HISTÓRIAS E DESAFIOS DA TERCEIRA IDADE NO LAR ......Este trabalho de conclusão de curso retrata,...

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FACULDADE CEARENSE CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILTAÇÃO EM JORNALISMO CÍCERA COSTA E SILVA ALMEIDA LUCIA MARIA ALENCAR MARÇAL RIBEIRO NILIAN FERREIRA FELIX HISTÓRIAS E DESAFIOS DA TERCEIRA IDADE NO LAR TORRES DE MELO FORTALEZA- CE 2012

Transcript of HISTÓRIAS E DESAFIOS DA TERCEIRA IDADE NO LAR ......Este trabalho de conclusão de curso retrata,...

  • FACULDADE CEARENSE

    CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL

    HABILTAÇÃO EM JORNALISMO

    CÍCERA COSTA E SILVA ALMEIDA

    LUCIA MARIA ALENCAR MARÇAL RIBEIRO

    NILIAN FERREIRA FELIX

    HISTÓRIAS E DESAFIOS DA TERCEIRA IDADE NO LAR TORRES DE MELO

    FORTALEZA- CE

    2012

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    CÍCERA COSTA E SILVA ALMEIDA

    LUCIA MARIA ALENCAR MARÇAL RIBEIRO

    NILIAN FERREIRA FELIX

    HISTÓRIAS E DESAFIOS DA TERCEIRA IDADE NO LAR TORRES DE MELO

    Documentário apresentado ao Centro de Ensino

    Superior do Ceará, mantenedora da Faculdade

    Cearense (FaC), como requisito parcial para a

    obtenção do título de Bacharel em Comunicação

    Social – Habilitação em Jornalismo.

    Orientador: Prof. Espec. Reginaldo Aguiar

    FORTALEZA - CE

    2012

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    CÍCERA COSTA E SILVA ALMEIDA

    LUCIA MARIA ALENCAR MARÇAL RIBEIRO

    NILIAN FERREIRA FELIX

    HISTÓRIAS E DESAFIOS DA TERCEIRA IDADE NO LAR TORRES DE MELO

    Documentário apresentado ao Centro de Ensino

    Superior do Ceará, mantenedora da Faculdade

    Cearense (FaC), como requisito parcial para a

    obtenção do título de Bacharel em Comunicação

    Social – Habilitação em Jornalismo, tendo sido

    aprovado pela banca examinadora composta pelos

    professores.

    Data da aprovação:___/___/___

    BANCA EXAMINADORA

    ____________________________________________________________

    Prof. Esp. José Reginaldo Aguiar

    Presidente

    ____________________________________________________________

    Prof. Esp.Lenha Aparecida Silva Diógenes

    Membro

    _____________________________________________

    ______________

    Prof. Esp. Maria Meirice Pereira Barbosa

    Membro

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    A Deus, primeiramente, que nos permitiu

    chegar até aqui. A todos os nossos familiares,

    aos professores que nos orientaram e amigos

    que sempre nos incentivaram e motivaram.

    Com amor e carinho, dedicamos este trabalho

    a todos vocês.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeço primeiramente a Deus. O maior dos mestres, o melhor amigo, a fonte de

    toda sabedoria. Sem ele não seria possível a realização desse sonho.

    Agradeço aos meus pais que apesar da ausência física em minha vida, me deram o

    mais precioso de tudo que foi a vida. Aos meus irmãos que de uma forma peculiar me

    incentivaram a traçar um caminho diferente, daquele que eles trilharam. A oportunidade

    de estudar por vários fatores não foi possível a eles, e isso me fez querer ser e fazer

    diferente. Pelo apoio e carinho oferecidos em todos os momentos que precisei o meu

    obrigado. Dedico a eles todas as recompensas conseguidas e que me fizeram chegar ate

    aqui.

    Agradeço a minha mãezona do coração (Fátima) que, direta ou indiretamente,

    contribuiu muito para que este momento se realizasse. Pela oportunidade que me

    ofereceu um dia, em fazer parte da sua família e pelo incentivo em seguir firme

    estudando. Buscando ser sempre boa naquilo que me propusesse a fazer.

    Não poderia deixar de agradecer também a alguns amigos, e colegas que fizeram

    parte de todo esse processo. Especial agradecimento aos vários professores que se

    fizeram presente em todo esse percurso. Citar nomes seria até injusto, pois cada um

    contribuiu de forma significativa não só na minha formação acadêmica como na minha

    vida pessoal. Porém, não poderia deixar de citar meus orientadores: professora Lenha

    Diógenes e o professor Reginaldo Aguiar que foram pessoas fundamentais para a

    conclusão desse trabalho.

    As minhas amigas e colegas de projeto Lucia Ribeiro e Nillian Felix, que junto

    comigo compartilharam alegrias e tristezas ao longo desse semestre na construção do

    nosso vídeo documentário. Esforço recompensado porque nosso objetivo final foi

    alcançado. Que nossa amizade continue firme enquanto Deus nos permitir.

    Por fim, com muito respeito, amor e carinho o meu agradecimento todo especial

    ao meu amigo, companheiro e esposo Almeida filho. Que em todos os momentos esteve

    presente comigo, me incentivando e dando todo o apoio sempre que precisei. E que nunca

    me disse um não quando solicitei sua ajuda. Obrigada também por me dar o maior

    presente da minha vida que é o nosso filho Eduardo, e que em breve estará em nossos

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    braços nos fazendo as pessoas mais felizes. Compartilhando conosco dessa maravilha que

    é a vida. Que Deus continue a nos abençoar grandiosamente.

    Cícera Costa

    A Deus em primeiro lugar, por permitir chegar até aqui e iluminar minhas ideias,

    pois sem ele, o que seria de mim? A fé que eu tenho nele moveu as montanhas que percorri

    para a conclusão desse TCC.

    Aos meus pais, Lauro Marçal e Socorro Alencar, minha inesquecível mãe (in

    memoriam), que com certeza estão torcendo pelo meu sucesso lá em cima.

    Aos meus irmãos; meu esposo, Erionaldo; meus filhos, Taynara, Junior, Lucca; meu

    pequeno Neto e a toda a minha família que, com muito carinho e apoio, não mediram

    esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.

    A professora Lenha Diógenes e ao professor Reginaldo Aguiar pela paciência na

    orientação, incentivo e amizade, que tornaram possível a conclusão deste projeto.

    A todos os professores do curso, que foram tão importantes na minha vida acadêmica

    e no desenvolvimento deste TCC.

    A todos os meus amigos e colegas de sala, que com certeza plantaram um pedaço de

    si em meu coração. Mas especialmente as minhas amigas e companheiras, Nilian Félix e

    Cícera Costa, pelo incentivo e apoio constante na conclusão desse trabalho de término de

    curso.

    Não podendo deixar de homenagear o pequeno Eduardo, que nos acompanhou o

    tempo todo dentro da barriga da mamãe Cícera, sem nada a reclamar a você, Dudu, meu

    carinho especial.

    A professora Meirice, por ter aceitado nosso convite para fazer parte da banca e a

    toda a equipe pelo empenho e dedicação.

    E a todos os participantes do Lar Torres de Melo e os personagens desse

    documentário que quando convidados aceitaram participar, arranjando tempo para a

    realização das entrevistas.

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    O meu muito obrigado. Sem vocês esta pesquisa não poderia ser concluída.

    Lúcia Marçal

    A conclusão do curso de graduação é um desafio para todos os alunos que estão na

    faculdade. É nesse momento que é exigido muito esforço, paciência e dedicação.

    Primeiramente agradeço a essa força superior que recorremos nos momentos que mais

    precisamos. Deus, obrigada por tudo e por este momento mais que especial em minha vida.

    Quero agradecer também a toda a minha família. Aos meus pais, pois eles são os

    responsáveis por eu ter chegado até aqui, sempre me proporcionando muito carinho, apoio e

    me ajudando lidar com os obstáculos advindos no cotidiano. Nesse momento, sintetizo um

    agradecimento especial a todos os meus amigos que fizeram parte da minha vida durante

    esse tempo de graduação, principalmente as minhas amigas da turma do 5º semestre, que foi

    a turma que me recebeu de braços abertos logo depois que eu voltei, por ter trancado a

    faculdade, são elas: Camila Pontes e Natacha Karen. A Faculdade Cearense, também, que

    me permitiu a conclusão do curso.

    As minhas companheiras de TCC, Lúcia Marçal, Cícera Roberta. Ao Duduzinho,

    filho da Cícera, que apesar de ainda não ter nascido, nos acompanhou, calminho sem

    reclamar por todos os dias na faculdade. Obrigada por tudo, pela paciência, e por ter me

    convidado para fazer parte deste trabalho tão especial. Não posso me esquecer de agradecer

    a professora Lenha Diógenes e ao nosso orientador Reginaldo Aguiar, que nos

    acompanharam pacientemente, contribuindo com nosso aprendizado diferenciado e

    significativo, para compor o nosso lado profissional e também pessoal.

    Enfim, quero agradecer a todos aqueles que contribuíram com todo o meu

    desenvolvimento acadêmico. Simplesmente obrigada e seja o que Deus quiser!!

    Nilian Felix

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    “A velhice é o coroamento das etapas da vida. Ela reúne tudo

    que se viveu e foi vivido, quando se fez e foi alcançado, o que

    se sofreu e foi suportado. Como ao final de uma grande

    sinfonia retorna os temas dominantes, para uma potente síntese

    sonora e é esta ressonância conclusiva confere sabedoria,

    bondade, paciência, compreensão e o precioso coroamento da

    velhice: AMOR”

    Papa João Paulo II

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    RESUMO

    Este trabalho de conclusão de curso retrata, na forma de documentário, as histórias e os

    desafios enfrentados pelos idosos do Lar Torres de Melo. O documentário apresenta as

    histórias de vida contadas pelos idosos que estão em regime de longa permanência, os

    desafios enfrentados por eles, a construção de vínculos familiares e os fatos que motivaram a

    decisão pelo asilamento. O objetivo é analisar os fatores determinantes da

    institucionalização do idoso no lar. Trata-se de um estudo exploratório e descritivo apoiado

    em marcos teóricos da comunicação e relação de convivência dos idosos, além do material

    teórico sobre o asilo para idosos chamado também de Instituição de Longa Permanência

    (ILP). Das informações coletadas durante as entrevistas, verificou-se que diversos são os

    caminhos que levam o idoso ao asilo, como, por exemplo, a falta de moradia e a rejeição

    familiar. Durante a pesquisa, ficaram constatado alguns fatores que colaboram com os

    idosos, como a formação de novos relacionamentos, vínculos afetivos, atividades de lazer e

    reuniões periódicas realizadas pelo Serviço Social, onde se trabalha o respeito com os

    colegas, relacionamento interpessoal com o objetivo de melhorar a integração e a boa

    convivência da coletividade. Na velhice, esta fase tão cheia de acúmulos de experiências, é

    necessário que as autoridades e as comunidades respeitem os direitos do idoso, como, por

    exemplo, o Estatuto do Idoso.

    Palavras – chave: Idoso. Asilamento. Envelhecimento

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    ABSTRACT

    This work depicts completion of course, in the form of a documentary, the stories and the

    challenges faced by the elderly Lar Torres de Melo. The documentary presents the life

    stories told by older people who are under a long stay, challenges faced by them, building

    family ties and the facts that motivated the decision by sheltering. The goal is to analyze the

    determinants of institutionalization of the elderly at home. This is an exploratory and

    descriptive study supported by theoretical frameworks of communication and relation of

    coexistence of the elderly, in addition to theoretical material on the nursing home also called

    Long Term Institution (ILP). From information collected during the interviews, it was found

    that many are the paths that lead to the old asylum, from homelessness and family rejection.

    During the research, it turned out some factors that contribute to the elderly, with the

    formation of new relationships, emotional ties, leisure activities, regular meetings held by

    Social Services, where he works with colleagues respect, interpersonal relationship with the

    objective of improve the integration and coexistence of collectivity. In old age, this stage so

    full of accumulation of experiences, it is necessary that the authorities and the communities

    respect the rights of the elderly, such as the Elderly.

    Keywords - Keywords: Elderly. Institutionalization. aging

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    SUMÁRIO

    1 - INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12

    2 - DOCUMENTÁRIO

    2.1. Como surgiu ................................................................................................ 14

    2.2. Tipos de Documentário ................................................................................. 15

    2.3. Documentário no Brasil ................................................................................ 16

    3 - ENVELHECIMENTO

    3.1. Desafios de uma população em processo de envelhecimento ......................... 20

    3.2. Instituição de Longa Permanência (ILP) ....................................................... 22

    3.3. Asilamento (Marco legal de proteção a pessoa idosa) ................................... 23

    3.4. Políticas Públicas e Direitos do Idoso ........................................................... 24

    4 - ENTIDADES DE ATENDIMENTO AO IDOSO .................................................. 26

    5 - LAR TORRES DE MELO .................................................................................... 27

    6 - ROTEIRO ............................................................................................................. 30

    7 - DIÁRIO DE CAMPO ........................................................................................... 32

    8 - CONCLUSÃO ...................................................................................................... 36

    9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 38

    10 - ANEXOS ............................................................................................................ 40

  • 13

    1 INTRODUÇÃO

    O termo asilo lembra casa de repouso, casa lar, dentre outras denominações. São

    expressões encontradas para amenizar o peso da palavra asilo. No entanto, o que se percebe

    é que os sinônimos não alteram o significado desses espaços tidos como “instituições

    totais”, criadas para cuidar de pessoas consideradas dependentes, velhas e incapazes

    de realizar atividades diárias e tomar decisões.

    Segundo Oliveira (1999), envelhecer desencadeia mudanças biológicas, psicológicas

    e sociais, que são consideradas elementos de grandes desafios presentes na terceira idade.

    De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), são caracterizadas como

    idosas as pessoas com mais de 60 anos nos países em desenvolvimento e com mais de 65

    anos nos países desenvolvidos.

    O projeto de pesquisa desenvolvido trata da elaboração de um vídeo documentário

    que busca conhecer as histórias e desafios encontrados pelos idosos dentro de uma

    instituição asilar na cidade de Fortaleza, buscando compreender o processo de vida nessa

    fase do envelhecimento.

    Chegar à terceira idade com vitalidade depende muito da qualidade de vida que esse

    idoso teve ao longo dos anos, sua inserção no mercado de trabalho e principalmente a

    aceitação deste no meio social.

    O interesse do grupo pela temática surgiu a partir da observação de idosos que vivem

    na instituição asilar Lar Torres de Melo, em Fortaleza, por meio de visitas realizadas em

    instituições públicas que desenvolvem projetos específicos para a população idosa e ainda da

    convivência com familiares e amigos que já estão vivendo essa fase da vida.

    O Lar Torres de Melo é uma instituição filantrópica de utilidade pública, fundada em

    10 de agosto de 1905 pela Maçonaria. Inicialmente com denominação de Asilo de

    Mendicidade do Ceará, tinha a finalidade de tirar das ruas todos os mendigos idosos.

    Atualmente, o principal objetivo é prestar assistência integral a idosos carentes, a partir de

    60 anos de idade, de acordo com a Política Nacional do Idoso, em regime de internato. A

    instituição vem se mantendo ao longo dos anos através de doações dos Governos Federal,

    Estadual e Municipal, bem como doações da sociedade civil. Hoje são 250 idosos internos e

  • 14

    100 em projeto de convivência, ou seja, são aqueles que não residem na instituição, mas

    participam das atividades oferecidas pelo lar. São ambos os sexos assistidos por uma equipe

    multidisciplinar de saúde, assistência social, ocupação e lazer, além dos serviços

    complementares de alimentação, medicação, vestuário, calçado, cama, mesa, banho, higiene

    pessoal e ambiental.

    É com essa discussão que pretendemos despertar a sociedade de modo geral a

    repensar a questão do fortalezense velho.

    Competem às novas gerações a tarefa de engajar-se nessa luta, pois se trata de

    conquistas de futuro que certamente irá beneficiar os jovens de hoje. Partindo

    desse pressuposto, fica a esperança que haja mudanças significativas sociais, de

    renovações, de reconhecimento, na figura do idoso na sociedade, embora muito

    ainda seja preciso fazer. E o nosso trabalho busca de alguma forma contribuir com

    esse pensamento, com objetivo de compreender o processo de envelhecimento e

    seus desafios. (LÉA, 2003, p156).

    De acordo com Nichols (2005), “documentário participativo é aquele que interage

    com a realidade, ou seja, sua participação e conscientização de sua interferência na realidade

    dos atores sociais ficam evidentes para o público”. Com base na afirmação, o documentário

    “Histórias e Desafios da Terceira Idade no Lar Torres de Melo”, se enquadra como um

    documentário participativo. Além das entrevistas também haverá imagens de arquivos para

    recuperar informações ditas pelos os entrevistados.

  • 15

    2 DOCUMENTÁRIO

    2.1 Como Surgiu

    O documentário surgiu com os franceses Auguste Marie e Louis Nicholas Lumière

    em 19 de outubro 1862. Os irmãos Lumière, foram os inventores do cinematógrafo

    (cinématographe), sendo frequentemente referidos como os pais do cinema.

    Para os franceses, os primeiros a utilizarem este termo, apenas queriam dizer

    travelogue, filme de viagem. Dava-lhes uma sólida e pomposa desculpa para os exotismos vibrantes (e também discursivos) dos espetáculos do Vieux Colombier.

    Entretanto, o documentário seguiu o seu caminho. (GRIERSON, apud

    PENAFRIA, 1995, p.5)

    Ao longo da história, surgiram diferentes definições sobre o gênero documentário.

    Para a autora Sheila Bernardo (2008), existem estratégias para bem contar uma história, e

    não são novas:

    O filósofo grego Aristóteles foi o primeiro a esquadrinhar linhas mestras para o

    que chamou de “trama bem construída” em 350 a.C, e desde então os tais

    fundamentos têm sido aplicados ao modo de se contar uma história – no Palco,

    página e na tela. As expectativas sobre ficção que deve ser assumida pelo “contar

    história. (cap. 2 p.15).

    Na busca para definir o que seja documentário, Fernão Pessoa Ramos afirma:

    O documentário, antes de tudo, é definido pela intenção de seu autor de fazer um

    documentário (intenção social, manifestada na indexação da obra, conforme

    percebida pelo espectador). Ressalta ainda como próprios á narrativa documentária

    critérios tais como: presença de locução (voz over), presença de entrevistas ou

    depoimentos, utilização de imagens de arquivos, rara utilização de atores

    profissionais, intensidade particular da dimensão da tomada. (RAMOS, 2008, pág. 25).

    Segundo Ramos (2008), “documentário é uma narrativa basicamente composta por

    imagens-câmeras, acompanhadas, muitas vezes, de imagens de animação, carregadas de

    ruídos, músicas e fala.”

    Já para Jonh Grierson (1966), “documentário é o tratamento criativo, o registro da

    realidade, pronúncias, comentários, explicações. De tal modo que atinge o espectador com o

    intuito de sensibilizar, informar, indagar.”

    Compreender o documentário como o tratamento criativo da realidade não é apenas

    uma definição, mas uma forma de problematizar. Esta definição é atribuída a John Grierson,

    nos anos 1930. Porém, esta proposta refere o tratamento criativo como condição de

    afirmação de um filme que toma como ponto de partida o registro da realidade. Esse registro

    não pode deixar de ser, também, um ponto de chegada, ou seja, se o documentário parte da

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    realidade, é para sobre ela se pronunciar, comentar, explicar, mas, também, não ficará

    excluída a possibilidade de a transformar ou alterar os modos como com ela nos

    relacionamos.

    Grierson (1966) diz que esse relacionamento não se encontra destituído de uma

    forma estética, já que o filme, enquanto mediação adapta formas a partir das quais atinge o

    espectador com o intuito de sensibilizá-lo, informá-lo, indagá-lo, dentre outras.

    O documentarista Flahert (apud Winston 1995, p, 102) acredita que as questões de

    teoria e prática devem ser tratadas à parte e ilustram melhor do que ninguém os princípios

    iniciais do documentário. “(1) O documentário deve recolher o seu material no local e

    chegar a conhecê-lo na intimidade, para poder organizá-lo. (2) Deve segui-lo na sua

    distinção entre descrição e drama.”

    Conclui-se, portanto, que não há uma definição consensual quanto o que é

    documentário, pois os autores citados têm opiniões contraditórias. No livro Introdução ao

    Documentário, de Bill Nichols, 2005, p.20:

    A tradução do documentário está profundamente enraizada na capacidade de ele

    nos transmitir uma impressão de autenticidade. E essa é uma impressão forte. Ela

    começou c/ a imagem fílmica bruta e a aparência de movimento permaneceu

    indistinguível do movimento real.

    Para Nichols (2005), “todo filme é documentário. Mesmo a mais extravagante das

    ficções evidencia a cultura que a produziu e reproduz a aparência das pessoas que fazem

    parte dela.”

    Na verdade, existem dois tipos de filme. Segundo Nichols (2005), documentário de

    satisfação de desejo e documentários de representação social. Cada tipo conta uma história,

    mas essas histórias, ou narrativas, são de espécies diferentes. (p. 26).

    2.2 Tipos de Documentário

    Em contrapartida (NICHOLS, 2005), afirma que o documentário pode ser divido em

    seis tipos:

    1 - Poético: que reúne fragmentos do mundo de modo poético. Assim, não há preocupação

    com montagem linear, argumentação, localização no tempo e espaço ou apresentação

  • 17

    aprofundada de atores sociais. Esta forma utiliza o mundo histórico como matéria-prima

    para dar “[...] integridade formal e estética ao filme” (NICHOLS, 2005, p. 141).

    2 - Observativo: que evita o comentário e a encenação (observa e registra as coisas como

    acontecem). O cineasta busca captar os acontecimentos sem interferir no seu processo.

    3 - Expositivo: que trata diretamente questões do mundo histórico. Neste modo, os

    fragmentos do mundo histórico são concatenados numa estrutura mais retórica e

    argumentativa. A perspectiva do filme é dada pelo comentário feito em voz ‘off’ e as

    imagens limitam-se a confirmar a argumentação narrada.

    4 - Reflexivo: que questiona a forma do documentário e preocupa-se com o processo de

    negociação entre cineasta e espectador, indagando as responsabilidades e consequências da

    produção do documentário para cineasta.

    5 - Performático: que enfatiza aspectos subjetivos de um discurso classicamente objetivo.

    Além de também levantar questões sobre o que é conhecimento.

    6 - Participativo: que tem como característica a entrevista, no qual o cineasta interage com

    a realidade, ou seja, sua participação e conscientização de sua interferência na realidade dos

    atores sociais ficam evidentes para o público. Com isto, o ponto de vista do cineasta fica

    mais evidente.

    2.2 Documentário no Brasil

    O Cinema chega ao Brasil no ano de 1896, inicialmente com exibições no Rio de

    Janeiro e, depois, em São Paulo, seguindo para outras cidades importantes.

    A novidade veio integrar espetáculos de teatro de variedades e dos cafés-concertos. A primeira sala fixa de exibição encontrava-se no Rio de Janeiro e tinha

    como principal dono um imigrante italiano chamado Pascoal Segreto. A exibição

    de imagens em movimento fazia muito sucesso e em busca de renovar o repertório

    e qualificar tecnicamente as salas exibidoras realizavam viagens constantes para

    Paris ou Nova Iorque. Numa dessas viagens, Afonso Segreto, irmão de Pascoal,

    realizou a primeira imagem do cinema brasileiro, filmando a Baía da Guanabara,

    no Rio de Janeiro, a bordo do navio “Brésil”, que retornava de Paris.

    (GONÇALVES, 2006, p. 80).

    Essas tomadas documentais eram conhecidas como “tomadas de vista” e

    prevaleceram até o ano de 1908. Essas pequenas produções eram realizadas por todo o país

  • 18

    com temáticas regionalistas, mostrando as belezas, costumes e tradições das diferentes

    regiões. A maioria dos realizadores, no início do século XX eram estrangeiros,

    principalmente europeus, geralmente fotógrafos que se converteram em cinegrafistas.

    Devido à falta de infraestruturas nas cidades brasileiras, durante as décadas de 1910 e 1920

    predominou a produção de um cinema natural, com a produção de documentários e

    cinejornais a fim de levantar recursos para a produção de filmes ficcionais.

    Os registros eram de vários acontecimentos, de cartões postais, histórias de crimes ou

    momentos cívicos, mas a produção cinematográfica brasileira não estava muito diferente da

    realizada nos primórdios do cinema no resto do mundo. Lugares e culturas desconhecidas

    também foram assuntos desses registros.

    O estilo documental será mantido durante as primeiras décadas do século XX pois

    esse gênero ainda estava em formação e os registros eram os mais variados. Não havia uma

    linha ou um estilo para esses aprendizes do documental. A fase experimental não se

    estenderia por muito tempo. As novas técnicas foram absorvidas rapidamente e nomes como

    o de Humberto Mauro passaram a ter destaque no cinema brasileiro. (SCHVARZMAN,

    2004, p. 263).

    A riqueza de detalhes encontrada nas obras de Mauro, é um registro documental de

    uma época que revela traços do diretor e nuances de um povo e de uma localidade

    desconhecida para o restante do país. Essas características estão presentes na obra de Mauro,

    que buscava os detalhes, a sutileza e a beleza ímpar em seus trabalhos ficcionais ou

    documentais.

    O documentário ainda estava se estruturando no país, mas o controle da produção já

    estava sendo estudado pelo Estado. “O novo estado que se solidificava desde 1930

    reconhece as virtualidades, e a necessidade de utilizar e controlar o cinema como veículo de

    massa, de propaganda e educação” (SCHVARZMAN, 2004, p. 265).

    No ano de 1930, o Brasil era governado pelo presidente Getúlio Vargas e ainda, em

    fase constitucional para a ditatorial, o Estado Novo, foi criado o Instituto Nacional de

    Cinema Educativo (INCE). Esse órgão tinha como objetivo divulgar e, ao mesmo tempo,

    controlar a produção de filmes documentais com caráter educacional, a fim de fornecer um

    programa geral para a educação das massas. Foi criado pelo Ministério de Educação e Saúde

    em março de 1936. Cineastas e técnicos encontraram a oportunidade de continuar a produzir

    cinema nos órgãos estatais, como o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) e o

    INCE. No INCE, “Humberto Mauro construiu sua carreira ligada ao cinema de curta-

  • 19

    metragem” (MONTE-MÓR, 2004, p. 106) entre os anos de 1936 e 1964. A presença de

    Mauro no instituto proporcionou ao governo produções que atendiam aos objetivos de um

    cinema educativo agregado com habilidade e experiência desse cineasta, assim como

    considera a pesquisadora Maciel:

    Muito embora desconsiderada, a temática dos filmes documentários por ele

    dirigidos encaixa-se plenamente na proposta varguista. Não há questionamentos

    com relação ao apuro estético do cineasta, mas sua realização encontrava-se

    plenamente inserida na discussão ideológica do momento histórico em que se

    desenvolve sua filmografia (MACIEL, 2003, p. 251).

    As produções do INCE não estavam limitadas somente aos assuntos científicos.

    Existiam outros temas, como cultura popular, eventos patrióticos e políticos. Os filmes

    seguiam um padrão cinematográfico, com narrações didáticas, locuções “num tom claro,

    mas técnico” e onde a “imagem ilustra o texto” (SCHVARZMAN, 2004, p. 276). A

    mudança mais acentuada ocorreu em 1947, quando acabou o período do Estado Novo e

    Roquette Pinto deixou o INCE. Os filmes já não tinham os mesmos propósitos, como

    explica Schvarzman:

    A música e o mundo rural constituem o fulcro central da produção maureana

    depois da atividade em conjunto com Roquette-Pinto. O momento é de pós-guerra

    e são colocados em pauta temas como economia e desenvolvimento, não havendo

    mais um projeto político de utilização oficial do cinema (SCHVARZMAN, 2004,

    p. 288 e 289).

    Paralelamente às produções realizadas pelo INCE, outras obras foram elaboradas na

    década de 40. Com a criação dos Estúdios da Vera Cruz, a produção documental de São

    Paulo teve destaque no cenário nacional. Os filmes realizados pela Vera Cruz tinham um

    caráter cultural, apresentando museus, pintores, obras e outros momentos do Estado de São

    Paulo, uma característica dos estúdios que realizaram várias produções voltadas à cultura

    brasileira. As obras revelam um outro país, com cenas da capital Paulista na década de 40,

    das artes e dos movimentos culturais desse período. Os documentais da Vera Cruz

    terminaram em 1954, com o fim dos estúdios.

    No final da década de 1960, a TV se estabelece no Brasil e iniciam-se as tentativas

    de produção de um novo formato de documentário, o televisivo.

    Em 1972, por iniciativa dos jornalistas Vladimir Herzog e Fernando Pacheco

    Jordão, é criado o telejornal A Hora da Notícia, na TV Cultura de São Paulo, a fim

    de mostrar o Brasil real, contraposto à imagem oficial criada pelo governo militar

    e seus filmes institucionais. Ocineasta João Batista de Andrade foi chamado para

    realizar pequenos documentários diários, questionando e exibindo imagens que a

  • 20

    ditadura ocultava. Dessas reportagens, destaca-se Migrantes, 1972, recuperado

    posteriormente como um curta metragem autônomo. Após um período de

    perseguição política, o programa A Hora da Notícia termina em 1974

    (GONÇALVES, 2006, p. 84).

    A partir daí, muitas produções de filmes-documentários, documentários reportagens,

    e filmes de ficção passam a ser executadas. Muitos cineastas acabam dividindo suas

    carreiras entre obras de ficção e documental.

  • 21

    3 ENVELHECIMENTO

    3.1 Desafios de uma população em processo de envelhecimento

    Os desafios de uma população em processo de envelhecimento são globais, nacionais

    e locais. Superar esses desafios requer um planejamento inovador e reformas políticas

    substanciais tanto em países desenvolvidos como em países em transição. Como diz

    Goldman (2004), os países em desenvolvimento enfrentam os maiores desafios e, a maioria

    deles, ainda não possui políticas abrangentes para o envelhecimento. À medida que as

    nações se industrializam, mudanças nos padrões de vida e trabalho são inevitavelmente

    acompanhadas por uma transformação nos padrões das doenças. Essas transformações

    apresentam maior impacto nos países em desenvolvimento.

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) define como idosas as pessoas com mais

    de 60 anos nos países em desenvolvimento e com mais de 65 anos nos países desenvolvidos.

    A Política Nacional do Idoso do Brasil está em consonância com a OMS, e também define

    como idosa a pessoa de 60 anos ou mais.

    O envelhecimento, no entanto, não começa aos 60 anos. Na verdade, estamos

    envelhecendo desde o momento em que nascemos. Por volta dos 30 anos, vários

    sistemas no nosso organismo já atingiram o ápice de sua evolução e estão entrando

    em processo de declínio. A única forma de não envelhecermos é morrermos

    jovens. Para melhor definir envelhecimento humano, é preciso considerar que este

    é um fenômeno biológico, psicológico e social que atinge o ser humano na

    plenitude de sua existência, modifica o seu relacionamento com o mundo e sua

    própria história (TEIXEIRA, 2006, p. 1.104).

    Segundo Oliveira, (1999, p. 89) “envelhecer desencadeia mudanças biológicas,

    psicológicas e sociais, que são consideradas elementos de grande desafio na terceira idade.”

    A transformação biológica no processo do envelhecimento é natural e inevitável,

    pois todo ser que respira tem o teu tempo devido o seu relógio natural biológico,

    que determina por quanto tempo àquela espécie vai viver, logo o envelhecimento é

    um fato universal, comum a todos os seres de origem animal. (FRAIMAN, 1995),

    Segundo Fernandes (1999), no envelhecimento o indivíduo começa a sentir que, em

    muitas habilidades biológicas e sociais estão limitadas, chegando-se a pensar na velhice

    como sinônimo de doença, fraqueza, improdutividade e invalidez. Para ele, envelhecimento

    deve ser tratado como um processo natural do desenvolvimento humano, numa perspectiva

    de que cada fase da vida implica transformações, adaptações, aceitação e construção.

    Os tecidos e os órgãos já não correspondem à atividade validada na etapa anterior,

    pois ocorre um desgaste e sobrecarga, adaptação, porque as mudanças não

    permitem que as ações sejam desenvolvidas. Nota-se que as normas e costumes

  • 22

    estabelecidos em fases anteriores há que se habituar às condições agora presentes.

    Quanto à aceitação, dificilmente o ser humano será feliz, construirá um projeto de

    vida e o desenvolverá se não aceitar sua condição e aprender a trabalhar suas

    limitações. Havendo aceitação, consequentemente, haverá construção,

    produtividade e bem-estar. (FERNANDES, 1999).

    O estágio da velhice vem geralmente acompanhado de associações a sentimentos

    destrutivos de inutilidade e perda, situação essa que agrava ainda mais a condição existencial

    do idoso, pois acirra conflitos internos relacionados a tais conceitos. De acordo com Guite

    Zimerman (2000, p.215).

    As mudanças psicológicas mais visíveis com o avanço da idade são: dificuldade de

    adaptação a novos papéis, desmotivação e dificuldade de planejar o futuro,

    necessidade de trabalhar perdas e adaptar-se a mudanças, alterações psíquicas,

    depressão, hipocondria, somatização, paranóia, suicídios e, por fim,baixa auto-

    estima e auto-imagem.

    Nesse contexto de insegurança, geralmente o idoso tende a provar a si e aos outros

    que é aceito, que é útil, que existe e que essa existência pressupõe desejos e aspirações em

    relação ao futuro. Essa posição gera extrema ansiedade da qual decorrem problemas afetivos

    de ordem mais complexa. A perda de ideais da juventude, a falta de sintonização com a

    mentalidade do seu tempo, o desinteresse pelo cotidiano nacional e internacional, o humor

    irritadiço são, entre outros aspectos, de acordo com Oliveira (1999, p. 89) o que caracteriza a

    velhice.

    Hoje, torna-se difícil designar onde inicia e termina a terceira idade, considerando

    que, na década de 1980, o que se levava em conta era a idade (65 anos). Atualmente, isso

    não acontece porque as pessoas passam por um rápido processo de transformação por

    motivos que não se prendem com a idade, mas sim pelo desemprego, situações de

    incapacidade, o que torna difícil distinguir quem é e quem não é uma pessoa idosa

    (DUARTE et al., 2005, p.223).

    Exposto a um processo em que perdas e rejeições são sempre iminentes, o idoso

    tende a buscar o isolamento, quer por vontade própria quer por indução social. O fato de ter

    poucas ocupações sociais, ser menos solicitado pela família e comunidade, faz com que ele

    se veja como um sujeito improdutivo, sem poder de decisão.

    De acordo com Zimerman (2000), as principais consequências do envelhecimento

    são crise de identidade, mudanças de papéis, aposentadoria, perdas diversas e diminuição

    dos contatos sociais. A família, que deveria edificar bases emocionais e físicas para o

  • 23

    estabelecimento da qualidade da vida do idoso, acaba por desencadear grande conflito no

    que tange ao espaço que destina ao seu membro idoso.

    Borges (2002), afirma que quanto ao governo, percebe-se certa falta de prioridade e

    ausência de políticas públicas. A proposição de políticas demanda conhecimento de causa e

    há pouca preocupação com questões da terceira idade.

    Existem, políticas públicas emergenciais, assistenciais, localizadas, e nada de

    caráter preventivo, porém, a inatividade profissional dos indivíduos considerados

    idosos é o fator que acarreta maiores mudanças em relação a um estilo e ritmo de vida, exigindo grande esforço de adaptação. Observamos que parar de trabalhar

    significa a perda do papel profissional, a perda de papéis junto à família e à

    sociedade. O distanciamento do aposentado da convivência com diversos grupos

    faz com que a sociedade também se distancie do aposentado. (BORGES, 2002,

    p.126).

    3.2 Instituição de Longa Permanência para Idoso (ILPI)

    Tendo em vista o aumento da população idosa no Brasil, que era de 4,8% em 1991,

    passou para 5,9% em 2000 e chegou a 7,4% em 2010, segundo dados do IBGE (Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatística), podemos observar que o asilamento é uma opção aos

    casos sem alternativa. Os asilos são estabelecimentos com atendimento integral,

    institucional, cujo o público-alvo são as pessoas de 60 anos ou mais, dependentes ou

    independentes, que não dispõem de condições para permanecer com a família, ou em seu

    domicílio. Essas instituições conhecidas por denominações diversas como abrigo, asilo, lar,

    casa de repouso, clinica geriátrica e ancionato devem proporcionar serviços na área social,

    médica, psicologia, enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, odontologia e em outras

    áreas, conforme necessidades desse segmento etário (SILVA, 2006). É importante ressaltar

    que a política de retratação do Estado determina que os asilos públicos destinam-se aos

    idosos sem referência familiar e sem recursos financeiros.

    3.3 Asilamento (Marco legal de proteção a pessoa idosa)

    A partir da década de 1980, em uma discussão exterior sobre o envelhecimento e sob

    a pressão de segmentos organizados da sociedade civil, o Brasil passou a incluir as

    demandas dos idosos na agenda das políticas públicas.

    Nas instituições de longa permanência (ILP), conhecidos também como

    asilos, existem medidas de proteção que materializam-

  • 24

    se em alguns documentos com recomendações e determinações legais das normas mínimas

    de funcionamento: como a Política Nacional do Idoso (Lei 8.842/94); Portarias

    do Ministério da Saúde e do Ministério da Previdência e Assistência Social; Estatuto do

    Idoso (Lei 10.741/2003) e a Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA nº 283 de 26 de

    setembro de 2005.

    A Lei 8.842/94, que dispõem sobre a Política Nacional do Idoso, deixa explícito que

    as instituições asilares não apresentam o perfil de estabelecimento de assistência à saúde, e

    em seu artigo terceiro define a modalidade asilar como a que se caracteriza como regime de

    internato ao idoso sem vínculo familiar ou sem condições de prover a própria subsistência de

    modo a satisfazer suas necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social.

    Uma das diretrizes dessa política é a “priorização do atendimento ao idoso através de

    suas próprias famílias, em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não

    possuem condições que garantam a sua própria sobrevivência” (Artigo 3º e 4º, Inciso III).

    O Estatuto do Idoso (Lei 1.741/2003) foi promulgado com a finalidade de ratificar os

    direitos demarcados pela Constituição Federal (1988) e pela Política Nacional do Idoso,

    além de acrescentar novos dispositivos até então não previstos. No artigo 35 consta que

    todas as entidades de longa permanência são obrigadas a firmar contrato de prestação de

    serviços com a pessoa abrigada, e que no caso de instituição filantrópica, é facultada a

    cobrança de participação do idoso no custeio da entidade. Acrescenta ainda que, cabe ao

    Conselho Municipal do Idoso ou ao Conselho Municipal de Assistência Social estabelecer a

    forma dessa participação, que não poderá exceder a 70% de qualquer benefício

    previdenciário ou assistencial recebido pelo idoso.

    O artigo 48 esclarece que as entidades de atendimento são responsáveis pela

    manutenção das próprias unidades, observadas as normas de planejamento e execução

    emanadas do órgão competente da Política Nacional do Idoso. E logo a seguir, nos artigo 49

    e 50, são mencionados os princípios e obrigações a serem adotados por essas entidades:

    preservação dos vínculos familiares; atendimentos personalizados e em pequenos grupos;

    participação do idoso nas atividades comunitárias; observância dos direitos dos idosos;

    preservação da dignidade e respeito ao idoso e promoção de atividades educacionais,

    esportivas, culturais e de lazer.

    As entidades que desenvolvam programas de institucionalização de longa

    permanência devem adotar os seguintes princípios: I – preservação dos vínculos familiares; II –

  • 25

    atendimento personalizado e em pequenos grupos; (...); IV – participação do idoso nas atividades

    comunitárias, de caráter interno e externo; (...); VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos

    familiares (Artigo 49).

    O artigo 52 postula a obrigatoriedade de fiscalização por parte do Ministério Público,

    Vigilância Sanitária e Conselho do Idoso e logo em seguida, no artigo 56 estão às infrações

    administrativas e as penalidades previstas no presente dispositivo legal. O Estatuto do Idoso

    reveste o Ministério Público de poderes para a garantia dos direitos da pessoa idosa, zelando

    pelo efetivo cumprimento das leis de proteção. No cumprimento de suas funções deverá

    ainda, fiscalizar as entidades de atendimento ao idoso possuindo autonomia para tomar as

    providências necessárias.

    3.4 Políticas Públicas e Direitos do idoso

    O termo política diz respeito a um conjunto de objetivos que informam determinado

    programa de ação governamental e condicionam sua execução. Política pública é a

    expressão atualmente utilizada nos meios oficiais e nas ciências sociais para substituir o que

    até a década de 1970 era chamado de planejamento estatal (BORGES, 2002).

    Nos estados democráticos modernos, o conceito de política pública tem íntima

    ligação com o de cidadania, pensada como o conjunto das liberdades individuais expressas

    pelos direitos civis (NERI, 2005). A concretização da cidadania ocorre através do espaço

    político, como o direito a ter direitos.

    Uma vez delineadas algumas implicações do envelhecimento e pontuados alguns

    percursos adotados pelos idosos, sociedade civil e Estado para a efetividade do conjunto de

    políticas e leis imbuídas de proteger o cidadão idoso, passamos a discorrer sobre os

    princípios e para melhor qualificar as conquistas e os desafios a serem enfrentados pelos

    idosos na cidade de Fortaleza.

    Nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento a efetividade de políticas

    públicas relacionadas ao idoso ainda é lenta. No Brasil, a Lei Federal 8.842, de janeiro de

    1994, que institui a Política Nacional do Idoso é um marco na tentativa de se voltar os

    olhares para a problemática do idoso. No seu artigo 3º, item I:

    A família, a sociedade e o estado tem o dever de assegurar ao idoso todos os

    direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua

    dignidade, bem estar e direito à vida (BRASIL, 1994).

  • 26

    A doença também é um dos motivos para o caminho do asilo. A dependência, a

    necessidade de cuidados, o medo da morte são motivos que levam o idoso a procurar abrigo

    na expectativa de obter cuidados e alívio para os seus males e a busca de companhia. Alguns

    familiares são incapazes de lidar com essas situações e recorrem ao um lar em busca de

    soluções.

    O Estatuto do Idoso preocupa-se com a problemática da habitação e garante, no

    capitulo IX - Da Habitação, o direito a moradia digna, no seio familiar, e quando inexistir o

    grupo familiar, a assistência deve ser garantida pelo acesso a entidades de longa

    permanência (BRASIL, 2004, p.25).

    As instituições que abrigarem idosos são obrigadas a manter padrões de habitação

    compatíveis com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação regular e higiene dispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob a

    pena de lei (ESTATUTO DO IDOSO, Capítulo XV, Art.37,§ 3º).

  • 27

    4. ENTIDADES DE ATENDIMENTO AO IDOSO

    De acordo com o Estatuto do Idoso (2008), capítulo II, as entidades de atendimento

    são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, observadas as normas de

    planejamento e execução emanadas do órgão competente da Política Nacional da Pessoa

    Idosa, conforme a Lei nº 8.842 de 1994.

    As entidades governamentais e não governamentais de assistência ao idoso ficam

    sujeitas à inscrição de seus programas, junto aos órgãos competentes da Vigilância Sanitária

    e Conselho Municipal da Pessoa Idosa, e em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou

    Nacional de Pessoa Idosa.

    Hoje em Fortaleza, existem 76 instituições que desenvolvem trabalho com o idoso.

    De acordo com o Art.50, do Estatuto do Idoso (2008), algumas ações constituem como

    obrigações as entidades de atendimento, segue abaixo algumas delas:

    III - Fornecer vestuário adequado se for pública e alimentação suficiente;

    IV - Oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade;

    VIII - Proporcionar cuidados a saúde, conforme a necessidade do idoso;

    IX - Promover atividades educacionais, esportivas, culturais de lazer;

    X - Propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças;

    XI - Proceder o estudo social e pessoal de cada caso.

  • 28

    5 LAR TORRES DE MELO

    A história do Lar Torres de Melo remonta ao século XIX, para amparar os sertanejos

    que chegavam à capital, em consequência da grande seca de 1877. O Barão Joaquim da

    Cunha Freire cedeu à maçonaria cearense um prédio de sua propriedade nas proximidades

    do atual Colégio Militar de Fortaleza.

    Somente em 1905, sob os cuidados das Beneméritas Lojas Capitulares: Igualdade,

    Fraternidade Cearense e Amor, Caridade, foi fundado em 10 de agosto e instalado em 10 de

    setembro do mesmo ano, o Asilo de Mendicidade do Ceará, instituição sucedida no tempo e

    no espaço pelo Lar Torres de Melo, no bairro Jacarecanga.

    O Lar Torres de Melo, antigo Asilo de Mendicidade do Ceará, é, hoje, uma

    Instituição Filantrópica de utilidade Pública pelos poderes: Federal – Decreto nº 63.842 de

    18.12.1968, Estadual – Lei nº 5.624 de 07.10.1961, CNAS nº 010121/39 de 09.09.1939 e

    CMAS nº 0026698. sem fins lucrativos. O lar tem como principal objetivo prestar

    assistência integral a idosos carentes, a partir de 60 anos, no regime de internato, e também

    proporcionar, em regime aberto, atendimento ao idoso, favorecendo sua permanência na

    família e comunidade.

    A Instituição desenvolve suas atividades através dos projetos:

    1 - Asilar: Assiste integralmente a 240 idosos carentes, de ambos os sexos, nas

    modalidades: abrigo; alimentação; medicação; vestuário; calçados; cama; mesa e banho;

    higiene pessoal e ambiental; serviço de pessoal e funeral; além de assistência

    multiprofissional de saúde; social; ocupação e lazer.

    2 - Conviver: este projeto visa atender cerca de 90 idosos da comunidade circunvizinha,

    oferecendo diversas atividades, lanches, atendimento ampliado na área de saúde e social,

    além do lazer e outro.

    Seu principal objetivo é prestar assistência integral a idosos carentes, a partir de 60

    anos de idade, de acordo com a Política Nacional do Idoso, em regime de internato. A

    instituição vem se mantendo ao longo dos anos através de doações dos Governos Federal,

    Estadual e Municipal, bem como de doações da Sociedade Civil.

  • 29

    A Instituição, na medida do possível, dá proteção e assistência moral e material à

    velhice necessitada, socorrendo-a, asilando-a e promovendo recursos indispensáveis a seu bem

    estar. (Artigo 2º do Estatuto).

    A administração é composta por uma Diretoria e um Conselho Fiscal que, por sua vez,

    são compostos por sócios reconhecidamente solidários com os fins humanitários da instituição.

    Há sócios fundadores – os que assinaram a ata de fundação da sociedade; Sócio contribuintes –

    os que contribuem com qualquer importância mensal para a manutenção da sociedade e

    desenvolvimento de seu objeto; Sócios benfeitores – pessoas físicas ou jurídicas que

    contribuem com quantias em dinheiro, com imóveis ou móveis, ou ainda que prestaram

    relevantes serviços à entidade (Artigo 4º do Estatuto).

    A instituição mantém convênio com a Prefeitura Municipal de Fortaleza e com o

    Governo do Estado. As verbas repassadas pelo Governo e pela Prefeitura são utilizadas no

    pagamento de pessoal – assistente social, psicólogo, fisioterapeuta, motorista, cuidadores. O

    objeto deste convênio consta como: cooperação técnica-financeira para prover a Sociedade de

    Assistência à Velhice desamparada Lar Torres de Melo; de suporte técnico, administrativo e

    financeiro, voltados para a qualificação do atendimento integral a idosos asilados de Fortaleza.

    Hoje, conta com 61 (sessenta e um) funcionários que integram o seu quadro de serviços,

    distribuídos entre 03 enfermeiras, 11 técnicos de enfermagem, 13 cuidadoras, 05 serventes, 02

    motoristas, 16 auxiliares de serviços gerais, 02 vigias, 04 Assistentes Sociais, 01 nutricionista,

    01 psicoterapeuta, 01 digitadora, 01 gerente administrativo, 01 jardineiro, lavadeiras, 01

    costureira, 03 cozinheiras, 06 auxiliares de cozinha, conforme entrevista com a administração.

    A entidade recebe colaboração de 01 médico geriatra, que também presta serviços médicos aos

    idosos internos.

    O Asilo conta ainda com vários voluntários, que prestam seus serviços sem fim

    lucrativo, de acordo com uma escala pré-estabelecida. Eles conversam com os idosos,

    informando-os de suas necessidades e proporcionam a eles alguns tipos de brincadeiras e

    atividades ocupacionais e ajudam no bazar a fim de arrecadar fundos.

    O Lar Torres de Melo mantém, atualmente, 250 idosos internados, sendo 90 acamados,

    considerando que a capacidade máxima é de 300 internos. O prédio tem uma grande varanda,

    20 quartos com banheiro. Em cada quarto ficam até quatro idosos. As camas são de ferro e, ao

  • 30

    lado de cada uma há uma pequena mesa onde o idoso tem a liberdade de guardar seus objetos

    pessoais e até mesmo manifestar seu credo religioso. Os guardas roupas são compartilhados.

    Os alimentos são preparados numa cozinha central bem equipada, localizada ao lado do

    refeitório. As comidas preparadas são levadas para alguns dos idosos acamados pelos

    enfermeiros ou outros funcionários. Os demais fazem suas refeições no refeitório. A enfermaria

    tem as seguintes dependências: Ala masculina e ala feminina, com 90 leitos que acomodam os

    doentes com problemas de saúde mais sérios, uma rouparia, um consultório médico e uma

    farmácia.

    O Lar Tores de Melo é localizado na Rua Júlio Pinto, 1832, Bairro Jacarecanga, e tem

    como presidente o Senhor José Torres de Melo.

  • 31

    6 ROTEIRO

    Tempo total: 20min52seg

    00:01 – 00:21- Abertura

    00: 23 –02:24 -Washington Voltarie apresentando o Lar Torres de Melo com imagens de

    apoio

    00:25 – 03:00- Valdemiro Alves da Silva faz sua apresentação com nome e idade

    03:01 – 03:10- Altaídes de Oliveira Martins faz sua apresentação com nome e idade

    03:11– 03: 14- Francisco Ferreira da Silva, “Bronzeado”, faz sua apresentação com nome e

    idade

    03:15– 03: 17- Maria das Dores Silva faz sua apresentação com nome e idade

    03:18 – 03: 22 - Manoel Figueiredo de Moura Brasil faz sua apresentação com nome e

    idade

    03:23 – 03:30 - Valderez de Freitas Ramos faz sua apresentação com nome e idade

    03:31 – 04:00 – Imagens de apoio

    04:01 – 04:20 - Valdemiro Alves da Silva fala de sua chegada ao Lar

    04:21 – 04:40 - Altaídes de Oliveira Martins fala de sua chegada no Lar

    04:41– 05:20 - Francisco Ferreira da Silva, “Bronzeado”, fala de sua chegada no Lar

    05:21– 05: 58 - Manoel Figueiredo de Moura Brasil fala de sua chegada no Lar

    05:59 – 06: 02 – Imagens de apoio

    06:03 – 06:42 - Washington apresenta ambientes do Lar

    06:42 – 06:48 – Imagens de apoio

    06:49 – 08:00 - Altaídes de Oliveira Martins fala do dia-a-dia na instituição, desenhos e

    família

    08:01– 08:05 – Imagens de apoio

    08:06 – 09:58 – Fala da época de jogador de futebol

    09:59 – 10:03 –Imagens de apoio

    10:04 – 11: 34 – Fala da chegada e convivência na instituição

    11:35 – 16:55 - Manoel Figueiredo de Moura Brasil fala da morte da esposa e a filha no

    avião que caiu na Serra da Aratanha

    16: 67 – 17:39 - Valderez de Freitas Ramos fala que é tia da modelo Lilian Ramos e

    convivência no Lar

  • 32

    17:40 – 19:57 - Washington Voltarie fala de como chegou a instituição, dia-a-dia e se

    despede chamando a todos que queiram visitar o Lar

    19:58 – 20:52 -Imagens de Apoio finalizando com a música “Meu querido, meu velho, meu

    amigo”, do Roberto Carlos

  • 33

    7 DIÁRIO DE CAMPO

    Inicialmente a ideia surgiu pela facilidade em abordar o tema:“Histórias e desafios na

    terceira idade no Lar Torres de Melo, devido a acadêmica, participante deste documentário,

    Lucia Marçal, trabalhar na instituição. O cotidiano nos chamou a atenção em abordar o

    assunto e entender os motivos que levam um idoso a procurar uma instituição asilar. A ideia

    do vídeo documentário surgiu ainda na primeira etapa da disciplina de Projeto Experimental

    I. Não tínhamos a definição do tema, mas foi sendo ajustado no decorrer das orientações e

    pesquisas.

    Antes de realizar as entrevistas, fizemos uma breve visita para conhecermos a

    instituição e escolher os personagens que participariam do nosso vídeo-documentário. No

    mês de junho foram realizadas as pré-entrevistas com oito personagens, em que apenas sete

    foram selecionados. As filmagens iniciaram no mês de setembro. Fomos a primeira vez e

    realizamos três entrevistas e algumas imagens de apoio, na segunda visita, dia 27 de

    setembro filmamos a festa do dia idoso e entrevistamos mais três personagens.

    Vários imprevistos aconteceram. Um dos entrevistados, o ex-jogador do time do

    Ceará, na década de 1960, Raimundo Ferreira da Rocha, apelidado de “Capturas”, estava

    sobre efeito de álcool. Já a outra entrevistada, Francisca Pacheco, desistiu da gravação por

    motivos pessoais. Tivemos ainda que fazer uma terceira visita para concluir as gravações,

    pois o entrevistado Washington Voltarie, também estava com problemas particulares.

    As perguntas foram adaptadas de acordo com o perfil de cada idoso. Os ambientes

    escolhidos para as gravações foram diversificados. Em alguns casos, escolhidos pelos

    próprios personagens, foram realizadas no refeitório, na frente e dentro dos seus

    apartamentos, na sala de fisioterapia, no salão de festas, no jardim, na sala de jogos e na

    quadra esportiva.

    Nos deparamos com ambientes silenciosos, barulhentos, claros, escuros, pequenos e

    grandes. Em alguns momentos houve prejuízo no desenvolvimento da entrevista pois o

    ambiente apresentava ruídos diversos, o sistema de som da casa é constantemente utilizado e

    é ouvido em todos os ambientes. Os horários das entrevistas foram predominantemente na

    parte da tarde, após o horário de almoço.

  • 34

    Algumas entrevistas foram longas, com duração aproximada de 50 minutos. Outras

    curtas, em média 15 minutos. Algumas, interrompidas devido o horário estipulado das

    normas da instituição.

    Optamos pela entrevista apenas dos residentes da instituição. Não colhemos

    entrevistas de nenhum profissional por entender que o próprio relato dos idosos seria

    suficiente para alcançar o objetivo da nossa pesquisa. A instituição permitiu a nossa visita

    para desenvolver nosso vídeo-documentário, desde que não infringíssemos as normas

    internas do Lar.

    Entrevistados:

    Washington Voltaire, 70 anos, nasceu no Uruguai, morou no Rio Grande do Sul durante

    20 anos, veio morar no lar e trabalhar, tem sua fonte de renda nos produtos que vende:

    perfumes doados pela Receita Federal e que pertencem ao Lar. Ele ganha um percentual

    sobre a venda do produto. Foi dono de restaurante e casado. Tem duas filhas nos U.S.A. Ele

    será uma espécie de guia no documentário, pois já apresenta a casa aos visitantes e conta um

    pouco da história e vivência no Lar Torres de Melo.

    Francisco Ferreira Silva, 70 anos, conhecido por Bronzeado. Jogou no Fortaleza em 1952.

    Foi o 4º zagueiro, logo após servir ao exercito foi para o time jogar. Seus companheiros

    foram: Hélio, Sapenha, Bazileu, Carrinho, Pedro Fauna, Aloisio de Sobral, Moésio, Piolho,

    Antony e Bronzeado. Jogou por um ano no Clube do Fortaleza e depois foi jogar no Crato

    Sporting 1 ano e também no América do Juazeiro do proprietário Antônio Patu. Depois

    participou do Usina Ceará, na 2º divisão de Fortaleza. Não ganhou dinheiro com futebol.

    Jogou por amor a camisa. Morou no lar 12 anos, saiu e depois voltou. Tem 5 anos no Lar.

    Perdeu a visão.

    Valderez de Freitas Ramos, 67 anos, sofreu um acidente onde quebrou o fêmur e ao voltar

    do hospital recebeu a noticia do falecimento da sua cunhada, que tratava como mãe. Entrou

    em depressão e, para não ficar sozinha, resolveu morar no Lar Torres de melo. Formada em

    Letras pela Universidade Federal do Ceará -UFC, foi concursada e trabalhou no Correio e

    Ministério da Fazenda durante 32 anos. Ficou um tempo esperando ser chamada para poder

    assumir o cargo, mas como não tinha êxito e via que outras pessoas entravam nas vagas

    com nota inferior a dela, resolveu questionar e daí escreveu uma carta para o General

  • 35

    Castelo Branco que, em seguida autorizou sua nomeação para trabalhar nos correios.

    Aposentada, com uma boa fonte de renda, que dá para sobreviver, resolveu morar no Lar.

    Ela é tia da Modelo Lilian Ramos, que hoje mora na Itália. A Sra. Valderez, fala com muito

    orgulho da sobrinha. A personagem é interessante, pois faz parte de uma classe média que

    tem poder aquisitivo, mas sentiu o peso da idade e, achando que não deveria dar trabalho aos

    familiares, refugiou-se no Lar Torres de Melo e se sente feliz.

    Altaídes Oliveira, viúva, 66 anos. Desde os quatro anos idade aprendeu a arte de desenhar.

    Ela dá asas à imaginação desenhando suas obras. Usa papel sufite, caderno de desenho e giz

    de cera. Dona Altaídes expressa no desenho toda sua criatividade. Foi morar no Lar Torres

    de Melo após o falecimento do esposo. Ele morreu atropelado por um coletivo na Praça

    Coração de Jesus, uma morte trágica diz a entrevistada. Passou muitas necessidades antes de

    vir morar na Instituição. Hoje está realizando um sonho, e estuda na escolinha dentro no Lar

    Torres de Melo. É uma aluna aplicada e, como disse, tem muita vontade de aprender a ler e a

    escrever seu nome.

    Manoel Figueredo de Moura Brasil, 73 anos. Conhecido como Seu Brasil. Serviu a

    Marinha, e era filho de Cel. Sr. Brasil, que é aposentado, católico. Foi casado e teve uma

    filha. Ela é médica e mora em Campo Grande. A esposa morreu em um desastre aéreo no

    Boing da Vasp na serra de Aratanha. Tem duas irmãs, mas não sabe onde andam e nem elas

    o procuram. Foi morar no Lar quando estava na rua, jogado na sarjeta e foi reconhecido por

    um amigo, que é médico, o que o levou para o Lar. O mesmo estava acabado, bebia muito e

    dormia nas ruas. O personagem deve participar do documentário pela forte história de vida:

    pois, de repente perdeu a esposa e contato familiar, ficou abandonado nas ruas e depois

    recuperou sua autoestima, vindo morar no lar. Ele passa a maior parte do tempo ouvindo

    músicas para esquecer o golpe que a vida lhe aplicou: A perda da família.

    Dona Dorinha, Maria das Dores Silva, 80 anos, natural de Quixadá. Trabalhou durante 27

    anos na Santa Casa de Misericórdia, no setor de serviços gerais. Veio morar no lar porque

    adoeceu, morava com duas irmãs, que não tinham condições de cuidar. Não casou e não teve

    filhos. É uma pessoa muito comunicativa e gosta da moradia. Está em cadeiras de rodas e se

    locomove também com ajuda de um andador, pois caiu e quebrou o fêmur.

  • 36

    Valdemiro Alves da Silva, 74 anos, conhecido como Waldick Soriano. Foi levado pela

    filha para o Lar, pois era alcoólatra e tinha difícil convivência com a família devido ao

    álcool. Gosta de cantar musicas bregas e chama a atenção das pessoas que moram e visitam

    a instituição.

  • 37

    8 CONCLUSÃO

    A busca para analisar como o idoso constrói sua vida após o ingresso em uma

    instituição asilar, nos levou a percorrer os caminhos, desde as motivações de sua chegada

    ao lar, passando pela elaboração de seu cotidiano e a organização de suas relações,

    iniciadas na instituição, eles conseguem manter esses relacionamentos.

    Após a analise das entrevistas dos personagens retratados no vídeo documentário,

    podemos concluir que o motivo principal para o ingresso na instituição é o abandono

    ocorrido por diversos fatores, não por estar desamparado pelos familiares, mas também

    aqueles que residem com a família e ainda se sentem só. O contato distante, atividades do

    cotidiano divergentes entre idosos e familiares, a falta de comunicação necessária para

    que o idoso se sinta feliz e acolhido no núcleo familiar, leva-o a procurar um asilo para

    residir.

    Ao chegar a um asilo o idoso se depara com dificuldades até então desconhecidas por

    ele, como, por exemplo, dividir seu espaço com outros idosos, conviver com pessoas

    desconhecidas e comportamentos diferentes. Há também outro fator importante a ser

    ressaltado: a sua adaptação às normas da instituição bem como elaborar sua nova rotina.

    Em contrapartida, segundo relatos dos entrevistados, após o ingresso no lar surge a

    oportunidade de realizar tarefas e desenvolver atividades que preencham o tempo e sirvam

    para diversas trocas, uma vez que são realizadas em grupo. Embora a instituição atenda às

    necessidades dos idosos como moradia, alimentação e vestimenta, alguns sentem a

    necessidade de desenvolver algum tipo de atividade que lhe traga um retorno financeiro.

    A instituição abordada no vídeo documentário oferece atividades elaboradas por

    profissionais multidisciplinares visando a participação, ocupação, integração entre os

    idosos, não atingindo e nem motivando a todos, em alguns casos, devido ao cansaço, por

    não gostarem das atividades ou por serem de outras denominações religiosas.

    Durante as gravações identificamos relações de amizade, conflitos e amorosos entre

    idosos. Nessas relações percebemos a necessidade dos idosos em formar vínculos,

    interagir e trocar experiências. Sendo realizadas entre funcionários, visitantes e familiares.

    Percebemos que os vínculos afetivos construídos durante a vida familiar não terminam

    com a ida para o asilo.

  • 38

    O asilo representa para o idoso a moradia onde ele obtém proteção, alimentação,

    atendimento de equipe de profissionais qualificados e ainda companhia de outros

    moradores.

    Esperamos, com este trabalho, contribuir de alguma forma para a reflexão de pessoas

    em qualquer fase da vida. Aos profissionais, almejamos transmitir uma parcela do nosso

    aprendizado, compromisso e essencialmente a dedicação com que tratamos dessa questão.

    Viver muitos anos de vida é uma meta de todos nós, porém desejamos uma velhice

    mais positiva, em condições sociais mais saudáveis e felizes. Quem sabe um dia se descubra

    que o grande mal paira na insensibilidade, na falta de amor.

  • 39

    9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    BARROS, J. Aprendendo a Envelhecer Fortaleza, 2002.

    BRASIL, Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do idoso,

    cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da

    União. Brasília: disponível em .

    Acesso em 04 nov. 2006.

    BRASIL, Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras

    providências. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional dos Direitos Humanos,

    1994. Lei 10.741/03, 2003.

    BERNARD, S. C. Documentário - Técnicas para uma produção de alto impacto. 2.ª edição.

    Tradução Saulo Krieger. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

    DIÓGENES, O. Asilo de Mendicidade memória histórica. Fortaleza, 1997.

    ELINALDO, T. Documentário no Brasil Traduções e Transformações. (org.) Ed. Summus.

    Estatuto do idoso, 2003-2008.

    FLAHERT apud WINSTON, B. Claiming the Real – The Documentary Film Revisited.

    London: British Film Institute, p. 102, 1995.

    GONÇALVES, G. S. Panorama do Documentário no Brasil. Centro Universitário do Norte

    – Uninorte/Amazonas, 2006.

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2010.

    JOHN, G. “First principles of documentary” in Forsyth Hardy (ed.) Grierson on

    documentary, Revised Edition, Berkeley and Los Angeles, University of California Press,

    1966, pp.145-156. T. Apud PENAFRIA, M. (org.) Tradução e Reflexões – Contribuindo

    para a Teoria do Documentário – (Direção) FIDALGO, A. - Série Estado de Artes Teoria e

    Estética do Documentário. Livros LabCom, 2001.

    MINAYO, M. C. S. Violência contra idosos: relevância para um velho problema. Cad.

    Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, nº 3, p. 783-791, jun. 2003.

  • 40

    NICHOLS, B. Introdução ao Documentário: Tradução Monica Saddy Martins – Campinas

    SP. ed. Papirus, Coleção Campo Imagético, 2005.

    POLITICA NACIONAL DO IDOSO. Lei nº 8.442 de 04/01/1994. MPAS. Brasília, Abril,

    1988.

    RAMOS, F. P. Mas Afinal o que é Documentário, SENAC São Paulo, 2008.

    REIS, L. Cada um envelhece como quer (Como Pode). Campos, Editora , 2003.

    SILVA, M. J.; BESSA, M..E. P.; OLIVEIRA, A. M. C. Tamanho e estrutura familiar de

    idosos residentes em áreas periféricas de uma metrópole. Ciência y Enfermeira. 2. ed.3v.

    São Paulo: E.P.U., 1987.

    TEIXEIRA, I.; NERI, A. L. A fragilidade no envelhecimento: fenômeno multidimensional,

    multideterminado e evolutivo. In: FREITAS, E.V.; PUL, C. F.; DOLL, J.; GORZONI, M.

    L. Tratado de geriatria e geriontologia. 2ª Ed., Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, p.1.102-

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    TEIXEIRA, S. Envelhecimento e trabalho no tempo do capital, São Paulo: Cortez Editora,

    2008.

    WORD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Envelhecimento ativo: uma política de saúde.

    Brasília: Organização Panamericana de Saúde, 2005.

    ZIMERMAN, G. I. Velhice - Aspectos biopsicossociais. Porto Alegre. Artes médicas, 2000.

  • 41

    9 ANEXOS

    ESTATUTO DO IDOSO

    Lei Nº 10.741, de 01/10/2003

    O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

    Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

    TÍTULO I

    Disposições Preliminares

    Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às

    pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

    Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem

    prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros

    meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e

    seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e

    dignidade.

    Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar

    ao

    idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à

    educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,

    ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

    Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

    I. atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados

    prestadores de serviços à população;

    II. preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas;

    III. destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao

    idoso;

    IV. viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com

    as demais gerações;

    V. priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do

    atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção

    da própria sobrevivência;

    VI. capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na

    prestação de serviços aos idosos;

  • 42

    VII. estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter

    educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento;

    VIII.garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais.

    IX. prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. (Incluído pela Lei nº

    11.765, de 2008).

    Art. 4o Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência,

    crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido

    na forma da lei.

    § 1o É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.

    § 2o As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes dos

    princípios por ela adotados.

    Art. 5o A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade à pessoa

    física ou jurídica nos termos da lei.

    Art. 6o Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer forma de

    violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.

    Art. 7o Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso,

    previstos na Lei n o 8.842, de 4 de janeiro de 1994 , zelarão pelo cumprimento dos direitos

    do idoso, definidos nesta Lei.

    TÍTULO II

    Dos Direitos Fundamentais

    CAPÍTULO I

    Do Direito à Vida

    Art. 8o O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social,

    nos termos desta Lei e da legislação vigente.

    Art. 9o É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante

    efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em

    condições de dignidade.

    CAPÍTULO II

    Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

  • 43

    Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o

    respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais

    e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.

    § 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos:

    I. faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as

    restrições legais;

    II. opinião e expressão;

    III. crença e culto religioso;

    IV. prática de esportes e de diversões;

    V. participação na vida familiar e comunitária;

    VI. participação na vida política, na forma da lei;

    VII. faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.

    § 2o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral,

    abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e

    crenças, dos espaços e dos objetos pessoais.

    § 3o É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer

    tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

    CAPÍTULO III

    Dos Alimentos

    Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil.

    Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores.

    Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor de

    Justiça ou Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo

    extrajudicial nos termos da lei processual civil. (Redação dada pela Lei nº 11.737, de 2008)

    Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o seu

    sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência social.

    CAPÍTULO IV

    Do Direito à Saúde

    Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único

    de

  • 44

    Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e

    contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da

    saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.

    § 1o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de:

    I. cadastramento da população idosa em base territorial;

    II. atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;

    III. unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e

    gerontologia social;

    IV. atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele necessitar e

    esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por

    instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com

    o Poder Público, nos meios urbano e rural;

    V. reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das seqüelas decorrentes

    do agravo da saúde.

    § 2o Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos,

    especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos

    ao tratamento, habilitação ou reabilitação.

    § 3o É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores

    diferenciados em razão da idade.

    § 4o Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante terão atendimento

    especializado, nos termos da lei.

    Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante,

    devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em

    tempo integral, segundo o critério médico.

    Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento conceder

    autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por

    escrito.

    Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito

    de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável.

    Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será feita:

    I. pelo curador, quando o idoso for interditado;

    II. pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contactado em

    tempo hábil;

  • 45

    III. pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para

    consulta a curador ou familiar;

    IV. pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em que

    deverá

    comunicar o fato ao Ministério Público.

    Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às

    necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim

    como orientação a cuidadores familiares e grupos de auto ajuda.

    Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso serão

    obrigatoriamente comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer dos seguintes

    órgãos:

    I. autoridade policial;

    II. Ministério Público;

    III. Conselho Municipal do Idoso;

    IV. Conselho Estadual do Idoso;

    V. Conselho Nacional do Idoso.

    CAPÍTULO V

    Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer

    Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos,

    produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.

    Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando

    currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.

    § 1o Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação,

    computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna.

    § 2o Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, para

    transmissão de conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da preservação da

    memória e da identidade culturais.

    Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos

    conteúdos

    voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a

    eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria.

    Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada

    mediante descontos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos

  • 46

    artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos

    locais.

    Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados aos

    idosos, com finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o

    processo de envelhecimento.

    Art. 25. O Poder Público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas idosas e

    incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao

    idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual.

    CAPÍTULO VI

    Da Profissionalização e do Trabalho

    Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas

    condições

    físicas, intelectuais e psíquicas.

    Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a discriminação

    e a

    fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a

    natureza do cargo o exigir.

    Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade,

    dando-se preferência ao de idade mais elevada.

    Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:

    I. profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades

    para atividades regulares e remuneradas;

    II. preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um)

    ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de

    esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania;

    III. estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.

    CAPÍTULO VII

    Da Previdência Social

    Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da Previdência Social

    observarão, na sua concessão, critérios de cálculo que preservem o valor real dos salários

    sobre os quais incidiram contribuição, nos termos da legislação vigente.

  • 47

    Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados na mesma

    data de reajuste do salário-mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início

    ou do seu último reajustamento, com base em percentual definido em regulamento,

    observados os critérios estabelecidos pela Lei n o 8.213, de 24 de julho de 1991 .

    Art. 30. A perda da condição de segurado não será considerada para a concessão da

    aposentadoria por idade, desde que a pessoa conte com, no mínimo, o tempo de contribuição

    correspondente ao exigido para efeito de carência na data de requerimento do benefício.

    Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto no caput observará o disposto no

    caput e § 2 o do art. 3 o da Lei n o 9.876, de 26 de novembro de 1999 , ou, não havendo

    salários de contribuição recolhidos a partir da competência de julho de 1994, o disposto no

    art. 35 da Lei n o 8.213, de 1991 .

    Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios, efetuado com atraso por

    responsabilidade da Previdência Social, será atualizado pelo mesmo índice utilizado para os

    reajustamentos dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, verificado no período

    compreendido entre o mês que deveria ter sido pago e o mês do efetivo pagamento.

    Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1o de Maio, é a data-base dos aposentados e

    pensionistas.

    CAPÍTULO VIII

    Da Assistência Social

    Art. 33. A assistência social aos idosos será prestada, de forma articulada, conforme os

    princípios e diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política Nacional

    do Idoso, no Sistema Único de Saúde e demais normas pertinentes.

    Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para

    prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício

    mensal de 1 (um) saláriomínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas.

    Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do

    caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se

    refere a Loas.

    Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou casa-lar, são obrigadas a firmar

    contrato de prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada.

    § 1o No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é facultada a cobrança de participação

    do idoso no custeio da entidade.

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    § 2o O Conselho Municipal do Idoso ou o Conselho Municipal da Assistência Social

    estabelecerá a forma de participação prevista no § 1o, que não poderá exceder a 70%

    (setenta por cento) de qualquer benefício previdenciário ou de assistência social percebido

    pelo idoso.

    § 3o Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu representante legal firmar o contrato a que

    se

    refere o caput deste artigo.

    Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco social, por adulto ou núcleo familiar,