II Qualidades Primárias e Secundárias - John Locke

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Qualidades Primárias e Secundárias; Experimento Mental dos Qualia Invertidos  John Locke (1632-1704) Trechos selecionados do  Ensaio sobre o Entendimento Humano (1690), coordenação da tradução de Eduardo Abranches de Soveral, 2 vols., Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1999, pp. 156-61, 518-9. Original em inglês, An Essay concerning Humane Understanding, está disponível em: http://www.gutenberg.org/ebooks/10615 Selecionado para a disciplina TCFC3: Filosofia das Ciências Neurais, prof. Osvaldo Pessoa Jr., FFLCH, USP, 2013.  Livro II, Cap. VIII 7. Ideias na mente, qualidades nos corpos Para melhor descobrir a natureza das nossas ideias e discorrer inteligivelmene acerca delas, será conveniente distingui-las enquanto são ideias ou percepções na nossa mente e enquanto são modificações da matéria nos corpos que causam em nós essas  percepç ões. É preciso distinguir exatamente estas duas coisas para que não pensemos (como habitualmente se faz) que as ideias são exatamente as imagens e semelhanças de algo inerente ao objeto que as produz, porque a maioria das ideias de sensação não são mais a cópia na nossa mente de algo existente fora de nós, do que os nomes que as significam são uma cópia das nossas ideias, ainda que esses nomes não deixem de as suscitar em nós, quando os ouvimos pronunciar. 8. Nossas ideias e as qualidades dos corpos Chamo ideia a tudo aquilo que a mente percebe em si mesma, tudo o que é objeto imediato de percepção, de pensamento ou de entendimento; e à potência de produzir qualquer ideia na nossa mente, chamo qualidade do objeto em que reside essa capacidade. Assim, uma bola de neve tem a potência de produzir em nós as ideias de branco, frio e redondo; e essas potências de produzir em nós essas ideias, enquanto estão na bola de neve, chamo-as qualidades; enquanto são sensações ou percepções no nosso entendimento, chamo-as ideias. Se algumas vezes falo dessas ideias  como se elas estivessem nas próprias coisas, deve-se partir do princípio de que eu pretendo com isso significar as qualidades que se encontram nos objetos que produzem em nós essas ideias. 9. Qualidades primárias dos corpos Posto isto, deve-se distinguir nos corpos duas espécies de qualidades.  Em primeiro lugar , aquelas inteiramente inseparáveis do corpo, qualquer que seja o estado em que se encontre, de modo que ele as conserva sempre em todas as alterações e mudanças que sofra, por maior que seja a força que possa exercer- se sobre ele. Estas qualidades são de tal natureza que os nossos sentidos as encontram constantemente em cada partícula de matéria com grandeza suficiente para ser percebida e a mente considera-as inseparáveis de cada partícula de matéria, mesmo que seja demasiado pequena para que os nossos sentidos a possam perceber individualmente. Por exemplo: tomai um grão de trigo e dividi- o em duas partes; cada parte possui ainda solidez, extensão, figura e mobilidade; dividi- o uma vez mais e as partes ainda conservam as mesmas qualidades; e se continuas a dividi-lo até que as partes se tornem insensíveis, nenhuma delas perderá jamais qualquer dessas qualidades. Porque a divisão (que é tudo quanto um moinho ou um triturador ou qualquer outro corpo faz a outro, quando o reduz a partes insensíveis) não pode nunca

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Qualidades Primaacuterias e SecundaacuteriasExperimento Mental dos Qualia Invertidos

John Locke (1632-1704)

Trechos selecionados do Ensaio sobre o Entendimento Humano (1690)coordenaccedilatildeo da traduccedilatildeo de Eduardo Abranches de Soveral 2 volsFundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Lisboa 1999 pp 156-61 518-9 Original eminglecircs An Essay concerning Humane Understanding estaacute disponiacutevel em

httpwwwgutenbergorgebooks10615

Selecionado para a disciplina TCFC3 Filosofia das Ciecircncias Neurais profOsvaldo Pessoa Jr FFLCH USP 2013

Livro II Cap VIII

7 Ideias na mente qualidades nos corposPara melhor descobrir a natureza das

nossas ideias e discorrer inteligivelmeneacerca delas seraacute conveniente distingui-lasenquanto satildeo ideias ou percepccedilotildees na nossa

mente e enquanto satildeo modificaccedilotildees da

mateacuteria nos corpos que causam em noacutes essas

percepccedilotildees Eacute preciso distinguir exatamenteestas duas coisas para que natildeo pensemos(como habitualmente se faz) que as ideias satildeo

exatamente as imagens e semelhanccedilas de algoinerente ao objeto que as produz porque amaioria das ideias de sensaccedilatildeo natildeo satildeo mais acoacutepia na nossa mente de algo existente fora denoacutes do que os nomes que as significam satildeouma coacutepia das nossas ideias ainda que essesnomes natildeo deixem de as suscitar em noacutesquando os ouvimos pronunciar

8 Nossas ideias e as qualidades dos corposChamo ideia a tudo aquilo que a mente

percebe em si mesma tudo o que eacute objetoimediato de percepccedilatildeo de pensamento ou deentendimento e agrave potecircncia de produzirqualquer ideia na nossa mente chamoqualidade do objeto em que reside essacapacidade Assim uma bola de neve tem apotecircncia de produzir em noacutes as ideias debranco frio e redondo e essas potecircncias deproduzir em noacutes essas ideias enquanto estatildeona bola de neve chamo-as qualidades

enquanto satildeo sensaccedilotildees ou percepccedilotildees no

nosso entendimento chamo-as ideias Se

algumas vezes falo dessas ideias como se elasestivessem nas proacuteprias coisas deve-se partirdo princiacutepio de que eu pretendo com issosignificar as qualidades que se encontram nosobjetos que produzem em noacutes essas ideias

9 Qualidades primaacuterias dos corposPosto isto deve-se distinguir nos corpos

duas espeacutecies de qualidades Em primeiro

lugar aquelas inteiramente inseparaacuteveis docorpo qualquer que seja o estado em que se

encontre de modo que ele as conserva sempreem todas as alteraccedilotildees e mudanccedilas que sofrapor maior que seja a forccedila que possa exercer-se sobre ele Estas qualidades satildeo de talnatureza que os nossos sentidos as encontramconstantemente em cada partiacutecula de mateacuteriacom grandeza suficiente para ser percebida e amente considera-as inseparaacuteveis de cadapartiacutecula de mateacuteria mesmo que sejademasiado pequena para que os nossossentidos a possam perceber individualmente

Por exemplo tomai um gratildeo de trigo e dividi-o em duas partes cada parte possui aindasolidez extensatildeo figura e mobilidade dividi-o uma vez mais e as partes ainda conservam asmesmas qualidades e se continuas a dividi-loateacute que as partes se tornem insensiacuteveisnenhuma delas perderaacute jamais qualquer dessasqualidades Porque a divisatildeo (que eacute tudoquanto um moinho ou um triturador ouqualquer outro corpo faz a outro quando oreduz a partes insensiacuteveis) natildeo pode nunca

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suprimir num corpo a solidez a extensatildeo afigura e a mobilidade mas unicamente fazdaquilo que antes era apenas uma vaacuteriasmassas de mateacuteria distintas e separaacuteveis todasessas massas de mateacuterias consideradas a partir

desse momento como tantos corpos distintosconstituem um certo nuacutemero determinadouma vez acabada a divisatildeo A essas qualidadeschamo qualidades originais e primaacuterias de umcorpo as quais a meu ver podemosconsiderar causas produtoras das nossas ideiassimples de solidez extensatildeo figuramovimento ou repouso e nuacutemero

10 Qualidades secundaacuterias dos corposHaacute em segundo lugar qualidades tais que

nos proacuteprios corpos natildeo satildeo mais do quepotecircncias para produzir em noacutes vaacuteriassensaccedilotildees por meio das suas qualidadesprimaacuterias isto eacute pelo volume pela figurapela textura e movimento das suas partesinsensiacuteveis Tais satildeo as cores os sons ospaladares etc A estas dou o nome dequalidades secundaacuterias agraves quais se poderiaacrescentar uma terceira espeacutecie que todosadmitem natildeo serem mais do que potecircnciasainda que sejam qualidades tatildeo reais no objetocomo as que eu acomodando-me agraveterminologia habitual chamo qualidades mas aque chamo qualidades secundaacuterias para asdistinguir das que existem realmente noscorpos e natildeo podem deles ser separadosPorque por exemplo a potecircncia que existe nofogo para produzir por meio das suasqualidades primaacuterias uma nova cor ou umanova consistecircncia na cera ou no barro eacute tantouma qualidade no fogo como a potecircncia que

ele possui para produzir em mim pelasmesmas qualidades primaacuterias isto eacute pelovolume pela textura e pelo movimento dassuas partes insensiacuteveis uma nova ideia ousensaccedilatildeo de calor ou de queimadura que euantes natildeo sentia

11 Como os corpos produzem ideias em noacutesA proacutexima coisa a considerar eacute o modo

como os corpos produzem ideias em noacutes emanifestamente o uacutenico modo que podemos

conceber que atuem os corpos eacute por impulsatildeo

12 Por meio de movimentos externos emnosso organismo

Se portanto os objetos exteriores natildeo seunem agrave nossa mente quando nela produzemideias e no entanto percebemos essas

qualidades originais daqueles objetos queindividualmente caem sob o alcance dosnossos sentidos eacute evidente que haveraacute algummovimento nesses objetos que afetandoalgumas partes do nosso corpo se prolonguepor meio dos nossos nervos ou dos espiacuteritosanimais ateacute ao ceacuterebro ou sede da sensaccedilatildeopara aiacute produzir na nossa mente as ideiasparticulares que temos acerca dos ditosobjetos E posto que a extensatildeo a figura onuacutemero e o movimento de corpos de grandeza

observaacutevel podem ser percebidos agrave distacircnciapor meio da vista eacute evidente que algunscorpos individualmente imperceptiacuteveis devemvir do objeto que noacutes olhamos aos olhos edesse modo comunicam ao ceacuterebro algummovimento que produz essas ideias que temosem noacutes acerca de tais objetos

13 Como qualidades secundaacuterias produzemsuas ideiais

Podemos conceber pelo mesmo meiocomo se produzem em noacutes as ideias dasqualidades secundaacuterias quer dizer pela accedilatildeode partiacuteculas insensiacuteveis sobre os nossossentidos Porque eacute manifesto que haacute corpos ecorpos em grande quantidade cada um dosquais eacute tatildeo pequeno que natildeo podemosdescobrir pelos nossos sentidos nem o seuvolume nem a sua figura nem o seumovimento ndash como eacute evidente no caso daspartiacuteculas do ar e da aacutegua e no caso de outros

muitiacutessimo mais pequenas do que essas e quetalvez sejam muito mais pequenas em relaccedilatildeoagraves partiacuteculas do ar e da aacutegua do que estas emcomparaccedilatildeo com ervilhas ou pedras degranizo Suponhamos agora que os diferentesmovimentos e figuras volume e nuacutemero detais partiacuteculas ao afetar os diversos oacutergatildeos dosnossos sentidos produzem em noacutes essasdiferentes sensaccedilotildees que nos causam as corese os odores dos corpos que a violeta porexemplo por meio da impulsatildeo de tais

partiacuteculas insensiacuteveis de mateacuteria de figura e

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volume particulares e em diferentes graus emodificaccedilotildees dos seus movimentos faccedila que asideias da cor azul e do doce aroma dessa florsejam produzidas na nossa mente Porque natildeoeacute mais difiacutecil conceber que Deus tenha unido

tais ideias a tais movimentos com os quais natildeotecircm nenhuma semelhanccedila do que conceber queEle tenha unido a ideia de dor ao movimentode um pedaccedilo de accedilo que divide a nossa carnemovimento em relaccedilatildeo ao qual essa ideia dedor em nada se assemelha

14 Elas dependem das qualidadesprimaacuterias

Tudo o que acabo de dizer em relaccedilatildeo agravescores e aos odores pode aplicar-se tambeacutem aos

paladares sons e demais qualidades sensiacuteveissemelhantes as quais seja qual for a realidadeque equivocadamente lhes atribuamos natildeosatildeo em verdade nos objetos senatildeo potecircnciaspara produzir em noacutes sensaccedilotildees e dependemdaquelas qualidades primaacuterias que satildeo comodisse o volume a figura a textura e omovimento das suas partes

15 Ideias de qualidades primaacuterias satildeosemelhanccedilas de secundaacuterias natildeo

De onde creio eacute faacutecil tirar esta conclusatildeoas ideias das qualidades primaacuterias dos corpossatildeo semelhanccedilas das ditas qualidades e os seuspadrotildees existem realmente nos proacuteprioscorpos mas as ideias causadas em noacutes pelasqualidades secundaacuterias em nada se lhesassemelham Nada existe nos corpos que sejaconforme com estas ideias Nos corpos a quedamos certas denominaccedilotildees em conformidadecom essas ideias haacute apenas uma potecircncia de

produzir em noacutes essas sensaccedilotildees e o que naideia eacute doce azul ou quente natildeo eacute nos corposque assim denominamos nada mais que certovolume figura e movimento das partesinsensiacuteveis que os constituem

16 ExemplosAssim dizemos que a chama eacute quente e

luminosa a neve branca e fria o manaacute brancoe doce em virtude das ideias que produzemem noacutes Pensa-se comumente que estas

qualidades satildeo nesses corpos o mesmo que

essas ideias que estatildeo em noacutes havendo umaperfeita semelhanccedila entre umas e outras comoentre um corpo e a sua imagem refletida numespelho E quem disser o contraacuterio passaraacute porextravagante para a maior parte dos homens

No entanto quem considerar que o mesmofogo que a certa distacircncia produz sensaccedilatildeo decalor causa em noacutes se nos aproximamosmais uma sensaccedilatildeo bem diferente isto eacute a dedor quem digo refletir sobre isto deveraacuteperguntar-se a si proacuteprio qual a razatildeo que oleva a afirmar que a sua ideia de calor neleproduzida pelo fogo estaacute realmente no fogo eque a sua ideia de dor do mesmo modocausada pelo fogo natildeo estaacute no fogo Por querazatildeo a brancura e a frieza hatildeo de estar na

neve e a dor natildeo jaacute que ela produz em noacutestodas essas ideias o que soacute pode fazer pormeio do volume da figura do nuacutemero e domovimento das suas partes soacutelidas

17 Soacute as ideias das primaacuterias realmenteexistem

O volume o nuacutemero a figura e omovimento particulares das partes do fogo ouda neve estatildeo realmente nesses corpos sejamou natildeo percebidos pelos sentidos de algueacutem epor isso podem ser chamados qualidadesreais porque realmente existem nesses corposmas a luz o calor a brancura ou a frieza natildeoestatildeo mais realmente nesses corpos do que adoenccedila ou a dor no manaacute Suprima-se asensaccedilatildeo dessas qualidades faccedila-se com queos olhos natildeo vejam a luz ou as cores com queos ouvidos natildeo ouccedilam sons com que o paladarnatildeo saboreie o olfato natildeo cheire e entatildeo todasas cores sabores e sons enquanto satildeo tais

ideias particulares desvanecer-se-atildeo ecessaratildeo de existir para ficarem reduzidas agravessuas causas quer dizer ao volume agrave figura eao movimento das partes dos corpos

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Livro II Cap XXXII

15 Apesar de a ideia de azul de um homempoder ser diferente da de outro

Nem traria qualquer imputaccedilatildeo defalsidade para as nossas ideias simples seatraveacutes da diferente estrutura dos nossosoacutergatildeos estivesse ordenado que o mesmo

objeto devesse produzir ideias diferentes

nas mentes de diversos homens emsimultacircneo por exemplo se a ideia queuma violeta produziu na mente de umhomem atraveacutes dos seus olhos fosse amesma que uma calecircndula [amarela]

produziu num outro homem e vice-versaPorque uma vez que isto nunca poderiaser conhecido porque a mente de umhomem natildeo pode passar para o corpo deum outro de forma a entender as imagensque foram produzidas por esses oacutergatildeosnem as ideias destas nem os nomesseriam confundidos nem existiria qualquerfalsidade em nenhuma das ideias Vistoque todas as coisas que tenham a textura

de uma violeta causam constantemente aideia a que algueacutem chama azul e as quetecircm a textura de uma calecircndula

causam constantemente a ideia a que eleinsiste chamar amarelo quaisquer quesejam as imagens que estejam na suamente seraacute tatildeo capaz de distinguirregularmente as coisas atraveacutes do usodessas imagens e perceberaacute e assinalaraacuteessas distinccedilotildees marcadas pelos nomesazul e amarelo como se as imagens ouideias dessas duas flores recebidas na suamente fossem exatamente as mesmas emrelaccedilatildeo agraves ideias nas mentes de outroshomens Contudo inclino-me bastantepara pensar que as ideias sensiacuteveiscausadas por um qualquer objeto nasmentes de diferentes homens satildeo namaioria dos casos muito proacuteximas eindistintamente semelhantes Para estaopiniatildeo penso que se poderaacute apresentarmuitas razotildees mas como isto estaacute paraaleacutem do meu presente objetivo natildeoperturbarei o meu leitor com elas maspeccedilo-lhe que considere que a suposiccedilatildeocontraacuteria se pudesse ser provada seriamuito pouco uacutetil tanto para odesenvolvimento do nosso conhecimentocomo para a utilidade na vida por issonatildeo necessitamos de nos preocupar com asua anaacutelise

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suprimir num corpo a solidez a extensatildeo afigura e a mobilidade mas unicamente fazdaquilo que antes era apenas uma vaacuteriasmassas de mateacuteria distintas e separaacuteveis todasessas massas de mateacuterias consideradas a partir

desse momento como tantos corpos distintosconstituem um certo nuacutemero determinadouma vez acabada a divisatildeo A essas qualidadeschamo qualidades originais e primaacuterias de umcorpo as quais a meu ver podemosconsiderar causas produtoras das nossas ideiassimples de solidez extensatildeo figuramovimento ou repouso e nuacutemero

10 Qualidades secundaacuterias dos corposHaacute em segundo lugar qualidades tais que

nos proacuteprios corpos natildeo satildeo mais do quepotecircncias para produzir em noacutes vaacuteriassensaccedilotildees por meio das suas qualidadesprimaacuterias isto eacute pelo volume pela figurapela textura e movimento das suas partesinsensiacuteveis Tais satildeo as cores os sons ospaladares etc A estas dou o nome dequalidades secundaacuterias agraves quais se poderiaacrescentar uma terceira espeacutecie que todosadmitem natildeo serem mais do que potecircnciasainda que sejam qualidades tatildeo reais no objetocomo as que eu acomodando-me agraveterminologia habitual chamo qualidades mas aque chamo qualidades secundaacuterias para asdistinguir das que existem realmente noscorpos e natildeo podem deles ser separadosPorque por exemplo a potecircncia que existe nofogo para produzir por meio das suasqualidades primaacuterias uma nova cor ou umanova consistecircncia na cera ou no barro eacute tantouma qualidade no fogo como a potecircncia que

ele possui para produzir em mim pelasmesmas qualidades primaacuterias isto eacute pelovolume pela textura e pelo movimento dassuas partes insensiacuteveis uma nova ideia ousensaccedilatildeo de calor ou de queimadura que euantes natildeo sentia

11 Como os corpos produzem ideias em noacutesA proacutexima coisa a considerar eacute o modo

como os corpos produzem ideias em noacutes emanifestamente o uacutenico modo que podemos

conceber que atuem os corpos eacute por impulsatildeo

12 Por meio de movimentos externos emnosso organismo

Se portanto os objetos exteriores natildeo seunem agrave nossa mente quando nela produzemideias e no entanto percebemos essas

qualidades originais daqueles objetos queindividualmente caem sob o alcance dosnossos sentidos eacute evidente que haveraacute algummovimento nesses objetos que afetandoalgumas partes do nosso corpo se prolonguepor meio dos nossos nervos ou dos espiacuteritosanimais ateacute ao ceacuterebro ou sede da sensaccedilatildeopara aiacute produzir na nossa mente as ideiasparticulares que temos acerca dos ditosobjetos E posto que a extensatildeo a figura onuacutemero e o movimento de corpos de grandeza

observaacutevel podem ser percebidos agrave distacircnciapor meio da vista eacute evidente que algunscorpos individualmente imperceptiacuteveis devemvir do objeto que noacutes olhamos aos olhos edesse modo comunicam ao ceacuterebro algummovimento que produz essas ideias que temosem noacutes acerca de tais objetos

13 Como qualidades secundaacuterias produzemsuas ideiais

Podemos conceber pelo mesmo meiocomo se produzem em noacutes as ideias dasqualidades secundaacuterias quer dizer pela accedilatildeode partiacuteculas insensiacuteveis sobre os nossossentidos Porque eacute manifesto que haacute corpos ecorpos em grande quantidade cada um dosquais eacute tatildeo pequeno que natildeo podemosdescobrir pelos nossos sentidos nem o seuvolume nem a sua figura nem o seumovimento ndash como eacute evidente no caso daspartiacuteculas do ar e da aacutegua e no caso de outros

muitiacutessimo mais pequenas do que essas e quetalvez sejam muito mais pequenas em relaccedilatildeoagraves partiacuteculas do ar e da aacutegua do que estas emcomparaccedilatildeo com ervilhas ou pedras degranizo Suponhamos agora que os diferentesmovimentos e figuras volume e nuacutemero detais partiacuteculas ao afetar os diversos oacutergatildeos dosnossos sentidos produzem em noacutes essasdiferentes sensaccedilotildees que nos causam as corese os odores dos corpos que a violeta porexemplo por meio da impulsatildeo de tais

partiacuteculas insensiacuteveis de mateacuteria de figura e

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volume particulares e em diferentes graus emodificaccedilotildees dos seus movimentos faccedila que asideias da cor azul e do doce aroma dessa florsejam produzidas na nossa mente Porque natildeoeacute mais difiacutecil conceber que Deus tenha unido

tais ideias a tais movimentos com os quais natildeotecircm nenhuma semelhanccedila do que conceber queEle tenha unido a ideia de dor ao movimentode um pedaccedilo de accedilo que divide a nossa carnemovimento em relaccedilatildeo ao qual essa ideia dedor em nada se assemelha

14 Elas dependem das qualidadesprimaacuterias

Tudo o que acabo de dizer em relaccedilatildeo agravescores e aos odores pode aplicar-se tambeacutem aos

paladares sons e demais qualidades sensiacuteveissemelhantes as quais seja qual for a realidadeque equivocadamente lhes atribuamos natildeosatildeo em verdade nos objetos senatildeo potecircnciaspara produzir em noacutes sensaccedilotildees e dependemdaquelas qualidades primaacuterias que satildeo comodisse o volume a figura a textura e omovimento das suas partes

15 Ideias de qualidades primaacuterias satildeosemelhanccedilas de secundaacuterias natildeo

De onde creio eacute faacutecil tirar esta conclusatildeoas ideias das qualidades primaacuterias dos corpossatildeo semelhanccedilas das ditas qualidades e os seuspadrotildees existem realmente nos proacuteprioscorpos mas as ideias causadas em noacutes pelasqualidades secundaacuterias em nada se lhesassemelham Nada existe nos corpos que sejaconforme com estas ideias Nos corpos a quedamos certas denominaccedilotildees em conformidadecom essas ideias haacute apenas uma potecircncia de

produzir em noacutes essas sensaccedilotildees e o que naideia eacute doce azul ou quente natildeo eacute nos corposque assim denominamos nada mais que certovolume figura e movimento das partesinsensiacuteveis que os constituem

16 ExemplosAssim dizemos que a chama eacute quente e

luminosa a neve branca e fria o manaacute brancoe doce em virtude das ideias que produzemem noacutes Pensa-se comumente que estas

qualidades satildeo nesses corpos o mesmo que

essas ideias que estatildeo em noacutes havendo umaperfeita semelhanccedila entre umas e outras comoentre um corpo e a sua imagem refletida numespelho E quem disser o contraacuterio passaraacute porextravagante para a maior parte dos homens

No entanto quem considerar que o mesmofogo que a certa distacircncia produz sensaccedilatildeo decalor causa em noacutes se nos aproximamosmais uma sensaccedilatildeo bem diferente isto eacute a dedor quem digo refletir sobre isto deveraacuteperguntar-se a si proacuteprio qual a razatildeo que oleva a afirmar que a sua ideia de calor neleproduzida pelo fogo estaacute realmente no fogo eque a sua ideia de dor do mesmo modocausada pelo fogo natildeo estaacute no fogo Por querazatildeo a brancura e a frieza hatildeo de estar na

neve e a dor natildeo jaacute que ela produz em noacutestodas essas ideias o que soacute pode fazer pormeio do volume da figura do nuacutemero e domovimento das suas partes soacutelidas

17 Soacute as ideias das primaacuterias realmenteexistem

O volume o nuacutemero a figura e omovimento particulares das partes do fogo ouda neve estatildeo realmente nesses corpos sejamou natildeo percebidos pelos sentidos de algueacutem epor isso podem ser chamados qualidadesreais porque realmente existem nesses corposmas a luz o calor a brancura ou a frieza natildeoestatildeo mais realmente nesses corpos do que adoenccedila ou a dor no manaacute Suprima-se asensaccedilatildeo dessas qualidades faccedila-se com queos olhos natildeo vejam a luz ou as cores com queos ouvidos natildeo ouccedilam sons com que o paladarnatildeo saboreie o olfato natildeo cheire e entatildeo todasas cores sabores e sons enquanto satildeo tais

ideias particulares desvanecer-se-atildeo ecessaratildeo de existir para ficarem reduzidas agravessuas causas quer dizer ao volume agrave figura eao movimento das partes dos corpos

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Livro II Cap XXXII

15 Apesar de a ideia de azul de um homempoder ser diferente da de outro

Nem traria qualquer imputaccedilatildeo defalsidade para as nossas ideias simples seatraveacutes da diferente estrutura dos nossosoacutergatildeos estivesse ordenado que o mesmo

objeto devesse produzir ideias diferentes

nas mentes de diversos homens emsimultacircneo por exemplo se a ideia queuma violeta produziu na mente de umhomem atraveacutes dos seus olhos fosse amesma que uma calecircndula [amarela]

produziu num outro homem e vice-versaPorque uma vez que isto nunca poderiaser conhecido porque a mente de umhomem natildeo pode passar para o corpo deum outro de forma a entender as imagensque foram produzidas por esses oacutergatildeosnem as ideias destas nem os nomesseriam confundidos nem existiria qualquerfalsidade em nenhuma das ideias Vistoque todas as coisas que tenham a textura

de uma violeta causam constantemente aideia a que algueacutem chama azul e as quetecircm a textura de uma calecircndula

causam constantemente a ideia a que eleinsiste chamar amarelo quaisquer quesejam as imagens que estejam na suamente seraacute tatildeo capaz de distinguirregularmente as coisas atraveacutes do usodessas imagens e perceberaacute e assinalaraacuteessas distinccedilotildees marcadas pelos nomesazul e amarelo como se as imagens ouideias dessas duas flores recebidas na suamente fossem exatamente as mesmas emrelaccedilatildeo agraves ideias nas mentes de outroshomens Contudo inclino-me bastantepara pensar que as ideias sensiacuteveiscausadas por um qualquer objeto nasmentes de diferentes homens satildeo namaioria dos casos muito proacuteximas eindistintamente semelhantes Para estaopiniatildeo penso que se poderaacute apresentarmuitas razotildees mas como isto estaacute paraaleacutem do meu presente objetivo natildeoperturbarei o meu leitor com elas maspeccedilo-lhe que considere que a suposiccedilatildeocontraacuteria se pudesse ser provada seriamuito pouco uacutetil tanto para odesenvolvimento do nosso conhecimentocomo para a utilidade na vida por issonatildeo necessitamos de nos preocupar com asua anaacutelise

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volume particulares e em diferentes graus emodificaccedilotildees dos seus movimentos faccedila que asideias da cor azul e do doce aroma dessa florsejam produzidas na nossa mente Porque natildeoeacute mais difiacutecil conceber que Deus tenha unido

tais ideias a tais movimentos com os quais natildeotecircm nenhuma semelhanccedila do que conceber queEle tenha unido a ideia de dor ao movimentode um pedaccedilo de accedilo que divide a nossa carnemovimento em relaccedilatildeo ao qual essa ideia dedor em nada se assemelha

14 Elas dependem das qualidadesprimaacuterias

Tudo o que acabo de dizer em relaccedilatildeo agravescores e aos odores pode aplicar-se tambeacutem aos

paladares sons e demais qualidades sensiacuteveissemelhantes as quais seja qual for a realidadeque equivocadamente lhes atribuamos natildeosatildeo em verdade nos objetos senatildeo potecircnciaspara produzir em noacutes sensaccedilotildees e dependemdaquelas qualidades primaacuterias que satildeo comodisse o volume a figura a textura e omovimento das suas partes

15 Ideias de qualidades primaacuterias satildeosemelhanccedilas de secundaacuterias natildeo

De onde creio eacute faacutecil tirar esta conclusatildeoas ideias das qualidades primaacuterias dos corpossatildeo semelhanccedilas das ditas qualidades e os seuspadrotildees existem realmente nos proacuteprioscorpos mas as ideias causadas em noacutes pelasqualidades secundaacuterias em nada se lhesassemelham Nada existe nos corpos que sejaconforme com estas ideias Nos corpos a quedamos certas denominaccedilotildees em conformidadecom essas ideias haacute apenas uma potecircncia de

produzir em noacutes essas sensaccedilotildees e o que naideia eacute doce azul ou quente natildeo eacute nos corposque assim denominamos nada mais que certovolume figura e movimento das partesinsensiacuteveis que os constituem

16 ExemplosAssim dizemos que a chama eacute quente e

luminosa a neve branca e fria o manaacute brancoe doce em virtude das ideias que produzemem noacutes Pensa-se comumente que estas

qualidades satildeo nesses corpos o mesmo que

essas ideias que estatildeo em noacutes havendo umaperfeita semelhanccedila entre umas e outras comoentre um corpo e a sua imagem refletida numespelho E quem disser o contraacuterio passaraacute porextravagante para a maior parte dos homens

No entanto quem considerar que o mesmofogo que a certa distacircncia produz sensaccedilatildeo decalor causa em noacutes se nos aproximamosmais uma sensaccedilatildeo bem diferente isto eacute a dedor quem digo refletir sobre isto deveraacuteperguntar-se a si proacuteprio qual a razatildeo que oleva a afirmar que a sua ideia de calor neleproduzida pelo fogo estaacute realmente no fogo eque a sua ideia de dor do mesmo modocausada pelo fogo natildeo estaacute no fogo Por querazatildeo a brancura e a frieza hatildeo de estar na

neve e a dor natildeo jaacute que ela produz em noacutestodas essas ideias o que soacute pode fazer pormeio do volume da figura do nuacutemero e domovimento das suas partes soacutelidas

17 Soacute as ideias das primaacuterias realmenteexistem

O volume o nuacutemero a figura e omovimento particulares das partes do fogo ouda neve estatildeo realmente nesses corpos sejamou natildeo percebidos pelos sentidos de algueacutem epor isso podem ser chamados qualidadesreais porque realmente existem nesses corposmas a luz o calor a brancura ou a frieza natildeoestatildeo mais realmente nesses corpos do que adoenccedila ou a dor no manaacute Suprima-se asensaccedilatildeo dessas qualidades faccedila-se com queos olhos natildeo vejam a luz ou as cores com queos ouvidos natildeo ouccedilam sons com que o paladarnatildeo saboreie o olfato natildeo cheire e entatildeo todasas cores sabores e sons enquanto satildeo tais

ideias particulares desvanecer-se-atildeo ecessaratildeo de existir para ficarem reduzidas agravessuas causas quer dizer ao volume agrave figura eao movimento das partes dos corpos

7172019 II Qualidades Primaacuterias e Secundaacuterias - John Locke

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Livro II Cap XXXII

15 Apesar de a ideia de azul de um homempoder ser diferente da de outro

Nem traria qualquer imputaccedilatildeo defalsidade para as nossas ideias simples seatraveacutes da diferente estrutura dos nossosoacutergatildeos estivesse ordenado que o mesmo

objeto devesse produzir ideias diferentes

nas mentes de diversos homens emsimultacircneo por exemplo se a ideia queuma violeta produziu na mente de umhomem atraveacutes dos seus olhos fosse amesma que uma calecircndula [amarela]

produziu num outro homem e vice-versaPorque uma vez que isto nunca poderiaser conhecido porque a mente de umhomem natildeo pode passar para o corpo deum outro de forma a entender as imagensque foram produzidas por esses oacutergatildeosnem as ideias destas nem os nomesseriam confundidos nem existiria qualquerfalsidade em nenhuma das ideias Vistoque todas as coisas que tenham a textura

de uma violeta causam constantemente aideia a que algueacutem chama azul e as quetecircm a textura de uma calecircndula

causam constantemente a ideia a que eleinsiste chamar amarelo quaisquer quesejam as imagens que estejam na suamente seraacute tatildeo capaz de distinguirregularmente as coisas atraveacutes do usodessas imagens e perceberaacute e assinalaraacuteessas distinccedilotildees marcadas pelos nomesazul e amarelo como se as imagens ouideias dessas duas flores recebidas na suamente fossem exatamente as mesmas emrelaccedilatildeo agraves ideias nas mentes de outroshomens Contudo inclino-me bastantepara pensar que as ideias sensiacuteveiscausadas por um qualquer objeto nasmentes de diferentes homens satildeo namaioria dos casos muito proacuteximas eindistintamente semelhantes Para estaopiniatildeo penso que se poderaacute apresentarmuitas razotildees mas como isto estaacute paraaleacutem do meu presente objetivo natildeoperturbarei o meu leitor com elas maspeccedilo-lhe que considere que a suposiccedilatildeocontraacuteria se pudesse ser provada seriamuito pouco uacutetil tanto para odesenvolvimento do nosso conhecimentocomo para a utilidade na vida por issonatildeo necessitamos de nos preocupar com asua anaacutelise

Page 4: II Qualidades Primárias e Secundárias - John Locke

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15 Apesar de a ideia de azul de um homempoder ser diferente da de outro

Nem traria qualquer imputaccedilatildeo defalsidade para as nossas ideias simples seatraveacutes da diferente estrutura dos nossosoacutergatildeos estivesse ordenado que o mesmo

objeto devesse produzir ideias diferentes

nas mentes de diversos homens emsimultacircneo por exemplo se a ideia queuma violeta produziu na mente de umhomem atraveacutes dos seus olhos fosse amesma que uma calecircndula [amarela]

produziu num outro homem e vice-versaPorque uma vez que isto nunca poderiaser conhecido porque a mente de umhomem natildeo pode passar para o corpo deum outro de forma a entender as imagensque foram produzidas por esses oacutergatildeosnem as ideias destas nem os nomesseriam confundidos nem existiria qualquerfalsidade em nenhuma das ideias Vistoque todas as coisas que tenham a textura

de uma violeta causam constantemente aideia a que algueacutem chama azul e as quetecircm a textura de uma calecircndula

causam constantemente a ideia a que eleinsiste chamar amarelo quaisquer quesejam as imagens que estejam na suamente seraacute tatildeo capaz de distinguirregularmente as coisas atraveacutes do usodessas imagens e perceberaacute e assinalaraacuteessas distinccedilotildees marcadas pelos nomesazul e amarelo como se as imagens ouideias dessas duas flores recebidas na suamente fossem exatamente as mesmas emrelaccedilatildeo agraves ideias nas mentes de outroshomens Contudo inclino-me bastantepara pensar que as ideias sensiacuteveiscausadas por um qualquer objeto nasmentes de diferentes homens satildeo namaioria dos casos muito proacuteximas eindistintamente semelhantes Para estaopiniatildeo penso que se poderaacute apresentarmuitas razotildees mas como isto estaacute paraaleacutem do meu presente objetivo natildeoperturbarei o meu leitor com elas maspeccedilo-lhe que considere que a suposiccedilatildeocontraacuteria se pudesse ser provada seriamuito pouco uacutetil tanto para odesenvolvimento do nosso conhecimentocomo para a utilidade na vida por issonatildeo necessitamos de nos preocupar com asua anaacutelise