Impactos Ambientais e Operacionais da Industrialização do...

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DA PRODUÇÃO - PPGEP Impactos Ambientais e Operacionais da Industrialização do Algodão Colorido: Os Casos da Fiação e Malharia da Indústria Têxtil Paraibana SIBELE THAISE VIANA GUIMARÃES DUARTE João Pessoa Junho de 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB

CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA

DA PRODUÇÃO - PPGEP

Impactos Ambientais e Operacionais da

Industrialização do Algodão Colorido: Os Casos da Fiação e Malharia da

Indústria Têxtil Paraibana

SIBELE THAISE VIANA GUIMARÃES DUARTE

João Pessoa

Junho de 2005

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SIBELE THAISE VIANA GUIMARÃES DUARTE

Impactos Ambientais e Operacionais da Industrializa ção do Algodão Colorido : Os Casos da Fiação e Malharia da Indústria

Têxtil Paraibana

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba, como requisito à obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção.

Sub-área de Concentração: Organização, Trabalho e Tecnologia

Orientador: Prof. Dr. Paulo José Adissi

João Pessoa

Junho / 2005

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SIBELE THAISE VIANA GUIMARÃES DUARTE

Impactos Ambientais e Operacionais da Industrializa ção do Algodão Colorido: Os casos da Fiação e Malharia da Indústria

Têxtil Paraibana

Dissertação apresentada em 21 de Junho de 2005 perante a banca examinadora integrada pelos seguintes membros:

__________________________________________ Prof. Dr.Paulo José Adissi

Universidade Federal da Paraíba - Orientador

__________________________________________ Profa. Dra. Aurelia Altemira Acunã Idrogo

Universidade Federal da Paraíba - Examinadora Interna

__________________________________________ Profa. Dra. Sandra Leandro Pereira

Universidade Federal da Paraíba- Examinadora Externa

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a

Minha Mãe, Josirene Viana e

ao meu esposo, Wellington Duarte,

dois exemplos de coragem , força e determinação.

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AGRADECIMENTOS

O presente trabalho, resulta do incentivo, do apoio e da colaboração

de muitos, assim, quero expressar de forma gratificada meus mais sinceros

e reconhecidos agradecimentos:

A Deus pelo dom da vida e da inteligência

A minha mãe, Josirene Coelho Viana que através de sua conduta

serviu-me de espelho na trajetória da minha vida;

A meu esposo, Wellington Martins Duarte que me incentivou e me

apoiou incondicionalmente nos momentos mais críticos do meu caminhar;

Ao meu orientador, José Paulo Adissi e meu amigo Givanildo Freire

pelas seguras contribuições neste trabalho;

Aos professores, Aurélia Idrogo, Geraldo Maciel e S andra Pereira .

integrantes da banca examinadora que com suas críticas e sugestões

ajudaram no aperfeiçoamento deste;

Aos Amigos da Coteminas, em especial, Edmilson Carn eiro, Evane

de Melo e Silva, Francisco Girleno Filgueiras, José Amilton Cunha, José

Edílson de Oliveira e Roberto Torreão Viana de Melo , os quais me

estenderam a mão e estiveram sempre dispostos a me ajudar, tanto na minha

trajetória profissional, quanto acadêmica;

Ao diretor da Matesa Têxtil, Sr. Francisco J. C. Go nçalves que abriu

as portas de sua empresa para a realização deste trabalho; em especial ao Sr.

Carlos Cunha que me atendeu prontamente sempre muito amável e solícito

tirando-me todas as dúvidas que apareciam;

A Angélica Rodrigues , que dedicou pouco de seu tempo para

esclarecer-me dúvidas;

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Ao pessoal da Embrapa Algodão que me orientou nas dúvidas quanto

ao cultivo do algodão colorido;

Aos professores de engenharia agrícola, Maria Elita Duarte e Mário

Eduardo que contribuíram no aperfeiçoamento de idéias contidas neste

documento;

A Rosângela Herculano, sempre muito meiga e prestativa atendendo-

me nas horas de precisão;

Aos professores do Departamento de Engenharia de Pr odução que

direta ou indiretamente se fizeram presentes nesta conquista;

Enfim, a todos os colegas e amigos que contribuíram com incentivo e

força.

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DUARTE, Sibele Thaise V.G. Impactos Ambientais e Operacionais do Algodão Colorido: Os Casos da Fiação e Malharia da Indústria Têxtil Paraibana . Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia da Produção. João Pessoa. Junho de 2005.

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo identificar os impactos ambientais e operacionais da industrialização do algodão de fibra colorida nos segmentos de fiação e malharia da indústria têxtil paraibana. Para isto, buscou-se descrever o processo produtivo têxtil dos dois tipos de algodão: o comum (branco) e o colorido (natural), comparando-se os processos e identificando seus impactos. Duas foram às empresas estudadas, uma na cidade de Campina Grande e a outra na cidade de João Pessoa caracterizando-se, desta forma, como um estudo de caso descritivo-comparativo-explicativo. As variáveis analisadas foram: tempo de setup, percentagem de perda no processo, produtividade, tempo de processamento, consumo de água e energia, utilização de mão-de-obra e quantidade de máquinas envolvidas, dentre outras; para tal, utilizaram-se instrumentos no levantamento dos dados, como: pesquisa bibliográfica, coleta documental, observação direta e entrevista informal com os respectivos responsáveis pelo processo produtivo. O processo de beneficiamento têxtil, que envolve etapas como o tingimento e o acabamento, foi o mais observado na indústria de malharia, pois é através dele que se verificam os maiores impactos ambientais devido à toxicidade de efluentes. O algodão colorido desponta como solução para minimização desses despejos têxteis, contribuindo com o meio ambiente pois, além de não fazer uso de produtos químicos como corantes, peróxidos, amaciantes e outros, ainda reduz o consumo de água e energia das indústrias têxteis. Em contrapartida, observa-se maior percentagem de perda no processo em razão da sua quantidade ainda estar sob parâmetros artesanais.

Palavras-chave: Algodão colorido, impacto ambiental, indústria-têxtil

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DUARTE, Sibele Thaise V.G. Impactos Ambientais e Operacionais do Algodão Colorido: Os Casos da Fiação e Malharia da Indústria Têxtil Paraibana . Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia da Produção. João Pessoa. Junho de 2005.

ABSTRACT

The present work has for objective to identify the environmental and operational impacts of the industrialization of the colored cotton in the spinning followings and mill of the industry textile paraibana. For that it was looked for to describe the textile productive process of the two cotton types: the common (white) and color (natural), comparing the processes and identifying your impacts. Two, went to the studied companies, one in the city of Campina Grande and the other, in the city of João Pessoa, being characterized this way as a study of descriptive-comparative-explanatory case. The analyzed variables were time of setup, loss in the process, productivity, time of processing, consumption of water and energy, labor use, amount of involved machines, among other, for that, was used instruments in the rising of the data, as: he/she/you researches bibliographical, it collects documental, direct observation and glimpses informal with the respective ones responsible for the productive process. The process of textile improvement that it involves stages as the tingiment and finish, it was it more observed in the mill industry, because it is where it is verified the largest environmental impacts due to eflluents toxicity. The colored cotton blunts as a solution for minimizing of these textile spillings contributing with the environment, because besides not doing use of chemical products as colors and other, it still reduces the consumption of water and energy of the textile industries. In against departure, there is a larger loss in the due process your amount still to be under handmade parameters.

Key words: Colored cotton, Environmental Impacts, industry textile

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FICHA CATALOGRÁFICA ELAB ORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG

D812i Duarte, Sibele Thaise Viana Guimarães

Impactos ambientais e operacionais da industrialização do algodão colorido: os casos da fiação e malharia da indústria têxtil paraibana / Sibele Thaise Viana Guimarães. ─ João Pessoa: UFPB, 2005.

164f. : il. col. Inclui bibliografia.

Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Universidade Federal da Paraíba, Centro de Tecnologia.

Orientador: Paulo José Adissi.

1─ Indústria Têxtil-Algodão 2─ Meio Ambiente-Impactos 3─ Algodão Colorido I ─ Título

CDU

677.21

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 Cadeia produtiva da indústria têxtil – confecção

..........

35

FIGURA 02 Fluxo de comercialização do algodão

..........................

41

FIGURA 03

Esquema do processo têxtil de fiação open end e

fiação anel

....................................................................

46

FIGURA 04

Áreas funcionais afetadas em relação à questão

ambiental

......................................................................

77

FIGURA 05 Modelo ambiental na indústria têxtil

........................... 99

FIGURA 06 Organograma da empresa de fiação

........................... 103

FIGURA 07 Organograma simplificado da empresa de malharia

... 105

FIGURA 08

Fluxograma do processo produtivo do fio de algodão

colorido e branco

..........................................................

109

FIGURA 09

Fluxograma do processo produtivo da malha de

algodão comum

............................................................

121

FIGURA 10

Fluxograma do processo produtivo da malha de

poliéster

........................................................................

123

FIGURA 11

Fluxograma do processo produtivo da malha de

algodão colorido

...........................................................

126

FIGURA 12

Fluxograma do beneficiamento têxtil e seus impactos

ambientais

....................................................................

131

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FIGURA 13 Fluxograma do processo de tingimento

....................... 136

FIGURA 14 Balanço hídrico das unidades geradoras de despejos 138

FIGURA 15 Esquema da estação de tratamento de efluentes da

indústria estudada 144

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LISTAS DE QUADROS

QUADRO 01 Produção Brasileira de Algodão em Pluma. 25

QUADRO 02 Aplicação de conceitos de aspectos ambientais . 28

QUADRO 03 Ranking dos países produtores de artigos têxteis 34

QUADRO 04 Classificação das tecnologias de fiar. 42

QUADRO 05 Medidas de resistência da fibra do algodão . 49

QUADRO 06 Categorias de comprimento da fibra de algodão 50

QUADRO 07 Interpretação da uniformidade de comprimento de

fibra 51

QUADRO 08 Perdas mínimas de corantes no tingimento .. 59

QUADRO 09 Fatores de desequilíbrio para os ecossistemas . 61

QUADRO 10 Variáveis analisadas no processo produtivo. 92

QUADRO 11 Esquema geral da pesquisa 100

QUADRO 12 Características físicas do algodão colorido 110

QUADRO 13 Características físicas do algodão branco. 111

QUADRO 14 Valores comparativos para produção de fio

utilizando os dois tipos de algodão 115

QUADRO 15 Valores comparativos da malha do algodão comum 127

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e colorido.

QUADRO 16 Impactos ambientais verificados nas etapas do

processo produtivo dos dois tipos de algodão 132

QUADRO 17 Constituintes dos despejos gerados no processo

produtivo 139

QUADRO 18 Produtos auxiliares utilizados pela indústria de

malharia 141

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01

Consumo mundial de fibras têxteis naturais e

sintéticas

......................................................................

33

GRÁFICO 02

Evolução mundial da oferta e do consumo de

algodão no mundo

.....................................................................

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SIGLAS E ABREVIATURAS

ABAPA Associação Baiana de Produtores de Algodão

ABIQUIM Associação Brasileira da Indústria Química

BRS Brasil

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CNPA Centro Nacional de Pesquisa de Algodão

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias

EIA Estudos de Impactos Ambientais

g/TEX Nomenclatura Americana para designar número de título do fio

HVI High Volume Instruments

IA Impacto Ambiental

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

ICAC Internacional Cotton Advisory Comitee

INDEA Instituto Nacional de Defesa Ambiental

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ISO International Organization Standardization

MIP Manejo Integrado de Pragas

MO Mão-de-obra

MP Matéria-prima

Ne Nomenclatura inglesa para designar número de título do fio

OCDE Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico

ONG Organização Não Governamental

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

RIMA Relatórios de Impacto sobre o Meio Ambiente

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SGA Sistema de Gestão Ambiental

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SL Span Length – Comprimento Médio

TMB Tubo Mata Bicudo

UHM Upper Half Mean – Média da Metade Superior

UI Uniformidade Index

UR Uniformidade Ratio

USDA United States Department of Agriculture

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SUMÁRIO CAPÍTULO I – ASPECTOS GERAIS .................................................... 16

1.1 INTRODUÇÃO ................................................................................. 16

1.2 DEFINIÇÃO DO TEMA .................................................................... 18

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................... 21

1.4 OBJETIVOS ..................................................................................... 26

1.4.1 Objetivo Geral ........................................................................ 26

1.4.2 Objetivos Específicos ............................................................ 26

CAPÍTULO II – ESTADO DA ARTE ..................................................... 27

2.1 IMPACTO AMBIENTAL: DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO ............ 27

2.2 A INDÚSTRIA TÊXTIL...................................................................... 30

2.3 O ALGODÃO: UM BREVE HISTÓRICO ......................................... 36

2.3.1 O Ecossistema e a Agricultura Tradicional ............................ 36

2.3.2 A Fibra do Algodão na Indústria Têxtil ................................... 37

2.3.3 A Competitividade do Algodão no Cenário Mundial .............. 38

2.3.4 Industrialização da Fibra do Algodão .................................... 42

2.3.5 Características Intrínsecas da Fibra do Algodão ................... 47

2.4 A FIBRA DO ALGODÃO COLORIDO ............................................. 51

2.4.1 Benefícios .............................................................................. 53

2.4.2 O Ecobusiness ....................................................................... 53

2.5 O TINGIMENTO NA INDÚSTRIA TÊXTIL ....................................... 54

2.6 EFLUENTES LÍQUIDOS ................................................................. 59

2.7 PRÁTICAS LIMPAS NA INDÚSTRIA TÊXTIL ................................. 65

2.8 PROTEÇÃO AO SER HUMANO E AO MEIO AMBIENTE .............. 67

2.9 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA

COMPETITIVA ...................................................................................... 69

2.10 GERENCIAMENTO AMBIENTAL NAS INDÚSTRIAS .................. 70

2.10.1 Histórico ............................................................................... 70

2.10.2 Benefícios ............................................................................ 74

2.10.3 Repercussões ...................................................................... 75

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2.10.4 Influencias nas Demais Áreas Administrativas .................... 77

2.11 EIA / RIMA ..................................................................................... 78

2.12 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ........................................................... 80

2.13 IMPACTO AMBIENTAL NA COTONICULTURA ........................... 83

2.13.1 O Peso dos Inseticidas ........................................................ 84

2.13.2 Equilíbrio Ambiental na Lavoura de Algodão ....................... 85

CAPÍTULO III – METODOLOGIA APLICADA ...................................... 89

3.1 NATUREZA DA PESQUISA ............................................................ 90

3.2 VARIÁVEIS ...................................................................................... 91

3.2.1 Quanto ao Processo na Indústria de Fiação ........................ 92

3.2.2 Quanto ao Processo na Indústria de Malharia ...................... 94

3.2.3 Quanto ao Impacto Ambiental ............................................... 95

3.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA ................................................... 96

3.4 SUJEITOS DA PESQUISA .............................................................. 97

3.5 MODELO DE GESTÃO AMBIENTAL NA INDÚSTRIA TÊXTIL ...... 98

3.6 ESQUEMA GERAL DA PESQUISA ................................................ 100

CAPÍTULO IV – RESULTADOS ALCANÇADOS ................................. 101

4.1 DESCRIÇÃO DAS EMPRESAS OBJETO DO ESTUDO ................ 101

4.1.1 Empresa Têxtil 1 - Fiação ...................................................... 102

4.1.2 Empresa Têxtil 2 - Malharia .................................................. 105

4.2 DESCRIÇÃO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS NAS

INDÚSTRIAS PESQUISADAS .............................................................. 107

4.2.1 Produção do Fio – Empresa 1 ............................................... 107

4.2.2 Produção da Malha – Empresa 2 .......................................... 116

4.2.3 O Processo de Beneficiamento Têxtil e seus Impactos

Ambientais ............................................................................................. 128

4.2.4 Processos que Envolvem o Consumo de Água na Indústria

de Malharia ............................................................................................ 134

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4.2.5 Processos que não Produzem Efluentes Líquidos na

Indústria de Malharia ............................................................................. 136

4.2.6 Despejos Líquidos Provenientes da Produção ..................... 137

4.2.7 Descrição da Estação de Tratamento de Efluentes – E.T.E . 143

CAPÍTULO V – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..................... 146

5.1 CONCLUSÕES ................................................................................ 146

5.2 RECOMENDAÇÕES ....................................................................... 152

REFERÊNCIAS .. ... .... ... ... ... ... ... ... ... ... .. .... ... ... ... ...... ... ... ... .. ... 154

GLOSSÁRIO .. ...... ............ ........ ........ ............ ... ..... ........ .. 162

APÊNDICES . ... ... .. .... ... ... ... ... ... ... ... ... .. .... ... ... ... ... ... ... ... ... .. ... 165

Apêndice A – Roteiro de entrevista para a f iação ...... ..... ... 166

Apêndice B – Roteiro de entrevista para a malharia ... ..... ... 167

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“ A verdadeira função do homem

é viver e compartilhar,

não apenas existir.”

Jack London

CCAAPPÍÍTTUULLOO II –– AASSPPEECCTTOOSS GGEERRAAIISS

1.1 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

No Brasil, a implantação da indústria têxtil se deu em caráter

industrial, somente após a proclamação da independência, em 1822, mais

precisamente no período que vai de 1844 até o final da 1a. Grande Guerra

(OLIVEIRA & MEDEIROS, 1996).

Apresentando, de início, aspectos meramente artesanais, a

indústria têxtil já observava a tendência à evolução econômica gerada pela

garantia da matéria-prima nativa ou de fácil adaptação às condições locais.

Esta atividade estava ligada diretamente às culturas de fibras naturais, seu

insumo básico, como o algodão, a juta, a lã, o rami, o linho, a seda, o sisal e

outros.

Na década de 70 a tendência mundial se voltou para a

substituição das matérias-primas naturais pelas sintéticas, porém surgiram

medidas governamentais para garantir o uso obrigatório de fibras naturais na

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composição dos tecidos, como forma de preservação da matéria-prima

nativa e da reação dos tradicionais produtores de tecidos naturais,

procurando mostrar as vantagens de seu uso para determinadas condições.

A indústria têxtil se modernizou com máquinas e equipamentos.

Observou-se o desenvolvimento e a inserção das fibras sintéticas e

artificiais, além do seu elevado grau de utilização, mas o algodão continua a

ser o carro chefe no beneficiamento e industrialização das fibras naturais.

No final do ano 2000 a Empresa Brasileira de Pesquisas

Agropecuária – EMBRAPA, lançou, para a cotonicultura nordestina, a

cultivar1 BRS 200 Marrom, primeira cultivar de algodão de fibras coloridas no

Brasil, despontando como nova opção de matéria-prima para a manufatura

têxtil, constituindo-se em um produto destinado a consumidores de

consciência ecológica, por dispensar o uso de corantes artificiais no

acabamento do fio e da malha.

Em virtude dos inúmeros problemas relacionados ao meio

ambiente e que preocupam o mundo, como a degradação ambiental, o

desmatamento, a contaminação da água, a poluição do ar, do solo e da

água, sugere-se trabalhar os aspectos ambientais direcionados à indústria

têxtil no processo produtivo do Algodão de fibra colorida, uma vez que se

verifica sua contribuição ao meio ambiente tendo em vista não utilizar, em

alguns casos, agrotóxicos no combate às pragas nem, tampouco, utilizar-se

de corantes artificiais para tingir os tecidos, evitando o lançamento de

efluentes provindos do processo de tingimento do fio e/ou da malha.

1 Nome genético para qualquer variedade de planta cultivada

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Portanto, esta dissertação tem, como objetivo, a identificação dos impactos

ambientais e operacionais na industrialização do algodão colorido no/do

parque industrial têxtil paraibano.

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11..22 DDEEFFIINNIIÇÇÃÃOO DDOO TTEEMMAA

A indústria têxtil utiliza, como matéria-prima, as fibras têxteis,

que são elementos delgados caracterizados pela flexibilidade, finura,

resistência e grande comprimento em relação à sua seção transversal, cujas

propriedades as tornam possíveis de serem transformadas em fios, malhas e

tecidos comuns.

A partir do século XX foram incorporadas as fibras produzidas

quimicamente pelo homem, pois durante muito tempo a indústria têxtil utilizava

apenas as fibras oriundas dos reinos vegetal, animal e mineral.

Dentre as fibras vegetais, o algodão é uma das plantas de

aproveitamento mais completo, em razão da enorme gama de aplicação dos

seus produtos e subprodutos, especialmente a fibra que, em virtude das

características intrínsecas, se transfere para os fios, tecidos, malhas e

confecções, dando-lhes diversidade de aplicação ganhando, com isto, grande

aceitação no mercado.

As pesquisas com os algodões de fibra colorida vêm sendo

realizadas pioneiramente no Brasil desde 1984, pelo Centro Nacional de

Pesquisa de Algodão, de Campina Grande – CNPA, na Paraíba, através do

melhoramento genético convencional, por meio do método de seleção

genealógica das plantas; entretanto, há indícios de que, tanto nos EUA, mais

precisamente no Oeste do Arizona, com cerca de 7000ha de plantações do tipo

“coyote” (cor vermelha), “palo verde” (verde claro) e “búfalo” (marrom), como na

França, na região Languedoc-Roussillon com 1500ha, também já estejam

sendo cultivadas plantações do algodão colorido (MARTINS, 1997).

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Foram avaliadas, no Brasil, em 1997, 87 progênies, 14 novas

linhagens e 13 linhagens avançadas de algodão colorido, em duas regiões

da Paraíba (Seridó e Cariri). “As linhagens estudadas apresentam

produtividade que superam a cultivar comercial de algodão arbóreo”

(FREIRE, 1998:06).

As variáveis climatológicas proporcionam a formação e a

obtenção de fibra de excelente qualidade, de valores excepcionais iguais aos

dos melhores algodões do mundo, como no Peru, Egito e Sudão (SANTANA et

al. 1997; BELTRÃO et al. 1995; BANCO DO NORDESTE DO BRASIL, 1962).

É nesta região, especialmente na região fisiográfica do Seridó,

que envolve parte dos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, onde

praticamente não se usam agrotóxicos e a pressão por insetos-praga é

pequena, que se pode cultivar o algodoeiro arbóreo em sistemas

agroecológicos de cultivo totalmente orgânico (SANTANA et al. 2000;

BELTRÃO et al. 1995; FREIRE, et al. 1995).

Apesar das pesquisas terem sido iniciadas na década de oitenta,

só em dezembro de 2000 ocorreu o lançamento oficial da primeira cultivar de

algodão de fibra colorida.

Além das fibras comumente utilizadas, o algodão de fibra colorida

natural desponta como uma nova opção de matéria-prima para a manufatura

têxtil, podendo o setor utilizá-lo para fabricação de fios, malhas e,

posteriormente, de tecidos comuns.

A fibra do algodão colorido natural dispensa o uso de corantes

artificiais no acabamento do fio e da malha, constituindo-se em um produto

destinado a consumidores de consciência ecológica aproveitando, desta

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maneira, nichos de mercado que valorizam os produtos naturais e sem

química.

O meio ambiente é uma nova oportunidade de negócio, tanto do

ponto de vista tecnológico quanto organizacional e na consolidação do

mercado consumidor verde; logo, existe uma preocupação nítida em contribuir

para a minimização da degradação ambiental ou pelo menos mantê-la num

nível compatível com os objetivos da sociedade (MAIMON, 1996;

PANAYOTOU 1994).

É necessário que a sociedade acorde para o grave problema de

degradação ambiental e busque soluções para reverter esta situação.

Atualmente, o que se tem observado é o interesse pelas causas ambientais,

porém pouco se tem feito.

A complexidade dos efluentes têxteis e sua redução no processo

produtivo constituem-se em imensa fonte de estudos para os que lidam com as

questões ambientais. Em várias partes do mundo estão sendo pesquisadas e

adaptadas diversas soluções para minimizar, ou até mesmo resolver, as

demandas industriais têxteis evitando, desta forma, que danos irreversíveis ao

meio ambiente continuem sendo cometidos.

Hoje, soluções do tipo: conservação e economia de energia,

recuperação de lixívias da mercerização2, reúso do efluente, automação no

processo de beneficiamento têxtil e a utilização do algodão colorido, são

soluções que parecem promissoras e que têm sido pesquisadas com o intuito

de garantir maior conservação ao meio ambiente. Todavia, faz-se necessário

2 Importante operação na fabricação de artigos de algodão onde são consumidas grandes quantidades de soda cáustica

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dizer que, embora essas sejam possíveis soluções, muitas vezes faltam

recursos para se poder implementá-las, restando aos interessados pelo

assunto buscar junto às empresas, meios para se desenvolver e/ou aprimorar

técnicas que venham a contribuir tanto para o meio ambiente quanto para a

empresa interessada em otimizar seus processos e seus produtos. Sendo

assim, pretende-se levantar o seguinte questionamento consoante nosso

objeto de estudo:

Quais os impactos ambientais e operacionais presentes na

industrialização do algodão colorido, nos segmentos de fiação e malharia da

indústria têxtil paraibana?

11..33 JJUUSSTTIIFFIICCAATTIIVVAA

O algodão de fibra colorida natural existe na natureza há vários

séculos e em vários continentes (Américas, Áustria e África); era utilizado pelos

Incas há 4.500 a.C, para tecerem artesanalmente seus produtos têxteis

(FREIRE et al. 2000).

Conforme estudos realizados por Santana et al. (1997) existe, no

Brasil registro do uso do algodão de fibra colorida natural nos Estados de

Minas Gerais e Bahia, de forma artesanal e ornamental. No Nordeste foi

encontrado em 1984, em meio a plantas asselvajadas de algodão arbóreo,

conhecido como mocó, nas cores marrom claro e escuro.

O cultivo do algodão colorido não permite a proximidade com

outras variedades de algodão, ou seja, a área cultivada tem que ser de uma

variedade (branca) ou de outra (marrom), para que, assim, não haja o risco

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de transferência de gens pelos insetos polinizadores participantes da

fecundação, o que dificilmente interessará aos grandes produtores, uma vez

não se conhecer, ao certo, o seu potencial de mercado; em contrapartida, no

entanto, para os pequenos produtores é uma grande vantagem.

O cultivo do algodão colorido traz, além de benefícios

ecológicos e vantagens econômicas, benefícios sociais: seu cultivo mantém

os agricultores no campo, oferecendo oportunidade de renovação da

produção algodoeira, criando um novo cidadão consciente da preservação

da natureza e dos lucros daí provenientes. Entre outras vantagens, esta

variedade reduz o consumo de água das grandes indústrias e o impacto

ambiental gerado pelo tingimento artificial, operação que representa 30%

dos custos finais de fabricação dos tecidos.

Sabendo-se que a água é um elemento imprescindível aos seres

vivos, especialmente ao homem que dela necessita inclusive para a maioria de

seus processos industriais, é que, do final do século passado até os dias

atuais, o homem se ver preocupado mais com este assunto. Hoje, a água é

tida como o ouro azul do século XXI pois, além de ser fonte de vida, garante a

sustentabilidade das espécies, percebendo-se, então, a grande importância

deste recurso para a humanidade, ou seja, quanto mais se reduzir o consumo

de água, mais se estará contribuindo com o meio ambiente e com os seres que

nele habitam.

O algodão pode ser produzido na ausência de agroquímicos,

como fertilizantes, herbicidas, inseticidas, reguladores de crescimento e

desfolhantes, o que poderá garantir o certificado de organização

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reconhecida. Por outro lado, a indústria reduzirá a poluição (SANTANA et al.

1997; ICAC RECORDER, 1994).

O algodão ainda é conhecido como algodão limpo, natural, verde

ou não agressivo ao ambiente. Para que seja reconhecido e certificado, o

algodão deve ser produzido sem utilização de químicas, pelo período de três

anos (ICAC RECORDER, 1994; BELTRÃO et al. 1995).

Segundo Balan (2002), a ecologia desempenha, hoje, papel

significativo nas negociações entre as nações e na formação de blocos

econômicos, podendo tornar-se, em muitos casos, fator decisivo em acordos

comerciais.

Os compromissos ambientais exige no momento atual: manter um

sistema de gestão ambiental em consonância com os princípios de

desenvolvimento sustentável; assegurar o enquadramento das atividades aos

requisitos vigentes da legislação de proteção ao meio ambiente; minimizar a

geração de resíduos e seu impacto; reduzir, nas atividades produtivas, o

consumo de recursos naturais e a utilização de substâncias agressivas;

prevenir a poluição nas atividades produtivas e melhorar a eficiência dos

sistemas de tratamento (BALAN, 2002).

Com as novas tendências mundiais, as empresas precisam

encontrar soluções que harmonizem ecologia com economia, pois o que não

for lucrativo não terá continuidade em seu desenvolvimento, ainda que

beneficie o meio ambiente. No Brasil há empresas, particularmente no Sul e

Sudeste, que exportam têxteis para a Europa e se ajustam ao padrão

ecologicamente correto; esses produtos não possuem, em sua estrutura,

elementos cancerígenos ou que provoquem alergia no corpo. Os consumidores

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europeus solicitam a fabricação dentro das normas internacionais de têxteis

ecológicos (STEFFENS, 1994).

Sabe-se que causas relativas ao meio ambiente merecem lugar

de destaque. É notória a preocupação que o mundo tem, hoje, com a gestão

ambiental, o que outrora não se via, talvez pelo próprio desconhecimento do

assunto ou até mesmo por falta de interesse. Entretanto, a situação se

mostra, hoje, bem diferente; as pessoas estão cada vez mais interessadas

em fazer sua parte, isto é, em contribuir, de alguma forma, para o bem-estar

do planeta. O desenvolvimento da fibra do algodão colorido é um exemplo

de contribuição ao meio ambiente, visto que, se trata de uma fibra de

coloração natural, dispensará o uso de corantes para tingimento de fios,

malhas ou tecidos pela indústria têxtil, fazendo com que a poluição

ambiental seja minimizada justificando, desta maneira, a necessidade de

realização deste estudo.

Todavia, ressalta-se que esta pesquisa está apenas em seu

momento inicial, ou seja, o algodão colorido é, sim uma possibilidade futura

de contribuição ao meio ambiente, porém em virtude da área cultivada

comercialmente ainda ser muito pequena, representando apenas cerca de

5% da lavoura no sertão nordestino, é que, a priori, serão levantados apenas

seus impactos ambientais e operacionais na indústria têxtil.

Segundo Carvalho (2004), calcula-se que tenham sido

plantados, na safra de 2003/2004, em torno de dois mil hectares de algodão

marrom cuja colheita na Paraíba chegou a 96 toneladas de pluma colorida,

dentro do universo de 4,9 mil toneladas da produção total no Estado,

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conforme números da Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB,

publicado no Anuário Brasileiro do Algodão, mostrados no Quadro 01.

ÁREA (EM MIL HA) PRODUTIVIDADE

(EM kg/HA) PRODUÇÃO (EM MIL

T) REGIÃO/UF 02

/03

03/04 Var %

02/03

03/04

Var %

02/03

03/04 Var %

NORTE 2,4

3,8 58,3

833

1.158

39 2 4,4 120

Tocantins 2,4

3,8 59,2

854

1.150

34,7

2 4,4 120

NORDESTE

167

272,9 63,4

810

1.004

24 135,2

274,1 120,7

Maranhão 3,3

6,9 110 1.294

1.406

8,7 4,3 9,7 125,6

Piauí 9,8

12,4 26,2

152

272

78,9

1,5 3,4 126,7

Ceará 14 16,8 20 285

285

0 4 4,8 20

R. G. Norte

20,5

24,6 20 195

195

0 4 4,8 20

Paraíba 12,3

14,8 20 330

330

0 4,1 4,9 19,5

Pernambuco

6,2

4,7 -25 165

165

0 1 0,8 -20

Alagoas 14,6

10,6 -27,4

162

162

0 2,4 1,7 -29,2

Bahia 86,3

182,1 111 1.320

1.340

1,5 113,9

244 114,2

C. OESTE 441,3

588,7 33,4

1.342

1.382

3 592,2

813,4 37,4

M. Grosso 300,3

399,4 33 1.374

1.415

3 412,6

565,2 37

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M. G. Sul 43,6

54,5 25 1.432

1.415

-1,2 62,4

77,1 23,6

Goiás 95,4

131,7 38 1.197

1.265

5,7 114,2

166,6 45,9

D. Federal 2 3,1 55 1.521

1.463

-3,8 3 4,5 50

SUDESTE 95,1

120,7 26,9

984

973

-1,1 93,6

117,4 25,4

Minas Gerais

35,2

48,2 36,9

911

968

6,3 32,1

46,7 45,5

São Paulo 59,9

72,5 21 1.026

975

-5 61,5

70,7 15

SUL 29,3

43,7 49,1

836

705

-15,7

24,5

30,8 25,7

Paraná 29,3

43,7 49,1

837

704

15,9

24,5

30,8 25,7

NORTE/

NORDESTE

169,4

276,7 63,3

810

1.007

24,3

137,2 278,5 10

3

CENTRO/

SUL

565,7

753,1 33,1

1.256

1.277

1,7 710,3 961,6 35,

4

BRASIL 735,1

1.029,8

40,1

1.153

1.204

4,4 847,5

1.240,1

46,3

Quadro 01: Produção Brasileira de Algodão em Pluma Fonte: Anuário Brasileiro do Algodão, 2004:12

Conforme o Quadro 01, a Paraíba registrou de fato, o 4o maior

crescimento no processo produtivo de algodão da região Nordeste, passando

de 12,3 mil hectares de área plantada na safra anterior, para 14,8 mil hectares

na safra de 2003/2004, representando um incremento de 20%; todavia, chama-

se a atenção para o fato de que nesses números não estão inclusos os dois mil

hectares de algodão colorido plantados no Estado.

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11..44 OOBBJJEETTIIVVOOSS

11..44..11 OObbjjeett iivvoo GGeerraall

Identificar os impactos ambientais e operacionais da industrialização

do algodão de fibra colorida, nos segmentos de fiação e malharia da

Indústria Têxtil Paraibana.

11..44..22 OObbjjeett iivvooss EEssppeeccííff iiccooss

• Descrever o processo produtivo têxtil do algodão comum e do

algodão colorido, em cada etapa do processo de fiação e

malharia.

• Comparar o processo produtivo do algodão comum com o

algodão colorido, nos segmentos de fiação e malharia.

• Identificar os impactos ambientais do algodão comum em todas

as etapas do processo produtivo dos segmentos de fiação e

malharia.

• Verificar os benefícios ambientais ocorridos com a

industrialização do algodão colorido.

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“A paixão de saber o que você quer fazer e onde quer ir já é meio caminho andado

para o império que existe em sua mente”. Denis Waitley

CCAAPPÍÍTTUULLOO IIII -- EESSTTAADDOO DDAA AARRTTEE

22..11 IIMMPPAACCTTOO AAMMBBIIEENNTTAALL:: DDEEFFIINNIIÇÇÃÃOO EE

CCLLAASSSSIIFFIICCAAÇÇÃÃOO

Impacto numa acepção mais genérica com derivação em sentido

figurado, é “impressão ou efeito muito fortes deixados por certa ação ou

acontecimento” (HOUAISS, 2005).

De acordo com definição da Norma ISO 14001:1996 apud Moreira

(2001), “impacto ambiental é caracterizado por qualquer modificação do meio

ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das

atividades, produtos ou serviços de uma organização”.

Em outras palavras, o impacto é uma alteração no meio ambiente,

seja no ar, na água, no solo, nos recursos naturais, fauna, flora e seres

humanos. O Quadro 02 apresenta uma idéia básica deste conceito:

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Aspectos (causas) Impactos prováveis (efeitos)

Geração e disposição de resíduos Contaminação do solo e alteração da paisagem

Lançamento de efluentes líquidos Alteração da qualidade da água

Emissão de poluentes atmosféricos Alteração da qualidade do ar e danos à saúde da comunidade

Emissão de ruído Danos à saúde do empregado e da comunidade

Emissão de odor Incômodo à comunidade

Emissão de vibrações

Danos à saúde do empregado, incômodo à comunidade, comprometimento de estruturas naturais e/ou edificações, monumentos, patrimônio histórico

Geração de calor Alteração da temperatura ambiente

Consumo de recursos naturais Comprometimento da conservação dos recursos

Consumo de água/ consumo de energia Comprometimento da disponibilidade do recurso

Quadro 02: Aplicações de conceitos de aspectos e impactos ambientais

Fonte: MOREIRA (2001:108)

Na definição do Valle (1995), impacto ambiental é qualquer

alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,

causada por qualquer forma de matéria ou energia e resultante das atividades

humanas que direta ou indiretamente afetam a segurança, saúde, bem-estar,

atividades socioeconômicas, biota, condições estéticas e sanitárias e qualidade

dos recursos ambientais.

Brito (1997) apud Baccelli Júnior (2004), define que os variados

tipos de impactos ambientais, podem ser assim definidos e descritos:

1. Natural: quando o impacto é conseqüência da dinâmica do meio. Artificial:

quando o impacto é resultante de uma atuação humana.

2. Simples: aqueles que atuam isoladamente, sem inter-relação com outros

elementos e cujos efeitos não variam com o tempo. Sinérgico: quando, ao

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ocorrer, reforça ou desencadeia outros impactos. Cumulativo: aqueles

cujos efeitos crescem a medida em que o tempo passa.

3. Imediatos: quando o prazo de manifestação é simultâneo. Médio prazo:

quando os impactos aparecem depois de algum tempo e Longo prazo:

manifestado muito tempo depois do fato ocorrido.

4. Permanentes: aqueles que se manifestam por todo o tempo. Temporários:

aqueles em que a manifestação é por um período de tempo.

5. Reversíveis: aqueles em que, uma vez cessado, o entorno, de forma natural,

se recupera sem as intervenções artificiais. Irreversíveis: aqueles que nem

com os meios artificiais o entorno se recupera, e Recuperáveis: aqueles

passíveis do entorno voltar à situação inicial com a intervenção artificial.

6. Positivos: quando resultam em benefícios para o meio ambiente, e

Negativos: quando resultam em malefícios para o meio ambiente.

7. Os impactos ainda podem ser extensos, quando são grandes, e Localizados:

quando atingem pequena área.

8. Diretos: se a ação do impacto for diretamente sobre os fatores ambientais, e

Indiretos: quando resultam de alterações produzidas sobre outros fatores

ambientais.

9. Crítico: o impacto cuja magnitude é superior a um limite aceitável. Severo:

aquele cuja recuperação exige medidas e os resultados levam tempo.

Moderados: quando a recuperação não necessita de fortes medidas

corretivas, e Compatíveis: os impactos cuja recuperação é imediata.

10. Sociais: aqueles que incidem diretamente sobre os indivíduos da

comunidade. Econômicos: os que produzem sobre as relações econômicas

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da comunidade, e Físicos: aqueles que atuam sobre o território, em sua

estrutura material e sobre os seres vivos (com exceção do homem).

Tendo em vista todas essas definições sobre impacto ambiental e

salientando que este trabalho não tem, como característica principal, a análise

do impacto ambiental e, sim, apenas a identificação deste e do impacto

operacional nos segmentos de fiação e malharia da indústria têxtil paraibana, é

que se faz necessário, agora, definir o impacto operacional como sendo

qualquer alteração na operacionalidade do processo, resultante de mudanças;

no caso específico, seriam as alterações ocorridas no processo produtivo em

virtude da mudança de matéria-prima, como: tempo de setup, tempo de

processamento e produtividade, dentre outros.

22..22 AA IINNDDÚÚSSTTRRIIAA TTÊÊXXTTIILL

A Indústria têxtil é considerada uma das mais antigas do mundo,

pois sua história remota a períodos antes de Cristo. O Egito, com suas múmias

revestidas de tecido, e a Índia, com os famosos panos para vestimenta,

constituíram o berço da indústria têxtil.

A lã foi a primeira fibra têxtil que se fiou, admitindo-se o início da

sua utilização na pré-história. Os primeiros agasalhos confeccionados pelo

homem primitivo foram feitos à base de folhas vegetais e de pêlo de animais,

sobretudo a lã do carneiro, por se tratar de um animal doméstico por excelência

e pelo ótimo abrigo que sua fibra proporcionava.

Segundo Ribeiro (1984) apud Carneiro (2001) depois da lã se fiou

o linho e o cânhamo e só depois se começou a fiar algodão, devido à

dificuldade, na época, de se separar a fibra da semente. O algodão era

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cultivado próximo às povoações, fiado e tecido para o próprio consumo, de

forma artesanal. Com o tempo, o homem passou a utilizar instrumentos que lhe

proporcionaram maior rapidez na produção do fio, em que o primeiro deles foi o

fuso manual e a roca; esses instrumentos datam de quatro mil anos e com eles

se deu o início da evolução da fiação.

A partir do século XVII, com o advento da Revolução Industrial,

o mundo passa por grandes transformações nas mais diversas áreas. A

indústria têxtil continua sua evolução e uma série de descobertas e

aperfeiçoamentos promoveram seu amplo desenvolvimento.

Atualmente, a moderna indústria têxtil adota automatismo e

dispositivos eletroeletrônicos para fins de controle e de autocompensação,

facilitando sobremaneira a operação de suas máquinas mais sofisticadas e

reduzindo a intervenção do operador.

Conforme Ribeiro (1984) apud Carneiro (2001), assim como as

demais indústrias, o setor têxtil vem incorporando novas tecnologias,

embutidas num processo de renovação e expansão industrial, provocando

fortes modificações na força de trabalho quanto ao aspecto quantitativo,

exigindo a formação de pessoal provido de aptidões adequadas e em

diferentes níveis de perícia profissional e grau de instrução.

O setor têxtil é um dos segmentos de maior tradição dentro do

segmento industrial, contando com uma posição de destaque na economia dos

países mais desenvolvidos e carro-chefe do desenvolvimento de muitos dos

chamados países emergentes, que devem à sua indústria têxtil o papel de

destaque que exercem, hoje, no comércio mundial de manufaturas. No Brasil, a

sua importância não é menor, tendo desempenhado papel de grande

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relevância no processo de desenvolvimento econômico e social do País

(TEXTÍLIA, 2004).

Até a década de 80 a indústria têxtil brasileira, detentora de um

mercado interno cativo e em expansão, fechado às importações, tanto de

produtos acabados quanto de insumos e equipamentos, não encontrou

estímulo para realizar os investimentos necessários ao acompanhamento do

processo de modernização que ocorria em outros países. A partir dos anos 90,

com a abertura do mercado local à concorrência internacional e, mais tarde,

com a estabilização da moeda brasileira (em 1994 com o Plano Real), viu ser

modificado por completo o cenário econômico que a havia levado a instalar-se

e a crescer no País. Exposta de forma abrupta e mal planejada a um novo

padrão de concorrência, teve de empreender um árduo esforço para se

reposicionar e voltar a ser competitiva, só que, desta vez, em termos globais.

Atualmente, verifica-se que o mercado têxtil mundial vem

registrando significativa expansão, tanto no que se refere aos montantes

produzidos quanto ao comércio entre os grandes países produtores e

consumidores; isto tem sido possibilitado pela expansão do número de

consumidores em todo o mundo, seja pelo aumento da renda em alguns países

mais desenvolvidos ou pela abertura dos mercados ao comércio internacional

(Id Ibid, 2004).

A partir de 2005, com o término do sistema de quotas para

exportação de têxteis, é provável que o comércio mundial possa apresentar

uma expansão ainda maior. Outros fatores importantes neste crescimento

devem ser considerados, como o uso de novas matérias-primas e processos

de acabamento, possibilitando maior uso de fibras artificiais e sintéticas que,

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dentre outras vantagens, têm sua produção livre de problemas relativos a

safras e climas; hoje, seu consumo supera o de fibras naturais, tendo

representado mais de 57% do total consumido em 2000, como pode ser

observado no Gráfico 01:

6,4 10,120,8 24,9 25,1 24,4 25,3 25,7

1,6

8,6

27,2 30,3 31,2 32,8 34,7

16,813,4

13,2

3,9

19,2

010203040506070

1950 1960 1970 1980 1990 1996 1997 1998 1999 2000

Fibras Químicas Fibras Naturais

Gráfico 01 – Consumo Mundial de Fibras Têxteis Naturais e Sintéticas (milhões de ton.)

Fonte: Textília (2004)

Como país produtor de artigos têxteis, o Brasil exerce significativo

papel no cenário mundial, posicionando-se em 6º lugar na produção de fios,

filamentos e tecidos planos; em 2º lugar no que se refere aos tecidos de malha,

e em 5º, em confeccionados; entretanto, em termos de comércio internacional,

a presença do Brasil ainda é muito pequena, situando-se o país apenas entre

os 35 maiores exportadores e 31 maiores importadores de têxteis e

confeccionados do mundo, o que lhe confere papel secundário neste mercado.

O Quadro 03 mostra o ranking dos países produtores de artigos

têxteis.

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39

Paises Fios/Filam. Tecidos Malhas Confecções (1)1. EUA 4.949.550 3.467.730 892.398 3.954.7872. China 4.481.400 5.924.160 n.i. 5.331.7443. Taiwan 4.074.7243.186.354 (1) 211.603 1.376.3214. Índia 4.098.390 4.446.715 168.956 3.922.7685. Coréia do Sul (1) 2.200.000 2.209.483 n.i. 891.6656. Brasil (2) 1.750.331 1.090.710 505.002 1.286.8267. Paquistão (1) 1.626.664 1.092.518 n.i. 641.7168. Japão 1.098.473 654.580 111.252 631.4909. México (1) 1.008.380 1.008.437 n.i. 1.111.73810. Turquia 1.005.000926.790 (1) n.i. 785.32411. Alemanha 589.800 278.000 61.500 415.83612. Rússia 345.430 339.400 11.500 315.810Outros (1) 1.454.020 1.291.516 131.330 1.384.786Total 28.682.762 25.916.3932.093.541 22.050.810Fonte ITMF - Paises membros Notas: (1) - estimativa (2) - em tecidos de malha o Brasil é o 2º. maior produtor mundial

Quadro 03: Ranking dos países produtores de artigos têxteis

Fonte: Têxtília 2004

A Figura 01 mostra a estrutura da cadeia produtiva têxtil e

confecção, na qual é possível observar a interação entre os segmentos

fornecedores (equipamentos, produtos químicos, fibras e filamentos), e os

produtores de manufaturas (fios, tecidos, malhas), e bens acabados

(confeccionados e têxteis):

De acordo com a Figura, verifica-se que a indústria têxtil é

constituída dos segmentos de fiação, tecelagem e acabamento de fios e

tecidos. As fibras têxteis são convertidas em fios, através da fiação. Fibras de

tipos diferentes podem ser fiadas conjuntamente como, por exemplo, o

poliéster e o algodão, ou lã e náilon. Os fios dão origem aos tecidos, através da

tecelagem. Processos têxteis de acabamento são então aplicados para

conferir, ao tecido, propriedades particulares. Alguns desses processos, como

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o tingimento, podem ser aplicados nas fibras cruas, nos fios ou nos artigos

acabados.

Importador e

exportador de insumos

Mercado Externo

Importador e

Exportador Têxteis

Algodão, lã e linho

Benefic. Fibras Naturais

Tecelagem

Atacadista Têxtil

Varejista Especializ

Fiação

Acabamento

Atacadista Vestuário

Nylon Fabricação Fibras

Sintéticas

Malharia

Confecção

Varejista não

especializ

Insumos

Transformação Mercado Interno

Indústrias de

equiptos. especiais

Serviços prestados

as empresas

Infraestrutura e outros

serviços

Figura 01: Cadeia Produtiva da Indústria Têxtil-Confecção

Fonte : SEBRAE (2004)

O segmento de tecelagem se subdivide, por sua vez, em

tecelagem plana e malharia. Cada um desses segmentos pode oferecer ao

mercado um produto acabado e pode estar desconectado dos demais. A

descontinuidade do processo produtivo é uma característica marcante da

indústria têxtil. Embora os segmentos ou etapas do processo se interliguem

pelas características técnicas do produto a ser obtido (neste caso, o tecido a

ser obtido determina o tipo de fibra, as especificações do fio e as

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características do acabamento), essas etapas não precisam, necessariamente,

ser todas internalizadas pelas empresas, pois é comum a especialização em

apenas um ou dois segmentos, o que torna as relações cliente-fornecedor

especialmente relevantes, em toda a cadeia produtiva.

22..33 OO AALLGGOODDÃÃOO:: UUMM BBRREEVVEE HHIISSTTÓÓRRIICCOO

A instabilidade do mercado de gado acentuou-se a partir de

1950, gerando grandes dificuldades para as unidades de produção que

tinham, como base de sustentação, a criação de gado. A busca por uma

alternativa econômica para a situação, fez-se necessária, surgindo então, a

possibilidade de exploração da cultura do algodão, não imobilizando nem,

tampouco, exigindo capital, e o mais importante, apresentando produção em

poucos meses.

Segundo Abreu (1994:34), “a cultura do algodão desempenhou

papel importante para a sociedade local, permitiu que um número considerável

de agricultores tivesse acesso ao mercado”.

Ainda Abreu (1994), a expansão da cotonicultura ocorreu em duas

etapas distintas: na primeira, as técnicas agrícolas utilizadas eram de natureza

tradicional, onde se exigia um trabalho cooperativo envolvendo todos os

membros da família; na segunda, quando se consolidou a agricultura

comercial, ou seja, quando as técnicas utilizadas passaram a modernizar-se,

não sendo mais necessário, na época da colheita, o envolvimento de todos os

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membros da família, uma vez a relação de trabalho ter passado a estabelecer-

se, predominantemente, com trabalhadores assalariados.

2.3.1 O Ecossistema e a Agricultura Tradicional

O processo de trabalho rural apresenta-se inteiramente

associado ao ecossistema; dele dependem a reprodução da força de

trabalho e a reprodução dos instrumentos de trabalho. “A autonomia do

agricultor em relação às condições ambientais do meio: relevo, fertilização

natural dos solos, distribuição das chuvas etc. atinge seu mais alto grau no

modelo tradicional, restringindo ou favorecendo o mesmo” (ABREU,

1994:43).

Percebe-se, daí, que no modelo tradicional, o sistema de

produção é verdadeiramente equilibrado no tocante à ecologia, uma vez

existirem muitas espécies animais e vegetais estabelecendo, entre elas,

relações de complementaridade e de simbioses naturais.

2.3.2 A Fibra do Algodão na Indústria Têxtil

“Do ponto de vista têxtil, fibra é tudo aquilo que, de uma forma

ou de outra, pode ser transformada em fio; é, então, um material possível de

ser fiado e tecido” (CARNEIRO, 2001).

O algodão é a fibra de semente vegetal mais utilizada no

mundo; seu cultivo está distribuído, atualmente, em mais de 70 países,

encontrando-se em todos os continentes, com concentração de área no

hemisfério norte, notadamente China, Estados Unidos da América do Norte,

Índia, Uzbequistão e outros.

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O agronegócio do algodão é uma das grandes ocupações do

homem, ao lado do automóvel e do petróleo movimentando somente em

produtos manufaturados, mais de 190 bilhões de dólares por ano, enquanto

a fibra movimenta em torno de 30 bilhões de dólares/ano, dependendo do

preço por tipo no mercado internacional (OLIVEIRA & MEDEIROS, 1996).

A indústria têxtil exige uma fibra com boas características,

físicas e químicas, pois isto facilita os processos têxteis e permite a

obtenção de um produto final de melhor qualidade. Até o momento tem sido

levado em conta, para se identificar a qualidade da fibra, somente o aspecto

relativo à “qualidade intrínseca”, inerente à cultivar, mas também

desempenha papel importante na comercialização e na linha de produção da

fiação, o aspecto identificado como “qualidade extrínseca”, resultante de

interferências externas, como condições de colheita, beneficiamento e

armazenamento.

Segundo Beltrão (1999), a indústria têxtil brasileira é,

atualmente, a sexta maior do planeta, consumindo em média 850.000T de

pluma de algodão/ano, constituindo-se principal insumo da indústria têxtil

nacional. A fibra de algodão é composta de 88% a 96% de celulose e

contém, ainda, pequenas porções de proteína, pectina, cera, cinzas, ácidos

orgânicos e pigmentos. As proteínas são importantes, especialmente nas

fases de tinturaria, pois são fixadoras das cores do fio e do tecido.

2.3.3 A Competitividade do Algodão no Cenário Mundial

O histórico da grande oscilação da produção de algodão no

Brasil na década de 90 e todas as suas nuances, é tema para muitas teses;

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afinal, é um retrato cruel da ausência de uma política agrícola de longo prazo

no País, na qual o algodão é mais um figurante e o produtor uma vítima.

Conforme o Boletim de Pesquisa de Algodão (2001), na

década de 90 o Brasil colhia 717 mil toneladas de algodão em pluma e

importou 100 mil toneladas. Na safra 95/96, apenas cinco safras depois,

necessitou importar 472 mil toneladas de pluma para abastecer o seu

consumo interno enquanto sua safra fora reduzida para apenas 410 mil

toneladas.

Foi nesta época que a cultura algodoeira começou a ganhar

nova vida em terras brasileiras: uma verdadeira injeção de tecnologia foi

dada à lavoura, ao conquistar o produtor do Centro-Oeste.

Ainda segundo o Boletim (2001), com o crescimento

exponencial de produção e produtividade em Mato Grosso, Goiás e Mato

Grosso do Sul, que em uma de suas safras registraram contratos de

exportação acima de 100 mil toneladas em pluma, é tempo de olhar, com

mais acuidade, os principais agentes de produção e consumo no mundo,

uma vez que os supridores de fibras de outrora, poderão vir a ser

competidores.

O Gráfico 02 mostra a evolução de oferta e demanda da safra

de algodão em pluma no mundo. A produção se mostra bem irregular; afinal,

o clima é sempre uma incógnita quando se trata de agricultura. De qualquer

maneira, nos últimos 15 anos a safra de algodão no mundo vem crescendo a

uma taxa de 2% ao ano; além disso, por se tratar de uma fibra de custo de

produção elevado, sofrendo ampla competição das fibras sintéticas, quando

os preços internacionais cedem abruptamente, acabam desestimulando

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naturalmente o plantio em países cuja tecnologia de produção ainda é tão

elevada.

15

16

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22

1987

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1990

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1995

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1997

1998

1999

2000

2001

milh

ões

de to

nela

das

Consumo

Produção

Entre as variáveis que impulsionaram o consumo, estão:

1. Menor poder de competição do poliéster, que tem seu custo de

produção associado ao petróleo,

2. A situação de crescimento econômico exuberante dos EUA e

China.

Quanto ao Brasil, afirma Beltrão (1999) que a produção de

algodão está atualmente sendo desenvolvida sob dois cenários: o primeiro, é

a típica produção das pequenas propriedades, que cobriram cerca de 80%

de produção da safra de 1994; o segundo vem dos agricultores profissionais,

responsáveis no mesmo ano por 20% da produção, os quais investem

maciçamente em tecnologia de produção, logística e beneficiamento.

Gráfico 02: Evolução mundial da oferta e do consumo de algodão Fonte: Boletim de Pesquisa de Algodão, 2001:215

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Tem-se, no Brasil, um custo de produção relativamente baixo

comparado a outros países, o que torna a pluma brasileira competitiva

internacionalmente.

A partir de 1989, o produto importado passou a responder por

parcela crescente do algodão consumido no Brasil, com tarifa de importação

zero, passando o Brasil de exportador de algodão em pluma para importante

importador, importando mais da metade do seu consumo de matéria-prima;

nas safras de 1992/93 e 1993/94, a média das importações brasileiras de

algodão em pluma representou 6,8% das importações mundiais (URBAN et

al 1995).

Urban et al (1995), abordam detalhadamente os efeitos

socioeconômicos da crise instalada na cotonicultura nacional; a partir de

1990, a abertura do mercado acelerou o processo da queda nos preços

internos, uma vez que já eram decrescentes antes da adoção dessa medida.

Dentre os problemas estruturais e conjunturais que têm afetado

a comercialização do algodão, destacam-se preços artificiais no mercado

internacional, gerados pela concorrência desleal, ainda reduzido, de subsídio

governamental à produção e à comercialização nacional, políticas de

restrições às importações de pluma, via altas taxações ao produto importado

e juros altos praticados no mercado interno (Figura 02).

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O desafio da cotonicultura é a retomada, a recuperação da

produção nacional, pois a continuação deste cenário de importações

maciças agrava a situação de desestímulo interno com reflexo no emprego e

na renda (BELTRÃO, 1999).

Produtores proprietários

Produção de algodão em caroço

Produtores sem terra

Intermediários

Proprietários

Usina de beneficiamento (algodão em pluma)

Exportadores

Corretores estrangeiros

Corretores nacionais

Formas comerciais

Corretores

Mercado Nordestino

Fábricas de tecidos

Mercado Externo (fábricas de tecidos e firmas comerciais)

Mercado Nacional (Centro Sul e outras

regiões fora do Nordeste)

Figura 02: Fluxo de comercialização do algodão Fonte: SEBRAE apud BELTRÃO (1999:1021)

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2.3.4 Industrialização da Fibra do Algodão

Da industrialização dos capulhos do algodão são obtidos 37 a

43% de fibra e 57 a 63% de caroço; a fibra é utilizada na indústria têxtil,

através do processamento conhecido como fiação, e o caroço também é

processado industrialmente, originando 5,5% de línter, 15,2% de óleo bruto,

47,7% de torta, 25,7% de casca e 5,9% de resíduos (CORREIA,1965 apud

BELTRÃO, 1999)

A fibra do algodão é fornecida às indústrias têxteis em fardos

prensados. O processamento dos fardos é efetuado pelas indústrias

identificadas pelo processamento principal utilizado como fiações.

Existem vários tipos de tecnologia dentre as quais as principais

estão no Quadro 04.

Tipo de tecnologia

Procedimento de torção Aspecto do fio Toque

do fio Limites teóricos do

título (NE)

Anel Torção com fibras não liberadas ou sem “extrema aberto”

Homogeneidade de torção sobre seção e longitude do fio

Pouco rígido 1 a 120

Jato-de-ar

Torção com fibras parcialmente liberada ou com “extremo parcialmente aberto”

Núcleo sem torção ligado por fibras espiraladas

Muito rígido 20 a 100

Rotor open end

Torção com fibras totalmente liberadas ou com “extremo ou cabo aberto”

Homogeneidade de torção com fibras espiraladas, formadas sistematicamente

Rígido 4 a 40

Fricção

Homogeneidade de torção sobre

seção e longitude do fio

Rígido 10 a 65

Quadro 04: Classificação das tecnologias de fiar Fonte: SENAI apud BELTRÃO (1999: 901)

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Conforme Beltrão (1999), as tecnologias de fiação estão

classificadas nos quatro tipos a seguir: tecnologia anel, jato de ar, rotor open

end e fricção.

1. Anel: O sistema denominado anel apresenta uma seqüência de passagens

das fibras de algodão, através do trem de estiragem das máquinas* o qual

pode ser descrito como uma série de cilindros de ferro e de borracha

superpostos, cujas fibras são pinçadas e estiradas através da aplicação de

diferentes velocidades entre um par de cilindros e o par imediatamente à

frente. Em alguns desses locais de estiragem, a passagem das fibras é

auxiliada por manchões e o espaçamento adotado entre os pares de

cilindros deverá ser absolutamente compatível com o comprimento das

fibras. Após deixarem o trem de estiragem, na maçaroqueira e no filatório, as

fibras são submetidas, também, a torção o que, neste tipo de tecnologia, é

fundamental para que haja uma perfeita agregação entre as fibras para a

formação do fio.

2. Rotor open end: Aqui, o fio é obtido diretamente da fita de fibras após a sua

passagem pelo rotor; e a estiragem é obtida através da desagregação e da

recomposição do arranjo inicial das fibras. Esta tecnologia tem, como

características, a possibilidade da utilização de fibras curtas, tanto oriundas

dos fardos quanto provenientes de reaproveitamento, ou aumento de

produtividade e o aproveitamento menor da resistência da fibra, ainda que o

fio apresente boa elasticidade final devido à conformação interna.

A fiação open - end que é também conhecida como “fiação

aberta” ou “fiação interrompida”, teve seu princípio desenvolvido, primeira

vez, em 1807; seus estudos foram retomados após a 1ª. Guerra Mundial

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(década de 1920 – 1930) e a primeira patente a ser registrada data de 1950

(USA, Krupp).

Tempos atrás, o termo “open – end” confundia-se com “fiação a

rotor”, porém no final dos anos 70 surgiram duas novas tecnologias de fiar,

que são: a fiação a fricção (ou atrito) e a fiação a jato de ar, ambas se

enquadrando dentro das características principais da fiação open – end.

Sendo assim, pode-se dizer que os filatórios open – end se

apresentam sob três formas:

• Filatório Open End a Rotor;

• Filatório Open-end a Fricção (ou atrito);

• Filatório Open end a Jato de ar.

Como todo e qualquer filatório, os filatórios open-end a rotor

têm por finalidade estirar e torcer, definitivamente, a massa de fibras,

transformando-a em fio.

Suas vantagens em relação à fiação convencional, são:

• Eliminação das máquinas maçaroqueiras, responsáveis pela

torção e formação do pavio,

• Eliminação da última passagem dos passadores (em alguns

casos),

• Eliminação das enroladeiras (conicaleiras, bobinadeiras, etc.),

• Embalagens de alimentação e de saída com maior

capacidade,

• Redução de mão-de-obra,

• Maior produção e produtividade,

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• Menor espaço ocupado,

• Maior quantidade de fios sem emendas,

• Menor custo operacional e de instalação,

• Menor manutenção etc.

3. Jato de ar: É utilizado uma combinação de trem de estiragem e sistema de

desagregação – recomposição da massa de fibras com a utilização de uma

jato de ar. As manchas formadas por algodão – fibras sintéticas, se adaptam

muito bem a esta tecnologia.

4. Fricção: Apresenta a combinação de um fio que vai ser envolvido por fibras

oriundas de uma fita que passa através do trem de estiragem. Um aspecto

interessante é que parece não haver limite de velocidade para este tipo de

fiação; por outro lado, há bem pouco aproveitamento da resistência das

fibras, já que, devido à geometria do fio, existe pouquíssima amarração entre

elas.

Segundo Garcia (1996), a diferença básica e fundamental entre

o filatório open end a rotor do filatório open end a fricção, é que este não

trabalha com rotor, substituindo-o por dois cilindros perfurados, responsáveis

pela formação do fio e pela aplicação da torção ao mesmo; já o filatório a

jato de ar, possui, no lugar do rotor, um tubo de aspiração especial, onde o

ar, juntamente com as fibras, é obrigado a descrever um percurso helicoidal,

que é responsável pela formação do fio e pela aplicação da torção ao

mesmo.

A Figura 03 mostra um esquema ilustrativo do processo têxtil

de fiação a rotor open-end e fiação a anel.

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LEGENDA:

Tecnologia Open-end

Tecnologia a Anel

Tecnologia de Penteagem para Fiação Open-End e Anel

Figura 03: Esquema do Processo Têxtil de Fiação Open-end e Anel

Fonte: Garcia (1996: 21)

O processo têxtil de fiação ilustrado na Figura 03, representa

os dois tipos de tecnologia mais utilizados para se fiar algodão: a tecnologia

a anel, que trabalha com mais máquinas e produz um fio de melhor

qualidade com um toque mais agradável; conseqüentemente, seu custo se

torna mais alto e a tecnologia de rotor open-end, que tem uma produtividade

superior e custos menores. Quanto à tecnologia de penteagem, esta é

utilizada quando solicitada pelo cliente, ou seja, esta tecnologia penteia os

fios, tornando o produto final como, por exemplo, os lençóis de cama, mais

SALA DE ABERTURA

MAÇAROQUEIRA

PASSADOR DE 2ª PASSAGEM

PASSADOR DE 1ª PASSAGEM

CONICALEIRA

FILATÓRIO À ANEL

CARDA

REUNIDEIRA

LAMINADEIRA

PENTEADEIRA

OPEN END

PRÉ - PASSAGEM

UNILAP

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macios e sedosos; todavia, cabe frisar que esta tecnologia encarece muito o

produto.

2.3.5 Características Intrínsecas da Fibra do Algodão

As transformações ocorridas no setor da indústria têxtil

mundial, visando reduzir os custos de unidade de peso do fio produzido,

resultam no aparecimento de novos princípios de fiação cada vez mais

rápidos e automatizados (CAVALERI & FERREIRA, 1987).

Para se ter uma idéia desses avanços tecnológicos, consegue-

se, na fiação convencional a anel, velocidade máxima de 19 a 25m de

fio/minuto, enquanto nos processos industriais inovadores, como nos rotores

e/ou “open end”, 130m de fio/minuto, jato de ar e/ou “air-jet” 180m de

fio/minuto e, na fiação por fricção, 300m de fio/minuto.

No sistema tradicional de fiação a anel são exigidas as

seguintes características, em ordem de importância, para a fibra do algodão:

comprimento, uniformidade de comprimento, resistência e finura. Para o

sistema de fiação a rotor, open end, a ordem de importância dos requisitos é

completamente diferente: resistência, finura, comprimento e pureza (limpeza

da fibra). Na fiação por fricção, a ordem é fricção, resistência, finura,

comprimento e pureza e, no caso da fiação a jato de ar, as exigências são

as seguintes: finura, pureza, resistência, comprimento e fricção

(GUTKNEETCH, 1987).

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Supõe-se que a arte de avaliar ou classificar o algodão de acordo com suas

características intrínsecas (físicas), remonta aos anos de 1775 a 1785 na

Inglaterra (BELTRÃO, 1999).

Outrora, o valor do algodão era mencionado apenas em função do

comprimento e do tipo. Nas últimas décadas, porém, as tecnologias

passaram a compreender a importância de outras características de

interesse na determinação do valor final da fibra de algodão e, desta forma,

passou-se a estudar métodos que permitem avaliar, com precisão e rapidez,

as principais características físicas da fibra de algodão (KONDO & SABINO,

s. d)

De início, a classificação da fibra era feita manualmente, por classificadores

treinados e experientes que classificavam o algodão pelo tipo, levando em

consideração, entre outros, os seguintes aspectos: limpeza, aparência e cor,

além do comprimento da fibra, também manual, o que requeria muita

habilidade por parte do classificador.

Posteriormente, foram desenvolvidos e aperfeiçoados diversos aparelhos

para analisar as características físicas da fibra havendo, hoje, a

necessidade de se modernizar e tornar mais rápidos esses equipamentos

de análises físicas da fibra, a fim de atender à demanda mundial para se

classificar, em curto período, uma demanda de mais de 86 milhões de

fardos/ano (BELTRÃO, 1999).

Em um mercado cada vez mais exigente, as indústrias de fiação são

equipadas com os mais modernos equipamentos de laboratório,

obedecendo a normas internacionais, a fim de manter a produtividade e a

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qualidade de seus produtos; um exemplo disto são os aparelhos Afis e o

HVI.

O sistema HVI é a combinação de aparelhos de medição usados para

acessar quantitativamente as características físicas das fibras de algodão,

que podem fornecer informações de forma mais rápida, em maior

quantidade e com tanta precisão quanto as classificações e ensaios

laboratoriais (LUNA, 1994; NABAS, 1997; BOLSA DE MERCADORIAS &

FUTUROS, s.d.).

O HVI – High Volume Instruments, é o principal aparelho de determinação

das características tecnológicas das fibras. Após a devida climatização da

amostra, o aparelho determina as várias características tecnológicas da

fibra em curto espaço de tempo e de forma precisa. Demonstram-se, a

seguir, algumas características de sua análise:

1. Resistência: é obtida pela medição da força requerida para romper uma

amostra de fibra; é o alongamento e o comprimento médio da distância, à

qual as fibras se distendem antes da ruptura (ZELLWENGER USTER, apud

BELTRÃO 1999). Segundo Ribeiro apud Carneiro (2001), a resistência das

fibras é a capacidade que elas têm de suportar uma carga, até seu

rompimento. A resistência da fibra tem relação direta com a resistência do

fio e seu tingimento como, também, no desempenho e produtividade dos

processos de fiação e malharia. O Quadro 05 apresenta as medidas de

resistência da fibra.

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RESISTÊNCIA

(g/TEX)

GRAU DE

RESISTÊNCIA

Abaixo de 20,0 Muito Fraca

21,0 a 23,0 Fraca

24,0 a 26,0 Média

27,0 a 29,0 Resistente

Acima de 30,0 Muito Resistente Quadro 05: Medidas de Resistência da Fibra Fonte: Boletim de Pesquisa de Algodão (2001:197)

2. Comprimento da fibra: é definido como a dimensão da fibra em seu estado

natural, interfere diretamente no título (Ne) – relação entre o comprimento e

a massa de uma fibra, filamento, pavio ou fio têxtil. Aparência/aspecto, na

fiabilidade e regularidade do fio. Esta característica é muito importante

porque fornece dados para ajustagem das máquinas.

Pode ser apresentado da seguinte forma:

• Comprimento a 2,5% SL (Span Lenght) é o comprimento médio

que atinge 2,5 das fibras distribuídas ao acaso, em um pente ou pinça

especial,

• Comprimento a 50% SL é o comprimento médio que atinge 50%

das fibras distribuídas ao acaso, em um pente ou pinça especial,

• UHM – Upper Half Mean ou em português, Média da Metade

Superior do comprimento das fibras distribuídas as acaso.

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O resultado das medições é expresso em mm ou polegadas.

Apresenta-se no Quadro 06, a interpretação das categorias de comprimento

de fibra.

COMPRIMENTO

CATEGORIA UHM (polegadas) UHM (mm) SL 2,5% (m) COMERCIAL

(mm)

Muito

Curta

Abaixo de

0,94

Abaixo de

25,1

Abaixo de

23,6

Abaixo

de 28

Curta 0,97 a 1,03 25,2 a 26,9 24,6 a 26,2 28 a 30

Média 1,06 a 1,09 27,0 a 28,8 27,0 a 27,8 30 a 32

Longa 1,13 a 1,19 28,9 a 30,5 28,6 a 30,2 32 a 34

Média a

Longa 1,22 a 1,25 30,6 a 32,0 30,9 a 31,7 34 a 36

Muito

Longa

Acima de

1,28

Acima de

32,1

Acima de

32,5

Acima

de 36

Quadro 06: Categorias de comprimento de fibra Fonte: Boletim de Pesquisa de Algodão (2001:198)

3. Uniformidade: o comprimento da fibra pode variar em função de diferentes

fatores: variedade, condições climáticas, fertilidade, colheita, beneficiamento,

entre outros. O índice de uniformidade mede a variação desde o

comprimento. Baixo índice de uniformidade compromete a resistência da

fibra favorecendo a sua ruptura aumentando, assim, o desperdício no

processo de fiação.

A uniformidade de comprimento pode ser medida de duas formas, como

mostra o Quadro 07.

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• Uniformidade Index (UI); é a relação entre o comprimento médio e

o comprimento em UHM x 100.

• Uniformidade Ratio (UR): é a relação entre os comprimentos de

SL 50% e SL 2,5% x 100.

UNIFORMIDADE (%)

CATEGORIA UI UR

Muito

Irregular

Abaixo de 77 Abaixo de 41

Irregular

Média

77 a 79 41 a 42

Média 80 a 82 43 a 45

Uniforme 83 a 85 45 a 46 Quadro 07: Interpretação da uniformidade de comprim ento de fibra

Fonte: Boletim de Pesquisa de Algodão (2001:199)

22..44 AA FFIIBBRRAA DDOO AALLGGOODDÃÃOO CCOOLLOORRIIDDOO

De acordo com o Anuário Brasileiro do Algodão (2002), a

cadeia produtiva do algodão da região de Campina Grande, na Paraíba, está

encontrando um horizonte promissor, de modo a deixar para trás a crise em

que vive a cotonicultura nordestina e que se reflete em toda a economia

regional. Através da tecnologia da Embrapa Algodão e seu potencial de

organização, o setor está dando um passo decisivo para assumir

integralmente um nicho de mercado, que inventou a exportação de

confecções à base de algodão marrom (tonalidades bege, creme e marrom)

plantadas no Nordeste.

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O uso do algodão colorido não é tão recente assim. Os incas e

outros povos das Américas já o utilizavam em artesanato. No Brasil, a Embrapa

conseguiu melhorar o algodão arbóreo nordestino, conhecido como mocó,

combinando seus genes com outras variedades. Surgiu então a BRS 200

Marrom, variedade com vida produtiva de quatro anos e fibras de boa

qualidade.

Sua produtividade é 30% menor que a das tradicionais cultivares

do branco, mas a organização da cadeia produtiva e a demanda asseguram

melhores preços e garantem também rentabilidade aos produtores. Tornou-se,

portanto, alternativa viável para a cotonicultura do semi-árido. Segundo Beltrão

(2002), trata-se de uma variedade que atende às necessidades do produtor, do

beneficiador, das indústrias têxteis e de confecções, além de satisfazer o

consumidor.

A fibra colorida apresenta características físicas ideais para as

fiações modernas do tipo open-end, obtendo-se malha de toque agradável.

Entre as variedades coloridas existe no mundo atualmente, (concentradas em

países como Peru, EUA e Israel), a BRS 200 Marrom é a que tem

características únicas e vantajosas, como o ciclo de quatro anos e melhor

qualidade da fibra (ANUÁRIO BRASILEIRO DO ALGODÃO, 2002). Testes com

fiação a rotor open-end demonstraram que a fibra resiste até 120 mil rpm.

Conforme Beltrão (2002), ainda falta ordenar a cadeia produtiva e

verticalizar a cultura para alcançar garantia de produção e diferencial de preço;

além disso, é preciso transferir tecnologia, qualificando o cotonicultor

nordestino.

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A BRS 200 Marrom, ou algodão colorido, é um bulk constituído

pela mistura, em partes iguais, de sementes das linhagens CNPA 94-362 e

CNPA 95-653, que possuem fibras de coloração marrom claro. Essas

linhagens foram selecionadas a partir de matrizes do algodoeiro arbóreo,

coletadas nos municípios de Acari; RN, e Milagres; CE (FREIRE, 1999). Enfim,

a cultivar BRS 200 Marrom é resultado de um trabalho de pesquisa de uma

década e meia, cujo desempenho foi testado em nível de campo e de

laboratório, estudando-se as características agronômicas e tecnológicas da

fibra e do fio atendendo, assim, ao produtor e ao beneficiador de algodão.

2.4.1 Benefícios

Conforme Santana et al (1999), os benefícios sociais e econômicos

para a região do semi-árido nordestino serão de grande relevância, visto que

existe um mercado consumidor em potencial bastante promissor e a cotação

para a pluma colorida é de 30% superior à da coloração normal.

A pesquisa encontra-se na fase de aumentar as quantidades de

sementes em áreas irrigadas nos municípios de Touros e Ipanguaçu no Rio

Grande do Norte, e Patos, na Paraíba. De 1998 a 2000, dentre nove linhagens

coloridas foram escolhidas duas de coloração creme para o plantio no campo

experimental de Patos, e Barbalha, no Ceará, visando a sua apresentação aos

produtores de algodão do Nordeste.

2.4.2 O Ecobusiness

“O ecobusiness é um mercado relacionado às novas

oportunidades de negócios, cuja demanda depende da difusão da

consciência ecológica” (MAIMON, 1996). Este mercado é constituído por

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pequenas e grandes empresas voltadas para um mercado local e/ou

internacional.

O mercado para o algodão colorido, classificado como

ecoproduto, em virtude de ser vendido a partir do conteúdo e da imagem

ecológica, ainda é restrito, sendo um produto consumido por pessoas

alérgicas a corantes químicos, grupos ambientalistas e organizações não

governamentais que desenvolveram trabalhos com agricultura orgânica

(SANTANA et al. 1997; FREIRE et al. 2000).

O consórcio Natural Fashion, cuja razão social é Associação de

Promoção à Exportação de Produtos Têxteis e Afins, da Região de Campina

Grande, é formado por dez empresas de confecção, tecelagem e artefatos

de micro e pequeno porte que têm, como objetivo, conforme explica Carneiro

(2001), divulgar, promover e comercializar os produtos confeccionados com

o algodão colorido e revitalizar, daí, a cultura algodoeira do Estado da

Paraíba, através desta nova tecnologia desenvolvida pela Embrapa Algodão

de Campina Grande, que traz o algodão de fibra colorida desde o campo até

a manufatura industrial, dispensando qualquer espécie de tingimento.

Uma das principais preocupações do consórcio é não

comercializar a matéria-prima e sim, beneficiá-la no local e transformá-la em

produto final gerando, desta forma, riqueza na região. Além da preocupação

com a qualidade da matéria-prima, o consórcio ainda busca agregar outros

materiais e valores culturais típicos da região, uma vez que os toques

étnicos são muito valorizados no exterior.

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22..55 OO TTIINNGGIIMMEENNTTOO NNAA IINNDDÚÚSSTTRRIIAA TTÊÊXXTTIILL

O tingimento consiste em fixar o corante sobre a fibra. Portanto, a

tintura depende da qualidade da fibra e da composição química do corante

(SEBRAE, 2004).

Para os materiais de fibras mistas, além de se levar em conta o

modo como cada fibra se comporta sob a ação dos diversos corantes, também

se consideram as proporções relativas dos componentes da mescla; assim

sendo, os corantes, dependendo do seu grau de afinidade, poderão ser

colocados com algum acréscimo porque, além de proporcionais aos pesos dos

componentes da mistura, deve-se levar em conta que se trabalhará em banhos

mais longos que os previstos em relação a cada fibra isoladamente, visto ser o

banho único calculado proporcionalmente ao peso total do material. Obter-se-á,

então, ao final da tintura, uma só cor (tingimento tom-sobre-tom), ou duas

cores, podendo permanecer uma das fibras em branco, dizendo-se então que a

mesma foi reservada.

Para um tingimento é necessário observar quatro itens:

- Afinidade: a matéria corante passa a fazer parte integrante da fibra,

- Uniformização: grau de uniformidade na cor aplicada, dependendo do

poder de uniformização do corante, da sua velocidade e temperatura

de montagem e de dificuldades inerentes ao material,

- Solidez: grau de resistência aos diversos agentes de alteração e

desgaste,

- Economia: capacidade de tingir peso relativamente elevado de material.

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A arte dos tinteiros, dominante até metade do século XX, não

pôde suportar as pressões ecológicas e econômicas, que foram aumentando

ao longo da segunda metade do referido século, já que a sobrevivência das

indústrias está ligada a dois conceitos chaves:

- Correção de primeira

- Resposta rápida

Conceitos inter-relacionados, uma vez que o segundo é, em parte,

conseqüência do primeiro (VALLDEPERAS, 1998).

Não é de surpreender, desta forma, que,

simultaneamente a estas premissas, se consiga a redução de

resíduo em um setor industrial considerado, tradicionalmente, de

elevada contaminação, principalmente pela imagem impactante que

produz a cor dos banhos residuais nos leitos e rios públicos.

“Entende-se por tingimento o fenômeno que se produz, quando um corante solúvel ou dispersível em uma fase líquida, é absorvido por um substrato, no caso em questão, fibras têxteis, de forma que as moléculas de corante penetram no interior do substrato e ficam unidas a este, em virtude de forças de tipo químico ou físico-químico, de tal maneira que o substrato tingido apresenta certa resistência à reabsorção do corante quando se encontra de novo na fase líquida” (VALLDEPERAS, 1998:87).

Seguindo, pois, o percurso de cada molécula de corante, se

poderá avaliar-se-á o ponto ideal no tingimento têxtil, propondo, desta maneira,

possíveis vias de evolução, sempre com o objetivo final de se obter:

- mais rápido

- mais barato

- qualidade constante

- menor contaminação.

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Pode-se dizer que a evolução da sistemática de preparação

dos banhos de tintura é pelo menos espetacular, pois sendo o cozimento de

cores, um elemento auxiliar, este, se converteu na peça chave para a

obtenção da cor desejada, com probabilidade superior a 90%, donde se

conclui que, realmente, o tingimento é uma atividade que merece destaque

para a questão de “política verde”, até porque não é nenhuma novidade que

um dos principais motivos e causas das inovações produzidas nos últimos

anos, no campo de tingimento têxtil, foi a pressão social relativa ao meio

ambiente, que se converteu em leis mais restritivas, cujas conseqüências

incidiram não apenas na produção mas, também, no uso de fibras, corantes

e produtos auxiliares e no desenho de máquinas.

As cores são utilizadas há mais de 20 mil anos, pelo homem. O

primeiro corante a ser conhecido pela humanidade foi o negro-de-fumo, por

volta de 3.000 a.C. Com o tempo, muitos corantes naturais foram sendo

descobertos.

O primeiro corante orgânico sintetizado com técnica mais

apurada foi o Mauve, obtido em 1856 (SHREVE & BRINK JR, 1977 )

Após esta descoberta, foi notória a corrida dos químicos para

sintetizar outros corantes, fato cuja repercussão foi tamanha, a ponto de, até

hoje, se utilizar o termo anilina, para designar qualquer substância corante,

apesar de, em si, não ser um corante, mas, sim, o ponto de partida para a

elaboração de corantes (ABIQUIM, 2004).

No intuito de suprir as necessidades das indústrias que

fabricavam tecidos, couro e papel, no fim do século XIX, fabricantes de

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corantes sintéticos estabeleceram-se na Alemanha, Inglaterra, França e

Suíça.

Só nos anos de 1994 e 1995 grandes corporações implantaram

unidades fabris próprias com fabricantes locais em diversos países asiáticos,

como China, Índia e Indonésia.

Os corantes têxteis são compostos orgânicos cuja finalidade é

conferir, a determinada fibra (substrato) certa cor, sob condições de

processo preestabelecido. Os corantes têxteis são substâncias que

impregnam as fibras de substrato têxtil, reagindo ou não com ao material,

durante o processo de tingimento (ABIQUIM, 2004; SEBRAE, 2004).

Para cada tipo de fibra existe uma categoria de corante; assim,

para fibras celulósicas, como o algodão e o rayon, são aplicados os corantes

reativos, diretos, azóicos, a tina e sulfurosos; para fibras sintéticas, deve-se

distinguir entre as fibras e os corantes aplicados, como no caso do poliéster

(corantes dispersos), acrílicos (corantes básicos) e nylon (poliamida)

corantes ácidos.

No tingimento os processos podem ser divididos em categorias

(contínuo, semicontínuo e por esgotamento), o que define a escolha do

corante adequado.

Conforme dados da Abiquim (2004), no Brasil a utilização de

corantes se concentram principalmente nos corantes reativos para fibras

celulósicas, correspondendo a 57% do mercado, seguido dos corantes

dispersos, com 35%, poliamida com 3% e acrílico com 2%.

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A poluição, devida principalmente às perdas de corantes e

produtos auxiliares (sais, ácidos) no processo de tingimento, representa 30 a

40% do conjunto da poluição orgânica de uma indústria de beneficiamento

(Martins, 1997). O quadro 08 apresenta alguns valores das perdas

observadas nos banhos não completamente esgotados e dos corantes não

fixados às fibras, saídos na lavagem após o tingimento.

CORANTES PERDAS (Parte não fixada)

Enxofre (algodão) 20%

Diretos (algodão) 15 a 20%

Azoícos – naftóis (algodão)

< 5%

Reativos (algodão) 20 a 25%

Dispersos (plastosolúveis) poliéster

< 5%

Pigmentados (todas as fibras)

1%

Metálicos (lãs e poliamidas)

< 5%

Básicos (acrílico) 2 a 3%

Ácidos (lãs e poliamidas) < 5%

Quadro 08: Perdas mínimas de corantes no tingimento

Fonte: Gros (1979) apud Martins (1997)

Outro composto orgânico capaz de conferir cor a diferentes

materiais e substratos, são os pigmentos, visto que a versatilidade de suas

aplicações se devem às nuances de cores, como também de todos os níveis

de resistência solicitados pelos materiais onde serão aplicados.

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Materiais de escritório, cosméticos, fertilizantes e sementes,

sabões e detergentes e, no setor de têxteis e de couros, são alguns campos de

aplicação deste composto.

22..66 EEFFLLUUEENNTTEESS LLÍÍQQUUIIDDOOSS

“Efluentes líquidos são poluentes que se apresentam na forma

líquida, por estarem dissolvidos, em suspensão ou emulsionados (em forma de

pequenas partículas) na água” ( MOREIRA, 2001).

Os efluentes líquidos, assim como os detritos, quando lançados

nos corpos d’água poluem e contaminam o meio ambiente. Os corpos d’água

têm a capacidade de autodepuração; entretanto, mudanças significativas

extrapolam esta capacidade, provocando ruptura do equilíbrio do inter-

relacionamento dos organismos vivos com o seu meio ambiente não vivo

caracterizando, desta maneira, a poluição do corpo receptor aquático.

Os principais fatores de desequilíbrio para os ecossistemas

aquáticos estão relacionados no quadro 09.

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Fator de desequilíbrio Impactos potenciais nos corp os d’água

Efluentes que contêm óleos e graxas Inibição da fotossíntese, redução da quantidade de oxigênio gerada, intoxicação dos organismos vivos.

Efluentes que contêm sólidos em suspensão

Inibição da fotossíntese, redução da quantidade de oxigênio gerada, obstrução das vias respiratórias dos peixes.

Efluentes que contêm substâncias que causam cor

Inibição da fotossíntese, redução da quantidade de oxigênio gerada e conseqüentes danos aos organismos vivos.

Efluentes que contêm material sedimentável (finos de minério, areia etc).

Morte de organismos aquáticos, por soterramento.

Efluentes que contêm substâncias biodegradáveis (esgotos domésticos e diversos efluentes industriais, constituídos de matéria orgânica biodegradável)

Em concentrações superiores aos limites aceitáveis, gera aumento excessivo de bactérias, exaurindo as reservas de oxigênio da água e causando a morte dos organismos aquáticos.

Efluentes com temperatura elevada

Redução da concentração de oxigênio dissolvido na água, enquanto aumenta a necessidade de oxigênio por parte dos peixes, devido à aceleração de seu metabolismo. Isto pode causar a morte de muitas espécies.

Efluentes que contêm detergentes sintéticos, desengraxantes, sabões naturais

Redução da tensão superficial da água, permitindo que ela se misture a óleos e graxas. Inibição da fotossíntese devido à formação de espuma, causando a depleção do oxigênio e conseqüentes danos aos organismos vivos.

Efluentes industriais de alta salinidade Mortandade de peixes e outros organismos aquáticos de água “doce”, por murchamento.

Efluentes ácidos ou alcalinos (pH abaixo de 5 ou acima de 9)

Mortandade de peixes e outros organismos aquáticos.

Efluentes industriais que contêm cianeto e/ou metais pesados

Mecanismos intensos e rápidos de intoxicação aguda e crônica dos organismos vivos por contaminação da cadeia alimentar, atingindo o homem. A ação tóxica se propaga ao longo do curso d’água e permanece atuando por longo tempo.

Quadro 09: Fatores de desequilíbrio para os ecossistemas Fonte: MOREIRA (2001:103)

A contaminação das águas pode ser de caráter físico, químico,

bioquímico ou biológico, caracterizando-se das seguintes formas:

- Pela poluição orgânica

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- Pela presença de nutrientes, como nitratos e fosfatos (alguns

detergentes e sabões em pó)

- Pela presença de produtos tóxicos lançados principalmente pelas

indústrias

- Pela poluição térmica causada pelo lançamento de águas de

resfriamento em temperaturas superiores à do corpo d’água receptor

(VALLE, 1995).

Portanto, é necessário fazer-se o tratamento das águas usadas,

removendo seus contaminantes dentro dos limites impostos pela legislação,

antes de lançá-las de volta ao meio ambiente.

O problema da poluição ambiental tem caráter mundial.

Originou-se na revolução industrial, intensificou-se com a explosão

populacional humana e perpassa pelo modelo socioeconômico-cultural do

nosso século. Em muitas regiões brasileiras que abrigam pólos industriais e

densa população, o ecossistema aquático vem sofrendo uma degradação

efetiva, causada pelos esgotos domésticos e industriais. Para conduzir a

poluição a níveis aceitáveis e manter a qualidade de vida, é imprescindível a

implantação de medidas preventivas e corretivas.

Segundo Balan (2002:16), “com o aumento da população

urbana e o desenvolvimento industrial, novos compostos foram sintetizados

e continuamente introduzidos no meio ambiente”.

Os processos têxteis são grandes consumidores de água e de

corantes sintéticos, geradores de efluentes volumosos e complexos, com

elevada carga orgânica, aliada ao também elevado teor de sais inorgânicos

(DUESER, 1992).

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Nos anos 70, as fábricas de beneficiamento têxtil usavam cerca

de 1000 m3 de água para cada tonelada de tecido trabalhado. As facilidades de

captação de água de rios e lagos, levaram rapidamente às contaminações

tóxicas e poluições de toda ordem desses mananciais devido aos deságües de

despejos (DESCHLER, 1990).

A distribuição mundial da água revela apenas 2,6% de água doce

no planeta e, dela, só 0,6% disponível em lagos, rios, subterrâneo e atmosfera.

Os maiores consumidores são a agricultura e as indústrias, sendo que, dentro

desta última o setor têxtil consome 15%, devolvendo-a depois dos processos,

porém altamente contaminada (Sanin, 1997). O controle da água na indústria

começa pela luta contra o desperdício (GROS, 1979).

As operações de limpeza, tingimento e acabamento na indústria

têxtil são grandes consumidores de água e, conseqüentemente, grandes

responsáveis pelos efluentes líquidos. O tratamento e a recirculação desses

despejos e a recuperação de produtos e subprodutos constituem, hoje, os

maiores desafios pela indústria têxtil (COELHO, 1996).

Gros (1979), CEPIS/GTZ (1992), Bettens & Van Lancker (1992,a),

apontam que a recuperação de banhos, embora pouco usada, leva a uma

economia no consumo da água mas não dos produtos químicos e corantes

para os tons claros e médios.

Os despejos de indústrias têxteis são tóxicos à vida aquática,

diminuem o conteúdo de oxigênio dissolvido e modificam as propriedades e

características físicas dos cursos d’água.

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Na indústria têxtil, as águas residuais das seções de tingimento e acabamento contêm grande variedade de produtos químicos que resultam numa ampla gama de problemas para o gerenciamento de efluentes. Com relação à presença dos corantes, a entrada potencial desses no meio ambiente se dá basicamente por quatro vias, a saber: pelas emissões ou descargas de efluentes nos processamentos rotineiros; através do descarte de sobras e resíduos do processo; através do descarte de embalagens usada e através da eliminação acidental (BALAN, 2002:17). Nos efluentes líquidos, o efeito do corante é fácil à percepção

visual, mesmo em pequenas concentrações, e atrai a atenção do público e das

autoridades ligadas à proteção ambiental. Os parâmetros relativos aos

corantes se relacionam, na avaliação dos efluentes, ao conteúdo de metais

pesados, coloração, biodegradabilidade e toxidade para organismos aquáticos.

Conforme Balan (2002:18), “há estimativas de que 80 a 90% do

câncer humano podem ter causa ambiental. Testes rápidos, fáceis e

cuidadosos predizem sobre a segurança ou risco à exposição humana e de

outros organismos vivos, a compostos puros ou complexas misturas químicas”.

O levantamento de dados fornecidos pela Textile World Atlanta,

(Cook,1980), aponta os corantes como cancerígenos, sobretudo para os

trabalhadores que os usam indiretamente; como prevenção, deve-se usar

roupas protetoras a cada dia, equipamentos de proteção individual, lavatórios

separados, chuveiros,não se esquecendo, ainda, de um bom acompanhamento

médico, incluindo exames regulares de urina e do nível de exposição.

Segundo Coelho (1996), os efluentes gerados pela indústria

variam à medida que a pesquisa e o desenvolvimento produzem novos

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72

reagentes, novos processos, novos maquinários, novas técnicas, conforme a

demanda do consumidor por outros tipos de tecidos e cores.

22..77 PPRRÁÁTTIICCAASS LLIIMMPPAASS NNAA IINNDDÚÚSSTTRRIIAA TTÊÊXXTTIILL

Ressalta-se a grande preocupação com o meio ambiente por

parte dos empresários, procurando adequar-se à legislação ambiental, evitando

os desastres ecológicos que denigrem a imagem da empresa.

Para o controle da poluição causada por efluentes industriais, o

procedimento mais comum tem sido a adoção de tecnologias de tratamento de

despejos, as quais representam despesas de investimentos improdutivos

suplementares e custos de operação elevados (15 a 20% do investimento

inicial), que aumentam sempre que as instalações envelhecem.

Outro modo de encarar a questão é admitir que a poluição não é

obrigatória e procurar soluções internas para a poluição gerada. Esta

"prevenção ou minimização da poluição", é feita nos próprios processos de

fabricação, conhecida como adoção de "práticas limpas".

O conceito de tecnologia limpa (prática limpa) foi desenvolvido

pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e significa

utilizar-se continuamente de uma estrutura ambiental integrada, preventiva e

aplicada, visando aumentar a eco-eficiência e reduzir riscos para os seres

humanos e para o meio ambiente (MAIMON, 1996; VALLE, 1995).

Assim, uma prática limpa pode ser a introdução de um novo

processo menos poluidor, ou a recuperação de matéria-prima perdida e

recirculada na fabricação ou ainda, a valorização de um resíduo que poderá

dar origem a um subproduto.

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O interesse da aplicação de práticas limpas apresen ta-

se sob dois aspectos:

1. Do ponto de vista ambiental, uma vez que elas geram menos poluição,

podendo mesmo chegar ao nível zero de poluição; além do que, trazendo

maior conhecimento do processo, elas reduzem os riscos ambientais

causados por acidentes ou quebra de equipamentos.

2. Do ponto de vista econômico, por haver maior preocupação com os

desperdícios; há economia de energia e de matérias-primas, conduzindo a

períodos mais curtos de retorno dos investimentos.

As práticas limpas se constituem, então, em fatores de inovações

tecnológicas, pois melhoram a produtividade e a qualidade dos produtos sob o

ponto de vista ambiental, promovendo uma competitividade melhor nos

mercados interno e externo (MARTINS, 1997).

Essas inovações, segundo Maimon (1996), são de caráter

preventivo e constituem tanto a redefinição dos processos de produção quanto

a composição de insumos.

Como comentado, os maiores volumes de despejos têxteis são

gerados nas operações de lavagens, tingimentos e acabamento. Atualmente,

tem sido procurada a redução da poluição no processo industrial, não só com

relação ao tratamento dos efluentes, já no seu ponto final, que é a estação de

tratamento, mas em toda a sua geração, dentro da indústria, nas diversas

etapas do processo industrial (Martins,1997). A recirculação desses despejos e

a recuperação de produtos químicos e de subprodutos, constituem um desafio

para a redução de custos com o tratamento dos efluentes.

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No início dos anos 70, algumas indústrias da Bélgica visaram,

através de um único e mesmo investimento, a economia energética, a

economia de água e a redução da poluição. Os estudos foram iniciados com o

conhecimento necessário, porém sem nenhuma referência técnica sobre

pesquisas. Houve desilusões e confusões; com o passar do tempo, as idéias

se tornaram realidade, foram difundidas e pesquisadas em outros países

(Bettens & Lancker, 1992); hoje, as chamadas tecnologias limpas são

empregadas em larga escala, na indústria têxtil dos países da Europa e

Estados Unidos e seu interesse vem crescendo quanto a aplicá-las nos países

do Terceiro Mundo, a exemplo do Brasil (MARTINS, 1997).

A redução da poluição em uma indústria têxtil pode ser trabalhada

através de:

a) controle do uso da água e, conseqüentemente, redução do

volume dos despejos

b) modificações nos processos produtivos

c) produtos químicos e matérias-primas.

22..88 PPRROOTTEEÇÇÃÃOO AAOO SSEERR HHUUMMAANNOO EE AAOO MMEEIIOO AAMMBBIIEENNTTEE

As considerações ambientais estão cada vez mais exercendo

papel de destaque nos desenvolvimentos ocorridos no setor têxtil. Na

maioria dos países desenvolvidos, as legislações ambientais estão ficando

mais consistentes e restritivas. O setor é um grande consumidor de água,

utilizando aproximadamente 15% do volume total gasto por todo o setor

industrial. O efluente gerado pelo setor é extremamente complexo, com

elevada carga orgânica aliada a um alto teor de sais inorgânicos (Duenser,

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apud Balan, 2002). Os grandes desafios enfrentados pelo setor residem no

tratamento e diminuição desses despejos e na recuperação de produtos.

No sub-setor de acabamento da indústria têxtil, Hilden (1999)

considera que as tendências de desenvolvimento estarão cada vez mais

concentradas na utilização de produtos químicos que não agridam o meio

ambiente. As melhorias da área de tinturaria estão centradas na pesquisa e no

desenvolvimento de corantes, cujas estruturas causem o menor dano ecológico

(corantes biodegradáveis).

A evolução da tecnologia dos processos de tingimento está

direcionada à otimização dos processos, com o objetivo de eliminar/diminuir o

impacto sobre o meio ambiente (MORELL, 1999).

As substâncias químicas utilizadas na produção de artigos têxteis

têm, ou podem, ter impactos toxicológicos e ecológicos. O efeito de

determinados produtos na saúde humana está sendo estudado por organismos

internacionais, com o intuito de criar uma legislação de uso bastante restrita.

Com o objetivo de criar normas que protejam a saúde das pessoas e do meio

ambiente, alguns organismos internacionais criaram ao que se chamou selo

verde. Esta etiqueta é dada aos artigos têxteis produzidos por sistemas que

respeitem os aspectos ecológicos e toxicológicos. Existem três tipos de

etiqueta ecológica (FREY, 1998):

• etiquetas que consideram balanços ecológicos amplos e

análises de produto

• etiquetas que consideram a produção ecológica

• etiquetas para avaliação das características humano-

toxicológicas.

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22..99 RREESSPPOONNSSAABBIILLIIDDAADDEE AAMMBBIIEENNTTAALL CCOOMMOO

EESSTTRRAATTÉÉGGIIAA CCOOMMPPEETTIITTIIVVAA

A industrialização é irreversível, razão por que é tempo de se

buscar o desenvolvimento industrial ecologicamente sustentável, que se

baseia em três premissas: crescimento econômico, eqüidade social e

equilíbrio ecológico.

O desenvolvimento sustentável visa atender às necessidades

do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de

atender às suas necessidades em relação aos recursos naturais (MOREIRA,

2001; VALLE, 1995)

A indústria têxtil dispõe de dois recursos para buscar uma

atuação ambiental mais responsável:

� Um de caráter administrativo, representado pela implantação

do SGA – Sistema de Gestão Ambiental e possível certificação

pela ISO 14.001

� Outro, de gestão de processo industrial, representado pela

adoção dos critérios de Produção limpa ou de Produção Mais

Limpa.

No processo produtivo, a Produção Mais Limpa inclui a

conservação de matérias-primas, água e energia, a eliminação de materiais

tóxicos e a redução da quantidade e da toxicidade de todas as emissões e

resíduos de fim de processo, buscando a reciclagem e a reutilização. Nos

produtos, a estratégia enfoca a redução dos impactos, ao longo de todo o

ciclo de vida do produto, da extração da matéria-prima à disposição final.

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Segundo Pittoli (2000), deve-se ter em mente que o controle

ambiental gera prejuízo no final do processo e lucro durante o processo. No

final do processo gera custos com o tratamento de efluentes, desperdício de

matéria-prima, água, energia e, durante o processo, o controle ambiental gera

economia de matéria-prima, produtos auxiliares, água e energia, otimização

dos recursos produtivos e não há o custo de tratamento no final da linha (...).

A idéia é prevenir, tanto quanto possível, a geração de resíduos.

O que não for possível eliminar, deve-se reutilizar, fazer uma contenção

responsável, possível de reduzir os riscos de impactos ambientais.

Ainda conforme Pittoli (2000), a certificação pela ISO 14.001 é

importante para as empresas, pois traz vantagens mercadológicas e melhora

sua imagem institucional, sendo um diferencial positivo no caso de uma

licitação pública, um contrato de exportação ou de prestação de serviços.

Todavia, a adoção da norma ISO 14.001, não é suficiente para

que a empresa desenvolva sua atividade produtiva sem prejuízo ao meio

ambiente; tampouco, basta cumprir a legislação ambiental; é preciso que a

empresa tenha uma posição pró-ativa frente às questões ambientais.

22..1100 GGEERREENNCCIIAAMMEENNTTOO AAMMBBIIEENNTTAALL NNAASS IINNDDÚÚSSTTRRIIAASS

2.10.1 Histórico

Segundo Valle (1995), o histórico sobre o tema ambiental

começa a surgir há cerca de 65 milhões de anos, quando um meteorito

atingiu a terra, alterando profundamente os ecossistemas; entretanto,

apenas no século passado, para ser mais preciso, na década de 60,

observaram-se os primeiros movimentos ambientalistas nos países

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industrializados, por causa da contaminação das águas e do ar; contudo, foi

na década de 70 que realmente ocorreram a regulamentação e o controle

ambiental, após a Conferência de Estocolmo, na qual as nações começaram

a estruturar seus órgãos ambientais e estabelecer legislações com o intuito

de controlar a poluição ambiental.

Foi nesta mesma época que se levantou a discussão sobre a

racionalização do uso da energia, buscando-se combustíveis mais puros.

Em 1978 surge, na Alemanha, o primeiro selo ecológico destinado

a rotular produtos considerados ambientalmente corretos.

Na década de 80 desenvolvem-se empresas especializadas na

elaboração de Estudos de Impacto Ambiental e de Relatórios de Impacto sobre

o Meio Ambiente (EIA/RIMA), encerrando-se esta década com a globalização

das preocupações com a conservação do Meio Ambiente; a exemplo disto,

tem-se o protocolo de Montreal e o relatório da Comissão Mundial sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento.

Já na década de 90, entraram em vigor as normas internacionais

de gestão ambiental, conhecidas, hoje, como a série ISO 14000 que,

associadas às normas ISO 9000, constituem o coroamento da extensa

caminhada em prol da conservação ambiental e do desenvolvimento

sustentável.

Hoje, a preocupação com o meio ambiente é, sem dúvida, geral.

A constatação da degradação ambiental num ritmo crescente alertou as

comunidades, a sociedade e se refletiu nos governos, a quem cabe a

responsabilidade de elaborar as leis. Nos países mais industrializados do

Ocidente, ações legais de controle ambiental começam a surgir e, como

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decorrência, a instituição dos órgãos de controle e estabelecimento de padrões

de qualidade ambiental e de emissões gasosas.

Como bem coloca Ostronoff (1993), antes das indústrias terem

sido impactadas pelas medidas legais ambientais, já haviam atividades

relacionadas à preservação do meio ambiente como, por exemplo, tratamento

de esgotos, coleta e disposição de lixo doméstico.

Para a maior parte das organizações industriais que,

praticamente, não controlavam adequadamente, ou mesmo de forma

incipiente, seus rejeitos para o ambiente, a legislação trouxe um forte impacto

econômico. É fato sabido que controlar e corrigir emissões de forma reativa,

por exemplo, numa indústria, é mais oneroso que seu controle na fase de

concepção do projeto.

No Brasil, ou pelo menos em alguns estados brasileiros, a

consciência do problema existe de longa data, o que não é notório nos países

subdesenvolvidos.

“Há algum tempo atrás, o senhor Edgar Woolard Júnior, principal executivo da Du Pont nos Estados Unidos, afirmou que o verdadeiro desafio ambiental não é responder às próximas propostas de regulamentação; não é fazer com que ambientalistas vejam coisas sempre sob o prisma da indústria, nem educar o público a apreciar os benefícios de nossos produtos. O verdadeiro desafio ambiental, segundo ele, é a necessidade da indústria adotar toda uma nova cultura, um ambientalismo corporativo, definido como uma atitude e compromisso de desempenho, o qual coloca as preocupações de meio ambiente da empresa totalmente alinhadas com os desejos e as expectativas do público” (OSTRONOFF, 1993:51).

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80

���� Atuação Responsável

O conceito de Atuação Responsável surgiu no Canadá, na

década de 80, sob o nome de Responsible Care Program .

O programa tem, como um dos seus objetivos, resgatar a imagem

da indústria química em âmbito mundial. No Brasil, ele é conhecido como

Atuação Responsável, coordenado pela Associação Brasileira da Indústria

Química – ABIQUIM (OSTRONOFF,1993).

Para se ter uma idéia de como era a imagem da indústria química

em uma pesquisa feita em 1986, pela Chemical Manufacturers Association –

Associação de Fabricantes Químicos, constatou-se que só perdia para a

indústria do cigarro e até mesmo para a indústria nuclear. A opinião norte-

americana, também através de uma pesquisa, expressou que a poluição era o

pior crime empresarial e apenas 37% dos entrevistados achavam que a

indústria química era essencial (Id. ibid., 1993).

No Brasil, uma pesquisa na qual se procurava averiguar as

indústrias que acarretavam maior número de problemas, indicou a indústria

química na liderança, com 57%. O mesmo percentual de entrevistados

expressou que a indústria química não respeitava as leis ambientais, ou seja,

havia uma imagem altamente desgastada.

A atuação responsável traz soluções para os problemas

ambientais, enfocando a busca de melhoria contínua, antecipando a própria

legislação e utilizando sua visão sistêmica para trabalhar com a preocupação

com a segurança, saúde ocupacional e meio ambiente (DONAIRE, 1999;

VALLE, 1995; OSTRONOFF, 1993).

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“Dentre os inúmeros problemas que afligem a indústria, um é o equilíbrio entre

o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental, e as relações

desses problemas com os órgãos de controle” (ORTH, 1993: 209).

2.10.2 Benefícios

Embora grande parte do empresariado ainda não se sinta à

vontade para implantar um Sistema de Gestão Ambiental em sua empresa,

devido à má informação ou a percepções equivocadas do tipo: é um sistema

caro que não oferece retorno, demanda muito tempo e esforço e exige altos

investimentos. Algumas empresas estão perdendo mercado por ter esta visão.

Moreira (2001) coloca que “a sociedade continua evidenciando

sua necessidade quanto a produtos e serviços, porém passa a valorizar cada

vez mais a proteção do meio ambiente”.

Assim, as empresas que ficarem por último nesta corrida pela

sobrevivência, terão que arcar com o prejuízo do atraso e tomar as devidas

providências por mera obrigação de retardatário, sem qualquer ganho de

imagem.

São muitos os benefícios para a empresa com a implantação de

um Sistema de Gestão Ambiental; entre eles, estão:

- um desempenho ambiental melhor

- redução nos desperdícios

- prevenção nos riscos ambientais

- disseminação da responsabilidade sobre o problema ambiental para

toda a empresa

- homogeneização da forma de gerenciamento ambiental em toda a

empresa

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- maior consciência ambiental aos mercados nacional e internacional

- boa imagem junto aos órgãos ambientais, à comunidade e ONGs

- maior facilidade para se obter financiamentos a taxas reduzidas

- viabilidade de diminuir os custos de seguro

- benefícios intangíveis (melhoria de gerenciamento etc.) (MOREIRA,

2001).

Já Donaire (1999), cita seus benefícios divididos entre:

- econômicos (com economia de custos e no incremento das receitas)

- estratégicos (melhoria da imagem institucional, aumento da

produtividade, melhoria nas relações de trabalho, melhoria das relações

com os órgãos governamentais, comunidade, grupos ambientalistas

etc.).

2.10.3 Repercussões

Conforme Donaire (1999), as primeiras indústrias surgiram em

uma época em que os problemas ambientais eram de pequena expressão, em

virtude das reduzidas escalas de produção e das populações

comparativamente menores e pouco concentradas. As exigências ambientais

eram raras e a fumaça das chaminés era um símbolo de progresso, estampada

orgulhosamente na propaganda de várias indústrias.

O agravamento dos problemas ambientais alterou profundamente

este quadro, gerando um nível crescente de exigências. A nova consciência

ambiental, surgida a partir das transformações culturais nas décadas de 60 e

70, ganhou dimensão e situou a proteção do meio ambiente como um dos

princípios mais fundamentais do homem moderno. Na nova cultura, a fumaça

passou a ser vista como prejuízo e não mais como vantagem.

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Desta forma, as respostas da indústria a este novo desafio

ocorrem em três fases, de acordo com o grau de conscientização da empresa:

controle ambiental nas saídas, integração do controle ambiental nas práticas e

processos industriais e integração do controle ambiental na gestão

administrativa.

A fase um compreende a instalação de equipamentos de controle

da poluição nas saídas, como redes de esgotos, chaminés, mantendo a

estrutura produtiva existente. A indústria, assim como o público, questionam a

respeito do alto custo e da elevada eficiência dos equipamentos instalados,

desde que esta solução não se mostre eficaz.

A fase dois tem, como princípio básico, a prevenção da poluição,

envolvendo a seleção das matérias-primas, o desenvolvimento de novos

processos e produtos, o reaproveitamento da energia, a reciclagem de

resíduos e a interação com o meio ambiente.

Como a preocupação com o meio ambiente é constante, o

mercado acabou sendo atingido tendo, portanto, que ser redesenhado,

tornando o consumidor tão temível quanto os órgãos de meio ambiente. Com

isto, a proteção ao meio ambiente deixa de ser uma exigência punida com

multas e sanções e se inscreve em um quadro de ameaças e oportunidades,

em que as conseqüências passam a significar posições na concorrência e na

própria permanência ou saída do mercado.

Como bem aponta Maimon (1996), neste contexto se consolidam

e se difundem as inovações de Tecnologias Limpas e o conceito de excelência

ambiental, avaliando a organização pelo seu desempenho produtivo e

econômico, por seus valores éticos e pela performance ambiental.

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2.10.4 Influência nas Demais Unidades Administrativas

Com a evolução da função ambiental na organização, algumas

empresas passam a integrar a responsabilidade ambiental na sua gestão

administrativa, atingindo as mais altas esferas de decisão. A função ambiental

deixa de ser uma função exclusiva da produção e se torna uma função

administrativa, interferindo no planejamento estratégico, no desenvolvimento

das atividades de rotina e na discussão dos cenários alternativos, gerando

políticas, metas e planos de ação (MAIMON, 1996).

Em virtude de uma ligação funcional maior ou menor com a área

ambiental, as demais unidades administrativas são afetadas de forma

diferenciada, segundo mostra uma pesquisa realizada pelo Ministério Federal

do Ambiente, na Alemanha, com cerca de 600 empresas, ocasião em que

demonstra que a questão ambiental tem maior impacto na área de produção e

quase nenhuma influência no setor de Contabilidade, como pode se verificar na

Figura 04.

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Neste sentido e para que a causa ambiental da empresa atinja

seus objetivos, a atividade de meio ambiente na organização deve potencializar

ao máximo sua atuação junto aos demais setores da empresa, buscando

integração profissional, responsável e perfeita sintonia de interesses.

22..1111 EEIIAA//RRIIMMAA

Foi na década de 30 que os estudos dos impactos ambientais-

EIA começaram a ser sistematizados para avaliar a influência que alguns

grandes projetos exerciam sobre as populações; todavia, só na década de 70 é

que o Estudo de Impacto Ambiental passa a ser identificado e exigido em

alguns países industrializados.

O EIA e o RIMA – Relatório de Impacto Ambiental, tornaram-se

peças importantes nos processos de aprovação e licenciamento de novos

empreendimentos e de ampliação e empreendimentos já existentes,

83

67 6

3 57 4

1 34

19 1

4 14

5

Produç

Marketi

R.H Finanç

Contabilida

P & D Supriment

Planejam

Relações

Figura 04: Áreas funcionais afetadas diferen temente em relação à questão ambiental (em %)

Fonte: Ministério Federal do Ambiente da Alemanha c om a participação do BAUM, apud DONAIRE (1999:92)

Administração

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incluindo alternativas e propondo soluções para minimizar ou abrandar

eventuais prejuízos que possam ser causados ao ambiente (VALLE, 1995).

Segundo Santos (1993), os Estudos de Impacto nos Estados

Unidos foram definidos em congresso, nos anos 70, e passaram a ser

obrigatórios para empreendimentos não só de cunho governamental mas,

também, para empreendimentos que envolvessem a iniciativa privada. Em

1973, o Canadá também adotou os EIA’s, seguido pela Alemanha, em 1975,

e a França, em 1976. Apenas em 1989 foi que o Brasil começou com um

programa de conscientização ambiental, para que se fizessem avaliações

ambientais, tanto de programas governamentais como de iniciativa privada.

Em 1986 surge a Resolução Conama No. 1, que teve por objetivo

implantar a obrigatoriedade dos Estudos de Impacto Ambiental, pretendendo

que o empreendedor fizesse um relatório, qualificando o ambiente.

A Resolução Conama, elaborada em janeiro de 1976, tem a

seguinte definição:

Artigo 1º.: Para efeito desta resolução, considera-se impacto

ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas

do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia

resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente, afetam

segurança, saúde, bem-estar, atividades socioeconômicas, biota, condições

estéticas e sanitárias, qualidade dos recursos ambientais.

Isto significa que qualquer empreendimento pode estar

enquadrado dentro deste artigo. Apesar de haver uma listagem de

empreendimentos que necessitam de RIMA, com área de atuação de definição,

é sempre conveniente que o empreendedor faça uma consulta ao órgão

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licenciador, no sentido de saber se aquele empreendimento necessita ou não

de EIA/RIMA.

Conforme Santos (1993), ao se iniciar um Estudo de Impacto

Ambiental deve-se procurar descobrir qual a ideologia por detrás desse

empreendimento e quais os ecologismos nele envolvidos, assim como

identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados na fase

de implantação e operação das atividades.

O grande problema dos EIA’s se refere às técnicas experimentais,

não se têm dados reais das áreas e muito menos dados contínuos, além de se

trabalhar muito mais com o saber ecológico que com a ciência da ecologia. O

saber ecológico é o conhecimento de relação direta que existe, por exemplo,

entre o pescador e o peixe. Ele sabe onde dá peixe, a época, qual o peixe que

existe naquele rio, mas ele não conhece toda a relação que ocorre no estrato

nos diferentes níveis: o que acontece com o rio, com a água, com o peixe, com

o homem etc; ele não fecha o ciclo, porque não tem o domínio da ciência (Id.

ibid., 1993).

22..1122 LLEEGGIISSLLAAÇÇÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL

No Brasil, até o início da década de 70 não havia uma legislação

específica que abordasse o tema ambiental, mas apenas algumas normas e

regulamentos que tratassem da proteção à fauna e à flora, da segurança e

higiene industrial e da saúde pública (VALLE, 1995).

A Constituição de 1988 inovou realmente, dando uma conotação

global ao meio ambiente que, inclusive, afeta o ambiente no trabalho. E foram

introduzidos, também, na Constituição, princípios norteadores dessa proteção,

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os quais que devem ser seguidos não apenas pelo Estado mas pelo Poder

Público, tendo em vista que compromete toda a coletividade. A preservação do

meio ambiente e das espécies, o desenvolvimento sustentado, tudo isto foi

introduzido na nossa legislação e vem sendo aprimorado a cada dia, dentro da

Constituição Federal, e nas constituições dos estados que, espelhando-se na

Constituição Federal, repetiram uma série de princípios.

“Ao instalar uma obra, um empreendimento, uma atividade que

seja efetiva ou potencialmente poluidora, é necessário a realização prévia de

um Estudo de Impacto Ambiental” (OLIVEIRA, 1993:61).

A lei 6938, de 1981, já versava sobre isto, e posteriormente foi

introduzida na Constituição Federal na qual também prevê o crime ecológico,

imputável não somente à pessoa física mas também à pessoa jurídica.

A Constituição Federal estabelece, em artigos simples, que os

Estados e Municípios podem, em determinados casos, legislar em matéria

ambiental. Assim, o Artigo 23 da Constituição Federal estabelece a

competência comum dos estados, Distrito Federal e municípios para cuidar da

saúde, proteger o meio ambiente, o consumidor, bens e direitos de valor

artístico, estético, turístico e paisagístico.

No caso das indústrias, efetiva ou potencialmente poluidoras,

encontra-se uma série de normas além daquelas ditadas pelas constituições.

Tais normas traçam uma série de diretrizes a serem seguidas pelas empresas

na implantação dos seus processos produtivos. Conforme relato de Oliveira

(1993), desde 1975 já existia uma norma que tratava das indústrias

efetivamente poluidoras. O decreto-lei 1.413 é um exemplo disto, pois obriga as

indústrias instaladas a corrigirem fontes de poluição existentes e as indústrias a

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serem instaladas a adotarem medidas preventivas. Portanto, a prevenção já

era fator de preocupação em 1975, com este Decreto-lei, que também criava o

zoneamento urbano para as áreas críticas de poluição objetivando, inclusive,

para situações existentes, viabilizar alternativa adequada de nova localização,

nos casos mais graves.

Ainda Oliveira (1993), observou-se um avanço nas leis

ambientais. A lei 6803 de 1980, por exemplo, introduziu o processo de

avaliação de Impacto Ambiental permitindo estabelecer-se a confiabilidade da

solução a ser adotada.

O Artigo 14 recai de alguma forma, sobre o princípio do poluidor-

pagador, estabelecendo penalidades aos infratores das normas e causadores

de degradação ambiental; estabelece penalidades, sobretudo nos casos de

omissão da autoridade pública e cria a figura do crime ecológico; também

estabelece o princípio segundo o qual os órgãos financiadores públicos não

podem conceder incentivos às empresas que não obedecem às normas de

prevenção e preservação do meio ambiente.

No tocante aos resíduos sólidos, a Portaria Ministerial 53, de

1979, traça diretrizes sobre o lixo, os projetos de tratamento e disposição de

resíduos sólidos, assim como a fiscalização da sua implantação, operação e

manutenção.

Ainda na área dos resíduos sólidos, encontra-se a Resolução do

Conama No. 6, 1989, que estabelece que as indústrias geradoras de resíduos

com orientação do órgão ambiental deverão, no prazo de 90 dias a partir da

publicação da resolução ou a partir de 60 dias após a notificação, apresentar

ao órgão ambiental competente informações sobre a geração, características e

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90

destino final dos seus resíduos. Determina, ainda, que, no processo de

licenciamento ambiental, os resíduos gerados ou existentes devem ser objeto

de controle específico.

Conforme Valle (1995), como órgãos federais executores da

política do meio ambiente, tem-se: o Sistema Nacional do Meio Ambiente

(SISNAMA), o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), como órgão

consultivo e normativo, e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

22..1133 IIMMPPAACCTTOO AAMMBBIIEENNTTAALL NNAA CCOOTTOONNIICCUULLTTUURRAA

Conforme artigo publicado no Anuário Brasileiro do Algodão

(2002), a preocupação ambiental e a redução de custos, expedientes que

podem assegurar mais competitividade à pluma brasileira no mercado

internacional, estão motivando os cotonicultores do cerrado a buscarem a

diminuição dos volumes de agrotóxicos usados na lavoura. O setor se esforça

para conseguir o equilíbrio entre as exigências do pacote tecnológico para a

região do cerrado, dependente de fertilização química diante da incidência de

pragas e doenças em grandes plantações, e o comprometimento ambiental

decorrente desse sistema produtivo.

A busca de competitividade e a redução de riscos ambientais

constituem os dois principais argumentos para que os produtores do cerrado

defendam, com muita ênfase a liberação do cultivo de variedades de algodão

geneticamente modificado no País.

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Zandonadi (2002), comenta a respeito do programa estadual de

fomento à cultura (o Proalmat) que fixa procedimentos de preocupação

ambiental, como requisitos para que o produtor tenha direito a incentivo fiscal.

Uma dessas medidas é o recolhimento de embalagens vazias de agrotóxicos,

encaminhadas a centrais regionalizadas de onde ganham, posteriormente,

destino adequado.

Além disso, os cotonicultores fazem adequações possíveis em

aspectos como tecnologia e meio ambiente. Em conjunto com o escritório do

Instituto Nacional de Defesa Ambiental (INDEA), o setor promove levantamento

para conhecer a realidade estadual nessas áreas.

2.13.1 O Peso dos Inseticidas

O peso econômico e ambiental dos inseticidas é, cada vez mais,

uma preocupação dos produtores e do setor de pesquisas da cotonicultura

brasileira. Preocupante ou não, a verdade é que, afora alguns pesquisadores e

raros produtores, pouco tem sido feito na prática para a redução de

agroquímicos no controle de pragas. A Associação Baiana (ABAPA) estima em

20% a participação dos inseticidas na composição do custo de produção da

lavoura algodoeira.

Conforme Silva (2002), os obstáculos para reduzir esses volumes

começam pelas dimensões da cultura no cerrado, que varia de 100 a 03 mil

hectares. O controle biológico, ou através de técnicas pouco ou não-agressivas

ao meio ambiente, torna-se difícil por se tratar de uma cultura de larga escala.

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92

Em regiões de agricultura familiar ainda é possível realizar-se alguns projetos

neste sentido.

Ainda Silva (2002), na região do cerrado o foco do agricultor está

no lucro e a preocupação com o meio ambiente ainda é baixa. Os produtores

voltam os olhos para esta questão mas por outro motivo: a necessidade de

reduzir o custo de produção, que aumenta na mesma proporção da demanda

por inseticidas nessas regiões, e de viabilizar economicamente o seu

agronegócio.

Esta condição de altos custos de produção e a necessidade de

viabilizar economicamente a atividade algodoeira, levam os agricultores,

mesmo que de maneira incipiente, a se preocuparem com a otimização do uso

desses insumos, principalmente os inseticidas.

Nas áreas de agricultura familiar, em especial no Nordeste e em

regiões muito particulares do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas

Gerais e Goiás, a situação é diferente. Os recursos disponíveis são menores e,

por isso, tendem a ser bem aplicados. Esta situação força a baixa utilização de

inseticidas. Às vezes, deste procedimento resulta uma produtividade menor,

mas se cria uma condição de maior equilíbrio ambiental no sistema produtivo.

2.13.2 Equilíbrio Ambiental na Lavoura de Algodão

Silva (2002), explica que, para alcançar bom nível de equilíbrio

ambiental e reduzir os custos com a utilização de agroquímicos na lavoura de

algodão, principalmente de inseticidas, existem alguns caminhos que podem

ser seguidos. Uma das principais tecnologias está disponível aos produtores há

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mais de 20 anos; trata-se do Manejo Integrado de Pragas na Cultura do

Algodão (MIP), que se baseia na utilização de diversas técnicas de controle

que não somente a química. São elas:

1. Controle Biológico: consiste na utilização de predadores patogénos e

parasitórios para o controle de pragas. Cria condição propícia de controle

cultural com maior presença de organismos benéficos. Muitos produtores

estão adotando este sistema, mesmo que em áreas menores e

experimentais, delimitadas em suas lavouras.

2. Controle Cultural: trata-se de um pacote de práticas e ações com reflexo

direto na condição de manejo da cultura. Observa, com rigor, quesitos como

a época do plantio, a manipulação de cultivar (podendo optar por ciclo

produtivo mais curto, reduzindo tempo de exposição para o ataque da

praga). Ao planejar a lavoura, o produtor também pode escolher variedades

resistentes às viroses transmitidas pelo pulgão, por exemplo, com bons

resultados.

3. Densidade de Plantio: é uma observação importante que o cotonicultor deve

fazer. Se adensar muito a disposição das plantas na lavoura, a calda do

inseticida não atingirá o inseto; se, no entanto, ele preferir distanciar demais

as plantas, perderá produção por área.

4. Armadilhas: a utilização de planta-isca ou cultura-armadilha, também integra

o pacote do MIP. Trata-se de uma estratégia de plantio antecipado de

algumas faias de algodão, permitindo que diversas pragas colonizem essas

áreas bem antes e, através de pulverização com inseticida químico, sejam

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eliminadas. Assim, é possível evitar que as pragas atinjam a lavoura

comercial. Uma das armas disponíveis neste esquema de controle é o tubo

mata – bicudo (TMB), desenvolvido nos Estados Unidos. O dispositivo

contém feromônio para atrair os insetos e é formado por cilindro impregnado

com malation (inseticida) e óleo de algodão. Há outras armadilhas de

feromônio utilizadas tanto para o controle do bicudo quanto de lagartas que

atacam o algodoeiro.

5. Rotação de Culturas: a rotação de culturas é mais uma prática recomendada

no MIP, como forma de controlar a presença de insetos no algodoeiro e nas

outras alternativas de produção. No Nordeste, os produtores preferem fazer

rotação com o milho. Nas regiões do cerrado, usa-se também a soja como

alternativa importante. Alterando as culturas e utilizando grupos

diferenciados de inseticidas, torna-se mais fácil o controle.

6. Monitoramento: o monitoramento de pragas também é uma ferramenta do

MIP que apresenta grande vantagem. Uma amostragem no campo para

identificar os níveis populacionais das pragas pode determinar os volumes

de inseticidas e a hora da aplicação. O MIP prevê um nível de aplicação

para cada praga, de acordo com uma escala técnica.

A Educação, também é um fator significativo para se trabalhar o

equilíbrio ambiental na cotonicultura; todavia, conforme Silva (2002), um dos

entraves para a redução dos volumes de agroquímicos utilizados na lavoura do

algodão, é cultural, ou seja, as pessoas não têm consciência, ou mesmo não

são treinadas e/ou informadas para utilizar quantidades exatas de

agroquímicos havendo, assim, uma necessidade represada de programas que

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eduquem os produtores para identificar, com sua assistência técnica, os

volumes necessários.

O fato da cultura do algodão não ter função alimentar, talvez

facilite este procedimento abusivo de uso de agrotóxicos; em outras palavras,

a ignorância, ou melhor, a falta de consciência, faz com que as pessoas

abusem das quantidades de agrotóxicos utilizados na lavoura quando, na

realidade, se houvesse um esforço maior em treinar essas pessoas no intuito

de conscientizá-las para o uso padronizado desses inseticidas, o impacto

ambiental seria, necessariamente, evitado.

Outro equívoco muito observado é quanto às misturas de vários

produtos químicos na realização de diversas pulverizações. Às vezes, o

produtor pode utilizar apenas um produto, mas utiliza até dez. As pessoas não

compreendem bem e acabam utilizando mais produtos nas misturas que o

necessário, razão por que precisam ser bem treinadas e/ou educadas,

principalmente quanto aos riscos à saúde.

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“As tempestades fazem os carvalhos

aprofundarem suas raízes.”

George Herbet

33..00 -- MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA

A metodologia científica pode ser definida como o conjunto das

atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia,

permite alcançar o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as

decisões do cientista (LAKATOS & MARCONI, 1999).

“A busca da realização humana induz o homem a uma postura racional de perquirição que o leva necessariamente a adotar um conjunto organizado de métodos, técnicas e instrumentos capazes de ajudá-lo na materialização daquele objetivo. Assim, a pesquisa científica pode ser caracterizada como atividade intelectual que visa responder à necessidade humana do conhecer” (SILVA, 2002:98).

Desta forma, a metodologia permite que se obtenham dados

através da utilização de técnicas e instrumentos de pesquisa em um campo de

observação, objetivando confrontá-los, posteriormente, com bases teóricas

capazes de descrever e explicar os fenômenos estudados.

Na metodologia utilizada neste trabalho, foram descritos os

seguintes aspectos: 1. Natureza da Pesquisa; 2. Variáveis; 3. Instrumentos de

Pesquisa; 4.Sujeitos da Pesquisa e 5. Esquema Geral da Pesquisa.

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33..11 NNAATTUURREEZZAA DDAA PPEESSQQUUIISSAA

Realizou-se um estudo de caso em duas indústrias têxteis de

segmentos distintos; fiação e malharia; a primeira, localizada na cidade de

Campina Grande, com cerca de 1200 funcionários e destinada à fabricação de

fio e a segunda, sediada na cidade de João Pessoa, ambas na Paraíba, com

80 funcionários e destinada à fabricação de malhas. Essas empresas foram as

escolhidas visto que, além de serem as mais representativas dentro da cadeia

têxtil, são as únicas que trabalham no seu processo com o algodão colorido.

Este estudo se caracterizou descritivo-comparativo-explicativo,

tendo ccomo forma de argumentação, os processos de indução e dedução, pois

foram processos que se complementaram, uma vez que na prática, recorreu-se

a ambos os instrumentos para demonstrar a verdade das proposições

submetidas à análise.

O estudo descritivo-comparativo caracterizou-se pelo fato de

descrever o processo produtivo do algodão colorido, confrontando-se com o

algodão branco; explicativo, porque visou identificar e explicar os impactos

ambientais e operacionais da industrialização do algodão de fibra colorida nos

segmentos de fiação e malharia da indústria têxtil paraibana.

Conforme Oliveira (1997) apud Silva (2002), o estudo descritivo

possibilita o desenvolvimento de um nível de análise em que se permite

identificar as diferentes formas dos fenômenos, sua ordenação e classificação,

dando margem também à explicação das relações de causa e efeito dos

fenômenos, ou seja, analisa o papel das variáveis que, de certa maneira,

influenciam ou causam o aparecimento dos fenômenos.

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98

33..22 VVAARRIIÁÁVVEEIISS

Com o objetivo de estudar os reflexos ambientais e operacionais

decorrentes do processo de industrialização do algodão de fibra colorida, fez-

se necessário considerar algumas variáveis que influenciaram no resultado

dessa pesquisa. Alguns aspectos estão apresentadas no Quadro 10:

VARIÁVEIS INDICADOR

� Resistência da fibra g/tex

� Comprimento da fibra UHM (polegadas) e SL (mm)

Características intrínsecas da fibra no processo de fiação � Uniformidade da fibra UI e UR

� Tempo de setup h

� Porcentagem de perda (%)

� Custo de industrialização R$

� Tempo de processamento dias

Quanto ao Processo na Indústria de Fiação

� Produtividade (%)

� Produtividade (%)

� Consumo de mão-de-obra no de operadores

� Máquinas envolvidas quantidade

� Tempo de processamento h

� Porcentagem de perda (%)

Quanto ao Processo na Indústria de Malharia

� Tempo de setup h

� Consumo de água L / kg malha tingida

� Consumo de energia Kw / kg malha tingida

� Toxicidade dos efluentes Quais produtos utilizados

Quanto ao Impacto Ambiental (I.A)

� Nível de ruído decibel

Quadro 10: Variáveis analisadas no processo produtivo têxtil Fonte: Pesquisa direta, 2004

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99

3.2.1 Quanto ao Processo na Indústria de Fiação

A priori, as variáveis estudadas neste tipo de indústria foram

variáveis intrínsecas a matéria-prima utilizada no processo de fiação, conforme

especificado no estado da arte. Fez-se necessário seu estudo para garantir que

o fio produzido (produto acabado da indústria de fiação) chegasse à indústria

de malharia como matéria-prima de boa qualidade garantindo, assim, um

produto final qualificado; essas variáveis foram: resistência, comprimento e

uniformidade da fibra do algodão, todas estas analisadas nos equipamentos do

laboratório físico da empresa. Os outros tipos de variáveis estudadas foram:

- Tempo de setup: através de documentação da empresa

fornecida pelo gerente de produção, obteve-se o tempo gasto

em horas para preparar as máquinas para fazer o fio colorido

e depois o fio branco e vice-versa.

- Percentagem de perda: por meio de entrevista com o gerente

de produção, obteve-se a percentagem de perda no processo

envolvendo os dois tipos de algodão.

- Custo de industrialização: por meio de entrevista com o

gerente geral e o contador da empresa, apurou-se quanto

custava para industrializar os dois tipos de algodão. Neste

custo estava incluso o custo de mão-de-obra (M.O), matéria-

prima (M.P), impostos e energia.

- Tempo de processamento: também através de entrevista com

o gerente de produção e de documentação, obteve-se quanto

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100

tempo, em dias, eram necessários para produzir o fio do

algodão colorido e do algodão branco.

- Produtividade: obteve-se, por meio de protocolo da própria

máquina, fornecido pelo gerente de produção, a percentagem

de produtividade alcançada no processo com os dois tipos de

algodão.

Para levantamento de todos esses dados, utilizou-se de um

roteiro de entrevista (apêndice A).

3.2.2 Quanto ao Processo na Indústria de Malharia

As variáveis estudadas neste tipo de indústria se diferenciaram

um pouco das estudadas na indústria de fiação pois, uma vez observado todo o

processo produtivo na malharia, pôde-se perceber que alguns parâmetros são

eminentemente significativos como, por exemplo, mão-de-obra e número de

máquinas, que na indústria de fiação não se tinha quantidade diferenciada.

Outro ponto importante que não se pode deixar de comentar, é que na malharia

se pôde apurar dados mais significativos em relação aos impactos ambientais.

Desta forma, as variáveis pesquisadas foram:

- Mão-de-obra empregada: por meio de entrevista com o

gerente de produção (beneficiamento) obteve-se a quantidade

de operadores necessários para trabalharem na fabricação da

malha com o algodão tingido e com o algodão colorido.

- Máquinas envolvidas: ainda em entrevista com o gerente de

produção e observação direta, verificou-se a quantidade de

máquinas necessárias para se trabalhar nos dois tipos de

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101

processos, independentemente da quantidade de matéria-

prima processada.

- Produção: por meio de documentação cedida pela empresa

coletou-se quanto se produzia por dia de malha, nos dois

processos.

- Produtividade, tempo de processamento, porcentagem de

perda e tempo de setup foram variáveis pesquisadas e

trabalhadas da mesma forma nas duas empresas visitadas.

Para levantamento desses dados, utilizou-se um roteiro de

entrevista (apêndice B).

3.2.3 Quanto ao Impacto Ambiental (I.A)

No tocante aos impactos ambientais, procurou-se obter variáveis

comparativas relacionadas à fabricação do fio e da malha do algodão comum e

do algodão colorido. As variáveis foram:

- Consumo de água: por meio de entrevista com o gerente de

produção e através de documentação da empresa, apurou-se a

quantidade de água (litros) gasta no processo de

beneficiamento têxtil da malha do algodão comum e se fez uma

comparação, também por meio de documentação, com o

mesmo processo, utilizando-se a malha de algodão colorido.

- Consumo de energia: através de documentação e entrevista

com o gerente de produção, apurou-se a quantidade (Kilowatts)

gasta com energia no processo de beneficiamento têxtil da

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102

malha do algodão comum e se fez uma comparação com o

mesmo processo, utilizando-se a malha do algodão colorido.

- Toxicidade de efluentes: a toxicidade dos efluentes é definida

tanto pelos produtos químicos utilizados no beneficiamento

têxtil que gera resíduo, quanto pela sua quantidade; assim, ao

se trabalhar com esta variável, procurou-se identificar, por meio

de entrevista com o gerente de produção, os produtos

utilizados em cada etapa do processo produtivo do

beneficiamento têxtil, e quais as etapas que geram resíduos

líquidos e em que quantidade.

- Ruídos: através de observação direta e por meio de entrevista

com o gerente de produção, obteve-se o nível de ruído em

cada etapa do processo na indústria de fiação e na indústria de

malharia.

Impactos como nível de poeira e calor foram observados apenas

diretamente, mas não medidos; já quanto aos resíduos sólidos e/ou gasosos,

estes foram coletados através de documentação da empresa.

33..33 IINNSSTTRRUUMMEENNTTOOSS DDEE PPEESSQQUUIISSAA

- Pesquisa bibliográfica: através de consultas a trabalhos técnicos

publicados em revistas científicas, livros têxteis, jornais regionais

e/ou nacionais, que ofereceram informações sobre o algodão de

fibras coloridas etc.

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103

- Coleta documental: por meio de documentação direta

(procedimentos e registros fornecidos pela própria empresa).

- Pesquisa de Campo: fazendo-se o levantamento de dados no

próprio local onde os fenômenos ocorreram.

- Observação direta: através de informações, utilizando-as no sentido

de se obter determinados aspectos da realidade.

- Entrevista por pauta: com auxílio de gravador, buscando-se

informações do entrevistado acerca do assunto estudado como, por

exemplo, explicitar o processo de tingimento realizado, a quantidade

de malha tingida, o tratamento dispensado à água depois do

processo de tingimento etc.

O trabalho foi realizado in loco, analisando-se cada etapa do

processo produtivo da indústria têxtil, precisamente a parte de fiação na

indústria 1, desde a abertura de fardos até a fiação propriamente dita, e o

beneficiamento têxtil na indústria 2, desde a malharia até o acabamento. A

partir daí, obtiveram-se informações necessárias e se fez uma descrição e

análise dos processos.

33..44 SSUUJJEEIITTOOSS DDAA PPEESSQQUUIISSAA

Para se obter os dados necessários às análises, foram

entrevistados os gerentes das empresas objeto de estudo, mais precisamente

o gerente de processos, responsável pela análise da matéria-prima utilizada na

fiação, o gerente de produção, que responde pela fabricação do fio de algodão,

o gerente geral e o de contabilidade, para se saber os custos de

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104

industrialização, e o gerente de beneficiamento, responsável por todo o

processo de fabricação das malhas, os quais são detentores da mais completa

informação acerca do tema objeto da pesquisa.

33..55 MMOODDEELLOO DDEE GGEESSTTÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL PPAARRAA

IINNDDÚÚSSTTRRIIAA TTÊÊXXTTIILL

Conforme Moreira (2001), a identificação dos impactos ambientais

é feita a partir da análise das atividades da organização.

Cada etapa de um determinado processo deve ser analisada

buscando-se identificar os aspectos associados, tais como: consumo de água,

de energia, geração de resíduos, efluentes, ruídos, poeira, temperatura, etc. Ao

se identificar um aspecto importante, deve-se especificar ao máximo suas

características ou seus elementos básicos de composição e, sempre que

possível, suas quantidades ou volumes. Em outras palavras, saber os resíduos

gerados; quais efluentes; se as quantidades são excessivas, dentre outros. A

análise subseqüente vai depender muito desta especificação.

Diante disso, verifica-se que uma mesma etapa pode gerar um ou

vários aspectos que, por sua vez, podem gerar um ou vários impactos. Para

cada aspecto devem-se identificar os impactos reais ou potenciais no meio

ambiente.

Com o intuito de propor desdobramentos futuros em consonância

com o modelo teórico adotado, aponta-se na Figura 05 um modelo de gestão

ambiental utilizado nesta pesquisa, onde a política ambiental é diagnosticada

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105

por meio das prioridades identificadas; os programas ambientais analisam

variáveis como: poluição sonora, poluição do ar, recursos hídricos, resíduos

sólidos, consumo de energia, etc.

Analisadas estas variáveis, implementam-se ações no intuito de

diminuir o impacto ambiental. Após a implementação, os resultados devem ser

medidos e monitorados para daí, poder aperfeiçoar o processo e encaminhá-

los a política ambiental da organização.

Figura 05: Modelo de Gestão ambiental para a indústria têxtil Fonte: Pesquisa direta, 2005

Política ambiental

Diagnóstico

Prioridades identificadas

Programas ambientais / Planos operacionais

Poluição sonora

Poluição do ar

Recursos

hídricos

Resíduos sólidos

Consumo de

energia

Implementar ações para diminuição do impacto ambiental

Medir resultados / Monitorar as etapas

Aperfeiçoar o processo

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106

33..66 EESSQQUUEEMMAA GGEERRAALL DDAA PPEESSQQUUIISSAA

Instrumentos de Pesquisa Objetivos Pretendidos Variáveis Utilizadas Pesq.

Bibl. Col. Doc.

Pesq. Camp.

Obs. Dir.

Ent.

- Resistência, comprimento e uniformidade da fibra

x x x x x

-Perda no processo x x x - Qt. de máquinas envolvidas x x x x

- Produtividade x x x - Tempo de processamento x x x x

- Energia x x x - Água x x x

11.. Descrever o processo produtivo têxtil do algodão comum e do algodão colorido em cada etapa do processo de fiação e malharia

- Mão-de-obra envolvida x x x x

- Resistência, comprimento e uniformidade da fibra

x x x x x

- Tempo de setup x x x x - Perda no processo x x x - Custo no processo x x - Tempo de processamento x x x x

- Mão-de-obra envolvida x x x x

- Qt. de máquinas envolvidas x x x x

- Energia x x x - Água x x x - Produção (dia) x x x

2. Comparar o processo produtivo do algodão comum com o algodão colorido nos segmentos de fiação e malharia como um todo

- Produtividade x x x

- Consumo de água x x x x

- Consumo de energia x x x

- Toxicidade dos efluentes x x x x x

3. Identificar os impactos ambientais do algodão comum em todas as etapas do processo produtivo das indústrias pesquisadas - Nível de ruído x x x x x

- Consumo de água x x x x

- Consumo de energia x x x x

4. Verificar os benefícios ambientais ocorridos com a industrialização do algodão colorido

- Toxicidade dos efluentes x x x x x

Quadro 11: Esquema geral de pesquisa nas indústrias objeto de estudo Fonte: Pesquisa direta, 2004

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107

“Muitas pessoas devem a grandeza de suas vidas aos problemas e obstáculos que tiveram de vencer”

Spurgeon

CAPÍTULO IV – RESULTADOS ALCANÇADOS

Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa realizada

conforme os procedimentos metodológicos relatados no capítulo antecedente.

A priori, far-se-á uma exposição das características mais gerais

das empresas objeto do estudo, procurando-se expor, aos leitores, o processo

produtivo que cada uma das empresas utiliza deixando-os, assim, mais

familiarizados com a pesquisa.

Esta estrutura de apresentação foi escolhida com o propósito de

se alcançar cada objetivo específico pretendido, tornando o documento mais

consistente e compreensível.

Deseja-se que o objetivo geral seja atingido como resultante do

alcance dos objetivos específicos, reservando-se o capítulo posterior para as

conclusões e recomendações.

4.1 DESCRIÇÃO DAS EMPRESAS OBJETO DO ESTUDO

O setor têxtil é constituído dos segmentos de fiação, tecelagem e/ou

malharia e acabamento de malhas e tecidos. A descontinuidade do processo

produtivo é uma característica marcante da indústria têxtil, razão pela qual

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108

suas etapas não precisam ser, necessariamente, internalizadas pelas

empresas. É comum a especialização em apenas um ou dois segmentos,

como é o caso das empresas objeto de estudo.

A pesquisa foi realizada em duas empresas, uma de pequeno porte,

destinada apenas ao seguimento de malharia, e a outra, multinacional

destinada apenas à fabricação do fio (fiação), identificando-se, em cada

uma, as peculiaridades do seu sistema produtivo.

4.1.1 Empresa Têxtil 1 – Fiação A empresa de fiação está localizada na cidade de Campina Grande,

Paraíba, com área total de 670.640 m2 e área construída de 132.531 m2,

enquadrando-se no segmento tradicional por se inserir no gênero industrial

têxtil. Seu quadro de funcionários é de 1.170, estando, assim, distribuídos:

164 no setor administrativo e 1.006 no setor produtivo. Seu regime de

trabalho obedece a dois turnos: o primeiro se inicia às 6:00h e termina às

18:00h e o segundo, das 18:00h às 06:00h. Esses trabalhadores trabalham

quatro dias consecutivos e folgam dois, por semana. Sua estrutura

organizacional se apresenta conforme o organograma exposto na Figura

06:

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109

Figura 06: Organograma da Empresa de Fiação Fonte: Documentação cedida pela empresa, 2004

Este organograma apresenta a complexidade de seus

departamentos. Sua estrutura organizacional está assim distribuída: no topo

encontra-se o diretor geral, que comanda toda a organização; logo abaixo,

estão as gerências dos departamentos, comandadas por engenheiros que têm,

sob sua responsabilidade, alguns subsetores, como o gerente da controladoria

que responde pela contabilidade e patrimônio, a divisão da engenharia,

responsável pela manutenção elétrica, mecânica, predial, térmica e por novos

projetos.

A seguir, vê-se a divisão do financeiro com contas a pagar,

importação e exportação; depois se tem a divisão de suprimentos, encarregada

Divisão

Controladoria

Divisão da Produção

Contas a Pagar

Contabilidade

Patrimônio

Divisão de

Processo

Têxtil

Divisão de Suprimentos

Divisão do Financeiro

Divisão da

Engenharia

Importação Exportação

Laboratório

Físico

Qualidade

PCP

Divisão de

Recursos

Humanos

Compras

Elétrica

Civil Térmica

Mecânica

Novos Projetos

Almoxarifado

Expedição e Faturamento

Matéria Prima

Setor de Pessoal

Setor de Medicina e Segurança do Trabalho

Setor de

Transporte

Segurança Patrimonial

RS

T

DIRETOR

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por setores como compras, expedição e faturamento, almoxarifado e matérias-

primas.

Na divisão do processo têxtil encontram-se o laboratório físico, o

PCP e a gestão da qualidade e, nos recursos humanos, o setor de pessoal, o

setor de medicina e segurança do trabalho, a segurança patrimonial, o setor de

transporte e o recrutamento, seleção e treinamento de pessoal. A única

gerência que não tem nenhum outro setor sob sua responsabilidade, é a

produção, que fabrica produtos como fios de algodão e poliéster, divididos em:

100% algodão, 100% poliéster, 50/50% (poliéster/algodão), 67/33%

(poliéster/algodão), 45/55% (algodão/poliéster), 90/10% (poliéster/algodão),

dentre outros. Sua capacidade de produção/dia é de 152 toneladas, variando

de acordo com o artigo fabricado.

A empresa destina 96% de sua produção de fio a todo o Brasil e

apenas 4% à exportação; sua produção é contínua, sofrendo paradas apenas

duas vezes ao ano, ou seja, na Sexta-feira Santa e no Dia do Trabalho.

É uma empresa muito organizada, porém ainda não tem

certificação ISO 9000, estando em processo de padronização de seus

procedimentos. Na área de segurança existe a Comissão Interna de Prevenção

de Acidentes – CIPA, renovada a cada ano e cuja meta primordial é a

segurança de seus funcionários. Quanto à gestão ambiental, esta também não

tem certificação ISO 14000, mesmo porque neste tipo de empresa não há nada

que venha verdadeiramente comprometer o meio ambiente; no tocante à

responsabilidade social, ela trabalha há dois anos com uma escola de

formação profissionalizante para jovens entre 15 e 16 anos, que estão na faixa

de risco.

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4.1.2 Empresa Têxtil 2 – Malharia

A empresa de malharia localiza-se na cidade de João Pessoa, Paraíba, e

ocupa 44.000 m2 de área, sendo 4.730 m2 de área construída para tinturaria

e 200 m2 de área destinada ao sistema de tratamento de efluentes; se

enquadra no segmento tradicional por se inserir no gênero industrial têxtil;

seu quadro de funcionários é pequeno, se comparada à empresa de fiação,

contando apenas com 80 funcionários no total, dentre os quais: 14 no setor

administrativo e 66 no setor produtivo. Seu regime de trabalho obedece a

três turnos: o primeiro das 6:00h às 14:00h; o segundo das 14:00h às 22:00h

e o terceiro das 22:00h às 6:00h, trabalhando-se seis dias e folgando um por

semana.

Sua estrutura organizacional se apresenta conforme o

organograma representado na Figura 07:

Figura 07 – Organograma Simpl i f icado – Empresa de M alhar ia

Fonte: Documentação cedida pela empresa, 2004

DI

RETORIA

Gerente Geral

S.A.C

RH

Contabilidade

Sistema Financeiro

Supervisor de

Produção

Secretaria

Vendas

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O organograma desta empresa é bastante simplificado, contando com uma

diretoria e um gerente geral, que coordena os setores de produção,

financeiro, vendas, contabilidade e recursos humanos.

O serviço de atendimento aos cl ientes, e a secretaria, estão

ligados à diretoria e à gerência, como órgãos de assessoria.

O setor de produção, foco desta pesquisa, fabrica

as linhas de produtos finais, como a meia malha, divididas em: cotton,

malha piquê, moletinho, helanca, camisaria trabalhada e outros.

A indústria processa 06 toneladas de malha por dia, o equivalente a: 150

toneladas/mês e a 1800 toneladas/ano.

Quanto ao tipo de produção, esta é contínua.

A empresa destina 95% de sua produção a todo o Brasil e 5% à exportação.

Apesar de se tratar de uma pequena empresa, seu nível de organização é

muito grande, tudo é muito padronizado; todavia, ainda não existe

certificação ISO 9000. Na área de segurança sua preocupação é notória e

se estende a todos, principalmente àqueles que compõem a CIPA. Quanto à

questão ambiental, também não há certificação ISO 14000, apesar da

empresa estar inteiramente preparada; porém, devido os custos serem

efetivamente altos, não há como absorvê-los nem repassá-los aos

consumidores.

Embora seja uma pequena indústria, existe trabalho realizado na

área de responsabilidade social que consiste em um projeto de tratamento de

efluente avançado e de última geração.

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4.2 DESCRIÇÃO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS NAS

INDÚSTRIAS PESQUISADAS

Esta pesquisa foi realizada em duas empresas têxteis, isto é, nas duas

unidades mais típicas da cadeia têxtil: fiação e malharia. Neste sub-capítulo

serão discutidos melhor os processos produtivos que lhes são peculiares.

4.2.1 Produção do Fio - Empresa 1

A fibra do algodão é fornecida às indústrias têxteis em fardos

prensados, em torno de 210 kg. O processamento dos fardos é efetuado pelas

indústrias de fiações, podendo-se encontrar indústrias verticalizadas que, além

de fiação, apresentam também tecelagem e acabamento, não sendo o caso,

porém, da indústria visitada.

Pode-se iniciar a descrição do processo de industrialização das

fibras de algodão no processo de produção têxtil, da seguinte forma: o

algodão em pluma chega à fábrica em forma de fardo prensado; um grupo

predeterminado de fardos é aberto para alimentação das máquinas que

formam um conjunto de máquinas chamado abertura e limpeza que tem,

como finalidade, promover a separação e a limpeza das fibras; o algodão

assim trabalhado é conduzido em forma de manta ou de flocos, para um

outro componente do sistema de abertura, denominado carda. Esta

máquina, composta de cilindros com guarnição de metal e barras de grelha,

promove uma separação maior e limpeza das fibras; a partir deste ponto, o

material em processo assume a forma de fita, aparentemente cilíndrica.

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Através de um sistema mecânico chamado trem de estiragem, as

máquinas subseqüentes promovem um afinamento programado e constante no

material, até a obtenção do fio. Este processo de estiragem aplicado à fita, é

acompanhado de duplicação nos passadores e de torção, onde é formado o

pavio, que passa para o filatório, onde é finalmente formado o fio, com diâmetro

correspondente ao que se chama título.

A embalagem do fio saído da sala de fiação poderá ser destinada

a qualquer um dos sistemas formadores de tecido, malha ou plano, após

passar pelos processos de preparação. Dependendo da destinação final do

tecido, o mesmo poderá passar ou não por processos químicos, tornando-se

tinto ou estampado.

Em todo o processo de fabricação do fio observa-se a automação

do sistema, uma vez que a cada etapa em que se realiza a operação a própria

máquina já faz um prévio controle de qualidade, rejeitando o material que não

serve.

O fluxograma do processo indicado na Figura 08, apresenta, de

forma compactada, esta descrição, identificando ainda os impactos ambientais

no processo com os dois tipos de algodão.

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Símbolos do Gráfico Descrição do Processo

Transporte do fardo de algodão à fábrica

Inspecionar e abrir fardo na linha de abertura Impactos verificados: poeira, ruído de 89Db

Algodão transportado para as cardas

Inspecionar e paralelizar as fibras nas cardas Impactos verificados: poeira, ruído de 89Db

Transporte de fitas aos passadores de 1a.

Inspecionar e afinar o material Impactos verificados: poeira, ruído de 85Db e calor

Transporte de fitas aos passadores de 2a.

Inspecionar e afinar o material Impactos verificados: poeira, ruído de 85Db e calor

Transporte de fitas mais afinadas

Inspecionar e formar o fio Impactos verificados: ruído de 97Db e calor

Transporte do fio

Inspecionar e embalar o fio Impactos verificados: ruído de 80Db e calor

Armazenamento do fio para futuro destino

Figura 08: Fluxograma do processo produtivo do fio de algodão colorido e branco Fonte: Pesquisa direta, 2004

Dentro da seqüência de produção citada diz-se que o fio é o

primeiro produto acabado na linha de produção, já que pode ser comercializado

após sofrer um processo de bobinagem, em se tratando de sistema anel, ou

em sua embalagem original, em se tratando de fio a rotor open end.

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Em resumo, o algodão é processado na sala de abertura, nas

cardas nos passadores de primeira e segunda passagem e no filatório open-

end. Não há despejo industrial em nenhum desses processos; observam-se,

entretanto, alguns impactos ambientais nesta área, como os níveis de ruído,

chegando a 97 decibéis na etapa de fiação, o calor gerado pelas máquinas,

apesar de haver climatização, e o pó oriundo das partículas de algodão

resultantes do processo de fiação.

No tocante às características intrínsecas do algodão colorido x

algodão branco, conforme dados coletados por meio de documentação

fornecida pela empresa objeto de estudo e testes realizados no aparelho HVI

da mesma empresa, tem-se os seguintes parâmetros quanto às características

físicas do algodão colorido, mostrados no Quadro 12.

Características Algodão Colorido (Marrom) Classific ação

Resistência da fibra 25,9 gtex Média

Comprimento da fibra 26,3 em SL 2,5% (m) Média

Uniformidade da fibra 80,0% (UI) Média

Quadro 12: Características físicas do algodão colorido

Fonte: Pesquisa direta, 2004

De acordo com os resultados expressos no Quadro 12, observa-

se que a resistência do algodão de fibra colorida é considerada boa para se

obter rendimento satisfatório no processo; da mesma forma, seu comprimento

e uniformidade média garantem um resultado também satisfatório para fiação

do tipo open-end.

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Segundo o gerente de processo, após ter observado os números

fornecidos pelo aparelho HVI no tocante ao algodão colorido, esses valores de

resistência e comprimento podem ter sofrido interferência direta da umidade

relativa do ar que, de acordo com sua observação, estava com cerca de 48%

fora do laboratório (local onde foi colhida a amostra para teste) e cerca 65%

dentro do laboratório, ou seja, caso não tivesse havido interferência deste fator

sobre as variáveis, os números observados seriam outros garantindo,

possivelmente, melhor característica física à fibra do algodão colorido.

Todavia, para se fazer um estudo comparativo dessas

características, foi necessário se obter dados do algodão branco (comum),

cujas características estão representadas no Quadro 13.

Características Algodão Branco (Goiás) Classificaçã o

Resistência da fibra 27,8 gtex Resistente

Comprimento da fibra 28,78 em SL 2,5% (m) Longa

Uniformidade da fibra 83,1% (UI) Uniforme

Quadro 13: Características físicas do algodão branco

Fonte: Pesquisa direta, 2004

Analisando-se o Quadro 13, verifica-se que a resistência do algodão comum

é um pouco melhor que a indicada no Quadro 12 comparando-se com o

algodão colorido, o que lhe confere melhor rendimento, com comprimento da

fibra mais longo e mais uniforme, garantindo-lhe um desempenho melhor na

fiação.

Para efeito de análise comparativa no processo envolvendo o algodão

branco e o colorido, faz-se necessário, a priori, tecer alguns comentários a

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respeito dos indicadores utilizados na pesquisa, com o intuito de garantir

uma melhor compreensão da mesma.

Assim, esclarece-se que:

1. O comparativo no processo envolvendo os dois tipos de

algodão foi realizado nas mesmas máquinas; apresentando,

entretanto, maior e melhor ênfase ao processo de fiação

propriamente dito, mais precisamente nas máquinas open-

end, uma vez que as demais dariam resultados puramente

técnicos, dificultando ainda mais a compreensão daqueles

que não estão diretamente envolvidos com a pesquisa

2. Em relação à quantidade de máquina observada, aponta-se

que dentro de um universo de 06 linhas de abertura, 96

cardas, 56 passadores e 94 open-ends, utilizaram-se, na

pesquisa, apenas 01 linha de abertura, 08 cardas, 01

passador e 1,5 open-end, devido à pouca quantidade de

material a ser trabalhada

3. Quanto à mão-de-obra empregada no processo completo,

tem-se 06 operadores para cada linha de abertura, 01

operador para 16 cardas, 01 operador para 04 passadores e

01 operador para 07 open-ends.

Para iniciar o processo de fabricação do fio colorido, é conveniente parar a

linha de abertura (06 máquinas) até as cardas (08 máquinas) e fazer uma

limpeza minuciosa para retirada de todo o material antes utilizado; neste

processo estão envolvidas 07 pessoas, das quais uma é encarregada pela

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seção e as outras seis operadoras, também da seção. Enquanto essas

máquinas estão sendo limpadas, o processo nos passadores e na fiação

está em andamento para finalização do fio comum. Essas duas máquinas

não vão precisar da limpeza minuciosa, pois o grau de contaminação de um

algodão (branco) com outro (colorido) é praticamente nulo. Ressalta-se que

este mesmo processo é realizado para troca da fabricação do fio colorido

para o branco.

Assim, de acordo com a pesquisa realizada in loco entre os dias 09/12/04 a

11/12/04 no processo de fiação open-end na indústria têxtil de Campina

Grande, uma vez neste período ter havido boa produção em quilos

envolvendo o algodão colorido, cerca de doze toneladas, verificou-se que o

tempo de setup3 do algodão colorido e do algodão comum fica em torno de 1

hora, ou seja, neste tempo as máquinas da abertura e cardas são limpas

para processar o novo produto não havendo, portanto, diferença entre o

tempo de setup para utilização do algodão colorido e tempo de setup

envolvendo o algodão comum, independentemente da quantidade de

algodão que será processada.

A quantidade de máquinas envolvidas no processo é indicada pela urgência

no pedido; assim, pode-se processar X toneladas de fio em uma única

máquina ou esta mesma quantidade pode ser processada num grupo inteiro

de máquinas, ou seja, envolvendo as 08 máquinas do grupo.

3 Nesta indústria só existe setup na troca de matéria-prima (algodão – poliéster) ou para manutenção preventiva (perda programada); todavia, como cerca de 99% dos fios fabricados são de algodão, este tempo de setup só é realmente medido quando se trabalha, eventualmente, com a fabricação do fio colorido

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Quanto à perda de material no processo produtivo, nota-se que esta, por ser

uma questão de escala, é bem mais intensificada com a utilização do

algodão colorido, sua quantidade ser ainda muito pequena para se trabalhar

nesta indústria, onde a capacidade de produção/dia é de 152 toneladas e a

maior quantidade processada deste algodão foi, até hoje, de 15 toneladas.

Para se ter uma idéia, cerca de 10% do algodão colorido são perdidos

dentro das máquinas e não podem ser reprocessados devido à sua pequena

quantidade, diferentemente do algodão branco, que retorna ao processo

garantindo uma perda entre 5% e 7%, considerada normal para este tipo de

indústria.

Este índice de perda pôde ser conferido nesta pesquisa, ao verificar que no

dia 09/12/04 entraram doze toneladas de pluma de algodão colorido e

saíram 10,8 toneladas de fio, no dia 11/12/04, dia em que se finalizou a

produção do artigo com este tipo de algodão.

Segundo o gerente da contabilidade da indústria estudada, quanto ao custo

de industrialização este valor fica em torno de R$ 6,58 para cada quilo de

algodão branco; já para o algodão colorido, este custo não é medido de vez

que a matéria-prima não é comprada e, sim, doada pela Embrapa Algodão,

para que se realizem experimentos. Ele garante que a grande vantagem na

redução dos custos é verificada no processo de beneficiamento têxtil,

quando não se necessita utilizar corantes no processo de tingimento.

Quanto ao tempo de processamento, este é determinado pela quantidade de

matéria-prima e pelo artigo a ser produzido; assim, o tempo para se fabricar

um fio para malha do algodão colorido será o mesmo observado para se

fabricar um fio para malha do algodão branco, desde que as quantidades de

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matérias-primas sejam as mesmas; entretanto, como se sabe que a

quantidade do algodão colorido é bem menor que a do branco, certamente a

confecção deste fio será em menor tempo, se comparado ao comum; logo,

para uma linha de abertura a quantidade de doze toneladas será consumida

em cerca de 4 horas e, na fiação, conforme o tipo de fio pedido, este tempo

ficará em torno de dois dias.

Quanto à produtividade, esta determinada pela eficiência das máquinas; ou

seja, produção real dividida pela produção teórica; não há diferença no uso

dos dois tipos de algodão, verificando-se uma produtividade de 93% para o

algodão branco e para o colorido (Quadro 14).

VARIÁVEIS Algodão comum Algodão colorido

1. Tempo de setup 1hora 1 hora

2. Perda no processo (%)

10% 5 a 7%

3. Custo de industrialização

R$ 6,58 (M.P + M.O + impostos +

energia)

Valor não calculado pela empresa

4. Tempo de processamento

P/ 12 ton = 2 dias P/ 12 ton = 2 dias

5. Produtividade 93% 93%

Quadro 14: Valores comparativos para produção de fio utilizando-se os dois tipos de algodão

Fonte: Pesquisa direta, 2004

Conforme o exposto, observa-se que em termos de fiação há pouca

diferença no processo envolvendo os dois tipos de algodão; a única

diferença encontrada foi quanto à perda no processo, que se explica pelo

fato de ainda se estar trabalhando com uma quantidade ínfima de algodão

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colorido, impossibilitando que o material perdido no processo possa retornar.

Em outras palavras, esta perda verificada seria uma perda por escala que, a

medida em que fosse sendo aumentada a quantidade de algodão colorido

no processo, provavelmente esta porcentagem de perda se equiparia com a

do algodão comum, entre 5 e 7%.

Outro importante ponto que não se pode deixar de comentar, é que esta é

uma realidade específica, ou seja, a indústria estudada tem capacidade de

produção gigantesca que, talvez, nunca se equivalha à quantidade

produzida desta nova matéria-prima; sendo assim, é oportuno dizer que

esses dados obtidos podem, em outra realidade, ou até mesmo, em uma

indústria de menor porte, por exemplo, apresentar uma porcentagem de

perda menor na fiação.

4.2.2 Produção da Malha – Empresa 2

A indústria têxtil em questão, inicia seu processo produtivo com

a compra dos fios para fabricação das malhas4, os quais são comprados de

indústrias locais, como a Ficamp, Norfil, Coteminas e Brastex, dentre outras.

Desses fios, 80% são de algodão (Co), 15% de poliéster (Pes) e 5% do fio

50/50 (Co/Pes), ou seja, a malha tem na sua composição, 50% algodão e

50% poliéster.

Comprados os fios, estes são levados para o processo de

malharia e, por meio de 15 teares circulares e 05 retilíneos, inicia-se o

processo produtivo propriamente dito. Os teares circulares são todos

4 Quanto ao algodão colorido, esta indústria comprou em 2004, toda a produção deste algodão, cerca de 80 toneladas, para produzir malhas; todavia, ressalta-se que as 80 toneladas compradas não foram processadas em uma única vez

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automatizados assim como as demais máquinas do processo, carecendo

apenas que os operadores tenham controle sobre a hora de início da

operação e a hora final e os problemas ocorridos durante o processo, ou

seja, um histórico da máquina para em qualquer eventualidade de erro,

poder saber de onde surgiu.

Esses teares circulares são responsáveis pela fabricação das

malhas, enquanto os teares retilíneos fazem as golas das camisas piquê.

A produtividade deste setor é, na realidade é o rendimento do

fio ou do produto, comparando-se a relação entre o fio consumido para

determinada ordem de tingimento e o produto final. Esta diferença é a perda

no processo em virtude da poeira de malharia, resíduos de sujeiras retiradas

na preparação da malha e resíduos que saem durante o tingimento nas

máquinas. Para malha de algodão comum, esta produtividade é, em média

92%; para a malha do algodão colorido 85% e, para o poliéster, 98%, este

último índice considerado melhor por se tratar de uma fibra plástica e não

ocorrer tanto rompimento quanto na fibra natural (algodão).

Após a malha ficar pronta o operador se encarrega de pesá-la,

etiquetá-la e colocá-la em um estoque provisório para, logo em seguida, ser

levá-la para outra máquina, a revisadeira, que, como o próprio nome sugere,

revisará todas as peças de malha já prontas, detectando ou não algum tipo

de defeito, como: fio cortado e pontos grossos, entre outros.

Necessariamente, estes não serão empecilhos para serem colocados na

próxima etapa do processo, uma vez que referidos defeitos são anotados e

passados em uma Ordem de Beneficiamento (OB), para os processos

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posteriores, que tomam conhecimento, antecipadamente, do que ocasionou

determinada falha.

A próxima etapa é a preparação para o beneficiamento da

malha que, de acordo com os pedidos dos clientes, irá para a Estabilizadora

I ou para o Hidro-relaxador, em que a primeira trabalha com soda cáustica,

realizando uma pré-limpeza da malha, proporcionando aumento da

densidade da malha e, conseqüentemente, melhorando o processo de

beneficiamento; a segunda, utilizando outros produtos químicos, exceto a

soda cáustica, realiza também, uma pré-limpeza da malha e proporciona um

toque bem mais agradável, uma vez que a soda deixa o tecido mais áspero.

O tempo deste processo gira em torno de 8 a 24h, dependendo dos produtos

utilizados; já na máquina em que se faz uso da soda cáustica, o processo

dura, em média, uma hora.

Ressalva-se que o tempo durante o qual a malha absorve tais

produtos, ela não permanece na máquina e, sim, em um recipiente coberto

ao lado; desta forma, a máquina realiza seu trabalho normalmente em

relação às demais malhas. Depois desta preparação é que se inicia o

processo de tingimento que, dependendo da cor, demorará em média de 03

a 6,5h.

Existem 06 máquinas de tingimento, das quais três trabalham

com 300kg em cada partida e as outras três com 150kg também em cada

partida.

De acordo com dados fornecidos pelo gerente de produção,

gastá-se, em média, 1m3 de gás natural/kg malha tingida; 1,13 kW de

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energia/1kg malha tingido e 120L de água/kg malha tingida, sendo 112L/m3

de malha na tinturaria e 8L de água/m3 malha na caldeira.

A água utilizada neste processo é enviada por meio de

tubulação para a Estação de Tratamento de Efluentes – ETE, que depois de

tratada é devolvida ao meio ambiente, com pH, DBO e DQO normais e a

temperatura ambiente. As faixas ideais especificadas segundo a Resolução

do Conama No. 20, são: entre 6.0 e 9.0 para o pH; até 5mg/l O2 para DBO e

para DQO; não há um valor quantificado para ser lançado no meio ambiente.

A empresa não utiliza o reúso d’água nos setores de tinturaria e

acabamento, em razão deste processo ser ainda muito caro, preferindo, daí,

tratamento biológico na ETE.

A cor da malha é definida de acordo com a quantidade de

corantes utilizados; por exemplo, se se quer tingir uma malha, para que esta

adquira cor laranja é necessário ter uma quantidade x de um corante e outra

quantidade y de outro corante; essas quantidades já são previamente

determinadas pelos próprios fornecedores do produto, cabendo-lhes a

responsabilidade, caso a cor não saia de acordo com o pedido do cliente.

Para se garantir a quantidade precisa de corantes faz-se uso de uma

balança. Os demais produtos químicos utilizados são separados por uma

pessoa específica, da própria fábrica.

Por fim, tem-se a etapa do acabamento da malha, que se

diferencia pelo tipo, ou seja, para o acabamento da malha de algodão será

dado um acabamento tubular, em que a máquina (hidro-extrator) faz uma

abertura tubular e coloca o amaciante, levando-o em seguida para o secador

a gás, que secará a malha a cerca de 150oC; depois, passará por um

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vaporizador, uma calandra para dar compactação, forma, largura e

gramatura (gr/m2) ao tecido; por fim, o bobinador.

Nesta fase, o próprio operador faz a inspeção de cada peça

produzida, sendo permitidos de 03 a 05 defeitos em até 10% dos rolos de

malha fabricados; depois, os rolos são plastificados e levados ao estoque

para serem embalados em caixas de papelão e enviados aos seus

respectivos destinos.

Para todo o processo, desde a fabricação da malha até a fase

de inspeção, são necessários 20 operadores por turno, assim divididos: 08

para malharia e revisadeira (sendo 1 líder e 7 operadores); 01 líder para a

preparação do beneficiamento; 01 operador para o estabilizador e hidro-

relaxador (no caso do algodão colorido não há necessidade deste operador);

03 no processo de tingimento e 07 no acabamento, sendo 03 para o

acabamento aberto e 04 para o acabamento tubular. Neste quadro de

funcionários ainda se conta com 01 programador, 01 supervisor de produção

e 04 pessoas na manutenção.

Nominalmente, a produção dia de produto acabado é de 06

toneladas, com perda no processo girando em torno de 5 a 7% de algodão e

3 a 4% no poliéster.

A Figura 09 apresenta o fluxograma do processo produtivo da

malha do algodão comum:

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Símbolos do Gráfico Descrição do Processo

Fios são levados para malharia

Fabricação da malha

Transporte para a balança

Pesar e etiquetar a malha

Malha levada para um estoque provisório

Esperar para ser inspecionado

Malha sendo levada para revisadeira

Inicia-se a inspeção na revisadeira

Malha encaminhada para a preparação para o beneficiamento

Armazenamento intermediário de malha

Malha sendo beneficiada na estabilizadora (mercerizadeira) e/ou hidro-relaxador

Malha esperando para ser tingida

Tingir

Transporte da malha tingida para o acabamento

Acabamento sendo realizado no hidro-extrator

Transporte para o secador

Secar malha

Transporte para o vaporizador

Malha esperando ser vaporizada

Vaporizar malha

Transporte para a calandra

Malha esperando receber compactação, forma, largura e gramatura

Compactar malha nas calandras

Inspecionar, bobinar e plastificar os rolos das malhas

Transporte para embalagem

Malhas embaladas em caixas

Armazenamento dos rolos de malha

Figura 09: Fluxograma do processo produtivo da malha do algodão comum

Fonte: Pesquisa Direta, 2004

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128

Concernente ao processo produtivo do poliéster, este difere

quanto ao princípio de tingimento pois, por se tratar de uma fibra sintética

derivada do petróleo, seu tingimento não penetra nas fibras e, sim, apenas

de forma superficial. Outra etapa diferente é o acabamento que, a uma

temperatura dá estabilidade à fibra com memória plástica do material.

A Figura 10 mostra o fluxograma do processo produtivo do

poliéster.

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129

Símbolos do Gráfico Descrição do Processo

Fios são levados para malharia

Fabricação da malha

Transporte para a balança

Pesar e etiquetar a malha

Malha levada para um estoque provisório

Esperar para ser inspecionado

Malha sendo levada para revisadeira

Inicia-se a inspeção na revisadeira

Malha encaminhada para armazenamento

intermediário

Estoque de malha para ser tingida

Tingir

Transporte da malha tingida para o acabamento

Acabamento sendo realizado no abridor e na rama para

amaciamento, secagem e dimensionamento

Inspecionar, bobinar e plastificar os rolos das malhas

Transporte para embalagem

Malhas embaladas em caixas

Armazenamento dos rolos de malha

Figura 10: Fluxograma do processo produtivo da malha do poliéster

Fonte: Pesquisa Direta, 2004

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130

Comparando-se o processo do algodão comum com o do

algodão colorido, observa-se o suprimento das fases da preparação para o

beneficiamento e do tingimento, já que esta matéria-prima não necessita de

coloração nenhuma nem, tampouco, de qualquer produto químico, uma vez

sua coloração já ser natural.

Outro ponto a se observar diz respeito ao tempo de

processamento da malha de algodão comum que, com a utilização do

beneficiamento mais o processo de tingimento, leva em torno de 4h no

tempo mínimo e 30h no máximo para ser colocado na última etapa do

processo, que é o acabamento, ou seja, a malha de algodão colorido ganha,

no mínimo, 4h de trabalho.

Conforme relato do gerente geral da fábrica, cerca de 15% do

custo de produção estão relacionados diretamente aos produtos químicos

utilizados no processo de tingimento; todavia, embora sobre a malha do

algodão colorido não recaia nenhum custo químico e seu processo seja

reduzido em cerca de 20%, em outras palavras, 2/3 do processo não são

executados, pode-se dizer que o custo final do colorido é maior que o do

algodão normal, tendo em vista os volumes e estoques que se tem que ter

de fios e malhas prontas que não giram em estoque.

Outro dado que não pode passar despercebido é o fato de que,

antes do algodão colorido entrar na máquina, é imprescindível que esta

esteja verdadeiramente limpa, sem nenhum vestígio de corante utilizado em

outros tingimentos, para que assim se garanta sua qualidade de

ecologicamente correto.

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131

Quanto ao processo de acabamento, que dura em média 2h,

este se dará da mesma forma como ocorre com o algodão comum, exceto a

aplicação de amaciante.

O tempo de setup verificado, in loco, no processo de

tingimento, foi de 15 minutos (em média) partindo de cores mais escuras

para mais claras e de 25 minutos partindo de cores mais claras para o

branco, que é o caso do algodão colorido; já no processo de acabamento

com limpeza mais severa no hidro-extrator e secador, este tempo é de 1hora

para o algodão colorido e de 10 minutos para a malha do algodão comum,

isto é, o tempo de setup para se fabricar a malha do algodão colorido se

torna maior pelo fato das máquinas terem que ser muito bem lavadas para a

retirada de todos os resquícios de corantes deixados no processo anterior;

assim, enquanto se demora em média, 25 minutos para se preparar a

máquina para fabricação de malha com o algodão normal, este tempo se

eleva para 1h e 25 min; em se tratando do algodão colorido, ou seja, o seu

tempo de setup é 3,4 vezes maior.

Em termos de mão-de-obra empregada verificou-se ser

reduzida em 5% ao se trabalhar com a malha do algodão colorido.

A Figura 11 apresenta o fluxograma do processo produtivo da

malha do algodão colorido.

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Símbolos do Gráfico Descrição do Processo

Fios são levados para malharia

Fabricação da malha

Transporte para a balança

Pesar e etiquetar a malha

Malha levada para um estoque provisório

Esperar para ser inspecionado

Malha sendo levada para revisadeira

Inicia-se a inspeção na revisadeira

Malha encaminhada para lavação

Malha sendo lavada no hidro-extrator, sem adição de

amaciantes

Transporte da malha lavada para o acabamento

Secar malha no secador

Transporte para o vaporizador

Vaporizar a malha

Transporte para caldeira

Compactar malha nas calandras

Inspecionar, bobinar e plastificar os rolos das malhas

Transporte para embalagem

Malhas embaladas em caixas

Armazenamento dos rolos da malha

Figura 11: Fluxograma do processo produtivo da malha do algodão colorido

Fonte: Pesquisa Direta, 2004

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133

O Quadro 15, apresenta, de forma sucinta, uma comparação

de ganhos e perdas no processo, com a utilização da malha do algodão

colorido

VARIÁVEIS Malha do algodão comum

Malha do algodão colorido

1. Produtividade 92% 85%

2. Mão-de-obra total envolvida 20 operadores 19 operadores

3. Quantidade de máquinas envolvidas 09 ou 10 07

4. Tempo de processamento 5 a 7 horas 4,8 horas

5. Energia 1,13KW / kg malha tingida

0,80 kw / kg malha

6. Água 120L / kg de malha tingida

40L /kg

7. Produção 06 toneladas (dia) Volumes artesanais

8. (%) Perda no processo 5 a 7% 10%

9. Tempo de setup 25 min 1h 25 min

Quadro 15: Valores comparativos da malha do algodão comum com a malha do algodão colorido

Fonte: Pesquisa direta, 2004

De acordo com os dados indicados no Quadro 16, observa-se

que a industrialização do algodão colorido tem suas vantagens,

principalmente no que se refere à economia de água, energia e tempo de

processamento, cujos 2/3 do processo não são realizados; todavia, não se

pode deixar de comentar sua produtividade que ainda é um pouco inferior,

comparando-se ao algodão branco, uma vez que sua produção está em

volumes artesanais; já quanto à sua perda no processo, gira em torno de

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10% e o número de operadores envolvidos é de 5% a menos. Seu tempo de

setup acaba sendo 3,4 vezes superior, em virtude das máquinas de

processamento terem de ser muito bem preparadas para garantir que o

produto saia realmente com a especificação de ecologicamente correto.

4.2.3 O Processo de Beneficiamento Têxtil e seus Impactos

Ambientais

Na tentativa de elucidar tudo o que foi comentado até o

momento. pode-se dizer que as indústrias têxteis pesquisadas são

constituídas de etapas que podem ser assim descritas:

Fio: produzido em máquinas especiais denominadas filatórios.

Malharia: processo pelo qual os fios são transformados em

malha.

Mercerização: consiste em embeber a malha em solução forte

de soda cáustica. A mercerização visa aumentar o brilho e a resistência à

tração e melhora a estabilidade dimensional da malha. Em alguns casos, as

sobras são bombeadas para os tanques de recuperação de soda, onde é

feita nova diluição para o reaproveitamento na máquina ou novamente para

mercerização. Caso o processo de recuperação não exista, ocorrerá o

descarte de um efluente com elevada alcalinidade. Com a recuperação da

soda tem-se um ganho neste componente e o tratamento de efluentes

economiza CO2 para o controle de pH. O processo garante maior

estabilidade dimensional; utilizam-se menos corantes, uma vez que eles

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135

aderem melhor às fibras, proporcionando resistência superior à malha ou

tecido.

Pré-alvejamento: processo de branqueamento inicial da malha

através de limpeza das impurezas, como retirada de gorduras e outros

componentes ou compostos químicos. Em média, sua duração é de 1 hora e

meia. O pré-alvejamento é um processo prévio para tintura do tecido.

Alvejamento: consiste no branqueamento da malha de forma

mais apurada, com a função de se obter uma malha ou tecido com bastante

nitidez e uniformidade. Busca-se o branco ótico e condições para tintura em

cores claras. Esses processos de pré-alvejamento e alvejamento, são

seguidos de lavagem com água limpa. O peróxido de hidrogênio é um

exemplo de produto químico bastante agressivo usado nesta etapa.

Tingimento: consiste em um processo de tinturas de tecidos ou

malhas, variando sobre uma infinidade de cores muitas vezes semelhantes,

com pouca diversidade no tom, havendo uma especificação própria para sua

confecção, ou seja, a malha é passada por uma solução tinta, fixada a cor e

lavada. São utilizadas receitas únicas para cada cor, apresentando

quantidades exatas de corantes ou sua mistura; cada receita específica é

fator determinante para obtenção do resultado esperado. O banho preparado

para cada etapa de tingimento é desenvolvido em processo contínuo ou

descontínuo; no processo contínuo, o tecido, depois de impregnado num

banho contendo tinta e produtos químicos, é espremido entre rolos e

secado, enquanto os corantes e os auxiliares têm que ser específicos para o

tingimento contínuo; já no processo descontínuo ou de esgotamento, a

malha ou tecido é tingido por cargas, colocado nas máquinas e se espera a

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136

conclusão da operação para tingir nova carga, isto é, a malha vai sendo

passada pelo banho até se obter, gradativamente, a coloração do tecido. Se

o processo não é contínuo, os corantes podem ser diretos (tingimento por

cobertura da área a ser tingida) ou reativos, que consiste na reação química

entre o corante e a superfície a ser tingida. A quantidade de corante fixada

no tecido depende do artigo; por exemplo, para poliéster o esgotamento é

100%, para o algodão chega nominalmente a 85 ou 90%, dependendo da

máquina e do processo. Os efluentes do tingimento são variados devido aos

diferentes tipos de corantes e da maneira, pela qual são aplicados; em

grandes volumes, com forte coloração, alguns até podendo ser tóxicos.

Lavagem: as malhas tingidas são lavadas em lavadoras que

podem ser de fluxo contínuo e nas quais a malha vai entrando e passando

por câmaras, de onde sai lavada no final. A lavagem pode ser feita nas

próprias máquinas de tingimento, para depois as malhas seguirem direto

para as secadoras.

Amaciamento ou Acabamento: é a última fase de produção

úmida do beneficiamento e consiste na aplicação de gomas e resinas, que

são secadas ou fixadas sob temperaturas controladas, a fim de que o tecido

receba o toque solicitado pelo cliente, realizado por meio de processos

químicos e mecânicos.

Estas etapas podem ser melhor visualizadas na Figura 12 com

o fluxograma do processo, onde se encontram identificados e discriminados

os impactos ambientais.

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137

Símbolos do Gráfico Descrição do Processo

Produção do fio na fiação Impactos verificados: ruídos, calor, poeira do algodão processado

Transporte do fio da fiação para a malharia

Malha sendo fabricada a partir do fio Impactos verificados: ruídos, penugens do fio de algodão e resíduos sólidos

como embalagens de papelão e plástico

Transporte da malha para a preparação para beneficiamento

Malha sendo embebida de soda cáustica no processo de mercerização. Impactos verificados: ruídos, consumo de água e energia e geração de resíduos

líquidos, ainda que com pequena carga poluidora

Malha saindo do estabilizador I (mercerização) para o alvejamento

Malha sendo pré-alvejada e alvejada Impactos observados: ruídos, consumo de água e ener gia e geração

de resíduos líquidos com percentagem de peróxido de hidrogênio

Malha sendo tingida e lavada para retirar o excesso de tinta Impactos observados: ruídos, elevado consumo de águ a e energia e

geração de resíduos líquidos com grandes cargas de corantes

Transporte da malha tingida para o acabamento para ser amaciada

Malha sendo amaciada e secada Impactos observados: ruídos, calor provocado pelo v apor das

máquinas e geração de resíduos líquidos como amacia ntes, e de

resíduos gasosos, que são dispersos na atmosfera at ravés de

ventilação do prédio

Inspeção e embalagem do produto

Transporte do produto pronto para ser armazenado

Armazenamento do produto final

Figura 12: Fluxograma do beneficiamento têxtil e seus impactos ambientais

Fonte: Pesquisa direta, 2004

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O Quadro 16 faz uma comparação melhor definida em termos

de impactos ambientais verificados no processo produtivo, envolvendo os

dois tipos de algodão.

ETAPAS DO PROCESSO PRODUTIVO

Algodão comum Algodão colorido

1. Fiação Ruídos, calor, poeira do algodão processado e consumo de energia

Ruídos, calor, poeira do algodão

processado e consumo de energia

2. Malharia

Ruídos, penugens do fio, resíduos sólidos como

embalagens de papelão e consumo de energia

Ruídos, penugens do fio, resíduos sólidos como embalagens de papelão e consumo e

energia

3. Mercerização

Ruídos, consumo de energia e geração de

resíduos líquidos (soda cáustica)

Não existe este processo

4. Pré-alvejamento e alvejamento

Ruídos, consumo de água e energia e geração de resíduos líquidos com

percentagem de peróxido de hidrogênio

Não existe este processo

5. Tingimento

Ruídos, elevado consumo de água e energia e geração de resíduos líquidos com grandes cargas de corantes

Não existe este processo

6. Lavagem

Ruídos, consumo de água e energia e geração de resíduos líquidos como

resquícios de corantes do tingimento

Ruídos, consumo de água e energia

7. Acabamento

Ruídos, calor, consumo de água e energia, geração de

resíduos líquidos como amaciantes e resíduos

gasosos como o vapor das máquinas

Ruídos, calor, consumo de energia e

resíduos gasosos, como o vapor das

máquinas

Quadro 16: Impactos ambientais verificados nas etapas do processo produtivo dos dois tipos de algodão (branco e colorido)

Fonte: Pesquisa direta, 2004

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139

Os impactos ambientais verificados dentro do processo

produtivo desde a fiação até a malha pronta, devidamente tingida e

amaciada são bastante diferenciados, partindo de impactos como ruídos,

calor e poeira, como os encontrados na fiação, até resíduos líquidos e,

muitas vezes, tóxicos, encontrados no processo de tingimento.

De todas as etapas que envolvem o processo de fabricação da

malha, a mais preocupante é a fase do tingimento, na qual se encontram

despejos tóxicos oriundos da manipulação dos corantes; já a mercerização

que se utiliza de solução com soda cáustica, contribui com pequena carga

poluidora. O pré-alvejamento e o alvejamento também são preocupantes

com os impactos provocados, uma vez que são utilizados produtos químicos

muito agressivos, como o peróxido de hidrogênio. A lavagem, mesmo não se

utilizando nenhum produto químico agressivo gera, em seus despejos

líquidos, águas contaminadas com o restante dos corantes não impregnados

na etapa do tingimento, o que contribui para a toxicidade nos efluentes

têxteis.

Por fim, tem-se a etapa do amaciamento, na qual são

aplicadas, deslizantes e amaciantes que também contribuem para a

toxicidade dos efluentes têxteis, uma vez que despejam, no meio ambiente,

grandes quantidades de água com alta carga poluidora. Nesta mesma etapa,

se encontram também, despejos atmosféricos oriundos da secagem,

vaporização e calandragem.

Com o exposto, salienta-se a grande importância para a

indústria têxtil moderna trabalhar com o algodão colorido, uma vez que sua

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contribuição para o meio ambiente se torna cada vez mais notória por não

utilizar produto químico na fabricação de seus produtos.

Conforme o Quadro 16, o processo fabril têxtil com o algodão

colorido não necessitará de etapas como mercerização, pré-alvejamento,

alvejamento e tingimento, o que reduz seus custos em torno de 15% em

relação aos produtos químicos; já no tocante à quantidade de água e

energia gasta, ocorrerá também redução de 66,34% para água e de 29,21%

para energia.

Por não utilizar produto químico não haverá geração de

resíduos líquidos, a não ser a água utilizada para lavagem das máquinas de

tingimento, cuja contribuição é mínima para a toxicidade de efluentes têxteis.

Os únicos resíduos gerados com a fabricação de produtos de

algodão colorido são as embalagens de papelão em que vêm os fios e suas

bobinas, coletados e vendidos a terceiros. Quanto aos despejos

atmosféricos oriundos da secagem, também são dispersos na atmosfera, por

meio de ventilação do prédio.

4.2.4 Processos que Envolvem o Consumo de Água na Indústria

de Malharia

a) Preparação ou Beneficiamento

Destina-se à separação em lotes de malha, de acordo com a

capacidade do maquinário existente.

b) Tingimento

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141

O processo por esgotamento é o que se pode chamar de

Processo Universal de Tingimento, pois se pode tingir com qualquer corante

e qualquer tipo de fio. O processo por esgotamento do banho permite

numerosas variações quanto à regulagem de temperatura, adição de

produtos químicos auxiliares, sua ordem de adição, dosagem e, por

conseqüência, melhor adaptação às condições mecânicas e práticas.

O tingimento, como explicado em capítulo anterior, consiste em

fixar o corante sobre a fibra, tendo dois aspectos a considerar:

- manter o material a ser tingido em contato com o corante, a

fim de que este seja absorvido pelas fibras

- obedecer irrestritamente aos processos e padrões praticados

para se obter um tingimento perfeito, lembrando-se de que, quanto à fixação

do corante sobre as fibras, para cada classe de corantes existe um tipo de

fixador ou um processo de fixação.

c) Lavagem Final e Amaciamento

O objetivo deste processo é eliminar todo o corante não fixado,

proporcionando solidez com cores limpas e brilhantes, conferindo também

excelentes condições de desempenho nas operações subseqüentes.

As características desejáveis numa boa lavagem final, são: boa

lubrificação da malha, perfeito deslizamento, maciez e resistência da malha.

d) Hidro-extração

Processos pelo qual é extraído o excesso de água da malha

tingida antes de ser encaminhada ao processo de secagem.

e) Cozinha de Cores

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142

Na cozinha de cores são preparados os produtos químicos

auxiliares utilizados nos processos de tingimento e amaciamento.

f) Laboratório Químico

Destina-se a desenvolver amostras de cores para os processos

de tingimento, análises dos produtos químicos utilizados e análises de

controle de águas.

A Figura 13 mostra o fluxograma do processo de tingimento.

Figura 13: Fluxograma do Processo de Tingimento Fonte: Documentação fornecida pela gerência, 2004

O processo de tingimento se inicia com a pesagem dos

produtos a serem utilizados, como corantes, sais, seqüestrantes e outros;

logo após, são levados aos tanques dosadores encontrados nas próprias

máquinas; em seguida, realiza-se um tratamento prévio, que consiste em

eliminar todos os resíduos de produtos utilizados na preparação através de

lavagens; depois, inicia-se o tingimento propriamente dito e, por fim, realiza-

Pesar os produtos auxiliares para utilizá-los no tingimento e amaciamento

Levar os produtos para os tanques dosadores das próprias máquinas de tingimento

Realizar tratamento prévio na máquina para retirada dos resíduos da malha

Realizar o tingimento

Fazer a lavagem final utilizando amaciante e secar no secador, vaporizador e calandras

LEGENDA

Despejos sólidos

Despejos Líquidos

Despejos gasosos

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143

se uma lavagem final com amaciante, para depois secar, vaporizar e passar

pelas calandras, dando compactação ao produto.

4.2.5 Processos que não produzem Efluentes Líquidos na

Indústria de Malharia

a) Secagem

Tem por finalidade secar o material tinto centrifugado.

b) Calandragem

Acabamento final dado à malha, objetivando-se maior

estabilidade dimensional e brilho.

c) Malharia

Produz a malha a partir do fio.

4.2.6 Despejos Líquidos provenientes da Produção

� Mercerização .......................................192,00 m3 /dia

� Tingimento ...........................................252,00 m3 /dia

� Lavagem ...............................................537,12 m3 /dia

� Hidro-extração ........................................38,40 m3 /dia

� Cozinha de tintas ..................................7,20 m3 /dia

� Laboratório químico ..............................4,08 m3 /dia

� Caldeira ..................................................1,20 m3 /dia

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144

Esses despejos são coletados e conduzidos às unidades de

tratamento; já os esgotos sanitários provenientes dos banheiros, são

coletados independentemente dos efluentes industriais e tratados por

processo de fossa séptica; após este tratamento é que são enviados ao

tanque de neutralização dos efluentes industriais.

A seguir, a Figura 14 apresenta o balanço hídrico das unidades

geradoras de despejos.

Q = 08,00 m3/h Q = 08,00 m3/h

Q = 10,50 m3/h Q = 10,50 m3/h

Q = 24,00 m3/h Q = 22,38 m3/h Q = 01,60 m3/h Q = 01,10 m3/h Q = 0,30 m3/h Q = 01,20 m3/h Q = 0,17m3/h Q = 04,00 m3/h Q = 0,05 m3/h

Q = 0,20 m3/h Q = 0,20 m3/h

Q = 49,00 m3/h Q = 43,20 m3/h

Figura 14: Balanço hídrico das unidades geradoras de despejos

Fonte: Documentação cedida pela gerência de produção, 2004

Laboratório

Cozinha de Tintas

Hidro-Extração

Lavagem

Sanitário

Caldeira

Tingimento

LEGENDA:

Resíduos sólidos Resíduos gasosos Resíduos líquidos

Mercerização

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145

Os despejos gerados no processo produtivo têm composição

variada, dependente da etapa. O Quadro 17 especifica os principais

constituintes de despejos em relação a cada etapa de geração.

ETAPAS Constituintes dos Despejos

Mercerização Soda cáustica, auxiliares, detergentes e deslizantes

Pré-alvejamento Umectantes, sais, soda cáustica, seqüestrantes e peróxidos

Alvejamento Umectantes, sais, soda cáustica, seqüestrantes e peróxidos

Tingimento Corantes, seqüestrantes, sais, soda cáustica e/ou barrilha, fixadores (cor escura), neutralizadores, deslizantes

Lavagem Detergentes

Amaciamento ou Hidro-extração Amaciantes

Cozinha de cores Detergentes, deslizantes, seqüestrantes e umectantes.

Laboratório químico Detergentes, deslizantes, seqüestrantes e umectantes.

Quadro 17: Constituintes dos despejos gerados no processo produtivo

Fonte: Pesquisa direta, 2004

A caracterização dos despejos têxteis é um fator de difícil

descrição absoluta, por ser descontínuo e diverso. O processo de

beneficiamento é periódico mas descontínuo no que se refere à vazão;

portanto, na indústria pesquisada as percentagens referentes a cada produto

químico, auxiliares e corantes despejados nos efluentes, se tornam

impossíveis de serem feitas, uma vez não se realizar este tipo de

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146

procedimento na indústria estudada, por ser muito dispendioso; todavia,

cabe tecer aqui, algumas definições para diferentes constituintes desses

despejos:

- soda cáustica: reage com a água oxigenada e, juntas,

alvejam o tecido, eliminando a coloração acastanhada.

- umectantes: melhoram a hidrofilidade5 da malha.

- seqüestrantes: eliminam minerais presentes no algodão e na

água, como cálcio e magnésio, conhecidos como dureza; eliminam o ferro.

Esses minerais são prejudiciais aos corantes.

- deslizantes: evitam que o tecido cole suas faces; permitem

que o tecido se movimente mais livremente, evitando o atrito na máquina com

ele mesmo; fazem com que as dobras mudem de posição dentro da máquina e

melhoram a acomodação do tecido na máquina.

- detergentes: removem óleos do substrato6; proporcionam

molhabilidade7 no algodão; não deixam que o óleo removido se aglomere

novamente; dispersam sujeiras sólidas.

- neutralizadores: corrige o pH

- fixadores: utilizados para fixar a cor, principalmente as

escuras.

Quanto aos produtos auxiliares utilizados nas operações de

beneficiamento, tingimento e acabamento tem-se, no Quadro 18, suas

quantidades médias, específicas para uso diário, mensal e anual da

5 Capacidade de absorção de água pelo artigo 6 Refere-se ao artigo: fibra, fio, tecido, malha 7 O mesmo que hidrofilidade

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empresa; contudo, é importante esclarecer que referidas quantidades variam

de acordo com a cor a ser utilizada no tingimento.

Quadro 18: Produtos auxiliares utilizados pela indústria de malharia Fonte: Documentação cedida pela empresa, 2004

Sabendo-se que os corantes se destacam como elementos

que contribuem para altas cargas poluidoras nos despejos têxteis, com

diversidade de especificações que se destinam a resultados específicos

tecem-se aqui, algumas definições para os mais usados:

Reativos: usados principalmente para o tingimento e estamparia

de fibras celulósicas, reagindo quimicamente com o algodão, viscose, lã, seda

e linho; são os corantes mais populares na manufatura têxtil, devido

principalmente às suas características favoráveis à rapidez na reação de

tingimento, facilidade de operação e baixo consumo de energia na aplicação. O

maior problema com relação a esses corantes reside na competição entre a

reação de tingimento com o substrato têxtil e a reação do corante com a água.

As taxas de fixação do corante variam entre 60 a 90%, lançando grandes

concentrações de corantes não fixados para os despejos (Camp e Sturrock,

1990 apud Martins 1997). Infelizmente, os processos de tratamento de

Produto Consumo Dia em kg

Consumo mês em kg

Consumo Ano em kg

Amaciantes 60 1.400 17.000 Detergentes 20 600 7.500 Dispersantes 36 900 11.000 Ácido acético 20 500 6.000 Soda cáustica 2.000 50.000 600.000 Peróxido de hidrogênio 160 4.000 48.000 Barrilha leve 200 5.000 60.000 Sal comum 800 20.000 240.000 Corantes 80 2.000 24.000

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despejos atualmente empregados, não removem esses corantes de forma

satisfatória.

azo pigmentos: usados especialmente em cores vermelha,

amarela e laranja; são empregados em fibras celulósicas e apresentam grau de

difícil remoção no tratamento de efluente.

ácidos: são corantes cujo nome se deve à presença, em suas

moléculas, de um ou mais ácidos sulfônicos ou outros grupos de ácidos.

Contribuem para o pH do efluente com valores entre 3,5 e 6,0.

básicos ou catiônicos: possuem cores brilhantes porém têm baixa

fixação; são empregados basicamente para fibras sintéticas como acrílico,

seda e lã e, em menor quantidade, em fibras naturais, como o algodão;

contribuem com despejos alcalinos nas estações de tratamento.

diretos: usados sobre fibras celulósicas, são conhecidos como

corantes substantivos; aplicados em banhos neutros ou ligeiramente alcalinos,

próximos da ebulição, à qual foi adicionado cloreto de sódio ou sulfato.

índigo: obtido de Indigoferal, aplicado a 5000 anos antes da

introdução do Índigo sintético comercial; é um dos mais antigos corantes

conhecidos, obtido de moluscos encontrados nas pedras do Mar Mediterrâneo;

aplicado principalmente em fibras celulósicas.

dispersos: são pigmentos e, portanto, insolúveis, comumente

usados no tingimento do poliéster, nylon e acrílico e nos banhos, sob a forma

de dispersão aquosa fina.

ao enxofre: empregados geralmente para obtenção da cor preta e

em fibras celulósicas; produzem odor desagradável ao efluente além de

dificultarem a remoção final da sua cor.

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Em relação aos corantes, evidencia-se que muitos contêm metais pesados em

sua composição (CETESB apud MARTINS 1997). Conforme Martins (1997),

através de estudos junto à Cetesb, e se levando em conta a DQO e a eficiência

de diversos tipos de corantes, chegou-se a um grau de potencial poluidor para

os mesmos, como se segue: 1º - Ao Enxofre, 2º - Naftol, 3º - Reativo, 4º -

Índigo, 5º - Direto.

As maiores perdas acontecem quando se usam os corantes no

enxofre, os diretos e os reativos.

4.2.7 Descrição da Estação de Tratamento de Efluentes – ETE

Todos os despejos industriais líquidos provenientes da

tinturaria, são reunidos para efetuar seu tratamento.

O sistema de tratamento adotado pela indústria tem a

finalidade primordial de enquadrar os efluentes líquidos gerados pela

indústria estudada, dentro dos padrões de emissão estabelecidos pela

legislação vigente.

Este sistema se constitui por:

� pré-tratamento com gradeamento, caixa de areia e peneira,

� tanque de equalização e neutralização,

� tanque de aeração e floculador,

� decantador secundário,

� adensador de lodos,

� prensa desaguadora.

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A seguir tem-se, na Figura 15, o esquema mostrando o

sistema de tratamento adotado.

Figura 15: Estação de Tratamento de Efluentes da Industria Estudada

Fonte: Documentação cedida pela empresa, 2004

Todos os despejos líquidos provenientes da tinturaria são

reunidos para efetuar seu tratamento. As águas de chuva e de lavagem de

Efluente Frio Efluente Quente

Tanque de Aeração

Tanque de Equalização e Neutralização

Caixa de Passagem

Gradeamento

Ponto de Coleta

Peneira

Floculador

Medidor de Vazão

Adensador de Lodos

Decantador Secundário

Aterro Sanitário

Prensa desaguadora

Corpo Receptor

Descarte do Lodo Recirculação

de lodo

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ruas e calçadas não são tratadas mas conduzidas e despejadas pelo

sistema de drenagem pluvial.

A equalização e neutralização das águas de despejo evitam o

desequilíbrio de caráter alcalino ou ácido, no sistema de tratamento.

As vazões de máximo e mínimo são eliminadas para evitar

impactos sobre o sistema de tratamento em relação à qualidade da água no

corpo receptor.

As misturas das descargas de efluentes quentes com efluentes

frios, além do tempo de retenção adequado no tanque de equalização,

baixam a temperatura dos despejos, que sofrem tratamento posterior; a

temperatura máxima de emissão dos efluentes líquidos é de 35o C;

eliminando partículas sólidas em suspensão e decantáveis; assim, a água

perde parte da carga poluidora, que se origina das fibrilas e microfibilas de

algodão, de difícil degradação.

Os produtos responsáveis pela carga orgânica são reduzidos

por tratamento biológico, através do sistema de lodos ativados.

Submetidas ao processo de tratamento biológico, as águas

residuárias perdem sua putrescibilidade após um tempo de depuração,

condições em que podem ser encaminhadas a um curso de água sem lhes

causar danos. Na estação de tratamento fica retido um lodo aquoso, cuja

quantidade pode ser avaliada em cerca de 1% do volume do efluente

tratado. Como disposição final, o lodo pode ser, regra geral, utilizado na

agricultura ou disposto em aterro sanitário, de modo a não produzir danos ao

ambiente.

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“O destino não é uma questão de sorte; é uma questão de escolha.

Não é algo pelo que se espera mas algo a alcançar”

William Jennings Bryan

CAPÍTULO V – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1 CONCLUSÕES

� Quanto aos impactos operacionais na fiação:

• A produtividade para o algodão branco e colorido é a mesma, girando

em torno de 93%, ou seja, a mudança de matéria-prima não resulta em

elevação de paradas ou queda do ritmo de produção.

• O custo de industrialização é de R$ 6,58/kg de algodão branco; já o

algodão colorido não tem esse valor calculado em virtude da matéria-

prima ser doada pela Embrapa Algodão, para experimentos.

• O tempo de setup e o tempo de processamento é o mesmo para ambos

os processos, uma vez que as máquinas utilizadas e as operações

realizadas são as mesmas.

• A principal diferença verificada foi quanto à perda no processo. Para o

algodão branco, verificou-se perda entre 5 e 7%, considerada normal

para este tipo de indústria, enquanto para o algodão colorido a perda foi

de 10%; todavia, faz-se necessário dizer que esta perda verificada seria

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uma perda por escala que, a medida em que fosse sendo aumentada a

quantidade de algodão colorido no processo, provavelmente esta

porcentagem de perda se equipararia com a do algodão comum; outro

importante ponto que não se pode deixar de comentar é que esta é uma

realidade específica, isto é, a indústria estudada tem grande capacidade

de produção que, talvez, nunca se adeqüe à quantidade produzida desta

nova matéria-prima; sendo assim, esses dados obtidos poderão, em

outra realidade, em uma indústria de menor porte, por exemplo,

apresentar uma porcentagem de perda menor na fiação.

• Houve pequena perda das características intrínsecas do fio no algodão

colorido, uma vez que sua resistência, o comprimento e uniformidade, se

classificaram como medianos, garantindo-lhe apenas um rendimento

satisfatório no processo de fiação e, posteriormente, na malharia,

enquanto o algodão branco possui melhores características, como boa

resistência, maior comprimento e melhor uniformidade, favorecendo

melhor desempenho e rendimento na fiação.

� Quanto aos impactos ambientais na fiação:

• As condições internas, como nível de ruído, alta temperatura e a poeira

das partículas do algodão, estão presentes com a mesma intensidade,

tanto no processamento do algodão branco como no colorido.

• O consumo de energia das etapas analisadas apresentaram padrões

semelhantes.

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� Quanto aos impactos operacionais na malharia:

• A produtividade verificada com o processamento do algodão branco foi

de 92% e a produtividade do algodão colorido, 85%.

• Comparando-se os dois tipos de algodão no processo, vê-se que a

quantidade de máquinas envolvidas é 30% menor ao se trabalhar com o

algodão colorido.

• Ocorreu uma redução de 20% do tempo de processamento do algodão

colorido e 5% de redução na mão-de-obra, uma vez que menos

máquinas são utilizadas.

• Com o uso do algodão colorido o custo de produção é 15% inferior, já

que não se realiza a etapa de tingimento na qual são utilizadas grandes

quantidades de produtos químicos, como corantes, sais, detergentes e

amaciantes, entre outros.

• A perda de material no processo não difere muito da fiação, visto que

cerca de 10% do algodão colorido também são perdidos, tendo em vista

sua característica de comprimento ser menor que a do algodão branco.

• Verificou-se maior tempo de setup para o algodão colorido, em média

3,4 vezes maior, uma vez que as máquinas utilizadas no processo

realizam paradas para lavagens e retirada de todos os resquícios de

corantes deixados na etapa de tingimento porém, caso existisse uma

linha exclusiva para o processamento do algodão colorido, este tempo

de setup seria nulo; em outras palavras, só existiria setup para

manutenção preventiva e/ou corretiva.

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� Quanto aos impactos ambientais na malharia:

• Existe grande contribuição do algodão colorido na não toxicidade de

efluentes têxteis, visto que etapas como mercerização, pré-alvejamento,

alvejamento e tingimento, nas quais se encontram enormes cargas de

despejos tóxicos oriundos da manipulação de corantes e outros produtos

auxiliares, não são realizadas. Para se ter uma idéia da dimensão da

quantidade de produtos químicos utilizados ao ano, e se tomando como

exemplo a indústria estudada, gastam-se, em média, 1.013.500 kg de

produtos químicos para 1800 toneladas de malhas, ou seja, para cada

kg de malha beneficiada (tingida e/ou alvejada), usa-se cerca de 0,563

kg de produtos químicos. Sabendo-se que a produção anual de malhas

no Brasil é de 505.002 toneladas (Quadro 03, pg. 34) e se supondo que

toda a malha produzida no Brasil seja fabricada, em padrões

semelhantes, pela indústria pesquisada, a quantidade em produtos

químicos consumida seria de 238.316,12 toneladas, um número

alarmante que, com o uso contínuo do algodão colorido nas indústrias

têxteis e confecções em geral, sofreria alto decréscimo contribuindo,

assim, com o meio ambiente. Ressalta-se que este número é apenas

uma projeção e que cada indústria têxtil tem um padrão específico de

consumo de produtos químicos, podendo ser maior ou menor que a

verificada, tendo em vista o tamanho de sua estrutura organizacional e a

tecnologia empregada.

• Embora a etapa do amaciamento seja realizada no processamento de

algodão colorido, ele é feito, neste caso específico, de forma que não

agrida o meio ambiente, isto é, não se utilizam amaciantes ou qualquer

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outro tipo de produto químico que contribua para a toxicidade dos

efluentes têxteis.

• Verificou-se redução de 66,34% no consumo de água e 29,21% no

consumo de energia, com o uso do algodão colorido. Esta redução se

torna considerável pois, partindo-se do pressuposto de que esta foi

percebida numa realidade específica, ou seja, para uma quantidade

ínfima de matéria-prima pode-se, a partir daí, fazer uma projeção e

verificar a grande contribuição deste algodão para o ambiente, caso a

produção desta nova matéria-prima estivesse sendo utilizada em longas

escalas, pois se para cada kg de malha tingida se gasta 120L de água

(Quadro 15, pg.127) e sendo o Brasil o segundo maior produtor mundial

em malhas, produzindo 505.002 toneladas/ano, verifica-se um gasto de

60.600.240 litros d’água para o algodão comum e de 20.200.080 litros

d’água para o algodão colorido, um valor três vezes menor. Quanto ao

valor gasto com energia, este seria de 570.652,26 Kw para o algodão

branco e 404.001,60 Kw para o algodão colorido. Vale lembrar que esta

é uma realidade voltada para a empresa analisada e que esta redução

poderá ser maior ou menor que o valor encontrado, dependendo da

capacidade de produção de cada indústria.

• Quanto aos resíduos sólidos, embalagens de papelão provenientes dos

fios e das bobinas dos fios, estes são coletados e vendidos a terceiros;

já as embalagens plásticas dos produtos químicos observadas apenas

no processamento do algodão branco, são coletadas pelo sistema de

limpeza pública e enviadas ao aterro sanitário.

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• Os despejos atmosféricos, oriundos da secagem e vaporização, são

dispersos na atmosfera por meio de ventilação predial, nos dois tipos de

processos.

• O nível de ruído está presente em todas as etapas de produção, entre

75 e 85 decibéis na malharia e entre 80 e 97 decibéis na fiação, para

ambos os processos.

• A alta temperatura, principalmente nas etapas de secagem e

vaporização, está presente também, nos dois processos.

• Por fim, a poeira das partículas de algodão presente apenas na

fabricação da malha, também foi observada nos dois processos, tanto

com algodão branco quanto com algodão colorido.

Ante os resultados da pesquisa aqui realizada, pode-se concluir

que o algodão colorido se apresenta como solução para minimização de

despejos têxteis e uma promessa futura de contribuição ao meio ambiente, nas

grandes indústrias têxteis. Diz-se futura devido à sua pequena produção, se

comparada com a produção do algodão branco que, na última safra, foi de 4,9

mil toneladas da produção total do Estado, enquanto o algodão colorido não

passou de 96 toneladas, ou seja, 4,86% da produção agrícola paraibana;

entretanto, em termos de processamento industrial a participação do algodão

colorido é bem inferior, repercutindo negativamente para as indústrias têxteis

que trabalham com este tipo de matéria-prima, sobretudo em se tratando das

grandes indústrias, como foi o caso da empresa de fiação estudada cuja

capacidade de produção atinge 152 toneladas/dia, enquanto a máxima

quantidade enviada para ser processada até hoje de algodão colorido nesta

indústria, foi de 15 toneladas.

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Teme-se, desta forma, que esta matéria-prima, não se estabeleça nem se

concretize nas produções mais largas, visto que ainda existe uma pequena

produção; pouca variedade de cores e, conseqüentemente, de artigos; além

disso, é uma matéria-prima ainda pouco comercializada, uma vez que só

tem quatro anos de lançamento e seu mercado ainda é extremamente

específico.

Acredita-se, pois, que o algodão colorido é apenas uma grande

promessa de redução de custos e de impactos ambientais que, para se

concretizar, depende da elevação da oferta, tanto em quantidade como em

diversificação de cores.

5.2 RECOMENDAÇÕES

A pesquisa realizada pode servir de subsídio para realização de várias

pesquisas acadêmicas ou empresariais, relacionadas ao tema. Por se tratar

de uma matéria nova, visto que só em dezembro de 2000 foi lançada

oficialmente, o algodão colorido ainda pode ser mais explorado em diversas

áreas, como:

- na engenharia agrícola ou agronomia, focalizando os impactos

ambientais dos agrotóxicos no plantio do algodão colorido.

- na engenharia química e engenharia ambiental, trabalhando os

aspectos referentes à toxicidade dos efluentes, e à biodegradação,

apontando os tratamentos de resíduos e efluentes com

microrganismos.

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- na área de inovação tecnológica, enfatizando a inovação na

cotonicultura, com a descoberta do algodão colorido.

- na área de qualidade, procurando verificar, ou até mesmo propondo

algum sistema de gestão da qualidade, para se trabalhar com o

algodão natural.

- na área social, de logística e de custos, dentre outras.

Por ter sido trabalhada a fibra do algodão de Goiás, haja vista a

indústria pesquisada não utilizar o próprio algodão do Estado (Paraíba), deixa-

se aqui a recomendação para que futuras pesquisas possam ser realizadas

focalizando o algodão paraibano e suas características intrínsecas.

Ressalta-se, aqui, que não se pretendeu, no presente trabalho, esgotar o

conteúdo; muito longe disto, apenas foi uma pesquisa realizada com o intuito

de melhor identificar e compreender os impactos operacionais e ambientais

dentro de dois segmentos da cadeia têxtil: o de fiação e o de malharia,

servindo de contribuição para que outros estudos possam ser realizados

seja nesta direção ou em segmentos distintos, como tecelagem e/ou

confecção.

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GLOSSÁRIO

Afis – Aparelho utilizado nos laboratórios físicos para análise das

características intrínsecas da fibra do algodão.

Algodão Arbóreo – Algodão de grande porte, parecido com uma árvore.

Algodão Herbáceo – Algodão de pequeno porte

Anel – Tipo de tecnologia de fiação.

Artefatos – Produtos da indústria.

Bobina – Cilindro de plástico ou papelão para enrolar o fio.

Bobinadeira – Máquina que faz a passagem de fio de uma bobina para outra.

Cardas – Máquina que faz o paralelamento de fibras.

Compactação – Redução.

Conicaleira – Máquina que faz a passagem das bobinas do filatório a anel.

Consórcio – Associação de pessoas com patrimônio e interesses comuns em

determinados negócios.

Corpo receptor – Meio físico aquático (rio, lago ou mar) em que são lançados

efluentes.

Corpos d’água – Meio físico aquático

Cotonicultura – Cultura de algodão.

Depleção do oxigênio na água – Redução da quantidade (massa) de oxigênio

dissolvido em um determinado volume de água.

Enroladeiras – Máquina que faz o enrolamento do fio.

Fertilidade – Produtividade

Feromônio – Hormônio dos insetos para atrair os outros insetos

Fiação – Conjunto de máquinas necessárias para transformação da fibra do

algodão em fio.

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Fibras – Cada um dos filamentos que, dispostos em feixes, constituem tecidos

animais e vegetais ou certas substâncias minerais.

Filamentos – Fibra; fio de diâmetro muito pequeno.

Filatório – Máquina de fiação

Fricção – Tipo de tecnologia de fiação.

Gramatura – Peso em grama do tecido (malha) por metro quadrado.

Helicoidal – Que tem a forma de hélice.

HVI – Principal aparelho de determinação das características tecnológicas das

fibras.

Jato de ar – Tipo de tecnologia de fiação.

Linhagens – Genealogia, geração.

Línter – Resíduo do algodão remanescente das sementes.

Maçaroqueira – Máquina responsável por torcer e formar o pavio.

Mocó – Mesmo que arbóreo

Open end – Tipo de tecnologia de fiação, mais produtiva do que a anel, porém

de menor qualidade.

Passadores – Máquina que faz o processo de equalização do título da fita de

algodão.

Pectina – enzima de ligação existente nas frutas que mantém as células

grudadas uma nas outras.

Penteagem – Processo avançado de paralelamento de fibras e qualificação,

onde são retiradas fibras de pequenos tamanhos, restando apenas, fibras de

alta qualidade e ótimo índice de fiabilidade (fibras longas).

Pigmentos – Nome de diversas substâncias que impregnam certos tecidos

orgânicos ou dão aos líquidos do organismo a sua coloração especial.

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Rotor – Componente técnico da máquina open end responsável pela torção do

fio.

Ruptura – Rompimento

Tecelagem – Indústria onde são fabricados os tecidos como; cama mesa,

banho, brin, etc.

Título – Relação entre o comprimento e a massa de uma fibra, filamento, pavio

ou fio têxtil.

Torta – Resíduo proveniente da prensa do caroço de algodão utilizado para

alimentação de ruminantes (Caprinos e bovinos).

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA INDÚSTRIA

DE FIACÃO

1. Como é realizado o processo produtivo têxtil do algodão comum e do

colorido?

2. Qual a capacidade de produção dia?

3. Quantidade máxima de fio colorido que foi produzida até hoje?

4. Quantidade de máquinas envolvidas no processo?

5. Quantidade de mão-de-obra envolvida em cada etapa do processo

produtivo têxtil? Difere do algodão colorido?

6. Qual o custo (R$) para se industrializar o algodão comum e o colorido?

7. Há diferença de tempo de processamento entre o algodão colorido e o

algodão branco? Por quê?

8. Qual a percentagem de perda no processo envolvendo os dois tipos de

algodão?

9. Existe diferença de produtividade entre os algodões? Como é medida

esta produtividade?

10. Qual o tempo de setup na troca do algodão colorido para o branco e

vice-versa?

11. Qual o nível de ruído encontrado em cada etapa do processo?

12. Qual a resistência, o comprimento e a uniformidade da fibra do algodão

colorido? O significa?

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APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA INDÚSTRIA

DE MALHARIA

1. Como é realizado o processo produtivo têxtil do algodão comum?

1.1 Descrever o processo de tingimento.

1.1.1 Existe uma quantidade mínima de tecido e/ou malha para

ser tingido?

1.1.2 Qual a quantidade de água utilizada no processo?

1.1.3 Qual a quantidade de energia utilizada no processo?

1.1.4 O tempo gasto na operação de tingimento?

1.1.5 Quais os corantes utilizados e a quantidade?

2. Como é realizado o processo produtivo têxtil do algodão colorido?

3. Quantidade de mão-de-obra envolvida em cada etapa do processo

produtivo têxtil? Difere do algodão colorido? Qual percentagem?

4. Existe outro processo que esteja envolvido na fabricação da malha do

algodão comum que não se aplica ao algodão colorido?

5. Qual a produção dia do algodão comum? E do colorido?

6. Qual a produtividade do processo com o algodão colorido e com o

branco? Como é definida esta produtividade?

7. Qual a percentagem de perda no processo envolvendo os dois tipos de

algodão?

8. Tempo de setup do algodão comum e do algodão colorido?

9. Quais os resíduos decorrentes ou gerados depois do processo de

tingimento e acabamento têxtil?

10. Faz-se o reuso de água nos setores da tinturaria e acabamento dos

tecidos?

11. Quais os resíduos sólidos e gasosos gerados com no processo de

beneficiamento têxtil?

12. Qual a variação de nível de ruído verificada no processo produtivo?

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