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FICHA TÉCNICA Título original: How to Be Single Autora Liz Tuccillo Copyright ©2008 by Liz Tuccillo Todos os direitos reservados Edição portuguesa publicada por acordo com Atria Books, uma divisão de Simon & Schuster, Inc. Tradução ©Editorial Presença, Lisboa, 2011 Tradução: Ana Mendes Lopes Imagens da capa: Shutterstock Composição, impressãoe acabamento: Multitipo — Artes Gráficas, Lda. 1. a edição, Lisboa, janeiro, 2011 2ª edição, Lisboa, janeiro, 2016 Depósito legal n. o 320 610/10 Reservados todos os direitos para a língua portuguesa (exceto Brasil) à EDITORIAL PRESENÇA Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo 2730-132 BARCARENA [email protected] www.presenca.pt

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FICHA TÉCNICA

Título original: How to Be SingleAutora Liz TuccilloCopyright ©2008 by Liz TuccilloTodos os direitos reservadosEdição portuguesa publicada por acordo com Atria Books, uma divisão de Simon &

Schuster, Inc.Tradução ©Editorial Presença, Lisboa, 2011Tradução: Ana Mendes LopesImagens da capa: ShutterstockComposição, impressãoe acabamento: Multitipo — Artes Gráficas, Lda.1.a edição, Lisboa, janeiro, 20112ª edição, Lisboa, janeiro, 2016Depósito legal n.o 320 610/10

Reservados todos os direitospara a língua portuguesa (exceto Brasil) à

EDITORIAL PRESENÇAEstrada das Palmeiras, 59Queluz de Baixo2730-132 [email protected]

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ÍNDICE

REGRA 1 ......................................................................................... 13

REGRA 2 ......................................................................................... 31

REGRA 3 ......................................................................................... 51

REGRA 4 ......................................................................................... 91

REGRA 5 ......................................................................................... 118

REGRA 6 ......................................................................................... 163

REGRA 7 ......................................................................................... 211

REGRA 8 ......................................................................................... 252

REGRA 9 ......................................................................................... 274

REGRA 10 ....................................................................................... 313

REGRA 11 ....................................................................................... 350

AGRADECIMENTOS ....................................................................... 379

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É a pergunta mais irritante de todas, mas as pessoas não conseguem evitar fazê-la. Fazem-na nas reuniões familiares, principalmente nos casamentos. Os homens fazem-na logo no primeiro encontro. Os psicólogos fazem-na repetidamente. E nós fazemo-la a nós mesmas demasiadas vezes. É uma pergunta que não tem uma resposta aceitável e que nunca faz com que ninguém se sinta melhor consigo mesma. É a pergunta que, quando as pessoas deixam de a fazer, ainda nos faz sentir pior.

E, no entanto, não posso evitar fazê-la. Por que razão é sol- teira? Parece ser tão boa pessoa. E tão atraente. Não consigo entender.

Mas os tempos estão a mudar. Em todos os países do mundo, a tendência é para que as pessoas se mantenham solteiras durante mais tempo e se divorciem com maior facilidade. À medida que as mulheres estão cada vez mais economicamente independen tes, a sua necessidade de liberdade individual aumenta e muitas vezes o resul tado é que não se casam tão rapidamente.

O desejo do ser humano de acasalar, de encontrar o seu par, de ser parte de um casal, nunca se vai alterar. Mas a maneira como nos dedicamos a atingir esse objetivo, como o desejamos e o que estamos dispostas a sacrificar por ele, está definitivamente a mudar.

Por isso, talvez a questão já não seja tanto: «Por que razão és solteira?» Talvez a questão que nos devemos colocar seja: «Como és tu solteira?» O mundo é um lugar imenso e as regras estão sempre a mudar.

Por isso, digam-me, meninas, como estão a correr as coisas?

— Julie Jenson

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Regra

1Certifique-se de Que Tem Amigos

Como a Georgia É Solteira

— Eu SÓ QuERO DIVERTIR-ME! AGORA QuE ESTOu SOLTEIRA, SÓ

QuERO DIVERTIR-ME! VOCÊS, AS PESSOAS SOLTEIRAS, ESTÃO SEMPRE A

DIVERTIR-SE!! QuANDO É QuE VAMOS SAIR PARA NOS DIVERTIRMOS?!!

Ela está a gritar, a gritar comigo ao telefone.— SÓ ME APETECE ACABAR COM A VIDA, JuLIE. NÃO QuERO VIVER

COM ESTA DOR. A SÉRIO. QuERO MORRER. TENS DE ME FAzER ACRE -

DITAR QuE VAI FICAR TuDO BEM! TENS DE ME LEVAR A SAIR E

RECORDAR -ME QuE SOu JOVEM, QuE ESTOu VIVA E QuE POSSO

DIVERTIR-ME À BRAVA! Ou ENTÃO SABE DEuS O QuE SOu CAPAz DE

FAzER!

O Dale, o marido da Georgia, deixou-a há duas semanas por uma mulher mais nova e ela está, obviamente, um nadinha perturbada.

O telefonema chegou às oito e quarenta e cinco da manhã. Eu estava no Starbucks da Rua Quarenta e Quatro com a Oito, a equilibrar um tabuleiro de cartão com os cafés numa mão, o telemóvel com esta conversa na outra, o cabelo a cair-me sobre o rosto, grandes mocaccinos a incli narem-se perigosamente em direção ao meu seio esquerdo, enquanto tentava pagar ao simpático funcionário de vinte e poucos anos que estava na caixa. Eu faço muita coisa ao mesmo tempo.

Já estava levantada há quatro horas. Como agente publicitária de uma grande editora de Nova Iorque, a minha função é andar com os nossos autores de um lado para o outro enquanto eles dão entrevistas e

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publicitam os seus livros. Naquela manhã estava encarregada de acompanhar uma jovem escritora de trinta e um anos, Jennifer Bald win. O seu livro Como Manter o Seu Marido Atraído por Si durante a Gravi dez foi um êxito instantâneo. As mulheres de todo o país com praram o livro como se fosse pão quente. Porque, naturalmente, a maior preo cupação de uma mulher naquela altura tão especial da sua vida é mesmo como manter o marido atraído por si. Por isso, naquela semana estávamos a fazer a ronda dos prestigiosos programas da manhã. Today, The View, Regis and Kelly. WPIX, NBC e CNN, até à data, todos a quiseram entrevistar. Como era possível não adorar uma reportagem com mulheres grávidas de oito meses a mostrar como se fazia um striptease aos seus maridos? Naquele momento, a autora, a sua agente publicitária pessoal, a agente literária e a assistente da agente estavam todas ansiosamente à minha espera no carro esta cionado lá fora. E eu tinha nas mãos a dose de cafeína que lhes daria vida.

— Georgia, tens mesmo vontade de te matar? Porque, se tiveres, ligo para o serviço de emergência e mando uma ambulância a tua casa. — Li algures que devemos levar todas as ameaças de suicídio a sério, embora estivesse quase certa de que o que a Georgia estava a fazer era certificar-se de que eu a levava a sair para beber uns copos.

— DEIXA LÁ A AMBuLÂNCIA, JuLIE, Tu ÉS A ORGANIzADORA, ÉS Tu

QuE FAzES COM QuE AS COISAS ACONTEÇAM — LIGA PARA AQuELAS

TuAS AMIGAS SOLTEIRAS, AQuELAS COM QuEM TE DIVERTES A TODA A

HORA — E VAMOS SAIR PARA NOS DIVERTIRMOS!!

Enquanto continuava com o meu número de equilíbrio em direção ao carro, pensei como aquela ideia me fazia sentir cansada. Mas sabia que a Georgia estava a passar por uma fase difícil e que provavelmente ainda ia piorar bastante antes de começar a melhorar.

Era a história mais comum do mundo. O Dale e a Georgia tinham filhos, deixaram de fazer sexo com regularidade e começaram a dis-cu tir. Afastaram-se e um dia o Dale disse à Georgia que estava apai-xonado por uma reles prostitutazinha, professora de samba de vinte e sete anos, que conheceu no Equinox. Chamem-me doida, mas, cá para mim, o sexo escaldante deve ter tido qualquer coisa que ver com o assunto. A verdade é que, e não quero ser desleal, nem jamais sugeriria sequer que a Georgia pudesse ter tido alguma culpa, porque o Dale é um sacana e nós agora odiamo-lo, mas não posso evitar dizer que a Georgia tomou o Dale completamente por garantido.

Agora, para ser honesta, sou particularmente crítica da Síndroma das Mulheres Casadas Que Tomam os Seus Maridos por Garanti dos.

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Quando vejo um homem encharcado a segurar o guarda-chuva para proteger a mulher, depois de ter caminhado cinco quarteirões para ir buscar o carro e ela nem sequer obrigada lhe diz, confesso que fico com uma certa azia. Por isso, reparei que a Georgia tomava o Dale por garantido, princi palmente quando falava com ele naquele tom de voz. Aquele tom de voz que podemos perfeitamente tentar disfarçar o mais possível, mas que na verdade é pura e simplesmente desprezo. Aquele tom que é aversão. Que é impaciência. O tom de voz que é um revirar de olhos vocal. É a prova irrefutável de que o casamento é uma institui ção ter rivelmente falível, expressa numa simples frase como «Já te disse, a máquina das pipocas está na prateleira por cima do frigorífico». Se pudéssemos percorrer o mundo inteiro e recolher o tom de voz exa tamente como é emitido pelas bocas dos homens e mulhe res descon ten tes, trazê-lo para algum deserto do Nevada e libertá-lo — a ter ra afundar-se-ia literalmente dentro de si própria, implo dindo com a força bruta da irritação global.

A Georgia falava com o Dale nesse tom de voz. E claro que esse não foi o único motivo da sua separação. As pessoas são irritantes e o casamento é isso mesmo: uma sucessão de dias bons e de dias maus. Mas o que sei eu? Tenho trinta e oito anos e sou solteira há seis. (Sim, disse seis anos.) Não celibatária, não fora de serviço, mas definitiva, completa e oficialmente, lá-vou-passar-mais-um-Natal-sozinha, solteira. Por isso, na minha imaginação, eu iria tratar o meu homem sempre muito bem. Nunca ia falar torto para ele. Ia dizer-lhe todos os dias como o desejo, respeito e como ele é a minha prioridade nú mero um. Ia andar sempre com um aspeto sensual, ia ser muito meiga para ele e, se ele me pedisse, até ia fazer crescer uma cauda e guelras para nadar com ele no oceano em topless.

Por isso agora a Georgia passou de mulher casada e mãe semi s-satisfeita com a vida para mãe solteira de dois filhos com instintos um tanto suicidas. E quer ir para a farra.

Alguma coisa deve acontecer quando ficamos solteiras novamente. Deve acionar-se em nós um instinto de autopreservação qualquer que se assemelha a uma lobotomia completa. Porque a Georgia aca bou de fazer uma viagem no tempo até à altura em que tinha vinte e oito anos e tudo o que quer neste momento é ir «a uns bares, sabes, para conhecer rapazes», esquecendo-se de que estamos no fim dos trinta anos e que algu mas de nós andam a fazer exatamente isso há já al guns anos. E fran-camente não me apetece sair para conhecer rapazes. Não me apetece despender uma hora a manejar um daqueles apare lhos quentes que tenho

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para alisar o cabelo, para passar a sentir-me suficientemente atraente para sair e beber uns copos. Quero ir para a cama cedo, para me con seguir levantar cedo e fazer o meu batido, sair de casa e ir cor rer logo pela manhã. Sou uma maratonista. Não no sentido literal; só corro cinco quilómetros por dia. Mas como mulher solteira. Sei como controlar o meu passo. Sei como pode ser um cami nho longo. A Georgia, como é óbvio, quer alinhar as armas e começar a correr em sprint.

— TENS OBRIGAÇÃO DE TE IRES DIVERTIR COMIGO! NÃO CONHEÇO

MAIS NENHuMA SOLTEIRA A NÃO SER Tu, TENS DE SAIR COMIGO.

QuERO SAIR COM AS TuAS AMIGAS SOLTEIRAS! VOCÊS SAEM O TEMPO

TODO! AGORA QuE SOu SOLTEIRA, TAMBÉM QuERO SAIR!!

Do que ela se esquece é que é a mesma mulher que olhava sempre para mim com pena quando eu começava a falar da minha vida de solteira e que exclamava de um só fôlego: «Ohmeudeusatuavida étão-tristequemedávontadedemorrer.»

Mas a Georgia fazia coisas que as minhas restantes amigas bem casadas ou comprometidas jamais pensariam em fazer: pegava no telefone e organizava jantares para os quais convidava alguns homens solteiros para eu conhecer. Ou perguntava ao pediatra dos filhos se conhecia algum solteiro adequado para mim. Estava ativamente envolvida na minha busca pelo Homem Ideal, por muito confortável e satisfeita que estivesse com a sua vida. E isso é uma qualidade rara e bonita. E foi por isso que naquela manhã de sexta-feira, enquanto limpava o café da minha camisa branca, concordei em ligar a três das minhas amigas solteiras para perguntar se elas queriam sair com a minha nova e ligeiramente histérica amiga solteira.

Como a Alice É Solteira

A Georgia tem razão. Nós divertimo-nos tanto, as minhas ami-gas solteiras e eu. A sério. Oh, meu Deus, é hilariante. Por exemplo, deixem-me falar-vos do tumulto hilariante que é a Alice. No seu tra-balho é incrivelmente mal paga para defender os direitos das pessoas mais desfavorecidas de Nova Iorque contra juízes insensíveis, promo-tores públicos implacáveis e um sistema sobrecarregado em termos gerais. Ela dedicou a sua vida a tentar ajudar os mais fracos, agitando o sistema, ultrapassando obstáculos e protegendo a nossa Consti tuição. Ah, pois, e de vez em quando tem de defender um viola dor ou assas-

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sino que sabe que é culpado e muitas vezes lá lhe consegue devolver a liber dade. uups. umas vezes ganha-se e outras... ganha -se também.

A Alice é advogada oficiosa. Embora a Constituição garanta que todos os cidadãos têm direito a um advogado, infelizmente não pode prome ter que todos serão defendidos pela Alice. Antes de mais, ela é linda. O que é completamente superficial, ninguém se preocupa com essas coisas. Mas os jurados que estão sentados na aborrecida e indus trial sala verde do júri, iluminados com lâmpadas fluorescentes, e o juiz de oitenta anos a presidir à miséria geral de toda a situação, bem, eles aceitam qualquer prazer estético que consigam encontrar. E quando a ruiva e sensual Alice fala para eles com aquela voz pro funda e suave e a pro núncia carregada de mulher de Staten Island com raízes italianas que parece dizer eu-sou-uma-mulher-do-povo -mas -muito -mais-adorável, qualquer pessoa era capaz de entrar em Sing Sing e libertar cada um dos reclusos, se fosse isso que a Alice lhes pedisse para fazer.

Ela é tão espantosa na sua perspicácia legal e tem um carisma tão forte que se tornou a professora de direito mais nova da NYu. Durante o dia, a Alice andava a salvar o mundo e de noite andava a ins pirar yuppies e alunos de direito de famílias tradicionais a es que-cer os seus sonhos dos belos condomínios de Manhattan e férias de verão nos Hamptons para se tornarem advogados oficiosos e faze rem qual quer coisa de importante. Era tremendamente bem-suce dida. A Alice fez com que a insubordinação e a compaixão fi cas sem nova-mente na moda. Conseguiu fazer com que eles acredi tas sem real mente que aju dar as pessoas era mais importante que ganhar dinheiro.

Era uma deusa.Pois. Disse que era porque estou mais ou menos a mentir. A ver-

dade dói demasiado. A Alice já não é advogada oficiosa. — Muito bem, esta é a única ocasião em que acredito na pena de

morte. Sendo a fantástica amiga que era, a Alice estava a ajudar-me a

transportar livros do meu escritório na Rua Cinquenta com a Oitava Ave nida para uma sessão de autógrafos na Rua Dezassete. (O livro era O Guia Idiota para Ser Um Idiota e foi, claro, um enorme sucesso.)

— A única exceção a esta regra aplica-se quando um homem que sai com uma mulher de trinta e três anos até ela ter trinta e oito se aper cebe de repente de que tem problemas com compromissos; quem é que dá a impressão a uma mulher que não tem qualquer problema com o casa mento e com a ideia de ficar com ela para o resto da vida; quem é que diz constantemente que vai acontecer, até que um dia

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decide final mente dizer-lhe que afinal não acha que «o casamento seja para mim»? — A Alice leva um dedo à boca e dá um assobio capaz de parar o trânsito.

um táxi virou para nos apanhar. — Abra a mala, por favor — disse a Alice, tirando energicamente

uma caixa dos livros Idiota dos meus braços e colocando-a dentro do carro.

— Isso foi uma atitude merdosa — disse eu.— Foi mais do que merdosa. Foi criminosa. Foi um crime contra

os meus ovários. Foi uma perversidade contra o meu relógio biológico. Ele roubou cinco dos meus anos férteis e isso devia ser considerado como apropriação de maternidade, punível com o enforcamento.

Agora já estava a arrancar-me as caixas das mãos, atirando-as para a mala do carro. Achei que era melhor deixá-la acabar a tarefa. Quando acabou, dirigimo-nos a lados opostos do táxi e ela continuou a falar comigo por cima do tejadilho, sem sequer parar para respirar.

— Eu não vou aceitar isto pacificamente. Sou uma mulher pode-rosa e estou a controlar a situação. Posso compensar o tempo per dido, posso mesmo.

— O que queres dizer com isso?— Vou despedir-me do meu emprego e recomeçar a sair. — Alice

entrou no táxi e bateu com a porta. Confusa, deixei-me engolir pelo táxi.— Desculpa, o que disseste?— Para a Barnes and Noble da union Square, por favor — berrou

a Alice ao taxista. Depois virou-se para mim. — É isso mesmo. Vou ins crever-me em todos os sítios de encontros online, vou enviar um e-mail a todos os meus amigos para que me arranjem encontros com os homens solteiros que conheçam. Vou sair todas as noites e vou encontrar alguém depressa.

— Vais despedir-te para poderes sair? — Tentei fazer esta pergunta com a menor quantidade de horror e crítica que me foi possível.

— Exatamente. — A Alice continuava a abanar a cabeça vigorosa-mente, como se eu soubesse do que estava a falar. — Vou continuar a dar aulas, tenho de ganhar dinheiro em algum lado. Mas sair vai ser basicamente o meu novo emprego, sim. Ouviste bem.

Por isso, a minha amiga boa samaritana, Super-Mulher, Xena, a Prin cesa Guerreira, Erin Brockovich, a Alice, ia continuar a ajudar os mais desfavorecidos. Só que naquele momento a mais desfavorecida era ela: uma mulher de trinta e oito anos, solteira em Nova Iorque.

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Ainda está a tentar libertar-se «do homem». Mas este homem chama- -se Trevor, o tal que tirou aqueles anos tão preciosos da sua vida e que agora a fez sentir-se velha, mal-amada e assustada.

E quando perguntamos à Alice o que faz agora com o tempo que tem livre, aquele que antes utilizava para ajudar a manter os jovens criminosos afastados de Rikers e do abuso físico iminente, é frequente começar com o seu pequeno discurso:

— Além de navegar na Internet e de sair com conhecidos dos meus amigos, certifico-me de que compareço a todos os eventos para que sou convidada, a todas as conferências, almoços ou jantares. Por muito mal que me esteja a sentir. Lembras-te de quando estive com aquela gripe terrível? Mesmo assim saí de casa e fui para o Theatre Workshop de Nova Iorque para uma noite de solteiros. Na noite depois da cirur-gia que fiz à mão, tomei uns Percocet e fui a uma enorme festa de bene-fi cência na Central Park Conservancy. Nunca se sabe se é naquela noite que vamos conhecer o homem que pode mudar a nossa vida. Mas tam bém tenho alguns passatempos. Faço propositadamente aquilo que gosto de fazer, porque, sabes, podes conhecer alguém quando menos esperas.

— Quando menos esperas? — perguntei durante uma das dia tri-bes da Alice. — Mas se decidiste deixar o teu emprego para dedicar a tua vida ao propósito de conhecer alguém, como é que alguma vez isso pode acontecer quando menos esperas?

— Porque me mantenho ocupada. Porque faço coisas interes san -tes. Ando de canoa no Hudson, faço escalada em Chelsea Piers, tenho aulas de carpintaria na Home Depot, que já agora tu devias ter comi go, porque construí um armário fabuloso, e estou a pensar em fazer um curso de vela no South Street Seaport. Mantenho-me ocupada a fazer coisas que acho interessantes, para me enganar a mim própria e esque-cer o facto de que na verdade ando só a tentar encontrar homens. Porque não podemos parecer desesperadas. Isso é o pior de tudo.

Quando a Alice fala disto às pessoas, muitas vezes transmite a ideia de que é um pouco desequilibrada, principalmente porque engole Tums uns atrás dos outros enquanto fala. Acredito que os seus proble-mas de indigestão estão profundamente enraizados num pequeno refluxo ácido que se chama «tenho pavor de ficar sozinha».

Assim, claro, a quem ligaria eu em primeiro lugar quando preciso de sair com um grupo de amigas, para me divertir? À Alice, que agora é praticamente uma profissional na matéria. Conhece todos os empre-gados de bar, os porteiros, os maître d’, os bares, clubes, lugares fora de

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mão, locais mais frequentados por turistas, antros e atividades cultu rais de Nova Iorque. E, naturalmente, a Alice estava pronta para sair.

— Conta comigo — disse. — Não te preocupes. Vamos certificar--nos de que amanhã à noite a Georgia tem a melhor noite da vida dela.

Desliguei o telefone, aliviada. Podia contar com a Alice, porque não importava como a sua vida estivesse mudada, ela ainda adorava uma boa causa.

Como a Serena É Solteira

— Tem demasiado fumo, nem penses. — Nem sequer sabes onde vamos. — Pois não, mas vai ter demasiado fumo. Todos os lugares têm

demasiado fumo. — Serena, há uma lei contra o tabaco em Nova Iorque; não se pode

fumar nos bares. — Eu sei, mas mesmo assim parece que há sempre demasiado

fumo. E esses lugares são sempre muito barulhentos. Estamos as duas no zen Palate — o único lugar onde me encon trei

com a Serena durante os últimos três anos. Ela não gosta de sair. Também não gosta de comer queijo, de produtos com glúten, de vegetais com erva-moura, vegetais que não sejam biológicos e ananás. Nenhum destes produtos combina com o seu grupo sanguíneo. Se ainda não adivinharam, posso dizer-vos que a Serena é muito, muito magra. Ela é uma daquelas raparigas louras muito bonitas mas de ar perdido que podemos encontrar nas aulas de ioga em todas as gran des cidades do país. É a chefe de cozinha vegetariana de uma família famosa de Nova Iorque, sobre quem não posso falar, devido ao acordo de confidencialidade que a Serena me obrigou a assinar, para que quando coscuvilhasse comigo não se sentisse culpada por quebrar o contrato de confidencialidade que assinou com eles. A sério. Mas vamos apenas dizer que os seus nomes são Robert e Joanna e que o filho se chama Kip. E, para ser sincera, a Serena nunca diz nada desagradável sobre eles; eles tratam-na bastante bem e parecem apreciar a sua ma neira de ser gentil. Mas por Deus, quando a Madonna vai almoçar com eles e lhe elogia a comida, a Serena tem de comentar com alguém. Afi nal de contas é apenas humana.

A Serena também é estudante do hinduísmo. Acredita na igual-dade de espíritos entre todas as coisas. Quer ver a perfeição divina em

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todas as formas de vida, até no facto de não ter tido literalmente um encon tro ou sexo há quatro anos. Ela encara isto como perfeição, como a maneira que o mundo tem de lhe mostrar que precisa de se concen-trar um pouco mais em si própria. Porque como se pode ser um par-ceiro verdadeiro para alguém antes de se atingir um nível de realização pessoal completo?

Por isso, a Serena trabalhou arduamente em si própria. Trabalhou de tal forma que hoje é o que se pode considerar de labirinto humano. Tenho pena do homem que alguma vez tentar entrar nos corredores tortuosos e becos sem saída que caracterizam as suas restrições dieté-ticas, horários de meditação, workshops de filosofia new age, aulas de ioga, regimes vitamínicos e necessidades de água destilada. Se ela tra balhar um pouco mais em si própria vai tornar-se uma inválida.

A Serena é aquela amiga com quem nos encontramos sempre sozi-nhas; aquela que mais ninguém conhece. Aquela que, quando men cio-namos casualmente o seu nome, as outras amigas perguntam de imediato: Serena, tens uma amiga chamada Serena? Mas as coisas não foram sempre assim. Conheci a Serena na universidade e ela era igual a toda a gente. Bem, sempre foi um bocadinho obsessiva -compulsiva, mas nessa altura era mais uma mania e não um estilo de vida. Durante os vinte anos, conheceu muitos rapazes e saiu com eles. E também teve um namorado durante muito tempo — três anos. O Clyde. Ele era amoroso e adorava-a, mas a Serena sempre soube que o Clyde não era o tal. Ela deixou-se instalar numa rotina agradável com ele — e como já devem ter calculado, a Serena gosta bastante de rotinas. Por isso, nós encorajámo-la a não continuar a iludir o Clyde — nunca ima gi nan do que ele seria o último relacionamento verdadeiro durante toda a sua vida livre de trigo. Depois de acabar com o Clyde, ela con ti nuou a sair com rapazes — não de modo agressivo, mas quando sur gia al gu ma opor tunidade. Mas por volta dos trinta e cinco anos, quando perce beu que não encontrava ninguém que lhe interessasse de ver dade, começou a concentrar-se em outros aspetos da sua vida. O que, jus tiça lhe seja feita, é o que a maior parte dos livros que publi cito diz que as mulhe- res devem fazer. Estes livros também nos dizem que deve mos amar-nos a nós mesmas. Na verdade, se fôssemos obri gados a resumir estes livros em apenas três palavras, o resultado seria «ame -se a si pró pria». Não consigo explicar porquê, mas isto irrita-me solene mente.

Então a Serena começou a concentrar-se em outras coisas, come çando assim as aulas e dietas malucas. Ao contrário da Alice, pelo menos no que diz respeito à questão dos encontros com homens, a Serena decidiu

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acalmar. É um percurso escorregadio, decidir que se vai prescindir do sonho do amor da nossa vida. Porque, se for bem -sucedido, pode deixar -nos mais descontraídas, fazer-nos apreciar a vida e permitir realmente que a nossa luz interior brilhe com mais vigor do que nunca. (Sim, estou a falar da luz interior de uma pessoa; afinal estamos a falar da Serena.) Mas na minha opinião, se seguirmos essa estra tégia incorretamente ou durante demasiado tempo, ela pode fazer com que a nossa luz se apa gue, um pouco todos os dias. Podemos transformar-nos numa pessoa sem necessidade de sexo e isolada das restantes. Mesmo que ache um pouco de mais que alguém se despeça para começar a sair, também acho que não podemos recostar-nos e ficar à espera que o amor venha ter con-nosco. O amor não é assim tão inte ligente. Na verdade, o amor não se preocupa assim tanto connosco. Acho que o amor anda por aí à procura de pessoas cujas luzes brilhem tão intensamente que até do espaço se podem ver. E francamente, algures entre as irrigações de cólon e as aulas de danças africanas, a luz da Serena apagou-se.

Mas ainda assim ela tem um efeito calmante em mim. É capaz de me ouvir queixar de como odeio o meu trabalho com uma paciência apenas igualável à de Gandhi. Além dos livros que já mencionei, ajudei também a publicitar obras como: O Relógio não Para! Como Conhecer e Casar com o Homem dos Seus Sonhos em apenas Dez Dias; Como Saber Que o Seu Homem a Ama de Verdade e o sucesso que se lhe seguiu: Como Ser Ado rável (que é supostamente o segredo para toda a felicidade feminina).

Cresci em Nova Jérsia, que não fica terrivelmente longe, está ape-nas a uma ponte ou a um túnel de distância da cidade dos meus sonhos. Mudei-me para cá para ser escritora, depois achei que tal-vez pudesse ser realizadora de documentários; até fiz alguns cursos na área da antropologia, julgando que podia mudar-me para África para estudar os guerreiros masais ou outra tribo quase extinta qualquer. Tenho um fascínio pela nossa espécie e adoro a ideia de poder escrever sobre ela de alguma forma. Mas admito que herdei um sentido prático muito forte do meu pai. Gosto de ter uma casa de banho dentro de casa e seguro de saúde. Por isso arranjei um emprego na área da edição.

Mas agora a novidade que era poder pagar as minhas mer cearias já tinha definitivamente perdido uma parte da emoção ini cial. E a Serena ouve calmamente todas as minhas lamúrias.

— Mas porque não te despedes?— E faço o quê? Arranjo outro emprego em publicidade? Detesto

publi cidade. Ou fico desempregada? Sou demasiado dependente de um ordenado fixo para ser assim tão descontraída.

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— Por vezes temos de correr alguns riscos. Se a Serena achava que eu me estava a afundar numa rotina, então

a minha vida devia estar mesmo mal.— Como por exemplo? — perguntei. — Como... não disseste sempre que querias escrever?— Sim, mas o meu ego não é suficientemente grande para ser

escri tora. Eu estava um pouco parada na minha vida profissional. A minha

«voz da razão», em que tanta gente confiava, estava a fazer com que descartasse praticamente todas as possibilidades. Mas todas as sextas -feiras a Serena me ouvia a choramingar sobre as frustrações do meu trabalho como se fosse a primeira vez que falava nelas.

Por isso pensei, e porque não? As minhas amigas sempre demons-traram muita curiosidade em relação a ela. Porque não tentar con-vencê-la a sair connosco?

— As probabilidades de qualquer uma de nós sair amanhã à noite e conhecer o homem dos seus sonhos é praticamente nula, por isso, para quê darmo-nos ao trabalho? — perguntou a Serena enquanto dava mais uma dentada no hambúrguer de soja.

De um ponto de vista factual, a Serena até tem razão. Tenho andado a sair à noite com a esperança de encontrar o homem que me vai adorar para o resto da vida. Digamos que tenho vindo a fazê-lo duas ou três vezes por semana nos últimos... quinze anos. Já conheci homens e saí com eles, mas é evidente que, até hoje, ainda não encon-trei aquele que pode ficar registado no meu livro como «O Tal». Isso resulta numa quantidade infernal de noites em que saí e não conheci o homem dos meus sonhos.

Já sei, já sei que não queríamos sair apenas para conhecer homens. Queríamos sair para nos divertirmos, para celebrar o facto de sermos solteiras e mais ou menos jovens (ou pelo menos não velhas), de estarmos vivas e de vivermos na melhor cidade do mundo. É realmente engra çado como conhecemos finalmente alguém e começamos a namo rar. A primeira coisa que ambos fazemos é ficar em casa acon-che gados no sofá. Porque sair com os amigos era simplesmente diver-tido de mais.

Por isso, não podia discordar muito da Serena. Todo o conceito de «sair» é bastante falível. Mas continuando com o meu pedido:

— Não vamos sair para conhecer homens. Só vamos sair por sair. Para mostrarmos à Georgia como é divertido sair. Como é bom ser livre neste mundo, a comer, a beber, a conversar e a rir. Às vezes,

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alguma coisa inesperada acontece, outras vamos simplesmente para casa. Mas mesmo assim saímos, sabes, para sairmos. Para ver o que pode acontecer. É essa a piada.

O argumento sobre os benefícios da espontaneidade e do desconhe-cido normalmente não falavam muito ao coração da Serena, mas por algum motivo oculto concordou comigo.

— Está bem. Mas não quero ir para um lugar com demasiado fumo ou barulho. E certifica-te de que tem um prato vegetariano no menu.

Como a Ruby É Solteira

E depois temos a Ruby. Era sábado, duas da tarde e eu tinha ido ao apartamento da Ruby

para a tentar recrutar para a saída dessa mesma noite — por isso e porque sabia que era capaz de ainda estar na cama.

A Ruby abriu a porta de pijama. O cabelo estava seriamente des-gre nhado, a um passo de se assemelhar com as tranças africanas.

— Já saíste da cama hoje? — perguntei, preocupada.— Sim. Claro. Agora mesmo — respondeu-me, ofendida. Começou a caminhar em direção ao quarto. O apartamento estava

impecavelmente limpo. Não havia nenhum dos sinais óbvios de depres são, como as caixas bolorentas de gelado, donuts meio comidos e roupa suja espalhada por todo o lado. Ela era uma depressiva bas tante arru madinha, o que me dava uma certa esperança.

— Como te sentes hoje? — perguntei, seguindo-a até ao quarto. — Estou melhor. Quando acordei, ele não foi a primeira coisa de

que me lembrei. — Voltou a rastejar para cima da cama muito fofa, ondulante e florida e enroscou-se nos cobertores. Parecia realmente confortável. Até eu estava a começar a pensar em dormir uma sesta.

— Ótimo! — exclamei, sabendo que estava prestes a ouvir falar muito mais daquele assunto.

A Ruby é uma adorável morena de cabelos compridos, uma cria-tura curvilínea e feminina perfeita, de voz calma e palavras suaves. E gosta de falar dos seus sentimentos.

Sentou-se na cama.— O meu primeiro pensamento foi «sinto-me bem». Sabes o que

quero dizer, aquele momento que antecede a lembrança de quem és e de quais os verdadeiros factos que compõem a nossa vida? O meu primeiro pensamento, cá no fundo, no meu corpo, foi «sinto-me bem».

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Há muito tempo que não me sentia assim. Sabes, o mais normal é abrir os olhos já a sentir-me merdosa. Como se estivesse a sentir-me mer dosa no meu sonho e acordar fosse apenas uma extensão dessa realidade, entendes? Mas esta manhã o meu primeiro pensamento foi «sinto-me bem». Como se no meu corpo não existisse qualquer tris teza, sabes?

— Isso é fantástico — disse alegremente. Talvez as coisas não estivessem tão mal como eu pensava.

— Pois, mas é claro que, mal me lembrei de tudo, desatei a chorar e só parei três horas depois. Mas acho que já foi uma melhoria, sabes? Fez-me perceber que estou a ficar cada vez melhor. Porque o Ralph não pode ficar marcado na minha memória com tanta força, sim ples mente não pode. Em breve, vou acordar e demorar três minutos intei ros a começar a chorar por ele. E depois quinze minutos. Depois uma hora, depois um dia inteiro, até que finalmente vou conseguir ultra passar isto, sabes? — A Ruby olhou para mim como se fosse recomeçar a chorar.

O Ralph era o gato da Ruby. Tinha morrido com uma insuficiência renal há três meses. Desde esse dia que ela me mantinha informada sobre as repercussões físicas da sua depressão. Isto é particularmente difícil para mim, porque não faço a mais pequena ideia de como é que alguém consegue aplicar toda a sua energia emocional numa criatura que nem uma massagem nas costas lhe podia fazer. E não é só isso, mas também o facto de me sentir um pouco superior. Acredito que todas as pessoas que têm um animal de estimação são, na verdade, mais fracas que eu. Porque quando pergunto a alguém por que razão amam tanto o seu animal de estimação, a resposta é invariavelmente: «Não vais acreditar no amor incondicional que o Beemie me dá.» Pois, adi vinhem? Eu não preciso de amor incondicional. Preciso de alguém que consiga caminhar sobre duas pernas, que saiba formar frases, manejar ferramentas e que seja capaz de me recordar que é a segunda vez naquela semana que gritei com alguém num serviço de atendi-mento porque não consegui levar a minha avante e era melhor pensar um pouco nisso. Quero ser amada por alguém que ao ver-me fechada fora de casa, com a chave metida na porta pela terceira vez naquele mês, seja capaz de entender que essa talvez seja uma Característica Minha Que nunca Vai Mudar. E mesmo assim ele ama -me. Não porque é um amor incondicional, mas porque ele me conhece verda-deiramente e decidiu que a minha inteligência fasci nante e o meu corpo escaldante valem provavelmente a pena perder um voo ou dois porque me esqueci da carta de condução em casa.

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Mas não é bem isso que interessa agora. O que interessa é que a Ruby se recusa a sair para ir tomar um café, para ir às compras ou mesmo falar comigo, porque ela é um verdadeiro desastre a gerir as desilusões. Especialmente quando toca ao romance. A quantidade de momentos agradáveis que passa com alguém nunca serão merecedores da dor e tortura a que se sujeita quando as coisas não resultam. As con-tas não batem certo de maneira nenhuma. Se sair com alguém durante três semanas e depois se separa, a Ruby anda os dois meses seguintes a enlouquecer e a dar com toda a gente que a rodeia em doida.

Como sou uma especialista no funcionamento emocional da cabeça da Ruby, posso dizer-vos exatamente o que acontece durante a sua descida aos infernos. Ela conhece alguém, digamos um homem, em oposição a um felino. E gosta dele. Sai com ele. O seu coração fica cheio de expectativas e entusiasmo provocados pelo facto de encontrar final-mente alguém de quem gosta, alguém que está disponível, é meigo, decente e parece gostar dela também.

Como já disse, a Ruby é atraente; muito suave, muito feminina. Con segue ser interessada e atenciosa, uma excelente parceira para con-versa. E quando conhece homens, eles gostam dela por estes motivos todos. A Ruby é realmente boa na questão dos encontros e quando tem algum relacionamento está claramente no seu elemento.

No entanto, vivemos em Nova Iorque, temos esta vida, e os encon-tros são assim mesmo. Na maior parte das vezes, as coisas não resul-tam. E quando isto acontece e a Ruby se sente rejeitada, seja lá por que razão for ou de que maneira a notícia lhe seja transmitida, ini cia- -se imedia tamente um processo. Normalmente, no Momento da Desi-lu são, a Ruby está ótima. Como aconteceu quando um tal de Nile aca bou com ela porque queria voltar para a antiga namorada. No mo mento do impacto, a Ruby foi muito filosófica sobre o assunto. Desce sobre ela uma onda de sanidade e autoestima quando me diz que sabe que aquilo significa que afinal ele não era o tal, que não pode levar a decisão dele a peito e que quem perde é ele. Depois passam -se algumas horas, o tempo afasta-a do momento de lucidez e a Ruby começa a descer o Poço da Loucura. O seu amado, aquele que outrora viu no seu tama nho normal, começa a crescer cada vez mais e numa questão de horas torna-se no monte Evereste do desejo e a Ruby fica inconsolável com a sua perda. Ele foi a melhor coisa que já lhe acon-teceu na vida. Nunca mais vai conhecer ninguém como ele. Nile fez a coisa mais poderosa que alguém pode fazer à Ruby — rejeitou-a e agora ele é TuDO e ela é nada.

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Habituei-me de tal modo a observar a Ruby a passar por isto que faço sempre questão de estar perto dela naquelas horas críticas que se seguem a uma rejeição, para ver se consigo parar o processo antes que ela comece a descer as escadas do Poço. Porque, deixem-me dizer-vos, quando ela desce ao fundo, ninguém sabe quanto tempo demorará a voltar a cima. E não gosta de estar lá em baixo sozinha. A Ruby gosta de ligar às amigas e descrever detalhadamente, durante horas, como é estar na terra dos sonhos desfeitos. O papel de parede, o forro dos sofás, os mosaicos do chão. E não há nada que possamos fazer. Só podemos esperar que passe.

Por isso, como podem imaginar, depois de alguns anos destes altos e baixos, sempre que recebo um telefonema da Ruby a dizer-me que conheceu «um homem fantástico» ou que o segundo encontro «correu mesmo, mesmo bem» não começo imediatamente aos pulos de ale-gria. Porque, mais uma vez, as perspetivas não são lá muito pro-missoras. Se três semanas de felicidade dão para dois meses de lágri mas, imaginem como fico apavorada quando a Ruby celebra quatro meses de namoro com alguém. Se um dia chegar a acabar a relação de alguns anos, bem, não sei se nesse momento ainda lhe restam anos suficientes de vida para ultrapassar o trauma.

E foi por isso que decidiu arranjar o Ralph. A Ruby estava cansada de se sentir desiludida. E desde que mantivesse as janelas fechadas e as portas entreabertas, o Ralph jamais a abandonaria. E a Ruby nunca mais precisava de se sentir desiludida. Só que ela desconhecia que os felinos podem ter insuficiências renais crónicas. E agora, bem, agora o Ralph foi o melhor gato que já existiu. O Ralph fazia-a mais feliz do que qualquer outro animal ou pessoa alguma vez podia ter feito e não faz ideia de como vai conseguir viver sem ele. Ainda consegue ir trabalhar. Tem o seu próprio negócio de recursos humanos e tem clientes que contam com ela para lhes arranjar empregos. E ainda bem que os tem, porque a Ruby é sempre capaz de sair da cama para aju dar aqueles que precisam de uma boa colocação no mundo do trabalho. Mas o sábado à tarde é muito diferente. A Ruby nem se mexe.

Até que lhe contei o que se passava com a Georgia. Como o marido a tinha deixado por uma professora de samba, como está de rastos e quer sair para ver o lado bom da vida. Nessa altura, a Ruby entendeu perfeitamente. Entendeu que não importa que nos sintamos mal, é nosso dever sair de casa e ajudar a enganar uma mulher recentemente solteira e fazê-la acreditar que vai ficar tudo bem. Instintivamente, a Ruby percebeu que aquela era uma dessas noites.

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Como Eu Sou Solteira

Sejamos honestas. Eu não estou a sair-me muito melhor que as minhas amigas. Saio, conheço homens em festas, no trabalho ou atra-vés de amigos, mas as coisas parecem nunca «resultar». Não sou doida, não saio com homens doidos. Mas as coisas não «resultam». Quando vejo casais a caminhar pela rua, apetece-me abaná-los e implorar-lhes que respondam à minha pergunta. «Como é que vocês conseguem fazer isto?» Isto tornou-se uma espécie de Esfinge para mim, um mis tério eterno. Como é que duas pessoas conseguem encontrar-se nesta cidade e fazer a relação «resultar»?

E como reajo a isto? Fico perturbada. Choro. Paro de chorar. Depois animo-me e volto a sair, a ser absolutamente encantadora e a divertir -me tantas vezes quantas possível. Tento ser uma boa pessoa, uma boa amiga e um bom membro da minha família. Tento certificar-me de que não há um motivo inconsciente para ainda ser solteira. E continuo a andar com a minha vida.

— És solteira porque agora és demasiado esquisita — é a resposta da Alice de cada vez que o assunto vem à baila.

Entretanto, não a vejo casada com o bonitão que trabalha na loja de frutas da esquina da Doze com a Sete e que parece ter um enorme fraquinho por ela. Ela baseia esta opinião no facto de eu me recusar a arranjar encontros online. Antigamente, os encontros online eram considerados um embaraço horrendo, uma coisa que ninguém admi-tiria andar a fazer, nem morta! Adorava essa época. Agora, a reação que obtemos das pessoas quando dizemos que somos solteiras e não participamos em nenhuma espécie de encontros online é que não deves querer assim tanto encontrar alguém. Tornou-se no cerne da questão, no teste absoluto para determinar o que estamos dispostas a fazer por amor. Como se o nosso Sr. Certo esteja absoluta e garantidamente online. Ele está à nossa espera e se não estivermos dispostas a gastar 1500 horas, 39 cafés, 47 jantares e 432 copos para o conhecer, então é por que não estás suficientemente determinada a conhecê-lo e nesse caso mereces envelhecer e morrer sozinha.

— Não me parece que estejas já disponível para o amor. Ainda não estás pronta — diz a Ruby.

Eu nem sequer me vou dar ao trabalho de lhe responder — exceto dizer que não sabia que encontrar o amor se tinha tornado no equi-valente à preparação para se ser um Cavaleiro Jedi. Não sabia que eram necessários anos de treino psíquico, experiências metafísicas de

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resistência e anéis de fogo para atravessar antes de conseguir encontrar um par para ir comigo ao casamento do meu primo em maio. E, no entanto, conheço mulheres que devem estar tão fora de si que andam por aí a ladrar como cães, que ainda conseguem encontrar homens que as adoram e por quem elas, no meio da sua loucura, se sentem apaixo-nadas. Mas não importa.

A minha mãe acha que eu sou solteira porque gosto da minha independência. Mas é raro debruçar-se longamente sobre o assunto. Ela é de uma geração de mulheres que não acreditava ter outra alternativa de vida além de casar e ter filhos. A minha mãe não teve outras escolhas. Por isso, acha que é espetacular eu ser solteira e não ser obrigada a depender de homem nenhum. Não me parece que os meus pais tenham tido um casamento particularmente feliz e, depois de o meu pai morrer, a minha mãe transformou-se numa daquelas viúvas que parece ter começado finalmente a viver — as aulas, as férias, os jogos de bridge e os clubes de leitura. Quando eu ainda era uma miúda, a minha mãe achava que me estava a prestar um ótimo serviço, a oferecer-me um maravilhoso presente ao recordar-me que não precisava de nenhum homem para ser feliz. Posso fazer o que qui ser, ser quem eu quiser, sem precisar de um homem.

E agora... bem, não tenho coragem para lhe dizer que não sou real-mente feliz solteira e se quisermos ser a namorada ou mulher de alguém, e se por acaso formos heterossexuais, então precisamos mesmo de um homem, desculpa lá, mãe; mas não lhe digo isto porque sei que ia ficar preocupada. As mães não gostam de ver os filhos tristes. Assim, desvio as conversas para bem longe da minha vida amorosa e ela não faz perguntas, já que nenhuma de nós quer saber ou revelar as tristezas incómodas uma da outra.

— Oh, por favor — disse a Serena, que de entre todas as minhas amigas é quem me conhece há mais tempo. — Não é nenhum mis-tério. Tu saíste com todos os maus rapazes até meio dos trinta anos e, agora que finalmente ganhaste juízo, os melhores já estão todos com-prometidos.

Bingo.O meu último namorado, há seis anos, foi o pior deles todos. Há

homens com quem namoramos que são tão maus que, quando conta-mos a sua história, ela se reflete de modo igualmente desagra dável em nós e não apenas neles. O nome dele era Jeremy e namorá vamos há dois tumultuosos anos. Ele decidiu acabar comigo não com parecendo ao funeral do meu pai. Depois disso, nunca mais ouvi falar nele.

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Desde essa altura, nada de maus rapazes. Mas também nada de grandes amores.

A Georgia dedicou-se à questão porque permaneço solteira numa noite particularmente sombria, solitária e lamentosa.

— Oh, por amor de Deus, não há motivo nenhum para isso. Está é tudo fodido. Tu és bondosa, és linda, tens o melhor cabelo de toda a cidade de Nova Iorque. — (É bastante comprido e encaracolado, mas sem ser frisado e quando o quero esticar fica igualmente bonito. Tenho de admitir, é o meu melhor atributo.)

— És sensual, inteligente, engraçada e uma das melhores pessoas que conheço. Tu és perfeita. Para de te colocar essa questão horrorosa, porque não há porcaria de motivo nenhum para que o homem mais sensual, simpático e encantador de Nova Iorque não esteja loucamente apaixonado por ti neste preciso momento.

E foi por isto que amei imediatamente a Georgia. Foi também por esse motivo que acabei por organizar uma saída para este fim de semana com o meu conjunto de amigas tão distintas; para podermos mostrar à Georgia que ainda vale a pena viver a vida. Porque quando o dia acaba... vem a noite. Em Nova Iorque, se há noite, há vida noturna e onde há vida, como vos dirão os mais otimistas, há esperan ça. Acho que essa é uma grande parte de como é ser solteira. Espe rança. Amigos. E fazer tudo por tudo para sair da porcaria do apartamento.

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Regra

2Não Seja Maluca, não Importa como Se Sente por dentro,

porque só Faz com Que Todas Façamos Má Figura

Devemos escolher muito bem os locais a ir quando nos decidimos a sair à noite com o principal objetivo de acabar com as ameaças que uma amiga fez em como se ia suicidar, por muito pouco convincen tes que estas tenham sido. A Alice e eu discutimos esta questão com o mesmo grau de seriedade com que dois generais planeiam um ataque aéreo noturno. A verdade é que, em qualquer noite em que queira mos sair, devemos fazer uma pesquisa séria. Porque uma má saída noturna pode ser altamente desmoralizante, mesmo para a solteira mais em forma. Por isso, é necessário fazer muitas perguntas. Quan tos homens lá estão e quantas mulheres? As bebidas são muito caras? A música é boa? Será a noite certa para estar naquele lugar? É preciso levar todos estes factos em consideração e, se necessário for, recorrer a gráficos, diagramas e um par de telefonemas bem dirigidos para aca bar por atingir um plano de ataque correto. Neste caso em concreto, a estra- tégia era bastante simples: tínhamos de ir a locais com carradas de homens. Porque a única ideia que não queremos que ocorra à nossa amiga recém-solteira é aquele conceito penetrante e tão opressivo — que é o primeiro pensamento que assalta qualquer mulher sensata quando esta percebe que está oficialmente solteira — e que é natural-mente: Já não há homens como deve ser. E o pensamento seguinte é: Vou ficar sozinha para o resto da vida.

Agora, a grande questão se afinal ainda restam homens como deve ser em Nova Iorque ou nem por isso é uma questão que pode ser debatida provavelmente até à eternidade, mas por agora vamos dei xar

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a realidade dos factos para o Comité de Recenseamentos e para os serviços de encontros. Nesta noite em especial, o que me preo-cupa é que a Georgia tenha a perceção de que há imensos homens bonitos e solteiros por aí, literalmente a cair do céu, a crescer nas árvores e a tro peçar connosco na rua, todos desejosos de ir para a cama connosco. Assim sendo, na cabeça da Alice, o local onde jantaríamos era fácil de escolher. Tinha de ser um restaurante onde se servissem uns belos bifes e, já agora, o maior da cidade. O que quer dizer que íamos ao Peter Luger, em Williamsburg, Brooklyn. Podem estar a questionar -se por que motivo decidimos levar a minha amiga recém--solteira a Brooklyn. Bem... acordem, dorminhocas, por onde têm andado? Brook lyn é a nova Manhattan e Williamsburg é o novo Lower East Side; além disso, o Peter Luger serve carne tão vermelha que é garan tido que lá se encontram montes de homens heterossexuais (ou mulhe res a encherem-se de proteínas para um concurso de halterofi lismo que se aproxime). De qualquer maneira, isso faz com que as pro babilida des sejam bastante animadoras para nós e neste momento não peço mais do que isso. Numa altura destas, a perceção de abundância é tudo, não apenas em relação aos bifes de um quilo cada, mas aos montes de homens sentados em redor de robustas mesas de madeira, em grupos de oito ou dez, a devorar a carne como se fossem homens das cavernas.

Não sei se alguma vez foram responsáveis por juntar um grupo de pessoas e decidir o que iam fazer durante uma noite. Mas se nunca foram, deixem-me que vos diga que é a experiência mais surpreen-den te mente enervante do mundo. Digo «surpreendente» porque, se nunca esteve encarregada da organização de uma noite, se questionará por que motivo a sua amiga normalmente tão descontraída lhe per -gunta três vezes se gostou dos tortellini. Mas se já o fizeram, então com preendem que até a pessoa mais confiante se transforma na anfi-triã mais nervosa e insegura, obcecada com todas as piadas que cir-culam pela mesa, com cada revirar de olhos e comentário sussurrado pelas suas companheiras. E se não correr bem, ficará marcada na mente das pessoas como aquela noite em que as levámos para sair e elas não se divertiram nem um pouco.

Ora bem, a chave para uma noite divertida é, claro, ter uma mis tura interessante de pessoas. Por isso deixem-me relembrar quem temos hoje: a Georgia, uma mulher recentemente separada que acolhe a ideia de estar a ter um esgotamento nervoso; a Ruby, que ainda chora a morte do seu gato; a Serena, a rapariga que vive numa bolha isenta de lactose

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e trigo; e a Alice, que, Deus a abençoe, embora esteja a trabalhar para uma enorme úlcera gástrica com o seu alucinante ritmo de encontros, é a minha única esperança de sair desta noite com vida.

É que nenhuma de nós conhece muito bem as restantes. Conhe-cem-se umas às outras porque se foram cruzando nas minhas festas de aniversário ao longo dos anos, mas não somos definitivamente um grupo. Conheci a Alice numa aula de spin, há cinco anos. Traba-lhei com a Georgia até ela sair para ter os filhos. A Serena é a minha melhor amiga desde os tempos de faculdade e a Ruby e eu conhecemo- -nos há quinze anos num emprego horroroso em part-time, depois par tilhámos um apartamento durante três anos. Elas são basicamente estranhas umas para as outras. Na verdade, posso dizer com toda a segurança que a Alice, a Georgia, a Serena e a Ruby não nutrem qualquer sentimento umas pelas outras, por nenhuma outra razão além de que são todas de «tipos» diferentes. Sempre desejei ter um bando de ami gas em comum, sempre almejei por um grupo coeso, a minha pequena família de amigas, mas as coisas acabaram por não resultar assim. Teria sido bom se num determinado emprego eu tivesse agarrado num punhado delas ao mesmo tempo, como se fossem lagostas apanhadas numa rede. Mas conhecer um grupo de mulheres que acabam por ficar a viver na mesma cidade, que continuam amigas e que partilham os momentos mais íntimos das suas vidas é uma circunstância rara, maravilhosa e definitivamente algo por que ansiar, ou pelo menos algo a assistir na televisão.

— Oh, meu Deus, está tanto frio. Devia ter trazido um casaco mais grosso. Detesto outubro. Outubro é o mês mais irritante, porque nunca se sabe o que se há de vestir — disse a Serena, desprovida de qualquer gordura corporal.

Tínhamos decidido encontrar-nos na Rua Vinte e Três com a Oita va Avenida e apanhar um táxi para Williamsburg. Todas pareciam estar razoavelmente otimistas, mas percebi imediatamente que a Serena, que estava completamente fora do seu elemento, ia ser o pro blema daquela noite. Não que não estivesse também preocupada com a Georgia, vestida com uma blusa curta e uma mini ssaia. A Georgia é uma mulher deslumbrante e vai com certeza ficar bem assim ves tida. É esguia, mede quase um metro e setenta, tem cabelo cas tanho -claro comprido e uma franja um pouco comprida de mais, mas exatamente como deve ser para lhe cair com perfeição por cima dos olhos. Tem uns lábios naturalmente carnudos, que muitas mulheres só têm à custa de injeções e, antes da separação, tinha sempre aquele ar de quem é

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elegante sem qualquer esforço nem preocupação. No entanto, agora estávamos em outubro. Estava frio. E eu conseguia ver-lhe o traseiro. Entrámos todas no táxi e metemo-nos a caminho.

Enquanto a Serena se questionava se o restaurante teria alguma comida vegetariana e a Alice rosnava indicações para o taxista, eu tive uma epifania de como aquela noite até podia acabar por correr bem. Percebi que neste mundo há um espírito divino a olhar por nós. Por-que há uma coisa que se chama álcool. E naquele momento o álcool parecia-me uma ideia tão boa que só podia ter sido inventada por um Deus que nos amava muitíssimo.

Quando entrámos no Peter Luger Stake House tudo estava exatamente como o meu Deus criador do álcool teria concebido: havia homens bonitos evidentemente empregados até onde a vista alcançava. O nó que tinha no estômago afrouxou um pouco. Sabia que a primeira etapa da caça ao tesouro que se chama «Cirandando por Nova Iorque em busca de Divertimento» ia representar uma vitória para a nossa equipa.

— Oh, meu Deus, eu sou um génio — disse a Alice com orgulho. — uau! — exclamou a Georgia.— Adoro este lugar — disse a Ruby.— Sei que não vai haver aqui absolutamente nada que eu possa

comer — disse a Serena, enquanto passávamos pela imensidão de mesas cheias de carne animal.

A pressão que os nossos amigos exercem sobre nós é engraçada: resulta em qualquer idade. Enquanto observávamos o menu, a Serena pediu uma vodca tónica. Isso pode não parecer grande coisa para si, mas para mim é um acontecimento absolutamente extraordinário. E deu-se porque as minhas três amigas, que não conhecem a Serena, lhe disseram que devia animar-se um pouco. Ela ficou constrangida. Depois dos três anos que passei a tentar convencê-la a experimentar um mojito, foi tão simples quanto isso. Ainda pediu um prato de bró-co los, mas era impossível negar que havia uma certa magia naquele grupo de mulheres e que ela já tinha começado a fazer efeito.

É sempre melhor quando temos um propósito, seja na vida ou numa simples saída noturna, e naquela noite o objetivo era evidente: a Georgia precisava de namoriscar destemidamente com alguém. E ali estávamos nós, na terra dos grandes bifes e dos passes arriscados. Por isso, quando a carne vermelha e o álcool começaram a correr, chegou a altura de entrar em ação.

A Alice decidiu dirigir-se à mesa que estava ao nosso lado, que, por coincidência, estava ocupada com cinco homens.

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— Olá, rapazes, estamos a tentar proporcionar à nossa amiga recém -solteira uma noite divertida e achámos que seria engraçado infiltrar-mo-nos na vossa mesa.

A Alice é uma mulher destemida. Depois de se ter passado pela expe riência de alguns assassinos se atirarem para cima da secretária, en quanto nos tentam estrangular, abordar um bando de homens é canja. E por causa da atitude da Alice lá estávamos nós, a pegar nos pratos e talheres e a apertarmo-nos na mesa ao lado de um bando de homens engraçados. A Georgia estava toda contente a receber a sua gigantesca porção de atenção, como se fosse uma noiva durante a sua despedida de solteira. Não há nada como colocar as nossas apos-tas românticas em cima da mesa para despertar esperanças e, desta vez, a Georgia não precisou de usar um véu feito de preservativos a combinar com os brin cos em forma de pénis. Olhei em redor da mesa e foi isto que vi:

A Georgia estava a dar risadas como uma colegial.A Ruby estava a dar risadas como uma colegial.A Serena estava a dar risadas como uma colegial. A Alice estava a dar risadas como uma colegial.E eu, quando me permiti um momento de descontração e deixei

de me preocupar se todas se estavam a divertir, comecei também a dar risadas como uma colegial. Depois pensei: Meu Deus, somos criaturas paté ticas. Somos advogadas, agentes publicitárias, mulheres de negócios e mães de cabelos esticados e lábios pintados, todas à espera que os raios de atenção ma s culina brilhem sobre nós e nos façam sentir vivas mais uma vez.

Eles ensinaram-nos jogos de beber, nós dissemos piadas sobre as suas gravatas. A Ruby estava a conversar com um homem que pare cia par ti cularmente atraído por ela e todos eles disseram à Georgia que ela era muito sensual e que não precisava de se preocupar com o futuro. Havia ouro puro naquele restaurante.

— Oh, meu Deus, foi tão divertido! — exclamou a Georgia a rir, quando saímos do restaurante.

— Não acredito que bebi vodca! — disse a Serena a rir. — O tipo com quem estava a falar quer vir connosco para onde

formos a seguir — disse a Ruby com uma risada. — Para onde vamos a seguir?

Agora, o que se passa quando somos responsáveis pela diversão das outras pessoas é que as expectativas são cada vez mais elevadas à medida que a noite avança, não importa o que tenha acontecido no instante anterior. Se o jantar foi uma porcaria, então caramba, temos

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de compensar a seguir com um ótimo bar ou discoteca. Se o jantar foi realmente divertido, como foi o caso, então o melhor era não dar cabo de tudo escolhendo um lugar que acalmasse os ânimos. Por isso, voltei a conferenciar mais uma vez com o meu guia zagat pessoal, a Alice. Estávamos dedicadas ao tema: «Estão a chover homens», por isso a Alice tomou a sua decisão rapidamente. Fomos para o Sports, um bar elegante dedicado ao desporto, com um nome verdadeira mente pouco imaginativo, no upper West Side. A Ruby e o seu novo amigo, o Gary, apanharam um táxi e nós as quatro fomos noutro. Não era a viagem de táxi mais barata do mundo, mas o que representa o dinheiro para cinco raparigas bêbadas que tentam manter a animação em alta?

Assim que lá chegámos, percebi imediatamente que tinha sido uma má aposta. O problema com os cafés desportivos assalta-nos assim que pomos um pé lá dentro: os homens que lá estão querem realmente assistir aos desafios desportivos. Porque se estivessem real-mente deter minados a sair para conhecer mulheres, não iam para bares despor tivos. A Alice estava a pensar no mesmo.

— Devíamos antes ir ao Flatiron.Mas a Serena já tinha pedido outra vodca e a Georgia tinha-se enca-

mi nhado para o homem mais giro do bar e tentava meter con versa com ele. Infelizmente, estava a dar um jogo importantís simo dos Knicks — coisa que eu não entendo muito bem, uma vez que está vamos na pré-época e de qualquer maneira os Knicks já não cos tumam estar envolvidos em grandes jogos de basquetebol. Enfim, a Geor gia lá conseguiu captar a atenção do homem durante o intervalo e estava a usar aqueles quatro minutos para namoriscar o mais pos sível com ele.

A Ruby estava a falar com o Gary, que se tinha claramente apai-xonado e queria ficar com ela para o resto da vida. Mas infeliz mente para a Serena, para a Alice e para mim, em breve demos por nós sen-tadas no bar com as nossas bebidas, a olhar para cerca de vinte ecrãs que mos travam vários desportos diferentes que nenhuma de nós tinha dispo sição para ver.

Mas a Alice sabia uma coisa que nós desconhecíamos.— Oh, meu Deus, está ali uma mesa de matraquilhos! — excla-

mou ela, demasiado entusiasmada. — Eu não jogo matraquilhos — respondeu a Serena, já um pouco

rabugenta. — Achas que devíamos ir para outro sítio qualquer? — perguntei,

ignorando por completo a ideia dos matraquilhos.

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— Não, vocês não estão a entender. É um facto cientificamente comprovado que um grupo de mulheres não pode jogar matraquilhos durante mais de dez minutos sem que os homens se aproximem para jogar com elas.

— E tu passaste muito tempo a comprovar esse facto, foi? — per-guntei, um tanto crítica.

Não sei se já vos disse que a Alice era uma advogada que defendia os direitos dos pobres e desfavorecidos, fazendo-os sentirem-se res pei-tados e ouvidos, muitas vezes durante as épocas mais tenebrosas das suas vidas?

— Foi. E vou provar-vos isso mesmo agora. Pegou nos nossos copos e dirigiu-se para a mesa dos matraquilhos.

A Alice e eu começámos a jogar, enquanto a Serena observava o reló-gio. Passaram-se exatamente três minutos e meio até dois homens se enca minharem na nossa direção. E aos quatro minutos e meio desa-fiaram -nos para uma partida.

A Alice às vezes assusta-me. Ela é, obviamente, brilhante a jogar matraquilhos, por isso con-

tinuámos a ganhar e a ser desafiadas; os pretendentes a jogadores de matraquilhos alinhavam-se atrás uns dos outros para provar um pouco da nossa magia. Continuámos a beber e em breve as risadas recome-çaram. Quando dei por ela, estava a Serena a comer asas de frango do prato de um dos nossos adversários. uma partida depois, já ela estava a lamber os dedos cheios de molho picante e a pedir um prato de asas para si. Era uma vegan enlouquecida. Passei rapidamente os olhos pela sala e vi que a Ruby continuava a falar com o Gary e a Georgia con-tinuava a tentar captar a atenção do tipo giro durante os interva los do jogo de basquetebol. Nunca tinha visto a Georgia a namoriscar antes; quando a conheci ela já era casada. Mas só com um olhar percebi que ela se estava a esforçar demasiado. Falava com um entusiasmo um pouco exagerado, escutava com mais interesse do que devia e ria com mais animação que a necessária. Estava a tentar competir com os Knicks e, embora eles não valessem nada, a Georgia continuava a perder. Mas em vez de admitir a derrota, ela continuou a tocar-lhe no braço, riu-se à gargalhada e pediu outra bebida.

Enquanto a Alice e eu continuávamos a ganhar aos nossos adversá-rios de matraquilhos (Bruce e Todd), quando lhe perguntaram qual era a sua profissão, ouvi-a responder com toda a honestidade que fazia «limpezas de pele». Olhei rapidamente para ela com uma expres são surpreendida e ela devolveu-me um olhar que significava «explico-te

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depois». Eu já tinha a minha quota-parte de matraquilhos e namo ricos, por isso pedi licença e fui ter com a Serena antes que ela deglu tisse um aviário inteiro; pedi-lhe que me substituísse e enca mi nhei-me para o bar. De um dos lados ouvi a Georgia a guinchar:

— Oh, meu Deus, adoro Audioslave! — (Como se ela soubesse o que isso era.)

E do outro lado ouvi a Ruby dizer a Gary:— Eu amava o Ralph, mas, quero dizer, ele era apenas um gato, não é?A Alice acabou por vir ter comigo e pediu uma bebida. Olhei para

ela com o sobrolho franzido, com tanta desilusão e crítica quanta fui capaz de reunir. A Alice percebeu a minha deixa.

— Não ouviste falar daquele estudo que fizeram em Inglaterra? Quanto mais inteligente fores, menores são as tuas probabilidades de conseguires casar. As raparigas mais burras são as que apanham os melhores homens.

— Então por isso dizes que a tua profissão é fazer limpezas de pele em vez de seres uma advogada que se licenciou com mérito na Facul-dade de Direito de Harvard?

— Sim, e funciona.— O que acontece se começares a sair com um destes tipos?— Estou apenas a fazer com que eles se interessem por mim, ape-

lando aos seus níveis mais básicos. Quando tiver captado a sua atenção, começo a introduzir a Alice inteligente, mas nessa altura eles já estão apanhadinhos por mim.

Desgostosa, virei-me mesmo a tempo de ver a Georgia agarrar o rosto do tipo giro e dar-lhe um beijo na boca. Como se fosse uma lunática qualquer. A reação do tipo: não tão entusiasmado quanto ela. Deu uma espécie de gargalhada, entrecortada com murmúrios, qualquer coisa como: «Ei, ei, tu és uma mulher bem selvagem», en quanto tentava educadamente tirá-la de cima dele. Foi um momento doloroso para todas.

A Serena apareceu subitamente junto de nós, com o rosto corado por causa do molho picante.

— O Bruce e o Todd acham que devíamos ir ao Hogs & Heifers.A Serena, que até àquela noite não ia a lugar nenhum que não pas sasse

música da Enya ou tivesse ruídos de quedas -d’água em pano de fundo, achava subitamente que o Hogs & Heifers era uma excelente ideia. Foi nessa altura que percebi que ela estava ligeiramente em briagada.

— Ótimo, conheço as empregadas de balcão todas — respondeu a Alice.

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