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1 Rev. Saúde Integral, v.2, n.4, p. 1-15, 2020. ALINE MARTINS COSTA Pós-Graduação em Unidade de Terapia Intensiva e em Enfermagem do Trabalho, no Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição – CEEN; Enfermeira, graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. E-mail: [email protected] MARISLEI ESPÍNDULA BRASILEIRO Doutorado em Ciências da Saúde – ICS/UFG/ Doutorado em Ciências da Religião – PPGCR/PUC, Mestrado em Enfermagem – FE/ UFMG/ Enfermagem e Obstetrícia – FE/UFG/Docência. E-mail: [email protected] IMPACTO DE LONGAS JORNADAS DE TRABALHO ASSOCIADAS À SINDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM IMPACT OF LONG WORKING DAYS ASSOCIATED WITH BORNOUT'S SYNDROME ON NURSING PROFES IMPACTO DE LAS LARGAS HORAS DE TRABAJO ASOCIADAS CON EL SÍNDROME DE BURNOUT EN LOS PROFESIONALES DE ENFERMERÍA RESUMO: o objetivo deste é analisar a incidência e os fatores associados à síndrome de Burnout, dentre eles, o impacto de longas jornadas de trabalho associadas a está síndrome nos profissionais da enfermagem. Materiais e Método: Trata-se de uma revisão bibliográfica com caráter descritivo e exploratório, de abordagem qualitativa, onde se busca avaliar o impacto de longas jornadas de trabalho associadas à sindrome de bounot nos profissionais da enfermagem. Resultados: Identificou-se, nos estudos, entre os profissionais da enfermagem que a predominância é do sexo feminino, com predomínio entre 30 a 70,5 horas semanais trabalhadas, os profissionais na maioria das vezes apresentam dois ou mais vínculos empregatícios, onde os níveis de Burnout encontram-se mais elevados nos trabalhadores do turno diurno. Conclusão: Percebe-se a necessidade de novas pesquisas voltadas a avaliar SB no profissional em seus diversos vínculos empregatícios, uma vez que os estudos avaliam os níveis de Burnout apenas no local de trabalho onde foi realizado a pesquisa, o que contribui para uma sobrecarga de trabalho e consequente superestimação da prevalência de SB na população analisada. Descritores: Saúde do trabalhador, Carga de trabalho, Enfermagem, Prevenção de doenças, Estresse profissional. Sindrome de Burnout. ABSTRACT: the aim of the study is analyze the incidence and factors associated with Burnout syndrome, among them, or the impact of long working hours related to a syndrome on nursing professionals. Materials and Methods: This is a bibliographic review with a descriptive and exploratory character, with a qualitative approach, where it seeks to assess the impact of long working hours associated with bounot syndrome in nursing professionals. Results: It was identified among the nursing professionals that predominate in the female sex, with a predominance between 30 to 70.5 hours worked per week, the professionals most often perform two or more jobs, where the Burnout levels are used more high in day shift workers. Conclusion: Realize the need for new research aimed at assessing BS in professionals in various employment relationships, since studies assess Burnout levels only in the workplace where a survey was conducted, or what you use for work overload and consequent overestimation of the prevalence of BS in the analyzed population. Descriptors: Occupational health, Workload, Nursing, Disease prevention, Professional stress. Burnout syndrome.

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Rev. Saúde Integral, v.2, n.4, p. 1-15, 2020.

ALINE MARTINS COSTA

Pós-Graduação em Unidade

de Terapia Intensiva e em

Enfermagem do Trabalho,

no Centro de Estudos de

Enfermagem e Nutrição –

CEEN; Enfermeira,

graduada pela Pontifícia

Universidade Católica de

Goiás.

E-mail:

[email protected]

MARISLEI ESPÍNDULA

BRASILEIRO

Doutorado em Ciências da

Saúde – ICS/UFG/

Doutorado em Ciências da

Religião – PPGCR/PUC,

Mestrado em Enfermagem –

FE/ UFMG/ Enfermagem e

Obstetrícia –

FE/UFG/Docência.

E-mail:

[email protected]

IMPACTO DE LONGAS JORNADAS DE TRABALHO ASSOCIADAS À

SINDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM

IMPACT OF LONG WORKING DAYS ASSOCIATED WITH BORNOUT'S

SYNDROME ON NURSING PROFES

IMPACTO DE LAS LARGAS HORAS DE TRABAJO ASOCIADAS CON EL

SÍNDROME DE BURNOUT EN LOS PROFESIONALES DE ENFERMERÍA

RESUMO: o objetivo deste é analisar a incidência e os fatores associados à

síndrome de Burnout, dentre eles, o impacto de longas jornadas de trabalho

associadas a está síndrome nos profissionais da enfermagem. Materiais e

Método: Trata-se de uma revisão bibliográfica com caráter descritivo e

exploratório, de abordagem qualitativa, onde se busca avaliar o impacto de

longas jornadas de trabalho associadas à sindrome de bounot nos

profissionais da enfermagem. Resultados: Identificou-se, nos estudos, entre

os profissionais da enfermagem que a predominância é do sexo feminino,

com predomínio entre 30 a 70,5 horas semanais trabalhadas, os profissionais

na maioria das vezes apresentam dois ou mais vínculos empregatícios, onde

os níveis de Burnout encontram-se mais elevados nos trabalhadores do turno

diurno. Conclusão: Percebe-se a necessidade de novas pesquisas voltadas a

avaliar SB no profissional em seus diversos vínculos empregatícios, uma vez

que os estudos avaliam os níveis de Burnout apenas no local de trabalho

onde foi realizado a pesquisa, o que contribui para uma sobrecarga de

trabalho e consequente superestimação da prevalência de SB na população

analisada.

Descritores: Saúde do trabalhador, Carga de trabalho, Enfermagem,

Prevenção de doenças, Estresse profissional. Sindrome de Burnout.

ABSTRACT: the aim of the study is analyze the incidence and factors

associated with Burnout syndrome, among them, or the impact of long

working hours related to a syndrome on nursing professionals. Materials and

Methods: This is a bibliographic review with a descriptive and exploratory

character, with a qualitative approach, where it seeks to assess the impact of

long working hours associated with bounot syndrome in nursing

professionals. Results: It was identified among the nursing professionals that

predominate in the female sex, with a predominance between 30 to 70.5

hours worked per week, the professionals most often perform two or more

jobs, where the Burnout levels are used more high in day shift workers.

Conclusion: Realize the need for new research aimed at assessing BS in

professionals in various employment relationships, since studies assess

Burnout levels only in the workplace where a survey was conducted, or what

you use for work overload and consequent overestimation of the prevalence

of BS in the analyzed population.

Descriptors: Occupational health, Workload, Nursing, Disease prevention,

Professional stress. Burnout syndrome.

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Rev. Saúde Integral, v.2, n.4, p. 1-15, 2020.

RESUMEN: el objetivo del estudio es analizar la incidencia y los factores asociados con el síndrome de

Burnout, entre ellos, el impacto de las largas horas de trabajo asociadas con este síndrome en los

profesionales de enfermería. Materiales y método: Esta es una revisión bibliográfica con carácter

descriptivo y exploratorio, con un enfoque cualitativo, que busca evaluar el impacto de las largas horas de

trabajo asociadas con el síndrome de Bounot en los profesionales de enfermería. Resultados: en los

estudios, entre los profesionales de enfermería se identificó que el predominio es femenino, con un

predominio entre 30 y 70.5 horas por semana trabajada, los profesionales con mayor frecuencia tienen

dos o más relaciones laborales, donde los niveles Las tasas de agotamiento son más altas en los

trabajadores por turno de día. Conclusión: Existe la necesidad de más investigación dirigida a evaluar la

BS en profesionales en sus diversas relaciones laborales, ya que los estudios evalúan los niveles de

Burnout solo en el lugar de trabajo donde se realizó la investigación, lo que contribuye a una sobrecarga

de consiguiente sobreestimación de la prevalencia de BS en la población analizada.

Descriptores: Salud laboral, Carga de trabajo, Enfermería, Prevención de enfermedades, Estrés

profesional. Síndrome de burnout.

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos o impacto da carga e das longas jornadas de trabalho dos profissionais da

enfermagem se destacam como fator desencadeante de problemas de insatisfação e exaustão física e

mental, o que irá afetar diretamente na qualidade dos serviços prestados e na saúde do trabalhador,

podendo este, desencadear a Síndrome de Burnout, a qual é um dos maiores problemas psicossociais que

afetam a qualidade de vida dos enfermeiros, gerando grande impacto social e nas taxas de doenças

ocupacionais (SILVA et al, 2014; CARVALHO et al, 2019).

Para Biondi et al (2018) a dimensão da carga de trabalho estuda o nível da saúde dos

trabalhadores, sendo considerada como elementos dos processos do trabalho que interagem entre si o

corpo do trabalhador, o que desencadeia desgastes físicos, químicos, biológicas, mecânicas, fisiológicas e

psíquicas (CARVALHO et al, 2019). Segundo Carvalho et al (2019), as cargas físicas estão relacionadas as

mudanças de temperatura e as radiações ionizantes; as químicas, a manipulação de produtos químicos e

medicamentos em geral; as biológicas estão relacionadas à exposição ao sangue, fluidos corporais e

manipulação de materiais contaminados, as mecânicas são caracterizadas por acidentes de trabalho com

materiais perfurocortantes.

Alguns estudos realizados indicam que extensas jornadas de trabalho e trabalhos em turnos,

aqueles realizados de forma intermitente e em diferentes horários, sem escala fixa, são fatores de risco

que poderá desencadear o adoecimento do trabalhador (NASCIMENTO et al, 2018; RODRIGUES, SANTOS,

SOUZA, 2017; BALDONEDO-MOSTEIRO et al, 2019).

Para Carvalho et al (2019) as exposições as cargas de físicas podem ocasionar irritabilidade,

neoplasias, as mecânicas são responsáveis pelas quedas, cortes, torções e fraturas, as biológicas

acarretam infecções das vias aéreas superiores e inferiores, as químicas desencadeiam as dermatites e

alergias, as fisiológicas ocasionam dores musculares e estresse, enquanto as psíquicas podem provocar

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depressão, transtorno do humor, tristeza, ansiedade, cefaleia e desgaste mental, caracterizando o quando

da síndrome de Burnout, uma das maiores causas do adoecimento na enfermagem.

O ritmo acelerado tem influenciado no processo de saúde e adoecimento do trabalhador, os quais

são decorrentes da exposição prolongada a estressores ambientais e situacionais, dentre eles, longas

jornada de trabalho (geralmente turnos de 12 horas), dimensionamento de pessoal inadequado,

condições laborais insalubres, alta demanda de pacientes, acumulação de escalas de serviço, baixa

remuneração, relações interpessoais muitas vezes conflituosas, complexidade dos procedimentos,

recursos humanos e tecnológicos deficientes, que resultam no estresse ocupacional. Por conta da baixa

remuneração, acabam se sujeitando a múltiplos vínculos empregatícios, e consequentemente, cumprem

longas jornadas de trabalho, deixando o trabalhador mais susceptível a adoecer (VASCONCELOS,

MARTINO, 2017; RODRIGUES, SANTOS, SOUZA 2017; VIDOTTI et al, 2018; BIONDI et al, 2018;

RODRIGUES, SANTOS, SOUZA 2017).

Segundo Silva et al (2014), Burnout é conhecida também como a síndrome do esgotamento

profissional, é considerada uma síndrome multidimensional decorrente da experiência de atuarem em

contato direto com pacientes críticos, com prognósticos diferentes e graus de sofrimento diversos e a

morte de pacientes, na maioria das vezes apresentando sintomas específicos como irritabilidade, dores

musculares, falta de apetite, esgotamento físico e mental (MEDEIROS-COSTA et al, 2017; VASCONCELOS,

MARTINO, 2017; FRANÇA et al, 2012; VIDOTTI et al, 2018; BALDONEDO-MOSTEIRO et al, 2019;

NASCIMENTO et al, 2018).

De acordo com França et al (2012) esta síndrome constitui-se de três dimensões, exaustão

emocional, entendida como ausência de energia, acompanhada do sentimento de esgotamento dos

recursos emocionais, onde o profissional percebe que não tem mais energia para desenvolver suas

atribuições no atendimento aos pacientes; despersonalização caracterizada por insensibilidade emocional,

apresentará distanciamento emocional e indiferença em relação às atividades laborais, apresentando

perda de compaixão para com os outros; e baixa realização profissional, apresenta-se na maioria das

vezes uma sensação de insuficiência, baixa autoestima, auto avaliação negativa do desempenho laboral,

insatisfação com suas atividades e com o desenvolvimento profissional.

Logo, Burnout caracteriza-se pela perda de significado do trabalho, desmotivação, atitudes

negativas e de distanciamento em relação aos outros, o que causa prejuízos no processo de trabalho em

saúde e leva a vontade de abandonar a profissão (MEDEIROS-COSTA et al, 2017; VIDOTTI et al, 2018;

BALDONEDO-MOSTEIRO et al, 2019).

Burnout é característica do meio laboral em resposta a um estresse crônico, afetando

diretamente o trabalhador em nível individual, familiar e o lado profissional, no desempenho de tarefas,

relacionamento interpessoal, produtividade, a qualidade de vida no trabalho, do indivíduo e da

organização, podendo acarretar má qualidade na assistência prestada, e social (FRANÇA et al, 2012;

VIDOTTI et al, 2018; RODRIGUES, SANTOS, SOUZA 2017; VIDOTTI et al, 2018).

Vidotto et al (2018) realizou diversos estudos nacionais referente a prevalência da síndrome de

Burnout e o aumento nos índices de absenteísmo, aumento na rotatividade de trabalhadores e

aposentadorias precoces, repercutindo, consequentemente, em problemas para essas organizações,

temas também abordados nos estudos de França et al (2012) e Silva et al (2014).

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Rev. Saúde Integral, v.2, n.4, p. 1-15, 2020.

Assim, diante do exposto, o objetivo neste estudo foi analisar a incidência e os fatores associados

à síndrome de Burnout, dentre eles, o impacto de longas jornadas de trabalho associadas a está síndrome

nos profissionais da enfermagem, conhecer as produções cientificas a cerca do assunto, avaliando os

resultados e suas consequências e o seu impacto na saúde do trabalhador.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de uma revisão bibliográfica com caráter descritivo e exploratório, de abordagem

qualitativa, onde se busca avaliar o impacto de longas jornadas de trabalho associadas à sindrome de

bounot nos profissionais da enfermagem. Os dados para a pesquisa foram coletados através do

levantamento das produções científicas em bases de dados online produzidos entre 2010 e 2020 e

posteriormente realizado a análise dos resultados dos artigos publicados em periódicos nacionais e

internacionais (MENDES, SILVEIRA, GALVÃO, 2008).

Para alcançar os objetivos propostos neste estudo, o método eleito foi a revisão integrativa que

se caracteriza por resgatar e sumarizar pesquisas anteriores, permitindo conclusões que articulam os

resultados obtidos em diferentes estudos, proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da

aplicabilidade de resultados de estudos. A revisão de literatura propõe o estabelecimento de critérios bem

definidos sobre a coleta de dados, análise e apresentação dos resultados, desde o início do estudo, a

partir de um protocolo de pesquisa previamente elaborado e validado (OLIVEIRA, GARCIA, NOGUEIRA

2016; SCHMOELLER 2011; RODRIGUES, SANTOS, SOUSA 2017; BELLUCCI JÚNIOR, MATSUDA, 2011).

O levantamento bibliográfico foi realizado por meio de consulta ao portal da Biblioteca Virtual de

Saúde (BVS) incluindo as fontes de informações: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da

Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Medical Literature Analysis and Retrieval

System Online (MEDLINE), National Library of Medicine, EUA (PubMed), Scientific Electronic Library Online

(SciELO), na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), limitando-se às

publicações dos últimos dez anos (janeiro de 2010 a maio de 2020) e também em plataformas de ampla

indexação online de revistas científicas em saúde nacionais e internacionais, cujos artigos apresentam

importante impacto na literatura científica.

Os descritores em ciências da saúde (DeCS) utilizados foram: Saúde do trabalhador, Carga de

trabalho, Enfermagem, Prevenção de doenças, Estresse profissional. Sindrome de Burnout. Foi realizado

uma triagem dos artigos relacionados ao tema abordado com base nos titulos tendo como ideia principal a

sindrome de Burnout associadas a longas jornadas de trabalho de enfermeiros.

A revisão seguiu as seguintes etapas: pesquisa e coleta dos artigos através das palavras-chave,

análise qualitativa dos periódicos, análise qualitativa dos resumos, discussão e análise dos dados (SOUZA,

SILVA, CARVALHO, 2010). A Figura 1 representa as etapas do processo de seleção adotado para o estudo.

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Rev. Saúde Integral, v.2, n.4, p. 1-15, 2020.

Figura 1 – Fluxograma de identificação, seleção e inclusão dos artigos pesquisados.

Fonte: Autora (2020).

Como critérios de inclusão dos artigos estabeleceram-se artigos completos, publicados no período

entre 2010 a 2020, indexados nas bases de dados mencionadas, que abordassem sobre o impacto da

carga de trabalho / jornada de trabalho relacionadas a sindrome de Burnout em enfermeiros. Foi realizada

a busca inicial pelos resumos dos artigos que respondiam aos descritores adotados e, selecionados

aqueles que mencionavam fatores relacionados ao impacto da carga de trabalho / jornada de trabalho

relacionadas a sindrome de Burnout em enfermeiros (MENDES, SILVEIRA, GALVÃO, 2008).

A partir da metodologia escolhida, foi realizada a busca nos bancos de dados com os descritores

saúde do trabalhador, carga de trabalho, enfermagem, prevenção de doenças, estresse profissional e

Síndrome de Burnout onde foram selecionados 80 artigos em potencial.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Atualmente há um grande número de publicações na literatura acerca da síndrome de Burnout e

seus fatores desencadeantes nos profissionais da enfermagem, os quais evidenciam que são resultantes

da sobrecarga de trabalho, conflitos no relacionamento interpessoal, duplas jornadas de trabalho, o que

acaba sobrecarregado, fadigando e gerando esgotamento físico e mental no profissional (BALDONEDO-

MOSTEIRO et al, 2019).

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Rev. Saúde Integral, v.2, n.4, p. 1-15, 2020.

Após a leitura dos títulos e resumos foram excluidos 12 artigos com base nos críterios de

incluisao adotados, em seguida, foi realizada um leitura profunda e detalhada nos resumos de 68 artigos

a fim de selecionar os que abordassem sobre o tema.

Quadro 1 – Quadro de Periódicos e avaliação Qualis.

Fonte: Autora (2020).

Desta análise inicial foram selecionados 51 artigos com base na avaliação quanto ao Qualis

CAPES da plataforma Sucupira, o qual é um instrumento utilizado para classificar as produções cientificas

dos programas de pós graduação no que se refere aos artigos publicados em periódicos científicos

classificando-os em oito categorias: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C, onde foram selecionados apenas os

artigos publicados em revistas com Qualis A1, A2, B1 e B2, conforme demonstrado no Quadro 1.

No quando 2 se observam a distribuição da quantidade de periódicos segundo a Qualis.

Quadro 2 – Quantidade de Periódicos encontrados segundo o Qualis de sua revista de publicação.

Fonte: Autora (2020).

De acordo com os critérios de avaliação estabelecidos, encontrou-se 51 artigos com avaliação na

Qualis de A1 a B2, onde essa classificação da Qualis confere uma maior confiabilidade e qualidades dos

periódicos pesquisados como demonstrado no quando 2.

Qualis Total

A1 5 3 1 7 16

A2 2 6 5 1 14

B1 1 2 1 1 2 3 2 3 1 4 20

B2 1 1

51

Quantidade de Periódicos

Qualificação

(Qualis)Total

1 BMC NURSING (ONLINE) A1 5

2 CIÊNCIA & SAÚDE COLETIVA B1 1

3 CIÊNCIA E SAÚDE COLETIVA (IMPRESSO) B1 2

4 CLINICAL PRACTICE AND EPIDEMIOLOGY IN MENTAL HEALTH B1 1

5 CLINICAL SCIENCE (1979) A1 3

6 GACETA SANITARIA (BARCELONA. ED. IMPRESA) B1 1

7 INTERNATIONAL JOURNAL OF ENVIRONMENTAL RESEARCH AND PUBLIC HEALTH B1 2

8 JOURNAL OF CLINICAL NURSING A1 1

9 PLOS ONE A2 2

10 PSICOLOGIA: REFLEXÃO E CRÍTICA B1 3

11 REBEN - REVISTA BRASILEIRA DE ENFERMAGEM A2 6

12 REVISTA BRASILEIRA DE EPIDEMIOLOGIA B1 2

13 REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DO TRABALHO B2 1

14 REVISTA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA B1 3

15 REVISTA DA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA USP A2 5

16 REVISTA DE SALUD PUBLICA B1 1

17 REVISTA DE SAÚDE PÚBLICA (ONLINE) A2 1

18 REVISTA GAÚCHA DE ENFERMAGEM B1 4

19 REVISTA LATINO-AMERICANA DE ENFERMAGEM (USP - RIBEIRÃO PRETO) A1 7

51TOTAL DE PERIÓDICOS

PERIÓDICOS

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Rev. Saúde Integral, v.2, n.4, p. 1-15, 2020.

Após a leitura na íntegra dos 51 artigos pré-selecionados apenas 19 atenderam aos critérios de

elegibilidade desta revisão, compondo assim a amostra final (SOUZA, SILVA, CARVALHO, 2010).

Conforme demonstra o quadro 2 tivemos 20 artigos com avaliação B1 o que representou 39%,

dezesseis com avaliação A1 representando 31%, catorze avaliados como A2 caracterizando 27% e apenas

1 artigo B2 representando 2%, destes, após a leitura na integra, vinte artigos foram selecionados para

compor a amostra no qual foram analisados e discutidos os resultados encontrados nos estudos.

Nos trabalhos encontrados, há vários estudos que apontam que o trabalhador que possui mais de

um vínculo empregatício e com uma maior carga de trabalho está mais propenso a desenvolver doenças

ocupacionais, dentre ela Burnout, o que afetará diretamente o seu bem-estar e sua saúde

comprometendo a qualidade da assistência prestada, resultando em erros. Partindo disso, apenas 18

artigos se qualificaram para compor a análise após a seleção dos artigos conforme o Qualis da revista de

publicação, conforme demonstra o quadro 3.

Quadro 3: Qualificação dos periódicos.

QUALIS 2012 2016 2017 2018 2019 2020 Total

1REVISTA LATINO-AMERICANA DE ENFERMAGEM (USP -

RIBEIRÃO PRETO)A1 1 1 1 1 4

2 REVISTA DA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA USP A2 1 1 2

3 BMC NURSING (ONLINE) A1 2 1 3

4INTERNATIONAL JOURNAL OF ENVIRONMENTAL RESEARCH

AND PUBLIC HEALTHB1 1 1 2

5 JOURNAL OF CLINICAL NURSING A1 1 1

6 REBEN - REVISTA BRASILEIRA DE ENFERMAGEM A2 1 1 2

7 REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DO TRABALHO B1 1 1

8 REVISTA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA B1 1 1

9 REVISTA DE SAÚDE PÚBLICA (ONLINE) A2 1 1

10 REVISTA GAÚCHA DE ENFERMAGEM B1 1 1

1 2 3 5 6 1 18

PERIÓDICOS

TOTAL DOS PERIÓDICOS

Fonte: Autora (2020).

Temos dentre os periódicos com maiores número de publicações sobre o tema temos a Revista

Latino-Americana de Enfermagem com 4 artigos, Revista da Escola de Enfermagem USP com 2 artigos, a

BCM Nursing (online) com 3 artigos e a REBEN – Revista Brasileira de Enfermagem com 2 artigos, os anos

com maior número de publicações foram entre 2016 e 2019, tendo uma taxa de 11% das publicações no

ano de 2016, no ano de 2017 teve 17%, 28% no ano de 2018 e 33% no ano de 2019, conforme descrito

no quadro 3.

Com base nos critérios estabelecidos foram destacados 18 periódicos com avaliação da Qualis

dentro dos critérios de inclusão, ou seja, A1 a B2 para conferir uma maior confiabilidade da qualidade dos

artigos pesquisados. Podemos observar na figura 2 a distribuição das revistas pesquisadas de acordo com

a avaliação da plataforma Qualis Sucupira:

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Figura 2: Classificação Qualis dos periódicos.

Fonte: Autora (2020).

Dos artigos selecionados para compor a amostra da pesquisa, 8 possuem avaliação da Qualis A1,

5 são A2 e 5 são B1, conforme mostrado no quadro 2, onde tal classificação proporciona uma maior

confiabilidade na compilação dos dados analisados. Dos artigos selecionados 75% foram realizados no

Brasil, 10% na Espanha, Camarões, EUA e Irã, com maior taxa de publicações nos anos de 2017 a 2019

em revistas nacionais e internacionais.

Os artigos selecionados utilizaram como metodologia estudo de caso, trata-se de um estudo

profundo de um ou de poucos casos, a fim de investigar um fenômeno dentro do seu próprio contexto,

levantamento de campo tratar-se de uma investigação realizada através de perguntas diretamente às

pessoas que se pretende estudar e pesquisa bibliográfica que realiza um levantamento de informações e

conhecimentos acerca de um tema a partir de diferentes materiais bibliográficos já publicados,

proporcionando uma discussão de diferentes autores e dados (SOUZA, SILVA, CARVALHO, 2010),

conforme será demonstrado na figura 3:

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Figura 3: Método aplicado nos artigos.

Fonte: Autora (2020).

Nos artigos que compõem a amostra, em 67% foi utilizado o levantamento de campo, em 28%

pesquisa bibliográfica e apenas 6% realizara estudo de caso. A partir dessas informações coletadas, os

dados foram analisados de acordo com os temas mais abordados (SOUZA, SILVA, CARVALHO, 2010),

conforme representados na figura 4:

Figura 4: Temas abordados nos artigos relacionados à Burnout.

Fonte: Autora (2020).

Os temas foram agrupados de acordo com o conteúdo em duas categorias temáticas, onde 68%

estavam relacionados ao multiplo vinculo empregaticio enquanto 32% estao relacionados à aspectos de

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carga emocional (exaustão emocional) (SOUZA, SILVA, CARVALHO, 2010), conforme representados na

Figura 4.

3.1 Duplo vínculo empregatício / carga de trabalho

Segundo o estudo de França et al (2012) m seu levantamento de campo, de uma amostra de 141

profissionais da enfermagem, 84,40% dos profissionais entrevistados realizam carga horária de 40 horas

semanais e 6,38% pertenciam a escala de 30 horas semanais distribuídas em turnos de 6 horas, onde

26,24% possuíam outro vínculo empregatício e 63,83% não trabalhavam em outros locais, 13

apresentaram SB, onde os profissionais mais acometidos foram aqueles com regime de trabalho diarista,

30 horas semanais de serviço, contratado, com duplo emprego.

No estudo de Nascimento et al (2016), cuja amostra foi de 231 profissionais da enfermagem, a

maioria estava distribuída nos plantões diurnos, possuíam um vínculo empregatício e trabalhava em

média de 52 horas semanais. Neste estudo, 44,6% considerou-se estressada, com prevalência de Burnout

de 39% e 57,6% apresentavam transtornos mentais comuns e alto nível de estresse em 44,6%.

No estudo de Fernandes et al (2016) com uma amostra de 2.818 profissionais da enfermagem,

87,3% eram do sexo feminino, trabalhando com carga horaria com mais de 60,5 horas semanais, quase

50% dos trabalhavam no turno da noite 2/3 trabalhavam em dois ou mais locais, onde 7,1% referiram ter

saúde ruim ou muito ruim. Os trabalhadores do sexo masculino trabalhavam cerca de 49,5 a 70,5 horas

semanais, dos quais, 63,1% trabalhavam no turno da noite 79,1% relataram ter dois ou mais empregos

na área da enfermagem, apresentando uma avaliação de saúde ruim ou muito ruim em 6,8%.

Corroborando como os estudos anteriores, Silva et al (2017) constatou em seu estudo que do

grupo feminino o tempo médio de trabalho foi de 55,1 horas por semana, onde 50% trabalhavam no

turno da noite e aproximadamente 2/3 trabalhavam em dois ou mais locais, no grupo masculino 63,1%

trabalhavam no turno da noite e 71,9% relataram ter dois ou mais empregos na área de enfermagem.

Nos grupos com mais de dois vínculos empregatícios houve uma média de 55 a 61 horas de trabalho para

ambos os sexos, outros com carga horária de até 70,5 horas semanais e um grupo com jornada superior

a 70,5 horas semanais.

Sobral et al (2018) em seu estudo, obteve uma amostra de 281 profissionais da enfermagem,

com prevalência geral de SB em 11,9%, tendo como fatores determinantes para o aumento das taxas do

adoecimento e consequentemente o absenteísmo a sobrecarga de trabalho, falta de recursos humanos,

condições inadequadas de trabalho, o que aumenta a sobrecarga de trabalho é o fato de muitos

profissionais possuírem dois ou mais empregos, além de outros fatores estressores como a alta de apoio

de supervisores e colegas, questões de relacionamento, falta de diálogo no processo de trabalho, falta de

reconhecimento e os baixos salários, os quais são fatores determinantes de risco para o estresso

ocupacional e a exaustão física e mental.

No estudo de Vidotti et al (2018) dos 502 participantes, 53,98% trabalhavam no turno diurno e

46,02% trabalhavam no turno noturno, onde 97,21% trabalhavam em média 42 horas semanais. Foi

constatado níveis de Burnout mais elevados entre os trabalhadores do período diurno, pois este costuma

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ser mais intenso, com maior demanda de atividades laborais devido ao maior volume de cuidados e

procedimentos prestados, e com este regime de turno permite que o profissional tenha tem dois ou três

vínculos empregatícios, aumentando ainda mais o estresse ocupacional, associados aos os fatores

psicossociais e do contexto laboral, sobretudo o baixo apoio social, tiveram associação com as dimensões

da síndrome entre os profissionais de enfermagem de ambos os turnos.

No estudo nacional de 812 profissionais norte-americanos realizado por Dyrbye et al (2019),

94,5% do sexo feminino, com carga horária de 41,5 horas semanais, mais de um terço apresentou

sintomas substanciais de Burnout, 35,3% apresentaram pelo menos um sintoma de Burnout, 30,5%

apresentando alta exaustão emocional e 30,7% apresentavam sintomas de depressão, com isso,

perceberam que, os enfermeiros que apresentaram Burnout estiveram ausentes 1 ou mais dias de

trabalho no último mês devido à saúde pessoal e 43,8% apresentaram baixo desempenho no trabalho no

último mês.

Merces et al (2020) com uma amostra de 1.125 profissionais, a prevalência de SB foi de 18,3%,

o que corrobora com os demais autores, destacando em seu estudo que os múltiplos vínculos trabalhistas

em virtude do baixo reconhecimento e remuneração, associado a falta de recursos materiais e humanos e

aos turnos noturnos, levando a um maior nível de estresse ocupacional e maior prevalência de Burnout.

3.2 Aspectos a carga emocionais (sobrecarga/exaustão emocional)

No estudo realizado por Guirardelo (2017) com 114 profissionais de enfermagem, 79,8% era do

sexo feminino, 81,4% apresentava apenas um vínculo empregatício, quanto à Burnout, a maioria

apresentou baixo nível de exaustão emocional e sentimento de despersonalização, mas baixo nível de

realização profissional.

Baldonedo-Mosteiro et al (2019) também destaca que o Burnout no cenário brasileiro e espanhol

advém da sobrecarga de trabalho e de conflitos no relacionamento interpessoal, relacionados à falta de

energia para realização das atividades laborais em decorrência da fadiga e do esgotamento físico e

mental, associados à insatisfação profissional, a intenção em deixar o emprego no próximo ano e ao

sentimento de sobrecarga. Do seu estudo, 94,06% trabalham na atenção hospitalar,74,02% não possuem

estabilidade no emprego, e 77,76% consideram o trabalho como estressante.

Corroborando com o estudo anterior, Monsalve-Reyes et al (2018) em sua metanálise, com

amostra de 1110 enfermeiros da atenção básica, a alta prevalência de exaustão emocional foi de 28%,

%), despersonalização alta foi de 15% e 31% por baixa realização pessoal. Problemas como exaustão

emocional e baixa realização pessoal são muito comuns entre os enfermeiros da atenção básica, enquanto

a despersonalização é menos prevalente.

Carvalho et al (2019) identificou as cagas as cargas de trabalho presentes no trabalho da

Enfermagem e a sua associação com os desgastes à saúde dos trabalhadores, onde ele destaca as cargas

psíquicas presentes no ambiente de trabalho como geradoras de desgastes físicos e mentais, o que

evidencia o aumento da fadiga, irritabilidade, dificuldades de concentração, perturbação no sono e a

possibilidade de cometer erros.

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No estudo de Hosseinabadi et al (2019) com 684 profissionais, a SB foi maior em enfermeiros

permanentes e por turnos irregulares, e aqueles que trabalhavam mais de 40 horas semanais,

encontrando correlação entre a insatisfação no trabalho, turno e jornada semanal de trabalho, onde cerca

de 15% dos enfermeiros sofriam de altos níveis de síndrome de Burnout Cerca de 40% dos enfermeiros

apresentavam exaustão emocional, notaram que os enfermeiros que trabalham em horários de trabalho

irregulares geralmente apresentam baixa qualidade do sono devido a perturbações repetidas do ritmo

circadiano e interação social inadequado. Os resultados também indicam que a demanda psicológica, o

suporte no local de trabalho, alta carga de trabalho e baixos salários levam a efeitos adversos na saúde

física e mental dos enfermeiros, descobriram que os trabalhadores com alta demanda de emprego

relataram cerca de 5 vezes mais desgaste do que os trabalhadores com baixa demanda de emprego,

fatores estes, considerados como preditores significativos para Burnout.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este estudo, observou que a prevalência de síndrome de Burnout entre os profissionais de

enfermagem é alta, e ainda é muito subestimada, onde teve como objetivo analisar a incidência e os

fatores associados à síndrome de Burnout, dentre eles, o impacto de longas jornadas de trabalho

associadas a está síndrome nos profissionais da enfermagem.

Os estudos evidenciam que profissionais com menor carga horária apresentam maior número dos

desvios nas dimensões de Burnout, uma vez que possuem carga horária menor em uma instituição

possibilita possuir um duplo vínculo empregatício para melhorar a renda familiar. Essas longas horas de

trabalho, regimes de turnos e duplo vínculo empregatício são considerado fontes geradoras de estresse

ocupacional, esgotamento, sofrimento psicossocial, o que irá refletir diretamente em alterações

fisiológicas, comportamentais, e o afastamento em decorrência de Burnout, sintomas depressivos e

transtornos mentais comuns.

Destacam, desta forma, que tanto a segurança do profissional quanto do paciente podem estar

prejudicadas, já que o profissional afetado pela Síndrome de Burnout, em acúmulos de tarefas,

sobrecarga laboral, com trabalho por turnos e noturnos sentem-se exaustos, frequentemente estão

doentes, sofrem de insônia, úlcera digestiva, dores de cabeça, problemas relacionados à pressão arterial,

tensão muscular, fadiga crônica, esgotamento físico e mental, o que por sua vez irá refletir diretamente

em atendimento deficiente ou de má qualidade, com chances de cometer erro durante a assistência e

maiores riscos de acidentes de trabalho.

Com isso, há uma grande necessidade de novas pesquisas longitudinais dos fatores

sociodemográficos, ocupacionais e psicológicos que podem desencadear o aparecimento de Burnout entre

os profissionais da enfermagem, bem como pesquisas destinadas a avaliar SB no profissional em seus

diversos vínculos empregatícios, uma vez que os estudos avaliam os níveis de Burnout apenas no local de

trabalho onde foi realizado a pesquisa, o que contribui para uma superestimação da prevalência de SB na

população analisada.

Considerando a abrangência do impacto das longas jornadas e trabalho e múltiplos vínculos

trabalhistas, sugere-se o desenvolvimento de novos estudos no intuito de buscar alternativas para

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atenuar os elementos causadores de desgaste, promovendo aos gestores uma reflexão sobre o ambiente

de trabalho, condições laborais, recursos humanos e materiais, carga de trabalho e suas consequências

para os profissionais de enfermagem, uma vez que os achados evidenciam que ambientes favoráveis à

prática profissional da equipe de enfermagem podem resultar em menores níveis de exaustão emocional e

uma menor taxa de Burnout, partindo disso, também pode-se utilizar medidas de incentivo à atividade

física pois estas reduzem a o estresse e proporciona um equilíbrio psicológico e estimula a interação

social, e portanto servem como coadjuvante na proteção da BS.

Sendo assim, pretendeu-se ajudar a aumentar a conscientização sobre Burnout entre os

enfermeiros e fornecer subsídios aos gestores e profissionais da enfermagem na elaboração de ações para

melhorar as condições do trabalho nos diferentes turnos, propiciar melhor qualidade de vida laboral,

subsidiar pontos de reflexão sobre como promover à saúde no trabalho e a elaboração de programas de

saúde ocupacional, para prevenir e detectar as doenças ocupacionais, e desenvolver estudos a respeito

dessa temática, para melhor compreender os fatores que contribuem para o processo saúde e doença dos

trabalhadores de enfermagem em instituições hospitalares.

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