase é colocada no ensino/aprendizagem como um processo único do qual participam

igualmente professores e alunos.

Nessa perspectiva, alguns exemplos de práticas didáticas baseadas nos estudos

vygotskyanos vêm sendo utilizados , dentre elas:

Ü A alfabetização, que não se pauta por fases (como pré-silábica ou

silábica), e tem por objetivo ampliar o universo de expressões da criança

para facilitar a incorporação da escrita. Sua ênfase é na elaboração da fala,

da escrita e da leitura como instrumentos simbólicos que repercutem no

desenvolvimento mental;

Ü O erro, que faz parte do processo de aprendizado, e deve ser apontado

pelo professor, para que a criança o corrija;

Ü A cópia, a qual é excluída por alguns professores, mas que porém

funciona como um ponto de partida para a criança realizar suas próprias

descobertas. Nesse sentido, o oferecimento de modelos de texto, por

exemplo, é uma estratégia válida – desde que resulte numa atividade

criativa, não numa cópia mecânica;

Ü O papel do professor, que consiste em mediar e conduzir o processo de

aprendizagem, atuando na zona de desenvolvimento proximal. Sua

intervenção é direta, pois deve ajudar a criança avançar.

Na educação, a perspectiva da psicologia sócio-histórica concretiza-se nas

tendências progressistas que propondo um movimento transformador e crítico que

considere o homem enquanto um sujeito histórico, são defendidas por autores como Paulo

Freire.

5 – A Pedagogia Progressista proposta por Paulo Freire

Toda pedagogia derivada da psicologia sócio-histórica centraliza-se na atividade

dos indivíduos em interação, e o conhecimento, constituído nesse processo de interação, é

visto de forma compartilhada. Nesse sentido, esse trabalho pretende refletir sobre a

pedagogia inovadora e progressista proposta por Paulo Freire, através da Educação

Popular.

A Educação Popular tem sido a expressão mais avançada do movimento de

renovação pedagógica no Brasil. Um movimento que começa no final da década de 50, se

estende pela de 60 e continua até hoje na educação de jovens e adultos e nos movimentos

sociais urbanos e rurais.

Na realidade, a educação popular é fruto de uma herança cultural, de uma

herança de lutas e movimentos de libertação que vêm ocorrendo no país ao longo da

história. E muitas pessoas acreditam que Paulo Freire é o grande símbolo dessa proposta de

educação, uma vez que sua tarefa pedagógica constituiu-se em “Formar para

transformar”(Arroyo, Miguel apud Caldart, Roseli e Kolling, Edgar, 2001: 55), ou seja,

ampliar o significado de formar, ultrapassando a idéia de treinar e propondo um processo

libertador dos educandos.

Para Paulo Freire, a educação como uma prática da liberdade, ao contrário da

prática de dominação, consiste em negação do homem isolado, solto, desligado do mundo,

assim como também a negação do mundo como uma realidade ausente dos homens.

A educação tem um caráter problematizador, com o qual se faz um esforço

permanente para que os homens percebam, criticamente, como estão sendo no mundo com

que e em que se acham.

E é como a missão de colaborar para que os homens tomem consciência do seu

papel e inserção social, que Freire diz que a educação é possível e necessária ao homem, o

qual ele considera um ser inacabado e que se sabe inacabado, mas que deve ser sujeito de

sua própria educação. Para Freire: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo,

os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo (Freire, 1987: 68).

Essa é uma das principais idéias desse pedagogo, que critica duramente a

concepção bancária da educação, na qual o aprendizado se dá de forma verticalizada (de

cima para baixo). O professor, a serviço da elite dominante, transmite uma diversidade de

conhecimentos para os alunos, a fim de domá-los, domesticá-los, controlá-los e mantê-los

na condição de subordinados, ignorantes, marginalizados, alienados e oprimidos.

Em seus estudos e reflexões, Paulo Freire não inventou um método, uma nova

técnica, uma nova metodologia, uma receita, até mesmo por que ele não admitia educação

como método ou técnica neutra. Para ele educação é um ato político, uma conduta, um

conjunto de valores pedagógicos, um compromisso, uma postura.

E para vivenciar esse conceito de educação, ele comenta em seu livro

Pedagogia da Autonomia que é preciso compreender que o ato de ensinar não é transmitir

conhecimentos, mas criar condições para sua construção e produção crítica. E nessas

condições existe a presença de educadores e de educandos criadores, investigadores,

inquietos, curiosos, humildes e persistentes.

Freire apresenta ainda a importância do papel do educador, que não se restringe

apenas a ensinar os conteúdos, mas também ensinar e aprender a pensar certo , de forma

crítica e ética, sem preconceitos. Para tanto, ele diz que é preciso ter bom senso,

humildade, paciência, tolerância, alegria e esperança.

Paulo Freire defende ainda que é possível mudar a realidade através de uma

educação libertadora e afirma que é preciso que o professor tenha otimismo, compromisso,

segurança e acredite que essa mudança é possível.

Nessa perspectiva, não se pode perder de vista que a educação é uma forma de

intervenção no mundo, e o professor precisa definir a postura ideológica que pretende ter

em relação aos educandos. Uma postura repressora, que não possibilite um aprendizado

democrático, de troca e interação constantes; ou um apostura firme, ética, que possa

através do diálogo permitir que, tanto educadores quanto educandos possam viver

conjuntamente o processo ensino/aprendizagem.

Acredita-se então que, os professores têm que saber escutar e querer bem os

educandos. Estes por sua vez, devem está disponíveis a compartilhar suas experiências e

ainda a participar ativamente desse processo.

Contudo , Paulo Freire em seus trabalhos lutou de forma consciente pelas

unidades entre teoria e prática, mediante a elaboração de diversos livros, dentre eles:

Educação como Prática da Liberdade (1967); Pedagogia do Oprimido (1970); Educação e

Mudança (1979); Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido

(1992); Política e Educação (1993); Pedagogia da Autonomia (1996).

Na perspectiva de que toda a construção teórica desse capítulo – que

constituiu-se em uma reflexão sobre a educação para cidadania à luz das idéias de

Vygotsky e Paulo Freire – possa complementar as próximas análises em torno da

Informática, será apresentada no capítulo II, uma experiência de educação popular.

E apesar dos teóricos citados não abordarem a temática do aprendizado de

computação, entende-se que seus estudos e propostas pedagógicas podem e devem ser

utilizados na concretização da Informática para Cidadania.

CAPÍTULO II – INFORMÁTICA PARA CIDADANIA:

UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO POPULAR

1. Informatização da Sociedade

A história da humanidade mostra que, na antigüidade, o homem representava

as quantidades através de pedras, gravetos, nós de barbante, e utilizava ainda os próprios

dedos para contar (os dedos são utilizados até hoje para este fim).

Aos poucos, os algarismos concretos foram transformados em símbolos. E os

povos antigos descobriram dois modos básicos de representar esses algarismos. Um deles,

o sistema egípcio, que usava um símbolo para cada nova mão-cheia.

Por outro lado, os chineses usavam a posição dos números para indicar seu

valor. Primeiramente contavam de um a nove, conforme apresenta-se abaixo:

Na realidade, este sistema é quase o mesmo que o utilizado nos dias atuais. A única

diferença é que não existia nenhum símbolo para o zero. Os chineses simplesmente

deixavam o espaço em branco.

O primeiro equipamento criado para fazer cálculos mais rapidamente do que com o

dedo foi o ábaco, um instrumento produzido no oriente médio, que funciona como um

calculador decimal operado manualmente.

Muito mais tarde, em 1642, o filósofo francês Blaise Pascal criou a máquina de

somar. Enquanto o filósofo alemão Leibntz, em 1671 desenvolveu a máquina de

multiplicação. Em 1830, máquinas já realizavam as quatro operações, e em 1890, as

máquinas somavam e imprimiam os resultados em uma fita de papel.

A partir de 1940 foi desenvolvido o primeiro computador totalmente eletrônico

pelo professor John W. Mauchly, da Universidade da Pennsylvania. O equipamento era

chamado de "ENIC”, pesava 30 toneladas, e realizava em um dia o que era feito

manualmente em um ano. Daí surgiram o “EDVAC” (Eletronic Discrete Variable

Automatic Computer) e o “UNIVAC” (o primeiro computador comercial).

Foi inaugurada assim, a “era da informática”, em que os primeiros computadores,

do tamanho de salas inteiras e de construção caríssima, revolucionaram toda a ciência

humana por capacitarem as pessoas a armazenar e analisar dados e informações de forma

mais rápida e sistemática do que usando o próprio cérebro.

A partir de 1970, a invenção dos microchips reduziu todos os circuitos de

processamento para tamanhos cada vez menores, fazendo do computador de mesa e

pessoal uma ferramenta muito poderosa, permitindo que as pessoas tivessem acesso

instantâneo a banco de dados mais abrangentes.

Todo esse processo de informatização da sociedade constituiu-se em uma

verdadeira revolução, a qual tem tido um impacto igual ou maior que o da revolução

industrial no século XVIII. E a sociedade historicamente vem tentando acompanhar esse

ritmo galopante do avanço tecnológico, transformando seus hábitos, seus valores, e sua

cultura.

O avanço tecnológico associado ao custo decrescente para criação de novos

inventos incentiva cada vez mais a produção de sistemas de computação, cuja

aplicabilidade se presta a todas as áreas do conhecimento humano. Por outro lado, todas

essas áreas demandam a concepção e o desenvolvimento de instrumentos baseados na

mesma tecnologia a princípio desenvolvida para os computadores.

Os microprocessadores, computadores, as redes de computação (Intranet e Internet)

e os recursos de telecomunicações de uma maneira geral estão sendo usados como

ferramentas nas mais diversas áreas do conhecimento humano, como: sistemas automáticos

para transações econômicas (importações e exportações) e bancárias; sistemas de

diagnósticos médicos e cirurgias por computador; geração e reprodução de imagens;

controle de acervo bibliográfico; redes mundiais de processamento de dados, interligando

usuários em pontos remotos; ensino; planejamento; projeções, inferência e simulações, etc.

Uma amostra de algumas aplicações nas diversas áreas pode ser vista no quadro a

seguir:

Áreas Diversas Formas de Aplicações da Computação

Entretenimento

Ü Jogos (vídeo-games, simuladores, jogos educacionais, etc.); brinquedos; microcomputadores de uso pessoal; internet (salas de bate-papo, sites e notícias diversas); programas educativos, Cd Room; Parques aquáticos e de diversões, etc.

Aplicações Domésticas

Ü Eletrodomésticos automatizados: fornos controlados (umidade, temperatura); microondas; som com temporização automática e controle remoto; videocassete; DVD; aparelhos domésticos digitais (máquina de lavar, lava-louça, ar condicionado, etc).

Ü Controle de orçamento, controle bancário, controle de contas, dietas, estoques de mantimentos, agendas em computadores, etc.

Ü Secretárias eletrônicas; sistemas de segurança; comandos automáticos de luz e força, etc.

Aplicações Comerciais

Ü Pagamento/cobrança; ativo fixo/ativo imobilizado; contas a pagar e receber; cadastro de clientes/fornecedores; controle de estoques; reservas e compra de passagens; agendamento de atividades e eventos; controle e avaliação de vendas e compras; utilização de sistema de código de barras; monitoração de segurança; vendas, compras e leilões virtuais, etc.

Automação de

Escritórios

Ü Edição de textos; construção de planilhas e gráficos; reprodução automática; agenda; computadores portáteis; transferência e controle de arquivos; equipamentos para apresentações (data show, programas de elaboração de transparências, etc); uso da Intranet e da Internet; reuniões virtuais, etc.

Controle de Processos

Industriais

Ü Prospecção de minérios; sistema industrial de linha de montagem; produção de matérias-primas e outros produtos (aço, metais, petróleo e derivados, açúcar, álcool, vestuário, automóveis, etc); indústria química e bioenergética, engenharia sanitária; processamento de resíduos industriais, etc.

Controle de Processos

não Industriais

Ü Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica e água encanada; operação automática de centrais telefônicas; controle de tráfego urbano; controle de sistemas de defesa e armas; controle de gasodutos e oleodutos; serviços médicos-hospitalares; pesquisas; controle metroviário/ferroviário, de portos e aeroportos, etc.

Instrumentação Ü Instrumentos de laboratório (física, química, psicologia, etc.); instrumentos médicos e cirúrgicos; instrumentos para automóveis, aviões, foguetes etc.

Dentre os campos mais promissores de computação estão a inteligência artificial,

projetos assistidos por computador, robótica. A inteligência artificial consiste na ciência

que estuda a razão humana, simulando o comportamento inteligente. Nesse sentido,

algumas grandes realizações já foram alcançadas com a inteligência artificial, dentre elas:

o computador já ganhou partida de xadrez de um mestre internacional; demonstrou

teoremas da matemática; fez diagnósticos médicos; leu jornais e respondeu perguntas sobre

ele.

A robótica, associando a inteligência artificial, teoria de controle, computação,

instrumentação sensora e servo-mecanismos, produz os robôs industriais, utilizados nas

linhas de montagem, que substituiu e vem substituindo as tarefas executadas até então

pelos homens. Além desses robôs, começam a surgir no final do século XX, início do XXI

os robôs domésticos (robô-cachorro, robô que realiza atividades domésticas).

Contudo, toda essa trajetória histórica da humanidade rumo a informatização vem

construindo novas formas de relações sociais, novas formas de aprendizado, novas formas

de ver e perceber o mundo e nele conviver.

2 – Informática e Educação

Os avanços tecnológicos ocorridos ao longo da história expandiram-se também para

área da educação, por isso torna-se importante refletir sobre o seu uso, uma vez que o

aprendizado dos diversos conteúdos passa a ser realizado também com a utilização do

computador.

Essa análise torna-se relevante na medida em que se acredita que mais do que

transmitir conteúdos curriculares, é dever da escola e dos profissionais da educação,

preparar o cidadão para a vida moderna. Isso por que, o uso da informática é uma realidade

na vida social, é o meio mais rápido e eficaz que busca integrar todas as informações

existentes entre pessoas ou empresas de todo mundo. Pela Internet, por exemplo, pode-se

fazer compras, movimentar contas bancárias, reservar e pagar passagens aéreas, acessar

informações de várias bibliotecas de todo mundo, entre outras inovações.

O computador se mostra cada vez mais eficiente, à medida em que oferece recursos

visuais, a tal nível de estimulação, que possibilita ao aluno entender o seu próprio processo

de pensamento.

Dentro dessa perspectiva, os recursos do computador, tais como: som, animação, e

efeitos especiais tendem a despertar o interesse dos discentes, tornando as atividades mais

atraentes, ao mesmo tempo que pode atender às necessidades de cada uma de suas

dificuldades e facilidades, suas deficiências e eficiências.

Cabe então, aos profissionais da educação ter consciência de que o computador é

um instrumento que ajuda a atingir certos objetivos e não fim em si mesmo. E deve ser

utilizado como um recurso a mais no processo de aprendizagem e de integração escolar e

social dos alunos.

O educador precisa perceber que não basta ligar o computador para estar pronto

para ser utilizado. É necessário conhecer as diversas ferramentas e buscar as que são mais

adequadas ao alcance de seus objetivos e os ingredientes necessários para o seu trabalho.

O computador deixa de ser uma máquina de ensinar para ser uma ferramenta ou

instrumento pedagógico usado pelos educadores para auxiliar o aluno no processo de

ensino-aprendizagem. Mas é preciso ter cuidado, pois existe uma abordagem tradicional

onde o computador continua sendo uma máquina de ensinar, apenas substituindo o papel

ou o livro, e assim o computador imita as atividades da sala de aula, sendo uma versão

computadorizada dos métodos tradicionais de ensino, sem trazer maior desenvolvimento

ao aprendizado do aluno.

Esse novo instrumento de ensino, vem junto com a mudança do papel do professor

e da escola, pois nesse novo trabalho o professor deixa de ser o transmissor do

conhecimento e passa a ser um orientador, mediador no processo de desenvolvimento do

aluno, que é um agente ativo neste processo.

Junto a esse novo instrumento de ensino surgem ainda algumas ferramentas que

servem para ensinar, como se apresenta abaixo:

Ü Programas Tutoriais

Os programas tutoriais são cursos dados pelo computador, ou seja, programas

que ensinam. A vantagem é que o computador tem recursos ricos como:

animação, som , vídeos e uma paciência infinita. O professor precisa de pouco

treino para o seu uso. Atualmente os cursos e, até mesmo na residência, as

pessoas estão utilizando este método para aprender e utilizar o computador e

seus aplicativos. Esses programas são desprovidos de técnicas pedagógicas, o

aprendiz fica passivo, executando as instruções dadas pelo computador, sem

poder interagir com a máquina.

Ü Programas de Exercício-e-Prática

Esses programas são utilizados para revisar material visto em classe,

principalmente aqueles que exigem memorização. Segundo um estudo feito

pelo EPIE (The Educational Produts Information Exchange na Columbia,

E.U.A) “cerca de 49% do software educativo no mercado americano são do

tipo exercício-e-prática” (Lopes, 1997: 31). Esses exercícios geralmente são

apresentados na forma de jogo, assim o aluno tem que responder rapidamente

para ganhar o jogo.

Ü Jogos Educacionais

A pedagogia por trás desta abordagem é a de exploração autorigida ao invés da

instrução explícita e direta. De acordo com o estudo da The Johns Hopkeins

University realizado em 1985, “24% do tempo que as crianças das primeiras

séries do ensino fundamental passam no computador é gasto com jogos”

(idem:32). Desta forma a criança aprende melhor porque está livre para

descobrir por si mesma o caminho do aprendizado. Entretanto, o professor

precisa estar atento para a avaliação, pois os jogos que trabalham com

conceitos triviais não conseguem diagnosticar as falhas do jogador, por isso é

importante o professor acompanhar o desempenho do aluno durante o jogo,

fazendo com que reflita sobre seus erros.

Ü Simulação

Simulação envolve a criação de modelos dinâmicos e simplificados do mundo

real. Essa é uma das grandes vantagens do computador, trazer experiências,

manipulação de substâncias e situações difíceis de serem trazidas para sala de

aula, auxiliando a compreensão do aluno em assuntos difíceis de serem

explicados com livros ou verbalmente.

Ü Aplicativos para uso do aluno e do professor

Programas de processamento de texto, planilhas, manipulação de banco de

dados, construção e transformação de gráficos, sistemas de autoria,

calculadores numéricos, são aplicativos extremamente úteis tanto ao aluno

quanto ao professor, uma vez que possibilita que estes desenvolvam seu

raciocínio lógico, alem de pesquisar, criar sua próprias histórias com som,

animações e imagens.

Ü Programas de Controle de Processo

Através desses programas o aluno torna-se capaz de entender e controlar certos

processos. Por exemplo um programa que demostre um fenômeno, tem a

vantagem de eliminar certos aspectos tediosos de descrição de fenômenos em

laboratório. Esses programas são bastantes úteis em escolas técnicas e

profissionalizantes.

Ü Computador como Comunicador (INTERNET)

O computador pode ser uma ferramenta usada para comunicação, ligando

computadores entre si, formando uma rede de computadores. Isso pode ser

conseguido usando uma fiação que liga fisicamente os computadores, ou via

uma interface (modem), que permite a ligação do computador ao telefone

possibilitando a utilização da rede telefônica para interligar os computadores.

Uma vez os computadores interligados, é possível enviar mensagem de um

para o outro através de software que controla a passagem da informação entre

os computadores. Este tipo de arranjo cria um verdadeiro correio eletrônico

mais conhecido como Internet. Um número de pessoas que compartilham de

um mesmo interesse podem trocar informações sobre um determinado assunto,

criando uma base de dados.

Entrando em contato com essas ferramentas e mediado pelo professor, o aluno

poderá ampliar o seu nível de desenvolvimento potencial através da ajuda do computador.

E com o aprendizado da informática, a zona de desenvolvimento proximal, que está

sempre em construção e em movimento, destacará os vários processos de desenvolvimento

que sem a ajuda do computador, não seriam possíveis de ocorrer naquele momento.

Uso dessas ferramentas irão colaborar na escrita, além de estimular a

criatividade e imaginação do aluno, devido a sua imensidão de recursos visuais, auditivos e

sensoriais.

Entretanto, é preciso deixar bem claro, que o computador não substitui a presença

fundamental do professor, e nem supera a inteligência do aluno. Na realidade, o

computador é um equipamento que funciona a partir de comandos estabelecidos. Sendo

assim, o aluno efetuará atividades diversas, mediado e conduzido pelo professor, o qual

deve estar atento as intervenções que o computador não é capaz de executar, e que serão

de sua total competência e importância realizar.

A utilização do computador na educação é muito importante, pois a presença dessa

nova tecnologia é real e está difundida em todos os lugares. E infelizmente o acesso ao

computador e aos conhecimentos de informática ainda estão concentrados apenas nas mãos

daqueles que têm condições de comprar o equipamento e pagar por um curso.

E como fazer então, para que todos possam ter garantidos o acesso a essa nova

tecnologia? Como possibilitar que os alunos de escolas públicas e a população de baixa

renda de baixa renda possam ter acesso a esse novo recurso que é exigido pelo mercado de

trabalho e pela sociedade?

Tentando refletir sobre essas questões, será apresentado no item a seguir uma

proposta de educação popular, idealizada pelo Comitê para Democratização da

Informática (CDI).

3. O trabalho do Comitê para Democratização da Informática

Criado em 1995, a partir do movimento iniciado por Rodrigo Baggio, o Comitê

para Democratização da Informática, foi a primeira organização não-governamental

(ONG) de informática no Brasil.

O principal objetivo do CDI consiste na formação de Escolas de Informática e

Cidadania (EICs), que darão às pessoas que fazem parte de comunidades empobrecidas, o

acesso às técnicas e ao uso da informática.

O projeto do CDI se baseou na realidade socioeconômica no Brasil, que já

impôs a constatação de que a história da humanidade adentrou em uma nova era, a era da

informação e da comunicação em rede, onde o computador desempenha um papel

fundamental.

Sabe-se entretanto, que o acesso à informática ainda se encontra bastante limitado,

dado o alto custo dos equipamentos e às ainda escassas oportunidades de formação

disponíveis para a população de baixa renda.

Para montagem da escola, o CDI criou o formulário “Diretrizes para implantação

de EICs, com base no qual a comunidade interessada prepara um projeto que será

analisado pelo próprio comitê.

É necessário que nessa comunidade seja identificado um grupo de pessoas que se

responsabilize pela administração e gestão da escola, que deve ser auto-sustentável. Depois

são selecionadas algumas pessoas para serem futuros professores e que recebem do grupo

de educação do comitê uma capacitação técnica e pedagógica.

Essa capacitação enfatiza a educação para a cidadania, na qual o CDI utiliza os

pensamentos e estudos de Paulo Freire. Nesse sentido, as EICs são orientadas a disseminar

entre as pessoas das comunidades não só o ensino técnico e profissionalizante, mas uma

reflexão sobre a própria realidade em que elas vivem e sobre os temas que merecem a

preocupação das comunidades.

Desta maneira, o objetivo central das EICs é abordar no ensino-aprendizado

dos programas de computadores os temas que servirão para a vida dos alunos. Para tanto é

preciso que os educadores conheçam seus alunos, suas expectativas e perspectivas, e o

contexto social, no qual estão inseridos.

Nas EICs é possível aprender introdução à informática, sistema operacional

dos computadores, operações de editores de textos, planilhas eletrônicas, banco de dados,

programas de gráficos de apresentação, manutenção e montagem de computadores. Nesses

conteúdos técnicos são inseridas reflexões sobre as necessidades dos aluno e de suas

comunidades, os direitos humanos, cidadania, dentre outras temáticas.

Na realidade, essa proposta do CDI, colabora para que as pessoas aprendam com o

seu dia-a-dia, e possam com os conhecimentos adquiridos lutar por uma vida mais digna.

Ou seja, através do exercício de sua cidadania, as pessoas aprenderão a reivindicar seus

direitos, exercer seus deveres e lutar pela construção plena de sua cidadania.

CONCLUSÃO

Com este trabalho foi possível refletir sobre a Informática para Cidadania, e

concluir que o fato do processo de ensino-aprendizado da informática ser tecnicista, passa

tanto por uma questão ideológica de como e para que deve ser utilizada a informática no

dia-a-dia da sociedade, quanto de uma questão metodológica de como o educador conduz

esse processo.

Muitas vezes, por falta de conhecimento e de didática, o educador tende a

minimizar o ensino-aprendizado a noções técnicas, desprezando o conhecimento prévio

dos alunos, sua história de vida e capacidade de criação de novos conceitos.

Torna-se importante então, definir o referencial teórico a ser utilizado no processo

de ensino-aprendizado e criar estratégias pedagógicas a fim de viabilizá-lo de forma

coerente.

Espera-se assim, que a proposta apresentada de Informática para Cidadania, seja

discutida, refletida e abraçada por aqueles a quem interessar, de modo a implementar

efetivamente essa modalidade de ensino-aprendizado da informática no diferentes espaços

sociais.

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