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E D I T O R I A L

Por Carolina Dalla Costa eEveline Zerio(*)

Na primeira edição deste ano, aHortifruti Brasil buscou rela-tar quais os avanços que vêm

sendo obtidos pela genética, a fim de re-duzir a incidência de severas doenças nosetor hortícola e de buscar alternativaspara seu controle. Não só os transgêni-cos, mas o melhoramento convencionalainda tem muito a auxiliar o setor.

O objetivo da matéria de capa nãofoi tratar da polêmica �favor X contratransgênicos�, mas entender os avan-ços da genética (seja a convencionalou a transgenia) no caso dos hortícolasnacionais e internacionais. No entan-to, em se tratando de genética, torna-seimpossível não considerar o desenvol-vimento de plantas transgênicas. Primei-ro, em função da própria polêmica queronda a questão, uma vez que há argu-mentos conflituosos que acabam maisconfundindo que informando. Segun-do, porque esses avanços possibilita-dos pela engenharia genética têm semostrado bastante efetivos na reduçãoda incidência de pragas e doenças noscultivares, pelo menos em termos depesquisa. Assim, a discussão a cercadas inovações sugeridas pela genéticaacabam sempre direcionadas à ques-tão dos transgênicos.

No Brasil, a Embrapa, em parcerias comoutras instituições, desenvolve pesquisaspara o mamão e a batata, obtendo varie-dades transgênicas resistentes ao vírus damancha anelar e ao vírus do mosaico,respectivamente.

Em alguns países, como Estados Uni-dos, Argentina e Canadá, o consumo detransgênicos já é uma realidade. Segun-do a consultora Biomundi, a produçãohortícola representa 26,62% da área to-tal de transgênicos cultivados mundial-

5 BatataA vez do Paraná

6 CebolaEl Niño danifica safra do Sul

7 TomateDe olho nos termômetros

12 BananaExportação sustenta mercado

13 LaranjaNovo ano, pouca laranja

14 MamãoCalor reduz oferta no início do ano

15 MangaPalmer paulista abastece mercado

16 MelãoExportação com pé no freio

17 UvaComeça a safra paulista

8 Capa

3 Editorial

4 Cartas

18 Fórum de Idéias

S E Ç Õ E S

ANO I - Nº 09 - JANEIRO/2003

O QUE AGENÉTICA PODESOLUCIONARNO SETORHORTÍCOLA?A matéria de capatraz as principaispesquisas emandamento e outrasjá concluidas comnovas variedadeshortícolas.

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Leitoresquerem

mais informaçõesmente. Entretanto, alguns questiona-mentos quanto aos impactos na saúdehumana e no equilíbrio ambiental, bemcomo as implicações sócios-econômi-cas possivelmente trazidas por essa prá-tica, ainda não determinaram qual seráa posição dos produtores brasileirossobre esse assunto. De modo geral, aincerteza marca o debate sobre os trans-gênicos e os resultados dos seus impac-tos ainda dividem a opinião pública. Ouvindo mais de 500 produtores emtodo país, a Hortifruti Brasil consta-tou que aqueles favoráveis ao uso deplantas transgênicas acreditam que apossibilidade de redução dos custoscom a lavoura e um possível aumentoda produtividade serão bons atrativospara o investimento nessas novas varie-dades. Já os contrários a adoção detransgênicos declararam que mesmocom uma avaliação favorável a essa prá-tica, tal tecnologia não trará incremen-tos rentáveis à produção, seja atravésda colocação do produto ou por prefe-rir utilizar outros métodos de produção.

Contudo, há um ponto em que todosconcordam: são necessárias informa-ções mais detalhadas a respeito dostransgênicos, porém embasadas, quepermitam a desmistificação do tema e aanálise concreta dos benefícios e male-fícios causados pelo uso dessa novatécnica.

Assim, a Hortifruti Brasil traz umaversão dupla para o Fórum de Idéias,em que dois especialistas, com visõesdistintas, expõem seus conceitos sobreos impactos dos transgênicos na agri-cultura (p.18 e 19). Esse assunto não seesgota por aí e estamos esperando suaopinião a respeito do tema após a di-vulgação desta edição.

As estudantes de jornalismo Carolina e Evelineorganizaram o estudo sobre a revolução genética noshortícolas. Confira os resultados na matéria de Capae no Fórum de Idéias.

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EXPEDIENTE

CEPEACentro de Estudos Avançados em Economia

Aplicada - USP/ESALQ

Editor Científico:Geraldo Sant’ Ana de Camargo Barros

Editora Executiva:Margarete Boteon

Editora Econômica:Mirian Rumenos Piedade Bacchi

Editora Assistente:Ana Júlia Vidal

Diretor Financeiro:Sergio De Zen

Jornalista Responsável:Ana Paula da Silva - MTb: 27368

Equipe Técnica: Aline Vitti, Ana Júlia Vidal, Carolina Dalla Costa,Eveline Zerio, Ilonka M. Eijsink, João Paulo B.Deleo, Maria Luiza Nachreiner, Mateus Holtz C.Barros, Marina L. Matthiesen, Margarete Boteon,

Mauro Osaki, Renata Ferreira Cintra, Renata R. P.dos Santos e Tatiana Vasconcellos Biojone.

Apoio:FEALQ - Fundação de Estudos Agrários

Luiz de Queiroz

Projeto Gráfico e Capa:JR&M Propaganda e Marketing

Fone: 19 3422-0634 - jr&[email protected]

Fotolitos:Nautilus Estúdio Gráfico

Fone: 19 [email protected]

Impressão:MPC Artes Gráficas

Fone: 19 451-5600 - [email protected]

Tiragem:6.500 exemplares

Contato:C.Postal 132 - 13400-970 - Piracicaba SP

Tel: 19 3429-8809 - Fax: 19 [email protected]

http://cepea.esalq.usp.br

A revista Hortifruti Brasil pertence ao Cepea-Centro de Estudos Avançados em Economia

Aplicada - USP/Esalq. A reprodução de matériaspublicadas pela revista é permitida desde quecitada a fonte e a devida data de publicação.

C A R T A S

Gostaria de parabenizar toda a equipe da revis-ta Hortifruti Brasil pelo belo trabalho que vemfazendo para o setor hortifruti do nosso Brasil.As informações são bem verdadeiras, represen-tando bem a realidade de cada setor e região doBrasil. Tenho lido a publicação nas revendas deprodutos agropecuários.Hilton Barbosa da SilvaVenda Nova do Imigrante-ES

Fiquei surpreso ao visitar a fazenda de meu tioe ver que ele recebe sempre a Hortifruti Brasilencadernada e não por e-mail, como eu rece-bo, haja visto que eu trabalho com distribuiçãode hortifrutigranjeiros e ele não. Gostaria, sepossível, de receber a revista na empresa ondetrabalho.Alexandre Garcia BertoPiracicaba/SPO seu tio, certamente, é produtor rural. A distribuiçãoda Hortifruti Brasil via correio está restrita, provisori-amente, aos produtores, até que possamos expandirnossa rede de patrocinadores. Assim, por enquanto,todos os demais interessados em receber nossa publi-cação estão recebendo-a via e-mail.

Gostaria de saber se existe algum programa deplantio de legumes e o período de safra por re-gião.Sheila dos SantosSão Paulo/SPA Hortifruti Brasil divulgou o calendário regio-nal de colheita e comercialização de tomate, ba-tata e cebola na edição de dezembro/02. Para osoutros legumes, não encontramos calendários re-gionais de safra. No link �sazonalidade� do siteda Ceagesp (http://www. ceagesp. com.br), vocêencontra o período de comercialização dos prin-cipais legumes, de forma geral.

Gostaria de parabenizar todaequipe da Hortifruti Brasil peloalto nivel técnico dos artigos.A revista veio em boa hora ecom certeza será uma ferra-menta importante para todos.Natanael de JesusJabotical-SP

Gostaria de perguntar porquea Hortifruti Brasil não elegeucomo produto em destaquemaçã. Aqui no Sul vocês sabemque a produção desta cultivaré expressiva.Ezoel Jose PortelaAraucaria-PRValeu a sugestão! Um dos objeti-vos da Hortifruti Brasil no longoprazo é pesquisar o mercado demaçã, sem dúvidas um dos pro-dutos mais importantes no nossomercado consumidor. Por en-quanto, ainda estamos em fase deconsolidação das análises dosnove produtos que você acom-panha na revista.

ERRATANa edição nº 6 da Hortifruti Bra-sil, a cidade correta de JoselitoM. de Souza e Abílio Santos (Fó-rum de Idéias, p. 23) é Juazeiro/BA.

Escreva pra gente!Hortifruti [email protected] 132 CEP 13400-970Piracicaba/SP

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B A T A T A

Por Eveline Zerioe Mauro Osaki

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Produtores paranaenses trocam plantio de variedadesde mercado por batatas destinadas à indústria

A vez do Paraná

Paraná inicia safraA região metropolitana de Curi-tiba, bem como os municípiosparanaenses de Castro, Conten-da, Ponta Grossa e São Mateusdo Sul iniciaram a safra no iní-cio de dezembro. Contudo, a co-lheita só veio a se intensificarna segunda semana do mês,uma vez que sucessivas chuvasatingiram a região nas primei-ras semanas de dezembro, atra-palhando todo o processo de co-lheita e beneficiamento. Por suavez, Guarapuava, maior regiãoprodutora do Paraná, iniciou suacolheita somente após o dia 15de dezembro. Segundo agenteslocais, as geadas ocorridas emagosto retardaram o início da sa-fra das águas de Guarapuava. Oo plantio paranaense destinadoao mercado in natura registrouqueda de quase 30% frente à sa-fra anterior, conforme a estima-tiva dos bataticultores. Muitosprodutores, atraídos pela segu-rança dos contratos industriais,aderiram à produção de batataspara indústria, principalmenteda variedade atlantic. Além dis-so, a produção paranaense des-tinada ao mercado nacional re-gistrou aumento de plantio davariedade ágata, resultando emmaior produtividade e qualida-de para as batatas produzidas noestado. Para o mês de janeiro, atendência é que apenas o Para-ná oferte o produto em grandeescala, tendo em vista que asafra paulista já se encerrou e acolheita de Minas Gerais (sul doestado e Triângulo Mineiro) in-tensificará apenas em meados defevereiro.

São Paulo e Goiásdespedem-se do mercadoNo final de dezembro, a safra dosudoeste paulista encerrou-se e,segundo agentes do setor, o vo-lume produzido alcançou maisde 520 toneladas entre os me-ses de setembro e dezembro.Cada hectare produziu entre 800e 1000 sacas - dependendo datecnologia empregada na colhei-ta e nos tratos culturais. Demodo geral, a qualidade foi con-siderada boa pelos atacadistas,embora algumas lavouras isola-das tenham registrado ataque depragas, como por exemplo, a tra-ça, em função das altas tempe-raturas durante o período de de-senvolvimento do tubérculo. Éimportante destacar que o mu-nicípio de Itapetininga (SP),grande produtor do sudoestepaulista, adiantou a sua safra emaproximadamente quinze dias,terminando a colheita mais cedo(a safra local 2001 finalizou-seapenas em janeiro de 2002). Esseritmo diferente da colheita de-corre da mudança de plantio.Grande parte dos produtores lo-cais aderiu à produçãode ágata, variedade co-lhida em 100 dias após oplantio, ciclo menor queo da monalisa (principalvariedade nacional). Apreferência pela ágatarelaciona-se a sua maiorresistência a altas tempe-raturas. Assim, foi possí-vel garantir maior produ-tividade e boa qualidadeà mercadoria da região.Além do término da co-

lheita em Itapetininga, a safrada região metropolitana de Bra-sília (DF) e Cristalina (GO) tam-bém se encerrou no início de de-zembro. Segundo agentes lo-cais, a produção dessas regiõesfoi maior se comparada ao anoanterior, totalizando mais de 120toneladas.

Chuvas em dezembrofavorecem preçosEm dezembro, as chuvas cons-tantes nos principais estados pro-dutores (São Paulo, Paraná eMinas Gerais) foram as princi-pais responsáveis pela valoriza-ção da batata no mercado inter-no, em relação ao mês anterior.Menores volumes foramofertados e a demanda mostrou-se aquecida, em função das fes-tas de fim-de-ano. Assim, a mo-nalisa especial esteve cotada namédia de R$ 31,03/sc nas má-quinas brasileiras, enquanto quea bintje, ofertada apenas pelomunicípio de Itapetininga (SP),foi comercializada a R$ 32,10/sc nas máquinas.

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C E B O L A

Por João Paulo Deleo eMauro Osaki

As constantes chuvas em Santa Catarina e no RioGrande do Sul devem quebrar a safra local

Chuva causa transtorno As sucessivas chuvas ocorri-das no Rio Grande do Sul e emSanta Catarina comprometeramseveramente a produção dessesestados, ocasionando uma fortequebra da safra local. De acor-do com estimativas de agentelocais, as perdas na safra de San-ta Catarina foram acima de 30%para a variedade precoce, culti-vada nas partes baixas do vale.Os danos à variedade crioula(tardia), cujo plantio é realizadonas partes altas do vale, aindanão podem ser estimados. Entre-tanto, se as chuvas persistirem,deverá haver grande quebra naprodução dessa variedade. Emrelação às pragas e doenças, oprincipal problema ocorridocom a cebola catarinense foi oataque de Erwínia sp, bactériaconhecida popularmente comobico-d�água, que causa oapodrecimento do bulbo, devi-do ao excesso de umidade. NoRio Grande do Sul, o principaldano foi a redução do diâmetrodo bulbo, o que resultou em umexcedente de cebola tipo 2.

Houve também incidências deAntracnose (Colletotrichum sp).Agentes locais estimam uma re-dução de aproximadamente40% na produção gaúcha.

Brasil dançará o tangomais cedo Com a redução da safra doSul, a importação da cebola ar-gentina deverá ser antecipada.Além de suprir a demanda bra-sileira, o bulbo argentino nor-malmente apresenta uma quali-dade superior ao nacional. Al-guns importadores já se anteci-param durante o mês de dezem-bro, mas o volume importado foipequeno e de qualidade inferi-or, não interferindo no mercado.A partir de janeiro e, principal-mente, de fevereiro, o país vizi-nho deverá estar ofertando a va-riedade torrenciana, cuja quali-dade não é tão satisfatória quan-to a sintética 14, produzida nosul de Buenos Aires, que deveráiniciar a colheita no final de fe-vereiro.

Fim da safra nordestinaalavancapreçosCom o fim dasafra nordestinae de outras re-giões produto-ras em dezem-bro, os estadosdo Rio Grandedo Sul e SantaCatarina passa-ram a dominaro mercado na-cional. Dessaforma, a cebo-la do Sul, cuja

El Niño danificasafra do Sul

baixa qualidade vinha dificultan-do sua comercialização, passoua ser rapidamente vendida, sem,contudo, atender totalmente àdemanda interna. Essa situaçãoacabou por impulsionar os pre-ços rapidamente a partir da se-gunda semana de dezembro,quando o valor da cebola baia,tipo3, na Ceasa saltou de R$9,67/saca de 20 kg, para R$13,75, o que representa uma va-riação de 28,91% da primeirasemana do mês para a segunda.No Nordeste, a Ipa 11, que foicotada na roça a R$ 0,19/kg nasemana de 02 a 06 de dezem-bro, registrou valorização de144% na semana seguinte, ob-tendo preços médios de R$ 0,47/kg na roça.

Clima quente reduzprodutividade nordestina Apesar do aumento de áreacultivada no Nordeste no segun-do semestre de 2002, a produti-vidade foi menor que o espera-do, em função das altas tempe-raturas incidentes na região du-rante o desenvolvimento e co-lheita do bulbo. De acordo comprodutores locais, o Vale do SãoFrancisco, que costuma obteruma produtividade de até 40t/ha,nesta safra registrou um volumeabaixo de 20t/ha. A região deIrecê (BA), que normalmenteapresenta uma produtividade emtorno de 50t/ha, teve este volu-me reduzido para aproximada-mente 40t/ha. Vale lembrar queapesar da menor produtividade,a safra das regiões baianas deMucugê e Irecê contribuiu paraum excedente de oferta do bul-bo local.

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De olho nostermômetros

Itapeva, Caçador e VendaNova colhem em janeiroDepois das decepções no final doano, a expectativa para janeiro écheia de receios, principalmenteem relação à oferta. Na região deItapeva (SP), novas roças devemcomeçar a ser colhidas, principal-mente nos municípios de Apiaí eRibeirão Branco, que devem co-lher de 16 a 17 milhões de pésentre janeiro e meados de abril.Outra região que continuará co-lhendo em janeiro é Venda Novado Imigrante, no Espírito Santo. Aomesmo tempo, produtores de Ca-çador, em Santa Catarina, inici-am a nova safra. Em 2002, a re-gião catarinense deve colher cer-ca de 14 milhões de pés entre ja-neiro e abril. Essas serão as princi-pais regiões que abastecerão o mer-cado em janeiro. As temperaturas,que ditam o ritmo da colheita, e ocomportamento do consumo de-vem definir o movimento dos pre-ços. Embora as altas temperaturaselevem a procura por saladas, ja-neiro marca o período de férias,que costumam retrair a demanda.

Calor derruba preçosContrariando a expectativa dosetor, o fim do ano 2002 marcoua retração do mercado de toma-te, em função do repentino au-mento da oferta nos principaiscentros de comercialização dopaís. Essa elevação da quantida-de ofertada deve-se, em parte, aocalor excessivo observado nasprincipais regiões produtoras, so-bretudo na região de Itapeva, nosul paulista. Produtores locais co-mentam que o início da safra, emdezembro, foi acelerado pelo for-

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As temperaturas, que ditam o ritmo da colheita,devem definir o comportamento do mercado

te calor, apressando a colheita eforçando um acúmulo maior demercadoria nas ceasas. Além dis-so, as regiões que acompanha-vam o encerramento da safra,como Sumaré (SP), Mogi-Guaçú(SP) e Araguari (MG) - influenci-adas, da mesma forma, pelas al-tas temperaturas - também tive-ram que acelerar a colheita nomesmo período, aumentando ain-da mais a quantidade de tomatemaduro, com qualidade pior, nomercado. Em dezembro, a mé-dia do tomate salada AA longavida não passou de R$ 13,05/cx23kg na Ceagesp e de R$ 9,60nas lavouras de Itapeva, quedade 36% e 47%, respectivamen-te, em relação ao mês anterior.

Consumo só melhora noNatalPara agravar a situação do mer-cado de tomate no final do ano,o consumo do produto manteve-se em ritmo lento. Muitos produ-tores relacionaram a falta de in-teresse do consumidor aos eleva-dos valores do produto nas ban-cas dos supermercados. A situa-ção só começou a se in-verter com a aproximaçãodo Natal, que aqueceu aprocura pela mercadoria.Nesse período, as safrasde Sumaré, Mogi eAraguari encerraram-se,reduzindo o volume dis-ponível no mercado inter-no. Outro fator que con-tribuiu para a redução daoferta foi o fato de Itapevaterminar a colheita antesdo tempo (ao menos emgrande parte das roças).Com a redução da oferta

T O M A T E

Por Ana Júlia Vidal,Carolina Dalla Costa eMateus Holtz C. Barros

e aquecimento da demanda, otomate salada AA longa vida vol-tou a atingir R$ 20,00/cx 23kgna Ceagesp e de R$ 18,00 naslavouras, na semana que ante-cede o Natal.

Chuvas adiantam fim desafra no RioAs fortes chuvas que atingiram aregião produtora de Paty de Al-feres (RJ) no início de dezembroacabaram depreciando a produ-ção de tomate. Dessa forma, amercadoria da região não con-seguiu manter uma boa coloca-ção no mercado do Rio de Janei-ro, sendo negociada, na maioriadas vezes, a valores mais baixosem comparação ao tomate vin-do de outras praças. Assim ospoucos produtores que ainda co-lhiam alguma quantidade do fru-to acabaram optando por aban-donar as lavouras ou dar outra fi-nalidade ao produto, como usá-los para a alimentação de ani-mais. Paty de Alferes deve vol-tar a produzir em grande volu-me em meados de março e iní-cio de abril.

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O melhoramento genético defrutas e legumes é praticado pelohomem desde o início da agri-cultura, há cerca de dez milanos. A banana, maçã, batata,milho, sorgo e muitas outras cul-turas começaram a ser melho-radas a partir de cinco mil anosa.C. Já o abacaxi e o morangoforam melhorados na Era Cristãi.

Como pode se constatar, a ge-nética incide sobre nossos ali-mentos há séculos. Com osurgimento da biotecnologia e,mais precisamente, dos transgê-nicos, essa ciência passou a serdiscutida não apenas no meiocientífico, mas também namídia. Assim, a população, an-tes apenas consumidora dos re-sultados genéticos, tornou-seagente de decisão sobre o usodessa tecnologia.

Contudo, as discussões sobretransgênicos, na maioria das ve-zes, relacionam-se às grandesculturas, como soja, algodão emilho. Pouco se discute sobre oshortícolas. Diante disso, a Hor-tifruti Brasil se propôs a avali-ar, junto aos leitores, como agenética, especialmente a téc-nica de obtenção dos transgê-nicos, está avançando no setore qual a opinião dos agentes so-bre o uso dessa tecnologia.

Inicialmente, levantou-se comos leitores quais as principaisdoenças que estão prejudican-do economicamente a produçãodos nove produtos hortícolas es-tudados pelo Cepea: batata, ce-bola, tomate, laranja, uva, man-ga, melão, mamão e banana.Apontados os problemas, a Hor-tifruti Brasil consultou pesqui-sadores da área em busca deentendimento sobre cada caso,variedades resistentes e pesqui-sas em andamento. (Confira a ta-bela principal, p. 10).

No processo de levantamen-to dos dados, notou-se que mes-mo com a carência de apoiogovernamental, a genética estáavançando na tentativa de re-solver as principais pragas e do-enças que limitam economica-mente o setor hortícola.

Por enquanto, apenas algunspoucos resultados vêm sendoaplicados comercialmente atra-vés de variedades resistentes,seja pelo melhoramento gené-tico clássico ou pela obtençãode plantas transgênicas.

O setor citrícola tem acompa-nhado grandes avanços propor-cionados pela engenharia gené-tica, principalmente com as pes-quisas que estão sendo desenvol-vidas em instituições como o

C A P A

IAC (Instituto Agronômico deCampinas). A introdução do por-ta-enxerto limão cravo, toleran-te ao vírus da tristeza, ressusci-tou a citricultura no pós.-guerra.

Com o cruzamento conven-cional, pesquisadores da Em-brapa desenvolveram a bananapioneira, variedade resistente àsygatoka amarela, considerado opior mal do bananal. A doença,que chega a causar perda de 50%na produção, é responsável porinfecções nas folhas mais novas,causando lesões que impedem afotossíntese e, conseqüentemen-te, o desenvolvimento dos frutos.

Em outros casos, os danos eco-nômicos provocados pela inci-dência de doenças estão cres-cendo em velocidade maior queo ritmo das pesquisas. No casodo tomate, a infecção dogeminivírus, transmitido pelamosca branca, vem causandograndes perdas aos produtores eaté mesmo o abandono da ati-vidade. Em 1997, no submédiodo São Francisco, o apareci-mento desse vírus causou perdasna produção na ordem de 100%.Vários projetos estão em anda-mento na Embrapa e em algu-mas universidades visando aosestudos do vírus e até ao desen-volvimento de plantas resisten-

A engenharia genética está avançando como nunca naspesquisas com os alimentos, trazendo soluções para combater

as principais doenças que atingem a produção. Mas o setorhortícola está disposto a utilizar variedades transgênicas para

diminuir a incidência de bactérias e vírus?

Por Eveline Zerioe Carolina Dalla Costa

O que a genéticapode solucionar no

setor hortícola?

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Produto Hortícola Doença em destaque*AVANÇOS DA GENÉTICA PARA OS HORTÍCOLAS

ResultadosEm pesquisa

Laranja Morte súbita,CVC (clorose variegadados citros) ou amarelinho e cancrocítrico

Apesar da busca de materiais superiores, principalmente pelo IAC, quepesquisa clones mais vigorosos de laranjas e inovações no limão tahitie tangerina, a maioria das plantas não é resistente a essas três doenças.As pesquisas estão mais concentradas na caracterização da bactériaatravés do Projeto Genoma, principalmente com o apoio da Fapesp e doFundecitrus. A Esalq também avança no estudo de plantas tolerantes àtristeza, declínio e morte súbita e outras1. No caso da morte súbita, ogrande desafio para os pesquisadores é encontrar um porta-enxerto resis-tente à seca, como o limão cravo, susceptível à doença.

Os resultados mais concretos, por enquanto, são os do Projeto Genoma.A caracterização do código genético do Amarelinho e do Cancro Cítricojá se finalizou. No caso da morte súbita, a última pesquisa revela 2 que,baseando-se nos sintomas e em seus padrões temporais e espaciais,provavelmente, essa doença é transmitida por um inseto vetor (por exem-plo, pulgão), com características semelhantes aos da tristeza. O porta-enxerto limão cravo, principal da citricultura, mostrou-se susceptível aessa doença. O IAPAR desenvolve plantas transgênicas da laranja pêraresistente ao cancro.3

Tomate Geminivírus transmitidos pelamosca branca

Algumas pesquisas de caracterização do vírus são desenvolvidas nopaís. Já foram detectadas oito Geminivírus através da caracterizaçãobiomolecular.4

Apesar de ainda não representar uma solução para o problema, essaspesquisas podem sinalizar novos avanços na área 4

Mamão Mancha anelar ou mosaico (cau-sado pelo vírus PRSV-P)

No Brasil, pesquisadores da Embrapa trabalham no desenvolvimentode novas variedades resistentes não só ao vírus PRSV-P (causadorda mancha anelar ou mosaico), mas também ao amarelo letal e àmeleira5.

O primeiro mamoeiro transgênico resistente ao vírus foi obtido no inícioda década de 90, denominado Linha 55-1. As variedades raiwbon e sunup, derivadas da Linha 55-1, foram as primeiras resistentes liberadaspara a comercialização no mundo5.

Melão Amarelão A Embrapa realiza algumas pesquisas através de seleção de genótiposque são mais resistentes a viroses. Existem possibilidades de melõesmenos susceptíveis a viroses, mediante a aplicação de genótipos maisresistentes do próprio melão.No Brasil, não há comércio para esses melões.

Na Europa, onde as pesquisas estão mais adiantadas, é comercializa-da uma variedade transgênica que possui características de maior con-servação de pós-colheita.

Banana Sigatoka negra e amarela e mal dopanamá

O IAC estudou uma variedade resistente a essas doenças de1995a 2002. A pesquisa terminou com o desenvolvimento de uma novavariedade6 . A Embrapa também pesquisa uma variedade resisten-te à sigatoka amarela há 10 anos e lançou a variedade pioneira,resistente à doença. 7

A pesquisa desenvolvida pelo IAC resultou em uma nova varieda-de - nanicão 2001 - resistente à sigatoka e que dispensa totalmen-te a pulverização. Essa variedade também é resistente ao mal dopanamá.

A nanicão 2001 tem a mesma utilização da variedade comum,porém, é três vezes mais rica em vitamina C, além de ser maisdigestiva. Livre da doença, o fruto tem melhores condições de sedesenvolver, resultando em bananas mais grossas.6 Já a varieda-de lançada pela Embrapa permite aumento de 10 a 15% no tama-nho e peso do produto. 7,8

Batata Viroses, requeima e canela-pretaA Embrapa Hortaliças trabalha em

algumas pesquisas para a obtenção de variedades resistentes à bactériada canela-preta e da doença denominada requeima. Os estudos aindaestão no início, com possibilidade de serem alavancadas no próximoano, assim que finalizadas algumas parcerias com órgãos internacio-nais.9

Em junho de 2001, a Embrapa finalizou uma de suas pesquisas elançou uma batata transgênica resistente ao Potato vírus Y (PVY),causador do mosaico. Dois clones, derivados da achat, denominados1P e 63P, foram desafiados com duas estirpes do Potato vírus Y, paraavaliação do nível da resistência. O P1 apresentou extrema resistên-cia a ambas as estirpes, enquanto o P63 mostrou resistência parcial.O produto não está sendo comercializado em função das leis brasi-leiras. 9

Uva Míldio e oídio A Epagri, em parceria com a Embrapa e a Universidade Federal de SantaCatarina, trabalha no mapeamento de genes da videira a fim de desenvol-ver variedades mais resistentes a doenças.10

O estudo, apesar de ainda não ter apresentado nenhuma solução efetivapara os males da videira, é de fundamental importância para o desenvol-vimento de novos projetos nessa área.10

Manga Antracnose A Embrapa Cerrados, através de melhoramento convencional, estudou aantracnose, desenvolvendo uma nova variedade de manga híbrida comresistência à doença. 11

Lançada em janeiro de 1998, a variedade Alfa Emprapa 142 é resistentenão só à antracnose, mas também ao oídio - outra doença que atinge aprodução. No entanto, o híbrido é apenas recomendado para a região doCerrado.11

Cebola Mal de sete voltas e erwinia Pelo menos quatro centros de pesquisa brasileiros desenvolviam es-tudos voltados não só para o desenvolvimento de variedades maisresistentes, mas também sobre manejo e tratos para a cebola. Porém,as pesquisas pararam em função de falta de reposição de pesquisa-dores4.

As pesquisas de órgãos governamentais sobre cebola estão pratica-mente paralisadas e não foram encontrados estudos recentes sobremelhoramento genético do produto. A partir de 2003, muitas pesqui-sas deverão ser retomadas com a contratação de novos pesquisado-res.4

* As doenças destacadas pelo setor são aquelas que potencialmente comprometem a produção nacional da cultura e o controle químico ou pelo manejo cultural não tem sucesso no seu controle ou erradicação.1 Pesquisas através da técnica de hibridação somática realizadas pelo Prof. Francisco A.A. Mourão Filho, da ESALQ e Profa. Beatriz M. Januzzi Mendes do CENA.2 Análise espacial e temporal da morte súbita dos citros, desenvolvida pelos pesquisadores Bassanezi, Bergamin Filho, Amorim, Fernandes e Gottwald, resultados divulgados no site do Fundecitrus (http://

www.fundecitrus.com.br)3 Pesquisa desenvolvida no IAPAR, pelo pesquisador Rui P. Leite Jr.4 Comunicação pessoal com o Prof. Paulo César Tavares Melo (ESALQ/USP)5 Comunicação pessoal com o Dr. Manoel Teixeira Júnior/Daniele S. de Freitas - Embrapa6 Comunicação pessoal como Dr. Raul Moreira - IAC7 Comunicação Pessoal com o Dr. Zilton Maciel - Embrapa8 Por não se tratar de plantas transgênicas, ambas variedades já podem ser plantadas e comercializadas em todo o país. A nanicão-2001, desenvolvida pelo IAC, já vem sendo cultivada em lavouras paulistas

há 5 anos e há 2 anos em Manaus. Para obter as sementes, os produtores devem entrar em contato com os respectivos centros de pesquisa. A variedade pioneira está disponivel no Centro Nacional de Pesquisade Mandioca e Fruticultura - Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA, ou no Serviço de Produção de Sementes.

9 Comunicação pessoal com Dr.Ossami Furomoto, Embrapa Hortaliças10 Comunicação pessoal com a pesquisadora Daniele S. de Freitas e com o Dr. Marco Antônio Dal Bó, pesquisador da Epagri - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.11 Informações sobre novas variedades de manga com boa produtividade e resistência a doenças, disponíveis em www.snagricultura.org.br/artigos/artitec-frutas.htm

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C A P A

tes, via melhoramento genéticotradicional e transgênicos.

No setor hortícola brasileiro, omamão é o destaque na pesqui-sa de variedades transgênicas re-sistentes. Para combater doençasmuito graves, como a manchaanelar ou o mosaico, foram de-senvolvidas, já no início da dé-cada de 90, as primeiras varie-dades trangênicas resistentes. Asvariedades rainbow e sun up fo-ram os primeiros mamões resis-tentes liberados para a comercia-lização no mundo. Contudo, im-plicações legais ainda não per-mitem o plantio e a comerciali-zação dessas variedades e de ou-tros transgênicos em territórionacional.

A Embrapa também trabalha nodesenvolvimento de variedadesresistentes, não só ao vírus domosaico, mas também ao ama-relo letal e à meleira. Além domamão, a Hortifruti Brasil cons-tatou que há variedades transgê-nicas sendo pesquisadas para abatata e laranja.

Afinal, o que é transgênicoe por quê tanta polêmica?

O transgênico difere da plantamelhorada pela genética tradici-onal porque apresenta genes deoutras espécies ou organismos emsua composição, o que permiteque ele expresse novas caracte-rísticas. Segundo os pesquisado-res, a grande vantagem da trans-genia (ramo da genética respon-sável pela transferência de genesnas espécies) é a possibilidade dese trabalhar isoladamente com acaracterística que se deseja, po-dendo incluí-la no novo organis-mo. Se pelos métodos convenci-onais a nova característica éinserida através de cruzamentosentre diferentes plantas da mes-ma espécie, na transgenia, essascaracterísticas podem ser trans-portadas de uma espécie para aoutra, sem que se altere a com-posição da planta.

Dessa forma, a transgenia vemsendo utilizada para melhorarplantas visando à obtenção de

frutos com as mais variadas ca-racterísticas. Maior produtivida-de, aumento do valor nutritivo,retardamento ou aceleração damaturação dos frutos, resistênciaa pragas e doenças e até produ-tos que contenham vacinas oucombatam doenças vêm sendoamplamente estudados pelos pes-quisadores e geneticistas.

Apesar da transgenia represen-tar um significativo avanço paraa ciência, podendo indicar osurgimento de novas variedadesque supram os interesses de pro-dução, sua aplicação se mantémrestrita dentro do território nacio-nal. A utilização dessa tecnolo-gia é permitida apenas para finsde pesquisa, em laboratório. Noentanto, alguns órgãos já enca-minham propostas para o setorlegislativo com a intenção deaprovar o plantio e a comerciali-zação dos transgênicos em largaescala.

A sociedade civil do Brasil ede outros países fica divididaquando o assunto é transgênicosou Organismos GeneticamenteModificados (OGMs)

No Brasil, diversos mitos ron-dam as discussões sobre a libe-ração dos transgênicos. Osambientalistas e algumas orga-nizações não-governamentaisalegam que a segurança dessesalimentos, tanto para o consumi-dor quanto para o ambiente, ain-da é uma incógnita que a indús-tria, o comércio e a ciência nãoesclareceram. Além disso, asprincipais conseqüências nega-tivas seriam, para o homem, aler-gias provocadas por determina-das composições e, para o am-biente, empobrecimento dabiodiversidade com a eliminaçãodos insetos e microorganismosque sustentam o equilíbrio eco-lógico.

Por outro lado, pesquisadoresafirmam que combinações reali-zadas pela engenharia genéticanão são nocivas à saúde humanae à diversidade do meio ambien-te. Pelo contrário, com plantasresistentes a inseticidas, não será

necessário aplicar o defensivoagrícola várias vezes, o que im-plicaria em menores taxas deagrotóxicos no produto, e tambémredução do número de produtorescontaminados pelos inseticidas.Além disso, o que é mais eviden-ciado pelos que defendem a libe-ração dos transgênicos é a dimi-nuição dos gastos com a lavoura.

A avaliação dos perigos da in-gestão direta ou indireta, dos ris-cos do cultivo e do impacto am-biental das plantas transgênicasdepende do conhecimento desuas características comuns, as-sim como das particularidades decada uma delas, pois nem todosos transgênicos são produzidosda mesma forma e nem carregamas mesmas modificações emseus cromossomos. �Qualquerjulgamento genérico, a favor oucontra, não fundamentado emestudo caso a caso, será porta-dor de preconceito�, afirmamMárcia Margis Pinheiro, LilianeGerhardt e Rogério Margis, au-tores de �Uma tecnologia commúltiplas aplicações�ii.

Nesse jogo decontradições, comfortes argumentos, osconsumidores ficamperdidos.

O que é certo afirmar é quehá necessidade de se estabele-cer uma clara e eficiente comu-nicação, com divulgações depesquisas sobre os impactos nasaúde do homem e também nomeio ambiente em curto e lon-go prazo. A transparência noprocesso seria a melhor alterna-tiva dentro desse emaranhadode questões pendentes, pois, sóassim, o consumidor tomariauma decisão consciente sobre aliberação dos OGMs.

Em alguns países, como nosEstados Unidos, Canadá e Argen-tina, os transgênicos são planta-dos, consumidos e exportados hámais de cinco anos. A Argenti-

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Tabela 2 – RISCOS E BENEFÍCIOSRISCOS E BENEFÍCIOS, DE ACORDO COM OS ARTIGOS TÉCNICOS

E CIENTÍFICOS, DOS TRANSGÊNICOS._______________________________________________________________________________________________________

Riscos Benefícios_______________________________________________________________________________________________________

Empobrecimento da biodiversidade Produção de alimentos mais nutritivos ecom a eliminação de insetos baratos_______________________________________________________________________________________________________

Aparecimento de novos vírus Possível solução para o problema dafome no mundo

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Desconhecimento das conseqüências em Possibilidade de criação de alimentos quelongo prazo amadureçam mais tarde_______________________________________________________________________________________________________

Modificação da evolução das espécies Redução do volume de agrotóxicos nasambientais plantas_______________________________________________________________________________________________________

Aparecimento em grande escala de Redução do custo de produçãoplantas daninhas_______________________________________________________________________________________________________

Surgimento de pragas ainda mais resistentes Aumento da produtividade nas lavouras_______________________________________________________________________________________________________

Milhões de reais são necessários para Obtenção de plantas resistentes a insetos,selecionar e desenvolver o produto, pragas, herbicidas, fungos eatividades que geralmente ficam a cargo amadurecimento precoce.de empresas de biotecnologia, incipientesno Brasil, o que poderá tornar o país maisdependente das grandes empresas quedetêm patentes de processos e produtosbiotecnológicos._______________________________________________________________________________________________________

Possibilidade de aumentar alergias Criação de grande variedade de plantascom maior teor de proteínas mais completas,óleos mais saudáveis, arroz com carotenos,cenouras com vitamina C etc.

_______________________________________________________________________________________________________

Fonte: Elaboração das autoras

na, por exemplo, possui mais de90% de sua produção de sojaconstituída por transgênicos e,desse total, 100% são exportadospara países europeus. Outras na-ções também estão se destacan-do quando o assunto são OGMs.A China, que possui um terço desua agricultura voltada à planta-ção de algodão, triplicou o usode sementes transgênicas do pro-duto, cultivando em 2001 cercade 3,7 milhões de acres. Por ou-tro lado, a Comissão Européia nãosabe quanto tempo o veto dequatro anos da Europa sobre osprodutos transgênicos continua-rá em vigor.

Dessa forma, o que se podeconcluir é que os mitos estão aí,introduzidos na sociedade, mui-tas vezes, por falta de informa-ção. Medo dos consumidores nomomento de aquisição dos trans-gênicos existe, mas com escla-recimento de ambos os lados, pro-dutor e consumidor, a realidadepara os próximos anos poderá semostrar diferente.

Os leitores querem maisinformações sobre o im-pacto dos transgênicos nosetor hortícola!

Parte dos leitores da Hortifru-ti Brasil ainda não tem uma opi-nião formada a respeito do culti-vo dos transgênicos. O que sepôde constatar é que o jogo en-tre as duas correntes (liberar ounão) acaba desinformando o pro-dutor ao invés de dar subsídiospara formar uma opinião concretaa respeito do assunto. Mas issonão ocorre só no setor hortícola.Pesquisas comprovam que os bra-sileiros, de modo geral, aindanão sabem o que são Organis-mos Geneticamente Modifica-dos. Um estudo realizado peloIbope, em 2001, mostra que 66%de 2 mil pessoas, com idade en-tre 25 e 50 anos e primeiro graucompleto, nunca ouviram falarem organismos transgênicos. Noentanto, 74% declararam quepreferem alimentos não-transgê-nicos.

Outra questão levantada pelos

leitores é o custo dessa nova tec-nologia. Sua adoção entre os pro-dutores só ocorrerá se a tecnolo-gia representar, no futuro, diminui-ção efetiva dos custos. Muitosaguardam uma definição do go-verno quanto aos reais impactos àsaúde humana e à biodiversidade,com análises particularizadas.Cada nova variedade transgênicatem impactos específicos e não sepode generalizar.

Mesmo com umadecisão do governotomada, o consumidorserá, ao final, o grandejuiz dessa questão.

Mesmo com uma decisão dogoverno tomada, o consumidorserá, ao final, o grande juiz des-ta questão, caso inédito na lon-ga histórica da genética, na qualo poder de decisão se dava aoscientistas. Por enquanto, a altaresistência do consumidor brasi-leiro e do europeu (principalmercado comprador de frutasbrasileiras) aos alimentos trans-gênicos também chama atençãoentre os produtores como umabarreira à sua aplicação. No casodas frutas, por exemplo, muitosprodutores também argumentamque o apelo saudável das frutasde forma alguma pode ser alte-rado na visão dos consumidores.

Além da percepção dos consu-midores, os avanços da genéticatêm que priorizar o sabor da fru-ta. Apesar de não ser transgêni-cas, segundo os entrevistados daHortifruti Brasil, o grande pro-blema de novas cultivares de ba-nana resistentes a doenças é amudança do sabor, e consistên-cia, entre outras características.

Notas:i AZEVEDO, João Lúcio de, FUNGARO, Maria HelenaPelegrielli e VIERA, Maria Lúcia Carneiro. Transgênicos eevolução dirigida. Hist. cienc. saude, jul./out. 2000, vol.7, no.2,p.451-464. Disponível na página: <http://www.scielo.br/ >.ii PINHEIRO, Márcia Margis, GERHARDT, Liliane e MARGIS,Rogério. Uma tecnologia com múltiplas aplicações. Hist.cienc. saude, jul./out. 2000, vol.7, no.2, p.465-479. Disponívelna página: <http://www.scielo.br/ >.

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B A N A N A

Por Marina Matthiesen

A oferta interna deve seguir enxuta,graças às vendas para a Argentina e Uruguai

Exportaçãosustenta mercado

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Santa Catarina aguardabons preçosEm janeiro, com o início da sa-fra, Santa Catarina deve aumen-tar sua oferta de nanica. Essabanana pode apresentar umamelhor qualidade, já que se de-senvolveu nos meses mais quen-tes do segundo semestre de2002, o que possibilita uma co-loração amarela mais intensa.A previsão de maior oferta denanica na região não assusta osprodutores catarinenses, anima-dos pelo intenso comércio coma Argentina e o Uruguai, quedeve manter a nanica valoriza-

da neste primeiro mês do ano.Segundo a Secex, a receita ge-rada com as exportações de ba-nana, até outubro de 2001, foi67% maior que a registrada nomesmo período de 2001.

Nanica do VR deve cairmenos em janeiroTradicionalmente, o Vale do Ri-beira colhe um maior volumede nanica nos meses de dezem-bro e janeiro, o que, conseqüen-temente, costuma pressionar ospreços nesta época do ano. En-tretanto, em 2003, essa situa-ção não deve se repetir. A seca

no segundo semestre de2002, bem como os ventos eas chuvas fortes em dezem-bro, que derrubaram boa par-te dos bananais na região, di-minuíram a oferta de nanicapara o início do ano. Comessa redução, a provável que-da da demanda com as féri-as escolares não deve preju-dicar tanto o mercado. Alémdisso, o aumento do volumeexportado de nanica paulis-ta para a Argentina e o Uru-guai deve garantir uma ofer-ta de banana mais enxuta nomercado interno, contribuin-do para novas valorizaçõesneste primeiro mês de 2003.Em dezembro, os preços dananica do Vale estiveram,em média, 17% maiores emrelação ao mesmo períodode 2001.

2002: Um bom ano paraas pratasA oferta de prata nas regiõespaulistas e mineiras deve

continuar reduzida em janeiro.Essas bananas encerraram o anode 2002 valorizadas. Em de-zembro, os preços da prata lito-ral estiveram, em média, 20%maiores que em dezembro de2001 e os preços da prata mi-neira estiveram, em média, 9%maiores. A expectativa é de no-vas altas para janeiro, mesmocom a queda da demanda emfunção das férias escolares, poisa oferta é menor. Esse cenáriopode ser alterado se o calor forexcessivo, principalmente na re-gião mineira, o que pode ace-lerar a maturação da fruta, con-centrando a oferta e pressionan-do seus preços.

Panorama CeagespComo tradicionalmente ocorre,janeiro deverá ser um mês depoucas vendas em função dasférias escolares e das viagensde fim-de-ano. Contudo, aocontrário dos anos anteriores, aoferta de nanica também deve-rá ser menor em 2003, em de-corrência da seca em 2002, daqueda dos bananais com os ven-tos fortes e do excelente volu-me exportado para a Argentinae Uruguai. A redução da ofertadeve manter os estoques naCeagesp mais controlados, evi-tando excessos e sustentando ospreços em janeiro.O mesmo panorama pode serprevisto para a prata. Em de-zembro, o preço da nanica naCeagesp esteve 8% superiorque no mesmo período em2001; a prata mineira esteve9% acima e a prata do Vale,5%.

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Chumbinhos voltam a cair em dezembro eagravam receios quanto à produção em 2003/04

Nova safra indefinidaA tumultuada florada de outubronão se recuperou totalmente atédezembro, em função da distri-buição desigual das chuvas nasdiversas regiões produtoras deSão Paulo. Além disso, houvenovas quedas de chumbinho cau-sadas pelo estresse térmico inci-dente nas árvores durante dezem-bro. De forma geral, as laranjaspêra, natal e valência são as va-riedades que mais vêm registran-do floradas tardias. Contudo, essasituação não é generalizada. Emalguns pomares, a pêra não flo-resceu novamente, mas sim ahamlin. Em dezembro, o USDAdivulgou sua previsão de 320milhões de caixas para a novasafra paulista (incluindo o sulmineiro), redução de 12,5% emrelação à safra que se finaliza. Noentanto, o setor chega a comen-tar sobre uma possível quebra deaté 30% para 2003/04, emboraconsidere precipitada qualquerestimativa precisa antes de feve-reiro.

Calmaria na EuropaAs vendas de suco de laranja con-centrado para a Europa seguiramlentas durante praticamente todoo segundo semestre de 2002. Se-gundo a Secex, no acumulado dasafra 2002/03 (julho a outubro de2002), o Brasil exportou apenas271,6 mil toneladas para a UniãoEuropéia, volume 11% menor doque o registrado no mesmo perí-odo do ano passado. Até meadosde dezembro, o produto comer-cializado no bloco não passavade US$1.100,00/t em Roterdã.Os motivos dessa calmaria no

Novo ano,pouca laranja

mercado externo estão relacio-nados, em parte, aos elevadosestoques dos engarrafadores.Contudo, com a atual safra bra-sileira menor do que a estima-da anteriormente e com os ru-mores de quebra na safra 2003/04, há previsão de aquecimentodas vendas e dos preços do pro-duto no mercado externo a par-tir de janeiro.

Aumenta oferta de tahitiA nova safra de limão tahiti co-meçou em meados de novem-bro de maneira conturbada. Pri-meiramente, a estiagem prolon-gada em outubro atrasou o de-senvolvimento do chumbinho,gerando expectativa de atraso nacolheita. Contudo, as chuvasvoltaram em novembro de for-ma abundante nas principais re-giões produtoras, proporcionan-do um aumento repentino daoferta, ainda que de um limãomiúdo. Conseqüentemente, ospreços do produto registraramqueda de 72% em relação aomês anterior, registrando médiaaproximada de R$ 6,00/cx 27kg(colhido). Para o início de 2003,a expectativa é que a indústria eas exportações aliviem o prová-vel excesso de oferta no merca-do. No final de dezembro, asfábricas chegaram a propor con-tratos a R$ 5,00/ cx 40,8kg, parao limão posto. Em janeiro do anopassado, a média do tahiti en-tregue no portão foi de R$ 3,42/cx 40,8kg.

Dezembro de muitas frutasEm dezembro, as vendas dos ci-tros no mercado interno foram

prejudicas pela maior concor-rência com as frutas típicas daépoca, como uva, pêssego,maga e abacaxi. A procura pe-los citros só melhorou na sema-na do Natal, reforçada pelo for-te calor. Neste período, os pre-ços chegaram a registar tendên-cia de alta, sustentados pelo ele-vado interesse da indústria, bemcomo pelo agravamento da es-cassez de fruta neste período defim de safra. Em meados de de-zembro, a Abecitrus confirmouque a atual safra paulista devefechar em 350 milhões de cai-xas, ante as 374 previstas ante-riormente. As grandes fábricasde suco, preocupadas com amenor oferta nesta e na próxi-ma safra (incertezas na florada),continuaram recebendo a frutano portão a valores próximos aR$ 12,00/cx 40,8kg no fim doano, além de negociar algunscontratos ao redor de US$ 3,00/cx 40,8kg para 2003. Apenas al-gumas empresas encerraram oprocessamento na segunda quin-zena de dezembro.

C I T R O S

Por Ana Júlia Vidale Margarete Boteon

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As altas temperaturas registradas no ES e sul da Bahiacausaram o abortamento da floração do mamoeiro

Calor reduz ofertano início do ano

Roças novas em janeiro

Em dezembro, as altas tempera-turas registradas no Espírito San-to e no sul da Bahia causaram oabortamento da floração do ma-moeiro, o que pode resultar nadiminuição da produção de ma-mão nos meses de janeiro e fe-vereiro, na ocorrência do cha-mado �pescoço�. Contudo, mui-tos produtores plantaram roçasnovas e erradicaram as velhas,o que deve atrasar a entrada des-se intervalo da produção, já queo suposto �pescoço� apenasocorreria caso os produtores per-manecessem com as roças ve-lhas. No final de 2002, muitosprodutores de mamão se dedica-

ram a novas culturas, como oabacaxi, fruta de bom desenvol-vimento nas regiões produtorasde mamão. Isso pode reduzir aoferta de mamão, já que produ-tores não estão arriscando au-mentar a produção dessa fruta,pois o começo de 2003 indicaum mercado incerto, principal-mente com relação aos preçosdos insumos importados.

Café volta a dividir

espaço com o mamãoA maior oferta de frutas tradici-onalmente consumidas nestaépoca do ano, como manga,pêssego e ameixa, prejudicaramo consumo de mamão em de-zembro, pressionando os preçospraticados no mercado interno.A desvalorização do mamão, as-sociada à alta do café no mes-mo período, estimulou os cafei-cultores do estado do EspíritoSanto a retomar a cultura docafé, diminuindo, portanto, aárea plantada de mamão.

Seca deprecia qualidade

A estiagem prolongada a partirde outubro no sul da Bahia e noEspírito Santo, principais regiõesprodutoras de mamão, prejudi-caram a qualidade do fruto, quese apresentou bastante miúdoaté dezembro. Assim, a irrigaçãofoi constantemente utilizada naslavouras, resultando em aumen-to do custo de produção, umavez que os preços do diesel su-biram (produtores utilizam até30% desse combustível nas má-quinas de irrigação). Para mui-tos, a falta de chuva não repre-

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Por Tatiana Vasconcellos Biojonee Renata R. P. dos Santos

sentou grandes transtornos, umavez que foram preparados reser-vatórios suficientes para agüen-tar a estiagem. No entanto, se aschuvas continuarem escassas emjaneiro, aqueles que não têm boareserva de água para suprir a ne-cessidade de irrigação podem serprejudicados.

Alta qualidade abre portas

para exportaçõesO Brasil manteve-se como mai-or produtor mundial de mamãonos últimos 20 anos. Apesar deter obtido ganhos na fatia demercado de exportações nomesmo período, passando deterceiro para segundo maior ex-portador mundial da fruta, o Bra-sil cresceu em ritmo mais lentona última década, deixando aoMéxico, seu principal concor-rente, o primeiro lugar no comér-cio externo. A previsão, segun-do a FAO, é de taxas menoresde crescimento do consumomundial de mamão até 2005.No entanto, o Brasil está aumen-tando suas exportações para osEstados Unidos, principal mer-cado comprador da fruta, o quepode favorecer as exportaçõesnos próximos anos. Ainda assim,a proximidade com o mercadonorte-americano e as facilida-des alfandegárias favorecidaspelo Nafta fazem com que oMéxico detenha maior fatia nes-se mercado. De qualquer manei-ra, a competitividade do Brasilno mercado internacional éalta, em função da constânciae da alta qualidade das varie-dades ofertadas.

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M A N G A

Por Renata F. CintraFo

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Palmer entra no mercadoEm janeiro, a manga palmer pro-duzida na região de Monte Alto(SP) toma conta do mercado in-terno. A maioria dos produtorespaulistas encerra a colheita datommy, iniciando a comerciali-zação de palmer e keitt, desta úl-tima, porém, em menor escala.Com a entrada a palmer, a expec-tativa para o comportamento dospreços é animadora, já que elaobtém valores superiores aos datommy, comercializada pela re-gião paulista em maior volumeno período de novembro e de-zembro. Em 2003, a produção depalmer deve ser maior, em fun-ção da entrada das roças novas,já em fase de colheita e comer-cialização. Mesmo assim, aquantidade produzida ainda nãoé a ideal, considerando o grandepotencial do mercado consumi-dor paulista e a rentabilidade su-perior que essa variedade gera,em relação às outras mangas.

Indústria beneficia Monte AltoNo último trimestre de 2002, ospreços da manga tommy nas la-vouras de Monte Alto estiveramcerca de 30% superiores em re-lação ao mesmo período do anoanterior. Essa reação está relaci-onada ao atraso do início da co-lheita (forçada pelo calor exces-sivo) e pelas atividades da indús-tria de polpa. Foi o primeiro anoem que a indústria processou afruta na região paulista, represen-tando uma boa alternativa aosprodutores. A fruta processadatem obtido preços ligeiramente

A variedade palmer costuma registrar melhores preços

Palmer paulistaabastece mercado

superiores aos da comercializa-da no mercado interno. Grandeparte dos produtores fechou con-trato com as fábricas antes doinício da comercialização nomercado in natura a valores queacabaram sendo mais atrativos.Além disso, a fruta para a fabri-cação de polpa precisa estarmadura, ou seja, o produtor devemantê-la por maior tempo no pé,sendo, de certa forma, recom-pensado por isso.

Possibilidade de alta no NEEm janeiro, a finalização da co-lheita da tommy em São Paulodeve favorecer os produtoresnordestinos. Apesar da reduçãoda oferta do eixo Petrolina/Juazeiro no mesmo período, elesainda tem um volume restrito davariedade que é comercializadapor mais tempo e a preços atra-tivos, uma vez que essa fruta temgrande aceitação nas principaiscapitais brasileiras. Em janeiro,os produtores do Vale do SãoFranscisco, além de estarem ter-minado a poda dos pomares,iniciam o trata-mento de induçãofloral para a co-lheita da fruta apartir de maio, pe-ríodo de ótimos va-lores da fruta nomercado nacio-nal.

Concorrênciaacirradano mercado ex-ternoPoucos produtores

devem destinar a manga para omercado internacional em ja-neiro. Se houver exportação, afruta será direcionada principal-mente à União Européia. Alémdo Brasil não possuir volumesuficiente de manga nos padrõesde exportação no período, hádiversos países concorrendo emjaneiro, como o Peru e o Equa-dor, que abastecem os EUA eUE. Estão no mercado tambémpaíses como África do Sul, Haiti,Índia (exportanto para o merca-do europeu), Nicarágua e Haiti(norte-americano). É vaga a pos-sibilidade do envio de mangabrasileira para os Estados Uni-dos em janeiro, pois os elevadoscustos de embarque (compensa-tório apenas em altos volumespara garantia de lucro) intimi-dam os exportadores nordesti-nos. Já em relação ao mercadoeuropeu, a maior facilidade deembarque atrai os produtores,principalmente após o desempe-nho das exportações brasileirasem 2002, quando os envios fo-ram constantes, maiores e a va-lores relativamente estáveis.

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M E L Ã O

Por Maria Luiza Nachreiner

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Cai consumo na EuropaA exportação de melão para aUnião Européia deve ser menorno início do ano, já que a che-gada do inverno no continentediminui o consumo da fruta. Ademanda de melão pelos paí-ses europeus costuma ser bas-tante forte até meados de outu-bro e início de novembro. As-sim, em janeiro, o comércio dafruta nos países europeus depen-derá das condições climáticase também dos acordos entreimportadores e exportadores.Até meados de dezembro, ospreços internacionais seguirampressionados pela grande quan-tidade ofertada nesta safra, oque deve se agravar com a re-dução do consumo e a entradado melão da América Central.Muitos importadores negocia-ram volumes superiores à capa-cidade de absorção do merca-do, a exemplo do que ocorreuem anos anteriores. Segundotraders internacionais, os pre-ços, nesta safra, foram cerca de

Exportações compé no freio

10% a 15% inferiores em rela-ção à safra 2001/02, chegandoa ser 20% ou 30% menores secomparados com os preços pra-ticados na safra 2000/01.

E os concorrentes?Apesar de ocupar boa parte dajanela do mercado europeu so-zinho, o Brasil começa a en-frentar uma maior concorrênciacom a fruta de outros países navirada do ano. A competiçãocom Israel, que entra no mer-cado entre novembro e janeiro,tem sido cada vez mais forte.O país estende a sua comercia-lização na Europa ao aumentaras exportações do melão galia,comprometendo a preferênciapela variedade orange. A qua-lidade do melão galia israelen-se é bastante reconhecida en-tre os consumidores europeus.Nesta safra, contudo, Israel foiobrigado a vender seu produtoa preços inferiores. A partir dejaneiro, tem-se, na Europa, aentrada da fruta de países como

Costa Rica, Pa-namá, Equador,Honduras e par-te da Guate-mala. Entretan-to, neste ano, aexpectativa éque o volumeexportado poresses paísesseja menor.

Falta d�águacompromete ofertaO volume demelão colhido

Inverno na Europa deve diminuirconsumo de melão

na região da Chapada do Apodi(RN) e Baixo Jaguaribe (CE) co-meça a reduzir a partir de ja-neiro. Em 2003, a queda no vo-lume ofertado não deve ser tãoexpressiva como em 2002, quan-do as fortes chuvas comprome-teram significativamente a pro-dução local. Neste ano, o ce-nário é oposto. Falta água paraa irrigação, em função dos po-ços da região (em especial dacidade de Baraúna/RN) estaremsecos, conseqüência das carac-terísticas do lençol freático,agravadas com a estiagem pro-longada. Com isso, alguns plan-tios diminuíram precocemente,o que gera a expectativa deuma oferta menor que a espera-da no início do ano, tanto nomercado interno, quanto no ex-terno. Esse panorama não deveinterferir diretamente nos preçosrecebidos pelos produtores, jáque, no mesmo período, o setoratacadista espera uma reduçãoda procura pela fruta.

Picos de preços marcam2002Em 2002, os preços praticadosno mercado nacional oscilaramsignificativamente, diferente doobservado em anos anteriores.O início e o final das safras doVale do São Francisco e Chapa-da do Apodi (RN) foram os su-portes para os picos de preçosregistrados durante o ano. Emcontrapartida, períodos de bai-xa acentuada também ocorre-ram. Contudo, no acumulado de2002, os valores negociados fo-ram superiores aos alcançadosem 2001.

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U V A

Por Aline Vitti

Começa a safrapaulista

Pilar do Sul e São Miguel Arcanjo iniciam a colheita.Setor divide-se nas estimativas

Início de safra no interiorpaulistaA partir de meados de janeiro, ascidades de Pilar do Sul e SãoMiguel Arcanjo, no interior pau-lista, devem começar a colheitade uva. Alguns produtores acre-ditam que em 2003 o volume aser colhido será menor que em2002, já que essas regiões, assimcomo o Paraná, enfrentaram al-guns problemas climáticos. Se-gundo estimativa de agentes demercado, a safra paulista deve teruma quebra de 35 a 40%. Por ou-tro lado, alguns acreditam que ovolume permaneça inalterado,uma vez que os danos não foramtão graves. O pico da colheitadeve se concentrar nos meses defevereiro e março e a safra tendea terminar no final de abril. Aqualidade da fruta em desenvol-vimento é boa e a expectativa éde que se consiga preços superi-ores ao ano de 2002, já que gran-de parte do mercado consumidorserá abastecida por essas duas re-giões paulistas, durante os pri-meiros meses de 2003.

Pouca uva no ParanáA redução do volume de uva ofer-tado no mercado interno no se-gundo semestre de 2002, relaci-onada aos problemas climáticosenfrentados pelas regiões produ-toras do Paraná, resultou no au-mento significativo dos preços dafruta, se comparado aos de 2001.Mesmo com a queda dos preçosem dezembro, resultado do ligei-ro aumento do volume ofertadoe principalmente das fracas ven-das registradas nas primeiras se-manas do mês, os valores prati-cados estiveram acima dos cota-

dos em 2001. A maior parte daprodução foi comercializada emdezembro, devendo ser bem me-nor em janeiro, uma vez que asafra deve finalizar. Segundoagentes de mercado, cerca de10% a 20% do total da área doParaná deve ser colhida em ja-neiro. Mesmo com essa reduçãono volume, os preços não devemse elevar, podendo, até mesmo,reduzirem, já que a comerciali-zação da uva costuma ser fracaem janeiro. Além disso, em me-ados deste mês, alguns produto-res de São Miguel Arcanjo e Pi-lar do Sul (SP) iniciam a colhei-ta, aumentando a oferta do pro-duto. Em Rosário do Ivaí (PR), ovolume de uva niagara para ja-neiro deve ser suficiente paraatender à demanda, já que ape-nas 40% do total foi colhido emdezembro.

Porto Feliz também entra nomercadoSegundo estimativas dos agen-tes de mercado, a safra 2002/03deve ser cerca de 40 a 50% me-nor se comparada à an-terior, devido à ausênciade frio entre os meses demarço e maio, que inter-feriu no bom desenvol-vimento da cultura. Emdezembro, a grande pro-cura foi pela uvaniagara, que se encontra-va a preços mais acessí-veis aos consumidores.Conseqüen temente ,houve uma redução dospreços das uvas finas demesa, já que a procurapor esses produtos caiusignificativamente. Para

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janeiro, a oferta de niagara devese restringir a 20% da produçãototal e as uvas finas terão um au-mento em seu volume.

Cai oferta no NordesteEm janeiro, o volume a ser co-lhido no Nordeste será peque-no, já que grande parte dos pro-dutores está podando osparreirais para a próxima janelade mercado, que deve se iniciarem abril. Além disso, a boa pro-cura pela fruta no final de 2002,tanto no mercado interno comono externo, resultou em grandeescoamento da fruta nordestina,reduzindo consideravelmenteseu volume para o início de2003. Em dezembro, o preçorecebido pelos pequenos produ-tores, pela uva destinada à ex-portação, variou de R$ 2,00/kga R$ 3,00/kg e, devido à peque-na oferta do produto nos paísesexternos, as vendas brasileiras,para algumas empresas, se pro-longaram até meados de dezem-bro.

Fonte: Cepea

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Quais os impactos do uso

NA OPINIÃO DA ENG. AGR.TATIANA DE CARVALHO1...

O uso de transgênicos na agricul-tura tem gerado muita polêmica nãosó no Brasil, mas também em ou-tros países. A polêmica acontece emfunção dos danos ambientais, dacrescente rejeição por parte dosconsumidores e dos interesses eco-nômicos envolvidos na adoção des-sa tecnologia.

Apesar dos milhões de dólaresque vêm sendo investidos no de-senvolvimento de novas variedadestransgênicas2 e das promessas mi-lagrosas das indústrias de biotecno-logia, até o momento, existem ape-nas dois tipos principais de trans-gênicos plantados comercialmenteno mundo, os resistentes aherbicidas e os Bts, que receberamgenes para a produção de uma subs-tância inseticida.

No caso da soja Roundup Ready,ela recebeu um gene para se tornarresistente ao herbicida Roundup,isto é, o agricultor pode aplicar esteherbicida sobre a planta sem queela seja afetada. Nos Estados Uni-dos, onde a soja transgênica vemsendo plantada há mais tempo, ouso contínuo de um único tipo deherbicida sobre a mesma área fezsurgir plantas daninhas resistentesao glifosato. Este herbicida está ten-do de ser aplicado em maior quan-tidade ou substituído por herbicidasmais fortes.

Um grave problema que está sen-do enfrentado pelo agricultor no Ca-nadá é a dificuldade de se eliminara canola transgênica de áreas ondese deseja plantar outras culturas. Acanola se tornou uma planta dani-nha de difícil combate, por ser ca-paz de acumular a resistência a di-ferentes herbicidas, através do cru-zamento espontâneo entre varieda-des distintas de canolas transgêni-

cas. Outro ponto polêmico, que temlevado a disputas judiciais, é o fatode uma plantação de canolatransgênica poder contaminar osprodutores de canola vizinhos quenão desejam plantar transgênicos.

Até que os transgênicosapresentem vantagens

concretas ao agricultor ea ausência de riscos ao

meio ambiente, deve seradotado o princípio de

precaução, mantendo-sea proibição do plantio

Com relação ao algodão Bt, oseu plantio não eliminou, tam-pouco diminuiu, a necessidade deaplicação de inseticidas, pois estenão é eficiente no combate a todasas pragas que afetam esta cultura.Além disso, como os insetos têmum ciclo de vida muito curto, emalguns anos podem desenvolver re-sistência à toxina produzida porestes transgênicos. As culturas Btsafetam diretamente a diversidadede insetos no ambiente agrícola,podendo levar ao aumento de pra-gas, em função do desequilíbrio naspopulações de seus predadores na-turais.3

O milho Bt é talvez o transgênicoque até o momento apresentou osmaiores impactos ao meio ambi-ente e a agricultura, devido à con-taminação desastrosa do centro deorigem do milho no México. Nestaregião, onde, se concentra a maiordiversidade de variedades de mi-lho, 30 variedades crioulas já fo-ram contaminadas por transgêni-cos, comprometendo seriamenteesse banco genético natural.

A partir dessas experiências,pode-se prever apenas parte dos

riscos oferecidos pela introduçãode novas espécies e variedades detransgênicos. As consequências va-riam dependendo do gene introdu-zido e da espécie modificada gene-ticamente, muitas delas só serão co-nhecidas em longo prazo.

As variedades transgênicas sãotodas patenteadas, o que impede oagricultor de produzir suas própri-as sementes, obrigando-o acomprá-las de um número cada vezmais reduzido de empresas quetentam o monopólio do mercadode sementes. O grande interesse dasindustrias de biotecnologia e agro-tóxicos é tornar o produtor ruralcada vez mais dependente da com-pra de insumos, através o mono-pólio da venda de sementes e a ven-da casada de agrotóxicos.

O Brasil tem obtido grandes van-tagens econômicas na exportaçãode alimentos não transgênicos, prin-cipalmente para os países da UniãoEuropéia e a China. Devido ao altocusto da segregação entre alimen-tos transgênicos e não transgêni-cos, esta vantagem comercial sóserá mantida com a continuidadeda proibição dos transgênicos nopaís.4

A liberação do plantio de trans-gênicos não pode ser motivadapela pressa gananciosa dasindustrias de biotecnologia e agro-tóxicos. Até que os transgênicosapresentem vantagens concretas aoagricultor brasileiro e a ausência deriscos ao meio ambiente, deve seradotado o princípio de precaução,mantendo-se a proibição do plan-tio, a comercialização e a importa-ção de cultivares transgênicos nopaís.

2 Segundo a EMBRAPA, cada variedade de transgênico custa em torno de R$5 milhões para ser desenvolvida.3 O estudo � A summary of research on the environmental impacts of Bt cotton in China� publicado pelo Greenpeace em junho de 2002 está

disponível em www.greenpeace.org.br4 O relatório �As vantagens da soja e do milho não transgênico para o mercado brasileiro� publicado pelo Greenpeace em maio de 2002 está

disponível em www.greenpeace.org.br. Cópias impressas podem ser solicitadas pelo e-mail [email protected]

F Ó R U M D E I D É I A S

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1Tatiana de Carvalho - EngenheiraAgrônoma formada pela Esalq. É Asses-sora da Campanha de Engenharia Gené-tica do Greenpeace Brasil desde dezem-bro de 2001.

A Hortifruti Brasil convidou dois especialistas com visões

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F Ó R U M D E I D É I A S

de transgênicos na agricultura?

(*) Ernesto Paterniani - Professor aposentado da Escola Supe-rior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) que partici-pou como integrante da Comissão Técnica Nacional deBiossegurança (CTNBio) entre 1996/2002.

MAS NA VISÃO DO PROF.ERNESTO PATERNIANI...

RISCOS À SAÚDETodas as novas variedades, sejam

geneticamente modificadas ou não,são adequadamente avaliadas pelospesquisadores, antes da sua libera-ção. Neste aspecto, por constituiruma inovação tecnológica, as plan-tas geneticamente modificadas têmsido avaliadas com maior rigor (prin-cípio da precaução). A experiênciade vários anos de milhões de pesso-as consumindo alimentos originári-os da biotecnologia não revelou umúnico caso de dano à saúde. Assim,os riscos que têm sido anunciadossão apenas hipotéticos. Uma preo-cupação dos pesquisadores é coma possibilidade de novos alimentoscausarem efeitos alergênicos. Umfeijão geneticamente modificadocom melhor composição protéica,maior teor de metionina, um amino-ácido essencial, foi obtido incorpo-rando um gene da castanha do Pará.Verificou-se que certas pessoas alér-gicas à castanha do Pará, tambémeram alérgicas a esse feijão geneti-camente modificado, e por isso, apesquisa foi interrompida e o pro-duto não liberado ao público (prin-cípio da precaução).

MEIO AMBIENTEAté o momento, as variedades ge-

neticamente modificadas liberadas(tolerantes a herbicidas e resitentesa insetos-pragas) têm reduzido o usode agroquímicos, como comprovamas estatísticas dos países onde essasplantas estão sendo cultivadas nor-malmente. Por exemplo, o milho Btno qual foi incorporado um gene dabactéria Bacillus thuringiensis, pro-duz uma toxina nas folhas que mataas lagartas, dispensando, assim oemprego de inseticidas. Nos camposde algodão Bt nos Estados Unidos,observa-se uma grande quantidadede pássaros e insetos que batem nospára-brisas dos carros. Por outrolado, nos campos de algodão nãotransgênico, os agricultores preci-sam usar inseticidas que matam tan-to os insetos pragas quanto os úteis,

como as abelhas. Considerandoque o consumo anual de agroquí-micos no mundo, é da ordem deUS $ 35 bilhões e no Brasil é de US$ 2,5 bilhões, os transgênicos po-dem representar significativa eco-nomia e proteção ao meio ambien-te. As plantas tolerantes a herbicidassão as maiores aliadas do plantiodireto. Com esse sistema, o solo nãoé revolvido, evitando a erosão, omaior problema de conservação dosolo em regiões tropicais.

Proibir uma tecnologiaporque de início

beneficia apenas oagricultor parece uma

posição demasiadamentefisiológica,

representando umagrande falta de

consideração para oagricultor, que também é

um consumidor

Reduzem a biodiversidade? Éexatamente o contrário. Cada novotransgênico representa uma novavariedade disponível. Além dabiodiversidade existente, que é pre-servada, a transgenia tem um po-tencial incalculável para aumentarsignificativamente a biodiversidade.

PRODUTIVIDADEAs plantas geneticamente modi-

ficadas são desenvolvidas para me-lhorar a atividade agrícola e, emconseqüência, aumentar a produti-vidade. Muito embora isso ocorrade maneira geral, como as condi-ções de solo, clima etc. variam en-tre as regiões, pode acontecer que,em determinadas circunstâncias,uma variedade geneticamente mo-dificada não seja superior em rela-ção ao cultivar não-transgênico. Porisso é que o agricultor nunca subs-titui totalmente a sua área com umanova variedade. Usando o princí-pio da precaução, planta inicialmen-te parte da sua área com o novo

cultivar e, dependendo dos resul-tados, decide ampliar ou reduzir oplantio na próxima safra.

BENEFÍCIOS AO CONSUMIDORNenhuma inovação tecnológica

beneficia o consumidor de imedia-to. Leva um certo tempo até que sejaadotada por uma parcela dos pro-dutores, quando, devido à maioreficência e diminuição dos custos,pode resultar em benefício ao con-sumidor. Além do mais, proibir umatecnologia porque de início benefi-cia apenas o agricultor parece umaposição demasiadamente fisiológi-ca, representando uma grande faltade consideração para o agricultor,que também é um consumidor e nãodeve ser desprezado na sociedade.

DESÍGNIOS DIVINOSEvidentemente, eu não tenho a

pretensão de transmitir para a soci-edade quais são os desígnios divi-nos, embora eu possa ter minhaspróprias idéias. Na verdade, o ho-mem já produziu significativas alte-rações nos seres vivos, plantas, ani-mais e microorganismos, todasconsideradas benéficas para a so-ciedade. Se os transgênicos para aprodução de alimentos são consi-derados contrários à vida, por queos transgênicos para produção defármacos não o são?

Para mim, é de importância secun-dária o fato de uma pessoa ser con-tra ou a favor dos transgênicos. Cadaum deve ter a liberdade de decidirpor razões concretas, ou mesmo porconvicções internas. O que me pa-rece sumamente importante é queas campanhas milionárias contrári-as aos transgênicos estão procuran-do convencer a sociedade de que aciência e os cientistas não são con-fiáveis. Ora, isso é ignorar as impor-tantes conquistas da Ciência, queresultaram nos significativos melho-ramentos da qualidade de vida dis-poníveis na atualidade.

distintas para avaliar os impactos dos transgênicos na agricultura.

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