IMPACTOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA VIDA...
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1 Trabalho de Conclusão de Curso
IMPACTOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA VIDA DOS BENEFICIARIOS
DA REGIÃO DO BAIRRO DOM ANTONIO BARBOSA
Suélen de Almeida
Resumo: O Programa Bolsa Família possibilita que a população pobre tenha condições mínimas de
subsistência de vida, proporcionando promoção de renda, saúde e educação. Desta forma, objetivou-se
através desta pesquisa acompanhar cinco famílias que possuem seus filhos matriculados na Escola
Municipal e no Centro de Educação Infantil, localizados no bairro Dom Antônio Barbosa no município
de Campo Grande/MS, de modo a utiliza-las como informantes sobre a atual situação que se encontram,
questionando-as sobre os impactos causados pelo Programa Bolsa Família (PBF), por meio de
entrevistas semiestruturadas.
Palavras-chave: Criança, Contexto Social, Bolsa Família.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo visa fazer uma análise a respeito dos impactos do Programa Bolsa
Família (PBF) na vida dos beneficiários – crianças e familiares – residentes no bairro Dom
Antônio Barbosa, localizado na região sul de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, destacando
a importância do programa para as famílias, bem como seus pontos positivos e negativos, além
de ressaltar os condicionantes relativos ao PBF.
O bairro Dom Antônio Barbosa é uma região marcada por altos índices de
criminalidade, é também um local em que o consumo e a comercialização de drogas é elevado,
envolvendo inclusive crianças. Sendo assim, a vulnerabilidade social presente neste bairro é
evidente, segundo Chagas (2015) em reportagem no Jornal “MS Notícias” o bairro é um dos
mais violentos de Campo Grande, com grande número de famílias inseridas em programas
sociais do governo federal.
No que tange a educação, fator considerado necessário para a diminuição das
desigualdades, existem situações desfavoráveis que não permitem o aproveitamento da
atividade do estudo, no bairro existe 01 (uma) escola municipal e 01 (um) e Ceinf – Centro de
Educação Infantil, destacamos que fatores como: a entrada muito precoce ao mercado de
trabalho, responsabilidades com o lar (cuidar da casa e dos cuidar dos irmãos, exposição a
marginalidade), falta de ambiente para estudo e pesquisa livros, computadores, etc.) entre
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outros, distanciam cada vez mais esta população de uma educação de base, como nos coloca
Leite (s.d, p.13):
[...] as condições de vida das crianças e dos(as) jovens pobres no Brasil deixam
à mostra as desigualdades sociais e a falta de concretização de direitos
garantidos por lei, como viver com dignidade ou estudar em uma escola de
qualidade. O que podemos observar é que inúmeras crianças e jovens de
origem popular vivem hoje nos “limites da sobrevivência”, colocando em
descoberto a grave desigualdade social presente em nossa sociedade.
Considerando os aspectos que estão no entorno desta população e a complexidade da
temática abordada, utilizamos a metodologia de cunho qualitativo. Realizamos o
acompanhamento de cinco famílias que tem seus filhos matriculados no Centro de Educação
Infantil – Ceinf e na escola municipal da região, buscamos estabelecer um contato direto com
as famílias estabelecendo uma relação de confiança, com intuito de que elas fossem as
informantes sobre a atual situação em que se encontram. Buscamos ainda, dar voz a esses
sujeitos para que eles evidenciassem os impactos que o PBF causou em suas famílias, e
relatassem tanto os aspectos de contribuição do programa para melhoraria de vida, como alguns
fatores que ainda podem melhorar. Com a finalidade de estabelecer uma escuta atenta dos
sujeitos envolvidos no processo utilizamos entrevistas semiestruturadas que foram gravadas em
áudio e posteriormente transcritas e analisadas.
As desigualdades sociais no local da pesquisa são marcantes, é um bairro desassistido
pelo poder público, onde a população não consegue ter voz ativa diante da sociedade, Pinzane
e Rego (2014, p.7) esclarecem que a exclusão econômica resulta em exclusão social e política,
“visto que os pobres passam a viver à margem da sociedade, com pouca capacidade de se
organizarem para fazer com que suas vozes sejam ouvidas. ”
Segundo os autores, essas exclusões (econômica, social e política) resultam em:
[...] renúncia por parte do Estado a formar cidadãos(ãs), é a desinformação
generalizada, a indiferença política, cívica e, sobretudo, a transformação das
pessoas em alvos fáceis para qualquer tipo de manipulação religiosa,
ideológica, em especial a da demagogia política mais perigosa, deformadora
de qualquer sentido republicano da vida coletiva (PINZANE; REGO, 2014,
p.27).
No entanto, é notável que o Programa Bolsa Família tem acrescido inúmeros benefícios
na vida das famílias atendidas, visto que, tem elevado o nível de escolaridade da população,
diminuído a fome, além de proporcionar a promoção da saúde aos beneficiados.
3 Trabalho de Conclusão de Curso
Além da contribuição do programa para a redução da desnutrição infantil, a
diminuição da mortalidade infantil foi expressiva entre as famílias
beneficiárias do programa – tanto a mortalidade relacionada à resistência a
doenças infectocontagiosas quanto a relacionada à desnutrição e à diarreia. O
atendimento básico à saúde dos grupos mais vulneráveis foi fortalecido em
consequência das condicionalidades do Bolsa Família, com reflexos
importantes na saúde da gestante e da criança. (CAMPELLO; NERI, 2013,
p.18)
Considerando estes fatores percebemos a necessidade de dar voz às pessoas que
participam do PBF, permitindo que falem a respeito das principais mudanças em suas vidas
após a entrada no programa.
Para participar do Bolsa Família é necessário que o indivíduo se encaixe em alguns
critérios estabelecidos na política do programa, chamados condicionantes, fatores como renda
familiar e acompanhamento na área educacional e de saúde.
A condicionalidade do PBF, da forma como está organizada em todo território
nacional e em articulação com as políticas públicas, com foco nas famílias em
situação de pobreza, tem o grande potencial de articular a preocupação em
torno da desigualdade e, ao mesmo tempo, pautar a questão da equidade para
efetivação de direitos sociais básicos (AGATTE; ANTUNES, 2014, p.48).
Em resumo o PBF atende pessoas na linha de pobreza e pobreza extrema que segundo
Arroyo (2015, p. 23), são indivíduos “[...] condenados (as) a vidas em situação crítica de
subsistência – sem moradia digna, água, comida, trabalho [...]”, que estão no limite do
sobreviver.
Esta pesquisa foi estruturada em três subitens, no primeiro apresentaremos um breve
histórico PBF e seus condicionantes. Em seguida abordaremos a temática com base na
entrevista realizada, e por fim, apresentaremos algumas considerações acerca do tema.
2 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: SEUS CONDICIONANTES E PENALIDADES
O Programa Bolsa Família foi implementado no ano de 2004. Um programa de
transferência de renda que atende famílias em situação de pobreza ou pobreza extrema, foi
instituído pela Lei 10.836, de janeiro de 2004 e regulamentado pelo Decreto 5.209, de setembro
de 2004. Possui três objetivos básicos:
[...] aliviar a pobreza de forma imediata mediante a transferência direta de
renda; apoiar o desenvolvimento das capacidades da família através da
integração com programas complementares que visam capacitar os adultos
4 Trabalho de Conclusão de Curso
para sua inserção no mercado de trabalho buscando romper com a situação de
vulnerabilidade financeira; e, contribuir para a redução da reprodução do ciclo
de pobreza [...]. (OLIVEIRA, 2015, p. 13776)
O ciclo vicioso da pobreza consiste em uma série de fatores que levam o indivíduo a
permanecer na pobreza, e por mais que hajam esforços para sair deste contexto de falta de
condições dignas de vida, o indivíduo vê-se preso a ele, isso se dá devido as insuficiências do
Estado que permite que o indivíduo seja excluído política, econômica e socialmente. Mediante
a isto, o Estado institui programas que consintam em propiciar condições mínimas de sustento
na vida do indivíduo, iniciativas essas como o próprio Programa Bolsa Família.
Segundo redação dada pela Lei nº 11.692, de 2008 o programa destina-se a famílias que
em sua composição possuam gestantes, nutrizes (mulheres que amamentam), crianças entre
zero e doze anos, ou adolescentes de até dezessete anos de idade. Essas famílias necessitam
estar enquadradas no percentual de renda familiar mensal per capita que varia de R$ 85,00
(oitenta e cinco reais) até R$ 170,00 (cento e setenta reais) conforme o artigo n.18 do Decreto
nº 8.794, de 2016. Além disso, a família necessita estar cadastrada no Cadastro Único –
CadÚnico, esse, que é um instrumento que permite ao governo conhecer a realidade
socioeconômica de cada família cadastrada.
Estes indivíduos necessitam atender alguns critérios:
Na área educacional:
Matricular crianças e adolescentes de 6 a 15 anos em instituições de ensino regular;
Frequência escolar de 85%; quando ocorrer mudança de escola informar ao setor responsável
pelo PBF.
Na área da saúde:
Para gestantes e nutrizes: Inscrever-se no pré-natal e comparecer as consultas; participar
de atividades educativas ofertadas pelas equipes de saúde sobre aleitamento materno e
alimentação saudável.
Para responsáveis por crianças menores de 7 anos: Manter atualizado o cartão de vacina
da criança; levar a criança à unidade de saúde para fazer acompanhamento do estado nutricional
e do desenvolvimento e outras ações, conforme calendário mínimo do Ministério da Saúde.
5 Trabalho de Conclusão de Curso
Caso o cidadão descumpra algum dos condicionantes ele estará sujeito a penalidades,
em primeiro momento a advertência, persistindo o descumprimento, a pessoa recebe a segunda
ocorrência que pode acarretar em:
- Bloqueio do benefício por um mês, no segundo registro de descumprimento;
- Suspensão do benefício por dois meses a partir do terceiro registro de descumprimento,
e, reiteradamente, a partir da ocorrência de novos efeitos no benefício por descumprimento;
- Cancelamento do benefício somente após registro no Sistema de Condicionalidades −
SICON de que a família foi inserida em serviço socioassistencial de acompanhamento familiar
do município.
As condicionalidades são compromissos tanto da família beneficiada, como também do
governo que necessita ofertar serviços públicos de saúde, educação e assistência social, para
que as condicionalidades sejam de fato cumpridas.
Observamos que o PBF possui uma política de enfrentamento da pobreza, da
desigualdade e da exclusão social, que exige a corresponsabilidade dos beneficiários, uma vez
que necessitam atender as regras relacionados ao programa, esses critérios que vão além da
geração de renda ocupando as esferas de saúde e educação, fatores extremamente necessários
para o desenvolvimento do indivíduo e para superação das desigualdades.
Concebendo a importância do PBF nas áreas de saúde, de educação e também na
efetivação dos direitos sociais do indivíduo, o programa tem constituído uma importante
estratégia para o combate da pobreza e da fome:
O Programa Bolsa Família tem se afirmado com uma experiência bem-
sucedida devido à sua ampla cobertura e ótima focalização, e também aos
relevantes impactos sobre as condições de vida da população beneficiária.
(CAMPELLO; NERI, 2013, p.23).
Fomentar políticas sociais e programas como o Bolsa família é assegurar condições
mínimas de sobrevivência e dignidade de vida aos beneficiados, é, de alguma forma, permitir a
população pobre ter condições mínimas de subsistência.
Pensando nisto, fomos ouvir as narrativas de algumas famílias beneficiárias, seus
anseios e opiniões sobre o PBF, dando espaço para que elas expusessem sua realidade acerca
de trabalho e renda, estrutura familiar e o emprego do recurso recebido.
6 Trabalho de Conclusão de Curso
3 A REALIDADE DOS SUJEITOS INCLUSOS NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
Esta pesquisa configurou-se como espaço de escuta e divulgação do pensar dos
beneficiários do PBF, através de entrevistas semiestruturadas, gravadas em áudio com
perguntas abertas e fechadas, dando liberdade aos entrevistados para que discorressem sobre
cada tema abordado.
O referencial teórico-metodológico utilizado é o de pesquisa qualitativa, onde busca-se
estudar e elucidar as políticas públicas que permeiam os aspectos sociais dos indivíduos. Além
disso, a pesquisa é um espaço de reflexão e investigação dos elementos estudados, desta forma
destaca-se a fala de Nogueira (2010) em que afirma,
[...] a preocupação não é delimitar, mas ampliar a discussão, levando para o
campo da investigação o sujeito produtor de conhecimento, o sujeito
pesquisado, as diferentes abordagens no processo de pesquisa, o olhar do
pesquisador em busca das insignificâncias e dos fragmentos que por vezes dão
um novo sentido à totalidade” (NOGUEIRA, 2010, p. 56).
Sendo assim, as famílias que participaram desta pesquisa, são indivíduos que foram
atendidos pela pesquisadora quando trabalhava com Agente Comunitária de Saúde, no bairro
Dom Antônio Barbosa. O vínculo da pesquisadora e famílias facilitaram a realização do
presente estudo, conforme orienta Neto (1994, p.55):
Em primeiro lugar, devemos buscar uma aproximação com as pessoas da área
selecionada para o estudo. Essa aproximação pode ser facilitada através do
conhecimento de moradores ou daqueles que mantêm sólidos laços de
intercâmbio com os sujeitos a serem estudados [...] é fundamental
consolidarmos uma relação de respeito efetivo pelas pessoas e pelas suas
manifestações no interior da comunidade pesquisada.
Colaboraram com esta pesquisa 05 (cinco) famílias com diferentes composições
familiares. As entrevistas foram autorizadas pelos participantes e realizadas em suas
residências, buscou-se obter dados mais próximos possíveis ao movimento dos sujeitos em seus
espaços físicos e sociais. As famílias tiveram suas identidades preservadas e sendo identificadas
com nomes fictícios: família 01- Barros; família 02 – Andrade; família 03 – Bandeira; família
04 – Marinho; família 05- Rocha.
A tabela abaixo apresenta alguns dados pessoais das famílias entrevistadas, que
evidenciam as situações em que se encontram nesse momento histórico.
7 Trabalho de Conclusão de Curso
Família Barros Andrade Bandeira Marinho Rocha
Número de
moradores
04 04 02 04 05
Idade dos
moradores
65
53
14
11
40
29
07
03
52
11
31
23
05
08 meses
34
28
12
09
03
Possui casa
própria?
Casa cedida
Casa cedida
Casa própria
Casa alugada
Casa própria
Quantos estão
matriculados/
estudam?
02
01
01
01
03
Renda Familiar
R$ 1.500,00
R$ 1000,00
R$ 350,00
R$900,00
R$210,00
(apenas renda do
PBF)
Quantos
possuem renda
fixa?
01
(Seguro
Desemprego)
Nenhum
Nenhum
01
Nenhum
Quantos são
autônomos?
Nenhum
01
01
Nenhum
01
Atividade
desenvolvida no
trabalho
-
Cabelereiro
Babá
Segurança
Passadeira
Diante do exposto nota-se que a maior composição familiar é a dos Rochas, sendo cinco
moradores no total e a menor com apenas dois moradores. Percebe-se que apenas duas famílias
possuem casa própria, duas das famílias entrevistadas possuem casas cedida e uma alugada.
Três dos entrevistados declaram não possuir renda fixa, desenvolvendo atividades autônomas,
na família Barros ocorre um caso de perca do emprego há um mês, a atividade antes
desenvolvida era o plantio de eucalipto.
As famílias entrevistadas que possuem crianças menores de 04 (quatro) anos dizem
possuir dificuldades em conseguir vagas no Ceinf, observa-se que apenas uma delas tem seu
filho matriculado na creche, as outras duas famílias relatam estar na fila de espera para
concretização da vaga.
Compreendemos a importância da Educação Infantil na vida das crianças, na sua
formação cognitiva e no desenvolvimento de suas inúmeras capacidades e deve:
[...] propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas
de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das
8 Trabalho de Conclusão de Curso
capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em
uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas
crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural
(BRASIL, 1998, p.23)
Quanto a escolaridade observa-se que apenas as crianças e adolescentes que possuem
idades correspondente a escolaridade obrigatória1, estão matriculados na Escola Municipal
Padre Thomaz Ghirardelli, ou no Ceinf Ramza Bedoglin Domingos. Os adultos das famílias
Barros e Andrade apenas mulheres concluíram o Ensino Médio, enquanto os homens não
concluíram o ensino fundamental. Nas famílias Marinho, Bandeira e Rocha todos os adultos
concluíram o Ensino Médio, salientamos que educar é possibilitar uma amplidão de horizontes
e deve oferecer indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu
desenvolvimento e inserção social (BRASIL, 1998).
Destacamos algumas peculiaridades dos entrevistados, na família Barros são os avós
que criam os netos, desde os três anos de idade. Na família Andrade, a criança de três anos
possui deficiência visual e faz acompanhamento no Instituto Sul Mato Grossense para cegos
Florivaldo Vargas (ISMAC). A família Bandeira, além da renda declarada, afirma que os filhos
ajudam financeiramente a manter a casa, porém, não tem valor fixo e não é todo o mês que ela
obtém esse auxílio. A família Rocha relata estar em um difícil momento, pois o marido que
mantinha o lar, desenvolvendo a atividade de eletricista, teve que fazer uma cirurgia cardíaca e
perdeu a renda, foi neste momento (dois meses atrás) que a esposa recorreu ao Bolsa Família,
e para complementar a renda desenvolve o serviço de passar roupas.
A renda familiar se difere entre uma e outra família, a maior renda declarada é de R$
1500,00 (mil e quinhentos reais) e a menor de R$350,00 (trezentos e cinquenta reais) já
incluindo o benefício do PBF. Nota-se que para participação no PBF algumas rendas
ultrapassariam os critérios do programa, porém os participantes da pesquisa relatam que a renda
declarada é de apenas um dos moradores no caso das famílias Barros, Andrade e Marinho.
Percebe-se que a política de transferência de renda, nestes casos, é importante para estas
famílias, Pinzane e Rego (2014, p.18) declaram,
Isso exige de todos(as) os(as) democratas uma tomada de posição e lutas
políticas voltadas à preservação de importantes conquistas democráticas e
1 A Lei n. 9.394/1996 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, prevê que
educação básica é obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade.
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sociais duramente conquistadas, como o acesso ao bem-estar, à cultura e à
educação de maneiras universais. Essas considerações servem para salientar a
importância fundamental da formação de solidariedades fortes e laços sociais
consistentes, necessários para garantir grandes transferências de renda; e do
apoio decisivo a medidas legislativas verdadeiramente distributivas,
indispensáveis à construção e à efetivação de direitos.
No PBF a transferência de renda tem por finalidade o alívio imediato da pobreza ligados
a privação de recursos, reduzindo desta forma as gritantes desigualdades sociais.
Questionadas acerca do tempo que recebem o benefício e sobre como a renda é
empregada, as famílias, Barros e Andrade afirmam receber a dois anos e que é aplicada em:
“Coisas pras crianças, um mês compra pra um e no outro pra outro. Compro material escolar e
roupas que usa muito. ” (Barros) [SIC].
A família Andrade afirma que utiliza apenas para alimentação “Eu uso pra comprar
alimentos, é pouco mas a gente junta com mais um pouco e compra, é R$70,00 (setenta reais)
mas ajuda” [SIC].
Em relato a família Marinho declara ter recebido o benefício por dois anos, mas após
começar a trabalhar deixou de receber, contudo, após o nascimento de seu filho, agora com oito
meses, não havendo vaga no Ceinf ela teve que deixar de trabalhar, assim, deu entrada
novamente no Programa e está recebendo o benefício a seis meses. “Eu uso pra comprar leite,
fralda e as coisinhas pras crianças” [SIC].
A família Rocha afirma que é o segundo mês que participa do programa, “eu tenho
usado esse dinheiro para pagar alguma conta de agua ou luz e se sobra eu compro comida pra
casa também, é um dinheiro que tá vindo em boa hora” [SIC].
Quanto a aplicabilidade do recurso obtido observa-se que a subsistência das famílias
entrevistadas tem sido prioridade, se tornando um fator importante para o enfrentamento da
situação da pobreza em que vivem, não obstante o programa integrar-se a uma política de
segurança alimentar e nutricional, além de conferir a estas famílias o direito básico a vida, que
é o dever mais elementar do Estado, conforme afirma Campello (p.21, 2013)
Ao longo dos anos, devido ao seu desenho adequado e à sua contínua expansão
e aprimoramento, o PBF reduziu a pobreza e a desigualdade, promoveu a
inclusão nas políticas públicas de educação e saúde, reduziu a insegurança
alimentar, e fortaleceu a trajetória escolar e a saúde de crianças e adolescentes,
aumentando o compromisso destas políticas com as parcelas mais pobres da
população brasileira.
10 Trabalho de Conclusão de Curso
Vale ressaltar que antes de estarem inclusas no PBF as famílias se organizavam
financeiramente de diferentes modos. As famílias Barros e Bandeira declaram que antes
recebiam ajuda dos filhos para se manter, as famílias Marinho e Rocha trabalhavam, como já
exposto anteriormente e a família Andrade afirma que antes dependiam unicamente da renda
do marido, que é autônomo.
Elas revelam que o Bolsa Família se torna uma segurança, principalmente para o
sustento dos filhos, uma vez que não estão inseridas mais no mercado de trabalho e necessitam
utilizar o programa, frisamos que essas famílias utilizam o benefício a pouco tempo e entendem
que assim que conquistarem alguma forma de renda fixa e segura deixaram de ser participantes
do PBF.
Quando questionadas quanto as exigências do Programa as famílias relatam não possuir
nenhuma dificuldade em cumpri-las. Barros revela que a cada seis meses tem que ir no Posto
de Saúde para pesar e medir, ela e as crianças. Marinho afirma que é necessário estar com as
vacinas e o preventivo em dia, além de fazer acompanhamento médico de seus filhos.
Bandeira reconhece:
Acaba fazendo a gente cuidar mais da saúde, antes eu não me importava muito
em fazer preventivo, agora todo ano eu faço e as minhas vacinas e da minha
filha sempre estão em dia. [SIC]
Acerca da instituição escolar na qual as crianças estão inseridas, as entrevistadas dizem
não haver nenhuma diferenciação de seus filhos e as outras crianças, a única exigência que a
escola faz é a frequência escolar.
Segundo Campello (2013) as condicionalidades do PBF garantiram às famílias
beneficiárias o acesso a serviços básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social.
Um primeiro aspecto é que as condicionalidades do programa exigiram uma
articulação entre as áreas de assistência social, de educação e de saúde em
torno da população beneficiária. Desta maneira, a população vulnerável –
tradicionalmente com maiores dificuldades de acesso aos serviços de
educação e saúde e, sobretudo, de acesso com qualidade – passou a receber
uma atenção especial dos sistemas educacional e de saúde, por meio do
acompanhamento de condicionalidades (CAMPELLO, 2013, p.31).
Por fim foram questionados a respeito dos aspectos que deveriam ser melhorados no
PBF e sobre as expectativas de vida para o futuro, a família Barros coloca: “eu acho que tinha
11 Trabalho de Conclusão de Curso
que ter mais fiscalização, porque tem muita gente que recebe e não precisa e no futuro eu espero
que eles (netos) tenham um bom emprego. ”
Já a família Andrade afirma: “eu acho que não falta nada no programa, não tenho o que
reclamar, quero que minhas filhas façam faculdade se profissionalizem porque eu não tive
oportunidade e espero que elas tenham” [SIC].
Para a família Bandeira o valor repassado aos sujeitos precisa ser revisto ao relatar que:
“tinha que aumentar (o valor), no futuro eu quero que ela estude e quando chegar a maioridade
tem que trabalhar, né. ”
Marinho também acredita que não falta nada no Programa e espera que os filhos estudem
e façam faculdade. Rocha diz: “tinha que ter fiscalização e tinha que punir quem recebe e não
precisa, porque fica usando o lugar de quem precisa de fato, no futuro eu quero que eles estudem
e tenham uma boa carreira no emprego. ” [SIC]
Analisando as falas das entrevistadas percebemos que apenas uma delas afirma que o
valor recebido deveria ser revisado, duas das participantes ressaltam a necessidade de maior
fiscalização em torno no Programa e as outras duas relatam não precisar de nenhuma mudança
no Bolsa Família.
Com relação a expectativa para o futuro todas manifestam o desejo que as crianças
possuam um bom emprego e ressaltam a importância de uma boa formação profissional para
tanto.
4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Esta pesquisa possibilitou a proximidade com a realidade vivida pelos beneficiários do
PBF, permitindo um olhar mais abrangente acerca dos fatores sociais que perpassam por cada
família, desmitificando muitos preconceitos arraigados sobre a temática do programa.
Salientamos que a iniciativa do PBF representa um ganho na ascensão das famílias
atendidas, promovendo além da renda, saúde e educação conforme tangem as condicionalidades
estabelecidas.
Durante a realização da entrevista, determinadas famílias demonstraram um certo temor
em participar do diálogo e posteriormente ter seu benefício cancelado, pois no quesito renda
12 Trabalho de Conclusão de Curso
não se enquadrariam nas exigências do programa, esclarecemos a elas que a mesma seria apenas
parte de uma pesquisa e que seus dados não seriam revelados. Com relação a isso, nota-se que
algumas das entrevistadas evidenciam a necessidade de maior fiscalização em torno do
programa, no entanto elas próprias não se encaixariam neste ponto, uma vez que a renda
familiar excede o valor estipulado pelo programa.
No que tange a utilização do recurso recebido os entrevistados afirmam que é
empregado em suma no sustento da família e/ou aplicado em materiais para os filhos,
aumentando a segurança alimentar e nutricional, fator preponderante na política do programa.
Outro fator que nos chama atenção é preocupação com a formação dos filhos e o
encaminhamento ao mercado de trabalho, nenhum dos entrevistados alegou que futuramente
quer que o filho seja beneficiário do Bolsa Família, pelo contrário, todos querem que os filhos
estudem e possuam uma boa profissão futuramente, opondo-se ao discurso que o PBF forma
apenas vadios e acomodados.
Por fim, ressaltamos que o PBF possibilitou diversos benefícios para vida dos
entrevistados, além da renda, o programa mostra-se como um fator significativo para saúde e
educação dos beneficiários.
No entanto, acreditamos que de fato o programa necessita ser melhor fiscalizado, para
garantir aplicação correta do recurso e sua destinação a famílias que realmente necessitam deste
recurso para a superação da vulnerabilidade.
5 REFERÊNCIAS
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