Influência da Argamassa

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    I

    INFLUNCIA DA ARGAMASSA DE REVESTIMENTO NA

    RESISTNCIA COMPRESSO AXIAL EM PRISMAS DEALVENARIA RESISTENTE DE BLOCOS CERMICOS

    JOO MANOEL DE FREITAS MOTA

    LIVRO FUNDAMENTADO na Dissertaoapresentada ao Programa de Ps-Graduao emEngenharia Civil, Centro de Tecnologia eGeocincia da Universidade Federal de Pernambuco,como parte dos requisitos para obteno do ttulo de

    mestre em Engenharia Civil.

    Recife / PernambucoJunho / 2006

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    II

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    III

    A Deus e s memrias do meu pai, Ilton da Mota Silveira, da minha av, JacintaBarbosa de Freitas, e do meu tio pai, Severino Maurcio de Freitas.

    DEDICO.

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    IV

    AGRADECIMENTOS

    A Deus pelo amor supremo que nos concede. Filho meu, guarda o mandamento de teupai, e no deixes a lei da me. Ata-os perpetuamente ao teu corao, e pendura-os ao

    teu pescoo(Provrbios 6:20-21).

    A minha me, minha vida, que sempre me apoiou nessa rdua jornada e a minha filha.

    Ao meu Professor orientador Romilde Almeida de Oliveira.

    Ao ilustre Professor Joaquim Correia Xavier de Andrade Filho, que sempre me apoiou

    com suas reflexes enriquecedoras.

    Ao Professor ngelo Just da Costa e Silva, sempre gentil na colaborao doplanejamento e ensaios realizados.

    Universidade Federal de Pernambuco, que nos propicia realizar o sonho valoroso deaprimorar nossos conhecimentos profissionais.

    empresa TECOMAT Tecnologia da Construo e Materiais, que colaborou narealizao de diversos ensaios em seu laboratrio.

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    VI

    O verdadeiro valor de um homem no pode ser encontrado nele mesmo, mas nascores e texturas que faz surgir nos outros.

    Albert SchweitzerSUMRIO

    1 INTRODUO ...........................................................................................................1

    1.1 Consideraes introdutrias e viso global do trabalho .............................................1

    1.2 Justificativa .................................................................................................................3

    1.3 Objetivos .....................................................................................................................3

    1.3.1 Objetivo geral ..........................................................................................................3

    1.3.2 Objetivos especficos ...............................................................................................4

    1.4 Apresentao da estrutura do trabalho ........................................................................4

    2 REFERENCIAL TERICO ......................................................................................6

    2.1 Argamassa ..................................................................................................................6

    2.1.1 Contexto histrico ....................................................................................................6

    2.1.2 Argamassa comumgeneralidades ........................................................................8

    2.1.3 Argamassa de assentamento e revestimento para alvenaria ..................................13

    2.1.4 Aspectos conclusivos das argamassas ...................................................................43

    2.2 Alvenaria ..................................................................................................................44

    2.2.1 Consideraes iniciais ...........................................................................................44

    2.2.2 Consideraes sobre as cargas verticais das alvenarias .........................................522.2.3 Resistncia compresso da alvenaria ..................................................................54

    2.2.4 Argamassa de assentamento das alvenarias ...........................................................57

    2.2.5 Parmetros da NBR 10837 ....................................................................................61

    2.2.5.1 Esbeltez ........................................................................................................61

    2.2.5.2 Mdulo de deformao ................................................................................62

    2.2.5.3 Compresso axial .........................................................................................62

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    VII

    2.2.6 A influncia da argamassa de revestimento na reabilitao de alvenaria

    estrutural..........................................................................................................................64

    2.3 Influncia da argamassa de revestimento na resistncia compresso de alvenaria de

    blocos cermicos com furos na horizontal .....................................................................65

    2.3.1 CAVALHEIRO (1994) ..........................................................................................66

    2.3.2 OLIVEIRA & HANAI (2002) ...............................................................................68

    2.3.3 OLIVEIRA & AZEVEDO (2006) .........................................................................70

    3 METODOLOGIA ......................................................................................................73

    3.1 Materiais ...................................................................................................................73

    3.2 Blocos cermicos ......................................................................................................74

    3.3 Argamassas .............................................................................................................. .74

    3.4 Prismas ......................................................................................................................77

    3.5 Traos das argamassas e aspectos dos ensaios .........................................................81

    3.5.1 Traos das argamassas ...........................................................................................81

    3.5.2 Aspectos gerais dos ensaios ...................................................................................81

    4 CASOS REPRESENTATIVOS DE DESABAMENTOS DE EDIFCIOS TIPO

    CAIXO.................................................................................................................... 86

    4.1 Edifcio Aquarela ......................................................................................................86

    4.2 Edifcio ricka ..........................................................................................................89

    4.3 Consideraes finais dos desabamentos....................................................................93

    5 MATERIAIS UTILIZADOS.....................................................................................94

    5.1 Cimento utilizado .....................................................................................................94

    5.2 Cal hidratada utilizada...............................................................................................94

    5.3 Areia utilizada ...........................................................................................................94

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    VIII

    5.4 Blocos cermicos utilizados .....................................................................................96

    5.5 gua utilizada ...........................................................................................................96

    6 RESULTADOS...........................................................................................................97

    6.1 Argamassas................................................................................................................97

    6.2 Prismas.......................................................................................................................99

    6.3 Consideraes da influncia do revestimento.........................................................112

    6.3.1 Soluo com paredes sem revestimentos .............................................................112

    6.3.2 Soluo com os benefcios do revestimento na parede .......................................112

    7 CONCLUSES E SUGESTES............................................................................114

    7.1 Concluses ..............................................................................................................114

    7.2 Sugestes ................................................................................................................116

    8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................117

    ANEXO AEntidades normalizadoras e instituies.

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    IX

    INFLUNCIA DA ARGAMASSA DE REVESTIMENTO NARESISTNCIA COMPRESSO AXIAL EM PRISMAS DE

    ALVENARIA RESISTENTE DE BLOCOS CERMICOS

    RESUMO

    A partir da dcada de 70, iniciou-se a construo, em larga escala, de edifcios tipo

    caixo, concebidos de alvenaria resistente com at quatro pavimentos, na Regio

    Metropolitana do Recife. Sabe-se que essas construes foram executadas sem

    fundamentao tecnolgica e normas tcnicas pertinentes, sejam nacionais ou

    internacionais. Verifica-se que, nessas construes, os materiais utilizados,

    fundamentalmente os blocos cermicos vazados destinados vedao, assentados com

    furos na horizontal, no apresentam requisitos de desempenho necessrios para serem

    considerados estruturais. O clculo da resistncia compresso das paredes dos

    edifcios construdos com este tipo de alvenaria mostra que so insuficientes para

    resistir aos esforos a que se destinam, especialmente nos pavimentos inferiores. Isso

    significa que edifcios construdos e habitados no passam em critrios normativos de

    estabilidade. Faz-se assim necessrio investigar aspectos prprios do processo,buscando aduzir possveis aspectos influenciadores na resistncia compresso. Leve-

    se em considerao que centenas de edifcios se encontram em operao. Este trabalho

    tem por objetivo estudar a influncia do revestimento na resistncia compresso axial

    das paredes de alvenaria de vedao, empregadas com funo estrutural, utilizando

    blocos cermicos vazados assentados com furos na horizontal. Foram ensaiados

    prismas, buscando estabelecer conhecimento necessrio do comportamento e

    intensidade da contribuio do revestimento a essa propriedade mecnica, que se mostrade extrema relevncia para estabilidade da edificao. Verificou-se que a argamassa de

    revestimento contribui, de forma substancial, na resistncia compresso axial desse

    tipo de alvenaria. Desta maneira, so necessrias investigaes experimentais

    objetivando a reabilitao destas edificaes, principalmente no caso especfico da

    Regio Metropolitana do Recife, onde se tm milhares de edifcios construdos com

    esse processo construtivo.

    Palavras-chave: alvenaria, prdios caixo, alvenaria resistente, alvenaria estrutural,reabilitao de paredes, blocos cermicos de vedao.

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    INFLUENCE OF BUILDING CEMENT REVETMENT IN THERESISTANCE TO AXIAL COMPRESSION IN PRISMS OF

    RESISTANT MASONRY OF CERAMIC BLOCKS

    Abstract

    Since the 70s, buildings called caixes began to be built in a large scale, made of

    resistant masonry with up to four floors, in the Metropolitan Area of Recife. Its known

    that these constructions were built without technological basis and necessary technical

    rules, national and international ones. Its noticed that these constructions and the

    material used for building them especially the ceramic blocks destined for impeding,

    with horizontal holes dont have the necessary requirements to be consideredstructural. The calculus of resistance to wall compression of these kinds of buildings

    built with this type of masonry proves to be insufficient to resist the efforts they are

    submitted, especially on the ground floor. It means that these buildings dont have

    normative evaluation of stability. Consequently, its necessary to investigate the aspects

    of the process, trying to find possible aspects that are of influence in the resistance to

    compression. This project has the aim of studying the influence of the revetment in the

    resistance to axial compression in the masonry walls, used with structural function, and

    using ceramic blocks with horizontal holes. With the aim to get to know the necessary

    knowledge of the behavior and intensity of the revetment contribution to this

    mechanical property, we had prisms, which are extremely relevant to the stability of the

    edification. It was verified that the revetment building cement contributes, in a

    substantial way, in the resistance to the axial compression of this kind of masonry.

    Consequently, experimental investigations are necessary to these buildings

    rehabilitation, mainly in the Metropolitan Area of Recife, where we can find thousands

    of buildings built in this constructive process.

    Key words: masonry, caixo buildings, resistant masonry,structural masonry, wallsrehabilitation, impeding ceramic blocks

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    CAPTULO 1

    INTRODUO

    1.1 - Consideraes introdutrias

    Admite-se que construes de alvenaria foram executadas desde 10.000 a.C., com

    tijolos secos ao sol. S a partir de 3.000 a.C., observou-se a queima em fornos.

    Na Palestina e no Egito, desde 8.000 a.C., as construes encontradas eram

    efetivamente de tijolos de barro cozido ao sol, uma vez que a demanda de matria prima era

    abundante, bem como as construes com este material apresentavam elevados

    desempenhos para fins habitacionais, GOMES (2001).

    Sabe-se que, at a dcada de 50, no se tinha domnio cientfico sobre as questes

    tecnolgicas peculiares s construes em alvenarias, assim os construtores partiam para

    executar obras superdimensionadas, sendo as espessuras das paredes encontradas a partir de

    30 cm, chegando at 1,30 m. A partir de ento, pesquisas se desenvolveram, de tal forma

    que um edifcio de 13 andares de alvenaria no armada, foi em 1951, erguido na Basilia

    com o clculo do engenheiro Suo, Paul Haller, com paredes portantes variando de 15 cm

    de espessura at 37,5cm, OLIVEIRA (2001).Ao longo dos ltimos anos, pases da Europa, Estados Unidos, Canad, Austrlia,

    utilizam-se comumente de construes em alvenaria estrutural, tendo em vista os

    conhecimentos adquiridos em face ao desenvolvimento tecnolgico pertinente,

    possibilitando assim a elaborao de projetos mais arrojados bem como execues

    sistematizadas, sem empirismo no processo executivo e nas restauraes.

    No Brasil, a partir do ano de 1989, norma pertinente a alvenaria foi implementada,

    permitindo assim tmidos avanos em toda a cadeia produtiva da construo civil,

    capitaneada principalmente por pesquisas em universidades, objetivando desenvolver esse

    tema. Nesta ordem, viram-se no Brasil construes de grandes obras em alvenaria

    estrutural, tais como: um condomnio com 4 blocos de 12 pavimentos cada em So Paulo, o

    Jardim Prudncia com 9 pavimentos tambm em So Paulo, entre outras.

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    No foco deste trabalho, poder-se-ia dizer que, na regio Metropolitana do Recife,

    observou-se a tradio na construo de edifcios em alvenarias resistentes desde o

    perodo colonial, haja vista a herana dos Portugueses no domnio desse modelo

    construtivo.A prtica secular de construir edifcios em alvenaria portante, com blocos cermicos

    assentados com furos na horizontal, foi largamente fomentada por ser adequada, na medida

    em que na regio existem considerveis jazidas da matria prima necessria para a

    produo dos tijolos e blocos constituintes dessas construes.

    Na dcada de 70 passou-se a construir, em larga escala, edifcios populares com at

    quatro pavimentos, financiada pelo Banco Nacional de Habitao, atravs das COHABs e

    INOCOOPs. Em princpio, os edifcios eram construdos sobre pilotis, onde, a partir de

    uma grelha em concreto armado, erguia-se a estrutura dos apartamentos, em alvenarias

    portantes que possuam reas prximas de 100 m2.

    A deteriorao dessa prtica construtiva foi provocada pelas crises financeiras

    sucessivas que o pas enfrentou. Isso em princpio dos anos 80, quando os apartamentos se

    condensaram, com o aproveitamento do trreo para unidades residenciais. Essas

    construes passaram a ter cerca de 50 m2de rea interna construda, provocando assim a

    necessidade de as alvenarias nascerem desde as fundaes.

    Portanto, os edifcios tipo caixo, foram originados por aspectos sociais, polticos e

    econmicos, de tal maneira que, nesse processo de degenerao da qualidade foram

    construdos o equivalente a seis mil prdios, com at quatro pavimentos e com 8

    apartamentos no total. Nesses edifcios, moram cerca de 240.000 pessoas, importando em

    aproximadamente 10% da populao da Regio Metropolitana do Recife, OLIVEIRA

    (2004).

    Verificam-se nessas construes, inicialmente, que os principais materiais utilizados

    no apresentam os padres de desempenho necessrios. Sabe-se que estas edificaes nose fundamentaram em uma tecnologia com embasamento cientifico e no tem normas

    tcnicas especificas para este processo construtivo. Como conseqncia, estas construes

    vieram com o decorrer do tempo a serem alvos de patologias e acidentes, embora a sua

    grande maioria esteja em utilizao.

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    Alguns pesquisadores analisaram a influncia do revestimento na resistncia

    compresso das paredes de alvenarias, e constatou-se que h incremento na resistncia

    compresso axial em alvenaria de blocos cermicos com furos horizontais, revestida com

    argamassa mista.Nesse contexto, infere-se que a argamassa de revestimento seja um elemento

    responsvel por parte da resistncia das paredes, CAVALHEIRO (1991).

    Em entrevista realizada, ANDRADE (2005) informou haver constatado a influncia

    do revestimento no incremento da resistncia compresso das alvenarias. O mesmo

    forneceu informaes sobre caractersticas peculiares dessas construes, (edificaes de

    referncia neste trabalho) tais como: materiais, traos e processo construtivo.

    As investigaes experimentais so extremamente necessrias, principalmente acerca

    do problema especfico da Regio Metropolitana do Recife, com o objetivo de se obter uma

    maior compreenso sobre o comportamento das edificaes existentes.

    1.2 - Justificativa

    Os edifcios tipo caixo com at quatro pavimentos construdos em larga escala na

    Regio Metropolitana do Recife, fundamentalmente a partir da dcada de 70, apresentam

    instabilidade terica inclusive com caracterstica frgeis.

    Quando essas alvenarias so calculadas com as paredes isoladas, verifica-se que h

    uma insuficincia de resistncia compresso.

    Para tanto, presumi-se que a argamassa de revestimento contribui na resistncia

    compresso, seja como parte ativa na sustentao direta e/ou com o aumento da seo

    estrutural do conjunto alvenaria-revestimento, atravs da solidarizao eficaz desse

    conjunto.

    1.3 - Objetivos

    1.3.1 - Objetivo geral

    Estudar a influncia do revestimento na resistncia compresso axial das paredes de

    alvenaria estrutural com blocos cermicos com furos na horizontal, atravs de prismas,

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    buscando obter o conhecimento necessrio do comportamento e intensidade da contribuio

    do revestimento como elemento parcialmente responsvel pela estabilidade da edificao.

    1.3.2 - Objetivos especficos- Identificar, experimentalmente, o incremento efetivo na resistncia compresso devido

    argamassa de revestimento.

    - Verificar, a variao na resistncia compresso axial dos prismas com trs unidades, em

    decorrncia do revestimento, considerando as duas espessuras e os dois tipos de traos

    analisados.

    1.4

    - Apresentao da estrutura do trabalhoA estrutura do trabalho tem o seguinte contedo:

    Captulo 2 - Referencial terico Este captulo apresenta referenciais tericos dos

    assuntos tratados. So efetuadas consideraes sobre as argamassas de assentamento e

    revestimento das alvenarias, as alvenarias utilizadas e a influncia do revestimento na

    resistncia compresso axial de alvenarias estruturais de blocos cermicos com furos na

    horizontal.

    Captulo 3 - Metodologia Ser descrita a metodologia empregada nos experimentos

    efetuados.

    Capitulo 4 Sero mostrados dois casos representativos de desabamentos de edifcios

    tipo caixo

    Captulo 5 - Materiais utilizados Ser apresentada caracterizao dos materiaisutilizados na pesquisa.

    Captulo 6 - ResultadosNeste captulo, apresentar-se-o os resultados e discusses de

    todos os ensaios propostos na pesquisa.

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    Captulo 7 - Concluses e sugestes.

    Referncias bibliogrficas.

    Anexo A- Entidades normalizadoras e instituies.

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    CAPTULO 2

    REFERENCIAL TERICO

    Neste captulo, sero abordados aspectos da alvenaria estrutural revestida com

    argamassa mista. Desta forma, argamassa, alvenaria e influncia da argamassa de

    revestimento na resistncia compresso axial da alvenaria de blocos cermicos sero

    apresentadas, respectivamente.

    Vale destacar que no se pode considerar o incremento da capacidade de suporte da

    alvenaria por conta da argamassa de revestimento, sem caracterizar a durabilidade desse

    material e da prpria alvenaria.

    2.1Argamassa

    Sero tratadas questes sobre argamassa, diretamente ou indiretamente envolvidas

    com a pesquisa, tendo em vista atribuir-se argamassa alguma influncia na resistncia

    compresso das alvenarias. Por conseguinte, tratar-se- das argamassas, tanto de

    revestimento quanto de assentamento dos blocos cermicos, dentro dos seus aspectos

    gerais, relacionados com o desempenho adequado ao trabalho e durabilidade.

    2.1.1 Contexto histrico

    Registros mostram que obarro, ou a chamada lama, parece ser o primeiro material

    ligante usado na fabricao das argamassas em construes da antiguidade. Seu rico

    desempenho faz perdurar seu uso at os dias de hoje em vrios lugares no mundo.

    Constata-se que, no Egito antigo, a argamassa base de barro funcionava para juntar

    tijolos de barro (cermicos). Entretanto, para a ligao dos blocos de pedras, o gesso era

    mais adequado e, consequentemente, mais utilizado, uma vez que servia principalmente

    como um agente lubrificador eficiente, MOROPOULO; BAKOLAS &

    ANAGNOSTOPOULOU (2004).

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    Nos tempos antigos, no Oriente Mdio, a argila e o barro eram misturados com a

    palha da cana cortada, formando compostos (argamassas), MOROPOULO; BAKOLAS &

    ANAGNOSTOPOULOU (2004). Os autores citados dizem que, pelo menos at 3.000 a.C.,

    a argamassa de asfalto ligava os tijolos, permanecendo essa prtica por um longo perodo.Na Babilnia, misturas de asfalto foram substitudas por cal, com adio de argila, cinzas e

    outros materiais.

    Observou-se que o uso da argamassa base de gesso no Oriente Mdio durou mais de

    4.000 anos. Estudos na cisterna de Kameiros-Rhodes (500 a.C.) demonstram que as

    argamassas e concretos que revestem suas paredes tiveram a cal como princpio ativo de

    um material nobre e vantajoso. Essas misturas apresentam caractersticas de argamassas

    pozolnicas, fundamentalmente pela melhoria de sua hidraulicidade, LUGLI apud

    MOROPOULO; BAKOLAS & ANAGNOSTOPOULOU (2004).

    Sabe-se que a terra de Santorine foi encontrada pelos Gregos e Romanos, bem como a

    argamassa Pozolnica fora encontrada em estruturas antigas na ilha de Delos, prximo da

    ilha de Thera, no segundo sculo a.C., perodo romano que se caracterizou pela utilizao

    da tcnica de adicionar os materiais pozolnicos argamassa de cal. Portanto, estava

    disseminado, por todo o imprio, um material nobre com propriedades pozolnicas, com

    melhorias em suas propriedades fsicas e qumicas, DAVIDOVITS (1993).

    Outro aspecto marcante na histria das argamassas foi a descoberta da adio de

    tijolos esmagados em argamassa de cal. Os romanos propagaram esse uso atravs do seu

    imprio na Europa, norte da frica e Oeste da sia (Turquia). Esses materiais eram

    empregados com muitos propsitos. Por exemplo, o p dos tijolos era usado principalmente

    para as camadas superiores do piso e os tijolos esmagados, de dimenses variadas, eram

    recomendados para paredes e fundaes, devido melhoria do desempenho da argamassa

    em condies crticas, DAVIDOVITS (1993) e BORONIO (1997).

    Ao longo do ltimo perodo do Imprio Romano, alm do tradicional uso de tijolosesmagados nos revestimentos de paredes, observava-se o aumento da espessura dos

    revestimentos em geral, que foram gradativamente passando de 10 a 15 mm,

    posteriormente para 60 a 70 mm, chegando at a espessura de 70 cm no perodo Bizantino

    em Istambul, MAINSTONE (1987).

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    Na Idade Mdia, as pedras calcrias impuras eram usadas para produzir cal e tinham

    que ser usadas instantaneamente, devido ao endurecimento rpido.

    As argamassas antigas usadas como material de revestimento com adio de materiais

    pozolnicos, obtinham longevidade atravs principalmente do uso da cal. Algumas vezes,para que as caractersticas mecnicas fossem melhoradas, aditivos orgnicos e materiais de

    origens animal e vegetal eram usados para melhoria dessas propriedades.

    A vantajosa adio das pozolanas artificiais e naturais mistura de cal, para obter

    argamassa hidrulica, era bem conhecida, apesar do desconhecimento da qumica dos

    materiais inorgnicos. As pozolanas naturais, fundamentalmente de origem vulcnica, tanto

    in natura quanto modas, eram usadas extensivamente para caladas sujeitas s agress es

    do intemperismo. J as pozolanas artificiais, tais como os tijolos ou retalhos de cermica,

    eram usadas quando as pozolanas naturais no estavam disponveis.

    A trabalhabilidade e a consistncia das argamassas eram apreciadas pelos

    construtores da poca. A vigorosa compactao mo, usando ferramentas simples, a

    plasticidade adequada da mistura para um controle da fluidez e outros cuidados no controle

    tecnolgico eram observados no preparo das argamassas.

    2.1.2Argamassa comumGeneralidades

    Neste tpico sero apresentados assuntos concernentes s argamassas em geral e mais

    claramente argamassas mistas base de cimento, cal e areia, tendo em vista ser argamassa

    desse tipo a usada nos experimentos desse estudo. Vale sublinhar, portanto, a explorao

    que ser dada ao assunto argamassa, tendo em vista ser o teor essencial desse estudo, isto ,

    a influncia da argamassa de revestimento na resistncia compresso das alvenarias.

    relevante focalizar os fatores que afetam o desempenho e a durabilidade dos

    revestimentos, desde as caractersticas dos materiais (propriedades) at a homogeneizao,

    os fatores externos ou suas interrelaes.O material composto chamado de argamassa inorgnica definido pela NBR-7200

    como uma mistura homognea composta de aglomerantes e agregados com gua, com ou

    sem aditivos e adies, com propriedades de aderncia e endurecimento. Destaca-se que,

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    invariavelmente, observam-se, nas argamassas utilizadas nas obras, areia natural lavada,

    cimento Portland como aglomerante e saibro ou cal hidratada conforme a Regio do Brasil.

    As Tabelas 2.1, 2.2 e 2.3 apresentam os revestimentos de argamassas inorgnicas, sua

    classificao, tipos e materiais constituintes.

    Tabela 2.1 - Revestimentos de argamassas inorgnicasClassificaoTipo Critrio de Classificao

    Revestimento de camada nica e duascamadas

    Nmero de camadas aplicadas

    Revestimento em contato com o solo,externo e interno

    Ambiente de exposio

    Revestimento comum Comportamento a umidadeRevestimento hidrofugo

    Revestimento de permeabilidadereduzida

    Revestimento de proteo radiolgica Comportamento a radiaesRevestimento termoisolante Comportamento ao calor

    Camurado, chapiscado, desempenado,sarrafiado, imitao de travertino,

    lavado e raspado

    Acabamento de superfcie

    Fonte: CINCOTTO; SILVA & CASCUDO (1995)

    Tabela 2.2 - Argamassas inorgnicas de revestimento - TipoTipo Critrio de avaliao

    Argamassa area e hidrulica Natureza do aglomeranteArgamassa de cal, cimento e cimento e

    calTipo do aglomerante

    Argamassa simples e mista Nmero de aglomerantesArgamassa aditivada, colante, de

    aderncia melhorada, hidrofurga, deproteo radiolgica, redutora depermeabilidade e termoisolante

    Propriedades especficas

    Chapisco, emboo e reboco Funo no revestimento

    Argamassa dosada em central,preparada em obra, industrializada e

    mistura semi-pronta

    Forma de preparo ou fornecimento

    Fonte: CINCOTTO; SILVA & CASCUDO (1995)

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    Tabela 2.3 - Materiais constituintes das argamassas de revestimentoCal hidratada, virgem, cimento Portland

    cinza e brancoAglomerantes

    Agregado mido e leve Agregados

    Filito cermico, material pozolnico, pcalcrio, saibro e solo fino Adies

    Solo fino beneficiadoRedutores de permeabilidade, retentores

    e incorporadores de gua ehidrofurgantes

    Aditivos

    gua de amassamento guaFonte: CINCOTTO; SILVA & CASCUDO (1995)

    Basicamente, as argamassas mistas contendo cal so utilizadas para emboo, reboco e

    assentamento de alvenarias, pela sua plasticidade, reteno de gua, incremento da

    resistncia, elasticidade e acabamento regular. Portanto, atribui-se cal a capacidade de

    acomodar as movimentaes entre o revestimento e as alvenarias, sabendo-se que o mdulo

    de deformao deve ser decrescente das camadas internas para as externas, evitando-se

    assim movimentaes diferenciadas entre o substrato e o revestimento, THOMAZ (2001) e

    CARNEIRO & CINCOTTO (1995). QUARCIONI & CINCOTTO (2005) julgam ser a cal

    uma substncia importante para o incremento da plasticidade e reteno da gua no estado

    fresco, fundamentalmente pela sua finura, e acomodao das deformaes no estadoendurecido, inclusive contribuindo para um menor estado de fissurao.

    CINCOTTO apud THOMAZ (2001) enfatiza que, em relao s dosagens das

    argamassas, devem-se relevar os seguintes requisitos no estado fresco: consistncia, coeso,

    plasticidade, reteno de gua, trabalhabilidade e adeso inicial e no estado endurecido:

    resistncia mecnica, ao fogo, ao ataque de sulfatos, ao congelamento, deformabilidade,

    retrao, aderncia, permeabilidade, condutibilidade trmica e durabilidade.

    Deve-se destacar o gerenciamento do preparo do substrato, tendo em vista ser essa

    etapa fundamental para o desempenho do conjunto argamassa/substrato, fundamentalmente

    a aderncia.

    Podem-se preparar os substratos de vrias formas, isto , desde a aplicao do

    chapisco, passando pela ponte de aderncia qumica, chegando ao simples umedecimento

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    do substrato e aplicao de soluo de cal. SCARTEZINI & CARASEK (2003) verificaram

    que o preparo do substrato com aplicao por asperso de soluo de cal aumenta em at

    20% a resistncia mdia da aderncia das argamassas em substratos de blocos cermicos,

    com relao s mesmas alvenarias chapiscadas, e 35% com relao a substratos nopreparados.

    A Figura 2.1 mostra resultados mdios de resistncia de aderncia das argamassas de

    revestimento diante de substratos com preparos distintos.

    Figura 2.1Resistncia de aderncia dos revestimentos, SCARTEZINI & CARASEK

    (2003)

    Sabe-se que o chapisco tornou-se a mais usual forma de preparar o substrato na

    Regio Metropolitana do Recife. Observa-se que o chapisco uma argamassa fluida,

    composta por trao em volume de 1:3 a 1:4, cimento e areia mdia ou grossa, sendo que

    este composto aps lanado na superfcie, deve passar por um perodo de cura de trs dias

    antes de receber o revestimento e deve ter no mximo 0,5 cm, YAZIGI (2004). O

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    desempenho das argamassas funo da base (limpeza e porosidade), da execuo dos

    servios (mo-de-obra) e da camada de ancoragem (chapisco), THOMAZ (2001).

    CANDIA & FRANCO (1998) destacam a importncia da aplicao do chapisco em

    alvenarias de blocos cermicos, tendo em vista a melhoria da rugosidade superficial bemcomo aumento do IRA (taxa de absoro inicial) em mais de duas vezes, aumentando assim

    as duas principais caractersticas dos substratos que influem na resistncia de aderncia.

    Esses autores sugerem o trao 1:1:6 (cimento, cal e areia), para revestimentos de fachada,

    em face dos bons resultados verificados nas propriedades de reteno de gua, tempo de

    sarrafeamento, resistncia de aderncia trao e cisalhamento, resistncia compresso e

    mdulo de deformao.

    Verifica-se que na interface chapisco/argamassa, forma-se uma concentrao de

    clcio originado da dissoluo do hidrxido de clcio, decorrente da movimentao de gua

    provocada pelo substrato. Posteriormente, os ons de clcio so transportados para o interior

    dos poros, precipitando-se nos vazios da superfcie do chapisco, em forma de hidratos,

    gerando a aderncia, SILVA & LIBRIO (2005).

    No instante do contato da argamassa com o substrato, as caractersticas da argamassa

    e a capacidade de absoro desta base so os fatores primordiais para o melhor desempenho

    dos revestimentos. Sabe-se que esse transporte de gua da argamassa fresca do

    revestimento para o substrato poroso influenciado pela porosidade da argamassa e do

    substrato, funo do dimetro, estrutura, volume, distribuio e interconectividade dos

    poros, PAES; BAUER & CARASEK (2005).

    CARASEK apud THOMAZ (2001) verificou que o principal fator da aderncia o

    consumo de cimento. Em qualquer tipo de bloco, a aderncia tende a ser maior nos blocos

    secos, entretanto a molhagem torna-se positiva, pois melhora a extenso de aderncia. O

    uso de raios X mostra que, na interface bloco cermico/revestimento, h uma penetrao da

    pasta de aglomerante nos poros do bloco em uma profundidade de 100 a 1600m. Atravsdo uso do microscpio eletrnico de varredura, pode-se observar que a aderncia um

    fenmeno eminentemente mecnico, tendo em vista o intertravamento de cristais de

    etringita no interior dos poros do substrato cermico.

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    2.1.3Argamassa de assentamento e revestimento para alvenaria

    Nas normas brasileiras no se observam referncias para os traos das argamassas de

    revestimento. Por conseguinte, adotam-se recomendaes da norma ASTM C 270-82, que

    preconiza quatro tipos de argamassas destinadas alvenaria estrutural ou de vedao. Osreferidos traos esto indicados na Tabela 2.4.

    Tabela 2.4 - Argamassas para alvenaria (ASTM C-270)

    POSIO DAALVENARIA

    FUNO TIPO DE ARGAMASSA

    Recomendada AlternativaExterior, de

    elevao

    Portante; no

    portante eparapeitos

    N; O e N S ou M; N ou S e

    SExterior, no nvelou abaixo do nvel

    do solo

    FundaesMuro de arrimoPoos - galerias

    CalamentosPasseios - Ptios

    S M ou N

    Interior PortanteNo Portante

    NO

    S ou MN ou S

    Fonte: FIORITO (1994)

    Um aspecto importante a ser considerado nas argamassas, alm do estudo de suas

    propriedades, a espessura do revestimento. Este revestimento deve estar preferivelmente

    entre 2 e 3 cm. Estando acima de 2,5 cm, a aplicao dever ser feita em duas camadas. A

    argamassa deve ter uma satisfatria trabalhabilidade, de tal maneira que se mantenha coesa

    em seu transporte e no adira na ferramenta colher de pedreiro quando em servio, YAZIGI

    (2004).

    A Tabela 2.5 indica traos para as argamassas supracitadas na tabela 2.4, onde as

    propores de areia, em volume, esto fixadas entre um mnimo de 2,25 vezes e ummximo de 3 vezes em relao ao somatrio dos volumes dos aglomerantes.

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    Tabela 2.5Traos especificados para argamassa de assentamento (ASTM)

    Tipo de

    Argamassa

    Trao em volume Resistncia mdia

    aos 28 dias (MPa)Cimento Cal hidratada Areia

    M 1 0,25 2,8 a 3,8 17,2

    S 1 0,25 a 0,5 2,8 a 4,5 12,4

    N 1 0,5 a 1,25 3,4 a 6,8 5,2

    O 1 1,25 a 2,5 5,0 a 10,5 2,4

    K 1 2,5 a 4,0 7,9 a 15,0 0,5

    Fonte: THOMAZ (2001)

    A dosagem das argamassas deve ser estrategicamente planejada. Em caso de falta deaglomerante as mesmas perdero capacidade de aderncia, coeso, resistncia a impacto e

    abraso e plasticidade. Entretanto com excesso de aglomerante pode-se levar ao gretamento

    superficial e elevado mdulo de elasticidade, SELMO apud THOMAZ (2001). As Tabelas

    2.6 e 2.7 apresentam recomendaes para revestimento.

    Tabela 2.6Traos recomendados para argamassas de revestimentoCamada Caractersticas Consumo de

    aglomerante (Kg/m)Trao em volume(cimento:cal:areia)

    Cimento Calhidratada

    Chapisco Argamassasimples (500 a

    600 Kg/m3)

    500 / 600 - 1:0:(2,1 a 2,8)

    Emboo ereboco

    Argamassa mista(350 a 450 e 250

    a 350 Kg/m3)

    200 / 350 e100 / 250

    100 / 150e 50 / 150

    1:(0,5 a 1,3):(4,0 a 8,3)e 1:(0,4 a 2,7):(6,4 a 16)

    Fonte: THOMAZ (2001)

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    Tabela 2.7Tipos de argamassas de revestimento

    Tipo de

    Argamassa

    M E R U C

    Massa

    especfica(kg/m3)

    Mdulo de

    elasticidade(MPa)

    Resistncia

    trao(MPa)

    Reteno

    de gua(%)

    Capilaridade

    (g/dm.min)

    1 < 1.200 < 5.000 < 1,5 < 78 < 1,5

    2 1.000 a 1.400 3.500 a 7.000 1,0 a 2,0 72 a 85 1,0 a 2,5

    3 1.200 a 1.600 5.000 a 10.000 1,5 a 2,7 80 a 90 2,0 a 4,0

    4 1.400 a 1.800 7.500 a 14.000 2,0 a 3,5 86 a 94 3,0 a 7,0

    5 1.600 a 2.000 12.000 a 20.000 2,5 a 4,0 91 a 97 5,0 a 12,0

    6 > 1.800 > 16.000 > 3,0 95 a 100 > 10,0Fonte: CSTB apud THOMAZ (2001)

    Podem-se observar diversas propriedades das argamassas para assentamento e

    revestimento nas alvenarias, objetivando assim um satisfatrio desempenho e durabilidade.

    A consistncia expressa a capacidade de fluidez da argamassa, que funo do teor

    de gua de amassamento, ar incorporado, tipo e proporo do cimento, RAGO &

    CINCOTTO (1997). Torna-se relevante na medida em que vrios autores usam esta

    propriedade para classificar a argamassa no estado fresco. Verifica-se que, quanto maior o

    teor de cimento para uma mesma consistncia, menor ser a demanda de gua numa

    argamassa. Situao oposta foi verificada, com relao presena da cal, QUARCIONI &

    CINCOTTO (2005).

    A consistncia da argamassa est intimamente ligada resistncia de aderncia,

    PEREIRA et al. (1999).

    A Figura 2.2 mostra a variao da consistncia frente s composies de argamassas

    diversas, sendo a composio em volume (cimento, cal e areia), e traos: B1:0,25:3,75; C

    1:0,5:4,5; D1:1:6 e E1:2:9.

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    Figura 2.2Variao da consistncia com a variao da composio da argamassa,

    SABBATINI (1984)

    Pode-se dizer que a trabalhabilidade a condio das argamassas que provoca maior

    ou menor facilidade de manuseio por parte do operrio que a prepara e aplica. Sabe-se que

    quanto menor o mdulo de finura e mais contnua for a curva granulomtrica do agregado,

    maior ser a trabalhabilidade. Ao mesmo tempo, em misturas que contm cal e cimentos

    com maior finura, tambm se observa uma melhoria da trabalhabilidade, CINCOTTO;

    SILVA & CASCUDO (1995).

    Trabalhabilidade uma propriedade emprica que traduz a facilidade do manuseio,

    transporte e aplicao das argamassas. A consistncia e a plasticidade expressam

    substancialmente a trabalhabilidade, RAGO & CINCOTTO (1997).

    A plasticidade a capacidade de reteno da deformao das argamassas aps a

    diminuio da fora que provoca deformao, RAGO & CINCOTTO (1997). influenciado pelo teor de ar, consumo de aglomerante e pela energia e intensidade da

    homogeneizao da mistura.

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    A Tabela 2.8 apresenta a classificao da plasticidade, uma vez que esse indicador

    funo do percentual de finos menores que 0,075 mm na mistura seca, CINCOTTO;

    SILVA &CASCUDO (1995).

    Tabela 2.8 - Contedo de finos da mistura seca (25 >20Mdia 25 a 15 20 a 10Pobre

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    Os vazios das argamassas so, em verdade, ar aprisionado, incorporado, ou simples

    espaos originados aps a evaporao do excesso da gua. Portanto, sabe-se que o teor de

    ar influencia diretamente na resistncia de aderncia dos revestimentos, bem como

    inversamente proporcional ao teor de cimento.A velocidade e o tempo de homogeneizao influenciam em propriedades como

    consistncia e ar incorporado, YOSHIDA & BARROS apud CASALI et al. (2001). Esses

    autores afirmam que no verificaram a queda da resistncia mecnica com a variao do

    tempo de mistura para argamassas mistas de cimento, cal e areia. Todavia, verificaram para

    as argamassas industrializadas.

    MEHTA & MONTEIRO (1994) afirmam que a resistncia dos materiais base de

    cimento Portland inversamente proporcional quantidade de vazios presentes. Por

    conseguinte, quanto maior a incorporao de ar nas argamassas, menor ser sua resistncia

    mecnica.

    Relevantemente, observa-se que a aderncia ou adeso inicial uma propriedade

    fundamental, pois, caso no se obtenha uma satisfatria aderncia da argamassa de

    revestimento ao substrato, poder no se obter benefcios de sua influncia na resistncia

    compresso das alvenarias.

    A aderncia inicial torna-se preponderante para o desempenho e durabilidade do

    conjunto revestimento-substrato. Observa-se que a adeso inicial funo da

    trabalhabilidade da argamassa bem como porosidade, rugosidade e tratamento prvio do

    substrato.

    A adeso da argamassa ao substrato est relacionada com a ancoragem mecnica da

    argamassa aos poros irregulares do substrato, CARASEK; CASCUDO & SCARTEZINI

    (2001) e JUST (2001). Esta ancoragem mecnica relaciona-se mais precisamente com as

    caractersticas da base e fatores externos, como por exemplo, o estado de limpeza do

    substrato. A aderncia deve ser composta de dois fatores: resistncia e extenso deaderncia. Essa ltima referente razo entre a rea de contato efetivo e a rea total

    possvel de ser unida.

    Pode-se observar o intertravamento de produtos da hidratao do cimento no interior

    dos poros do substrato cermico, atravs da microscopia eletrnica de varredura. Aps a

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    dissoluo ou estado coloidal dos componentes do aglomerante, ocorre o fenmeno de

    precipitao dos produtos de hidratao do cimento e da cal no interior dos poros do

    substrato, basicamente de cristais de etringita, preenchendo e ancorando nos vazios,

    CARASEK apud CARVALHO JR; BRANDO & FREITAS (2005).A Figura 2.3 mostra a relao dos cristais de etringita com a interface.

    Figura 2.3Cristais de etringita na interface chapisco comum/concreto, SILVA &

    LIBRIO (2003)

    CHASE; REDA & SHRIVE, apud SILVA & LIBRIO (2003), estudaram o

    mecanismo de aderncia nos tijolos cermicos e concluram que a extensa rede fibrosa

    entrelaada de C-S-H crescendo na superfcie da alvenaria a principal responsvel pela

    aderncia mecnica.

    Verificam-se substanciais ganhos na resistncia de aderncia devido adio da

    pozolana na argamassa, tendo em vista seus benefcios geradores de uma maior

    compacidade na zona de transio, implicando no incremento da ligao ao substrato,

    SILVA & LIBRIO (2003) e CARNEIRO (2005). Esses autores relatam que a slica da

    pozolana em reao com o hidrxido de clcio forma o C-S-H, enriquecendo algumas

    propriedades das argamassas.Portanto, tem-se, desde algumas dcadas, a utilizao de materiais pozolnicos nas

    construes, principalmente por causa de sua influncia na microestrutura e durabilidade

    nos concretos e argamassas, MOSEIS; ROJAS & JOSEPH CABRERA (2001).

    A Figura 2.4 mostra a interface entre a pasta e o substrato.

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    Figura 2.4Zona de interface pasta/substrato, SILVA & LIBRIO (2003)

    As Figuras 2.5 (a) e (b) apresentam o mecanismo de aderncia das argamassas em

    blocos cermicos

    Figura 2.5 (a)Representao esquemtica do mecanismo de aderncia entre argamassas

    de cimento e cal e os blocos cermicos, CARASEK; CASCUDO & SCARTEZINI (2001)

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    Figura 2.5 (b)Regio da interface entre argamassa e substrato cermico, CARASEK apud

    GOMES (2001)

    Observa-se que a relao gua/cimento diminui na regio prxima da interface,

    motivado pela suco do substrato, ocasionando uma mudana de granulometria do

    agregado na regio, e conseqentemente a reduo dos dimetros dos poros da argamassa.

    O substrato dos blocos cermicos possui grande volume de poros pequenos, apresenta

    uma superfcie lisa e densa, dizem PAES; BAUER & CARASEK (2005). Estas

    caractersticas possivelmente dificultam o transporte de gua da argamassa, pela sua

    restrio, aumentando a porosidade da argamassa na regio da interface, refletindo de

    forma negativa na resistncia de aderncia, principalmente com relao ao bloco de

    concreto.

    Os blocos cermicos com saturao ideal produzem melhores resultados de aderncia.

    Nesta condio ocorre uma concentrao maior de clcio at 1,0 mm de profundidade, pois

    distanciando da interface, reduz-se a magnitude da resistncia de aderncia. Numa

    profundidade aproximada de 500m, verificam-se as melhores condies de desempenho

    de aderncia, CARVALHO JR; BRANDO & FREITAS (2005). Entretanto, observou-se

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    que o teor de umidade dos substratos cermicos inversamente proporcional resistncia

    de aderncia, CARASEK (1997).

    Nos substratos de blocos cermicos, a aderncia das argamassas caracterizada pelo

    grau de higroscopicidade dos componentes, que funo da porosidade e porometria(medidas e distribuio dos poros). A embebio inicial pelo substrato da gua de

    amassamento da argamassa, fato em princpio negativo, decorre preponderantemente da

    distribuio dos poros, e no do seu volume, PRADO ROCHA & PEREIRA DE

    OLIVEIRA (1999).

    Na interao da argamassa com o substrato, tem-se a teoria dos poros ativos.

    Observa-se, nesta teoria, que o fluxo de gua entre a argamassa e o substrato, entendido

    como a interao de dois sistemas de poros, DETRICH et al. e DUPIN; DETRICH &

    MANSO apud CARASEK; CASCUDO & SCARTEZINI (2001). Sabe-se que o sistema de

    poros do substrato cermico, por exemplo, apresenta-se com raios aproximadamente

    constantes ao longo do tempo. Por sua vez, a argamassa no estado fresco apresenta-se com

    um sistema de poros de raios variveis com o tempo, entretanto esses raios decrescem com

    a hidratao dos aglomerantes da argamassa.

    Quando a argamassa lanada no substrato poroso de capilares inicialmente vazios,

    observa-se que os raios mdios da argamassa so superiores aos dos capilares do substrato,

    e, portanto, propicia o fluxo da gua no sentido da argamassa para o substrato. Na suco

    ocorre um aperto mecnico das partculas slidas da argamassa, tendo em vista a depresso

    dos capilares, concomitantemente com uma acelerao da cristalizao decorrentes da

    hidratao dos produtos dissolvidos do aglomerante, resultando na ancoragem, DETRICH

    et al. e DUPIN; DETRICH & MANSO apud CARASEK; CASCUDO & SCARTEZINI

    (2001).

    Os poros da argamassa variam de dimetro 0,001m a aproximadamente 5m, por

    conseguinte os poros do substrato que ultrapassarem o valor mximo de 5m seroentendidos como poros inoperantes, no ativos, uma vez que no possuem fora capilar

    adequada, WINSLOW & LIU apud CARASEK; CASCUDO & SCARTEZINI (2001). O

    raio mdio dos poros das argamassas pode ser aumentado, alterando as propores dos

    aglomerantes e agregado, sendo este ltimo tambm um agente modificador da distribuio

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    granulomtrica, objetivando-se, desta forma, o acrscimo da capacidade de suco do

    substrato.

    Podem-se apresentar alguns fatores influenciadores na aderncia das argamassas, tais

    como:

    - Cimento

    Argamassas muito ricas (elevado teor de cimento) produzem revestimentos rgidos

    que podem fissurar e, ao longo do tempo, perder aderncia, mas apresentam inicialmente

    maior resistncia de aderncia, CARASEK (1997) e PRADO ROCHA & PEREIRA DE

    OLIVEIRA (1999).

    Particularmente em substratos de blocos cermicos, h um incremento de aderncia

    de acordo com o aumento do teor de cimento, podendo no ocorrer o mesmo incremento

    com a variao da relao gua/cimento. A cura em cmara mida melhora esta

    propriedade, chegando a ser at 3,5 vezes maiores; PEREIRA et al. (1999), SCARTEZINI

    & CARASEK (2003) e CANDIA & FRANCO (1998); tendo em vista que o retardo da

    velocidade da carbonatao da cal e do cimento, presente na argamassa de revestimento,

    diminui os efeitos da retrao da argamassa nas primeiras idades.

    A temperatura na cura um fator importante na formao das fases de hidratao dos

    aglomerantes. Verificou-se em pesquisa realizada que, para um mesmo perodo de cura (9

    dias), amostras curadas a 60 oC mostraram uma reao da cal de 82%, entretanto para

    amostras curadas a 20 oC, apenas 18%. Portanto, no ltimo caso, o contedo de hidrxido

    de clcio desapareceu em 180 dias, j os espcimes curados a 60oC mostraram 6% de resto

    de cal a 123 dias, MOSEIS; ROJAS & JOSEPH CABRERA (2001).

    - Cal

    Dentro das consideraes gerais, sabe-se que a utilizao das pedras calcrias conhecida desde 2.450 a.C., mais precisamente na Mesopotmia Antiga. Utilizou-se com

    xito a cal como aglomerante em obras civis j nas pirmides egpcias e monumentos

    romanos que perduram at os nossos dias, QUARCIONI & CINCOTTO (2005).

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    Define-se a cal hidratada como sendo um p obtido pela hidratao da cal virgem

    constitudo essencialmente de uma mistura de hidrxido de clcio, hidrxido de magnsio,

    ou os dois misturados ao xido de magnsio, NBR 7175.

    Resumidamente, reportam-se a cal como sendo um aglomerante areo de origemcalcria, cuja temperatura de calcinao necessria se situa em torno de 900o C. Este

    material provoca nas argamassas mistas uma maior plasticidade e coeso, melhor e maior

    extenso de aderncia da argamassa com o substrato, bem como reduz a retrao,

    CARNEIRO (2005).

    A cal possui uma elevada finura, sendo importante por sua propriedade plstica,

    reteno de gua, preenchimento dos vazios do substrato (extenso de aderncia) e maior

    durabilidade decorrente da carbonatao processada ao longo do tempo. Argamassas que

    contm esse produto tendem a evitar fissuras, haja vista a peculiaridade de restabelecimento

    ou reconstituio autgena, CARASEK; CASCUDO & SCARTEZINI (2001).

    Este material propicia maior coeso entre as partculas slidas quando se aumenta a

    viscosidade da pasta com a substituio gradativa do cimento pela cal, mantendo-se a

    mesma relao gua/cimento. Por sua vez, as cales clcicas em contato com a gua

    apresentam viscosidade maior do que as cales dolomticas, RAGO & CINCOTTO (1995).

    A cal fornece argamassa mista uma melhor trabalhabilidade; reteno de gua,

    propiciando o tempo adequado hidratao necessria do cimento; aumento da resistncia

    mecnica, por ter menos vazios devido a sua pozolanicidade. Alm disso, diminui o mdulo

    de elasticidade, melhorando a capacidade de deformao e aumenta a capacidade de

    aderncia da pasta no substrato, OLIVEIRA (2004).

    A cal nas argamassas mistas de cimento, cal e areia, propicia: economia, por ser um

    aglomerante mais barato que o cimento; plasticidade; reteno de gua; reaes como

    aglomerante, onde inevitavelmente apresenta incremento razovel da resistncia

    compresso e trao; resistncia fissurao; diminuio de eflorescncia; pequenacapacidade de reconstituio autgena das fissuras, obtendo ganho de resistncias

    mecnicas por conta da carbonatao ocorrente ao longo do tempo; maior resistncia

    penetrao de gua; meio alcalino, alm disso, compatvel com diversos sistemas de

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    pintura e maior durabilidade em funo das propriedades qumicas inseridas, YAZIGI

    (2004).

    As cales so classificadas na NBR 7175 de acordo com as exigncias qumicas e

    fsicas, isto : cal hidratada CH-I; CH-II e CH-III. Verifica-se que a cal CH-I e CH-II tmum desempenho mais relevante na construo civil. A CH-I chega a ter um desempenho

    superior em cerca de 30% com relao CH-III, YAZIGI (2004).

    Basicamente so encontrados dois tipos de cal: a clcica e a dolomtica. A clcica

    mais viscosa, possui maior consistncia com relao a dolomitica. Os parmetros de maior

    relevncia dos aglomerantes so as formas das partculas, tendo em vista a sua influncia na

    compacidade ou rolamento dos gros. Portanto, verifica-se nas cales clcicas aglomerados

    de placas mais angulosos e nas cales dolimticas ou magnesianas partculas em forma de

    flocos, RAGO & CINCOTTO (1997).

    - Proporo entre cimento e cal

    Quanto maior o teor de cimento, maior ser a aderncia trao, todavia no se pode

    dizer o mesmo quanto durabilidade, pela maior condio de se desenvolver fissurao na

    argamassa, CINCOTTO; SILVA & CASCUDO (1995).

    As argamassas mistas de cimento e cal tm uma maior capacidade de extenso de

    aderncia a nvel microscpico. Observa-se que, na interface, sua estrutura mais densa e

    contnua, bem como apresenta diminuio de micro-fissuras nesta regio. Portanto, as

    argamassas mistas base de cimento e cal podem ser consideradas ideais por

    proporcionarem as qualidades complementares dos dois materiais.

    A Figura 2.6 apresenta fotografias obtidas em lupa estereoscpica, onde (a) refere-se

    argamassa 1:3 aplicada sobre bloco cermico; (b) 1:1/4:3, tambm sobre bloco cermico.

    Observa-se em (a), figura da esquerda, uma quantidade de vazios elevada na interface

    (regies mais escuras), enquanto em (b), figura da direita, apenas um vazio, caracterizandoconsequentemente, uma maior extenso de aderncia.

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    Figura 2.6Argamassa aplicada no bloco cermico, CARASEK; CASCUDO &

    SCARTEZINI (2001)

    - Areia

    O desempenho da aderncia influenciado tambm pela areia utilizada na produo

    da argamassa, pois, com o incremento de sua adio, verifica-se uma reduo da aderncia.

    Atribui-se a esse material a responsabilidade do esqueleto indeformvel da massa,

    reduzindo a retrao e, consequentemente contribuindo para a elevao da durabilidade da

    aderncia. Vale destacar que uma areia com uma granulometria contnua agua uma maior

    aderncia, KAMPF, (1963), LAMANA et al. (1970), RENSBURG et al. (1978) e

    LAWRENCE & CAO (1987).As areias mais grossas no contribuem para uma elevada extenso de aderncia, na

    medida em que prejudica a plasticidade e a aplicao, CINCOTTO; SILVA & CASCUDO

    (1995). Contudo ANGELIM (2000) estudou os traos 1:1:6 e 1:2:9 (cimento, cal e areia em

    volume) com dois tipos de areias, finas e muito finas, tendo verificado que as maiores

    resistncias de aderncia foram nas argamassas que continham areia com partculas mais

    grossas. Por sua vez, SCARTEZINI & CARASEK (2003) tambm verificaram a influncia

    positiva na resistncia de aderncia devido ao aumento do tamanho dos gros, haja vista

    possivelmente a maior condio da perda de gua da argamassa para o mesmo substrato

    decorrente da menor quantidade de poros finos no interior da argamassa.

    Areias com alto teor de finos, ou seja, partculas inferiores a 0,075 mm, prejudicam a

    aderncia da argamassa, pois neste caso esse material pulverulento poder penetrar nos

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    poros do substrato, tomando parte do espao fsico, dificultando assim a migrao da gua

    coloidal da argamassa que ancorar nesses poros, ou ainda reduzindo o dimetro dos poros

    mdios da argamassa. Assim a suco do substrato ser prejudicada, com base no princpio

    dos poros ativos do substrato, CARASEK; CASCUDO & SCARTEZINI (2001).Tijolos com reduzida taxa de suco de gua apresentam baixa aderncia, isso

    condicionado a relao areia/aglomerante elevada. Fato inverso ocorre quando a taxa de

    suco alta, GOODWIN & WEST (1980).

    - gua

    Para obter melhores resultados de aderncia, o contedo de gua das argamassas,

    deve ser o mximo possvel compatvel com a trabalhabilidade, garantindo a coeso e a

    adequada plasticidade da argamassa, BOYNTON & GUTSCHICK (1964), GALLEGOS

    (1995) e PEREIRA et al. (1999). Portanto, manter uma relao gua/cimento baixa nas

    argamassas, diferentemente do concreto, no relevante quando se objetiva uma

    satisfatria aderncia. Quando a argamassa no estado fresco entra em contato com o

    substrato poroso, rapidamente perde gua por suco. Desta forma, as argamassas com

    relao gua/cimento entre 0,7 e 2,8 tm-se verificado como adequadas, CINCOTTO;

    SILVA & CASCUDO (1995).

    - Tipo de substrato

    As caractersticas dos substratos influenciam na aderncia da argamassa, pois a

    rugosidade superficial, absoro e a suco inicial de gua dissipada das argamassas

    tornam-se aspectos fundamentais para a aderncia do sistema argamassa-base, CARASEK;

    CASCUDO & SCARTEZINI (2001).

    O item 8.1.4 da NBR 7200:98 diz que a aderncia do revestimento est relacionada

    com o grau de absoro da base, que propicia a microancoragem, e com a rugosidadesuperficial, que contribui para a macroancoragem.

    A norma Americana ASTM estabelece o mtodo de ensaio para o IRA, de tal forma

    que se determina a absoro de gua do bloco aps 1 minuto imerso em uma lmina de

    gua a uma profundidade de 3,2 mm, pelo qual se verifica o grau de suco inicial.

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    Entretanto GALLEGOS (1995) e RIBAR & DUBOVOY (1988) relatam que o IRA pode

    no ser consideravelmente representativo na aderncia das argamassas ao substrato, pois

    este ensaio relaciona a medio da gua livre e no a gua restringida da argamassa, bem

    como mede a suco em apenas um minuto, fato que poder no caracterizar as forascapilares ao longo de um tempo.

    A capacidade de suco inicial dos blocos cermicos no o fator exclusivo de

    influncia na aderncia, tendo em vista que os poros de grandes dimetros, que retiram

    grande quantidade de gua livre das argamassas durante o ensaio do IRA so inoperantes

    frente aos poros no interior da argamassa no estado fresco, SCARTZEINI & CARASEK

    (2003).

    No ensaio do IRA, o bloco de concreto absorve mais gua do que o bloco cermico,

    sendo que ao longo do tempo, essa posio pode ser invertida, permitindo concluir que o

    IRA talvez no seja o melhor parmetro para avaliao do desempenho do revestimento

    frente movimentao de gua da argamassa fresca base absorvente PAES; BAUER &

    CARASEK (2003). Nesta linha, dizem PRADO ROCHA & PEREIRA DE OLIVEIRA

    (1999), que atravs de resultados obtidos em ensaios, a resistncia de aderncia cresce em

    funo do aumento da absoro total capilar do substrato de blocos cermicos.

    A Tabela 2.9 apresenta valores representativos de faixas ideais da taxa inicial de

    suco para ocorrncia de aderncias mximas entre argamassa e substrato.

    Tabela 2.9Recomendao das faixas ideais da taxa inicial de suco para ocorrncia damxima aderncia entre a argamassa e o substrato

    Autores Tipo de blocoanalisado

    Faixa de recomendao da taxaInicial de suco (IRA)

    PALMER & PARSON (1934) Cermico 20 a 30g/200cm /minBritish Ceramic Research

    Association (WEST, 1975)Cermico 10 a 25g/200cm /min

    National Building Research

    InstituteNBRI (1978)

    Slico-calcrio 14 a 35g/200cm /min

    HAN & KISHITANI (1984) Cermico 12 a 22g/200cm /minMCGILEY (1990) Cermico 5 a 15g/200cm /minASTM C-62 (1992) Cermico < 30g/200cm /min

    GROOT & LARBI (1999) Cermico 30 a 50g/200cm /minFonte: CARASEK; CASCUDO & SCARTEZINI (2001)

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    Verificou-se que os blocos de concreto propiciam melhor aderncia com relao aos

    blocos cermicos. Ensaios mostraram valores de at 160% superiores, daqueles sobre esses,

    PEREIRA (2000) e SCARTEZINI (2001). Por sua vez SCARTEZINI & CARASEK (2003)

    dizem que os valores mdios de resistncia de aderncia obtidos sobre bloco cermico sobastante diferentes e inferiores aos obtidos sobre blocos de concreto, haja vista a estrutura

    superficial dos blocos cermicos serem mais densa, compacta e lisa, ao passo que no bloco

    de concreto apresenta-se uma rugosidade adequada ao intertravamento da argamassa.

    A Figura 2.7 mostra a diferena da estrutura superficial observada nos blocos

    cermicos (a) e concreto (b).

    Figura 2.7 - Vista da superfcie dos blocos da alvenaria, atravs de lupaestereoscpica em ampliao de 50 vezes, SCARTEZINI & CARASEK (2003)

    - Preparao do substrato

    Na preparao da base, deve-se observar a limpeza com a remoo de poeira,

    partculas soltas, graxas, leos, desmoldantes; depresses; salincias; entre outros. O pr-

    umedecimento adequado e a aplicao de chapisco parecem ser bastante relevantes para

    melhorar o potencial de aderncia das argamassas mistas, CINCOTTO; SILVA &

    CASCUDO (1995). Entretanto vale destacar que PEREIRA et al. (1999) e SCARTEZINI &

    CARASEK (2003) no observaram influncia significativa na resistncia de aderncia

    decorrente do umedecimento prvio dos substratos de blocos cermicos.

    Deve-se observar que, um aspecto importante para a aderncia a presso imposta

    por parte do operrio, comprimindo a argamassa na parede com a colher de pedreiro,

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    durante a aplicao, uniformizando todo o pano da argamassa, garantindo a melhor

    ancoragem.

    No estado endurecido, observa-se que nas argamassas, a resistncia mecnica refere-

    se a propriedade que estabelece capacidade de resistirem as tenses de compresso, traoou cisalhamento, NAKAKURA & CINCOTTO (2004).

    Nas argamassas base apenas de cimento, este processo resulta das reaes de

    hidratao dos silicatos e aluminatos constituintes no cimento; j nas argamassas que

    contm a cal, outro processo ocorre de forma mais lenta no endurecimento, a carbonatao

    do hidrxido de clcio pela reao do anidro do carbono do ar.

    Nas argamassas base de cimento, a resistncia final influenciada negativamente,

    quando ocorre alta na temperatura, entretanto nas argamassas mistas de cimento, cal e areia,

    essa alta benfica, tanto mais quanto maior for o percentual de cal, seja para as

    resistncias iniciais seja para as finais, inclusive para quaisquer nveis de umidade e perodo

    de cura, CEBECI et al. (1989).

    O trao das argamassas influencia na resistncia mecnica, de tal forma que a

    resistncia trao e compresso evolui com limitadas adies de cal. Porm quando esse

    volume cresce significativamente, a resistncia compresso e o mdulo de elasticidade

    decresce. Quanto maior o teor de cimento, maior ser a resistncia compresso, trao e

    rigidez, QUARCIONI & CINCOTTO (2005), e, quanto maior for a relao gua/cimento,

    menor ser a resistncia compresso e trao das argamassas convencionais mistas de

    cimento, cal e areia, SILVA; LIBRIO & SILVA R. (1999) e PEREIRA et al. (1999).

    A movimentao higroscpica (movimentao da gua ou umidade no interior dos

    materiais) deve trazer baila estudos de relevada importncia, haja vista agregar

    solicitaes indesejadas, pois provoca um diferencial volumtrico no material. Na mesma

    ordem, observa-se que variaes trmicas so danosas pelo mesmo motivo (variao

    dimensional).Sobre as argamassas de assentamento, BARBOSA; HANAI & BARBO (2005)

    relataram que a resistncia compresso e sua deformabilidade influenciam

    substancialmente no comportamento da alvenaria. O confinamento imposto s argamassas

    de assentamento na alvenaria provoca um estado triaxial de tenses de compresso.

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    Todavia, quando se analisam as argamassas em corpos-de-prova padronizados, observa-se

    que o elemento fica em um estado apenas uniaxial resultando, nos ensaios, em valores

    menos significativos que as resistncias das argamassas em estado de servio na alvenaria,

    SABBATINI (1984) e MOHAMAD et al. (2002).A resistncia mecnica e a capacidade de absorver deformaes so inversamente

    proporcionais, pois a medida de deformabilidade do material (), para um mesmo

    carregamento (), tanto menor quanto maior for a sua capacidade de resistncia, JUST

    (2001). Portanto, tem-se que:

    = / E.

    onde:

    - Deformao unitria (mm/m).

    - Tenso (MPa).

    EMdulo de Deformao (GPa).

    O alto consumo de cimento incrementa a resistncia mecnica, porm isso pode no

    indicar um satisfatrio desempenho do revestimento, tendo em vista a possvel implicao

    de ocorrncia de fissuras de extenso indesejada, SABBATINI et al. (1989).

    Por sua vez, quanto menor for a resistncia compresso das argamassas, menores

    sero as resistncias de aderncia, CANDIA & FRANCO (1998).

    Na Tabela 2.10, algumas propriedades das argamassas citadas pela ASTM C 270 tais

    como a resistncia compresso, a reteno de gua e ar incorporado, so apresentadas.

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    Tabela 2.10Propriedades de argamassas preparadas em laboratrio ASTM C 270-82

    Argamassa

    Tipo

    Mnimo de resistncia compresso

    Aos 28 diasCorpos-de-Prova:

    Ret./gua%

    Ar.Incorp.%Mx.

    Psi MPa Kgf/cm Psi MPa Kgf/cm

    Cimento/cal M 2.500 17,2 172 2.125 14,6 146 75 12

    S 1.800 12,4 124 1.530 10,5 105 75 12

    N 750 5,2 52 638 4,4 44 75 14

    O 350 2,4 24 298 2,0 20 75 14

    Fonte: FIORITO (1994)

    O mdulo de elasticidade torna-se relevante nas argamassas de assentamento, pois a

    capacidade de absorver eventuais movimentaes da alvenaria possivelmente o principal

    aspecto. Portanto, a capacidade de absorver deformaes est relacionada ao mdulo de

    deformao da argamassa: quanto menor o mdulo de deformao (menor teor de cimento),

    maior a capacidade de absorver deformaes, NAKAKURA & CINCOTTO (2004).

    Diversos so os procedimentos para se determinar o mdulo de deformao dasargamassas. O procedimento apresentado pelo CSTB determina resultados do ensaio,

    medindo, por freqncia de ressonncia, o mdulo de deformao dinmico, NAKAKURA

    & CINCOTTO (2004).

    As fissuras oriundas das tenses de trao, resultantes da retrao por secagem,

    trmica, ou ainda de fatores externos s argamassas, podem tornar-se danosas caso ocorram

    sistematicamente.

    Esta propriedade apresenta uma variabilidade considerada, pois depende de diversos

    fatores associados sua composio. FIORITO (1994) apresenta alguns valores

    referenciais:

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    - Argamassas ricas e rgidas

    EA= 140.000 kgf / cm2= 14 GPa

    - Argamassas mais elsticasEA= 50.000 kgf / cm

    2= 5 GPa

    - Argamassas extremamente elsticas

    EA= 10.500 kgf / cm2= 1,05 GPa.

    Contextualizando os aspectos das argamassas, pode-se verificar que a retrao seja a

    propriedade de uma relevncia direta quanto estanqueidade e durabilidade nas

    argamassas. Sabe-se que a retrao resulta de um complexo mecanismo relacionado ao

    processo de variao de umidade da pasta aglomerante, onde a suco da base, temperatura,

    incidncia solar, umidade e velocidade do ar so aspectos determinantes no processo dessa

    retrao.

    So fatores que influenciam a retrao: a cura, atravs da velocidade de evaporao; a

    umidade, que influi nas reaes de hidratao e carbonatao, e, elevadas temperaturas,

    que, nas primeiras horas determina ao sobre o endurecimento, possibilitando uma

    inadequada acomodao das tenses, propiciando aparecimento de fissuras precoces,

    CINCOTTO; SILVA & CASCUDO (1995).

    A aderncia e a retrao so as principais propriedades das argamassas de

    revestimentos, dependem dos materiais e das condies ambientais, como sol e vento,

    DETRICHE apud THOMAZ (2001). Pode-se dizer referente perda de gua de

    amassamento das argamassas, tanto para a base como para o ambiente, que:

    - a perda de gua regida pela capacidade de reteno do aglomerante e, pela quantidade

    de areia, visto ser essa ltima diretamente proporcional gua evaporada;- quanto maior a espessura da camada de revestimento, menor a perda de gua evaporada;

    - a absoro inicial da base o principal fator de secagem das argamassas, da a

    necessidade do ensaio IRA, pois se sabe que a suco da base e a aderncia se relacionam

    de forma proporcional;

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    - quanto maior o consumo de cimento no trao da argamassa, maior ser a retrao;

    - a absoro da base tambm funo da sua geometria. Quanto menor for a espessura do

    revestimento da parede, menor ser o volume de poros capilares absorvendo gua de

    amassamento, consequentemente menor a quantidade de gua absorvida;- o processo de secagem e cura estabelece elevada influncia nas propriedades fsicas e

    mecnicas das argamassas, tanto nas primeiras idades como nas idades mais avanadas.

    A retrao consiste na variao de volume na argamassa pela sada da gua adsorvida

    (superfcie do gel) e intersticial (entre cristais) no ato do processo de secagem,

    KOPSCHITZ et al. (1997). As fissuras ocasionadas pela retrao so preponderantemente

    verificadas em argamassas ricas e espessas, de tal maneira que esta retrao provoca uma

    perda de peso na ordem de 10%.

    Algumas consideraes sobre retrao, em carter resumido, so apresentadas por

    FIORITO (1994):

    - para uma umidade relativa maior, a retrao diminui e vice-versa;

    - para todas as argamassas e para a pasta de cimento, a retrao aos sete dias de idade de

    65 a 80% da retrao aos 28 dias com secagem o ar;

    - a retrao aos 28 dias em argamassas seca ao ar cerca de 50% a 60% da retrao total;

    - quando as argamassas em geral so secas ao ar, observa-se aos 28 dias uma retrao na

    ordem de 0,0006 mm/mm.

    As movimentaes ocorridas nas argamassas so reversveis ou irreversveis por

    conta da perda de gua. As reversveis funo da absoro do substrato e as irreversveis,

    do processo de secagem. Sabe-se que os movimentos irreversveis so resultantes da

    evaporao da gua de amassamento, fato gerador de tenso de trao e de reaes

    qumicas na hidratao do cimento.

    A Figura 2.8 apresenta a movimentao da gua nos dois processos observados no

    concreto, que se entende ser similar aos revestimentos base de cimento.

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    Figura 2.8Ilustrao de movimentos de gua reversveis e irreversveis em substrato,

    CINCOTTO; SILVA & CASCUDO (1995)

    O agregado estabelece influncia na inibio da retrao, pois quanto maiores forem

    os vazios, maior dever ser o teor de pasta e consequentemente o potencial de retrao. A

    retrao por hidratao potencialmente maior que a retrao por carbonatao,

    SABABBATINI (1984).

    A cal age provocando na diminuio da retrao pela sua capacidade de reteno da

    gua. Portanto, se o teor de gua da argamassa for aumentado, o volume da pasta aumenta,

    possibilitando a elevao do potencial de retrao.

    Entende-se como relevante, no contexto da execuo de revestimentos de argamassa,

    o resguardo de no mnimo sete dias para a execuo de alguma camada sobre camadas

    subseqentes, objetivando as estabilidades dimensionais do conjunto, evitando-se tenses

    de retrao danosa ao sistema.

    No que concerne s argamassas ricas, ou muito ricas, por terem elevado mdulo de

    elasticidade, deformam-se menos, implicando assim a permanncia das tenses de trao

    elevadas. Observa-se que as tenses de trao atuante nas argamassas muito ricas so da

    ordem de nove a doze vezes maiores do que as atuantes nas argamassas mais elsticas. Porconseguinte, nas argamassas muito ricas, a influncia da retrao impe tenses de trao

    prejudiciais e causadoras de fissuras ou trincas, com conseqncias patolgicas,

    provocando possveis descolamentos, FIORITO (1994).

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    Pode-se dizer, quanto evoluo das tenses de retrao nos revestimentos em

    argamassa, que medida que a argamassa vai secando, retrai-se, surgindo tenses

    ascendentes na mesma camada e no seu suporte, de maneira que essas tenses de trao

    faro com que ela sofra deformaes de sentido contrrio ao da retrao durante a secagembem maior do que quando j endurecida, uma vez que seu mdulo de elasticidade inferior

    ao valor final.

    Na Figura 2.9, mostrado o grfico referente trao na argamassa com o decorrer

    do tempo.

    Figura 2.9Comportamento das tenses nas argamassas, FIORITO (1994)

    As argamassas com baixo mdulo de elasticidade apresentam vantagem sobre as mais

    ricas e mais espessas, pois sua deformao lenta tender a neutralizar os efeitos da retrao,

    e conseqentemente as tenses reduzem consideravelmente, no mais afetando a qualidade

    do revestimento. As fissuras advindas de retrao nos revestimentos de argamassa funo

    do mdulo de deformao do revestimento, onde desejvel que esse mdulo supere

    substancialmente, se possvel, o mdulo de deformao da parede, FIORITO (1994).

    A incidncia da retrao diretamente proporcional ao mdulo de deformao das

    argamassas. A utilizao da cal nas argamassas proporciona os benefcios necessrios na

    inibio da retrao. Portanto, os traos 1:1:6, 1:2:9, 1:2,5:10 e 1:3:12 (cimento, cal e areia)

    foram verificados como os mais adequados, YAZIGI (2004).

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    Foi verificado, em ensaios realizados com argamassa mista de trao 1:1:6 em volume

    variando o teor de cal, que o aumento deste teor corresponde ao aumento da retrao,

    principalmente da segunda retrao (estado endurecido), tendo em vista sua capacidade de

    reteno de gua no ser suficiente frente a outros fatores, tais como maior deformabilidadeda argamassa, devido diminuio do teor de cimento e dos espaos entre partculas

    slidas, decorrente da elevada finura da cal, BASTOS & CINCOTTO (2001).

    Verificou-se, em ensaios com argamassa aplicada em blocos cermicos com

    diferentes teores de saturao, que o pr-umedecimento do substrato exerce grande

    influncia na diminuio da retrao nas primeiras horas de contato da argamassa com a

    base, BASTOS & CINCOTTO (2001).

    A Figura 2.10 explana a retrao em base de blocos cermicos com diferentes teores

    de umidade.

    Figura 2.10 - Retrao da argamassa com trao 1:1:6 aplicada sobre bloco cermico comtrs teores de umidade, BASTOS & CINCOTTO (2001)

    O trao 1:1:6 e 1:2:9 (cimento, cal e areia) em volume para argamassas de

    revestimento numa proporo aglomerante/agregado de 1:3, adequado, quando se objetiva

    a maior durabilidade possvel, CARNEIRO (1999).

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    Materiais pulverulentos e impurezas orgnicas presentes nas areias favorecem as

    fissuras de retrao. No obstante, a deformabilidade da argamassa determina a maior ou

    menor fissurao nas primeiras idades do revestimento, YAZIGI (2004).

    A aderncia uma propriedade relevante para as argamassas, especificamente no queconcerne ao desempenho e durabilidade. Essa certeza leva necessidade de se trazer tona

    as investigaes da resistncia de aderncia trao, sabendo que as investigaes referem-

    se obteno da mxima tenso que um corpo-de-prova de revestimento suporta uma vez

    submetido a um esforo normal ao mesmo. Aderncia a representao do conjunto de

    foras estabelecidas entre duas superfcies de contato, atravs de fenmenos fsicos e

    qumicos denominados de adeso. A adeso caracterizada por um estado da superfcie de

    dois ou mais corpos que so mantidos unidos por foras interfaciais, GRANDI (1989).

    A Tabela 2.11 mostra valores mnimos de aderncia, segundo NBR 13749.

    Tabela 2.11 - Valores da resistncia de aderncia

    Local Acabamento Ra

    Parede Interna Pintura ou base para reboco 0,20

    Cermica ou laminado 0,30

    Externa Pintura ou base para reboco 0,30

    Cermica 0,30

    Teto 0,20

    Fonte: CARVALHO JR; BRANDO & FREITAS (2005)

    Observa-se em particular que, os resultados de ensaios de resistncia de aderncia

    apresentam coeficiente de variao da ordem de 35%, CINCOTO; SILVA & CASCUDO

    (1995).

    A Figura 2.11 mostra os tipos de ruptura no ensaio de trao do revestimento. Afigura 2.11-a representa mais adequadamente a resistncia de aderncia entre

    argamassa/substrato; nos casos (b, c e d), os resultados reais no mnimo o resultado do

    ensaio, j o caso (e) demonstra imperfeio na colagem da pastilha e, portanto, deve ser

    desprezado.

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    (a)Ruptura na interface argamassa/substrato

    (b)Ruptura no interior da argamassa de revestimento

    (c)

    Ruptura do substrato(d)Ruptura na interface revestimento/cola

    (e)Ruptura na interface cola adesiva/pastilha

    Figura 2.11Tipos de ruptura no ensaio de determinao da resistncia de aderncia

    trao de revestimento, CINCOTTO; SILVA & CASCUDO (1995)

    Observam-se alguns aspectos influenciadores da aderncia devido s condies da

    base, tais como: porosidade e absoro de gua; resistncia mecnica; textura superficial

    bem como a execuo propriamente dita do revestimento, uma vez que o assentamento

    deve ser homogneo e sem descontinuidade, YAZIGI (2004).

    A natureza dos aglomerantes tambm estabelece influncia na aderncia. Verificou-

    se, nas argamassas que contm as cales dolomticas em lugar das clcicas, maiores

    resistncias de aderncia trao, na medida em que imprimem um melhor preenchimento

    das imperfeies da base, devido sua plasticidade e reteno de gua, CINCOTTO;

    SILVA & CASCUDO (1995). Todavia, as cales clcicas impem s argamassas maior

    resistncia compresso, trao e mdulo de elasticidade com relao s argamassas comcales dolomticas, QUARCIONI & CINCOTTO (2005).

    Ao contrrio da retrao, a aderncia influenciada positivamente pela granulometria

    fina do agregado, CINCOTTO; SILVA & CASCUDO (1995).

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    Com relao evoluo dessa propriedade ao longo do tempo, CARASEK &

    SCARTEZINI (1999) verificaram, em ensaios realizados, que os revestimentos aplicados

    sobre dois tipos de blocos cermicos (seco e umedecido) apresentaram comportamento

    similar, com altas de resistncia nas idades 7 e 14 dias. Aps essas idades, ocorre umaqueda da resistncia at os 23 dias, mantendo-se ao longo do tempo (12 meses). Essa

    diminuio poderia ser explicada pela retrao da argamassa de revestimento, uma vez que

    tenses na interface, geradas pela retrao, prejudicam sua ligao ao substrato.

    Por sua vez, a permeabilidade caracterizada pela passagem de gua nas argamassas

    no estado endurecido atravs de infiltrao sob presso, capilaridade ou difuso de vapor de

    gua.

    Essa propriedade influenciada pelas caractersticas da base, pela granulometria do

    agregado e pela natureza e teor dos aglomerantes, pois as argamassas base de cimento so

    menos permeveis, sabendo-se que a permeabilidade inversamente proporcional ao teor

    de cimento e diretamente proporcional relao gua/aglomerantes, CINCOTTO; SILVA

    & CASCUDO (1995).

    A permeabilidade tambm influenciada pelos poros capilares e pelas bolhas de ar

    incorporado, que chegam a medir at 3 mm. Os capilares so espaos ainda no

    preenchidos pelos compostos hidratados do aglomerante, pois, ao longo do tempo, com o

    desenvolvimento da hidratao, maior ser o grau de endurecimento das argamassas, e mais

    baixa a sua permeabilidade. Sabe-se que a interligao dos poros capilares que contribui

    para o deslocamento de fluidos, caracterizando uma alta permeabilidade, independente do

    grau de porosidade e vice-versa, MLLER & BCHER apud NAKAKURA &

    CINCOTTO (2004).

    O CSTC Centre Scientifique et Technique de la Construction - prope um ensaio

    para avaliao da permeabilidade gua dos revestimentos nas paredes, bem como a

    absoro de gua do revestimento. O conhecido Mtodo do Cachimbo sinteticamente

    pode ser apresentado como um ensaio que se baseia em fixar um tubo padronizado de vidro

    com formato em L, graduado em dcimos de mililitro. Sua borda circular fixada com

    selante no revestimento e preenchida com gua at a referncia (observa-se que a presso

    inicial sobre uma pequena rea da parede (5,31 cm2), de 92 mm de coluna de gua, simula

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    uma ao esttica do vento com velocidade de 140 Km/h). Por fim, efetua-se a cada 5

    minutos a leitura da diminuio do nvel de gua em cm3, at que o nvel da gua atinja a

    marca de 4 cm3 ou se completem 15 minutos de ensaio.

    ALMEIDA & CARASEK (2003) justificam ainda que o ensaio de permeabilidadepelo mtodo do cachimbo um procedimento simples de rpida execuo, pode ser

    realizado em laboratrio e campo, apresenta um custo baixo e o ensaio no destrutivo.

    A Figura 2.12 mostra o sistema de ensaio de absoro pelo mtodo do cachimbo.

    Figura 2.12Cachimbo fixado parede para o ensaio de permeabilidade, ALMEIDA &

    CARASEK (2003)

    A penetrao da umidade uma das principais causas de patologias (deteriorao)dos revestimentos de argamassa, de tal forma que o estudo da absoro de gua torna-se

    preponderante para anlise de sua durabilidade, ALMEIDA & CARASEK (2003).

    A baixa permeabilidade do revestimento pode ser verificada na medida em que se

    observem: argamassas com baixa capilaridade e boa densidade, trao rico em aglomerantes,

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    forte energia de aplicao e execuo de camadas suficientemente espessas. A proteo

    penetrao de gua na interface revestimento/base, evita, entre outros danos, a dissoluo

    de sulfatos presentes no material de revestimento ou nos poluentes da atmosfera,

    CARASEK (1996).Em servio, a durabilidade uma condio importante, no se tratando de uma

    propriedade, mas do produto de um conjunto de vrias propriedades bem como de aes

    externas que caracterizam o desempenho da argamassa em sua vida til. So aspectos que

    degradam e comprometem a durabilidade das argamassas: agresses qumicas, fsicas ou

    mecnicas. No se pode falar de durabilidade sem ressaltar o desempenho, pois

    desempenho comportamental versus tempo estabelece essencialmente a vida til do

    material, KOPSCHITZ et al. (1997).

    Aspectos possveis de degradao das argamassas de revestimentos, segundo ASTM,

    so apresentados a seguir, CINCOTTO; SILVA & CASCUDO (1995):

    Fatores atmosfricos- Radiao

    solar nuclear trmica

    - Temperatura

    elevao

    depresso ciclos

    - gua slida (neve, gelo) lquida (chuva, condensao, gua estagnada)

    - Constituintes normais do ar- gases (xidos de nitrognio e enxofre)- neblinas (partculas finas em suspenso, sais cidos, lcalis dissolvidos na gua)- partculas (areia, poeira, impurezas)- Vento

    Fatores biolgicos- Microorganismos- Fungos- Bactrias

    Fatores de carga (estresse)

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    - Esforo de sustentao contnua- Esforo peridico- Esforo randmico- Ao fsica da gua como chuva, granizo e neve

    - Ao fsica do vento- Combinao da ao fsica do vento e da gua- Movimento de outros agentes, como veculos

    Fatores de incompatibilidade- Qumicos- Fsicos

    Fatores de uso- Procedimento de instalao e manuteno- Desgaste por uso normal- Abuso no uso

    2.1.4Aspectos conclusivos das argamassas

    Pode-se inferir que as argamassas tm funes especficas, tais como: ligao dos

    elementos das alvenarias; revestimento final do emboo e reboco em paredes e forros;

    camada de base e contra-piso, para aderncia de revestimentos; camada de regularizao,

    de proteo e ou suporte para impermeabilizaes, isolamento trmico e acstico;

    chumbamentos em geral, entre outras.Sublinha-se como relevante nas argamassas: o mdulo de elasticidade; a utilizao de

    teor moderado de cimento, ou argamassas mistas; utilizao de uma menor espessura

    possvel, para casos de traos com alto teor de cimento e o tempo de cura adequado, e,

    utilizao das argamassas em servio em idade mnima de sete dias, uma vez que a

    estabilidade dimensional alcana aproximadamente 70 %.

    Por fim, deve-se combater a eflorescncia, pois essa patologia extremamente

    degenerativa nas argamassas. entendida como o resultado da formao de manchas

    normalmente esbranquiadas que ocorrem pelo trnsito da gua que carreia sal do meio

    poroso, seja por capilaridade (absoro) ou presso (permeabilidade).

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    2.2Alvenaria

    2.2.1 - Consideraes iniciais

    Neste tpico sero apresentadas questes gerais concernentes alvenaria propostanesta pesquisa, ou seja, a dos edifcios tipo caixo, construdos com blocos de vedao,

    com funo estrutural, assentados com os furos na horizontal, Figuras 2.13 (a) e 2.13 (b).

    Figura 2.13 (a) - Alvenaria de elevao com funo estrutural similar dos edifcios tipo

    caixo

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