Hipnose e Consideracoes Iniciais

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    Maurcio S. Neubern

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    Introduo: um tema mal conhecido

    A histria da cincia ocidental sempre foi marcada por uma contradiodesconcertante: ao mesmo tempo em que seria possvel desvendar os mistrios

    da natureza, revelando suas leis, esse conhecimento no poderia refletir sob simesmo, sob pena de perder sua confiabilidade (Demo, 2000; Morin, 1990). Coube cincia a rdua tarefa de desenvolver um mtodo capaz de ir alm das aparnciasda natureza (physis) para descobrir suas regularidades, a ordem subjacente, perfeitorelgio de modo a prever e controlar seus fenmenos e, em muitos casos, attransform-la. No entanto, como a cincia tambm uma prtica humana, foi precisoque um vu fosse jogado sobre essa dimenso, posto que a subjetividade nelaimplicada poderia mesmo depor contra a validade de seus mtodos, contra a toalmejada objetividade. A tarefa cientfica poderia ser definida como a busca de umconhecimento em que o autoconhecimento fosse proibido (Santos, 1987), numaverdadeira recusa ao encontro com o orculo de Delfos da tradio ocidental, oque traria um problema ainda mais grave para cincias como a psicologia quebuscavam ter por objeto de estudo o prprio senhor desse conhecimento (Neubern,2003-a).

    Essa determinao histrica e epistemolgica fez com que esse vu deignorncia fosse lanado tambm sobre a psicologia clnica, levando aoobscurecimento importantes dimenses de sua origem. Especificamente quanto hipnose, numerosas facetas e detalhes so desconhecidos das comunidades dessacincia que, em geral, associam a um perodo pr-cientfico (Freud, 1888/1892; Marx

    & Hillix, 1978; Schultz & Schultz, 1981) que logo seria ultrapassado por propostasmais coerentes, cuja eficcia e poder explicativo acabariam por lana-la inutilidadee ao esquecimento histrico. Nos ncleos de formao, atuao e pesquisa ondeessa cincia produzida e cultivada, os psiclogos freqentemente a concebemcomo um fenmeno que no teria muito a acrescentar em termos de investigaocientfica, principalmente no que se refere fugacidade e subverso ligadas aseus processos (Stengers, 2001). Do ponto de vista mais especfico da atuaoclnica, a hipnose pareceria sugerir uma abordagem ultrapassada e ineficazsatisfatoriamente substituda por mtodos mais confiveis em termos de cientificidade

    e de eficcia (Chertok & Stengers, 1999). Assim sendo, interessante destacarque todo esse conjunto de circunstncias acabou contribuindo para uma visoum tanto pejorativa a respeito do tema, uma viso que a considera como um processoque no atinge as causas dos problemas e por isso pode favorecer a substituiode sintomas; que pode incitar condutas perigosas, anti-sociais e acidentes; queimplica a submisso total ao terapeuta, onde o paciente perderia seu senso crticoe moral (Melchior, 1998; Yapko, 1992).

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    Hipnose e psicologia clnica

    Entretanto, a hipnose consiste em um dos temas que mais incita a necessidadede uma reviso da histria da psicologia, a comear pelo fato de que inmerospontos importantes da obra de seus autores, que poderiam levar a uma nova leituradessa cincia, no foram devidamente conhecidos e aprofundados. Em outros termos,

    a construo dos preconceitos e mitos ao mesmo tempo em que no permitiuvisibilidade a diversos conceitos e acontecimentos histricos, propiciou quenumerosas concluses fossem efetivadas e divulgadas sem que os princpios maispertinentes da hipnose, como abordagem teraputica ou objeto de estudo, fossemdebatidos e polemizados. Sendo assim, o presente artigo busca propor algumasreflexes que conduzam a uma releitura da relao entre hipnose e psicologia clnicapor meio de duas frentes. A de destacar criticamente alguns acontecimentos histricosque possuem considervel pertinncia para uma compreenso distinta da psicologiaclnica, que, todavia, foram lanados ao esquecimento, como tambm a dedesconstruir, por meio de ilustraes clnicas, alguns dos principais mitos que

    envolvem sua prtica.

    Uma psicologia antes da psicologia: problemas histricos e

    epistemolgicos

    Um ponto comum que se sobressaiu nas diversas linhas de psicologia foi oprojeto cientfico que as animou desde suas origens, fosse em suas diferentesescolas, fosse nos diferentes campos de estudo pesquisados pelos psiclogos.Embora a psicologia de laboratrio, como a de Wundt e Titchener (citados em Marxet Hillix, 1978), possusse considerveis discrepncias quanto psicanlise deFreud (1905; 1917; 1937), ambas viriam a alimentar a pretenso de um saberpsienfim cientfico, livre das impurezas subjetivas conferidas ao psiquismo humanopela prpria tradio ocidental (Neubern, 2003-a; 2003-b). Cumprindo com os ditamesde uma cincia moderna (Gergen, 1996; Gonzalez Rey, 1997), a psicologia clnicafundamentava-se na perspectiva isomrfica de conhecimento do real, isto , a deum acesso direto e mais confivel que as outras formas de acesso, um saber quepoderia, ainda que por vezes de modo duvidoso, colocar-se sob a chancela cientfica.Embora no pudesse contar com a confiabilidade do laboratrio, a psicologia clnica

    se imbuiu das principais noes epistemolgicas dominantes, como o universalismo,o determinismo e o mecanicismo, para sua rdua misso de revelar a realidade dopsquico, o que viria a custar-lhe profundas mutilaes em diferentes nveis (Neubern,2001; 2003-a; 2003-b).

    No que se refere tumultuada relao com a hipnose, a noo de inconscientedesenvolvida por Freud (1900) constituiu-se um marco fundamental. Como oinconsciente era concebido como um realidade independente da vontade e das

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    intenes do sujeito, o pai da psicanlise resolvia grandes problemas com suaelaborao (Chertok & Stengers, 1999): ele tirava dos pacientes a suspeita decomplacncia, do desejo encoberto ou no de satisfazer as expectativassugestionadas pelo terapeuta. Mas o que era mais importante nisso tudo era sua

    independncia como objeto de estudo, algo que conferiria ao setting analtico ostatus de confiabilidade cientfica, capaz de revelar a realidade psquica, como tambmfabricar processos de cura mais efetivos que os mtodos sugestivos. A invenodo inconsciente freudiano seria um dos mais duros golpes contra as abordagenshipnticas, pois acenava com a possibilidade de lanar as luzes da razo contraos vrios mistrios que animavam as curas psquicas desde muito tempo e com apromessa de curas mais substanciais e significativas (Freud, 1905; 1917).

    Entretanto, o que parecia ser uma vitria assegurada guardava ainda umacontradio um tanto incmoda, principalmente no que se refere dimensoinstitucional da psicanlise. O prprio Freud (1937) viria a admitir, ao final de suavida, que a psicanlise no produzia curas mais efetivas e duradouras que os outrosmtodos, o que poderia levar a novas e interessantes leituras sobre os processossugestivos e hipnticos. Contudo, diante das vicissitudes enfrentadas pelasinstituies psicanalticas, pouco valia que o mestre revisse suas posies, poiso que realmente importava era que o Freud inicial e comprometido com o ideal decincia se mantivesse vivo para que os triunfos pudessem ser assegurados aomenos em nvel de discurso, mesmo que a prtica clnica por vezes o contradissesse(Chertok & Stengers, 1999). Em suma, no seria possvel revisitar a hipnose comoobjeto de estudo ou processo teraputico, posto que ela encarnava em si as

    contradies no trajeto de se construir uma cincia, implicando-se com dennciasgraves quanto a viabilidade desse percurso. Era necessrio que a maldio fosselanada e permanecesse para que as fissuras desse ousado empreendimento nose tornassem aparentes.

    O que se pode destacar nesse sentido, entre tantas outras questes, afalta de visibilidade que recai sobre importantes acontecimentos histricos, comose apenas os fatos e autores que confirmam o discurso dominante ou vitoriosocompusessem a complexidade do processo histrico. Pode-se notar, pelo exemploacima, que a oposio efetivada por Freud hipnose (1905; 1913; 1917) no consistia

    exatamente na necessidade de se afastar de um mtodo de confiana duvidosa,mas na obrigao de afastar um processo que poderia denunciar suas prpriasincoerncias1. Esse talvez seja um dos pontos que mais confere importncia hipnose, pois, uma vez que se investigam suas relaes com o projeto de inveno

    1 muito provvel que Freud s tenha tomado conscincia disso ao fim de sua vida.Entretanto, seria difcil afirmar o mesmo quanto s instituies psicanalticas que deramcontinuidade a seu trabalho (Chertok & Stengers, 1999).

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    de uma cinciapsi, numerosos acontecimentos vm tona, trazendo reflexes damais alta importncia para a reviso e compreenso desse projeto. Esse o casoda obra de Alexandre de Bertrand (1823; citado em Carroy, 1991) que, vrias dcadasantes de Wundt e Freud, efetivava na Frana a criao de uma psicologia. Criticando

    o organicismo da medicina da poca, Bertrand se proclamava um mdico filsofoou simplesmentepsiclogo de modo a traar os esboos iniciais para a criao deuma cincia psicolgica. Esse autor afastou-se da perspectiva mersmerista, queexplicava as curas por meio de um fluido magntico, para se centrar na imaginao,tida aqui como o processo central da eficcia teraputica, fosse ela fsica ou psquica.

    A importncia da obra de Bertrand no nada desprezvel em diversossentidos. A princpio, constitui-se uma das primeiras referncias explcitas ao termopsicologia dentro de um projeto cientfico moderno. Ao mesmo tempo em que seune a uma tradio originada a partir do julgamento de Mesmer2, em 1784 (Chertok,1989), o autor no se rende a uma simples explicao orgnica, mas apela para umprocesso subjetivo (a imaginao), compreendendo o processo psicolgico nosmoldes da tradio ocidental: entre medicina (natureza) e filosofia (esprito). Almdisso, necessrio considerar que as perspectivas de Bertrand influenciaram todauma gerao de pensadores, opositores e simpatizantes, que mantiveram acirradosdebates e atividades institucionais no sculo XIX, como Maine de Biran, Taine,Ribot, Bergson, Charcot, Bernheim e Janet (citados em Carroy, 1991). Contudo,apesar da importncia que se pode cogitar a seu trabalho, Bertrand continua sendoraramente conhecido nas comunidades dos psiclogos que concebem a origemde sua cincia datando de pelo menos meio sculo aps a publicao inicial de

    sua obra. Ignora-se, portanto, a idia de que foi a partir dos estudos com hipnosedesse autor que, provavelmente, comeou-se a cogitar a construo de uma cinciapsicolgica.

    Esse tipo de configurao que os discursos de uma cincia assumem levammuito a pensar sobre diversas questes. Se, por um lado, uma gerao inteira deautores parece nem mesmo ter sua existncia reconhecida, como foi o caso deBertrand e seus sucessores, por outro, todo um momento histrico passa a possuirapenas alguns acontecimentos reconhecidos, no permitindo uma compreensomais complexa das idias heterogneas que o compuseram, como foi o caso da

    psicanlise mais acima ilustrado. dessa poca que data a trajetria de um clebre

    2 Em 1784 o rei da Frana nomeou uma comisso de cientistas para verificar a tese deMesmer segundo a qual as curas seriam obtidas a partir do fluido vital. Concluindo a inexistnciade tal fluido, a comisso atribuiu a terapia sob estudo a um efeito da imaginao, o que acaboupor inaugurar uma das primeiras e mais importantes linhas de reflexo psquica do sculoXIX.

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    professor da escola de Nancy3, Hyppollite Bernheim (1891), que em geral conhecidocomo um antigo professor de Freud (1905), cujos mtodos logo viriam a sersubstitudos pela triunfante psicanlise. Entretanto, foi provavelmente um dosprimeiros autores a adotar o termopsicoterapia, considerando-a como o estudo

    e aplicao sistemtica da sugesto, que seria o fundamento principal do processoteraputico (Bernheim, 1891). Interessando-se em como o crebro aceitaria as idias,esse autor recusa-se s explicaes do magnetismo para compreender a psicoterapiacomo um processo simultaneamente ligado ao soma e psique. Assim sendo, Bernheimlega um conjunto de estudos sobre a terapia de neuroses traumticas, histerias,neuroses genitais, neurastenias, alcoolismo, nevralgias, reumatismo. Bernheim,ainda na seqncia de Bertrand, dava continuidade ao pensamento de situar ahipnose como a me das terapias (Bellet, 1992; Melchior, 1998), desta vez buscandoassoci-la ao projeto cientfico.

    As questes que poderiam ser levantadas a partir da obra de Bernheim (1891)so diversas, mas algumas referentes conquista do status de cincia chamambastante a ateno. Por que sua obra, meticulosa e aprofundada, no recebeu essereconhecimento, apesar de todas suas tentativas de obedecer aos ditames doparadigma dominante? Em que fundamentalmente ela diferiria das atuais escolasde psicologia clnica que, mesmo no cumprindo com todos esses requisitos, nodeixam de receber esse reconhecimento4? As respostas a esse problemas sonumerosas e polmicas. Entretanto, deve-se aceitar que, enquanto aos psiclogosclnicos foi possvel uma negociao nesse sentido a ponto de dar continuidade vida de suas instituies, aos hipnotizadores essa chance no foi possvel. A

    clnica deveria passar por um exorcismo em nome da cincia, mesmo que isso custassea excluso daquilo que justificou seu nascimento.

    Mas o que essa perspectiva nos leva a perguntar so os possveis motivospara que exista essa preveno contra os processos hipnticos. Realmente seuparentesco com o espiritismo e o magnetismo (Carroy, 1991; Meheust, 1999) devemter resultado em grandes obstculos, principalmente devido cosmoviso prpriaa esses dois movimentos. Contudo, a hipnose sempre guardou em si mesma umaspecto subversivo que viria a implicar a ruptura com as exigncias cientficas e

    3 As duas grandes escolas de hipnose da segunda metade do sculo XIX so Nancy e Paris.Enquanto a primeira, cujas figuras principais eram Liebault e Bernheim, compreendiam ahipnose como processo sugestivo a segunda, em que Charcot era o grande nome, compre-endia a hipnose como um processo fisiolgico subjacente s causas psquicas de problemascomo as converses. Deve-se destacar que Freud (1888/1892) teve contato com ambasescolas antes de desenvolver a psicanlise.4 Especificamente o psicodrama, o humanismo e as tendncias ps-modernas (Neubern,2003-a).

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    em uma histria onde dois sculos no foram suficientes para que o progresso seinstalasse (Stengers, 2001). A lucidez de Joseph Delboeuf5 (1890) bastante exemplarnesse sentido, pois, ao invs de buscar obstinadamente uma condio neutra parao estudo da hipnose, foi um dos primeiros autores a reconhecer a necessidade de

    se incluir a influncia e a comunicao como processos constituintes da relaohipntica e no como interferncias a serem evitadas. Nessa mesma linha depensamento, ele poderia cogitar as diferenas entre seus sujeitos e os utilizadospor outros nomes da poca, como Donato, Bernheim e Charcot (Duycaerts, 1992),dando a compreender que a hipnose no consistira exatamente em mtodo de revelarrealidades, mas de fabric-las. Como o pesadelo estava instalado, talvez o melhormecanismo fosse o silncio e o isolamento de um fenmeno que ainda trazia muitomais questes que respostas, perguntas estas bastante ameaadoras para apretenso de um saber confivel. Em suma, uma postura no cientfica foi necessriapara que o sonho de uma psicologia enfim cientfica no viesse a morrer.

    Desconstruindo mitos: problemas clnicos

    A deformao efetuada pelo discurso dominante aps a derrocada da hipnoseincidiu tambm sobre sua prtica clnica, colocando sua eficcia sob a chancelada dvida (Freud, 1905), sem contar os inmeros mitos j citados. Entretanto, oque esse tipo de perspectiva impede de visualizar a longa tradio de clnicos de Puysgur6 a Delboeuf e Erickson cujos trabalhos sempre efetuaram numerosas

    curas em termos de psicoterapia, mesmo que suas abordagens no tenham sidototalmente claras em termos de explicao (Bellet, 1992; Melchior, 1998). Ao mesmotempo em que todo um legado teraputico foi lanado ao esquecimento, asabordagens hipnticas passaram a ser compreendidas em funo de idias quenunca consistiram em unanimidade entre os hipnotizadores desde o sculo XIX,poca em que seu uso era corriqueiro e discutido. Tal foi o caso da relao teraputicaque, segundo Freud (1905), implicaria uma atitude passiva do paciente e a autoridadedo terapeuta que deveria fazer uma oposio direta, uma verdadeira queda de brao

    5 Joseph Delboeuf, clebre filsofo belga do sculo XIX, foi tambm um grande hipnotizadorclnico o que no impediu que seu trabalho fosse praticamente esquecido durante o sculoXX. No entanto, atualmente sua obra tem sido considerada como de grande pertinncia paraas discusses atuais (Duycaert, 1992; Melchior, 1998; Stengers, 2001). sabido tambm queFreud teve contato com sua obra (Carroy, 1991; Duycaert, 1992).6 A. M. J de Chastenet de Puysgur, ou simplesmente, Marqus de Puysgur foi um dos maisnotveis discpulos de Mesmer. Embora seja anterior mesmo a Bertrand, constitui-se umaespcie de precursor dos hipnotizadores, principalmente devido a sua notvel prtica clni-

    ca. Suas principais obras datam do fim do sculo XVIII e incio do XIX.

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    com o sintoma em questo. Da a associao da hipnose com a sugesto direta,to comum nos hipnotizadores de palco, que consiste em uma ordem explcita paraque o sintoma ou um comportamento especfico desaparea ou surja.

    O que freqentemente no ganha espao nos colquios em que tais

    perspectivas ganham sentido so os debates levantados pelos prprioshipnotizadores sobre esse tema desde muito tempo at as perspectivas atuais.Preocupado com o problema da liberdade, que consistia em um dos pontosfundamentais de seu pensamento, Delboeuf (1890) preconizava que a relao presenteno setting hipntico comportaria uma aparente contradio entre a autoridade doterapeuta e o papel ativo do sujeito. Se, de uma parte, o terapeuta contaria com umpapel fundamental na criao do contexto hipntico e na influncia sobre o sujeito,o estado de transe vivido por este implicaria um eu inconsciente (le moi inconscient)no qual o sujeito manteria certa conscincia da situao sem afetar seu senso morale crtico. Enquanto o primeiro seria o responsvel pela elaborao das sugestesem suas diferentes formas e graus, o segundo participaria de modo ativo do processoteraputico, utilizando-se de recursos habitualmente pouco disponveis. Essaperspectiva, alm de mostrar um paralelo surpreendente com boa parte das escolasatuais de psicoterapia, foi de grande importncia para a discusso de temas polmicossobre a hipnose, como foi o caso da impossibilidade de seu uso para o crime ouaes anti-sociais sem a concordncia dos sujeitos (Delboeuf, 1892; citado emDuycaert, 1992).

    Entretanto, a partir de Milton H. Erickson7 (Erickson & Rossi, 1980) queesse trabalho de desconstruo ganha um maior vigor, seja em funo de sua

    obstinada tarefa de divulgao da hipnose, seja por sua vasta obra que estendeua aplicao da hipnose aos mais variados setores. Embora seu trabalho traga certapolmica, principalmente em funo de sua recusa em aderir aos pressupostos daracionalidade dominante como desenvolver uma teoria de personalidade (Chertok,1989; Hoffman, 1992), seu trabalho clnico da mais alta pertinncia, o que o situacomo uma referncia central da psicoterapia do sculo XX (Haley, 1993; Melchior,1998; Neubern, 2002; 2003-a; Zeig, 1997). Essa pertinncia se justifica, entre outrasrazes, pela riqueza de possibilidades que sua abordagem proporcionava, o quepermitiu um questionamento contundente quanto aos principais mitos

    desenvolvidos e cultivados sobre o tema. Em certa ocasio (Erickson, 1954), Ericksonfoi chamado a intervir junto a um paciente que havia desenvolvido uma paralisia

    7 Milton Erickson considerado o pai da hipnose moderna (Melchior, 1998), principal-mente devido a seu trabalho de retomada como abordagem, no sculo XX. Alm disso,fundou aAmerican Society of Clinical Hynosis e oAmerican Journal of Clinical Hypnosis.Sua atuao se estendeu do fim dos anos 30 indo at os anos 70.

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    1989) que pode ainda ser mais influente por no ser reconhecido. Logo, outracontribuio de grande valia da obra de Erickson (Erickson & Rossi, 1979; 1980)se d pelo fato de assumir o poder como um dos processos na construo docontexto teraputico, o que no necessariamente implica a excluso dos recursos,

    potenciais e participao do paciente. Em suma, em vez de ser simplesmente tachadacomo uma abordagem em que o poder abusivo, a hipnose o coloca como temaem aberto, situando-o como processo constituinte das psicoterapias e das relaeshumanas em geral8.

    Outro argumento clssico freqentemente utilizado aquele segundo o quala hipnose seria um procedimento superficial que, no sendo capaz de acessar acausa subjacente aos sintomas, levaria a uma substituio dos mesmos. Enquantoa psicanlise consistira num procedimento similar a uma interveno cirrgica portrabalhar o conflito anterior ao sintoma, a hipnose no passaria de uma abordagemcosmtica, incapaz de profundidade e de lidar com as resistncias prprias ao trabalhoteraputico (Freud, 1905; 1917). Contudo, um ponto que de grande importnciae comumente desconsiderado foi a prpria relao que Freud estabeleceu com ahipnose que contribuiu sobremaneira para a construo de perspectivas bastanteequivocadas. Primeiramente, deve-se considerar que a maior parte de seu aprendizadose deu com Jean Charcot que no acreditava que a hipnose pudesse ser usadapara fins teraputicos, mas apenas para a compreenso da psique humana, ao mesmotempo em que sua estadia com Bernheim, que assumia uma perspectiva explicitamenteteraputica, foi relativamente curta (Freud, 1888/1892). Isso poderia consistir emum elemento que colocaria sob suspeita a qualidade de sua formao como

    hipnotizador, at mesmo porque o prprio Freud viria a afirmar que no teria sidocapaz da atingir os mesmos resultados de seus mestres, ficando muito aqum deles(Castilho, 2002)..

    Desse modo, alm dos mitos em que acreditava9, considera-se que a prticahipntica lhe trazia um mal-estar nada desprezvel, fosse pela subverso contrasua autoridade (Castilho, 2002) (Doutor, eu no estou dormindo!)10, fosse pelosproblemas epistemolgicos j levantados (Chertok & Stengers, 1999). Este pareceser um dos pontos mais importantes e, ao mesmo tempo, menos considerado nahistria da psicologia, como da cincia, que a subjetividade do cientista. Todos

    esses aspectos levam a conceber que seria praticamente impossvel para Freud

    8 Veja-se a esse respeito como Stengers (1991; 2001) considera a relao de poder envolvidana experimentao da hipnose.9 Como achar que no poderia hipnotizar uma pessoa em lugares de grande altitude (Freud,1888/1892).10 Freud chegou a expressar seu desconforto com as respostas negativas dos pacientes quandobuscava sugerir-lhes que entrassem em transe e dormissem.

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    continuar seu trabalho com a hipnose, posto que esta consistia em uma fonte dedecepes e mal-estar, um tema que fugia a seu controle e a sua autoridade e lhecolocava um nmero muito maior de desafios do que de respostas.Desafortunadamente ou no, os mitos da cincia moderna (que se quer livre de

    mitos) so capazes de transformar questes pessoais e subjetivas em respostascientficas, como se os preconceitos alimentados por um autor recebessem, comonum passe de mgica, a chancela de um procedimento experimental.

    No entanto, Milton Erickson um dos autores cujo trabalho leva a sugeriruma complexidade muito maior ligada aos procedimentos hipnticos, a comearpela crtica que desenvolveu contra a idia de um funcionalismo absoluto ligadoaos sintomas (Haley, 1985). Segundo ele, embora fosse possvel verificar que certossintomas tivessem uma funo para a organizao ampla da psique, essa no deveriaconsistir a totalidade dos casos, pois muitos sintomas poderiam consistirsimplesmente em aprendizados. Portanto, muitos casos de remoo de sintomano viriam a resultar na substituio por um outro de maneira que uma perspectivapuramente causalista e determinista ficaria aqui sob suspeita. Em um de seus casos(Haley, 1993), bastante ilustrativo nesse sentido, Erickson recebeu um jovem casalque ainda no havia conseguido manter relaes sexuais, pois, a cada vez que omarido tocava a mulher com este intuito, ela era tomada por uma reao de pnico,tensionando seu corpo e cruzando as pernas em tesoura. Aps aceitar colaborarno trabalho, a nica condio que a jovem esposa imps foi a de no ser tocadaem nenhuma hiptese.

    Erickson procedeu da seguinte forma: colocou-a sentada de um lado do

    consultrio de modo a enxergar frontalmente o marido que estava do outro lado ea ele com o canto do olho. Sugeriu-lhe que fixasse os olhos no marido, mantivesseseu corpo tenso e seus braos e pernas cruzados, ao que ela obedeceu facilmente.Ao coloc-la em transe sugeriu-lhe que entrasse em pnico e, quanto maior fosseo pnico, maior seria a profundidade de seu transe, passando-lhe ainda a mensagemde continuar com o corpo tenso. Em seguida, gradualmente lhe foi dito que deveriacomear a sentir seu marido acariciando-a intimamente, embora continuasseenxergando-o do outro lado do consultrio e ainda que, se o quisesse, poderiarelaxar o corpo o suficiente para sentir melhor as carcias. Aps ser perguntada se

    gostaria de continuar tendo tais sensaes, ao que a jovem respondeuafirmativamente, Erickson lhe disse que ela poderia sentir mais intensamente ascarcias do marido, de modo a ficar satisfeita, relaxada e feliz. A partir dessa nicasesso o casal pde desenvolver sua vida sexual normalmente.

    O que chama bastante a ateno nesse caso o conjunto de rupturas queestabelece com crenas corriqueiras e consagradas da prtica clnica. Nota-se queo autor no estabeleceu uma causa longnqua no passado da paciente, no fez um

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    levantamento detalhado de sua histria de vida, no props uma terapia de longadurao, nem catrtica e no demonstrou uma preocupao a priori com uma eventualsubstituio de sintoma, que efetivamente no ocorreu. Embora considerasse taisprocessos possveis, conforme se pode notar ao longo de seu trabalho (Erickson

    & Rossi, 1980), Erickson no as considerava como categorias fixas e invariveispara todas as circunstncias e pacientes, pois preferia concentrar-se nos sentidose processos especficos dos cenrios dos sujeitos. Seu trabalho parece sugerirque a subjetivao desenvolvida pelos sujeitos obedecem a configuraessingulares, especficas e muito mais complexas do que as teorias psicolgicas emgeral concebem, envolvendo arranjos diversos que no se enquadram invariavelmenteem formas universais de mudana ou personalidade (Neubern, 2003-a). assimque o caso singular ganha considervel importncia, pois enquanto um sujeitopode ter sua temtica ligada ao passado infantil e um sintoma funcional, outropode estar muito mais implicado com problemas atuais sem maiores repercusses

    em termos de economia psquica.Tomando-se o caso logo acima citado, possvel destacar outros princpios

    da utilizao da hipnose que permitem situ-la dentro de uma considervel eficcia.Nota-se que, enquanto o terapeuta possuiu um papel ativo e diretivo, ele noprescreveu comandos paciente que lhe fossem muito estranhos ou que noestivesse habituada a fazer, o que permite conceber a especial ateno que conferiua seus sentidos e significados particulares. Sentar-se com pernas e braos cruzados,tensionar os msculos e desenvolver reaes de pnico eram expresses que apaciente efetivava comumente sem contar a necessidade de distncia fsica que

    deveria ter quanto ao marido. Com isso, o terapeuta props um processo de grandeimportncia para a paciente que seria o de expressar comportamentos, estados eemoes tidos at ento como involuntrios, mas sob o comando do terapeuta edela mesma, o que comeava a lhe trazer certa possibilidade de autonomia. Assimsendo, na medida em que a paciente acatou essas sugestes, incorporando-as emseu repertrio, ela se tornou receptiva para aceitar outras experincias que foraminicialmente introduzidas por meio da imaginao: o toque ntimo, que no poderiaocorrer fisicamente, poderia acontecer por meio da imaginao hipntica que aindalhe traria a segurana quanto distncia fsica do marido. Em suma, esse conjuntode sugestes utilizou as prprias habilidades da paciente para trazer-lhe apossibilidade do novo, adequando-se a seus padres e sentidos e acolhendo suasnecessidades.

    Essas consideraes tocam em questes bastante complexas sobre o usoda hipnose e sobre a prtica clnica em geral, em seu projeto cientfico. Ressaltamque a hipnose no consiste em uma abordagem em si mesma, mas em uma prticapermeada por crenas e pressupostos que se retroalimentam com ela e lhe conferem

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    sentido. Portanto, em vez de se subentender que o termo hipnose implicasuperficialidade, substituio de sintomas e autoridade direta do terapeuta11, apostura mais adequada seria a de perguntar sobre as concepes que traz sobreo sujeito, a terapia e a mudana, sobre como concebe o acontecimento do processo,

    de suas contradies, potenciais e limites. A hipnose, como qualquer abordagemou conceito psicolgico, no consiste em uma entidade substancializada, uma coisapalpvel e visvel que se faa conhecida, sem contar que sua histria leva a pensarque, pela prpria complexidade em que se implica, reific-la em um conjunto deidias simplistas por demais inadequado.

    No entanto, ao se adentrar neste tipo de questionamento, esbarra-se no quetalvez seja um dos problemas mais caractersticos da hipnose, algo que talvez reveleum trao de sua identidade na tradio ocidental e que tambm consistiu em umdos principais motivos de sua desgraa. Trata-se de seu teor fugidio, que no seadapta epistemologia dominante de uma realidade universal, fixa e eterna, desua subverso ao poder cientfico de sua indocilidade quanto s disjunes dosmtodos, em suma, dessa dimenso que se constituiu o pesadelo de Freud parafazer uma psicologia cientfica (Chertok & Stengers, 1999). A hipnose, retomadacomo um processo teraputico de longa tradio, est no centro da dicotomia entrecincia e prtica clnica, principalmente porque, abdicando da obedincia a umateoria e da pretenso de revelar uma realidade, ela se enderea com eficincia aossujeitos, possibilitando-lhes a cura sem, contudo, possuir a pertinncia cientficade poder explic-la. Ela pode, por isso, vir a consistir numa encruzilhada, numabifurcao para a psicologia onde, de um lado, h o forte apelo para uma nova

    racionalidade e, de outro, a permanncia no mundo do no explicado.

    Concluso: A hipnose como orculo da Psicologia

    A tarefa que os clnicos propem em seu cotidiano para seus pacientes, oauto-conhecimento, parece ser de considervel dificuldade se voltada para suasprprias prticas. Isto porque a tarefa epistemolgica sempre esbarra em pontoscegos, em disputas institucionais e pessoais, em problemas histricos, culturais

    e sociolgicos, o que acaba fazendo com que sejam criados rinces proibidos paraa reflexo. Entretanto, ainda em um paralelo surpreendente com os pacientes, opreo pago por essa ignorncia sistemtica pode ser alto, pois lega-se aodesconhecido um conjunto de acontecimentos e processos que fazem parte daprpria trajetria dessa cincia. A perspectiva aqui adotada, como tambm em outros

    11 O que seria tpico da hipnose clssica e no da hipnose de Erickson ou Delboeuf.

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    trabalhos (Chertok & Stengers, 1999; Erickson & Rossi, 1980; Melchior, 1998;Neubern, 2002; 2003-a; 2003-b; Stengers, 2001), em vez de situar a hipnose comoum problema a ser eliminado, a de situ-la como um tema que traz muitas questesa pensar, o que talvez possa mesmo vir a desembocar em uma nova racionalidade

    em psicologia clnica. Em outras palavras, a hipnose consiste em um importanteorculo da psicologia clnica de grande importncia para a compreenso de suasorigens como de seu porvir. possvel destacar, entre as vrias questes existentes,duas que poderiam ser tratadas junto a esse orculo.

    Primeiramente, a hipnose traz tona o problema da influncia que permeiasujeito e objeto, colocando-os de modo indissocivel seja de um ponto de vistaepistemolgico, seja de um ponto de vista clnico. A teoria hipntica em sihipnognica, isto , ela produz aquilo que ela mesma anuncia, colocando sob sriassuspeitas o problema da objetividade e situando a hipnose como um dos ancestraisdo construtivismo12. Sendo assim, ela coloca um problema central para a psicologiaclnica em sua pretenso cientfica: se a influncia inseparvel das relaeshumanas, seria possvel pensar numa objetividade ou em que termos isso seriapossvel? Tal questo tem sido refletida por importantes autores da psicologia(Gonzalez Rey, 1997; 2002; Gergen, 1996; Mahoney, 1991), mas ainda talvez noseja possvel avaliar o impacto dessas contribuies principalmente em funode toda uma instabilidade existente no paradigma dominante e no cenrio cientficoatual (Santos, 1987; 1989). Por outro lado, essa perspectiva da fabricao trazidapela hipnose, pela obra de autores como Delboeuf (1890) e Erickson (Erickson &Rossi, 1980), possui um paralelo surpreendente com algumas prticas clnicas de

    inspirao ps-moderna (Andersen, 1993; Anderson & Goolishian, 1988; Gergen& Kaye, 1998), de maneira que questes comuns a ambas como a fabricao docontexto, a colocao do problema como algo possvel de ser trabalhado, a auto-reflexo constante de terapeuta e paciente possuem considervel pertinncia parao processo e eficcia de uma terapia. Nesse sentido, no seria nada problemticopromover um dilogo entre autores contemporneos e antigos para que se discutasobre as respostas que encontram, mas principalmente sobre as perguntas quedesenvolveram.

    Em segundo lugar, a hipnose consiste em um dos principais pontos de origem

    da psicologia clnica, um comeo onde os terapeutas da poca sonharam em poderassociar suas prticas, descendentes e parentes do magnetismo e do espiritismo,ao ideal de uma cincia da alma (Carroy, 1991; Meheust, 1999). A segunda questo,nesse sentido, endereada ao orculo seria sobre as implicaes desse

    12 Como no caso do efeito Rosenthal (Melchior, 1998; Stengers, 2001).

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    reconhecimento. Se esse reconhecimento efetivamente acontecesse, a psicologiaclnica teria os moldes que possui hoje? Teria ela sua cientificidade ameaada?Teria ela conquistado o espao que conquistou junto s outras cincias e sociedade? No se sabem ainda as respostas para tais perguntas. Mas o interessante

    que elas levam naturalmente a uma ltima forma de indagao que incide diretamentesobre as prticas institucionais dessa cincia. Isto porque se a hipnose possuitamanha pertinncia seja para a histria, para a epistemologia como para a prticaclnica, causa espanto o fato de ela ter sido to no cientificamente julgada paraser condenada, o que sugere que a construo de sentido ligada hipnose semprepossuiu fortes razes na dimenso humana da cincia.

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    3o. Congresso UniCEUB de Cincias da Sade

    04 a 08 de Outubro de 2004

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