Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

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lIistórias do Brasil em quadrinhos: narrativas da participação do país na Segunda Guerra :vlundiar Francisco César AIl'es Ferraz" jodo Paulo Delgado !f'nlj!" RESU'v1O () objetivo deste artigo é analisar as narrativas que as histórias elll quadrinhos brasileiras estabeleceram para aparticipação do país na Segunda Guerra M LI ndial. Entre as décadas de 1950 e 1970, foram editadas revistas em quadrinhos sobre este tema, e estas tiveram maiores tiragens e leitores que a produção editorial sobre o assunto, representando uma das p01lcas oportunidades de contato que opúblico jovem tinha, fora do ambiente escolar, sobre a época da guerra e sobre a participação brasileira neste conflito. Palavras-chave: Histórias em Quadrinhos, Segunda Guerra Mundial, Força Expedicionária Brasileira. o objetivo deste artigo é analisar as narrativas que as histórias em quadrinhos brasileiras estabeleceram para a participação do país na Segunda Guerra Mundial. Entre as décadas de 1950 e 1970, foram editadas revistas em quadrinhos sobre este tema, e estas tiveram maiores tiragens e leitores que a produçào editorial sobre o assunto, representando urna das poucas oportunidades de contato que o público jovem tinha, fora do ambiente sobre a época da guerra e sobre a participação brasileira neste conflito. As histórias em quadrinhos, que, num passado não muito distante, foram consideradas uma subliteratura prejudicial ao desenvolvimento inteleclual dos jovens, têm recentemente despertado interesse nos meios , Versão ampliada e revisada de trabalho apresentado em maio de 2007, no f Encontro Nacional de Estudos da flIl:1gem, Universidade Estadual de Londrina -PR. Professor do Departamenlo de História lIni\nsidade Estadual de Londrina (I;EL). "'Gmluado em Ciências Sociais - Univer:,iJade Estadual de Londrina; Estagiário do Laboratório de Ensino de História/UEL. H1STÓI(I,\ & ENSINO. Londrina, v13, p.141-1S6, set2007 141

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Históri do Brasil

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Page 1: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

lIistoacuterias do Brasil em quadrinhos narrativas da participaccedilatildeo do paiacutes na

Segunda Guerra vlundiar

Francisco Ceacutesar AIles Ferraz jodo Paulo Delgado fnlj

RESUv1O

() objetivo deste artigo eacute analisar as narrativas que as histoacuterias elll quadrinhos brasileiras estabeleceram para aparticipaccedilatildeo do paiacutes na Segunda Guerra MLI ndial Entre as deacutecadas de 1950 e 1970 foram editadas revistas em quadrinhos sobre este tema e estas tiveram maiores tiragens e leitores que a produccedilatildeo editorial sobre o assunto representando uma das p01lcas oportunidades de contato que opuacuteblico jovem tinha fora do ambiente escolar sobre aeacutepoca da guerra esobre a participaccedilatildeo brasileira neste conflito

Palavras-chave Histoacuterias em Quadrinhos Segunda Guerra Mundial Forccedila Expedicionaacuteria Brasileira

o objetivo deste artigo eacute analisar as narrativas que as histoacuterias em quadrinhos brasileiras estabeleceram para a participaccedilatildeo do paiacutes na Segunda Guerra Mundial Entre as deacutecadas de 1950 e 1970 foram editadas revistas em quadrinhos sobre este tema e estas tiveram maiores tiragens e leitores que a produccedilagraveo editorial sobre o assunto representando urna das poucas oportunidades de contato que o puacuteblico jovem tinha fora do ambiente esc()lat~ sobre a eacutepoca da guerra e sobre a participaccedilatildeo brasileira neste conflito

As histoacuterias em quadrinhos que num passado natildeo muito distante foram consideradas uma subliteratura prejudicial ao desenvolvimento inteleclual dos jovens tecircm recentemente despertado interesse nos meios

Versatildeo ampliada erevisada de trabalho apresentado em maio de 2007 no f Encontro Nacional de Estudos da flIl1gem Universidade Estadual de Londrina -PR Professor do Departamenlo de Histoacuteria lIninsidade Estadual de Londrina (IEL)

Gmluado em Ciecircncias Sociais - UniveriJade Estadual de Londrina Estagiaacuterio do Laboratoacuterio de Ensino de HistoacuteriaUEL

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intelectuais e passaram a ser objeto de pesquisa de professores estudiosos e artistas relllesenlando urna importante forma de poliacutetica e cultural(CIRNE 1977 CIRNE 1982 EISNER 1999 GASCA amp GUBERN 1991 ASSUMPCcedilAcircO JR 2001)

Segundo Moacy Cime eacute na proacutepria raiz do consumo que se localiza a maior importacircncia dos quadrinhos Diferentemente de quadros esculturas ou outras formas de 3lte os quadrinhos possuem avantagem de alcanccedilarem a todos podendo ser facilmente reproduzidos e comercializados (CIRNE 1977 p 16)

As histoacuterias em quadrinhos satildeo hoje um dos mais imprescindiacuteveis e difundidos componentes cbs chamadas comunicaccedilotildees de I1lilSSa e superam o estado industrial e anocircnimo para se firmarem como urna forma de arte

Como um dos meios ele expressatildeo veiculados pela induacutestria cultural os quadrinhos tambeacutem podem possuir funccedilotildees de transmissIo de valores e informaccedilotildees com a vantagem de seu faacutecil e raacutepido consumo Desde sua popularizaccedililo () debate sobre seu valor na educaccedilatildeo de jovens e crianccedilas dividiu esoecialistas em educaccedilatildeo psicologia cognitiva cultura e artes No Brasil este debate tambeacutem ocorreu nas deacutecadas de 1950 e 1960 atingindo a proporccedilatildeo de uma guerra santa opondo aqueles que consideravam os quadrinhos nocivos agrave formaccedilatildeo dos jovens e do outro lado aqueles que consideravam os quadrinhos instrumentos uacuteteis agrave educaccedilatildeo Mesmo sofrendo pressotildees censuras campanhas difamatoacuterias as ediccedilotildees em quadrinhos continuaram sendo publicadas aumentando sempre a oferta de tiacutetulos e tiragem das revistltLs(GONCcedilALO JR 2004)

Tendo em vista a importacircncia da Arte Sequumlencial universalmente empregada nas histoacuterias em quadrinhos representando uma forma artiacutestica e literaacuteria que lida com a disposiccedilatildeo de figuras ou imagens e palavras para narrar uma histoacuteria ou dramatizar uma ideacuteia (EISNER 1999 p 5) procuramos iniciar este trabalho com uma breve anaacutelise da teacutecnica artiacutestica e os paracircmetros estruturais adotados pelos produtores das histoacuterias em quadrinhos brasileiras referentes a Ir Guerra vlundial As histoacuterias em quadrinhos possuem peculiaridades que moldam suas narrativas potencializando ou limitando sua forccedila expressiva Dessa forma analisaremos os principais elementos formais que compotildeem uma histoacuteria em quadrinhos o balatildeo o ruiacutedo onomatopaico e o ritmo visual que constituem os elementos fundamentais de uma possiacutevel

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esteacutetica dos comics - expressatildeo em inglecircs que se tornou universal para definir as histoacuterias em quadrinhos (CIRNE 1977 GUBERl 1991 LUITEN 1985

1970) O balatildeo urna das principais caracteriacutesticas criativas dos quadrinhos

possui formato ligeiramente circular ou retangular tendo por finalidade expressar em seu interior diaacutelogos ideacuteias pensamentos ou ruiacutedos Assim como a onomatopeacuteia o balatildeo representa uma instigante visualizaccedilatildeo espacial do som(CIRNE 1977 p2iiacute EISNER 1999 p10-12)

Nos quadrinhos sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra iIundial predomina-se o uso do balatildeo de uma maneira soacutebria Podem ser destacadas quatro principais espeacutecies de balotildees nos quadrinhos em estudo a primeira espeacutecie de balatildeo possui como caracteriacutestica ser retangular e estarem enquadrados na parte superior do Iequadro (nome utilizado para se referir agrave moldura que contorna os objetos e as accedilotildees presentes no quadrinho) sua principal funccedilatildeo consiste em narrar os fatos histoacutericos dos soldados em combate SWS accedilotildees e caracteriacutesticas heroacuteicas visando proporcionar ernoccedilagraveo e situar historicamente o leitor na histoacuteria Muito desses balotildees estavam entre aspas pois seus conteuacutedos eram tirados de fontes histoacutericas As outras trecircs espeacutecies de balotildees eram o de fala o mais tradicional cujo conteuacutedo eacute a conversa entre os personagens o balatildeo de pensamento em que estaacute presente o que se passa pela cJbeccedila do pracinha e por fim o balatildeo ollomatopaico que contorna os ruiacutedos expressos nos quadrinhos(EISNER 1999 p44-45)

Segundo Moacy Cime uma boa onomatopeacuteia ( ) estaacute para a quadrinha assim como um ruiacutedo (bem utilizado) estaacuteparaocinema Responsaacutevel pordar uma verdadeira dimensatildeo esteacutetico-imormacional aa quadrinha as onomatopeacuteias como MMHI

ROOM POOW RATATA-TA BRATATA-TA KIANKKIANKKLNAK CHHRUUM WHCXlSH e~Tlressando sons de gritCXi cxplaiiacutees metralhadoms tmques de guerra lanccedilamento de cUlhotildees representam uma constante em qualquer histoacuteIias de quadIinha sobre guerra 110 qual seUi ruiacuteda relacionada de mooo conflitante coma a imagem proporcionam uma alta temperatura compaitiva principalmente na quadrinho em estudo (CIRNE 1977 p33-34)

Aforccedila de uma hist6ria em quadrinhos natildeo acontece pela magia formal de um plano isolado que natildeo esteja inserido no seu contexto natildeo se limita a um quadro bem descnl1Jdo cujo plano seja capaz de revelar Ulll perfeito

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enquadramento t necessaacuterio que haja uma dinacircmica estrutural entre todos os quadros criando movimento e accedil~o formais Portanto para que os quadrinhos atinja sua escsfa eacute indispensaacutevel uma relaccedilatildeo criacuteticamiddot entre o plano bem desenhado amp enquaelrado(CIRNE 1977 p 35 E1SNER 1999 p46-50 GASCA amp GUBERN 1991 p17-31 p588-605)

As histoacuterias em ljuadrinhos sobre a Ir Guerra lundial enfrentavam o desafio ele C]uldrinizar fatos reais nas quais a correlaccedilatildeo entre a criaccedilatildeo de movimentos e as accedilotildees formais representam muito bem o ritmo visual a sequumlencia coerente ela histoacuteria Eacutepossiacutevel ao primeiro olhal~ obter uma visatildeo global ela paacutegina verificando-se a funcionalidaele ele seus cories e as elireccedilotildees de leitura elementos que segundo Cirne satildeo indispensaacuteveis para um coerente ritmo visual elo comic(FIGURA 1)

Em uma anaacutelise do ponto de vista formal concluiacutemos que as histoacuterias em quadrinhos de guerra possuem os elementos essenciais presentes em quadrinhos traelicionais ou seja a narraccedilatildeo em sequumlecircncias de imagens a continuidade dos personagens de uma sequumlecircncia a outra e o diaacutelogo incluso atraveacutes dos balotildees nas imagens aleacutem elo recurso da onomatopeacuteia

Quadrinhos de guerra e as memoacuterias da participaccedilatildeo brasileira no conflito

No Brasil entre as deacutecadas de 1950 c 1970 os quadrinhos genuinamente nacionais sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial circularam nas bancas em toelo paiacutes com tiragens meacutedias de 30 a 40 mil exemplares Em meio agraves tradicionais histoacuterias ele guerra importadas e traduzidas dos Estaelos Unidos vaacuterios episoacutedios reais ou fictiacutecios envolviam os soldaelos ela Forccedila Expedicionaacuteria Brasileira Atiragem e a venda ele tais ediccedilotildees superavam largamente aquelas dos livros e representavam em muitos casos um dos poucos contatos que o puacuteblico jovem tinha com a histoacuteria da FEB e da participaccedilatildeo brasileira na Il Guerra Munelial

Os quadrinhos brasileiros ele guerra narravam histoacuterias ela FEB e ela FAB ilustrando as atuaccedilotildees heroacuteicas e os momentos difiacuteceis enfrentados pelos expedicionaacuterios brasileiros Sua anaacutelise pode ser divielida em duas formas as que narravam histoacuterias reais sobre a Elli e a FEB e as que contavam histoacuterias fictiacutecias sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial

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Para esta pesquisa foi constituiacuteda uma amostra das coleccedilotildees das revistas em quadrinhos de guerra entre as deacutecadas de 1950 e 1970 sendo analisadas dezenove ediccedilotildees com mais de 100 narrativas que tinham como terna a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial

As revistas que misturavam histoacuteria reais com narrativas fictiacutecia sobre a participaccedilatildeo da FAB e da FEE eram Diaacuterio de Guerra) Pelotatildeo Suicida e Combate e ~L~ que enfatizavam narrar histoacuterias reais da guerra eram aColeccedilacirco de Azenums e a Serviccedilo Secreto sendo que esta uacuteltima natildeo tinha como foco principal a guerra Illas en tre suas ediccedilotildees podiam ser encontradas histoacuterias veriacutedicas quadrin iiadas sobre a participaccedilatildeo brLileira

Uma das maiores dificuldades foi estabelecer as datas de publicaccedilatildeo pois os dados sobre Inecircs e ano de ediccedilatildeo muitas vezes natildeo eram apresentados seja nas paacuteginas internas seja nas capas e contra-capas De mesma fOlwa informaccedilotildees importantes como o autor dos roteiros das histoacuterias ou seu ilustrador eram frequumlentemente omitidos Aproximaccedilotildees das datas de ediccedilotildees eram poreacutem possiacuteveis quando se cmzavam inforlllaccedilotildees na bibliografia especializada ou se atentava para as unidades monetaacuterias (cruzeiro cmzeiro novo) e os preccedilos das revistas em comparaccedilatildeo com outros tiacutetulos publicados na mesma eacutepoca

Muitas das revistas possuiacuteam relatos de ex-combatentes e explicaccedilotildees de como funcionavam os diferentes tanques de guerra armas e aviotildees utilizados na [ Guerra Mundial

Os quadrinhos eram consumidos principalmente pelo puacuteblico jovem o que pode ser constatado por meio da anaacutelise da bibliografia especializada e da publicidade presente nas revistas que anunciava produtos de modelagem fiacutesica academias de halterofilismo cursos por correspondecircncia editoras populares com cataacutelogos de introduccedilatildeo a ofiacutecios teacutecnicos tiacutetulos de cunho eroacutetico e de educaccedilatildeo sexual traveacutes dessas informaccedilotildees foi possiacutevel traccedilar um esboccedilo do perfil do consumidor destas revistas de guerra ou sej a um puacuteblico predominantemente masculino na faixa etaacuteria que compreende a adolescecircncia ateacute os primeiros anos da vida adulta

Sobre a questatildeo socioeconocircmica pode-se inferir pelo tipo de orientaccedilatildeo profissional desses anuacutencios pelo preccedilo das revistas pela sua linguagem popular que seus leitores eram das classes populares e que seu grau mLximo de instruccedilatildeo era predominantemente de niacutevel secundaacuterio

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Tendo elll vista que 1 Coleccedilatildeo de Aventuras er~ a uacutenica revista voltada para a ljuadrillizl()o da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial priorizaremos neste trabalho sua anaacutelise

Coleccedilacirco de Aventuras foi a primeira revista do Brasil a publicar na forma eminentemente popular dLs histoacuterias em quadrinhos narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial Tais histoacuterias narravam os feitos heroacuteicos dos expedicionaacuterios emomentos dramaacuteticos vividos econtados pelos proacuteprios combatentes ou haseados em noticiaacuterios da eacutepoca

Odiretor da revista Coleccedilacirco de Aventuras Ilo Iloy Lund afirmava que o ohjetivo de SlJaS hist6riLi em quadrinhos era de divulgar e ellaltecer os feitos dos soldados ImLsileiros publicando suas aventuras veriacutedicas devidamente comprovadas e autenticadas As coleccedilotildees procuravam

sempre mostrar aos olhos ele todos a bravura a fibra e () heroiacutesmo ele que nossos pracinhas deram Illostras nos campos de batalha da Europa durante a 11 Segunda Guerra Mundial Fica assim registrado () o nosso propoacutesito sincero de tornar Coleccedilatildeo deAventuras a maior revista do Brasil e ao mesmo tempo um veiacuteculo ele congraccedilamento de todos os nosso expedicionaacuterios sob um criteacuterio jornaliacutestico de justiccedila e patriotismo(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano l n 1 1957 p 3)

Nas suas ediccedilotildees o diretor Lund pedia aos ex-expedicionaacuterios que colahorassem com a revista enviando fotos e dados referentes a FEB desde que tais dados e fotos fossem devidamente comprovados

Naturalmente apareciam diferenccedilas entre as narrativas de combatentes e correspondentes de gllClTa e SlWS transposiccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos mas tais falha eram jllstificad~L pelos editores pelas dificuldades ele obtenccedilagraveo ele lmteacuterialt pela comprovaccedilagraveo da mesma por problemas atinentes aquaelrinizaccedilatildeo eiluminaccedilatildeo das histoacuterias aleacutem de erros referentes agrave natureza graacutefica

Assim a revista em quadrinhos Coleccedilatildeo de Aventuras pretendia ser uma obra completa sobre a histoacuteria da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra MundiaL Em suas ediccedilotildees a quadrinizaccedilatildeo das histoacuterias da guerra era precedida com texto contando a histoacuteria do combatente que seria transposta para o quadrinho com as devidas citaccedilotildees Apesar de as revistas natildeo terem qualquer ligaccedilatildeo com as forccedilas armadas quem coordenava assuntos referentes agraves histoacuterias

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I da participaccedilagraveo brasileira na guerra era o Capitatildeo iclZio sob colaboraccedilatildeo do excolllbatentc Paulo Vidal autor do livro lleoacutel tqueacuteCldos obra que trazia relatos das accedilotildees de expedicionaacuterios tombados na guerra(VIDAL 1960) Vaacuterios trechos deste livro foram transcritos nas ediccedilotildees Muitas reportagens tambeacutem tinham como fonte o jornal Trihuna da Imprensa que eram ceclidas para a revista em quadrinhos Odiretor de redaccedilatildeo era Seacutergio D T vlacedo e muitos dos desenhos foram feitos por Otto Brandes e Flavio Colin Aleacutem dessas fontes os roteiros quadrinizados ocasionalmente citavam como base citaccedilotildees oficiais de combate e relatos de diversos oficiais praccedilas e conhecedores ela guerra que colaboravam com artigos informaccedilotildees e fotografias bem corno sugestotildees e comentaacuterios de leitores que eram enviadas por correspondecircncia Oproacuteprio comandante da FEB Marechal lascarenhas de Moraes enviou carta para a revista cumprimentando sua direccedilatildeo por ter encontraclon histoacuteria militar do Brasil particularmente na Forccedila Expeclicionaacuteria Brasilciw assunto de permanente natildeo soacute para os jovens como para o puacuteblico em geral(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I n 12 1958 p03)

Apreocupaccedilatildeo com a veracidade dos fatos era constante na revista atraveacutes de reproduccedilotildees de Citaccedilotildees de Comhates Diaacuterio de Operaccedilotildees dos Batalhotildees Citaccedilatildeo oficial do Comando da FEB e Boletins Especiais do Eyeacutercito entre outros materiais histoacutericos

Entre as ediccedilotildees pesquisadas podemos observar trecircs citaccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos referentes a fatos histoacutericos relacionados com a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Jlundial a tomada do lonte Castelo no dia 21 de fevereiro de 194s cujo tiacutetulo da histoacuteria em quadrinhos eacuteij epopeacuteia do Monte Castelo a batalha de Montese intituladaA mais sangrenta batalba da FEB Monlese e sobre o naufrftgio dos navios brasileiros a Coleccedilatildeo Aventuras possui duas histoacuterias () naufracircgio da Corveta Camaquatilde a mil ias torpedeados Tais momentos histoacutericos quadrinizados eram precedidos por textos que narravam os acontecimentos fatiacutedicos em forma de artigo

Podemos perceber uma constante exaltaccedilatildeo dos combates como por exemplo no texto A epopeacuteia de Monte Castelo que precede os quadrinhos referentes agrave conquista do TI10nte Castelo

Monte Castelo Uma epopeacuteia Centenas de vidas sacrificadas dor laacutegrimas

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sacrifiacutecios muita luta muita coragem muito desprendimento e abnegaccedilatildeo Montl Catelo l Demonstraccedilatildeo de grande valor e coragem do soldado brasileiro GllIacuteria aos que ficaram aos que voitarull -- toda essa mocidade vibrante e

nronil agrave qual o Brasll tanto deve e tatildeo pouco lembra agrave qual a Humlllidade e a

Democracia tanto ficaram devendo Talvez que sem a atuaccedilatildeo do 1D Grupo de Caccedila muitas outras cen~enas de vidas tivesseIll sido sacrificadas e a tomada elo VIorro Maldito natildeo houvesse sido realizada tatildeo rapidamente Por isso mesmo no dos pracinhas ficou uma gratidatildeo imensa pelos

rapazes da FORCcedilAEacuteRL os valorosos rapazes que [ltlO bem manejaram SETA AIUacuteA e num momento oportuno Em 21 de fevereiro de 1944 dia esplecircndido dia soberbo dia magniacutefico em que foi dominado o MONTE CASTELO que foi um dos maiores sorvedouros de vidas BRASILEIRAS na UacuteLTIMA GtERRA(Coleccedilatildeo de Aventuras sn 1957 p5) (maiuacutescula no origillJl)

Em termos narrativos natildeo havia muitas sutilezas Seguindo a caractelizaccedilatildeo baacutesica deste tipo de veiacuteculo de comunicaccedilatildeo de massa(VERGUEIRO 1998 p1-2) podem ser encontrados nas histoacuterias analisadas vaacuterios exemplos de pasteurizaccedilatildeo dos conteuacutedos de desprezo agraves individualidades sociais assim como o uso frequumlente de estereoacutetipos sociais enacionais Alematildees por exemplo eLun comumente retratados como nazistas convictos homens crueacuteis combatendo e gritando entre UIlla rajada eoutrade metralhadoraBeilHilferl Soldados brasileiros em contrapartida apareciam como bondosos para com os civis criativos e espertos nas manobras individuais para safarem-se de balas e granadagt inimigas Agraverigidez do combatente alematildeo era oposto o jogo de cintura do combatente brasileiro Agraves vezes os inimigos eram retratados de maneira c()]luumlca com os balotildees de pensunento evocando saudade da cerveja e do salsicluumlo Ji os balotildees que expressaram os devaneios dos bmsileiros lembravam do o luar do seuroltatildeo das praias exuberantes das namoradas matildefs e noivas num esf()rccedilo de humanizaccedilatildeo do eu e de depreciaccedilatildeo do outro

Este tipo de histoacuteria natildeo sofria criacutetica dos leitores de Coleccedilatildeo deAvenfuras na amostragem consultada na seccedilatildeo de carta dos leitores natildeo se registra uma uacutenica criacutetica a este tipo ele postura narrativa leacutem desta havia outra seccedilatildeo chamada Cluh dos nas quais eram responclidas as curiosidades destes

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em relaccedilatildeo agrave FAB e agrave FEB sobre detalhes referentes a armas e municcedilotildees taacuteticas de guerra empregadas durante as batalhas pelos brasileiros etc

Arevista tambeacutem tinha o papel de se preocupar com o estado dos exshycombatentes no poacutes-guerra Algumas histoacuterias questionavam-se sobre o paradeiro dos ex-combatentes e se eles estavam amparados pelos poderes puacuteblicos Outras quando terminavam informavam a trajetoacuteria do poacutes-guerra dos personagens principais

As histoacuterias presentes nos quadrinhos natildeo eram exclusivamente para os combates das Forccedilas Brasileiras havia tambeacutem histoacuterias de batalhas dos norteshyamericanos ou outras histoacuterias de confrontos entre os Aliados e o Eixo NOffilalmente tais histoacuterias eram importadas do Estados Unidos e adaptadas e traduzidas para oportuguecircs Muitas delas eram tidas como reais mas amaioria era fictiacutecia Nestas revistas claramente havia uma exaltaccedilatildeo dos norteshyamericanos classificando-os como heroacuteis e invenciacuteveis Mas apartir do nuacutemero treze devido ao grande sucesso da revista as histoacuterias passaram a ser exclusivamente dedicadas aos feitos heroacuteicos dos pracinhas sendo inteiramente nacional com desenhos e histoacuterias brasileiras

Entre os heroacuteis de guerra separamos um que eacute exemplar do tipo de abordagem realizada pelas revistas Trata-se do sargento Max Wolff Filho que foi citado com frequumlecircncia na Coleccedilatildeo de Aventuras Ele foi dos maiores heroacuteis de guerra brasileiros e a cena dramaacutetica de sua morte foi relatada com detalhes em ceacutelebre reportagem do correspondente de guerra Joel Silveira(SILVElRA 1945) Em uma das ediccedilotildees eacute relatado que Wolff

teve seu batismo de fogo no ataque aMontese Desde oinicio da accedilatildeo oseu iacutempeto o seu entusiasmo asua agressividade foram por todos reconhecidos Suacapacidade de comando agravefrente de patrulhas foi um dos fatores incontestes da excelente atuaccedilatildeo de seus comandados Max Wolff foi morto por uma rajada de metralhadora geffi1ana e ganhou post mortem a mais alta condecoraccedilatildeo americana de guerra concedida a estrangeiros a Silver Star (Coleccedilatildeo de Aventuras 1957 p22-23)

Um dado relevante eacuteque embora ocasionalmente sej am feitas referecircncias aos oficiais comandantes das unidades combatentes as narrativas quadrinizadas poucas vezes fazem referecircncias aos oficiais-superiores Atendecircncia observada

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na amostragem eacute a de valorizar preferencialmente os praccedilas soldados anocircnimos que efetivamente arriscaram suas vidas em combate Por vezes oficiais comandantes aparecem nas narrativas ordenando missotildees difiacuteceis de serem cumpridas ou mesmo temerariamente arriscadas

Haacute inclusive uma narrativa extraiacuteda do polecircmico livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB em que a proacutepria imagem do Comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes eacutequestionada em histoacuteria conhecida como Oepisoacutedio das facas Tratava-se de uma substituiccedilatildeo de batalhotildees na frente de combate de uma unidade norte-americana que estava exaurida por um batalhatildeo brasileiro Entretanto obatalhatildeo da FEB indicado para substituir os norte-americanos havia acabado de voltar de um combate renhido com baixas que natildeo haviam sido repostas com desfalque de armas e municcedilotildees O relato do livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB narra que os oficiais subalternos (tenentes e capitatildees aqueles que arriscavam a vida junto com os praccedilas na frente de combate) tentavam argumentar a inconveniecircncia da substituiccedilatildeo ao que foram silenciados asperamente por Mascarenhas de Moraes que chamou-os de covardes e ameaccedilou ir pessoalmente comandar o batalhatildeo em substituiccedilatildeo Quando lhe foi argumentado que faltavam armas e municcedilotildees Mascarenhas teria respondido Os senhores natildeo tem facas Cada soldado natildeo recebeu uma faca Amuniccedilatildeo iraacute depois De qualquer forma o batalhatildeo subiraacute hoje Contrariados os membros do batalhatildeo tentaram substituir os norte-americanos que ao notarem a precariedade do batalhatildeo substituto se recusaram a deixar seus postos Aconsequumlecircncia de tal confusatildeo foi uma grande movimentaccedilatildeo de homens notada pelos alematildees que trataram de concentrar sua artilharia no local com saldo de baixas perfeitamente evitaacuteveis (ARRUDA et aW 1949 p72-75)

Essa narrativa foi adaptada para os quadrinhos e estes enfatizaram a diferenccedila entre os oficiais superiores protegidos em seus quarteacuteis-generais longe dos combates encarniccedilados e os tenentes que satildeo os uacutenicos chefes que vivem integralmente a vida dos pracinhas que eacute sobre eles afinal que repousa a sorte dos planos de batalha Os recursos visuais dos quadrinhos ressaltam essas diferenccedilas mostrando os soldados com semblantes cansados sujos com a barba por fazer capacetes desafivelados enquanto os oficiais

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superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

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MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

152 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

HIST(lIA amp ENSINO londrina v13 pl41-156 set2007

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Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

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Figura 01

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HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

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156 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina vl) p141-156 sel2007

Page 2: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

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intelectuais e passaram a ser objeto de pesquisa de professores estudiosos e artistas relllesenlando urna importante forma de poliacutetica e cultural(CIRNE 1977 CIRNE 1982 EISNER 1999 GASCA amp GUBERN 1991 ASSUMPCcedilAcircO JR 2001)

Segundo Moacy Cime eacute na proacutepria raiz do consumo que se localiza a maior importacircncia dos quadrinhos Diferentemente de quadros esculturas ou outras formas de 3lte os quadrinhos possuem avantagem de alcanccedilarem a todos podendo ser facilmente reproduzidos e comercializados (CIRNE 1977 p 16)

As histoacuterias em quadrinhos satildeo hoje um dos mais imprescindiacuteveis e difundidos componentes cbs chamadas comunicaccedilotildees de I1lilSSa e superam o estado industrial e anocircnimo para se firmarem como urna forma de arte

Como um dos meios ele expressatildeo veiculados pela induacutestria cultural os quadrinhos tambeacutem podem possuir funccedilotildees de transmissIo de valores e informaccedilotildees com a vantagem de seu faacutecil e raacutepido consumo Desde sua popularizaccedililo () debate sobre seu valor na educaccedilatildeo de jovens e crianccedilas dividiu esoecialistas em educaccedilatildeo psicologia cognitiva cultura e artes No Brasil este debate tambeacutem ocorreu nas deacutecadas de 1950 e 1960 atingindo a proporccedilatildeo de uma guerra santa opondo aqueles que consideravam os quadrinhos nocivos agrave formaccedilatildeo dos jovens e do outro lado aqueles que consideravam os quadrinhos instrumentos uacuteteis agrave educaccedilatildeo Mesmo sofrendo pressotildees censuras campanhas difamatoacuterias as ediccedilotildees em quadrinhos continuaram sendo publicadas aumentando sempre a oferta de tiacutetulos e tiragem das revistltLs(GONCcedilALO JR 2004)

Tendo em vista a importacircncia da Arte Sequumlencial universalmente empregada nas histoacuterias em quadrinhos representando uma forma artiacutestica e literaacuteria que lida com a disposiccedilatildeo de figuras ou imagens e palavras para narrar uma histoacuteria ou dramatizar uma ideacuteia (EISNER 1999 p 5) procuramos iniciar este trabalho com uma breve anaacutelise da teacutecnica artiacutestica e os paracircmetros estruturais adotados pelos produtores das histoacuterias em quadrinhos brasileiras referentes a Ir Guerra vlundial As histoacuterias em quadrinhos possuem peculiaridades que moldam suas narrativas potencializando ou limitando sua forccedila expressiva Dessa forma analisaremos os principais elementos formais que compotildeem uma histoacuteria em quadrinhos o balatildeo o ruiacutedo onomatopaico e o ritmo visual que constituem os elementos fundamentais de uma possiacutevel

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esteacutetica dos comics - expressatildeo em inglecircs que se tornou universal para definir as histoacuterias em quadrinhos (CIRNE 1977 GUBERl 1991 LUITEN 1985

1970) O balatildeo urna das principais caracteriacutesticas criativas dos quadrinhos

possui formato ligeiramente circular ou retangular tendo por finalidade expressar em seu interior diaacutelogos ideacuteias pensamentos ou ruiacutedos Assim como a onomatopeacuteia o balatildeo representa uma instigante visualizaccedilatildeo espacial do som(CIRNE 1977 p2iiacute EISNER 1999 p10-12)

Nos quadrinhos sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra iIundial predomina-se o uso do balatildeo de uma maneira soacutebria Podem ser destacadas quatro principais espeacutecies de balotildees nos quadrinhos em estudo a primeira espeacutecie de balatildeo possui como caracteriacutestica ser retangular e estarem enquadrados na parte superior do Iequadro (nome utilizado para se referir agrave moldura que contorna os objetos e as accedilotildees presentes no quadrinho) sua principal funccedilatildeo consiste em narrar os fatos histoacutericos dos soldados em combate SWS accedilotildees e caracteriacutesticas heroacuteicas visando proporcionar ernoccedilagraveo e situar historicamente o leitor na histoacuteria Muito desses balotildees estavam entre aspas pois seus conteuacutedos eram tirados de fontes histoacutericas As outras trecircs espeacutecies de balotildees eram o de fala o mais tradicional cujo conteuacutedo eacute a conversa entre os personagens o balatildeo de pensamento em que estaacute presente o que se passa pela cJbeccedila do pracinha e por fim o balatildeo ollomatopaico que contorna os ruiacutedos expressos nos quadrinhos(EISNER 1999 p44-45)

Segundo Moacy Cime uma boa onomatopeacuteia ( ) estaacute para a quadrinha assim como um ruiacutedo (bem utilizado) estaacuteparaocinema Responsaacutevel pordar uma verdadeira dimensatildeo esteacutetico-imormacional aa quadrinha as onomatopeacuteias como MMHI

ROOM POOW RATATA-TA BRATATA-TA KIANKKIANKKLNAK CHHRUUM WHCXlSH e~Tlressando sons de gritCXi cxplaiiacutees metralhadoms tmques de guerra lanccedilamento de cUlhotildees representam uma constante em qualquer histoacuteIias de quadIinha sobre guerra 110 qual seUi ruiacuteda relacionada de mooo conflitante coma a imagem proporcionam uma alta temperatura compaitiva principalmente na quadrinho em estudo (CIRNE 1977 p33-34)

Aforccedila de uma hist6ria em quadrinhos natildeo acontece pela magia formal de um plano isolado que natildeo esteja inserido no seu contexto natildeo se limita a um quadro bem descnl1Jdo cujo plano seja capaz de revelar Ulll perfeito

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enquadramento t necessaacuterio que haja uma dinacircmica estrutural entre todos os quadros criando movimento e accedil~o formais Portanto para que os quadrinhos atinja sua escsfa eacute indispensaacutevel uma relaccedilatildeo criacuteticamiddot entre o plano bem desenhado amp enquaelrado(CIRNE 1977 p 35 E1SNER 1999 p46-50 GASCA amp GUBERN 1991 p17-31 p588-605)

As histoacuterias em ljuadrinhos sobre a Ir Guerra lundial enfrentavam o desafio ele C]uldrinizar fatos reais nas quais a correlaccedilatildeo entre a criaccedilatildeo de movimentos e as accedilotildees formais representam muito bem o ritmo visual a sequumlencia coerente ela histoacuteria Eacutepossiacutevel ao primeiro olhal~ obter uma visatildeo global ela paacutegina verificando-se a funcionalidaele ele seus cories e as elireccedilotildees de leitura elementos que segundo Cirne satildeo indispensaacuteveis para um coerente ritmo visual elo comic(FIGURA 1)

Em uma anaacutelise do ponto de vista formal concluiacutemos que as histoacuterias em quadrinhos de guerra possuem os elementos essenciais presentes em quadrinhos traelicionais ou seja a narraccedilatildeo em sequumlecircncias de imagens a continuidade dos personagens de uma sequumlecircncia a outra e o diaacutelogo incluso atraveacutes dos balotildees nas imagens aleacutem elo recurso da onomatopeacuteia

Quadrinhos de guerra e as memoacuterias da participaccedilatildeo brasileira no conflito

No Brasil entre as deacutecadas de 1950 c 1970 os quadrinhos genuinamente nacionais sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial circularam nas bancas em toelo paiacutes com tiragens meacutedias de 30 a 40 mil exemplares Em meio agraves tradicionais histoacuterias ele guerra importadas e traduzidas dos Estaelos Unidos vaacuterios episoacutedios reais ou fictiacutecios envolviam os soldaelos ela Forccedila Expedicionaacuteria Brasileira Atiragem e a venda ele tais ediccedilotildees superavam largamente aquelas dos livros e representavam em muitos casos um dos poucos contatos que o puacuteblico jovem tinha com a histoacuteria da FEB e da participaccedilatildeo brasileira na Il Guerra Munelial

Os quadrinhos brasileiros ele guerra narravam histoacuterias ela FEB e ela FAB ilustrando as atuaccedilotildees heroacuteicas e os momentos difiacuteceis enfrentados pelos expedicionaacuterios brasileiros Sua anaacutelise pode ser divielida em duas formas as que narravam histoacuterias reais sobre a Elli e a FEB e as que contavam histoacuterias fictiacutecias sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial

IlISTOacuteRIA amp ENSIlIl Londrina V13 p141-15h set2007

Para esta pesquisa foi constituiacuteda uma amostra das coleccedilotildees das revistas em quadrinhos de guerra entre as deacutecadas de 1950 e 1970 sendo analisadas dezenove ediccedilotildees com mais de 100 narrativas que tinham como terna a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial

As revistas que misturavam histoacuteria reais com narrativas fictiacutecia sobre a participaccedilatildeo da FAB e da FEE eram Diaacuterio de Guerra) Pelotatildeo Suicida e Combate e ~L~ que enfatizavam narrar histoacuterias reais da guerra eram aColeccedilacirco de Azenums e a Serviccedilo Secreto sendo que esta uacuteltima natildeo tinha como foco principal a guerra Illas en tre suas ediccedilotildees podiam ser encontradas histoacuterias veriacutedicas quadrin iiadas sobre a participaccedilatildeo brLileira

Uma das maiores dificuldades foi estabelecer as datas de publicaccedilatildeo pois os dados sobre Inecircs e ano de ediccedilatildeo muitas vezes natildeo eram apresentados seja nas paacuteginas internas seja nas capas e contra-capas De mesma fOlwa informaccedilotildees importantes como o autor dos roteiros das histoacuterias ou seu ilustrador eram frequumlentemente omitidos Aproximaccedilotildees das datas de ediccedilotildees eram poreacutem possiacuteveis quando se cmzavam inforlllaccedilotildees na bibliografia especializada ou se atentava para as unidades monetaacuterias (cruzeiro cmzeiro novo) e os preccedilos das revistas em comparaccedilatildeo com outros tiacutetulos publicados na mesma eacutepoca

Muitas das revistas possuiacuteam relatos de ex-combatentes e explicaccedilotildees de como funcionavam os diferentes tanques de guerra armas e aviotildees utilizados na [ Guerra Mundial

Os quadrinhos eram consumidos principalmente pelo puacuteblico jovem o que pode ser constatado por meio da anaacutelise da bibliografia especializada e da publicidade presente nas revistas que anunciava produtos de modelagem fiacutesica academias de halterofilismo cursos por correspondecircncia editoras populares com cataacutelogos de introduccedilatildeo a ofiacutecios teacutecnicos tiacutetulos de cunho eroacutetico e de educaccedilatildeo sexual traveacutes dessas informaccedilotildees foi possiacutevel traccedilar um esboccedilo do perfil do consumidor destas revistas de guerra ou sej a um puacuteblico predominantemente masculino na faixa etaacuteria que compreende a adolescecircncia ateacute os primeiros anos da vida adulta

Sobre a questatildeo socioeconocircmica pode-se inferir pelo tipo de orientaccedilatildeo profissional desses anuacutencios pelo preccedilo das revistas pela sua linguagem popular que seus leitores eram das classes populares e que seu grau mLximo de instruccedilatildeo era predominantemente de niacutevel secundaacuterio

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Tendo elll vista que 1 Coleccedilatildeo de Aventuras er~ a uacutenica revista voltada para a ljuadrillizl()o da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial priorizaremos neste trabalho sua anaacutelise

Coleccedilacirco de Aventuras foi a primeira revista do Brasil a publicar na forma eminentemente popular dLs histoacuterias em quadrinhos narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial Tais histoacuterias narravam os feitos heroacuteicos dos expedicionaacuterios emomentos dramaacuteticos vividos econtados pelos proacuteprios combatentes ou haseados em noticiaacuterios da eacutepoca

Odiretor da revista Coleccedilacirco de Aventuras Ilo Iloy Lund afirmava que o ohjetivo de SlJaS hist6riLi em quadrinhos era de divulgar e ellaltecer os feitos dos soldados ImLsileiros publicando suas aventuras veriacutedicas devidamente comprovadas e autenticadas As coleccedilotildees procuravam

sempre mostrar aos olhos ele todos a bravura a fibra e () heroiacutesmo ele que nossos pracinhas deram Illostras nos campos de batalha da Europa durante a 11 Segunda Guerra Mundial Fica assim registrado () o nosso propoacutesito sincero de tornar Coleccedilatildeo deAventuras a maior revista do Brasil e ao mesmo tempo um veiacuteculo ele congraccedilamento de todos os nosso expedicionaacuterios sob um criteacuterio jornaliacutestico de justiccedila e patriotismo(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano l n 1 1957 p 3)

Nas suas ediccedilotildees o diretor Lund pedia aos ex-expedicionaacuterios que colahorassem com a revista enviando fotos e dados referentes a FEB desde que tais dados e fotos fossem devidamente comprovados

Naturalmente apareciam diferenccedilas entre as narrativas de combatentes e correspondentes de gllClTa e SlWS transposiccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos mas tais falha eram jllstificad~L pelos editores pelas dificuldades ele obtenccedilagraveo ele lmteacuterialt pela comprovaccedilagraveo da mesma por problemas atinentes aquaelrinizaccedilatildeo eiluminaccedilatildeo das histoacuterias aleacutem de erros referentes agrave natureza graacutefica

Assim a revista em quadrinhos Coleccedilatildeo de Aventuras pretendia ser uma obra completa sobre a histoacuteria da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra MundiaL Em suas ediccedilotildees a quadrinizaccedilatildeo das histoacuterias da guerra era precedida com texto contando a histoacuteria do combatente que seria transposta para o quadrinho com as devidas citaccedilotildees Apesar de as revistas natildeo terem qualquer ligaccedilatildeo com as forccedilas armadas quem coordenava assuntos referentes agraves histoacuterias

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I da participaccedilagraveo brasileira na guerra era o Capitatildeo iclZio sob colaboraccedilatildeo do excolllbatentc Paulo Vidal autor do livro lleoacutel tqueacuteCldos obra que trazia relatos das accedilotildees de expedicionaacuterios tombados na guerra(VIDAL 1960) Vaacuterios trechos deste livro foram transcritos nas ediccedilotildees Muitas reportagens tambeacutem tinham como fonte o jornal Trihuna da Imprensa que eram ceclidas para a revista em quadrinhos Odiretor de redaccedilatildeo era Seacutergio D T vlacedo e muitos dos desenhos foram feitos por Otto Brandes e Flavio Colin Aleacutem dessas fontes os roteiros quadrinizados ocasionalmente citavam como base citaccedilotildees oficiais de combate e relatos de diversos oficiais praccedilas e conhecedores ela guerra que colaboravam com artigos informaccedilotildees e fotografias bem corno sugestotildees e comentaacuterios de leitores que eram enviadas por correspondecircncia Oproacuteprio comandante da FEB Marechal lascarenhas de Moraes enviou carta para a revista cumprimentando sua direccedilatildeo por ter encontraclon histoacuteria militar do Brasil particularmente na Forccedila Expeclicionaacuteria Brasilciw assunto de permanente natildeo soacute para os jovens como para o puacuteblico em geral(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I n 12 1958 p03)

Apreocupaccedilatildeo com a veracidade dos fatos era constante na revista atraveacutes de reproduccedilotildees de Citaccedilotildees de Comhates Diaacuterio de Operaccedilotildees dos Batalhotildees Citaccedilatildeo oficial do Comando da FEB e Boletins Especiais do Eyeacutercito entre outros materiais histoacutericos

Entre as ediccedilotildees pesquisadas podemos observar trecircs citaccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos referentes a fatos histoacutericos relacionados com a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Jlundial a tomada do lonte Castelo no dia 21 de fevereiro de 194s cujo tiacutetulo da histoacuteria em quadrinhos eacuteij epopeacuteia do Monte Castelo a batalha de Montese intituladaA mais sangrenta batalba da FEB Monlese e sobre o naufrftgio dos navios brasileiros a Coleccedilatildeo Aventuras possui duas histoacuterias () naufracircgio da Corveta Camaquatilde a mil ias torpedeados Tais momentos histoacutericos quadrinizados eram precedidos por textos que narravam os acontecimentos fatiacutedicos em forma de artigo

Podemos perceber uma constante exaltaccedilatildeo dos combates como por exemplo no texto A epopeacuteia de Monte Castelo que precede os quadrinhos referentes agrave conquista do TI10nte Castelo

Monte Castelo Uma epopeacuteia Centenas de vidas sacrificadas dor laacutegrimas

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sacrifiacutecios muita luta muita coragem muito desprendimento e abnegaccedilatildeo Montl Catelo l Demonstraccedilatildeo de grande valor e coragem do soldado brasileiro GllIacuteria aos que ficaram aos que voitarull -- toda essa mocidade vibrante e

nronil agrave qual o Brasll tanto deve e tatildeo pouco lembra agrave qual a Humlllidade e a

Democracia tanto ficaram devendo Talvez que sem a atuaccedilatildeo do 1D Grupo de Caccedila muitas outras cen~enas de vidas tivesseIll sido sacrificadas e a tomada elo VIorro Maldito natildeo houvesse sido realizada tatildeo rapidamente Por isso mesmo no dos pracinhas ficou uma gratidatildeo imensa pelos

rapazes da FORCcedilAEacuteRL os valorosos rapazes que [ltlO bem manejaram SETA AIUacuteA e num momento oportuno Em 21 de fevereiro de 1944 dia esplecircndido dia soberbo dia magniacutefico em que foi dominado o MONTE CASTELO que foi um dos maiores sorvedouros de vidas BRASILEIRAS na UacuteLTIMA GtERRA(Coleccedilatildeo de Aventuras sn 1957 p5) (maiuacutescula no origillJl)

Em termos narrativos natildeo havia muitas sutilezas Seguindo a caractelizaccedilatildeo baacutesica deste tipo de veiacuteculo de comunicaccedilatildeo de massa(VERGUEIRO 1998 p1-2) podem ser encontrados nas histoacuterias analisadas vaacuterios exemplos de pasteurizaccedilatildeo dos conteuacutedos de desprezo agraves individualidades sociais assim como o uso frequumlente de estereoacutetipos sociais enacionais Alematildees por exemplo eLun comumente retratados como nazistas convictos homens crueacuteis combatendo e gritando entre UIlla rajada eoutrade metralhadoraBeilHilferl Soldados brasileiros em contrapartida apareciam como bondosos para com os civis criativos e espertos nas manobras individuais para safarem-se de balas e granadagt inimigas Agraverigidez do combatente alematildeo era oposto o jogo de cintura do combatente brasileiro Agraves vezes os inimigos eram retratados de maneira c()]luumlca com os balotildees de pensunento evocando saudade da cerveja e do salsicluumlo Ji os balotildees que expressaram os devaneios dos bmsileiros lembravam do o luar do seuroltatildeo das praias exuberantes das namoradas matildefs e noivas num esf()rccedilo de humanizaccedilatildeo do eu e de depreciaccedilatildeo do outro

Este tipo de histoacuteria natildeo sofria criacutetica dos leitores de Coleccedilatildeo deAvenfuras na amostragem consultada na seccedilatildeo de carta dos leitores natildeo se registra uma uacutenica criacutetica a este tipo ele postura narrativa leacutem desta havia outra seccedilatildeo chamada Cluh dos nas quais eram responclidas as curiosidades destes

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em relaccedilatildeo agrave FAB e agrave FEB sobre detalhes referentes a armas e municcedilotildees taacuteticas de guerra empregadas durante as batalhas pelos brasileiros etc

Arevista tambeacutem tinha o papel de se preocupar com o estado dos exshycombatentes no poacutes-guerra Algumas histoacuterias questionavam-se sobre o paradeiro dos ex-combatentes e se eles estavam amparados pelos poderes puacuteblicos Outras quando terminavam informavam a trajetoacuteria do poacutes-guerra dos personagens principais

As histoacuterias presentes nos quadrinhos natildeo eram exclusivamente para os combates das Forccedilas Brasileiras havia tambeacutem histoacuterias de batalhas dos norteshyamericanos ou outras histoacuterias de confrontos entre os Aliados e o Eixo NOffilalmente tais histoacuterias eram importadas do Estados Unidos e adaptadas e traduzidas para oportuguecircs Muitas delas eram tidas como reais mas amaioria era fictiacutecia Nestas revistas claramente havia uma exaltaccedilatildeo dos norteshyamericanos classificando-os como heroacuteis e invenciacuteveis Mas apartir do nuacutemero treze devido ao grande sucesso da revista as histoacuterias passaram a ser exclusivamente dedicadas aos feitos heroacuteicos dos pracinhas sendo inteiramente nacional com desenhos e histoacuterias brasileiras

Entre os heroacuteis de guerra separamos um que eacute exemplar do tipo de abordagem realizada pelas revistas Trata-se do sargento Max Wolff Filho que foi citado com frequumlecircncia na Coleccedilatildeo de Aventuras Ele foi dos maiores heroacuteis de guerra brasileiros e a cena dramaacutetica de sua morte foi relatada com detalhes em ceacutelebre reportagem do correspondente de guerra Joel Silveira(SILVElRA 1945) Em uma das ediccedilotildees eacute relatado que Wolff

teve seu batismo de fogo no ataque aMontese Desde oinicio da accedilatildeo oseu iacutempeto o seu entusiasmo asua agressividade foram por todos reconhecidos Suacapacidade de comando agravefrente de patrulhas foi um dos fatores incontestes da excelente atuaccedilatildeo de seus comandados Max Wolff foi morto por uma rajada de metralhadora geffi1ana e ganhou post mortem a mais alta condecoraccedilatildeo americana de guerra concedida a estrangeiros a Silver Star (Coleccedilatildeo de Aventuras 1957 p22-23)

Um dado relevante eacuteque embora ocasionalmente sej am feitas referecircncias aos oficiais comandantes das unidades combatentes as narrativas quadrinizadas poucas vezes fazem referecircncias aos oficiais-superiores Atendecircncia observada

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na amostragem eacute a de valorizar preferencialmente os praccedilas soldados anocircnimos que efetivamente arriscaram suas vidas em combate Por vezes oficiais comandantes aparecem nas narrativas ordenando missotildees difiacuteceis de serem cumpridas ou mesmo temerariamente arriscadas

Haacute inclusive uma narrativa extraiacuteda do polecircmico livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB em que a proacutepria imagem do Comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes eacutequestionada em histoacuteria conhecida como Oepisoacutedio das facas Tratava-se de uma substituiccedilatildeo de batalhotildees na frente de combate de uma unidade norte-americana que estava exaurida por um batalhatildeo brasileiro Entretanto obatalhatildeo da FEB indicado para substituir os norte-americanos havia acabado de voltar de um combate renhido com baixas que natildeo haviam sido repostas com desfalque de armas e municcedilotildees O relato do livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB narra que os oficiais subalternos (tenentes e capitatildees aqueles que arriscavam a vida junto com os praccedilas na frente de combate) tentavam argumentar a inconveniecircncia da substituiccedilatildeo ao que foram silenciados asperamente por Mascarenhas de Moraes que chamou-os de covardes e ameaccedilou ir pessoalmente comandar o batalhatildeo em substituiccedilatildeo Quando lhe foi argumentado que faltavam armas e municcedilotildees Mascarenhas teria respondido Os senhores natildeo tem facas Cada soldado natildeo recebeu uma faca Amuniccedilatildeo iraacute depois De qualquer forma o batalhatildeo subiraacute hoje Contrariados os membros do batalhatildeo tentaram substituir os norte-americanos que ao notarem a precariedade do batalhatildeo substituto se recusaram a deixar seus postos Aconsequumlecircncia de tal confusatildeo foi uma grande movimentaccedilatildeo de homens notada pelos alematildees que trataram de concentrar sua artilharia no local com saldo de baixas perfeitamente evitaacuteveis (ARRUDA et aW 1949 p72-75)

Essa narrativa foi adaptada para os quadrinhos e estes enfatizaram a diferenccedila entre os oficiais superiores protegidos em seus quarteacuteis-generais longe dos combates encarniccedilados e os tenentes que satildeo os uacutenicos chefes que vivem integralmente a vida dos pracinhas que eacute sobre eles afinal que repousa a sorte dos planos de batalha Os recursos visuais dos quadrinhos ressaltam essas diferenccedilas mostrando os soldados com semblantes cansados sujos com a barba por fazer capacetes desafivelados enquanto os oficiais

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superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

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I

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

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I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

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Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

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Figura 01

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Figura 02

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Page 3: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

esteacutetica dos comics - expressatildeo em inglecircs que se tornou universal para definir as histoacuterias em quadrinhos (CIRNE 1977 GUBERl 1991 LUITEN 1985

1970) O balatildeo urna das principais caracteriacutesticas criativas dos quadrinhos

possui formato ligeiramente circular ou retangular tendo por finalidade expressar em seu interior diaacutelogos ideacuteias pensamentos ou ruiacutedos Assim como a onomatopeacuteia o balatildeo representa uma instigante visualizaccedilatildeo espacial do som(CIRNE 1977 p2iiacute EISNER 1999 p10-12)

Nos quadrinhos sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra iIundial predomina-se o uso do balatildeo de uma maneira soacutebria Podem ser destacadas quatro principais espeacutecies de balotildees nos quadrinhos em estudo a primeira espeacutecie de balatildeo possui como caracteriacutestica ser retangular e estarem enquadrados na parte superior do Iequadro (nome utilizado para se referir agrave moldura que contorna os objetos e as accedilotildees presentes no quadrinho) sua principal funccedilatildeo consiste em narrar os fatos histoacutericos dos soldados em combate SWS accedilotildees e caracteriacutesticas heroacuteicas visando proporcionar ernoccedilagraveo e situar historicamente o leitor na histoacuteria Muito desses balotildees estavam entre aspas pois seus conteuacutedos eram tirados de fontes histoacutericas As outras trecircs espeacutecies de balotildees eram o de fala o mais tradicional cujo conteuacutedo eacute a conversa entre os personagens o balatildeo de pensamento em que estaacute presente o que se passa pela cJbeccedila do pracinha e por fim o balatildeo ollomatopaico que contorna os ruiacutedos expressos nos quadrinhos(EISNER 1999 p44-45)

Segundo Moacy Cime uma boa onomatopeacuteia ( ) estaacute para a quadrinha assim como um ruiacutedo (bem utilizado) estaacuteparaocinema Responsaacutevel pordar uma verdadeira dimensatildeo esteacutetico-imormacional aa quadrinha as onomatopeacuteias como MMHI

ROOM POOW RATATA-TA BRATATA-TA KIANKKIANKKLNAK CHHRUUM WHCXlSH e~Tlressando sons de gritCXi cxplaiiacutees metralhadoms tmques de guerra lanccedilamento de cUlhotildees representam uma constante em qualquer histoacuteIias de quadIinha sobre guerra 110 qual seUi ruiacuteda relacionada de mooo conflitante coma a imagem proporcionam uma alta temperatura compaitiva principalmente na quadrinho em estudo (CIRNE 1977 p33-34)

Aforccedila de uma hist6ria em quadrinhos natildeo acontece pela magia formal de um plano isolado que natildeo esteja inserido no seu contexto natildeo se limita a um quadro bem descnl1Jdo cujo plano seja capaz de revelar Ulll perfeito

HrSTuacutelltLI amp ENsrNo Londrina v13 p141-156 set2007 143

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enquadramento t necessaacuterio que haja uma dinacircmica estrutural entre todos os quadros criando movimento e accedil~o formais Portanto para que os quadrinhos atinja sua escsfa eacute indispensaacutevel uma relaccedilatildeo criacuteticamiddot entre o plano bem desenhado amp enquaelrado(CIRNE 1977 p 35 E1SNER 1999 p46-50 GASCA amp GUBERN 1991 p17-31 p588-605)

As histoacuterias em ljuadrinhos sobre a Ir Guerra lundial enfrentavam o desafio ele C]uldrinizar fatos reais nas quais a correlaccedilatildeo entre a criaccedilatildeo de movimentos e as accedilotildees formais representam muito bem o ritmo visual a sequumlencia coerente ela histoacuteria Eacutepossiacutevel ao primeiro olhal~ obter uma visatildeo global ela paacutegina verificando-se a funcionalidaele ele seus cories e as elireccedilotildees de leitura elementos que segundo Cirne satildeo indispensaacuteveis para um coerente ritmo visual elo comic(FIGURA 1)

Em uma anaacutelise do ponto de vista formal concluiacutemos que as histoacuterias em quadrinhos de guerra possuem os elementos essenciais presentes em quadrinhos traelicionais ou seja a narraccedilatildeo em sequumlecircncias de imagens a continuidade dos personagens de uma sequumlecircncia a outra e o diaacutelogo incluso atraveacutes dos balotildees nas imagens aleacutem elo recurso da onomatopeacuteia

Quadrinhos de guerra e as memoacuterias da participaccedilatildeo brasileira no conflito

No Brasil entre as deacutecadas de 1950 c 1970 os quadrinhos genuinamente nacionais sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial circularam nas bancas em toelo paiacutes com tiragens meacutedias de 30 a 40 mil exemplares Em meio agraves tradicionais histoacuterias ele guerra importadas e traduzidas dos Estaelos Unidos vaacuterios episoacutedios reais ou fictiacutecios envolviam os soldaelos ela Forccedila Expedicionaacuteria Brasileira Atiragem e a venda ele tais ediccedilotildees superavam largamente aquelas dos livros e representavam em muitos casos um dos poucos contatos que o puacuteblico jovem tinha com a histoacuteria da FEB e da participaccedilatildeo brasileira na Il Guerra Munelial

Os quadrinhos brasileiros ele guerra narravam histoacuterias ela FEB e ela FAB ilustrando as atuaccedilotildees heroacuteicas e os momentos difiacuteceis enfrentados pelos expedicionaacuterios brasileiros Sua anaacutelise pode ser divielida em duas formas as que narravam histoacuterias reais sobre a Elli e a FEB e as que contavam histoacuterias fictiacutecias sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial

IlISTOacuteRIA amp ENSIlIl Londrina V13 p141-15h set2007

Para esta pesquisa foi constituiacuteda uma amostra das coleccedilotildees das revistas em quadrinhos de guerra entre as deacutecadas de 1950 e 1970 sendo analisadas dezenove ediccedilotildees com mais de 100 narrativas que tinham como terna a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial

As revistas que misturavam histoacuteria reais com narrativas fictiacutecia sobre a participaccedilatildeo da FAB e da FEE eram Diaacuterio de Guerra) Pelotatildeo Suicida e Combate e ~L~ que enfatizavam narrar histoacuterias reais da guerra eram aColeccedilacirco de Azenums e a Serviccedilo Secreto sendo que esta uacuteltima natildeo tinha como foco principal a guerra Illas en tre suas ediccedilotildees podiam ser encontradas histoacuterias veriacutedicas quadrin iiadas sobre a participaccedilatildeo brLileira

Uma das maiores dificuldades foi estabelecer as datas de publicaccedilatildeo pois os dados sobre Inecircs e ano de ediccedilatildeo muitas vezes natildeo eram apresentados seja nas paacuteginas internas seja nas capas e contra-capas De mesma fOlwa informaccedilotildees importantes como o autor dos roteiros das histoacuterias ou seu ilustrador eram frequumlentemente omitidos Aproximaccedilotildees das datas de ediccedilotildees eram poreacutem possiacuteveis quando se cmzavam inforlllaccedilotildees na bibliografia especializada ou se atentava para as unidades monetaacuterias (cruzeiro cmzeiro novo) e os preccedilos das revistas em comparaccedilatildeo com outros tiacutetulos publicados na mesma eacutepoca

Muitas das revistas possuiacuteam relatos de ex-combatentes e explicaccedilotildees de como funcionavam os diferentes tanques de guerra armas e aviotildees utilizados na [ Guerra Mundial

Os quadrinhos eram consumidos principalmente pelo puacuteblico jovem o que pode ser constatado por meio da anaacutelise da bibliografia especializada e da publicidade presente nas revistas que anunciava produtos de modelagem fiacutesica academias de halterofilismo cursos por correspondecircncia editoras populares com cataacutelogos de introduccedilatildeo a ofiacutecios teacutecnicos tiacutetulos de cunho eroacutetico e de educaccedilatildeo sexual traveacutes dessas informaccedilotildees foi possiacutevel traccedilar um esboccedilo do perfil do consumidor destas revistas de guerra ou sej a um puacuteblico predominantemente masculino na faixa etaacuteria que compreende a adolescecircncia ateacute os primeiros anos da vida adulta

Sobre a questatildeo socioeconocircmica pode-se inferir pelo tipo de orientaccedilatildeo profissional desses anuacutencios pelo preccedilo das revistas pela sua linguagem popular que seus leitores eram das classes populares e que seu grau mLximo de instruccedilatildeo era predominantemente de niacutevel secundaacuterio

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Tendo elll vista que 1 Coleccedilatildeo de Aventuras er~ a uacutenica revista voltada para a ljuadrillizl()o da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial priorizaremos neste trabalho sua anaacutelise

Coleccedilacirco de Aventuras foi a primeira revista do Brasil a publicar na forma eminentemente popular dLs histoacuterias em quadrinhos narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial Tais histoacuterias narravam os feitos heroacuteicos dos expedicionaacuterios emomentos dramaacuteticos vividos econtados pelos proacuteprios combatentes ou haseados em noticiaacuterios da eacutepoca

Odiretor da revista Coleccedilacirco de Aventuras Ilo Iloy Lund afirmava que o ohjetivo de SlJaS hist6riLi em quadrinhos era de divulgar e ellaltecer os feitos dos soldados ImLsileiros publicando suas aventuras veriacutedicas devidamente comprovadas e autenticadas As coleccedilotildees procuravam

sempre mostrar aos olhos ele todos a bravura a fibra e () heroiacutesmo ele que nossos pracinhas deram Illostras nos campos de batalha da Europa durante a 11 Segunda Guerra Mundial Fica assim registrado () o nosso propoacutesito sincero de tornar Coleccedilatildeo deAventuras a maior revista do Brasil e ao mesmo tempo um veiacuteculo ele congraccedilamento de todos os nosso expedicionaacuterios sob um criteacuterio jornaliacutestico de justiccedila e patriotismo(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano l n 1 1957 p 3)

Nas suas ediccedilotildees o diretor Lund pedia aos ex-expedicionaacuterios que colahorassem com a revista enviando fotos e dados referentes a FEB desde que tais dados e fotos fossem devidamente comprovados

Naturalmente apareciam diferenccedilas entre as narrativas de combatentes e correspondentes de gllClTa e SlWS transposiccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos mas tais falha eram jllstificad~L pelos editores pelas dificuldades ele obtenccedilagraveo ele lmteacuterialt pela comprovaccedilagraveo da mesma por problemas atinentes aquaelrinizaccedilatildeo eiluminaccedilatildeo das histoacuterias aleacutem de erros referentes agrave natureza graacutefica

Assim a revista em quadrinhos Coleccedilatildeo de Aventuras pretendia ser uma obra completa sobre a histoacuteria da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra MundiaL Em suas ediccedilotildees a quadrinizaccedilatildeo das histoacuterias da guerra era precedida com texto contando a histoacuteria do combatente que seria transposta para o quadrinho com as devidas citaccedilotildees Apesar de as revistas natildeo terem qualquer ligaccedilatildeo com as forccedilas armadas quem coordenava assuntos referentes agraves histoacuterias

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I da participaccedilagraveo brasileira na guerra era o Capitatildeo iclZio sob colaboraccedilatildeo do excolllbatentc Paulo Vidal autor do livro lleoacutel tqueacuteCldos obra que trazia relatos das accedilotildees de expedicionaacuterios tombados na guerra(VIDAL 1960) Vaacuterios trechos deste livro foram transcritos nas ediccedilotildees Muitas reportagens tambeacutem tinham como fonte o jornal Trihuna da Imprensa que eram ceclidas para a revista em quadrinhos Odiretor de redaccedilatildeo era Seacutergio D T vlacedo e muitos dos desenhos foram feitos por Otto Brandes e Flavio Colin Aleacutem dessas fontes os roteiros quadrinizados ocasionalmente citavam como base citaccedilotildees oficiais de combate e relatos de diversos oficiais praccedilas e conhecedores ela guerra que colaboravam com artigos informaccedilotildees e fotografias bem corno sugestotildees e comentaacuterios de leitores que eram enviadas por correspondecircncia Oproacuteprio comandante da FEB Marechal lascarenhas de Moraes enviou carta para a revista cumprimentando sua direccedilatildeo por ter encontraclon histoacuteria militar do Brasil particularmente na Forccedila Expeclicionaacuteria Brasilciw assunto de permanente natildeo soacute para os jovens como para o puacuteblico em geral(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I n 12 1958 p03)

Apreocupaccedilatildeo com a veracidade dos fatos era constante na revista atraveacutes de reproduccedilotildees de Citaccedilotildees de Comhates Diaacuterio de Operaccedilotildees dos Batalhotildees Citaccedilatildeo oficial do Comando da FEB e Boletins Especiais do Eyeacutercito entre outros materiais histoacutericos

Entre as ediccedilotildees pesquisadas podemos observar trecircs citaccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos referentes a fatos histoacutericos relacionados com a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Jlundial a tomada do lonte Castelo no dia 21 de fevereiro de 194s cujo tiacutetulo da histoacuteria em quadrinhos eacuteij epopeacuteia do Monte Castelo a batalha de Montese intituladaA mais sangrenta batalba da FEB Monlese e sobre o naufrftgio dos navios brasileiros a Coleccedilatildeo Aventuras possui duas histoacuterias () naufracircgio da Corveta Camaquatilde a mil ias torpedeados Tais momentos histoacutericos quadrinizados eram precedidos por textos que narravam os acontecimentos fatiacutedicos em forma de artigo

Podemos perceber uma constante exaltaccedilatildeo dos combates como por exemplo no texto A epopeacuteia de Monte Castelo que precede os quadrinhos referentes agrave conquista do TI10nte Castelo

Monte Castelo Uma epopeacuteia Centenas de vidas sacrificadas dor laacutegrimas

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sacrifiacutecios muita luta muita coragem muito desprendimento e abnegaccedilatildeo Montl Catelo l Demonstraccedilatildeo de grande valor e coragem do soldado brasileiro GllIacuteria aos que ficaram aos que voitarull -- toda essa mocidade vibrante e

nronil agrave qual o Brasll tanto deve e tatildeo pouco lembra agrave qual a Humlllidade e a

Democracia tanto ficaram devendo Talvez que sem a atuaccedilatildeo do 1D Grupo de Caccedila muitas outras cen~enas de vidas tivesseIll sido sacrificadas e a tomada elo VIorro Maldito natildeo houvesse sido realizada tatildeo rapidamente Por isso mesmo no dos pracinhas ficou uma gratidatildeo imensa pelos

rapazes da FORCcedilAEacuteRL os valorosos rapazes que [ltlO bem manejaram SETA AIUacuteA e num momento oportuno Em 21 de fevereiro de 1944 dia esplecircndido dia soberbo dia magniacutefico em que foi dominado o MONTE CASTELO que foi um dos maiores sorvedouros de vidas BRASILEIRAS na UacuteLTIMA GtERRA(Coleccedilatildeo de Aventuras sn 1957 p5) (maiuacutescula no origillJl)

Em termos narrativos natildeo havia muitas sutilezas Seguindo a caractelizaccedilatildeo baacutesica deste tipo de veiacuteculo de comunicaccedilatildeo de massa(VERGUEIRO 1998 p1-2) podem ser encontrados nas histoacuterias analisadas vaacuterios exemplos de pasteurizaccedilatildeo dos conteuacutedos de desprezo agraves individualidades sociais assim como o uso frequumlente de estereoacutetipos sociais enacionais Alematildees por exemplo eLun comumente retratados como nazistas convictos homens crueacuteis combatendo e gritando entre UIlla rajada eoutrade metralhadoraBeilHilferl Soldados brasileiros em contrapartida apareciam como bondosos para com os civis criativos e espertos nas manobras individuais para safarem-se de balas e granadagt inimigas Agraverigidez do combatente alematildeo era oposto o jogo de cintura do combatente brasileiro Agraves vezes os inimigos eram retratados de maneira c()]luumlca com os balotildees de pensunento evocando saudade da cerveja e do salsicluumlo Ji os balotildees que expressaram os devaneios dos bmsileiros lembravam do o luar do seuroltatildeo das praias exuberantes das namoradas matildefs e noivas num esf()rccedilo de humanizaccedilatildeo do eu e de depreciaccedilatildeo do outro

Este tipo de histoacuteria natildeo sofria criacutetica dos leitores de Coleccedilatildeo deAvenfuras na amostragem consultada na seccedilatildeo de carta dos leitores natildeo se registra uma uacutenica criacutetica a este tipo ele postura narrativa leacutem desta havia outra seccedilatildeo chamada Cluh dos nas quais eram responclidas as curiosidades destes

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em relaccedilatildeo agrave FAB e agrave FEB sobre detalhes referentes a armas e municcedilotildees taacuteticas de guerra empregadas durante as batalhas pelos brasileiros etc

Arevista tambeacutem tinha o papel de se preocupar com o estado dos exshycombatentes no poacutes-guerra Algumas histoacuterias questionavam-se sobre o paradeiro dos ex-combatentes e se eles estavam amparados pelos poderes puacuteblicos Outras quando terminavam informavam a trajetoacuteria do poacutes-guerra dos personagens principais

As histoacuterias presentes nos quadrinhos natildeo eram exclusivamente para os combates das Forccedilas Brasileiras havia tambeacutem histoacuterias de batalhas dos norteshyamericanos ou outras histoacuterias de confrontos entre os Aliados e o Eixo NOffilalmente tais histoacuterias eram importadas do Estados Unidos e adaptadas e traduzidas para oportuguecircs Muitas delas eram tidas como reais mas amaioria era fictiacutecia Nestas revistas claramente havia uma exaltaccedilatildeo dos norteshyamericanos classificando-os como heroacuteis e invenciacuteveis Mas apartir do nuacutemero treze devido ao grande sucesso da revista as histoacuterias passaram a ser exclusivamente dedicadas aos feitos heroacuteicos dos pracinhas sendo inteiramente nacional com desenhos e histoacuterias brasileiras

Entre os heroacuteis de guerra separamos um que eacute exemplar do tipo de abordagem realizada pelas revistas Trata-se do sargento Max Wolff Filho que foi citado com frequumlecircncia na Coleccedilatildeo de Aventuras Ele foi dos maiores heroacuteis de guerra brasileiros e a cena dramaacutetica de sua morte foi relatada com detalhes em ceacutelebre reportagem do correspondente de guerra Joel Silveira(SILVElRA 1945) Em uma das ediccedilotildees eacute relatado que Wolff

teve seu batismo de fogo no ataque aMontese Desde oinicio da accedilatildeo oseu iacutempeto o seu entusiasmo asua agressividade foram por todos reconhecidos Suacapacidade de comando agravefrente de patrulhas foi um dos fatores incontestes da excelente atuaccedilatildeo de seus comandados Max Wolff foi morto por uma rajada de metralhadora geffi1ana e ganhou post mortem a mais alta condecoraccedilatildeo americana de guerra concedida a estrangeiros a Silver Star (Coleccedilatildeo de Aventuras 1957 p22-23)

Um dado relevante eacuteque embora ocasionalmente sej am feitas referecircncias aos oficiais comandantes das unidades combatentes as narrativas quadrinizadas poucas vezes fazem referecircncias aos oficiais-superiores Atendecircncia observada

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na amostragem eacute a de valorizar preferencialmente os praccedilas soldados anocircnimos que efetivamente arriscaram suas vidas em combate Por vezes oficiais comandantes aparecem nas narrativas ordenando missotildees difiacuteceis de serem cumpridas ou mesmo temerariamente arriscadas

Haacute inclusive uma narrativa extraiacuteda do polecircmico livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB em que a proacutepria imagem do Comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes eacutequestionada em histoacuteria conhecida como Oepisoacutedio das facas Tratava-se de uma substituiccedilatildeo de batalhotildees na frente de combate de uma unidade norte-americana que estava exaurida por um batalhatildeo brasileiro Entretanto obatalhatildeo da FEB indicado para substituir os norte-americanos havia acabado de voltar de um combate renhido com baixas que natildeo haviam sido repostas com desfalque de armas e municcedilotildees O relato do livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB narra que os oficiais subalternos (tenentes e capitatildees aqueles que arriscavam a vida junto com os praccedilas na frente de combate) tentavam argumentar a inconveniecircncia da substituiccedilatildeo ao que foram silenciados asperamente por Mascarenhas de Moraes que chamou-os de covardes e ameaccedilou ir pessoalmente comandar o batalhatildeo em substituiccedilatildeo Quando lhe foi argumentado que faltavam armas e municcedilotildees Mascarenhas teria respondido Os senhores natildeo tem facas Cada soldado natildeo recebeu uma faca Amuniccedilatildeo iraacute depois De qualquer forma o batalhatildeo subiraacute hoje Contrariados os membros do batalhatildeo tentaram substituir os norte-americanos que ao notarem a precariedade do batalhatildeo substituto se recusaram a deixar seus postos Aconsequumlecircncia de tal confusatildeo foi uma grande movimentaccedilatildeo de homens notada pelos alematildees que trataram de concentrar sua artilharia no local com saldo de baixas perfeitamente evitaacuteveis (ARRUDA et aW 1949 p72-75)

Essa narrativa foi adaptada para os quadrinhos e estes enfatizaram a diferenccedila entre os oficiais superiores protegidos em seus quarteacuteis-generais longe dos combates encarniccedilados e os tenentes que satildeo os uacutenicos chefes que vivem integralmente a vida dos pracinhas que eacute sobre eles afinal que repousa a sorte dos planos de batalha Os recursos visuais dos quadrinhos ressaltam essas diferenccedilas mostrando os soldados com semblantes cansados sujos com a barba por fazer capacetes desafivelados enquanto os oficiais

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superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

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I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

HIST(lIA amp ENSINO londrina v13 pl41-156 set2007

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Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

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HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

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Page 4: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

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enquadramento t necessaacuterio que haja uma dinacircmica estrutural entre todos os quadros criando movimento e accedil~o formais Portanto para que os quadrinhos atinja sua escsfa eacute indispensaacutevel uma relaccedilatildeo criacuteticamiddot entre o plano bem desenhado amp enquaelrado(CIRNE 1977 p 35 E1SNER 1999 p46-50 GASCA amp GUBERN 1991 p17-31 p588-605)

As histoacuterias em ljuadrinhos sobre a Ir Guerra lundial enfrentavam o desafio ele C]uldrinizar fatos reais nas quais a correlaccedilatildeo entre a criaccedilatildeo de movimentos e as accedilotildees formais representam muito bem o ritmo visual a sequumlencia coerente ela histoacuteria Eacutepossiacutevel ao primeiro olhal~ obter uma visatildeo global ela paacutegina verificando-se a funcionalidaele ele seus cories e as elireccedilotildees de leitura elementos que segundo Cirne satildeo indispensaacuteveis para um coerente ritmo visual elo comic(FIGURA 1)

Em uma anaacutelise do ponto de vista formal concluiacutemos que as histoacuterias em quadrinhos de guerra possuem os elementos essenciais presentes em quadrinhos traelicionais ou seja a narraccedilatildeo em sequumlecircncias de imagens a continuidade dos personagens de uma sequumlecircncia a outra e o diaacutelogo incluso atraveacutes dos balotildees nas imagens aleacutem elo recurso da onomatopeacuteia

Quadrinhos de guerra e as memoacuterias da participaccedilatildeo brasileira no conflito

No Brasil entre as deacutecadas de 1950 c 1970 os quadrinhos genuinamente nacionais sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial circularam nas bancas em toelo paiacutes com tiragens meacutedias de 30 a 40 mil exemplares Em meio agraves tradicionais histoacuterias ele guerra importadas e traduzidas dos Estaelos Unidos vaacuterios episoacutedios reais ou fictiacutecios envolviam os soldaelos ela Forccedila Expedicionaacuteria Brasileira Atiragem e a venda ele tais ediccedilotildees superavam largamente aquelas dos livros e representavam em muitos casos um dos poucos contatos que o puacuteblico jovem tinha com a histoacuteria da FEB e da participaccedilatildeo brasileira na Il Guerra Munelial

Os quadrinhos brasileiros ele guerra narravam histoacuterias ela FEB e ela FAB ilustrando as atuaccedilotildees heroacuteicas e os momentos difiacuteceis enfrentados pelos expedicionaacuterios brasileiros Sua anaacutelise pode ser divielida em duas formas as que narravam histoacuterias reais sobre a Elli e a FEB e as que contavam histoacuterias fictiacutecias sobre a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial

IlISTOacuteRIA amp ENSIlIl Londrina V13 p141-15h set2007

Para esta pesquisa foi constituiacuteda uma amostra das coleccedilotildees das revistas em quadrinhos de guerra entre as deacutecadas de 1950 e 1970 sendo analisadas dezenove ediccedilotildees com mais de 100 narrativas que tinham como terna a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial

As revistas que misturavam histoacuteria reais com narrativas fictiacutecia sobre a participaccedilatildeo da FAB e da FEE eram Diaacuterio de Guerra) Pelotatildeo Suicida e Combate e ~L~ que enfatizavam narrar histoacuterias reais da guerra eram aColeccedilacirco de Azenums e a Serviccedilo Secreto sendo que esta uacuteltima natildeo tinha como foco principal a guerra Illas en tre suas ediccedilotildees podiam ser encontradas histoacuterias veriacutedicas quadrin iiadas sobre a participaccedilatildeo brLileira

Uma das maiores dificuldades foi estabelecer as datas de publicaccedilatildeo pois os dados sobre Inecircs e ano de ediccedilatildeo muitas vezes natildeo eram apresentados seja nas paacuteginas internas seja nas capas e contra-capas De mesma fOlwa informaccedilotildees importantes como o autor dos roteiros das histoacuterias ou seu ilustrador eram frequumlentemente omitidos Aproximaccedilotildees das datas de ediccedilotildees eram poreacutem possiacuteveis quando se cmzavam inforlllaccedilotildees na bibliografia especializada ou se atentava para as unidades monetaacuterias (cruzeiro cmzeiro novo) e os preccedilos das revistas em comparaccedilatildeo com outros tiacutetulos publicados na mesma eacutepoca

Muitas das revistas possuiacuteam relatos de ex-combatentes e explicaccedilotildees de como funcionavam os diferentes tanques de guerra armas e aviotildees utilizados na [ Guerra Mundial

Os quadrinhos eram consumidos principalmente pelo puacuteblico jovem o que pode ser constatado por meio da anaacutelise da bibliografia especializada e da publicidade presente nas revistas que anunciava produtos de modelagem fiacutesica academias de halterofilismo cursos por correspondecircncia editoras populares com cataacutelogos de introduccedilatildeo a ofiacutecios teacutecnicos tiacutetulos de cunho eroacutetico e de educaccedilatildeo sexual traveacutes dessas informaccedilotildees foi possiacutevel traccedilar um esboccedilo do perfil do consumidor destas revistas de guerra ou sej a um puacuteblico predominantemente masculino na faixa etaacuteria que compreende a adolescecircncia ateacute os primeiros anos da vida adulta

Sobre a questatildeo socioeconocircmica pode-se inferir pelo tipo de orientaccedilatildeo profissional desses anuacutencios pelo preccedilo das revistas pela sua linguagem popular que seus leitores eram das classes populares e que seu grau mLximo de instruccedilatildeo era predominantemente de niacutevel secundaacuterio

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Tendo elll vista que 1 Coleccedilatildeo de Aventuras er~ a uacutenica revista voltada para a ljuadrillizl()o da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial priorizaremos neste trabalho sua anaacutelise

Coleccedilacirco de Aventuras foi a primeira revista do Brasil a publicar na forma eminentemente popular dLs histoacuterias em quadrinhos narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial Tais histoacuterias narravam os feitos heroacuteicos dos expedicionaacuterios emomentos dramaacuteticos vividos econtados pelos proacuteprios combatentes ou haseados em noticiaacuterios da eacutepoca

Odiretor da revista Coleccedilacirco de Aventuras Ilo Iloy Lund afirmava que o ohjetivo de SlJaS hist6riLi em quadrinhos era de divulgar e ellaltecer os feitos dos soldados ImLsileiros publicando suas aventuras veriacutedicas devidamente comprovadas e autenticadas As coleccedilotildees procuravam

sempre mostrar aos olhos ele todos a bravura a fibra e () heroiacutesmo ele que nossos pracinhas deram Illostras nos campos de batalha da Europa durante a 11 Segunda Guerra Mundial Fica assim registrado () o nosso propoacutesito sincero de tornar Coleccedilatildeo deAventuras a maior revista do Brasil e ao mesmo tempo um veiacuteculo ele congraccedilamento de todos os nosso expedicionaacuterios sob um criteacuterio jornaliacutestico de justiccedila e patriotismo(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano l n 1 1957 p 3)

Nas suas ediccedilotildees o diretor Lund pedia aos ex-expedicionaacuterios que colahorassem com a revista enviando fotos e dados referentes a FEB desde que tais dados e fotos fossem devidamente comprovados

Naturalmente apareciam diferenccedilas entre as narrativas de combatentes e correspondentes de gllClTa e SlWS transposiccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos mas tais falha eram jllstificad~L pelos editores pelas dificuldades ele obtenccedilagraveo ele lmteacuterialt pela comprovaccedilagraveo da mesma por problemas atinentes aquaelrinizaccedilatildeo eiluminaccedilatildeo das histoacuterias aleacutem de erros referentes agrave natureza graacutefica

Assim a revista em quadrinhos Coleccedilatildeo de Aventuras pretendia ser uma obra completa sobre a histoacuteria da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra MundiaL Em suas ediccedilotildees a quadrinizaccedilatildeo das histoacuterias da guerra era precedida com texto contando a histoacuteria do combatente que seria transposta para o quadrinho com as devidas citaccedilotildees Apesar de as revistas natildeo terem qualquer ligaccedilatildeo com as forccedilas armadas quem coordenava assuntos referentes agraves histoacuterias

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I da participaccedilagraveo brasileira na guerra era o Capitatildeo iclZio sob colaboraccedilatildeo do excolllbatentc Paulo Vidal autor do livro lleoacutel tqueacuteCldos obra que trazia relatos das accedilotildees de expedicionaacuterios tombados na guerra(VIDAL 1960) Vaacuterios trechos deste livro foram transcritos nas ediccedilotildees Muitas reportagens tambeacutem tinham como fonte o jornal Trihuna da Imprensa que eram ceclidas para a revista em quadrinhos Odiretor de redaccedilatildeo era Seacutergio D T vlacedo e muitos dos desenhos foram feitos por Otto Brandes e Flavio Colin Aleacutem dessas fontes os roteiros quadrinizados ocasionalmente citavam como base citaccedilotildees oficiais de combate e relatos de diversos oficiais praccedilas e conhecedores ela guerra que colaboravam com artigos informaccedilotildees e fotografias bem corno sugestotildees e comentaacuterios de leitores que eram enviadas por correspondecircncia Oproacuteprio comandante da FEB Marechal lascarenhas de Moraes enviou carta para a revista cumprimentando sua direccedilatildeo por ter encontraclon histoacuteria militar do Brasil particularmente na Forccedila Expeclicionaacuteria Brasilciw assunto de permanente natildeo soacute para os jovens como para o puacuteblico em geral(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I n 12 1958 p03)

Apreocupaccedilatildeo com a veracidade dos fatos era constante na revista atraveacutes de reproduccedilotildees de Citaccedilotildees de Comhates Diaacuterio de Operaccedilotildees dos Batalhotildees Citaccedilatildeo oficial do Comando da FEB e Boletins Especiais do Eyeacutercito entre outros materiais histoacutericos

Entre as ediccedilotildees pesquisadas podemos observar trecircs citaccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos referentes a fatos histoacutericos relacionados com a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Jlundial a tomada do lonte Castelo no dia 21 de fevereiro de 194s cujo tiacutetulo da histoacuteria em quadrinhos eacuteij epopeacuteia do Monte Castelo a batalha de Montese intituladaA mais sangrenta batalba da FEB Monlese e sobre o naufrftgio dos navios brasileiros a Coleccedilatildeo Aventuras possui duas histoacuterias () naufracircgio da Corveta Camaquatilde a mil ias torpedeados Tais momentos histoacutericos quadrinizados eram precedidos por textos que narravam os acontecimentos fatiacutedicos em forma de artigo

Podemos perceber uma constante exaltaccedilatildeo dos combates como por exemplo no texto A epopeacuteia de Monte Castelo que precede os quadrinhos referentes agrave conquista do TI10nte Castelo

Monte Castelo Uma epopeacuteia Centenas de vidas sacrificadas dor laacutegrimas

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sacrifiacutecios muita luta muita coragem muito desprendimento e abnegaccedilatildeo Montl Catelo l Demonstraccedilatildeo de grande valor e coragem do soldado brasileiro GllIacuteria aos que ficaram aos que voitarull -- toda essa mocidade vibrante e

nronil agrave qual o Brasll tanto deve e tatildeo pouco lembra agrave qual a Humlllidade e a

Democracia tanto ficaram devendo Talvez que sem a atuaccedilatildeo do 1D Grupo de Caccedila muitas outras cen~enas de vidas tivesseIll sido sacrificadas e a tomada elo VIorro Maldito natildeo houvesse sido realizada tatildeo rapidamente Por isso mesmo no dos pracinhas ficou uma gratidatildeo imensa pelos

rapazes da FORCcedilAEacuteRL os valorosos rapazes que [ltlO bem manejaram SETA AIUacuteA e num momento oportuno Em 21 de fevereiro de 1944 dia esplecircndido dia soberbo dia magniacutefico em que foi dominado o MONTE CASTELO que foi um dos maiores sorvedouros de vidas BRASILEIRAS na UacuteLTIMA GtERRA(Coleccedilatildeo de Aventuras sn 1957 p5) (maiuacutescula no origillJl)

Em termos narrativos natildeo havia muitas sutilezas Seguindo a caractelizaccedilatildeo baacutesica deste tipo de veiacuteculo de comunicaccedilatildeo de massa(VERGUEIRO 1998 p1-2) podem ser encontrados nas histoacuterias analisadas vaacuterios exemplos de pasteurizaccedilatildeo dos conteuacutedos de desprezo agraves individualidades sociais assim como o uso frequumlente de estereoacutetipos sociais enacionais Alematildees por exemplo eLun comumente retratados como nazistas convictos homens crueacuteis combatendo e gritando entre UIlla rajada eoutrade metralhadoraBeilHilferl Soldados brasileiros em contrapartida apareciam como bondosos para com os civis criativos e espertos nas manobras individuais para safarem-se de balas e granadagt inimigas Agraverigidez do combatente alematildeo era oposto o jogo de cintura do combatente brasileiro Agraves vezes os inimigos eram retratados de maneira c()]luumlca com os balotildees de pensunento evocando saudade da cerveja e do salsicluumlo Ji os balotildees que expressaram os devaneios dos bmsileiros lembravam do o luar do seuroltatildeo das praias exuberantes das namoradas matildefs e noivas num esf()rccedilo de humanizaccedilatildeo do eu e de depreciaccedilatildeo do outro

Este tipo de histoacuteria natildeo sofria criacutetica dos leitores de Coleccedilatildeo deAvenfuras na amostragem consultada na seccedilatildeo de carta dos leitores natildeo se registra uma uacutenica criacutetica a este tipo ele postura narrativa leacutem desta havia outra seccedilatildeo chamada Cluh dos nas quais eram responclidas as curiosidades destes

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em relaccedilatildeo agrave FAB e agrave FEB sobre detalhes referentes a armas e municcedilotildees taacuteticas de guerra empregadas durante as batalhas pelos brasileiros etc

Arevista tambeacutem tinha o papel de se preocupar com o estado dos exshycombatentes no poacutes-guerra Algumas histoacuterias questionavam-se sobre o paradeiro dos ex-combatentes e se eles estavam amparados pelos poderes puacuteblicos Outras quando terminavam informavam a trajetoacuteria do poacutes-guerra dos personagens principais

As histoacuterias presentes nos quadrinhos natildeo eram exclusivamente para os combates das Forccedilas Brasileiras havia tambeacutem histoacuterias de batalhas dos norteshyamericanos ou outras histoacuterias de confrontos entre os Aliados e o Eixo NOffilalmente tais histoacuterias eram importadas do Estados Unidos e adaptadas e traduzidas para oportuguecircs Muitas delas eram tidas como reais mas amaioria era fictiacutecia Nestas revistas claramente havia uma exaltaccedilatildeo dos norteshyamericanos classificando-os como heroacuteis e invenciacuteveis Mas apartir do nuacutemero treze devido ao grande sucesso da revista as histoacuterias passaram a ser exclusivamente dedicadas aos feitos heroacuteicos dos pracinhas sendo inteiramente nacional com desenhos e histoacuterias brasileiras

Entre os heroacuteis de guerra separamos um que eacute exemplar do tipo de abordagem realizada pelas revistas Trata-se do sargento Max Wolff Filho que foi citado com frequumlecircncia na Coleccedilatildeo de Aventuras Ele foi dos maiores heroacuteis de guerra brasileiros e a cena dramaacutetica de sua morte foi relatada com detalhes em ceacutelebre reportagem do correspondente de guerra Joel Silveira(SILVElRA 1945) Em uma das ediccedilotildees eacute relatado que Wolff

teve seu batismo de fogo no ataque aMontese Desde oinicio da accedilatildeo oseu iacutempeto o seu entusiasmo asua agressividade foram por todos reconhecidos Suacapacidade de comando agravefrente de patrulhas foi um dos fatores incontestes da excelente atuaccedilatildeo de seus comandados Max Wolff foi morto por uma rajada de metralhadora geffi1ana e ganhou post mortem a mais alta condecoraccedilatildeo americana de guerra concedida a estrangeiros a Silver Star (Coleccedilatildeo de Aventuras 1957 p22-23)

Um dado relevante eacuteque embora ocasionalmente sej am feitas referecircncias aos oficiais comandantes das unidades combatentes as narrativas quadrinizadas poucas vezes fazem referecircncias aos oficiais-superiores Atendecircncia observada

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na amostragem eacute a de valorizar preferencialmente os praccedilas soldados anocircnimos que efetivamente arriscaram suas vidas em combate Por vezes oficiais comandantes aparecem nas narrativas ordenando missotildees difiacuteceis de serem cumpridas ou mesmo temerariamente arriscadas

Haacute inclusive uma narrativa extraiacuteda do polecircmico livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB em que a proacutepria imagem do Comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes eacutequestionada em histoacuteria conhecida como Oepisoacutedio das facas Tratava-se de uma substituiccedilatildeo de batalhotildees na frente de combate de uma unidade norte-americana que estava exaurida por um batalhatildeo brasileiro Entretanto obatalhatildeo da FEB indicado para substituir os norte-americanos havia acabado de voltar de um combate renhido com baixas que natildeo haviam sido repostas com desfalque de armas e municcedilotildees O relato do livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB narra que os oficiais subalternos (tenentes e capitatildees aqueles que arriscavam a vida junto com os praccedilas na frente de combate) tentavam argumentar a inconveniecircncia da substituiccedilatildeo ao que foram silenciados asperamente por Mascarenhas de Moraes que chamou-os de covardes e ameaccedilou ir pessoalmente comandar o batalhatildeo em substituiccedilatildeo Quando lhe foi argumentado que faltavam armas e municcedilotildees Mascarenhas teria respondido Os senhores natildeo tem facas Cada soldado natildeo recebeu uma faca Amuniccedilatildeo iraacute depois De qualquer forma o batalhatildeo subiraacute hoje Contrariados os membros do batalhatildeo tentaram substituir os norte-americanos que ao notarem a precariedade do batalhatildeo substituto se recusaram a deixar seus postos Aconsequumlecircncia de tal confusatildeo foi uma grande movimentaccedilatildeo de homens notada pelos alematildees que trataram de concentrar sua artilharia no local com saldo de baixas perfeitamente evitaacuteveis (ARRUDA et aW 1949 p72-75)

Essa narrativa foi adaptada para os quadrinhos e estes enfatizaram a diferenccedila entre os oficiais superiores protegidos em seus quarteacuteis-generais longe dos combates encarniccedilados e os tenentes que satildeo os uacutenicos chefes que vivem integralmente a vida dos pracinhas que eacute sobre eles afinal que repousa a sorte dos planos de batalha Os recursos visuais dos quadrinhos ressaltam essas diferenccedilas mostrando os soldados com semblantes cansados sujos com a barba por fazer capacetes desafivelados enquanto os oficiais

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superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

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I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

HIST(lIA amp ENSINO londrina v13 pl41-156 set2007

154

Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

l

HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

I

156 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina vl) p141-156 sel2007

Page 5: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

Para esta pesquisa foi constituiacuteda uma amostra das coleccedilotildees das revistas em quadrinhos de guerra entre as deacutecadas de 1950 e 1970 sendo analisadas dezenove ediccedilotildees com mais de 100 narrativas que tinham como terna a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial

As revistas que misturavam histoacuteria reais com narrativas fictiacutecia sobre a participaccedilatildeo da FAB e da FEE eram Diaacuterio de Guerra) Pelotatildeo Suicida e Combate e ~L~ que enfatizavam narrar histoacuterias reais da guerra eram aColeccedilacirco de Azenums e a Serviccedilo Secreto sendo que esta uacuteltima natildeo tinha como foco principal a guerra Illas en tre suas ediccedilotildees podiam ser encontradas histoacuterias veriacutedicas quadrin iiadas sobre a participaccedilatildeo brLileira

Uma das maiores dificuldades foi estabelecer as datas de publicaccedilatildeo pois os dados sobre Inecircs e ano de ediccedilatildeo muitas vezes natildeo eram apresentados seja nas paacuteginas internas seja nas capas e contra-capas De mesma fOlwa informaccedilotildees importantes como o autor dos roteiros das histoacuterias ou seu ilustrador eram frequumlentemente omitidos Aproximaccedilotildees das datas de ediccedilotildees eram poreacutem possiacuteveis quando se cmzavam inforlllaccedilotildees na bibliografia especializada ou se atentava para as unidades monetaacuterias (cruzeiro cmzeiro novo) e os preccedilos das revistas em comparaccedilatildeo com outros tiacutetulos publicados na mesma eacutepoca

Muitas das revistas possuiacuteam relatos de ex-combatentes e explicaccedilotildees de como funcionavam os diferentes tanques de guerra armas e aviotildees utilizados na [ Guerra Mundial

Os quadrinhos eram consumidos principalmente pelo puacuteblico jovem o que pode ser constatado por meio da anaacutelise da bibliografia especializada e da publicidade presente nas revistas que anunciava produtos de modelagem fiacutesica academias de halterofilismo cursos por correspondecircncia editoras populares com cataacutelogos de introduccedilatildeo a ofiacutecios teacutecnicos tiacutetulos de cunho eroacutetico e de educaccedilatildeo sexual traveacutes dessas informaccedilotildees foi possiacutevel traccedilar um esboccedilo do perfil do consumidor destas revistas de guerra ou sej a um puacuteblico predominantemente masculino na faixa etaacuteria que compreende a adolescecircncia ateacute os primeiros anos da vida adulta

Sobre a questatildeo socioeconocircmica pode-se inferir pelo tipo de orientaccedilatildeo profissional desses anuacutencios pelo preccedilo das revistas pela sua linguagem popular que seus leitores eram das classes populares e que seu grau mLximo de instruccedilatildeo era predominantemente de niacutevel secundaacuterio

HISTOacuteRL amp ENSIKO Londrina vl3 pl4l-156 set2007 145

I

I

Tendo elll vista que 1 Coleccedilatildeo de Aventuras er~ a uacutenica revista voltada para a ljuadrillizl()o da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial priorizaremos neste trabalho sua anaacutelise

Coleccedilacirco de Aventuras foi a primeira revista do Brasil a publicar na forma eminentemente popular dLs histoacuterias em quadrinhos narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial Tais histoacuterias narravam os feitos heroacuteicos dos expedicionaacuterios emomentos dramaacuteticos vividos econtados pelos proacuteprios combatentes ou haseados em noticiaacuterios da eacutepoca

Odiretor da revista Coleccedilacirco de Aventuras Ilo Iloy Lund afirmava que o ohjetivo de SlJaS hist6riLi em quadrinhos era de divulgar e ellaltecer os feitos dos soldados ImLsileiros publicando suas aventuras veriacutedicas devidamente comprovadas e autenticadas As coleccedilotildees procuravam

sempre mostrar aos olhos ele todos a bravura a fibra e () heroiacutesmo ele que nossos pracinhas deram Illostras nos campos de batalha da Europa durante a 11 Segunda Guerra Mundial Fica assim registrado () o nosso propoacutesito sincero de tornar Coleccedilatildeo deAventuras a maior revista do Brasil e ao mesmo tempo um veiacuteculo ele congraccedilamento de todos os nosso expedicionaacuterios sob um criteacuterio jornaliacutestico de justiccedila e patriotismo(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano l n 1 1957 p 3)

Nas suas ediccedilotildees o diretor Lund pedia aos ex-expedicionaacuterios que colahorassem com a revista enviando fotos e dados referentes a FEB desde que tais dados e fotos fossem devidamente comprovados

Naturalmente apareciam diferenccedilas entre as narrativas de combatentes e correspondentes de gllClTa e SlWS transposiccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos mas tais falha eram jllstificad~L pelos editores pelas dificuldades ele obtenccedilagraveo ele lmteacuterialt pela comprovaccedilagraveo da mesma por problemas atinentes aquaelrinizaccedilatildeo eiluminaccedilatildeo das histoacuterias aleacutem de erros referentes agrave natureza graacutefica

Assim a revista em quadrinhos Coleccedilatildeo de Aventuras pretendia ser uma obra completa sobre a histoacuteria da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra MundiaL Em suas ediccedilotildees a quadrinizaccedilatildeo das histoacuterias da guerra era precedida com texto contando a histoacuteria do combatente que seria transposta para o quadrinho com as devidas citaccedilotildees Apesar de as revistas natildeo terem qualquer ligaccedilatildeo com as forccedilas armadas quem coordenava assuntos referentes agraves histoacuterias

146 IlISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p 14 iacute -1 seL2007

I da participaccedilagraveo brasileira na guerra era o Capitatildeo iclZio sob colaboraccedilatildeo do excolllbatentc Paulo Vidal autor do livro lleoacutel tqueacuteCldos obra que trazia relatos das accedilotildees de expedicionaacuterios tombados na guerra(VIDAL 1960) Vaacuterios trechos deste livro foram transcritos nas ediccedilotildees Muitas reportagens tambeacutem tinham como fonte o jornal Trihuna da Imprensa que eram ceclidas para a revista em quadrinhos Odiretor de redaccedilatildeo era Seacutergio D T vlacedo e muitos dos desenhos foram feitos por Otto Brandes e Flavio Colin Aleacutem dessas fontes os roteiros quadrinizados ocasionalmente citavam como base citaccedilotildees oficiais de combate e relatos de diversos oficiais praccedilas e conhecedores ela guerra que colaboravam com artigos informaccedilotildees e fotografias bem corno sugestotildees e comentaacuterios de leitores que eram enviadas por correspondecircncia Oproacuteprio comandante da FEB Marechal lascarenhas de Moraes enviou carta para a revista cumprimentando sua direccedilatildeo por ter encontraclon histoacuteria militar do Brasil particularmente na Forccedila Expeclicionaacuteria Brasilciw assunto de permanente natildeo soacute para os jovens como para o puacuteblico em geral(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I n 12 1958 p03)

Apreocupaccedilatildeo com a veracidade dos fatos era constante na revista atraveacutes de reproduccedilotildees de Citaccedilotildees de Comhates Diaacuterio de Operaccedilotildees dos Batalhotildees Citaccedilatildeo oficial do Comando da FEB e Boletins Especiais do Eyeacutercito entre outros materiais histoacutericos

Entre as ediccedilotildees pesquisadas podemos observar trecircs citaccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos referentes a fatos histoacutericos relacionados com a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Jlundial a tomada do lonte Castelo no dia 21 de fevereiro de 194s cujo tiacutetulo da histoacuteria em quadrinhos eacuteij epopeacuteia do Monte Castelo a batalha de Montese intituladaA mais sangrenta batalba da FEB Monlese e sobre o naufrftgio dos navios brasileiros a Coleccedilatildeo Aventuras possui duas histoacuterias () naufracircgio da Corveta Camaquatilde a mil ias torpedeados Tais momentos histoacutericos quadrinizados eram precedidos por textos que narravam os acontecimentos fatiacutedicos em forma de artigo

Podemos perceber uma constante exaltaccedilatildeo dos combates como por exemplo no texto A epopeacuteia de Monte Castelo que precede os quadrinhos referentes agrave conquista do TI10nte Castelo

Monte Castelo Uma epopeacuteia Centenas de vidas sacrificadas dor laacutegrimas

HISTOacuteJ([ amp ESIKO Londrina v13 p141-156 set2007 147

148

sacrifiacutecios muita luta muita coragem muito desprendimento e abnegaccedilatildeo Montl Catelo l Demonstraccedilatildeo de grande valor e coragem do soldado brasileiro GllIacuteria aos que ficaram aos que voitarull -- toda essa mocidade vibrante e

nronil agrave qual o Brasll tanto deve e tatildeo pouco lembra agrave qual a Humlllidade e a

Democracia tanto ficaram devendo Talvez que sem a atuaccedilatildeo do 1D Grupo de Caccedila muitas outras cen~enas de vidas tivesseIll sido sacrificadas e a tomada elo VIorro Maldito natildeo houvesse sido realizada tatildeo rapidamente Por isso mesmo no dos pracinhas ficou uma gratidatildeo imensa pelos

rapazes da FORCcedilAEacuteRL os valorosos rapazes que [ltlO bem manejaram SETA AIUacuteA e num momento oportuno Em 21 de fevereiro de 1944 dia esplecircndido dia soberbo dia magniacutefico em que foi dominado o MONTE CASTELO que foi um dos maiores sorvedouros de vidas BRASILEIRAS na UacuteLTIMA GtERRA(Coleccedilatildeo de Aventuras sn 1957 p5) (maiuacutescula no origillJl)

Em termos narrativos natildeo havia muitas sutilezas Seguindo a caractelizaccedilatildeo baacutesica deste tipo de veiacuteculo de comunicaccedilatildeo de massa(VERGUEIRO 1998 p1-2) podem ser encontrados nas histoacuterias analisadas vaacuterios exemplos de pasteurizaccedilatildeo dos conteuacutedos de desprezo agraves individualidades sociais assim como o uso frequumlente de estereoacutetipos sociais enacionais Alematildees por exemplo eLun comumente retratados como nazistas convictos homens crueacuteis combatendo e gritando entre UIlla rajada eoutrade metralhadoraBeilHilferl Soldados brasileiros em contrapartida apareciam como bondosos para com os civis criativos e espertos nas manobras individuais para safarem-se de balas e granadagt inimigas Agraverigidez do combatente alematildeo era oposto o jogo de cintura do combatente brasileiro Agraves vezes os inimigos eram retratados de maneira c()]luumlca com os balotildees de pensunento evocando saudade da cerveja e do salsicluumlo Ji os balotildees que expressaram os devaneios dos bmsileiros lembravam do o luar do seuroltatildeo das praias exuberantes das namoradas matildefs e noivas num esf()rccedilo de humanizaccedilatildeo do eu e de depreciaccedilatildeo do outro

Este tipo de histoacuteria natildeo sofria criacutetica dos leitores de Coleccedilatildeo deAvenfuras na amostragem consultada na seccedilatildeo de carta dos leitores natildeo se registra uma uacutenica criacutetica a este tipo ele postura narrativa leacutem desta havia outra seccedilatildeo chamada Cluh dos nas quais eram responclidas as curiosidades destes

HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 seL2007

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em relaccedilatildeo agrave FAB e agrave FEB sobre detalhes referentes a armas e municcedilotildees taacuteticas de guerra empregadas durante as batalhas pelos brasileiros etc

Arevista tambeacutem tinha o papel de se preocupar com o estado dos exshycombatentes no poacutes-guerra Algumas histoacuterias questionavam-se sobre o paradeiro dos ex-combatentes e se eles estavam amparados pelos poderes puacuteblicos Outras quando terminavam informavam a trajetoacuteria do poacutes-guerra dos personagens principais

As histoacuterias presentes nos quadrinhos natildeo eram exclusivamente para os combates das Forccedilas Brasileiras havia tambeacutem histoacuterias de batalhas dos norteshyamericanos ou outras histoacuterias de confrontos entre os Aliados e o Eixo NOffilalmente tais histoacuterias eram importadas do Estados Unidos e adaptadas e traduzidas para oportuguecircs Muitas delas eram tidas como reais mas amaioria era fictiacutecia Nestas revistas claramente havia uma exaltaccedilatildeo dos norteshyamericanos classificando-os como heroacuteis e invenciacuteveis Mas apartir do nuacutemero treze devido ao grande sucesso da revista as histoacuterias passaram a ser exclusivamente dedicadas aos feitos heroacuteicos dos pracinhas sendo inteiramente nacional com desenhos e histoacuterias brasileiras

Entre os heroacuteis de guerra separamos um que eacute exemplar do tipo de abordagem realizada pelas revistas Trata-se do sargento Max Wolff Filho que foi citado com frequumlecircncia na Coleccedilatildeo de Aventuras Ele foi dos maiores heroacuteis de guerra brasileiros e a cena dramaacutetica de sua morte foi relatada com detalhes em ceacutelebre reportagem do correspondente de guerra Joel Silveira(SILVElRA 1945) Em uma das ediccedilotildees eacute relatado que Wolff

teve seu batismo de fogo no ataque aMontese Desde oinicio da accedilatildeo oseu iacutempeto o seu entusiasmo asua agressividade foram por todos reconhecidos Suacapacidade de comando agravefrente de patrulhas foi um dos fatores incontestes da excelente atuaccedilatildeo de seus comandados Max Wolff foi morto por uma rajada de metralhadora geffi1ana e ganhou post mortem a mais alta condecoraccedilatildeo americana de guerra concedida a estrangeiros a Silver Star (Coleccedilatildeo de Aventuras 1957 p22-23)

Um dado relevante eacuteque embora ocasionalmente sej am feitas referecircncias aos oficiais comandantes das unidades combatentes as narrativas quadrinizadas poucas vezes fazem referecircncias aos oficiais-superiores Atendecircncia observada

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na amostragem eacute a de valorizar preferencialmente os praccedilas soldados anocircnimos que efetivamente arriscaram suas vidas em combate Por vezes oficiais comandantes aparecem nas narrativas ordenando missotildees difiacuteceis de serem cumpridas ou mesmo temerariamente arriscadas

Haacute inclusive uma narrativa extraiacuteda do polecircmico livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB em que a proacutepria imagem do Comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes eacutequestionada em histoacuteria conhecida como Oepisoacutedio das facas Tratava-se de uma substituiccedilatildeo de batalhotildees na frente de combate de uma unidade norte-americana que estava exaurida por um batalhatildeo brasileiro Entretanto obatalhatildeo da FEB indicado para substituir os norte-americanos havia acabado de voltar de um combate renhido com baixas que natildeo haviam sido repostas com desfalque de armas e municcedilotildees O relato do livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB narra que os oficiais subalternos (tenentes e capitatildees aqueles que arriscavam a vida junto com os praccedilas na frente de combate) tentavam argumentar a inconveniecircncia da substituiccedilatildeo ao que foram silenciados asperamente por Mascarenhas de Moraes que chamou-os de covardes e ameaccedilou ir pessoalmente comandar o batalhatildeo em substituiccedilatildeo Quando lhe foi argumentado que faltavam armas e municcedilotildees Mascarenhas teria respondido Os senhores natildeo tem facas Cada soldado natildeo recebeu uma faca Amuniccedilatildeo iraacute depois De qualquer forma o batalhatildeo subiraacute hoje Contrariados os membros do batalhatildeo tentaram substituir os norte-americanos que ao notarem a precariedade do batalhatildeo substituto se recusaram a deixar seus postos Aconsequumlecircncia de tal confusatildeo foi uma grande movimentaccedilatildeo de homens notada pelos alematildees que trataram de concentrar sua artilharia no local com saldo de baixas perfeitamente evitaacuteveis (ARRUDA et aW 1949 p72-75)

Essa narrativa foi adaptada para os quadrinhos e estes enfatizaram a diferenccedila entre os oficiais superiores protegidos em seus quarteacuteis-generais longe dos combates encarniccedilados e os tenentes que satildeo os uacutenicos chefes que vivem integralmente a vida dos pracinhas que eacute sobre eles afinal que repousa a sorte dos planos de batalha Os recursos visuais dos quadrinhos ressaltam essas diferenccedilas mostrando os soldados com semblantes cansados sujos com a barba por fazer capacetes desafivelados enquanto os oficiais

HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

152 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

HIST(lIA amp ENSINO londrina v13 pl41-156 set2007

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Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

l

HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

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Page 6: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

Tendo elll vista que 1 Coleccedilatildeo de Aventuras er~ a uacutenica revista voltada para a ljuadrillizl()o da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Mundial priorizaremos neste trabalho sua anaacutelise

Coleccedilacirco de Aventuras foi a primeira revista do Brasil a publicar na forma eminentemente popular dLs histoacuterias em quadrinhos narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial Tais histoacuterias narravam os feitos heroacuteicos dos expedicionaacuterios emomentos dramaacuteticos vividos econtados pelos proacuteprios combatentes ou haseados em noticiaacuterios da eacutepoca

Odiretor da revista Coleccedilacirco de Aventuras Ilo Iloy Lund afirmava que o ohjetivo de SlJaS hist6riLi em quadrinhos era de divulgar e ellaltecer os feitos dos soldados ImLsileiros publicando suas aventuras veriacutedicas devidamente comprovadas e autenticadas As coleccedilotildees procuravam

sempre mostrar aos olhos ele todos a bravura a fibra e () heroiacutesmo ele que nossos pracinhas deram Illostras nos campos de batalha da Europa durante a 11 Segunda Guerra Mundial Fica assim registrado () o nosso propoacutesito sincero de tornar Coleccedilatildeo deAventuras a maior revista do Brasil e ao mesmo tempo um veiacuteculo ele congraccedilamento de todos os nosso expedicionaacuterios sob um criteacuterio jornaliacutestico de justiccedila e patriotismo(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano l n 1 1957 p 3)

Nas suas ediccedilotildees o diretor Lund pedia aos ex-expedicionaacuterios que colahorassem com a revista enviando fotos e dados referentes a FEB desde que tais dados e fotos fossem devidamente comprovados

Naturalmente apareciam diferenccedilas entre as narrativas de combatentes e correspondentes de gllClTa e SlWS transposiccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos mas tais falha eram jllstificad~L pelos editores pelas dificuldades ele obtenccedilagraveo ele lmteacuterialt pela comprovaccedilagraveo da mesma por problemas atinentes aquaelrinizaccedilatildeo eiluminaccedilatildeo das histoacuterias aleacutem de erros referentes agrave natureza graacutefica

Assim a revista em quadrinhos Coleccedilatildeo de Aventuras pretendia ser uma obra completa sobre a histoacuteria da participaccedilatildeo brasileira na II Guerra MundiaL Em suas ediccedilotildees a quadrinizaccedilatildeo das histoacuterias da guerra era precedida com texto contando a histoacuteria do combatente que seria transposta para o quadrinho com as devidas citaccedilotildees Apesar de as revistas natildeo terem qualquer ligaccedilatildeo com as forccedilas armadas quem coordenava assuntos referentes agraves histoacuterias

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I da participaccedilagraveo brasileira na guerra era o Capitatildeo iclZio sob colaboraccedilatildeo do excolllbatentc Paulo Vidal autor do livro lleoacutel tqueacuteCldos obra que trazia relatos das accedilotildees de expedicionaacuterios tombados na guerra(VIDAL 1960) Vaacuterios trechos deste livro foram transcritos nas ediccedilotildees Muitas reportagens tambeacutem tinham como fonte o jornal Trihuna da Imprensa que eram ceclidas para a revista em quadrinhos Odiretor de redaccedilatildeo era Seacutergio D T vlacedo e muitos dos desenhos foram feitos por Otto Brandes e Flavio Colin Aleacutem dessas fontes os roteiros quadrinizados ocasionalmente citavam como base citaccedilotildees oficiais de combate e relatos de diversos oficiais praccedilas e conhecedores ela guerra que colaboravam com artigos informaccedilotildees e fotografias bem corno sugestotildees e comentaacuterios de leitores que eram enviadas por correspondecircncia Oproacuteprio comandante da FEB Marechal lascarenhas de Moraes enviou carta para a revista cumprimentando sua direccedilatildeo por ter encontraclon histoacuteria militar do Brasil particularmente na Forccedila Expeclicionaacuteria Brasilciw assunto de permanente natildeo soacute para os jovens como para o puacuteblico em geral(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I n 12 1958 p03)

Apreocupaccedilatildeo com a veracidade dos fatos era constante na revista atraveacutes de reproduccedilotildees de Citaccedilotildees de Comhates Diaacuterio de Operaccedilotildees dos Batalhotildees Citaccedilatildeo oficial do Comando da FEB e Boletins Especiais do Eyeacutercito entre outros materiais histoacutericos

Entre as ediccedilotildees pesquisadas podemos observar trecircs citaccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos referentes a fatos histoacutericos relacionados com a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Jlundial a tomada do lonte Castelo no dia 21 de fevereiro de 194s cujo tiacutetulo da histoacuteria em quadrinhos eacuteij epopeacuteia do Monte Castelo a batalha de Montese intituladaA mais sangrenta batalba da FEB Monlese e sobre o naufrftgio dos navios brasileiros a Coleccedilatildeo Aventuras possui duas histoacuterias () naufracircgio da Corveta Camaquatilde a mil ias torpedeados Tais momentos histoacutericos quadrinizados eram precedidos por textos que narravam os acontecimentos fatiacutedicos em forma de artigo

Podemos perceber uma constante exaltaccedilatildeo dos combates como por exemplo no texto A epopeacuteia de Monte Castelo que precede os quadrinhos referentes agrave conquista do TI10nte Castelo

Monte Castelo Uma epopeacuteia Centenas de vidas sacrificadas dor laacutegrimas

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sacrifiacutecios muita luta muita coragem muito desprendimento e abnegaccedilatildeo Montl Catelo l Demonstraccedilatildeo de grande valor e coragem do soldado brasileiro GllIacuteria aos que ficaram aos que voitarull -- toda essa mocidade vibrante e

nronil agrave qual o Brasll tanto deve e tatildeo pouco lembra agrave qual a Humlllidade e a

Democracia tanto ficaram devendo Talvez que sem a atuaccedilatildeo do 1D Grupo de Caccedila muitas outras cen~enas de vidas tivesseIll sido sacrificadas e a tomada elo VIorro Maldito natildeo houvesse sido realizada tatildeo rapidamente Por isso mesmo no dos pracinhas ficou uma gratidatildeo imensa pelos

rapazes da FORCcedilAEacuteRL os valorosos rapazes que [ltlO bem manejaram SETA AIUacuteA e num momento oportuno Em 21 de fevereiro de 1944 dia esplecircndido dia soberbo dia magniacutefico em que foi dominado o MONTE CASTELO que foi um dos maiores sorvedouros de vidas BRASILEIRAS na UacuteLTIMA GtERRA(Coleccedilatildeo de Aventuras sn 1957 p5) (maiuacutescula no origillJl)

Em termos narrativos natildeo havia muitas sutilezas Seguindo a caractelizaccedilatildeo baacutesica deste tipo de veiacuteculo de comunicaccedilatildeo de massa(VERGUEIRO 1998 p1-2) podem ser encontrados nas histoacuterias analisadas vaacuterios exemplos de pasteurizaccedilatildeo dos conteuacutedos de desprezo agraves individualidades sociais assim como o uso frequumlente de estereoacutetipos sociais enacionais Alematildees por exemplo eLun comumente retratados como nazistas convictos homens crueacuteis combatendo e gritando entre UIlla rajada eoutrade metralhadoraBeilHilferl Soldados brasileiros em contrapartida apareciam como bondosos para com os civis criativos e espertos nas manobras individuais para safarem-se de balas e granadagt inimigas Agraverigidez do combatente alematildeo era oposto o jogo de cintura do combatente brasileiro Agraves vezes os inimigos eram retratados de maneira c()]luumlca com os balotildees de pensunento evocando saudade da cerveja e do salsicluumlo Ji os balotildees que expressaram os devaneios dos bmsileiros lembravam do o luar do seuroltatildeo das praias exuberantes das namoradas matildefs e noivas num esf()rccedilo de humanizaccedilatildeo do eu e de depreciaccedilatildeo do outro

Este tipo de histoacuteria natildeo sofria criacutetica dos leitores de Coleccedilatildeo deAvenfuras na amostragem consultada na seccedilatildeo de carta dos leitores natildeo se registra uma uacutenica criacutetica a este tipo ele postura narrativa leacutem desta havia outra seccedilatildeo chamada Cluh dos nas quais eram responclidas as curiosidades destes

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em relaccedilatildeo agrave FAB e agrave FEB sobre detalhes referentes a armas e municcedilotildees taacuteticas de guerra empregadas durante as batalhas pelos brasileiros etc

Arevista tambeacutem tinha o papel de se preocupar com o estado dos exshycombatentes no poacutes-guerra Algumas histoacuterias questionavam-se sobre o paradeiro dos ex-combatentes e se eles estavam amparados pelos poderes puacuteblicos Outras quando terminavam informavam a trajetoacuteria do poacutes-guerra dos personagens principais

As histoacuterias presentes nos quadrinhos natildeo eram exclusivamente para os combates das Forccedilas Brasileiras havia tambeacutem histoacuterias de batalhas dos norteshyamericanos ou outras histoacuterias de confrontos entre os Aliados e o Eixo NOffilalmente tais histoacuterias eram importadas do Estados Unidos e adaptadas e traduzidas para oportuguecircs Muitas delas eram tidas como reais mas amaioria era fictiacutecia Nestas revistas claramente havia uma exaltaccedilatildeo dos norteshyamericanos classificando-os como heroacuteis e invenciacuteveis Mas apartir do nuacutemero treze devido ao grande sucesso da revista as histoacuterias passaram a ser exclusivamente dedicadas aos feitos heroacuteicos dos pracinhas sendo inteiramente nacional com desenhos e histoacuterias brasileiras

Entre os heroacuteis de guerra separamos um que eacute exemplar do tipo de abordagem realizada pelas revistas Trata-se do sargento Max Wolff Filho que foi citado com frequumlecircncia na Coleccedilatildeo de Aventuras Ele foi dos maiores heroacuteis de guerra brasileiros e a cena dramaacutetica de sua morte foi relatada com detalhes em ceacutelebre reportagem do correspondente de guerra Joel Silveira(SILVElRA 1945) Em uma das ediccedilotildees eacute relatado que Wolff

teve seu batismo de fogo no ataque aMontese Desde oinicio da accedilatildeo oseu iacutempeto o seu entusiasmo asua agressividade foram por todos reconhecidos Suacapacidade de comando agravefrente de patrulhas foi um dos fatores incontestes da excelente atuaccedilatildeo de seus comandados Max Wolff foi morto por uma rajada de metralhadora geffi1ana e ganhou post mortem a mais alta condecoraccedilatildeo americana de guerra concedida a estrangeiros a Silver Star (Coleccedilatildeo de Aventuras 1957 p22-23)

Um dado relevante eacuteque embora ocasionalmente sej am feitas referecircncias aos oficiais comandantes das unidades combatentes as narrativas quadrinizadas poucas vezes fazem referecircncias aos oficiais-superiores Atendecircncia observada

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na amostragem eacute a de valorizar preferencialmente os praccedilas soldados anocircnimos que efetivamente arriscaram suas vidas em combate Por vezes oficiais comandantes aparecem nas narrativas ordenando missotildees difiacuteceis de serem cumpridas ou mesmo temerariamente arriscadas

Haacute inclusive uma narrativa extraiacuteda do polecircmico livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB em que a proacutepria imagem do Comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes eacutequestionada em histoacuteria conhecida como Oepisoacutedio das facas Tratava-se de uma substituiccedilatildeo de batalhotildees na frente de combate de uma unidade norte-americana que estava exaurida por um batalhatildeo brasileiro Entretanto obatalhatildeo da FEB indicado para substituir os norte-americanos havia acabado de voltar de um combate renhido com baixas que natildeo haviam sido repostas com desfalque de armas e municcedilotildees O relato do livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB narra que os oficiais subalternos (tenentes e capitatildees aqueles que arriscavam a vida junto com os praccedilas na frente de combate) tentavam argumentar a inconveniecircncia da substituiccedilatildeo ao que foram silenciados asperamente por Mascarenhas de Moraes que chamou-os de covardes e ameaccedilou ir pessoalmente comandar o batalhatildeo em substituiccedilatildeo Quando lhe foi argumentado que faltavam armas e municcedilotildees Mascarenhas teria respondido Os senhores natildeo tem facas Cada soldado natildeo recebeu uma faca Amuniccedilatildeo iraacute depois De qualquer forma o batalhatildeo subiraacute hoje Contrariados os membros do batalhatildeo tentaram substituir os norte-americanos que ao notarem a precariedade do batalhatildeo substituto se recusaram a deixar seus postos Aconsequumlecircncia de tal confusatildeo foi uma grande movimentaccedilatildeo de homens notada pelos alematildees que trataram de concentrar sua artilharia no local com saldo de baixas perfeitamente evitaacuteveis (ARRUDA et aW 1949 p72-75)

Essa narrativa foi adaptada para os quadrinhos e estes enfatizaram a diferenccedila entre os oficiais superiores protegidos em seus quarteacuteis-generais longe dos combates encarniccedilados e os tenentes que satildeo os uacutenicos chefes que vivem integralmente a vida dos pracinhas que eacute sobre eles afinal que repousa a sorte dos planos de batalha Os recursos visuais dos quadrinhos ressaltam essas diferenccedilas mostrando os soldados com semblantes cansados sujos com a barba por fazer capacetes desafivelados enquanto os oficiais

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superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

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I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

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Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

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I da participaccedilagraveo brasileira na guerra era o Capitatildeo iclZio sob colaboraccedilatildeo do excolllbatentc Paulo Vidal autor do livro lleoacutel tqueacuteCldos obra que trazia relatos das accedilotildees de expedicionaacuterios tombados na guerra(VIDAL 1960) Vaacuterios trechos deste livro foram transcritos nas ediccedilotildees Muitas reportagens tambeacutem tinham como fonte o jornal Trihuna da Imprensa que eram ceclidas para a revista em quadrinhos Odiretor de redaccedilatildeo era Seacutergio D T vlacedo e muitos dos desenhos foram feitos por Otto Brandes e Flavio Colin Aleacutem dessas fontes os roteiros quadrinizados ocasionalmente citavam como base citaccedilotildees oficiais de combate e relatos de diversos oficiais praccedilas e conhecedores ela guerra que colaboravam com artigos informaccedilotildees e fotografias bem corno sugestotildees e comentaacuterios de leitores que eram enviadas por correspondecircncia Oproacuteprio comandante da FEB Marechal lascarenhas de Moraes enviou carta para a revista cumprimentando sua direccedilatildeo por ter encontraclon histoacuteria militar do Brasil particularmente na Forccedila Expeclicionaacuteria Brasilciw assunto de permanente natildeo soacute para os jovens como para o puacuteblico em geral(Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I n 12 1958 p03)

Apreocupaccedilatildeo com a veracidade dos fatos era constante na revista atraveacutes de reproduccedilotildees de Citaccedilotildees de Comhates Diaacuterio de Operaccedilotildees dos Batalhotildees Citaccedilatildeo oficial do Comando da FEB e Boletins Especiais do Eyeacutercito entre outros materiais histoacutericos

Entre as ediccedilotildees pesquisadas podemos observar trecircs citaccedilotildees nas histoacuterias em quadrinhos referentes a fatos histoacutericos relacionados com a participaccedilatildeo brasileira na II Guerra Jlundial a tomada do lonte Castelo no dia 21 de fevereiro de 194s cujo tiacutetulo da histoacuteria em quadrinhos eacuteij epopeacuteia do Monte Castelo a batalha de Montese intituladaA mais sangrenta batalba da FEB Monlese e sobre o naufrftgio dos navios brasileiros a Coleccedilatildeo Aventuras possui duas histoacuterias () naufracircgio da Corveta Camaquatilde a mil ias torpedeados Tais momentos histoacutericos quadrinizados eram precedidos por textos que narravam os acontecimentos fatiacutedicos em forma de artigo

Podemos perceber uma constante exaltaccedilatildeo dos combates como por exemplo no texto A epopeacuteia de Monte Castelo que precede os quadrinhos referentes agrave conquista do TI10nte Castelo

Monte Castelo Uma epopeacuteia Centenas de vidas sacrificadas dor laacutegrimas

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sacrifiacutecios muita luta muita coragem muito desprendimento e abnegaccedilatildeo Montl Catelo l Demonstraccedilatildeo de grande valor e coragem do soldado brasileiro GllIacuteria aos que ficaram aos que voitarull -- toda essa mocidade vibrante e

nronil agrave qual o Brasll tanto deve e tatildeo pouco lembra agrave qual a Humlllidade e a

Democracia tanto ficaram devendo Talvez que sem a atuaccedilatildeo do 1D Grupo de Caccedila muitas outras cen~enas de vidas tivesseIll sido sacrificadas e a tomada elo VIorro Maldito natildeo houvesse sido realizada tatildeo rapidamente Por isso mesmo no dos pracinhas ficou uma gratidatildeo imensa pelos

rapazes da FORCcedilAEacuteRL os valorosos rapazes que [ltlO bem manejaram SETA AIUacuteA e num momento oportuno Em 21 de fevereiro de 1944 dia esplecircndido dia soberbo dia magniacutefico em que foi dominado o MONTE CASTELO que foi um dos maiores sorvedouros de vidas BRASILEIRAS na UacuteLTIMA GtERRA(Coleccedilatildeo de Aventuras sn 1957 p5) (maiuacutescula no origillJl)

Em termos narrativos natildeo havia muitas sutilezas Seguindo a caractelizaccedilatildeo baacutesica deste tipo de veiacuteculo de comunicaccedilatildeo de massa(VERGUEIRO 1998 p1-2) podem ser encontrados nas histoacuterias analisadas vaacuterios exemplos de pasteurizaccedilatildeo dos conteuacutedos de desprezo agraves individualidades sociais assim como o uso frequumlente de estereoacutetipos sociais enacionais Alematildees por exemplo eLun comumente retratados como nazistas convictos homens crueacuteis combatendo e gritando entre UIlla rajada eoutrade metralhadoraBeilHilferl Soldados brasileiros em contrapartida apareciam como bondosos para com os civis criativos e espertos nas manobras individuais para safarem-se de balas e granadagt inimigas Agraverigidez do combatente alematildeo era oposto o jogo de cintura do combatente brasileiro Agraves vezes os inimigos eram retratados de maneira c()]luumlca com os balotildees de pensunento evocando saudade da cerveja e do salsicluumlo Ji os balotildees que expressaram os devaneios dos bmsileiros lembravam do o luar do seuroltatildeo das praias exuberantes das namoradas matildefs e noivas num esf()rccedilo de humanizaccedilatildeo do eu e de depreciaccedilatildeo do outro

Este tipo de histoacuteria natildeo sofria criacutetica dos leitores de Coleccedilatildeo deAvenfuras na amostragem consultada na seccedilatildeo de carta dos leitores natildeo se registra uma uacutenica criacutetica a este tipo ele postura narrativa leacutem desta havia outra seccedilatildeo chamada Cluh dos nas quais eram responclidas as curiosidades destes

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em relaccedilatildeo agrave FAB e agrave FEB sobre detalhes referentes a armas e municcedilotildees taacuteticas de guerra empregadas durante as batalhas pelos brasileiros etc

Arevista tambeacutem tinha o papel de se preocupar com o estado dos exshycombatentes no poacutes-guerra Algumas histoacuterias questionavam-se sobre o paradeiro dos ex-combatentes e se eles estavam amparados pelos poderes puacuteblicos Outras quando terminavam informavam a trajetoacuteria do poacutes-guerra dos personagens principais

As histoacuterias presentes nos quadrinhos natildeo eram exclusivamente para os combates das Forccedilas Brasileiras havia tambeacutem histoacuterias de batalhas dos norteshyamericanos ou outras histoacuterias de confrontos entre os Aliados e o Eixo NOffilalmente tais histoacuterias eram importadas do Estados Unidos e adaptadas e traduzidas para oportuguecircs Muitas delas eram tidas como reais mas amaioria era fictiacutecia Nestas revistas claramente havia uma exaltaccedilatildeo dos norteshyamericanos classificando-os como heroacuteis e invenciacuteveis Mas apartir do nuacutemero treze devido ao grande sucesso da revista as histoacuterias passaram a ser exclusivamente dedicadas aos feitos heroacuteicos dos pracinhas sendo inteiramente nacional com desenhos e histoacuterias brasileiras

Entre os heroacuteis de guerra separamos um que eacute exemplar do tipo de abordagem realizada pelas revistas Trata-se do sargento Max Wolff Filho que foi citado com frequumlecircncia na Coleccedilatildeo de Aventuras Ele foi dos maiores heroacuteis de guerra brasileiros e a cena dramaacutetica de sua morte foi relatada com detalhes em ceacutelebre reportagem do correspondente de guerra Joel Silveira(SILVElRA 1945) Em uma das ediccedilotildees eacute relatado que Wolff

teve seu batismo de fogo no ataque aMontese Desde oinicio da accedilatildeo oseu iacutempeto o seu entusiasmo asua agressividade foram por todos reconhecidos Suacapacidade de comando agravefrente de patrulhas foi um dos fatores incontestes da excelente atuaccedilatildeo de seus comandados Max Wolff foi morto por uma rajada de metralhadora geffi1ana e ganhou post mortem a mais alta condecoraccedilatildeo americana de guerra concedida a estrangeiros a Silver Star (Coleccedilatildeo de Aventuras 1957 p22-23)

Um dado relevante eacuteque embora ocasionalmente sej am feitas referecircncias aos oficiais comandantes das unidades combatentes as narrativas quadrinizadas poucas vezes fazem referecircncias aos oficiais-superiores Atendecircncia observada

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na amostragem eacute a de valorizar preferencialmente os praccedilas soldados anocircnimos que efetivamente arriscaram suas vidas em combate Por vezes oficiais comandantes aparecem nas narrativas ordenando missotildees difiacuteceis de serem cumpridas ou mesmo temerariamente arriscadas

Haacute inclusive uma narrativa extraiacuteda do polecircmico livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB em que a proacutepria imagem do Comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes eacutequestionada em histoacuteria conhecida como Oepisoacutedio das facas Tratava-se de uma substituiccedilatildeo de batalhotildees na frente de combate de uma unidade norte-americana que estava exaurida por um batalhatildeo brasileiro Entretanto obatalhatildeo da FEB indicado para substituir os norte-americanos havia acabado de voltar de um combate renhido com baixas que natildeo haviam sido repostas com desfalque de armas e municcedilotildees O relato do livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB narra que os oficiais subalternos (tenentes e capitatildees aqueles que arriscavam a vida junto com os praccedilas na frente de combate) tentavam argumentar a inconveniecircncia da substituiccedilatildeo ao que foram silenciados asperamente por Mascarenhas de Moraes que chamou-os de covardes e ameaccedilou ir pessoalmente comandar o batalhatildeo em substituiccedilatildeo Quando lhe foi argumentado que faltavam armas e municcedilotildees Mascarenhas teria respondido Os senhores natildeo tem facas Cada soldado natildeo recebeu uma faca Amuniccedilatildeo iraacute depois De qualquer forma o batalhatildeo subiraacute hoje Contrariados os membros do batalhatildeo tentaram substituir os norte-americanos que ao notarem a precariedade do batalhatildeo substituto se recusaram a deixar seus postos Aconsequumlecircncia de tal confusatildeo foi uma grande movimentaccedilatildeo de homens notada pelos alematildees que trataram de concentrar sua artilharia no local com saldo de baixas perfeitamente evitaacuteveis (ARRUDA et aW 1949 p72-75)

Essa narrativa foi adaptada para os quadrinhos e estes enfatizaram a diferenccedila entre os oficiais superiores protegidos em seus quarteacuteis-generais longe dos combates encarniccedilados e os tenentes que satildeo os uacutenicos chefes que vivem integralmente a vida dos pracinhas que eacute sobre eles afinal que repousa a sorte dos planos de batalha Os recursos visuais dos quadrinhos ressaltam essas diferenccedilas mostrando os soldados com semblantes cansados sujos com a barba por fazer capacetes desafivelados enquanto os oficiais

HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

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I

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

152 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

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Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

l

HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

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Page 8: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

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sacrifiacutecios muita luta muita coragem muito desprendimento e abnegaccedilatildeo Montl Catelo l Demonstraccedilatildeo de grande valor e coragem do soldado brasileiro GllIacuteria aos que ficaram aos que voitarull -- toda essa mocidade vibrante e

nronil agrave qual o Brasll tanto deve e tatildeo pouco lembra agrave qual a Humlllidade e a

Democracia tanto ficaram devendo Talvez que sem a atuaccedilatildeo do 1D Grupo de Caccedila muitas outras cen~enas de vidas tivesseIll sido sacrificadas e a tomada elo VIorro Maldito natildeo houvesse sido realizada tatildeo rapidamente Por isso mesmo no dos pracinhas ficou uma gratidatildeo imensa pelos

rapazes da FORCcedilAEacuteRL os valorosos rapazes que [ltlO bem manejaram SETA AIUacuteA e num momento oportuno Em 21 de fevereiro de 1944 dia esplecircndido dia soberbo dia magniacutefico em que foi dominado o MONTE CASTELO que foi um dos maiores sorvedouros de vidas BRASILEIRAS na UacuteLTIMA GtERRA(Coleccedilatildeo de Aventuras sn 1957 p5) (maiuacutescula no origillJl)

Em termos narrativos natildeo havia muitas sutilezas Seguindo a caractelizaccedilatildeo baacutesica deste tipo de veiacuteculo de comunicaccedilatildeo de massa(VERGUEIRO 1998 p1-2) podem ser encontrados nas histoacuterias analisadas vaacuterios exemplos de pasteurizaccedilatildeo dos conteuacutedos de desprezo agraves individualidades sociais assim como o uso frequumlente de estereoacutetipos sociais enacionais Alematildees por exemplo eLun comumente retratados como nazistas convictos homens crueacuteis combatendo e gritando entre UIlla rajada eoutrade metralhadoraBeilHilferl Soldados brasileiros em contrapartida apareciam como bondosos para com os civis criativos e espertos nas manobras individuais para safarem-se de balas e granadagt inimigas Agraverigidez do combatente alematildeo era oposto o jogo de cintura do combatente brasileiro Agraves vezes os inimigos eram retratados de maneira c()]luumlca com os balotildees de pensunento evocando saudade da cerveja e do salsicluumlo Ji os balotildees que expressaram os devaneios dos bmsileiros lembravam do o luar do seuroltatildeo das praias exuberantes das namoradas matildefs e noivas num esf()rccedilo de humanizaccedilatildeo do eu e de depreciaccedilatildeo do outro

Este tipo de histoacuteria natildeo sofria criacutetica dos leitores de Coleccedilatildeo deAvenfuras na amostragem consultada na seccedilatildeo de carta dos leitores natildeo se registra uma uacutenica criacutetica a este tipo ele postura narrativa leacutem desta havia outra seccedilatildeo chamada Cluh dos nas quais eram responclidas as curiosidades destes

HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 seL2007

l

em relaccedilatildeo agrave FAB e agrave FEB sobre detalhes referentes a armas e municcedilotildees taacuteticas de guerra empregadas durante as batalhas pelos brasileiros etc

Arevista tambeacutem tinha o papel de se preocupar com o estado dos exshycombatentes no poacutes-guerra Algumas histoacuterias questionavam-se sobre o paradeiro dos ex-combatentes e se eles estavam amparados pelos poderes puacuteblicos Outras quando terminavam informavam a trajetoacuteria do poacutes-guerra dos personagens principais

As histoacuterias presentes nos quadrinhos natildeo eram exclusivamente para os combates das Forccedilas Brasileiras havia tambeacutem histoacuterias de batalhas dos norteshyamericanos ou outras histoacuterias de confrontos entre os Aliados e o Eixo NOffilalmente tais histoacuterias eram importadas do Estados Unidos e adaptadas e traduzidas para oportuguecircs Muitas delas eram tidas como reais mas amaioria era fictiacutecia Nestas revistas claramente havia uma exaltaccedilatildeo dos norteshyamericanos classificando-os como heroacuteis e invenciacuteveis Mas apartir do nuacutemero treze devido ao grande sucesso da revista as histoacuterias passaram a ser exclusivamente dedicadas aos feitos heroacuteicos dos pracinhas sendo inteiramente nacional com desenhos e histoacuterias brasileiras

Entre os heroacuteis de guerra separamos um que eacute exemplar do tipo de abordagem realizada pelas revistas Trata-se do sargento Max Wolff Filho que foi citado com frequumlecircncia na Coleccedilatildeo de Aventuras Ele foi dos maiores heroacuteis de guerra brasileiros e a cena dramaacutetica de sua morte foi relatada com detalhes em ceacutelebre reportagem do correspondente de guerra Joel Silveira(SILVElRA 1945) Em uma das ediccedilotildees eacute relatado que Wolff

teve seu batismo de fogo no ataque aMontese Desde oinicio da accedilatildeo oseu iacutempeto o seu entusiasmo asua agressividade foram por todos reconhecidos Suacapacidade de comando agravefrente de patrulhas foi um dos fatores incontestes da excelente atuaccedilatildeo de seus comandados Max Wolff foi morto por uma rajada de metralhadora geffi1ana e ganhou post mortem a mais alta condecoraccedilatildeo americana de guerra concedida a estrangeiros a Silver Star (Coleccedilatildeo de Aventuras 1957 p22-23)

Um dado relevante eacuteque embora ocasionalmente sej am feitas referecircncias aos oficiais comandantes das unidades combatentes as narrativas quadrinizadas poucas vezes fazem referecircncias aos oficiais-superiores Atendecircncia observada

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na amostragem eacute a de valorizar preferencialmente os praccedilas soldados anocircnimos que efetivamente arriscaram suas vidas em combate Por vezes oficiais comandantes aparecem nas narrativas ordenando missotildees difiacuteceis de serem cumpridas ou mesmo temerariamente arriscadas

Haacute inclusive uma narrativa extraiacuteda do polecircmico livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB em que a proacutepria imagem do Comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes eacutequestionada em histoacuteria conhecida como Oepisoacutedio das facas Tratava-se de uma substituiccedilatildeo de batalhotildees na frente de combate de uma unidade norte-americana que estava exaurida por um batalhatildeo brasileiro Entretanto obatalhatildeo da FEB indicado para substituir os norte-americanos havia acabado de voltar de um combate renhido com baixas que natildeo haviam sido repostas com desfalque de armas e municcedilotildees O relato do livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB narra que os oficiais subalternos (tenentes e capitatildees aqueles que arriscavam a vida junto com os praccedilas na frente de combate) tentavam argumentar a inconveniecircncia da substituiccedilatildeo ao que foram silenciados asperamente por Mascarenhas de Moraes que chamou-os de covardes e ameaccedilou ir pessoalmente comandar o batalhatildeo em substituiccedilatildeo Quando lhe foi argumentado que faltavam armas e municcedilotildees Mascarenhas teria respondido Os senhores natildeo tem facas Cada soldado natildeo recebeu uma faca Amuniccedilatildeo iraacute depois De qualquer forma o batalhatildeo subiraacute hoje Contrariados os membros do batalhatildeo tentaram substituir os norte-americanos que ao notarem a precariedade do batalhatildeo substituto se recusaram a deixar seus postos Aconsequumlecircncia de tal confusatildeo foi uma grande movimentaccedilatildeo de homens notada pelos alematildees que trataram de concentrar sua artilharia no local com saldo de baixas perfeitamente evitaacuteveis (ARRUDA et aW 1949 p72-75)

Essa narrativa foi adaptada para os quadrinhos e estes enfatizaram a diferenccedila entre os oficiais superiores protegidos em seus quarteacuteis-generais longe dos combates encarniccedilados e os tenentes que satildeo os uacutenicos chefes que vivem integralmente a vida dos pracinhas que eacute sobre eles afinal que repousa a sorte dos planos de batalha Os recursos visuais dos quadrinhos ressaltam essas diferenccedilas mostrando os soldados com semblantes cansados sujos com a barba por fazer capacetes desafivelados enquanto os oficiais

HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

HISTOacuteRIA amp EtSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007 151

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

152 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

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Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

l

HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

I

156 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina vl) p141-156 sel2007

Page 9: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

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em relaccedilatildeo agrave FAB e agrave FEB sobre detalhes referentes a armas e municcedilotildees taacuteticas de guerra empregadas durante as batalhas pelos brasileiros etc

Arevista tambeacutem tinha o papel de se preocupar com o estado dos exshycombatentes no poacutes-guerra Algumas histoacuterias questionavam-se sobre o paradeiro dos ex-combatentes e se eles estavam amparados pelos poderes puacuteblicos Outras quando terminavam informavam a trajetoacuteria do poacutes-guerra dos personagens principais

As histoacuterias presentes nos quadrinhos natildeo eram exclusivamente para os combates das Forccedilas Brasileiras havia tambeacutem histoacuterias de batalhas dos norteshyamericanos ou outras histoacuterias de confrontos entre os Aliados e o Eixo NOffilalmente tais histoacuterias eram importadas do Estados Unidos e adaptadas e traduzidas para oportuguecircs Muitas delas eram tidas como reais mas amaioria era fictiacutecia Nestas revistas claramente havia uma exaltaccedilatildeo dos norteshyamericanos classificando-os como heroacuteis e invenciacuteveis Mas apartir do nuacutemero treze devido ao grande sucesso da revista as histoacuterias passaram a ser exclusivamente dedicadas aos feitos heroacuteicos dos pracinhas sendo inteiramente nacional com desenhos e histoacuterias brasileiras

Entre os heroacuteis de guerra separamos um que eacute exemplar do tipo de abordagem realizada pelas revistas Trata-se do sargento Max Wolff Filho que foi citado com frequumlecircncia na Coleccedilatildeo de Aventuras Ele foi dos maiores heroacuteis de guerra brasileiros e a cena dramaacutetica de sua morte foi relatada com detalhes em ceacutelebre reportagem do correspondente de guerra Joel Silveira(SILVElRA 1945) Em uma das ediccedilotildees eacute relatado que Wolff

teve seu batismo de fogo no ataque aMontese Desde oinicio da accedilatildeo oseu iacutempeto o seu entusiasmo asua agressividade foram por todos reconhecidos Suacapacidade de comando agravefrente de patrulhas foi um dos fatores incontestes da excelente atuaccedilatildeo de seus comandados Max Wolff foi morto por uma rajada de metralhadora geffi1ana e ganhou post mortem a mais alta condecoraccedilatildeo americana de guerra concedida a estrangeiros a Silver Star (Coleccedilatildeo de Aventuras 1957 p22-23)

Um dado relevante eacuteque embora ocasionalmente sej am feitas referecircncias aos oficiais comandantes das unidades combatentes as narrativas quadrinizadas poucas vezes fazem referecircncias aos oficiais-superiores Atendecircncia observada

HIST6RIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007 149

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na amostragem eacute a de valorizar preferencialmente os praccedilas soldados anocircnimos que efetivamente arriscaram suas vidas em combate Por vezes oficiais comandantes aparecem nas narrativas ordenando missotildees difiacuteceis de serem cumpridas ou mesmo temerariamente arriscadas

Haacute inclusive uma narrativa extraiacuteda do polecircmico livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB em que a proacutepria imagem do Comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes eacutequestionada em histoacuteria conhecida como Oepisoacutedio das facas Tratava-se de uma substituiccedilatildeo de batalhotildees na frente de combate de uma unidade norte-americana que estava exaurida por um batalhatildeo brasileiro Entretanto obatalhatildeo da FEB indicado para substituir os norte-americanos havia acabado de voltar de um combate renhido com baixas que natildeo haviam sido repostas com desfalque de armas e municcedilotildees O relato do livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB narra que os oficiais subalternos (tenentes e capitatildees aqueles que arriscavam a vida junto com os praccedilas na frente de combate) tentavam argumentar a inconveniecircncia da substituiccedilatildeo ao que foram silenciados asperamente por Mascarenhas de Moraes que chamou-os de covardes e ameaccedilou ir pessoalmente comandar o batalhatildeo em substituiccedilatildeo Quando lhe foi argumentado que faltavam armas e municcedilotildees Mascarenhas teria respondido Os senhores natildeo tem facas Cada soldado natildeo recebeu uma faca Amuniccedilatildeo iraacute depois De qualquer forma o batalhatildeo subiraacute hoje Contrariados os membros do batalhatildeo tentaram substituir os norte-americanos que ao notarem a precariedade do batalhatildeo substituto se recusaram a deixar seus postos Aconsequumlecircncia de tal confusatildeo foi uma grande movimentaccedilatildeo de homens notada pelos alematildees que trataram de concentrar sua artilharia no local com saldo de baixas perfeitamente evitaacuteveis (ARRUDA et aW 1949 p72-75)

Essa narrativa foi adaptada para os quadrinhos e estes enfatizaram a diferenccedila entre os oficiais superiores protegidos em seus quarteacuteis-generais longe dos combates encarniccedilados e os tenentes que satildeo os uacutenicos chefes que vivem integralmente a vida dos pracinhas que eacute sobre eles afinal que repousa a sorte dos planos de batalha Os recursos visuais dos quadrinhos ressaltam essas diferenccedilas mostrando os soldados com semblantes cansados sujos com a barba por fazer capacetes desafivelados enquanto os oficiais

HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

HISTOacuteRIA amp EtSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007 151

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I

-----------------------------------------------------~ -- shy

que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

152 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

HIST(lIA amp ENSINO londrina v13 pl41-156 set2007

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Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

l

HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

I

156 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina vl) p141-156 sel2007

Page 10: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

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na amostragem eacute a de valorizar preferencialmente os praccedilas soldados anocircnimos que efetivamente arriscaram suas vidas em combate Por vezes oficiais comandantes aparecem nas narrativas ordenando missotildees difiacuteceis de serem cumpridas ou mesmo temerariamente arriscadas

Haacute inclusive uma narrativa extraiacuteda do polecircmico livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB em que a proacutepria imagem do Comandante da FEB Marechal Mascarenhas de Moraes eacutequestionada em histoacuteria conhecida como Oepisoacutedio das facas Tratava-se de uma substituiccedilatildeo de batalhotildees na frente de combate de uma unidade norte-americana que estava exaurida por um batalhatildeo brasileiro Entretanto obatalhatildeo da FEB indicado para substituir os norte-americanos havia acabado de voltar de um combate renhido com baixas que natildeo haviam sido repostas com desfalque de armas e municcedilotildees O relato do livro Depoimento dos Oficiais da Reserva da FEB narra que os oficiais subalternos (tenentes e capitatildees aqueles que arriscavam a vida junto com os praccedilas na frente de combate) tentavam argumentar a inconveniecircncia da substituiccedilatildeo ao que foram silenciados asperamente por Mascarenhas de Moraes que chamou-os de covardes e ameaccedilou ir pessoalmente comandar o batalhatildeo em substituiccedilatildeo Quando lhe foi argumentado que faltavam armas e municcedilotildees Mascarenhas teria respondido Os senhores natildeo tem facas Cada soldado natildeo recebeu uma faca Amuniccedilatildeo iraacute depois De qualquer forma o batalhatildeo subiraacute hoje Contrariados os membros do batalhatildeo tentaram substituir os norte-americanos que ao notarem a precariedade do batalhatildeo substituto se recusaram a deixar seus postos Aconsequumlecircncia de tal confusatildeo foi uma grande movimentaccedilatildeo de homens notada pelos alematildees que trataram de concentrar sua artilharia no local com saldo de baixas perfeitamente evitaacuteveis (ARRUDA et aW 1949 p72-75)

Essa narrativa foi adaptada para os quadrinhos e estes enfatizaram a diferenccedila entre os oficiais superiores protegidos em seus quarteacuteis-generais longe dos combates encarniccedilados e os tenentes que satildeo os uacutenicos chefes que vivem integralmente a vida dos pracinhas que eacute sobre eles afinal que repousa a sorte dos planos de batalha Os recursos visuais dos quadrinhos ressaltam essas diferenccedilas mostrando os soldados com semblantes cansados sujos com a barba por fazer capacetes desafivelados enquanto os oficiais

HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

HISTOacuteRIA amp EtSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007 151

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I

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

152 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

HIST(lIA amp ENSINO londrina v13 pl41-156 set2007

154

Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

l

HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

I

156 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina vl) p141-156 sel2007

Page 11: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

superiores aparecem com farda bem-passada noacutes impecaacuteveis de gravata e postura arrogante(Combate 38 sdata p0112) (FIGURA 2)

Assim percebe-se uma grande diferenccedila de postura entre os qUldrinhos de guerra brasileiros (em que os heroacuteis satildeo os sClldados cabos sargentos tenentes e capitles) das histoacuterias oficiais ememoacuterias glorificadoras publicadas agravequela eacutepoca (em geral sob os auspiacutecios da Biblioteca do Exeacutercito Editora) que enfatizavam os feitos dos oficiuumls superiores Pode-se explicar essa diferenccedila em primeiro lugar pela proacutepria estrutura elos quadrinhos de guerra ClljO puacuteblico se interessavapelas aventuras daqueles que realmente arriscaram suas e ruacuteo guerreiros de gabinete Essa estrutura eacute encontraacutevel tambeacutem nos quadrinhos de guerra norte-anlericanos e europeus (EDWRDS 1996) Em segundo lugar eacute possiacutevel interpretar tal postura dos quadrinhos de guerra pela tendecircncia presente em diversos agentes de memoacuteria coletiva de valorizar os cidadatildeos comuns envolvidos na guerra um fenocircmeno que () historiador inglecircs Alex King ao estudlr a construccedilatildeo da memoacuteria coletiva da Prirneira Guerra lundial na Inglaterra chamou de canonizaccedilatildeo do homem comum do heroacutei anocircnimo (KING 1998) este caso os quadrinhos de guerra

I mesmo involuntariamente desenvolviam uma leitura altemativa da participaccedilatildeo

~ brasileira na guerra oque era notaacutevel principalmente se atentarmos para ofato de que a censura aos produtos culturais estava em seu periacuteodo mais agudo

Consideraccedilotildees Finais

Aanaacutelise das narrativas da participaccedilatildeo brasileira na Segunda Guerra Mundial contidas nas revistas em quadrinhos voltadas para a temaacutetica da guerra mostrou o investimento de tais revistas na composiccedilatildeo evalorizaccedilatildeo da experiecircncia histoacuterica dos combatentes brasileiros Ressaltando a veracidade das histoacuterias procurando episoacutedios ao mesmo tempo espetacullres e emocionantes os quadrinhos de guerra brasileiros puderam atingir um puacuteblico mais expressivo que amaior parte da bibliografiamemorialiacutestica da participaccedilatildeo brasileira no conflito Os quadrinhos de guerra contudo marcam diferenccedilas com este tipo de literatura oficial Ao inveacutes de glorificar os liacutederes militares

Embora o ano l1Io apareccedila o mecircs eacute referido (dezembro) Podernos estimar que a cdiccedilQO eacute rle 1967 1968 011 1969 pois opreccedilo estava cX]lreso em Cruzeiros t)Vos (CJ($ 050) que circularam entre ttvereiro de Il67 emaio de 1970

HISTOacuteRIA amp EtSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007 151

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I

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

152 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

HIST(lIA amp ENSINO londrina v13 pl41-156 set2007

154

Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

l

HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

I

156 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina vl) p141-156 sel2007

Page 12: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

I

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que no periacuteodo estudado eram protagonistas ativos na arena poliacutetica do paiacutes preferiam valorizar em imagens e textos os cidadatildeos comuns convocados ou voluntaacuterios que lutaram com risco de vida contra onazi-fascismo Foi poreacutem um gecircnero de quadrinizaccedilatildeo efecircmero pois em meados dos anos 70 as revistas de quadrinhos especializadas na temaacutetica da guerra jaacute haviam desaparecido das bancas brasileiras substituiacutedos pelas revistas de terror espionagem aventuras e temas eroacuteticos Mesmo assim eacute possiacutevel afirmar que algumas geraccedilotildees de jovens tiveram seu contato principal com o tema da participaccedilatildeo brasileira na guerra atraveacutes das paacuteginas de revistas como Coleccedilatildeo de Aventuras Combate Diaacuterio de Guerra entre outras

Referecircncias

ARRUDA Demoacutecrito et alii Depoimento dos Oficiais de Reserva da FEB Satildeo Paulo sed 1949

ASSUMPCcedilAcircO JRFrancisco B Psicologia eHistoacuteria em Quadrinhos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2001

CIRNE MoacyA eJplosatildeo criativa dos quadrinhos 5edllio de Janeiro Vozes 1977

________~ Uma introduccedilatildeo poliacutetica aos quadrinhos Rio de Janeiro Angra Achiarneacute 1982

EDWARDS B The popularisation ofwar in comic strips 1958-1988 History Workshop Journal N 42 1996 p 181-189

EISNER Will Quadrinhos earte sequumlencial 3ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

GASCA Luis GUBERN Romaacuten El discurso deI comic Madrid Caacutetedra 1991

GONCcedilALO JR A Guerra dos gibis a formaccedilatildeo do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos 1933-64 Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004

KING Alex Memoriais ofthe Great War in Britain the symbolism ofremembrance OxfordlNew York Oxford University Press 1998

LUYTEN Sonia M Bibe (Organizadora) Histoacuterias em Quadrinhos - leitura criacutetica 2deg Ed Satildeo Paulo Paulinas pp 18-83 1985

MOYA Aacutelvaro 5hazam Satildeo Paulo Perspectiva1970

152 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina v13 p141-156 set2007

I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

HIST(lIA amp ENSINO londrina v13 pl41-156 set2007

154

Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

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HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

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I RIFAS Leonard Cold War Comics InteTTluumltiemaljouTTlClI olComicArt ndeg 1 vol 2 pp 0)-44 ~ooo

snVElI)oel Histoacuterias de Pracinha Rio de Janwo Ed Leitura 19l5

VERGUEIRO Valdomiro lguns aipectos da sociedade e da cultura brLiileiras nas histoacuterias em quadrinhos Revista Agacircque Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Escola de Comunicaccedilotildees c Altes httpwwwecauspbrnucleosnpheccanuclcollsjl Qamp1ljllC volumel 111 algunsaspcctoslsp) vol l nl 1998

VmAL Paulo Heroacuteis Esquecidos Rio de Janeiro GRD 1960

Histoacuterias em Quadrinhos

Coleccedilatildeo de Alenturas Ano l sn Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccediluacuteo de Aventums Ano l 30 Ediccedilatildeo Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccediliio de Aventuras Ano I ndeg 6 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de Aventuras Ano I ndeg 7 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilc7o deAventums Ano I ndeg 8 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilacirco de ilzenuras Ano I ndeg 9 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de Janeiro 1957

Coleccedilatildeo de ilwnturas Ano I ndeg 10 Estuacutedio Graacutefico Garirnar SA Rio de]aneiro 1957

Coleccedilt7o de Aventums Ano I ndeg 11 Estuacutedio Graacutefjco Garirnar SA Rio deJaneiro 1958

Coleccedilatildeo deAlIenturas Ano l ndeg 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Coleccedilacirco de Aventura~ Ano 11 ndeg 13 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 1958

Comb(lte ndeg 15 mes Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate (Almanaque) ndeg 6174 mecircs 01 Taika LTDA Satildeo Paulo 1974

Combate ndeg 28 Taika LTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 29 Taika lTDA Satildeo Paulo 1973

Combate na 38 TaikaLTDA Satildeo Paulo [197]

Diaacuterio de Guerra Ano Il ndeg 5 Penteado Satildeo Paulo

Diaacuterio de Guerra (jlmanaque) Penteado Satildeo Paulo

HIST(lIA amp ENSINO londrina v13 pl41-156 set2007

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Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

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HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

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Page 14: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

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Pelotatildeo Suicida ndeg 1 Ninja Satildeo Paulo

Selliccedilo Secreto Ano I na 12 Estuacutedio Graacutefico Garimar SA Rio de Janeiro 19h9

Comics of Brazil narrativcs of lhe countrlts participation in lhe Second Vori el Var

ABSTRACT

lhe jlurpose of this work is to analyze the narratives th at the Brazilian cOj]]ics established for the Braziliall participation in the Second Vorld War Between the decades of 1950 and 1970 comic books on this theme were published and they had larger circulation and more readers than the publishing output on the subject representing one of the few opportunities of contact that the young public had outside the school environment about the war time as well as about the Brazilian participation in this conflict

Key words Comics Sccond World War The Brazilian Expeditionary Force

HISTOacuteRLI amp ENSINO Londrina v13 p141-1S6 set2007

Figura 01

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HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

I

156 HISTOacuteRIA amp ENSINO Londrina vl) p141-156 sel2007

Page 15: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

Figura 01

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HrSTliacuteRIA amp tNSIO Londrina v 13 pl41-1 s6 se2007 155

Figura 02

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Page 16: Historia Do Brasil Em Quadrinho - Desconhecido

Figura 02

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