Inclusao social

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O Design de Informação na Produção de Material para a Inclusão Social Manuela Coitinho 1 Sassaki (apud SILVA; PINTO; 2010) define “inclusão social” como o processo pelo qual a sociedade e a pessoa com deficiência procuram se adaptar visando a equiparação de oportunidades e, consequentemente, uma “sociedade para todos”. A importância do design como acelerador do desenvolvimento social é um assunto discutido com afinco a cada dia, uma vez que novos produtos são lançados a partir da busca de novas tecnologias e conceitos oriundos dos estudos de design da informação e da semiótica 2 . O presente artigo tratará a inclusão social e o papel do design a fim de colaborar com a reflexão de que esta ciência volta-se para as necessidades de todos não focando apenas a população mais abastada. Ao contrário do que muitos leigos pensam o Design não visa apenas finalidades estéticas, ao contrário, envolve-se igualmente na inserção das minorias, como é o caso das pessoas com deficiência. O design colaborando com a Inclusão Social A inclusão de PNEs 3 é um assunto muito discutido, inclusive academicamente. Muitas são as formas de inclusão estudadas hoje, principalmente quando se refere aos deficientes visuais. Muitos são os modelos criados em sistemas diferentes que usam as tecnologias mais avançadas, como é o caso da pesquisa por voz utilizada pelo Google, o projeto Voim 4 , ou ainda mais antigo – a empresa Natura 1 Acadêmica do Bacharelado em Design do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul- Rio-Grandense - Campus Pelotas; e-mail: [email protected]. 2 Ciência que investiga as linguagens; tem como objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido. 3 Portadores de necessidades especiais são pessoas que necessitam de uma atenção maior por qualquer limitação ou condição física e/ou psicológica que traga dificuldade em alguma atividade comum a maior parte da população. Para o governo, em linhas gerais, no artigo 3º do Decreto 3298 de dezembro de 1999, um portador de necessidade especial é qualquer ser humano que tenha a incapacidade para o desenvolvimento de atividades dentro do padrão considerado normal para ele, sendo ela permanente por não permitir recuperação ou alteração apesar do aparecimento de novos tratamentos, por já ter ocorrido a sua consolidação. 4 Projeto dos designers Youngseong Yeom Kim e Eunsol; significa ‘ver’ em coreano. É um novo conceito de smartphone para cegos que inclui reconhecimento de palavras e identificação de objetos exibidos em braille em uma tela de silicone ou transmitidos como sinais de áudio através do fone de ouvido bluetooth destacável.

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O Design de Informação na Produção de Material para a Inclusão Social Manuela Coitinho1

Sassaki (apud SILVA; PINTO; 2010) define “inclusão social” como o

processo pelo qual a sociedade e a pessoa com deficiência procuram se adaptar

visando a equiparação de oportunidades e, consequentemente, uma “sociedade

para todos”.

A importância do design como acelerador do desenvolvimento social é um

assunto discutido com afinco a cada dia, uma vez que novos produtos são lançados

a partir da busca de novas tecnologias e conceitos oriundos dos estudos de design

da informação e da semiótica2.

O presente artigo tratará a inclusão social e o papel do design a fim de

colaborar com a reflexão de que esta ciência volta-se para as necessidades de

todos não focando apenas a população mais abastada. Ao contrário do que muitos

leigos pensam o Design não visa apenas finalidades estéticas, ao contrário,

envolve-se igualmente na inserção das minorias, como é o caso das pessoas com

deficiência.

O design colaborando com a Inclusão Social

A inclusão de PNEs3 é um assunto muito discutido, inclusive

academicamente.

Muitas são as formas de inclusão estudadas hoje, principalmente quando

se refere aos deficientes visuais. Muitos são os modelos criados em sistemas

diferentes que usam as tecnologias mais avançadas, como é o caso da pesquisa por

voz utilizada pelo Google, o projeto Voim4, ou ainda mais antigo – a empresa Natura

1 Acadêmica do Bacharelado em Design do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense - Campus Pelotas; e-mail: [email protected]. 2 Ciência que investiga as linguagens; tem como objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido. 3 Portadores de necessidades especiais são pessoas que necessitam de uma atenção maior por qualquer limitação ou condição física e/ou psicológica que traga dificuldade em alguma atividade comum a maior parte da população. Para o governo, em linhas gerais, no artigo 3º do Decreto 3298 de dezembro de 1999, um portador de necessidade especial é qualquer ser humano que tenha a incapacidade para o desenvolvimento de atividades dentro do padrão considerado normal para ele, sendo ela permanente por não permitir recuperação ou alteração apesar do aparecimento de novos tratamentos, por já ter ocorrido a sua consolidação. 4 Projeto dos designers Youngseong Yeom Kim e Eunsol; significa ‘ver’ em coreano. É um novo conceito de smartphone para cegos que inclui reconhecimento de palavras e identificação de objetos exibidos em braille em uma tela de silicone ou transmitidos como sinais de áudio através do fone de ouvido bluetooth destacável.

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do Brasil, que faz uso de códigos em Braille em todas as suas embalagens. Aqui,

como podemos ver, há uma atualização nas formas de inclusão social bem como

uma grande busca específica no desenvolvimento de novos produtos. Ainda entre as

diferentes áreas do design que tratam de inclusão, podemos citar o Ecodesign5 que

não somente trata das questões ambientais, como produzir novos produtos com

elementos naturais e recicláveis, mas principalmente da educação ambiental entre

os grupos de risco social, como os catadores de resíduos recicláveis, em função do

artesanato, principalmente.

Semiótica aliada a Inclusão

Mager (2010) considera que, na base da comunicação, as informações

são construídas em função dos componentes integrantes do processo comunicativo.

Desse modo, o designer alicerça seus projetos no impacto que irá causar nos

usuários e na qualidade de sua interação. Para que o impacto e a interação gerem

efeitos significativos, devem ser considerados diversos pontos, dentre eles o estudo

da semiótica, que possibilita o desenvolvimento ou construção de simbolismos

eficientes e coesos. Reafirmando essa ideia, Queiroz (2010) afirma que as

consequências mais incisivas da construção desses simbolismos dependem da

manipulação de signos específicos que são capazes de prover soluções para

problemas também específicos, como no caso dos PNEs.

Ao sintetizar o pensamento de Charles Piece baseado em seu livro The

Collected Papers of Charles S. Peirce: Elements of Logic (1932) Queiroz (2010)

destaca que uma importante propriedade do símbolo é a representação das coisas

que não precisam, necessariamente, existir. Desta forma a relação entre signo e

objeto torna-se dependente de um terceiro termo, o interpretante (usuário): “o

símbolo está conectado com o objeto em virtude da ideia de uma mente que usa o

símbolo, sem a qual tal conexão não existiria” (QUEIROZ, 2010). Sendo assim,

[...] através da aquisição gradual de um sistema simbólico, o homem descobre uma maneira de adaptação ao meio, transformando toda a vida humana. Esta capacidade de abstração, responsável pela formalização de todo um universo simbólico, representa uma capacidade exclusiva do

5 É todo o processo que contempla os aspectos ambientais onde o objetivo principal é projetar ambientes, desenvolver produtos e executar serviços que de alguma maneira irão reduzir o uso dos recursos não-renováveis ou ainda minimizar o impacto ambiental dos mesmos durante seu ciclo de vida. Isto significa reduzir a geração de resíduo e economizar custos de disposição final.

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homem, diferente em espécie de qualquer outro organismo. (CORREIA, 2009)

Design Informacional aplicado a uma realidade

A título de exemplificação, neste artigo, será apontado um produto de

design de informação, o ColorAdd® do designer português Miguel Neiva6, que aos

poucos está se destacando pela inovação em produtos já existentes para a inclusão

de daltônicos no convívio social. A partir desta informação poderemos inferir que é

aliado, neste momento, o design de informação ao design de produto, minimizando

as dificuldades impostas pela deficiência visual (IZIDORO; ALENCAR; MENEZES;

2006). Neiva (2010) destaca que o ColorAdd® é

[...] um código monocromático, sustentado em conceitos universais de interpretação e desdobramento de cores, que permite finalmente aos daltônicos a correta identificação das cores. Este código visa oferecer aos daltônicos independência aquisitiva, uma mais fácil integração social em situações em que a opção e escolha da cor é relevante e a minimização do sentimento de perda gerada pela deficiência, com o consequente aumento de bem-estar e autoconfiança. (NEIVA, 2010)

Segundo o site Revista De2ign, o ColorAdd®, obviamente, não é a

solução para o daltonismo mas configura-se em uma alternativa, mesmo que

temporária, para cerca de 10% dos homens do planeta que sofrem com este

problema. Neiva (2010) estudou o problema por mais de 8 anos até desenvolver

este sistema de códigos, que consiste em combinar cinco símbolos (um para cada

cor primária – azul, verde e vermelho –, e para as cores branca e preta) para

identificar a maior parte das cores utilizadas no dia-a-dia, em produtos, nas ruas,

dentre outros.

Nas figuras 1 e 2 apresentamos o diagrama desenvolvido pelo designer,

em uma associação de círculos e em formato tabela que possibilita aos daltônicos a

discriminação de cores primárias e secundárias de acordo com a simbologia

adotada para cada informação.

6 Licenciado em Design de Comunicação Visual pala ESAD de Matosinhos (1983); membro efetivo da direção da Associação Portuguesa de Designers; Mestre em Design e Marketing pela Universidade do Minho; professor na área do design gráfico, componente design de moda e design têxtil (1997 até hoje).

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Figura 1: Miguel Neiva, Cores primárias e secundárias indicadas pelo ColorAdd®, 2010.

Fonte: http://www.coloradd.net

Figura 2: Miguel Neiva, Cores primárias e secundárias indicadas pelo ColorAdd®, 2010.

Fonte: http://www.coloradd.net

A Revista De2ign informa ainda que o projeto já foi implantado em uma

marca de lápis de cor portuguesa, como destacado na figura 3.

Figura 3: Viarco Portugal, Lápis de cor com o sistema ColorAdd®, 2010.

Fonte: http://www.coloradd.net/index.asp

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Esta metodologia está em estudo para ser adaptado ao metrô da cidade

do Porto – Portugal (figura 4), que será o primeiro metrô adaptado para daltônicos

no mundo.

Figura 4: Metrô em Portugal, Proposta de adaptação do sistema ColorAdd® em Porto, 2010. Fonte:

http://www.coloradd.net

Há, inclusive, um adendo a um projeto de lei no Brasil para tentar incluí-lo

nos sinais de trânsito, como apontamos na figura 5.

Figura 5: Semáforo no Brasil, Proposta de adaptação do sistema ColorAdd® em semáforos no Brasil, 2011. Fonte:

http://caras.uol.com.br

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Considerações finais

A inclusão social é um assunto em evidência e que se destaca ainda mais

por conta da mídia. A inserção de um PNE, independente do modo, se deve a partir

de projetos mecânicos e visuais onde são necessários estudos físicos e psicológicos

anteriores a execução de um projeto.

O profissional de design, aliado à tecnologia, deve tomar conhecimento

de todos os pontos relevantes à questão e estudar a melhor maneira de intervir na

relação homem x mundo existente naquele instante, em tal ponto específico.

Com isso, surgem novas propostas e produtos capazes de prover a

inserção de indivíduos com alguma necessidade diferenciada, de maneira com que

ele não se sinta “excluído” por si próprio através da redução do impacto que esta

deficiência gera na sociedade.

Referências

CARAS online. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://caras.uol.com.br/noticia/living-design-coloradd-o-design-como-ferramenta-de-inclusao#image0>. Acesso em: 07 mai. 2013, 12:53.

CORREIA, Claudio Manoel de C. Fundamentos da Semiótica Peirceana.. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009.

Ecodesign. In: Ministério do Meio Ambiente . Disponível em: <http://www.mma.gov.br/component/k2/item/7654>. Acesso em: 21 jun. 2013, 13:21.

IZIDORO, Cristiane de C; ALENCAR, Francisco de; MENEZES, Marizilda dos S. Design de Inclusão. In: 7º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimen to em Design . Paraná, 2006.

MAGER, Gabriela B. A Relação entre Semiótica e Design . Doutora em Design – PUC – Rio de Janeiro, 2010.

MANO, Thiago. ColorAdd, um sistema de identificação de cores para daltônicos. In: Revista De2ign , 2011. Disponível em: <http://www.revistadesign.com.br/2/2011/10/14/coloradd-um-sistema-de-identificacao-de-cores-para-daltonicos/>. Acesso em: 05 mai. 2013, 01:22.

MANSO, Maria Elisa G. Os portadores de necessidades especiais e o novo Código Civil. Revista Jus Navigandi. In: Portal R7 , 2003. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/4314/os-portadores-de-necessidades-especiais-e-o-novo-codigo-civil>. Acesso em: 10 mai. 2013, 00:13.

MEDEIROS, José Paulo. Acadêmicos do Design da FAE desenvolvem TCCs voltados para a inclusão social e eco design. In: Design: Saber criar, 2011. Disponível em: <http://josepaulodesigner.blogspot.com.br/2011/12/academicos-do-design-da-fae-desenvolvem.html>. Acesso em: 10 mai. 2013, 18:03.

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NEIVA, Miguel. ColorAdd® , 2010. Disponível em: <http://www.coloradd.net>. Acesso em: 05 mai. 2013, 02:03.

QUEIROZ, João. Sistemas semióticos, artefatos cognitivos, Umwelt: uma contribuição ao Design da Informação. InfoDesign: Revista Brasileira de Design da Informação , v. 7, n.º 2, p. 7-12, 2010.

SILVA, Maria Cristina da R. F. da; PINTO, Thais de C. L. Inclusão Social: O Design como parte integrante no ensino da Arte. Revista Educação, Arte e Inclusão: Trajetórias de Pesquisa , vol. 2, 2010.

WAR, Usuário. Celulares para cegos. In: Blog Brasil Acadêmico . Disponível em: <http://blog.brasilacademico.com/2011/01/celulares-para-cegos.html>. Acesso em: 04 jun. 2013, 18:20.