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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016 IDEÁRIOS DA MODERNIZAÇÃO, SALUBRIDADE E EMBELEZAMENTO E A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM DE MACEIÓ ATRAVÉS DOS JARDINS PÚBLICOS (1868-1871) LEÃO, THARCILA M. S. (1); FERRARE, JOSEMARY O. P. (2) 1. Universidade Federal de Alagoas. Departamento de Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo DEHA/UFAL. [email protected] 2. Universidade Federal de Alagoas. Departamento de Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo DEHA/UFAL. [email protected] RESUMO Os espaços ajardinados e jardins públicos começaram a ser inseridos na paisagem urbana brasileira sob a influência das novas ideias de salubridade e embelezamento que surgiram na Europa no século XVIII e que possibilitaram a criação de espaços coletivos ao ar livre, para uso principalmente da burguesia. Com a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, diversas ações foram tomadas visando transformar as cidades e, principalmente, a capital Rio de Janeiro, em “cartão de visitas” de um Brasil moderno e civilizado. Assim, no Brasil em meados do século XIX diversos Planos de Embelezamento e Salubridade foram implementados pelos agentes construtores da cidade e tinham como objetivo dotar as principais cidades do país de um aspecto mais salubre, moderno e próspero, distanciando-se cada vez mais da paisagem colonial. Nesse exato período, os espaços públicos como praças e jardins ganharam força na paisagem urbana, deixando de ser espaços marginalizados para se integralizarem ao processo de criação de uma nova imagem para as cidades junto com as modificações na arquitetura. Nesse contexto de transformações urbanas que ocorriam no país no século XIX e com a elevação de Maceió à categoria de capital da província de Alagoas em 1839, foram propostos, pelos engenheiros e gestores, os espaços públicos ajardinados, especialmente os “jardins públicos”, situados em sua maioria nos principais bairros na época e nas proximidades das edificações mais importantes da cidade. Focalizando-se este cenário, busca-se compreender como a inserção dos jardins modificou a paisagem urbana e de que forma eles figuraram na transformação da imagem da singela vila Maceió (Maçay- ó), para a capital do estado. Precisamente com o intuito de preencher uma lacuna no campo acadêmico, o presente artigo busca trazer à tona os ideários que nortearam as ações do poder público direcionadas à criação, reforma e manutenção de espaços ajardinados que gerassem uma nova imagem urbana marcada pelo foco da higiene e beleza, sobretudo na segunda metade do século XIX, durante a gestão de José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, ocorrida entre 1868 a 1871, e que ficou conhecida como uma das gestões que mais promoveu o desenvolvimento urbano da cidade no século XIX. Palavras-chave: jardins públicos; planos de embelezamento e salubridade; paisagem de Maceió.

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IDEÁRIOS DA MODERNIZAÇÃO, SALUBRIDADE E

EMBELEZAMENTO E A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM DE

MACEIÓ ATRAVÉS DOS JARDINS PÚBLICOS (1868-1871)

LEÃO, THARCILA M. S. (1); FERRARE, JOSEMARY O. P. (2)

1. Universidade Federal de Alagoas. Departamento de Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – DEHA/UFAL.

[email protected]

2. Universidade Federal de Alagoas. Departamento de Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – DEHA/UFAL. [email protected]

RESUMO

Os espaços ajardinados e jardins públicos começaram a ser inseridos na paisagem urbana brasileira

sob a influência das novas ideias de salubridade e embelezamento que surgiram na Europa no século

XVIII e que possibilitaram a criação de espaços coletivos ao ar livre, para uso principalmente da

burguesia. Com a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, diversas ações foram tomadas visando

transformar as cidades e, principalmente, a capital Rio de Janeiro, em “cartão de visitas” de um Brasil

moderno e civilizado. Assim, no Brasil em meados do século XIX diversos Planos de Embelezamento

e Salubridade foram implementados pelos agentes construtores da cidade e tinham como objetivo dotar

as principais cidades do país de um aspecto mais salubre, moderno e próspero, distanciando-se cada

vez mais da paisagem colonial. Nesse exato período, os espaços públicos como praças e jardins

ganharam força na paisagem urbana, deixando de ser espaços marginalizados para se integralizarem

ao processo de criação de uma nova imagem para as cidades junto com as modificações na arquitetura.

Nesse contexto de transformações urbanas que ocorriam no país no século XIX e com a elevação de

Maceió à categoria de capital da província de Alagoas em 1839, foram propostos, pelos engenheiros e

gestores, os espaços públicos ajardinados, especialmente os “jardins públicos”, situados em sua

maioria nos principais bairros na época e nas proximidades das edificações mais importantes da cidade.

Focalizando-se este cenário, busca-se compreender como a inserção dos jardins modificou a paisagem

urbana e de que forma eles figuraram na transformação da imagem da singela vila – Maceió (Maçay-

ó), para a capital do estado. Precisamente com o intuito de preencher uma lacuna no campo acadêmico,

o presente artigo busca trazer à tona os ideários que nortearam as ações do poder público direcionadas

à criação, reforma e manutenção de espaços ajardinados que gerassem uma nova imagem urbana

marcada pelo foco da higiene e beleza, sobretudo na segunda metade do século XIX, durante a gestão

de José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, ocorrida entre 1868 a 1871, e que ficou conhecida como

uma das gestões que mais promoveu o desenvolvimento urbano da cidade no século XIX.

Palavras-chave: jardins públicos; planos de embelezamento e salubridade; paisagem de Maceió.

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Os ideários de salubridade, embelezamento e modernização no

Brasil do século XIX

No Brasil do século XIX a preocupação com a salubridade urbana, que já existia desde o

século XVIII na Europa, começou a nortear as intervenções do poder público no espaço

urbano e foi responsável por diversas transformações na paisagem das cidades. Essas ações

eram pautadas no discurso higienista, que utilizava a medicina como elemento de controle

social e espacial e previa, entre outras coisas, o aterramento e drenagem de áreas alagadas,

construção ou relocação de hospitais e cemitérios, abertura e alargamento de ruas e

defendiam o plantio de árvores e emprego de vegetação para “favorecer a circulação do ar, a

dissipação de eflúvios nocivos e o dessecamento do solo, de modo a combater lugares

pútridos onde, segundo as teorias dos miasmas, formavam-se as doenças” (DOURADO,

2011).

Além da salubridade, o embelezamento foi um outro grande impulsionador da reforma urbana

que também se iniciou na Europa tendo ganho força no século XIX. Apesar das diferenças

entre as cidades brasileiras e as europeias, e guardadas as devidas proporções, a reforma

implementada na Europa passou a servir de modelo para as cidades que possuíam relações

comerciais com o velho mundo, tais como Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Natal, Recife,

João Pessoa, Maceió, entre outras (MOURA FILHA, 2000).

A partir de meados do século XIX os gestores, engenheiros e demais agentes responsáveis

pela construção das cidades brasileiras empenharam-se na elaboração de propostas e planos

que deveriam ser implantados para criar uma nova imagem das cidades, mais civilizadas,

modernas e prósperas, distanciando-se cada vez mais da imagem ligada ao passado colonial

(MOURA FILHA, 2000). Foi nesse período que os logradouros públicos ajardinados ganharam

força na paisagem urbana e passaram a fazer parte, junto com as modificações na arquitetura,

desse processo de criação de uma nova imagem para as cidades.

Nesse contexto de transformações urbanas foram propostos os primeiros espaços públicos

ajardinados de Maceió, a partir de meados do século XIX. Essas propostas de jardins públicos,

bem como de praças ajardinadas e boulevards, entre outros, possuíam uma evidente intenção

estética e higienista e pareciam tentar adaptar as ideias europeias à realidade maceioense.

Os espaços ajardinados resultantes dessas propostas configuraram elementos importantes

na criação dessa nova imagem urbana e buscavam se integrar com os respectivos entornos

e aliar funções paisagísticas, estéticas, utilitárias.

Como demonstração deste entendimento, serão analisados neste trabalho os espaços

públicos ajardinados (jardins, praças, ruas) que foram alvo de intervenção do poder público,

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durante o recorte temporal que compreende o período da gestão de José Bento da Cunha e

Figueiredo e seu filho, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, conhecido pelas grandes

intervenções nos espaços públicos de Maceió. A análise se aporta em fontes oficiais

(relatórios de governo, relatórios e ofícios dos engenheiros), iconográficas (plantas e mapas)

e clássicos bibliográficos que tratam da cidade de Maceió no período estudado.

As primeiras transformações da paisagem na nova capital: a

salubridade urbana e o início da arborização

De acordo com Cavalcanti (2002) no início do século XIX, quando Maceió ainda era uma

pequena vila, as ações no espaço urbano refletiam o temor dos colonizadores e seus

descendentes pelos elementos da natureza tropical, hostil e selvagem. Foram ações

marcadas por uma forte influência higienista, com a modificação da configuração original do

sítio através de ações de aterramento, saneamento e drenagem. Segundo a autora, até

meados do século XIX a Câmara Municipal de Maceió seguia as orientações das leis gerais

do Império do Brasil, que possuía forte influência higienista.

Em Maceió, o processo de transformação urbana pode ser observado mais claramente a partir

do ano de 1839 quando, em uma mesma resolução régia, Maceió é elevada à categoria de

cidade e de capital da província de Alagoas. A transferência das principais repartições públicas

e de todo o corpo administrativo da cidade de Alagoas do Sul (atual Marechal Deodoro) para

Maceió deu início a uma transformação na paisagem pautada, principalmente, nos ideários

de salubridade e do embelezamento. Na posição de nova capital da província, o aspecto

urbano de Maceió foi se modificando com intervenções que visavam uma melhor

infraestrutura e, principalmente, uma nova imagem da cidade como capital e, para tanto, os

gestores e engenheiros da província tiveram um papel primordial nessa transformação

urbana.

Seu aspecto urbano foi-se modificando com os melhoramentos realizados pela municipalidade e pelos Governos Provinciais como: tapagem de valas em ruas, calçamento, iluminação, abertura de estradas vicinais para escoamento de produtos agrícolas oriundos de outros locais e obras públicas de natureza assistencial. (BARROS, 1986, p. 125).

Identifica-se que as intervenções realizadas nesse período estavam mais voltadas ao

provimento de infraestrutura básica para o bom funcionamento da capital e para facilitar sua

ligação com as principais cidades do interior de forma a auxiliar o trânsito de mercadorias

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dentro da província. A leitura dos relatórios e Fallas provinciais 1 desde o ano de 1835 até o

ano de 1849 (ano em que José Bento da Cunha e Figueiredo assumiu o poder) revela que as

ações tomadas pelo poder público estavam de fato voltadas ao provimento das necessidades

básicas da cidade e visavam à salubridade: construção de estradas e pontes, calçamento de

ruas principais como a ladeira do Algarve, limpeza e melhoramento do canal da Ponta

Grossa 2 , construção de cadeia, hospital, casa de mercado, além de estudos para

encanamento e distribuição de água potável.

A inserção de vegetação na cidade com intenções de embelezamento e salubridade começam

a aparecer nas Fallas provinciais apenas a partir do ano de 1849, na gestão de Antonio Nunes

de Aguiar:

Também é necessário promover a plantação de arvores frondosas em nossas praças, e nnas proximidades das povoações; porque alem de ser isto um embellezamento para estas, serve para modificar o effeito de certas emanações deletérias. (AGUIAR, 1849, p.11 – grifos nossos)

A atenção com a infraestrutura de abastecimento d’água que também se fez notar forte na

tônica discursiva dos gestores localiza-se bem evidenciada durante a gestão de Aguiar, no

ano de 1849, quando no próprio relatório que registra a sua saída da presidência da província,

o mesmo enfatiza a importância do encanamento de água potável e abertura do canal da

Ponta Grossa por questões de salubridade ressaltando ainda a necessidade e já

empreendendo ações para a realização de um plano de arruamento para o embelezamento

da capital:

Das necessidades que soffre esta Capital, a maior é, sem duvida, a de agua potável [...] Vem depois a abertura do canal da Ponta Grossa até encontrar o riacho Maceió. Estas duas obras [...] não só concorrerão para o engrandecimento desta Cidade, como também são indispensáveis para a sua salubridade. [...] Para o aformoseamento da capital mandei o referido official de Engenheiros organizar um plano de arruamento, que por intermédio da Camara Municipal terá de chegar à presença de V. Ex.ª convem que seja immediatamente posto em execcução, sem que outra Camara possa por si alteral-o, afim de evitar maiores irregularidades e defeitos, do que aquelles que hoje encontramos n`esta nascente Cidade [...]” (AGUIAR, 1849,

p. 9 – grifos nossos)

Os reflexos mais fortes do embelezamento urbano, no entanto, podem ser observados em

Maceió a partir da segunda metade do século XIX, através de obras que visavam, além da

criação de uma nova imagem da cidade, o desvencilhamento com o passado colonial. Essa

intenção fica evidente na fala de José Bento da Cunha e Figueiredo, pai de Figueiredo Júnior,

1 Relatórios e Fallas Provinciais da Província das Alagoas digitalizados disponíveis no site do Center for Research Libraries em

www-apps.crl.edu. 2 O Canal da Ponta Grossa era o principal ponto de ligação entre a cidade de Maceió e povoados, vilas e engenhos do interior

de Alagoas, por onde era realizado o transporte de mercadorias e insumos.

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que presidiu a província de Alagoas entre os anos de 1849 e 1853, quando relata o “atraso”

da capital e aborda a necessidade de seu embelezamento e asseio:

Sois vós testemunhas, Snrs., do vergonhoso atraso, em que se acha esta cidade a respeito da regularidade na edificação dos prédios, calsamento e direcção das ruas: não podeis portanto deixar de proporcionardes alguns meios com que possa a Camara Municipal concorrer para o embellezamento e asseio da capital (FIGUEIREDO, 1850, p.23 – grifos nossos).

Durante sua gestão foram concluídas as obras da igreja matriz, do mercado público, da casa

de inspeção do algodão e do calçamento da ladeira do Algarve. Além disso, foi assentada a

primeira pedra da construção do cemitério da Piedade, após estudos e parecer elaborado por

equipe composta por médicos e foi instituído o Conselho de Obras Públicas, órgão que muito

colaborou com mudanças mais expressivas na paisagem maceioense. Sobre as duas obras

que foram citadas nos relatórios provinciais durante sua gestão com intenção paisagística e

de embelezamento, o Palacete da Assembleia e o canal da Ponta Grossa, a pesquisa ora

realizada constata que apenas a primeira veio a ser efetivada.

O Palacete da Assembléia foi construído nas imediações do largo da igreja matriz recém

construída e previa “um espaço sufficiente para formar-se um pequeno Passeio público, onde

os habitantes desta Cidade poderão entreter as vistas nas horas de distracção” (Figueiredo,

1851, p. 19). Concluído em 1853 o Palacete posteriormente abrigou em seu entorno o primeiro

jardim público da capital que foi ajardinado apenas no ano de 1867:

A assembléa provincial ordenou o ajardinamento da área que circunda o palacête da mesma assembléa [...] O jardim se acha prompto e entregue ao publico [...] Já hoje é o único ponto de reunião e recreio que se proporciona á população desta capital (ALENCASTRE, 1867, p. 13 e 14).

É interessante observar no relatório supracitado a referência ao jardim não apenas como um

elemento de embelezamento e salubridade da cidade, mas também como um local de recreio

público para a população. Tal fato denota a alteração na paisagem urbana causada pela

mudança de hábitos que ocorreu no período quando os espaços públicos deixam de ser

marginalizados e passam a ser locais de recreio e distração e a população passa a frequentá-

los.

A principal intenção de embelezamento através da arborização durante a gestão de

Figueiredo ocorreu através da proposta de inserção de vegetação no canal da Ponta Grossa.

Em Falla dirigida à Assembléa Provincial propõe a construção de:

[...] dois paredões ou caes em linha recta desde sua fóz na lagôa até o logar em que existem umas cacimbas, plantando-se sobre os aterros dos lados duas linhas de arvoredos adaptados á segurança e aformoseamento das

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paredes do canal, na forma do plano que mandei levantar [...] (FIGUEIREDO, 1852, p. 26 – grifos nossos)

Quanto ao canal da Ponta Grossa, ainda durante a gestão de Figueiredo, no ano de 1853, há

registros de que o Engenheiro Christiano Azevedo projetou a planta que previa a mudança do

curso do Canal da Levada e de um arruamento perpendicular na lateral deste canal. Apesar

desta planta não ter sido encontrada nas pesquisas empreendidas no Arquivo Público de

Alagoas, observa-se através da leitura de sua descrição uma grande intenção estética através

da proposição de um boulevard, conforme explicita trecho da justificativa do projeto:

[...] Comprehende a mesma planta, além da nova direcção dada ao Canal, que se vê projetada com tinta encarnada o projeto de um futuro arruamento ao lado do Canal em quadras de 100 braças de extensão e 80 palmos de largura com ruas transversais no sentido perpendicular, findando em espécie de boulevard em uma espaçoza praça que deve ligar a caza do mercado com a casa do desembarque do canal, sendo tudo coberto por linhas de arvorêdo, o que não deixará de honrar aquelle ponto o mais aprasivel e magestozo, attraindo por sua amenidade a população nas horas de recreio. [...]. (AZEVEDO, 1853 – grifo nosso)

Por esse teor discursivo a proposta, não executada, transparece que havia tanto uma intenção

estética como também de “amenidade” ambiental para com a paisagem urbana. Com efeito,

a inserção do boulevard previa colaborar com o conforto térmico, proporcionando

sombreamento nos momentos de lazer da população, bem como criar uma perspectiva

bastante interessante da rua arborizada margeando o canal nas imediações da Lagoa

Mundaú e continuando até desembocar em uma espaçosa praça, - a Praça do Mercado. No

entanto, apesar do potencial paisagístico dessa proposta, a mesma ficou esquecida nos

arquivos de Obras Públicas e o local hoje encontra-se desvalorizado. Possivelmente o projeto

do boulevard não foi executado por se localizar em uma área de habitação popular pouco

valorizada, onde “situaram-se os campos para enterro de animais, cemitérios, asilos (de

mendigos e alienados), hospital, mercado e demais atividades “insalubres”, “perigosas” e

depreciativas do espaço urbano” (CAVALCANTI, 2002).

De acordo com Silva (2016, p. 164) a arborização urbana, o nivelamento dos terrenos e sua

pavimentação, na maioria das vezes, precedeu a instalação de muros e gradis e seu

ajardinamento. De forma geral, de fato, na cidade de Maceió a arborização para fins estéticos

e de salubridade, como essa proposta não executada de um boulevard, precederam a

inserção dos espaços ajardinados, como pode ser constatado em ofício do Diretor de Obras

Públicas direcionado ao vice presidente da província que trata do replantio de árvores na

estrada do Jaraguá, também conhecida como estrada do Saraiva (CERQUEIRA, 1855) e,

conforme o já apresentado, na proposta de arborização do canal da Ponta Grossa.

O teor dos relatórios dos presidentes da província e dos ofícios e demais documentos do Setor

de Obras Públicas pesquisados demonstrou que a paisagem (pensada e interferida na cidade)

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nesses primeiros anos da segunda metade do século XIX objetivava uma transformação

pautada nos princípios higienistas introduzidos que tinha, como um de seus princípios focais,

dotar a cidade dos equipamentos e infraestrutura básica para seu bom funcionamento como

capital da província. Mas demonstrou ainda que o embelezamento ou aformoseamento, como

também era denominado, norteou algumas propostas de médio porte bastante significativas

para a cidade envolvendo o plantio de árvores para fins estéticos e de salubridade urbana.

Os melhoramentos urbanos e o início da consolidação dos jardins

públicos e praças na gestão de Figueiredo Júnior

José Bento da Cunha Figueiredo Júnior (1833-1885), pernambucano, formado em Direito pela

Faculdade de Olinda, foi nomeado em 22 de agosto de 1868 Presidente da Província de

Alagoas e permaneceu no poder até 02 de Julho de 1871. Seu governo, assim como o de seu

pai, foi um dos mais longos numa província onde as administrações costumavam ser muito

curtas: apenas no ano de 1867, que precedeu seu governo, Alagoas teve cinco presidentes.

Possivelmente esse tempo maior de governo juntamente com sua visão de futuro possibilitou

que parte de suas ideias fossem concretizadas e que ele pudesse realizar algumas melhorias

urbanas em Maceió.

Quando Figueiredo Júnior assumiu a presidência da província de Alagoas em 1868 já haviam

se passado quase trinta anos que a capital havia sido transferida de Marechal Deodoro para

a cidade de Maceió e a paisagem da então capital da província já havia sido bastante

transformada. No entanto, foi durante o governo de Figueiredo Júnior que Maceió passou por

um surto de desenvolvimento urbano e cultural. Ao assumir o governo, ele elaborou um projeto

geral de modernização que, primeiramente, visava o nivelamento das ruas e a construção de

um sistema de esgoto (CAVALCANTI, 1998, p. 302).

Durante todo o seu governo Figueiredo Júnior enfatizou a necessidade dos melhoramentos

urbanos afirmando que os mesmos não comprometiam o estado financeiro se houvesse

rigorosa fiscalização da receita (FIGUEIREDO JÚNIOR, 1871, p. 53). Nesse sentido, ele

afirma que nenhuma obra da capital ou interior deveria ser realizada sem exame, descrição e

orçamento prévio (FIGUEIREDO JÚNIOR, 1868, p. 16).

Demonstrando uma visão de conjunto, Figueiredo Júnior afirmou que o Serviço de Obras

Públicas da província necessitava de organização e criticou o fato de até então não haver um

plano da cidade que pudesse estabelecer as prioridades e uma ordem lógica de execução

dos serviços:

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Existindo apenas uma planta antiga e incompleta, houve o maior descuido em regularizar as edificações; e ultimamente o encanamento das aguas e os trilhos de ferro que deviam ter sido precedidos do nivelamento, vieram ainda mais difficultal-o, executando-se vários serviços sem a conveniente relação com o plano geral que deve comprehender um bom systema de esgoto.

Incubido de levantar a planta da cidade, o engenheiro Boltenstern pode não apenas até hoje apresentar o plano de quatro ruas principaes, com as respectivas travessas e praças adjacentes.

Pode-se adiantar o serviço dos aterros fazendo-se desapparecer as mais salientes irregularidades do nível tornando-se mais transitável o leito das ruas, e cuidando-se logo dos passeios lateraes, o esgoto.

Será isto uma bôa base para o calçamento, que se pode realizar a pouco e pouco.[...] (FIGUEIREDO JÚNIOR, 1868, p.16-17 – grifos nossos).

A planta da cidade elaborada pelo engenheiro Carlos de Boltenstern datada de 1865, a que

Figueiredo Júnior se refere no relatório supracitado, nos mostra os principais arruamentos da

cidade, igrejas, cemitérios e as baterias do Porto de Jaraguá. Os espaços livres públicos

localizados geralmente nas imediações das igrejas configuram na planta como espaços

vazios, descampados, como a praça da Matriz, praça Nossa Senhora Mãe do Povo (Figuras

1 e 2), praça dos Martírios e praça Deodoro (Figura 3 e 4). Tal fato possivelmente se deve à

ausência de vegetação e de um plano ou projeto para os referidos espaços públicos.

Figuras 1 e 2: Detalhe da planta elaborada por Boltenstern datada de 1865 mostrando a praça da Matriz e o entorno do Palacete da Assemblea (futuro jardim público), á esquerda, e a praça de Nossa Senhora Mãe do Povo no Jaraguá, à direita. Fonte: Arquivo Histórico do Exército. Destaques dados pelas autoras.

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Figuras 3 e 4: Detalhe da planta elaborada por Boltenstern datada de 1865 mostrando a praça dos Martírios, à esquerda, e a praça Deodoro, à direita. Fonte: Arquivo Histórico do Exército. Destaques dados pelas autoras.

A planta de Boltenstern de 1865 mostra a praça da Matriz e o local que abrigará o primeiro

jardim público da cidade no ano de 1867, no entorno do Palacete da Assembleia. Como até o

momento ainda não foram encontrados registros da data exata da inserção do muro ou gradil

no entorno do palacete e o detalhe da planta nos mostra a edificação inserida em um terreno

que aparenta ser fechado, isso nos sugere que o mesmo já possuía uma espécie de

fechamento, muro ou gradil, no ato da elaboração da planta. O ajardinamento do entorno do

palacete ocorreu apenas no ano de 1867:

A assembléa provincial ordenou o ajardinamento da área que circunda o palacête da mesma assembléa [...] O jardim se acha prompto e entregue ao publico [...] Já hoje é o único ponto de reunião e recreio que se proporciona á população desta capital (ALENCASTRE, 1867, p. 13 e 14).

É interessante observar no relatório de Alencastre a referência ao jardim não apenas como

um elemento de embelezamento e salubridade da cidade, mas também como um local de

recreio público para a população. Tal fato denota a alteração na paisagem urbana causada

pela mudança de hábitos que ocorreu no período quando os espaços públicos deixam de ser

marginalizados e passam a ser locais de recreio e distração e a população passa a frequentá-

los.

À rigor, a planta de 1865 nos mostra que quando Figueiredo Junior assumiu a presidência da

província as praças, muito provavelmente, ainda não eram ajardinadas e que, além de

algumas áreas arborizadas nas gestões anteriores, havia apenas um jardim público no

entorno do Palacete da Assemblea.

Em 1869, um ano após ter assumido a presidência da província, Figueiredo Júnior inicia uma

série de viagens ao interior da província com o intuito de melhor conhecer o território alagoano

e de verificar seus núcleos de povoamento. Em uma dessas viagens ele visita o Engenho

Buenos Ayres onde demonstra em seus relatos de viagem todo o seu encantamento pelos

jardins do engenho:

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[...] a alma se enlevava por entre a fragrância d´aquelles jardins deliciosos; o espírito se engrandecia pela diversidade de mil objectos curiosos que prendiam a atenção [...] por toda a parte aceio e bom gosto [...] dir-se-hia que a vida alli é completa e que a taça dos desejos devia estar preenchida (INSTITUTO, 2010, p. 33 – grifos nossos)

Descrevendo-o em detalhes, ele se deleita entre chafarizes, boulevards, cascatas e árvores

frondosas. Durante todo o relato, Figueiredo Júnior enfatiza a elegância, bom gosto e beleza

dos jardins do engenho utilizando os termos “deliciosos”, “admirável”, “sublime”, “elegância”,

“bom gosto”, “belleza”, “asseio” e “aformoseamento” denotando seu interesse e franco

entendimento dos espaços ajardinados como locais de embelezamento e deleite para os

olhos e para a alma.

Diferente de outros gestores que mais recorreram à arquitetura como forma de embelezar a

cidade e dotá-la de um melhor aspecto, Figueiredo Júnior demonstrou, desde o início de sua

gestão, uma grande preocupação com a arborização e o ajardinamento dos espaços públicos

como opções de aformosear a cidade. No ano de 1869 demonstrou abertamente a intenção

de aformosear a praça dos Martírios e a praça da Cotinguiba (atual praça Marechal Deodoro),

entendendo que através disto atrairiam mais concentração de unidades construídas nos

respectivos entornos imediatos, conforme se pode literalmente acompanhar: “Lembra-se com

razão o aformoseamento da praça dos Martyrios, e da Cotinguiba, a qual terá a vantagem

de dar um certo impulso ás edificações naquella parte da cidade”. (FIGUEIREDO JÚNIOR,

1869, p. 19 – grifos nossos).

Ainda no mesmo relatório expressou uma interessante visão de paisagem, pouco vista entre

os outros gestores, cogitando a possibilidade de tirar partido da visão privilegiada do alto do

farol para servir de recreio e contemplação da cidade.

O fácil nivelamento do alto do pharol, com assentamento de grades e bancadas, ofereceria um optimo recreio publico pelo vastíssimo horisonte que dalli se descortina. Importa muito tratar da arborisação da cidade, embora lentamente. Este serviço exige maior cuidado que dispêndio. (FIGUEIREDO JÚNIOR, 1869, p. 19 – grifos nossos)

Captava o governante que dali seria possível ter uma visão ampla da cidade e do mar, assim

como em alguns passeios públicos de outras cidades do Nordeste, que tiraram partido da

paisagem marítima como os passeios públicos de Fortaleza, Rio de Janeiro e Salvador

(SILVA, 2016, p. 46).

Sempre apontando a falta de arborizações, no ano de 1870 chegou a propor um segundo

espaço ajardinado localizado no bairro do Jaraguá, então considerada a porta de entrada da

cidade por via marítima:

[...] Notava-se aqui [Maceió] a falta de uma praça perfeitamente regular e arborisada. Além do pequeno jardim do Palacete, não havia outro ponto que servisse de refrigério e recreio à população. O bairro do Jaraguá carecia

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absolutamente de um conforto semelhante. Contractei em 20 de Dezembro do anno passado a execução do plano, pelo qual ficará fechada com muro, gradeamento e portão de ferro a praça de Nossa Senhora Mãi do Povo no referido bairro, em frente do novo edifício do Consulado, que tem dos lados duas casas symetricas e elegantes, uma para abrigo da guarda, e outra junto à ponte de desembarque.

O viajante, ao saltar, ficará agradavelmente impressionado, deparando com uma praça de estylo moderno, tendo em frente um elegante chafariz, no centro bancos, canteiros e arborisação, e sobre os pilares do muro lampeões que mais tarde podem ser iluminados com gaz carbônico. Com 8:200$000 rs teremos um melhoramento que além de outras vantagens, servirá de incentivo para outros similhantes no futuro[...] (FIGUEIREDO JÚNIOR, 1870. p 49 – grifos nossos)

Embora não tenha sido encontrado até o momento o referido plano ou planta da praça

proposta, a idealização de Figueiredo Júnior nos mostra a configuração típica de um jardim

público brasileiro: praça ou espaço público ajardinado pelo poder público, de pequenas e

médias proporções, dotada de gradil e com acesso restrito (SILVA, 2016, p. 68). Além disso,

o jardim contaria com bancos, canteiros, lampiões e chafariz, elementos dispostos no jardim

com o objetivo de dotá-lo de um estilo mais “moderno”. Figueiredo Júnior demonstra, além da

preocupação com o embelezamento da cidade e recreio da população, uma forte intenção de

impressionar o viajante passando uma imagem de cidade moderna e bela. Além disso, afirma

que o local servirá de incentivo para implantação de outros espaços ajardinados no futuro

denotando uma intenção de expandir o embelezamento da cidade para outros pontos de

Maceió. Esses possíveis pontos a serem ajardinados, provavelmente, seriam localizados em

áreas públicas privilegiadas, de maior circulação de pessoas, pontos de chegada e partida de

viajantes, próximos às principais edificações e que possibilitassem passar a imagem de

desenvolvimento e modernização urbana para o maior número de pessoas.

Apesar do empenho de Figueiredo Júnior, o jardim do Jaraguá não foi concluído durante sua

gestão, e apenas ocorrido no ano de 1872 durante o governo de Silvino Elvídio Carneiro da

Cunha. Em relatório, Cunha, após assumir o governo, já aborda o custo e abandono da obra

do jardim e seu interesse em retomá-la:

Tendo custado esta obra 10:326$440 rs, e encontrando-a em abandono, mandei proceder pelo engenheiro fiscal aos necessários preparos, afim de, no começo da estação invernosa, fazer as devidas plantações.

Será um recreio muito agradável, que terá no futuro a população de Jaragua. Já que tão avultada despeza se fez com esta obra, que muito concorrerá para o aformoseamento do porto cumpre que o governo não abandone-a , e ao contrário lhe dê todo possível aperfeiçoamento (CUNHA, 1872, p.48-49).

Também neste relatório, mais uma vez é enfatizada a importância do jardim para o recreio

da população e para embelezamento do porto do Jaraguá, porta de entrada da cidade.

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Os jardins de Maceió, localizados nos principais pontos da cidade, no entorno de edificações

religiosas, passavam a se consolidar como espaços importantes na vida da sociedade, que

se torna cada dia mais urbana.

Além dos jardins nos pontos principais da cidade (o centro administrativo e religioso – jardim

do palacete da Assembleia – e a porta principal de entrada da cidade – jardim do Jaraguá,

nas imediações do porto), Figueiredo Júnior demonstra em relatório de 1868 a necessidade

de arborização das praças públicas e de ruas mais largas como medida de higiene, denotando

a influência dos princípios higienistas em sua gestão (FIGUEIREDO JUNIOR, 1868, p. 6).

Outro feito importante na gestão de Figueiredo Júnior foi a inserção de chafarizes nos espaços

públicos ajardinados de Maceió. A introdução desses elementos nas cidades brasileiras surgiu

a partir da necessidade de fornecimento de água de melhor qualidade para a população. Antes

da inserção dos chafarizes, a população precisava se locomover com seus potes até

nascentes e riachos em busca de água que, muitas vezes, era de baixa qualidade. Com o

movimento higienista surgiu, entre outras coisas, a consciência da necessidade de

distribuição de água de boa qualidade para a população e isso impulsionou ações do poder

público no que diz respeito ao fornecimento de água, como o encanamento de rios e riachos

e a inserção dos chafarizes em locais de fácil acesso e grande fluxo de pessoas.

Em oficio de 24 de agosto de 1869 os engenheiros Frederico Mery e Hugh Wilson submetem

à apreciação de Figueiredo Júnior dois desenhos de chafarizes em ferro com “systema mais

moderno e aprovado na Europa” para o jardim do palacete da assemblea e a praça Nossa

Senhora Mãe do Povo, no Jaraguá. De acordo com os croquis encontrados no Arquivo Público

do Estado de Alagoas (LEÃO, 2010), os chafarizes propostos para os dois principais jardins

públicos da época, atualmente desaparecidos, eram possivelmente advindos das Fonderies

du Val D`Osne, assim como outras esculturas e postes em ferro fundido encontrados no bairro

do Jaraguá, de modo concentrado na atual praça Dois Leões. Com forte apelo estético, de

acordo com o croqui, a seguir apresentado, o chafariz do jardim da Assembléia era composto

por uma figura feminina seminua situada sobre uma taça em cima de uma possível base de

alvenaria arredondada. O chafariz do jardim de Jaraguá se assemelhava ao chafariz do jardim

da Assembléia, mas possuía alguns pilares que sustentavam uma espécie de coroa.

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Figura 5: Croqui de chafariz para o jardim da Assembléia. Fonte: LEÃO, 2010.

Figura 6: Croqui de chafariz para o jardim de

Jaraguá. Fonte: APA - Officios dos Engenheiros, s/data.

Apesar de algumas das propostas de Figueiredo Júnior não terem saído do papel, como o

ajardinamento do farol, e outras, como o Jardim da Praça Nossa Senhora Mãe do Povo, não

ter sido concluídas durante sua gestão é notável a importância dada à modernização da

cidade e ao ajardinamento dos espaços públicos.

Considerações Finais

Apesar de já terem sido abordados por diversos autores no âmbito brasileiro, os ideários de

embelezamento, modernização e salubridade na criação dos jardins públicos e na arborização

das cidades, em Maceió, essa temática e o seu papel na configuração dos espaços públicos

ainda foi pouco estudado.

A arborização urbana e a criação dos jardins públicos e praças ajardinadas foram elementos

fundamentais na transformação da paisagem de Maceió a partir da segunda metade do século

XIX. Diretamente influenciadas pelos ideários de salubridade, modernização e

embelezamento, as propostas de arborização e de criação de jardins públicos pretendiam

criar uma imagem de capital da província bela e moderna que almejava ascender aos moldes

de outras cidades brasileiras mais desenvolvidas, distanciando-se aos poucos da imagem de

vila colonial, vista então como atrasada.

Mesmo que os serviços básicos de infraestrutura urbana ainda fossem deficientes, tais como

a distribuição de água potável para todas as classes sociais, o nivelamento e calçamento de

ruas, a criação de uma imagem de cidade aformoseada através dos jardins públicos e praças

ajardinadas era um dos objetivos principais da gestão de Bento Figueiredo e de Figueiredo

Júnior e foi durante as suas gestões que esse objetivo prevaleceu e começaram a se

consolidar espaços ajardinados para recreio da população na cidade.

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Esses espaços ajardinados, em especial os jardins públicos, os apenas pensados e mesmo

os executados objetivavam com clareza, de acordo com os documentos analisados, a função

tríplice de “recreio”, “reunião” e “refrigério” para a população maceioense e

demonstravam, portanto, que além de representar uma nova imagem de cidade eles

denotavam também as mudanças sociais e culturais, em curso, durante o recorte temporal

aqui focalizado.

Referências

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Alagoas, na abertura da segunda sessão ordinaria da setima legislatura, pelo

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FIGUEIREDO, José Bento da Cunha. Falla dirigida á Assembléa Legislativa da provincia

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FIGUEIREDO JÚNIOR, José Bento da Cunha. Relatorio lido perante a Assembléa

Legislativa da provincia das Alagoas no acto de sua installação em 31 de outubro de

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FIGUEIREDO JÚNIOR, José Bento da Cunha. Relatorio lido perante a Assembléa

Legislativa da provincia das Alagoas no acto de sua installação em 16 de março de

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FIGUEIREDO JÚNIOR, José Bento da Cunha. Relatorio lido perante a Assembléa

Legislativa da provincia das Alagoas no acto de sua installação em 16 de março de

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