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Os gargalos da (falta de) inovação Tese desenvolvida por Tulio Chiarini, do Instituto de Economia, investiga as causas da baixa capacidade de inovação nas empresas nacionais www.unicamp.br/ju Campinas, 9 a 15 de março de 2015 - ANO XXIX - Nº 618 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA U ornal da J MALA DIRETA POSTAL B Á S I C A 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA CORREIOS FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT ni camp Ilustração: Fábio Reis TELESCÓPIO Vida sem oxigênio e água no ambiente Estudo descarta conexão entre raios cósmicos e clima Cientistas descobrem galáxia repleta de ‘fuligem e areia’ 5 3 Grupo faz mapa inédito de óvulos e embriões bovinos 9 Coleção ‘Bibliotheca Latina’ reúne clássicos 4 A luta de cinco pessoas que voltaram aos estudos 6 Tese aponta falhas na formação de doutores 12 José Costa Leite, o último almanaqueiro 2 Os gargalos da (falta de) inovação

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Os gargalos da (falta de)

inovação Tese desenvolvida por Tulio Chiarini, do Instituto de Economia, investiga as causas da baixa capacidade de inovação nas empresas nacionais

www.unicamp.br/ju Campinas, 9 a 15 de março de 2015 - ANO XXIX - Nº 618 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA UornaldaJ MALA DIRETA POSTAL

B Á S I C A9912297446/12-DR/SPIUNICAMP-DGACORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADOPODE SER ABERTO PELA ECT

nicampIlustração: Fábio Reis

TELESCÓPIO

Vida sem oxigênio e água no ambiente

Estudo descarta conexãoentre raios cósmicos e clima

Cientistas descobrem galáxiarepleta de ‘fuligem e areia’

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3 Grupo faz mapa inédito deóvulos e embriões bovinos

9 Coleção ‘Bibliotheca Latina’ reúne clássicos

4 A luta de cinco pessoas que voltaram aos estudos

6 Tese aponta falhas naformação de doutores

12 José Costa Leite, oúltimo almanaqueiro

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Os gargalos da (falta de)

inovação

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Campinas, 9 a 15 de março de 2015Campinas, 9 a 15 de março de 20152TELESCÓPIOCARLOS ORSI

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Mais antigo vestígio do gênero Homo

Um fragmento de mandíbula, ainda contendo cinco dentes intactos, é o mais antigo vestígio já encontrado da presença de um indivíduo do gênero Homo – o mes-mo a que pertence o Homo sapiens, a espécie humana – no mundo, diz artigo publica-do na revista Science. O pedaço de osso foi achado na região de Ledi-Geraru, na Etió-pia, em 2013, por Chalachew Seyoum, um estudante de graduação, e datado de 2,8 milhões de anos atrás.

Os autores do artigo que descreve a des-coberta, vinculados a instituições dos Es-tados Unidos, Reino Unido e Etiópia, lem-bram que a história da evolução original do gênero Homo continua nebulosa, principal-mente por causa da escassez de fósseis data-dos de 2 milhões a 3 milhões de anos atrás.

O artigo aponta semelhanças entre o fóssil descoberto e o Australopithecus afa-rensis, espécie de um gênero diferente e an-terior ao Homo. Mas destaca que o fóssil combina características mais modernas. “O espécime de Ledi-Geraru confirma que a divergência da anatomia australopitecina mandibular e dentária foi uma marca pre-coce da linhagem Homo”.

Também na última semana, a revista Na-ture publicou uma reconstituição de crânio da espécie Homo habilis, sugerindo que esse representante do gênero Homo pode ter se originado há 2,3 milhões de anos.

Vida baseada em metano

Pesquisadores dos Estados Unidos pu-blicaram, no periódico online de livre acesso Science Advances, ligado à revista Science, um modelo para formas de vida que não depen-dem da presença de água no estado líquido ou oxigênio no ambiente. Os autores, da Universidade Cornell, criaram uma “mem-brana celular” baseada em carbono e nitro-gênio, e capaz de funcionar como uma mem-brana tradicional – só que num ambiente de metano líquido.

Os autores do trabalho batizaram sua criação de “azotossomo”, a partir de “azoto”, o nome clássico do nitrogênio, em analogia a “lipossomo”, nome dado às vesículas esféri-cas de gordura usadas como modelos artifi-ciais de células. Nota divulgada por Cornell lembra que os materiais envolvidos na cria-ção do azotossomo, bem como o ambiente onde esse tipo de vesícula seria útil para seres vivos – um mar gelado de metano – existem em Titã, uma das luas do planeta Saturno.

A física das multidões

Pedestres evitam colisões ao caminhar em ambientes lotados não agindo como partículas que se repelem de acordo com leis análogas às do magnetismo ou da ele-tricidade, onde a intensidade da força re-pulsiva aumenta com a diminuição da distância, mas de acordo com uma regra onde a força varia de acordo com o tempo estimado até a colisão. O estudo que pro-duziu esse resultado foi apresentado numa reunião da Sociedade de Física dos Estados Unidos.

“Essa simples lei é capaz de descrever interações humanas numa ampla varieda-de de situações, velocidades e densidades. Também mostramos, por meio de simula-ções, que a lei de interação que identifica-mos é suficiente para reproduzir diversos fenômenos de multidão conhecidos”, diz o artigo. Os autores são vinculados à Univer-sidade de Minnesota e ao Laboratório Na-cional de Argonne.

Raios cósmicos e clima

Pesquisadores do Reino Unido, China e Estados Unidos encontraram uma liga-ção estatística entre o fluxo de raios cós-micos que chega à atmosfera terrestre e a variação anual de temperatura no planeta, mas nenhuma conexão entre esse fluxo e o aquecimento global de longo prazo consta-tado ao longo do século 20. O trabalho que apresenta essas conclusões foi publicado no periódico PNAS.

Raios cósmicos são partículas de alta energia, muitas vezes núcleos atômicos, que chegam à Terra vindas do espaço. Quando penetram na atmosfera, podem precipitar a formação de nuvens, afetan-do o clima. Esse papel dos raios cósmicos muitas vezes é citado por negacionistas que buscam minimizar a influência do ser humano na mudança climática.

O novo estudo aplica uma nova técnica de análise, chamada mapeamento cruzado convergente, em busca de sinais de uma relação de causa e efeito entre os raios cós-micos e as temperaturas globais. “Não en-contramos nenhuma evidência mensurável de um efeito causal ligando raios cósmicos à tendência geral de aquecimento do sécu-

lo 20”, escrevem os autores. “No entanto, descobrimos um efeito causal significativo, mas modesto, dos raios cósmicos na varia-ção anual de curto prazo na temperatura global”.

Gripe é mais rarado que parece

Adultos com mais de 30 anos só pegam gripe – definida como a doença causada pelos vírus do tipo influenza – duas ve-zes por década, sugere estudo publicado no periódico de livre acesso PLoS ONE. Os demais episódios seriam de doenças se-melhantes à gripe e confundidas com ela, como infecções respiratórias e resfriados, provocadas por diferentes patógenos.

Os autores do trabalho reuniram dados sobre a presença de anticorpos de nove ti-pos de vírus influenza, que circularam en-tre 1968 e 2009, em voluntários chineses, e descobriram que crianças sofrem, em média, uma infecção por influenza a cada dois anos, mas que à medida que a ida-de avança, o intervalo aumenta cada vez mais.

A pesquisa, realizada em conjunto por cientistas do Reino Unido, Estados Uni-dos e China, levou a um modelo matemá-tico de como a imunidade à gripe varia ao longo da vida. Esse modelo acabou dando apoio à tese de que as cepas de gripe en-frentadas na juventude causam uma rea-ção imunológica mais robusta que as que vêm depois.

Onda e partícula

Um experimento realizado na Eco-le Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), na Suíça, conseguiu fazer com que um feixe de luz manifestasse, ao mesmo tempo, características de onda e de partí-cula. Um dos mais conhecidos “parado-xos” da física quântica é o de que é possível criar experimentos que comprovam que a luz é uma onda, e também experimentos que provam que ela é uma partícula – sen-do que onda e partícula são conceitos que, no mundo macroscópico, parecem mutua-mente excludentes.

O experimento da EPFL registra o cará-ter duplo da luz numa escala nanométrica, capturando a interação de uma onda lumi-nosa estacionária – criada a partir da in-terferência entre duas ondas emitidas em direções opostas – e um feixe de elétrons. Como explicam os autores do trabalho, por meio de nota, essa interação tem a na-tureza de uma troca de partículas, mesmo com a luz confinada na forma de onda. O experimento é descrito no periódico online Nature Communications, do grupo Nature.

Poeira primordial

O Universo primitivo não tinha poeira, apenas gás: partículas sólidas tiveram de esperar surgir a primeira geração de estre-las e galáxias antes de poderem aparecer, mas um grupo internacional de astrôno-

mos relata, numa edição recente da revista Nature, a descoberta de uma galáxia “repleta de poeira” apenas 700 milhões de anos após o Big Bang. Essa poeira é composta funda-mentalmente de partículas finas de carbo-no e silício, ou “fuligem e areia”, de acor-do com nota divulgada pelo Instituto Niels Bohr da Universidade de Copenhague.

A detecção da poeira numa galáxia tão distante envolveu observações feitas com o Telescópio Espacial Hubble, com o Very Large Telescope (VLT) mantido no Chile e com o ALMA, um radiotelescópio composto por dezenas de antenas instaladas também no Chile. O pesquisador Darach Watson, do Instituto Niels Bohr, diz que o achado é surpreendente, e sugere que estrelas devem ter surgido muito mais cedo do que se ima-ginava na história do Universo.

Química do cumprimento

Há mais sinais implícitos num aperto de mão do que os transmitidos pela tem-peratura, força e firmeza do cumprimento, diz estudo realizado por pesquisadores is-raelenses e publicado no periódico eLife. Os autores, do Instituto Weizmann, filma-ram em segredo 271 pessoas durante cum-primentos, com ou sem aperto de mão. Depois, observaram a frequência com que os participantes levavam a mão para perto do nariz.

“Após um aperto de mão com uma pes-soa do mesmo gênero, os voluntários pas-saram a cheirar a mão direita 100% mais”, diz o artigo. “Em contraste, após o aperto de mão com uma pessoa de outro gênero, houve um aumento de 100% no cheirar da mão esquerda, ou da mão não envolvida no cumprimento”. O artigo destaca que “apertos de mão são capazes de transmi-tir vários patógenos, e portanto é provável que sejam capazes de transmitir sinais quí-micos também”.

Maus hábitos espalham-se depressa

Hábitos saudáveis de dieta, como o con-sumo de frutas e vegetais frescos, vêm se tornando mais comuns no mundo, mas num ritmo mais lento que o crescimento do consumo de carnes processadas e bebi-das com açúcar, informa artigo publicado no periódico Lancet Global Health.

O estudo, realizado por equipe inter-nacional de cientistas e financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates, avaliou a qualidade da dieta em 187 países, com po-pulação conjunta de 4,7 bilhões de pessoas. O trabalho mostra que a qualidade da dieta varia bastante com a renda nacional. Em países ricos, o acesso a dietas saudáveis é maior, mas as dietas tendem a ser piores por conta do maior consumo de itens pou-co saudáveis.

O maior consumo de itens saudáveis foi encontrado em países de renda baixa, como Chade, ou da região do Mediterrâ-neo, como Grécia e Turquia. Já o consumo de itens saudáveis é bem menor em países da Europa Central e da ex-União Soviética.

Foto: William Kimbel/Divulgação

Mandíbula do gênero Homode 2,8 milhões de anos,fotografada a poucos metrosde onde foi descoberta

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esquisadores da Unicamp e da USP participaram da criação de um procedimento pioneiro

para a produção de imagens e do mapeamento químico de óvulos e

embriões, com o uso de técnicas de espec-trometria de massas. O trabalho inovador, realizado com células bovinas mas que po-derá ter aplicação no estudo da fertilidade humana, é descrito em dois artigos publi-cados em periódicos internacionais – Repro-duction, Fertility and Development e Analytica Chimica Acta.

A espectrometria de massa é uma téc-nica que, em linhas gerais, evolve a vapo-rização de uma amostra para a produção de íons – partículas dotadas de carga elétrica – que são usadas para que se possa deter-minar sua composição. Rodrigo Catharino, coordenador do Laboratório Innovare de Biomarcadores da Unicamp e um dos auto-res dos dois “papers”, explicou ao Jornal da Unicamp como o método pode ser usado na produção de imagens.

“Nosso espectrômetro faz pequenos dis-paros de laser sobre a amostra”, disse ele. “Um tiro de laser em cada ponto, um ponto adjacente do outro. E cada tiro que ele dá, gera um espectro, de massas. Depois ele jun-ta todos esses espectros e me dá o que veio de cada lugar. Ele joga os espectros no mapa do alvo, e depois reconstrói a sequência dos tiros que deu. A partir das reconstruções dos tiros, junto com o espectro, eu tenho a loca-lização das moléculas, junto com a imagem”.

“O equipamento vai medindo a intensi-dade, a quantidade de íons que tem naquele local, e vai formando a imagem numa escala de cores”, acrescenta a pesquisadora Mô-nica Ferreira, também ligada ao Innovare e coautora dos artigos. “Então, temos de 0% a 100%, do azul ao vermelho, e de acordo com essa escala de cores o espectrômetro vai for-mando a imagem, que mostra que aonde, na amostra, estava a maior concentração da-quele íon”.

LIPÍDIOSNo primeiro dos dois artigos, escrito em

parceria com os pesquisadores Diogo Oli-veira, do Innovare, e Roseli Gonçalves, da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, os autores mostram que é possível usar o espectrômetro de massas para visualizar as zonas do embrião bovino, destacando a chamada zona pelúcida, que o reveste. “É essa zona que protege o embrião, e que faz com que ele tenha uma determinada ade-são à parede do útero”, disse Catharino.

O artigo descreve como o mapeamen-to do embrião por meio da espectrometria permitiu identificar e localizar de certos biomarcadores – moléculas, no caso lipí-dios, que funcionam como indicadoras de processos biológicos – tanto na zona pelú-cida quanto no corpo principal do embrião. “Rotas de lipídios desempenham impor-tantes papéis biológicos na embriologia dos mamíferos, dirigindo as rotas do desenvol-vimento inicial para a diferenciação”, diz o artigo, publicado na Analytica Chimica Acta.

“O lipídio não forma só as estruturas, ele participa de vários mecanismos do metabo-lismo para o desenvolvimento do embrião”, lembra Mônica. “Diversos lipídios, que já são conhecidos, são muito importantes nes-se desenvolvimento. E há vários outros que a gente ainda está descobrindo. Esses mar-cadores também podem participar de alguns mecanismos ainda desconhecidos”.

Catharino fala da importância de se re-conhecer e acompanhar esses marcadores, para ampliar o conhecimento a respeito da fertilidade humana e animal: “Dependendo da composição dessa zona pelúcida, o em-brião vai se ligar mais fortemente, ou não vai se ligar ao útero. E se a gente não tem um conhecimento dessa zona, pode haver problemas na fertilização”. A capacidade de analisar os biomarcadores da zona pelúcida

Grupo faz mapeamento inéditode óvulos e embriões bovinosProcedimento pioneiro foi concebido a partir de técnicas de espectrometria de massas

mapeamento químico de óvulos e

Fotos: Antonio Scarpinetti

CARLOS [email protected]

Rodrigo Catharino,coordenador doLaboratório Innovare:processos deinseminação artifi cialnunca envolvem aimplantação de um sóembrião, mas de vários

tem potencial valor médico e também eco-nômico – mais especificamente, como os embriões usados no estudo são bovinos, na pecuária.

BIOMARCADORESJá o segundo artigo, que saiu no perió-

dico Reproduction, Fertility and Development, descreve o uso do espectrômetro de massas para investigar a evolução de lipídios bio-marcadores em oócitos – óvulos – bovinos e em embriões, também bovinos, de até oito células e blastocistos, estruturas esfé-ricas formadas num estágio mais avançado do desenvolvimento embrionário. Nesse trabalho, a espectrometria é apresentada como alternativa mais rápida e completa às técnicas usuais para a produção de imagens de célula isoladas, como a microscopia ele-trônica.

Embora os dois trabalhos se valham da espectrometria, o publicado na Analytica Chi-mica Acta apresenta uma inovação na prepa-ração da amostra, que se dá sobre uma placa de sílica; o segundo artigo, por sua vez, usa um método mais usual, envolvendo a prepa-ração do embrião com produtos químicos.

“O primeiro artigo é mais focado nas re-giões do embrião, em visualizar a zona pe-lúcida separada do embrião, das células”, disse Mônica. “Já no segundo, a gente con-seguiu diferenciar quimicamente os lipídios em cada fase do embrião. Conseguimos ver os lipídios marcadores do oócito, de duas

células, quatro células, oito células e do blastocisto, que é um estágio mais tardio”.

“Eles são assinaturas químicas dos está-gios de desenvolvimento”, completou Catha-rino, acrescentando que, no segundo artigo, o grupo de autores – que inclui ainda pesqui-sadores baseados na Bélgica e nos Estados Unidos – foi capaz de acompanhar a evolução quantitativa de um lipídio específico. “A gen-te consegue semiquantificar, in situ, um úni-co composto: eu marco esse único composto que foi tirado como marcador de estágios, ver como ele aumentava de um estágio para o outro”. O processo é uma “semiquantifi-cação”, e não uma quantificação plena, por evolver apenas a variação proporcional, e não em quantidade absoluta, da molécula entre os diferentes estágios de desenvolvimento.

HUMANOSUm dos objetivos futuros do Laboratório

Innovare é estender essa linha de pesquisa a embriões humanos. “É preciso, claro, tratar da ética: não é uma coisa fácil você mexer com humanos, ainda mais com embrião, por-que há os questionamentos de quando se dá a vida, os questionamentos em torno de tudo isso são muito maiores”, disse Catharino. “E com animais, animais de grande porte, você tem uma facilitação em conseguir amostras”.

“Aplicar esse estudo para humanos não só é viável como também seria nosso sonho futuro, seria o melhor de todos os mundos, inclusive para ajudar as pessoas”, acrescen-

tou ele. “A gente não pode chamar de epi-demia, mas neste último século grande par-te da população se mostrou infértil, então termos mais conhecimento sobre o que está acontecendo e aplicar as técnicas desenvol-vidas aqui, sem dúvida nenhuma ajudaria bastante”.

O avanço das técnicas apresentadas nos dois artigos poderá vir a ter um papel diag-nóstico na medicina e na veterinária, identi-ficando os melhores embriões para implan-tação no útero. Ainda que a produção da imagem possa levar à destruição da amostra, explicam Catharino e Mônica, o procedimen-to tem reprodutibilidade. Disse a pesquisa-dora: “Como conseguimos tirar só um em-brião para analisar, e há vários e vários que produzem o que a gente está vendo, há a ga-rantia de que o embrião que eu retirei dali tem representatividade”. Catharino lembra que os processos de inseminação artificial nunca envolvem a implantação de um só em-brião, mas de vários.

Ainda não é certo, disse o pesquisador, que o equipamento usado na produção de imagens de embriões bovinos possa realizar a mesma tarefa com embriões humanos, que são menores. “A gente precisaria testar. Te-mos a capacidade de chegar a níveis meno-res? Temos. Mas isso nunca foi testado. As-sim como também nunca tinha sido testado se a gente ia conseguir com o embrião bovi-no. Até o fabricante falou: não sei se vocês vão conseguir, vamos tentar. E foi isso mes-mo que a gente fez aqui”.

Mônica Ferreira,coautora dos artigos:“O equipamento vaimedindo a intensidade,a quantidade de íonsque tem naquele local,e vai formando aimagem numa escalade cores”

Campinas, 9 a 15 de março de 2015 3Campinas, 9 a 15 de março de 2015

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té pouco tempo, Raimundo, João, Eliezer, Maria Iva e Vitalina fi-zeram parte das estatísticas do analfabetismo no Brasil. Em co-mum, essas pessoas tiveram o

fato de terem migrado de suas cidades para Campinas, a fim de buscarem uma melhor condição de vida. Fizeram um longo percurso para chegarem à escolarização, e chegaram, muito pelo empenho pessoal, porque dificil-mente o ensino formal correspondeu à reali-dade a eles imposta pela sobrevivência. “Por isso vejo que é preciso saber ouvir esses su-jeitos e o que eles têm a dizer”, concluiu Ana Maria de Campos em sua tese de doutorado desenvolvida na Faculdade de Educação (FE) entre 2010 e 2014.

Segundo a autora do estudo, os relatos desses personagens contam a escolarização que tiveram e o regresso à escola no final da adolescência ou na idade adulta, tentando se inserir nesse processo a partir de demandas muito próprias, isso porque na infância ti-nham sido convocados para o trabalho e não puderam percorrer o caminho regular que a sociedade prevê para a escolarização.

Na sua tese, intitulada “Histórias conti-das e nem sempre contadas na formação de jovens e adultos”, Ana Maria pondera que as demandas apresentadas pela escola para o aluno que em geral faz o percurso regular de escolarização, que inicia no ensino funda-mental e que prossegue, é uma trilha prevista e universal. Já os sujeitos estudados, averi-guou, não fizeram uma trilha universal e sim uma trilha imposta pelas necessidades de adequação da sobrevivência aos estudos.

Eles acabaram servindo de referência neste projeto porque as suas histórias são emblemá-ticas, prototípicas, representando um grande número de pessoas da sociedade. “Logo, es-sas histórias são singulares porque os sujeitos determinaram como fazer esse percurso de escolarização e a sua conclusão”, expõe.

Para a historiadora, esse tema conseguiu reunir histórias escondidas no debate aca-dêmico, revelando a luta e a ousadia desses sujeitos para recusar os destinos traçados e inventar percursos escolares alternativos aos que são universalmente propostos pelas ins-tituições escolares. Os avaliados não se con-tentaram com esse percurso que a escola pra-ticamente lhes impôs, dando a sua própria conclusibilidade.

HISTÓRIASO Brasil aparecia, em 2014, na oitava po-

sição entre os 150 países com maior número de analfabetos adultos, conforme dados da Unesco. De acordo com a pesquisadora, em 2003 eram mais de 36 mil analfabetos totais em Campinas, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio-nais Anísio Teixeira (Inep). E, desse univer-so, ela escolheu cinco pessoas. “Tive uma vida em comum com eles, sendo que a maio-ria conheci na década de 1980.”

Raimundo Moura Leal foi o sujeito que a convocou a começar esse estudo. Ele voltou à escola com 18 anos porque necessitava de escolarização para trabalho mais qualificado na indústria metalúrgica. Na primeira tenta-tiva, foi barrado, por ser analfabeto. Procurou então uma escola. Não encontrou vaga.

A sua história é dramática, revela, porque começou a ir à escola todos os dias até desco-brir quando começariam as aulas. Nesse dia, comprou um caderno, um lápis e uma bor-racha, porém ficou do lado de fora da sala de aula. Trabalhava em período integral. Saía do trabalho e ia direto para a escola. Ficou lá três dias, assistindo aula no escuro, observando pela janela. Depois desse tempo, conseguiu entrar na sala e seguiu seu percurso.

João Zinclar, fotógrafo que retratava os movimentos sociais na região de Campinas, abandonou a escola na adolescência, após re-petir três vezes a mesma série. Não ter com-pletado a escolaridade era, para ele, uma hu-milhação. Fez Senai e ingressou no mundo do trabalho ainda bem jovem. Foi diretor do Sin-dicato dos Metalúrgicos, em Campinas, onde

Histórias que não se contamTese aborda universo de pessoas quese desdobrarampara voltar a estudar

PublicaçãoTese: “Histórias contidas e nem sem-pre contadas na formação de jovens e adultos”Autora: Ana Maria de CamposOrientadora: Corinta Maria Grisolia GeraldiUnidade: Faculdade de Educação (FE)Financiamento: Capes

ISABEL [email protected]

té pouco tempo, Raimundo, João, Eliezer, Maria Iva e Vitalina fi-zeram parte das estatísticas do

Foto: Antonio Scarpinetti

Ana Maria já havia trabalhado. Ele deu a con-clusão do seu curso, voltando a estudar por-que precisava do certificado do ensino médio para requisitar o MTB e exercer o jornalismo.

Eliezer Mariano da Cunha era pouco esco-larizado e atuava na lavoura com sua família. Estudou na roça três anos e quando veio a Campinas, para trabalhar como metalúrgico, viu necessidade de retomar os estudos. “Ele é tratado por mim como um filósofo. Mas a escola não forma o filósofo. Conforma as pessoas para aceitarem seu destino”, acredi-ta. Eliezer faz a crítica sobre o modo de orga-nização da escola.

Maria Iva Lopes da Silva conheceu Ana Maria em 2003, no Letraviva, um projeto de alfabetização de jovens acima de 15 anos, fru-to de parceria entre a Prefeitura Municipal e o Programa Brasil Alfabetizado, do MEC. Iva é educadora e também deixou a escola na in-fância porque morava no sítio, onde perma-neceu na segunda série até os 16 anos, por falta de professor. Somente alcançou a esco-larização quando saiu de sua localidade para ser doméstica.

Vitalina foi alfabetizada no projeto Letra-viva aos 60 anos. A sua história é, da negação dos direitos, a mais grave. Na adolescência, na ânsia de querer estudar, foi trabalhar em

casa de família. Acabou sendo escravizada e perdeu o contato com os seus. O trabalho não era remunerado. Com muito custo, criou um artifício para sair dessa situação, voltando para casa. Retornou à escola somente após a aposentadoria.

“Todas essas histórias são absurdamente de luta”, enfatiza a pesquisadora. “Elas dão para nós, educadores, um sinal de que é pre-ciso ouvi-las e se comprometer com elas, pois corre-se o risco de fazer um programa genéri-co – que não atende a vida dessas pessoas.”

Ana Maria nota que as pessoas lutam tanto para voltar à escola e, quando chegam lá, deparam com um currículo infantilizado. “Vitalina apenas não desistiu de estudar por-que fiquei como sua professora oculta. Foi assim que criava novas situações de aprendi-zado para ela”, recorda.

Outros sujeitos, sugere, foram criando formas de resistir a um currículo que não atendia às suas necessidades. “É importan-te ouvir as pessoas que estão demandando principalmente o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), não somente nas es-colas fundamentais. O censo do IBGE apon-tou, em 2010, que 2,1 milhões de alunos que entraram na escola não eram alfabetizados após passar pelos primeiros quatro anos.

“Isso mostra que precisamos fazer progra-mas mais inclusivos.”

A pesquisadora lembra o entrave de Elie-zer que, ao deixar a roça, chegou a Campinas e não entendia o que as pessoas falavam du-rante as aulas. O universo cultural dele era outro. Foi preciso comprar um gravador e de-pois da aula ficar ouvindo os diálogos.

“A produção de conhecimento é criação. Não é possível estudar baseado em um cur-rículo de depósito, em uma educação bancá-ria, como combatida por Paulo Freire. A cada dia, com novas metas, as vidas estão sendo relegadas ao isolamento social, que é o mais grave”, critica Ana Maria. “Os direitos de ci-dadania que a Constituição brasileira prevê são inclusivos e preveem uma escolarização com sentido.”

HOJEEsses cinco sujeitos, a despeito de tudo,

construíram percursos alternativos e são agentes sociais de modificação social, ga-rante Ana Maria. Agora, Eliezer é diretor do Sindicato dos Metalúrgicos e João Zinclar já ocupou esse posto. Iva atualmente trabalha no Sindicato dos Metalúrgicos e é terapeuta corporal. Pertence ao Grupo de Mulheres da Periferia, que intervém na cidade, com ações para a ampliação de vagas em creches e tam-bém no combate à violência contra as mulhe-res. Vitalina concluiu o ensino fundamental e pretende continuar os estudos. Está buscan-do uma escola compatível com sua vida.

Ana Maria relata que passou a ter consci-ência da problemática que envolve o retorno aos estudos na idade adulta e, já formada em História, foi trabalhar no Departamento de Formação do Sindicato dos Metalúrgicos. Ali teve que formular, junto com os trabalhado-res, programas, cursos de formação, cader-nos de formação e textos, entre outras ações.

Teve que aprender a negociar os sentidos da história: a história dos vencedores, que é feita de um ponto de vista, e a dos vencidos (dos trabalhadores). “Mas comecei a me for-mar muito antes e me interessar pela história feita de baixo para cima”, informa.

Os depoimentos desses sujeitos ensinam a compaixão, diz. Iva, por exemplo, quis vol-tar a estudar para dar aula no sítio. Também estes depoimentos ensinam como intervir na sociedade e como os percursos escolares acabam sendo determinados pelo próprio es-tudante, em função das opressões que a vida lhe atribuiu.

“A sociedade pode até não aceitar isso. Mas as pessoas voltam quando querem e pelo motivo que querem, porque suas histórias são reais e encarnadas. A Constituição indi-ca que temos direito à educação, porém não é qualquer educação. Ela tem que favorecer a participação na sociedade. E uma educação supletiva, compensatória, não favorece isso”, reflete.

A maior emoção de Ana Maria foi que os cinco sujeitos de sua tese atingiram o propó-sito do estudo. Contudo, João Zinclar faleceu em 2012 em um acidente de ônibus, no qual foi a única vítima. “Não viu a minha defesa de doutorado. Sempre me perguntava em que pé o projeto estava. A voz dele continua, bem como o meu compromisso”, sustenta a historiadora, que prossegue trabalhando em programas de formação municipal e estadual.

As histórias relatadas, apesar de fazerem referência a situações específicas, mostram os sentidos que os sujeitos imprimiram aos constrangimentos impostos pela instituição escola, como também os sentidos que cria-ram para retornar a ela. Como a escola não é genérica e nem tampouco as suas vidas, olhar o percurso singular de cada um permitiu ao menos enxergar a diversidade da vida e de suas demandas, recorda a pesquisadora.

“Quando ouvimos histórias, narrativas, elas são ressignificadas. E elas são potentes porque nos ensinam, nos aconselham e nos tiram do lugar acostumado”, frisa Ana Maria, aludindo-se à fala do filósofo Walter Benja-min. “Mas para isso é preciso ser um bom ouvinte”, sinaliza.

Raimundo Leal, Maria Iva Lopes da Silva,João Zinclar, Eliezer da Cunha e Vitalina dos Santos: exemplos de superação

Fotos: Divulgação

A historiadora Ana Maria de Campos, autora da tese: “Todas essas históriassão absurdamente de luta”

Campinas, 9 a 15 de março de 2015Campinas, 9 a 15 de março de 20154

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forma como se iniciou a industria-lização brasileira e, depois, como se deu a abertura econômica a

partir da década de 90, não favoreceu o desenvolvimen-

to da aptidão tecnológica e da capacidade de inovação nas empresas nacionais, e a transferência de tecnologia, que em vários casos foi uma saída para se incorporar téc-nicas desenvolvidas fora do país, no atual paradigma tecnológico não tem melhorado o poder inovador das empresas brasileiras, disse ao Jornal da Unicamp o pesquisador Tulio Chiarini, autor da tese de doutorado “Transferência internacional de tecnologia: interpretações e reflexões”, defendida no Instituto de Economia (IE) da Universidade.

Aptidão tecnológica, explicou ele, é o que permite às empresas identificar o valor de novas informações externas, assegurar seu poder de barganha nas negociações de transferência de tecnologia, assimilar o co-nhecimento transferido e detectar novas oportunidades tecnológicas. “Refere-se às competências, conhecimentos e institui-ções que compõem a capacidade de uma empresa para criar, gerir e absorver a mu-dança na tecnologia que utiliza, ou seja, inclui a qualificação do trabalho, os conhe-cimentos e experiências, estruturas institu-cionais e redes. Essa aptidão é específica de cada empresa”, disse ele.

Desse modo, a “aptidão tecnológica na-cional” é mais do que a soma dos conhe-cimentos e habilidades das empresas in-dividuais envolvidas. “O aprendizado está sujeito a sinergias e transbordamentos, de-correntes das interações entre os agentes, assim como de todo o aparato institucional onde eles operam e aprendem”.

HISTÓRIAA tese de Chiarini lembra que países

que chegam atrasados a revoluções tecno-lógicas de impacto comercial costumam adotar estratégias – que podem ir do roubo ao contrabando, passando pela imitação e pela compra de conhecimento e expertise – para ter acesso às novas técnicas, e que essas nações não estão condenadas, neces-

O pesquisador Tulio Chiarini, autor da tese: “A via de desenvolvimento foi baseada na política de ‘boas vindas’ às transnacionais”

Pesquisa aponta baixa capacidade de inovação da indústria nacional

Tese do Institutode Economia

investiga as razõesda falta de aptidão

tecnológica

PublicaçãoTese: “Transferência internacional de tecnologia: interpretações e re-flexões”Autor: Tulio ChiariniOrientadora: Ana Lúcia Gonçalves da SilvaUnidade: Instituto de Economia (IE)

forma como se iniciou a industria-lização brasileira e, depois, como se deu a abertura econômica a

Foto: Divulgação

CARLOS [email protected]

sariamente, ao atraso, sendo os casos de Ja-pão e Coreia do Sul citados como exemplos de sucesso na busca do avanço tecnológico.

“É reconhecido na historiografia que o crescimento acelerado japonês é explicado a partir dos fluxos de conhecimento por meio de uma estrutura econômica mais horizontal, articulando seu Ministério da Indústria e de Comércio Exterior, academia e pesquisa e desenvolvimento (P&D) pri-vado”, explicou o pesquisador. “As políticas japonesas foram projetadas de modo a criar uma relação de complementaridade entre a importação de tecnologias e habilidades es-trangeiras e o learning-by-doing (literalmen-te, ‘aprender fazendo’) local”.

Do mesmo modo a Coreia do Sul, lem-bra Chiarini, fez esforços “extraordinários” para erradicar o analfabetismo, ampliar a rede de ensino básico e médio e melho-rar o ensino superior. “O país foi capaz de desenvolver rapidamente e de forma efi-caz uma força de trabalho bem educada e treinada. Ademais, o governo sul-coreano empreendeu políticas ativas de comércio e industriais, responsáveis por estimular o dinamismo tecnológico das indústrias”.

Tanto no caso japonês quanto no sul-co-reano, disse o pesquisador, “o processo de desenvolvimento não foi fomentado com políticas de atração de transnacionais, mas com política de fomento ao aprendizado di-nâmico doméstico”. Ele acrescenta: “Tanto o Estado japonês quanto o sul-coreano as-sumiram um papel ativo na implementação da estratégia de industrialização nacional para o seu desenvolvimento”.

BRASILO Brasil, no entanto, trilhou um cami-

nho diferente. “A baixa aptidão tecnológi-ca das empresas brasileiras é resultante de um processo historicamente construído, ou seja, é algo que faz parte da estrutura econômica brasileira e tem raízes no pró-prio processo de industrialização, que não foi capaz de criar as condições para a neces-sária internalização de capacidades inova-doras das empresas nacionais, por diversos motivos”, disse ele.

No período de industrialização por subs-tituição de importações, lembrou Chiari-ni, as empresas utilizaram o potencial de

crescimento do mercado interno, e deram pouca ênfase à capacidade de competir glo-balmente. “Tal ênfase ‘cristalizou-se’ na cultura industrial brasileira e, até hoje, a in-serção internacional da indústria nacional é frágil”, explicou. “Na época, os esforços de tecnologia não estavam direcionados para a melhor fronteira prática, mas para a ob-tenção de tecnologias a fim de ajustá-las às condições locais”.

“A via de desenvolvimento foi baseada na política de ‘boas vindas’ às transnacionais”, complementou, o que gerou a possibilida-de de que as empresas, tanto estrangeiras quanto brasileiras, abrissem mão de se vin-cular a instituições locais de ciência e tec-nologia, já que se apostava nas tecnologias e conhecimentos produzidos fora do Brasil.

“A política de atração de empresas es-trangeiras foi possível a partir, entre outras coisas, da proteção do mercado domés-tico. Dada a reduzida escala de produção e a instabilidade da demanda do mercado brasileiro no período, era mais oportuno ao produtor nacional acrescentar aos seus custos uma parcela variável adicional – cor-respondente à importação de tecnologia do estrangeiro – do que realizar gastos de investimento em P&D tecnológico, de ele-vados custos. Além disso, o tempo gasto na realização de P&D para o atendimento de demandas domésticas poderia implicar perda de mercado interno para empresas que, prontamente, recorressem ao mercado externo, importando tecnologia”.

A falta de concorrência externa livrou a empresa nacional da pressão de inovar constantemente, “o que reflete a relativa baixa tradição inovadora das empresas”, disse Chiarini. “Portanto, determinou-se uma situação caracterizada por produtivi-

dade, qualidade e competitividade dos pro-dutos e processos locais inferiores à média mundial”.

De acordo com ele, a industrialização, feita com elevada proteção da economia, não propiciou processos de aprendizado. Na melhor das hipóteses, trouxe um aprendiza-do apenas parcial. Já a abertura econômica a partir dos anos 90, segundo o pesquisa-dor, foi predatória. “Ela danificou a produ-ção nacional e a ocupação da capacidade já instalada, graças à valorização cambial. Essa abertura ainda trouxe consigo a ideia de que ‘a melhor política industrial é não ter políti-ca industrial’, já que foram praticadas ações que levaram a um processo de substituição da produção nacional por importações, mes-mo em setores nos quais o país tinha certa competitividade, prejudicando a indústria nacional”.

PREÇOS-CHAVEA situação brasileira se agrava ainda

mais por conta do novo paradigma tec-nológico liderado pelas tecnologias de in-formação e comunicação, e cada vez mais dependente de informação e conhecimento científico. “Com o novo paradigma, o cená-rio econômico passou a mover-se de modo ainda mais dinâmico e o padrão de indus-trialização, que fora liderado pelos com-plexos metalmecânico e químico, passou a ser condicionado pelas novas tecnologias (microeletrônica, informática, telecomuni-cações, automação), pela busca de novos materiais e energias e pela biotecnologia”, disse Chiarini. “O novo paradigma tecno-lógico acelerou radicalmente o processo de transformação das formas de organização, concorrência e gestão das empresas trans-nacionais, e a obsolescência do padrão tec-nológico implementado pelos países de in-dustrialização tardia foi uma consequência imediata.”

Nesse paradigma, a produção industrial se dá dentro de uma rede internacional, in-tegrada por diferentes países e empresas, que realizam diferentes etapas da cadeia de produção sob a coordenação de grandes corporações mundiais. “Para as empresas em países em desenvolvimento, a partici-pação em cadeias globais é um meio crucial para obter informação sobre o tipo e quali-dade de produtos e tecnologias requeridas por mercados internacionais, e também para ingressar nesses mercados”, explicou o pesquisador. Mas as empresas que acei-tam entrar passivamente nesse jogo correm o risco de ficarem aprisionadas nesse papel.

A alternativa seria “entrar nesses merca-dos com substancial investimento de pro-dutores locais, com apoio de instituições locais, criando vantagens comparativas dinâmicas, construindo e aprofundando as aptidões tecnológicas específicas requeri-das para explorar novas oportunidades, a partir do estágio em que se encontra na ca-deia de valor”.

Chiarini afirma, baseado em exemplos históricos, que a ampliação do papel do se-tor público é fundamental para assegurar ní-veis elevados de investimento, tanto público quanto privado, na infraestrutura econômi-ca. “Em sentido amplo, compreendendo in-fraestrutura de ciência e tecnologia”, acres-centou. “A reordenação dos preços-chave da economia, como taxas de juros e taxa de câmbio, é fundamental para criar incentivos para investimentos produtivos, inovação e diversificação da produção. O desalinho dos preços-chave gera desincentivos macroeco-nômicos, constrangimentos estruturais e fraqueza institucional”.

“Não é a transferência de tecnologia que gera a dependência tecnológica, mas uma baixa capacidade local para selecionar, as-similar, adaptar e aperfeiçoar tecnologias importadas, ou seja, baixa aptidão tecnoló-gica”, disse o pesquisador. “Este é o pro-blema brasileiro: importa tecnologias, pro-picia a entrada de capitais estrangeiros, não consegue se apropriar dos novos conheci-mentos e segue procurando no exterior no-vas tecnologias”.

Campinas, 9 a 15 de março de 2015 5Campinas, 9 a 15 de março de 2015

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atual política brasileira de forma-ção de doutores, baseada majo-ritariamente no treinamento

avançado no país com breves períodos de complementação

no exterior, está assentada em conceitos e argumentos ultrapassados ou parciais, sem evidências representativas que lhes dê sus-tentabilidade ou legitimidade. O resultado desse modelo, adotado a partir de meados dos anos 1990, é a formação de recursos humanos que não dispõem de habilidades e conhecimentos que atendam plenamente às necessidades de setores como a acade-mia, as organizações públicas de pesquisa e a indústria. Estas e outras constatações fazem parte da tese de doutorado de Mile-na Yumi Ramos, defendida no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp.

No trabalho, orientado pela professora Lea Maria Leme Strini Velho, Milena apon-ta para a necessidade de revisão dessa po-lítica, como forma de promover um balan-ceamento adequado entre a formação no país e no exterior. “A complementação da formação com estágios/períodos curtos de pesquisa no exterior, sem o compromisso da titulação, é válida como experiência e traz benefícios à pesquisa individual. Isso, contudo, não substitui a formação plena no exterior. O país precisa ter uma parcela de seus recursos humanos altamente qualifi-cados conectada estruturalmente aos cen-tros mainstream, pesquisando na fronteira do conhecimento e participando da defi-nição da agenda de pesquisa em especiali-dades consideradas estratégicas”, defende a pesquisadora, que contou com bolsa de estudos concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-rior (Capes). Abaixo, os principais pontos da entrevista que Milena, atual pesquisa-dora da Embrapa, concedeu ao Jornal da Unicamp.

Jornal da Unicamp - Qual tem sido o foco da política de formação de doutores no Brasil? Há um marco temporal que a carac-terize?

Milena Yumi Ramos - A partir de mea-dos dos anos de 1990, o país tem enviado cada vez menos estudantes de doutorado ao exterior para formação plena. Em con-trapartida, a formação em instituições na-cionais, complementada por estágios de pesquisa no exterior, na forma de períodos sanduíche ou pós-doutorados, tornou-se a forma preferencial de treinamento avança-do. Essa tendência reflete o entendimento, reforçado por alguns estudos publicados à época, de que o sistema nacional de pós-graduação havia alcançado autossuficiên-cia, isto é, havia se tornado capaz de garan-tir a expansão e autogestão da instituição científica no Brasil. Até então, a base cien-tífica brasileira estava em construção e o treinamento pleno de mestres e doutores no exterior, com o compromisso de regres-so, era a estratégia adotada para formar os quadros acadêmicos de alto nível. Houve, portanto, uma mudança no foco da política de formação de recursos humanos para a pesquisa. O treinamento avançado de pes-quisadores no país passou a ocorrer exces-sivamente dentro das fronteiras nacionais a partir de meados dos anos de 1990.

JU - Que estratégias e mecanismos têm sido adotados pelo país em relação a esse tipo de formação? Quais as implicações des-se modelo?

Milena Yumi Ramos - A partir de evidên-cias de que pesquisadores brasileiros de elevado desempenho formaram-se em cen-tros de excelência do país ou do exterior, sendo que a maioria cumpriu estágio de doutorado ou pós-doutorado fora do Brasil, o governo definiu um modelo de mobilida-de internacional, com foco em curtos perí-odos no exterior. Esta se tornou a principal estratégia para impulsionar o intercâmbio científico e a colaboração em pesquisa, bus-cando expandir o perfil e o impacto inter-nacional da ciência brasileira. No entanto, não se levou em conta que tais evidências eram parciais, pois se baseavam em poucos segmentos da comunidade científica brasi-leira com maior inserção internacional, seja pela dinâmica específica da produção de co-nhecimento, seja pela história do desenvol-vimento desses segmentos no Brasil. Esse perfil não condiz com grande parte da co-munidade científica nacional, voltada para dentro do país e para os próprios objetivos da academia.

Nessas condições, aplicar homogenea-mente a mesma estratégia a todas as áreas pode estar colocando em risco a inserção de jovens pesquisadores brasileiros em redes de pesquisa internacionais e, consequen-temente, a internacionalização da base de conhecimentos do país de modo mais am-plo. Os gestores de C&T já reconhecem, por exemplo, excluídas algumas exceções, que a visibilidade e o impacto internacio-nal da pesquisa brasileira são muito bai-xos, embora em termos de produção o país tenha tido crescimento extraordinário nas últimas décadas. Além disso, existem dú-vidas sobre os benefícios assumidos pelas agências de fomento em relação às chama-das “bolsas sanduíche” de doutorado no exterior e, mais que tudo, sobre a centrali-dade deste tipo de bolsa nos programas de formação no exterior das agências.

JU - Que dúvidas são essas?

Milena Yumi Ramos - Sabe-se que, na prática, o “aluno sanduíche” não está for-malmente matriculado na universidade es-trangeira e que, sendo assim, corre grande risco de ficar solto, sem orientação perso-nalizada, aproveitando consequentemente muito pouco da sua experiência acadêmica no exterior. É razoável, então, esperar que ele se insira na comunidade científica inter-nacional ou que faça avançar a colaboração internacional de seu programa de pós-gra-duação de origem com a instituição que o recebe no exterior?

Questiona-se também a atitude puniti-va das agências aos bolsistas que não re-tornam dentro dos prazos estipulados e a assumida existência de uma imigração de cérebros. Afinal, se isso de fato ocorre, qual a dimensão desse movimento? É estatisti-camente relevante, requerendo medidas coercitivas? Estariam eles imigrando ou circulando? Eles estariam se desvinculando da ciência brasileira ou promovendo a co-nexão de grupos de pesquisa ao qual estão ligados no Brasil a centros internacionais? São questões sem respostas claras ainda.

JU - Qual o perfil dos doutores que o Bra-sil tem formado? Que habilidades e compe-tências eles demonstram?

Milena Yumi Ramos - O modelo de for-mação vigente ainda se baseia em uma estrutura curricular rígida, com muitas horas-aula e projeto de pesquisa indivi-dual, no qual a relação orientador-aluno é quase exclusiva. O aluno desenvolve diver-

sas habilidades necessárias à condução de pesquisa acadêmica. Por exemplo: adquire conhecimento especializado, aprende a pes-quisar, a organizar e sintetizar a literatura relevante, a formular e trabalhar o proble-ma de pesquisa, a conduzir experimentos e analisar os resultados, a lidar com dificul-dades e contingências da pesquisa e, cada vez mais, a escrever e apresentar trabalhos acadêmicos.

JU - Essa formação atende às necessida-des da indústria ou mesmo da academia?

Milena Yumi Ramos - Infelizmente, não. Com a emergência da economia do conhe-cimento, a necessidade de trabalhadores altamente qualificados aumentou muito. Mais e/ou novas oportunidades de trabalho para doutores surgiram nos setores tradi-cionais (academia e organizações públicas de pesquisa) em carreiras convencionais (docência e/ou pesquisa) ou emergentes (administração e desenvolvimento da pes-quisa), em carreiras técnicas na indústria ou em ocupações não convencionais em diversos setores econômicos, em intera-ção com diferentes contextos, perspectivas, práticas, demandas, interesses. Por esse motivo, o doutorando precisa desenvolver competências e habilidades que vão além daquelas estritamente científicas e que têm caráter geral e transferível, isto é, que não são limitadas a uma disciplina ou área do conhecimento, mas podem ser mobilizadas em muitas ocupações diferentes.

Elas incluem, entre outras: participa-ção em ou condução de pesquisa coletiva e transdisciplinar; comunicação intercultu-ral e para diferentes audiências; liderança e empreendedorismo; habilidades gerenciais; habilidades analíticas gerais e de resolução de problemas; habilidades para identificar e processar grandes volumes de dados e in-formações relevantes e extrair deles conhe-cimentos úteis. No Brasil, a diversificação da formação avançada ainda não encontra espaço e reconhecimento. O modelo vigen-te, único, focado na carreira e no desem-penho acadêmico, está assentado em uma visão quantificada de qualidade da ciência. Estudos e depoimentos de empregadores de doutores mostram que esse modelo não estimula o desenvolvimento de competên-cias e habilidades transferíveis.

JU - Na sua tese, você aponta que o Bra-sil tem enviado cada vez menos estudantes de doutorado para o exterior para formação plena. Que números você dispõe sobre esse modelo?

Milena Yumi Ramos - Como comentei antes, houve um entendimento de que o Brasil precisava garantir o retorno imedia-to e/ou a permanência dos doutores para a expansão e a autogestão da instituição científica no país. Enviar estudantes para treinamento pleno e avançado no exterior significava um custo bem mais elevado e de mais alto risco, já que o investimento pode-ria ser perdido em caso de imigração. Ban-car esse investimento e correr esse risco se-riam desnecessários, já que as instituições nacionais se tornaram capazes de dar conta da formação de doutores em quantidade e qualidade. Não há, no entanto, evidências representativas e incontestáveis que deem suporte e legitimidade a esses argumentos.

Além disso, esses argumentos ignoram o fato de que a formação plena no exterior é insubstituível pelo contato com outra cul-tura, pelo ganho de conhecimentos tácitos e pela integração ao circuito internacional

de conhecimento. É possível ter uma ideia da dimensão dessa política observando o número de bolsas de doutorado pleno no exterior implementadas pelas principais agências de fomento à pesquisa e pós-gra-duação no Brasil comparativamente ao nú-mero de doutores titulados no país de 1990 a 2013.

Desde o pico observado em 1992, houve redução de 83,5% no número de bolsistas de doutorado pleno no exterior, ao passo que o número de doutores titulados no país aumentou em mais de nove vezes.

JU - O modelo de doutorado sanduíche ou mesmo os cursos de pós-doutorados no ex-terior, que têm merecido maior atenção das autoridades em Educação, não atendem às nossas necessidades?

Milena Yumi Ramos - Atendem parcial-mente. É preciso entender que as nossas necessidades são múltiplas. A formação de doutores em instituições nacionais é fundamental e ter programas de pós-gra-duação de excelência internacional deve continuar a ser uma importante diretriz em Educação, Ciência, Tecnologia e Inova-ção. A complementação da formação com estágios/períodos curtos de pesquisa no exterior, sem o compromisso da titulação, é válida como experiência e traz benefícios à pesquisa individual. Isso, contudo, não substitui a formação plena no exterior. O país precisa ter uma parcela de seus re-cursos humanos altamente qualificados conectada estruturalmente aos centros mainstream, pesquisando na fronteira do conhecimento e participando da definição da agenda de pesquisa em especialidades consideradas estratégicas. Para isso, ainda não há substituto para a formação plena no exterior. Então, temos que encontrar um balanceamento adequado entre formação no país e no exterior, entre formação para o setor acadêmico e para os diversos setores que demandam doutores na atualidade.

JU - Esse modelo brasileiro de mobilidade internacional não tem capacidade, então, de fomentar o intercâmbio científico e a colabo-ração em pesquisa entre o Brasil e os gran-des centros?

Habilitação incompletaEstudo aponta que política brasileira de

formação de doutores gera profissionais que nãoatendem plenamente as necessidades do país

MANUEL ALVES [email protected]

atual política brasileira de forma-ção de doutores, baseada majo-ritariamente no treinamento

6 Campinas, 9 a 15 de março de 2015Campinas, 9 a 15 de março de 2015

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Milena Yumi Ramos - No longo prazo, provavelmente não. A colaboração in-ternacional em pesquisa é considerada a forma mais exigente de relação entre pes-quisadores, já que pressupõe atratividade, visibilidade internacional e frequente-mente requer elevado grau de compromis-so dos parceiros. É considerado também o tipo de relacionamento científico mais importante porque compreende todo o processo de pesquisa. Para estabelecer um relacionamento desse tipo, são necessá-rias algumas premissas: motivações para a colaboração, capacidade, confiabilida-de, competências, recursos intelectuais e materiais à disposição, redes científicas e espaços de influência envolvidos, entre outros fatores.

Quando os parceiros já se conhecem mutuamente, a partir de experiências ante-riores, algumas etapas são queimadas por-que essa avaliação já foi feita. O que fica em jogo são o interesse na manutenção do re-lacionamento e o objeto da colaboração em si. Estudantes de doutorado e jovens pes-quisadores, no entanto, não passaram por essa experiência, nem passarão durante um estágio de pesquisa curto, em que o foco está no desenvolvimento de um projeto de pesquisa individual, definido sem a partici-pação do parceiro no exterior. Nessa situa-ção, ainda que a mobilidade internacional sirva a objetivos pontuais da pesquisa, o desenvolvimento dos contatos internacio-nais em laços de colaboração mais signi-ficativos e sustentados fica dificultado, se não impossibilitado.

JU - Como tem sido a outra via da inter-nacionalização, ou seja, a atração de docen-tes, pesquisadores e estudantes estrangeiros para cumprirem períodos de estudo e pesqui-sa no Brasil? Qual a importância dessa via?

Milena Yumi Ramos - Embora incipien-tes, essas iniciativas começam a ganhar es-paço nos programas de pós-graduação bra-sileiros de excelência. Porém, as instituições brasileiras ainda utilizam procedimentos estritamente tradicionais (endógenos) para a admissão de estudantes e contratação de professores, e definem os níveis salariais burocraticamente, minando sua atrativida-

Habilitação incompleta

Milena Yumi Ramos, autora da tese de doutorado:“O país precisa ter uma parcela de seus recursoshumanos altamentequalifi cados conectada estruturalmente aos centros mainstream, pesquisandona fronteira do conhecimento e participando da defi nição da agenda de pesquisa em especialidades consideradas estratégicas”

PublicaçãoTese: “Formação de doutores no país e no exterior: impactos na internacionalização da ciência brasileira”Autora: Milena Yumi RamosOrientadora: Lea Maria Leme Strini VelhoUnidade: Instituto de Geociências (IG)

Foto: Divulgação

de internacional. Além disso, carecem de estratégias programáticas e organizacionais de governança e de operações, de infraes-trutura e programas de acolhimento, além de apoios de natureza burocrática (adequa-ção estatutária) e de serviços de suporte para receber estrangeiros. Outra dificulda-de está relacionada à relativa baixa visibili-dade internacional das instituições brasilei-ras. Além de sua reduzida participação em rankings universitários internacionais e de ocuparem posições distantes da elite mun-dial, são raros os casos de instituições bra-sileiras que usam estratégias de exportação, tais como o estabelecimento de campus em outros países, ensino à distância para audi-ência internacional e escritórios de relações internacionais.

Essa via, do exterior para o país, tem adquirido grande importância em muitos países. A longa história da mobilidade in-ternacional revelou seu limitado alcance e impacto relativamente à população total de docentes, pesquisadores e estudantes no ensino superior. Buscando a ampliação da base de beneficiários como forma de au-mentar o contingente de recursos humanos globalmente competentes e com alto nível de qualificação Đ um imperativo da econo-mia global do conhecimento Đ iniciou-se um processo de diversificação das formas de internacionalização do ensino superior, no qual as estratégias de “internacionali-zação em casa” ganharam destaque. Elas incluem, além da mobilidade internacional inversa - atração de estrangeiros para o sis-tema educacional e de pesquisa nacional -, a infusão da dimensão internacional no currículo, nas atividades extracurriculares e nos processos de ensino e aprendizagem nas instituições nacionais.

JU - Recentemente, o físico Rogério Cer-queira Leite, professor emérito da Unicamp, escreveu um artigo na Folha de S. Paulo afir-mando que os brasileiros produzem ciência em quantidade significativa, mas que essa produção deixa a desejar em termos de qua-lidade. Ele considera que publicamos majo-ritariamente em revistas que não produzem qualquer impacto. Você concorda com essa análise? Esse problema está, em alguma me-dida, ligado às constatações que você fez na sua tese?

Milena Yumi Ramos - Em parte sim, como já mencionei antes, mas é preciso considerar alguns fatores que interferem nessas afirmações. Existem diversas ra-zões para um artigo ser aceito numa revista científica de “alto impacto” e para receber muitas citações e, assim, ter impacto cien-tífico. Um artigo pode não ser aceito, não porque a pesquisa não tenha qualidade, mas porque não é aderente ao escopo da-quele periódico, porque trata de um assun-to que não interessa ao seu público-alvo ou porque tem problemas de redação científi-ca, por exemplo. As citações estão sujeitas ao “Efeito Matheus” (quanto mais citações um artigo tem, mais visível é e isso aumen-ta ainda mais as chances de receber ainda mais citações), à visibilidade e reputação do periódico, aos espaços de influência dos autores, à língua em que o artigo é publica-do, às bases de dados em que é indexado, entre outros fatores.

No Brasil, como em outros países, de fato há revistas e artigos de qualidade questionável. Além disso, boa parte da produção científica brasileira é dissemi-nada em periódicos nacionais, publicados somente em português. Isso interfere na visibilidade e impacto das pesquisas num mundo dominado pelo padrão e por em-presas anglo-americanas. A relativa bai-xa inserção internacional da comunida-de científica brasileira e a estagnação da colaboração internacional em pesquisa, em cuja base está a política de formação avançada (excessivamente concentrada em instituições nacionais), agrava essa situa-ção, como verifiquei na pesquisa da tese, corroborando hipóteses e ideias de outros autores. Isso porque fica comprometida a

socialização do doutorando nas redes cien-tíficas internacionais numa fase crítica de sua trajetória acadêmica: a transição da condição de estudante para a de pesquisa-dor independente. Se o doutorando não é formado e rapidamente absorvido por um ambiente de pesquisa estimulante, que lhe permita construir vínculos de colaboração, aumentar sua produtividade e visibilidade internacional, corre maior risco de isola-mento num sistema de ciência que é glo-balmente hierárquico.

JU - No seu trabalho você aponta alter-nativas à política de formação de doutores em vigor?

Milena Yumi Ramos - Foi possível veri-ficar que a política vigente assenta-se em conceitos e argumentos ultrapassados ou parciais, sem evidências representativas e incontestáveis que lhes dê sustentação e legitimidade. Assim, aponto para a neces-sidade de revisão dessa política a partir do referencial analítico atual, que reconhece a importância da internacionalização, nas suas mais variadas formas – mobilidade de pesquisadores, colaboração física e virtual, contratos de pesquisa supranacionais, par-ticipação em organizações internacionais de pesquisa, coordenação e planejamento conjunto de atividades em CTI –, para a produção, visibilidade e impacto do conhe-cimento. Há diferentes lógicas, modelos e mecanismos pelos quais a internacionaliza-ção pode ser implementada e os potenciais benefícios desse esforço não são garan-tidos ou automáticos. É preciso entender devidamente as opções existentes, seus condicionantes e implicações, sem o que fica inviável dar forma à política relevante. Logo, a definição de uma base conceitual e metodológica consistente e atualizada e a construção de bases de dados vinculadas são requisitos para a boa gestão e efetivida-de da política.

JU - É exequível uma mudança do atual paradigma?

Milena Yumi Ramos - As análises desen-volvidas na tese têm como pano de fundo a tensão entre duas lógicas distintas que co-existem neste momento: a da chamada Ci-ência 1.0, focada em publicar o mais rápido possível para assegurar reconhecimento e crédito intelectual num regime de competi-ção entre pesquisadores, e a da Ciência 2.0, focada em compartilhar e colaborar o mais rápido e da melhor forma possível par ace-lerar e tornar mais eficiente o processo de inovação. Se de fato está havendo transição de uma lógica para outra, é uma questão em discussão, mas me parece importante para a política de CT&I no Brasil aprofun-dar a atenção para as forças e formulações em jogo, as oportunidades e desafios, as implicações políticas e institucionais sobre o nosso sistema de pós-graduação e pes-quisa.

Campinas, 9 a 15 de março de 2015Campinas, 9 a 15 de março de 2015 7

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Ministério das Minas e Energia informa que o gás natural res-pondeu por aproximadamente 12% da oferta de energia no

país em 2013, com um aumen-to de 16% em relação ao ano anterior. Este aumento na oferta, porém, implica necessi-dade de otimização do armazenamento e do transporte, que pelos métodos convencionais são feitos nas formas do gás liquefeito (GNL) ou comprimido (GNC). Estes custos acabam elevados pela baixa densidade energética do gás natural em condições de temperatura e pressão padrão, quando comparado com combustíveis líquidos derivados do petróleo.

Uma alternativa promissora é a do gás natural adsorvido (GNA). Trata-se do de-senvolvimento de carvões ativados com a maior quantidade possível de poros de di-mensões bem pequenas (microporos): um tanque contendo tais adsorventes, em pres-sões moderadas, possui capacidade de ar-mazenamento bem superior à de um tanque vazio, já que o gás adsorvido tem densidade inferior à de sua fase gasosa. Tese de douto-rado neste sentido foi defendida por Manoel Orlando Alvarez Méndez, sob a orientação do professor Antonio Carlos Luz Lisbôa, da Faculdade de Engenheira Química (FEQ) da Unicamp, e coorientação do professor Apa-recido dos Reis Coutinho, da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). A pes-quisa teve auxílio da Fapesp.

Em seu estudo, Manoel Méndez produ-ziu carvões ativados a partir de resíduos ou subprodutos da indústria: coque de petróleo (com o qual já havia trabalhado no mestra-do), madeira de pinus e casca de macadâ-mia, ativados física e quimicamente para torná-los adsorventes – ele também testou resíduos da cana-de-açúcar, sem sucesso. “O carvão ativado é semelhante ao normal, com a diferença de possuir microporos que possibilitam reter substâncias em sua su-perfície. Com ele podemos tanto remover substâncias, como poluentes da água, quan-to armazená-las, caso do gás natural, foco da minha pesquisa.”

O autor da tese explica que existe grande limitação no armazenamento do gás natu-ral, que por ocupar muito espaço no esta-do gasoso, precisa ser pressurizado dentro do reservatório, a exemplo do botijão para uso mais doméstico. “Por ser constituído de uma mistura com grande parte de metano e alguns hidrocarbonetos leves e gases iner-tes, não é possível realizar a liquefação do gás natural em temperatura ambiente. Para isso, são necessários tanques criogênicos com determinados parâmetros de tempera-tura e pressão, além de processos de vapori-zação para a sua utilização final.”

É o gás natural comprimido (GNC), ar-mazenado em seu estado fluido a pressões ainda mais elevadas, que tem sido a solução utilizada mundialmente, mas que apresenta sérios inconvenientes. “Os tanques são ex-tremamente pesados devido à espessura das paredes de metal (a relação é de um quilo de aço para cada litro de gás armazenado) e há necessidade de processos com múlti-plos estágios de compressão, pouco viáveis economicamente. Além disso, um reserva-tório de gás inflamável a alta pressão traz um risco potencial à segurança pessoal e de instalações.”

Segundo Méndez, apenas recentemente surgiram as pesquisas visando o armazena-mento do gás natural na forma adsorvida, tratando-se, portanto, de uma tecnologia em desenvolvimento. “Com esta tecnologia, o gás pressurizado é adsorvido na superfície do carvão ativado, como se liquefizesse. Sob uma pressão moderada (em torno de 20% da empregada para GNC), a capacidade de armazenamento do tanque aumenta na mesma proporção e, por isso, tenta-se obter um carvão o mais poroso possível. Por exi-gir pressões bem menores, o GNA permite a utilização de reservatórios mais leves e seguros, com um único estágio de compres-são, além de geometrias melhores que a do cilindro: no carro, por exemplo, pode ter a forma do fundo do porta-malas.”

TEMPERATURA DO TANQUENo caminho inverso da armazenagem, a

pressão é reduzida e o gás vai sendo liberado para utilização. E o autor da tese afirma que o foco principal esteve justamente em inves-tigar possíveis problemas decorrentes deste processo de adsorção e dessorção. “No fe-nômeno da adsorção, em que o gás se lique-faz, é liberado muito calor e a temperatura do tanque tende a aumentar, dificultando o armazenamento; e, na liberação, a tempera-tura do tanque diminui e o gás pode ficar retido na superfície do carvão, perdendo-se em capacidade.”

Carvão ativado otimizaarmazenamento de gás

Manoel Orlando AlvarezMéndez, autor da pesquisa:biomassa (madeira de pinuse casca de macadâmia),além da maior disponibilidade,apresenta valores de massaespecífi ca e de densidadede empacotamento superioresaos do coque de petróleo

Pesquisador desenvolveu alternativaa partir de resíduos ou subprodutos da indústria

Fotos: Antoninho Perri

PublicaçãoTese: “Estudo da dinâmica de ad-sorção/dessorção de gás natural em carvão ativado em tanques de arma-zenamento”Autor: Manoel Orlando Alvarez MéndezOrientador: Antonio Carlos Luz LisbôaCoorientador: Aparecido dos Reis CoutinhoUnidade: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)Financiamento: Fapesp

LUIZ [email protected]

Méndez iniciou a pesquisa buscando ma-teriais compatíveis com esta tecnologia e também estudou outros, inclusive o carvão ativado importado, visando comparações em termos de porosidade e capacidade de armazenamento. “Feitos os ensaios, recorre-mos à simulação computacional para medir o aumento e a diminuição da temperatura para cada tipo de carvão. Constatamos que, dependendo das suas propriedades, há um efeito negativo na quantidade armazenada. Mas isso pode ser melhorado com modifica-ções na geometria do tanque, sendo que a es-trutura porosa e a condutividade térmica dos materiais utilizados também possibilitam a remoção de calor.”

Em suas conclusões, Manoel Méndez elege esta tecnologia envolvendo carvões ativados como bastante promissora, carecen-do de mais desenvolvimento e de incentivo. “Até cinco anos atrás, tínhamos a parceria da Petrobras, que pretendia utilizar a tecnolo-gia em tanques de grande porte, como para transporte de gás natural em navios. Devido a mudanças estratégicas, a empresa decidiu interromper a linha de pesquisa, mas acredi-

to que em algum momento vai retomá-la. De qualquer forma, esses carvões ativados pos-suem diversas outras utilidades, como para purificação de gases ou remoção de poluen-tes da atmosfera e da água (no caso de derra-mamento de petróleo, por exemplo).”

O autor considera que sua pesquisa teve o mérito de demonstrar que o uso da biomas-sa (madeira de pinus e casca de macadâmia), além da maior disponibilidade, apresenta va-lores de massa específica e de densidade de empacotamento superiores aos do coque de petróleo. E que a casca de macadâmia, espe-cificamente, possui densidades maiores que da madeira de pinus, além de porosidades da mesma ordem de grandeza, sendo a matéria-prima preferencial para a produção de carvão ativado.

Defendida a tese de doutorado, Manoel Méndez, como professor da Unimep, pros-segue trabalhando com os carvões ativados produzidos no Laboratório de Materiais Car-bonosos (LMC) daquela instituição, agora visando à remoção de substâncias farmacêu-ticas da água. De lá vieram os materiais uti-lizados para a tese apresentada na Unicamp,

A tese de doutorado de Manoel Orlando Alvarez Méndez traz in-formações dando conta de um crescimento considerável do uso de gás natural (GN) desde o início da década de 1980, principalmente pelos custos de produção e de comercialização inferiores aos de com-bustíveis derivados do petróleo (gasolina, diesel e óleo combustível). O consumo anual de GN no Brasil, em 2013, foi de 36,8 bilhões de me-tros cúbicos, equivalente a 1,1% do consumo mundial de 35 trilhões de metros cúbicos.

Outra causa do aumento no consumo apontada pelo autor é o interesse na redução de emissão de poluentes na atmosfera, visto que o gás natural possui combustão “mais limpa” quando comparado aos combustíveis convencionais. Os índices de emissão apresen-tam reduções de até 100% no caso do benzeno, 92% de compostos orgânicos voláteis, 83% de dióxido de enxofre, 40% de monóxido de carbono, 25% de dióxido de carbono e 10% de óxidos nitrosos, sendo praticamente livre de particulados.

Méndez observa que a maior utilização pelos setores da indústria e de geração de energia se deve ao fato de o gás natural ser um com-bustível gasoso e ambientalmente atrativo, principalmente em países onde governos têm implementado políticas de redução de gases de efeito estufa, pois apresenta baixa emissão de carbono em comparação ao óleo e carvão mineral. Entretanto, o GN ainda é mais usado para combustão em aplicações estacionárias, a exemplo do aquecimento de interiores; para processos dinâmicos, como em veículos, a aplicação é limitada pela baixa densidade energética devida à sua natureza gasosa.

Consumo tevecrescimento acentuado

a partir dos 1980

onde o autor desenvolveu a parte de simula-ção computacional e de ensaios de transfe-rência de calor. “Lá atrás, a ideia original era usar esta tecnologia em carros movidos a gás, a fim de reduzir a pressão no cilindro e torná-lo menos perigoso. Depois surgiram todas essas possibilidades.”

Campinas, 9 a 15 de março de 2015Campinas, 9 a 15 de março de 20158

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ma obra clássica é aquela que, por conta de sua excelência, é reconhecida e revisitada sem limites de tempo ou espaço.

Estudar os clássicos não se resume, então, a ingressar num ambiente es-tético e cultural distinto do contemporâneo, a fim de conhecer e analisar dimensões em que uma obra foi produzida. Diferente disso, estudar os clássicos significa tomar contato com referenciais culturais que permanecem vivos, a despeito de terem sido forjados sé-culos atrás.

Esse é o mote da coleção Bibliotheca Lati-na, recém-lançada pela Editora da Unicamp, que reunirá 19 volumes sobre distintos gê-neros literários latinos consagrados pela tra-dição. Três deles já foram lançados – “Poe-sia Didática – Virgílio, Ovídio e Lucrécio” e “Prosa técnica: Catão, Varrão, Vitrúvio e Co-lumela”, organizados pelo linguista Matheus Trevizam, e “Épica I – Ênio e Virgílio”, com-pilado pelo professor de latim Paulo Sérgio de Vasconcellos.

“Os autores latinos estão vivos ainda hoje, lidos por eles mesmos ou através das obras incontáveis que os imitaram”, anali-sam Trevizam e Vasconcellos, citando Paulo Leminski e Ariano Suassuna como exemplos brasileiros. “Leminski tem uma obra em pro-sa que imita as ‘Metamorfoses’ de Ovídio; Ariano Suassuna, que morreu recentemente, retoma a comédia de Plauto”, afirmam.

Embora perenes, os referenciais coloca-dos em cena pelas obras clássicas não devem ser analisados nem interpretados apenas a partir da perspectiva contemporânea. Sua de-vida compreensão requer que enxerguemos também os clássicos com os olhos daqueles que os forjaram.

Por isso, cada gênero que integra a Bi-bliotheca Latina é apresentado a partir das teorizações dos próprios antigos, integrando, quando elucidativas, considerações de estu-diosos modernos. Além de análises, os livros incluem uma breve antologia das obras anali-sadas em latim e em português e uma biblio-grafia comentada de ensaios fundamentais sobre os autores contemplados.

Leia a seguir a íntegra da entrevista con-cedida por Trevizam e Vasconcellos ao Jornal da Unicamp.

Jornal da Unicamp – Como surgiu a ideia de criar a coleção Bibliotheca Latina?

Matheus Trevizam e Paulo Sérgio de Vas-concellos – A ideia ocorreu do contraste entre a abundância de materiais educativos para o estudo das línguas e culturas clássicas nos meios acadêmicos de outros países, como França e Itália, e a relativa falta de materiais similares no universo não apenas brasileiro, mas ainda lusófono.

Naqueles países, em distintas ocasiões, os organizadores tiveram oportunidade de estudar e desenvolver trabalhos filológicos. Assim, há muitos anos estão disponíveis aos estudantes franceses e italianos de língua e cultura latina (ou grega) obras excelentes e acessíveis, do ponto de vista econômico. Trata-se de séries de renome como a france-sa “Que sais-je?” e a italiana “BUR”, as quais têm coberto extensamente o legado da litera-tura antiga quer do ponto de vista tradutório, quer daquele da abordagem de aspectos lite-rários, linguísticos e culturais.

O estudante brasileiro dessa mesma área de interesse, por sua vez, deve muitas vezes contentar-se com o acesso, em geral caro e mais difícil, a obras importadas, quando não restringir-se a bibliografias desatualizadas, periférica e tardiamente chegadas a nosso meio intelectual, onde os Estudos Clássicos ainda não contam com a mesma tradição existente nos principais polos de pesquisa da Europa e dos Estados Unidos.

JU – Qual o objetivo da coleção?Matheus Trevizam e Paulo Sérgio de Vas-

concellos – A coleção é dirigida a todos os que se interessam pela literatura latina e pelos gêneros literários em que ela se expressou e não apenas a latinistas.

Quem deseja, por exemplo, conhecer algo sobre as origens da tradição épica do Ociden-te, mesmo que seu interesse não seja propria-mente saber mais sobre uma epopeia como a “Eneida”, poderá se beneficiar dos dois volu-mes dedicados ao gênero. Daí, nossa preocu-pação em evitar jargões e tentar atingir um público mais amplo que o dos classicistas.

Coleção reúne obras clássicas

Paulo Sérgio de Vasconcellos, um dos coordenadores da coleção Bibliotheca Latina: “Os autores latinos estão vivos ainda hoje”

Bibliotheca Latina, da Editora da Unicamp, terá ao todo 19 volumes sobre distintos gêneros literáriosFoto: Divulgação

MARTA AVANCINIEspecial para o JU

JU – Como foi a seleção dos gêneros lite-rários e das obras enfocadas em cada volume da coleção?

Matheus Trevizam e Paulo Sérgio de Vas-concellos – A seleção dos gêneros deveu-se a um desejo de oferecer cobertura para os prin-cipais tipos de produtos literários compostos em Roma Antiga: assim, a coleção focalizará, além dos primeiros livros sobre os gêneros Épico, Didático e a Prosa técnica, já lançados pela Editora da Unicamp, outros 15 gêneros: a Elegia, a Lírica, a Comédia, a Tragédia, o Di-álogo filosófico, o Bucolismo, o Romance, a Historiografia, a Epistolografia, o Epigrama, os Tratados gramaticais, a Sátira, a Fábula, os Tratados de retórica e a Eloquência.

Vale lembrar que, no caso dos Tratados de qualquer teor, de conteúdo “técnico”, as obras assumem características também literárias, apesar dos fins majoritariamen-te expositivos, porque não havia, em Roma Antiga e na Grécia, absoluta separação entre o trabalho do escritor (preocupado com a elaboração estética do texto) e o do teórico (atento apenas à “passagem de conteúdos”).

Ou seja, sempre notamos nas principais obras antigas, mesmo nos Tratados de mes-tres como Marco Túlio Cícero (séc. I a.C.) e Júnio Moderato Columela (séc. I d.C.), algum grau de preocupação com a expressi-vidade estilística, ou retórica, dos textos, o que faz desses tratados muito mais do que meros manuais técnicos, comuns no mundo moderno.

Em cada volume, foram escolhidas algu-mas obras para comentário no interior de cada quadro genérico específico – como a “Eneida” de Virgílio e os “Anais” do poeta ar-caico Ênio, para o primeiro volume da Épica. Essas obras correspondem, sempre, a uma amostra do que de mais representativo e aca-bado se fez no interior do gênero literário en-focado. Os autores contemplados “ilustram” as possibilidades expressivas de cada gênero em seus mais altos pontos qualitativos.

Finalmente, apresentamos aos leitores de hoje autores e obras que tiveram grande influência no Ocidente; conhecê-los muitas

vezes é fundamental para entender mais a fundo escritores que fazem parte do cânone literário ocidental.

JU – Qual a visão da literatura antiga clás-sica se pretende transmitir aos leitores?

Matheus Trevizam e Paulo Sérgio de Vasconcellos – Nossa intenção é transmitir a ideia de uma cultura literária, em Roma Antiga, totalmente diversificada – haja vis-ta o fato do acolhimento a tantos autores, obras e gêneros – e produtora de alguns dos mais importantes monumentos literários do Ocidente.

Também temos uma preocupação de de-monstrar que os escritores de Roma Antiga, em verso ou prosa, já estavam, há 2 mil anos ou mais, cientes de todos os mais finos me-canismos da construção artística e comuni-cativa dos textos.

Desse modo, compreender suas ideias sobre a estruturação de tantos gêneros li-terários nos oferece verdadeiras chaves de acesso a uma cultura literária bastante de-senvolvida e de duradoura permanência até em tempos posteriores, como o Medievo e o Renascimento.

Por outro lado, evita-se cair nos estere-ótipos ultrapassados que foram muito co-muns há alguns anos e que de vez em quan-do ainda escutamos, sobretudo a noção de que a literatura tem fases semelhantes às de um organismo vivo: nasce, vai-se desenvol-vendo, atinge o ápice e morre. Assim, poe-tas como Virgílio e Horácio representariam a “fase áurea” da literatura latina; Ovídio, a “fase argêntea”, e por aí vai.

Esperamos que nossa abordagem revele como a história da literatura latina é muito mais complexa e dinâmica do que certas cate-gorias comuns nos manuais do passado.

JU – Por que estudar a literatura antiga clássica hoje em dia?

Matheus Trevizam e Paulo Sérgio de Vas-concellos – Por definição, “Clássica” é toda produção cultural cuja excelência a torna pe-

renemente merecedora de reconhecimento e revisitações, sem limites no tempo e no es-paço. Que seria do italiano Dante Alighieri e do português Luís de Camões, da “Divina Comédia” e d’“Os Lusíadas”, sem o referen-cial norteador da Épica virgiliana, represen-tada pela “Eneida”? Como se nutririam poe-ticamente de temas e situações bucólicos os Árcades mineiros do século XVIII, sem o le-gado das “Églogas” do mesmo poeta antigo, ou, anteriormente, de Teócrito de Siracusa?

Estudar e buscar intimidade com os Clás-sicos da Antiguidade, portanto, em nosso como em outros tempos, é continuamente estabelecer contato com referenciais de cul-tura válidos porque não envelhecem, nem se restringem aos falsos brilhos do modismo.

Nesse sentido, em nossa época, o cine-ma, a literatura, a música e outros modos adicionais de produção artística recorrem ao universo criativo dos grandes autores antigos (vejam-se, por exemplo, as tantas adaptações fílmicas de Homero...) como foco de deriva-ções de imagens, ideias, temas...

Apenas conseguirá apreciar esse legado cultural criticamente e com profundidade, no entanto, quem dispuser de mínimas chaves de acesso ao mundo antigo, para nós sobre-tudo alcançável através das palavras de auto-res como Virgílio, Cícero e Horácio, quando tratamos da cultura romana.

JU – No volume sobre poesia didática, é mencionado que uma das intenções é trans-mitir a visão que a época tinha sobre o gênero, evitando anacronismos. Esta é uma preocupa-ção presente nos demais volumes da coleção?

Matheus Trevizam e Paulo Sérgio de Vas-concellos – Certamente, um dos objetivos da coleção é desfazer alguns mal-entendidos ainda vigentes no contato do público “leigo”, ou iniciante nos estudos da Antiguidade, com as obras e gêneros antigos.

Assim, não desejamos que, depois da leitura das obras da coleção, os interessa-dos ainda conservem ideias como a absoluta identificação do fazer dos historiadores lati-nos – como Júlio César, Tito Lívio e Cornélio Tácito – com os pressupostos metodológi-cos e científicos da moderna historiografia (Quintiliano, por exemplo, chama a obra histórica de “poema em prosa”, uma concep-ção que jamais associaríamos a nossos livros típicos de história).

Ou que venham a pensar na Poesia Di-dática como uma produção “impossível”, do ponto de vista constitutivo, diante da con-temporânea (e supostamente “natural”) se-paração entre as obras comprometidas com fins estéticos – ou seja, a literatura em senti-do estrito – ou com aspectos secamente ex-positivos.

Enfim, procuramos incorporar em nossas análises e interpretações a reflexão mais atu-al sobre o que é literatura e os modos mais refinados de abordá-la. Nesse sentido, nos-sos manuais pretendem ser didáticos sem recair em simplificações excessivas.

Dessa forma, trata-se aqui de um con-junto de estudos teóricos sobre a literatura Latina, embora introdutórios, destinados a permitir o mais sólido embasamento dos leitores diante das concepções dos próprios autores clássicos a respeito dos gêneros em que desenvolveram seu trabalho criativo.

Volumes já publicados pela Editora da Unicamp: antologia das obras analisadas e bibliografi a comentada de ensaios sobre os autores

Campinas, 9 a 15 de março de 2015 9Campinas, 9 a 15 de março de 2015

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Painel da semana

Teses da semana

do PortalDestaque

encenação da ópera Don Giovan-ni, de W. A. Mozart, considera-da obra-prima do gênero, é um dos destaques da temporada 2015 da Orquestra Sinfônica

da Unicamp (OSU), que chega com vasto repertório distribuído em 30 concertos com importantes solistas e regentes convidados brasileiros e estrangeiros. A combinação do repertório coral e de orquestra é um dos ei-xos desta temporada, adianta a regente titu-lar Cinthia Alireti. “Iremos destacar obras de autores conhecidos e outras com linguagem voltada ao século 21”, informa. O concerto de abertura será com uma Gala Lírica no dia 11 (quarta-feira), às 20 horas, no Teatro Castro Mendes, com a estreia do Salmo 23, de Jôna-tas Manzolli (compositor, professor e pesqui-sador da Unicamp) e árias populares de Belli-ni, Gounod, Bizet, Verdi e Mascagni.

A programação prevê apresentações no Te-atro Castro Mendes, Teatro Municipal de Pau-línia, na Casa do Lago (Unicamp), em igrejas e nas cidades da região. A OSU também es-tende seu projeto de circulação, com apresen-tações em cidades do entorno de Campinas. “Estamos conversando com os municípios para continuar a levar a música da Sinfônica da Unicamp a outros públicos com repertório diversificado”, afirma Alireti.

MAESTROS CONVIDADOSO elenco de regentes convidados está for-

mado por Silvio Viegas (maestro titular da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro), Antonio Borges-Cunha (com-positor e regente da Orquestra de Câmara Theatro de São Pedro – Porto Alegre), Miguel Campos Neto (regente da Orquestra Jovem Vale Música e Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz – Belém), Karl Martin (regente suíço, com forte expressão no cenário internacio-nal), Jorge Geraldo (professor de regência da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), Knut Andreas (regente alemão da orquestra Colleguium Musicum Potsdam-Berlim), Ra-fael Piccolotto (professor e maestro assistente da Big Band Latina da Universidade de Miami e indicado ao Grammy Latino/2013 na cate-goria compositor erudito) e Martin Lazarov (regente, compositor e oboísta búlgaro, fun-dador e integrante do Bálkãn Neo Ensemble).

O público também terá oportunidade de conferir a última visita do emblemático ma-estro alemão Hans-Peter Schurz, da Univer-sidade de Humbolt (Berlim), ao Brasil. O re-gente, que desde 2005 vem à Unicamp para realizar masterclasses, neste ano encerrará suas atividades.

SOLISTAS CONVIDADOSA Sinfônica da Unicamp irá acompanhar

um time de primeira do cenário erudito, como os solistas Poliana Alves (mezzo sopra-no), Caroline De Comi (soprano), Eduardo Freitas (clarineta), Maria Bernadete e Luís Claudio Barros (pianistas), Fernando Hashi-moto (percussão) e os coletivos Coro Con-temporâneo de Campinas, Coral Unicamp Zíper na Boca e Collegium Vocale Campinas.

Atuante não apenas no repertório operísti-co como na música de câmara e contemporâ-nea, Caroline De Comi vem se tornando um dos mais importantes sopranos coloratura do cenário lírico nacional. Apresentou-se nas principais salas de concerto do país e partici-pou de montagens de óperas consagradas em papéis como Rainha da Noite, Lucia, Serpina, destacando-se como Gilda (no Theatro São Pedro), em L’enfant et les sortilèges (de Ra-vel) e no papel título da ópera O Rouxinol de Stravinsky (ambas no Theatro Municipal de São Paulo).Entre suas gravações estão o CD “O presente”, de Willy Corrêa de Oliveira, e o DVD “A Flauta Mágica”, produzido pela TUCCA.

Bacharel em Clarineta pela Unesp, Edu-ardo Freitas é solista da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo. Participou de vários fes-tivais e masterclasses com artistas do Brasil e exterior. Integrou diversos grupos sinfô-nicos e de câmara, como a Banda Sinfônica do Exército, Orquestra Sinfônica de São José dos Campos e o Quinteto de Sopros, e hoje faz parte também da Orquestra Sinfônica da Unicamp.

Formado em 2010 pelos pianistas Bernar-dete Castelan Póvoas e Luís Cláudio Barros, o Piano Duo propõe-se divulgar o amplo re-pertório para piano a quatro mãos e a dois pianos, com destaque para obras de composi-tores brasileiros e sul-americanos, as quais de-dicam intensa pesquisa. O duo tem realizado turnês, destacando a “Série Danças” e “Piano em Foco” por várias cidades brasileiras.

REPERTÓRIOEntre os destaques do repertório estão a

Sinfonia nº 1, de Scriabin, sinfonia-coral pou-co conhecida que marca os 100 anos de morte do importante compositor russo; o Oratório de Natal, de J. S. Bach; a Missa, de Stravinsky; e o Concerto para Piano a Quatro Mãos e Orquestra de Câmara, do brasileiro Liduino Pitombeira (compositor e professor na Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro).

Um dos pontos altos da temporada é a encenação da ópera Don Giovanni . As ré-citas serão no Teatro Municipal de Paulínia e fazem parte do ciclo de óperas de Mozart, que teve início em 2014 com A Flauta Mági-ca, e terão continuidade nas próximas tem-poradas. Em parceria com o Ópera Studio Unicamp, a ópera marca a pré-abertura das comemorações dos 50 anos de existência da Unicamp.

(Maria Cláudia Miguel)

Seminário Internacional de Circo Social - Evento acon-tece no dia 9 de março, das 14 às 18 horas, no auditório da Faculdade de Educação (FE). A organização é do professor Marco Antonio Coelho Bortoleto, coordenador do Grupo de Estudo Pesquisa de Artes Circenses (Circus) da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp. As in-scrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia do evento, pelo e-mail [email protected]. Na abertura do seminário, Cléia Silveira (FASE/SAAP-RJ) falará sobre “A Rede Circo do Mundo Brasil e a parceria com o Cirque Du Soleil no âmbito do Circo Social”. Na sequência, haverá uma mesa-redonda com a participação de Emmanuel Bochud, coordenador do Programa Social do Cirque Du Soleil (Canadá); Zezo Oliveira, asses-sor da Secretaria de Cultura de Recife; Maneco Maracá, coordenador executivo e artístico do Circo Laêtho de Goiânia, e Marco Bortoleto, coordenador do Grupo Circus da Unicamp. A mediação será de Fátima Pontes, coordenadora executiva e artística da Escola Pernambucana de Circo de Recife, integrante da Rede Circo do Mundo Brasil. Para mais detalhes entre em contato com os telefones 19-3521-6768 / 3521-6618 ou e-mail [email protected]

Encontro de alunos PAD/PED - A Pró-Reitoria de Graduação (PRG), a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG) e o Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)² realizam o XI Encontro de alunos do Programa de Apoio Didático e do Programa de Estágio Docente (PAD/PED), dia 9 de março, das 10 às 13 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O evento tem como objetivo preparar os alunos de graduação e de pós-graduação para o exercício de suas atividades, nos referidos programas, para o segundo semestre de 2015. Os alunos de Limeira (FT e FCA) e Piracicaba (FOP) deverão assistir o evento online, através de link a ser disponibilizado na página do (EA)². O controle de frequência será registrado por meio do cartão de identidade estudantil, em Campi-nas, e por meio de listas nos outros locais (FT, FCA, FOP). Mais informa-ções pelo e-mail [email protected] Mostra de cinema e direitos humanos - A Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, por meio Centro Acadêmico An-tônio da Costa Santos (CAACS) dos alunos dos cursos de Gestão de Políticas Públicas e Administração Pública, e em parceria com a Secre-taria de Direitos Humanos da Presidência da República apresentam a 9ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos, em quatro sessões, na Sala UL03 da FCA. No dia 10 de março, às 18 horas, será exibido o fi lme “Cabra Marcado pra Morrer”, de Eduardo Coutinho; no dia 11, às 14h, “A Vizinhança do Tigre”, de Affonso Uchoa; “Pelas Janelas”, de Carol Per-digão, Guilherme Farkas, Sofi a Maldonado e Will Domingos, será exibido no dia 24, às 18h. “Sophia”, de Kennel Rógis, está programado para o dia 25, às 18 horas. Para “Cabra Marcado pra Morrer” e “A Vizinhança do Tigre”, a censura é 12 anos. “Pelas Janelas” e “Sophia”: livre. Mais detalhes pelo e-mail [email protected] Centro de Biologia em Proteínas Quinases - A Unicamp, por meio da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP), instalará o Centro de Bio-logia em Proteínas Quinases, nas dependências do Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho em Ciências da Vida (LaCTAD), vinculado à PRP. O Centro é uma parceria entre a Unicamp, o Consór-cio de Genômica Estrutural (SGC) e a Fapesp. O lançamento ofi cial da parceria acontece no próximo dia 10 de março, na sede da Fapesp. Mais detalhes: http://www.fapesp.br/eventos/sgc Selo comemorativo CMU - Estarão abertas até 10 de março as inscrições para projetos de um selo comemorativo que deverá acompan-har as produções do Centro de Memória – Unicamp (CMU) em 2015, ano em que completa 30 anos. A participação é aberta a servidores (técnico-administrativos, pesquisadores, docentes e estagiários) e estudantes reg-ularmente matriculados nos cursos de graduação e de pós-graduação. Os projetos devem ter como tema a comemoração de 30 anos de Centro de Memória Unicamp. Mais detalhes, regulamento completo e fi cha de inscrição no link http://www.cmu.unicamp.br/cmu/noticias/71 A escrita de textos acadêmicos - O Espaço da Escrita, proje-to estratégico da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), promove no dia 10 de março o workshop “A escrita de textos acadêmicos: contexto de produção e características formais”. Ele será ministrado pelas profes-soras Anna Christina Bentes, do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp (IEL), e Vívian Cristina Rio Stella, da PUC-SP. O workshop será

em português e é direcionado aos docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação da Unicamp. As vagas são limitadas. O workshop ocor-rerá das 14h às 16h, no auditório I do Instituto de Filosofi a e Ciências Humanas (IFCH), à rua Cora Coralina 100, no campus de Campinas. Mais detalhes pelo e-mail [email protected] ou telefone 19-3521-6649. Tempo de Debate - “Diferenciais na fecundidade brasileira segundo a natureza da união: algumas especulações sobre decisões reprodutivas e a prática de morar junto”. Tema será debatido pela pro-fessora Joice de Melo Vieira, do Departamento de Demografi a (IFCH/NEPO). O encontro, que faz parte da série Tempo de Debate, acontece no dia 11 de março, às 12h30, no auditório do Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” (Nepo). A organização é da professora Maisa Faleiros da Cunha. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-0063 ou e-mail [email protected] Especialização em Gestão Estratégica da Inovação Tecnológica - Curso oferecido pelo Departamento de Política Cientí-fi ca e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp está com inscrições abertas para a oitava turma, com 30 vagas. As in-scrições podem ser feitas até 12 de março. As aulas serão ministradas en-tre março de 2015 e dezembro de 2016, quinzenalmente, às sextas-fei-ras, das 18h30 às 23 horas e sábados, das 8h30 às 13 horas, totalizando 360 horas. O curso é coordenado pelo professor Ruy Quadros (IG). Mais detalhes no link http://www.extecamp.unicamp.br/gestaodainovacao/# Structural Genomics Consortium (SGC) Unicamp - Workshop ocorre no dia 12 de março, às 8h30, no auditório “Inés Jo-ekes” do Instituto de Química (IQ). Da abertura do evento participam os professores Lauro Kubota, do Instituto de Química (IQ) e Paulo Arruda, do Instituto de Biologia (IB). Às 8h45 serão apresentadas as linhas de pesquisa do IQ. Às 11 horas começa o seminário “Adventures with kinase inhibitors” com William Zuercher (GSK). No programa também consta a visita de uma comitiva do SGC ao IQ-Unicamp. O evento está sob a organização do professor Luiz Carlos Dias. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-3097 ou e-mail [email protected] Vivência e gestão na pauta de discussões - Diferentes aspectos ligados à vivência e à gestão na Unicamp serão temas de um novo espaço para refl exão na Universidade. Batizado de “Refl etir - En-contro Permanente sobre vivência e gestão na Unicamp”, o evento terá a sua primeira edição no próximo dia 13 de março, a partir das 9 horas, no Centro de Convenções. Leia mais: http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2015/03/02/vivencia-e-gestao-na-pauta-de-discussoes

Artes - “Permanências e rupturas de um suporte: livro de artista, estudo de casos” (mestrado). Candidata: Iris Di Ciommo. Orientador: pro-fessor Haroldo Gallo. Dia 10 de março de 2015, às 10h30, no IA.

Economia - “As políticas habitacionais no subdesenvolvimento: os casos do Brasil, Colômbia, México e Venezuela (1980/2013)” (dou-torado). Candidata: Beatriz Tamaso Mioto. Orientador: professor Wilson Cano. Dia 9 de março de 2015, às 10 horas, na sala 23 do pavilhão de Pós-graduação do IE. Educação - “Super notícia: um jornal entre leitores” (doutorado). Candidata: Renata Kelly de Arruda. Orientadora: professora Lilian Lopes Martin da Silva. Dia 10 de março de 2015, às 14 horas, no 1o andar do bloco A da Pós-graduação, sala de defesa de teses 1 da FE.“Análise do Programa de Ação afi rmativa e Inclusão Social PAAIS imple-mentado pela Unicamp no período de 2005-2014” (mestrado). Candi-dato: Fritznel Alphonse. Orientador: professor Vicente Rodriguez. Dia 10 de março de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do Bloco C da FE. Engenharia Elétrica e de Computação - “Descritores com-pactos para busca visual em dispositivos móveis” (mestrado). Candidato: Paul Joseph Hidalgo Flores. Orientador: professor Eduardo Alves do Val-le Junior. Dia 10 de março de 2015, às 10 horas, na sala PE12 da FEEC. Engenharia Mecânica - “Efeito de adições de vanádio, nióbio e molibdênio na estrutura e propriedades mecânicas de aços com 0,7% C utilizados na fabricação de rodas ferroviárias” (doutorado). Candidata: Solange Tamara da Fonseca. Orientador: professor Paulo Roberto Mei. Dia 9 de março de 2015, às 14 horas, no auditório KD da FEM.“Produção e caracterização de nanopartículas de quartzo obtidas por moagem de alta energia” (mestrado). Candidato: Egont Alexandre Schenkel. Orientador: professor Carlos Kenichi Suzuki. Dia 11 de março de 2015, às 14 horas, na sala JD02 da FEM. Geociências - “A Fundação Ford e o fomento para instituições estratégicas e lideranças acadêmicas no Brasil: análise sobre a parceria com a Fundação Getúlio Vargas” (doutorado). Candidata: Edneia Silva Santos Rocha. Orientadora: professora Cristina de Campos. Dia 9 de março de 2015, às 13 horas, no auditório do IG.“A inserção de conteúdos de geociências nas ações pedagógicas do movimento escoteiro no Brasil” (mestrado). Candidata: Camila Moreno de Lima Silva. Orientadora: professora Rosely Aparecida Liguori Imber-non. Dia 12 de março de 2015, às 14 horas no auditório do IG. Matemática, Estatística e Computação Científi ca - “Grupo-análise do problema de Liouville-Gelfand” (mestrado). Candidato: Valter Aparecido Silva Junior. Orientador: professor Yuri Dimitrov Bozh-kov. Dia 12 de março de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Odontologia - “Comparação da força de mordida pré e pós trata-mento endodôntico em molares inferiores com diagnóstico de necrose pulpar e periodontite apical assintomática” (mestrado). Candidato: Felipe Nogueira Anacleto. Orientador: professor Caio Cesar Randi Ferraz. Dia 10 de março de 2015, às 8h30, na sala da congregação da FOP. Química - “Copolímeros de metacrilato de alquila e metacrilato de sacarose sintetizados via ATRP” (mestrado). Candidata: Paula de Almei-da. Orientadora: professora Maria Isabel Felisberti. Dia 12 de março de 2015, às 9 horas, no miniauditório do IQ.

Don Giovanni, de Mozart, é destaque da Sinfônica

encenação da ópera Don Giovan-ni, de W. A. Mozart, considera-da obra-prima do gênero, é um

Orquestra Sinfônica da UnicampTemporada 2015

MarçoDia 11, 20h – Teatro Castro MendesRegência: Cinthia AliretiSolistas: Coro Contemporâneo e Collegium VocaleGala lírica: Jônatas Manzolli – Salmo 23 (estreia)Obras de Bellini, Gounod, Bizet, Verdi, Mascagni e GiordanoDia 25, 20h – concerto na região (cidade a definir)Dia 26, 19h – Casa do Lago (Unicamp)Regência: Carlos FioriniPrograma: H. Berlioz – La mort de CléopâtreF. Schubert – Sinfonia n. 9, em dó maior, D. 944AbrilDia 15, 20h – Teatro Castro MendesDia 16, 19h – Casa do Lago (Unicamp)Regência: Antonio Borges-CunhaSolista: Caroline De ComiAntonio Borges-Cunha - ContingênciasMauricio de Bonis - Cantata para Caroline – 20 minL. van Beethoven - Sinfonia n. 4, op. 60 em si bemolDia 29, 20h – Concerto na região (cidade a definir)Dia 30, 19h – Casa do Lago (Unicamp)Regência: Cinthia AliretiPrograma: a definirMaioDia 13, 20h – Teatro Castro MendesDia 14,19h – Casa do Lago (Unicamp)Regência: Miguel Campos NetoSolista: Eduardo Freitas, clarinetaPrograma: Raul do Valle (obra a definir)Spohr, Ludwig (Louis) – Concerto, Clarinet, No.1, op.26, C minor F. Mendelssohn – Sinfonia n. 4Dia 27, 20 horas – Concerto na região (cidade a de-finir)Dia 28, 19h – Casa do Lago (Unicamp)Regência: Jorge GeraldoPrograma: Charles-Valentin Alkan – Marcia Funebre sulla morte d´un PappagalloHenry Purcell – Music for the Funeral of Queen MaryI-gor Stravinsky – MissaJunhoDia 17, 20h – Teatro Castro MendesDia 18, 19h - Casa do Lago (Unicamp)Regência: Rafael PiccolottoPrograma: Música Popular – Obras e arranjos de Ra-fael PiccolottoRafael P. de Lima – Abertura Jobiniana – 8 minRafael P. de Lima – Fantasia Gismontiana – 12 minRafael P. de Lima – Danças em Cordas - 12 minRafael P. de Lima – Asa, Zóio e Matulão – 12 minArranjosPonta de Areia – (Milton Nascimento – arr. Rafael P. de Lima)Passarim – (Tom Jobim – arr. Rafael P. de Lima)Chovendo na Roseira – (Tom Jobim – arr. Rafael P. de Lima)

Spanish Suite – (Chick Corea/Joaquim Rodrigo – arr. Rafael P. de LimaJulhoDia 5 – Abertura do Festival de JaguariúnaDia 9 – Concerto de abertura do Festival Internacional de Ópera (FIO Américas) AgostoDia 12, 20h – Teatro Castro MendesDia 13, 19h - Casa do Lago (Unicamp)Regência: Knut AndreasPrograma: Paulo Chagas: LuzesLuciano Nazario – Concerto para vibrafoneDia 26, 20h – local a definirDia 27, 19h – Casa do Lago (Unicamp)Regência: Martin LazarovPrograma: Obras de Martin Lazarov, Dança dos Tau-rus, Rapsódia Tracia, Dilmano, Dilbero, Abertura Torta, Bavna PesenSetembroDia 10, 20h – Casa do LagoPrograma: música de câmara contemporânea (a de-finir)Dia 30, 20h – Teatro Municipal de Paulínia1/10, 20h – Teatro Municipal de PaulíniaRegência: Silvio ViegasPrograma: W. A. Mozart – ópera Don GiovanniOutubroDia 21 – Concerto - Igreja (definir horário e local)Dia 22 – Concerto – Igreja (definir horário e local)Regência: Hans-Peter SchurzCoro ContemporâneoPrograma: Johann Sebastian Bach - Oratório de Na-tal, BWV 248NovembroDia 5, 19h – Casa do LagoConcerto com os premiados do Concurso Compe-tição de jovens regentes/solistas/compositores da UnicampDia 18, 20h – Teatro Castro MendesDia 19, 19h – Casa do Lago (Unicamp)Regência: Karl MartinSolistas: Maria Bernadete e Luís Cláudio Barros (pia-nistas)Programa: Obra de José Augusto Mannis (composi-tor em residência)Liduino Pitombeira – Concerto para Piano a Quatro Mãos e Orquestra de Câmara Op.128DezembroDia 2, 20h – Teatro Castro MendesDia 3, 19h – Casa do Lago (Unicamp)Regência Cinthia AliretiCoro ContemporâneoCoral Unicamp Zíper na BocaPrograma: Scriabin – Sinfonia nº 1 EndereçosTeatro Castro Mendes (Rua Conselheiro Gomide, 62 - Vila Industrial, Campinas)Casa do Lago (Rua Érico Veríssimo, 1011. Unicamp. Campinas)

Campinas, 9 a 15 de março de 2015Campinas, 9 a 15 de março de 201510

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Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) é uma do-ença progressiva que afeta, primariamente, as arteríolas pulmonares. Ela resulta da contração dos vasos sanguíneos pulmonares e tem como consequência o aumento progressivo da resis-

tência vascular ao fluxo sanguíneo, aumentando a pressão arterial pulmonar. Embora se considere que a doença possa ser decorrente de fatores genéticos, ela é classificada gene-ricamente como idiopática, isto é, de causas desconhecidas.

A vasoconstrição diminui o calibre das artérias, dificul-ta a oxigenação do sangue e causa um extravasamento de líquido no pulmão, promovendo um processo inflamatório pulmonar e comprometendo o lado direito do coração.

As primeiras evidências da HAP incluem sinais clínicos clássicos como fadiga, dispneia e síncope ao esforço, que decorrem da insuficiência cardíaca e pulmonar. Dentre os diversos métodos disponíveis para o diagnóstico dos pro-blemas cardíacos induzidos pela HAP, o eletrocardiograma pode ser utilizado para registrar alterações na atividade elé-trica cardíaca e na determinação do grau de hipertrofia do ventrículo direito. O ventrículo direito tem uma estrutura de paredes delgadas e bombeia o sangue em baixa pressão para o sistema vascular pulmonar com alto fluxo. Em de-corrência, a HAP impõe mudanças compensatórias no lado direito do coração através de um remodelamento cardio-vascular devido ao aumento da carga de trabalho, levando à hipertrofia ventricular compensatória. Essa doença, alta-mente incapacitante, limita sensivelmente a atividade física do individuo, afetando sua qualidade de vida.

A melatonina, hormônio produzido pela glândula pineal, situada entre os hemisférios cerebrais, é sintetizada predo-minantemente à noite, pois a luminosidade tem efeito inibi-tório na sua produção. Diversos estudos têm demonstrado a participação do hormônio melatonina na regulação do sis-tema cardiovascular, o que viabiliza seu uso no estudo dos efeitos deletérios da HAP. A melatonina possui efeito vaso-dilatador e, consequentemente, diminui a pressão arterial sistêmica, reduzindo, então, a resistência periférica, além de exercer efeito cardioprotetor devido a sua ação antioxidante.

Desde o mestrado, em que estudou a indução da HAP em animais com a utilização da substância monocrotalina, o educador físico Luiz Alberto Ferreira Ramos tem se de-dicado ao estudo dessa doença. No doutorado seu objeti-vo principal foi demonstrar que a melatonina reduz alte-rações deletérias cardíacas e pulmonares em ratos Wistar portadores de hipertensão arterial pulmonar induzida por monocrotalina. O trabalho foi realizado no Laboratório de Estudos do Estresse (LABEEST), da professora Dora Maria Grassi Kassisse, do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, sob a orientação do professor Miguel Arcanjo Areas.

Na tese apresentada junto ao IB, o pesquisador conclui que a melatonina aumentou as defesas enzimáticas antio-xidantes do coração, minimizando os efeitos deletérios da HAP sobre o sistema cardiovascular, no modelo animal, po-dendo vir a se constituir em nova abordagem terapêutica no tratamento da hipertensão arterial pulmonar de humanos.

O trabalho “Melatonina previne alterações cardiovascu-lares em ratos portadores de Hipertensão Arterial Pulmo-nar induzida por monocrotalina” teve apresentação oral do autor no XV Simpósio Brasileiro de Fisiologia Cardiovas-cular realizado na Universidade de São Paulo - USP, em 2011. O mesmo estudo foi publicado na revista Circulation - Jornal of the American Heart Association, em abril de 2012, época em que foi também apresentado em pôster no World Congress of Cardiology, realizado em Dubai, nos Emirados Árabes.

Três trabalhos de Luiz Alberto foram publicados, em 2014, no periódico Global Heart Journal: “Melatonin reduces the pulmonar vasoconstriction in rats with Pulmonar Arterial Hypertension (PAH) induced by monocrotaline”; “Melatonin Pro-tects Against Cardiovascular Alterations In Rats With Pulmonary Arterial Hypertension (PAH) induced by monocrotaline”; e “Me-

Melatonina é testada em casos de alterações cardíacas e pulmonaresPesquisador concluique o hormônio aumentou as defesas enzimáticas antioxidantes do coração

Luiz Alberto Ferreira Ramos, autor da tese: melatonina pode se constituir em nova abordagem terapêutica no tratamento da hipertensão arterial pulmonar

CARMO GALLO [email protected]

Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) é uma do-ença progressiva que afeta, primariamente, as arteríolas pulmonares. Ela resulta da contração

Fotos: Antoninho Perri

PublicaçãoTese: “Melatonina reduz alterações deletérias cardía-cas e pulmonares em ratos portadores de hipertensão arterial pulmonar induzida por monocrotalina”Autor: Luiz Alberto Ferreira RamosOrientador: Miguel Arcanjo AreasUnidade: Instituto de Biologia (IB)Financiamento: Capes

latonin Protects Against Hemodynamic Alterations In Rats With Pulmonary Arterial Hypertension (PAH) Induced By monocrotali-ne”. Nesse mesmo ano esses estudos foram apresentados, na forma de pôster, no World Congress of Cardiology, rea-lizado em Melbourne, Austrália. A pesquisa foi patrocinada pela Coordenadoria de Apoio à Pesquisa - Capes.

O QUE FOI FEITOLuiz Alberto explica: “No doutorado, o meu objetivo foi

verificar o efeito da melatonina depois de instalada a do-ença no modelo animal e como poderiam ser atenuados os seus efeitos deletérios utilizando-se da melatonina como substância cardioprotetora”.

Para a execução da parte experimental o pesquisador distribuiu os animais por quatro grupos de cinco compo-nentes: um grupo de controle, constituído por animais sa-dios; outro com animais igualmente sadios que recebiam apenas uma dose diária de melatonina; um terceiro em que a doença foi induzida pela monocrotalina, mas que não se-riam tratados; e um quarto grupo com a doença induzida, mas que receberia diariamente uma dose de melatonina. Nestes dois últimos grupos a do-ença foi instalada com o emprego de uma dose única de monocrotalina.

Quinze dias depois, tempo necessário à instalação da HAP, iniciou-se a administração da melatonina no quarto grupo durante tre-ze dias. Os outros grupos foram usados como controle. Com isso, o pesquisador pode com-parar as diferenças observadas nos parâme-tros de controle, mais particularmente entre os dois grupos que têm a doença, em que um foi tratado com melatonina e outro não. Do primeiro ao último dia, durante os 28 dias da duração do experimento, que começou com a administração da monocrotalina, em interva-los periódicos, foram realizados eletrocardio-gramas que permitiram avaliações cardiovas-culares do desenvolvimento dos animais de todos os grupos.

Com base nessas análises Luiz Alberto ob-servou que, quanto aos parâmetros cardíacos observados, não havia muita diferença entre os componentes do grupo que recebeu apenas melatonina e o de controle. Por outro lado, no grupo sob o efeito da monocrotalina, mas que não recebeu melatonina, ele observou um coração hipertrofiado, pouco irrigado e apre-sentando aspectos isquêmicos característicos. Por sua vez, os animais portadores de HAP e tratados com melatonina mostraram uma sen-sível melhora quanto a esses parâmetros. O autor esclarece que a melatonina não reverte o quadro, mas o atenua, diminuindo o efeito da lesão instalada e garantindo maior sobrevi-da ao animal.

Para determinar a atividade elétrica cardí-aca e aspectos hemodinâmicos sistêmicos e ventriculares, o pesquisador utilizou eletro-cardiógrafo específico para ratos, assim como procedimentos cirúrgicos para determinação de diversos parâmetros hemodinâmicos. Além disso, ele avaliou também a reatividade vascu-lar da artéria pulmonar “in vitro”, nos diver-sos grupos experimentais. Constatou, então, que ocorreram melhoras em todo o sistema cardiovascular do animal, assim como em as-pectos pulmonares.

DETALHAMENTOSOs resultados mostraram que nos animais que recebe-

ram apenas a dose única da monocrotalina, os vasos es-tavam bem contraídos. Já no grupo doente tratado com melatonina, esses vasos encontravam-se mais dilatados, o que comprova que a melatonina promoveu uma melhora da perfusão do tecido, ou seja, irrigou-o tornando-o mais saudável e não tão afetado.

Quanto à reatividade vascular pulmonar, as artérias dos animais com HAP tratados com melatonina, apresentaram maior vasodilatação, conferindo assim, melhor perfusão tecidual devido ao seu efeito antioxidante.

Para determinação dos marcadores de lesão cardíaca, foram utilizadas técnicas de biologia molecular (citometria de fluxo e western blot), analisando as proteínas contráteis cardíacas (troponina i) e enzimas antioxidantes, demons-trando que melatonina exerceu efeito protetor contra a le-são. Assim, a ação antioxidante da melatonina possibilita sua utilização como eventual coadjuvante no tratamento dessa doença.

Equipamento usado nos experimentos: determinando a atividadeelétrica cardíaca e aspectos hemodinâmicos sistêmicos

Campinas, 9 a 15 de março de 2015 11Campinas, 9 a 15 de março de 2015

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Campinas, 9 a 15 de março de 201512

os 87 anos, o cordelista e xilógrafo paraiba-no, radicado em Pernambuco, José Costa Leite é o último almanaqueiro tradicional

do Nordeste ainda vivo e em atividade. Seu Calendário Nordestino (chamado,

nos primeiros anos, de Calendário Brasileiro e, em uma única edição, de Almanaque do Padre Cícero) circu-la desde 1960, trazendo previsões astrológicas, in-formações sobre fases da Lua e conselhos de saúde, agricultura e misticismo. “O almanaque sertanejo, ou nordestino, é um objeto muito rico”, disse ao Jornal da Unicamp a pesquisadora Camila Teixeira Lima, que dedica sua dissertação de mestrado à fi-gura de Costa Leite e vê, nele, a sobrevivência do narrador tradicional, descrito há quase 100 anos pelo filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940).

“De acordo com Benjamin, com a modernidade, a experiência tradicional de contar, narrar histó-rias, transmitir conselhos de geração em geração, deixa de existir”, disse ela. “Por isso ele fala em pobreza da experiência, quando o conhecimento tradicional já não mais circula. Segundo Benjamin, o que a gente tem hoje é uma experiência falsa, que não é mais coletiva, e sim individualizada. Então todo aquele conceito, toda aquela história moral que havia nos contos de fadas, na poesia épica, no conhecimento tradicional e artesanal pré-capi-talista não seria mais possível. Só que quando comecei a trabalhar com o almanaque, vi que tem muita coisa ali que parecia ser essa experiência tradicional de que o Benjamin falava”.

A dissertação de Camila, com o título “Entre o narra-dor e o almanaqueiro: o lugar da experiência tradicional na produção do artista popular José Costa Leite”, foi defen-dida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp.

ALMANAQUESO almanaque é um gênero de publicação originado na

Europa, que circula a partir do século 15. “Algo que liga os almanaques em um gênero literário comum é a relação com o tempo: o controle do tempo e do espaço, que estaria por trás de toda essa produção”, disse ela. A dissertação lembra que as profecias em verso de Nostradamus circula-vam, originalmente, em almanaques.

Por conterem informações sobre astrologia, alquimia e textos esotéricos, os almanaques sofreram críticas tanto religiosas – tanto da Igreja Católica quando das nascidas na Reforma – quanto das ciências empíricas que surgiam a partir do trabalho de pioneiros como Francis Bacon e Galileu Galilei. O gênero, no entanto, sobreviveu e diversi-ficou-se, chegando ao Brasil com as primeiras tipografias, no século 19.

No país, surgiram almanaques dos mais variados tipos. “O gênero se diversificou no Brasil e vários tipos de alma-naques se destacaram pela sua circulação e popularidade, tais como os almanaques religiosos, que continham pre-ces, orações, dias santos, vida de santos e santuários; e os almanaques da atualidade, compostos de uma forma o mais semelhante possível das enciclopédias, que possuíam muitas ilustrações e abordavam temas variados”, nota a dissertação, que chama atenção, ainda, para a popularida-de dos almanaques farmacêuticos, que começam a circu-lar a partir de 1880: “São os almanaques: Saúde da Mulher, Bromil, Capivarol, Almanaque Granado, e, com destaque, os almanaques Pharol da Medicina (primeiro almanaque far-macêutico no Brasil, escrito, porém, por um português); Almanaque IZA e Biotônico Fontoura”.

“Todos esses almanaques diversos no Brasil tiveram ca-racterísticas específicas, mas se assemelham (...) porque a relação com o objeto almanaque passa pelo marcar, contar, trabalhar com o número para que, por meio de uma orde-nação do tempo, se possa entender as determinações deste na vida dos homens”, escreve a autora.

NO NORDESTEOs almanaques sertanejos, tratando da influência da

passagem do tempo sobre a pesca, as plantações, nas co-lheitas foram sendo feitos por homens que viviam, nas pa-lavras de Camila, “entre a enxada e a literatura popular”, e preservam características dos almanaques europeus origi-nais, dos séculos 15 e 16.

“Sobretudo no que diz respeito ao uso da astrologia e influência celeste no espaço e na vida dos sujeitos e na ela-boração de previsões e prognósticos dos anos”, afirma a dissertação. “Mas a determinação do céu não se restrin-ge, nesses almanaques, às influências ‘pagãs’ astrológicas. Formulações de natureza teológica - de um catolicismo po-pular – também estão presentes nesses almanaques”.

“Foi através do almanaque comecei a estudar a ques-tão do conhecimento tradicional, mas com o Costa Leite percebi que isso era algo que ultrapassava essa produção: era uma característica mais do artista, do Costa Leite, e en-volvia ainda o cordel e a xilogravura. Então, depois, mudei o foco. O objeto do estudo deixou de ser o almanaque e passa a ser a produção do Costa Leite em geral”.

O NARRADORNascido em 1927, numa família na qual o pai era agri-

cultor de foro – pagava pela moradia e pelo uso da terra cedendo uma parte da produção ao proprietário – José Cos-ta Leite (JCL) aprendeu a ler ouvindo cordel nas feiras do Nordeste, e a escrever com a ajuda de cadernos de caligra-fia cedidos por um cunhado.

“O cordel surgiu na vida de JCL quando este ainda era criança. Se sua morada era instável, já que muitas mudan-ças foram feitas ao longo de sua infância e adolescência, um espaço era fixo na vida de JCL: a feira. As feiras, ainda mais do que hoje, eram comuns no interior do Nordeste, e onde quer que Costa Leite fosse sempre tinha uma feira por perto. A feira foi fundamental em sua vida”, diz a dis-sertação.

O primeiro cordel, Costa Leite escreve em 1949. Apren-de a fazer xilogravura para ilustrar os folhetos que produz. Já o primeiro almanaque de sua lavra sai em 1960. Desde

então, JCL vem produzindo seus almanaques anualmente, com uma única exceção – o ano de 1998 – , sendo o mais recente o referente a 2015.

É nos anos 30 do século passado, enquanto Costa Lei-te ainda vive uma infância difícil no Nordeste brasileiro, que Walter Benjamin publica suas ideias sobre a morte da experiência e do narrador tradicional – marcado pela trans-missão oral da narrativa, pela capacidade de dar conselhos e de consubstanciar um conhecimento coletivo, constru-ído por inúmeros indivíduos ao longo das gerações – e a ascensão da vivência, uma forma moderna de experiência de caráter mais individualizado, e das formas modernas de narração, que se dão por meio do romance e do jornalismo.

Camila afirma, no entanto, que no caso específico do Nordeste brasileiro, por conta de suas formas peculiares de desenvolvimento e de entrada na modernidade, avan-ços tecnológicos como a imprensa – que Benjamin aponta como uma das armas implicadas na morte do narrador tra-dicional – não trouxeram, de imediato, uma transformação tão radical.

“Quando comecei a pesquisa, comecei também a fazer essa trajetória individual do personagem Costa Leite em seu meio, no Nordeste, para tentar entender por que essa produção era diferente daquela que o Benjamin explicou quando falou da morte da experiência”, disse ela. “Por que aqui era possível ter experiência, quando lá, na Europa, não era mais possível. A conclusão que tiro é que a evo-lução das forças produtivas acontece de forma diferente, a partir da história e da trajetória diferente das regiões. O Brasil tem uma trajetória atípica, comparada ao desenvol-vimento europeu ou norte-americano, porque ele mescla o tradicional ao contemporâneo durante toda a sua história”.

Na dissertação, a autora elabora a questão da seguinte maneira: “Que desenvolvimento técnico muda a percepção dos indivíduos e, por isso, abala a experiência tradicional, não há como negar. (...) Mas no caso específico do Brasil, a relação da técnica com a experiência tradicional não sig-nificou meramente a sobreposição da primeira e o desa-parecimento da narração. A capacidade de adaptação dos artefatos populares em questão fez com que a relação entre técnica e narração se ressignificasse: uma conseguiu da ou-tra elementos necessários para conquistar novos públicos, se adaptar a novos tempos, resistir”.

OUVINTESe o narrador tradicional sobrevive, no entanto, a outra

metade da equação – o ouvinte – parece estar desaparecen-do, de acordo com a análise de Camila. “Isso ficou muito claro, para mim, até pela nossa relação, minha e do Costa Leite”, disse ela, que entrevistou o artista várias vezes e com quem se comunica por correspondência.

“A vida dele sempre foi ir à feira, porque era na feira que ele narrava, que ele cantava seu cordel, que ele vendia, que ele conversava, que ele dava conselho e agora, por causa da idade, não consegue ir mais”, explicou. “E aí é como se fos-se essa morte do narrador, que passa a não estar mais nesse espaço em que a sua experiência circulava, não tem mais contato com o público. Mas toda vez que vou lá, a partir do momento em que ele percebeu que tenho interesse no al-manaque, no cordel, na produção dele, era como se aquele ouvinte perdido tivesse batido na porta”.

Na dissertação, ela registra que, com as transformações sociais e tecnológicas da modernidade, “o dom de ouvir foi abalado”. No entanto, acrescenta: “Mas o narrador parece ter resistido à diminuição do número de ouvintes. Surpre-endentemente, a relação de interdependência entre narra-dor e ouvinte que Benjamin afirmou, não se sustentou no caso de Costa Leite e seu público: Costa Leite é quase um narrador solitário”.

O almanaqueiro solitário

Foto do almanaqueiro paraibano José Costa Leite, que aprendeu a ler ouvindo cordelnas feiras do Nordeste, estampa horóscopo da publicação feita por ele

os 87 anos, o cordelista e xilógrafo paraiba-no, radicado em Pernambuco, José Costa Leite é o último almanaqueiro tradicional

Foto: Antonio Scarpinetti

CARLOS [email protected]

PublicaçãoDissertação: “Entre o narrador e o almanaqueiro: o lugar da experiência tradicional na produção do artista popular José Costa Leite”Autora: Camila Teixeira LimaOrientador: Sílvio César CamargoUnidade: Instituto de Filosofia e Ciências Huma-nas (IFCH)

A pesquisadora Camila Teixeira Lima:“O almanaque sertanejo, ou nordestino, é um objeto muito rico”

os 87 anos, o cordelista e xilógrafo paraiba-

Foto do almanaqueiro paraibano José Costa

Fotos: Divulgação

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