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Homogeneização em Equações Diferenciais Motivação - Materiais Compostos Marcone C. Pereira 12 PROGRAMA DE VERÃO 2011 - EDP’ SE ANÁLISE FUNCIONAL I NSTITUTO DE MATEMÁTICA E ESTATÍSTICA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO -BRASIL 1 Escola de Artes, Ciências e Humanidades - Universidade de São Paulo - São Paulo - Brasil 2 Partially supported by FAPESP 2008/53094-4, CAPES DGU 127/07 and CNPq 305210/2008-4. [email protected] Verão 2011 - IME - USP

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Homogeneização em Equações DiferenciaisMotivação - Materiais Compostos

Marcone C. Pereira1 2

PROGRAMA DE VERÃO 2011 - EDP’S E ANÁLISE FUNCIONALINSTITUTO DE MATEMÁTICA E ESTATÍSTICA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOSÃO PAULO - BRASIL

1Escola de Artes, Ciências e Humanidades - Universidade de São Paulo -São Paulo - Brasil

2Partially supported by FAPESP 2008/53094-4, CAPES DGU 127/07 andCNPq 305210/2008-4.

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Referências:

1 H. Brézis; Análisis Funcional. Teoría y aplicaciones,Alianza Editorial (1984).

2 D. Cioranescu and P. Donato; An Introduction toHomogenization, Oxford lecture series in mathematics andits applications (1999).

3 D. Cioranescu and J. Saint J. Paulin; Homogenization ofReticulated Structures, Springer Verlag (1980).

4 E. Sánchez-Palencia; Non-Homogeneous Media andVibration Theory, Lecture Notes in Physics 127, SpringerVerlag (1980).

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Neste mini-curso vamos introduzir métodos matemáticos utilizadosno estudo de equações diferenciais parciais que modelamfenômenos físicos considerados em materiais heterogêneos, cominclusões ou buracos.

Para isto, vamos considerar inicialmente materiais compostos comestrutura ε-periódica, ε→ 0, cujos métodos de abordagem estãoheuristicamente baseados em considerações de duas escalas decomprimento associdas com fenômenos macro e microscópicos.

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ExemplosSuperconducting Multifilamentary Composite.

Material com habilidade de transportar largas densidades decorrente elétrica sobre a influência de campos magnéticos de altaintensidade. Por razões físicas é formado por fibras elementares dediâmetro muito pequeno, isoladas por uma matriz de altacondutividade térmica. São milhares de fibras com diâmetro variandode 10 a 100µm.

33http://www.amsc.com/products/htswire/2Gwirearchitecture.html

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ExemplosSyntactic foam.

Materiais compostos sintetizados através do preenchimento damatriz de um metal, polímero ou cerâmica com partículas ocaschamadas "syntactic". A presença de tais partículas ocas resulta emmenor densidade, maior resistência, menor coeficiente de dilataçãotérmica e, em alguns casos, influencia na transparência radar ousonar.

4

4http://www.thefullwiki.org/[email protected] Verão 2011 - IME - USP

Exemplos

Mecânica dos fluidos.Considera-se o fluxo de fluidos em meios porosos, tais como solos,aqüíferos, óleo e reservatórios de gás, tecidos biológicos e plantas,mas também em células de combustível, cimento, têxteis,compósitos poliméricos etc. Tais problemas são encontrados tantoem sistemas naturais como indústriais.

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5http://education.geo.uu.nl/mschydrology/index.php?contentid=101036http://soilandwater.bee.cornell.edu/research/pfweb/regulators/intro/why.htm

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Exemplos

Etc.Estruturas do tipo ‘honey comb’, reforçadas, grelhas etc.

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Os materiais apresentados anteriormente possuem um número altode heterogeneidades. Por isso, quando tentamos caracterizar suaspropriedades, podemos fazê-la usando uma escala local, isto é,consideramos cada uma das componentes do compostoseparadamente. Mas na prática é mais interessante considerar ocomposto numa escala global. Em geral, é mais importante obter ocomportamento geral do composto negligenciando possíveisflutuações ocasionadas por sua alta heterogeneidade.

Este é o objetivo da teoria de homogeneização. Materiaisheterogêneos são substituídos por outros fictícios e homogêneos,em cujo comportamento do fenômeno considerado deve aproximar odo original de maneira conveniente. Desta maneira procuramosdescrever propriedades globais dos compostos levando em conta aspropriedades locais do problema original.

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Um problema unidimensional com coeficientes oscilantes

Seja f ∈ L2(0,1) e a ∈ L∞(R), T -periódica, 0 < α ≤ a(x) ≤ β <∞ e

aε = a (x/ε) .

Para cada ε > 0, considere o sequinte problema−ddx

(aε

duε

dx

)= f em (0,1)

uε(0) = uε(1) = 0.

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1 uε converge para algum limite u0 quando ε→ 0?

2 Se sim, em que sentido e espaço tal convergência ocorre?

3 É u0 solução de uma equação do mesmo tipo?

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Teorema (Spagnolo 1967)

Existe u0 ∈ H10 (0,1), solução única da equação homogeneizada−

1M( 1

a

) d2u0

dx2 = f em (0,1)

u0(0) = u0(1) = 0

tal queuε u0 w − H1

0 (0,1)

uε → u0 s − L2(0,1).

i) M( 1

a

)= 1

T

∫ T0

dsa(s) é chamado coeficiente de homogeneização.

ii) uε u0 w −H10 (0,1) quando ε→ 0, se para todo φ ∈ H1

0 (0,1)

(uε, φ)H10

=

∫ 1

0

duε

dx(x)

dφdx

(x) + uε(x)φ(x)

dx → (u0, φ)H1

0.

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O que usamos?

1 Compacidade. Se ‖uε‖H1(O) é uniformemente limitada, entãoexiste u0 ∈ L2(O) tal que

uε → u0 s − L2(O).

2 Teorema de Eberlein-Smuljan. Seja X = L2(O) ou H1(O) esuponha ‖f ε‖X ≤ C. Então, existe uma sub-seqüência f εii∈N ef ∈ X tal que, quando i →∞,

f εi f w − X , ie.(ϕ, f εi )X → (ϕ, f )X ∀ϕ ∈ X ′.

3 Desigualdade de Hölder. Suponha 1 ≤ p ≤ ∞. Então∫O|f (x) g(x)|dx ≤ ‖f‖Lp(O)‖g‖Lp′ (O), 1/p + 1/p′ = 1.

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4 Desigualdade de Poincaré. Existe uma constante C|O| tal que

‖f‖L2(O) ≤ C|O| ‖∇f‖L2(O) ∀f ∈ H10 (0,1).

5 Funções periódicas rapidamente oscilantes. Suponha1 ≤ p ≤ ∞, f ∈ Lp(Y ), Y -periódica com

Y = (0, l1)× ...× (0, lN) ⊂ RN .

Consideref ε(x) = f (x/ε) q.t.p. Y .

Então, se p <∞ e ε→ 0,

f ε M (f ) =1|Y |

∫Y

f (x) dx w − LP(ω)

para qualquer aberto ω ⊂ RN . Se p =∞, temos

f ε M (f ) =1|Y |

∫Y

f (x) dx w∗ − L∞(RN).

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Formulação variacional do ε-problema∫ 1

0aε(x)

duε

dx(x)

dϕdx

(x) dx =

∫ 1

0ϕ(x) f (x) dx ∀ϕ ∈ H1

0 (0, 1).

Formulação variacional do problema homogeneizado∫ 1

0

1M (1/a)

du0

dx(x)

dϕdx

(x) dx =

∫ 1

0ϕ(x) f (x) dx ∀ϕ ∈ H1

0 (0, 1).

Em geral, não é possível obter convergência forte em H1.

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Gráficos de a1/4 e u1/4

0.5

1

1.5

2

2.5

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.2 0.4 0.6 0.8 1

Fig. 2: Graficos de a(·/!) e da solucao exata para ! = 1/4.

2.1 Solucao exata

Nos nossos exemplos, consideramos

f(x) = 1, a(x) =12("!#)(1+sin(2$x))+#, # =

12, " =

52. (2.16)

Seja a sequencia de problemas onde ! = 1/4, ! = 1/8 e ! = 1/16.E facil notar pelas Figuras 2, 3 e 4 deste exemplo, que crescem as oscilacoes

de a(·/!) quando ! " 0.Em geral, nao e possıvel obter solucoes analıticas para dimensoes maiores.

Motivados por esta dificuldade, investigaremos agora como encontrar solucoesaproximadas para (2.15).

Uma possibilidade explorada na Secao 2.2 e o uso de tecnicas de homogenei-zacao. Como vimos, a ideia basica apoia-se no fato de que, quando ! " 0, asolucao exata converge para a solucao homogeneizada. Espera-se entao que para

Comparação entre os gráficos de u1/4 e u0.

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.2 0.4 0.6 0.8 1

PSfrag replacements

Solucao exataSolucao homogeneizada

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.2 0.4 0.6 0.8 1

PSfrag replacements

Solucao exataSolucao homogeneizada

Fig. 5: Solucoes exatas e homogeneizadas para ! = 1/4 e ! = 1/8.

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.2 0.4 0.6 0.8 1

PSfrag replacements

Solucao exataSolucao homogeneizada

Fig. 6: Comparacao entre as solucoes exata e homogeneizada para ! = 1/16.

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Gráficos de a1/16 e u1/16

0.5

1

1.5

2

2.5

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.2 0.4 0.6 0.8 1

Fig. 3: Graficos de a(·/!) e da solucao exata para ! = 1/8.

0.5

1

1.5

2

2.5

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.2 0.4 0.6 0.8 1

Fig. 4: Graficos de a(·/!) e da solucao exata para ! = 1/16.Comparação entre os gráficos de u1/16 e u0.

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.2 0.4 0.6 0.8 1

PSfrag replacements

Solucao exataSolucao homogeneizada

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.2 0.4 0.6 0.8 1

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Solucao exataSolucao homogeneizada

Fig. 5: Solucoes exatas e homogeneizadas para ! = 1/4 e ! = 1/8.

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.2 0.4 0.6 0.8 1

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Solucao exataSolucao homogeneizada

Fig. 6: Comparacao entre as solucoes exata e homogeneizada para ! = 1/[email protected] Verão 2011 - IME - USP

O caso N-dimensionalEstudaremos o comportamento assintótico do problema

div (Aεuε) = f em Ω,uε = 0 sobre ∂Ω

com ε→ 0.

Supomos f ∈ L2(Ω), Aε = (aεij )Ni,j=1, com

aεij (x) = aij (x/ε) x ∈ RN ,

Aε(x) = A(x/ε) = (aij (x/ε))Ni,j=1

ondeaij (y) são Y − periódicos

(A(y)x , x) ≥ α|x |2

|A(y)x | ≤ β|x |

para todo x ∈ RN e q.t.p. Y ,

Y = (0, l1)× ...× (0, lN) ⊂ RN .

Nestas condiçõ[email protected] Verão 2011 - IME - USP

Sanchez-Palencia (1970b, 1980), Bakhvalov (1974), Bensoussan, Lionsand Papanicolaou(1978)

uε u0 w − H10 (Ω)

Aε∇uε A0∇u0 w −(L2(Ω)

)N

onde u0 ∈ H10 (Ω) é a única solução da equação homogeneizada

N∑i,j=1

∂xi

(a0

ij∂u0

∂xj

)= f em Ω

u0 = 0 sobre ∂Ω

em que a matriz A0 = (a0ij )

Ni,j=1 é constante, elíptica e dada por

A0λ = MY (A∇ωλ) ∀λ ∈ RN ,

onde ωλ é a função auxiliar dada por−div (A∇wλ) = 0 em Y ,wλ − λ · y Y − periódicoMY (wλ − λ · y) = 0

.

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1 Formulação variacional do problema auxiliar: encontrar ωλ ∈ Wp,

Wp =

v ∈ H1(Y ) | v é Y − periódico, MY (v) = 0,

tal que ∫

YA(y)∇ωλ∇v dy = 0 ∀v ∈ Wp

ωλ − y · λ Y − periódico

MY (ωλ − y · λ) = 0

.

Além disso temos que este problema é equivalente a−div

(A(y)∇Xλ

)= −div (A(y)λ) em Y ,

Xλ Y − periódico

MY

(Xλ)

= 0

cuja formulação variacional é: encontrar Xλ ∈ Wp tal que∫Y

A(y)∇Xλ∇v dy =

∫Y

A(y)λ∇v ∀v ∈ Wp

onde as funções ωλ e Xλ se relacionam pela expressão

ωλ = y · λ− Xλ.

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2 Fórmulas explícitas para a matriz homogeneizada A0 =(a0

ij

)i,j

.

Seja e1, ..., eN a base canônica do RN . Então

A0ej = MY (A∇ωj ) e (A0ej )i =N∑

k=1

aik∂ωj

∂xk,

que nos dá para todo i, j = 1, ...,N

a0ij = MY

(N∑

k=1

aik∂ωj

∂xk

)= MY

(aij −

N∑l=1

aik∂Xj

∂xk

)

= MY (aij )−MY

(N∑

k=1

aik∂Xj

∂xk

)

=1|Y |

∫Y

aij (y) dy − 1|Y |

N∑k=1

∫Y

aik (y)∂Xj

∂xkdy .

Observe que a matriz A0 é diferente da matriz MY (A) de Aε (associadaa lei das misturas). Com efeito, A0 é obtida mediante a soma de umvalor corretor, a saber

MY

(N∑

k=1

aik∂Xj

∂xk

).

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3 Fazendo N = 1 no teorema anterior obtemos

a0 = M(0,l1)

(a(y)

ddy

(y − X

))= M(0,l1)

(a(y)− a(y)

dXdy

)onde

ddy

(a(y)

dXdy

)=

ddy

(a(y)) y ∈ (0, l1)

X Y − periódica

M(0,l1)

(X)

= 0

.

Logo

X (y) = − 1M(0,l1) (1/a)

∫ y

0

dsa(s)

+ y + C0,

onde a constante C0 é dada pela condição M(0,l1)

(X)

= 0, e

M(0,l1)

(a(y)− a(y)

dXdy

)=

1M(0,l1) (1/a)

.

Assim o valor corretor no caso unidimensional é

M(0,l1)

(a(y)

dXdy

).

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4 Pode-se mostrar também que

a0ij =

1|Y |

N∑k,l=1

∫Y

akl (y)∂ωj

∂xl

∂ωi

∂xkdy i , j = 1, ...,N,

e que existe α0 > 0 tal que

∑i,j

a0ij ξi ξj ≥ α0 |ξ|2 ∀ξ ∈ RN .

Note que se A é simétrica, então A0 é simétrica.

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Duas escalas caracterizam nosso problema, uma macroscópica x e outramicroscópica x/ε que descreve as micro-oscilações. Empiricamente, somoslevados a olhar para o desenvolvimento de uε da forma

uε(x) = u0(x , x/ε) + ε u1(x , x/ε) + ε2 u2(x , x/ε) + ...

onde ui (x , y) é uma função Y -periódica na segunda variável y .

Este método clássico é muito utilizado em Mecânica, Física e Engenharia,em problemas cujos parâmetros são de ordem pequena e descrevemdiferentes escalas. Em geral, nos permite identificar o problemahomogeneizado de maneira formal.

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Nosso problema admite a seguinte expansão assintótica:

uε = u0 − εN∑

i=1

Xi (x/ε)∂u0

∂xi+ ε2

N∑i,j=1

θij (x/ε)∂2u0

∂xi∂xj+ ...

onde u0 é a solução do problema homogeneizado, Xi é a solução doproblema auxiliar

−div(

A(y)∇Xi

)= −div (A(y)ei ) em Y

Xi Y − periódico

MY

(Xi

)= 0

e θij satisfaz−div

(A(y)∇θij

)= −a0

ij −∑

kl∂aklδik Xj∂yk

−∑

k ail∂Xj−yj∂yj

em Y

θij Y − periódico

MY

(θij

)= 0

.

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Prova de convergência.

Método variacional das funções testes oscilantes de Tartar (1977 e1978).

Método de duas escalas devido a Nguetseng (1989) e Allaire (1992).

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