Indicadores de sutentabilidade

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL LUIZ FELIPE FERREIRA INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA APLICADOS A PRÁTICAS DE GESTÃO AMBIENTAL – Uma proposta de avaliação por meio da contabilidade ambiental TESE DE DOUTORADO Florianópolis/SC 2010

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Tese defendida na UFSC

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLGICO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA AMBIENTAL

    LUIZ FELIPE FERREIRA

    INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA APLICADOS A PRTICAS DE GESTO AMBIENTAL Uma

    proposta de avaliao por meio da contabilidade ambiental

    TESE DE DOUTORADO Florianpolis/SC 2010

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    LUIZ FELIPE FERREIRA

    INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA APLICADOS A PRTICAS DE GESTO AMBIENTAL Uma

    proposta de avaliao por meio da contabilidade ambiental

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito final para obteno do grau de Doutor em Engenharia Ambiental.

    Orientador: Fernando S. Pinto Santanna, Dr.

    Co-orientador: Sergio Roberto Martins, Dr. Linha de Pesquisa: Gesto Ambiental em Organizaes.

    Florianpolis/SC 2010

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    Catalogao na fonte pela Biblioteca Universitria da Universidade Federal de Santa Catarina F383i Ferreira, Luiz Felipe. Indicadores de sustentabilidade corporativa aplicados a prticas de gesto ambiental [tese] : uma proposta de avaliao por meio da contabilidade ambiental / Luiz Felipe Ferreira; orientador, Fernando Soares Pinto Santanna. - Florianpolis, SC, 2010. 246 p.: tabs. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnolgico. Programa de Ps-Graduao em Engenharia Ambiental. Inclui referncias

    1. Engenharia ambiental. 2 Auditoria ambiental. 3. Gesto socioambiental. I. Santanna, Fernando Soares Pinto. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Ps-Graduao em Engenharia Ambiental. III. Ttulo.

    CDU 628.4

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo ao meu pai, Francisco Luiz Ferreira, e a minha me, Rute Cardoso Ferreira, pelo exemplo de vida e pelo apoio de sempre em todas as horas;

    A Luci, esposa e ao Matheus filho por entenderem os momentos de ausncia e a importncia deste trabalho;

    Aos meus irmos Francisco e Cntia, pela alegria que representam em minha vida;

    Ao eterno irmo Cludio, pelas lembranas e saudades de nossa valiosa convivncia;

    Aos amigos e amigas, em especial Denize Demarche Minatti Ferreira e Andreza Alceoni de Souza Pereira, por suas valiosas contribuies no processo de construo deste trabalho;

    Ao Prof. Fernando Soares Pinto Santanna meu Orientador, e ao Prof. Sergio Roberto Martins, na qualidade de Co-orientador, pela colaborao, pacincia e por acreditarem na viabilidade desta tese;

    Agradeo ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Ambiental, pela oportunidade de aprendizado e crescimento em muitas perspectivas;

    Aos membros da banca examinadora, pelas contribuies apresentadas aprimorando a qualidade final desta tese;

    Agradeo ao Departamento de Cincias Contbeis da UFSC, nas pessoas de meus colegas, em especial, Valdirene, ao Joisse, Hans e Jos Alonso e demais funcionrios, pelo incentivo;

    Obrigado empresa pesquisada pela ateno e dedicao na aplicao da sistemtica, em especial, Goreti, ao Sergio, Jean e Clauco, que muito contriburam para a concluso deste trabalho;

    Universidade Federal de Santa Catarina, por incentivar o aperfeioamento do corpo docente.

    A Deus.

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    De uma nova conscincia pode surgir a criao de um novo mundo, mais justo e sustentvel. Estamos falando

    nada menos do que reinventar a ns mesmos, reenquadrar

    nossas percepes, remodelar nossas crenas e nossos

    comportamentos, adubar nosso conhecimento, reestruturar

    nossas instituies e reciclar nossas sociedades.

    Hazel Henderson

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    RESUMO A necessidade das organizaes apresentarem maior transparncia nos aspectos relacionados ao meio ambiente iniciou-se basicamente na dcada de noventa. Preocupadas com o assunto, as empresas procuraram identificar suas aes potencialmente poluidoras. A anlise, a mensurao e a evidenciao das internalidades e externalidades ambientais passam a ser um instrumento de informao, como meio de monitorar as prticas de gesto socioambiental. Nesse contexto, o objetivo desta tese propor e desenvolver indicadores de sustentabilidade, com apoio da contabilidade ambiental, como forma de avaliar as prticas de gesto socioambiental adotadas por empresas certificadas pela ISO 14001. A abordagem de anlise dos contedos est prevista como mista, abrangendo aspectos quantitativos e qualitativos. A pesquisa est caracterizada como terico-emprica, do tipo exploratria. A aplicao dos indicadores na forma de relatrio, foi efetuada em uma empresa que atua h mais de 100 anos no segmento txtil, dando origem ao mais alto padro de qualidade em produtos de banho, cama e mesa. Localizada na regio sul do Brasil, no Estado de Santa Catarina. Atualmente, a empresa possui um Sistema de Gesto Ambiental implantado, com certificao obtida em agosto de 2009. A metodologia viabilizou a construo de um conjunto de mtricas que sejam ajustadas ao tipo de informao contbil. Reuniu-se os conceitos da norma NBR ISO 14031 e os parmetros estabelecidos pela Global Reporting Initiative e da contabilidade ambiental para a fundamentao do modelo proposto, que possui abrangncia na rea social, ambiental e econmica (triple bottom line). O relatrio proposto busca uma evidenciao para trs anos consecutivos, perseguindo por modelos de produo mais eficientes, bem como contribuir no processo de melhoria contnua. Neste sentido, a aplicao do relatrio corporativo prticas de gesto socioambiental, com as devidas adaptaes ao contexto da atividade da empresa avaliada, permitiu a obteno de inferncias, indicando um compromisso com a gesto socioambiental. Aspectos como: investimentos em fonte alternativa de gerao de energia eltrica, reduo dos custos de produo, reduo do consumo de gua, gerenciamento de resduos, cadastro crtico de fornecedores, rea de reflorestamento, monitoramento de efluentes e resduos, incentivo a qualificao profissional, sade e segurana no trabalho, so abordados pelo modelo. Os 179 indicadores qualitativos e quantitativos possibilitam medir o grau de atendimento de um ou mais objetivos ou

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    uma ou mais metas de desempenho. Conclui-se sobre a viabilidade de aplicao do relatrio corporativo prticas de gesto socioambiental ao contexto empresarial por meio da estrutura proposta, que possui maior alcance e eficincia de evidenciao socioambiental, comparado aos atuais instrumentos adotados pela empresa, constituindo-se, desta forma, em um demonstrativo importante e adicional para os stakeholders interessados na atuao responsvel da organizao. Alm disso, uma ferramenta gerencial, capaz de auxiliar nos direcionamentos internos da empresa, de modo a que obtenham um maior equilbrio de seus resultados econmicos, sociais e ambientais. Palavras-Chave: Sustentabilidade Corporativa. Contabilidade da Gesto Ambiental. Gesto Socioambiental.

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    ABSTRACT

    The organizations need of presenting higher transparency in aspects related to the environment has basically started in the 1990s. Concerned with this issue, the enterprises have started identifying environmentally irresponsible actions. Thus, analyses, measurement and evidencing in environmental internalities and externalities have become to be an information tool, as a way to monitor the practice process in socio-environmental management and, at last, to promote environmental awareness. Within this context, the dissertation objective is to develop and propose sustainability indicators from environmental accounting as a way to evaluate management practices in socio-environmental managements adopted by ISO 14001 certified enterprises. The analyses approach of the contents is foreseen as blended, covering both quantitative and qualitative aspects. This research has empirical theoretical features of the exploitative type. In its initial phase it can be considered exploitative. In exploitative studies, there is the possibility of making use of case study, considering that in model application this research adopts the action research method. The application of the report model proposed was made in an enterprise which is in the market for over a hundred years in the textile field, producing the highest quality pattern in bathing, bedding and table linen products. It is strategically located in the South region of Brazil, in Santa Catarina State. Currently, this enterprise owns an Environmental Management System with certification gotten in August 2009. The methodology aims at making the construction of a set of measurements feasible which are better adjusted to the accounting information type. Considering that the concepts of NBR ISO 14031 norm and the parameters established by Global Reporting Initiative - to build a report - have the same accounting control and register fundaments, it is attributed a direct relation in environmental accountancy as a provider source of information to build a model within social, environmental and economical area coverage (triple bottom line). The model looks for an evidence for three years in a row, trying to identify and/or abandon the intensive operations in resources, pursuing more efficient production models, as well as contributing to a continuous improvement process. The objective of this study was accomplished since it responds to the research problem, presenting the accountancy as a science that has the

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    necessary requirements and it is a tool which enables us to evaluate the socio-environmental variables. This research also validates this study hypotheses the current accounting practice supported by the corporate law lacks of showing the socio-environmental performance of enterprises and that the accountancy in environmental management is a tool which allows us to evaluate such practices. Key Words: Corporate Sustainability Report, Environmental Management Accounting, Socio-environmental Management Practices.

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    SUMRIO 1 INTRODUO.................................................................................. 17 1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA..........................................................24 1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA...............................................24 2 REVISO DA LITERATURA...........................................................29 2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL..................................... 29 2.2 DESENVOLVIMENTO ECONMICO E IMPACTOS AMBIENTAIS....................................................................................... 36 2.3 RESPONSABILIDADE SCIO-EMPRESARIAL........................ 42 2.4 INSTRUMENTOS DE GESTO AMBIENTAL........................... 51 2.4.1 LEGISLAO AMBIENTAL ................................................................... 51 2.4.2 SISTEMA DE GESTO AMBIENTAL ....................................................... 57 2.4.3 AUDITORIA AMBIENTAL ..................................................................... 63 2.4.4 PRODUO MAIS LIMPA ...................................................................... 66 2.4.5 ANLISE DO CICLO DE VIDA - ACV .................................................... 75 2.4.6 BENCHMARKING AMBIENTAL ............................................................. 80 2.5 INDICADORES DE DESEMPENHO SOCIOAMBIENTAL 84 2.5.1 INDICADORES AMBIENTAIS E DE PROCESSOS ...................................... 89 2.5.2 AVALIAO DE DESEMPENHO AMBIENTAL NORMA ISO 14031 ......... 94 2.5.3 RELATRIO DE SUSTENTABILIDADE GLOBAL REPORTING INITIATIVE - (GRI) ........................................................................................................... 98 2.6 O MEIO AMBIENTE E A CINCIA CONTBIL 104 2.6.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL ...................................... 108 2.6.2 CONTABILIDADE E A GESTO SOCIOAMBIENTAL .............................. 112 2.6.3 CONTABILIDADE AMBIENTAL SISTMICA ......................................... 118 2.6.4 CONTABILIDADE DA GESTO AMBIENTAL ........................................ 120 2.6.5 SISTEMA DE CONTAS AMBIENTAIS .................................................... 140 2.6.6 DEMONSTRAES SOCIOAMBIENTAIS ............................................... 153 3 CADEIA PRODUTIVA TXTIL E DE CONFECES 157 4 MATERIAIS E MTODOS 171 4.1 ETAPAS DESENVOLVIDAS PARA O TRABALHO 171 4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS 174 4.3 TRATAMENTO DE DADOS: CONSTRUO DE INDICADORES E RELATRIO CONTBIL 176 4.3 CARACTERIZAO DA EMPRESA 186 5 RESULTADOS E DISCUSSES 188 6 CONCLUSO 229 REFERNCIAS 232

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Prioridades em relao a gerao de resduos..................... 69 Figura 2: Etapas para implementao de um programa de produo mais limpa........................................................... 71 Figura 3: Elementos do processo para oportunidades de produo mais limpa........................................................................... 73 Figura 4: Ciclo de vida de um produto............................................... 75 Figura 5: Protocolo da ACV............................................................... 78 Figura 6: Principais categorias dos dados do inventrio.................... 79 Figura 7: Indicadores ambientais e econmicos................................ 90 Figura 8: Conjunto de indicadores ambientais corporativos.............. 91 Figura 9: PDCA Avaliao de desempenho ambiental................... 96 Figura 10: Reconhecimento do patrimnio abordagem tradicional....114 Figura 11: Reconhecimento do patrimnio abordagem sistmica...... 117 Figura 12: Empresa e viso sistmica do patrimnio......................... 119 Figura 13: Os fluxos materiais so fluxos monetrios........................129 Figura 14: Environmental management accounting (EMA).............. 132 Figura 15: Categorizao das aes ecolgicas empresariais.............135 Figura 16: Diferente localizao dos custos ambientais..................... 149 Figura 17: Entradas e Sadas de Insumos processo de fiao.......... 162 Figura 18: Entradas e Sadas de Insumos processo de beneficiamento.................................................................. 163 Figura 19: Entradas e Sadas de Insumos processo de tecimento.... 165 Figura 20: Entradas e Sadas de Insumos processo de enobrecimento................................................................... 167 Figura 21: Entradas e Sadas de Insumos rea de apoio.................. 168 Figura 22: Esquema da pesquisa.........................................................173 Figura 23: Princpios, orientaes e contedos do relatrio de sustentabilidade corporativa.............................................. 185 Figura 24: Evoluo do sistema de gesto ambiental......................... 196

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    LISTA DE QUADROS Quadro 1: Paradigma cartesiano versus paradigma de sustentabilidade................................................................... 33 Quadro 2: Histrico dos acidentes ecolgicos..................................... 38 Quadro 3: Posicionamento da empresa em relao a questo ambiental............................................................................. 48 Quadro 4: Princpios de Bellagio A avaliao do progresso rumo sustentabilidade................................................................... 85 Quadro 5: Princpios de Bellagio Aspectos principais da avaliao de sustentabilidade.............................................. 87 Quadro 6: Descrio das Etapas do PDCA.......................................... 97 Quadro 7: Orientaes e princpios do relatrio GRI.........................100 Quadro 8: Orientaes para estabelecer o limite do relatrio............ 102 Quadro 9: Princpios para garantir a qualidade do relatrio.............. 103 Quadro 10: Mudanas na empresa pela conscientizao ambiental.....110 Quadro 11: Harmonizao contbil as prticas ambientais..................124 Quadro 12: Contabilidade da gesto ambiental dados fsicos e monetrios......................................................................... 128 Quadro 13: Ferramentas da contabilidade da gesto ambiental passado e futuro.................................................................130 Quadro 14: O que Contabilidade da Gesto Ambiental.................... 131 Quadro 15: Despesas/custos e receitas/gastos na rea do ambiente.....136 Quadro 16: Matriz de identificao balano de massa......................... 138 Quadro 17: Origens das inf. sobre custos e despesas ambientais.........139 Quadro 18: Fases de evoluo sobre custos e despesas ambientais..... 152 Quadro 19: Identificao e coleta de indicadores sociais.....................179 Quadro 20: Identificao e coleta de indicadores econmicos sociais.181 Quadro 21: Relatrio Corporativo: prticas de gesto socioambiental...................................................................191 Quadro 22: Polticas de qualidade e do sistema de gesto ambiental.. 194 Quadro 23: Objetivos e metas ambientais............................................ 198 Quadro 24: Gerenciamento de resduos............................................... 202 Quadro 25: Dados econmicos e ambientais da empresa txtil........... 205 Quadro 26: Dados sociais da empresa txtil........................................ 206 Quadro 27: Mdulo I Perfil da entidade............................................210 Quadro 28: Mdulo II Indicadores Econmicos............................... 217 Quadro 29: Mdulo III Indicadores Sociais...................................... 219 Quadro 30: Mdulo IV Indicadores Ambientais...............................223 Quadro 31: Integrao da contabilidade da gesto ambiental s ferramentas de gesto........................................................................... 227

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    LISTA DE TABELAS Tabela 1: Indicadores de entrada Matria Prima............................. 92 Tabela 2: Indicadores de Sada gerao de resduos....................... 93 Tabela 3: Indicadores de custos e investimentos................................ 93 Tabela 4: Consumo de Energia Eltrica na empresa......................... 199

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    LISTA DE SIGLAS AA - Auditoria Ambiental ACV - Anlise de Ciclo de Vida ADA - Avaliao de Desempenho Ambiental CERES - Coalition for Environmentally Responsible Economies CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CNTL - Centro Nacional de Tecnologias mais Limpas ABC - Activity Based Costs ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento do Extremo-Sul BSI - British Standards Institution CERES - Coalision for Environmentally Responsible Economies CETESB - Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Ambiental CGA Contabilidade da Gesto Ambiental CGAM - Contabilidade da Gesto Ambiental Monetria CGAF - Contabilidade da Gesto Ambiental Fsica CMMAD - Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CNTL-RS - Centro Nacional de Tecnologias Limpas do Senai/RS CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente EEA - European Environmental Agency EIA - Estudo de Impacto Ambiental EMAS - Eco Management and Audit Scheme SEM - Environmental Management Systems EPA - Environmental Protection Agency FNQ - Fundao Nacional da Qualidade GRI - Global Reporting Initiative IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renovveis IBRACON - Instituto Brasileiro de Contadores IAPC - International Auditing Practices Commttee ICAC - Instituto de Contabilidade e Auditoria de Contas ICA - Indicador de Condio Ambiental IDA - Indicador de Desempenho Ambiental IDG Indicador de Desempenho Gerencial IDO Indicador de Desempenho Operacional ISO - International Organization for Standardization LAGA - Laboratrio de Gesto Ambiental na Indstria

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    MMA - Ministrio do Meio Ambiente MP - Ministrio Pblico NBR - Norma Brasileira Registrada NYSE - New York Stock Exchange ONG - Organizao No-Governamental ONU - Organizao das Naes Unidas PDCA - Plan, Do, Check, Act PET - Tereftalato de Polietileno PGRS - Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos PIB - Produto Interno Bruto PNUMA- Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente PNMA - Programa Nacional do Meio Ambiente P&D - Pesquisa e Desenvolvimento SENAI- Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SGA - Sistema de Gesto Ambiental UNEP - United Nations Environmental Program WSCSD - World Business Council for Sustainable Development

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    1 INTRODUO

    A problemtica socioambiental atinge as diversas classes sociais, os diversos nveis de governo, sem distino de fronteiras, sendo necessrio estabelecer critrios, parmetros, regulamentaes e indicadores que norteiem o uso dos recursos naturais.

    A sociedade utiliza para sua subsistncia os benefcios gerados pelas atividades econmicas, que, por sua vez, consomem os benefcios gerados pela natureza, e o homem, nesta simetria est perdendo qualidade de vida, em razo da destruio dos bens naturais, gerada pelos custos externalizados do mercado consumidor.

    Masson (2004, p.15) argumenta que: A questo ambiental no pode ser encarada como um problema de responsabilidade apenas de um segmento, ou uma rea de conhecimento. A questo ambiental transcende a cincia, a economia, a tecnologia, a poltica, e est relacionada vida diria, aos valores morais e ao prprio futuro das demais geraes. antes de tudo, uma atitude que envolve compromissos mltiplos de toda a sociedade, isto , sugere a ao de se responsabilizar pelo que comum.

    Diante do pressuposto de que a questo ambiental transcende

    qualquer rea especfica do conhecimento, acredita-se que futuras tecnologias e inovaes impulsionaro negcios mais sustentveis, criando para as empresas novas opes de agregar valor. O desafio identificar os planos e projetos das empresas, que atuam em ambientes cada vez mais complexos, para incorporar a viso de sustentabilidade em suas estratgias de negcio.

    Para Fernando Almeida, Presidente Executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel1:

    A articulao entre os trs principais atores empresas, governos e sociedade civil determinar a escala de tempo da mudana. Em

    1 Fundado em 1997 e representante do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel (CEBDS) tem a misso de Integrar os princpios e prticas do desenvolvimento sustentvel no contexto de negcio, conciliando as dimenses econmica, social e ambiental.

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    todos esses anos de debates, conferncias globais, aprovao de normas etc., ainda no formamos massa crtica para o surgimento de lderes em nmero suficiente a ponto de conduzir a sociedade ao novo patamar. Apesar de enfrentar internamente dicotomias e contradies, o setor empresarial o que mais tem avanado nesses ltimos vinte anos. Por sua disciplina, averso a entraves burocrticos, capacidade de investimento, as empresas lderes de mercado tm obtido sucesso com a implantao de programas de ecoeficincia e de responsabilidade social corporativa. Sabemos, no entanto, que as mudanas preconizadas exigem mais ainda. Exigem, por exemplo, que as empresas aprendam a antever o futuro sobre os riscos sociais e ambientais de suas atividades, a antecipar-se s regulaes institucionais, a sair da zona de conforto para fazer negcios com uma vasta parcela da populao que hoje est excluda do mercado, entre outras atitudes inovadoras. (LOUETTE, 2007).

    Para Wisner (2006), Ferreira et al. (2008), Nossa (2002) e Gray (2001), os aspectos scioambientais esto crescendo em importncia para a sociedade empresarial. A comunidade de negcios, ou seja, a cadeia produtiva, da extrao ao consumo de produto e/ou servio, tende a estar mais comprometida com a transparncia em suas aes, com a responsabilidade socioambiental e/ou inclinada ao conceito de desenvolvimento sustentvel.

    Entretanto, para Louette (2007, p. 25):

    Se houve uma sensvel evoluo de conceitos e criao de ferramentas para que a responsabilidade social integrasse a estratgia empresarial e a viso do negcio como um todo, essas mudanas no ocorreram de forma homognea, em termos concretos. Coexistem experincias inovadoras que tm como centro o

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    dilogo com stakeholders (partes interessadas)2 e conhecimento dos impactos em toda a cadeia produtiva e de valor e prticas gerenciais pontuais, que visam apenas sanar problemas derivados do contexto social crtico, como no caso brasileiro, ou mesmo da ao direta da empresa.

    O mundo dos negcios tem demonstrado que sua importncia fundamental na preservao do meio ambiente e na definio da qualidade de vida da sociedade. desta relao que surgem as revolues tecnolgicas, os avanos da cincia, a reduo da mortalidade infantil, o aumento da produtividade de gros, porm, em algumas das situaes presenciadas em nosso cotidiano, os resultados tm se apresentado desanimadores em relao aos aspectos scioambientais.

    Outra questo levantada por Masson (2004, p.14), que:

    No incio dos tempos vivamos, perfeitamente integrados, porm, quando aprendemos a cultivar a terra e a desenvolver novas habilidades, essa relao foi sofrendo rupturas, iniciando-se a chamada autonomia do ser humano sobre os elementos da natureza, e, durante muito tempo, tivemos a iluso de que a natureza, com seu formidvel poder depurador e de renovao de seus elementos, fosse capaz de neutralizar as agresses feitas pelo ser humano. Por outro lado, acreditvamos que a cincia pudesse dar respostas aos problemas ambientais que foram sendo gerados.

    Diante desta questo, a incluso da preservao e manuteno dos recursos naturais e da responsabilidade social entre os objetivos gerenciais de organizaes modernas amplia suas perspectivas de continuidade. As empresas tm, a cada dia, identificadas situaes de que parte do investimento financeiro est intimamente ligado a aspectos ambientais, seja em seus processos, como substituio da matria-prima, substituio de equipamentos, por presso da legislao ambiental, situao encontrada no atendimento a padres de emisses,

    2 Stakeholder em uma organizao qualquer grupo ou indivduo que pode afetar ou ser afetado pela realizao dos objetivos dessa empresa. Por exemplo: acionistas, credores, gerentes, empregados, consumidores, fornecedores e o pblico em geral (FREEMAN, 1984).

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    tratamento de resduos slidos, ou para fortalecer sua relao com o mercado. Este ltimo, por exemplo, pode estar associado obteno de certificaes da qualidade e ou da gesto ambiental, e todos considerados investimentos estratgicos de longo prazo.

    Nesse cenrio, a participao da contabilidade de fundamental importncia, uma vez que possibilita identificar os custos associados s internalidades e externalidades ambientais, e sua relao com o entorno da organizao, ou seja, o conjunto de bens sociais, culturais, econmicos e naturais, mensurados monetariamente ou no e que possuem relao estreita e de benefcios futuros com a empresa.

    A dificuldade para o reconhecimento das externalidades ecolgicas na contabilidade entender seus reflexos na empresa, assim apresentado por Nossa (2002), Gray e Bebbington (2001). Alguns conceitos j esto sendo apresentados por pesquisadores da rea, como em Ferreira (1998), que trata a externalidade como o fato inquestionvel de que qualquer atividade afeta, de modo favorvel ou desfavorvel, outras atividades ao longo do processo produtivo.

    A contabilidade, dirigida aos stakeholders da organizao, alicerada em princpios e normas, preza pela informao baseada no valor monetrio, de forma documental. Estes elementos so caracterizados como as internalidades, que possibilitam conhecer a complexidade da atividade organizacional, os custos a ela relacionados, os investimentos decorrentes das variveis ambientais, sociais e econmicas, apresentando, desta forma, relatrios com atributos contbeis e pouco enfoque ambiental, com nfase para a gesto do patrimnio, baseada no valor de suas partes e no na relao e interao com o todo.

    Hendriksen e Breda (1999, p.93) afirmam que a contabilidade a arte do registro, da classificao e da sumarizao, de maneira significativa e em termos monetrios, de transaes e eventos, que so pelo menos, em parte, de carter financeiro. Tais registros so agrupados conforme sua natureza, gerando resultados e posterior interpretao.

    Para que a contabilidade avalie mais adequadamente o patrimnio da organizao, identificando o valor de suas partes e a sua relao com o todo, devem ser considerados sempre que possvel os efeitos monetrios e no os monetrios para alm dos portes da empresa, que so denominados de externalidades ambientais, buscando o monitoramento do desempenho socioambiental das organizaes.

    Este monitoramento pode ser efetuado por meio das prticas e dos relatrios especficos da rea contbil, direcionados s aes e instrumentos de gesto socioambiental adotados pelas empresas.

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    Entende-se aqui como prticas e instrumentos de gesto scio ambiental a adoo de instrumentos de gesto e/ou certificaes, como: qualidade, sistema de gesto ambiental, sistemas integrados de gesto socioambiental, entre outros, ou instrumentos como: produo mais limpa, anlise do ciclo de vida, ecoeficincia, responsabilidade socioempresarial, auditoria ambiental, etc..

    Os resultados da contabilidade devem ser interpretados, conforme apresentado por Hendriksen e Breda (1999), ou seja, a contabilidade dever buscar maior profundidade de transaes e eventos, considerando que a empresa parte de um ambiente de interao (ao e reao). Aqui se ressalta a necessidade de mudana na viso de patrimnio, adotada pela contabilidade nos dias de hoje.

    Esta relao de interao reconhecida pelos usurios da contabilidade no momento em que os desequilbrios ambientais afetam o valor social, natural, cultural ou econmico da empresa, momento em que o valor do patrimnio contbil, at ento avaliado, considerando apenas as internalidades, alterado por influncia das externalidades, isto , a sociedade reconhece a organizao como parte integrante de seu meio.

    Desta forma, em um dado momento, o valor social da organizao difere de seu valor econmico, pois, conforme apresenta a Fundao Nacional da Qualidade (2006, p.10-11), em seu manual, as organizaes so constitudas por uma complexa combinao de recursos humanos e organizacionais, cujo desempenho pode afetar, positiva ou negativamente, a organizao em seu conjunto.

    As relaes complexas da organizao com seu meio externo, quando resultado da troca de matria e energia, esto identificadas como internalidades e externalidades. So reconhecidas pelos stakeholders no momento em que o valor da organizao penalizado, pela reduo dos benefcios gerados (lucro), ou quando transfere a reduo do benefcio a terceiros (reduo do valor das aes comercializadas na bolsa de valores), mesmo reconhecendo que a organizao est inserida num contexto social, econmico, poltico, ambiental, cultural e que pertence ao sistema interligado.

    Esta transferncia da reduo de benefcio identificada em processos de privatizao, fuso ou ciso, em que valor do patrimnio empresarial afetado pelas externalidades, no reconhecidas dentro do sistema contbil. Pode-se afirmar que todos elementos no reconhecidos pela contabilidade, na forma de ativo, passivo, custo ou receita, e que afeta de forma significativa o valor de negociao deste patrimnio, so reflexos da existncia de uma ou mais externalidades.

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    Nesta perspectiva, o programa de produo mais limpa, a avaliao do ciclo de vida, o estudo de impacto ambiental, o relatrio de impacto ambiental, o sistema de gesto ambiental, a auditoria ambiental, e as normatizaes ambientais so instrumentos que permitem identificar e monitorar os impactos ambientais em determinadas etapas, durante o ciclo produtivo, o processo de comercializao, o consumo, o descarte, ou no gerenciamento socioambiental do produto ou do servio.

    Para tanto, na adoo, pela empresa, de qualquer dos programas citados, deve-se avaliar o resultado socioambiental e econmico, buscando identificar as interaes significativas entre o sistema produtivo, o gerenciamento econmico e o meio ambiente, em uma abordagem sistmica, gerando valor.

    Gerar valor para todas as partes interessadas visa aprimorar relaes de qualidade e assegurar o desenvolvimento da organizao. A organizao que age desta forma enfatiza o acompanhamento dos resultados em relao s metas, a comparao destes com referenciais pertinentes e o monitoramento da satisfao de todas as partes interessadas, obtendo sucesso de forma sustentada e adicionando valor para todas elas. A gerao de valor depende cada vez mais dos ativos intangveis, que atualmente representam a maior parte do valor das organizaes (FNQ 2006, p.10-11).

    Dentre as prticas de aprimorar a qualidade, assegurar o desenvolvimento da organizao, na busca pela eficincia do processo produtivo, no monitoramento e acompanhamento dos resultados, as prticas de gesto socioambiental so instrumentos facilitadores na gerao de valor.

    A adoo destas prticas pelas organizaes parte de uma viso estratgica e est calcada no objetivo de preveno poluio, de conservao de recursos naturais, de racionalizao do uso de matrias e energia, de eliminao ou reduo de gerao de resduos, proporcionando maior economia e contribuindo para a preservao do meio ambiente.

    Segundo Capra (1982, p.260), o mundo deve ser visto em termos de relaes e de interaes, por meio de uma concepo sistmica, em que os sistemas so totalidades integradas, cujas propriedades no

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    podem ser reduzidas a unidades menores, o que tem relao direta com o pensamento sistmico. De acordo com a FNQ (2006, p. 10-11):

    O pensamento sistmico o entendimento das relaes de interdependncia entre os diversos componentes de uma organizao, bem como entre a organizao e o ambiente externo [...] mais facilmente demonstrado e compreendido pelas pessoas de uma organizao quando esta adota um modelo de gesto e o dissemina de forma transparente, com um monitoramento por meio de autoavaliaes sucessivas.

    O pensamento sistmico, ao contrrio do pensamento analtico, caracteriza-se pela busca do entendimento da totalidade integrada, por meio da conexo das relaes e do contexto. Analisar significa isolar alguma coisa, a fim de tentar entend-la; o pensamento sistmico significa buscar a sua compreenso no contexto de um todo mais amplo. (CAPRA, 1996)

    Diante deste contexto terico, sociedade versus meio ambiental, faz-se necessria uma viso sistmica, pela aplicao de mtodos multidisciplinares de pesquisa e quebra de paradigmas. A produo cientfica, aliada quebra de paradigma, pea chave na busca de alternativas para a problemtica ambiental, considerando a responsabilidade social do pesquisador, os mais diversos campos de inferncia e que todo trabalho de pesquisa est voltado construo de conhecimento.

    Em sntese, a contabilidade poder contribuir como elemento provedor de informao em processos e programas de gesto ambiental, quando reconhece a organizao inserida em um sistema maior e que o resultado desta interao poder influenciar de forma positiva ou negativa no momento da avaliao de seus componentes sociais, ambientais e econmicos.

    FORMULAO DO PROBLEMA

    As discusses aqui apresentadas revelam uma necessidade de maior transparncia na informao ambiental por parte das organizaes, bem como de mecanismos de controle e de gesto dos aspectos e impactos scioambientais.

    Desta forma, para a transparncia da gesto socioambiental pode-se buscar subsdios na contabilidade. Esta relao entre a contabilidade e

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    as prticas de gesto socioambiental delimita o tema de estudo deste trabalho, que procura responder seguinte problemtica: Como a contabilidade pode subsidiar a avaliao das variveis socioambientais em organizaes que adotam instrumentos e prticas de gesto voltadas para a sustentabilidade empresarial?

    1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA

    Diante da necessidade de monitorar as relaes da empresa com o

    meio ambiente, buscar-se- dentro da contabilidade, tratada num ambiente sistmico, o fornecimento de informaes relativas evidenciao socioambiental, por meio de indicadores econmicos, sociais e ambientais mais caractersticos da atividade da empresa.

    Para responder problemtica de pesquisa apresentada, determina-se, como objetivo geral, desenvolver e propor indicadores de sustentabilidade a partir da contabilidade ambiental como forma de avaliar as prticas de gesto socioambiental adotadas por empresas certificadas pela ISO 14001.

    Para o alcance do objetivo geral so apresentados os seguintes objetivos especficos:

    Atribuir indicadores de sustentabilidade a partir da contabilidade ambiental, subsidiados pelas diretrizes da Global Reporting Initiative e norma ISO 14031;

    Identificar as prticas de gesto ambiental adotadas em uma empresa do setor txtil certificada pela ISO 14001;

    Levantar dados econmicos, sociais e ambientais em uma empresa do setor txtil certificada pela ISO 14001;

    Aplicar o modelo de relatrio de sustentabilidade, a partir da cincia contbil, que avalie o desempenho de prticas de gesto ambiental, que avalie as prticas de gesto socioambiental em empresa certificada pela ISO 14001 do setor txtil.

    1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA

    Aps a revoluo industrial a sociedade passou a estruturar-se de

    uma maneira diferente da que ocorria at ento, principalmente em consequncia do aparecimento da mecanizao, de uma nova

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    organizao de trabalho, de um processo produtivo em srie e voltado obteno do lucro.

    Segundo Melo e Costa (1994, p. 156), posteriormente primeira fase da revoluo industrial, quando havia o predomnio da indstria sobre o comrcio e os servios, o capitalismo industrial foi gradualmente cedendo lugar ao capitalismo financeiro, no qual os grandes bancos passaram a controlar as empresas industriais e comerciais.

    As organizaes que passaram a surgir buscavam desenvolvimento, o que levava ao crescimento indiscriminado urbano, degradao ambiental, valorizao do capital industrial e mudana dos padres de consumo, provocando um desequilbrio socioambiental, alterando a relao homem-sociedade e sociedade-ambiente, que se estende at os dias de hoje.

    A mais importante mudana de valor, enfatizada por Capra (1982), aconteceu em meados dos sculos XVI e XVII, com a ascenso do capitalismo. Neste perodo, valores individuais foram estabelecidos, direitos propriedade, relaes entre mercados e povos e um governo representativo. Este era o incio do atual estgio de degradao socioambiental, presente na sociedade de hoje.

    Aps longas dcadas de vantagens competitivas frente aos desequilbrios ambientais, ou seja, muita extrao e consumo de recursos naturais e pouco investimento em proteo e preservao, surge a necessidade de investimentos econmicos de curto prazo, na manuteno e preservao ambiental, em processos produtivos, em eficincia energtica e em outros mecanismos, que favoream o equilbrio entre homem-sociedade-natureza, com objetivos de resultados econmicos, sociais e ambientais, no longo prazo. Esta uma interpretao econmica para desenvolvimento sustentvel.

    Devido s exigncias deste novo contexto, surge a necessidade de informaes, que traduzam com transparncia as aes ambientais e sociais das empresas e o que elas proporcionam ao meio em que esto inseridas, a fim de prover os usurios internos e externos de instrumento mais eficaz na avaliao ambiental e de prticas relacionadas ao desenvolvimento sustentvel.

    Para esta necessidade de informao, focada na questo socioambiental, a cincia contbil pode contribuir, por ser uma cincia que busca preservar a integridade do patrimnio das organizaes. Esta contribuio torna-se vlida no momento em que variveis e indicadores focados na prtica da gesto ambiental so inseridos nas prticas contbeis ou no momento em que as prticas contbeis so inseridas nos

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    modelos de gesto ambiental. Esta questo demonstra a necessidade de uma harmonizao contbil s prticas de gesto socioambiental, obtendo como resultado um envolvimento maior do profissional da contabilidade com os aspectos de gesto scio ambiental adotados pelas empresas.

    Segundo as diretrizes para o relatrio de sustentabilidade da Global Reporting Initiative (2006, p. 3):

    Um dos principais desafios do desenvolvimento sustentvel a exigncia de escolhas inovadoras e novas formas de pensar. Se, por um lado, o desenvolvimento de conhecimento e de tecnologia contribui para o crescimento econmico, por outro, tambm pode contribuir para solucionar os riscos e danos que esse crescimento traz sustentabilidade de nossas relaes sociais e do meio ambiente. Novos conhecimentos e inovaes em tecnologia, em gesto e em polticas pblicas cada vez mais desafiam as organizaes a fazer novas escolhas em relao ao impacto de suas operaes, produtos, servios e atividades sobre as economias, as pessoas e o planeta.

    Em muitos pases, principalmente os denominados de "primeiro

    mundo", a exigncia na mudana do comportamento das organizaes se deve ao novo perfil de consumo que o mundo globalizado do sculo XXI almeja: empresas que ofeream produtos de qualidade, com preo competitivo, que no agridam o ambiente e sejam comprometidas com o desenvolvimento sustentvel.

    Capra (1982,p.182) sustenta que:

    A evoluo de uma sociedade, inclusive a evoluo do seu sistema econmico, est intimamente ligada a mudanas no sistema de valores que serve de base a todas as suas manifestaes. Os valores que inspiram a vida de uma sociedade determinaro sua viso de mundo, assim como as instituies religiosas, os empreendimentos cientficos e a tecnologia, alm das aes polticas e econmicas que a caracterizam.

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    Assim, para que a sociedade atinja um equilbrio entre as variveis sociais, econmicas e ambientais, necessrio adaptar-se a uma nova viso de mundo, calcada na reduo do consumo, na valorizao do ser e no do ter e voltada para a preservao dos bens naturais, respaldados pela sustentabilidade.

    Esta nova viso de mundo exige uma mudana de valores, de paradigmas. Capra (1982, p. 182) afirma:

    Uma vez expresso e codificado o conjunto de valores e metas, ele constituir a estrutura das percepes, instituies e opes da sociedade para que haja inovao e adaptao social. medida que o sistema de valores culturais muda freqentemente em resposta a desafios ambientais surgem novos padres de evoluo cultural.

    Os governos vm reforando a mobilizao para a preservao do

    meio ambiente, instituindo de leis contra crimes ambientais e tambm para a regulamentao e o estabelecimento de normas s empresas, cujas atividades venham causar danos ao patrimnio natural.

    Para Nossa (2002, p. 54), em relao s aes ambientais, As empresas precisam mensurar, registrar e evidenciar os investimentos, obrigaes e resultados alcanados. Isso contribui para que o desempenho ambiental da companhia tenha ampla transparncia de que os diversos usurios das informaes contbeis precisam, seja internos ou externos.

    No Brasil, atualmente, a literatura contbil, envolvendo a questo ambiental, mais fortemente direcionada abordagem dos custos ambientais, mais especificamente quanto ao ABC (Activity Based Costing); contabilidade ambiental, ao balano social, identificao dos passivos e ativos ambientais; ao relatrio de sustentabilidade, principalmente o voltado s diretrizes GRI, e s inovaes tecnolgicas, como forma de contribuio ao desenvolvimento sustentvel. Algumas pesquisas e estudos, como os de Braga et al. (2009), Alves (2009), Silva (2009), Bufoni (2009), Calixto (2009), Pontes Jnior et al. (2009), Ho (2007), focam a divulgao ambiental, o disclosure ambiental , a evidenciao social e ambiental, a relao entre performance financeira e ambiental, a contabilizao dos impactos ambientais e a relevncia do

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    conjunto da informao contbil ambiental para a tomada de deciso, corroborados por trabalhos apresentados pelo United States Office of Pollution Prevention EPA (1996).

    O crescente nmero de pesquisas na rea ambiental busca identificar o eixo em que o desempenho ambiental possa ser relacionado com o desempenho financeiro, considerando que a gesto dos recursos naturais (matria e energia), tm, no longo prazo, o potencial para desempenhar um papel central na performance financeira das empresas.

    Na Universidade Federal de Santa Catarina destacam-se os trabalhos realizados nos Programas de Ps-Graduao em Engenharia de Produo, Engenharia e Gesto do Conhecimento e em Engenharia Ambiental. Neste ltimo, os principais trabalhos relacionados com a indstria esto ligados ao Laboratrio de Gesto Ambiental na Indstria (LAGA), que abordam com mais nfase a implantao de sistemas em indstrias, tais como: alimentcias, qumicas, cermica e metalmecnica.

    Entretanto, a maioria dos trabalhos foram realizados com o objetivo de destacar ou apresentar um modelo para uma implantao de um sistema de gesto ambiental, uma metodologia para avaliao de impactos, viabilidade econmica de processos produtivos entre outros. Tais trabalhos podem ser classificados como tcnicos, tericos, cientficos ou empricos.

    Dentro desta premissa de trabalhos, voltados aplicao em indstria, constata-se ento a importncia de realizar um estudo que evidencie as aes empresariais e as prticas de gesto socioambiental por parte destas empresas. Desta forma, a partir da linha de pesquisa sobre Gesto Ambiental em Organizaes do LAGA, decidiu-se realizar um estudo, buscando apresentar um relatrio corporativo, a partir da contabilidade, como forma de avaliar as prticas de gesto socioambiental, adotadas por empresas certificadas pela ISO 14001, o que define a relevncia desta pesquisa.

    Como contribuio cientfica, o trabalho conta com procedimentos metodolgicos mais comuns rea contbil e financeira, incorporados como instrumentos direcionadores no processo de gesto socioambiental. Disponibilizar este modelo para a sociedade, buscando aprimorar o relato pelas organizaes, e a forma de gesto, um marco determinante no papel da academia para com a sociedade.

    O estudo possibilita ainda estabelecer uma correlao interdisciplinar entre a Cincia Contbil e a Engenharia Ambiental, permitindo apresentar um modelo de relatrio corporativo, que associa uma abordagem qualitativa e quantitativa de elementos sociais,

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    econmicos e ambientais, auxiliando na estratgia empresarial e na viso geral do negcio.

    2 REVISO DA LITERATURA 2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    O atual modelo de crescimento econmico vem gerando enormes desequilbrios. Se por um lado nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, do outro lado, a misria, a degrao ambiental e a poluio aumentam dia a dia. Diante dessa constatao, surge a necessidade de conciliar o desenvolvimento econmico com a preservao ambiental, e a reduo das desigualdades sociais. Buscando-se uma harmonia entre o homem e o meio ambiente.

    Em suas dimenses fsicas, a economia um subsistema aberto do ecossistema terrestre, o qual finito, no-crescente e materialmente fechado. medida que o subsistema econmico cresce, ele incorpora uma proporo cada vez maior do ecossistema total e deve alcanar um limite de consumo, esgotando a capacidade de gerao do prprio sistema. Por isso, seu crescimento no sustentvel.

    Para Maimon (1996, p.10), o desenvolvimento sustentado procura

    Simultaneamente a eficincia econmica, a justia social e a harmonia ambiental. Mais do que um novo conceito, o desenvolvimento sustentado um processo de mudana, onde a explorao de recursos, a orientao dos investimentos, os rumos do desenvolvimento ecolgico e a mudana institucional devem levar em conta as necessidades das geraes futuras.

    O conceito de desenvolvimento sustentvel tem como premissa a utilizao de recursos naturais, mantendo-os, para que sejam utilizados pelas futuras geraes. Fundamenta-se em mudanas de postura, valores e atitudes, est associado forma de pensar, consumir e viver. Faz-se necessrio preservar o meio ambiente, mantendo a sade das cadeias produtivas, respeitando os princpios de sustentabilidade do ambiente,

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    primando para que a relao homem-natureza ocorra com menor dano possvel ao meio.

    Para Donaire (1999, p. 40):

    O conceito de desenvolvimento sustentado tem trs vertentes principais: crescimento econmico, equidade social e equilbrio. Induz um esprito de responsabilidade comum como processo de mudana no qual a explorao de recursos materiais, os investimentos financeiros e as rotas do desenvolvimento tecnolgico devero adquirir sentido harmonioso. Nesse sentido, o desen-volvimento da tecnologia dever ser orientado para as metas de equilbrio com a natureza e de incremento da capacidade de inovao dos pases em desenvolvimento e progresso ser entendido como um fruto de maior riqueza, maior benefcio social equitativo e equilbrio ecolgico.

    Morin e Kern (2003, p.66) descrevem que:

    A economia mundial parece oscilar entre crise e

    no crise, desregramentos e re-regulaes. Profundamente desregulada, ela no cessa de restabelecer regulaes parciais, frequentemente custa de destruies (de excedentes, por exemplo, para manter o valor monetrio dos produtos) e de prejuzos humanos, culturais, morais e sociais em cadeia (desemprego, progresso do cultivo de plantas destinadas droga). O crescimento econmico, desde o sculo XIX, foi no apenas motor, mas tambm regulador da economia, fazendo aumentar simultaneamente a demanda e a oferta. Mas ao mesmo tempo destruiu irremediavelmente as civilizaes rurais, as cultuas tradicionais. Ele produziu melhorias considerveis no nvel de vida; ao mesmo tempo provocou perturbaes no modo de vida.

    Para os autores, a explorao mxima dos recursos naturais

    sempre foi entendida como exerccio das atividades econmicas,

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    tornando-se o meio mais eficaz para a produo e a manuteno de riquezas, algo to desejado pelo homem. Inicialmente, a grande fora econmica advinha da explorao colonial, fruto da escravido em que o homem por meio de sua fora era o que mais valia. Hoje se concentra ainda no homem, no mais na fora e sim no intelecto, no valor do capital humano, como elemento de produtividade e qualidade de vida.

    As prticas e polticas do desenvolvimento sustentvel tm atrado considervel ateno e debate nos ltimos 20 anos. Neste entendimento, as preocupaes sobre questes ambientais e desenvolvimento sustentvel tm evoludo ao longo do tempo. Evidncias sugerem que o foco sobre o econmico, o social e o ambiental (triple bottom line) resulta em vantagens financeiras, de seguros, de comercializao, no atendimento regulamentao, e outras reas. Hoje para as empresas no basta vender um produto ou servio a um cliente e virar a esquina. Uma rpida evoluo para um mercado global-local, com um conjunto de regras comuns, fundamental para facilitar o comrcio e, ao mesmo tempo, estas regras tm que ser flexveis o suficiente para serem aplicveis s empresas em todo o mundo (CARAIANI et al., 2007).

    Segundo Capra (1982), Marx j enfatizava a importncia do meio ambiente nos contextos social e econmico, mas no seria de se esperar que lhe fosse dada tanta nfase naquela poca, uma vez que a ecologia no era um problema em voga. Ainda , segundo Capra (1982), por mais incidentais que fossem as afirmaes, Marx j apontava para possveis impactos ecolgicos decorrentes da forma de atuao da economia capitalista [...]. A abordagem inspirada em Marx parte da premissa de que a relao do ser humano com a relao externa sempre mediada por relaes sociais.

    Contudo, a riqueza gerada no foi o bastante para atender s necessidades mais elementares, como: saneamento bsico, moradia, oferta de trabalho, vesturio, entre outros. Em pleno sculo XXI, a desigualdade social assombra os governantes de diversas partes do mundo. A industrializao e o crescimento econmico so sinnimos de degradao ambiental. Por outro lado, a industrializao e o crescimento econmico so os alicerces do desenvolvimento social, priorizando definir as dimenses e as interaes da ecologia, da economia e das relaes sociais, para o perfeito equilbrio do meio natural.

    De acordo com Ribeiro (2005, p. 3):

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    Urge conciliar os sistemas econmico e ecolgico, em especial, porque os dois necessariamente interagem. Assim, no se pode fazer uma escolha entre desenvolvimento econmico ou meio ambiente saudvel. A convivncia harmoniosa entre eles de fundamental importncia, visto que so vitais para a sobrevivncia da humanidade; no so mutuamente exclusivos, mas partes que se complementam.

    Segundo Sucena (2004), sob a perspectiva do desenvolvimento

    sustentvel, as indstrias devem controlar a emisso de gases poluentes na atmosfera e evitar lanar resduos txicos no solo e nos rios; a agricultura deve reduzir o uso de agrotxicos e o desmatamento de reas naturais matas, cerrados, etc. As cidades devem respeitar as reas de floresta e rios que protegem seus mananciais, e reduzir o volume de resduos sem proveito.

    Masson (2004, p. 15) destaca que: Os caminhos a serem percorridos na preservao dos ecossistemas, possibilitando a continuidade da vida para as presentes e futuras geraes, certamente no sero trilhados sob uma nica dimenso. H que se ter em mente que a complexidade imbricada nos problemas contemporneos requer um esforo que vai alm de uma disciplina, um olhar, um saber, uma lgica para a construo de um novo estilo de desenvolvimento, na perspectiva da sustentabilidade de um determinado lugar.

    Para tornar vlidas as questes apresentadas por Ribeiro (2005),

    Sucena (2004), Masson (2004) e Almeida (2002), faz-se necessrio a quebra de paradigmas, de que as aes de consumo e as empresariais no se limitam s questes econmicas, mas refletem uma preocupao com a sociedade e com o meio ambiente, pela conscientizao de que tudo est interligado. A complexidade no s de conceitos, mas de atitudes, para uma mudana de paradigma, pode ser identificada no Quadro 1.

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    Cartesiano Sustentvel

    Reducionista, mecanicista, tecnocntrico Orgnico, holstico, participativo

    Fatos e valores no relacionados Fatos e valores fortemente relacionados

    Preceitos ticos desconectados das prticas cotidianas

    tica integrada ao cotidiano

    Separao entre objetivo e o subjetivo Integrao entre o objetivo e o subjetivo

    Seres humanos e ecossistemas separados, em relao de dominao

    Seres humanos inseparveis dos ecossistemas, em uma relao de sinergia

    Conhecimento compartimentado e emprico

    Conhecimento indivisvel, emprico e intuitivo

    Relao linear de causa e efeito Relao no linear de causa e efeito

    Natureza entendida como descontnua, o todo formado pela soma das partes

    Natureza entendida como conjunto de sistemas inter-relacionados, o todo maior que a soma das partes

    Bem-estar avaliado por relao de poder (dinheiro, influncia, recursos)

    Bem-estar avaliado pela qualidade das inter-relaes entre os sistemas ambientais e sociais

    nfase na quantidade (renda per capita) nfase na qualidade (qualidade de vida)

    Anlise Sntese

    Centralizao de poder Descentralizao de poder

    Especializao Transdisciplinaridade

    nfase na competio nfase na cooperao

    Pouco ou nenhum limite tecnolgico Limite tecnolgico definido pela sustentabilidade

    Quadro 1: Paradigma cartesiano versus paradigma da sustentabilidade Fonte: Almeida (2002)

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    Para Almeida (2002), a idia de interao e integrao, dentre uma nova viso de mundo, fundamentada no dilogo entre saberes e conhecimentos diversos.

    Tais atitudes de mudanas devem ser tomadas sem colocar em risco o atendimento s necessidades atuais e buscando o equilbrio entre as partes. At recentemente o foco das atenes voltava-se ao crescimento econmico e a processos produtivos, pouca relevncia era dispensada qualidade de vida. No havia uma responsabilidade pela degradao do meio natural, tudo era transferido a terceiros e o responsvel, nesse caso, o poluidor, mantinha sua conduta.

    Com a difuso de prticas voltadas ao desenvolvimento sustentvel e de uma legislao ambiental mais influente, a sociedade reconhece que a questo econmica se mantm custa de um ambiente natural e que sua continuidade est alicerada na reformulao dos padres de conduta e consumo humano.

    Por sua vez, Valle (2006, p. 31) identifica outras atitudes que podem contribuir para promover o consumo equilibrado:

    a) reviso de projetos de produtos, respectivas embalagens, alinhando-os com novos paradigmas do desenvolvimento sustentvel; b) reviso das tcnicas e dos processos de produo, ajustando-os s novas exigncias ambientais; c) racionalizao no transporte e na distribuio de produtos e servios; d) estmulo ao uso mltiplo de produtos e servios locao, arrendamento, compar-tilhamento, possibilitando a utilizao mais intensiva e racional de um menor nmero de unidades disponibilizadas; e) introduo de novos hbitos de consumo, migrando dos bens materiais para os servios: comunicao distncia ao invs de deslocamento fsico, prtica de esportes naturais, ecoturismo, etc

    Ao longo do tempo, tanto a economia quanto a ecologia mantm

    relao estreita entre si, tendo como divisor o meio social, que internaliza ou externaliza o resultado das relaes do homem com a natureza e o equilbrio necessrio desta trade pode ser identificado no conceito de desenvolvimento sustentvel.

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    Para Maimon (1996, p. 10), o desenvolvimento sustentado procura, simultaneamente, a eficincia econmica, a justia social e a harmonia ambiental. Mais do que um novo conceito, o Desenvolvimento Sustentado um processo de mudana, em que a explorao de recursos, a orientao dos investimentos, os rumos do desenvolvimento ecolgico e a mudana institucional devem levar em conta as necessidades das geraes futuras.

    Para a Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,

    Os principais objetivos das polticas ambientais e desenvolvimentistas que derivam do conceito de desenvolvimento sustentvel so, entre outros, os seguintes: Retomar o crescimento; alterar a qualidade do desenvolvimento; atender s necessidades essenciais de emprego, alimentao, energia, gua e saneamento; manter um nvel populacional sustentvel; conservar melhor a base dos recursos; reorientar a tecnologia e administrar o risco; incluir o meio ambiente e a economia no processo de tomada de decises.

    De maneira geral, os aspectos prioritrios do desenvolvimento

    sustentvel apresentam os principais itens para o equilbrio do ecossistema, a fim de se alcanar o equilbrio em uma sociedade. Especificamente, tal definio aborda dois aspectos conceituais: o primeiro o atendimento das necessidades bsicas da sociedade no presente; o segundo impe a preservao dos recursos do meio ambiente, a fim de garantir a qualidade de vida das futuras geraes.

    A sustentabilidade est caracterizada de forma ampla, relacionando-se a um meio ecolgico, social e econmico, estruturados de forma racional, para a harmonia do conjunto homem-sociedade. A ameaa a este sistema equilibrado se deve basicamente relao entre o chamado progresso econmico e o social, afetando por consequncia o meio natural.

    Com a ameaa de esgotamento dos recursos naturais, as organizaes modernas precisam adotar uma postura de responsabilidade social, seja por meio de investimentos em equipamentos preventivos ou pelo reconhecimento dos males j causados ao meio ambiente natural e consequente reparao dos danos.

    A esse respeito, Zainko (2002, apud Masson, 2004, p. 15) enfatiza,

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    A necessidade de se ter uma viso ampliada de ambiente, abrangendo as dimenses de sustentabilidade ambiental que valorize a biodiversidade, a sustentabilidade econmica capaz de assegurar oportunidades de gerao de renda, a sustentabilidade social que tenha compromisso com a elevao das oportunidades, a sustentabilidade cultural que preserve o legado cultural das geraes, a sustentabilidade poltica possibilitando o crescimento da participao e a dimenso afetiva, que possibilita a tica na construo de um novo estilo de vida.

    Nesta perspectiva, a misso da empresa produzir e consumir

    bens e/ou servios, utilizando uma quantidade menor de recursos naturais primrios e gerando menos degradao ambiental, para que continue a existir no futuro. Para o longo prazo, uma alternativa eficaz disseminar e garantir a educao nos diversos nveis, ampliar atendimentos bsicos de sade com qualidade, redirecionar o papel do estado enquanto ente responsvel em garantir as necessidades bsicas do indivduo, buscando preservar a equidade social. 2.2 DESENVOLVIMENTO ECONMICO E IMPACTOS AMBIENTAIS

    As distores sociais e a degradao ambiental tambm esto presentes em pases que mostram desenvolvimento econmico, tecnolgico e cientfico elevados, indicadores sociais altos, reduzido crescimento populacional, entre outros fatores, o que permite dizer que a relao entre o homem, a economia e a ecologia no se sustenta atendendo somente a uma das combinaes.

    No ltimo meio sculo identifica-se facilmente os pases que deixaram a condio de subdesenvolvidos, associados a uma avaliao econmica. Isso se reflete no fato de que o desenvolvimento no se alcana com programas pr-definidos, necessitam constantemente ser reorientados face a dinmicas sociais, econmicas e financeiras influenciadas por acordos internacionais.

    O desenvolvimento econmico precisa ser definido, buscando uma combinao de preservao ambiental, reestruturao do modelo econmico e produtivo com melhorias tecnolgicas, que subsidiem

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    sustentabilidade nos indicadores sociais, ambientais e culturais e uma reformulao nos padres de consumo da sociedade.

    Philippi Jr. et al. (2004) destacam que o desenvolvimento econmico, acompanhado da globalizao da administrao dos recursos do planeta, deve ser tomado pelo homem, admitindo que os impactos de escassez, mesmo os setoriais, nos sistemas fsico-qumico-biolgico naturais, ou artificialmente construdos, por ele, so inevitveis. Esses sintomas constituem organismos complexos, cujas partes so inseparveis. Desta forma, o meio natural mantm uma relao econmica com o desenvolvimento, que abriga as relaes sociais em toda a sua dimenso humana.

    O homem no pode agir economicamente, sem considerar a globalidade dos efeitos de uma possvel escassez no sistema que lhe serve e os impactos ambientais provocados pelo desgaste natural deste sistema, frente s diversidades provocadas pelo denominado desenvolvimento econmico. A expresso impacto ambiental teve uma definio mais precisa nos anos 1970 e 1980, quando diversos pases perceberam a necessidade de estabelecerem diretrizes e critrios, para avaliar efeitos diversos das intervenes humanas na natureza.

    Conforme Barbieri (2004), a expresso impactos ambientais, decorrentes de aes humanas, est sempre associada a efeitos negativos sobre os elementos do ambiente natural e social, pois a degradao ambiental pode ser resultado dessas aes. A definio jurdica de impacto ambiental no Brasil vem expressa no art. 1 da Resoluo 1 de 23.1.86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 1986), nos seguintes termos:

    Considera-se impacto ambiental qualquer alterao das propriedades fsicas qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente, afetam: a sade, a segurana e o bem estar da populao; as atividades sociais e econmicas; a biota; as consideraes estticas e sanitrias do meio ambiente; e qualidade dos recursos naturais.

    Acidentes envolvem no s grandes perdas econmicas, mas

    tambm danos irreversveis ao meio, populao e s regies onde as indstrias esto instaladas. O registro desses fatos fez com que

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    surgissem manifestaes pblicas, reivindicando regulamentaes e punies contra as aes que degradassem o meio ambiente.

    Neste cenrio, as empresas so os principais agentes causadores de impacto ambiental, caracterizado pela extrao, produo, comercializao, ou o transporte de material poluente e tambm o principal alvo de crticas por parte da sociedade, do governo, de ambientalistas e de organizaes no governamentais, devido ao histrico de desastres ambientais.

    O Quadro 02 apresenta alguns dos principais acidentes ecolgicos, que afetaram significativamente o meio ambiente na segunda metade do sculo XX e incio do sculo XXI.

    HISTRICO DE ACIDENTES ECOLGICOS

    ANO LOCAL DESASTRE AMBIENTAL CONSEQUNCIAS

    1967 Inglaterra Naufrgio do petroleiro Torrey Cnion

    Centenas de km da costa da Cornualha foram poludos.

    1982 Ontrio, Canad

    Chuvas cidas provocadas por gases txicos formados pela queima de combustveis

    Morte de peixes em 147 lagos. O governo canadense acusa os EUA de indiferena em relao questo ambiental.

    1984 So Paulo, Brasil

    Rompimento de um oleoduto da Petrobrs

    Exploses e incndio arrasam a favela de Vila Soc, uma das reas mais poludas do planeta, causando a morte de 150 pessoas e ferimentos em quase 200.

    1984

    Mxico Vazamento em tanques e botijes de gs com exploses sucessivas

    Morte de 500 pessoas e ferimentos em cerca de 4.000.

    1984 Bhopal, ndia

    Vazamento de isocianeto de metila em uma fbrica de pesticidas da Union Carbide

    Mais de 2.000 pessoas mortas por intoxicao e por volta de 200.000 com graves leses nos olhos, pulmes, fgado e rins.

    continua

  • 39

    1986 Chernobyl, antiga URSS

    Exploso destri um dos quatro reatores de uma usina atmica, lanando 100 milhes de curies da radiao na atmosfera, 6 milhes de vezes o volume que escapou em Three Mile Island, nos Estados Unidos, poucos anos antes, no que era considerado at ento o pior acidente atmico da histria

    Trinta e uma pessoas perderam a vida e outras 40.000 ficaram sujeitas ao risco de cncer nos cem anos seguintes.

    1987 Goinia, Brasil

    Manuseio de cpsula de Csio 137 em depsito de ferro velho

    Contaminao de dezena de pessoas com 4 mortes em poucos dias.

    1989 Alasca

    Petroleiro Exxon Valdez bate em um recife e derrama 41.5 milhes de litros de petrleo bruto no estreito de Prncipe William.

    Cerca de 580.000 aves, 5.550 lontras e milhares de outros animais morrem no maior acidente ambiental da histria recente dos Estados unidos. No auge da operao mais de 10 000 pessoas estiveram envolvidas, com um custo dirio superior a 8 milhes de dlares americanos.

    1993 Reino Unido

    Petroleiro Braer se chocou contra rochas, se quebrou em dois e derramou 80 milhes de gales de leo, o correspondente a 84.700 toneladas do produto.

    Considerado "o pior desastre ambiental britnico".

    2000 Paran, Brasil

    Ruptura da junta de expanso de uma tubulao da Refinaria Presidente Getlio Vargas, tornando-se o maior desastre ambiental provocado pela Petrobras em 25 anos -

    Quatro milhes de litros de leo foram despejados nos rios Barigi e Iguau, no Paran.

    continuao

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    2001

    Rio de Janeiro, Brasil

    Exploses e afundamento da maior plataforma submersvel do mundo a P-36 da Petrobrs, ocasionando vazamento de petrleo na bacia de Campos.

    Na exploso, 11 operrios morreram, os problemas ambientais foram agravados pela elevada quantidade de dispersante qumico utilizada pela Petrobrs para tentar fazer desaparecer a mancha de leo formada no oceano.

    2002 Galcia, Espanha

    Navio Prestige, de bandeira das Bahamas, partiu-se ao meio, provocando o vazamento de cerca de 10 mil toneladas de leo.

    Mais de 295km da costa e 90 praias foram contaminados.

    2004 Paran, Brasil

    Exploso do navio-tanque chileno Vicua, carregado com 11 mil toneladas de metanol. Alm do metanol o navio continha cerca de 1.150 toneladas de bunker e 150 toneladas de leo diesel.

    Num raio de trinta quilmetros de extenso, foram atingidos reas de mangue, praias, ilhas, costes rochosos e rios e golfinhos e peixes apareceram mortos.

    2005 China

    Cerca de 100 toneladas de benzeno foram lanadas no rio Songhua, depois de um acidente em uma indstria qumica.

    Contaminao da gua de rios usada para o consumo humano. O benzeno altamente txico e cancergeno. O nvel de benzeno chegou a 108 vezes maior que o permitido para sade humana

    2007

    Crimia, Ucrnia

    Uma violenta tempestade fez partir ao meio um pequeno petroleiro russo derramando 2.000 toneladas de combustvel nas guas do mar Negro

    Morte de milhares de aves a animais marinhos. A estimativa que o acidente matou mais de 30 mil pssaros e um nmero inestimvel de peixes.

    2007 Coria do Sul

    Coliso entre petroleiro Hebei Sprit, de Hong Kong, e um cargueiro com bandeira sul-coreana no Mar Amarelo, provoca o vazamento de 10 mil toneladas de leo

    A mancha de leo se espalhou por mais de 17km, atingindo a praias de turismo e pesca, e reservas naturais fundamentais para sobrevivncia de aves migratrias.

    continuao

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    2010 Mxico

    O vazamento de leo no golfo do Mxico comeou em 20 de abril, quando uma plataforma de petrleo da empresa petrolfera britnica BP (British Petroleum) na regio explodiu e afundou, deixando 11 mortos

    Estima-se que tenham sido derramados no mar mais de 20 milhes de litros desde que ocorreu o desastre. O leo j penetrou nas restingas ao redor do delta do Mississipi em forma de petrleo pesado e ameaa o frgil ecossistema da regio.

    Quadro 2: Histrico de acidentes ecolgicos. Fonte: Ambiente Global (2001), Empresa e Ambiente (2000 apud Nossa 2002, p. 39) e Ambiente Brasil (2010).

    O histrico de acidentes, apresentado no Quadro 2, descreve alguns dos que tiveram repercusso, mas cabe salientar que todos os dias o meio ambiente contabiliza prejuzos com os impactos ambientais.

    Os impactos ambientais podem ainda estar caracterizados como manifestaes positivas, dentre as quais: a oferta de gneros alimentcios de melhor qualidade nutricional, aparncia e de perecibilidade, com repercusses evidentes na sade humana e no mercado deste tipo de produto; o menor uso de biocidas e herbicidas em projetos agrrios, em funo do aumento da resistncia das espcies comerciais s pragas e doenas, com desdobramentos positivos junto ao solo, ar, gua e biota, alm do aspecto de racionalizao de custos e outros.

    O impacto ambiental pode estar caracterizado como uma alterao no ambiente, que provoque algum desequilbrio nas relaes constitutivas do meio, tais como as que excedam a capacidade de absoro do ambiente natural. A maioria dos impactos ocorre devido ao rpido desenvolvimento, caracterizado, em sua maioria, por questes econmicas, sem o controle e a manuteno dos recursos indispensveis ocorrncia do equilbrio natural. A consequncia pode ser a poluio, o uso incontrolado de recursos, como gua e energia, o uso desordenado do solo, o desmatamento entre outros aspectos.

    A criao de instrumentos de natureza preventiva, como os estudos de impacto ambiental, representou avano significativo nas aes sobre o meio natural. Os acidentes ambientais contriburam como alerta necessidade da preservao ambiental. A Lei n.6.938/81, de 31 de agosto de 1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio

    continuao

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    Ambiente, incorporou mecanismos que redirecionaram algumas empresas para um caminho voltado responsabilidade socioambiental. 2.3 RESPONSABILIDADE SCIO-EMPRESARIAL

    Nos ltimos anos a gesto do meio natural tem merecido ateno especial, a sustentabilidade dos negcios depender diretamente da atuao de cidados conscientes e ecologicamente responsveis.

    Para Louette (2007, p. 25):

    Dos anos 90 at hoje, um grande nmero de ferramentas, como certificaes scioambientais, movimentos e campanhas foram criados em vrias partes do mundo com o objetivo de consolidar conceitos como responsabilidade social e desenvolvimento sustentvel, traduzindo-os em prtica de gesto. Espera-se que as organizaes sejam transparentes e que esta transparncia possa ser verificada.

    As organizaes esto transformando sua maneira de agir, ou

    seja, a sociedade exige uma postura mais tica em relao aos seus atos, existindo uma cobrana do retorno social ao meio em que esto inseridas. Os problemas ambientais so alvos de constantes preocupaes, e cada vez mais as organizaes inserem em seus planos de negcios o conceito e as aes referentes ao desenvolvimento sustentvel, ou seja, as empresas que possuem este tipo de gesto responsvel no perdem competitividade, mas sim obtm benefcios com aes de preservao, fazendo disto um diferencial.

    Louette (2007, p. 25) argumenta ainda que:

    Na dcada atual, j possvel perceber uma evoluo nas prticas e conceitos de responsabilidade social empresarial, que ganha consistncia como atividade profissional. Hoje, as aes de responsabilidade social so compreendidas no apenas como investimentos que resultaram do sucesso econmico das empresas, mas so discutidas sob uma viso mais ampla, que permita identificar as condies

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    sociais e ambientais que levaram realizao dos lucros. Esses elementos tornam-se, ento, fatores importantes de avaliao dos impactos econmicos dessas organizaes. Falamos, portanto, de uma viso estratgica da responsabilidade social como um dos elementos de base para garantir a evoluo sustentvel.

    Um conceito de responsabilidade social empresarial RSE, que

    no descarta a relao econmica do contexto empresarial, o apresentado por representantes do World Business Council for Sustainable Development, em 1998, na Holanda:

    [...] responsabilidade social empresarial o comprometimento permanente dos empresrios de adotar um comportamento tico e contribuir para o desenvolvimento econmico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de suas famlias, da comunidade local e da sociedade como um todo (WBCSD, 2000, p. 2).

    O conceito de responsabilidade social empresarial est sempre

    associado ao engajamento das partes interessadas e sustentabilidade corporativa nas dimenses econmica, social e ambiental, como resultante do desenvolvimento na perspectiva de negcios. Para o Instituto ETHOS de Empresas e Responsabilidade Social (2008), a responsabilidade social empresarial :

    [...] a forma de gesto que se define pela relao tica e transparente da empresa com todos os pblicos com os quais se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatveis com o desenvolvimento sustentvel da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para geraes futuras, respeitando a diversidade e promovendo a reduo das desigualdades sociais.

    Partindo desses pressupostos, a responsabilidade social

    empresarial, como parte integrante das estratgias de negcio, requer o

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    engajamento das diversas partes interessadas por meio de um dilogo aberto, e parcerias construtivas com organizaes intergovernamentais, organizaes no governamentais, os vrios nveis do governo, outros elementos da sociedade civil e, em especial, as comunidades locais (WBCSD, 2000).

    Na economia de hoje, as organizaes esto cada vez mais chamadas a demonstrar uma boa gesto empresarial, que inclui a preocupao do ponto de vista econmico, social e das questes ambientais. Os desafios criados pela concorrncia global tornam imperativo para as empresas racionalizar e melhorar continuamente todos os recursos e processos (GUIDO GUERTLER 2001 apud CARAIANI, et al. 2007).

    As empresas do atual sistema empresarial comportam-se de forma responsvel, quando sua sobrevivncia est ameaada ou quando alguma atitude que adotem possa gerar valor. Corroborando com essa afirmativa, Maimon (1996, p. 52) salienta que os fatores determinantes da responsabilidade ambiental das empresas so a presso dos rgos de controle e da comunidade local, a origem do capital (nacional/privado, multinacional ou pblico) e o grau de insero da empresa no mercado internacional.

    Com isso, a informao ecolgica passa a ser estratgica para evitar preocupaes e surpresas na colocao da empresa no ambiente em que atua e para assegurar sua continuidade em longo prazo. As empresas se veem foradas a considerar a informao ecolgica na tomada de decises, tamanhas as imposies governamentais, as presses sociais e as penalidades pelo uso de tecnologias inadequadas. O empresrio depara-se com a necessidade de promover discusses e pesquisas que reduzam o nvel de poluio e que, ao mesmo tempo, sejam economicamente viveis (RIBEIRO, 1992, p.ii).

    Justamente uma legislao ambiental mais rigorosa, elemento bsico para que muitas empresas percebam a inadivel necessidade de cumprir seu papel de compromisso ambiental, sob o ponto de vista de proteo e preservao do meio ambiente. Esse aspecto vai alm dos parmetros adotados por organizaes modernas, que hoje esto focadas na remunerao do capital investido e na obteno do lucro em detrimento das riquezas naturais.

    Segundo Donaire (2006), para muitas organizaes, a varivel ambiental, do ponto de vista empresarial, est diretamente relacionada com o aspecto econmico, vista como um custo e no como um investimento. A idia que prevalece a de que qualquer providncia que venha a ser tomada pelos gestores, em relao s questes ambientais,

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    acarretar um aumento das despesas e dos custos do processo produtivo. O autor acrescenta ainda que, mesmo com a conscientizao de que o desembolso com a varivel ambiental significa aumentar os custos, algumas organizaes tm demonstrado que possvel ter rentabilidade sem deixar de contribuir para a minimizao dos impactos causados ao meio ambiente.

    Merico (1996) afirma que a questo ambiental tem sido tratada, dentro do pensamento econmico, no mbito da microeconomia. O que se busca internalizar no preo de um produto os custos dos efeitos ambientais externos da produo, fazendo com que o preo final reflita a degradao do ambiente; esta internalizao dos custos ambientais um problema microeconmico e seria desejvel que fosse largamente adotado, o que no acontece na realidade.

    As preocupaes ambientais, destacadas por Merico e Donaire, identificam estreita relao das variveis econmicas com os aspectos ambientais, onde existe uma simetria entre preservao do meio ambiente e a composio dos custos empresariais. Contudo, a contribuio significativa nesse espao de dez anos (entre as obras citadas) quando um considera o aspecto de internalizar os custos, como elemento chave na questo dos efeitos ambientais, o outro relaciona a busca da rentabilidade por meio da minimizao dos impactos ao meio ambiente.

    Entretanto, Gray e Bebbington (2001) argumentam que as empresas sofrem presso de fatores positivos e negativos para evidenciar as informaes ambientais, sendo que os nveis de evidenciao ambiental nos relatrios de uma empresa dependem, principalmente, da sua cultura organizacional. Os fatores positivos da evidenciao so: legitimizar as atividades correntes; buscar a ateno da mdia para outra rea da empresa; influenciar positivamente no preo das aes; apresentar vantagem competitiva; construir uma imagem positiva da organizao; e do lado negativo da evidenciao esto presentes: os custos diretos e indiretos de evidenciao; a disponibilidade de dados ambientais; a falta de exigncia legal, e por fim, as prioridades da empresa esto focadas em outras reas.

    Os autores ressaltam que os assuntos ambientais so discutidos publicamente e com isso a comunidade de negcios est cada vez mais envolvida, o que tem dificultado para uma companhia de grande porte declarar a sua no inteno de evidenciar informaes ambientais.

    evidente a necessidade de encontrar solues para enfrentar os problemas de resultados econmicos, advindos do consumo de bens naturais. Faz-se necessrio conhecer os mecanismos que relacionam o

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    meio ambiente ao processo produtivo e, da mesma forma, estratificar o consumo dos recursos naturais, derivados dos principais processos, e o nvel de degradao frente a este consumo.

    O meio ambiente, ao interagir com todas as atividades humanas, modificado continuamente por essas atividades. A varivel econmica est sempre presente nessa interao, pois a implantao de novas leis, as demandas e presses de consumidores ou a prpria conscincia dos empresrios constituem-se em fatores que foram uma nova postura e novas regras de conduta no tocante s atividades industriais, com repercusses sobre os custos da produo (MERICO, 1996).

    A nova postura empresarial frente s questes ambientais dever primordialmente enfatizar um processo de conscientizao e de educao ambiental dos colaboradores da organizao; avaliar o comprometimento ambiental da equipe e inserir a varivel ambiental no planejamento estratgico e nos negcios.

    Esta mudana cultural de incluso da responsabilidade empresarial destacada por Louette (2007, p. 25), quando afirma:

    Reconhecemos que os conceitos e prticas de responsabilidade social so recentes e se encontram em processo de construo. Do ponto de vista das organizaes existem, ao mesmo tempo, diferentes realidades, necessidades e desafios, mas uma preocupao: incluir as prticas de RSE sua cultura e seus sistemas de gesto.

    Segundo Caraiani et al. (2007), tradicionalmente, a

    regulamentao ambiental tem abrangido o meio ambiente (ar, gua e terra), juntamente com a vida selvagem, proteo e conservao. Ela concentra-se sobre o controle das emisses de poluentes na manuteno e melhoria da qualidade da gua e gesto de resduos. Futuramente, a principal legislao ambiental susceptvel de ser desenvolvida nas seguintes reas-chave:

    gesto dos impactos ambientais de produtos e atividades conexas e servios (tais como a fabricao e transporte), adaptando uma abordagem do ciclo de vida;

    utilizao eficiente dos recursos como parte do esforo de produo e consumo sustentveis;

    manuteno e reforo da biodiversidade e responsabilidade social e corporativa.

  • 47

    Para Wisner (2006), as empresas tm adotado estratgias de gesto ambiental por uma srie de razes. A regulamentao governamental leva as empresas a cumprir padres ambientais, criando assim uma srie de normas para que administrem os resultados ambientais. A presso para um bom desempenho ambiental tambm exercida por diversas partes interessadas, incluindo investidores, clientes, entidades no governamentais, comunidades locais e funcionrios. Cada vez mais, a comunidade de investimento tem reconhecido que o desempenho ambiental est intimamente ligado ao valor da empresa. Essa orientao pr-ativa, por sua vez, influencia o desempenho ambiental da organizao, que posteriormente tem uma influncia positiva sobre os principais resultados financeiros.

    fato que empresas que incorporaram a varivel socioambiental, na tentativa de resolver esta problemtica acabaram por fazer bons negcios, passaram a registrar reflexos positivos frente comunidade, clientes, funcionrios, fornecedores e demais partes interessadas e passaram a adotar um novo posicionamento de gesto frente ao mercado, como identifica o Quadro 03.

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    Quadro 3: Posicionamento da empresa em relao questo ambiental Fonte: North (1992, apud DONAIRE 2006, p. 52-53).

    Buscando corroborar com Wisner (2006), Faria e Sauerbronn

    (2008) apresentam e analisam trs abordagens para a responsabilidade social: a primeira, a abordagem normativa parte do pressuposto de que as atividades desenvolvidas por uma empresa esto sujeitas ao julgamento moral. J na segunda abordagem, a contratual, h presente um enfoque sociopoltico, privilegiando os interesses dos diferentes grupos com os quais a empresa interage e os conflitos decorrentes. E, por fim, a abordagem estratgica tem como nfase o aproveitamento de oportunidades e a reduo de riscos, identificando demandas de cunho tico ou social, que podem repercutir nas atividades da empresa.

    De acordo com North (1992 apud DONAIRE, 2006, P.53-56), pode-se realizar a avaliao ambiental a partir de aspectos inerentes

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    gesto de recursos, produtos e processos, caracterizando posicionamento agressivo ou amigvel ao meio ambiente. O autor explica que para uma correta avaliao ambiental da empresa devem ser consideradas as seguintes variveis:

    a) O Ramo de Atividade, como a mais importante ameaa que pode ser causada pela empresa ao meio ambiente, bem como os custos necessrios para a sua regularizao, de acordo com norma ambiental, no sendo, contudo, suficiente conhecer apenas o ramo de atividade, devido variao nos nveis de tecnologias.

    b) O Produto em especial, oriundo de matrias-primas renovveis ou reciclveis, que no agride o meio ambiente, tem a preferncia de empresas que respeitam a causa especfica.

    c) Os Processos de trabalho, considerando tambm todas as entradas e sadas. O padres ambientais estabelecidos so relevantes, para avaliar se a empresa est longe ou perto dos objetivos, capazes de enquadr-la ambientalmente como amigvel ou hostil.

    d) A Conscincia Ambiental dos stakeholder, pois a falta de atores conscientizados ambientalmente pode ocasionar a falsa impresso no mercado de bens e servios de que no existem ameaas pela crescente alterao de produtos amigveis; e, assim, deve-se acompanhar as reivindicaes ambientais.

    e) Os Padres Ambientais representam indicadores relevantes. Quanto maior a conscientizao social mais restrito ser o padro ambiental. Nos pases em que o uso de padres crescente, maiores so as oportunidades de novos negcios relacionados questo ambiental, inclusive exportando Know-how para outras naes.

    f) O Comprometimento Gerencial sinaliza uma das mudanas no nvel interno da empresa, em relao questo ambiental, e representa a conscientizao do nvel gerencial. Este comprometimento dissemina um clima propcio para a qualidade ambiental, bancos de sugestes, auditorias, etc., que se traduzem em uma contnua busca de melhorias.

    g) O Nvel de Capacidade do Pessoal requer investimentos em novas tecnologias e em equipamentos alm de treinamento e qualificao de todos os envolvidos no processo, a fim de poder transformar projetos em aes efetivas e eficazes.

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    h) A Capacidade da rea de Pesquisa e Desenvolvimento. As empresas tm demonstrado ser capazes de antecipar e reagir rapidamente s mudanas do mercado e legislao ambiental. Portanto, as organizaes, que possuem na rea de P&D equipes flexveis e criativas e que esto atualizadas com as informaes sobre novas tecnologias, podem viabilizar a causa ambiental internamente, desenvolvendo grandes oportunidades de negcios.

    i) Capital. A empresa no sabe se os investimentos realizados com a questo ambiental sero rentveis, pois muitas vezes o esses investimentos podem levar tempo para gerar um retorno compatvel com o esforo despendido. Como o retorno do investimento no pode ser previsto em termos determinsticos, sempre haver necessidade de aporte de capitais prprios ou de terceiros, para que a empresa se integre na causa ambiental. Negociar com rgos governamentais poder viabilizar o investimento, resultando em cronogramas mais amplos, facilitando objetivos difceis de serem alcanados no curto prazo.

    Dentro de um contexto de maximizao de retornos no longo

    prazo, que nem sempre est relacionado mtrica financeira, a otimizao de processos, a reduo de custos e a melhoria da imagem institucional que podem traduzir em mercado fortalecido, funcionrios comprometidos, fornecedores parceiros, maior facilidade ao comrcio de capitais, novas oportunidades de negcios, voltadas responsabilidade social e ambiental da organizao.

    E, para buscar esta nova realidade intrnsec