HIV/Aids Sem Preconceito Ago/2010
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SÁBADO, 07 DE AGOSTO DE 2010DIÁRIO DA SERRA a�
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Gente
Entrevista Dr. Alexandre Naime Barbosa, infectologista
assistente do SAE/Hospital Dia “Domingos Alves
Meira” e do HC Unesp
CLARISSA ATHAYDE
esta semana, a reportagem do Diário entrevis-tou o infectolo-gista assistente do Serviço de A m b u l a t ó r i o s
Especializados Hospital Dia de Aids/Hepatites Virais: “Dr. Domingos Meira” e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina/Unesp Botucatu, Dr. Alexandre Naime Barbosa. O médico, que também é membro titular e especialista pela Socie-dade Brasileira de Infectologis-ta, recentemente participou da 18ª Conferência Internacional sobre Aids, realizada em Vie-na, e apresenta dados sobre o atendimento aos pacientes feitos em Botucatu. Confira os principais trechos.
Diário - Recentemente, o senhor participou da 18ª Con-ferência Internacional sobre Aids, realizada em Viena. Na ocasião, junto com dois cole-gas, o senhor apresentou um estudo que, segundo análises, os resultados podem auxiliar em futuras terapêuticas con-tra o HIV. De que maneira esse estudo pode contribuir?
DR. ALEXANDRE - O estudo analisou SNPs (polimorfismos de base única), que são pequenas diferenças genéticas entre as pessoas, mutações pontuais, e que podem determinar impor-tantes variações biológicas. Por exemplo, existem SNPs distintos para corredores de provas curtas e para maratonistas, alguns SNPs estão ligados à maior su-cesso no tratamento de certas doenças. No estudo apresenta-do em Viena, foi demonstrado que alguns SNPs em pessoas vivendo com HIV/Aids estão re-lacionados com progressão mais rápida da doença. No futuro, o aperfeiçoamento dessa ferra-menta pode auxiliar o médico a introduzir mais precocemente a terapia antrretroviral (coquetel anti-HIV) em determinados pa-cientes que tenham maior risco de adoecer.
Diário - Ainda não é conhe-cida uma cura para a aids, porém, hoje, um paciente com HIV pode viver mais do que antigamente. Como está essa evolução? Quantos anos, em média, um paciente consegue viver com a doença?
DR. ALEXANDRE - O sur-gimento do coquetel anti-HIV, em 1995, trouxe uma verda-deira revolução no tratamento das pessoas vivendo com HIV/Aids. Se o paciente tomar regularmente e sem falhas o tratamento prescrito, hoje em dia ele tem praticamente a mesma expectativa de vida que alguém na mesma faixa etária. Ou seja, na quase totalidade dos casos, se o indivíduo tiver regularidade na tomada das medicações, ele terá uma vida normal, longe das doenças e do alto índice de mortalidade que atingia essas pessoas há pouco mais de 15 anos.
Diário - Em Botucatu, é feito um excelente trabalho com os pacientes do SAE/Hospital Dia “Domingos Alves Meira”. Em média, quantas pessoas são atendidas?
DR. ALEXANDRE - O ponto chave fundamental no suces-so alcançado no atendimento dessas pessoas é o caráter multiprofissional. A equipe composta por infectologistas,
NHIV/Aids sem preconceitoe-mail - [email protected]
Equipe multidisciplinas do Serviço de Ambulatório Especializado e Hospital: “Domingos Alves Meira”
Viver com Aids é possível, com o preconceito não“
Dr. Alexandre Naime Barbosa
fOTOS SIDNEy TROVÃO
enfermeiras, dentista, farma-cêuticas, fisioterapeuta, tera-peuta ocupacional, assistente social, psicóloga, nutrólogo, nutricionistas, auxiliares de enfermagem, cirurgião plásti-co, coloproctologista, pessoal de administração, motorista e seguranças é, no conjunto, responsável pelo acolhimento e atendimento humanizado, com a intenção de suprir não só o tratamento do HIV em si, mas toda a demanda de saúde, e também questões sociais, psicológicas, de mercado de trabalho, entre outras. A missão é focar globalmente a proble-mática da pessoa vivendo com HIV/Aids, e com essa visão, cerca de 500 pessoas seguem em acompanhamento regular no Hospital Dia.
Diário - Qual é o maior desafio do SAE/Hospital Dia Domingos Alves Meira?
DR. ALEXANDRE - O maior desafio é vencer o estigma e preconceito que muitos setores da s o c i e d a d e ainda impõe às pessoas vivendo com HIV/Aids. Vi-vemos em pleno século XXI, mas ainda existem muitas histórias tristes, como casos de demissão do tra-balho pelo fato do funcionário ser portador do HIV, sem que isso represente algum risco em qualquer atividade profissional. Rejeição familiar por parte de amigos e conhecidos também são exemplos de atitudes sem justificativa científica, moral ou ética. Essas atitudes cruéis e desumanas são o foco de ações dentro do Hospital Dia, com projetos de ressocializa-ção, atendimento psicológico, terapia ocupacional e de rein-serção no mercado de trabalho. Viver com Aids é possível, com o preconceito não.
Diário - O senhor possui alguns dados para citar sobre o número de portadores de HIV/Aids na Cidade? A maioria é de homens ou mulheres? Em
qual faixa etária?DR. ALEXANDRE - A distribui-
ção de casos de infecção pelo HIV em Botucatu se assemelha muito com os dados nacionais, com cerca de 0,3% a 0,5% da po-pulação afetada. Parece pouco, mas se for levado em considera-ção que apenas um terço dessas pessoas sabe ser portadora do HIV, e que o cuidado em usar o preservativo fica menor, pode se ter uma idEia do risco de transmissão. Ou seja, dos 700 mil casos estimados no Brasil, apenas 250 mil estão diagnos-ticados. O HIV está distribuído por todas as faixas de idade, em todas as camadas sociais, em qualquer cor de pele, indiferente da opção sexual (hetero ou ho-mossexual). Existe atualmente um crescimento nas meninas de 13 a 19 anos, nos homos-sexuais jovens masculinos e em idosos. Esse fato não protege as outras camadas da sociedade, portanto a prevenção com uso
do preserva-tivo deve ser universal.
Diário - Na sua opi-nião, com o advento do coquetel “anti-HIV”,
as pessoas passaram a temer menos a doença?
DR. ALEXANDRE - Relatos de descaso com a prevenção devido à falsa sensação de se-gurança causada pela eficácia do coquetel realmente chegam até nós, e são completamente ilógicos. Assumir o risco de contrair uma doença que não tem cura, apesar de um trata-mento eficaz, não tem sentido. É fundamental lembrar que o coquetel deve ser tomado rigorosamente de acordo com a prescrição, sem falhas, para o resto da vida, e que possui muitos efeitos colaterais. É muito mais fácil e inteligente usar a camisinha nas relações sexuais, e se prevenir.
Diário - Ainda há muito preconceito em relação aos portadores de HIV/Aids. Na sua opinião, a quê se deve
este fato? DR. ALEXANDRE - Esse é
sem dúvida o maior obstáculo hoje em dia. O preconceito em relação às pessoas vivendo com HIV/Aids vem da época que a doença atingia grupos espe-cíficos de pessoas estigmati-zadas até hoje pela sociedade, como homossexuais, usuários de drogas e profissionais do sexo. Discriminar pessoas por serem portadoras de alguma doença (qualquer que seja) ou por sua opção sexual, ativida-de profissional, cor da pele, religião, além de ser desumano e cruel, também é passível de pena de até quatro anos de prisão, segundo projeto de lei da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados.
Diário - O Hospital Dia costuma promover diversas atividades com o intuito de incentivar os pacientes na socialização. Como está o trabalho hoje?
DR. ALEXANDRE - Vários programas estão em fun-cionamento, principalmente envolvendo a descoberta e aperfeiçoamento de habilida-des nas oficinas de terapia ocupacional, além de ações junto às entidades patronais
visando desestigmatizar o pro-fissional vivendo com HIV/Aids. Um projeto de aprendizado em informática está em implanta-ção conjuntamente.
Diário - O senhor teria alguma história interessante de algum fato ou história com pacientes?
DR. ALEXANDRE - A histó-ria que gosto de contar, não é um ou de outro paciente, é de todos e, se repete quase diariamente. Superação e vont ade de viver. Aprendi muito com as pessoas que acompanho, mudou a forma que encaro os problemas, ad-miro a força que trazem dentro de si. Chegam muitas vezes debilitadas física e psicologi-camente pela descoberta da doença, muitas delas em situ-ação de risco social. Rebatem e respondem positivamente, se cuidam e transformam a infecção pelo HIV no menor dos problemas. A luta e a vitória pela vida é o que mais me fascina nessa história toda.
Diário - Dentre os pacientes assistidos pelo senhor, qual é a principal forma de contágio da doença?
DR. ALEXANDRE - A trans-missão sexual, seja por relação pênis-vagina, anal ou oral é a principal rota aquisição do HIV. O uso da camisinha deve ser preocupação de todos, uma pessoa com HIV/Aids pode não
saber disso, e não exibir sin-tomas. Outras formas ainda perduram, prin-cipalmente o compartilha-mento de serin-gas e agulhas por usuários de drogas ilí-citas. Cuidado deve ser toma-do com objetos
de uso pessoal, como alicates de tesoura de unha, lâminas de barbear, escovas de dentes, piercings, brincos, além de agu-lhas de tatuagem, que podem ser vias de transmissão não só do HIV, mas também dos vírus da hepatite B e C. Toda gestante deve realizar o teste anti-HIV nos exames de pré-natal, a fim de evitar a transmissão para o recém-nascido.
Botucatu se assemelha muito com os dados nacionais, com cerca de 0,3% a 0,5% da população afetada
“Dr. Alexandre Naime Barbosa