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1 www.congressousp.fipecafi.org Influência das dimensões de Cultura Nacional na relação entre Responsabilidade Social Corporativa e Gerenciamento de Resultados CAROLINE KEIDANN SOSCHINSKI Universidade Regional de Blumenau ROBERTO CARLOS KLANN Universidade Regional de Blumenau MOACIR MANOEL RODRIGUES JUNIOR Universidade Regional de Blumenau Resumo Esta pesquisa investigou a influência das dimensões de cultura nacional na relação entre responsabilidade social corporativa (RSC) e gerenciamento de resultados (GR), a fim de compreender se a cultura dos países influencia o comportamento informacional das empresas que se engajam em atividades de RSC. A amostra contemplou 19.635 empresas localizadas em 24 países, durante o período de 2010 a 2017, o que gerou 157.080 observações. Os resultados apontam para uma relação negativa entre RSC e GR, o que sustenta o comportamento informacional das organizações que divulgam informações transparentes e de maior qualidade. Dentre as seis dimensões da cultura nacional, apenas a masculinidade, aversão à incerteza e orientação para o longo prazo demonstraram resultados robustos. A masculinidade, conforme esperado, induziu a uma relação positiva entre RSC e GR. As dimensões de aversão à incerteza e de orientação para o longo prazo demonstraram um efeito potencializador da relação negativa entre RSC e GR. Conclui-se que as dimensões de cultura nacional, mais especificamente a masculinidade, contribui para o uso oportunista das práticas de RSC (relação positiva). Por outro lado, a aversão à incerteza e a orientação para o longo prazo contribuem para o uso informacional da RSC, o que está atrelado ao GR menos agressivo (relação negativa). Tais achados contribuem para a literatura por explicar o leque de resultados divergentes sobre o tema, gerando evidências de que algumas dimensões da cultura nacional podem ajudar explicar o porquê, em determinados cenários a RSC se mostra positivamente relacionada ao GR, enquanto em outros se observa o contrário. Além disso, mediante tais evidências, as organizações, principalmente aquelas com subsidiárias/filias em outros países, podem se atentar a mecanismos de controle que visem mitigar o comportamento oportunista de gestores, desencadeado pela influência cultural da masculinidade. Palavras chave: Responsabilidade Social Corporativa, Gerenciamento de Resultados, Cultura Nacional.

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Influência das dimensões de Cultura Nacional na relação entre Responsabilidade Social

Corporativa e Gerenciamento de Resultados

CAROLINE KEIDANN SOSCHINSKI

Universidade Regional de Blumenau

ROBERTO CARLOS KLANN

Universidade Regional de Blumenau

MOACIR MANOEL RODRIGUES JUNIOR

Universidade Regional de Blumenau

Resumo

Esta pesquisa investigou a influência das dimensões de cultura nacional na relação entre

responsabilidade social corporativa (RSC) e gerenciamento de resultados (GR), a fim de

compreender se a cultura dos países influencia o comportamento informacional das empresas

que se engajam em atividades de RSC. A amostra contemplou 19.635 empresas localizadas

em 24 países, durante o período de 2010 a 2017, o que gerou 157.080 observações. Os

resultados apontam para uma relação negativa entre RSC e GR, o que sustenta o

comportamento informacional das organizações que divulgam informações transparentes e de

maior qualidade. Dentre as seis dimensões da cultura nacional, apenas a masculinidade,

aversão à incerteza e orientação para o longo prazo demonstraram resultados robustos. A

masculinidade, conforme esperado, induziu a uma relação positiva entre RSC e GR. As

dimensões de aversão à incerteza e de orientação para o longo prazo demonstraram um efeito

potencializador da relação negativa entre RSC e GR. Conclui-se que as dimensões de cultura

nacional, mais especificamente a masculinidade, contribui para o uso oportunista das práticas

de RSC (relação positiva). Por outro lado, a aversão à incerteza e a orientação para o longo

prazo contribuem para o uso informacional da RSC, o que está atrelado ao GR menos

agressivo (relação negativa). Tais achados contribuem para a literatura por explicar o leque de

resultados divergentes sobre o tema, gerando evidências de que algumas dimensões da cultura

nacional podem ajudar explicar o porquê, em determinados cenários a RSC se mostra

positivamente relacionada ao GR, enquanto em outros se observa o contrário. Além disso,

mediante tais evidências, as organizações, principalmente aquelas com subsidiárias/filias em

outros países, podem se atentar a mecanismos de controle que visem mitigar o

comportamento oportunista de gestores, desencadeado pela influência cultural da

masculinidade.

Palavras chave: Responsabilidade Social Corporativa, Gerenciamento de Resultados, Cultura

Nacional.

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INTRODUÇÃO

A relação entre práticas de responsabilidade social corporativa (RSC) e de

gerenciamento de resultados (GR) tem sido investigada por diversos pesquisadores, como

Martínez-Ferrero e García-Sánchez (2015), Muttakin, Khan e Azim (2015), Bozzolan, Fabrizi

e Mallin (2015), Martinez-Ferrero, Gallego-Álvarez e García-Sánchez (2015), Ko e Kim

(2015), Gras-Gil, Manzano e Fernández (2016), Gavana, Gottardo e Moisello (2017), Hsu e

Chen (2017), Patro e Pattanayak (2017), Jordaan, Klerk e Villiers (2018) e Kim, Udawatte e

Yin (2018). Contudo, os resultados têm se mostrados divergentes, sendo que alguns revelaram

uma relação positiva entre os temas, enquanto outros, uma relação negativa.

A relação negativa pressupõe que, ao se engajar em divulgações voluntárias sobre

questões sociais e ambientais, as empresas se mostram transparentes aos seus interessados, ou

seja, divulgam maior número de informações e se mostram mais informacionais. Ao mesmo

tempo em que prezam pela transparência de informações, se preocupam também com a sua

qualidade, visto que se envolvem com menor intensidade em GR. Tal visão é denominada por

Kim, Park e Wier (2012) como abordagem ética da RSC, pois segundo os autores, esse

comportamento é motivado pelo compromisso das organizações com seus stakeholders.

Contudo, adota-se nesta pesquisa o termo “informacional”, o qual representa empresas que

possuem maior transparência (maior RSC) e qualidade das informações (menor GR).

A relação positiva, por sua vez, pressupõe que a RSC é um simples meio para a criação

de riqueza e que qualquer prática social ou ambiental realizada é aceita se, e somente se, for

consistente com o objetivo de obtenção de lucro. Para os autores, os gestores se engajam em

práticas de RSC com a intenção de obter benefícios pessoais, ao invés de prezar pelos

interesses da empresa e dos stakeholders. Portanto, por essa visão, a RSC pode estar ligada a

busca do interesse particular dos gestores e, por isso, ao maior GR (Kim et al., 2012). Essa

visão é denominada de “oportunista”.

Na presente pesquisa, optou-se por se posicionar teoricamente na visão informacional

da RSC, ou seja, entende-se que empresas que realizam práticas de RSC tendem a gerenciar

com menor intensidade os resultados, pois são motivadas por incentivos de transparência e

confiabilidade. Esse posicionamento é justificado pela pesquisa de Chih, Shen e Kang (2008),

que investigaram uma amostra abrangente de 46 países, bem como pela pesquisa de Martinez-

Ferrero et al. (2015), que analisaram a relação bidirecional entre RSC e GR, sendo que ambas

evidenciaram uma relação negativa entre os temas.

Observou-se nos estudos anteriores, que abordaram a relação entre RSC e GR, ênfase

em buscar evidências sobre a conduta das organizações que se engajam em RSC em distintos

contextos (se informacional ou oportunista), mas não se concentraram em investigar o porquê

da existência de diferentes achados. Portanto, a lacuna identificada se refere à possibilidade de

investigar fatores que impactam na relação entre RSC e GR, de modo a buscar explicações os

motivos de em alguns contextos existir resultados com relação positiva e, em outros, negativa.

Na busca de sustentar teoricamente essa inquietação, encontrou-se três estudos que

apresentaram sugestões de avanço em investigações sobre RSC e GR. A primeira pesquisa é

de Martínez-Ferrero e García-Sánchez (2015), que destacou que fatores em nível de país

poderiam ajudar a explicar a relação entre RSC e GR. De forma mais direta, García-Sánchez e

García-Meca (2017) sugeriram o uso das dimensões culturais de Hofstede, Hofstede e Minkov

(2010), como fatores, em nível de país, que poderiam influenciar a relação entre os temas.

Kim et al. (2018) recomendaram a inserção da cultura nacional como fator explicativo para a

relação entre GR e RSC.

Acredita-se que a cultura nacional possa influenciar na relação entre RSC e GR, de

modo a atenuar ou potencializar a relação negativa (abordagem informacional) entre RSC e

GR. Em alguns casos, entende-se que além de atenuar a relação negativa entre os temas, as

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dimensões culturais possam desencadear uma relação positiva, o que auxiliaria na explicação

de resultados de estudos anteriores.

A premissa de que a cultura nacional possa influenciar nessa relação é apoiada pelo

estudo de Gray (1988), que desenvolvou a abordagem da influência cultural, a qual considera

a cultura um fator fundamental para compreender as ciências sociais. A contabilidade, por se

caracterizar como uma ciência social, sofre a influência dos aspectos culturais, os quais são

responsáveis por moldar normas, valores e comportamentos diferentes para cada nação.

A abordagem da influência cultural de Gray (1988) foi baseada no modelo de cultura

nacional proposto por Hofstede (1980). Esse modelo foi atualizado no decorrer dos anos, a

versão mais recente foi publicada por Hofstede et al. (2010), que aponta seis dimensões

culturais: distância de poder, individualismo versus coletivismo, masculinidade versus

feminilidade, aversão à incerteza, orientação a longo prazo versus orientação para o curto

prazo e indulgência versus restrição. Pressupõe-se que cada uma dessas dimensões exerça

influência na relação entre RSC e GR. Portanto, o objetivo deste estudo é analisar a influência

das dimensões da cultura nacional na relação entre as práticas de RSC e de GR.

A principal contribuição deste estudo se dá ao preencher uma lacuna de pesquisa sobre

um fator que possivelmente impacta na relação entre os temas: a cultura nacional, não

considerada nas pesquisas anteriores (Muttakin et al., 2015; Martinez-Ferrero et al., 2015;

Gavana et al., 2017; Hsu & Che , 2017; Gras-Gil et al., 2016; Jordaan et al., 2018; Kim et al.,

2018). Dessa forma, buscou-se gerar evidências de que as características culturais são fatores

em nível de país a serem considerados ao investigar a relação entre RSC e GR, o que foi

sugerido teoricamente por Martínez-Ferrero e García-Sánchez (2015), García-Sánchez e

García-Meca (2017) e Kim et al. (2018). Tais características culturais podem ajudar a explicar

a conduta das organizações que se engajam em RSC e praticam o GR, e ainda, a compreender

o contexto de divergências empíricas evidenciado por pesquisas anteriores.

De forma prática/empírica, contribui-se com as organizações, principalmente aquelas

com subsidiárias/filiais em outros países, que mediante evidências empíricas do impacto da

cultura nacional, podem inserir mecanismos de controle voltados às práticas de RSC e GR, de

modo a garantir que tais práticas sejam responsáveis por gerar maior transparência e

qualidade de informações. Por outro lado, as empresas podem evitar gastos excessivos na

inserção de mecanismos de controle das práticas de RSC e GR, quando suas organizações

estão expostas a características culturais que já as induzem a utilizar destas práticas de

maneira informacional.

Além disso, buscou-se contribuir com acionistas e investidores, que mediante tais

evidências, podem se atentar às características culturais dos países em que as organizações

estão inseridas ao decidirem sobre seus investimentos. Ademais, acionistas podem exigir

mecanismos de controle para garantir que as práticas de RSC e de GR reflitam uma conduta

informacional e que informem com fidedignidade a realidade empresarial aos stakeholders.

REVISÃO DE LITERATURA

A ideia de que a cultura nacional pode auxiliar na explicação acerca da relação entre

RSC e GR deriva teoricamente da abordagem da influência cultural (Gray, 1988). O estudo de

Gray (1988) trouxe uma ampliação das pesquisas anteriores, que até então só haviam

considerado as diferenças do sistema econômico, legal e político como fatores relevantes para

melhor compreender as empresas enquanto sistemas contábeis. O autor concentrou sua

discussão na influência da cultura nacional, tendo como base a pesquisa de Hofstede (1980).

As pesquisas de Hofstede (1980), Hofstede (1991) e Hofstede et al. (2010) deram

origem à um modelo de cultura nacional baseado em seis dimensões culturais: distância de

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poder, aversão à incerteza, individualismo versus coletivismo e feminilidade versus

masculinidade, orientação de curto ou de longo prazo e indulgência versus restrição.

A distância de poder, de acordo com Paredes e Wheatley (2017), relaciona-se à

hierarquia e ao nível de autoridade dado aos principais gestores. Em países com altos níveis

de distância de poder, a hierarquia e o autoritarismo dos gestores será maior. Assim, estes

podem exercer maior poder para gerenciar as operações, considerando que a alta hierarquia

faz com que eles sejam menos questionados pelos seus subordinados quanto às suas atitudes.

Para Gray, Kang, Lin e Tang (2015), a elevada distância de poder tende a influenciar

positivamente o GR, considerando que nessa configuração cultural os gestores são mais

propensos a abusar de seu poder para gerenciar resultados e, assim, atingir objetivos pessoais.

De forma semelhante, Ugrin, Mason e Emley (2017) defendem uma relação positiva entre GR

e alta distância de poder, por considerar que subordinados são mais propensos a tolerar

práticas duvidosas de seus superiores quando são culturalmente complacentes a eles.

Taylor e Curtis (2013) acreditam que nos casos em que os subordinados percebem que

seus superiores estão realizando atitudes inadequadas, estes são menos propensos a relatar tais

atitudes, quando estão expostos culturalmente a uma alta distância de poder. Tal processo faz

com que os gestores se sintam mais confortáveis em realizar tais ações.

Empiricamente, as pesquisas de Nabar e Boonlert-U-Thai (2007), Doupnik (2008) e

Ugrin et al. (2017) não encontraram significância estatística em seus resultados, enquanto

Gray et al. (2015) constataram relação positiva entre a elevada distância de poder e o GR.

Com base no exposto, entende-se que a relação negativa entre RSC e GR, pautada na

visão informacional, será atenuada em países com elevada distância de poder, visto que esta

dimensão cultural tende a potencializar o comportamento oportunista dos gestores. Nesse

caso, é possível ainda que a relação entre RSC e GR se torne positiva, o que auxiliaria na

explicação da realização de práticas de RSC de maneira oportunista. Com base nisso,

elaborou-se a hipótese H1:

H1 - A relação negativa entre as práticas de RSC e de GR é atenuada em empresas de

países com elevada distância de poder.

No que concerne ao individualismo, há divergência entre os posicionamentos teóricos

das pesquisas que sustentaram a relação com o GR. Por exemplo, Desender, Castro e León

(2011) argumentam que em sociedades individualistas o GR é menor, pois nesse cenário o

grupo é mais propenso a divulgar a conduta inadequada de seus gestores e, portanto, torna-se

difícil encobrir tais práticas. Da mesma maneira, Ugrin et al. (2017) sugerem que sociedades

coletivistas são propensas a conviver e se conformar com práticas oportunistas, o que permite

supor que sociedades individualistas seriam menos propensas ao GR.

Por outro lado, Han, Kang, Salter e Yoo (2010) apoiam a ideia de que o individualismo

instiga o GR, por considerar que o elevado nível de individualismo faz com que os gestores

sejam flexíveis em seus relatos, podendo dar espaço à divulgação de números mais otimistas.

Além de diferentes entendimentos sobre a relação entre GR e individualismo, os

resultados empíricos também revelam relações divergentes. Nabar e Boonlert-U-Thai (2007) e

Doupnik (2008) encontraram relação negativa entre o individualismo e o GR, o que suporta a

ideia de que em sociedades individualistas, as empresas gerenciam com menor intensidade os

resultados. Por outro lado, Han et al. (2010), Gray et al. (2015) e Ugrin et al. (2017)

observaram uma relação positiva entre o GR e o individualismo, o que sugere que empresas

em sociedades individualistas gerenciam resultados com maior intensidade.

Ao considerar esses últimos estudos supracitados, entende-se que a relação negativa

entre RSC e GR (abordagem informacional) será atenuada em países individualistas, visto que

esta dimensão cultural tende a potencializar o comportamento oportunista do gestor. Nesse

caso, é possível ainda que a relação entre RSC e GR se torne positiva, pelo fato de o

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individualismo possivelmente induzir a um comportamento oportunista dos gestores, o que

auxiliaria na explicação da realização de práticas de RSC de maneira oportunista. Dessa

forma, formulou-se a hipótese H2:

H2 - A relação negativa entre as práticas de RSC e GR é atenuada em empresas de

países de maior individualismo.

A masculinidade, de acordo com Paredes e Wheatley (2017), pode ser percebida como

uma característica cultural voltada para a valorização de questões materiais, de carreira, de

dinheiro e de crescimento econômico. Portanto, para os autores, gestores de empresas de

países com características masculinas tendem a não se preocupar com os interesses externos e

priorizar seus interesses individuais e, assim, gerenciam com maior intensidade os resultados.

De modo semelhante, Gray et al. (2015) comparam sociedades masculinas e femininas,

argumentando que as primeiras tendem a priorizar a realização pessoal e individual, bem

como a realização em termos financeiros. Portanto, em países masculinos, os gestores

tenderiam a utilizar o GR como maneira de atingir seus objetivos próprios.

Ugrin et al. (2017) apoiam a relação positiva entre uma sociedade culturalmente

masculina e o GR, por acreditarem que as sociedades femininas são propensas a rejeitarem

práticas oportunistas e, portanto, tendem a inibir o GR. A relação positiva entre masculinidade

e GR também é apoiada por Doupnik (2008) e Nabar e Boonlert-U-Thai (2007).

Pode-se observar um consenso no posicionamento dos autores sobre a relação esperada

entre o GR e a masculinidade, contudo, no que concerne aos resultados empíricos, observa-se

a incipiência entre os achados. Gray et al. (2015) encontraram uma relação positiva, enquanto

Doupnik (2008), Nabar e Boonlert-U-Thai (2007) e Ugrin et al. (2017) não chegaram a

resultados estatisticamente significantes.

Espera-se que a masculinidade possua relação positiva com o GR, pautando-se nos

preceitos teóricos de que nestas sociedades os gestores priorizam seus interesses privados, o

que os instiga ao maior GR. Portanto, espera-se que a relação negativa entre RSC e GR seja

atenuada, e a conduta informacional dos gestores com relação às suas práticas de RSC seja

reduzida, podendo ainda se tornar um comportamento oportunista. Nesse sentido, elaborou-se

a hipótese H3:

H3 - A relação negativa entre as práticas de RSC e de GR é atenuada em empresas de

países com cultura de elevada masculinidade.

Gray (1988) apoiou a premissa de que a aversão à incerteza estaria associada à rigidez

de regras e ao maior controle, com a principal intenção de tentar prevenir situações de

incerteza. Han et al. (2010) comprovaram empiricamente esse pressuposto relacionado ao GR,

evidenciando que empresas de países avessos à incerteza tendem a gerenciar com menor

intensidade os resultados, decorrente do fato de possuírem regras e controles mais rígidos.

Por outro lado, autores como Doupnik (2008) e Ugrin et al. (2017) entendem a aversão

à incerteza por uma perspectiva do desempenho, a qual parte do pressuposto de que os

gestores de países avessos à incerteza evitam ao máximo um desempenho financeiro negativo,

pois acreditam que isto gera consequências negativas para a empresa. Por isso, tentam

apresentar lucros, o que pode instigar um maior GR. Em países com baixa aversão à incerteza,

por sua vez, os gestores não se preocupam tanto com a divulgação de um desempenho

negativo, pois são menos preocupados com as consequências incertas dessa divulgação. Nesse

cenário, os gestores são propensos a gerenciar menos os resultados, por não perceberem a

necessidade de tentar manipular o lucro (Ugrin et al., 2017).

As constatações empíricas apresentam resultados que suportam ambos os entendimentos

sobre a aversão à incerteza e o GR. Por exemplo, Nabar e Boonlert-U-Thai (2007), Doupnik

(2008) e Ugrin et al. (2017) encontraram uma relação positiva entre GR e aversão à incerteza,

o que apoia a visão de que os gestores gerenciam com maior intensidade os resultados em tais

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ambientes, pois são relutantes em apresentar resultados negativos. Por outro lado, Han et al.

(2010) e Gray et al. (2015) encontraram uma relação negativa entre GR e aversão à incerteza,

o que apoia a visão de que nesse cenário existe mais regras e regulamentos, o que minimiza as

práticas de GR.

Apoiando-se na premissa da relação negativa entre GR e da aversão à incerteza, supõe-

se que a relação negativa entre RSC e GR seja potencializada em empresas culturalmente

expostas à elevada aversão à incerteza. Como consequência, se as empresas gerenciam menos

os resultados, tendem a divulgar suas informações de RSC de maneira informacional. Diante

do exposto, formulou-se a hipótese H4:

H4 - A relação negativa entre as práticas de RSC e de GR é potencializada em empresas

de países de elevada aversão à incerteza.

A quinta dimensão cultural de Hofstede se refere à orientação de curto ou de longo

prazo. Segundo Gray et al. (2015), para entender a relação entre esta dimensão cultural e o

GR basta compreender que a prática de GR objetiva atingir metas de curto prazo ou manipular

determinado valor em um período curto de tempo. Assim, torna-se simples o entendimento de

que a orientação para o longo prazo tende a estar negativamente relacionada com o GR.

O mesmo entendimento pode ser percebido em Dupnik (2008) e mais recentemente em

Ugrin et al. (2017). De acordo com esses últimos, as sociedades orientadas para o curto prazo

estão mais propensas a manipular os lucros com a intenção de estabilizá-los ou aumentá-los

no período corrente, sem se preocupar com os efeitos negativos futuros. Portanto, presume-se

que a orientação de longo prazo faz com que os gestores se preocupem com o futuro da

organização, o que incentiva, consequentemente, o menor GR.

Com relação aos resultados empíricos, destaca-se o estudo de Gray et al. (2015), que

identificou a relação oposta ao esperado. Para justificar tal achado, os autores apontam que a

suposição feita por eles é de que as metas de lucros são de curto prazo, quando estas podem

ser de longo prazo. Além disso, para Gray et al. (2015), pode existir o GR informativo, que

visa divulgar informações privadas sobre a organização de modo a tornar as informações de

maior qualidade, e não menor, como supõem a vertente oportunista do GR. Para os autores,

esse tipo de GR pode ser realizado focando em objetivos de longo prazo, o que justificaria o

maior GR em sociedades orientadas para o longo prazo.

Por mais que hajam diferentes explicações para a relação entre GR e a orientação de

longo prazo, este estudo se apoia no sustentado teoricamente por Dupnik (2008) e Ugrin et al.

(2017), de que culturas de longo prazo tendem a gerenciar com menor intensidade os

resultados. Esse posicionamento é decorrente do fato de que a prática de GR, por si só, é

percebido nesta pesquisa como uma prática oportunista e, portanto, esse entendimento diverge

do apresentado por Gray et al. (2015) em sua justificativa para a relação positiva.

Diante do exposto, supõe-se que a relação negativa existente entre RSC e GR seja

potencializada em empresas localizadas em países com cultura de orientação de longo prazo.

Tal suposição decorre do fato de que, se esta dimensão cultural induz as organizações a

gerenciarem com menor intensidade os resultados, então isto potencializará ainda mais o

comportamento informacional das organizações com relação às suas práticas de RSC. Diante

do exposto, estabeleceu-se a hipótese H5:

H5 - A relação negativa entre as práticas de RSC e de GR é potencializada em empresas

de países com cultura mais orientada para o longo prazo.

Por fim, a última característica cultural do modelo de Hofstede - indulgência versus

restrição - foi investigada apenas por Ugrin et al. (2017). Os autores compreendem que a falta

de estudos que investigaram essa dimensão cultural se deve ao fato de que esta foi inserida

apenas em 2010 ao modelo de Hofstede.

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De acordo com Ugrin et al. (2017), países com características restritivas possuem leis,

regras e contenções que visam prioritariamente a ordem da sociedade. Portanto, os autores

sugerem que países mais indulgentes, que são, em termos de costumes, mais liberais e com

menores restrições, possuem mais incentivos para o GR. Os resultados evidenciados pelos

autores comprovaram a relação positiva proposta teoricamente.

Com base em Ugrin et al. (2017), espera-se nesta pesquisa uma relação positiva entre o

GR e a dimensão cultural de indulgência. Além disso, é possível que a relação negativa

existente entre RSC e GR seja atenuada em países indulgentes, porque essa dimensão cultural

incentiva um comportamento oportunista do gestor, o que pode inclusive resultar em uma

relação positiva entre RSC e GR. Assim, elaborou-se a H6:

H6 - A relação negativa entre as práticas de RSC e de GR é atenuada em empresas de

países mais indulgentes.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A população de pesquisa compreendeu as empresas localizadas nos países pertencentes

ao Grupo 20 (G20) que integravam o modelo de cultura nacional de Hofstede (2010) e que

estavam disponíveis no banco de dados da Thomson Reuters Eikon no período de julho de

2017, quando foi realizada a coleta de dados. A escolha das empresas localizadas em países

do G20 se deu, primeiramente, em decorrência da representatividade econômica, visto que

esse grupo é composto pelas 19 maiores economias e a União Européia. Além disso, o G20

proporciona um leque de aproximadamente 40 países, o que é relevante ao analisar as

diferenças culturais entre os países. A amostra compreendeu todas as empresas que possuíam

as informações necessárias para o cálculo das variáveis de pesquisa, conforme exposto na

Tabela 1, Painel A.

Tabela 1 – População e amostra de pesquisa

Painel A – Delineamento da amostra

Empresas %

População 37.397 100

(-) Sem informações 16.675 45

(-) Setor Financeiro 693 2

(-) Países não representativos¹ 145 0

(-) Países sem nenhuma informação sobre RSC 249 1

Total 19.635 53

Painel B – Amostra por países

Países Empresas %

Alemanha 463 2,4

Argentina 72 0,4

Austrália 919 4,7

Bélgica 91 0,5

Brasil 258 1,3

Canadá 800 4,1

China 3.504 17,8

Coréia do Sul 1.615 8,2

Dinamarca 95 0,5

Espanha 129 0,7

EUA 3.382 17,2

Finlândia 108 0,6

França 490 2,5

Grécia 195 1,0

Holanda 105 0,5

India 2.174 11,1

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Indonésia 380 1,9

Irlanda 55 0,3

Itália 199 1,0

Japão 3.261 16,6

México 107 0,5

Polônia 410 2,1

Rússia 525 2,7

Turquia 298 1,5

Amostra total 19.635 100

Painel C – Amostra por setores classificados pelo GICS2

Setores Empresas %

Consumo Discricionário 3.777 19,2

Consumo Básico 1.382 7,0

Energia 942 4,8

Saúde 1.632 8,3

Industrial 4.123 21,0

Tecnologia da Informação 3.130 15,9

Materiais 2.611 13,3

Outros 630 3,2

Imobiliário 772 3,9

Serviços de Telecomunicação 184 0,9

Utilidades 452 2,3

Total 19.635 100

Legenda: ¹ Foram considerados países não representativos aqueles que possuíam menos de 50 empresas; 2 GICS:

Global Industry Classification Standard. Fonte: Dados da pesquisa.

A população representou 37.397 empresas localizadas em 36 países. Da população,

foram excluídas as que não possuíam informações para cálculo das variáveis dependente e de

controle. As empresas que não continham informações sobre a variável independente (RSC)

foram mantidas, para compor o grupo de controle. Ainda, foram excluídas as empresas

pertencentes ao setor financeiro (GICS Code 40), pois de acordo com Lee, Byun e Park

(2018), estas possuem diferentes regulamentos e suas demonstrações financeiras não devem

ser comparadas com as dos demais setores. Por fim, foram excluídas as empresas de países

considerados como não representativos e países onde nenhuma empresa divulgava RSC.

A amostra compreendeu 19.635 empresas localizadas em 24 países, os quais estão

apresentados no Painel B da Tabela 1. Já no Painel C apresenta-se a divisão das empresas

pelos 11 setores classificados pelo Padrão Global de Classificação da Indústria (Global

Industry Classification Standard – GICS). A amostra foi analisada durante os anos de 2010 a

2017 e se configura como balanceada, a qual totalizou 157.080 observações.

A limitação do período de análise se deu em decorrência do maior número de

informações sobre RSC divulgadas a partir do ano de 2010. Por exemplo, nenhuma empresa

brasileira divulgou práticas de RSC no ano de 2009, sendo que no ano seguinte, 36 empresas

iniciaram a divulgação de tais práticas, o que foi aumentando gradativamente nos anos

posteriores. Portanto, entendeu-se que o ano de 2010 representou um crescimento na

divulgação de RSC, tanto para empresas brasileiras como de outros países, por isso, foi

considerado o ano base para o estudo.

Tabela 2 – Observações com e sem score de RSC por ano e por países

Ano Com RSC % Obs % variação Sem RSC % Obs % variação Total

2010 1.704 8,68% 17.931 91,32% 19.635

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2011 1.946 9,91% 12,4% 17.689 90,09% -1,4% 19.635 2012 2.028 10,33% 4,0% 17.607 89,67% -0,5% 19.635

2013 2.108 10,74% 3,8% 17.527 89,26% -0,5% 19.635 2014 2.215 11,28% 4,8% 17.420 88,72% -0,6% 19.635

2015 2.450 12,48% 9,6% 17.185 87,52% -1,4% 19.635 2016 2.986 15,21% 18,0% 16.649 84,79% -3,2% 19.635

2017 3.277 16,69% 8,9% 16.358 83,31% -1,8% 19.635

Total 18.714 11,91% 138.366 88,09% 157.080

Fonte: Dados da pesquisa.

A Tabela 2 apresenta a amostra de pesquisa dividida entre empresas com e sem práticas

de RSC, durante os oito anos de análise. Pode-se observar que a maioria das empresas não

divulgou nenhuma prática de RSC dentre as analisadas pela base de dados, o que ao final do

período fez com que empresas com RSC representem apenas 11,91% do total de 157.080

observações. Com base no percentual de empresas que divulgam RSC, percebe-se que tais

práticas têm crescido continuamente durante os anos, sendo que no ano de 2010 apenas 8,68%

das empresas divulgavam RSC, passando em 2017 para 16,69%.

As variáveis utilizadas para operacionalização desta pesquisa estão expostas na Tabela

3, em que se observa o constructo da pesquisa. Salienta-se que as medidas que se referem às

variáveis monetárias estão expressar em dólar.

Tabela 3 – Constructo da pesquisa

Variáveis Descrição Cálculo/Fórmula Autores

Variáveis Dependentes

Gerenciamento de

Resultados (GRit)

Accruals discricionários, estimados pelo

Modelo de Kothari, Leone e Wasley (2005).

Operacionalizados em valor absoluto.

Equação 1

Liu, Shi e

Wilson

(2017).

Variável Independente

Res

po

nsa

bil

id

ade

So

cial

Co

rpo

rati

va

(RSCit)

Mede a responsabilidade social corporativa

agregada, com base em suas dimensões

social e ambiental.

Score de 0 a 100:

Quanto mais itens as

empresas divulgam,

mais próximo a 100

será sua pontuação.

Martínez-

Ferrero,

Banerjee,

García-

Sánchez

(2016)

Variáveis Moderadoras

Cu

ltu

ra N

acio

nal

(C

UL

T)

Distância

do Poder

(DPj)

Mede se os membros menos poderosos de

uma instituição esperam e aceitam que a

hierarquia/poder seja distribuída de forma

desigual.

Pontuação de 0 a 100,

obtida no website de

Hofstede. Quanto

mais próximo a 100,

significa que o país

possui tendências de

elevada distância de

poder, de

individualismo,

masculinidade,

aversão a incerteza,

orientação de longo

prazo e indulgência.

Quanto mais próximo

a 0, baixa distância de

poder, coletivismo,

Hofstede

(1983;

2018).

Individualis

mo (INDIj)

Mede o grau de interdependência que uma

sociedade mantém entre os seus membros.

Masculinid

ade (MASj)

Mede a divisão de papeis entre homens e

mulheres na sociedade.

Aversão à

incerteza

(AVj)

Mede até que ponto os membros de uma

cultura se sentem ameaçados por situações

ambíguas ou desconhecidas e criam regras

e sistemas jurídicos que tentam evitá-las.

Orientação

a longo

prazo (OLj)

Mede se as pessoas preferem manter

tradições e normas honradas (OCP) ou

favorecem virtudes pragmáticas e

orientadas para o futuro (OLP).

Hofstede

(1991;

2018)

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Indulgência

(INDUj)

Mede até que ponto as pessoas tentam

controlar os seus desejos e impulsos. Na

indulgência o controle do país é

relativamente fraco, enquanto que na

restrição é considerado relativamente forte.

feminilidade, baixa

aversão a incerteza,

orientação para o

curto prazo e

restritivo.

Hofstede et

al. (2010);

Hofstede

(2018)

Variáveis Independentes de Controle

Tamanho

(TAMit) Logaritmo natural da receita total. LN da Receita Total.

Haga et al.

(2018)

Big Four (BFit) Mede se a empresa é auditada por uma

empresa considerada big four.

Variável categórica:

1 = auditadas por BF;

0 caso contrário.

Klann

(2011);

Haga et al.

(2018)

Rentabilidade sobre o

Ativo (ROAit-1) Retorno sobre o ativo.

Lucro líquido de t-1

divido pelo total do

ativo de t-1.

LL / AT

Prior,

Surroca e

Tribó

(2008)

Alavancagem (ALAit) Participação de recursos de terceiros na

estrutura de capital da empresa.

Total do passivo

dividido

pelo total do

patrimônio líquido.

(PC + PNC) / PL

Klann

(2011);

Haga et al.

(2018)

Crescimento das vendas

(CVit) Variação da receita líquida.

Percentual de

variação nas vendas.

(Vendas t – Vendas t-1)

/ Vendas t-1

Klann

(2011).

Gerenciamento de

resultados por

atividades reais (ARit)

Modelo de custos de produção. Modelos baseados em

Roychowdhury (2006)

Zang

(2012). Modelo de despesas discricionárias.

Setor (setori) Principal atividade da empresa. GICS Sector Code. Haga et al.

(2018).

Ano Período de análise, de 2010 a 2017. Dummies de ano. Prior et al.

(2008) País País no qual as empresas estão localizadas. Dummies de país.

Fatores

Macroeconômicos Produto interno bruto (PIBjt).

% crescimento anual,

disponível no website

do Banco Mundial

(2018).

Haga et al.

(2018).

Fonte: Dados da pesquisa.

O GR foi mensurado com base no modelo de estimação de accruals discricionários de

Kothari, Leone e Wasley (2005). Anteriormente a aplicação deste modelo, os accruals totais

foram estimados com base nas contas do Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado e

dos Fluxos de Caixa. Para este cálculo, seguiu-se o proposto por Dechow e Dichev (2002), e

utilizado também por Kothari et al. (2005).

O modelo econométrico proposto por Kothari et al. (2005) foi operacionalizado pelo

modelo de regressão linear múltipla (OLS) cross section por setor, ano e país e pode ser

observado na Equação 1.

Equação 1

Onde: ATit = accruals totais, obtidos pela variação do capital de giro, escalonado pelo

At-1; ativos totais da empresa i no período t-1; ∆Vit = variação de vendas, escalonado

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pelo At-1; ∆RECit = variação de contas a receber, escalonado pelo At-1; PPEit = ativo

imobilizado bruto, escalonado pelo At-1; ROAit = rentabilidade sobre o ativo, escalonado pelo

At-1; εit = erro da regressão (proxy para o GR por accruals discricionários); e δ0; δ1; δ2; δ3; δ4

= coeficientes estimados da regressão.

O valor do resíduo gerado pela operacionalização do modelo de Kothari et al. (2005)

representa a medida de GR. Salienta-se que como o objetivo desta pesquisa não é

compreender o GR realizado para aumentar ou diminuir os resultados, os valores dos resíduos

foram considerados em termos absolutos.

As informações sobre RSC foram coletadas do relatório ESG (Environmental, Social

and Governance) das empresas, disponível na Thomson Reuters Eikon. Pesquisas anteriores

como a de Liu et al. (2017) e Chollet e Sandwidi (2018) utilizaram destas medidas como

proxy para a RSC. Liu et al. (2017) destacam que a disponibilidade dessas informações ainda

são escassas, o que decorre do fato de que são informações divulgadas de forma voluntária.

Para medir a RSC nesta pesquisa, considerou-se as dimensões ambiental e social

presente no relatório ESG. Observa-se que cada uma das dimensões é composta por

categorias, sendo que cada uma das categorias possui pesos atribuídos pela Thomson Reuters

Eikon. A soma dos pesos gera um valor de proporcionalidade para cada score. A dimensão

social é formada pelas categorias de força de trabalho, direitos humanos, comunidade e

responsabilidade do produto, enquanto que a dimensão ambiental é composta pelo uso de

recursos, redução de emissão e inovação ambiental.

Com relação à cultura nacional, ressalta-se o uso das dimensões culturais de Hofstede et

al. (2010), o que se justifica mediante a pesquisa de Esteban, Villardón e Sánchez (2017), que

consideram o modelo de Hofstede adequado para captar as semelhanças e diferenças entre a

cultura dos países. Salienta-se que Hofstede (2018) possui um website, em que mantém em

atualização as dimensões culturais, por isso, utilizou-se das pontuações disponíveis no ano de

2018. Cada uma das dimensões culturais é medida por uma escala de 0 a 100, sendo que

quanto mais próximo de 100, o país é considerado de elevada distância de poder,

individualista, masculino, de elevada aversão à incerteza, orientado para o longo prazo e

indulgente (Hofstede, 2018). Para atender ao objetivo desta pesquisa, operacionalizou-se seis modelos de regressões

OLS com correção para erros padrãos robustos e controle de efeitos fixos para ano e setor,

sendo estimado um modelo para cada dimensão da cultura nacional. Salienta-se ainda que as

variáveis moderada e moderadora foram padronizadas em z-score. A equação geral está

representada pela Equação 2, a fim de evitar problemas de multicolinearidade.

Equação 2

Como teste de sensibilidade, foram operacionalizadas regressões e testes adicionais.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Na Tabela 4 apresenta-se a estatística descritiva das variáveis da pesquisa. A variável de

GR por accruals foi operacionalizada pelo seu valor absoluto, portanto, a estatística descritiva

é baseada em valores positivos. O GR por atividade reais, por sua vez, foi operacionalizado

em valores nominais e com base na medida agregada do GR por custos de produção e

despesas discricionárias, proposta por Cohen e Zarowin (2008).

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Tabela 4 - Estatística descritiva

Painel A - Estatística descritiva das variáveis

GRit RSCit TAMit BFit ROAit-1 ALAit CVit ARit PIBjt

Média 0,08 6,04 18,54 0,39 -0,06 1,45 0,27 0,01 2,85

DesvPad 0,12 17,99 2,70 0,48 0,44 3,24 1,35 0,37 3,51

Perc 25 0,01 0 17,27 0 -0,01 0,37 -0,07 -0,13 1,24

Mediana 0,04 0 18,77 0 0,02 0,90 0,05 0,02 2,28

Perc 75 0,09 0 20,21 1 0,06 1,86 0,21 0,18 4,34

Obs. 157.080

Painel B - Estatística descritiva das variáveis culturais

DPj INDIj MASj AIj OLj INDUj

Média 56 54 52 68 52 50

DesvPad 19 22 18 24 24 19

Perc 25 38 37 42 48 35 34

Mediana 58 55 55 75 47 49

Perc 75 68 74 65 86 74 66

24 países

Legenda: DesvPad: Desvio padrão; Perc. = percentil; GRit: Modelo de GR de Kothari, Leone e Wasley (2005);

RSCit: Responsabilidade social corporativa; TAMit: Tamanho; BFit: Big four; ROAit-1: Rentabilidade sobre o

ativo; ALAit: Alavancagem; CVit: Crescimento das vendas; ARit: GR por atividades reais; PIBt: Produto Interno

Bruto; DP: Distância de poder; INDIV: Individualismo; MASC: Masculinidade; AI: Aversão à incerteza; OL:

Orientação de long prazo; INDUL: Indulgência; Obs.: Observações.

Fonte: Dados da pesquisa.

Percebe-se que as empresas da amostra divulgam em média 6,04 dos itens propostos

pela Thomson Reuters Eikon sobre questões ambientais e sociais, considerando uma escala de

0 a 100. Contudo, essa baixa média pode ser explicada pelo fato de que existem cerca de 88%

empresas da amostra que não divulgam nenhum valor de RSC.

Com relação à variável Big Four (BFit), observa-se que 61% das organizações não são

auditadas por uma empresa de auditoria considerada big four. As empresas possuem, em

média, uma rentabilidade sobre o ativo negativa e para cada R$ 1,00 de capital próprio, as

organizações possuem R$ 1,45 de capital de terceiros. Contudo, ao analisar a mediana da

variável ALA, observa-se que pelo menos 50% das empresas possuem recursos oriundos, em

sua maioria, de capital próprio. A receita das empresas apresentou crescimento de um ano

para outro, contudo, observa-se um elevado desvio padrão para essa variável, bem como uma

quantidade de empresas que apresentaram queda em suas vendas de um ano para outro,

representado pelo valor negativo do percentil 25. Por isso, entende-se que o valor médio é

estimulado pelo crescimento de vendas das empresas localizadas a partir do 75º percentil.

Com relação ao fator macroeconômico, observa-se que os países apresentaram, em

média, crescimento do PIB, o que pode ser constatado tanto no percentil 25, na mediana e no

percentil 75. Tal constatação era esperada, visto que os países pertencentes ao G20 são

destaques com relação à produção econômica.

Observa-se que dentre as características culturais da amostra, destaca-se a elevada

média e mediana da aversão à incerteza, as quais indicam que a maioria dos países da amostra

estão expostos a elevada tendência de evitar situações que envolvam a incerteza. Com relação

às demais dimensões, todas possuem tanto valores médios como medianos próximos a 50,

com desvio padrão próximo a 20, o que reflete a existência de países que possuem elevadas,

baixas e médias pontuações sobre tais características.

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Tabela 5 – Resultados da influência da distância de poder e do individualismo na relação entre RSC e GR

GRit GRit

Coef. β t Coef. β t

Constante 0,1713*** - 46,71 0,0726*** - 18,11 RSCit -3,99e- -0,0005 -0,26 -0,0001*** -0,0216 -10,11

DPj -0,0003*** -0,0511 -12,57 RSCit*DPj -0,0024*** -0,0199 -9,36

INDIj 0,0007*** 0,1529 48,47 RSCit*INDIj 0,0011*** 0,0097 4,29

TAMit -0,0041*** -0,0903 -23,11 -0,0028*** -0,0606 -15,38 BFit -0,0114*** -0,0447 -16,60 -0,0133*** -0,0521 -19,60

ROAit-1 -0,0265*** -0,0940 -17,15 -0,0225*** -0,0797 -14,59

ALAit 0,0001 0,0032 1,04 0,0000 0,0023 0,76 CVit 0,0048*** 0,0524 12,09 0,0046*** 0,0502 11,62

ARit -0,0194*** -0,0588 -19,60 -0,0190*** -0,0574 -19,21 PIBit 0,0015*** 0,0379 10,90 0,0031*** 0,0773 28,52

Sig. 0,0000*** 0,0000***

R² 10,97 12,26 DW 1,776651 1,799105

VIF Máx 2,14

1,92 EF Ano Sim Sim

EF Setor Sim Sim EF País Não Não

Obs. 157.080 157.080

***significância a nível de 1%; ** 5%; *10%. Regressão OLS com erros padrões robustos e controle de efeito

fixo por setor e ano; GRit: Modelo de GR de Kothari, Leone e Wasley (2005); Coef.: Coeficiente; β: Coeficiente

Padronizado; t: estatística t; VIF Máx: Maior valor de Variance Inflator Factor; RSCit: Responsabilidade Social

Corporativa; DPj: Distância de Poder; RSCit*DPj: multiplicação do z-score de RSC e de DP; INDIj:

Individualismo; RSCit*INDIj: multiplicação do z-score de RSC e de INDI; TAMit: Tamanho; ROAit-1:

Rentabilidade sobre o ativo; ALAit: Alavancagem; CVit: Crescimento das vendas; ARit: Gerenciamento de

resultados por atividades; PIBjt: Produto inteiro bruto; Sig.: Significância do modelo; EF: Efeito fixo; DW:

Durbin Watson; Obs.: Número de observações.

Fonte: Dados da pesquisa.

Nas Tabelas 5, 6 e 7 apresentam-se os resultados sobre a influência das dimensões de

cultura nacional na relação entre RSC e GR, foco desta pesquisa. Observa-se que a interação

entre a variável RSC e a distância de poder (RSCit*DPj) se mostrou negativativamente

relacionada à prática de GR, o que revela que as empresas, mesmo expostas a uma tendência

cultural de elevada distância de poder, tendem a utilizar práticas socialmente responsáveis

motivadas por uma conduta informacional, pois ao mesmo tempo, manipulam com menor

intensidade os resultados. Economicamente, observa-se que empresas que se engajam em

práticas de RSC e que estão expostas a elevada distância de poder apresentam, em média, uma

redução de 3,10% no GR ( -0,0024818 : 0,08). Para calcular o coeficiente econômico, dividiu-

se o coeficiente estatístico da variável independente (RSCit*CULTURAj) pela média da

variável dependente (GRit). Dessa forma, depreende-se que a distância de poder potencializa a

relação negativa entre RSC e GR, resultado contrário ao esperado.

Esperava-se que a dimensão de distância de poder, por representar sociedades onde a

hierarquia e o autoritarismo são maiores, influenciaria os gestores para gerenciar valores,

visto que a elevada hierarquia implica em subordinados menos questionadores sobre as

atividades de seus superiores (Paredes & Wheatley, 2017). Portanto, esperava-se que

organizações se comportassem de forma “menos” informacional. Contudo, essa premissa não

pode ser confirmada mediante as evidências deste estudo.

A interação entre a variável de RSCt e o individualismo (RSCit*INDIj) se mostrou

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positiva e estatisticamente significante, o que condiz com a premissa de que a tendência

cultural ao individualismo faz com que a relação negativa entre RSC e GR seja atenuada, ou

ainda, torne-a positiva. Com base na análise econômica dos coeficientes, observa-se que

empresas que se engajam em RSC e estão expostas ao contexto cultural de elevado

individualismo tendem a gerenciar cerca de 1,48% mais os resultados (0,0011872 : 0,08).

Esse resultado representa que, além de atenuar a relação negativa entre RSC e GR, ainda

torna-a positiva.

Tais evidências vão ao encontro dos preceitos teóricos desta pesquisa, pois demonstram

que sociedades individualistas instigam organizações e seus gestores a conduzirem suas

decisões de forma “menos” informacional do que as sociedades com tendências coletivistas.

Tal fator cultural induz, inclusive, a um comportamento oportunista dos gestores, evidenciado

pela relação positiva e significativa entre as práticas de RSC e GR.

Tabela 6 – Resultados da influência da masculinidade e da aversão a incerteza na relação entre RSC e GR

GRit GRit

Coef. β t Coef. β t

Constante 0,1829*** - 50,46 0,2245*** - 56,86 RSCit 0,0000*** 0,0111 4,71 -4,46e- -0,0000 -0,03 MASj -0,0004*** -0,0574 -30,29

RSCit*MASj 0,0012*** 0,0109 9,92

AIj -0,0008*** -0,1708 -50,83 RSCit*AIj -0,0022*** -0,0158 -9,70

TAMit -0,0042*** -0,0920 -23,52 -0,0039*** -0,0859 -22,28 BFit -0,0072*** -0,0282 -10,67 -0,0089*** -0,0348 -13,28

ROAit-1 -0,0283*** -0,1002 -18,45 -0,0223*** -0,0790 -14,44

ALAit 0,00001 0,0012 0,41 0,0001 0,0040 1,31 CVit 0,0049*** 0,0537 12,41 0,0044*** 0,0477 11,02

ARit -0,0195*** -0,0591 -19,69 -0,0178*** -0,0538 -18,08 PIBit 0,0001 0,0035 1,37 -0,0042*** -0,1022 -26,18

Sig. 0,0000*** 0,0000*** R² 11,12 12,46

DW 1,775438 1,803578

VIF Máx 1,83

2,19

EF Ano Sim Sim

EF Setor Sim Sim EF País Não Não

Obs. 157.080 157.080

***significância a nível de 1%; ** 5%; *10%. Regressão OLS com erros padrões robustos e controle de efeito

fixo por setor e ano; GRit: Modelo de GR de Kothari, Leone e Wasley (2005); Coef.: Coeficiente; β: Coeficiente

Padronizado; t: estatística t; VIF Máx: Maior valor de Variance Inflator Factor; RSCit: Responsabilidade Social

Corporativa; MASj: Masculinidade; RSCit*MASj: multiplicação do z-score de RSC e de MAS; AIj: Aversão a

incerteza; RSCit*AIj: multiplicação do z-score de RSC e de AI; TAMit: Tamanho; ROAit-1: Rentabilidade sobre o

ativo; ALAit: Alavancagem; CVit: Crescimento das vendas; ARit: Gerenciamento de resultados por atividades;

PIBjt: Produto inteiro bruto; Sig.: Significância do modelo; EF: Efeito fixo; DW: Durbin Watson; Obs.: Número

de observações.

Fonte: Dados da pesquisa.

Na Tabela 6 apresentam-se os resultados sobre a influência da dimensão cultural de

masculinidade e de aversão a incerteza na relação entre RSC e GR. A interação entre a

variável de RSCt e a masculinidade (RSCit*MASj) se mostrou positiva, o que coaduna com a

premissa de que a masculinidade faz com que a relação negativa entre RSC e GR seja

atenuada, ou se torne positiva. Com base na análise econômica dos coeficientes, nota-se que

empresas que se engajam em RSC e estão expostas ao contexto cultural de elevada

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15 www.congressousp.fipecafi.org

masculinidade tendem a gerenciar cerca de 1,60% mais os resultados (0,0012858 : 0,08). Isso

demonstra que a masculinidade torna os gestores propensos a conduzir seus negócios de

forma “menos informacional” do que em países culturalmente femininos.

Tais achados corroboram a premissa de que a masculinidade é responsável por induzir

os gestores a se comportarem de forma oportunista com relação às suas práticas de RSC, pois

o engajamento em RSC está relacionado aos maiores índices de GR. A visão oportunista das

práticas de RSC justifica a relação positiva com o GR, partindo do pressuposto de que

organizações se enjagam em práticas de RSC com a intenção de mascarar práticas

oportunistas, como as de GR. Nesse sentido, as práticas de RSC seriam uma forma de as

organizações não atraírem a atenção de seus stakeholders e de se mostrarem,

aparementemente, empresas mais transparentes (Prior et al., 2008).

Com relação à moderação da aversão à incerteza, nota-se que esta interação (RSCit*AIj)

se mostrou negativa. Pressupôs-se que a relação negativa entre RSC e GR seria

potencializada, o que pode ser observado pelo sinal negativo da variável moderadora. Com

base na análise econômica dos coeficientes, percebe-se que empresas que se engajam em RSC

e estão expostas ao contexto cultural de elevada aversão à incerteza tendem a reduzir o GR

em cerca de 2,84% (0,002273 : 0,08). Essas evidências demonstram que a tendência cultural

de elevada aversão à incerteza induz as organizações a divulgarem práticas de RSC motivadas

por uma conduta informacional, pois ao mesmo tempo que se mostram engajadas em tais

ações, também se apresentam negativamente relacionadas com o GR. Ambas as práticas,

maior RSC e menor GR refletem maior transparência e qualidade das informações contábeis.

Tabela 7 – Resultados da influência da orientação para o longo prazo e da indulgência na relação entre RSC e

GR

GRit GRit

Coef. β t Coef. β t

Constante 0,1507*** - 41,73 0,0839*** - 20,05 RSCit -0,0001*** -0,0259 -12,22 -0,0001*** -0,0148 -7,17 OLj -0,0007*** -0,1580 -58,58

RSCit*OLj -0,0005** -0,0046 -2,45 INDUj 0,0008*** 0,1285 35,49

RSCit*INDUj 0,0015*** 0,0126 5,61

TAMit -0,0022*** -0,0478 -12,04 -0,0034*** -0,0738 -18,85 BFit -0,0100*** -0,0392 -14,99 -0,0131*** -0,0513 -19,36

ROAit-1 -0,0231*** -0,0820 -15,06 -0,0229*** -0,0812 -14,80 ALAit 0,0000 0,0010 0,32 0,0001 0,0048 1,56

CVit 0,0046*** 0,0502 11,62 0,0046*** 0,0499 11,51 ARit -0,0196*** -0,0594 -19,91 -0,0196*** -0,0592 -19,78

PIBit 0,0014*** 0,0354 13,96 0,0030*** 0,0729 24,40

Sig. 0,0000*** 0,0000*** R² 12,80 11,77

DW 1,809285 1,792298 VIF Máx 1,95 1,84

EF Ano Sim Sim

EF Setor Sim Sim EF País Não Não

Obs. 157.080 157.080

***significância a nível de 1%; ** 5%; *10%. Regressão OLS com erros padrões robustos e controle de efeito

fixo por setor e ano; GRit: Modelo de GR de Kothari, Leone e Wasley (2005); Coef.: Coeficiente; β: Coeficiente

Padronizado; t: estatística t; VIF Máx: Maior valor de Variance Inflator Factor; RSCit: Responsabilidade Social

Corporativa; OLj: Orientação para o longo prazo; RSCit*OLj: multiplicação do z-score de RSC e de OL; INDUj:

Indulgência; RSCit*INDUj: multiplicação do z-score de RSC e de INDU: multiplicação do z-score de RSC e de

AI; TAMit: Tamanho; ROAit-1: Rentabilidade sobre o ativo; ALAit: Alavancagem; CVit: Crescimento das vendas;

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ARit: Gerenciamento de resultados por atividades; PIBjt: Produto inteiro bruto; Sig.: Significância do modelo;

EF: Efeito fixo; DW: Durbin Watson; Obs.: Número de observações.

Fonte: Dados da pesquisa.

Na Tabela 7 apresentam-se os resultados sobre a influência da dimensão cultural de

orientação para o longo prazo e de indulgência na relação entre RSC e GR. A interação entre

a variável de RSCt e a orientação para o longo prazo (RSCit*OLj) se mostrou negativa, o que

evidencia a abordagem informacional da relação entre RSC e GR. Esses resultados

corroboram o proposto nesta pesquisa, demonstrando que a orientação para o longo prazo

contribui para as organizações divulgarem práticas de RSC motivadas por uma abordagem

informacional, pois ao mesmo tempo em que investem em questões ambientais e sociais,

também se envolvem com menor intensidade nas práticas de GR. Esse pressuposto foi

assumido, uma vez que contextos culturais orientados para o longo prazos induzem gestores a

prezar pela continuidade das organizações e planejarem suas metas à longo prazo. O GR, por

sua vez, reflete uma conduta oportunista voltada a obtenção de benefícios próprios a curto

prazo e portanto, essa tendência cultural tende mitigar o GR, o que implica em um

comportamento informacional de maior transparência e qualidade das informações.

A interação entre a variável de RSCit e a indulgência (RSCit*INDUj) apresentou-se

positiva, o que condiz com o entendimento de que a indulgência faz com que a relação

negativa entre RSC e GR seja atenuada, ou ainda, se torne positiva, representando, desta

maneira, o comportamento oportunista dos gestores. Com base na análise econômica dos

coeficientes, observa-se que empresas que se engajam em RSC e estão expostas ao contexto

cultural de elevada indulgência tendem a elevar o GR em cerca de 1,90% (0,0015228 : 0,08).

Pressupôs-se nesta pesquisa que a indulgência, por representar um ambiente de poucas

restrições e mais liberdade (Hofstede, 2011), fosse responsável por dar mais espaço ao

comportamento oportunista dos gestores, tanto em termos de GR como de RSC. Os resultados

deste estudo confirmam o pressuposto, por evidenciar que a tendência cultural à indulgência

influencia as organizações a gerenciarem com maior intensidade os resultados e a se

engajarem com maior intensidade em práticas de RSC.

Em suma, observa-se que todas as dimensões da cultura nacional propostas pelo modelo

de Hofstede et al. (2010), ao assumirem papel moderador da relação entre RSC e GR, se

mostraram estatisticamente significantes. As dimensões de individualismo, masculinidade e

indulgência se mostraram responsáveis por atenuar a relação negativa entre a RSC e o GR, ou

ainda a induzir a uma relação positiva. Tais achados revelam a conduta oportunista das

organizações expostas a esses contextos culturais.

Por outro lado, as dimensões de aversão à incerteza e de orientação para o longo prazo

se mostraram responsáveis por potencializar a relação negativa entre RSC e GR. Tais

resultados revelam que as organizações, quando expostas a esses contextos culturais, tendem

a se comportar de maneira “mais” informacional, pois ao mesmo tempo que se engajam em

RSC, também se envolvem em práticas menos agressivas de GR. A única dimensão que

contrariou o esperado foi a distância de poder. Esperava-se que essa característica cultural

fosse capaz de atenuar ou tornar positiva a relação entre RSC e GR, contudo, mostrou um

efeito potencializador da relação negativa entre RSC e GR.

Para confirmar estes resultados, realizou-se uma análise adicional, a qual separou as

dimensões de cultura nacional em pontuções baixas e elevadas, ou seja, considerou-se uma

variável categória igual a 1 para países que possuíam pontuações acima de 66 e zero para os

demais. Essa análise foi realizada com a intenção de captar a maior diferença cultural entre os

países da amostra. Salienta-se que os resultados dessa análise adicional são apresentados de

forma descritiva, devido as limitações de espaço deste arquivo.

De forma geral, os resultados confirmaram os achados da análise principal no que se

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refere à influência das dimensões culturais de masculinidade, aversão à incerteza e de

orientação para o longo prazo. Com relação às demais características culturais, evidenciou-se

relação negativa e significativa para a distância de poder e para a indulgência, ambos

resultados não condizentes com os da análise principal. A moderação da tendência cultural ao

individualismo não se mostrou estatisticamente significante.

Dentre as hipóteses propostas, a H3, H4 e H5 foram aceitas. A H3 previa um efeito

atenuante (da relação negativa) ou positivo da masculinidade na relação entre RSC e GR, o

que indica que organizações expostas à tendência cultural de masculinidade estão propensas

ao uso oportunista, tanto do GR como da RSC. Ao contrário, a H4 e H5 previam um efeito

potencializador das dimensões culturais de aversão à incerteza e de orientação ao longo prazo

na relação negativa entre RSC e GR, o que indica que organizações expostas a tais contextos

culturais são propensas a agir de forma “mais” informacional, pois ao mesmo tempo que

parecem inibir as práticas de GR, também se engajam em práticas de RSC.

A premissa proposta pela H3 sugere uma possível explicação para as pesquisas

anteriores que encontraram uma relação positiva entre RSC e GR. Os achados deste estudo

geram indícios de que a tendência cultural à masculinidade pode estar impactando no

comportamento das organizações. Sabe-se que as divergências entre os resultados carecem de

justificativas sobre o porquê, em determinado contexto, a RSC parece estar atrelada ao menor

GR, enquanto em outros relacionada ao maior GR. Por isso, esta pesquisa lança luz sobre a

masculinidade, como uma característica cultural capaz de induzir gestores a se comportarem

de forma oportunista com relação as suas práticas de RSC.

No que concerne às hipóteses H4 e H5, sugere-se que em países de elevada aversão à

incerteza e orientados para o longo prazo, os gestores tendem a priorizar a transparência de

informações aos seus stakeholders, o que é evidenciado tanto pela associação a menores

índices de GR (o que revela maior qualidade das informações contábeis), quanto pela

associação a maiores práticas sociais e ambientais.

Acredita-se que essa discussão possa gerar indícios sobre o efeito da cultura nacional na

relação entre RSC e GR, por evidenciar que determinadas características culturais (aversão à

incerteza e orientação para o longo prazo) são capazes de influenciar as organizações a

divulgarem informações mais transparentes e de maior qualidade, enquanto que sociedades

masculinas podem contribuir para um comportamento mais oportunista dos gestores e/ou

empresas, tanto pelo maior GR como pelo maior engajamento em práticas sociais e

ambientais.

Dessa forma, este estudo confirma empiricamente os pressupostos teóricos destacados

por Martínez-Ferrero e García-Sánchez (2015), García-Sánchez e García-Meca (2017) e Kim

et al. (2018), os quais sugeriram que possíveis avanços nas pesquisas sobre a relação entre

RSC e GR pudessem considerar os efeitos de fatores em nível de país, como os culturais.

Desse modo, este estudo confirma a premissa de que a cultura nacional, e mais

especificamente, as dimensões da masculinidade, aversão à incerteza e orientação para o

longo prazo podem influenciar na relação entre RSC e GR.

As evidências desta pesquisa expandem os achados anteriores de Martínez-Ferrero e

García-Sánchez (2015), Muttakin et al. (2015), Bozzolan et al. (2015), Martinez-Ferrero et al.

(2015), Ko e Kim (2015), Gras-Gil et al. (2016), Gavana et al. (2017), Hsu e Chen (2017),

Patro e Pattanayak (2017), Jordaan et al. (2018) e Kim et al. (2018), os quais evidenciaram

relações divergentes entre RSC e GR, mas não buscaram explicações acerca de fatores que

poderiam induzir à esses diferentes achados.

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CONCLUSÕES

Conclui-se que a cultura nacional pode ajudar a explicar resultados ambíguos relativos à

relação entre as práticas de RSC e de GR realizados por empresas nos mais diversos países. O

contexto cultural de cada país pode levar a uma relação positiva entre RSC e GR, o que

denotaria uma utilização da RSC apenas como forma de melhoria de imagem da empresa

perante o mercado, com possível viés para “ocultação” de práticas oportunistas de GR. Por

outro lado, a cultura do país pode induzir uma relação negativa entre RSC e GR, o que

indicaria que empresas socialmente responsáveis apresentariam também resultados contábeis

mais transparentes, fidedignos, enfim, de maior qualidade.

Dessa forma, contribui-se para a literatura, primeiramente, por evidenciar que as

características culturais de masculinidade, aversão à incerteza e de orientação para o longo

prazo influenciam a relação entre o comportamento socialmente responsável e o GR, o que

sugere que futuras pesquisas devem inserir em suas análises tais fatores em nível de país.

Além disso, contribui-se por analisar a relação entre RSC e GR por uma lente teórica que

prevê a influência da cultura nacional entre os temas.

De forma prática, contribui-se para as organizações expostas a um contexto cultural de

elevada masculinidade ou que possuem sibsidiárias/filiais localizadas nesse contexto, pois

estas podem tentar mitigar essa influência cultural para o comportamento oportunista,

mediante a inserção de mecanismos de controle voltados para a prática de GR e de RSC,

como forma de garantir que ambas sejam responsáveis por gerar informações mais

transparentes e de maior qualidade. Por outro lado, organizações expostas a contextos

culturais de elevada aversão à incerteza e de orientação para o longo prazo podem se isentar

de determinados mecanismos de controle, por considerar que culturalmente seus gestores são

propensos a gerar informações mais transparentes e de qualidade, tanto relacionadas ao GR

menos agressivo quanto ao engajamento em práticas sociais e ambientais.

Ademais, destaca-se que investidores e acionistas, mediante os achados deste estudo,

podem se atentar às características culturais dos países em que as organizações estão inseridas

ao decidirem sobre seus investimentos. Esses usuários da informações podem olhar com

maior cautela para contextos de elevada masculinidade (propensos ao comportamento

oportunista) e com maior confiabilidade e credibilidade para contextos de elevada aversão à

incerteza e de orientação para o longo prazo (propensos a uma conduta informacional).

Os acionistas, por sua vez, como detentores do capital, podem exigir mecanismos que

visem garantir que as práticas de RSC, mesmo quando expostas à influência cultural de

masculinidade, reflitam uma conduta informacional fidedigna sobre a realidade empresarial.

Por outro lado, podem despender menos recursos a esses mecanismos de controle, em casos

onde o contexto cultural (aversão à incerteza e orientação para o longo prazo) já induz ao

comportamento informacional.

Deve-se levar em consideração que a investigação da cultura nacional como papel

moderador da relação entre RSC e GR ainda carece de investigações, visto que este estudo

apenas lança luz sobre relações esperadas e confirma três delas. Além disso, a dimensão de

individualismo, por mais que não tenha se mostrado estatisticamente significante em ambas as

análises de moderação realizadas, demostrou influenciar as práticas de RSC e GR a uma

relação positiva. Tais achados sugerem uma coerência entre sinais, mas não entre

confiabilidade estatística. Por isso, futuras pesquisas podem investigar, mediante outros testes

de robustez, a significância estatística dessas relações, a fim de contribuir para as pesquisas

anteriores que já evidenciaram uma relação positiva entre os temas.

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