UFT/COPESE Vestibular 2014/1 · uft/copese processo seletivo vestibular
INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA...
Transcript of INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA...
1
Venceslina Francisco da Cunha
INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA INVESTIGAÇÃO
NECESSÁRIA
ARRAIAS
2011
2
SUMÁRIO
Introdução.................................................................................................................. 03
1. Direito a educação princípio de cidadania............................................................. 04
1.1 Discutindo a indisciplina...................................................................................... 06
1.2 O papel da escola diante da indisciplina dos alunos – O que dizem os sujeitos.. 08
1.3 Para minimizar a indisciplina: Sugestões e Possibilidades.................................. 10
2. Metodologia – Rumos da pesquisa........................................................................ 13
3. Análise das ações desenvolvidas e Resultados.................................................... 14
3.1. As respostas dos alunos..................................................................................... 14
3.2. As respostas dos professores............................................................................. 15
Considerações........................................................................................................... 18
Referências Bibliográficas......................................................................................... 19
3
INTRODUÇÃO
O problema da indisciplina nas escolas brasileiras é uma temática que
necessita ser estudada e debatida, vez que a mesma representa um fenômeno
complexo onde, nos últimos anos, o descumprimento das normas mais simples de
convivência tem se transformado em práticas que agridem a dignidade humana.
Percebe-se que a mídia brasileira, atualmente, tem mostrado não só atos de
violência nas escolas internacionais como também, educadores e alunos brasileiros
têm sido vítimas de agressões no ambiente escolar. Nenhuma escola hoje está livre
dessa realidade, pois o mundo atual é carregado de conflitos interpessoais, nacionais
e globais e os problemas da sociedade têm uma reflexão direta no ambiente escolar.
Dessa forma, vivenciando o cotidiano da Escola Estadual Brigadeiro Felipe,
durante quase vinte anos de trabalho, observa-se que a indisciplina de alunos, nos
últimos anos, tem se tornado um problema crescente que dificulta o bom andamento
do processo ensino e aprendizagem em algumas turmas. Constata- se no livro de
Atas de Advertências da Unidade Escolar, registros de conflitos interpessoais com
agressões físicas e verbais de alunos x alunos, de alunos x educadores quase que
diários.
Com a finalidade de descobrir e combater o fatores que causam
comportamentos e atitudes inadequadas no ambiente de ensino, nasceu o projeto
de intervenção: Indisciplina no Cotidiano Escolar: Uma Investigação Necessária, que
tem como objetivo geral intervir no dia a dia da escola com o intuito de conscientizar
educadores, alunos, pais e comunidade quanto à importância de sua participação
efetiva na escola e juntos buscar alternativas para minimizar os comportamentos
inadequados que levam a indisciplina.
Tem como objetivos específicos: identificar as causas que contribuem para a
indisciplina na escola; conscientizar os alunos sobre a importância dos estudos como
via para o crescimento pessoal e profissional; oportunizar aos educadores uma
reflexão de suas práticas educacionais, com vistas á mudança; envolver os pais na
educação dos filhos, dividindo responsabilidades e propor alternativas ao aluno e ao
professor para amenizar o desrespeito ao próximo, ao bem público e a si mesmo.
4
O referido projeto foi desenvolvido na Escola Estadual Brigadeiro Felipe, em
Arraias TO, com início no mês de março e término em outubro de 2011. Foram
desenvolvidas ações com os alunos de todas as turmas e séries, pais e educadores
da Escola. Inicialmente, o projeto foi apresentado à equipe pedagógica e
administrativa da Unidade Escolar, a fim de buscar a parceria dos mesmos no
desenvolvimento das ações planejadas.
Em seguida, foram aplicados os instrumentos de pesquisa (questionários
impressos com perguntas abertas) aos professores e alunos, com o objetivo de
descobrir como estes percebem o problema da indisciplina no ambiente escolar e o
que fazer para superá-la. Paralelamente a esse trabalho foram articuladas e
desenvolvidas pela coordenação pedagógica em parceria com os servidores da
escola ações interventivas, para alunos, para professores e pais com o intuito de
amenizar o desrespeito com o próximo, a bagunça em sala de aula, as brigas entre
colegas, a destruição do patrimônio escolar.
Este projeto não atingiu o resultado esperado, uma vez que foi um ano em
que muitos profissionais da educação que prestavam serviço em regime de contrato
temporário/nomeação foram substituídos por novos servidores concursados, houve
ainda, uma remoção de educadores para outras instituições de ensino, havendo com
isso uma quebra do trabalho iniciado. Porém, considerando a relevância das ações
planejadas, esta experiência deve ser retomada nos anos vindouros, a fim de
melhorar as relações interpessoais dos sujeitos com seus pares, onde se instaure os
valores, as atitudes e as relações sociais.
1. Direito à educação - princípio de cidadania
Sabe-se que direitos são conquistas coletivas e o fato de estarem no papel
nem sempre é garantia de que serão concretizados, uma vez que é necessária ação
conjunta da sociedade e do Estado, a fim de fazer valer o que está escrito no papel
na forma da lei.
5
Assim, o direito à educação, bem como os outros direitos humanos, é uma
conquista histórica da humanidade resultante de conflitos, lutas e acordos, cujo
reconhecimento e oficialização vêm se processando de modo gradual, de acordo as
especificações de cada país.
O artigo XXVI da Declaração Universal dos Direitos Humanos, diz que “toda
pessoa tem direito à instrução e esta será gratuita pelo menos nos graus elementares
e fundamentais...” Assim, a partir de 1948, o direito à educação passou a ser
entendido como direito internacional e a ONU tem zelado pela reafirmação desse
direito, surgindo com isso, diversas iniciativas mundiais voltadas para a luta do
cumprimento do direito à educação, pois se considera que a pessoa que passa
pela educação escolar, tem maior probabilidade de ser um cidadão que tem melhores
condições de se realizar e defender os outros direitos, como: saúde, habitação, meio
ambiente, trabalho, lazer enfim, vida digna.
O Brasil tem participado das inúmeras iniciativas de respeito ao direito de
todos à educação e após a quebra do regime militar, com a redemocratização do
país e com a aprovação da Constituição Federal de 1988, oficializou-se os direitos
humanos. Sendo com isso, a primeira constituição federal do Brasil a determinar que
os direitos sociais são direitos fundamentais ao ser humano. Na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional-Lei nº 9394/96, no Estatuto da Criança e do
Adolescente - ECA são destinados capítulos e artigos que encaminham para o
alcance desses direito.
A Constituição Federal (1988), no seu artigo 227 institui como dever da
família, da sociedade e do estado à garantia à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, dentre outros direitos, à educação. Ainda na Constituição
Federal no artigo 205 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei
nº 9394/96, no seu artigo 2º estabelece que a educação tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania.
As escolas públicas de trinta, quarenta anos atrás, tinham como objetivo o
preparo para o exercício da cidadania. No entanto, a cidadania a que se almejava na
época era restrita apenas à participação política através do voto, pretexto para a
alfabetização. A partir da publicação da Constituição, esse tipo de alfabetização não
mais vigorou, já que o voto para o analfabeto passou a ser facultativo. Assim, o
sentido de cidadania, nos dias atuais, é mais amplo, pois requer um cidadão que
6
conheça, lute por seus direitos e também seja consciente de suas obrigações e de
seus deveres.
Com a missão de cumprir os propósitos da Constituição e da Lei nº 9394/96,
no que se refere aos direitos e deveres da criança e do adolescente, criou-se o ECA
(Estatuto da Criança e do Adolescente) que normatiza em seu artigo 53- o direito à
educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa e o preparo para o
exercício da cidadania. Este é um dos principais objetivos da escola atual, que, de
acordo Taille (1996) é necessário:
Lembrar e fazer lembrar em alto e bom tom, a seus alunos e a sociedade como um todo, que sua finalidade principal é a preparação para o exercício da cidadania. E, para ser cidadão, são necessários sólidos conhecimentos, memória, respeito pelo espaço público, um conjunto mínimo de normas de relações interpessoais, e diálogo franco entre olhares éticos. (TAILLE p.23, 1996)
Segundo Perrenoud (2000, p. 142) para ensinar a educação para cidadania é
preciso que se criem situações que facilitem verdadeiras aprendizagens, tomadas de
consciência, construção de valores, de uma identidade moral e cívica.
Atualmente, percebe-se no dia-a-dia da escola que o aluno é mais ciente de
seus direitos do que dos seus deveres, descumprindo normas de convivência e bem
estar social, fator que acaba gerando a indisciplina. Portanto, é papel da escola
contribuir para que o aluno tenha conhecimento de seus direitos, busque o
cumprimento dos mesmos quando se julgar prejudicado e também reconheça seus
deveres, sabendo respeitar normas as quais contribuirão para sua formação.
1.1 - Discutindo a indisciplina.
O conceito de indisciplina é bastante amplo e depende do contexto a que se
refere. O dicionário Aurélio conceitua disciplina como: regime de ordem imposta ou
livremente consentida; ordem que convém ao funcionamento regular
duma organização (militar, escolar, etc.); relações de subordinação do aluno ao
7
mestre ou instrutor; observância de preceitos e normas; submissão a um
regulamento. Já a disciplina é conceituada como procedimento, ato ou dito contrário à
disciplina; desobediência; desordem; rebelião.
O conceito de indisciplina é extremamente amplo e vago. Algumas regras, em geral, estão especificadas nos regimentos escolares, mas no cotidiano das classes são os professores que, com seus diferentes estilos e formas de organização do trabalho, delimitam o que é considerado ou não indisciplina. O mesmo acontece frequentemente nos pátios do recreio, nos quais inspetores de alunos e outros funcionários podem definir quais são os comportamentos aceitos ou não. (Carvalho, 2003).
Após estas definições verifica-se a complexidade do tema em estudo, vez que
várias são as variáveis que influenciam o processo ensino e aprendizagem, Tiba
(1996) define disciplina como:
(O) conjunto de regras éticas para se atingir um objetivo. A ética é entendida, aqui, como o critério qualitativo do comportamento humano envolvendo e preservando o respeito ao bem estar biopsicossocial. (TIBA p.117, 1996)
O autor aponta ainda três fatores que causam a indisciplina na escola: as
características pessoais do aluno (distúrbios psiquiátricos, neurológicos de
personalidade, neuróticos, deficiência mental); características relacionais (distúrbios
entre os próprios colegas, distorções de autoestima) e distúrbios e desmandos de
professores.
Já Taille (1996, p. 23) esclarece que:
Se entendermos por disciplina comportamentos regidos por um conjunto de normas, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: 1) a revolta contra estas normas; 2) o desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina traduz-se por uma forma de desobediência insolente; no segundo, pelo caos dos comportamentos, pela desorganização das relações. (TAILLE, 1996)
Dessa forma, esta definição se aproxima melhor da indisciplina vivenciada nas
escolas, uma vez que há um descumprimento das normas instituídas pela escola, o
que é evidenciado através do desrespeito ao próximo e a própria instituição de
ensino. Essas atitudes influenciam de forma negativa o bom andamento do
8
processo ensino-aprend i zagem e como disse Vasconcellos (2000), sem
disciplina não se pode fazer nenhum trabalho pedagógico significativo.
1.2 - O papel da escola diante da indisciplina de seus alunos - O que dizem
educadores e alunos
A indisciplina nas escolas tem sido vista como um problema, um desvio das
normas disseminadas nos sistemas escolares, que prejudica a prática educativa.
Associada a desordem, ao desrespeito as regras de conduta e a falta de limites, esta
é frequentemente, centralizada no aluno.
Para Antunes (2002)
A origem dos comportamentos ditos indisciplinares pode estar em diversos fatores: ligados às questões relacionadas ao professor, principalmente na gestão de sala de aula; outros centrados nas famílias dos alunos ou nos próprios alunos; no processo pedagógico escolar e ainda outros alheios ao contexto escolar. (ANTUNES 2002)
Já segundo Vasconcellos (2000), as causas da indisciplina podem ser
encontradas em cinco grandes níveis: sociedade, família, escola, professor e aluno.
No entanto, o autor faz uma advertência para que não tomemos estes fatores
isolados um do outro, pois ambos estão profundamente entrelaçados.
Ao responderem um questionário sobre a indisciplina na Escola Estadual
Brigadeiro Felipe, alguns professores dessa escola evidenciaram como geradores da
indisciplina fatores familiares (falta de acompanhamento de muitos pais na vida
escolar do filho, desestrutura familiar, falta de limites e/ou proteção excessiva);
ausência de valores sociais e fatores escolares (não aplicação do regimento escolar,
desorganização do espaço físico da sala de aula, falta de autoridade do professor,
planejamento ineficaz das aulas/metodologia desinteressante.
9
Na visão dos alunos a indisciplina está associada à falta de cumprimento das
normas da escola pelos próprios discentes, falta de interesse e responsabilidade e
inexistência de valores que são aprendidos no seio familiar.
Diante dessas colocações, é fundamental que a escola se aproprie de uma
postura transformadora que atenda aos anseios de sua comunidade por uma
educação que trabalhe o ser humano na sua totalidade.
Nesse sentido Nunes (2011. p 33. apud Fernandez 2005) afirma que:
A escola precisa ensinar para a vida, e isso pressupõe preparar as crianças e jovens com um conjunto de habilidades sociais e de instrumentos necessários para que possam desenvolver uma equilibrada autoestima, tomar decisões responsáveis, relacionar-se adequadamente com os demais, resolver conflitos de forma positiva e adequada, entre outros (FERNANDEZ, 2005).
Nessa perspectiva, a escola precisa estar preparada para, além do seu papel
de promotora do conhecimento, preparar o aluno para a vida através de valores e
princípios éticos que conduzem ao exercício consciente da cidadania, isto é, a escola
tem o compromisso de, além de transferir o saber sistematizado, necessita
desenvolver no aluno um conjunto de habilidades que possam dar sustentação às
suas decisões na resolução dos conflitos, adequando o seu trabalho às
necessidades da criança, da família e da comunidade.
Dessa forma Feijó (2008) expõe qual é o papel da escola atual:
A escola do século 21 não poderá se restringir à transferência de informação e a educação pedagógica dos alunos. A sociedade espera muito mais do que isso; anseia por uma escola capacitada a oferecer aos seus filhos uma educação completa, na qual os fatores sociais estejam presentes em seu currículo. (FEIJÓ 2008)
Percebe-se, na escola pesquisada, que um dos grandes desafios da sua
equipe, além da aprendizagem significativa tem sido possibilitar a esses alunos a
capacidade de se relacionarem bem com eles próprios, com os outros e com o
mundo. Entretanto, os comportamentos inadequados dos discentes representam um
grande obstáculo que tem dificultado o bom andamento do processo ensino e
aprendizagem e traz a seguinte preocupação dos educadores “Se esses
10
comportamentos não forem combatidos com urgência, corre-se o risco de
transformarem em violências maiores e que achamos que só acontecem nos grandes
centros urbanos”.
Para Perrenoud (2000), é competência do professor enfrentar os deveres e os
dilemas éticos da profissão. Nesse sentido, o autor defende a importância do
educador:
Prevenir a violência dentro e fora dela; lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e sociais; participar da criação de regras de vida comum referentes à disciplina na escola, às sanções e a apreciação da conduta; analisar a relação pedagógica, a autoridade e a comunicação em aula; desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o sentimento de justiça (PERRENOUD, 2000 p.143).
No entanto, é preciso ficar claro na escola que o problema da disciplina não é
apenas do professor, mas de toda a equipe escolar.
Segundo, Vasconcellos (2000, p.59):
Há necessidade, pois, de se procurar construir uma postura comum entre os educadores (professores, equipe técnica, auxiliares, direção) e educandos, estabelecendo parâmetros comuns para a escola (o que pode o que não pode o que é grave, etc.) (VASCONCELOS, 2000).
1.3 - Para minimizar a indisciplina: sugestões e possibilidades
Ao realizar a leitura dos autores que contribuíram na revisão da literatura
deste projeto surgiram idéias que poderão contribuir para sanar ou minimizar os
problemas comportamentais/atitudinais da sala de aula/ escola.
Manter o ambiente escolar em um grau considerável de organização;
11
A escola que se apresenta organizada nas suas dimensões: pedagógica,
administrativa, jurídica e financeira tem maior probabilidade de acerto no processo
ensino e aprendizagem.
Discutir e adotar regras de convivência claras com a comunidade escolar e
após, expô-las em locais visíveis a todos.
Nesse trabalho, é preciso que fique claro ao aluno que, assim como a
sociedade a escola tem suas próprias regras. É importante que professores, alunos,
pais criem as regras do convívio escolar, pois quando o aluno ajuda a elaborar as
regras às quais vai se submeter, ele passa a respeitá-las mais, pois as mesmas se
tornam mais justas.
Além das regras de convivência, o professor deve estabelecer regras para si
próprio: ser firme, ser honesto e imparcial, pois os alunos o respeitarão por
ter estabelecido as regras e ter forças para cumpri-las;
Nesse sentido, o educador deve se atentar para que tudo o que foi acordado
no grupo seja realmente cumprido, pois ao contrário, o mesmo perderá sua
credibilidade perante aos alunos.
Adote uma política de valorização de alunos, educadores, pais, voluntários,
parceiros;
Faz parte da natureza humana se sentir valorizado pelo que faz ou
simplesmente pela sua própria existência. Assim, a escola deve reconhecer a
importância dos seus alunos e profissionais bem como, pais, voluntários, parceiros
que contribuem na realização do projeto político pedagógico da instituição.
Crie um clima de entendimento, através de estabelecimento de diálogo,
cultive um vínculo com os alunos;
Assim, faz-se necessário que o educador dialogue com seus alunos sobre as
finalidades da escola e sobre os limites que existem tanto no ambiente escolar
quanto na sociedade, a fim de que os mesmos possam refletir sobre o que a escola
e a sociedade esperam dele.
12
Utilize o tempo com atividades interessantes e relevantes para a vida dos
alunos, nunca deixe a classe sem supervisão;
A escola deve motivar a participação dos alunos nas atividades realizadas,
para isso, o educador necessita planejar atividades curriculares ou extracurriculares
baseadas no contexto de vivência dos alunos, permitindo que a perspectiva do
aprendizado seja também do aluno e não somente do professor.
Propicie aos educadores/professores momentos de estudo para revisão de
seus métodos de ensino-aprendizagem/avaliação da aprendizagem, relações de
convivência na escola, a fim de resgatar a motivação pelo estudo e
consequentemente, o compromisso pelo aprender;
Diante dessa sugestão, percebe-se, indiscutivelmente, que a análise das
práticas acontece principalmente em momentos de formação continuada, quando se
faz uma reflexão do que está sendo realizado em sala de aula, isto é da prática de
cada professor, através de discussões em grupo, troca de informações e idéias. Onde
o assunto não se esgota, cabendo a cada um a vontade de aprofundar muito mais
no assunto.
Aproveite os diferentes componentes curriculares para discutir a
importância e a necessidade de conviverem uns com os outros e a
respeitarem pontos de vista contrários dentro de um mesmo assunto;
Dessa forma, cada professor pode utilizar as diversas disciplinas para se
trabalhar a importância dos valores éticos, da cultura de cooperação, de prevenção
à indisciplina, da não violência e construção da cidadania, não deixando esta função
apenas para o professor de ensino religioso, de filosofia ou de sociologia.
Canalize a energia dos alunos superativos para outros meios de expressão,
como desenho, pintura, montagens, encenações teatrais etc.
É interessante que o professor planeje e tenha sempre disponíveis atividades
extras e interessantes, para os alunos que conseguem realizar as tarefas com maior
rapidez, a fim de que não fiquem ociosos e comecem a perturbar a sala inteira.
Atividades que prendem a atenção e proporciona concentração são bem vindas aos
alunos superativos.
13
Crie espaços para troca de idéias entre pais, alunos e professores,
possibilitando assim maior interação entre família-escola.
A idéia é promover cursos e palestras freqüentes com
profissionais qualificados para debater sobre temas diversos, como: drogas, gravidez
na adolescência, saúde nutrição, violência e outros de interesse da comunidade
escolar e local. Dessa forma, a escola estará aperfeiçoando os espaços
democráticos da escola, fortalecendo a cidadania, desenvolvendo o protagonismo
juvenil e se integrando com a comunidade.
2. Metodologia – Rumos da Pesquisa
Para realização deste trabalho os dados foram analisados com base na
pesquisa descritiva qualitativa e quantitativa. Os dados analisados foram feitos por
análise e interpretação das respostas dadas pelos alunos e educadores, por meio de
coleta de dados aplicados aos mesmos. Outros métodos, também, contribuíram na
busca de conteúdos dessa pesquisa, dentre eles o empírico baseado
na observação, na experiência; A análise de textos bibliográficos (livros, revistas,
jornais, artigos).
A coleta dos dados se deu da seguinte forma: Foi aplicado um questionário
com quatro perguntas abertas para quinze alunos e dez professores dos anos iniciais
e finais do ensino fundamental da Escola Estadual Brigadeiro Felipe, com a
finalidade de registrar e discutir melhor a concepção de indisciplina e suas
implicações no ambiente escolar e o que fazer para superá-la.
Foram escolhidos alunos e professores que conviviam diretamente com casos
de indisciplina em sala de aula e até mesmo alunos considerados indisciplinados,
para responderem o questionário. Depois de respondido o questionário foi realizado
a tabulação das respostas e para melhor compreensão das respostas dadas pelos
alunos e professores optou-se em condensar duas e até três respostas em uma
única análise, fazendo um paralelo entre as respostas obtidas dos alunos,
14
confrontando-as com as respostas dos professores e relacionando-as com o que
pensam vários autores que trabalham com o tema.
3. Análise das ações desenvolvidas e resultados
Foi aplicado na escola um questionário com quatro perguntas abertas para
quinze alunos e dez professores, a fim de verificar como a indisciplina é
compreendida por estes e quais medidas poderiam ser adotadas para superação
desse problema.
Mediante a essa pesquisa realizada com os alunos, as definições dadas sobre
indisciplina estão diretamente ligadas à ausência de valores éticos e descumprimento
das normas da escola (Regimento Escolar). Quanto à interferência da indisciplina na
aprendizagem, os alunos pesquisados foram unânimes em citar que a mesma
prejudica no aprendizado e contribuíram com sugestões para evitar atos de
indisciplina na escola.
3.1 - As respostas dos alunos
Questão 1. Em relação ao que entendiam por indisciplina disseram que é
quando os alunos não respeitam os professores; falta de comportamentos
adequados ao ambiente; É bagunça teimosia, falta de cumprimento das normas; É o
aluno sem compromisso com os estudos; É irresponsabilidade, falta de educação,
falar palavrões.
Questão 2. Ao serem indagados se a indisciplina pode interferir de forma
negativa no aprendizado da turma 100% dos alunos responderam que esta prejudica
o aprendizado da turma, pois segundo eles o aluno indisciplinado em sala de aula
interrompe as explicações do professor constantemente, faz barulho, mexe com
15
quem está quieto e acaba desconcentrando a turma toda. Diante dessa colocação
vê-se que os alunos têm a percepção de que esse problema atrapalha o
desenvolvimento do trabalho pedagógico, deixando a desejar a qualidade do ensino,
uma vez que abala o desempenho tanto dos professores quanto dos estudantes.
Questão 3. Na pergunta referente a medidas a serem adotadas a fim de
se evitar atos de indisciplina na sala de aula e em outros espaços da escola, os
alunos sugeriram: adoção de atividades para orientação dos alunos; convocação da
família do aluno indisciplinado para resolver a situação de seu filho; aplicar o
regimento escolar e os alunos cumprirem com seu papel de estudante.
Ao analisar suas respostas percebe-se que os discentes têm consciência que
a indisciplina se caracteriza por comportamentos e atitudes que interferem
negativamente, no ambiente escolar tanto no que se refere às relações interpessoais
quanto no processo de ensino e aprendizagem, sentem- se incomodados com atos
de indisciplina praticados por colegas e pedem intervenção por parte da equipe
pedagógica da escola.
3.2 - As respostas dos professores
Investigando o questionário respondido pelos professores chegou-se a
seguinte conclusão:
Questão 1. O problema existe na escola, por conseqüência de vários
fatores, os quais necessitam de serem trabalhados com maior atenção na
perspectiva de uma aprendizagem qualitativa, considerando que a maior vitima da
indisciplina são os próprios alunos, pois além de conviver com agressões físicas e
verbais de colegas indisciplinados receberão um ensino
consequentemente, apresentarão uma aprendizagem ineficaz.
16
Questão 2. Para superar essa problemática na escola os professores
apontaram algumas sugestões: realização de um trabalho em equipe; Aplicação do
Regimento Escolar vigente; Formação continuada e em serviço a seus profissionais;
Desenvolvimento de projeto voltado para a cidadania, envolvendo alunos e família
em debates e palestras de conscientização sobre a importância da boa convivência
entre as pessoas, principalmente na escola, local de aprendizagem;
Desenvolvimento de ações que trabalhem valores e princípios éticos, com vistas a
criar um ambiente pacifico.
Após a análise dos dados coletados, ficou ainda mais evidente a importância
de se trabalhar o tema através de ações que abordassem a realidade, fazendo uma
análise critica do problema e buscando alternativas de práticas concretas e
transformadoras, pois nem sempre aplicar o regimento escolar é a melhor alternativa
para determinado tipo de aluno, uma vez que excluí-lo do convívio escolar é expô-lo
as mazelas da sociedade. Nesse sentido foram planejadas e aplicadas as ações de
intervenção a seguir:
Ao observar a dificuldade dos discentes em cumprir com as normas da escola
(Regimento Escolar) foi realizada, com a participação de todos os alunos a
construção do Pacto de Convivência no Ambiente Escolar. Esse trabalho permitiu
que os próprios alunos refletissem sobre suas atitudes inadequadas a uma boa
convivência social e apontassem alternativas para a melhoria. Apontaram também,
atitudes desfavoráveis a educação apresentadas por alguns professores e que não
são permitidas aos alunos. Havendo com isso, uma reivindicação dos discentes em
cobrar dos educadores o cumprimento dessas normas, uma vez que a escola deve
ser um espaço democrático, onde as normas devem ser acatadas por todos que ali
convivem.
Com o objetivo de promover a integração família e escola, na perspectiva de
potencializar os valores necessários para uma melhor convivência social, foi
realizada uma palestra em formato de mesa redonda composta por membros de
instituições parceiras da escola, cujo tema foi: Educação e Família; Direitos e
Deveres da Criança e do Adolescente. A fala, de muitos pais durante o evento,
evidenciava a dificuldade dos mesmos em monitorar a vida dos filhos.
O que pode Constatar-se no dia a dia da escola que esse tipo de
comportamento é comum em muitas famílias. Os pais já não conseguem impor
17
limites e solicitam ajuda da escola na educação dos seus filhos. Nesse sentido, é
preciso capacitar os educadores, através de formação continuada em serviço, para
que possam contribuir na formação plena do aluno.
Com o objetivo de promover entre os servidores da Escola, momentos de
estudo e reflexão sobre a indisciplina foi proposto o estudo do fascículo de Celso
Antunes - Professor bonzinho = aluno difícil: a questão da indisciplina em sala de
aula. Esse momento possibilitou à reflexão de como a instituição escolar com suas
normas fechadas, o professor com sua gestão de sala de aula podem contribuir para
que os alunos sejam indisciplinados. A partir desse estudo verificou-se a mudança
na postura de alguns professores e melhora na atitude de alguns alunos.
Diante da necessidade apontada pelos professores e alunos da escola
pesquisada, em se trabalhar os valores éticos, foi desenvolvido em sala de aula,
trabalhos sobre os valores éticos, através de estudos temáticos, pesquisas e
dinâmicas de grupo, objetivando um aprendizado compartilhado e construtivo,
pautado no respeito mútuo, cooperação, solidariedade e na igualdade de direitos.
Ação proposta para ser continua, uma vez que os resultados não aparecerão
imediatamente, pois os valores éticos são alicerces que irão formar a personalidade
das crianças e jovens que hoje estão em nossas mãos.
Assim, romper com a indisciplina na escola de uma hora para outra, é ilusão.
O processo é lento e exige que cada setor: sociedade, família, escola, professor e
aluno façam sua parte somando esforços e buscando interagir através do diálogo na
resolução dos problemas.
18
CONSIDERAÇÕES
Sabe-se que a formação continuada em serviço é importante, pois é um
espaço que permite reflexão, construção e desconstrução dos caminhos que nos
possibilita organizar a nossa prática pedagógica em função da aprendizagem do
aluno. Dessa forma, este trabalho realizado com professores, alunos e pais
inicialmente, permitiram-me, enquanto coordenadora pedagógica, a organizar
momentos de estudos nos dias pedagógicos e temáticos, sobre temas de interesse
da escola.
Estudos esses que possibilitaram aos educadores a troca de experiência e
reflexão sobre a prática de sala de aula, pois para nós, profissionais da docência, é
um desafio desenvolver a prática do refletir, do pensar e não ater simplesmente na
ação de dar aulas. Pois, o ofício do educador nada mais é do que construir
conhecimentos e formar cidadãos.
No entanto, ao reportar aos objetivos do projeto, verifica-se que os mesmos
não alcançaram o resultado esperado, uma vez que o trabalho planejado foi
fragmentado devido mudanças no quadro de pessoal da escola. Fator que não
dependia apenas da vontade de professores, alunos, funcionários, pais, mas de
instâncias maiores, conforme já abordado na introdução.
Dessa forma, o trabalho para superação da indisciplina nas escolas não deve
se resumir apenas na realização de ações pontuais, mas que sejam constantes e
que possibilite uma reflexão para que o coletivo escolar busque suas próprias
soluções, tendo em vista sua realidade e seu Projeto Político Pedagógico. Pois,
acredita-se que a partir dessa reflexão-ação-reflexão a escola transforma-se em um
ambiente de participação, de aprendizagem, de respeito, de responsabilidade, de
formação do caráter e da cidadania e assim, contribui na formação de homens
conscientes e comprometidos com uma sociedade mais justa e igualitária. Pois
segundo Paulo Freire, (2000, p.133) aceitar o sonho do mundo melhor e a ele aderir,
é aceitar entrar no processo de criá-lo.
19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, C. Professor bonzinho = aluno difícil: a questão da indisciplina em
sala de aula. Petrópoles, RJ: Vozes, 2002 a.
FEIJÓ, Caio. Preparando os alunos para a vida. Ed.rev. e ampl. Osasco, SP: Novo
Século Editora, 2008.
FREIRE, P. Pedagogia da Indignação, Cartas Pedagógicas e Outros Escritos.
São Paulo: Unesp, 2000.
NUNES, Antonio Ozório. Como restaurar a paz nas escolas: um guia para
educadores. São Paulo: Contexto, 2011.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Trad. Patrícia
Chitonni Ramos - Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
TAILLE, Yves de La. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: Indisciplina da
escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Sumus, 1996.
TIBA, Içami. Disciplina - Limite na medida certa. 8.ed. São Paulo: Editora Gente,
1996.
VASCONCELOS, C. dos S. Disciplina: construção da disciplina consciente e
interativa em sala de aula e na escola, 11. ed. São Paulo: Libertad, 2000. (Cadernos
pedagógicos do Libertad; v.4