Identificação de Temas de Vida e Áreas de Interesse ...

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA Identificação de Temas de Vida e Áreas de Interesse através da análise de Narrativas Cláudia Isabel Sousa Nogueira MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA Área de Especialização em Psicologia da Educação e da Orientação 2020

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Identificação de Temas de Vida e Áreas de Interesse através

da análise de Narrativas

Cláudia Isabel Sousa Nogueira

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Área de Especialização em Psicologia da Educação e da Orientação

2020

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Identificação de Temas de Vida e Áreas de Interesse através

da análise de Narrativas

Cláudia Isabel Sousa Nogueira

Dissertação orientada pela Professora Doutora Isabel Janeiro

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Área de Especialização em Psicologia da Educação e da Orientação

2020

i

Índice

Agradecimentos ........................................................................................................................ iv

Resumo ...................................................................................................................................... v

Abstract ..................................................................................................................................... vi

Introdução .................................................................................................................................. 1

1. Enquadramento teórico .......................................................................................................... 3

1.1. A Teoria da Construção de Carreira de Savickas ........................................................... 3

1.2. Abordagens narrativas na Construção de Carreira .......................................................... 6

1.3. Formas de análise da Entrevista de Construção de Carreira ........................................... 8

Teoria da Personalidade Vocacional de Holland. .............................................................. 8

Virtudes e Forças de Caráter. ........................................................................................... 12

1.4. Objetivos e Questões de Investigação........................................................................... 14

2. Método ................................................................................................................................. 16

2.1. Participantes .................................................................................................................. 16

2.2. Instrumentos .................................................................................................................. 17

Inventário de Interesses de Kuder - Forma E................................................................... 17

Questionário de Autoconhecimento ................................................................................. 18

2.3. Procedimentos ............................................................................................................... 19

Recolha das respostas ...................................................................................................... 19

Análise de resultados. ...................................................................................................... 20

análise qualitativa......................................................................................................... 20

análise quantitativa....................................................................................................... 22

3. Resultados ............................................................................................................................ 23

3.1. Análise das respostas à Entrevista de Construção de Carreira ..................................... 23

Áreas de interesse ............................................................................................................ 23

Relação entre os interesses inventariados e as áreas de interesse codificadas ................. 26

Temas de vida .................................................................................................................. 27

ii

Associação entre os sistemas de codificação (RIASEC e Virtudes)................................ 34

4. Discussão ............................................................................................................................. 35

4.1. Áreas de interesse e diferenças de género ..................................................................... 35

4.2. Interesses inventariados e interesses codificados ......................................................... 36

4.3. Temas de vida e diferenças de género .......................................................................... 39

4.5. Lemas de vida e as virtudes .......................................................................................... 40

4.6. Limitações e implicações do estudo ............................................................................. 41

5. Conclusão ............................................................................................................................. 43

Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 45

Anexos ..................................................................................................................................... 51

iii

Índice de Tabelas

Tabela 1- Categorização das respostas às revistas, séries, websites de acordo com as áreas de

interesses do Inventário de Kuder-Forma E ........................................................................... 23

Tabela 2- Codificação das revistas, séries, websites consoante as áreas de interesses do

Inventário de Interesses de Kuder- Forma E .......................................................................... 25

Tabela 3- Codificação das séries, revistas, websites consoante o modelo RIASEC ............. 26

Tabela 4- Análise da identificação dos heróis de infância .................................................... 28

Tabela 5- Categorização dos heróis de infância de acordo com as dimensões RIASEC ...... 29

Tabela 6- Análise das características dos heróis de infância de acordo com o modelo

RIASEC................................................................................................................................... 30

Tabela 7- Codificação dos lemas de vida de acordo com o sistema de codificação Virtudes

nos participantes do sexo masculino e feminino..................................................................... 33

Índice de Figuras

Figura 1- Codificação das características dos heróis de infância de acordo com o sistema de

codificação Virtudes ............................................................................................................... 31

Figura 2- Análise das unidades de registo das Forças de Caráter dos participantes nas

características dos heróis de infância ..................................................................................... 32

Figura 3- Análise das unidades de registo das Forças de Caráter dos participantes nos Lemas

de vida .................................................................................................................................... 34

iv

Agradecimentos

À professora Doutora Isabel Janeiro, pela partilha de ideias e conhecimentos, pelo

apoio, ajuda, compreensão e boa disposição ao longo deste ano particularmente desafiante.

Todo o processo de construção e aprendizagem durante a elaboração da dissertação

contribuiu para o meu crescimento enquanto pessoa e futura profissional. Obrigada por tudo.

Ao Pedro, meu professor no 3ºciclo, que muito rapidamente se tornou uma referência

para mim. Hoje mais que um professor, um grande amigo, que está presente em todos os

momentos da minha vida. Obrigada pela tua força, apoio, cumplicidade e amizade

incondicional ao longo dos anos.

À minha família e aos meus amigos por me darem o colo necessário e por me

proporcionarem momentos de felicidade e emoção. Em especial à minha mãe, um dos

pilares da minha vida, por nunca ter deixado de acreditar que eu seria capaz, por me ajudar a

procurar soluções para os obstáculos e por me ter dado muita força e apoio para conseguir

atingir este objetivo.

Aos meus colegas de trabalho, pela paciência, pelas gargalhadas e espírito de

equipa, absolutamente fundamentais para “esquecer” todas as horas não dormidas ao longo

destes 5 anos.

À Ana, à Ana Cláudia e à Carina pela vossa preocupação, por terem sido

incansáveis e por me ajudarem em tudo o que eu precisei. Não mais esquecerei que estiveram

ao meu lado.

À Susana e à Jéssica, as amigas que a Faculdade me deu e que levo para a vida. Sem

vocês tudo teria sido muito mais difícil. Obrigada por todos os momentos que partilhámos ao

longo deste percurso.

Ao meu namorado, pelo amor incondicional, pela força e motivação. Obrigada por

acreditares nas minhas capacidades e por não teres desistido de mim nem de nós. As palavras

nunca serão suficientes para te agradecer.

Por fim, ao meu avô Albertino, um dos grandes amores da minha vida, a parte que

me falta há 6 anos. O meu avô nunca soube que eu entrei na Faculdade, mas sei que estaria

orgulhoso do meu percurso, com aquele que para mim é o sorriso mais bonito do mundo.

Mesmo “longe” esteve e estará comigo em todos os momentos. Para sempre.

v

Resumo

O recurso a abordagens narrativas no aconselhamento vocacional tem vindo a

aumentar ao longo dos anos, sendo a Entrevista de Construção de Carreira (ECC) uma das

técnicas mais utilizadas. Porém, ainda são escassas as investigações que exploram as

potencialidades deste método para a identificação de interesses e temas de vida. O presente

estudo procura identificar as áreas de interesse e os temas de vida de estudantes do 9º ano, a

partir de questões adaptadas da ECC e, ainda, analisar a sua relação com os interesses

inventariados. A amostra envolveu 49 participantes (23 do sexo masculino e 26 do sexo

feminino) com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos. Todos os participantes

integravam a base de dados de alunos que recorreram ao Serviço à Comunidade, valência de

Aconselhamento Vocacional, da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Foram

recolhidos dados das questões adaptadas da ECC do questionário de Autoconhecimento e do

Inventário de Interesses de Kuder-Forma E. Para a categorização das respostas utilizaram-se

o sistema de dimensões RIASEC, as áreas de interesses provenientes das escalas do

Inventário de Interesses de Kuder-Forma E e a classificação das Virtudes e Forças de Caráter.

Os resultados obtidos com base nas codificações das respostas às questões da ECC sugerem

que os participantes do sexo masculino apresentam interesses mais elevados nos tipos

Realista e Social e os participantes do sexo feminino do tipo Social e Investigativo. A análise

dos interesses codificados e os interesses inventariados mostra uma associação moderada

positiva entre o tipo Social e a escala Serviços Sociais e associações moderadas negativas

entre o tipo Social e as escalas referentes aos interesses Mecânicos e Científicos. A

exploração dos temas de vida indica a dimensão Social como a mais comum, em ambos os

sexos. A presente investigação evidencia que as perspetivas construtivistas têm

potencialidades para a compreensão do desenvolvimento de carreira, apoiando a utilidade da

ECC. No final, discutem-se as implicações e aplicações práticas deste estudo.

Palavras-chave: desenvolvimento de carreira, perspetiva construtivista, narrativas, temas de

vida, interesses

vi

Abstract

The use of narrative aproaches in vocational counselling has increased over the years,

with Career Construction Interview (CCI) being one of the most used techniques. However,

there are few investigations that explore the potential of this method to interest and life

themes identification. The present study aims to identify areas of interest and life themes of

9th grade students, based on questions adapted from the CCI, and also to analyze their

relationship with inventoried interests. This investigation involved 49 participants (23 male

and 26 female) between 13 and 16 years old. All participants integrate a database of students

who resorted Faculty of Psychology’s Community Service, valency of Vocational

Counselling, University of Lisbon. Data were collected from questions adapted from the CCI

that integrate the self-knowledge questionnaire and from the Kuder-Form E Interests

Inventory. The areas of interests from Kuder Interest Inventory, the RIASEC dimensions and

the classification of the Character Strengths and Virtues were used to code the answers. The

results obtained based on codifications of the answers to the CCI questions suggested that

male participants have higher interests in the Realistic and Social types and female

participants in the Social and Investigative types. The analysis of codified interests and

inventoried interests shows a moderate positive association between Social type and Social

Services scale and moderate negative associations between Social type and the scales related

to Mechanical and Scientific interests. The exploration of life themes indicates the Social

dimension as the most common, in both sexes. The findings of this research shows that

constructivist perspectives have the potential to understand career development, supporting

the usefulness of CCI. Implications and practical applications of the study are further

discussed.

Key-words: career development, constructivist perspective, narratives, life themes, interests

1

Introdução

A adolescência é um período crítico para a formação da identidade pessoal e

vocacional (Erikson, 1963). Esta é uma fase em que as interrogações sobre o futuro

vocacional estão mais acentuadas, uma vez que os jovens são confrontados com uma tomada

de decisão relativamente ao percurso educativo a seguir, após a conclusão do 9º ano de

escolaridade (Cardoso, 2019),

A evidência mostra que à medida que a maturidade vocacional se desenvolve, os

adolescentes tornam-se mais interessados pelo mundo do trabalho e na identificação de uma

ocupação que seja compatível com o seu autoconceito, com os seus valores e que expressem

os seus interesses e competências pessoais (Mortimer, 1992).

Atualmente, a crescente incerteza relativamente ao futuro, em função de uma

economia globalizada, levou à necessidade de abordagens no âmbito da intervenção

vocacional que enfatizem a flexibilidade, a adaptabilidade e a aprendizagem ao longo de

vida, de forma a preparar os indivíduos para a gestão de percursos profissionais em constante

mudança (Savickas, 2015). A Teoria da Construção de Carreira (Savickas, 2005; 2013)

insere-se neste novo paradigma, pois é uma abordagem holística que oferece uma visão mais

compreensiva da carreira. Através das perspetivas diferencial, desenvolvimentista e

dinâmica, é possível compreender o comportamento vocacional sob as designações de

personalidade vocacional, adaptabilidade de carreira e temas de vida (Savickas, 2005).

De acordo com vários autores (e.g.,; Crites & Taber, 2002; Swanson & D'Achiardi,

2005), a avaliação objetiva de interesses, necessidades, valores e competências, com recurso

a testes estandardizados, deve ser complementada com outras abordagens qualitativas. Uma

das técnicas qualitativas proposta recentemente é a Entrevista de Construção de Carreira

(ECC, Savickas, 2005). Esta técnica permite entender a singularidade do indivíduo e

identificar comportamentos específicos e, desta forma, ajudar os clientes a esclarecer o seu

autoconceito e a sua implementação no mundo do trabalho (Taber, Hartung, Briddick, &

Rehfuss, 2011). Ao recorrer a uma abordagem mais contextualizada, é possível desenvolver

uma imagem mais completa do indivíduo e, consequentemente, tornar o processo de

aconselhamento mais útil e com melhores resultados (Taber et al., 2011).

A Entrevista de Construção de Carreira (Savickas, 1989, apesar de amplamente

utilizada em aconselhamento de carreira e de vários autores (e.g., Barclay & Wolff, 2012)

avançarem com quadros interpretativos para as respostas às questões da entrevista, existem

ainda poucos estudos sobre os sistemas de codificação das respostas, assim como a sua

relação com os interesses inventariados.

2

Tendo por base a Teoria Construtivista de Savickas (2005; 2013) e a literatura sobre o

desenvolvimento vocacional, a presente investigação tem como objetivo geral analisar as

potencialidades da Entrevista de Construção de Carreira para identificar os temas de vida e

áreas de interesse dos jovens do 9º ano.

Esta dissertação encontra-se dividida em quatro partes principais. Deste modo, inicia-

se com o enquadramento teórico onde é apresentada a Teoria da Construção de Carreira, em

seguida introduz-se a Entrevista de Construção de Carreira e as formas de análise

relacionadas com as variáveis da investigação e, ainda, são apresentados os objetivos e as

questões de investigação. Em seguida, no método, que representa a segunda parte, são

descritos os participantes do estudo, os instrumentos utilizados e os procedimentos

realizados. Na terceira parte, encontram-se os resultados e a interpretação dos mesmos. Por

último, na quarta parte, apresenta-se a discussão, que engloba as principais conclusões e

contributos da presente investigação e ainda as limitações e pontos de partida para

investigações futuras.

3

1. Enquadramento teórico

A crescente globalização e o avanço da tecnologia, numa sociedade marcada pela

diversidade e mudanças rápidas, resultam numa maior imprevisibilidade das trajetórias de

vida (Cardoso, 2011; Cardoso, Janeiro, & Duarte, 2018). Esta realidade levou a uma crise nos

modelos e métodos da Psicologia Vocacional, dado que o pressuposto de previsibilidade com

base na estabilidade e nos estádios de desenvolvimento é discutível e pode não ser funcional

no atual contexto social e, como tal, não se adequar às novas exigências do aconselhamento

de carreira uma sociedade em constante mudança (Savickas et al., 2009).

Desta forma, para responder às necessidades dos indivíduos, assiste-se a uma

mudança de paradigma na Psicologia Vocacional (Savickas et al., 2009), onde se dá primazia

a abordagens que privilegiem a flexibilidade, adaptabilidade e aprendizagem ao longo da vida

(Savickas, 2015), que preparem os indivíduos para a imprevisibilidade da vida (Cardoso et

al., 2018), criando as suas próprias oportunidades (Savickas et al., 2009).

Os métodos de aconselhamento de carreira devem ter uma abordagem dinâmica que

incentiva o pensamento criativo dos indivíduos e a exploração de possíveis selves (Oyserman,

Bybee, & Terry, 2006). Esta mudança permite abandonar a ideia de ajudar a colocar “o

homem certo, no lugar certo”, mas sim ajudar as pessoas a desenvolverem competências e

capacidades que, inevitavelmente, diferem das aptidões exigidas no início do século XX para

ingressar no mundo do trabalho (Duarte, 2009).

Assim, ao invés do estudo do comportamento das escolhas de carreira, o novo

paradigma da Psicologia Vocacional centra-se no estudo da importância relativa que o

trabalho ocupa na vida de cada um e, além disso, considera diversas variáveis que interagem

com o desenvolvimento, nomeadamente, as dimensões psicológicas e os contextos

socioeconómicos e culturais (Duarte, 2006).

A Teoria de Construção de Carreira (Savickas, 2005; 2013) responde a estes desafios

sociais. Esta abordagem promove práticas dando ênfase à construção de significados, cujo

objetivo é apoiar o indivíduo na compreensão da própria singularidade, facilitando o

desenvolvimento de planos da construção de carreira (Cardoso et al., 2018), isto é, construção

da vida (Duarte, 2009).

1.1. A Teoria da Construção de Carreira de Savickas

A Teoria da Construção de Carreira explica os processos interpretativos e

interpessoais através dos quais os indivíduos se constroem e dão sentido e significado ao seu

4

comportamento vocacional e às suas carreiras (Savickas, 2013). Esta teoria afirma que os

indivíduos constroem representações da realidade, além disso, com base numa perspetiva

contextualista, o desenvolvimento é impulsionado pela adaptação ao meio e não apenas pela

maturação de estruturas internas (Savickas, 2005).

De acordo com Barros (2010), nas abordagens construtivistas de carreira, é fortalecida

a ideia de que, mais do que desenvolvimento, a carreira é uma construção. As carreiras vão

sendo construídas à medida que os indivíduos fazem escolhas que expressam os seus

autoconceitos e que reforçam os seus objetivos na realidade social dos papéis do trabalho

(Savickas, 2005). Ao invés de uma visão objetiva da carreira, que se traduz na acumulação de

posições ocupadas pelo indivíduo desde a escola até à reforma (Savickas, 2005), a teoria e o

aconselhamento construtivista visam uma construção subjetiva, isto é, ajudar a encontrar

padrões com base nas diversas experiências de vida e de trabalho que resultam numa história

com significado.

Nesta perspetiva, uma carreira subjetiva é um processo reflexivo que transforma os

indivíduos de atores da sua carreira em autores da sua própria história (Savickas, 2002),

através de um processo ativo de construção de sentido e não de descoberta de factos

preexistentes (Savickas, 2005). Por outras palavras, consiste numa reflexão biográfica

produzida através do discurso e tornada real através do comportamento vocacional (Savickas,

2005). O indivíduo fornece um significado pessoal às memórias do passado, às experiências

presentes e aspirações futuras, construindo um tema de vida, que molda a sua vida

profissional (Savickas, 2005).

Uma influência teórica para o modelo de Savickas (2005) é a Teoria de Três Níveis da

Personalidade de McAdams (2001). Esta teoria parte do pressuposto que a personalidade está

organizada em três níveis, sendo que cada nível fornece uma compreensão única sobre a

individualidade humana: (1) diferenças individuais nos traços; (2) tarefas de desenvolvimento

e estratégias de coping; (3) motivação psicodinâmica.

Ao adaptar os níveis de personalidade de McAdams (2001) para a Teoria de

Construção de Carreira, Savickas conciliou as ideias inovadoras de Super (1957), sobre o

desenvolvimento de carreira com outros elementos das teorias vocacionais, propondo uma

correspondência entre estes níveis de personalidade e as três perspetivas clássicas da Teoria

da Construção de Carreira (i.e., conceitos diferencialistas, desenvolvimentistas e

psicodinâmicos) que permitem compreender o comportamento vocacional sob as designações

de personalidade vocacional, adaptabilidade de carreira e temas de vida (Savickas, 2005).

5

Mais concretamente, a personalidade vocacional refere-se às competências,

necessidades, valores e interesses dos indivíduos. Antes destas características serem

expressas em ocupações, são primeiramente experimentadas em atividades como as tarefas

domésticas, jogos, passatempos, leitura e estudo (Savickas, 2005).

A adaptabilidade de carreira está relacionada com os recursos e estratégias que os

indivíduos utilizam para lidar com tarefas de desenvolvimento vocacionais, transições

profissionais e com os problemas pessoais que podem surgir ao longo da sua carreira

(Savickas, 2005; Savickas, 2013). A adaptabilidade realça os processos de coping através dos

quais os indivíduos implementam os seus autoconceitos em papéis de trabalho e constroem as

suas carreiras (Savickas, 2005). Este conceito revela-se um componente-chave para lidar com

sucesso no mundo do trabalho (Janeiro, Mota, & Ribas, 2014).

De referir que a adaptabilidade de carreira substitui a anterior noção de maturidade de

carreira formulada por Super (1990), conseguindo englobar de forma mais integrada a

interação do indivíduo com os diversos contextos ao longo da vida (Janeiro et al., 2014).

A teoria da Construção de Carreira define quatro principais dimensões para a

adaptabilidade de carreira (Savickas, 2013): (1) preocupação com o futuro, (2) controlo, (3)

curiosidade e (4) confiança. Desta forma, o indivíduo adaptativo é (1) aquele que se preocupa

com o seu futuro enquanto trabalhador, (2) aumenta, assim, o controlo pessoal sobre o seu

futuro vocacional, (3) mostra curiosidade em explorar múltiplos selves e diferentes cenários

futuros e (4) fortalece a confiança para seguir as suas aspirações (Savickas, 2013).

Por fim, os temas de vida são revelados através das histórias que os indivíduos

contam da sua carreira, refletindo as necessidades e preocupações pessoais (Savickas, 2001).

Estas histórias permitem identificar os temas que são utilizados para tomar decisões

significativas e/ou ajustar o self aos papéis profissionais (Savickas, 2005). Os temas de vida

emergentes da narrativa pessoal revelam os problemas e necessidades que o indivíduo tem

procurado resolver ao longo da sua vida. A sua resolução encontra-se nos diversos selves que

se projetam no futuro (Cardoso, 2011). O tema de vida permite explicar como o self de

ontem, se torna no self de hoje e no self de amanhã, dando apoio tanto a um ator estável com

uma história contínua, como a um agente em constante mudança (Savickas, 2013).

O modelo de Savickas (2005, 2013) destaca-se por integrar os diversos segmentos da

teoria das carreiras, mas também por realçar a importância das abordagens qualitativas, mais

especificamente a utilização das narrativas no aconselhamento de carreira. Por se considerar

pertinente para o presente estudo, esta questão será desenvolvida no ponto seguinte.

6

1.2. Abordagens narrativas na Construção de Carreira

A avaliação psicológica sempre foi parte integrante do aconselhamento de carreira,

desde o seu início com o trabalho de Parsons (1909). O tipo de avaliação determina, em

grande medida, a estrutura do processo de aconselhamento e os papéis assumidos pelos

conselheiros e pelos clientes (McMahon & Patton, 2006).

A maioria da avaliação psicológica, ao longo de várias décadas, tem decorrido com

recurso a medidas quantitativas, pois fornecem uma visão com ênfase no conhecimento

objetivo, o que tem levado a que os profissionais da área do aconselhamento de carreira

revelem alguma reticência em abandonar esta posição mais tradicional (Brown & Brooks,

1996).

Mais recentemente, a perspetiva construtivista trouxe avanços em termos de teoria e

de prática, nomeadamente com o destaque dado à utilização da avaliação qualitativa na

carreira, uma vez que permite aos clientes compreenderem-se melhor, recorrendo a métodos

flexíveis, holísticos e não estatísticos (McMahon & Patton, 2006). Assim, a avaliação

qualitativa da carreira envolve avaliações subjetivas através de entrevistas, histórias de vida e

narrativas que produzem histórias que indicam padrões e temas de vida (Cochran, 1997).

Goldman (1990, 1992) sugeriu algumas vantagens da avaliação baseada em técnicas

qualitativas em relação à avaliação quantitativa, nomeadamente, a promoção de um papel

ativo por parte do cliente, que durante o processo está envolvido na recolha de informação e

na elaboração de significado; tendência para ser mais holística e integrativa. Além disso,

promove uma relação mais colaborativa entre o cliente e o conselheiro e é flexível, na medida

em que pode ser aplicada em clientes com diferentes experiências. Adicionalmente, integra

não só os aspetos subjetivos e afetivos do cliente, assim como, os processos cognitivos e

valoriza a sua interpretação e significado (McMahon & Patton, 2006).

Ao longo dos anos, o interesse pelas recordações autobiográficas, pelas histórias de

vida e pelas abordagens narrativas têm vindo a aumentar. McAdams (2001) deu um

importante contributo neste contexto, afirmando que as pessoas que vivem em sociedades

modernas dão sentido às suas vidas através da construção de narrativas sobre o self.

No modelo de identidade de McAdams (1985, 1993, 1996), a identidade assume a

forma de uma história, baseada em factos biográficos, que à medida que os indivíduos

integram diversos aspetos da sua experiência, vão construindo histórias sobre o passado e o

futuro, com mais ou menos significado. As narrativas permitem perspetivar a carreira e a vida

como uma história com coerência e continuidade (Cardoso, 2011) e, desta forma, ajudar os

7

clientes a compreenderem os seus temas de vida, personalidade e recursos de adaptabilidade

(Savickas, 2005).

A literatura mostra que a capacidade de construir uma narrativa com sentido e

continuidade não depende somente do contexto relacional e cultural onde o indivíduo está

inserido, mas também de competências cognitivas (Cardoso, 2018). Entre as quais, a

capacidade para estabelecer ligações causais entre acontecimentos da vida e o

desenvolvimento pessoal, para relacionar narrativas de vida coerentes e, também, adquirir

conhecimento cultural sobre aspetos normativos da vida (Habermas & Bluck, 2000;

Habermas, Ehlert-Lerche & Silveira, 2009).

Em suma, os testes ou outros instrumentos estandardizados poderão ser úteis para

aprender mais sobre atividades profissionais e áreas de interesse e ajudar a fazer escolhas em

momentos de transição. Contudo, só contam uma parte da história de vida dos indivíduos

(Savickas & Hartung, 2012) e não permitem aos conselheiros compreender os contextos e as

circunstâncias únicas de vida dos seus clientes (Hartung & Borges, 2005).

Assim, ao recorrer a estratégias ideográficas (e.g., as narrativas, recordações iniciais e

análise de temas de vida) ajuda a colmatar as limitações dos métodos normativos e a

complementar os dados psicométricos (Hartung & Borges, 2005), pois as abordagens

narrativas permitem que o conselheiro aborde de forma holística o quê, o porquê e como os

indivíduos constroem as suas carreiras (Del Corso & Rehfuss, 2010).

Assim, ao conhecer a história da sua vida, os indivíduos acrescentam significado aos

planos e escolhas de carreira e, desta forma, exploram com mais detalhe o planeamento de

carreira e processo de tomada de decisão (Savickas & Hartung, 2012).

1.3. A Entrevista de Construção de Carreira

A Entrevista de Construção de Carreira (ECC) é uma forma de obter uma narrativa

por parte do cliente (Barclay & Wolff, 2012) e uma representação mais compreensiva e com

significado do self (Taber et al., 2011). Esta técnica é um componente-chave para identificar

temas de vida a partir de uma perspetiva da Teoria da Construção de Carreira (Savickas,

2005).

Durante a entrevista, o conselheiro ouve os temas e padrões de vida do indivíduo que

representam o seu autoconceito e os seus interesses. Posteriormente, numa postura

colaborativa, utilizam os temas para ajudar nas escolhas vocacionais e educacionais (Barclay

& Wolff, 2012).

8

A ECC é uma entrevista semiestruturada onde são abordados sete tópicos que revelam

temas de vida e informações acerca da tomada de decisão perante a transição em que o

cliente se encontra (Savickas, 2015). As questões abordam temas como modelos, revistas,

programas e websites preferidos, histórias favoritas, lemas de vida e recordações (Savickas,

2015).

A resposta à questão sobre as características dos heróis/modelos de infância indica o

objetivo central de vida, representa os “ideais do ego”, fornece pistas sobre como o indivíduo

se perceciona, os valores que expressa e soluções para o problema central do indivíduo

(Taber et al., 2011). O segundo tema, revistas/programas/websites favoritos, indicam os

ambientes e atividades que interessam e se adequam ao estilo do cliente (Savickas, 2015;

Taber et al., 2011).

O terceiro tópico, a história do livro ou do filme preferido, indica uma personagem

principal que enfrenta o mesmo problema que o cliente e mostra como essa personagem lidou

com o problema. No que diz respeito às atividades dos tempos livres, o quarto tema,

representam os interesses manifestos (Taber et al., 2011).

A questão acerca do lema de vida providencia um título à história de vida (Taber et

al., 2011) e representa o conselho que o cliente tem dado a si mesmo (Savickas, 2015). O

sexto tópico, as disciplinas escolares, indicam ambientes de trabalho preferidos. Por fim, o

sétimo tema, lembranças iniciais, revelam as preocupações que orientam o cliente (Taber et

al., 2011).

Em termos gerais, a Entrevista de Construção de Carreira oferece, assim, uma

abordagem mais contextualizada, comparativamente aos métodos quantitativos, permitindo

assim a compreensão de características específicas do indivíduo, elucidando para o seu estilo

de vida e comportamento no quotidiano (Taber et al., 2011). Desta forma, desenvolve-se uma

imagem mais completa do cliente, tornando o processo de aconselhamento mais útil e com

melhores resultados (Savickas, 1996).

1.3. Formas de análise da Entrevista de Construção de Carreira

Neste ponto, apenas serão desenvolvidas as formas de análise da Entrevista de

Construção de Carreira que se consideram pertinentes para a presente investigação.

Teoria da Personalidade Vocacional de Holland.

A teoria da Personalidade Vocacional de Holland (1997) descreve como os indivíduos

9

interagem com os ambientes e como as características individuais resultam em escolhas e

ajustes.

De acordo com o modelo proposto por Holland (1997), os interesses expressam a

personalidade do indivíduo e podem ser categorizados em seis tipos correspondentes a um

conjunto de competências, preferências, crenças, valores e formas de processar a informação

(Barros, 2010). Dado que, existe uma ligação direta entre a personalidade do indivíduo e os

ambientes de trabalho (Armstrong, Day, McVay, & Rounds, 2008), também estes podem ser

descritos com base nos mesmos seis tipos de categorização (Nauta, 2013). Tendo em conta

esta teoria, Holland (1996) construiu o modelo RIASEC, conhecido também pelo Modelo

Hexagonal de Holland (1997).

O modelo RIASEC (Holland, 1996) atribui seis tipos de personalidade e de ambientes

de trabalho nos quais os indivíduos podem ser categorizados: Realista (R), Investigativo (I),

Artístico (A), Social (S), Empreendedor (E) ou Convencional (C).

Por ser relevante para a presente investigação, descrevem-se de forma sucinta as

características dos tipos de personalidade e meios ambiente, com alguns exemplos de

profissões (e.g., Holland, 1997; Reardon & Bertoch, 2011; Nauta, 2013):

1) Realista: este tipo de personalidade vocacional é descrito como franco, focado,

prático e mecânico. Pessoas que revelam preferência por tarefas manuais, mecânicas, físicas e

atléticas, nomeadamente, manusear máquinas, ferramentas, atividades que envolvam a

reparação, a construção, os transportes, as plantas, os animais e atividade física. De que são

exemplos profissões como agricultor, bombeiro, técnico de farmácia e engenheiro

computacional.

2) Investigativo: descrito como curioso, crítico, independente, ambicioso, intelectual e

preciso. São pessoas competentes nas áreas das ciências e da matemática. Revelam

preferência por trabalhar com ideias abstratas, resolver problemas que envolvam a

descoberta, exploração, investigação, observação e avaliação (e.g., biólogo, investigador,

matemático, antropólogo).

3) Artístico: descrito como criativo, impulsivo, independente e não conformista. São

pessoas que têm preferência pela arte, música e o teatro e que utilizam a originalidade para

resolver problemas artísticos que envolvam a criatividade, invenção, o desempenho e a

escrita (e.g., compositor, músico, fotógrafo, jornalista).

4) Social: este tipo de personalidade vocacional é descrito como cooperativo,

responsável, generoso, empático e prestável. Revelam preferência em ajudar, ensinar e

aconselhar pessoas e que utilizam o diálogo, as instruções, a compreensão, o trabalho de

10

equipa e o alento para resolver problemas sociais que envolvem a educação, o cuidado, o

apoio, o serviço comunitário e as relações. De que são exemplos profissões como professor,

enfermeiro, psicólogo e nutricionista.

5) Empreendedor: descrito como persuasivo, ambicioso, enérgico, sociável,

impulsivo, otimista e sociável. São pessoas que têm preferência por atividades que envolvam

a liderança, a persuasão, a gestão, influência e destreza para resolver problemas ligados aos

negócios e à política, que envolvam ganhos económicos, opinião, risco e competição (e.g.,

produtor de televisão, político, advogado, administrador de empresas).

6) Convencional: este tipo de personalidade vocacional é descrito como conformista,

obediente, preocupado, persistente e pouco imaginativas. São pessoas que preferem

atividades relacionadas com a ordem, detalhe e sistematização. Utilizam a precisão, a

conscienciosidade e a cautela para resolver problemas burocráticos que envolvam a

organização, manutenção de registos, gestão de dados e agendamento (e.g., operador de

comunicações, bibliotecário, contabilista).

Fatores como a idade, o género, a classe social, a cultura, os pais e os pares têm

influência nos percursos de carreira que o indivíduo considera, limitando ou potenciando

oportunidades (Nauta, 2013). Holland (1997) refere que após se considerar estes fatores, as

interrelações verificadas entre os tipos de personalidade e os ambientes (RIASEC) permitem

realizar previsões sobre as escolhas de carreira do indivíduo, a sua satisfação e desempenho.

Neste seguimento, existem quatro importantes construtos relacionados com estas previsões:

congruência, diferenciação, consistência e identidade.

Um dos aspetos mais importantes da Teoria de Holland é a ideia de que a

personalidade do indivíduo é mais adequada a certos ambientes do que a outros (Nauta,

2013). O termo congruência está relacionado com o grau de ajustamento entre o indivíduo e o

seu ambiente atual ou projetado, de acordo com os tipos RIASEC (Holland, 1997). Isto é,

quanto mais semelhante é a personalidade e o ambiente, maior é a congruência entre eles.

Adicionalmente, o grau de satisfação e a realização profissional dependerão da

congruência entre a personalidade e o meio ambiente onde a pessoa está inserida. Como tal,

quanto maior for a congruência, maior serão a satisfação e a realização sentidas (Holland,

1973, 1997). Isto é, se uma pessoa e um ambiente têm códigos semelhantes, por exemplo

uma pessoa com um tipo de personalidade investigativo num ambiente investigativo, é

expectável que a sua satisfação seja elevada e que se mantenha neste meio (Holland, 1997).

No que diz respeito à diferenciação, está relacionada com o grau em que uma pessoa

ou ambiente está claramente definido de acordo com os tipos RIASEC (Nauta, 2013). Assim,

11

um indivíduo com um elevado nível de diferenciação apresenta uma forte semelhança com

um tipo RIASEC e baixa semelhança com os restantes. Pelo contrário, se a pessoa apresentar

um baixo nível de diferenciação, irá apresentar semelhanças com vários tipos de

personalidades e ambientes (Nauta, 2013).

De frisar que, relações positivas entre congruência e satisfação com o trabalho,

sucesso e estabilidade, são mais fortes quando o nível de diferenciação é mais elevado

(Holland, 1997).

No modelo de Holland (1997), os interesses vocacionais distribuem-se num

hexágono, em que cada ângulo corresponde a um dos tipos de personalidade (RIASEC). Os

tipos adjacentes são mais semelhantes entre si do que tipos apostos em relação aos vértices do

hexágono (Barros, 2010). Quando os tipos são adjacentes, o indivíduo ou ambiente

apresentam um elevado grau de consistência (Nauta, 2013).

Por fim, a identidade refere-se ao grau de clareza e estabilidade que a pessoa tem

relativamente aos seus objetivos, interesses e talentos (Holland, 1997). Uma identidade forte

e bem definida facilita os processos de tomada de decisão ao longo da carreira (Holland,

1997).

A teoria de Holland deu origem a diversos instrumentos para avaliar pessoas e

ambientes que são úteis para identificar opções vocacionais potencialmente congruentes

(Spokane & Cruza-Guet, 2002). Um desses instrumentos, muito utilizado internacionalmente

em contexto de investigação e aconselhamento de carreira, é o Inventário de Interesses de

Exploração Auto-dirigida (Self-Directed Search, SDS).

Este instrumento permite avaliar a semelhança de um indivíduo com cada um dos

tipos de personalidade (Holland, Gottfredson & Nafziger, 1975). Os conselheiros utilizam um

código de três letras, código de Holland, que mais se assemelha à personalidade do indivíduo

(e.g., RIA, SAI- tipos dominantes). Esta tipologia fornece a vantagem de que as informações

e os resultados sejam facilmente comunicados entre clientes, clínicos e profissionais

(Holland, 1996).

Tendo em conta investigações anteriores, existem diferenças significativas entre

géneros, em alguns dos tipos de personalidade e ambientes RIASEC. Mais concretamente,

em diferentes investigações (Hirschi & Läge, 2007; Proyer e Häusler, 2007), os participantes

do sexo masculino apresentaram resultados mais elevados para os tipos Realista e

Investigativo e os participantes do sexo feminino apresentaram interesses mais relacionados

com o tipo Artístico e Social

Do mesmo modo, num estudo conduzido por Teixeira, Barros e Janeiro (2010), com

12

uma amostra do Brasil, verificam-se resultados superiores para os tipos Realista,

Empreendedor e Convencional para os participantes do sexo masculino. No caso das

raparigas, registaram-se valores mais elevados no tipo Social. Na amostra portuguesa, os

rapazes mostram interesses mais elevados do tipo Realista e Empreendedor, enquanto que as

raparigas apresentam resultados mais elevados na escala Social. Desta forma, nos

participantes do sexo masculino espera-se resultados mais elevados no tipo Realista e nos

participantes do sexo feminino nos tipos Social e Artístico (Teixeira et al., 2010).

Os resultados apontados por Santos (2015) mostram que relativamente aos

participantes do sexo feminino, na escolha dos heróis de infância predomina o tipo Social. No

que diz respeito aos meios ambientes significativos revelam preferência por ambientes do

tipo social e do tipo artístico. Nos participantes do sexo masculino destaca-se o tipo de

personalidade Realista, quer na identificação de temas de vida, como nos heróis de infância e

revistas ( Santos, 2015).

Virtudes e Forças de Caráter.

A psicologia positiva tem alcançado um papel de maior destaque na psicologia da

personalidade. Esta perspetiva abrange teorias e pesquisas sobre o que permite viver com

maior dignidade (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000), redirecionando a atenção científica

para a importância do caráter, identificando-o como fundamental para a compreensão de uma

boa vida psicológica. O seu estudo baseia-se no funcionamento psicológico positivo e nas

características positivas, tais como, forças de caráter, virtudes ou talentos (Proyer, Sidler,

Weber, & Ruch, 2012). A psicologia positiva enfatiza a construção de uma vida plena,

através da identificação e estimulação das forças de caráter (Peterson, 2006; Peterson & Park,

2003). Assim, as forças de caráter podem ser definidas como traços positivos que se refletem

nos pensamentos, sentimentos e comportamentos (Park, Peter, & Seligman, 2004). No fundo,

são os aspetos da personalidade que são moralmente valorizados (Park & Peterson, 2009).

As forças de caráter, quando estimuladas, ajudam não só a prevenir acontecimentos

de vida indesejáveis (Botvin, Baker, Dusenbury, Botvin, & Diaz, 1995), como também são

importantes marcadores de desenvolvimento saudável ao longo da vida (Colby & Damon,

1992).

A investigação mostra que forças de caráter específicas como a bondade, inteligência

social, a esperança e o perspetivar, diminuem os efeitos negativos de experiências

traumáticas, prevenindo ou limitando a ocorrência de problemas na consequência desses

13

eventos (Park, 2004). Além disso, o mesmo autor refere que as forças de caráter estão

relacionadas com resultados positivos em diversos aspetos, nomeadamente, sucesso escolar,

liderança, tolerância, valorização da diversidade, bondade e altruísmo.

Neste seguimento, foi desenvolvido um projeto designado Values in Action (VIA), que

enfatiza as forças de caráter que contribuem para o desenvolvimento ideal no decorrer da

vida. Com base nesta ideia, Peterson, Park e Seligman (2005) desenvolveram o questionário

Values in Action- Inventory of Strengths (VIA-IS) com o objetivo de avaliar as diferenças

individuais nas 24 FC em adultos. A classificação VIA consiste em 24 forças de caráter (FC)

amplamente valorizadas, organizadas em seis virtudes (Park & Peterson, 2009). De uma

forma global, a virtude Sabedoria e Conhecimento inclui as forças de criatividade,

curiosidade, discernimento, gostar de aprender e perspetivar. No que diz respeito à virtude

Coragem, inclui as forças de honestidade, bravura, perseverança e entusiasmo. A virtude

Humanidade inclui as forças de bondade, amor e inteligência social. Já a virtude Justiça

engloba as forças de equidade, liderança e trabalho em equipa. A virtude Ponderação

Equilibrada inclui as forças de perdão, humildade, prudência e autorregulação. Finalmente,

em relação à virtude Transcendência, esta inclui as forças de apreciação da beleza e

excelência, gratidão, esperança, humor e espiritualidade (Park & Peterson, 2009). As

definições de operacionalização de cada uma das forças de caráter encontram-se no anexo A.

A evidência mostra que apesar de todas as forças de caráter contribuírem para a

realização, determinadas forças de caráter estão mais associadas à prosperidade e bem-estar

dos jovens (e.g., esperança, curiosidade, amor), como tal devem ser estimuladas (Park &

Peterson, 2006).

As forças de caráter entre jovens e adultos são relativamente estáveis ao longo do

tempo (Park & Peterson, 2009). Contudo, existem forças de caráter menos comuns entre as

crianças e adolescentes pois exigem maior maturação cognitiva (e.g., apreciação da beleza e

da excelência) (Park & Peterson, 2006).

No que concerne a investigações que analisam as forças de caráter (Peterson &

Seligman, 2004) e os tipos de personalidade vocacional de Holland (1997), ainda são

escassas. Até ao presente só existe um estudo realizado com adolescentes (Proyer et al.,

2012).

Os resultados dessa investigação apontam para uma relação entre os interesses

Investigativos e Artísticos e as forças intelectuais ( i.e., a virtude Sabedoria e Conhecimento);

entre os interesses do tipo Social e a virtude Transcendência; e, ainda, entre os interesses do

tipo Empreendedor e a FC de Liderança (Proyer et al., 2012). Também os resultados obtidos

14

por Santos (2015) vão ao encontro dos obtidos na investigação de Proyer et al. (2012).

Adicionalmente, foi possível verificar uma correlação positiva entre a virtude humanidade e a

dimensão social e uma correlação negativa com o tipo realista (Santos, 2015).

1.4. Objetivos e Questões de Investigação

A avaliação objetiva de interesses, necessidades, valores e capacidades profissionais

através da interpretação de testes tornou-se prática comum no aconselhamento de carreira

(Taber et al., 2011). Contudo, a evolução teórica aponta para a necessidade de uma

abordagem mais holística e integrada, por forma a ajudar o cliente a desenvolver uma

imagem de si mais completa (Taber et al., 2011). A importância das narrativas de vida no

aconselhamento vocacional foi realçada por Savickas (2005), que reconhece o papel fulcral

das narrativas para o conhecimento da história de vida dos indivíduos. No entanto, faltam

estudos empíricos que demonstrem a potencialidade destes métodos, especificamente a ECC,

e que explorem os sistemas de codificação das respostas, assim como a sua relação com os

interesses inventariados.

Nesse sentido, este estudo pretende preencher esta lacuna na literatura, verificando a

potencialidade da análise das respostas da Entrevista de estilo de Carreira de Savickas, em

formato questionário, para a identificação de temas de vida e de áreas de interesse.

Mais especificamente, pretende-se explorar e analisar as respostas dos alunos do

9ºano, às questões da EEC de modo a identificar e caracterizar as principais áreas de

interesse, analisar as diferenças entre géneros, explorar a relação com os interesses

inventariados e compreender as potencialidades da ECC em formato de questionário.

Em última análise, este estudo pretende contribuir para o desenvolvimento de

recursos para os psicólogos utilizarem no aconselhamento vocacional, nomeadamente

sistemas de codificação das questões propostas na entrevista EEC.

Assim estabeleceram-se as seguintes questões de investigação:

Q1) Quais as áreas de interesse mais salientes nos jovens do 9ºano?

Q2) Existem diferenças de género em relação às áreas de interesse codificadas?

Q3) Será que há correspondência entre os interesses inventariados e os interesses

codificados?

Q4) Quais os temas de vida mais salientes nos jovens do 9º ano?

Q5) Será que há diferenças de género nos temas de vida identificados?

15

Q6) Será que existe uma relação entre as virtudes inferidas das características dos

heróis de infância com o sistema de codificação RIASEC?

16

2. Método

2.1. Participantes

O presente estudo envolveu um total de 49 participantes, alunos do 9º ano de

diferentes escolas da Área Metropolitana de Lisboa. Todos os participantes integram a base

de dados de alunos que recorreram ao Serviço à Comunidade, valência de Aconselhamento

Vocacional da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.

Dos quarenta e nove participantes, vinte e três são do sexo masculino (46, 9%) e vinte

e seis são do sexo feminino (53, 1%). As idades dos alunos variaram entre os 13 e os 16 anos

(M=14,06; DP=0,42).

O Serviço à Comunidade é uma vertente de extensão universitária e desenvolve a sua

atividade através da prestação de serviços especializados no âmbito da psicologia. Tem como

alvo de intervenção diferentes populações (e.g., crianças, adolescentes) e responde a

solicitações da comunidade em geral. Mais especificamente, os participantes da presente

investigação recorreram ao serviço de Aconselhamento Vocacional que tem como objetivos a

promoção de competências e a ativação de recursos para lidar com as transições e os desafios

inerentes ao desenvolvimento vocacional, assim como, o apoio à construção de projetos de

vida/carreira.

De referir que todos os alunos e respetivos encarregados de educação foram

informados aquando da inscrição no Serviço de Aconselhamento Vocacional que os dados

recolhidos durante o processo de aconselhamento podem ser utilizados de forma anónima

para fins de investigação. Todos os encarregados de educação dos participantes incluídos na

presente investigação autorizaram a utilização dos dados obtidos durante o processo de

aconselhamento vocacional para fins de investigação, através do consentimento informado.

Entende-se por consentimento informado a escolha de participação voluntária do cliente

(neste caso específico, através da autorização do seu representante) num ato psicológico,

onde são fornecidas informações como a natureza e o curso previsível desse ato, os seus

honorários, a confidencialidade da informação recolhida durante o processo e ainda os limites

éticos e legais da mesma (Ordem dos Psicólogos Portugueses [OPP], 2016). Assim, é

reconhecida à pessoa a capacidade de consentir, que esta foi informada apropriadamente

quanto à natureza da relação profissional e que expressou o seu acordo livremente (OPP,

2016). Para a escolha de participantes a integrar o presente estudo, selecionaram-se jovens

que recorreram ao serviço nos anos de 2018 e 2019 e consideraram-se todos os processos que

se encontravam na base de dados por ordem de registo.

17

2.2. Instrumentos

Para a presente investigação foram recolhidos os dados obtidos com dois

instrumentos: (1) Inventário de Interesses de Kuder- Forma E; (2) Questionário de

Autoconhecimento, mais especificamente o bloco de questões adaptadas da Entrevista de

Construção de Carreira (Savickas, 1989, 2013).

Inventário de Interesses de Kuder - Forma E

O Inventário de Interesses de Kuder - Forma E, originalmente desenvolvido por

Frederic Kuder, foi adaptado para Portugal por Luís Caeiro em 1978. Este instrumento é

constituído por dez escalas de interesses, nomeadamente, interesses de Ar Livre, Mecânicos,

Cálculo, Científicos, Persuasivos, Artísticos, Literários, Musicais, Serviço Social e

Burocráticos (Teixeira, 1994). Além destas, inclui também uma escala de verificação,

elaborada com a finalidade de determinar se os indivíduos respondem com cuidado ou se

compreenderam as instruções. Segundo Teixeira (1994), Kuder parte da premissa que estas

dez áreas são relativamente independentes, pois cada uma avalia uma área de interesse, como

tal espera-se uma relação mínima entre as dez escalas.

O Inventário tem no total 168 itens. Cada item é constituído por um grupo de três

atividades, que representam 504 situações da vida real, distribuídas pelos dez domínios das

atividades. Além disso, tem características ipsativas, através da técnica de resposta forçada,

ou seja, as pessoas têm de escolher numa tríade as atividades que gostam mais e as que

gostam menos (Teixeira, 1994). Desta forma, é possível diminuir os efeitos de desejabilidade

social (Welter & Capitão, 2007).

Este instrumento apresenta-se sob a forma de questionário auto-avaliativo, em que os

indivíduos respondem segundo as suas autoperceções. Neste seguimento, têm oportunidade

de se questionarem e ter contacto com novas realidades de si mesmo e do mundo exterior

(Teixeira, 1994). Apresenta características metrológicas confirmadas por investigações ao

longo do tempo, que permitem afirmar a sua pertinência na avaliação dos interesses dos

jovens e, desta feita, proporcionarem informações importantes para serem integradas na

construção da identidade vocacional e pessoal (Teixeira, 1994). Por se considerar relevante

para a presente investigação, em seguida, descreve-se de forma sucinta as áreas de interesse

18

medidas pelo Inventário de Interesses de Kuder e fornece-se exemplos de profissões em cada

uma delas1:

1) Interesses pelo Ar livre: indicam preferência por trabalho ou atividade que se

realiza no exterior a maior parte do tempo, geralmente trabalho com plantas ou com animais

(e.g., guardas florestais, especialistas em ciências naturais, agricultores).

2) Interesses Mecânicos: indicam preferência por trabalhar com máquinas e com

ferramentas (e.g., canalizadores, mecânicos de automóvel, engenheiros).

3) Interesses pelo Cálculo: mostram preferência por trabalhar com números e por

cursos de matemática (e.g., contabilistas, bancários, economistas).

4) Interesses Científicos: são interesses pela descoberta ou compreensão da natureza e

pela solução dos problemas, especialmente em relação ao mundo físico (e.g., médicos,

técnicos de laboratório, meteorologistas).

5) Interesses Persuasivos: indicam preferência por lidar com as pessoas, convencer os

outros em relação à justiça de uma determinada causa ou de um ponto de vista e promover

vendas (e.g., técnicos de venda, encarregados de compras).

6) Interesses Artísticos: indicam preferência por fazer trabalho criativo, envolvendo

desenho e cor (e.g., escultores, arquitetos, decoradores de interiores).

7) Interesses Literários: são interesses pela leitura e pela escrita (e.g., professores de

línguas, jornalistas, bibliotecários).

8) Interesses Musicais: são geralmente demonstrados pela idas a concertos, por tocar

instrumentos, cantar e ler sobre música (e.g., músicos, professores de música).

9) Interesses por Serviço Social: indicam preferência por atividades que envolvem a

ajuda a pessoas (e.g., enfermeiros, assistentes sociais, conselheiros de orientação).

10) Interesses Burocráticos: significam preferência por trabalho que envolve tarefas

que exigem precisão (e.g., estatísticos, arquivistas).

Questionário de Autoconhecimento

O questionário de autoconhecimento foi elaborado pelo Serviço à Comunidade, mais

especificamente, pelo serviço de Aconselhamento Vocacional.

Este instrumento é constituído por diversas questões, onde é solicitado aos jovens que

indiquem as suas áreas de interesse, as atividades que têm mais facilidade ou dificuldade e

que elaborem dez frases com as informações que consideram mais importantes sobre eles.

1 Descrição de Interesses adaptada de folha de Perfil de Interesses, Serviço de Aconselhamento Vocacional.

19

Além disso, é possível encontrar uma secção com questões adaptadas da Entrevista de

Construção de Carreira (Savickas, 1989). Esta secção do questionário de Autoconhecimento é

composta por um total de quatro questões acerca de quatro temas: 1) características dos

heróis de infância ou da pessoa/personagem que admira atualmente (i.e., “Quem admiravas

na tua infância ou quem admiras atualmente? Descreve esta pessoa/personagem. Quais as

suas características?”; 2) as revistas, programas de televisão e websites preferidos ( “Que

revistas, programas televisivos, séries ou websites segues regularmente? O que te atrai

neles?”; 3) livro ou filme preferido; 4) o lema de vida (i.e., Qual é o teu lema preferido? O

que é que esse lema significa para ti?”). É solicitado aos jovens que respondam, de forma

espontânea, de acordo com a sua história de vida.

Tendo em conta, os objetivos formulados para o presente estudo, optou-se por utilizar

apenas três das perguntas do questionário (i.e., heróis de infância, revistas/séries/websites

preferidos, lema de vida). Dado que, numa primeira análise, em relação à questão 3 (“Qual o

teu livro ou filme preferido? Conta resumidamente a história.”) verificou-se que vários

participantes não responderam ou as respostas não eram passíveis de codificação. Como tal,

optou-se por não utilizar a referida questão para a investigação.

2.3. Procedimentos

Recolha das respostas

A recolha das respostas procedeu-se através do acesso aos processos dos alunos que

recorreram aos serviços de Aconselhamento Vocacional durante os anos 2018 e 2019.

Segundo a OPP (2016), é exigido aos investigadores os deveres de confidencialidade

e anonimato dos dados recolhidos. Como tal, no contexto de investigação só se recolheram os

dados pessoais estritamente necessários à realização das investigações e os mesmos são

mantidos confidenciais.

Para a presente investigação, foram recolhidas exclusivamente as respostas das

questões adaptadas da Entrevista de Construção Carreira. De modo, a identificar de forma

única os participantes foi mantido o número de processo para depois se realizar o cruzamento

dos resultados obtidos no Inventário de Interesses de Kuder- Forma E. Logo após este

procedimento, foi atribuído a cada participante um número de 1 a 49, eliminando o número

do processo, garantindo, desta forma, o anonimato dos dados (OPP, 2016).

20

Análise de resultados.

Devido à natureza dos instrumentos de investigação e das suas formas de análise,

realizou-se uma metodologia de investigação mista (Morais & Neves, 2007), com uma

análise qualitativa e quantitativa.

análise qualitativa.

A primeira etapa envolveu uma leitura global e aprofundada de todas as respostas às

questões adaptadas da Entrevista de Construção de Carreira (Savickas, 1989). Decidiu-se

efetuar uma metodologia de análise do tipo fechado ou procedimento fechado, uma vez que

se optou por utilizar um sistema de categorias prévio, de acordo com a revisão de literatura

(Amado, 2017). Utilizou-se o software Nvivo12 para proceder à análise dos dados

qualitativos, isto é, para auxiliar na organização e leitura dos dados.

Começou-se por analisar as respostas da primeira questão (características os heróis de

infância e/ou pessoas que admiram atualmente), recorrendo ao sistema de categorias proposto

por Reis (2014). Os nomes dos heróis foram codificados em duas categorias: Ficção e Não

Ficção. A categoria Ficção corresponde a heróis não reais (e.g., “Princesas da Disney”,

“Super Heróis”, “Hannah Montana”, “Steve McGarrett do Hawai-Força Especial”). Quanto à

categoria Não Ficção, encontra-se duas subcategorias (Anexo B): Dentro do Campo Social

(i.e., familiares, amigos, professores) e Fora do Campo Social (i.e., atletas, políticos, artistas)

(Reis, 2014; Santos, 2015).

Ainda em relação à primeira questão, utilizou-se também como sistema de

codificação as dimensões RIASEC, pois de acordo com a revisão de literatura (e.g., Barclay

& Wolff, 2012), revela-se uma forma consensual de codificar esta questão. Especificamente,

utilizou-se uma adaptação elaborada por Santos (2015) do quadro de Nauta (2013, p.58), para

a categorização das características dos heróis de infância. Durante o processo de codificação,

optou-se por utilizar uma letra quando era referido um herói ou duas letras quando eram

referidos dois heróis. Em nenhum dos casos se codificou com três letras, pois nenhum

participante referiu três heróis. De ressalvar que, de acordo com a descrição realizada pelos

participantes em relação às características, o mesmo herói pode pertencer a categorias

diferentes. Ou seja, se o participante referiu que admira o Cristiano Ronaldo por ser “bom

jogador” optou-se por codificar com o tipo Realista, mas se o participante referiu que admira

o Cristiano Ronaldo por “ajudar aqueles que mais precisam”, codificou-se com o tipo Social.

No decorrer do processo de codificação desta questão, optou-se por não atribuir

códigos às respostas que geraram dúvidas, em que a justificação para a escolha do herói se

21

revelou insuficiente para atribuir uma ou mais dimensões RIASEC (e.g., “Não sei bem,

gostava imenso delas”; “alto e tem cabelo loiro”). De referir também que foram excluídas as

respostas em branco e as que não identificavam nenhum herói (e.g., “ Não admirei ninguém

seriamente a ponto de a imitar”).

Adicionalmente analisou-se as características dos heróis de infância de acordo com o

sistema de Virtudes e Forças de caráter (Peterson & Seligman, 2004), também utilizado por

Santos (2015) por considerar que tornava a análise mais abrangente, ao completar as

dimensões RIASEC.

A etapa seguinte envolveu a análise da segunda questão, referente às

revistas/séries/websites que reúnem a preferência dos participantes. Também esta questão foi

analisada de acordo com a codificação RIASEC, por ser a forma de análise mais consensual

(e.g., Barclay & Wolff, 2012). Para auxiliar esta categorização recorreu-se ao quadro “Seis

tipos de contextos de trabalhos com exemplos” do manual “A minha História de Carreira” de

Savickas e Hartung (2012, p. 12). Tendo em conta as respostas e justificações dos

participantes, tal como acontece com os heróis, as mesmas revistas/séries/websites podem ser

categorizados com diferentes letras do código RIASEC.

Esta segunda questão que revela os interesses dos clientes (Taber et al., 2011;

Savickas, 2015), foi também codificada, de modo exploratório, de acordo com as áreas de

interesse do Inventário de Interesses de Kuder- Forma E, ou seja de acordo com dez

categorias: Ar livre, Mecânicos, Cálculo, Científicos, Persuasivos, Artísticos, Literários,

Musicais, Serviços Sociais e Burocráticos. De acordo com um estudo realizado por Mansão e

Yoshida (2006), encontram-se correlações significativas entre os interesses Ar livre e

Mecânicos e o tipo Realista, entre os interesses Científicos e o tipo Investigativo, entre os

interesses Artísticos e Musicais e o tipo Artístico. O mesmo estudo (Mansão & Yoshida,

2006) refere uma associação entre os interesses por Serviços Sociais e o tipo Social, os

interesses persuasivos e o tipo Empreendedor e, por fim, os interesses Literários,

Burocráticos e pelo Cálculo estão associados ao tipo Convencional. Assim, adotar um

sistema de codificação utilizando as áreas de interesses mencionadas no Inventário de Kuder

Forma-E, poderá permitir uma análise mais específica e detalhada dos diferentes interesses

que os indivíduos podem ter.

Relativamente à análise da questão dos lemas de vida, optou-se por recorrer, de modo

exploratório, ao sistema de virtudes e forças de caráter (Peterson & Seligman, 2004). Dado

que, é esperado que as virtudes e forças de caráter exerçam influência na história de vida dos

indivíduos e no lema que tem mais significado para si. Isto porque, as forças de caráter são

22

traços positivos que estão refletidos nos pensamentos, sentimentos e comportamentos (Park,

Peter, & Seligman, 2004) e que contribuem para um desenvolvimento saudável e uma

construção de vida plena (Colby & Damon, 1992).

De modo a garantir a fidelidade da análise de conteúdo, recorreu-se ao método de

acordo interjuízes (Amado, 2017). Para tal, garantiu-se que os juízes tinham um nível de

instrução igual ou superior ao investigador e que compreendiam os procedimentos

necessários para realizar a análise de conteúdo (Lima, 2013). Este acordo foi realizado por

dois juízes externos, que analisaram 10% do total de dados obtidos em relação às

características dos heróis de infância, às revistas, séries e websites e aos lemas de vida

mencionados pelos participantes. Após este processo e da discussão com os juízes em relação

às diferenças encontradas nos sistemas de codificação, calculou-se o grau de acordo

conforme a seguinte fórmula (Amado, 2017): “Taxa de fiabilidade= (Total de casos de

acordo/ casos de acordo + casos de desacordo) x 100”. A taxa de fiabilidade revelou valores

satisfatórios de acordo com a literatura (Amado, 2017), com um nível de concordância de

80%.

análise quantitativa.

Com o objetivo de analisar as diferenças entre as respostas dos participantes,

recorreu-se ao software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences)- versão 26.

Introduziram-se as categorias e subcategorias resultantes da análise qualitativa no

SPSS e transformaram-se os dados qualitativos em dados numéricos. Quando existia a

ocorrência da resposta em determinada categoria ou subcategoria colocou-se o valor 1,

quando a resposta estava ausente atribuiu-se o valor 0.

Em seguida, calcularam-se as estatísticas descritivas, procedendo às contagens de

cada uma das dimensões RIASEC nas características dos heróis de infância e nas

revistas/séries/websites preferidos. Além disso, contabilizaram-se as dez categorias das áreas

de interesse medidas pelo Inventário de Interesses de Kuder – Forma E em relação às

revistas/séries/websites preferidos; e, ainda, realizaram-se as contagens das Virtudes e FC em

relação aos heróis de infância e lemas de vida.

Calculou-se também a correlação ponto-bisserial (rpb), utilizada para medir a

correlação entre uma variável nominal dicotómica e uma variável numérica (Field, 2013).

Procedeu-se ainda ao cálculo do coeficiente de Phi, uma medida que permite

expressar a força de associação entre duas variáveis nominais (Comerlato, Ziegler, Capp, &

Nienov, 2020).

23

3. Resultados

Neste ponto do trabalho é possível encontrar a análise dos principais resultados

obtidos no presente estudo.

3.1. Análise das respostas à Entrevista de Construção de Carreira

A análise das respostas à Entrevista de Construção de Carreira teve como objetivo

compreender as áreas de interesse e temas de vida dos participantes.

Áreas de interesse

A primeira análise realizada explorou o tipo de revistas, séries e/ou websites referidos

pelos participantes. A tabela 1 apresenta alguns exemplos que ilustram as respostas dadas

pelos participantes às suas revistas, séries e/ou websites preferidos, de acordo com as áreas de

interesse medidas pelo Inventário de Interesses de Kuder- Forma E (Ar Livre, Mecânicos,

Cálculo, Científicos, Persuasivos, Artísticos, Literários, Musicais, Serviço Social e

Burocráticos). No corpo do quadro encontra-se uma breve descrição de cada área de

interesse, assim como exemplos de séries, programas de televisão, revistas e websites e

algumas das justificações dadas pelos participantes. De notar que a área de interesse

relacionada com o Cálculo não se encontra representada, uma vez que os participantes não

deram respostas associadas a esta dimensão.

Tabela 1

Categorização das respostas às revistas, séries, websites de acordo com as áreas de interesse

do Inventário de Kuder-Forma E

Áreas de interesse Descrição Exemplos de

Séries/Revistas/Websites

Algumas justificações dos

participantes

Ar Livre (A) Preferência por trabalho

ou atividade que se

realiza no exterior a

maior parte do tempo

Jogos de Andebol; A Bola “Mantém-me informado

sobre o desporto”

Mecânicos (B) Preferência em trabalhar

com máquinas e com

ferramentas

Property brothers (Irmãos

à obra); MacGyver;

Pesadelo na Cozinha

“Gosto de ver o trabalho

que realizam a remodelar

uma casa”; “É o facto de

aprender mais coisas sobre

cozinha”

24

A tabela 2 apresenta a análise das respostas dos participantes relativamente à

justificação das revistas, livros e/ou websites preferidos, por género (i.e., Masculino (M) e

Feminino (F), coluna da esquerda). A categorização teve por base as áreas de interesses do

Inventário de Interesses de Kuder- Forma E: Ar Livre, Mecânicos, Cálculo, Científicos,

Persuasivos, Artísticos, Literários, Musicais, Serviço Social e Burocráticos (primeira linha).

Nesta análise contabilizaram-se no total 50 unidades de registo, sendo 21 unidades de

registo (42%) de participantes do sexo masculino e 29 (58%) de participantes do sexo

feminino. De referir que não foram consideradas 12 respostas (8 respostas de participantes do

sexo masculino e 4 de participantes do sexo feminino) por diversas razões, nomeadamente,

Científicos (D) Interesse pela descoberta

ou compreensão da

natureza e pela solução

de problemas em relação

ao mundo físico

The Big Bang Theory; The

Good Doctor; National

Geographic; Riverdale;

Anatomia de Grey

“Porque gosto de saber

coisas”; “Posso ficar a par

do mundo científico”;

“Relacionado com a

medicina”

Persuasivos (E) Interesse por encontrar e

lidar com pessoas,

convencer os outros da

justiça de uma causa ou

promover vendas.

Peaky Blinders; Suits “Influência política,

manipulação”; “Sobre

advogados”

Artísticos (F) Preferência por fazer

trabalho criativo,

envolvendo desenho e

cor.

Sites de marcas de roupas;

Revista A Vaidosa

“É o facto de eu ser um

apaixonado por roupa”;

“Conhecer novas modas”

Literários (G) Interesses pela leitura e

escrita. (Considerou-se os

interesses ligados à

curiosidade intelectual,

filosofia, fantasia, ficção)

Noticiários; The Vampire

Diaries; American Horror

Story

“Gosto de estar a par do

que se passa no país e no

mundo”; “Tem fantasia,

vivem uma realidade

diferente”

Musicais (H) Demonstrados por idas a

concertos, tocar

instrumentos, cantar ou

ler sobre música

Youtube (música);

American Got Talent; The

Voice Portugal; Got Talent

Portugal

“Costumo ouvir música”;

“Gosto de programas de

competição e talento”

Serviço Social (I) Preferência por

atividades que envolvem

ajuda a pessoas

This is Us; Simpsons; Uma

Família Muito Moderna;

La Casa de Papel; Sex

Education; Telenovelas

(e.g., Jogo Duplo);

Friends; Reality Shows

(e.g., RuPaul’s Drag

Race); Programas do TLC;

Redes sociais (e.g.,

Instagram, Twitter);

“Ver como uma família vai

evoluindo e os obstáculos

que juntos enfrentam”;

“famílias diferentes que se

ligam entre si”; “O que me

atrai é o romance”; “A

história e gosto de

relacionar com problemas

da atualidade”; “Interação

entre pessoas”.

Burocráticos (J) Preferência por tarefas

que exigem precisão

Vídeos de gaming

“Gosto de ver os meus

youtubers preferidos a

jogar”

25

(1) questão não respondida; (2) justificação insuficiente para atribuir uma ou mais categorias

(e.g., “tem grande variedade para ver”, “para passar o tempo”); (3) a pesquisa pela temática

da série, revista ou website não permitiu atribuir nenhuma área de interesse.

Tabela 2

Codificação das revistas, séries e/ou websites consoante as áreas de Interesse medidas pelo

Inventário de Interesses de Kuder- Forma E

Partindo de uma análise global, as áreas de interesse com índice mais elevado de

respostas são os Serviços Sociais com 18 unidades de registo (36%); de seguida os interesses

Científicos com 9 unidades de registo (18%) e, ainda, os interesses Mecânicos e Artísticos

ambos com 5 unidades de registo (10%). Em contrapartida, as áreas de interesse com menor

número de registos são Ar Livre (8%), Literários e Persuasivos (ambos com 6%); Musicais

(4%) e Burocráticos (2%). A área de interesse Cálculo não registou nenhuma ocorrência.

A análise intragrupos (Tabela 2) revela que os participantes do sexo masculino

apresentam percentagem mais elevada de resposta nas áreas de interesse Ar Livre, Científicos

e Serviço Social (com 19,05%), em seguida, os Mecânicos (14,29%). As áreas de interesse

com menor percentagem de respostas são Persuasivos e Artísticos (9,52%) e, por fim, os

interesses Musicais e Burocráticos (4,76%). As áreas de interesses ligadas ao cálculo e aos

literários não registaram nenhuma resposta.

No que diz respeito aos participantes do sexo feminino, é possível verificar

percentagens mais elevadas nas áreas de interesse Serviços Sociais (48,28%); seguida dos

interesses Científicos (17,24%), interesses Artísticos e Literários (10,34%). As percentagens

menos elevadas são referentes aos interesses Mecânicos (6,90%), Persuasivos e Musicais

(3,45%). À semelhança dos participantes do sexo masculino, também os participantes do

sexo feminino não registaram ocorrência no interesse Cálculo e, além disso, nos interesses

relacionados com o Ar Livre e Burocráticos.

Ar livre Mecânicos Cálculo Científicos Persuasivos Artísticos Literários Musicais Serviço

Social Burocráticos

M

F

4

(19.05%)

0

3

(14.29%)

2

(6.90%)

0

0

4

(19.05%)

5

(17.24%)

2

(9.52%)

1

(3.45%)

2

(9.52%)

3

(10.34%)

0

3

(10.34%)

1

(4.76%)

1

(3.45%)

4

(19.05%)

14

(48.28%)

1

(4.76%)

0

26

Posteriormente, as respostas à mesma questão (i.e., “Que revistas, programas

televisivos, séries ou websites segues regularmente?”) foram categorizadas de acordo com as

dimensões do código RIASEC. A tabela 3 ilustra a análise das respostas dos participantes

relativamente às revistas, séries e/ou websites, de acordo com as dimensões RIASEC

(primeira linha), diferenciadas pelo género (primeira coluna). No Anexo C, é possível

encontrar um quadro com alguns exemplos de respostas, tendo em conta a codificação

RIASEC.

Tabela 3

Codificação das séries/revistas/websites consoante o modelo RIASEC

Desta análise resultaram 48 unidades de registo (100%). Assim sendo, verifica-se que

o tipo Social apresenta uma maior percentagem de ocorrências (39, 58%), seguido do tipo

Investigativo (25%) e do tipo Realista (16, 68%).

A análise por grupo, recorrendo à Tabela 3, revela que, no que concerne aos

participantes do sexo masculino, as respostas indicam interesses mais elevados do tipo

Realista (30%), de seguida tipo Social (25%) e tipo Investigativo (20%). De acordo com os

índices de respostas, os interesses menos elevados são do tipo Artístico (5%) e dos tipos

Empreendedor e Convencional, com 5% cada um.

Relativamente às respostas dos participantes do sexo feminino, observa-se um

destaque elevado do tipo Social, representando 50% das 28 unidades de registo deste grupo.

Ainda assim, o tipo Investigativo também apresenta um elevado índice de respostas

(28,57%). Os interesses menos elevados estão relacionados com o tipo Realista (2%) e com

os tipos Empreendedor e Convencional, pois não registaram qualquer ocorrência.

Relação entre os interesses inventariados e as áreas de interesse codificadas

Através do cálculo da correlação ponto-bisserial entre os resultados do Inventário de

Interesses de Kuder Forma- E e a codificação Kuder em relação às revistas/séries/websites

Masculino

Feminino

Realista

Investigativo

Artístico

Social

Empreendedor

Convencional

6

(30%)

2

(7,14%)

4

(20%)

8

(28,57%)

3

(15%)

4

(14,29%)

5

(25%)

14

(50%)

1

(5%)

0

1

(5%)

0

27

mencionados pelos participantes, segundo os critérios de Cohen (1988), foi possível

encontrar uma associação moderada positiva entre os interesses Científicos codificados e os

interesses inventariados Mecânicos (rp=.47; p <0.01), Científicos (rp=.41; p <0.01), Musicais

(rp=.37; p <0.01) e os Serviços Sociais (rp=.44; p <0.01); e, ainda, entre os interesses

Persuasivos codificados e os interesses inventariados Mecânicos (rp=.42; p <0.01). Além

disso, verificou-se uma associação moderada negativa entre os interesses Científicos

codificados e os interesses Burocráticos inventariados (rp=-.38; p <0.01); e entre os interesses

Serviços Sociais e os interesses Científicos inventariados (rp=-.37; p <0.01). A matriz de

correlações pode ser consultada no Anexo D (Tabela D1).

Recorrendo à mesma análise, mas com a codificação RIASEC, foi possível, por um

lado, verificar uma associação moderada negativa entre o tipo Social e os interesses

Mecânicos (rp =-.38; p <0.05) e os interesses Científicos (rp=-.35; p <0.05). Por outro lado,

foi possível encontrar uma associação moderada positiva entre o tipo Social e os interesses

relacionados com os Serviços Sociais (rp=.35; p <0.05); entre o tipo Empreendedor e os

interesses Mecânicos (rp=.36; p <0.05); e, também, entre o tipo Investigativo e os interesses

Musicais (rp=.44; p <0.01). A matriz de correlações pode ser consultada no Anexo D (Tabela

D2).

Verificou-se ainda a relação entre os interesses inventariados e a codificação RIASEC

em relação às características dos heróis de infância. A matriz de correlações pode ser

consultada no Anexo D (Tabela D3). Desta forma, segundo os critérios de Cohen (1988),

verificou-se uma correlação moderada negativa entre o tipo Realista e os interesses Literários

(rp=-.35; p <0.05); entre a dimensão Investigativa e os interesses Persuasivos (rp=-.33; p

<0.05) e os Musicais (rp=-.37; p <0.05); e, também, entre o tipo Social e os interesses

Científicos (rp=-.44; p <0.01).

No decorrer desta análise foi possível também encontrar correlações positivas

moderadas entre o tipo Investigativo e os interesses Científicos (rp=.33; p <0.05); assim

como, entre a dimensão Artística e os interesses Musicais (rp=.39; p <0.05) e os Serviços

Sociais (rp=.48; p <0.01).

Temas de vida

Esta análise explorou o tipo de heróis e as descrições dadas pelos participantes. A

tabela 4 apresenta o tipo de heróis de infância e/ou pessoas que admiram atualmente

28

escolhidos pelos participantes do sexo masculino e do sexo feminino. Esta categorização foi

baseada no esquema de análise proposto por Reis (2014), isto é, categorias Ficção e Não

Ficção (que se subdivide em Categorias Dentro do Campo Social e Fora do Campo Social).

De realçar que nesta categorização não foi possível incluir oito respostas (5 do sexo

masculino, 3 do sexo feminino) pelas mesmas razões já apresentadas em relação à

codificação das respostas relacionadas com as revistas, séries e websites preferidos.

Partindo de uma análise geral, é possível verificar que a maioria dos participantes,

tanto do sexo masculino como do sexo feminino, identificou heróis pertencentes à categoria

Não Ficção (86, 36%), por comparação com a categoria Ficção (13, 64%).

A tabela 4 mostra que, dentro da categoria Não Ficção, os participantes do sexo

masculino admiram mais heróis que se encontram fora do campo social (88,24%). As

participantes do sexo feminino também registam percentagens superiores na categoria Fora

do Campo Social (e.g., artistas populares, atletas, figuras científicas). No entanto, é de

salientar que no que diz respeito à categoria Dentro do Campo Social (e.g., professores,

familiares, amigos), os participantes do sexo feminino registam um valor mais elevado (33,

33%) em comparação com os participantes do sexo masculino (11, 76%).

Tabela 4

Análise da identificação dos heróis de infância

Total Ficção

Total Não Ficção

Não ficção - Dentro do Campo

Social

Não ficção - Fora do Campo

Social

Masculino Feminino

2

(10,53%)

17

(89,47%)

2

(11,76%)

15

(88,24%)

4

(16%)

21

(84%)

7

(33,33%)

14

(66, 67%)

As respostas dadas sobre as características dos heróis e/ou pessoas que admiram

atualmente foram categorizadas de acordo com o código das dimensões RIASEC. A tabela 5

ilustra algumas das respostas dos participantes. O tipo Convencional não se encontra

representado, pois não registou qualquer ocorrência.

29

Tabela 5

Categorização dos heróis de infância de acordo com as dimensões RIASEC

Heróis de Infância Justificações dos participantes

R Messi; Eusébio; Cristiano

Ronaldo

“Bom jogador”; “Grande figura nacional em termos de

desporto”; “Possui a arte de jogar à bola”

I Charles Darwin; Stephen

Hawking

“Muito inteligente e adorava animais. Houve um avanço

brutal na biologia e no conhecimento sobre a vida”; “alcances

científicos, lugares mais prestigiados nas ciências”

A Slash; Ed Sheeran; Gustav

Dudamel; Hannah Montana

“Gosto dele pelo que faz. É o meu guitarrista preferido.”;

“Muito bom músico”; “Um maestro ótimo e também

violinista”; “Cantava bem.”

S Avó; Messi; Cristiano Ronaldo;

Professor; Churchill; Super-

heróis; Barack Obama; irmão;

Marisa Liz; Dita Von Teese;

Emma Watson; Princesa Diana;

melhores amigos; Louis

Tomlinson

“Carinhosa, simpática, compreensiva”; “Boa pessoa”; “Muito

humilde. Ajuda quem mais precisa”; “Um grande amigo”;

“Defendeu totalmente as pessoas”; “Protegem sempre as

pessoas”; “Generoso”; “Ajuda sempre que preciso”;

“Preocupa-se com os outros”; “Mostra que ser diferente e

excêntrica é bom e que devemos ser bons para todos”; “Uma

ativista que luta pelos direitos femininos, luta para o mundo

seja melhor”; “Justo e amigo”; “Sempre a apoiar os outros”

E

Cristiano Ronaldo; Steve

Mcgarret (Hawai- Força

Especial); Ed Sheeran

“Determinado, trabalhador, nunca desiste”; “Corajoso, lidera

uma equipa”; “Sem fama, sem muito dinheiro, trabalhou

muito para chegar onde chegou”

C

____________

______________

Nota. O mesmo herói não pertence necessariamente apenas a um tipo RIASEC. De acordo com as

características e justificações pode ser codificado com diferentes tipos.

A tabela 6 apresenta a análise das respostas dos participantes relativamente à

justificação dos participantes, de acordo com as dimensões RIASEC (primeira linha) e por

género (coluna esquerda).

30

Tabela 6

Análise das características dos heróis de infância de acordo com o modelo RIASEC

Realizando uma análise global, com 47 unidades de registo no total, verifica-se que os

índices de resposta dos participantes são mais elevados no tipo Social (55,32%), seguido do

tipo Empreendedor (17, 02%), tipo Artístico (12,77%), tipo Realista (10,64%) e, por último,

o tipo Investigativo (4,25%).

A análise intragrupos (Tabela 6) revela que, nos participantes do sexo masculino, a

seguir ao tipo Social (36, 36%), o que se salienta é o tipo Empreendedor (27,27%) e o

Realista (22,73%).

Relativamente aos participantes do sexo feminino, o tipo Social (72%) destaca-se dos

restantes tipos. Ainda assim, o tipo Artístico regista 20%, seguido do tipo Empreendedor

(8%). Em relação aos tipos Convencional, Realista e Investigativo não se encontrou nenhuma

unidade registo.

Adicionalmente, procedeu-se também à codificação das respostas segundo as

categorias propostas por Park et al. (2004): as Virtudes e forças de Caráter. Na figura 1

apresenta-se a análise das características dos heróis de infância e/ou pessoas que admiram

atualmente dos participantes de ambos os sexos, de acordo com as virtudes codificadas. No

lado esquerdo da figura 1 encontram-se as percentagens das unidades de registo das seis

virtudes. No anexo A (Quadro A1), é possível consultar alguns exemplos de respostas dadas

pelos participantes de acordo com o sistema de codificação de Virtudes e FC.

Partindo de uma análise geral, é possível observar que a virtude mais valorizada nas

características dos heróis de infância e/ou pessoas que admiram atualmente é a Coragem

(28,89%). Em seguida, a virtude mais valorizada é a Humanidade (26,68%) e a

Transcendência (22,22%). As virtudes menos valorizadas tanto pelos indivíduos do sexo

masculino como feminino foram a Justiça (13,33%), a Ponderação Equilibrada (4,44%) e a

Sabedoria e Conhecimento (4,44%).

Masculino

Feminino

R I A S E C

5

(22.73%)

0

2

(9.09%)

0

1

(4.55%)

5

(20%)

8

(36.36%)

18

(72%)

6

(27.27%)

2

(8%)

0

0

31

Figura 1. Codificação das características dos heróis de infância de acordo com o sistema de

codificação Virtudes nos participantes do sexo masculino e feminino.

No que diz respeito à análise intragrupos (Figura 1), pode verificar-se nos jovens do

sexo masculino, que as Virtudes que valorizam por ordem decrescente são a Coragem

(47,37%), Humanidade (26,32%), Transcendência (15,79%), Ponderação Equilibrada

(5,26%) e Sabedoria e Conhecimento (5,26%). A virtude Justiça não regista qualquer

ocorrência.

As Virtudes mais valorizadas pelo sexo feminino são a Humanidade (26,68%),

Transcendência (26,92%), Justiça (23,08%), Coragem (15,38%), Sabedoria e Conhecimento

(3,85%) e Ponderação Equilibrada (3,85%).

Como referido na secção do enquadramento teórico, as seis Virtudes decompõem-se

em 24 Forças de Caráter (FC). Deste modo, a figura 2 ilustra uma análise mais profunda e

discriminada de cada umas das virtudes e respetivas FC, relativamente às características dos

heróis de infância e/ou pessoas que admiram atualmente. De referir que as FC Curiosidade,

Discernimento, Perspetivar, Entusiasmo, Inteligência Social, Trabalho em equipa, Perdão,

Prudência, Autorregulação, Gratidão, Esperança e Espiritualidade não emergiram da análise

das respostas dos jovens, como tal não se encontram mencionadas nos resultados.

Além disso, não foram consideradas 11 respostas no total (5 do sexo masculino, 6 do

sexo feminino), dado que não foi possível categorizar de acordo com o presente código

utilizado.

05

101520253035404550

Sabedoria eConhecimento

Coragem Humanidade Justiça PonderaçãoEquilibrada

Masculino Feminino

32

Figura 2. Análise das unidades de registo das forças de caráter dos participantes nas

características dos heróis de infância

A figura 2 mostra que as forças de caráter que se destacam no sexo masculino são a

Bravura (7 unidades de registo), a Perseverança (6) e a Bondade (3).

No que diz respeito ao sexo feminino, as FC que se destacam são a Equidade (5

unidades de registo), a Apreciação da Beleza e Excelência (5) e Amor (4). De referir que a

FC Equidade só ocorre nos participantes do sexo feminino.

Tendo em conta as virtudes analisadas anteriormente, a FC Bravura destaca-se na

virtude Coragem; as FC Amor e Bondade destacam-se de igual modo na virtude

Humanidade. Na virtude Justiça, a FC equidade apresenta um resultado mais elevado e na

virtude Transcendência destaca-se a FC Apreciação da Beleza e Excelência. De igual forma,

as FC Gostar de Aprender e Criatividade apresentam igual resultado na virtude Sabedoria e

Conhecimento. E, por último, a FC Humildade destaca-se na virtude Ponderação Equilibrada.

Este sistema de codificação de virtudes e forças de caráter foi também utilizado, por

opção do investigador, para analisar a questão relativa aos lemas de vida (i.e., “Qual é o teu

lema preferido? O que é que isso significa para ti?”). No Anexo A (Quadro A2), encontra-se

um quadro com exemplos ilustrativos dos lemas de vida referidos pelos participantes e a

respetiva codificação.

Para a presente análise não foram consideradas 5 respostas do sexo masculino e 7

respostas do sexo feminino.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Cri

ativ

idad

e

Gost

ar d

e A

pre

nder

Bra

vura

Entu

sias

mo

Per

sev

eran

ça

Am

or

Bo

ndad

e

Equid

ade

Lid

eran

ça

Hum

ild

ade

Apre

ciaç

ão d

a B

elez

a

Hum

or

Sabedoria e

Conhecimento

Coragem Humanidade Justiça Ponderação

Equilibrada

Transcendência

Masculino Feminino

33

Deste modo, a tabela 7 representa a análise aos lemas de vida referidos pelos

participantes de acordo com as virtudes codificadas. A coluna da esquerda refere-se ao grupo

de participantes (sexo masculino e feminino) e a primeira linha representa as seis virtudes.

Tabela 7

Codificação dos lemas de vida de acordo com o sistema de codificação Virtudes nos

participantes do sexo masculino e feminino

Através de uma análise geral, verifica-se que a virtude mais valorizada pelos

participantes nos seus lemas de vida é a Coragem (47, 22%). Em seguida, as virtudes mais

valorizadas são a Ponderação Equilibrada (13,89%) e a Sabedoria e Conhecimento (13,89%).

Desta forma, verifica-se que as virtudes menos valorizadas, por ordem crescente, são a

Humanidade (5,56%), Transcendência (8,33%) e Justiça (11,11%).

No que diz respeito à análise intragrupal (Tabela 7), pode verificar-se nos jovens do

sexo masculino, que as virtudes que mais valorizam são a Coragem (52,94%) e a Ponderação

Equilibrada (23,54%).

Quanto aos participantes do sexo feminino, também a virtude Coragem (42,10%) é a

mais valorizada, seguida da Sabedoria e Conhecimento (21,06%).

A figura 3 ilustra a codificação de cada uma das Virtudes e respetivas FC,

relativamente aos lemas de vida identificados pelos participantes.

Analisando a Figura 3, as FC que se destacam no sexo masculino são a Bravura (5

unidades de registo), Entusiasmo (3), Perseverança (3) e Prudência (3). A FC Prudência só

ocorre nos indivíduos do sexo masculino.

As FC que se destacam no sexo feminino são Perspetivar (4 unidades de registo),

Bravura (4), Entusiasmo (4) e a Equidade (3). A FC Apreciação de Beleza e da Excelência, a

FC Esperança e a FC Espiritualidade registam unicamente ocorrências nas respostas dos

participantes do sexo feminino.

Masculino

Feminino

Sabedoria e

conhecimento

Coragem Humanidade Justiça Ponderação

Equilibrada

Transcendência

1

(5.88%)

4

(21.06%)

9

(52.94%)

8

(42.10%)

2

(11.76%)

0

1

(5.88%)

3

(15.79%)

4

(23.54%)

1

(5.26%)

0

3

(15.79%)

34

Figura 3. Análise das unidades de registo das forças de caráter dos participantes nos lemas de

vida

Analisando a Figura 3, as FC que se destacam no sexo masculino são a Bravura (5

unidades de registo), Entusiasmo (3), Perseverança (3) e Prudência (3). A FC Prudência só

ocorre nos indivíduos do sexo masculino.

As FC que se destacam no sexo feminino são Perspetivar (4 unidades de registo),

Bravura (4), Entusiasmo (4) e a Equidade (3). A FC Apreciação de Beleza e da Excelência, a

FC Esperança e a FC Espiritualidade registam unicamente ocorrências nas respostas dos

participantes do sexo feminino.

Associação entre os sistemas de codificação (RIASEC e Virtudes)

Como referido anteriormente na secção do Método, as respostas dadas à questão

relacionada com os heróis de infância foram categorizadas de acordo com dois sistemas de

codificação: RIASEC e Virtudes. Através do cálculo do coeficiente Phi, não foi possível

verificar associações fortes entre as variáveis, i.e., com valores superiores a 0,5 (Cohen,

1988). Contudo, verificou-se uma associação moderada entre a dimensão Realista e a virtude

Coragem (.44); associação fraca negativa entre o tipo Realista e as Virtudes Humanidade

(.22) e a Virtude Justiça (-.20).

Ao nível do tipo Investigativo obteve-se uma associação considerada fraca com a

virtude Coragem (.26) e uma associação fraca negativa com a virtude Justiça (.20).

0

1

2

3

4

5

6

Per

spet

ivar

Gost

ar d

e A

pre

nder

Bra

vura

Entu

sias

mo

Per

sev

eran

ça

Hon

esti

dad

e

Am

or

Equid

ade

Hum

ild

ade

Pru

dên

cia

Apre

ciaç

ão d

a B

elez

a

Esp

eran

ça

Esp

irit

ual

idad

e

Sabedoria e

Conhecimento

Coragem Humanidade Justiça Ponderação Equilibrada Transcendência

Masculino Feminino

35

No tipo Artístico verificou-se associações fracas com a Virtude Sabedoria e

Conhecimento (.20) e associações fracas com as Virtudes Coragem (-.17) e Justiça (.18).

Ainda no decorrer desta análise foi possível verificar associações fracas negativas

entre o tipo Empreendedor e as virtudes Sabedoria e Conhecimento (-.13) e a Transcendência

(-.13). No que se refere à dimensão Social encontrou-se uma associação moderada negativa

com a Virtude Coragem (-.30) e uma associação fraca com a Virtude Justiça (.18).

4. Discussão

Tendo por base os objetivos e as questões de investigação definidas para o presente

estudo, nesta secção discutem-se os principais resultados obtidos e as respetivas conclusões.

Além disso, apresentam-se as limitações e implicações do estudo e uma nota conclusiva.

4.1. Áreas de interesse e diferenças de género

A personalidade vocacional refere-se às competências, necessidades, valores e

interesses dos indivíduos (Savickas, 2005). Concretamente, os interesses vocacionais

desempenham um importante papel na identidade dos adolescentes e na exploração de

carreira (Barros, 2019). Os interesses refletem uma interação entre o indivíduo e o ambiente

e, nesta perspetiva, devem ser vistos como processos dinâmicos e não como características

estáveis (Savickas, 2010).

Segundo alguns autores (Savickas, 2015; Taber et al., 2011), a questão referente às

revistas, séries e websites preferidos, remete para as atividades e ambientes que interessam e

que mais se adequam ao estilo do cliente. A análise das respostas dadas a esta questão mostra

que as categorias do tipo Social e do tipo Investigativo são as dimensões que mais se

destacam em ambos os sexos. Num segundo nível, surgem os interesses relacionados com o

tipo Realista, seguidos do tipo Artístico e, por fim, os tipos Empreendedor e Convencional.

Especificamente, no que diz respeito ao sexo masculino, a maior incidência de

respostas ocorre no tipo Realista, seguido do Tipo Social e do Tipo Investigativo

(correspondente às áreas de interesse Ar Livre, Serviço Social e Científicos na categorização

Kuder). No sexo feminino as respostas mais elevadas são do tipo Social e Investigativo

(correspondente às áreas de interesse Serviços Sociais e Científicos). Os resultados obtidos

vão ao encontro dos estudos realizados em que o tipo Realista é o mais saliente nos interesses

dos jovens do sexo masculino e o tipo Social nos participantes do sexo feminino (e.g.,

36

Hirschi & Läge, 2007; Proyer e Häusler, 2007; Teixeira et al., 2010). É de salientar que existe

um predomínio do tipo Social em ambos os sexos (ainda que mais elevado no sexo

feminino). Uma possível explicação poderá estar relacionada com o desenvolvimento durante

a adolescência das competências de relacionamento interpessoal (Sroufe, Cooper, & DeHart,

1996), nomeadamente entre os pares e, ainda, a existência de um compromisso com

atividades sociais (Gilman, 2001). As escolhas dos participantes ilustram ambientes sociais e

rodeados de amigos, nomeadamente nas séries (e.g., La Casa de Papel; Friends) e nas redes

sociais (e.g., Instagram, Twitter).

Ainda assim, um resultado surpreendente refere-se ao facto do tipo Investigativo

surgir como uma das áreas de interesses mais elevadas no sexo feminino, ao contrário dos

resultados obtidos com dados quantitativos noutras investigações sobre os interesses (e.g.,

Teixeira et al., 2010). Este resultado poderá estar relacionado com a crescente procura dos

cursos científicos, nas últimas décadas, por parte do sexo feminino (Su, Rounds, &

Armstrong, 2009). Além disso, na adolescência aumenta a capacidade de raciocínio,

pensamento crítico e a curiosidade (Sroufe et al., 1996), o que poderá levar a que os jovens,

tanto do sexo masculino como do sexo feminino, revelem interesse por contextos que

envolvam a pesquisa, a exploração e a investigação (Savickas & Hartung, 2012). As

respostas dadas pelos participantes ilustram ambientes científicos e de descoberta (e.g., The

Big Bang Theory).

4.2. Interesses inventariados e interesses codificados

Analisando a relação entre os resultados obtidos no Inventário de Interesses de Kuder

Forma-E e as respostas referentes às revistas, séries e websites preferidos, de acordo com a

codificação Kuder, verificaram-se resultados que vão ao encontro do esperado, tais como,

uma associação moderada positiva entre os interesses Científicos inventariados e os

interesses Científicos codificados e uma associação moderada negativa entre os interesses

Científicos codificados e os interesses Burocráticos inventariados. Concretamente, é de

esperar que pessoas com interesses Científicos, isto é, com interesses pela descoberta ou

compreensão da natureza e pela solução dos problemas, especialmente em relação ao mundo

físico, evitem áreas de interesses que envolvam tarefas que exijam mais rotina e precisão

(i.e., interesses Burocráticos).

No decorrer desta análise também surgiram resultados que não vão ao encontro do

esperado, como uma associação positiva moderada entre os interesses Científicos codificados

e interesses Mecânicos inventariados e, também, entre os interesses Persuasivos codificados e

37

os interesses Mecânicos inventariados. Isto porque, os interesses mecânicos indicam

preferência por manusear máquinas e atividades físicas e, é de esperar que sejam evitadas

áreas relacionadas com interesses científicos, pois envolve ideias abstratas, resolução de

problemas intelectuais (Nauta, 2013), assim como, áreas de interesses Persuasivos, uma vez

que envolve atividades onde há interação com pessoas, de persuasão, liderança e gestão

(Nauta, 2013). Uma possível explicação para estes resultados inesperados poderá estar

relacionada com o processo de codificação das respostas dadas às revistas, séries e websites

preferidos, uma vez que, a título de exemplo, alguns participantes elegeram a série MacGyver

como a sua favorita e, durante o processo de codificação optou-se por cotar com interesses

Mecânicos e Científicos.

A mesma análise foi realizada, mas desta feita com a codificação RIASEC, onde foi

possível verificar uma associação moderada positiva entre o tipo Social e a escala que avalia

os interesses relacionados com os Serviços Sociais. Ou seja, tal como esperado. os

participantes que no Inventário de Interesses apresentaram resultados mais elevados na

referida escala, nas questões da Entrevista de Construção de Carreira referentes às áreas de

interesses, as suas respostas também espelham contextos educativos e de ajuda, onde o

cuidado, o apoio e as relações com os outros estejam presentes (Savickas & Hartung, 2012).

Além disso, foram encontradas associações moderadas negativas entre o tipo Social e

as escalas referentes aos interesses Mecânicos e Científicos. Tal pode acontecer, uma vez que

os indivíduos em contextos sociais privilegiam trabalhos que envolvam a comunicação e

ajuda a pessoas (Holland, 1996). Logo, é expectável que evitem ambientes onde prevalecem

atividades concretas, que envolvam o manuseamento de máquinas (i.e, interesses mecânicos)

e contextos científicos e de investigações com atividades minuciosas e intelectuais, onde se

utiliza e gera conhecimento (i.e., interesses científicos) (Holland, 1996).

Outras das associações moderadas positivas encontradas foram entre o Tipo

Empreendedor e os interesses Mecânicos e entre o Tipo Investigativo e os interesses

Musicais. Apesar da literatura existente apontar para uma relação pouco significativa entre as

dimensões RIASEC e as áreas de interesse mencionadas (Mansão & Yoshida, 2006), no que

concerne à correlação encontrada entre o tipo Investigativo e aos interesses Musicais

(também encontrada entre os interesses inventariados científicos codificados e os interesses

musicais inventariados), esta poderá ser explicada por características partilhadas por estes

dois tipos de interesses, como por exemplo, a tendência para lidar com ideias (Lent et al.,

2006). Outra possível explicação poderá estar relacionada com as escolhas de revistas, séries

38

e websites estar associada também a interesses por atividades de lazer e não apenas a

interesses vocacionais (e.g., Savickas, 2015), especialmente nesta faixa etária.

Além disso, seria expectável que houvesse uma correlação significativa entre o tipo

Empreendedor e os interesses Persuasivos (Mansão & Yoshida, 2006), pois pertencem a

contextos em que as pessoas utilizam o poder, a estratégia e a persuasão para lidar com

questões relacionadas com negócios e com política e para alcançar os seus objetivos

(Holland, 1986; Savickas & Hartung, 2012). Tal pode não ter ocorrido, dado que para no tipo

Empreendedor só se contabilizou uma unidade de registo.

Adicionalmente, de modo exploratório, optou-se ainda por verificar a relação entre os

interesses inventariados e a codificação RIASEC em relação às características dos heróis de

infância, dado que a inferência de interesses com base nas características dos heróis poderá

ser um elemento a considerar para a análise de conteúdo de narrativas. Os resultados apontam

para uma correlação moderada positiva entre o tipo Artístico e os interesses Musicais, o que é

expectável, pois no sistema de codificação RIASEC, os interesses musicais estão englobados

no Tipo Artístico, indicando uma preferência pela arte, música e o teatro (Nauta, 2013).

Neste seguimento, ainda foi possível encontrar uma correlação moderada positiva

entre o tipo Artístico e os Serviços Sociais, que poderá ser explicada pelo facto de nestas duas

áreas de interesse existir preferência por trabalhar com pessoas (Nauta, 2013). Esta análise

também mostrou uma correlação positiva moderada entre o tipo Investigativo e os interesses

Científicos, que vai ao encontro de resultados obtidos noutras investigações (e.g., Mansão &

Yoshida, 2006)

No que diz respeito a correlações moderadas negativas ocorreram entre o tipo Realista

e os interesses Literários; entre a dimensão Investigativa e os interesses Persuasivos e os

Musicais; e, também, entre o tipo Social e os interesses Científicos. De destacar que, ao

contrário dos resultados obtidos na relação dos interesses inventariados com as

categorizações em relação as revistas, o tipo Investigativo apresenta uma correlação negativa

com os interesses Musicais. Neste sentido, serão necessárias mais investigações para explorar

as associações encontradas e verificar se existe correlações significativas em relação às

dimensões RIASEC e áreas de interesse do Inventário de Kuder Forma-E que não foram

mencionadas.

39

4.3. Temas de vida e diferenças de género

Os temas de vida refletem as necessidades e as preocupações pessoais dos indivíduos,

sendo revelados através das histórias que contam da sua carreira (Savickas, 2001). Através

destas narrativas é possível identificar os temas que são utilizados para tomar decisões

significativas ao longo da carreira (Savickas, 2005).

A questão referente aos heróis de infância corresponde ao que os indivíduos admiram

e gostariam de ser e, também fornece pistas sobre como o indivíduo se perceciona, os valores

que expressa e soluções para o problema central do indivíduo (Taber et al., 2011).

Para analisar os temas de vida recorreu-se aos sistemas de codificação RIASEC e de

Virtudes e FC, tal como no estudo conduzido por Santos (2015). A análise das respostas

dadas a esta questão revela que a dimensão Social é a que mais se destaca em ambos os

sexos. Este resultado pode ser devido à importância das relações sociais nesta faixa etária.

As características e os temas de vida que se destacam nos participantes do sexo

masculino são o altruísmo, a compreensão, a proteção, a generosidade, características que

estão associadas ao tipo de personalidade Social (Holland, 1986; Nauta, 2013). Outras

características que surgiram desta análise, foram a determinação, a força de vontade, foco nos

objetivos, liderança que se enquadrou no tipo de personalidade Empreendedor. A partir da

análise das virtudes e FC surgiram temas de vida como a coragem (i.e., bravura e

perseverança) e a humanidade (i.e., bondade), ponderação equilibrada (i.e., humildade);

transcendência (i.e., apreciação da beleza e da excelência e humor). Os participantes

identificaram na sua maioria heróis pertencentes à categoria Não Ficção, mais concretamente,

pessoas que não pertencem ao seu campo social (e.g., atletas, científicos).

Em relação aos participantes do sexo feminino e às características e temas de vida,

destacam-se a bondade, a amizade, preocupação com os outros, honestidade, altruísmo,

justiça social (e.g., “igualdade de direitos entre homens e mulheres”), comunicação, que vai

ao encontro da personalidade do tipo Social (Holland, 1986; Nauta, 2013). Apesar do tipo

Social apresentar um elevado destaque (mesmo comparativamente com o sexo masculino),

características do tipo Artístico também foram salientadas, tais como, o talento, a

originalidade e a criatividade (Nauta, 2013). A análise das respostas através das virtudes e FC

revelaram temas de vida como humanidade (i.e., amor e bondade), transcendência (i.e.,

apreciação da beleza e excelência); justiça (i.e., equidade). De referir que o tema de vida

ligado à justiça e a equidade só ocorreu nos participantes do sexo feminino, sendo diversas

vezes realçado, e fazendo referência a pessoas que lutam pela igualdade dos direitos entre

40

homens e mulheres. À semelhança dos participantes do sexo masculino, as jovens

identificam-se com heróis pertencentes à categoria Não Ficção, nomeadamente a pessoas que

não pertencem ao campo social.

É de salientar que os temas de vida encontrados através das FC e Virtudes (e.g.,

bondade, amor, justiça) estão relacionadas com resultados positivos em diversos aspetos ao

longo da vida, nomeadamente, o sucesso escolar, tolerância e altruísmo (Park, 2004) e, como

tal, devem ser estimuladas. No que diz respeito à FC apreciação da beleza e excelência, está

presente nas respostas de ambos os sexos, contudo a evidência mostra que esta é menos

comum nas crianças e nos adolescentes, por ser necessária uma maior maturação cognitiva

(Park & Peterson, 2006). Uma possível explicação passa pela opção de codificar com esta FC

as respostas que faziam referência à beleza, relativa a aspetos físicos da pessoa, ao invés de

aspetos mais abstratos como o encanto e a elevação perante a arte, as ciências (Park,

Peterson, & Seligman, 2004).

Em relação às virtudes e aos tipos de personalidade vocacional, os resultados do

presente estudo indicam uma associação moderada positiva entre a dimensão Realista e a

virtude Coragem; e uma associação negativa (embora fraca) com a virtude humanidade, tal

como no estudo realizado por Santos (2015). Foi possível ainda encontrar, relativamente, à

dimensão social, uma associação moderada negativa com a Virtude Coragem e uma

associação fraca com a Virtude Justiça. Todas as restantes associações foram consideradas

baixas e não foram encontrados resultados na literatura que suportassem estes dados.

4.5. Lemas de vida e as virtudes

A questão em relação aos lemas de vida providencia um título à história de vida e

representa o conselho que o cliente tem dado a si mesmo, para viver a vida com maior

satisfação (Savickas, 2015; Taber et al., 2011). As respostas dadas a esta questão mostram

que a virtude mais valorizada pelos participantes é a Coragem, seguida da Ponderação

Equilibrada e a Sabedoria e Conhecimento. Uma possível explicação para a virtude Coragem

ser a mais saliente nos lemas de vida de ambos os sexos poderá ser a fase em que se

encontram (adolescência), em que os jovens tendem a encarar a vida com mais energia, com

entusiasmo e mostram ser resilientes perante os desafios (i.e., FC Entusiasmo, Perseverança,

Bravura) (Park et al., 2004). Tal pode ser demonstrado por alguns exemplos de lemas de vida

referidos pelos participantes: “Faz metas e objetivos”; “Continuar sempre em frente e

41

ultrapassar os obstáculos”; Para não estar sempre a pensar nas consequências, simplesmente

fazer”.

De referir que nas respostas dos participantes do sexo masculino destaca-se também a

FC Prudência (virtude Ponderação Equilibrada), que poderá estar relacionada com a tomada

de decisão vocacional, já que a transição para o ensino secundário se revela um período

complexo para os adolescentes pelas diversas mudanças que estão inerentes (e.g., ambiente

educativo, exigências académicas, desafios sociais) (Shoshani & Slone, 2013). Como tal, os

jovens revelam cuidado perante as escolhas que têm de fazer (Park et al., 2004).

Relativamente aos participantes do sexo feminino destaca-se a FC Perspetivar

(virtude Sabedoria e Conhecimento), que revela capacidade de dar conselhos aos outros e de

olhar para o mundo de forma que faça sentido ao próprio indivíduo e aos que o rodeiam (Park

et al., 2004), facilitando o sucesso académico (Park & Peterson, 2008).

4.6. Limitações e implicações do estudo

O presente estudo permitiu observar as potencialidades das questões da Entrevista de

Construção de Carreira para a análise das áreas de interesse e temas de vida dos jovens do

9ºano, no entanto teve algumas limitações que importa considerar. De uma forma geral, a

principal limitação está relacionada com o tamanho da amostra, que ao ser reduzida, dificulta

a generalização dos resultados e não permite retirar conclusões seguras sobre as correlações

entre variáveis. Desta forma, são necessários mais estudos com um maior número de

participantes para confirmar ou infirmar as associações agora obtidas.

Apesar de ser possível codificar os temas de vida e as áreas de interesse, existiram

algumas limitações no processo de categorização. Mais especificamente, umas das

dificuldades prendeu-se com o facto de nem sempre as respostas terem justificações ou de

serem pouco ricas em termos de conteúdo e não permitirem a codificação; e/ou os heróis,

revistas, séries, websites mencionados pelos participantes não se encontravam em categorias

pré-existentes e, mesmo pela pesquisa da temática gerou dúvidas, como tal optou-se por não

codificar. Nestes casos específicos, a ECC torna-se mais eficaz em relação ao questionário,

pois permite esclarecer com o cliente as suas escolhas e temas de vida no decorrer da

entrevista. No entanto, as questões podem ser reformuladas e adaptadas a população-alvo, na

tentativa de obter justificações mais esclarecedoras e que permitam uma codificação mais

segura (e.g., “O que mais gostas nesse herói?”; “Porque é que importante para ti?”; “O que

mais gostas nessa série?”).

42

Uma das principais inovações desta investigação foi a análise da questão das revistas,

séries e websites (Taber et al., 2011) com as dez áreas de interesse provenientes das escalas

do Inventário de Interesses de Kuder - Forma E, criando desta forma um novo sistema de

codificação, que poderá ser aplicado em processos de aconselhamento vocacional.

Posteriormente, a análise das mesmas respostas de acordo com as dimensões RIASEC

(Holland, 1997), permitiu uma atualização do conteúdo presente em cada um dos tipos (i.e.,

revistas, séries e websites mais atuais).

Além disso, procedeu-se à correlação entre os interesses inventariados e os interesses

codificados (através do sistema de codificação Kuder e RIASEC). Apesar de se terem

encontrado algumas correlações significativas, será importante realizar mais estudos para

comprovar e sustentar os resultados. Uma das limitações encontradas neste ponto teve que

ver com a falta de registo dos resultados obtidos por alguns participantes no Inventário de

Interesses de Kuder - Forma E, assim como, respostas não codificadas na questão da ECC, o

que fez reduzir substancialmente a amostra para realizar esta análise. Em futuras

investigações, sugere-se também a utilização do Inventário de Interesses de Exploração Auto-

dirigida (Self-Directed Search, SDS) (Holland, 1997) para estabelecer a comparação com os

resultados da análise qualitativa.

Outra inovação deste estudo é referente à análise dos lemas de vida dos participantes

de acordo com as Virtudes e Forças de Caráter (Peterson & Seligman, 2004). Seria

importante, em investigações futuras, proceder à alteração desta questão no questionário

utilizado, solicitando aos jovens, exemplos do seu quotidiano onde utilizam este lema

(Savickas, 1998). Isto porque, mais do que referir um lema, o mais relevante é o significado

que tem para o cliente e como é que está inserido na sua vida (Savickas, 1998).

No que concerne à análise da questão dos heróis de infância de acordo com as

dimensões RIASEC e com as virtudes e forças de caráter (Peterson & Seligman, 2004) tem

implicações práticas, pois permite trabalhar com os clientes as suas “forças”, facilitando o

processo de tomada de decisão (Proyer et al., 2012).

Considera-se pertinente, em investigações futuras, a integração de outras questões da

ECC, nomeadamente, acerca dos filmes e livros preferidos, disciplinas preferidas e atividades

dos tempos livres. Assim, permite uma abordagem mais holística, que irá ajudar o cliente a

desenvolver uma imagem de si mais completa (Taber et al., 2011), tornando o processo de

aconselhamento mais útil e com melhores resultados (Savickas, 1996).

43

5. Conclusão

No atual contexto educativo e de trabalho, numa perspetiva de aprendizagem e

desenvolvimento ao longo da vida, onde se assiste a uma maior imprevisibilidade e incertezas

em relação ao futuro, os indivíduos tem de fazer mais escolhas vocacionais ao longo da

carreira (Barros, 2019). Nesse sentido, os indivíduos devem tomar controlo sobre a

construção da sua carreira (Savickas et al., 2009). A Teoria de Construção de Carreira

(Savickas, 2005; 2013) responde a estes desafios sociais, pois promove práticas que dão

ênfase à construção de significados, que apoiam o indivíduo na compreensão da própria

singularidade, facilitando o desenvolvimento de planos da construção de carreira (Cardoso et

al., 2018). Nesta sequência, uma das técnicas mais utilizadas é a Entrevista de Construção de

Carreira.

O presente estudo teve como objetivos explorar as potencialidades da ECC em

formato questionário, através da análise das áreas de interesse e temas de vida dos jovens do

9º ano. Além disso, pretendeu-se verificar a relação entre os interesses codificados e os

interesses inventariados.

Os resultados obtidos em relação às áreas de interesse mostram que os participantes

do sexo masculino registam maior incidência de respostas nos Tipos Realista, Social e

Investigativo. No que se refere aos participantes do sexo feminino, as áreas de interesse mais

elevadas são do tipo Social e Investigativo. Estes resultados vão ao encontro dos estudos

realizados em que o tipo Realista é o mais saliente nos interesses dos jovens do sexo

masculino e o tipo Social nos participantes do sexo feminino (e.g., Hirschi & Läge, 2007;

Proyer e Häusler, 2007; Teixeira et al., 2010). No entanto, é de salientar que existe um

predomínio do tipo Social em ambos os sexos.

No que concerne à relação entre os interesses codificados em relação às revistas,

séries e websites mencionados pelos participantes e os interesses inventariados, foi possível

encontrar uma associação moderada positiva entre o tipo Social e a escala que avalia os

interesses relacionados com os Serviços Sociais e associações moderadas negativas entre o

tipo Social e as escalas referentes aos interesses Mecânicos e Científicos. Através da análise

da relação entre a codificação das características dos heróis de infância e os interesses

inventariados foi possível verificar uma correlação moderada negativa entre o tipo Realista e

os interesses Literários; entre a dimensão Investigativa e os interesses Persuasivos e os

Musicais; e, também, entre o tipo Social e os interesses Científicos. Além disso, os resultados

também apontam para correlações positivas moderadas entre o tipo Investigativo e os

44

interesses Científicos; entre a dimensão Artística e os interesses Musicais e os Serviços

Sociais.

A análise dos temas de vida, em relação aos participantes de ambos os sexos, indica a

dimensão Social como a mais comum. Os temas de vida mais destacados nos participantes do

sexo masculino são o altruísmo, a compreensão, a proteção, a generosidade. Outras

características que surgiram desta análise, foram a determinação, a força de vontade, foco nos

objetivos, liderança que se enquadrou no tipo de personalidade Empreendedor. A partir da

análise das virtudes e FC surgiram outros temas de vida como a humildade, apreciação da

beleza e da excelência e o humor. Em relação aos participantes do sexo feminino os temas de

vida mais comuns são a bondade, a amizade, preocupação com os outros, honestidade,

altruísmo. Apesar do tipo Social apresentar um elevado destaque, características do tipo

Artístico também foram salientadas, tais como, o talento, a originalidade e a criatividade. Da

análise das respostas através das virtudes e FC revelaram temas de vida como a apreciação da

beleza e excelência e a equidade.

Relacionando as virtudes e aos tipos de personalidade vocacional, os resultados do

presente estudo indicam uma associação moderada positiva entre a dimensão Realista e a

virtude Coragem; e uma associação negativa (embora fraca) com a virtude humanidade, tal

como no estudo realizado por Santos (2015); e, ainda uma associação moderada negativa

entre a dimensão social e a virtude Coragem.

Quanto às implicações do presente estudo, espera-se que tenha ajudado a diminuir a

lacuna que se verifica na literatura, quanto às potencialidades das abordagens narrativas, mais

concretamente, a utilização da ECC. Como foi possível observar, as questões da ECC, em

formato questionário, revelam potencialidades que necessitam de continuar a ser exploradas,

pelo que se sugere a continuação da presente linha de investigação.

45

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51

Anexos

52

Anexo A

Definição das Forças de Caráter de acordo com Park, Peterson e Seligman (2004,

p.606) 2:

Sabedoria e Conhecimento

Criatividade: Pensar em formas novas e produtivas de realizar atividades. Inclui

conquista artística, mas não se limita a ela.

Curiosidade: Ter interesse em toda a experiência em curso. Considerar todos os

assuntos e temas fascinantes. Gostar de explorar e descobrir. (Busca por novidades, abertura

à experiência.

Discernimento: Pensar ao detalhe acerca das coisas e examiná-las em todas as

perspetivas. Não tirar conclusões precipitadas, sendo capaz de mudar a mente, à luz das

provas; pesar todas as evidências de forma justa.

Gostar de aprender: Dominar novas capacidades, tópicos e corpos de conhecimento;

quer sobre a si próprio ou outras áreas. (Amor pela aprendizagem)

Perspetivar: Ser capaz de dar conselhos sábios para os outros; formas de olhar para o

mundo que façam sentido para si e para as outras pessoas.

Coragem

Honestidade: Dizer a verdade e apresentar-se de forma genuína (autenticidade).

Bravura: Não fugir à ameaça, desafio, dificuldade ou dor. Defender o que está certo,

mesmo que exista oposição; inclui coragem física mas não se limita a ela.

Perseverança (Persistência): Terminar o que inicia; persistindo no curso de ação

apesar dos obstáculos. Prazer em completar tarefas.

Entusiasmo (vitalidade, vigor, energia): Encarar a vida com entusiasmo e energia;

não realizando atividades ou participando no meio sem entusiasmo; viver a vida como uma

aventura, sentindo-se vivo e ativo.

Humanidade

Bondade: Fazer favores e boas ações para os outros. Ajudando-os e cuidando deles.

(Generosidade, compaixão, amor altruísta, gentileza).

Amor: Valorizar relações de proximidade com os outros; nomeadamente aqueles em

que a partilha, o cuidado e o carinho são recíprocos. Estar perto de pessoas. Para a presente

2 Retirado de Santos (2015)

53

análise incluiu-se a Amizade nesta categoria.

Inteligência Social (e inteligência emocional): Estar consciente dos motivos e

sentimentos de outras pessoas e de si mesmo. Saber o que fazer para se integrar em diferentes

situações sociais.

Justiça

Equidade: Tratar todas as pessoas de igual modo, de acordo com as noções de

equidade e justiça, não deixando sentimentos pessoais enviesar as decisões que fazemos

sobre os outros, dando a todos uma oportunidade justa.

Liderança: Organizar atividades de grupo e ver que estas se concretizam. Manter

boas relações dentro do grupo, ao fazer com que todos os elementos se sintam incluídos.

Trabalho em equipa: Trabalhar bem como membro de um grupo ou equipa.

Ponderação Equilibrada

Perdão: Perdoar aqueles que nos fizeram mal, dando às pessoas uma segunda

oportunidade. Não ser vingativo. (Perdão e misericórdia).

Humildade: Deixar as suas realizações falarem por si. Não procurar ser o centro das

atenções; não considerar-se mais especial do que é. (Modéstia e humildade).

Prudência: Ser cuidadoso com as escolhas; não dizer ou fazer coisas que poderão

mais tarde arrepender-se.

Autorregulação: Regular o que sente e faz. Ser disciplinado e ter controlo dos seus

impulsos e emoções.

Transcendência

Apreciação da beleza e excelência: Reparar e apreciar a beleza, a excelência, e/ou

competência em todos os domínios da vida, desde a natureza à arte, à matemática, à ciência, à

experiência do dia-a-dia. (Excelência, encanto, elevação).

Gratidão: Estar consciente e grato pelas coisas boas que nos acontecem, dando

sempre tempo para expressar esse agradecimento.

Esperança: Esperar o melhor do futuro e trabalhar para alcançá-lo. Acreditando que

um bom futuro é algo que pode ser provocado/controlado (otimismo, mentalidade e

orientação para o futuro).

Humor: Gostar de rir e brincar, trazer sorrisos às outras pessoas. Tentar ver o lado

positivo de todas as situações.

Espiritualidade (fé, religiosidade): Ter crenças coerentes sobre o propósito mais

elevado e sentido da vida/universo.

54

Quadro A1

Exemplos de respostas dos participantes na categorização das FC (Heróis de infância e

pessoas que admiram)

Virtudes Forças de Caráter Exemplos de respostas dos participantes

Sabedoria e Conhecimento

Criatividade “É um maestro ótimo e também violinista”

Gostar de Aprender “Era um homem muito inteligente e adorava animais,

como eu. E, graças a ele, houve um avanço brutal na

biologia e no conhecimento sobre a vida.”

Coragem

Bravura “Por toda a sua vontade, crença, ambição, sacrifícios

e por todo o trabalho que tiveram para chegar onde

estão agora.”

Entusiasmo “Tem uma grande força de vontade, determinação,

concentração e coragem.”

Perseverança “Porque não desiste e trabalha arduamente para

chegar aos seus objetivos e isso admira-me. É

persistente, trabalhador e o melhor do mundo.”

Humanidade

Amor “Está sempre pronta a ajudar toda a gente.”

Bondade “ É uma pessoa muito querida e que se preocupa com

os outros e com o seu bem-estar.”

Justiça

Equidade “É uma ativista e atriz que luta pelos direitos

femininos”

Liderança “Lidera uma equipa, tem tempo para ele, faz

desporto.”

Ponderação Equilibrada Humildade

“ Porque é um dos poucos famosos que são bons e

humildes com os fãs.”

Transcendência

Apreciação da Beleza e

Excelência

“Era bonita, simpática, tinha bons resultados

escolares e era bem sucedida.”

Humor “É também uma pessoa sempre alegre.”

55

Quadro A2

Exemplos de respostas dos participantes na categorização das FC (Lemas de vida)

Virtudes Forças de Caráter Exemplos de respostas dos participantes

Sabedoria e Conhecimento

Perspetivar “Nada acontece por acaso”. Se alguma coisa aconteceu, é

porque teve de acontecer, vai ser importante na minha

vida.”

Gostar de Aprender “Se consegues ser bom numa coisa, então podes ser

melhor nisso”. Significa que se encontrar uma coisa que

eu gosto, posso com estudo e prática, tornar-me melhor.

Coragem

Honestidade “Acredito que cada pessoa tem uma definição diferente

de perfeição e isso faz com que nos preocupemos com a

opinião dos outros. Não faz muito sentido porque nunca

vamos poder agradar a toda a gente.”

Bravura “Nunca desistir dos teus sonhos, porque um dia irás

alcançá-los”. (...) Leva-me a querer chegar ao meu sonho

e fazer grandes feitos.”

Entusiasmo “Para não estar sempre a pensar nas consequências,

simplesmente fazer.”

Perseverança “Faz metas e objetivos”. Continuar sempre em frente e

ultrapassar os obstáculos.”

Humanidade Amor “Um por todos e todos por um”. Amizade.

Justiça Equidade “Nunca faças aos outros aquilo que não gostas que te

façam a ti”. Pois eu penso que se for simpática com toda

a gente, também serão comigo.

Ponderação Equilibrada

Humildade

“Cada pessoa tem o seu valor e ninguém é melhor que

ninguém, devemos acreditar em nós.”

Prudência

“Mais vale um pássaro na mão, do que dois a voar”. Não

sejas ganancioso, aproveita o que te dão, as

oportunidades, não as deixes fugir.”

Transcendência Apreciação da Beleza e

Excelência

“Deve dizer-se a todas as meninas que elas são bonitas.”

Espiritualidade “Significa que se tivermos fé, tudo correrá bem.”

Esperança “Se eu vir sempre as coisas positivas, serei mais feliz.”

56

Anexo B

Quadro B

Identificação dos heróis de infância em relação às categorias Não Ficção

Nota.1 Informação retirada de Reis (2014) e Santos (2015).

Categorias Não Ficção Subcategorias Definição Exemplos de respostas

dos participantes

Dentro do Campo

Social1

Professores Profissionais da educação

que transmitem

conhecimentos e

ensinamentos aos jovens.

Professor da escola,

Professora da creche

Familiares Família nuclear ou

alargada.

Avó, primo, irmão, prima

Conhecidos Pessoas pertencentes ao

círculo de amigos e/ou

conhecidos.1

Melhor amigo, melhor

amiga

Fora do Campo Social 1

Atletas Pessoas ligadas ao

desporto. 1

Cristiano Ronaldo, Messi,

Eusébio, Novak

Djokovic, Bethany

Hamilton

Artistas Pessoas que realizam

atividades ligadas a

alguma arte.

Ilusionistas, Cláudia

Vieira, Marisa Liz, Dita

Von Teese, Slash, Emma

Watson, Ed Sheeran,

Louis Tomlinson, Gustav

Dudamel, Selena Gomez

Científicos Pessoas ligadas às

ciências. 1

Charles Darwin, Stephen

Hawking

Políticos Pessoas ligadas à política. Churchill, Barack

Obama, Princesa Diana

57

Anexo C

Quadro C

Categorização das respostas às revistas, séries, websites de acordo com as dimensões

RIASEC

Nota. A mesma revista/série/website não pertence necessariamente apenas a um tipo RIASEC. De acordo com

as justificações pode ser codificado com diferentes tipos.

Exemplos de

Revistas/séries/Websites

Justificações dos participantes

R Jogos de Andebol; A Bola; Property

brothers (Irmãos à obra); MacGyver;

Pesadelo na Cozinha

“Mantém-me informado sobre o desporto”; “Gosto de ver o

trabalho que realizam a remodelar uma casa”; “É o facto de

aprender mais coisas sobre cozinha”

I The Big Bang Theory; The Good

Doctor; National Geographic;

Riverdale; Anatomia de Grey;

Noticiários; The Vampire Diaries;

American Horror Story

“Porque gosto de saber coisas”; “Posso ficar a par do mundo

científico”; “Relacionado com a medicina”; “Gosto de estar a par

do que se passa no país e no mundo”

A Sites de marcas de roupas; Revista A

Vaidosa; Youtube (música);

American Got Talent; The Voice

Portugal; Got Talent Portugal

“É o facto de eu ser um apaixonado por roupa”; “Conhecer novas

modas”; “Costumo ouvir música”; “Gosto de programas de

competição e talento”

S This is Us; Simpsons; Uma Família

Muito Moderna; La Casa de Papel;

Sex Education; Telenovelas (e.g.,

Jogo Duplo); Friends; Reality Shows

(e.g., RuPaul’s Drag Race);

Programas do TLC; Redes sociais

(e.g., Instagram, Twitter)

“Ver como uma família vai evoluindo e os obstáculos que juntos

enfrentam”; “famílias diferentes que se ligam entre si”; “O que me

atrai é o romance”; “A história e gosto de relacionar com problemas

da atualidade”; “Interação entre pessoas”

E

Peaky Blinders; Suits

“Influência política, manipulação”; “Sobre advogados”

C

Vídeos de gaming

“Gosto de ver os meus youtubers preferidos a jogar”

58

Anexo D

Tabela D1

Matriz de Correlações entre os interesses codificados de acordo as áreas de interesse de Kuder e os interesses inventariados

**. A correlação é significativa ao nível 0.01. *. A correlação é significativa ao nível 0.05.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

1 Ar Livre -

2 Mecânicos .12 -

3 Cálculo -.19 .21 -

4 Científicos -.25 .40** .31* -

5 Persuasivos -.40** -.24 -.03 -.08 -

6 Artísticos .05 -.01 -.07 -.27 -.08 -

7 Literários .29 -.19 -.32* -.26 -.46** -.20 -

8 Musicais .18 -.03 -.05 -.07 -.06 .44** -.09 -

9 S. Sociais .16 -.07 .26 -.15 -.14 .18 -.09 .34* -

10 Burocráticos -.28 -.10 .41** . -.11 -.37* .06 -.42** -.09 -

11 Cod. Ar Livre .20 .09 .06 .19 .09 .03 -.07 -.42 -.11 -.14 -

12 Cod. Mecânicos .06 .16 -.07 .08 -.11 -.09 .12 .06 -.26 -.02 -.12 -

13 Cod. Cálculo . . . . . . . . . . . . -

14 Cod. Científicos .01 .47** -.05 .41* -.13 .30 -.16 .37* .44* -.38* -.19 -.07 . -

15 Cod.Persuasivos -.07 .42* -.14 .12 .09 -.11 -.04 -.14 -.15 -.01 -.05 -.07 . .27 -

16 Cod.Artísticos -.05 .18 -.01 -.05 -.17 -.06 .20 -.09 -.22 .05 -.12 .07 . -.07 -.07 -

17 Cod.Literários -.25 -.24 -.02 -.17 .07 -.01 .04 .15 -.10 .19 -.09 -.12 . -.19 -.05 -.12 -

18 Cod.Musicais .02 -.18 -.01 -.12 .01 -.03 -.06 -.08 .02 .07 -.07 -.09 . -.15 -.04 -.09 -.07 -

19 Cod. S. Sociais -.10 -.31 .23 -.37* .14 .09 -.28 .12 .35 .26 -.32 -.10 . -.28 -.18 -.46** .08 -.01 -

20 Cod. Burocráticos -.13 .25 -.08 .24 -.32 .14 .01 -.22 -.09 .01 -.05 -.07 . .27 -.03 -.07 -.05 -.04 -.17

59

Tabela D2

Matriz de Correlações entre os interesses codificados (RIASEC) e os resultados do Inventário de Interesses de Kuder – Forma E

**. A correlação é significativa ao nível 0.01. *. A correlação é significativa ao nível 0.05.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

1 Ar Livre -

2 Mecânicos .12 -

3 Cálculo -.19 .21 -

4 Científicos -.25 .34** .31* -

5 Persuasivos -.40** -.24 -.03 -.08 -

6 Artísticos .05 -.01 -.07 -.27 -.08 -

7 Literários .29 -.19 -.31* -.26 -.46** -.20 -

8 Musicais .18 -.03 -.05 -.07 -.06 .44** -.09 -

9 Serviços Sociais .16 -.07 .26 -.15 -.14 .18 -.09 .34* -

10 Burocráticos -.28 -.10 .41** . -.11 -.37 .06 -.42** -.09 -

11 Realista .20 .12 -.03 .16 -.05 -.04 .08 .04 -.26 -.11 -

12 Investigativo -.03 .27 .01 .26 -.16 .29 -.10 .44** .42* -.31 -.21 -

13 Artístico .05 -.01 -.03 -.11 -.15 -.03 -.16 -.07 -.15 .07 -.08 -.18 -

14 Social .01 -.38* .20 .35* -.09 .13 -.19 .15 .35* .23 -.26 -.22 -.34* -

15 Empreendedor -.05 .36* -.15 .11 .08 -.11 .01 -.14 -.14 -.01 -.09 .24 -.08 -.16 -

16 Convencional -.11 .21 -.02 .24 -.34 .13 .06 -.23 -.08 -.07 -.08 .25 -.09 -.20 -.03

60

Tabela D3

Matriz de Correlações entre a codificação das características dos heróis de infância (RIASEC) e os resultados do Inventário de Interesses de Kuder-Forma E

**. A correlação é significativa ao nível 0.01. *. A correlação é significativa ao nível 0.05.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

1 Ar Livre -

2 Mecânicos .12 -

3 Cálculo -.19 .21 -

4 Científicos -.25 .40** .31* -

5 Persuasivos -.40** -.24 -.03 -.08 -

6 Artísticos .05 -.01 -.07 -.27 -.08 -

7 Literários .29 -.19 -.32* -.26 -.46** -.20 -

8 Musicais .18 -.03 -.05 -.07 -.06 .44** -.09 -

9 Serviços Sociais .16 -.07 .26 -.15 -.14 .18 -.09 .34* -

10 Burocráticos -.28 -.10 .41** . -.11 -.37* .06 -.42** -.09 -

11 Realista .20 .01 .19 .16 .21 -.14 -.35* -.03 .05 .06 -

12 Investigativo .31 .20 -.11 .33* -.33* -.06 .22 -.37* -.24 -.04 -.08 -

13 Artístico .10 -.05 .04 .14 -.22 .11 .17 .39* .48** -.13 -.15 -.09 -

14 Social .01 -.22 .17 -.44** .11 .29 -.03 -.03 -.17 .21 -.36* -.22 -.40** -

15 Empreendedor -.26 .21 .07 .09 .07 -.32 .05 -.09 -.14 -.18 -.18 -.11 -.20 -.48** -

16 Convencional . . . . . . . . . . . . . . .