(In) disciplina Escolar AMANDA VICENTE DOS SANTOS BUENO · limites na educação e quais as medidas...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU’
A VEZ DO MESTRE
(In) disciplina Escolar
AMANDA VICENTE DOS SANTOS BUENO
ORIENTADORA
ANA CRISTINA GUIMARÃES
RIO DE JANEIRO 2010
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU’
A VEZ DO MESTRE
(In) disciplina Escolar
Apresentação de monografia ao Instituto A vez do Mestre – Universidade Cândido Mendes Como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Administração e Supervisão Escolar. Por: Amanda Vicente dos Santos Bueno
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Agradecimentos
A Deus, por te me dado a sua infinita graça e a minha família e aos meus amigos de Administração
e Supervisão Escolar.
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DEDICATÓRIA Eu Amanda dedico este trabalho... A minha família que aceitaram a minha ausência em vários momentos; Ao meu pai de modo especial, que sempre me apoiou acreditando na minha capacidade e valorizando meus estudos; Ao meu irmão que me ajudou muito para que eu continuasse nessa jornada tão importante da minha vida, tendo muita paciência, suportando minha ausência muitas vezes. Eu Amanda dedico este trabalho... A todos os meus amigos que apoiaram e incentivaram mais essa etapa de minha vida; A minha mãe que mesmo nas horas árduas me incentivou a sempre caminhar em busca de meus objetivos.
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Resumo
Este trabalho buscou analisar a postura dos gestores escolares e professores diante de um
dos seus maiores desafios, que é a indisciplina e a falta de limites dos alunos, que geram
situações cada vez mais agravantes dentro do ambiente escolar, pontuando assim como o
gestores e professores vem trabalhando para reverter este problema, destacando que eles
devem ter capacidade para mediar os conflitos e solucionar os problemas vindo do dia-a-dia
escolar. Para tanto, foi abordado o conceito de indisciplina, enfatizando suas causas e
efeitos; a importância da participação da família e sua responsabilidade na questão de
inserir limites e valores em seus filhos para que os mesmos consigam conviver em
sociedade; a interação professor-aluno, sendo este um fato muito importante na busca da
resolução deste problema; destacando a visão da sociedade e também a relevância do
trabalho entre a comunidade escolar e o corpo docente. Assim pontuei algumas sugestões
para tentar superar este desafio, utilizando a pesquisa etnográfica e bibliográfica como
metodologia.
Palavras chave: Desafio; escola; indisciplina; gestor escolar e professores; família; limites;
valores.
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Metodologia
Este trabalho apresenta uma investigação sobre a concepção de indisciplina entre os
diversos atores sociais, tais como: os gestores, os professores, os pais e os alunos. Com
esse propósito busquei compreender a questão da indisciplina e controle dos alunos no
contexto da escola especificamente, na visão pedagógica que utiliza basicamente de
pesquisa bibliográfica e etnográfica como seu conteúdo principal. Para o desenvolvimento
da pesquisa, primeiramente foi definido qual seria o objeto de estudo e realizado um
levantamento bibliográfico e etnográfico relacionado ao assunto. Ao longo da revisão da
literatura, constatei que conceber indisciplina dentro do contexto escolar é uma tarefa difícil.
Pesquisando o assunto em literaturas especificas, encontrou-se o conceito de indisciplina,
suas possíveis causas, como é a relação do professor com o aluno, a importância dos
limites na educação e quais as medidas para se combater a indisciplina escolar tudo isso
associado a uma variedade de sentidos. Tal variedade conceitual parece refletir a
complexidade desse fenômeno nas escolas. O entendimento do que seja indisciplina no
contexto escolar pode variar de acordo com a situação, com o tipo de aula a ser dada, e até
mesmo com o perfil do professor. Enfim, conceber o que é indisciplina escolar não é tão
simples, pois seu conceito pode ser influenciado por diversas variáveis. Os gestores também
vivenciam situações de apreensão, incerteza, insegurança e conflito, que envolvem
indisciplina e se apresentam no cotidiano da escola, fazendo com que repensem suas
práticas educativas e questionem velhos conceitos. Tal pesquisa, pretendeu também propor
sugestões e estimular aos gestores, professores, reflexões sobre as práticas pedagógicas
diante das situações de indisciplina.
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Sumário
Introdução
Capítulo I – Referencial teórico Capítulo II- Gestores seu papel e seus desafios Capítulo III- Metodologia da pesquisa Conclusão Referências Bibliográficas Índice
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Introdução
A escola vive uma situação de tensão e de conflito permanentes que a desvia muitas
vezes de seu objetivo final – a educação, preparação para a vida em sociedade.
Atualmente, se encontra rodeada de problemas destacando-se entre eles, a questão
da indisciplina e falta de limites dos alunos, fator que tem sido principal alvo de discussão
entre diversos educadores.
Neste trabalho de pesquisa, destaco algumas causas desta problemática, pontuando
e enfatizando que esta situação não é responsabilidade exclusiva da escola. Se este
problema vem se mostrando com freqüência cada vez maior no ambiente escolar, talvez
seja por que não existe realmente uma consciência das famílias e da sociedade de
perceberem-se co-responsáveis na educação, intervindo com uma ação conjunta à da
escola para sanar este problema, e o que acaba acontecendo é o jogo de “empurra –
empurra” de responsabilidades.
No primeiro capítulo, busquei destacar o significado da palavra disciplina e sua
concepção de acordo com o dicionário de Língua Portuguesa e alguns autores, assim como
o conceito de indisciplina.
Outro ponto importantíssimo que foi ressaltado, é a questão da família, sua importância
responsabilidade; a influência que exercem na vida das crianças principalmente no que diz
respeito à inversão de valores, falta de limites e falta de modelos éticos a seguir. Sendo
assim de acordo com
Yves De Latailles,
A família deveria proporcionar condições para formação de uma estrutura psicológica moral capaz de preparar esse aluno para conviver em ambientes regrados. Isso só reforça a relação que se estabelece entre o comportamento indisciplinado do aluno e sua formação moral; indicando, portanto, que a raiz do problema está, também no tipo de educação moral que as crianças vêm recebendo. (DE LATAILLES 1996, p. 23)
As mudanças na sociedade que acontecem cada vez com mais rapidez de tal forma
que o que se pode considerar certo hoje pode ser errado amanhã, e as crianças acabam por
ficar desorientadas e sem rumo.
Já no segundo capítulo apontei com especial atenção a postura do gestor escolar
diante dessa situação, pois ele, como mediador da unidade escolar deve ter firmeza e
autonomia para buscar soluções eficazes para essa questão. Através da pesquisa
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bibliográfica e etnográfica pontuei algumas sugestões de possíveis posturas as quais ele
pode lançar mão.
Outro aspecto discutido no presente capítulo se refere à visão da indisciplina na
perspectiva social, assim como a importância da participação da sociedade na vida dos
alunos.
No terceiro foi abordado as discussão de dados a partir de um questionário
respondido por alunos e corpo pedagógico o qual foi realizado no Colégio Estadual Prof°
Murilo Braga em São João de Meriti. O presente questionário tinha como tema os principais
problemas que circundam a indisciplina. Diante disso, desenvolvi a pesquisa com o intuito
de compreender a indisciplina e suas diferentes dimensões, refletir sobre as relações
interpessoais na sala de aula e na escola e sobre a importância do trabalho coletivo para a
organização da prática pedagógica na sala de aula e na escola. Diante desta constatação,
percebe-se a necessidade de um maior engajamento por parte da escola em busca de
alternativas de intervenções para o enfrentamento de conflitos na sala de aula. Enfatiza-se
que o trabalho coletivo é o principal instrumento de viabilização dessas ações. O diálogo, o
estudo e a cooperação são os instrumentos que mediarão o caminho na busca por uma
disciplina que considere o respeito como condição principal nas relações existentes na
escola.
Contudo, através desta pesquisa bibliográfica e etnográfica pude chegar a conclusões
importantes que nos trarão maior embasamento neste assunto.
Iniciarei trazendo alguns conceitos sobre indisciplina.
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Capítulo I
Referencial Teórico
1.1 Conceito da indisciplina
Nos dias de hoje, o ensino escolar passa por um momento crítico, uma vez que a
questão disciplinar vem se agravando progressivamente e, conseqüentemente, dificultando
a relação professor-aluno e prejudicando o ensino e a aprendizagem.
Sendo assim, tal questão vem sendo objeto de crescente preocupação no meio
educacional, pois são constantes as reclamações por parte dos gestores e professores em
relação às ocorrências de indisciplina nas escolas.
O dicionário de Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, de acordo com Içami Tiba, traz definições para o termo disciplina: - Relações de subordinação do aluno ao mestre instrutor; - Ordem que convém ao funcionamento regular de uma organização (militar, escolar, etc.); - Observância de preceitos ou normas; - Ensino, instrução, educação. (1996, p. 145).
A disciplina tem se constituído em preocupações permanentes de educadores,
diretores, especialistas, e demais autoridades educacionais.
Na escola pode ser observada por diversas situações:
- Na organização espacial na sala de aula; - Na prática pedagógica e currículo desvinculado da realidade; - Nas relações interpessoais; - Na organização de funcionamento. Manter a disciplina na escola tornou-se, assim, um verdadeiro desafio para o
ensino. E para poder lidar com o problema da indisciplina, é preciso, primeiramente,
conhecer os conceitos de indisciplina, os quais podem ter enfoques diferentes conforme a
visão de cada autor. É também preciso considerar segundo Franco em seu livro “Problemas
de Educação escolar” diz que:
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“[...] a indisciplina não pode ser entendida de maneira estanque, como fosse algo que dissesse respeito a este ou aquele envolvido com o processo. A disciplina, ao contrário, diz respeito todos os envolvidos com a prática escolar e ser compreendida como algo necessário para atingir um fazer pedagógico coerente e eficaz, estando intimamente relacionada à forma como a escola organiza e desenvolve o seu trabalho. Nesse sentido a disciplina está indissoluvelmente ligada ao processo de transmissão e assimilação dos conhecimentos elaborados historicamente pelo homem”. (FRANCO 1986, p.13).
Portanto, disciplina deve ser preocupação de todos os envolvidos no processo educativo. Celso Antunes; em seu livro “Professor bonzinho – aluno difícil, a questão da indisciplina em sala de aula“, apresenta a seguinte comparação: “ A existência da indisciplina na escola é como um incêndio na mata.Raramente O foco é único e na oportunidade em que queima de um ponto alcançar a outro tornando muito difícil a tarefa dos bombeiros. Na maior parte das escolas não é diferente, a indisciplina quase sempre emana a três focos: a escola e a sua estrutura, o professor e sua conduta e o aluno e sua bagunça”. (ANTUNES 2002, p. 19).
Em geral quando os educadores se referem ao problema da disciplina nas escolas
normalmente o reduzem a alguma coisa que somente diz respeito ao aluno, passando a ser
entendido como indisciplina (procedimento, ou ato contrário à disciplina, à obediência;
desordem, rebelião) do aluno. As reclamações dos educadores são as mais variadas possíveis:
os alunos não fazem as tarefas, gritam, brigam, quebram e assim por diante. E o que ocorre é
que os professores na maioria das vezes encaram as manifestações comportamentais dos
alunos com autoritarismo, e sem a sensibilidade adequada deixando claro que não foram
preparados para lidar com as emoções. Com esse tipo de procedimento gera-se a indisciplina
que é resultado do mesmo mecanismo que produz o poder disciplinar, ou seja, o uso do poder e
dominação leva a indisciplina. Groppa em seu livro “Indisciplina na Escola” coloca que:
“Se entendermos por disciplina comportamentos regidos por um conjunto de normas, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: 1) a revolta contra estas normas; 2) o desconhecimento delas. No primeiro caso a indisciplina traduz-se por uma forma de desobediência insolente; no segundo, pelo caos dos comportamentos, pela desorganização das relações.” (GROPPA 1996, p. 10).
Diante das definições dos autores, posso dizer que disciplina é o conjunto de regras
ou prescrições que o indivíduo ou o conjunto de indivíduos deve obedecer e/ou respeitar para
manter uma boa ordem. Seria o respeito e a obediência às normas. Quanto à indisciplina, esta
seria a desobediência, o não cumprimento do conjunto de regras ou prescrições. Seria um
12 comportamento desviante de uma norma social. É importante ressaltar que o vocábulo
disciplina pode também ser entendido como matéria de estudo, ou melhor, como áreas de
conhecimento que são constitutivas do currículo escolar.
No meio educacional costuma-se compreender que a indisciplina é manifestada por um
individuo ou um grupo, como um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia,
intransigência, desacatos às autoridades, na bagunça ou agitação motora.
Muitas são as causas destas manifestações, cujas influências e responsabilidades que
ressalta a seguir.
1.2 Fatores que afetam a (in)disciplina. Para melhor compreender o problema da indisciplina no contexto escolar se faz necessário
discutir os fatores interferem no ensino. Para tanto, tomarei como base o fato de que a
indisciplina escolar não apresenta uma única razão principal. Na verdade, as razões estão
entrelaçadas com a sociedade, a família, a escola, o professor e o aluno. Sendo assim, objetivei
nas subseções subseqüentes elucidar como esses três itens afetam o comportamento (in)
disciplinar.
1.2.1 A sociedade mudou
Todo aluno visto como indisciplinado faz parte de uma sociedade e de um momento
histórico que não devem ser desconsiderados. Na realidade, Boarini em seu livro Indisciplina
escolar: a queixa da atualidade diz que:
“Assevera que não há como discutir a questão da (in)disciplina escolar sem um leitura que vem ocorrendo na sociedade que a escola, a família e todos nós vivemos.” (BOARINI 1998, p.07)
Nos dias de hoje, a sociedade é marcada pelo individualismo, uma vez que o homem
contemporâneo, em geral, não se interessa e não valoriza os problemas coletivos, o espaço e
os bens públicos. Geralmente, ele apenas se interessa por seu mundo particular, íntimo e
privado. No individualismo contemporâneo, a impessoalidade converteu-se em indiferença tudo
é motivo de conflito, desconfiança, incerteza e perplexidade. Ninguém satisfaz ninguém. Em
contraponto, reverencia-se o indivíduo e tudo o que a ele diz respeito.
A escola, a família e todos os indivíduos envolvidos nessas instituições são partes
constituintes desta sociedade; portanto, não estão isentos dos encaminhamentos e
instrumentos produzidos por esta mesma sociedade. Diante do que ocorre no interior de uma
13 escola inserida em uma sociedade que privilegia o particular não é difícil constatar que o
prestígio da escola, enquanto espaço público (particular ou não) está fragilizado nesta
sociedade.
Dessa forma, a “falta de motivação” é apontada como uma das causas da indisciplina
escolar, pode-se entender que as necessidades individuais do aluno não foram atendidas. Isto
parece indicar que a valorização do individualismo na busca pelo prazer e satisfação imediata
pode conduzir os alunos a se comportarem inadequadamente por tentarem levar vantagem e
proveito em tudo, quebrando, assim, as boas regras de convivência na sala de aula.
Vasconcellos em seu livro Problemas de educação escolar “Por sua vez, assevera que a
sociedade vem sendo marcada pela forte Indução ao consumismo”(VASCONCELLOS1995,
p.24).
De acordo com o autor, a liberação do consumo de bens supérfluos é uma exigência do
sistema capitalista, para permitir a acumulação ampliada. Desse modo, percebo que quem
“manda” atualmente na criança e no jovem não é tanto o pai, e as regras da escola, porém o
mercado, materializado nas marcas, nas griffes. A sociedade, portanto, mostra-se imatura pelo
alto consumismo, levando à busca da satisfação imediata do prazer, diminuindo a capacidade
de tolerância à frustração e aumentando a agressividade, a violência.
Segundo Rego (1996) é comum à indisciplina na sala de aula ser vista como reflexo da
pobreza e da violência presente de e um modo geral na sociedade e fomentada, de modo
particular, nos meios de comunicação, especialmente a TV.Os alunos seriam o retrato de uma
sociedade injusta, opressora e violenta.
Nessa perspectiva, a autora, então, sugere que o aluno é um indivíduo inserido num
meio social que lhe proporciona condições para ser o que é.
Portanto, o comportamento indisciplinado na sala de aula pode ser reflexo da
sociedade, que nos dias de hoje, é marcada pelo individualismo, consumismo, violência,
pobreza. As atitudes indesejáveis do aluno podem ser reflexos do meio que o rodeia.
1.2.2 Ambiente Familiar
A família é entendida como o primeiro contexto de socialização da criança. Ela deve
exercer grande influência nas ações praticadas pelas crianças e adolescentes, mas no entanto,
as queixas que tenho registrado por gestores e professores é que os alunos chegam a escola
sem a mínima noção de limites e de respeito, prevalecendo a idéia de que as crianças saem de
seus lares sem a introjeção dos valores básicos necessários para conviver em sociedade.
14 Sabe-se que a família é a base de sustentação do homem, ela é a referência que a
criança têm para compor sua personalidade.
Sendo assim, Rego diz que “A ascendência dos pais é muito importante, é a eles que
pertence a responsabilidade de moldar o caráter do filho”.(REGO,1996p.97).
A responsabilidade familiar é a de construir valores, incutir limites, mostrar o que é certo e
errado, deixar claro aos filhos que para conviver harmonicamente em sociedade é necessário
respeitar as regras existentes, não de maneira servil, mas civilizada.
É comum observar que, para suprir a ausência e distanciamento dos filhos em função de
necessidades de subsistência alguns pais acabam não cumprindo a sua a responsabilidade de
educar e para compensar esta falta deixam os filhos agirem com muita liberdade, fazendo-lhes
todas as vontades. Dessa forma as crianças deixam de perceber que existem limites para suas
vontades e comportamento instalando-se a indisciplina, onde filhos que não cumprem regras
em casa, querem fazer o mesmo na escola e por conseguinte na sociedade.
Içami Tiba diz:
“A indisciplina está presente no desrespeito do desenvolvimento biológico por parte dos pais motivados pelo amor, pelo desejo de satisfazer todas as necessidades dos filhos, alguns pais não modificam seus comportamentos e ofertas a medida que a criança cresce”. (TIBA1996, p. 27).
Os pais têm que entender claramente que a disciplina que precisa exigir de seus filhos,
deve seguir de acordo com a faixa etária da criança, podendo tornar-se cada vez mais firme
conforme seu crescimento e situações apresentadas.
Se os pais conseguirem instaurar uma ordem em casa, amorosa, mas firme, dando aos
filhos limites e sentido às suas ações e respeitando o fato deles estarem em formação, teriam
mais sucesso do que agindo com eterna condescendência e de forma quase servil ou com
autoritarismo desrespeito e controle abusivo.
No entanto é importante enfatizar que a disciplina familiar não deve ser sinônimo de
rigidez e sim de diálogo. Os pais falando de forma gentil, sem demonstrar raiva, esclarecendo e
orientando os filhos adequadamente, dando assim, eles mesmos exemplos de como se
relacionar, com uma autoridade bondosa e limites sensatos. De acordo com Içami Tiba “[...] na
maioria das vezes a indisciplina familiar é resultado de um excesso de
de zelo.Esforço tremendo para garantir o bem estar de seu filho. “(TIBA1996, p. 30)
Muitas vezes o ato indisciplinar das crianças é resultado de uma grande falta que
elas sentem dos pais, pois atualmente o que se observa é que com a correria do dia a dia as
15 famílias têm o mínimo de tempo para dedicarem aos filhos. Por esse motivo os filhos acabam
fazendo de tudo para chamar atenção, desde brigas dentro de casa, na vizinhança e na escola
até demonstrar comportamentos de revolta com as pessoas que com elas convivem. Os pais
precisam encontrar um jeito, seja como for de dar atenção para os filhos. Observo que os pais
da faixa etária escolar cujos filhos encontram-se no ensino fundamental, na grande maioria
demonstram pouco preparo para cumprir com a responsabilidade que lhes compete. Ocorre que
são pais jovens, cuja realidade familiar está fora da tradicional; pais solteiros que se tornam pais
sem planejamento e acabam não tendo tanto entusiasmo nem preparo nem maturidade para
encararem suas funções com a responsabilidade necessária.
Uma grande porcentagem dos pais acaba deixando que outras pessoas cumpram o
seu papel no ato de educar, concentrando-se aí o motivo das queixas vindas das escolas
(Gestores, professores) que culpam a família pelo mau comportamento dos filhos.
Diante do exposto a autora REGO, confirma este relato dizendo que:
“ As famílias normalmente são responsáveis pelos fracassos dos filhos, “seja pela separação dos pais, por sua ausência, seja por defeitos morais e psíquicos que lhe são freqüentemente atribuídos”.(REGO,1994, p.107)
Geralmente são tidos como sexualmente promíscuos, primitivos, vadios, pouco
inteligentes, violentos, com vocação para marginalidade e delinqüência. Na verdade em casa
deveria começar a melhor formação, a mais eficaz ferramenta para a vida: respeitar, enxergar e
questionar. Nem calar-se obrigatoriamente como antigamente, nem gritar, bagunçar ou ofender
como hoje. Comunicar-se educadamente, dialogar seria o ideal, tanto com os pais, irmãos,
diretores, professores, com todos os outros.
É necessário colocar que a família é muito importante no processo de ensino
aprendizagem, devendo participar da vida escolar e social dos filhos, interagindo com outros
condutores da formação das crianças. Ela é a base, o fio condutor para que o filho entenda,
respeite e participe do processo educativo, adequadamente, facilitando assim não só o seu
desenvolvimento como também o trabalho da escola.
Assim, família e escola juntas podem alcançar melhores resultados neste trabalho.
Neste caso, o gestor e professor desempenham um papel de suma importância.
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1.2.3 A escola
A escola, entendida como um local que possibilita uma vivência social diferente do grupo
familiar e que tem o relevante papel de oferecer ao aluno a oportunidade dele ter acesso a
informações e experiências novas e desafiadoras, capazes de provocar transformações e de
desencadear novos processos de desenvolvimento e comportamento, está descaracterizada.
Na realidade, o papel da escola como instrumento de ascensão social e fonte privilegiada de
informações vem se diluindo nos últimos tempos.
Nessa perspectiva, Vasconcellos afirma:
“Há algumas décadas havia uma valorização social da escola enquanto instrumento privilegiado de ascensão social e que o professor, que tinha uma formação mais consciente da realidade e melhor remuneração, era valorizado por ser mediador dessa ascensão social. Além disso, a família apoiava incondicionalmente a escola e o público alvo que a freqüentava tinha maior afini-dade com o tipo de saber que ali era vinculado”.(VASCONCELLLOS1996, p. 23)
O autor salienta, portanto, que o fator fundamental para a “crise” da disciplina na escola
e na sala de aula está na queda do mito da ascensão social através da escola. Ele diz que até
há algumas décadas atrás, os alunos tinham uma motivação extrínseca: “ser alguém na vida”, o
que conseguiria freqüentando uma escola. Porém com a queda deste mito, os educadores de
modo geral têm dificuldades em obter um comportamento adequado do aluno não apenas na
sala de aula, como no contexto escolar de forma geral.
Desse modo, a queda do mito da ascensão social através da escola provocou uma crise
de indisciplina por ocasionar falta de motivação do aluno em adquirir o conhecimento que nela
se trabalha. Além disso, há escolas que ainda mantém-se atreladas aos métodos tradicionais o
que leva os alunos a se sentirem pouco motivados dentro da escola, porque fora dela existem
muito mais atrativos.
Um outro fator que Tiba (1996) reconhece como falha das escolas é que muitas delas
transformaram-se em empresas cujo objetivo primordial é o lucro. Ele revela que nas escolas
em que não se mede a qualidade de ensino, que pouco se importam com a real formação do
aluno, visando apenas maior lucro, os professores passam a ser material de comércio e,
conseqüentemente, facilmente descartáveis, por vários motivos:
• Quando gestores acham professores dispostos a receber um salário menor, quase
sempre eles têm menos experiência e capacidade didática;
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• Muitas vezes, professores entram em choque com alunos por problemas de disciplina e a
empresa escolar segue a máxima do comércio: “O freguês tem sempre razão” Ou seja:
“O aluno é o nosso freguês, portanto ele tem sempre razão”;
• Quanto menor for o pagamento aos professores, maiores serão os lucros da empresa.
Isso implica um pagamento pela hora-aula ínfimo e vergonhoso.
Concluí, portanto, que certas escolas agem como se a lógica do comércio – aquela que
diz que o freguês sempre tem razão - também valesse na escola. E assim o temor de
desagradar aos pais e perder os alunos acaba se sobrepondo à necessidade de se impor
ordem na sala de aula e os “bagunceiros”, muita vezes, não são educados.
1.2.4 O professor
O resultado de uma pesquisa em quatro escolas do ensino fundamental realizada por
Amaral (2000) mostra que para os docentes os fatores causadores dos conflitos na escola não
são pertinentes ao seu desempenho e à sua conduta profissional. Todavia, os alunos (48,7%)
apontam as aulas como “chatas”, detestando os gritos, as broncas e o nervosismo de
professores, o que lhes despertaria a “vontade de irritar” esse professor. Além disso, verificou-
se na pesquisa que 72,7% dos alunos gostam de ir para a escola, porém, não gostam de estar
em sala de aula.
Os dados da pesquisa revelam que o trabalho pedagógico precisa ser refletido, pois,
como a autora postula, a falta de habilidade em demonstrar ao aluno a necessidade e a
utilidade do que está sendo exposto e a pouca e rara preocupação em organizar as atividades
didáticas de forma mais articulada e dinâmica podem explicar o desinteresse e a falta de
atenção do aluno. Ela afirma que em aulas consideradas “chatas”, é evidente que conversar,
brincar ou até mesmo brigar com os colegas é muito mais vivo, interessante e de acordo com a
ebulição mental e física própria da idade em que os alunos se encontram.
Dessa maneira, verifiquei que a postura do professor em sala de aula pode ser
responsável pelo comportamento indesejável, pois quando as atividades e metodologia
adotadas por ele são desinteressantes e desmotivadoras, os alunos dificilmente prestam
atenção e se concentram na aula. O comportamento inadequado pode, portanto, ser resultado
do descontentamento do aluno em relação ao método de ensino do professor.
18 Vasconcellos (1996) assevera que “a visão que o educador possui de sua ação
pedagógica é fundamental para a construção da relação professor-aluno. E que esta visão, nos
dias de hoje, encontra-se marcada pela tão debatida contradição: repressão/ liberdade”.
De um lado, há aquele professor que atua tradicionalmente. Para ele, a única maneira
de obter disciplina é através da repressão. Ele usa da sua autoridade para fazer cumprir as
regras sem discussão. O aluno, muitas vezes por medo, se submete aos seus mandos e
desmandos fazendo somente aquilo que lhe é imposto. A ação pedagógica, nesse caso, fica
debilitada, pois “transforma-se numa verdadeira guerra, com os seus participantes (professor e
alunos) desenvolvendo um ódio surdo e paralisante que, por debaixo da falsa harmonia do
respeito formal, destrói o relacionamento e o compromisso educacional” (VASCONCELLOS,
1995).
Do outro lado, há aquele professor que tem a visão liberal que permite todo tipo de
manifestação dos alunos, julgando que eles devem ter responsabilidade e para isso precisam
ter liberdade total. Esta prática pseudolibertadora exalta o descompromisso tanto do professor
quanto dos alunos, pois estes podem fazer o que bem pretenderem na sala (podem não assistir
as aulas, podem falar à vontade...) e aquele, por não estabelecer limites, passa a não ter o
direito de intervir, reprimir, exercer a autoridade.
Sendo assim, para o professor que só entende educação através da ótica da repressão,
qualquer atividade do aluno que se contradiz às normas estabelecidas é tido como indisciplina.
Nesta visão tradicional, o professor pode conseguir o silêncio, todavia não obtém a interação
com os alunos e a isso o autor denomina de indisciplina passiva. Por outro lado, na prática
liberal, destaco que a indisciplina ativa, aquela em que o aluno faz “bagunça” e que o professor
não consegue trabalhar como deveria, pois não soube colocar parâmetros e limites para o
desenvolvimento das atividades.
Observo duas práticas totalmente opostas: uma que não permite a liberdade para não
virar “bagunça” e a outra que não permite qualquer repressão para não ser tradicional, sendo
que ambas acabam ocasionando indisciplina.
Para Vasconcellos (1996) o que angustia é ver que justamente o tipo de professor
que se desejaria ter – aberto, crítico, consciente, com uma proposta pedagógica significativa
, não querendo reproduzir a prática autoritária, mas não tendo clareza da nova postura, se
perde no meio do caminho: na busca de uma postura libertadora acaba chegando a uma
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postura liberal-espontaneísta (falta de compromisso, de responsabilidade, de disciplina, de
conteúdo, etc.)”.
Para finalizar, posso afirmar que o professor tem certa parcela de responsabilidade no
comportamento indisciplinado do aluno, pois quando o aluno se depara com professores mal
preparados cujas aulas são desinteressantes e/ ou cuja prática é extremamente tradicional ou
liberal, ele certamente vai precisar de um esforço muito maior que o normal para conseguir
permanecer em sala de aula e mais, ainda, conseguir se manter disciplinado.
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Capítulo II
Gestores seu papel e seus desafios
O gestor escolar deve agir como fio condutor de todo o processo não só quanto ao
ensino aprendizagem, mas também quanto à socialização de todos que se encontram
envolvidos neste processo. Ele deve ser um atuante e estar preparado para mediar os
profissionais na resolução de conflitos, agindo não só como mediador, mas também como
incentivador, proporcionando uma interação comum entre todos, inclusive entre os alunos.
Exige-se dele o compromisso de organizar-se de tal forma que permita ao envolvidos
agirem coletivamente, buscando um único ideal, pois assim será traçado um projeto sólido e
duradouro de uma aprendizagem de qualidade.
Quanto ao problema da indisciplina na escola, assim como todas as questões que ela
desencadeia, o gestor deve estar envolvido com sua equipe, buscando soluções; soluções
essas que devem contar com ampla participação de todos, pois a questão (in)disciplinar é de
todos e não se restringe somente a um profissional.
É preciso que o gestor escolar saiba ouvir todos componentes da escola, tanto
professores, inspetores, pais de alunos e os demais funcionários. Muitas vezes os alunos não
são os únicos vilões da história, há muitos professores que gritam com alunos sem
necessidade, e funcionários que acabam discutindo com os pais na recepção, situações estas
devem ser verificadas e trabalhadas pela direção.
No entanto, o que muitas vezes acaba acontecendo é que o gestor nem sempre é um
profissional qualificado para lidar com os desafios e conflitos que competem a ele resolver como
líder.
Como nos coloca Vasconcellos, em seu livro “Problema de Educação Escolar” diz:
“Os gestores normalmente são escolhidos por motivos clientelísticos, transformando se, dessa forma, em verdadeiros cabos eleitorais de políticos medíocres. De outro lado, esses burocratas da educação passam dias após dias assinando papéis. Pouco sabem de educação, do que se passa na escola e na sala de aula. Ao invés de serem a direção consciente do trabalho coletivo da escola, se transformam em administradores incompetentes da educação. “(VASCONCELLOS 1986, p. 51).
Com isso, a escola acaba perdida em meio ao mau direcionamento e a falta de incentivo
ao “fazer coletivo e consciente”. Se o gestor não tem habilidades para superar desafios e lidar
com a equipe, seu fazer será um fracasso e isso irá refletir em tudo dentro da escola.
21 Mesmo quando bem preparado e sendo um bom profissional comprometido com sua
função, ele irá encarar desafios que deverão ser superados com pura ética.
No que diz respeito ao resgate da disciplina e limite dos alunos, o gestor deve atuar com
firmeza, chamando a atenção de todos para a problemática, tendo claro a eficácia da
coletividade e quando necessário for, ter humildade para pedir a interferência de outras
camadas não só da educação, mas também da sociedade como um todo.
Resgatar disciplina e limites não pode ser um trabalho isolado, é um comprometimento
amplo de todos, exigindo um compartilhamento de idéias; é trabalho de toda a escola, da
família e com a ajuda de camadas da sociedade, como promotoria, juizado de menores e
conselho da criança e adolescente, se a situação exigir tais interferências e auxílio.
O gestor como representante da unidade escolar, que identifica a necessidade de resgatar
tais valores deve investir na questão da formação de seus profissionais para que estejam
capacitados no enfrentamento deste problema e buscar parcerias, pois nada adiantará se ele
tentar agir isoladamente como se o problema fosse apenas dele.
Sendo assim, Celso Vasconcellos diz:
“Que postura devem ter os membros das equipes diretivas escolares (coordenação pedagógica, orientação educacional, supervisão escolar, direção, etc.)? Entendemos que basicamente é preciso criar um clima de confiança, baseado numa ética e no autêntico diálogo. Por exemplo: Construir participativamente uma linha comum de atuação. Um dos pontos mais enfatizando pelos professores em escolas que estão com problemas de disciplina é a falta desta linha comum: que todos tenham a "mesma linguagem". Ajudar a manter uma visão de totalidade do problema. Algumas vezes, para fazer com que o professor assuma suas responsabilidades, não se fala de todo o resto, apenas questionando se ele já fez sua parte. É claro que isto vai provoca sensação de ser o "bode expiatório" ("É sempre culpa do professor"; "Cai tudo nas costas do professor" etc.). Não deixar que se perca a visão de conjunto.
Não designar alguém na escola só para cuidar da disciplina"; a construção da disciplina é tarefa de todos. Subsidiar, apoiar o professor para que possa ser o autor da ação educativa, Inclusive disciplinar; orientar,a ajudar a formar o professor para o diálogo
com os alunos. Resgatar o saber docente. Reconhecer que os professores construíram um saber a partir de suas experiências. Só que geralmente é um saber fragmentado e até contraditório. Daí a importância de partilhar, fazer a crítica e sistematizar como cultura pedagógica do grupo. Confiar no grupo; superar o controle, a vigilância como se o professor fosse irresponsável, (ex.: ficar passando pelo corredor e espiando a sala). Algo muito diferente ocorre quando, por exemplo, há um acordo para que alguém da equipe assista sua prática. Apoiar professor sobre sua prática. Apoiar as iniciativas de mudança dos professores; isto é sinal de vida. Dar tempo para colocarem prática e analisar. Não frustrar com rigorismo e medo do erro. Pesquisar mais a própria prática; ser capaz de levantar as representações dos professores. No caso aqui, o que pensam a respeito dos problemas de disciplina. Ter mais coragem de ouvir; esta é uma coisa que dificulta o trabalho de direção ou coordenação: os professores vêm com suas queixas; a equipe, com medo de que, com aqueles problemas todos, ele desanime, já
22
começa a tentar dar explicações,justificativas, não os deixando falar até o fim. É preciso confiar mais em nossa capacidade, em nossa proposta, na força do próprio grupo e deixá-los falar tudo o que têm para falar, e só depois disto começar a reconstruir coletivamente. Ser "colo" quando necessário, mas também ser firme se a situação assim o exigir. Num primeiro momento, trabalhar com um grupo menor, que esteja mais aberto, minimamente querendo, que revele uma base de humanidade preservada. Criar base para um trabalho mais Superar o formalismo; abrir espaços para que o professor possa atender os alunos em suas necessidades, sejam de aprendizagem ou relacionamento. Apoiar o professor diante da comunidade. Os eventuais equívocos serão tratados internamente. Saber enfrentar pressões equivocadas dos pais. É muito desgastante quando o professor sente que seu trabalho não tem o respaldo da equipe. Vejam, isto não significa conivência, acoberto erros, mas profissionalismo, tratar as coisas na hora e local adequado. Favorecer clima ético; cortar "fofocas", "diz-que-diz-que” ²
Portanto é necessário ter uma gestão participativa na escola, capaz de afetar a
qualidade escolar positivamente, pois quando os diretores participam e buscam opiniões de
seus funcionários e as utilizam para implementar decisões criam um ambiente de aprendizagem
mais eficaz, uma harmonia de pensamentos e ações tão necessários para a efetivação de
qualquer projeto.
______________________ ²Texto: Os desafios da indisciplina em sala de aula e na escola de Celso Vasconcelos sobre indisciplina. Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br >. Acesso em: 15 fev. 2006.
23 2.1 Estratégia de prevenção/ intervenção de indisciplina escolar.
A indisciplina escolar está entre as maiores preocupações dos gestores e professores,
uma vez que estes têm cada vez mais dificuldades em manter vivo o interesse do aluno. Na
realidade, Lopes (2005) ressalta que manter a disciplina é uma arte que poucos educadores
dominam e que o autoritarismo, os gritos e o bom velho “já para a diretoria” não funcionam
mais”.
Sendo assim, diante de alunos cada vez mais indisciplinados, muitos gestores e professores
não sabem que estratégias de prevenção e/ou intervenção podem tomar frente a tal problema.
Nesta seção, portanto, apresentarei algumas considerações para professores e gestores
sobre encaminhamentos disciplinares preventivos no meio escolar.
A participação dos alunos nas construções de regras e normas segundo muitos autores,
a melhor saída para lidar com a questão da indisciplina escolar.
Lopes (2005) por exemplo diz a melhor maneira para manter a ordem é a negociação
do objetivos e regras com os estudantes, que vão aos poucos aprendendo ter disciplina.
Vasconcellos (1995) propõe que gestores e professores estabeleçam as regras de
trabalho em sala de aula conjuntamente com os alunos, através do levantamento das
necessidades dos mesmos. Para ele, as regras devem ser estabelecidas e assumidas por todo.
Camargo (2000) também alega que, quando o código de conduta é elaborado à revelia,
sem a participação de todos, não levando em consideração as necessidades do grupo, a
tendência é de que este código não seja seguido. Assim, para ambos os autores é preciso uma
participação ativa de todos, para que aquilo que foi estabelecido reflita os interesses de todos e
possa ser atendido. Convém ressaltar que autores como Garcia (1999) e Amaral (2002)
também se alinham nessa mesma perspectiva.
Dar aos alunos a chance de participar da elaboração de regras parece ser, portanto,
uma forma de amenizar o problema disciplinar na sala de aula, pois seguir normas que eles
próprios ajudaram a construir se torna mais fácil, uma vez que as mesmas vão ao encontro das
necessidades deles, tornando-se sensatas e justificáveis.
24 Na reportagem de Lopes (2005), Disciplina: é mais fácil para os alunos seguir regras
que eles ajudam a criar, veiculada na revista Nova Escola mostra que algumas escolas no
Brasil, para reduzir os casos de indisciplina escolar, ao invés de impor normas aos alunos,
criaram mecanismos para discuti-las da forma mais democrática possível.
Lê-se na reportagem que a Escola Estadual Parque Piratininga II em São Paulo, por
exemplo, criou em 1998 o Código Interno Disciplinar que consiste na elaboração, pelos
gestores, professores e alunos, de propostas para acabar com os problemas cotidianos. Os
alunos listaram as infrações, divididas em muito graves, graves, médias e leves e definiram as
sanções: perda de pontos (com 20 pontos, os pais dos alunos seriam chamados) e multas
pagas com papel higiênico ou sabonete para uso coletivo. A participação dos alunos na gestão
da escola é constante. Todos têm acesso à caixa de avaliação, em que depositam bilhetinhos
com elogios, críticas e sugestões. Lopes aponta que de acordo com a diretora Fátima Zen
Casarini, os recados são recolhidos diariamente e mostrados aos professores e funcionários. A
atuação dos alunos nesse Código Interno Disciplinar amenizou o caos no prédio da escola que
abriga mais de 2 mil estudantes, pois as regras de convivência foram incorporadas.
A Escola Particular Vera Cruz, também situada em São Paulo, adotou igualmente com
sucesso a negociação de regras com os alunos, desenvolvendo um trabalho com
representantes de classe, eleitos pelos próprios alunos, ainda nos informa Lopes. Segundo a
coordenadora da escola, eles se reúnem periodicamente para discutir desde questões práticas
do dia-a-dia, como a ocupação do espaço coletivo, até para refletir sobre o que é democracia e
cidadania.
A participação dos alunos nas decisões é constante em cada sala de aula. Desse modo,
o aluno entende que, se realiza um trabalho individual, o melhor é estar em sua carteira,
sozinho, para poder refletir. Já para que uma atividade de grupo seja produtiva, a escolha dos
integrantes da equipe é fundamental.
Como visto, as duas escolas mencionadas conseguiram reduzir os casos de indisciplina
promovendo a participação dos alunos na elaboração de normas. Indo ao encontro do que se
expôs acima, tal procedimento mostra a grande importância de ouvir as necessidades dos
alunos e pensar sobre elas, uma vez que se entende que eles também têm o direito de falar, de
ser ouvido e de dar opiniões, participar do processo educativo, enfim. Sendo assim, como a
disciplina desejada nos dias atuais é aquela que visa formar pessoas autônomas e
emancipadas, a atuação dos alunos na construção de normas transforma a escola em um
25 espaço dialógico propiciando a participação dos mesmos e capacita-os, assim, a fazerem suas
próprias escolhas, tornando-os pessoas conscientes.
Uma outra questão a ser levantada é quando a indisciplina dos alunos é sinal de que a
aula não vai bem em decorrência da postura do professor. Nesse caso, é preciso que ele reflita
sobre as atividades e metodologia adotadas por ele. Sendo assim, um outro elemento
preventivo relevante é a preparação de aulas relevantes e significativas que despertem a
vontade de aprender nos alunos porque fazem sentido para ele ou porque se aproximam da
realidade de seu cotidiano.
Vasconcellos (1995) assevera que o professor precisa refletir sobre a sua prática, fazer
uma autocrítica. Ele precisa ter uma proposta adequada de trabalho, vinculada às reais
necessidades dos alunos, conteúdos significativos e metodologia participativa.
Outro elemento preventivo relevante está no ambiente da escola
De acordo com Garcia:
“O ambiente deve ser verdadeiramente humano, no sentido constituir um espaço democrático onde se cultiva o diálogo e a afetividade humana, em que se pratica a observação e garantia dos direitos humanos (constitucionais). “(GARCIA, 1999, p.106)
Ele acrescenta que este clima caloroso pode refletir um conhecimento e preocupação
quanto aos estudantes enquanto pessoas, tendo em vista suas condições concretas,
individualidades e singularidades.
Tiba (1996), por sua vez, afirma que o ambiente também interfere na disciplina, no
sentido de que classes muito barulhentas, onde ninguém ouve ninguém, salas em que faça
calor intenso, alagadas ou sem condições de acomodar todos os estudantes são locais pouco
prováveis para se conseguir uma boa disciplina.
O ambiente escolar, portanto, deve estar em boas condições físicas e principalmente
proporcionar um clima agradável e favorável a aprendizagem. Uma sala de aula marcada pelo
respeito e cumplicidade entre gestor- professor, professor- alunos e alunos-alunos oferece
maiores chances de se constituir num ambiente motivador que desperta o interesse do aluno.
Na realidade, ao perceber que a sala de aula se constitui numa classe unida, marcada por um
clima de segurança, de comunicação, de calor humano, o aluno se sente mais motivado para
26 freqüentar a escola e, conseqüentemente, a probabilidade dele apresentar comportamentos
indisciplinados é menor.
A seguir apresento os componentes que, segundo, Vasconcellos (1995), Sulich (2004),
Ur (1996), contribuem para que se possa lidar com os problemas disciplinares na escola
(professores, gestores)o que constituirá fundamentos para a discussão dos dados no que se
refere a um dos itens da pergunta de pesquisa relevantes para o presente trabalho.
Sulich(2004) por exemplo, elucida que tem usado, com êxito, três métodos para manter
a disciplina, quais sejam: manter a atenção dos alunos, estabelecer regras claras e, quando
necessário, endereçar de forma explícita os problemas de indisciplina.
A autora afirma que manter os estudantes engajados com a lição é a base para manter
a ordem na aula e para tanto ela postula três diferentes maneiras:
1. Fornecer uma estrutura clara da lição, isto é, o professor relata brevemente o que será
visto na lição. Tal estratégia pode ajudar o aluno a focalizar a atenção dele nas
atividades;
2. Propiciar aos alunos atividades curtas ao invés de poucas e longas. Exercícios curtos
que mudam a tarefa e trabalho requerido dos alunos podem ajudar em sua
concentração;
3. Usar uma ordem imprevisível quando solicitar a participação dos alunos. Quando os
estudantes sabem que eles não terão que responder, a mente deles devaneia. A
incerteza é necessária, então, é preferível dizer o nome do aluno após perguntar a
questão e não antes.
Sulich( 2004), alinhando-se com a perspectiva de autores já citados no início da seção
(LOPES, 2005, AMARAL, 2002, GARCIA, 1999, VASCONCELLOS, 1995), também propõe que,
para evitar conflitos, é necessário criar regras, junto com os alunos, no início do curso, até
mesmo na primeira lição.
A autora alega que discutir com os alunos, comentar sobre o comportamento deles e
gritar significam que o aluno indisciplinado foi bem sucedido e os objetivos da lição foram
perdidos. Se a situação piora, a agressividade dos alunos tende a aumentar e eles recebem a
27 atenção que eles desejam. Assim, ela propõe três modos efetivos de lidar com os problemas de
indisciplina:
1. Aproximação não verbal: Quando o aluno faz algo que perturba a aula, o professor
deve continuar com a lição reagindo calmamente e não verbalmente. Ele pode fazer
contato com o aluno indisciplinado através do olhar, se aproximando dele, fazendo
gestos calmos ou todas essas ações, simultaneamente;
2. Aproximação verbal: Sem interromper a lição, o professor pode tentar outras técnicas
para interromper ou minimizar o comportamento indesejável. Ele pode abaixar o tom da
voz, inserindo o nome do aluno em uma declaração e o chamando para responder a
uma questão ou para repetir a resposta de um outro aluno. Quando esta aproximação
falha é preciso reagir verbalmente em relação ao comportamento inadequado.
3. Reagindo ao comportamento perturbador: O professor pode fazer um curto
comentário identificando o comportamento inadequado, pode fazer uma curta
expressão de desejo por um bom comportamento ou um aviso de recompensa para o
bom comportamento.
A Sulich (2004) ressalta que é importante lembrar que o professor que não
consegue acalmar os alunos de uma maneira habilidosa pode piorar a situação.
Qualquer comentário que ele fizer deve ser curto, porque será considerado interrupção
pelos alunos que estão se comportando de modo adequado.
Para finalizar, Sulich conclui que para usar essas duas técnicas é preciso levar em
consideração dois itens: o professor deve criticar o comportamento do aluno e não o aluno e
que a crítica seja construtiva e educada.
Ur (1996), por sua vez, propõe estratégias de como lidar com a indisciplina escolar em
três estágios: antes do surgimento do problema, quando o problema está surgindo e quando o
problema já apareceu. Ele alega que os professores bem mais sucedidos em manter a
disciplina na sala de aula não são aqueles que são bons em lidar com problemas, porém são
aqueles que sabem como prevenir que eles apareçam. Assim, a autora sugere três estratégias
preventivas:
28
1. Planejamento cuidadoso: Quando a lição está claramente planejada e
organizada há uma maior probabilidade em manter a atenção dos alunos nas
atividades, evitando a distração e a atividade contraproducente.
2. Instruções claras: problemas às vezes surgem quando o aluno não tem
certeza do que ele tem que fazer. Instruções, embora tomem uma pequena parte do
tempo da lição, são cruciais. As informações necessárias precisam ser
comunicadas claramente.
3. Manter-se em contato: O professor precisa estar constantemente
consciente do que está ocorrendo nos quatro cantos da sala de aula, mantendo
seus olhos e ouvidos bem atentos. Isto permite duas coisas: de um lado,
primeiramente, os alunos sabem que o professor está atento o tempo todo o que
encoraja a participação e o contato pessoal deles e por outro lado desencoraja
atividades desviantes; segundo, o professor é capaz de detectar a perda de
interesse ou distração do aluno e fazer algo para que isto não se torne um problema
maior.
Quando o problema está surgindo:
Professores inexperientes tendem a ignorar problemas pequenos, na esperança de que
eles desapareçam sozinhos. Ocasionalmente isto ocorre, porém mais freqüentemente eles
tendem a se agravarem. A princípio, é aconselhável reagir imediatamente e ativamente a
qualquer problema detectado. Para tanto, pode-se
1. Lidar com o problema calmamente: para Ur, assim como para Sulich, a melhor
ação é uma resposta ou reação calma, porém bem definida para parar com a
atividade desviante, passando como que despercebido por ela. Por exemplo, se um
aluno não abriu o livro em resposta a sua instrução, é melhor o professor ir até ele e
abrir o livro do que repreender o aluno, despertando a atenção de toda a sala.
2. Não tomar as coisas pessoalmente: apesar de ser, às vezes, uma instrução
difícil de obedecer ela é muito importante. O professor precisa tentar identificar o
problema como o objeto a ser atacado e lidar com ele e não com o aluno.
29
3. Não fazer ameaças: as ameaças são freqüentemente um sinal de fraqueza.
O professor deve fazer uso delas somente como uma opção real que ele colocará
em prática e não como uma arma para impressionar ou intimidar.
Quando o problema já surgiu:
Ur (1996) alega que para lidar com o problema da indisciplina já presente, a prioridade é
agir rapidamente para estabelecer na sala de aula uma rotina tranqüila o mais rápido possível.
Segundo a autora, é preferível tomar uma decisão rápida, mesmo se não for boa, a hesitar ou
não fazer nada.
1. Explodir: Freqüentemente, um comando rápido e alto com demonstração de raiva
dá resultado, contando, é claro, que o professor não perca realmente o humor ou
fique agressivo. O problema de expor a raiva é que o professor não pode fazer isso
com freqüência, uma vez que se perde o efeito;
2. Render-se: Nesse item, a autora exemplifica dizendo que se o aluno recusar a
fazer a tarefa de casa, o professor pode dizer: “Tudo bem, não faça”. A autora alega
que a vantagem dessa estratégia é que ela imediatamente atenua a situação e se
feita rapidamente e decisivamente não será vista como uma rendição desonrosa.
Entretanto, tal estratégia não pode ser usada freqüentemente por razões óbvias;
3. Fazer uma proposta: Algumas estratégias são: adiantamento (“Vamos retomar isso
amanhã no início do dia. Agora, vamos...”); compromisso (“Vocês têm que fazer
todos os trabalhos escolares, porém eu conceberei um tempo maior para vocês
terminarem...”)
Por último, irei categorizar o que Vasconcellos propõe como perspectivas de ação no
sentido da construção da disciplina interativa e coletiva em sala de aula. É relevante ressaltar
que o autor postula que:
“(...) 1) o que apontamos aqui são algumas conclusões preliminares, provisórias, portanto; 2) não se tratam de modelos ou “receitas”, mas de possíveis alternativas, que têm como função provocar a reflexão para que o coletivo escolar busque suas próprias soluções, tendo em vista sua realidade e seu projeto educativo.” (VACONCELLOS,1995 p. 56)
30 Como o autor alega que a disciplina é uma construção coletiva, ele sugere, como os
demais, que há a necessidade do envolvimento de todos no enfrentamento do problema. Sendo
assim, ele discute como os cinco fatores já vistos anteriormente (a escola, o professor, a família
e a sociedade), os quais ele aponta como fatores intervenientes no comportamento
indisciplinado, podem colaborar para a construção da disciplina. Limitarei minha apresentação a
algumas das propostas sugeridas pelo autor que se referem ao papel da escola, ao do
professor e ao do aluno na questão disciplinar, por serem as mesmas mais relevantes para o
presente trabalho:
I- Por parte da Escola:
Segundo Vasconcellos (1995), a escola, enquanto equipe, pode auxiliar para a
construção da disciplina através de práticas concretas do tipo:
1. Linha comum de atuação:
O autor afirma que o problema da (in)disciplina não é só do gestor , porém do conjunto
de profissionais e da equipe da escola e por isso ele propõe a construção de uma postura
comum entre os educadores (professores, equipe técnica, auxiliares, direção) e educandos,
estabelecendo determinados parâmetros comuns para a escola (o que pode, o que não pode,
o que é grave, etc).
2. Reunião Pedagógica Semanal:
O autor postula que é preciso um espaço onde gestores e os professores possam estar
refletindo juntos, estudando, analisando a própria prática, trocando experiências, avaliando o
trabalho, dentre outras práticas escolares.
Vasconcellos(1995) sugere que ao menos em duas horas semanais, os professores de
cada curso, junto com a coordenação, supervisão, orientação e direção possam estar
trabalhando juntos, tendo em vista superar as necessidades da prática pedagógica. Ele
comenta que o espaço de reunião é privilegiado para está inter-ajuda entre profissionais, porém
ressalta que não basta conquistar o espaço de reunião semanal, é preciso saber usá-lo.
3. Adequação Curricular:
31 Segundo Vasconcellos(1995) é muito comum encontrar nas escolas propostas curriculares
desarticuladas, que não favorecem um ensino participativo e significativo. Os programas, na
prática, têm funcionado como verdadeiros dogmas, que precisam ser cumpridos “custe o que
custar”, mesmo quando este custo implique na não aprendizagem por parte dos alunos.
O autor afirma que na proposta da escola é preciso ser levada em conta à necessidade
de atividade do educando. A criança, por exemplo, em fase de crescimento e desenvolvimento,
precisa de participação ativa, de movimento. Assim, ele indaga como a criança pode ser
disciplinada, tendo que ficar 4, 5 ou 6 aulas sentadas, paradas, muitas vezes apenas ouvindo o
professor falar.
Ele conclui alegando que é fundamental que se desenvolva um currículo que contemple
atividades diversificadas, pois quando elas ficam concentradas na sala de aula e na
passividade, a probabilidade de indisciplina é maior pelo fato de não atender as necessidades
básicas da criança.
4. Trabalho com a família:
O Vasconcellos(1995) afirma que a escola precisa investir no trabalho de formação e
conscientização dos pais, que é preciso esclarecer a eles a concepção de disciplina da escola,
de forma a minimizar a distância entre a disciplina domiciliar e escolar.
O autor reconhece que:
...uma das melhores formas de se atingir a família é através dos próprios filhos, daí a relevância da escola desenvolver um trabalho participativo, significativo, em que realmente o aluno se envolva e entenda o que está sendo proposto para ele. Desta maneira, o próprio filho terá argumentos para ajudar os pais a compreenderem a proposta da escola. (VASCONCELLOS, 1996: 64)
5. Papel do professor
O professor, segundo o autor, precisa ter clareza de seu papel, ter firmeza quanto à
postura em relação à disciplina, entendendo que seu papel é legitimado socialmente, na medida
em que tem como função formar as novas gerações. O professor precisa conquistar a confiança
e o respeito da turma para se tornar o seu legítimo organizador.
32 Respeito
O autor afirma que ter respeito para com os alunos é uma das qualidades da postura de
um educador consciente e que este também deve exigir respeito dos alunos para com os
colegas e para consigo. No caso de ser desrespeitado, o professor deve procurar re-
estabelecer os limites e não entrar no círculo vicioso do desrespeito. Além disso, o respeito pelo
aluno passa também pela boa preparação do curso e das aulas, pelo compromisso com os
alunos não faltando às aulas, bem como pelo exercício coletivo do poder.
Proposta adequada de trabalho
O autor postula que, dependendo do tipo de curso que propõe/ impõe (desvinculado da
realidade, passivo, por exemplo), o professor pode se tornar um dos mais sérios fatores
indisciplinadores. Assim, para exigir disciplina, o professor precisa, segundo o autor, rever a
proposta de trabalho tanto do ponto de vista do conteúdo, como da metodologia, uma vez que
criança motivada não dá problema de disciplina, conforme aponta na citação que faz de Freinet:
“Haveis notado como vossos filhos, em família ou na escola, estão sossegados e são fáceis de suportar quando totalmente ocupados numa atividade que os apaixone? O problema da disciplina já não se põe: basta organizar o trabalho que entusiasma. A criança que participa numa atividade que a apaixona disciplina-se automaticamente.” ( Freinet 1977, apud VASCONCELLOS, p.78)
O professor precisa ter uma proposta adequada de trabalho vinculada às reais
necessidades dos alunos: conteúdo significativo e metodologia participativa, pois muitas vezes
o aluno indisciplinado está tentando dizer alguma coisa para o professor, como insatisfação
com as aulas que não vão ao encontro de suas necessidades.
Além disso, o desinteresse do aluno pela matéria pode advir do fato do nível da aula
estar muito além (não consegue entender, não consegue “entrar” na aula) ou muito aquém do
seu.
Para enfrentar as situações de conflito de indisciplina na sala de aula antes de leva
para direção, o autor propõe o seguinte:
a) Enfrentamento logo no começo
O problema de disciplina, segundo o autor, não se resolve “com o passar do tempo”,
porém só se avoluma, se agrava. Alguns professores não procuram tomar medidas para
33 minimizar o problema logo no início e depois, então, se vêem desesperados, pois a situação se
complica e por não terem cobrado antes, não têm moral de cobrar: “Ahhh, professor, por que eu
agora, se todo mundo faz isto?” (VASCONCELLOS, 1996, p. 90)
b) Postura
Quanto à postura dos educadores no enfrentamento de situações de conflito, o autor
aponta dois critérios básicos:
b.1) Diálogo
De acordo com o autor, o diálogo é fundamental para a superação dos problemas de
disciplina. Ele enfatiza que para haver efetivo diálogo, o professor precisa saber ouvir, deixar o
aluno se colocar, deixar o aluno falar.
“O diálogo, portanto, deve ser desarmado, não acusatório, não moralista, não ameaçador; deve ser investigativo, estar atento ao outro, tentar compreendê-lo. O professor precisa ser ajudado tanto na sua formação, quanto no apoio e nas condições objetivas de trabalho para poder dialogar autenticamente: saber ouvir, deixar o outro se expor, respeitar, não reprimir eventual raiva do aluno. O educador pode propor, sugerir, orientar, expressar o seu desejo, mas deixar o outro decidir, deixar o outro ser; caso contrário, quando não estiver mais na presença, tudo volta a ser como antes. Posteriormente discutir, avaliar decisão tomada, mas respeitando.”(VASCONCELLOS, 1996, p.92)
b.2) Esgotar as possibilidades no âmbito de ação
O autor sugere que as situações de conflito disciplinares sejam enfrentadas no âmbito
em que ocorrem. Assim, ao ocorrer um conflito em sala de aula, que o professor busque fazer
tudo que estiver ao seu alcance para resolvê-lo nesta esfera, individual ou coletivamente. Ele
argumenta que quando o professor manda o aluno para a direção, fica uma situação muito
artificial, pois o conflito não é entre aluno e direção, porém entre aluno, professor e coletivo de
sala. Se a dificuldade está na relação professor-aluno, ou professor-aluno- coletivo da classe, é
esta que deve ser trabalhada.
Por outro lado, caso realmente seja necessária alguma intervenção externa, o autor
sugere que ao invés de encaminhar o aluno para a orientação/ coordenação/ direção, solicitar
que a orientação fique em classe com os alunos fazendo algum trabalho, enquanto o professor
pode ter um contato mais aprofundado com os alunos em questão.
34 c) Aplicação de Sanções
O sentido da sanção, assevera o autor, deve estar no alterar a rotina para fazer pensar, para
ajudar o aluno a assumir as responsabilidades de seus atos. O aluno que apresenta problemas
de disciplina precisa de uma ação educativa apropriada: diálogo, investigação das causas,
estabelecimento de contratos e no limite, se for necessário, a sanção por reciprocidade, qual
seja uma sanção que seja condizente com o comportamento que está tendo. O autor afirma que
tirar ponto do aluno por problema de comportamento não é sanção por reciprocidade, pois a
nota nada tem a ver com o problema que está apresentando. Ele argumenta que se o aluno
insiste na indisciplina, por exemplo, ele deve ser privado da convivência com o grupo e
orientado, até que deseje retornar com uma nova postura.
III) Por parte do aluno
O aluno, segundo o autor, pode colaborar para a construção da disciplina, através de:
1. Participação consciente e interativa
De acordo com o autor, a participação consciente e interativa não é uma exigência a
escola para um ensino transformador. Ele afirma que o educando pode atrapalhar o trabalho
falando demais ou de menos, pois ao falar demais, compromete a participação coletiva, o fluxo
de comunicação. Por outro lado, ao falar de menos, não propicia ao professor ou aos colegas a
oportunidade de interação, de confronto de idéias.
O autor ressalta também a importância do aluno desenvolver o senso de responsabilidade
coletiva pela aprendizagem e pela disciplina em sala de aula, não atribuindo tal
responsabilidade somente ao docente.
1. Respeito
A aprendizagem do respeito – aos colegas, gestores, professor, funcionários, regras
estabelecidas coletivamente – é uma das tarefas fundamentais que se coloca hoje aos
educandos, elucida o autor. Entretanto, ele revela que o “respeito” pode ser evocado pelos
gestores, professores de uma maneira conservadora, autoritária, levando ao aluno ao
35 conformismo. Para evitar isto, o aluno deve estar atento à legitimidade do que é proposto,
questionando, se rebelando com os limites que são injustos, arbitrários.
2. Direitos e Deveres
O autor diz que a formação da cidadania só pode se dar num contexto de exercício de
direitos e deveres. Sendo assim, é desejável contribuir para que alunos desenvolvam
consciência da importância de se participar ativamente na elaboração de regras, de saber
trabalhar limites, prestar atenção na aula e que ao lado de seus deveres, eles têm direito à
dúvida, a um ensino de qualidade, a uma aula bem preparada.
Como pode observar nessa seção, apesar do autor sistematizar de modo peculiar quais
componentes contribuem para lidar com a questão da indisciplina na escola, pude constatar que
há vários aspectos similares entre eles.
Vi, por exemplo, que para autores como Vasconcellos (1995), Garcia (1999), Camargo
(2000) propiciar a participação dos alunos na construção de normas e regras é uma maneira de
amenizar o problema da indisciplina na escola. Um outro elemento preventivo postulado por
Vasconcellos (1995), Tiba (1996) está no ambiente escolar que além de apresentar boas
condições físicas, deve proporcionar um ambiente agradável, caloroso, propício à
aprendizagem.
E assim, com a apresentação dessas estratégias de prevenção/ intervenção na
indisciplina escolar, viso à apresentação e discussão dos dados na tentativa de colaborar para a
compreensão e a construção da disciplina e amenizar o problema da ausência da mesma.
36
Capítulo III
METODOLOGIA DA PESQUISA
Introdução
Após estudo, pesquisa, observação do cotidiano escolar, aplicação de questionários aos
docentes, gestores, alunos e pedagogos e das discussões oriundas dos estudos promovidos,
observo de fato que a indisciplina é uma das maiores dificuldades que o professor enfrenta para
efetivar com qualidade o processo de ensino e de aprendizagem na sala de aula.
O procedimento escolhido para a pesquisa foi por amostragem, devido à dificuldade
para se trabalhar com os dados, caso se estendesse a pesquisa para todo o universo escolar.
De acordo com registros em atas, documentos da escola e indicações dos docentes das
turmas, pedagogos e direção, a amostragem ocorreu com dois grupos de alunos, os
considerados disciplinados e os indisciplinados, das turmas de 7ª séries dos períodos matutino
e vespertino. A pesquisa foi realizada por grupos com a finalidade de verificar se havia
diferença de idéias entre os alunos considerados disciplinados e os indisciplinados sobre o
tema em estudo. Com o propósito de oferecer reflexão e análise para o coletivo da escola,
identifico alguns determinantes que produzem a indisciplina na Escola Estadual PROF. Murilo
Braga, em São João de Meriti , RJ, em questão.
3.1 Apresentação e discussão dos dados.
Passarei, a seguir, a apresentar alguns dados representativos da compreensão dos
alunos pesquisados sobre a indisciplina escolar. Na questão 01: “O que você entende por
indisciplina escolar?”, identifiquei nas respostas dos alunos que eles efetuam relações com
“comportamentos” como definição para a indisciplina. Entretanto, a mesma é compreendida,
principalmente, como desrespeito aos outros (professores e colegas) e às regras. O fato dos
alunos apontarem diferentes atitudes dos alunos como definição para a indisciplina, confirma:
1º - A ausência de clareza e consenso a respeito do termo; e 2° - Que o aluno, na maioria das
vezes, é responsabilizado pelos atos indisciplinados.
No quadro I, a seguir, estão sistematizados os principais argumentos citados pelos alunos que
compuseram a amostra desta investigação:
37 Quadro I:
Alunos Considerados:
Disciplinados Indisciplinados
• Falta de educação; • Não estudar; • Não respeitar; • Parte também do
aluno e dos pais; • Desrespeito ao
Regulamento da escola;
• Brigas, gritos; • Sair da disciplina; • Infringir regras; • Questionamento • Desrespeito aos
outros; • Atrapalhar as
aulas; • Desatenção;
É possível apreender nos argumentos explicitados pelos alunos a relação entre
indisciplina e o desrespeito, aos professores e colegas; entre o descumprimento das regras pré-
estabelecidas na escola; e entre alguns comportamentos dos alunos, como por exemplo: não
estudar, brigar, bagunçar o espaço da sala de aula.
Vasconcellos (2001) aponta que a indisciplina no meio educacional é vista como a
manifestação de um aluno com um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia,
intransigência, desacato, traduzido na falta de educação ou desrespeito pelas regras pré-
estabelecidas, na bagunça, agitação ou desinteresse.
Os alunos pesquisados apontam a disciplina não como condição para o aprendizado, mas
como o próprio aprendizado, referindo-se também à disposição em estar atento à aula e
aprender. Além de relacionada ao processo de aprendizagem, para eles a disciplina também é
associada ao comportamento do aluno: comportar-se bem, ter respeito e postura. Ou seja,
concebem a disciplina como algo que se dá de forma autônoma. Evidencie que os termos
disciplina e indisciplina são considerados contrários pelos entrevistados, pois quando definem
indisciplina citam comportamentos que prejudicam o aprendizado, como bagunçar e atrapalhar
a aula, já ao falar da disciplina afirmam que ela esteja relacionada ao bom comportamento do
aluno, como respeito, por exemplo.A definição de Antunes está de acordo com essa afirmação,
segundo o autor indisciplina é definida como “procedimento ou ato dito contrário à disciplina;
desobediência desordem; rebelião”. (ANTUNES, 1986,p596).
Assim, indisciplinado é aquele que se insurge contra a disciplina.
Nas respostas dos alunos pesquisados, identifiquei as manifestações de
indisciplina relacionados a alguns fatores, como por exemplo: a – Indisciplina do aluno: falta
38 de vontade de estudar ; b - Indisciplina da família: falha na educação recebida; c -
Indisciplina do professor: falta de autoridade do professor, comprometimento com aluno; d-
Indisciplina da gestão: falta de participação, cumprimento das regras.
Ao questionar os docentes sobre o motivo de tantos conflitos em sala de aula, as
respostas foram quase unânimes: “por falta de limite e autoridade da família”; “pais ausentes e
famílias desestruturadas”, “pais que transferem a responsabilidade de educar para a escola”, “e
alunos desinteressados que não querem estudar”; Atribuem à família e aos alunos as
dificuldades de relacionamentos em sala, pois acreditam que se os alunos “soubessem” portar-
se educadamente em sala de aula, o aprendizado e o desempenho do professor e do aluno
seria outro. O professor sente-se despreparado para lidar com estas situações
comportamentais e na maioria das vezes, os conflitos tomam um tempo considerável da aula
que deveria ser dispensado para o conteúdo.
Por outro lado, alguns professores consideraram que a indisciplina pode ser gerada
também por causa do despreparo do professor, que não planeja suas aulas, e “pela falta de
autonomia do professor, que têm que aceitar a tarefa de casa até o último dia do bimestre”,
“que no Conselho de Classe todos os alunos passam”, “é dada muitas chances para os alunos
e por isso, não se preocupam em estudar”. Salienta-se que ao referir à falta de autonomia, o
professor indica que não são favoráveis à reprovação como punição, refere-se à falta de
cumprimento das regras tanto por parte da instituição que não exige comprometimento de
alguns profissionais da escola (gestão, docentes, administrativos e pedagogos) que não
desempenham a sua função com responsabilidade, assim como não colocam em prática as
regras para os alunos e a família. Relatam que as regras devem ser claras e justas para todos e
se elas existem é para serem consideradas, reinterpretadas, mudadas, conforme a necessidade
e com a finalidade de enriquecer a todos os participantes do processo. E ainda pontuam que o
ambiente escolar deve ser organizado, sério, disciplinado para que contraste com os reflexos
sociais, que não levam em conta os direitos e os deveres da pessoa humana.
Nas respostas dos alunos à questão n. três: “Você acredita que a indisciplina e as
dificuldades de aprendizagem são termos considerados causa e efeito, ou seja, se o aluno é
indisciplinado, conseqüentemente, ele apresenta dificuldades de aprendizagem?”, evidenciei,
em primeiro lugar, a compreensão de que há uma relação de causa e efeito entre indisciplina e
dificuldades de aprendizagem; ou seja, o aluno indisciplinado terá maiores dificuldades em
aprender e concentrar-se em suas atividades: e, em segundo lugar, e em menor número, a
consideração da indisciplina como um comportamento independente da aprendizagem.
39 No Quadro II, estão explicitados os principais argumentos citados pelos alunos:
Alunos Considerados:
Disciplinados Indisciplinados
• Não aprende; • Nem sempre aprende; • Perde a explicação; • Não presta a atenção. • Depende da vontade do aluno; • O bagunceiro não entende porque não quer; • Não há relação entre indisciplina e • aprendizado (idéia ligada à capacidade do aluno); • Relativo, mas muitas
vezes tem a ver;
• Ele vai ter mais dificuldades;
• O aluno que não tem disciplina pode ir bem ou não, geralmente ele vai mal;
• Tem aluno que não consegue se concentrar em sala, mas em casa sim; • Ele vai bem quando é pressionado pelo professor e diretor; • Quando está indo mal,
pressionar não é a melhor solução.
No que se refere às medidas adotadas pela escola para resolver os problemas de
indisciplina neste contexto, identifiquei nas respostas dos gestores e professores os seguintes
encaminhamentos descritos no Quadro III, a seguir:
Professores
Gestão, administrativos e pedagogos) • Auxílio da diretora; • Com auxílio da diretora; • Xingões e tarefas extra-classe; • Tirar o aluno da sala; • Chamam os pais; • Conversas com os alunos que não
cumprem as regras; • Auxílio da diretora.
• Assinatura de termo; • Suspensão; • Telefonar para os pais • Ter a agenda assinada; • Às vezes não se toma nenhuma atitude, pois
os pais do aluno são agressivos com o mesmo.
É possível observar nas colocações da equipe pedagógica que as medidas que
são tomadas pela escola ainda estão restritas a recursos coercitivos e a punição das
manifestações dos alunos, ao que parece, poucas são as tentativas de se verificar o
que realmente é a causa destas manifestações e qual sua real ligação com contexto
escolar ou com os procedimentos pedagógicos adotadas neste contexto.
Constatei, também, que a maioria dos docentes evidencia a necessidade de mais
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compromisso, harmonia, dedicação e entrosamento por parte dos profissionais que
atuam no estabelecimento de ensino. Por outro lado, reinvidicam que a gestão dê maior
atenção ao cumprimento das regras e normas, trabalhe em busca de objetivos comuns
e proporcione mais apoio aos docentes, que se sentem sem autonomia, principalmente
diante dos problemas de indisciplina. Apontam também que “a escola deve ser mais
aberta aos pais”, visto que estes, na sua maioria, vão para a escola quase que
exclusivamente para reuniões de entrega de notas ou quando são chamados por causa
de problemas de indisciplina dos filhos. Acreditam que uma maior participação da
família na escola remete a um compromisso maior por parte dos alunos com os
estudos, favorecendo positivamente no processo de aprendizagem.
A pesquisa etnográfica foi realizada com a finalidade de verificar se havia
diferença de idéias entre os alunos considerados disciplinados e indisciplinados
relativas ao tema em estudo.
A questão que evidenciou diferença considerável foi quanto ao tratamento que
deveria ser dispensado ao aluno que atrapalha a aula. Enquanto o grupo de
indisciplinados respondeu que é preciso “perguntar o porquê de o aluno ser
indisciplinado e chegar a uma conclusão”, “devem ser tratados com calma, dar apoio”,
“o professor deveria ser mais atencioso, pois o aluno precisa de ajuda”; o grupo dos
alunos disciplinados relatou que “os professores deveriam ser mais rígidos com eles”,
“colocá-los para fora da sala, pois não querem estudar”, “dar negativo, chamar os pais,
mandar para a coordenação, dar advertência, suspensão e expulsão”.
Observei nessas respostas que os alunos considerados indisciplinados pedem
ajuda e compreensão. Necessitam de afetividade e gostariam que os professores
dialogassem mais e identificassem quais são as causas de suas indisciplinas. Por outro
lado, os alunos considerados disciplinados clamam por limites, respeito, educação.
Querem um ambiente propício para o estudo, embora utilizem frases provindas de uma
concepção de educação carregada de autoritarismo. Aliás, todos os alunos clamam por
limites. Ao serem questionados se consideram justas as regras e/ ou normas da escola
em que estudam, 74% dos alunos declararam que a “escola tem que ter regras, para
que não haja brigas e ajude os alunos a serem mais compreensivos”, “as regras
educam e disciplinam o aluno para aprender”, “ajuda os professores e diretores a
organizar as salas e os pátios”, “tem que ter regras para se viver em sociedade. Não dá
para estudar numa escola que não tem regras”. Considerando o universo de alunos
pesquisados, todos declararam conhecer as regras da escola e as descreveram com
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clareza e facilidade. Ao perguntar aos alunos como o professor deveria agir para que
houvesse mais aprendizado, grande parte respondeu que “deveriam explicar bem a
matéria”, “conhecer o conteúdo e gostar de explicar”, “ser legal, meigo, atencioso,
divertido, simpático, paciente e motivar os alunos”, “que saiba dialogar e ouvir os
alunos” e “que não “brigue”, use palavrões ou seja estressado”.
Observo que a maioria dos alunos pede afeto, carinho e diálogo e que a relação
entre o professor e o aluno precisa ser reorganizada, reinterpretada. O professor
reclama do aluno e o aluno reclama do professor.
Tal fato continua envolvendo outros profissionais da escola. O aluno precisa
conhecer o seu papel e o professor também para desempenhá-lo com maior qualidade.
Esse propósito parte inicialmente da gestão que coordena o sistema escolar e promove
as reflexões e os encaminhamentos gerais da escola. A partir da discussão das regras
e normas e da cultura instituída na escola, o professor juntamente com os alunos
elaboram o seu contrato pedagógico, por turma, no qual farão os acordos necessários
para a convivência pacífica em sala destacando o papel de cada segmento.
Ao questionar os alunos quanto à importância da escola, todos foram
unânimes ao responder que a escola representa um futuro melhor, emprego bom,
possibilidades de constituir família, ser pessoas de bem e de caráter e principalmente o
lugar onde se obtém conhecimento e tira-os das ruas e das más companhias. Indaguei
aos gestores, pedagogos e docentes se a escola vem cumprindo a sua função social
enquanto promotora do conhecimento e instrumento de emancipação da classe
trabalhadora. As respostas foram divididas: ora a escola centra as falhas por não
cumprir a sua função no aluno que vem para a escola, desprovido de limites, educação,
respeito e interesse ou na família, que não cumpre a sua tarefa e a delega para a
escola; ora centra as falhas no sistema educacional, na gestão e na falta de
compromisso dos docentes. Justificam, portanto, que o sistema educacional facilita a
aprovação, a gestão não interfere com rigor nos problemas apresentados na escola,
tanto por professores e alunos, e alguns professores não se comprometem com a
qualidade do ensino, por isso não buscam interação e não estudam.
Constatei também que as pedagogas da escola não conseguem desempenhar a
função para qual foram designadas. Por ser apenas uma pedagoga por período e pela
escola apresentar muitos problemas de indisciplina, constantemente é procurada por
alunos e professores para resolver conflitos de sala de aula, os quais, na maioria das
vezes, poderiam ser resolvidos pelo professor se as regras e/ou normas da escola
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fossem constantemente interpretadas e discutidas com os alunos.
De acordo com as respostas dos segmentos questionados, as regras e normas
são entregues no início do ano por escrito pelo pedagogo, que faz uma leitura das
mesmas para os alunos, entrega para os pais em reunião e relembradas pelo diretor
durante ano, principalmente quando há conflitos e reclamações. No entanto, não são
internalizadas pelos alunos. Embora seja também o papel do pedagogo articular tais
encaminhamentos, não dispõem de tempo para estudar, analisar, propor ações e
orientar os professores, visto as múltiplas funções que assumem. Quando não atendem
professores e alunos estão imersos em atender aos pedidos do Núcleo Regional de
Educação e/o Secretaria de Estado da Educação, pais ou ainda efetuando conferência
de cadernetas, entre outros.
O propósito desse esclarecimento não é retirar o compromisso do pedagogo
quanto a sua função, e, sim, destacar que é necessário aumentar a demanda de
pedagogos por período e proporcionar-lhes condições de trabalho, para que possam
desempenhar com qualidade e consistência a sua função. Outro aspecto de relevância
foi a busca por objetivos comuns, trabalho coletivo, cooperação mútua. O projeto
Político Pedagógico da escola que encaminha as práticas de sala de aula não é
conhecido por todos os docentes, assim como o Regimento da Escola, o que é
justificável pela grande rotatividade de professores e pelo grande número de escolas
em que a maioria dos professores leciona para completar a carga horária, embora há
muitos que não os conhecem alegando “falta de tempo”. Ora, se não se conhece em
que águas se navega, também não se sabe em que porto se vai atracar. Então, se não
se conhece os objetivos da instituição, a concepção de educação que é defendida no
coletivo, como direcionar a prática pedagógica?
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Conclusão
Através da pesquisa realizada percebo que a indisciplina está ligada com a falta de
valores e expectativas que paira sobre a criança. Muitas vezes a própria família falha neste
intento, mesmo sabendo que é ela que deve se responsabilizar em construir esses valores e
incutir limites nos filhos.
Os pais deveriam se organizar em seus compromissos e passar mais tempo com seus
filhos, para que eles não se sintam tão sozinhos e sem orientação para resolver seus
problemas.
Um aspecto marcante é o caso de pais jovens, ou solteiros que não tem maturidade e
não estão preparados para encarar essa responsabilidade tão necessária pra criar e educar
seus filhos.
Quanto a interação professor-aluno, observo que não adianta o professor querer agir
com autoritarismo, pois agindo assim, só conseguirá despertar a raiva dentro do aluno, fazendo-
o revoltar-se, gerando o desinteresse pelas aulas, e o desrespeito pelo professor.
O gestor por sua vez, precisa saber trabalhar em equipe, porque através desta sinergia
ele terá mais forças e opções para sanar este problema, que na realidade, não é um problema
só dele, mas sim, dos pais, professores, inspetores, demais funcionários e até mesmo da
sociedade.
Em relação a sociedade, consideramos que talvez a causa básica dessa falta de respeito
e limites provêm das desigualdades sociais. Sempre presente no contexto social.
Enfim, considero que a questão da indisciplina e falta de limites, deve ser analisada de
uma forma global e encarada como problemas de todos. Ao gestor cabe trabalhar esse assunto
coletivamente, e se necessário contar com ajuda de outros setores da sociedade.
Concluí que a ação indisciplinar não é um fator restrito somente a escola, abrange todas
as camadas da sociedade, e suas causas na maioria das vezes são trazidas de fora para dentro
da escola, quase sempre por problemas sociais.
O gestor deve estar firmemente preparado para lidar com tal problemática, sem perder de
vista a integração com a família que deve ser atuante e parceira. Faz-se necessário a
realização de um projeto gigante e muito bem estruturado que tenha como enfoque, a
reestruturação e o regate de valores éticos e morais que foram se perdendo ao longo das
mudanças rápidas que a evolução e o progresso foram nos impondo gradativamente.
Este desafio só será vencido através de um trabalho contínuo, coletivo, desenvolvido não só na escola como na família e sociedade como um todo.
44 Quiçá possa presenciar, num futuro não tão distante, uma escola onde o respeito
mútuo, a responsabilidade, a consciência dos direitos e deveres e os verdadeiros ideais da
educação, sejam contemplados de forma integral, para que assim o ser humano possa
desenvolver-se em sua plenitude.
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Índice
Folha de rosto 2 Agradecimentos 3 Dedicatória 4 Resumo 5 Metodologia 6 Sumário 7 Introdução 8
Capítulo I – Referencial teórico 10 1.1 Conceito da indisciplina 1.2 Fatores que afetam a indisciplina 1.2.1 A sociedade mudou 12 1.2.2 Ambiente familiar 13 1.2.3 A escola 16 1.2.4 O professor 17 Capítulo II- Gestores seu papel e seus desafios 18 2.1 Estratégia de prevenção/ intervenção de indisciplina escolar 22 Capítulo III- Metodologia da pesquisa 35 Introdução 35 3.1 Apresentação e discussão dos dados 36 Conclusão 41 Referências Bibliográficas 42