INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA...

19
Venceslina Francisco da Cunha INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA INVESTIGAÇÃO NECESSÁRIA ARRAIAS 2011

Transcript of INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA...

Page 1: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

1

Venceslina Francisco da Cunha

INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA INVESTIGAÇÃO

NECESSÁRIA

ARRAIAS

2011

Page 2: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

2

SUMÁRIO

Introdução.................................................................................................................. 03

1. Direito a educação princípio de cidadania............................................................. 04

1.1 Discutindo a indisciplina...................................................................................... 06

1.2 O papel da escola diante da indisciplina dos alunos – O que dizem os sujeitos.. 08

1.3 Para minimizar a indisciplina: Sugestões e Possibilidades.................................. 10

2. Metodologia – Rumos da pesquisa........................................................................ 13

3. Análise das ações desenvolvidas e Resultados.................................................... 14

3.1. As respostas dos alunos..................................................................................... 14

3.2. As respostas dos professores............................................................................. 15

Considerações........................................................................................................... 18

Referências Bibliográficas......................................................................................... 19

Page 3: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

3

INTRODUÇÃO

O problema da indisciplina nas escolas brasileiras é uma temática que

necessita ser estudada e debatida, vez que a mesma representa um fenômeno

complexo onde, nos últimos anos, o descumprimento das normas mais simples de

convivência tem se transformado em práticas que agridem a dignidade humana.

Percebe-se que a mídia brasileira, atualmente, tem mostrado não só atos de

violência nas escolas internacionais como também, educadores e alunos brasileiros

têm sido vítimas de agressões no ambiente escolar. Nenhuma escola hoje está livre

dessa realidade, pois o mundo atual é carregado de conflitos interpessoais, nacionais

e globais e os problemas da sociedade têm uma reflexão direta no ambiente escolar.

Dessa forma, vivenciando o cotidiano da Escola Estadual Brigadeiro Felipe,

durante quase vinte anos de trabalho, observa-se que a indisciplina de alunos, nos

últimos anos, tem se tornado um problema crescente que dificulta o bom andamento

do processo ensino e aprendizagem em algumas turmas. Constata- se no livro de

Atas de Advertências da Unidade Escolar, registros de conflitos interpessoais com

agressões físicas e verbais de alunos x alunos, de alunos x educadores quase que

diários.

Com a finalidade de descobrir e combater o fatores que causam

comportamentos e atitudes inadequadas no ambiente de ensino, nasceu o projeto

de intervenção: Indisciplina no Cotidiano Escolar: Uma Investigação Necessária, que

tem como objetivo geral intervir no dia a dia da escola com o intuito de conscientizar

educadores, alunos, pais e comunidade quanto à importância de sua participação

efetiva na escola e juntos buscar alternativas para minimizar os comportamentos

inadequados que levam a indisciplina.

Tem como objetivos específicos: identificar as causas que contribuem para a

indisciplina na escola; conscientizar os alunos sobre a importância dos estudos como

via para o crescimento pessoal e profissional; oportunizar aos educadores uma

reflexão de suas práticas educacionais, com vistas á mudança; envolver os pais na

educação dos filhos, dividindo responsabilidades e propor alternativas ao aluno e ao

professor para amenizar o desrespeito ao próximo, ao bem público e a si mesmo.

Page 4: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

4

O referido projeto foi desenvolvido na Escola Estadual Brigadeiro Felipe, em

Arraias TO, com início no mês de março e término em outubro de 2011. Foram

desenvolvidas ações com os alunos de todas as turmas e séries, pais e educadores

da Escola. Inicialmente, o projeto foi apresentado à equipe pedagógica e

administrativa da Unidade Escolar, a fim de buscar a parceria dos mesmos no

desenvolvimento das ações planejadas.

Em seguida, foram aplicados os instrumentos de pesquisa (questionários

impressos com perguntas abertas) aos professores e alunos, com o objetivo de

descobrir como estes percebem o problema da indisciplina no ambiente escolar e o

que fazer para superá-la. Paralelamente a esse trabalho foram articuladas e

desenvolvidas pela coordenação pedagógica em parceria com os servidores da

escola ações interventivas, para alunos, para professores e pais com o intuito de

amenizar o desrespeito com o próximo, a bagunça em sala de aula, as brigas entre

colegas, a destruição do patrimônio escolar.

Este projeto não atingiu o resultado esperado, uma vez que foi um ano em

que muitos profissionais da educação que prestavam serviço em regime de contrato

temporário/nomeação foram substituídos por novos servidores concursados, houve

ainda, uma remoção de educadores para outras instituições de ensino, havendo com

isso uma quebra do trabalho iniciado. Porém, considerando a relevância das ações

planejadas, esta experiência deve ser retomada nos anos vindouros, a fim de

melhorar as relações interpessoais dos sujeitos com seus pares, onde se instaure os

valores, as atitudes e as relações sociais.

1. Direito à educação - princípio de cidadania

Sabe-se que direitos são conquistas coletivas e o fato de estarem no papel

nem sempre é garantia de que serão concretizados, uma vez que é necessária ação

conjunta da sociedade e do Estado, a fim de fazer valer o que está escrito no papel

na forma da lei.

Page 5: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

5

Assim, o direito à educação, bem como os outros direitos humanos, é uma

conquista histórica da humanidade resultante de conflitos, lutas e acordos, cujo

reconhecimento e oficialização vêm se processando de modo gradual, de acordo as

especificações de cada país.

O artigo XXVI da Declaração Universal dos Direitos Humanos, diz que “toda

pessoa tem direito à instrução e esta será gratuita pelo menos nos graus elementares

e fundamentais...” Assim, a partir de 1948, o direito à educação passou a ser

entendido como direito internacional e a ONU tem zelado pela reafirmação desse

direito, surgindo com isso, diversas iniciativas mundiais voltadas para a luta do

cumprimento do direito à educação, pois se considera que a pessoa que passa

pela educação escolar, tem maior probabilidade de ser um cidadão que tem melhores

condições de se realizar e defender os outros direitos, como: saúde, habitação, meio

ambiente, trabalho, lazer enfim, vida digna.

O Brasil tem participado das inúmeras iniciativas de respeito ao direito de

todos à educação e após a quebra do regime militar, com a redemocratização do

país e com a aprovação da Constituição Federal de 1988, oficializou-se os direitos

humanos. Sendo com isso, a primeira constituição federal do Brasil a determinar que

os direitos sociais são direitos fundamentais ao ser humano. Na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional-Lei nº 9394/96, no Estatuto da Criança e do

Adolescente - ECA são destinados capítulos e artigos que encaminham para o

alcance desses direito.

A Constituição Federal (1988), no seu artigo 227 institui como dever da

família, da sociedade e do estado à garantia à criança e ao adolescente, com

absoluta prioridade, dentre outros direitos, à educação. Ainda na Constituição

Federal no artigo 205 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei

nº 9394/96, no seu artigo 2º estabelece que a educação tem por finalidade o pleno

desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania.

As escolas públicas de trinta, quarenta anos atrás, tinham como objetivo o

preparo para o exercício da cidadania. No entanto, a cidadania a que se almejava na

época era restrita apenas à participação política através do voto, pretexto para a

alfabetização. A partir da publicação da Constituição, esse tipo de alfabetização não

mais vigorou, já que o voto para o analfabeto passou a ser facultativo. Assim, o

sentido de cidadania, nos dias atuais, é mais amplo, pois requer um cidadão que

Page 6: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

6

conheça, lute por seus direitos e também seja consciente de suas obrigações e de

seus deveres.

Com a missão de cumprir os propósitos da Constituição e da Lei nº 9394/96,

no que se refere aos direitos e deveres da criança e do adolescente, criou-se o ECA

(Estatuto da Criança e do Adolescente) que normatiza em seu artigo 53- o direito à

educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa e o preparo para o

exercício da cidadania. Este é um dos principais objetivos da escola atual, que, de

acordo Taille (1996) é necessário:

Lembrar e fazer lembrar em alto e bom tom, a seus alunos e a sociedade como um todo, que sua finalidade principal é a preparação para o exercício da cidadania. E, para ser cidadão, são necessários sólidos conhecimentos, memória, respeito pelo espaço público, um conjunto mínimo de normas de relações interpessoais, e diálogo franco entre olhares éticos. (TAILLE p.23, 1996)

Segundo Perrenoud (2000, p. 142) para ensinar a educação para cidadania é

preciso que se criem situações que facilitem verdadeiras aprendizagens, tomadas de

consciência, construção de valores, de uma identidade moral e cívica.

Atualmente, percebe-se no dia-a-dia da escola que o aluno é mais ciente de

seus direitos do que dos seus deveres, descumprindo normas de convivência e bem

estar social, fator que acaba gerando a indisciplina. Portanto, é papel da escola

contribuir para que o aluno tenha conhecimento de seus direitos, busque o

cumprimento dos mesmos quando se julgar prejudicado e também reconheça seus

deveres, sabendo respeitar normas as quais contribuirão para sua formação.

1.1 - Discutindo a indisciplina.

O conceito de indisciplina é bastante amplo e depende do contexto a que se

refere. O dicionário Aurélio conceitua disciplina como: regime de ordem imposta ou

livremente consentida; ordem que convém ao funcionamento regular

duma organização (militar, escolar, etc.); relações de subordinação do aluno ao

Page 7: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

7

mestre ou instrutor; observância de preceitos e normas; submissão a um

regulamento. Já a disciplina é conceituada como procedimento, ato ou dito contrário à

disciplina; desobediência; desordem; rebelião.

O conceito de indisciplina é extremamente amplo e vago. Algumas regras, em geral, estão especificadas nos regimentos escolares, mas no cotidiano das classes são os professores que, com seus diferentes estilos e formas de organização do trabalho, delimitam o que é considerado ou não indisciplina. O mesmo acontece frequentemente nos pátios do recreio, nos quais inspetores de alunos e outros funcionários podem definir quais são os comportamentos aceitos ou não. (Carvalho, 2003).

Após estas definições verifica-se a complexidade do tema em estudo, vez que

várias são as variáveis que influenciam o processo ensino e aprendizagem, Tiba

(1996) define disciplina como:

(O) conjunto de regras éticas para se atingir um objetivo. A ética é entendida, aqui, como o critério qualitativo do comportamento humano envolvendo e preservando o respeito ao bem estar biopsicossocial. (TIBA p.117, 1996)

O autor aponta ainda três fatores que causam a indisciplina na escola: as

características pessoais do aluno (distúrbios psiquiátricos, neurológicos de

personalidade, neuróticos, deficiência mental); características relacionais (distúrbios

entre os próprios colegas, distorções de autoestima) e distúrbios e desmandos de

professores.

Já Taille (1996, p. 23) esclarece que:

Se entendermos por disciplina comportamentos regidos por um conjunto de normas, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: 1) a revolta contra estas normas; 2) o desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina traduz-se por uma forma de desobediência insolente; no segundo, pelo caos dos comportamentos, pela desorganização das relações. (TAILLE, 1996)

Dessa forma, esta definição se aproxima melhor da indisciplina vivenciada nas

escolas, uma vez que há um descumprimento das normas instituídas pela escola, o

que é evidenciado através do desrespeito ao próximo e a própria instituição de

ensino. Essas atitudes influenciam de forma negativa o bom andamento do

Page 8: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

8

processo ensino-aprend i zagem e como disse Vasconcellos (2000), sem

disciplina não se pode fazer nenhum trabalho pedagógico significativo.

1.2 - O papel da escola diante da indisciplina de seus alunos - O que dizem

educadores e alunos

A indisciplina nas escolas tem sido vista como um problema, um desvio das

normas disseminadas nos sistemas escolares, que prejudica a prática educativa.

Associada a desordem, ao desrespeito as regras de conduta e a falta de limites, esta

é frequentemente, centralizada no aluno.

Para Antunes (2002)

A origem dos comportamentos ditos indisciplinares pode estar em diversos fatores: ligados às questões relacionadas ao professor, principalmente na gestão de sala de aula; outros centrados nas famílias dos alunos ou nos próprios alunos; no processo pedagógico escolar e ainda outros alheios ao contexto escolar. (ANTUNES 2002)

Já segundo Vasconcellos (2000), as causas da indisciplina podem ser

encontradas em cinco grandes níveis: sociedade, família, escola, professor e aluno.

No entanto, o autor faz uma advertência para que não tomemos estes fatores

isolados um do outro, pois ambos estão profundamente entrelaçados.

Ao responderem um questionário sobre a indisciplina na Escola Estadual

Brigadeiro Felipe, alguns professores dessa escola evidenciaram como geradores da

indisciplina fatores familiares (falta de acompanhamento de muitos pais na vida

escolar do filho, desestrutura familiar, falta de limites e/ou proteção excessiva);

ausência de valores sociais e fatores escolares (não aplicação do regimento escolar,

desorganização do espaço físico da sala de aula, falta de autoridade do professor,

planejamento ineficaz das aulas/metodologia desinteressante.

Page 9: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

9

Na visão dos alunos a indisciplina está associada à falta de cumprimento das

normas da escola pelos próprios discentes, falta de interesse e responsabilidade e

inexistência de valores que são aprendidos no seio familiar.

Diante dessas colocações, é fundamental que a escola se aproprie de uma

postura transformadora que atenda aos anseios de sua comunidade por uma

educação que trabalhe o ser humano na sua totalidade.

Nesse sentido Nunes (2011. p 33. apud Fernandez 2005) afirma que:

A escola precisa ensinar para a vida, e isso pressupõe preparar as crianças e jovens com um conjunto de habilidades sociais e de instrumentos necessários para que possam desenvolver uma equilibrada autoestima, tomar decisões responsáveis, relacionar-se adequadamente com os demais, resolver conflitos de forma positiva e adequada, entre outros (FERNANDEZ, 2005).

Nessa perspectiva, a escola precisa estar preparada para, além do seu papel

de promotora do conhecimento, preparar o aluno para a vida através de valores e

princípios éticos que conduzem ao exercício consciente da cidadania, isto é, a escola

tem o compromisso de, além de transferir o saber sistematizado, necessita

desenvolver no aluno um conjunto de habilidades que possam dar sustentação às

suas decisões na resolução dos conflitos, adequando o seu trabalho às

necessidades da criança, da família e da comunidade.

Dessa forma Feijó (2008) expõe qual é o papel da escola atual:

A escola do século 21 não poderá se restringir à transferência de informação e a educação pedagógica dos alunos. A sociedade espera muito mais do que isso; anseia por uma escola capacitada a oferecer aos seus filhos uma educação completa, na qual os fatores sociais estejam presentes em seu currículo. (FEIJÓ 2008)

Percebe-se, na escola pesquisada, que um dos grandes desafios da sua

equipe, além da aprendizagem significativa tem sido possibilitar a esses alunos a

capacidade de se relacionarem bem com eles próprios, com os outros e com o

mundo. Entretanto, os comportamentos inadequados dos discentes representam um

grande obstáculo que tem dificultado o bom andamento do processo ensino e

aprendizagem e traz a seguinte preocupação dos educadores “Se esses

Page 10: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

10

comportamentos não forem combatidos com urgência, corre-se o risco de

transformarem em violências maiores e que achamos que só acontecem nos grandes

centros urbanos”.

Para Perrenoud (2000), é competência do professor enfrentar os deveres e os

dilemas éticos da profissão. Nesse sentido, o autor defende a importância do

educador:

Prevenir a violência dentro e fora dela; lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e sociais; participar da criação de regras de vida comum referentes à disciplina na escola, às sanções e a apreciação da conduta; analisar a relação pedagógica, a autoridade e a comunicação em aula; desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o sentimento de justiça (PERRENOUD, 2000 p.143).

No entanto, é preciso ficar claro na escola que o problema da disciplina não é

apenas do professor, mas de toda a equipe escolar.

Segundo, Vasconcellos (2000, p.59):

Há necessidade, pois, de se procurar construir uma postura comum entre os educadores (professores, equipe técnica, auxiliares, direção) e educandos, estabelecendo parâmetros comuns para a escola (o que pode o que não pode o que é grave, etc.) (VASCONCELOS, 2000).

1.3 - Para minimizar a indisciplina: sugestões e possibilidades

Ao realizar a leitura dos autores que contribuíram na revisão da literatura

deste projeto surgiram idéias que poderão contribuir para sanar ou minimizar os

problemas comportamentais/atitudinais da sala de aula/ escola.

Manter o ambiente escolar em um grau considerável de organização;

Page 11: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

11

A escola que se apresenta organizada nas suas dimensões: pedagógica,

administrativa, jurídica e financeira tem maior probabilidade de acerto no processo

ensino e aprendizagem.

Discutir e adotar regras de convivência claras com a comunidade escolar e

após, expô-las em locais visíveis a todos.

Nesse trabalho, é preciso que fique claro ao aluno que, assim como a

sociedade a escola tem suas próprias regras. É importante que professores, alunos,

pais criem as regras do convívio escolar, pois quando o aluno ajuda a elaborar as

regras às quais vai se submeter, ele passa a respeitá-las mais, pois as mesmas se

tornam mais justas.

Além das regras de convivência, o professor deve estabelecer regras para si

próprio: ser firme, ser honesto e imparcial, pois os alunos o respeitarão por

ter estabelecido as regras e ter forças para cumpri-las;

Nesse sentido, o educador deve se atentar para que tudo o que foi acordado

no grupo seja realmente cumprido, pois ao contrário, o mesmo perderá sua

credibilidade perante aos alunos.

Adote uma política de valorização de alunos, educadores, pais, voluntários,

parceiros;

Faz parte da natureza humana se sentir valorizado pelo que faz ou

simplesmente pela sua própria existência. Assim, a escola deve reconhecer a

importância dos seus alunos e profissionais bem como, pais, voluntários, parceiros

que contribuem na realização do projeto político pedagógico da instituição.

Crie um clima de entendimento, através de estabelecimento de diálogo,

cultive um vínculo com os alunos;

Assim, faz-se necessário que o educador dialogue com seus alunos sobre as

finalidades da escola e sobre os limites que existem tanto no ambiente escolar

quanto na sociedade, a fim de que os mesmos possam refletir sobre o que a escola

e a sociedade esperam dele.

Page 12: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

12

Utilize o tempo com atividades interessantes e relevantes para a vida dos

alunos, nunca deixe a classe sem supervisão;

A escola deve motivar a participação dos alunos nas atividades realizadas,

para isso, o educador necessita planejar atividades curriculares ou extracurriculares

baseadas no contexto de vivência dos alunos, permitindo que a perspectiva do

aprendizado seja também do aluno e não somente do professor.

Propicie aos educadores/professores momentos de estudo para revisão de

seus métodos de ensino-aprendizagem/avaliação da aprendizagem, relações de

convivência na escola, a fim de resgatar a motivação pelo estudo e

consequentemente, o compromisso pelo aprender;

Diante dessa sugestão, percebe-se, indiscutivelmente, que a análise das

práticas acontece principalmente em momentos de formação continuada, quando se

faz uma reflexão do que está sendo realizado em sala de aula, isto é da prática de

cada professor, através de discussões em grupo, troca de informações e idéias. Onde

o assunto não se esgota, cabendo a cada um a vontade de aprofundar muito mais

no assunto.

Aproveite os diferentes componentes curriculares para discutir a

importância e a necessidade de conviverem uns com os outros e a

respeitarem pontos de vista contrários dentro de um mesmo assunto;

Dessa forma, cada professor pode utilizar as diversas disciplinas para se

trabalhar a importância dos valores éticos, da cultura de cooperação, de prevenção

à indisciplina, da não violência e construção da cidadania, não deixando esta função

apenas para o professor de ensino religioso, de filosofia ou de sociologia.

Canalize a energia dos alunos superativos para outros meios de expressão,

como desenho, pintura, montagens, encenações teatrais etc.

É interessante que o professor planeje e tenha sempre disponíveis atividades

extras e interessantes, para os alunos que conseguem realizar as tarefas com maior

rapidez, a fim de que não fiquem ociosos e comecem a perturbar a sala inteira.

Atividades que prendem a atenção e proporciona concentração são bem vindas aos

alunos superativos.

Page 13: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

13

Crie espaços para troca de idéias entre pais, alunos e professores,

possibilitando assim maior interação entre família-escola.

A idéia é promover cursos e palestras freqüentes com

profissionais qualificados para debater sobre temas diversos, como: drogas, gravidez

na adolescência, saúde nutrição, violência e outros de interesse da comunidade

escolar e local. Dessa forma, a escola estará aperfeiçoando os espaços

democráticos da escola, fortalecendo a cidadania, desenvolvendo o protagonismo

juvenil e se integrando com a comunidade.

2. Metodologia – Rumos da Pesquisa

Para realização deste trabalho os dados foram analisados com base na

pesquisa descritiva qualitativa e quantitativa. Os dados analisados foram feitos por

análise e interpretação das respostas dadas pelos alunos e educadores, por meio de

coleta de dados aplicados aos mesmos. Outros métodos, também, contribuíram na

busca de conteúdos dessa pesquisa, dentre eles o empírico baseado

na observação, na experiência; A análise de textos bibliográficos (livros, revistas,

jornais, artigos).

A coleta dos dados se deu da seguinte forma: Foi aplicado um questionário

com quatro perguntas abertas para quinze alunos e dez professores dos anos iniciais

e finais do ensino fundamental da Escola Estadual Brigadeiro Felipe, com a

finalidade de registrar e discutir melhor a concepção de indisciplina e suas

implicações no ambiente escolar e o que fazer para superá-la.

Foram escolhidos alunos e professores que conviviam diretamente com casos

de indisciplina em sala de aula e até mesmo alunos considerados indisciplinados,

para responderem o questionário. Depois de respondido o questionário foi realizado

a tabulação das respostas e para melhor compreensão das respostas dadas pelos

alunos e professores optou-se em condensar duas e até três respostas em uma

única análise, fazendo um paralelo entre as respostas obtidas dos alunos,

Page 14: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

14

confrontando-as com as respostas dos professores e relacionando-as com o que

pensam vários autores que trabalham com o tema.

3. Análise das ações desenvolvidas e resultados

Foi aplicado na escola um questionário com quatro perguntas abertas para

quinze alunos e dez professores, a fim de verificar como a indisciplina é

compreendida por estes e quais medidas poderiam ser adotadas para superação

desse problema.

Mediante a essa pesquisa realizada com os alunos, as definições dadas sobre

indisciplina estão diretamente ligadas à ausência de valores éticos e descumprimento

das normas da escola (Regimento Escolar). Quanto à interferência da indisciplina na

aprendizagem, os alunos pesquisados foram unânimes em citar que a mesma

prejudica no aprendizado e contribuíram com sugestões para evitar atos de

indisciplina na escola.

3.1 - As respostas dos alunos

Questão 1. Em relação ao que entendiam por indisciplina disseram que é

quando os alunos não respeitam os professores; falta de comportamentos

adequados ao ambiente; É bagunça teimosia, falta de cumprimento das normas; É o

aluno sem compromisso com os estudos; É irresponsabilidade, falta de educação,

falar palavrões.

Questão 2. Ao serem indagados se a indisciplina pode interferir de forma

negativa no aprendizado da turma 100% dos alunos responderam que esta prejudica

o aprendizado da turma, pois segundo eles o aluno indisciplinado em sala de aula

interrompe as explicações do professor constantemente, faz barulho, mexe com

Page 15: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

15

quem está quieto e acaba desconcentrando a turma toda. Diante dessa colocação

vê-se que os alunos têm a percepção de que esse problema atrapalha o

desenvolvimento do trabalho pedagógico, deixando a desejar a qualidade do ensino,

uma vez que abala o desempenho tanto dos professores quanto dos estudantes.

Questão 3. Na pergunta referente a medidas a serem adotadas a fim de

se evitar atos de indisciplina na sala de aula e em outros espaços da escola, os

alunos sugeriram: adoção de atividades para orientação dos alunos; convocação da

família do aluno indisciplinado para resolver a situação de seu filho; aplicar o

regimento escolar e os alunos cumprirem com seu papel de estudante.

Ao analisar suas respostas percebe-se que os discentes têm consciência que

a indisciplina se caracteriza por comportamentos e atitudes que interferem

negativamente, no ambiente escolar tanto no que se refere às relações interpessoais

quanto no processo de ensino e aprendizagem, sentem- se incomodados com atos

de indisciplina praticados por colegas e pedem intervenção por parte da equipe

pedagógica da escola.

3.2 - As respostas dos professores

Investigando o questionário respondido pelos professores chegou-se a

seguinte conclusão:

Questão 1. O problema existe na escola, por conseqüência de vários

fatores, os quais necessitam de serem trabalhados com maior atenção na

perspectiva de uma aprendizagem qualitativa, considerando que a maior vitima da

indisciplina são os próprios alunos, pois além de conviver com agressões físicas e

verbais de colegas indisciplinados receberão um ensino

consequentemente, apresentarão uma aprendizagem ineficaz.

Page 16: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

16

Questão 2. Para superar essa problemática na escola os professores

apontaram algumas sugestões: realização de um trabalho em equipe; Aplicação do

Regimento Escolar vigente; Formação continuada e em serviço a seus profissionais;

Desenvolvimento de projeto voltado para a cidadania, envolvendo alunos e família

em debates e palestras de conscientização sobre a importância da boa convivência

entre as pessoas, principalmente na escola, local de aprendizagem;

Desenvolvimento de ações que trabalhem valores e princípios éticos, com vistas a

criar um ambiente pacifico.

Após a análise dos dados coletados, ficou ainda mais evidente a importância

de se trabalhar o tema através de ações que abordassem a realidade, fazendo uma

análise critica do problema e buscando alternativas de práticas concretas e

transformadoras, pois nem sempre aplicar o regimento escolar é a melhor alternativa

para determinado tipo de aluno, uma vez que excluí-lo do convívio escolar é expô-lo

as mazelas da sociedade. Nesse sentido foram planejadas e aplicadas as ações de

intervenção a seguir:

Ao observar a dificuldade dos discentes em cumprir com as normas da escola

(Regimento Escolar) foi realizada, com a participação de todos os alunos a

construção do Pacto de Convivência no Ambiente Escolar. Esse trabalho permitiu

que os próprios alunos refletissem sobre suas atitudes inadequadas a uma boa

convivência social e apontassem alternativas para a melhoria. Apontaram também,

atitudes desfavoráveis a educação apresentadas por alguns professores e que não

são permitidas aos alunos. Havendo com isso, uma reivindicação dos discentes em

cobrar dos educadores o cumprimento dessas normas, uma vez que a escola deve

ser um espaço democrático, onde as normas devem ser acatadas por todos que ali

convivem.

Com o objetivo de promover a integração família e escola, na perspectiva de

potencializar os valores necessários para uma melhor convivência social, foi

realizada uma palestra em formato de mesa redonda composta por membros de

instituições parceiras da escola, cujo tema foi: Educação e Família; Direitos e

Deveres da Criança e do Adolescente. A fala, de muitos pais durante o evento,

evidenciava a dificuldade dos mesmos em monitorar a vida dos filhos.

O que pode Constatar-se no dia a dia da escola que esse tipo de

comportamento é comum em muitas famílias. Os pais já não conseguem impor

Page 17: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

17

limites e solicitam ajuda da escola na educação dos seus filhos. Nesse sentido, é

preciso capacitar os educadores, através de formação continuada em serviço, para

que possam contribuir na formação plena do aluno.

Com o objetivo de promover entre os servidores da Escola, momentos de

estudo e reflexão sobre a indisciplina foi proposto o estudo do fascículo de Celso

Antunes - Professor bonzinho = aluno difícil: a questão da indisciplina em sala de

aula. Esse momento possibilitou à reflexão de como a instituição escolar com suas

normas fechadas, o professor com sua gestão de sala de aula podem contribuir para

que os alunos sejam indisciplinados. A partir desse estudo verificou-se a mudança

na postura de alguns professores e melhora na atitude de alguns alunos.

Diante da necessidade apontada pelos professores e alunos da escola

pesquisada, em se trabalhar os valores éticos, foi desenvolvido em sala de aula,

trabalhos sobre os valores éticos, através de estudos temáticos, pesquisas e

dinâmicas de grupo, objetivando um aprendizado compartilhado e construtivo,

pautado no respeito mútuo, cooperação, solidariedade e na igualdade de direitos.

Ação proposta para ser continua, uma vez que os resultados não aparecerão

imediatamente, pois os valores éticos são alicerces que irão formar a personalidade

das crianças e jovens que hoje estão em nossas mãos.

Assim, romper com a indisciplina na escola de uma hora para outra, é ilusão.

O processo é lento e exige que cada setor: sociedade, família, escola, professor e

aluno façam sua parte somando esforços e buscando interagir através do diálogo na

resolução dos problemas.

Page 18: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

18

CONSIDERAÇÕES

Sabe-se que a formação continuada em serviço é importante, pois é um

espaço que permite reflexão, construção e desconstrução dos caminhos que nos

possibilita organizar a nossa prática pedagógica em função da aprendizagem do

aluno. Dessa forma, este trabalho realizado com professores, alunos e pais

inicialmente, permitiram-me, enquanto coordenadora pedagógica, a organizar

momentos de estudos nos dias pedagógicos e temáticos, sobre temas de interesse

da escola.

Estudos esses que possibilitaram aos educadores a troca de experiência e

reflexão sobre a prática de sala de aula, pois para nós, profissionais da docência, é

um desafio desenvolver a prática do refletir, do pensar e não ater simplesmente na

ação de dar aulas. Pois, o ofício do educador nada mais é do que construir

conhecimentos e formar cidadãos.

No entanto, ao reportar aos objetivos do projeto, verifica-se que os mesmos

não alcançaram o resultado esperado, uma vez que o trabalho planejado foi

fragmentado devido mudanças no quadro de pessoal da escola. Fator que não

dependia apenas da vontade de professores, alunos, funcionários, pais, mas de

instâncias maiores, conforme já abordado na introdução.

Dessa forma, o trabalho para superação da indisciplina nas escolas não deve

se resumir apenas na realização de ações pontuais, mas que sejam constantes e

que possibilite uma reflexão para que o coletivo escolar busque suas próprias

soluções, tendo em vista sua realidade e seu Projeto Político Pedagógico. Pois,

acredita-se que a partir dessa reflexão-ação-reflexão a escola transforma-se em um

ambiente de participação, de aprendizagem, de respeito, de responsabilidade, de

formação do caráter e da cidadania e assim, contribui na formação de homens

conscientes e comprometidos com uma sociedade mais justa e igualitária. Pois

segundo Paulo Freire, (2000, p.133) aceitar o sonho do mundo melhor e a ele aderir,

é aceitar entrar no processo de criá-lo.

Page 19: INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: UMA …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/uft/file.php/1/moddata/data/... · Nenhuma escola hoje está livre ... durante quase vinte anos de

19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, C. Professor bonzinho = aluno difícil: a questão da indisciplina em

sala de aula. Petrópoles, RJ: Vozes, 2002 a.

FEIJÓ, Caio. Preparando os alunos para a vida. Ed.rev. e ampl. Osasco, SP: Novo

Século Editora, 2008.

FREIRE, P. Pedagogia da Indignação, Cartas Pedagógicas e Outros Escritos.

São Paulo: Unesp, 2000.

NUNES, Antonio Ozório. Como restaurar a paz nas escolas: um guia para

educadores. São Paulo: Contexto, 2011.

PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Trad. Patrícia

Chitonni Ramos - Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

TAILLE, Yves de La. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: Indisciplina da

escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Sumus, 1996.

TIBA, Içami. Disciplina - Limite na medida certa. 8.ed. São Paulo: Editora Gente,

1996.

VASCONCELOS, C. dos S. Disciplina: construção da disciplina consciente e

interativa em sala de aula e na escola, 11. ed. São Paulo: Libertad, 2000. (Cadernos

pedagógicos do Libertad; v.4