Hipogonadismo Hipogonadotrófico e Infertilidade Masculina Dinis... · durante a diferenciação...

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Hipogonadismo Hipogonadotrófico e Infertilidade Masculina Rita Alexandra Fernandes Dinis Naturalidade: Guarda, Portugal Data de Nascimento: 12 de Maio de 1990 Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Portugal Email: [email protected]

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Hipogonadismo Hipogonadotrófico e Infertilidade Masculina

Rita Alexandra Fernandes Dinis

Naturalidade: Guarda, Portugal

Data de Nascimento: 12 de Maio de 1990

Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Portugal

Email: [email protected]

 

 

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AGRADECIMENTOS

  Gostaria de deixar aqui um breve agradecimento à Dra Margarida Bastos e ao serviço

de Endocrinologia do C.H.U.C., pela disponibilidade e pelo conhecimento que me

proporcionaram para realizar este trabalho.

Para terminar agradeço aos pais e irmã, ao meu namorado, à minha família e amigos

pelo carinho e apoio que sempre me deram.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACTH hormona adrenocorticotrófica

FSH hormona folículo estimulante

GnRH hormona libertadora de gonadotrofinas

hCG gonadotropina coriónica humana

HH hipogonadismo hipogonadotrófico

hMG gonadotropina da menopausa humana

IGF-I insulin-like growth factor 1

LH hormona luteinizante

OMS Organização Mundial de Sáude

rhFSH hormona folículo estimulante recombinante humana

rhLH hormona luteinizante recombinante humana

TSH hormona estimulante da tiróide

 

 

 

 

 

 

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. 2  

LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................................ 3  

RESUMO .................................................................................................................................. 5  

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9  

2. HIPOGONADISMO HIPOGONADOTRÓFICO .......................................................... 11  

2.1.  EIXO  HIPOTÁLAMO-­‐HIPOFISÁRIO-­‐GONADAL  .....................................................................................................  11  

2.2.  DEFINIÇÃO  .................................................................................................................................................................  13  

2.3.  ETIOLOGIA  .................................................................................................................................................................  15  

2.4.  CLÍNICA  ......................................................................................................................................................................  15  

2.5.  DIAGNÓSTICO  ............................................................................................................................................................  17  

2.6.  ESTUDO  GENÉTICO  ..................................................................................................................................................  19  

2.7.  TRATAMENTO  ...........................................................................................................................................................  22  

2.8.  MONITORIZAÇÃO  ......................................................................................................................................................  23  

3. INFERTILIDADE MASCULINA .................................................................................... 25  

3.1.  DEFINIÇÃO  .................................................................................................................................................................  25  

3.2.  ESTUDO  ......................................................................................................................................................................  25  

3.3.  TRATAMENTO  DA  FERTILIDADE  ............................................................................................................................  27  

3.4.  RESULTADOS  .............................................................................................................................................................  29  

3.5.  MONITORIZAÇÃO  ......................................................................................................................................................  32  

4. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO ......................................................................................... 33  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 34  

 

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RESUMO

Introdução: No hipogonadismo hipogonadotrófico em doentes do sexo masculino com

infertilidade, é hoje possível efetuar uma terapêutica eficaz. Esta consegue na maioria das

vezes restaurar a fertilidade e melhorar a qualidade de vida destes doentes.

Objectivos: Fazer uma revisão bibliográfica actualizada do hipogonadismo

hipogonadotrófico e as suas implicações na fertilidade masculina. Foi realizada uma pesquisa

na base de dados na Pubmed e fontes documentais de referência.

Desenvolvimento: O hipogonadismo hipogonadotrófico é uma causa rara de infertilidade

masculina, no entanto, o seu diagnóstico durante o estudo de um casal infértil é importante

porque é reversível com tratamento apropriado. Um dos aspectos que leva o doente a procurar

ajuda é a infertilidade. Mas, existem outros sinais e sintomas que podem afectar

negativamente a vida do doente, e nos quais o tratamento é igualmente eficaz. Noutras

situações, poderá haver atraso no desenvolvimento pubertário e o diagnóstico é feito antes de

surgir o problema da fertilidade. Também nesta fase o tratamento tem um papel

importantíssimo. Para fazer o diagnóstico e determinar a etiologia, é importante fazer uma

história clínica e um exame físico completos. Só depois se efectuam os exames

complementares, como estudo analítico geral, doseamentos hormonais, exames de imagem,

espermograma, e outros que sejam necessários. Nalguns casos já é possível o diagnóstico

genético. O tratamento do hipogonadismo hipogonadotrófico consiste na correcção do défice

hormonal de gonadotrofinas e testosterona. Contudo a escolha do esquema terapêutico é feita

com base no desejo do doente de recuperar a fertilidade ou apenas de melhorar o seu bem-

estar, com melhoria da sintomatologia hipoandrogénica. Todos os doentes devem ser

acompanhados durante todo o tratamento, para determinar se está a ser eficaz e se necessita de

algum ajustamento terapêutico, assim como para prevenir e controlar eventuais efeitos

adversos.

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Conclusões: Aprofundar conhecimentos sobre o hipogonadismo hipogonadotrófico como

causa possível de infertilidade masculina ou de atraso pubertário. Após o diagnóstico

encaminhar o doente para centros especializados visando uma terapêutica individualizada. A

maioria das terapêuticas preconizadas actualmente têm-se demonstrado bastante eficazes.

Palavras-Chave: hipogonadismo hipogonadotrófico, infertilidade masculina,

espermatogénese, gonadotrofinas, testosterona.

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ABSTRACT

Introduction: In hypogonadotropic hypogonadism in male patients with infertility, today it is

possible to make an effective therapy. This can most of the times restore fertility and improve

the quality of life of these patients.

Objectives: Make an updated literature review of hypogonadism and its implications for male

fertility. A search in the database in Pubmed and documentary reference sources was

performed.

Results: The hypogonadotropic hypogonadism is a rare cause of male infertility, however, its

diagnosis during the study of an infertile couple is important because it is reversible with

appropriate treatment. One of the aspects that leads the patient to seek help is infertility. But

there are other signs and symptoms that may adversely affect the life of the patient, and in

which the treatment is equally effective. In other situations, there may be a delay in pubertal

development and the diagnosis is made before the fertility problem appears. In this phase the

treatment have an important role. To make the diagnosis and determine the etiology, it is

important to do a complete medical history and physical examination. Only after we perform

additional tests such as general analytical study, hormonal assays, imaging tests, semen

analysis, and other necessary. In some cases it is possible genetic diagnosis. The treatment of

hypogonadism consists in correcting the hormonal deficit of gonadotropins and testosterone.

However the choice of treatment scheme is based on the desire of the patient to recover

fertility or just to improve your well-being with improved hypoandrogenic symptomatology.

All patients should be monitored throughout treatment, to determine whether it is being

effective and therapeutic needs some adjustment, as well as to prevent and control any

adverse effects.

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Conclusion: In depth knowledge of hypogonadism as a possible cause of male infertility or

pubertal delay. After diagnosis refer the patient to specialized centers seeking individualized

therapy. Most of the currently recommended therapies have been shown to be quite effective.

Key-Words: hypogonadotrophic hypogonadism, male infertility, spermatogenesis,

gonadotropins, testosterone.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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1. Introdução

Em todo o Mundo, cerca de 9% dos casais sofrem de problemas de infertilidade.

Destas situações 20% são atribuídas exclusivamente a causas masculinas. Nestas, 20 a 30%

dos casos a causa é atribuída a uma redução da qualidade do esperma. No entanto, o factor

masculino pode estar presente em 50 a 60% dos casos de infertilidade. O Hipogonadismo

Hipogonadotrófico (HH) surge em menos de 1% dos casos como factor masculino de

infertilidade, contudo esta causa é muitas das vezes reversível com a terapêutica adequada.[2]

O HH é uma condição rara, que resulta de níveis baixo de gonadotrofinas, secundária

a uma deficiência hipotalâmica ou hipofisária congénita ou adquirida, que leva a ausência de

desenvolvimento ou incapacidade de manutenção da função gonadal normal. [3]

Existem diversas causas de HH, incluindo anatómicas, funcionais, idiopáticas e

algumas síndromes genéticas raras. O HH idiopático está presente quando não existem

defeitos estruturais demonstráveis ou outras deficiências endócrinas.[2] O HH idiopático é

uma condição rara e com maior incidência no sexo masculino, 1:8000 homens para 1:40000

mulheres.[4]

Independentemente da causa do HH, os doentes apresentam-se com uma função

testicular anormal, com problemas na secreção de testosterona e na produção de esperma,

causada pela ausência de estimulação pelo FSH e LH.[5] A apresentação clínica varia

consoante a etiologia e a idade de aparecimento do hipogonadismo.

A terapêutica do HH depende do desejo do doente relativamente à sua fertilidade

futura. A secreção de gondotrofinas e a fertilidade podem ser restauradas pela administração

de GnRH pulsátil ou pela reposição das gonadotrofinas e de testosterona. O HH é uma das

raras condições patológicas, no qual o tratamento médico específico pode reverter a

infertilidade.[6]

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Este trabalho pretende fazer uma revisão actualizada sobre o HH como uma causa

reversível de infertilidade masculina, como fazer o seu estudo e diagnóstico, e qual o

tratamento mais adequado nestas situações.

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2. Hipogonadismo Hipogonadotrófico

2.1. Eixo Hipotálamo-Hipofisário-Gonadal

O hipotálamo, a hipófise e os testículos formam um sistema integrado responsável

pela secreção hormonal e espermatogénese normal no homem[6], designado por eixo

hipotálamo-hipófise-gónadas.

Num indivíduo normal, o eixo hipotálamo-hipófise-gónadas encontra-se

extremamente activo durante o período neonatal, seguindo-se de um período de supressão, no

qual os níveis plasmáticos de gondadotrofinas e esteroides gonadais estão baixos, e o eixo se

encontra praticamente suprimido. No início do desenvolvimento pubertário vai ocorrer a

reactivação do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, caracterizado pela secreção de

gonadotrofinas (LH e FSH) pela hipófise, após estimulação pela GnRH, libertada pelo

hipotálamo.

As gonadotrofinas têm o papel de regular a função dos gónadas, pela regulação da

produção de esteroides sexuais e da gametogénese, possibilitando o normal desenvolvimento

dos caracteres sexuais secundários e aquisição da capacidade reprodutiva. No homem, a LH

estimula a produção de testosterona pelas células de Leydig testiculares; e a FSH estimula o

crescimento testicular e o aumento da produção da “androgen-binding protein” pelas células

de Sertoli. A “androgen-binding protein” permite a presença de elevadas concentrações de

testosterona nos testículos, que é um factor fundamental para a espermatogénese normal. Para

a maturação das espermatogónias é necessário a estimulação de ambas as gonadotrofinas. A

FSH tem ainda um papel indirecto na produção de testosterona, porque induz a maturação das

células de Leydig durante o desenvolvimento e aumenta o número de receptores de LH nas

células de Leydig.

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A secreção de LH é controlada por feedback-negativo pela acção dos esteroides

gonadais no hipotálamo e na hipófise. A inibição por feedback-negativo da secreção de FSH

envolve tanto as hormonas peptídicas como esteroides testiculares, secretadas pelos testículos.

Um indivíduo normal produz diariamente cerca de 5-7mg de testosterona. As

principais funções desta são: a regulação da secreção das gonadotrofinas pelo sistema

hipotálamo-hipofisário, iniciação e manutenção da espermatogénese, fenótipo masculino

durante a diferenciação sexual, promoção da maturação sexual masculina na puberdade, e o

controlo da actividade sexual do homem adulto.

A quantidade de LH e FSH que são secretadas pela hipófise em reposta à secreção de

GnRH depende da idade e do estado hormonal do indivíduo. A libertação pulsátil de GnrH

pelos neurónios hipotalâmicos é essencial para iniciar todo o processo reprodutivo, com início

na estimulação da libertação de gonadotrofinas hipofisárias, secreção testicular de

Hipotálamo  Testosterona

Testosterona Hipófise

FSH LH

GnRH

Inibina B

(+) (-)

(-)

(+)

Testículos

Células de Leydig

Testosterona Células de Sertoli Células germinativas

(-)

Espermatogénese

Figura 1 Figura representativa do eixo hipotálamo-hipófise-testículos.

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testosterona, início do desenvolvimento pubertário, e a espermatogénese. Antes da puberdade

a secreção de FSH é maior que a de LH. Pulsos de GnRH pelo hipotálamo de menor

frequência estimulam a secreção de FSH, enquanto pulsos mais frequentes estimulam mais a

secreção de LH.

2.2. Definição

O HH trata-se de um distúrbio endócrino, caracterizado pela supressão ou diminuição

da secreção de GnRH pelo hipotálamo (HH Hipotalâmico) ou de LH e FSH pela hipófise, por

resistência à acção do GnRH (HH Hipofisário). O estudo genético permite na maioria das

vezes fazer o diagnóstico.

O HH idiopático é considerado uma condição clínica rara e geneticamente

heterogénea, mais frequente no sexo masculino, que se pode manifestar como forma

esporádica ou ser herdada como um traço autossómico dominante, recessivo ou, no caso do

Síndrome de Kallman, também pode ser recessivo ligado ao X.[1]

A complexa organização e regulação do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal humano

torna-o susceptível a diversas disfunções. Existe um grande número de alterações genéticas

identificadas em proteínas reguladoras desse eixo, as quais levam a graus variáveis de HH

isolado congénito. Por este motivo, hoje em dia, o estudo genético é um passo fundamental no

estudo dos indivíduos com HH.

A espermatogénese é o processo pelo qual ocorre a formação de espermatozoides.

Inicia-se na puberdade e, normalmente, decorre de forma contínua durante toda a vida. Ocorre

nos túbulos seminíferos do testículo, e é controlada por factores hormonais. Todo o processo

desde a célula germinativa precursora, a espermatogónia, até à formação dos gâmetas

masculinos, espermatozoides, demora cerca de dois meses. Está dividida em quatro fases de

desenvolvimento: multiplicação, crescimento, maturação e diferenciação. O espermograma

permite analisar a qualidade e quantidade de espermatozoides. Segundo a OMS, num

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individuo normal o espermograma deverá ter os seguintes valores: volume ejaculado normal é

entre 2 a 5 ml; com pH entre 7,2 a 8; concentração de espermatozoides superior a 20

milhões/ml; número de espermatozoides superior a 40 milhões/ejaculado; em relação à

motilidade, 25% ou mais de espermatozoides com progressão rápida linear, ou mais de 50%

com progressão linear rápida e progressão linear lenta ou não linear; >30% de formas com

morfologia normal; >50% dos espermatozoides vivos; ≥14% de formas normais; <1milhão de

leucócitos por ml. Nos parâmetros bioquímicos a avaliar é necessário dosear o ácido cítrico

(normal se >10mg por ejaculado) e a frutose (normal se >13mmol por ejaculado). Quando

indicado poderá realizar-se outros exames para avaliar a capacidade de fertilização do

espermatozoides.

Anticorpos anti-espermatozóideMedicação, factores ambientais, stress, doença sistémicaVaricoceleProblemas sexuais / perturbações da ejaculaçãoIdiopática

O espermograma constitui a base das decisões relativas àabordagem adequada. O espermograma deve ser efectuadonum laboratório que cumpra os padrões nacionais de controlode qualidade (Tabela 2).

Volume 2,0�mlpH 7,0-8,0Concentração�espermatozóides 20�milhões/mlNº.�total�de�espermatozóides 40�milhões/ejaculadoMotilidade 50%�com�motilidade

progressiva�ou�25%�commotilidade�rápida�noespaço�de�60�minutosapós�ejaculação

Morfologia 14%�de�formasnormais*

Leucócitos <�1�milhões/mlTeste <�50%�espermatozóides

com�partículas�aderentes

!

!

!

!

!

Immunobead

Espermograma

Tabela�2: Resumo�dos�valores�consideradosnormais�para�o�espermograma�deacordo�com�critérios�da�OMS�de�2006

130 Infertilidade�Masculina

131Infertilidade�Masculina

Teste�MAR** <�50%�espermatozóidescom�partículas�aderentes

Se os valores estiverem normais de acordo com os critérios daOMS, um teste é em princípio suficiente. O espermogramadeve ser repetido pelo menos mais duas vezes se os resultadosforem anormais. É importante distinguir entre oligozoosper-mia (< 20 milhões espermatozóides/ml), astenozoospermia(< 50% espermatozóides móveis) e teratozoospermia (< 14%formas normais). Muitas vezes, as três patologias ocorremsimultaneamente como síndroma de oligo-asteno-teratozoos-permia (OAT). Em casos extremos de síndroma OAT (< 1 mi-lhões espermatozóides/ml), tal como no caso da azoospermia,há um aumento na incidência da obstrução do tracto genitalmasculino e/ou anomalias genéticas.

Os distúrbios hormonais são mais prevalentes em homensinférteis do que na população em geral, mas ainda assim sãoraros. O estudo hormonal pode limitar-se à determinação dahormona folículo-estimulante (FSH), hormona luteinizante(LH) e níveis de testosterona. Em homens com azoospermiaou OAT extrema, é importante fazer a distinção entre causasobstrutivas e não obstrutivas. Um critério com valor preditivorazoável para obstrução é a presença de FSH normal e volumetesticular normal bilateralmente. No entanto, 29% dos homenscom FSH normal parecem ter uma espermatogénese anómala.

`* Avaliação�de�acordo�com�os�critérios�de�Kruger�eMenkfeld.**�MAR�=�Reacção�anti-globulina�mista

Frequência do espermograma

Estudo hormonal

Tabela 1 Resumo dos valores considerados normais para o espermograma de acordo com critérios da OMS de 2006, adaptado de “Orientações para a investigação da infertilidade masculina”, por G.R. Dohle, Z. Kopa, A. Jungwirth, T.B. Hargreave.

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2.3. Etiologia

O HH pode ser provocado por deficiência hipotalâmica ou hipofisária, e pode ser

congénito ou adquirido. Normalmente, quando é de etiologia hipotalâmica trata-se de um HH

isolado.

Quando tem origem hipofisária, habitualmente está associado a défices hipofisários de

outros eixos hormonais.

As causas congénitas mais comuns de HH são o HH Idiopático e o Síndrome de

Kallmann e suas variantes (HH Idiopático associado a anosmia ou hiposmia).

O HH adquirido pode ser causado por diversas causas orgânicas, incluindo processos

inflitrativos e lesões ocupantes de espaço, como hemocromatose, doenças granulomatosas,

tumores hipofisários e hipofisite linfocítica. Outras causas secundárias possíveis são: doenças

agudas graves, stress, malnutrição, excesso de exercício físico, ou estar associada a

traumatismo encefálico. Neste último caso normalmente trata-se de uma situação transitória.

Nos casos adquiridos, frequentemente a extensão da supressão das gonadotrofinas

correlaciona-se com a gravidade da doença. Um desenvolvimento sexual espontâneo normal,

e em alguns casos, mesmo fertilidade documentada e comprovada, antes do aparecimento da

disfunção reprodutora ou do surgimento de um quadro clínico sugestivo de HH, indica-nos

para uma causa adquirida.

A patologia autoimune hipofisária é uma causa rara de HH isolado no homem e,

normalmente, nestes casos não há resposta à administração de GnRH exógeno.[7]

2.4. Clínica

A apresentação clínica depende da idade em que surge o HH, da etiologia em causa, se

é congénito ou adquirido, da sua severidade e da presença de condições associadas. Nos casos

de HH congénito por défice de GnRH, há um desenvolvimento normal com diferenciação

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sexual completa até ao nascimento, porque durante a gestação a produção de testosterona é

estimulada pela hCG placentária.

Pode-se apresentar com uma ausência completa da maturação sexual, como ausência

de desenvolvimento pubertário com crescimento testicular mínimo, com descida testicular

para o escroto incompleta ou criptorquidia e volume testicular inferior a 4 ml. Nestes

indivíduos o tratamento raramente é eficaz na estimulação e normalização da

espermatogénese. [8]

A apresentação inicial pode ser um atraso pubertário, mas seguido de um

desenvolvimento aparentemente normal, porque existe produção androgénica suficiente para

iniciar a puberdade e o crescimento testicular. Nestes casos os indivíduos na idade adulta são

considerados férteis como qualquer indivíduo normal. Muitos destes indivíduos podem ter

história familiar de atraso pubertário, isto pode ocorrer em 12-15% dos familiares,

contrariamente ao 1% que pode ocorrer na população em geral.

Se o HH surgir já na idade adulta, após o completo desenvolvimento pubertário, o

espectro clínico é diferente. A maioria dos homens afectados apresenta diminuição da libido e

disfunção eréctil, que melhora com a administração de androgéneos. Outros sintomas

relacionados com o défice de androgéneos podem ser a diminuição da massa muscular,

alterações comportamentais, tais como menor agressividade e menos energia, quadro

depressivo, menor crescimento e menor quantidade de barba e pêlos corporais; e maior risco

de osteoporose.

Nos doentes não diagnosticados o diagnóstico de HH pode ser feito durante um estudo

de um casal com problemas de fertilidade. Em alguns casos pode mesmo haver história de

fertilidade prévia, como já referido anteriormente, depende de quando e por que razão surgiu

o hipogonadismo.

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O HH pode estar associado a outras patologias ou condições, dependendo da sua

origem. Pode estar associado a um panhipopituitarismo ou insuficiência ante-hipofisária

global, com défice de outras hormonas hipofisárias. Nestes casos, o quadro clínico pode ser

logo sugestivo de um patologia mais abrangente.

 

Hipogonadismo Pré-pubertário Hipogonadismo Pós-pubertário Estatura eunucoide Estatura normal Pequeno volume testicular (<6cc) Volume testicular normal ou ligeiramente

diminuído (15,5-19cc) Pénis pequeno (<5cm) Pénis de tamanho normal (≈8cm) Ausência de rugosidade e pigmentação normais da bolsa escrotal

Bolsa escrotal normal

Próstata pequena Próstata normal (20-30cc) Ausência de pêlos faciais, axilares e púbicos Queda de pêlos faciais, axilares e púbicos

Voz muito aguda Voz masculina normal Ginecomastia Ginecomastia Infertilidade Infertilidade Diminuição da libido Diminuição da libido Diminuição da densidade mineral óssea Diminuição da densidade mineral óssea Diminuição da massa muscular e aumento da percentagem de massa gorda

Diminuição da massa muscular e aumento da percentagem de massa gorda

Anemia normocítica normocrómica ligeira Anemia normocítica normocrómica ligeira Afrontamentos Sem alopécia masculina Diminuição da sensação de bem-estar Disfunção eréctil Tabela 2 Sintomas e sinais clínicos de hipogonadismo antes e depois da puberdade, adaptado de Fraietta,

R., D.S. Zylberstejn, and S.C. Esteves, Hypogonadotropic hypogonadism revisited. Clinics (Sao Paulo),

2013. 68 Suppl 1: p. 81-8.[6]

2.5. Diagnóstico

O diagnóstico começa pela história clínica completa e o exame físico, no qual se deve

ter em atenção os desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. Usa-se o orquidometro

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de Prader para determinar o volume testicular, que poderá ser importante para depois

monitorizar a resposta ao tratamento. Hoje em dia, será mais prático e correto usar a ecografia

escrotal. A ecografia permite também visualizar eventuais anomalias estruturais associadas. O

restante estudo deverá ser feito consoante cada caso em particular.

Laboratorialmente o diagnóstico de um HH é efectuado pelo doseamento hormonal

das gonadotrofinas, LH e FSH, e da testosterona. Se houver suspeita de um défice hipofisário,

dosear as restantes hormonas hipofisárias. A determinação da GnRH é laboratorialmente

impossível, porque esta está confinada ao sistema portal hipofisário e tem uma semivida de 2-

4 minutos. Como a secreção hormonal ocorre segundo um ritmo circadiano, os doseamentos

hormonais deverão ser efectuados entre as 8 e as 10 horas. Quando um doente se apresenta

com um défice de androgénios e níveis elevados de gonadotrofinas, isto sugere uma disfunção

gonadal primária e denomina-se hipogonadismo hipergonadotrófico. No HH encontramos

uma diminuição das gonadotrofinas e da testosterona. Na interpretação dos valores ter em

atenção os valores de referência de cada laboratório.

Deve-se ter em atenção que existem algumas condições que raramente podem estar

associadas a diminuição da concentração de testosterona, para níveis semelhantes ao dos

doentes com HH, tais como o abuso de drogas ilícitas, alcoolismo, e a depressão.

Se a história clínica e o exame físico forem sugestivos de um défice hipofisário deve-

se fazer um estudo de todas as hormonas hipofisárias, para averiguar que défices poderão

existir. Neste estudo devem ser doseadas a ACTH, Hormona do Crescimento/IGF-I,

Prolactina e TSH.

O estudo de reserva hipofisária é um estudo hormonal dinâmico que permite

determinar se a hipófise está funcionante. Se houver uma elevação das gonadotrofinas, após a

administração de GnRH, então a hipófise deverá estar a funcionar normalmente. Para fazer o

estudo de reserva hipofisária de FSH e LH podemos utilizar o teste de GnRH. Este é

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efectuado com a administração IV de 100µg de GnRH, e posteriormente faz-se a recolha de

amostras sanguíneas para doseamento de LH e FSH aos 0, 20, 30, 45, 60, 90, 120 e 180

minutos.[9] Nos doentes com HH a resposta a este teste é bastante variável, pois depende da

severidade da deficiência, que normalmente reflete o fenótipo clínico. Permite-nos distinguir

se temos um HH com défice hipotalâmico ou hipofisário.

Espermograma terá importância no estudo da fertilidade do doente com HH, e será

abordado mais à frente.

O diagnóstico do HH é feito de forma semelhante para as causas congénitas ou

adquiridas. No entanto os níveis basais de testosterona e o volume testicular geralmente são

mais baixos nos doentes com patologia congénita, do que os que têm uma causa

adquirida.[10]

Na suspeita de hemocromatose como possível causa deve ser feito o doseamento da

concentração plasmática de ferritina. Sem esquecer as graves consequências que esta doença

pode ter, nomeadamente a nível cardíaco.

Deve-se incluir no estudo uma ressonância magnética crânio-encefálica (CE) e

hipotalâmica-hipofisária, para excluir malformações ou lesões expansivas ou infiltrativas CE

ou hipotalâmica ou hipofisária. No entanto, cerca de 20% dos indivíduos normais apresentam

um aracnoidocelo selar sem nenhum síndrome clínico associado.[7]

O diagnóstico diferencial de HH idiopático deve incluir um estudo genético.

Actualmente, existem múltiplos genes associados ao HH, e essa lista tem vindo a aumentar,

sugerindo que existe uma heterogeneidade e a complexidade da base genética desta condição.

2.6. Estudo Genético

O estudo genético pode-se iniciar pela determinação do cariótipo do indivíduo, que

nestes casos deverá ser normal, isto é, 46XY. Este passo diagnóstico é importante, porque

actualmente, existe uma lista crescente de genes que foram implicados na patogénese

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20

molecular do HH idiopático, o que nos leva a crer que existe uma forte base genética nesta

patologia. Existem vários mecanismos que explicam as alterações genéticas encontradas.

Alguns já estudados são: a diferenciação embriológica, migração e ativação dos neurónios

secretores GnRH, e ainda o gene do próprio GnRH (GnRH1) e do seu receptor (GnRHR).[4]

Segundo um estudo, a mutação do GnRH1 é transmitida como autossómica recessiva, e dá

origem a um HH idiopático familiar, isto indica que é suficiente ter uma cópia do gene normal

para que a secreção de GnRH pelo hipotálamo seja normal e o eixo hipotálamo-hipófise-

gónadas funcione normalmente.[11]

As mutações no gene FGFR1 causam uma forma autossómica dominante de HH, que

é clinicamente semelhante à síndrome de Kallmann.

As mutações do receptor de GnRH, que constituem a causa identificável mais comum

de HH idiopático normósmico, são responsáveis por cerca de 40% dos casos autossómicos

recessivos e por 10% dos casos esporádicos de HH.[12] Os genes KISS1/KISS1R,

TAC3/TACR3, e GNRH1/GNRHR interferem na secreção e ação da GnRH, e as suas

mutações estão apenas descritas em doentes com HH idiopático normósmico.[1]

A síndrome de Kallmann é a forma mais comum de HH isolado. Cerca de 60% dos

casos são causados por mutações esporádicas, mas já foram identificados três formas de

transmissão: autossómica dominante, autossómica recessiva e ligada ao X.[13] Já foram

descritas também algumas mutações genéticas associadas a esta síndrome. As mutações do

gene Kal são raras nos homens com a forma esporádica do síndrome de Kallmann, e a

probabilidade de encontrar esta mutação nos homens com expressão clínica na idade adulta

do HH é muito baixa.[7]

O gene DAX-I mutado é responsável por uma hipoplasia adrenal congénita ligada ao

X associada a HH, porque é expresso essencialmente em tecidos envolvidos na produção de

hormonas esteroides e com função reprodutiva.[14]

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21

Existe uma síndrome clínica caracterizada por HH, ataxia e demência, que está ligada

a mutações dos RNF216 ou por uma combinação de mutações no RNF216 e OTUD4, que

estão associados a defeitos de ubiquitinação.[15]

Mutação no gene GPR54 é uma causa de HH idiopático com transmissão autossómica

recessiva, com atraso pubertário e que é corrigido com administração de GnRH exógena. Isto

permite-nos supor que este gene poderá ser um regulador da fisiologia normal da GnRH e da

puberdade.[16] Estas descobertas poderão abrir novos caminhos na interpretação de outras

patologias no âmbito do desenvolvimento pubertário.

Apesar de existir um grave avanço científico e tecnológico na área da genética, a

maioria dos casos de HH idiopático congénito continuam sem ter um gene identificado. A

etiologia genética de cerca de dois terços dos doentes com HH idiopático e síndrome de

Kallmann continua por determinar.[17]

test (100 mg iv), peak LH was 1.4 IU/L and peak FSHwas 1.7 IU/L. Anterior pituitary function was otherwisenormal, including prolactin (9 ng/mL) and thyroid func-tion (TSH, 1.5 !IU/L; free T4, 1.1 ng/dL). A formalolfactory test was applied and confirmed normal sense

of smell. Her bone age was 13 years. No abnormalitieswere noticed on abdominal ultrasound examination.Pelvic ultrasound revealed infantile uterus (1.5 cc) andsmall ovaries (right, 2.6 cc; left, 1.3 cc). Her bone min-eral density, corrected for bone age, was reduced, show-ing osteopenia. Magnetic resonance imaging scan of thehypothalamic-pituitary region was normal.

Background

Pulsatile secretion of GnRH by hypothalamic neurons is acrucial element of the reproductive cascade, initiating therelease of pituitary gonadotropins, gonadal secretion ofsex steroids, pubertal development, and gametogenesis.Hypogonadotropic hypogonadism (HH) is characterizedby failure of gonadal function secondary to deficient go-nadotropin secretion (1). This condition is commonly seenin association with other pituitary hormone deficiencystates caused by structural lesions of the hypothalamic-pituitary region. However, congenital, acquired, andfunctional causes have been associated with isolatedGnRH deficiency (Tables 1 and 2) (2).

Table 2. Acquired Causes of HH

Tumors: prolactinomas, Rathke’s pouch cysts,craniopharyngiomas, germinomas, teratomas, meningiomas,gliomas, astrocytomas, metastatic tumors (breast, lung,prostate)

Functional gonadotropin deficiency: chronic systemic disease,acute illness, malnutrition, primary hypothyroidism,hyperprolactinemia, obesity, diabetes mellitus, Cushing’ssyndrome, anorexia nervosa, bulimia, auto immune disease,nephrotic syndrome, sickle cell disease, thalassemia,alcoholism

Infiltrative diseases: hemochromatosis, sarcoidosis,granulomatous diseases, histiocytosis X, lymphocytichypophysitis

Infections: tuberculosis, HIV/AIDS, syphilis, fungusTrauma: contusion, skull fracture, pituitary stalk transaction,

hypophysectomyVascular: ischemia, Sheehan’s syndrome, pituitary apoplexyDrugs: opioids, anabolic steroids, corticoids, narcotics

Table 1. Genes and Their Protein Products Associated With Congenital IHH Phenotype

Genes Locus Gene Product Function Inheritance Phenotype

KAL-1 Xp22.3 Anosmin-1 Migration of GnRHneurons

X-linked Kallmann syndrome

FGF8 10q25 Fibroblast growthfactor receptor 8and its receptor 1

Migration of GnRHneurons

Autosomal dominant Kallmann syndromeor normosmic IHHFGFR1 8p11.2

NELF 9q34.3 Nasal embryonicLHRH factor

Migration of GnRHneurons

Autosomal dominant? Kallmann syndrome

PROK2 3p13 Prokineticin-2 and itsreceptor

Migration of GnRHneurons

Autosomal dominantand recessive

Kallmann syndromeor normosmic IHHPROKR2 20p12.3

GNRH1 8p21-11.2 GnRH and its receptor Stimulation ofgonadotropins andGnRH signaling

Autosomal recessive Normosmic IHHGNRH-R 4q13.2-3

KISS1 KISS1R 1q32 Kisspeptin and itsreceptor

Stimulation of GnRHsecretion

Autosomal recessive Normosmic IHH19p13.3

DAX1 or NROB1 X21.3-21.2 Orphan nuclearreceptor

Regulation of pituitaryand hypothalamicgene transcription

X-linked Adrenal insufficiencyand normosmicIHH

LEP 7q31.3 Leptin and itsreceptor

Modulator of GnRHsecretion

Autosomal recessive Severe obesity andnormosmic IHHLEPR 1p31

TAC3 12q13-12 Neurokinin B and itsreceptor

Stimulation andinhibition of GnRHsecretion

Autosomal recessive Normosmic IHHTACR3 4q25

WDR11 10q WD protein Development ofolfactory neurons

Autosomal dominant Kallmann syndromeor normosmic IHH

CHD7 8q12.1-q12.2 Chromodomainhelicase DNA-binding protein

Positive regulator ofribosomal RNAbiogenesis

Autosomal dominant Kallmann syndromeor normosmic IHH

SEMA3A 7p12.1 Semaphorin-3A Axonal path findingof GnRH neurons

Autosomal dominant Kallmann syndrome

HS6ST1 Xq26.2 Heparan sulfate 6-O-sulfotransferase 1

Heparan sulfatemodifier

Complex trait Kallmann syndromeor normosmic IHH

1782 Silveira and Latronico Approach to Hypogonadotropic Hypogonadism J Clin Endocrinol Metab, May 2013, 98(5):1781–1788

Tabela 3 Alguns genes associados ao hipogonadismo hipogonadotrófico idiopático, adaptado de Silveira, L.F. and A.C. Latronico, Approach to the patient with hypogonadotropic hypogonadism. J Clin Endocrinol Metab, 2013. 98(5): p. 1781-8.[1]

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22

2.7. Tratamento

No HH o tratamento tem dois objectivos, o principal é a virilização, e em casos em

que o doente tenha interesse, a fertilidade.

O tratamento do HH masculino, na maioria dos casos, é feito com reposição

hormonal. O principal objectivo é atingido com a testosterona, no entanto este tratamento não

é eficaz na fertilidade. No segundo caso esta que pode ser feita usando gonadotropina

coriónica humana (hCG) e gonadotropina da menopausa humana (hMG), e mais recentemente

surgiram a gonadotrofinas recombinantes humanas (rhFSH e rhLH) e GnRH. Estas últimas,

teoricamente, têm maior capacidade de mimetizar a estimulação hormonal fisiológica, no

entanto têm custos muitos elevados, por esse motivo, o seu uso na prática clínica ainda se

encontra limitado. [18]

Atualmente, não existe um esquema terapêutico de substituição hormonal consensual.

É necessário determinar que tipo de HH o doente tem para estabelecer a melhor estratégia

terapêutica. O principal objectivo do tratamento é melhorar as queixas clínicas dos doente e

possibilitar uma fertilidade normal, com melhoria do volume testicular e da espermatogénese.

Nos doentes em que não ocorreu o normal desenvolvimento pubertário, deve-se tentar que

esse ocorra na idade própria.

Hoje em dia a terapêutica mais comummente aceite para indução do desenvolvimento

pubertário será testosterona injetável intramuscular, com início por volta dos 12-13 anos de

idade, e a dose irá sendo ajustada consoante as necessidades das diferentes fases da

puberdade, evitando o encerramento epifisário precoce. Um dos esquemas possíveis é iniciar

enantato de testosterona na dose 50-100 mg mensalmente e aumentar gradualmente a cada 6

meses até 100-150 mg mensalmente, durante 3 a 4 anos. A dose de manutenção preconizada é

de 250 mg a cada 3 semanas.[19] Há autores que defendem que o tratamento inicial de

indução pubertária em adolescentes poderá ser feita com hCG exógeno ou hCG mais FSH,

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resultando num crescimento testicular e melhores hipóteses de fertilidade no futuro,

comparando com o tratamento de reposição com enantato de testosterona.[1]

Existem outras formas de administração de testosterona, além da intramuscular, como

as preparações transdérmicas, comprimidos orais ou para administração parentérica. As

formas orais são pouco usadas porque desta forma a testosterona é pouco activa devido a

inactivação hepática. Então geralmente são usadas os sais de testosterona por via

intramuscular.

Com base nos tratamentos clínicos atuais, o hCG normalmente é usado como

substituto da atividade da LH, permitindo a estimulação da secreção de testosterona pelas

células de Leydig; e o hMG é usado genericamente como substituto da atividade da FSH,

estimulando a proliferação e maturação das células germinativas. A testosterona apenas é

eficaz na indução e manutenção dos caracteres sexuais secundários, e na melhoria da função

sexual, mas não restaura a fertilidade.

Nos casos em que existe um panhipopituitarismo é indispensável fazer o tratamento de

todos os défices hormonais, concomitantemente com o tratamento do HH. Consoante o défice

em causa, podem ser necessários a levotiroxina, hidrocortisona ou hormona do crescimento.

A reposição de testosterona em indivíduos saudáveis, com níveis hormonais normais,

pode afectar a capacidade reprodutiva. O excesso de testosterona, sob eixo hipotálamo-

hipófise-gónadas normal, irá exercer um efeito de feedback negativo sob a produção de

gonadotrofinas pela hipófise, podendo levar mesmo a um HH iatrogénico com diminuição do

esperma e azoospermia. Por este motivo deve-se ter certeza do diagnóstico, antes de iniciar

qualquer terapêutica.

2.8. Monitorização

Durante a monitorização, deve-se fazer um exame físico completo ao doente, com

especial atenção para determinar se houve alguma alteração dos caracteres sexuais

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secundários. Deve-se fazer o registo do volume testicular do doente, com orquidometro de

Prader ou a ecografia escrotal. Além disso, deve ser feito um controlo analítico com

hemograma e bioquímica, e doseamentos hormonais. Esta reavaliação deve ser feita

preferencialmente de 3 em 3 meses, enquanto o tratamento decorre.

O acompanhamento dos doentes com HH deve ser feito em centros especializados e

com acesso a vários especialistas, desde o diagnóstico até ao tratamento e sua monitorização.

Quando se opta pelo tratamento com testosterona, este deve ser mantido a longo-

prazo, porque normalmente a sua interrupção leva a regressão clínica do doente. Até à data, o

tratamento de reposição hormonal com testosterona em homens não demonstrou aumentar o

risco de cancro.[20] No entanto, devemos estar atentos aos eventuais efeitos adversos da

terapêutica com testosterona, como a policitémia, acne, seborreia cutânea, perda de cabelo,

aumento do volume prostático, alterações do humor, inibição da espermatogénese. O uso de

testosterona ou derivados tem como contra-indicações: cancro da próstata ou em indivíduos

com elevado risco para este carcinoma, tumores hepáticos, hipercalcémia, na insuficiência

cardíaca, renal ou hepática, em casos de hematócrito superior a 50%, apneia obstrutiva do

sono grave não controlada.

Na terapêutica feita com hCG ou hCG+hMG, o doente sente melhorias após 6 meses

de terapêutica, no entanto, nesta altura o volume testicular e a espermatogénese ainda se

mantêm abaixo do esperado, nestes casos pode-se manter o tratamento por um período mais

prolongado, que não deve exceder os 18 meses.[5]

Normalmente, qualquer um destes tratamento é bem tolerado, talvez porque o doente

sente a melhoria na sua qualidade de vida e no seu bem-estar.

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25

3. Infertilidade Masculina

3.1. Definição

A infertilidade define-se como a incapacidade de um casal sexualmente activo, sem

uso de contracepção, conseguir uma gravidez espontânea no espaço de um ano.

Existem alguns factores prognóstico que podem influenciar a probabilidade de

engravidar, são: a duração da infertilidade, se se trata de uma infertilidade primária ou

secundária, o resultado do espermograma, e a idade e condições de fertilidade da mulher.

Cerca de um em cada sete casais europeus sofrem de algum transtorno de saúde que

afecta a sua capacidade reprodutiva. Aproximadamente 7% dos homens sofrem de problemas

de fertilidade.[21] O comprometimento da produção ou função espermática pode estar

relacionada com factores congénitos ou adquiridos. Cerca de 50% dos casos são idiopáticos,

ou seja, não existe nenhuma causa identificável.[21]

O estudo de um casal infértil deve-se iniciar após um ano de relações sexuais regulares

e desprotegidas, na tentativa de engravidar. No entanto, pensa-se que cerca de metade dos

casais, que não conseguiram conceber durante o primeiro ano, irão conseguir no decorrer do

segundo ano. No caso de existirem factores de risco conhecidos para infertilidade do casal

deve-se iniciar a investigação mais precocemente.

O HH é uma causa rara de infertilidade masculina, no entanto muitas vezes reversível.

3.2. Estudo

Para o estudo de um casal infértil deve-se fazer um estudo simultâneo da mulher e do

homem, e com uma equipa multidisciplinar, com a participação da Endocrinologia, Urologia,

Ginecologia, Genética Médica, Imagiologia, e outros. Neste trabalho irá ser desenvolvido o

estudo no âmbito da fertilidade masculina, da vista da endocrinologia. Actualmente pensa-se

que o HH poderá manifestar-se mais comummente como casos de infertilidade masculina do

que se estimava anteriormente.[22]

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26

O restante estudo depende se estamos a estudar um doente com diagnóstico de HH de

novo, ou se o doente já estava diagnosticado e em tratamento. O doente com diagnóstico

prévio de HH já medicado com testosterona, deve suspender a terapêutica hormonal para

reavaliar a funcionalidade do eixo hipotálamo-hipófise-gónadas e da sua situação hormonal. E

assim determinar a possível reversibilidade da fertilidade sem necessidade de outras

intervenções terapêuticas. Só 3 a 4 meses após a suspensão da testosterona o doente deverá

ser avaliado clinica, laboratorialmente e efectuar o espermograma. Num doente com

diagnóstico de novo de HH, deve-se efectuar todo o estudo para determinar a etiologia e o

tipo de HH descrito anteriormente, e simultaneamente, poderá efectuar o espermograma.

Deverá ser feita uma reavaliação do volume testicular do doente. Nestes casos o

volume testicular médio incial costuma ser de 6 cc (intervalo 4-14cc).[10] Este pode ser

estimado usando um orquidometro de Prader ou recorrendo à ecografia escrotal, com referido

anteriormente.

Segundo as guidelines sobre infertilidade masculina da sociedade europeia de

urologia, existem vários parâmetros a ter em conta na realização do espermograma, são: o

volume de esperma, o pH, a concentração de espermatozoides, o número total de

espermatozóides, a morfologia dos espermatozoides, a concentração espermática (106 por

mL), a motilidade total, a mobilidade progressiva, a percentagem de espermatozoides vivos,

leucócitos peroxidase positivos, o teste Immunobead, o teste de Reacção anti-globulina mista,

concentração de zinco, frutose e glucosidase neutral. Se os valores tiverem normais, em

princípio, só será necessário um teste. Se os resultados estiverem alterados, o espermograma

deve ser repetido pelo menos mais duas vezes. Podemos distinguir três alterações possíveis

neste teste, que podem coexistir no mesmo doente, são a oligozoospermia (< 20 milhões

espermatozoides/ml), astenozoospermia (< 50% espermatozoides móveis), teratozoospermia

<14% formas normais). Apesar de existirem parâmetros normais convencionados, em muitos

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casos é complicado determinar se os valores de determinado indivíduo correspondem a um

caso de infertilidade ou não.

A morfologia dos espermatozoides parece ser o parâmetro mais informativo em

relação à qualidade do esperma, para distinguir os indivíduos férteis e inférteis. Contudo,

nenhum dos parâmetros, sozinho ou combinado, pode ser diagnóstico da infertilidade.[23]

O estudo hormonal já descrito é importante para determinar a etiologia da

infertilidade. Apesar de existirem variações diárias dos valores de FSH, um único doseamento

sérico é representativo da valor estimado de FSH no indivíduo.[24] A concentração de FSH

reflete o estado da espermatogénese.

Actualmente, o estudo genético é importante no estudo das causas congénitas de HH

ou de outras causas de infertilidade. Além de permitir fazer um diagnóstico do indíviduo,

possibilita realizar aconselhamento genético adequado. Em cerca de 15% dos casos de

infertilidade masculina pode ser diagnosticado um factor genético.[21] Num futuro próximo,

a identificação das mutações pode ser importante não apenas para o diagnóstico, mas também

com utilidade no prognóstico para definir o melhor tratamento e interpretar de melhor forma

os resultados.

3.3. Tratamento da fertilidade

Antes de iniciar qualquer tratamento, o diagnóstico deve estar definido, para que a

terapêutica seja a mais correcta, de modo a evitar os inconvenientes que podem advir de

algum dos tratamentos.

O principal objectivo do tratamento é restaurar a fertilidade normal do casal e, assim,

possibilitar uma indução natural da gravidez.

Perante um caso de infertilidade já estudado, existem várias hipóteses de tratamento,

que poderão ser usadas, dependendo de diversos factores, como a causa da infertilidade, o

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desejo/vontade do casal, e outros; poderá ser cirúrgico, com fármacos, reprodução assistida,

psicoterapia ou aconselhamento e acompanhamento psicológico.

No tratamento da infertilidade devida a HH, temos de determinar se se trata de um

défice hipotalâmico, hipofisário ou um panhipopituitarismo. Como já foi referido

anteriormente, o HH é uma causa possivelmente reversível de infertilidade. Com um

tratamento adequado com gonadotrofinas é possível o casal conceber naturalmente na maioria

dos casos (mesmo com contagem de esperma relativamente baixa, e se a mulher for

fértil).[21] Contudo, o tratamento do HH é bastante complexo, porque existe uma dificuldade

em conseguir mimetizar a secreção fisiológica de gonadotrofinas e testosterona. É o ritmo

pulsátil fisiológico da secreção hormonal que estimula corretamente a espermatogénese e a

resposta testicular, essenciais à restauração da fertilidade. Nas situações de HH hipotalâmico

com hipófise funcionante poderá ser eficaz a administração pulsátil por bomba da GnRH

mimetizando a secreção fisiológica. No casos de HH hipofisário também se podem usar as

gonadotrofinas. Se existir um hipopanpituitarismo devem ser corrigidos todos os défices

simultaneamente.

Actualmente o esquema terapêutico mais usado combina hCG e FSH. Nos adultos sem

desenvolvimento pubertário adequado um dos esquemas preconizados é 1000U de hCG e

75U de FSH diariamente, por injecção subcutânea ou intramuscular. As doses de hCG

deverão ser ajustadas segundo os níveis séricos de testosterona. Com este esquema, a maioria

dos doentes, atinge os valores de testosterona normais após 6 meses de tratamento contínuo, e

mais de 80% conseguem atingir espermatogénese.[1] Nos doentes que se apresentem com

desenvolvimento pubertário normal, poderá começar-se apenas com hCG durante 6 meses, e

se após esse período o doente mantiver a azoospermia adiciona FSH à terapêutica. Outro

tratamento que pode ser usado é a combinação de 2000U de hCG e 75 U de hMG, 3 vezes por

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semana. Todos estes esquemas parecem ter eficácia semelhante tanto na fertilidade como na

melhoria do quadro clínico devido ao défice de testosterona.

Para a terapêutica com GnRH é necessário usar uma bomba de infusão pulsátil com

libertação a cada 2 horas de doses de 100 a 400 ng/kg, por via subcutânea na parede

abdominal. Este tratamento deve-se prolongar por cerca de 4 meses.[6] Só pode ser utilizada

em doentes com HH de causa hipotalâmica com hipófise funcionante. Esta terapêutica ainda

tem um custo muito elevado, o que pode ser um entrave à sua utilização. Existe apenas um

ligeiro risco de infecção no local do cateter. A maioria dos estudo não demonstrou vantagem

deste tratamento com GnRH sobre a terapêutica convencional com gonadotrofinas, nos

valores séricos de testosterona, na indução da espermatogénese, na qualidade do esperma ou

na percentagem de gravidezes.[19]

Podem existir outras situações coexistentes que afectem a fertilidade e que deverão ser

procuradas e estudadas. Um exemplo é ser a presença simultânea de um HH e um varicocelo.

Nestes casos o tratamento eficaz do varicocelo com varicocelectomia pode melhorar o estado

hormonal do individuo e, consequentemente, a fertilidade.[25]

Recentemente surgiu um novo tratamento com Citrato de Clomifeno, com possível

interesse no tratamento do HH e a infertilidade masculina. O citrato de clomifeno é um

modulador selectivo dos receptores de estrogénio, que bloqueia a inibição dos estrogénios

sobre a hipófise, o que leva ao aumento da secreção de FSH e LH hipofisárias. Para que esta

terapêutica seja eficaz, o indivíduo terá de ter hipófise e testículos com capacidade funcional

normal. Tem as vantagens de ser um tratamento com baixo custo e raros efeitos secundários, e

aparentemente com eficácia semelhante.[26]

3.4. Resultados

Para comprovar a eficácia do tratamento, a melhor prova é o aparecimento de uma

gravidez natural após a instituição da terapêutica adequada ao homem do casal infértil.

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Consideramos que a indução da espermatogénese foi bem sucedida quando no

esperma ejaculado aparecem espermatozóides.

A concepção espontânea pode ocorrer 6-9 meses após o início do tratamento com

gonadotrofinas, mas em alguns casos pode demorar mais de 2 anos. Normalmente, o tempo

necessário para que a terapêutica restaure a espermatogénese é superior a 3 meses.[6] Este é o

tempo necessário para que os testículos consigam produzir os primeiros espermatozoides. É

possível afirmar que a espermatogénese induzida pelas gonadotrofinas ocorrer mais cedo e de

forma mais eficaz nos doentes com HH secundário do que com HH idiopático, por isso,

podemos esperar que o tempo necessário para uma gravidez também depende da causa e do

tipo de HH.

Volume testicular normal, desenvolvimento pubertário completo, maior idade,

ausência de outros fatores de infertilidade (criptorquidia, varicocelo, etc.) e a ausência de

panhipopituitarismo são bons preditores para uma melhor resposta ao tratamento da

infertilidade nos casos de HH.

Em alguns artigos é referido que a combinação de hCG e FSH ou terapêutica com

GnRH pulsátil são mais eficazes no aumento do volume testicular e na indução da

espermatogénese nos doentes com HH do que a combinação de hCG e hMG, no entanto

outros estudos referem que não existe diferença entre elas.[5]

Em mais de 10% dos casos, o doente com HH, sujeito a terapêutica com

gonadotrofinas, consegue manter os níveis plasmáticos de testosterona normais e uma

espermatogénese normal e eficaz, mesmo após a suspensão da terapêutica.[27] Este situação

denomina-se como HH reversível, e o seu mecanismo fisiopatológico ainda não se encontra

esclarecido, contudo pensa-se que ocorre devido a plasticidade neuronal das células

produtoras de GnRH.[6] O tempo necessário de espera que se deve aguardar após a suspensão

até fazer uma nova avaliação para determinar se há ou não reversibilidade, depende da semi-

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vida do medicamento, do esquema terapêutico utilizado e a via de administração. Para a

bomba de infusão de GnRH deve-se esperar duas semanas ou mais, para a testosterona por via

transdérmica são necessárias no mínimo quatro semanas, para as injecções intramusculares de

testosterona ou de hCG seis a oito semanas ou mais.[27]

Deve-se recomendar o casal a recorrer a reprodução medicamente assistida, se após 12

meses de tratamento não ocorrer gravidez ou se os níveis de concentração espermática se

mantiverem inferiores a 5 milhões/ml.[2] As técnicas que se encontram actualmente

disponíveis são a inseminação intrauterina, a fertilização in vitro e a injecção

intracitoplasmática de espermatozoide. Nos casos em que não é possível obter

espermatozoides viáveis pela ejaculado, poderá tentar-se técnicas mais invasivas, como

aspiração microcirúrgica epididimal ou a extracção testicular. Para esta abordagem seja eficaz

a mulher terá de ter condições para engravidar. Se mesmo assim o casal não conseguir uma

gestação, devemos procurar informá-lo sobre as alternativas disponíveis, recorrer a um dador

de esperma ou a adopção.

Num artigo refere que para se interpretar os resultados do tratamento é preciso ter em

consideração as variações circadianas da qualidade do esperma, por exemplo, o aumento do

número de espermatozoides na primavera e a diminuição durante o outono, e ainda, maior

motilidade durante o outono e o inverno.[28]

Muitos estudos controlados sobre o tratamento da infertilidade masculina

demonstraram que houve uma melhoria dos parâmetros do espermograma também no grupo

placebo, por isso, deve-se ter em atenção que a estimulação excessiva na tentativa de

aumentar os valores do espermograma deve ser evitada.[28]

Como em qualquer outra situação clínica, devemos ter sempre em atenção que existem

diversos factores a ter em consideração, que podem afectar o tratamento, como por exemplo

os hábitos, os antecedentes, a medicação do doente, a adesão à terapêutica, que muitas vezes

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são esquecidos. Por este motivo é importante realçar que uma boa história clínica é sempre

importante, mesmo após o tratamento, e pode ser esclarecedora quando este falha.

Os tratamentos para a infertilidade podem ser longos e ineficazes, o que podem ter um

grande impacto emocional sobre o casal. Deve-se ter em atenção o stress psicológico do casal

e nunca hesitar em aconselhar ou encaminhar para ajuda profissional, quando se achar

conveniente, porque pode ser fundamental para obter bons resultados.

3.5. Monitorização

Existem alguns parâmetros clínicos e analíticos que pudemos utilizar para determinar

se o tratamento estará a ser eficaz. Um dos parâmetros que pode ser usado é o doseamento da

Inibina-B. Este é um bom preditor da restauração da espermatogénese, valores elevados

indicam espermatogénese normal e eficiente.[29]

Devemos estar atentos ao efeitos adversos que este tipo de terapêutica poderá dar,

nomeadamente ao excesso de dosagem, que pode ser deletério para a saúde do doente, e pode

ser facilmente revertido pelo ajustamento das doses. Por exemplo, a ginecomastia pode

aparecer em mais de um terço dos doentes a fazer terapêutica hormonal com testosterona ou

gonadotrofinas, e normalmente só acontece quando se usam doses supra-fisiológicas.[19]

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4. Discussão e Conclusão

Quando pensamos em infertilidade temos de pensar numa panóplia de causas, e que se

trata de um problema que afecta duas pessoas, e a causa poderá ser de apenas uma ou de

ambas. No sexo masculino existem diversos factores e condições patológicas que podem

afectar a sua capacidade reprodutiva.

O HH é uma patologia rara, caracterizada por défice FSH, LH e de testosterona, de

origem hipotalâmica ou hipofisária que além de afectar a fertilidade do homem, tem

repercussões no seu desenvolvimento pubertário, afecta o seu bem estar. É importante o

reconhecimento da sintomatologia conduzindo a um diagnóstico e tratamento precoces. As

causas mais comuns de HH isolado são a Síndrome de Kallmann e suas variantes, e HH

idiopático normósmico. Hoje em dia já é possível determinar alguns dos genes envolvidos

nestas patologias. Daqui a importância do diagnóstico genético.

Actualmente existem diversos esquemas terapêuticos disponíveis que se podem

utilizar. Todos eles parecem ter uma eficácia semelhante, tanto na recuperação da fertilidade

como na indução do desenvolvimento pubertário. A escolha do tratamento é individualizada e

depende de vários factores.

Neste trabalho, salienta-se a necessidade de fazer um diagnóstico etiológico correcto

do HH, o que permitirá orientar o tratamento quer na infertilidade quer o de manutenção. A

infertilidade resultante do HH é rara, mas precisa de especial atenção, porque na maioria dos

casos isolados pode ser reversível espontaneamente ou com a terapêutica adequada.

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