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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ PÂMELA LARISSA NAFFIN RODRIGUES SCHIOCHET HIPERTIREOIDISMO EM GATO CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

PÂMELA LARISSA NAFFIN RODRIGUES SCHIOCHET

HIPERTIREOIDISMO EM GATO

CURITIBA

2015

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PÂMELA LARISSA NAFFIN RODRIGUES SCHIOCHET

HIPERTIREOIDISMO EM GATO

Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de

Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do

Paraná como requisito parcial para obtenção do grau

de Médica Veterinária.

Orientadora acadêmica: Prof.ª Rhéa Cassuli Lima

dos Santos

Orientadores profissionais: Nuno Gonçalo Paixão

Amaral Santos Almeida e Maria João Dinis da

Fonseca

CURITIBA

2015

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Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitor Administrativo

Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitora Acadêmica

Prof.ª Dra. Carmem Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Diretor de Graduação

Prof. Dr. João Henrique Faryniuk

Coordenador do curso de Medicina Veterinária

Prof. Dr. Welington Hartmann

Coordenador de Estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Dr. Welington Hartmann

CAMPUS BARIGUI

Rua Sidnei A. Rangel Santos, 238- Santo Inácio CEP: 82010-330 - Curitiba - PR

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TERMO DE APROVAÇÃO

PÂMELA LARISSA NAFFIN RODRIGUES SCHIOCHET

HIPERTIREOIDISMO EM GATO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título de Médica

Veterinária pela Comissão Examinadora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do

Paraná.

Comissão Examinadora:

Presidente: Prof.ª Rhéa Cassuli Lima dos Santos

Universidade Tuiuti do Paraná

______________________________________________

Prof.ª Fabiana Monti

Universidade Tuiuti do Paraná

______________________________________________

Prof.ª Ana Laura D’Amico Fam

Universidade Tuiuti do Paraná

______________________________________________

Curitiba, 03 de dezembro de 2015

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os animais

que, em tantos momentos, proporcionaram-me

imensa felicidade ao contemplá-los em sua

grandeza, sabedoria e beleza e ao meu eterno

amigo e sempre amado Spike, esteja onde

estiver.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por todos os ensinamentos de vida e por toda luz.

Aos meus pais Antônio Ernani Rodrigues e Nelma Maria Naffin Rodrigues pela

dedicação e persistência para formar a pessoa que sou, ensinando-me empatia,

compaixão, mostrando-me verdadeiros valores e que, mesmo em meio às dificuldades,

nunca negligenciaram minha educação.

Ao meu esposo amado Maurício Schiochet por todo apoio, principalmente nos

momentos mais difíceis quando desistir parecia ser a única opção.

Aos meus irmãos Leandro, Katherine, Mariana e à minha cunhada Mislene que

vibraram comigo cada etapa conquistada.

Aos meus animais que me encheram de alegria e despertaram-me muitas

curiosidades.

Aos meus verdadeiros amigos que me fizeram sorrir em momentos de tristeza.

A minha querida professora e amiga Maria Aparecida Alcântara que, com seus

sábios conselhos, guiou-me para o entendimento da minha missão.

As médicas veterinárias Rita Pavani, Marúcia de Andrade Cruz, Lilian

Bevilacqua pelo exemplo de pessoas e profissionais com as quais tive a honra de

estagiar.

A todos os professores da Faculdade Evangélica do Paraná por ensinarem-me o

que sei, por impulsionarem-me a ir constantemente em busca do aprendizado e por

mostrarem-me o caminho.

A Universidade Tuiuti do Paraná pelo acolhimento e também as professoras Rhéa

Cassuli, Ana Laura D’Amico Fam e Fabiana Monti por compartilharem comigo seus

conhecimentos.

A Dra. Maria João Dinis por ter aberto exceção e permitido meu curto período de

estágio no Hospital do gato.

E por fim, não menos importante, agradeço ao gatinho Ludovico que me fez

deliciosa companhia durante o último mês de estágio, tornando os meus dias longe de

casa mais agradáveis e menos saudosistas.

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EPÍGRAFE

“O menor entre todos os gatos é uma obra-prima”

(Leonardo da Vinci)

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RESUMO

O estágio curricular obrigatório tem por objetivo vivenciar a prática em Medicina

Veterinária, bem como estimular a busca por maiores conhecimentos quando

confrontadas teoria e prática. Foi realizado na área de Clínica Médica de Pequenos

Animais em dois hospitais distintos de Portugal, no período de agosto a outubro de 2015.

O primeiro estágio ocorreu em um hospital veterinário de atendimento de cães e gatos

com maior tendência à medicina de urgência e emergência. O segundo ocorreu em um

hospital veterinário de atendimento exclusivo felino. Em ambos realizou-se atividades

condizentes com a rotina médica hospitalar. Durante o período de estágio, dados

referentes aos casos acompanhados foram organizados para complementar a casuística

do relatório, cujo relato de caso clínico refere-se a hipertireoidismo em gatos,

endocrinopatia cada vez mais diagnosticada dentro da Clínica Médica de Pequenos

Animais tornando o conhecimento prévio de fundamental importância para realização

do diagnóstico e tratamento adequado.

Palavras-chave: Endocrinopatia; Tireoide; Gato; Polifagia; Perda de peso.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................16

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ..................................................17

2.1 HOSPITAL VETCENTRAL ...........................................................................17

2.1.1 Instalações e funcionamento ............................................................................17

2.1.2 Atendimentos....................................................................................................20

2.1.3 Atividades desenvolvidas .................................................................................21

2.1.4 Casuística .........................................................................................................22

2.2 HOSPITAL DO GATO ....................................................................................23

2.2.1 Instalações e funcionamento ............................................................................23

2.2.2 Atendimentos ...................................................................................................26

2.2.3 Atividades desenvolvidas .................................................................................27

2.2.4 Casuística .........................................................................................................28

3 HIPERTIROIDISMO EM GATO................................................................30

3.1 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................30

3.1.1 Introdução ........................................................................................................30

3.1.2 Anatomia ..........................................................................................................31

3.1.3 Etiologia ...........................................................................................................32

3.1.4 Manifestações clínicas .....................................................................................33

3.1.4.1 Sistema gastrointestinal ....................................................................................34

3.1.4.2 Sistema neurológico .........................................................................................35

3.1.4.3 Sistema renal ....................................................................................................35

3.1.4.4 Sistema cardiovascular .....................................................................................36

3.1.4.5 Sistema respiratório ..........................................................................................38

3.1.5 Diagnóstico .......................................................................................................39

3.1.6 Tratamento e prognóstico .................................................................................43

4 RELATO DE CASO CLÍNICO ....................................................................47

5 DISCUSSÃO ...................................................................................................51

6 CONCLUSÃO ...............................................................................................56

REFERÊNCIAS ..........................................................................................................57

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APENDICES ................................................................................................................62

APÊNDICE A – TABELA DE CASUÍSTICA ACOMPANHADA NO HOSPITAL

VETCENTRAL EM PORTUGAL DE 03 DE AGOSTO A 07 DE SETEMBRO DE

2015 ...............................................................................................................................63

APÊNDICE B – TABELA DE CASUÍSTICA ACOMPANHADA NO HOSPITAL

DO GATO EM PORTUGAL DE 14 SETEMBRO A 16 OUTUBRO DE 2015 ..........64

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AD Átrio direito

AE Átrio esquerdo

ALT Alanina aminotransferase

AMPc Monofosfato de adenosina cíclica

Ao Aorta

AST Aspartato aminotransferase

cm Centímetro

CO2 Dióxido de carbono

DRC Doença renal crônica

FA Fosfatase alcalina

FIG Figura

g Grama

g/dL Grama por decilitro

HAS Hipertensão arterial sistêmica

HG Hospital do Gato

HT Hipertireoidismo

HVC Hospital VetCentral

ICC Insuficiência cardíaca congestiva

IECA Inibidores da enzima conversora de angiotensina

I Iodo

K Potássio

KCl Cloreto de Potássio

kg Quilograma

LDH Lactato desidrogenase

LOA Lesão em órgão alvo

M Momento

µ/dL Micrograma por decilitro

mg Miligrama

mg/dL Miligrama por decilitro

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mg/gato Miligrama por gato

mg/kg Miligrama por kilo

mL Mililitro

mm Milímetro

mmHg Milímetros de mercúrio

mmol/L Milimol por litro

PA Pressão arterial

PAS Pressão arterial sistólica

RPC Relação proteína creatina

Tc Pertecnetato

T3 Triiodotironina

T4 Tiroxina

TFG Taxa de filtração glomerular

TRH Hormônio liberador da tireotropina

TSH Hormônio estimulados da tireoide

U/L Unidade por litro

UCI Unidade de cuidados intensivos

UI Unidade internacional

VD Ventrículo direito

VE Ventrículo esquerdo

VG Volume globular

VO Via oral

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – DISTRIBUIÇÃO DOS 136 CASOS ACOMPANHADOS NO

INTERNAMENTO DO HOSPITAL VETCENTRAL EM PERCENTUAL POR

ESPECIALIDADE ........................................................................................................22

GRÁFICO 2 – DISTRIBUIÇÃO ENTRE CÃES E GATOS DOS 136 CASOS

ACOMPANHADOS NO INTERNAMENTO DO HOSPITAL VETCENTRAL .......22

GRÁFICO 3 – DISTRIBUIÇÃO DOS 118 CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS

NO HOSPITAL DO GATO EM NÚMERO POR MODALIDADE ...........................28

GRÁFICO 4 – DISTRIBUIÇÃO DOS 118 CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS

NO HOSPITAL DO GATO EM PERCENTUAL POR ESPECIALIDADE ...............29

GRÁFICO 5 – DISTRIBUIÇÃO ENTRE MACHOS E FÊMEAS DOS 118

CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS NO HOSPITAL DO GATO ......................29

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - FREQUÊNCIA DE MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DE GATOS

COM HIPERTIREOIDISMO .......................................................................................34

TABELA 2 - ALTERAÇÕES APRESENTADAS NOS RESULTADOS DO

PRIMEIRO EXAME LABORATORIAL DA PACIENTE .........................................47

TABELA 3 - RESULTADOS DO SEGUNDO EXAME LABORATORIAL DA

PACIENTE ....................................................................................................................49

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – FACHADA E RECEPÇÃO DO HOSPITAL VETCENTRAL ..............17

FIGURA 2 – CONSULTÓRIO 1 DO HOSPITAL VETCENTRAL ............................18

FIGURA 3 – SALA DE RADIOGRAFIA E SALA DE ECOGRAFIA DO HOPITAL

VETCENTRAL .............................................................................................................18

FIGURA 4 – UNIDADE DE CUIDADOS INTENSIVOS DO HOPITAL

VETCENTRAL .............................................................................................................18

FIGURA 5 – ALA DE INTERNAMENTO DE CÃES E GATOS DO HOPITAL

VETCENTRAL .............................................................................................................19

FIGURA 6 – SALA PRÉ-CIRÚRGICA E INTERNAMENTO COMPARTILHADOS

DO HOPITAL VETCENTRAL ....................................................................................19

FIGURA 7 – LABORATÓRIO DO HOPITAL VETCENTRAL ................................19

FIGURA 8 – FACHADA DO HOSPITAL DO GATO ................................................23

FIGURA 9 – RECEPÇÃO E PET SHOP DO HOSPITAL DO GATO .......................24

FIGURA 10 – CONSULTÓRIO 1 DO HOSPITAL DO GATO ..................................24

FIGURA 11 – INTERNAMENTO DO HOSPITAL DO GATO .................................24

FIGURA 12 – SALA DE RADIOGRAFIA E LABORATÓRIO DO HOSPITAL

DO GATO .....................................................................................................................25

FIGURA 13 – SALA PRÉ-CIRÚRGICA E CENTRO CIRÚRGICO DO HOSPITAL

DO GATO .....................................................................................................................25

FIGURA 14 – PACIENTE FELINO DENTRO DE CAIXA TRANSPORTADORA

REVESTIDA POR SACO PLÁSTICO RECEBENDO ANESTÉSICO INALATÓRIO

ISOFLURANO NO HOSPITAL DO GATO ................................................................27

FIGURA 15 – ANATOMIA DA GLÂNDULA TIREOIDE E PARATIREOIDE DO

GATO ............................................................................................................................31

FIGURA 16 – IMAGENS ECOCARDIOGRÁFICAS DA PACIENTE

DEMONSTRANDO ALTERAÇÕES EM ESTRUTURAS CARDÍACAS .................48

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1 INTRODUÇÃO

O estágio curricular obrigatório foi realizado em dois hospitais veterinários

distintos em Portugal, o primeiro na área de Urgências e Emergências de Pequenos

Animais e o segundo na área de Clínica Médica de Felinos, totalizando 400 horas.

A primeira fase do estágio foi realizada no Hospital VetCentral, localizado na

freguesia de Charneca da Caparica no distrito de Almada em Portugal, no período de 03

de agosto de 2015 a 07 de setembro de 2015, sob orientação profissional do médico

veterinário Nuno Gonçalo Paixão Amaral Santos Almeida, com carga horária de 200

horas.

A segunda fase do estágio foi realizada no Hospital do gato, localizado na capital

Lisboa, no período de 14 de setembro de 2015 a 16 de outubro de 2015, sob orientação

profissional da médica veterinária Maria João Dinis da Fonseca, com carga horária de

200 horas.

A realização do estágio na área de Clínica Médica de Pequenos Animais foi

motivada por maior afinidade com estes animais, pelo desejo de estudá-los, entendê-los

e tratá-los. A escolha do Hospital VetCentral justificou-se pela necessidade sentida de

aprendizado prático em Medicina de Urgência e Emergência, cujas etapas são

consideradas essenciais para suporte à vida, além de que, esses conhecimentos são

requeridos pela sociedade a todos os médicos veterinários, independente da área de

atuação. A escolha do Hospital do gato ocorreu pelo desejo de entender e lidar com essa

fascinante espécie de forma mais diferenciada na rotina prática hospitalar.

O objetivo do presente relatório é descrever os dois hospitais veterinários de

realização do estágio curricular, suas respectivas casuísticas e relatar um caso sobre

hipertireoidismo em gatos, acompanhado no Hospital do gato, bem como revisão de

literatura e discussão.

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2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

2.1 HOSPITAL VETCENTRAL

2.1.1 Instalações e funcionamento

O Hospital VetCentral (HVC) (Figura 1A), inaugurado no ano de 2000, sob

direção clínica do médico veterinário Nuno Gonçalo Paixão Amaral Santos Almeida,

localiza-se no centro da freguesia de Charneca da Caparica, no distrito de Almada, em

Portugal. Os atendimentos ocorrem 24 horas por dia, durante todos os dias da semana.

A estrutura física é composta por uma recepção (Figura 1B), três consultórios

(Figura 2), uma sala de radiografia (Figura 3C), uma sala de ecografia (Figura 3D), uma

unidade de cuidados intensivos (UCI) (Figura 4), uma ala de internamento de cães e

gatos (Figura 5), uma sala pré-cirúrgica e internamento compartilhados (Figura 6), um

centro cirúrgico, uma ala destinada a pacientes com doenças infectocontagiosas, uma

sala de preparo e esterilização de materiais, uma sala de reuniões, uma cozinha, uma

copa, dois escritórios, um laboratório de análises clínicas (Figura 7) e uma farmácia com

pet shop.

Figura 1 – (A) fachada e (B) recepção do Hospital VetCentral

A

B

B

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Figura 2 – Consultório 1 do Hospital VetCentral

Figura 3 – (C) sala de radiografia e (D) sala de ecografia do Hospital VetCentral

Figura 4 – Unidade de cuidados intensivos do Hospital VetCentral

C D

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Figura 5 – Ala de internamento de cães e gatos do Hospital VetCentral

Figura 6 – Sala pré-cirúrgica e internamento compartilhados do Hospital

VetCentral

Figura 7 – Laboratório do Hospital VetCentral

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A equipe médica é formada por treze médicos veterinários, sendo seis

responsáveis pelas consultas nas diversas especialidades e contato direto com o cliente

e sete responsáveis pelo atendimento emergencial, cirúrgico e internamento, que

revezam-se semanalmente em cada uma dessas áreas e turnos de trabalho.

As consultas e as cirurgias são pré-agendadas. Os médicos responsáveis pelas

consultas ficam de prontidão até às 24 horas, após este horário os animais são atendidos

pelo médico veterinário plantonista.

Os serviços oferecidos são: consultas, atendimento domiciliar, banho e tosa,

vacinações, microchipagem, venda de medicamentos e produtos de pet shop, cirurgias,

internamento, exames laboratoriais (hemograma, bioquímicos, hemoparasitológicos,

coproparasitológicos, imunológicos, análise urinária, análise de líquidos cavitários,

citológicos, culturas microbiológicas e antibiogramas), exames de imagem (ecografias

e radiografias), além de tratamentos diferenciados como hemodiálise e oxigenioterapia

hiperbárica.

2.1.2 Atendimentos

As consultas ocorriam principalmente perante agendamentos prévios. Um médico

veterinário clínico generalista avaliava o paciente e, se necessário, realizava colheita de

sangue para análises e agendava exames de imagem ou cirurgia. Eram internados,

mediante aprovação de orçamento pelo responsável, os pacientes considerados casos

graves ou impossíveis de tratar clinicamente.

Após encaminhados ao internamento, os animais recebiam tratamento suporte

enquanto pesquisava-se o diagnóstico através de outros exames.

Os casos emergenciais eram levados diretamente a UCI onde o médico veterinário

responsável procedia com o protocolo de atendimento emergencial. Após estabilizado,

o paciente era encaminhado ao internamento.

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2.1.3 Atividades desenvolvidas

As atividades realizadas pelos estagiários concentravam-se na ala de

internamento e UCI. Os estagiários eram responsáveis por realizar exame físico de todos

os pacientes internados, várias vezes ao dia. A ordem de prioridade para os exames era

estabelecida por plaquinhas com as colorações vermelha (caso grave), amarela (caso

observação) e verde (caso estável) presas em frente às gaiolas, o estado geral do paciente

era que definia a coloração das plaquinhas.

A inspeção do acesso intravenoso também era realizada na frequência pré-

estabelecida na ficha de internamento e consistia em injetar solução de ringer lactato

heparinizada diretamente no cateter desobstruindo-o (seringas com diluição de ringer

lactato e heparina vinham prontas da farmácia). Desta forma, verificava-se possível

infiltração subcutânea antes de aplicar medicações que causam irritação ou necrose se

aplicadas fora do vaso sanguíneo. Se o cateter estivesse inviável, os estagiários poderiam

retirá-lo e providenciar novo acesso intravenoso. Os estagiários eram orientados a

sempre conferir e recalcular as doses das medicações antes de aplicá-las.

Os estagiários eram os responsáveis por administrar alimentação oral ou dieta por

sonda nasogástrica aos internados, bem como assegurar que todos se mantivessem em

condições de higiene. Era realizada vigilância dos pacientes quanto às perdas hídricas

por êmese e/ou diarreia, seguindo com aplicação de bólus intravenoso de ringer lactato

a cada perda hídrica.

Também faziam parte das atividades: limpeza e troca de bandagens de feridas e

incisões cirúrgicas, preparação do sistema de fluido, cálculos de fluidoterapia e

manipulação de bomba infusora, preparação dos materiais nos atendimentos

emergenciais, contenção dos animais para diversos procedimentos, colheita de sangue

de veia jugular para análises diversas, realização de exercícios de fisioterapia pré-

estabelecidos em pacientes necessitados, manipulação da câmara hiperbárica com

regulagem da pressão interna, bem como preparação e acompanhamento dos pacientes

em terapia.

Todos os estagiários deveriam comparecer às reuniões semanais onde eram

pautados assuntos do decorrer da semana e determinados casos clínicos.

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2.1.4 Casuística

Durante o período de estágio no HVC foram acompanhados 136 casos no

internamento. Todos os casos acompanhados estão agrupados em especialidades e

quantificados de acordo com o diagnóstico definitivo ou presuntivo na tabela (Apêndice

A). O gráfico 1 demonstra os percentuais de casos acompanhados no internamento por

especialidades. A proporção entre cães e gatos está demonstrada no gráfico 2.

Gráfico 1 – Distribuição dos 136 casos acompanhados no internamento do

hospital VetCentral em percentual por especialidade

Gráfico 2 – Distribuição entre cães e gatos dos 136 casos acompanhados no

internamento do Hospital VetCentral

28%

10% 10% 9%7% 6% 5% 5% 4% 4% 4% 4%

2% 2%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

68%

32%

Cães

Gatos

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2.2 HOSPITAL DO GATO

2.2.1 Instalações e funcionamento

O Hospital do gato (HG) (Figura 8) surgiu da necessidade sentida de proporcionar

serviços de excelência em medicina felina, inaugurado há três anos, sob direção clínica

da médica veterinária Maria João Dinis da Fonseca, localiza-se em Lisboa, Portugal. Os

atendimentos ocorrem 24 horas por dia, durante todos os dias da semana.

Figura 8 – Fachada do Hospital do gato

A estrutura física é composta por uma recepção (Figura 9E) e um pet shop (Figura

9F), uma farmácia com produtos e medicamentos exclusivos para gatos, três

consultórios (Figura 10), um internamento (Figura 11), uma ala destinada à pacientes

com doenças infectocontagiosas, uma sala de radiografia (Figura 12G), um laboratório

de análises clínicas (Figura 12H), uma sala pré-cirúrgica (Figura 13I), um centro

cirúrgico (Figura 13J), uma sala com livros de medicina felina e cozinha anexa.

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Figura 9 – (E) Recepção e (F) pet shop do Hospital do gato

Figura 10 – Consultório 1 do Hospital do gato

Figura 11 – Internamento do Hospital do gato

E F

FONTE: DINIS, 2013

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Figura 12 – (G) Sala de radiografia e (H) laboratório do Hospital do gato

Figura 13 – (I) Sala pré-cirúrgica e (J) centro cirúrgico do Hospital do gato

Todo hospital foi projetado para receber os gatos de forma que lhes cause o

mínimo estresse. Para isso, conta com ambiente climatizado, possui várias intensidades

de iluminação, portas de correr instaladas de forma a evitar ruídos, difusores de

ferormônios em todos os ambientes. A recepção possui locais elevados para repouso das

caixas de transporte enquanto aguardam as consultas. Todos os consultórios são

equipados com brinquedos, ervas-do-gato, petiscos, materiais e equipamentos adaptados

ao tamanho da espécie, aparelho de ecografia e de anestesia inalatória portáteis que são

deslocados aos consultórios quando necessário, sistemas de oxigênio por todo o

hospital. As mesas de consultas possuem propriedades antirreflexas e não condutoras de

frio, assim como as gaiolas no internamento, de modo a evitar o estresse pela própria

imagem refletida devido a percepção felina de estar sendo perseguida por um predador.

G H

I J

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As gaiolas também possuem capacidade de expansões laterais e inferiores

proporcionando-lhes maior espaço e possibilidade de internamento conjunto nos casos

de gatos da mesma família, bem como prateleiras e caixas de papelão que lhes

proporcionam interatividade com o ambiente e bem-estar.

A equipe é formada por profissionais que trabalham em escalas de horário,

composta por sete médicas veterinárias, duas enfermeiras, duas recepcionistas e uma

psicóloga que presta atendimento gratuito aos tutores dos animais.

Consultas, exames e internamentos ocorrem 24 horas por dia, com ou sem

agendamentos prévios. As cirurgias são pré-agendadas.

Os serviços oferecidos exclusivamente para gatos são: consultas de

especialidades, consultas domiciliares, vacinas, microchipagem, cirurgias, odontologia,

análises clínicas (hemograma, bioquímicos, análise urinária, coproparasitológico e

testes rápidos), radiografia, radiografia odontológica, ecografia, endoscopia,

internamento, pet shop, venda de medicamentos e hospedagem com câmera a distância.

2.2.2 Atendimentos

As consultas eram realizadas por médicas veterinárias dedicadas exclusivamente

à medicina de felinos. Durante a anamnese, informavam-se com o tutor sobre o

temperamento do paciente para assim proceder o atendimento diferenciado. Gatos

dóceis eram examinados no próprio consultório. Quando necessário, era realizada

colheita de sangue de veia femoral, normalmente sem a necessidade de contenção física

com uso de toalhas e/ou colares elisabetano.

Gatos bravos ou assustados, que não permitiam contenção física, eram levados

para outro ambiente (consultório, sala de radiografia ou pré-operatório) onde poderiam

ser contidos com o uso de anestésico inalatório isoflurano na própria caixa de transporte

isolada com saco plástico (Figura 14). Após adormecerem eram realizados exame físico,

pesagem, colheita de sangue ou outro procedimento de curta duração, procedendo a

retirada do anestésico e manutenção do oxigênio até total recuperação para, então, serem

entregues aos tutores que aguardavam no consultório. Quando houvesse necessidade de

internamento devido ao estado geral do paciente, era realizado acesso intravenoso

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(normalmente a veia cefálica) durante a fase anestésica. Quando o estado clínico

demonstrava não haver necessidade de internamento, aguardava-se a confirmação pelos

resultados dos exames que eram realizados imediatamente, pela mesma médica

veterinária, no laboratório do hospital.

Figura 14 – Paciente felino dentro de caixa transportadora, revestida por saco

plástico, recebendo anestésico inalatório isoflurano no Hospital do gato

Cada paciente no internamento recebia uma ficha de internamento na qual

constavam seus dados, dados do responsável, nome do veterinário, protocolo

terapêutico, observações de importância clínica e exames realizados ou a realizar.

2.2.3 Atividades desenvolvidas

Os estagiários acompanhavam as consultas realizadas pelas médicas veterinárias,

auxiliando na contenção dos gatos quando solicitado e nos procedimentos de pesagem,

terapia a laser, fluidoterapia subcutânea, colheita de sangue, colheita de materiais

biológicos, preparo de vacinas e corte de unhas. Acompanhavam e vigiavam os gatos

no retorno anestésico durante a oxigenioterapia. No fim da consulta poderiam sanar suas

dúvidas ou discutir o caso acompanhado.

Auxiliavam na realização de exames de imagem (ecografias abdominais,

ecocardiogramas, radiografias), cistocenteses, toracocenteses, punções, colocações de

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sondas esofágicas, urinárias e cateteres, na realização de exames hematológicos,

coproparasitológicos, análises urinárias, testes rápidos e testes de tipagem sanguínea.

No internamento auxiliavam as enfermeiras em todas as atividades inerentes:

administração de medicações, colheita de sangue, pesagem diária dos pacientes,

fornecimento de alimentação, manutenção e limpeza das gaiolas, limpeza das caixas de

areia, preparação do sistema de fluido e manipulação de bomba infusora.

2.2.4 Casuística

Durante o período de estágio no Hospital do Gato foram acompanhados 118 casos

clínicos contemplados nas modalidades consultas, imunizações, internamento,

radiografias e ecografias conforme consta no gráfico 3. O gráfico 4 demonstra os casos

clínicos distribuídos por especialidades. A proporção entre machos e fêmeas está

demonstrada no gráfico 5. Todos os casos acompanhados estão agrupados em

especialidades e quantificados de acordo com o diagnóstico definitivo ou presuntivo na

tabela (Apêndice B).

Gráfico 3 – Distribuição dos 118 casos clínicos acompanhados no Hospital do gato em

número por modalidade

64

30

24

15

30 Consultas

Imunizações

Internamento

Radiografias

Ecografias

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Gráfico 4 – Distribuição dos 118 casos clínicos acompanhados no Hospital do gato em

percentual por especialidade

Gráfico 5 – Distribuição entre machos e fêmeas dos 118 casos clínicos acompanhados

no Hospital do gato

46%54%

Machos

Fêmeas

27%

16%14%

12%

6% 6%4% 4% 3% 3% 2% 2% 1% 1%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

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3 HIPERTIREOIDISMO EM GATO

3.1 REVISÃO DE LITERATURA

3.1.1 Introdução

O hipertireoidismo (HT) felino é uma desordem multissistêmica decorrente de

excesso na produção de hormônios tireoidianos ativos (triiodotironina [T3] e tiroxina

[T4]) a partir de uma glândula tireoide com funcionamento anormal (MOONEY, 2010).

Aproximadamente 97% a 99% dos casos resultam de hiperplasia nodular benigna,

hiperplasia adenomatosa ou adenoma tireoideo. Apenas 1% a 3% dos casos são causados

por carcinoma tireoideo (GUNN-MOORE, 2005).

A glândula tireoide mantém o nível do metabolismo nos tecidos em valores

ideais para o seu funcionamento normal. Os hormônios tireoidianos estimulam o

consumo de oxigênio pela maioria das células do corpo, ajudam a regular o metabolismo

de lipídios e carboidratos e são necessários para o crescimento e maturação normais. A

função da tireoide é controlada pelo hormônio estimulador da tireoide ou tireotropina

(TSH) da pituitária anterior. Por sua vez, a secreção desse hormônio trópico é regulada

pelo hormônio liberador da tireotropina (TRH) do hipotálamo, e está sujeito a controle

por feedback negativo pelos altos níveis circulantes de hormônios tireoidianos que

atuam sobre a pituitária anterior e hipotálamo (RECHE et al., 2007).

É a endocrinopatia mais comum em gatos nos Estados Unidos e na Europa,

acometendo, mais frequentemente, gatos acima de oito anos de idade e sem

predisposição sexual (BIRCHARD, 2006; LURYE, 2006; NELSON, 2010). A média é

de 12 a 13 anos de idade, podendo estar presente dos 4 aos 20 anos (NELSON, 2010).

No Brasil, os relatos de hipertireoidismo em gatos ainda são bastante

esporádicos, talvez por ser uma doença efetivamente pouco ocorrente em nosso meio,

ou simplesmente porque não esteja sendo diagnosticada pelo clínico (CARLOS &

ALBUQUERQUE, 2005; RECHE et al., 2007).

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31

3.1.2 Anatomia

As glândulas tireoides são estruturas pares, alongadas e vermelho-escuras,

fixadas na porção proximal da traqueia, caudalmente à laringe (Figura 15) (PADGETT,

2002). Na maioria dos mamíferos consiste de dois lobos laterais conectados por um

istmo estreito. Porém, nos gatos, a glândula tireoide é dividida em dois lobos distintos,

sendo o esquerdo levemente caudal ao direito. Nos gatos adultos, elas têm 2 cm de

comprimento e 0,3 cm de largura, palpáveis apenas quando aumentadas de tamanho

(FERGUSON & FREEDMAN, 2006).

Figura 15 – Anatomia da glândula tireoide e paratireoide do gato

FONTE: PETERSON, 2012 - MODIFICADO

Duas glândulas paratireoides estão geralmente associadas com cada lobo da

tireoide, totalizando quatro. As glândulas paratireoides internas estão frequentemente

embutidas no parênquima da tireoide e a localização é variável. As glândulas

paratireoides externas situam-se na superfície craniolateral da tireoide e podem ser

distinguidas pela sua coloração mais clara e redonda (BIRCHARD, 2006).

A artéria tireoidiana é responsável pelo suprimento sanguíneo principal de cada

lobo. No gato a artéria tireoidiana caudal é ausente. A drenagem venosa da tireoide

ocorre através das veias tireoidianas cranial e caudal. A glândula tireoidiana possui uma

cápsula distinta onde pequenos vasos podem estar localizados na sua superfície ou entre

a cápsula e o parênquima (BIRCHARD, 2006).

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32

3.1.3 Etiologia

A etiopatogenia do HT felino ainda não está bem definida, entretanto, pressupõe-

se que fatores circulatórios (imunoglobulinas), nutricionais (iodo na dieta), ambientais

(toxinas bociogênicas) e genéticos possam influenciar em sua patogênese, pois em 70 a

75% dos casos há um aumento bilateral da glândula tireoide. Uma vez que não há

conexão física entre os lobos, tem sido descrita a possibilidade de algum fator interno

ou externo influenciar o desenvolvimento da doença em uma espécie que parece ser

predisposta a esta condição (FELDMAN & NELSON, 2004; LURYE, 2006).

Devido ao fato de a maioria dos casos de HT felino afetarem ambos os lobos da

tireoide, especulou-se que esta doença fosse similar a doença de graves, a etiologia mais

frequente do hipertireoidismo humano (MOONEY & PETERSON, 2009; PETERSON

& WARD, 2007). A doença de graves é uma doença autoimune em que as

imunoglobulinas se ligam aos receptores de membrana do TSH, induzindo uma contínua

produção e secreção dos hormônios tireoidianos pela glândula tireoide, ou seja, os

anticorpos desempenham uma função idêntica ao TSH. Os primeiros estudos realizados

sugeriram como principal etiologia para o HT a presença de imunoglobulinas

estimuladoras da tireoide (MOONEY & PETERSON, 2009; MOONEY, 2005;

PETERSON & WARD, 2007). Estudos posteriores e mais recentes, efetuados em gatos

hipertireoideos, foram incapazes de detectar a presença de imunoglobulinas

estimuladoras da tireoide (MOONEY, 2005). Contudo, foram verificados valores

elevados de imunoglobulinas estimuladoras do crescimento, no entanto, a sua função na

patogenia do HT continua indeterminada (FELDMAN & NELSON, 2004; MELIÁN &

ALENZA, 2008).

É descrita uma relação de animais que preferem sabores específicos de ração

úmida, como peixe, fígado e frango apresentar um risco significativamente maior de

desenvolver a doença (MARTIN et al., 2000). Devido à essa relação com a dieta,

diversos estudos têm tentado demonstrar o papel do iodo na sua causa ou progressão. A

quantidade de iodo nas dietas comerciais para gatos é extremamente variável e

geralmente maior que o nível recomendado. Tem sido sugerido que grandes variações

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33

na quantidade diária de iodo ingerido podem, de alguma forma, contribuir para o

desenvolvimento de doença tireoidea (MOONEY, 2002).

Alimentos comerciais enlatados tem muito mais gordura do que os alimentos

secos. A fabricação destes enlatados de fácil abertura para gatos começou no início dos

anos 80. Desde então, o tamanho destas latas tem diminuído e desta forma a área de

superfície por quilograma de alimento em contato com a superfície interior da lata tem

aumentado. Por isso é possível que os gatos hoje estejam mais expostos a grandes

quantidades de contaminantes solúveis na gordura dos alimentos do que no passado

(EDINBORO et al., 2004).

Semelhante ao iodo, existem muitos outros materiais goitrogênicos (resorcinol,

policlorinato bifenila, polifenol, isoflavona) a que os gatos podem ser expostos, tanto a

nível ambiental como alimentar, contribuindo para o desenvolvimento do HT. Os

materiais goitrogênicos através da sua ação direta na tireoide, reduzem a síntese de

hormônios tiroidianos e, consequente diminuição da concentração de T4, levando ao

aumento da secreção de TSH e consequente desenvolvimento de hiperplasia da tireoide.

A maioria destes goitrogênicos é metabolizada através da glicuronidação, um processo

lento nos gatos (PETERSON & WARD, 2007).

Finalmente, os estudos também sugerem que fatores genéticos podem estar

envolvidos na patogênese do HT tanto nos humanos quanto nos gatos. Nos pacientes

humanos com bócio multinodular tóxico (análogo humano do HT felino) foram

descobertas mutações do gene receptor do TSH e, em menor extensão, da subunidade

alfa da sua proteína G associada que resulta em “ganho de função”. Tais mutações

resultam no estímulo continuado do ramo do monofosfato de adenosina cíclica (AMPc),

o qual leva tanto ao HT como à modificações hiperplásicas ou adenomatosas da tireoide

(PETERSON, 2008).

3.1.4 Manifestações clínicas

As manifestações clínicas nos gatos podem ser de moderadas a graves (Tabela 1)

e dependem da duração da condição, presença de anormalidades concomitantes em

vários sistemas e da incapacidade de um sistema alcançar as demandas impostas pela

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doença. Por causa do efeito multissistêmico do HT, a maioria dos gatos apresenta

manifestações clínicas que refletem disfunção de muitos sistemas orgânicos

(PETERSON, 2008).

Tabela 1 – Frequência de manifestações clínicas de gatos com hipertireoidismo

ACHADOS CLÍNICOS GATOS

Perda de Peso 95-98%

Hiperatividade e dificuldade em examinar 70-80%

Polifagia 65-75%

Taquicardia 55-65%

Poliúria/polidipsia 45-55%

Sopro cardíaco 20-55%

Êmese 33-50%

Diarreia 30-45%

Aumento do volume fecal 10-30%

Diminuição do apetite 20-30%

Letargia 15-25%

Polipnéia 15-30%

Fraqueza muscular 15-20%

Tremor muscular 15-30%

Insuficiência cardíaca congestiva 10-15%

Dispnéia 10-15%

3.1.4.1 Sistema gastrointestinal

A maior consequência do HT é o aumento do gasto de energia e alta demanda

metabólica. Para contrabalancear essas mudanças, ocorre aumento da ingestão de

alimento que torna-se insuficiente para compensar a maior demanda, então, a reserva de

energia é utilizada levando a perda de peso. Cerca de 5% dos gatos com HT manifestam

períodos de redução do apetite. A causa é desconhecida, mas geralmente está associada

a doença concomitante (por exemplo, doença renal ou cardíaca). Alguns gatos são

polifágicos durante meses antes de progredir para disorexia e anorexia. Esta alteração

pode ocorrer devido ao desenvolvimento da grave perda de peso e fraqueza muscular.

FONTE: PETERSON, 2008

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Alguns gatos apresentam períodos de polifagia que alteram com diminuição do apetite

(FELDMAN & NELSON, 2004; PETERSON, 2008).

Êmeses são frequentemente secundários à polifagia quando ocorrem

imediatamente após a refeição; também podem ocorrer devido a estimulação direta dos

quimiorreceptores do centro do vômito pelos hormônios tireoidianos. Diarreia, com

aumento de volume e de frequência de defecações, deve-se à polifagia, hipermotilidade

intestinal e menor absorção de gordura (FELDMAN & NELSON, 2004; PETERSON,

2008).

3.1.4.2 Sistema neurológico

As manifestações neurológicas e comportamentais são inconstantes e variáveis

conforme o indivíduo, podendo ir desde uma simples alteração de comportamento até

agressividade e devem-se, provavelmente, a um efeito direto dos hormônios em excesso

no sistema nervoso. As manifestações podem ainda refletir um aumento da atividade

adrenérgica, uma vez que, tal como na intolerância ao stress e ao calor, existe um

melhoramento dessas manifestações quando há um tratamento com antagonistas

adrenérgicos (FELDMAN & NELSON, 2004).

3.1.4.3 Sistema renal

A doença renal crônica (DRC) e o hipertireoidismo representam os distúrbios

metabólicos mais frequentes em medicina felina. Aproximadamente 30% dos gatos com

mais de 15 anos são acometidos por DRC, ao passo que o hipertireoidismo é considerado

a endocrinopatia mais comum em felinos acima de oito anos. Atualmente, sabe-se que

ambas as enfermidades podem coexistir em um mesmo paciente (GRAVES, 2011; VAN

HOEK & DAMINET, 2009).

A taxa de filtração glomerular (TFG) está frequentemente aumentada nos

pacientes hipertireoideos, devido ao aumento do débito cardíaco e da elevação da

pressão intraglomerular, decorrente das mudanças na resistência das arteríolas aferentes

e eferentes (VAN HOEK & DAMINET, 2009). Com o aumento da TFG, pode ocorrer

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poliúria, polidipsia e redução dos níveis sanguíneos de ureia e creatinina, que

mascararam uma DRC concomitante. Nenhuma nefropatia específica é atribuída ao HT,

no entanto, acredita-se que o aumento da pressão no capilar glomerular e da proteinúria

em gatos com HT, possa contribuir para a progressão de uma doença renal pré-existente

(LANGSTON & REINE, 2006; SCHERK, 2012).

Os gatos hipertireoideos com DRC preexistente constituem, portanto, um desafio

diagnóstico (GRAVES, 2011).

Todos os tratamentos disponíveis para o HT podem comprometer a função renal,

pois nesta endocrinopatia, a TFG se mantém aumentada. Porém, logo após o tratamento,

ocorre queda do débito cardíaco, com consequente redução da perfusão renal, e desta

forma, da TFG, que pode cair em até 50% (SCHERK, 2012).

Devido à redução da TFG, os gatos com DRC prévia, mascarada pelo estado

hiperdinâmico da endocrinopatia, desenvolvem sinais de uremia após o tratamento para

o HT (GUNN-MOORE, 2005). Por isto, o conhecimento da predisposição do paciente

para desenvolver a DRC pós-terapia é de grande valor clínico (GRAVES, 2011).

Por outro lado, a DRC pode causar redução da concentração dos hormônios

tireoidianos circulantes, o que é definido como a “síndrome do eutireoideo doente”.

Alterações centrais, bem como no metabolismo hormonal e proteico, são as possíveis

causas. A conversão de T3 para T4 está reduzida nestes casos, pois ocorre menor

disponibilidade do T4 para a deiodinização, em nível celular, bem como menor atividade

das deiodinases. Nos tecidos, há diminuição da captação do T4 e T3, devido à ação

reduzida dos receptores nucleares para T3. A produção de proteínas carreadoras dos

hormônios tireoidianos (tireoglobulina e albumina), e sua afinidade pelos hormônios,

estão diminuídas, o que explica as concentrações normais de T4 livre na síndrome do

eutireoideo doente (VAN HOEK & DAMINET, 2009).

3.1.4.4 Sistema cardiovascular

Na circulação periférica ocorre aumento do metabolismo celular e,

consequentemente, no consumo de oxigênio, o que acarreta na liberação de substâncias

vasodilatadoras, que juntamente com os efeitos vasodilatadores diretos do T3 na

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circulação periférica, leva à uma baixa resistência vascular periférica (CASAMIAN,

2009). Essas alterações, somadas aos mecanismos renais para retenção de fluidos, levam

a um aumento de volume sanguíneo. O principal mecanismo compensatório para a

situação é a hipertrofia e a dilatação de câmaras cardíacas (FELDMAN & NELSON,

2004). Aproximadamente de 10 a 15% dos gatos sintomáticos evoluem para um quadro

de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) (MOONEY, 2005; PETERSON, 2008). Os

principais sinais da ICC são tosse, distrição respiratória, abafamento de sons cardíacos

e ascite (FELDMAN & NELSON, 2004).

Os sinais cardíacos são achados clínicos de grande importância, pois alertam o

clínico para a possibilidade de HT, já que é a principal causa secundária de

cardiomiopatias em felinos (FRENCH, 2008). Cerca de 66% apresentam taquicardia,

53% sopro cardíaco e 12% ICC (MOONEY & PETERSON, 2009). Os sopros

geralmente são atribuídos a uma regurgitação da mitral ou da tricúspide secundária, mas

pensa-se que sejam provocados por obstrução dinâmica do cone de saída do ventrículo

esquerdo ou direito (SYME, 2007). Com um tratamento adequado levando ao quadro

de eutireoidismo, as alterações cardiovasculares podem sofrer regressão (MOONEY &

PETERSON, 2009).

Os mecanismos pelos quais o HT leva a hipertensão ainda não estão bem

descritos mas, presumivelmente, são semelhantes aos humanos. Em humanos, o excesso

de tiroxina causa um decréscimo na resistência vascular sistêmica e pressão diastólica,

causando um aumento reflexo do débito cardíaco e efeitos inotrópico e cronotrópico

positivos. Estes dois efeitos também podem ocorrer devido ao aumento da sensibilidade

do miocárdio às catecolaminas induzidos pelo excesso de hormônio tireoidiano

(REUSCH, et al., 2010). Para Olson (2001), o aumento da pressão arterial sistólica

(PAS), tem como prováveis causas as combinações do estado hiperdinâmico do coração,

retenção de sódio, baixos níveis de vasodilatadores renais, perda de autorregulação da

pressão sanguínea glomerular e ativação do sistema renina angiotensina aldosterona.

As principais consequências da hipertensão arterial sistêmica (HAS) em felinos

são lesões em órgãos importantes como rins, coração, cérebro e olhos. Cegueira súbita

é, provavelmente, a principal queixa dos tutores de felinos hipertensos, uma vez que o

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descolamento de retina é muito comum em casos de HAS (BROWN et al., 2007;

STEPIEN, 2011).

Williams et al. (2013) relataram que aproximadamente 23% dos felinos, no

momento do diagnóstico de HT, eram hipertensos. Além disso, seis meses após

instituição de tratamento e controle da doença, aproximadamente 24% dos felinos,

inicialmente normotensos, desenvolveram hipertensão. Portanto, a monitoração dos

valores de pressão arterial (PA) são importantes em pacientes hipertireoideos, mesmo

após o restabelecimento do eutireoidismo.

Segundo o consenso “Diretrizes para Identificação, Avaliação e Manejo da

Hipertensão Arterial Sistêmica em Cães e Gatos” de Brown et al. (2007), o manejo da

HAS em pequenos animais deve basear-se nos riscos de desenvolvimento de lesão em

órgão alvo (LOA). Assim sendo, PA sistólica e diastólica respectivamente: <150/95

mmHg possuem mínimo risco de causar LOA; PA entre 150-159/95-99mmHg indicam

médio risco para causar LOA; PA entre 160-179/100-119mmHg indicam risco

moderado de causar LOA e PA ≥180/120mmHg indicam severo risco de causar LOA.

Baseado nessa classificação, o consenso buscou estabelecer diretrizes para o

início do tratamento anti-hipertensivo. Portanto, pacientes que apresentam pressão

sistólica ≥180 são candidatos ao início do tratamento anti-hipertensivo e pacientes com

pressão sistólica entre 150 e 179mmHg serão candidatos ao tratamento caso apresentem

lesão em órgão alvo, porém, os que possuírem HAS secundária devem ser tratados para

a condição primária a fim de evitar insucessos terapêuticos (BROWN et al., 2007).

3.1.4.5 Sistema respiratório

Alguns gatos com HT apresentam dispneia ou hiperventilação em repouso. A

condição hipertireoidea pode diminuir a complacência pulmonar e aumentar a

respiração por minuto. Essas normalidades resultam da combinação da fraqueza dos

músculos respiratórios com produção aumentada de dióxido de carbono (CO2). Em

alguns gatos, a insuficiência cardíaca tireotóxica também contribui para dispneia e

hiperventilação (PETERSON, 2008).

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39

3.1.5 Diagnóstico

O diagnóstico é baseado no histórico, presença de lobos tireoidianos cervicais

palpáveis e confirmado através do exame hormonal dosando o T4 total (FELDMAN &

NELSON, 2004; PAEPE et al., 2008; RECHE et al., 2007). No entanto, 10% dos

pacientes apresentam níveis sanguíneos deste hormônio dentro do valor de referência

(PETERSON, 2006).

Quando houver a suspeita de hipertireoidismo discreto, mas as concentrações

séricas de T4 e T3 não estiverem elevadas, deve-se sempre repetir a medida de T4 total

e descartar doença não tireoidiana. Como há maior variação das concentrações

hormonais por um período de dias do que por um período de horas, é aconselhado que

a segunda determinação sérica de T4 total seja feito, no mínimo, de uma a duas semanas

depois (PETERSON, 2004). Se o resultado estiver novamente na variação normal a

normal elevado e ainda houver a suspeita de hipertireoidismo, recomenda-se outros

testes: determinação de concentração sérica da T4 livre por diálise, teste de supressão

com T3 ou de estimulação com hormônio liberador da tireotropina (TRH) e obtenção de

imagens tireoidianas (PETERSON, 2004; NELSON, 2010).

A mensuração de T4 total tem sido extremamente confiável na diferenciação de

gatos com HT daqueles sem doença tireoidiana. Uma concentração sérica de T4

anormalmente alta sustenta fortemente o diagnóstico de HT, especialmente se as

manifestações clínicas esperadas estiverem presentes. Uma baixa concentração sérica

de T4 total exclui o diagnóstico de HT, exceto em situações extremamente incomuns

quando uma doença não tireoidiana que ameaça a vida está presente. As concentrações

séricas de T4 total que estão dentro da metade superior da faixa de referência criam um

dilema no diagnóstico, especialmente se as manifestações clínicas forem sugestivas de

HT e houver um nódulo palpável na região ventral cervical. Essa combinação de

achados é referida como HT oculto, que é mais comumente identificado em gatos nos

estágios precoces de HT. O diagnóstico de HT não deve ser excluído com base em um

único resultado normal de teste da concentração sérica de T4 total, especialmente em

um gato com manifestações clínicas apropriadas, embora frequentemente leves, e uma

massa cervical palpável (NELSON, 2010).

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Quando os resultados dos testes de T4 livre por diálise e T4 total são

inconclusivos, utiliza-se o teste de supressão com T3. Este teste consiste na

administração oral de T3 para suprimir a secreção de TSH pela hipófise; em gatos

eutireoideos, resulta em diminuição do T4 circulante. Em gatos hipertireoideos, a

secreção de TSH já está suprimida e a administração oral de T3 não causará mais

supressão e não haverá diminuição do T4 sérico (NELSON, 2010). O teste de supressão

com T3 é valioso no diagnóstico do HT discreto nos gatos, mas as desvantagens são que

o teste é relativamente longo (três dias), os responsáveis são solicitados a administrar

doses múltiplas da liotironina e os gatos precisam engolir os comprimidos. Se a

liotironina não for administrada adequadamente, as concentrações de T3 circulante não

se elevam para reduzir a secreção do TSH hipofisário e o valor de T4 sérico não fica

suprimido, mesmo se o eixo hipófise-tireoide estiver normal. A não ingestão da

liotironina pelo gato, pode resultar no diagnóstico falso positivo do HT no gato normal

ou naquele com doença não tireoidea (PETERSON, 2008).

O teste de estimulação com TRH mede a resposta do T4 sérico à administração

do TRH. Nos gatos clinicamente normais, a administração do TRH provoca aumento da

secreção do TSH e das concentrações séricas de T4; enquanto nos gatos com

hipertireoidismo a resposta do T4 sérico e do TSH ao TRH é inconclusiva ou totalmente

ausente (PETERSON, 2008).

O teste de supressão com T3 e o teste de estimulação com TRH avaliam o eixo

tireoide-hipófise de diferentes maneiras. Ambos os testes fornecem informações

semelhantes e podem ser utilizados de forma intercambiável para diagnosticar o HT

discreto nos gatos. As vantagens do teste de estimulação com TRH sobre o teste de

supressão com T3, incluem o tempo mais curto para realização do teste (quatro horas

contra três dias) e o fato de que não depende da capacidade do tutor para administrar a

medicação oral, porém efeitos colaterais transitórios (salivação, vômito, taquipnéia e

defecação) podem ocorrer (PETERSON, 2008).

Um procedimento chamado cintilografia da tireoide tem sido considerado o

“padrão ouro” para o diagnóstico de HT felino. Permite a visualização direta da glândula

tireoide utilizando sua fisiologia para criar uma imagem e é tão sensível que pode

demonstrar a presença de tumores muito antes de se tornarem clinicamente

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significativos ou de demonstrarem anormalidades laboratoriais (BROOME, 2006). As

imagens podem ser obtidas utilizando iodo radioativo (I131, I123) ou pertecnetato (Tc99m)

(PANCIERA, 2008). A principal utilidade da formação da imagem tireoidea, contudo,

é na determinação da extensão do envolvimento tireoideo e na detecção de possível

metástase. A formação da imagem tireoidea também é valiosa no gato hipertireoideo no

qual nenhum aumento da tireoide pode ser palpado; em muitos desses gatos, a imagem

demonstra que o lobo acometido desceu para a cavidade torácica. Finalmente, a

varredura é valiosa para detectar metástase regional ou distante do carcinoma tireoideo

funcional, causando HT felino (PETERSON, 2008).

Devido ao alto custo dos equipamentos de medicina nuclear e do licenciamento

especial necessário para realizar a cintilografia da tireoide, a maioria das instalações que

utiliza tratamento com iodo radioativo opta por não utilizar este procedimento

diagnóstico (PETERSON, 2011).

A palpação da glândula tireoide deve fazer parte do exame físico de todo gato.

Para palpação da glândula, a cabeça do gato deve ser delicadamente estendida para cima,

os dedos polegar e indicador devem ser colocados de cada lado da traqueia (no sulco da

jugular) e deslizar delicadamente até a entrada do tórax (FELDMAN & NELSON,

2004). Como os lobos tireoideos do gato ficam frouxamente aderidos à traqueia, o lobo

aumentado desce frequentemente de sua localização normal junto a laringe para o

interior da cavidade torácica; devido a isto, nos animais hipertireoideos nos quais o

aumento não é palpável, essa possibilidade deve ser considerada (PETERSON, 2008).

As tireoides normalmente não são palpáveis. Encontrar aumento de um ou de

ambos os lobos no exame físico não pode ser equiparado ao HT porque o aumento da

glândula pode ser detectado em gatos sem evidência clínica e laboratorial da condição.

Embora alguns gatos possam permanecer eutireoideos por longo período de tempo,

muitos com aumento de um ou dos dois lobos tireoideos eventualmente desenvolvem

sinais clínicos e bioquímicos do HT à medida que os nódulos tireoidianos continuam a

crescer e secretar hormônio em excesso (PETERSON, 2008).

No hemograma, leucocitose, eosinopenia e linfopenia são achados comuns e

podem refletir a resposta do estresse crônico ao excesso de hormônio tireoidiano. A

contagem de hemácias, o volume globular (VG) e as concentrações de hemoglobina,

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geralmente estão na variação normal ou ligeiramente elevadas nesses gatos. O VG

elevado é encontrado em cerca de metade dos gatos com HT. A eritrocitose do HT

parece resultar tanto do efeito direto dos hormônios tireoidianos, como da produção

aumentada de eritropoietina (PETERSON, 2008).

As anormalidades bioquímicas mais marcantes são elevações nas atividades das

enzimas hepáticas alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), lactato

desidrogenase (LDH) e aspartato aminotransferase (AST). Pelo menos uma dessas

enzimas é elevada em mais de 90% dos gatos hipertireoideos, mas este achado não é

considerado representativo de doença hepática significante, pois esses valores se

normalizam geralmente após o tratamento para o HT. Esse aumento ocorre

provavelmente em decorrência da má nutrição, da insuficiência cardíaca congestiva, da

hipóxia hepática e do efeito tóxico direto dos hormônios tireoidianos no fígado

(MOONEY, 2001).

A densidade urinária específica está baixa em gatos com HT e ela se mantém, ou

até mesmo reduz, após o tratamento desta endocrinopatia (VAN HOEK & DAMINET,

2009). Pode ocorrer discreta proteinúria devido ao aumento da TFG, especialmente se

também houver HAS ou hipertensão glomerular. Após o tratamento do HT, a proteinúria

tende a diminuir (LANGSTON & REINE, 2006).

A hipocalemia, presente em 32% dos gatos hipertireoideos, ocorre devido à

elevação dos hormônios tireoidianos e à liberação de catecolaminas, estimulando o

movimento do potássio do espaço extracelular para o intracelular (NAAN et al., 2006).

Na radiografia de tórax, cerca de 50% dos gatos apresentam evidência de

aumento cardíaco discreto a grave (PETERSON, 2008). No exame ecocardiográfico as

alterações mais encontradas são: hipertrofia ventricular esquerda, espessamento do

septo intraventricular e dilatação atrial esquerda (FELDMAN & NELSON, 2004). São

semelhantes a alterações encontradas em felinos com cardiomiopatia hipertrófica

primária (MACDONALD, 2009). Entretanto, segundo Syme (2007), a maioria das

mensurações ecocardiográficas pode apresentar-se dentro dos padrões de normalidade

no momento do diagnóstico, sendo incomum a ocorrência de ICC em gatos

hipertireoideos na ausência de alterações cardíacas pré-existentes. Uma elevação da

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fração de encurtamento é comumente verificada no HT endógeno, observando-se um

decréscimo após o retorno ao estado eutireoideo.

Na lista de diagnósticos diferenciais para gatos com manifestações clínicas de

HT estão incluídos diabetes mellitus, doença renal, linfoma gastrointestinal e doença

intestinal inflamatória crônica (PETERSON, 2008).

3.1.6 Tratamento e prognóstico

Existem três opções de tratamento para o HT: fármacos antitireoidianos, uso do

iodo radioativo e procedimento cirúrgico (TREPANIER, 2006).

O fármaco antitireoidiano mais comumente utilizado é o metimazol na dose de

2,5mg por via oral (VO) a cada 12 horas durante sete a dez dias, seguido pela avaliação

do T4 total, hemograma completo e bioquímica sérica. Se os níveis de T4 total

permanecem elevados e não há efeitos colaterais significativos, a dose será aumentada

para 5mg VO de manhã e 2,5mg VO ao anoitecer durante sete a dez dias, quando os

mesmos exames devem ser repetidos. Casos os níveis permaneçam elevados, a dose

deverá ser aumentada para 5mg VO a cada 12 horas. Esse esquema gradual com a

realização dos exames deve ser realizado até que T4 total chegue ao nível normal. Nesse

caso, T4 total, hemograma e bioquímica sérica serão avaliados a cada quatro a seis

meses (NORSWORTHY et al., 2004).

A melhora clínica geralmente é observada dentro de duas a quatro semanas, desde

que um bom controle da concentração sérica de T4 seja alcançado. A maioria dos gatos

responde com 5,0 a 7,5 mg de metimazol por dia, tendo maior eficácia quando

administrado duas vezes ao dia. As tentativas de diminuição da dosagem, frequência de

administração ou ambas, podem ocorrer quando as manifestações clínicas estiverem

resolvidas e o estado eutireoideo for alcançado, especialmente em gatos com tratamento

crônico com metimazol (RECHE et al., 2007).

Os efeitos colaterais desencadeados pelo metimazol ocorrem em 18% dos casos

e incluem discrasias sanguíneas, escoriação facial e hepatoxicidade. Nesses casos,

realiza-se a descontinuação do tratamento medicamentoso e preconiza-se outra forma

de tratamento. Outros efeitos colaterais menos severos são letargia, vômito e anorexia,

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que ocorrem em 15% dos gatos, e geralmente desaparecem com o uso contínuo da droga

(TREPANIER, 2006).

Outros tratamentos clínicos: carbimazol, ipodato, agentes bloqueadores beta-

adrenoceptores (propranolol, atenolol) e iodo estável (PETERSON, 2008).

Antes de um tratamento definitivo em gatos hipertireoideos acometidos por

doença renal, deve-se tentar o tratamento medicamentoso, pois poderá ocorrer a

desestabilização do animal devido à diminuição da TFG, podendo desencadear uma

descompensação da DRC (LANGSTON & REINE, 2006; NAAN et al., 2006). A

manutenção de eutireoidismo por um mês, sem azotemia, pode ser suficiente para

decidir por uma terapia definitiva (LANGSTON & REINE, 2006). Os efeitos sobre a

função renal de gatos medicados com metimazol são frequentemente reversíveis, por

isso há indicação para sua prescrição no início do tratamento (RIENSCHE et al., 2008).

Atualmente, o iodo radioativo é o tratamento definitivo de escolha para o HT

felino (VAN HOEK et al., 2010). Simples eficaz e seguro para gatos com HT. Evita o

inconveniente da administração diária oral de fármacos antitireoidianos e também os

efeitos colaterais associados a esses fármacos; evita os riscos e as complicações pós

operatórias associados à anestesia e à tireoidectomia (PETERSON, 2008). Consiste na

administração de um radioisótopo (I131) por via subcutânea ou intravenosa que é

concentrado pela glândula tireoide, primariamente nas células tireoidianas hiperplásicas

ou neoplásicas, onde irradia e destrói o tecido anormal. Contudo, o tecido tireoidiano

normal tende a ficar protegido dos efeitos do iodo radioativo porque tende a ficar

atrofiado e recebe apenas uma pequena dose da radiação (MOONEY, 2010;

PETERSON, 2008). A maior parte dos gatos hipertireoideos tratados com iodo

radioativo ficam curados com uma única dose (MOONEY, 2010).

A principal desvantagem é a necessidade de longo tempo de hospitalização, em

geral, de uma a duas semanas, sendo necessário seguir rigorosamente as normas de

segurança quanto à exposição à radiação, exigência para licenciamento especial e a

escassez de instalações que possam oferecer este tratamento. Porém, o prognóstico dos

animais tratados com I131 é excelente (PANCIERA, 2008).

A cura ocorre em 80% dos casos, 10% não respondem ao tratamento e 10%

desenvolvem hipotireoidismo (GUNN-MOORE, 2005). O hipotireoidismo é o efeito

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mais grave que pode se desenvolver em poucos meses após o tratamento com iodo

radioativo (NELSON, 2010). As manifestações clínicas associadas ao hipotireoidismo

iatrogênico nesses gatos podem incluir letargia, seborreia seca não pruriginosa,

aglutinação dos pelos e ganho de peso acentuado. Após o tratamento com o radioiodo é

comum verificar uma redução transitória nas concentrações séricas de T4 total para

níveis subnormais, mas os sinais clínicos associados ao hipotireoidismo não se

desenvolvem e quase nunca é necessário tratamento (PETERSON, 2008).

A tireoidectomia é uma opção efetiva de tratamento para gatos com HT, pois

oferece cura permanente sem tratamento medicamentoso contínuo, além de não

necessitar de equipamento especializado (BIRCHARD, 2006). Esta pode ser realizada

com uma baixa incidência de complicações quando realizada por um cirurgião

experiente. Realiza-se a estabilização pré-operatória a fim de corrigir, principalmente, a

hipocalemia e as alterações cardíacas com intuito de diminuir complicações anestésicas

(NAAN et al., 2006). Embora com mais frequência a tireoidectomia seja bem sucedida,

ela pode ser associada com morbidade e mortalidade significativas, especialmente nos

gatos com HT grave (PETERSON, 2008).

Autores sugerem que complicações pós-cirúrgicas podem surgir, sendo as mais

importantes associadas à mortalidade relacionada com a cirurgia, hipoparatireoidismo

pós-operatório, síndrome de Horner, recorrência que pode ser devido à ressecção

incompleta da glândula hiperplásica, hipotireoidismo e, além disso, um agravamento de

alguma doença renal que o animal possa apresentar concomitante, isto porque o

hipertireoidismo pode aumentar artificialmente a TFG, o que pode mascarar uma

insuficiência renal (NAAN et al., 2006; WILLIANS et al., 2010).

As técnicas são: tireoidectomia intracapsular, onde ocorre a remoção de todo

tecido tireoideo mas a cápsula permanece juntamente com a glândula paratireoide. Esta

técnica oferece segurança quanto a paratireoide mas pode deixar algum resíduo da

tireoide, e o problema pode retornar (CUNHA et al., 2008). Já quando se realiza o

procedimento extraindo toda cápsula contendo o tecido tireoideo extingue-se a recidiva

da doença, mas há riscos de desenvolvimento do hipoparatireoidismo. Sendo assim, uma

alternativa é a realização da tireoidectomia extracapsular, com reimplante da

paratireoide (CUNHA et al., 2008).

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O controle da HAS em felinos é realizado principalmente com a instituição de

medicamentos inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) ou com a

utilização de bloqueadores de canais de cálcio (STEPIEN, 2011).

Amlodipina é um bloqueador de canais de cálcio muito efetivo para controlar a

hipertensão em gatos. É a droga de escolha para felinos e, frequentemente, pode ser

utilizada como monoterapia. É administrada na dose de 0,625mg/gato a cada 24 horas,

devido a sua longa meia vida (MORAIS, 2008).

O IECA mais utilizado em felinos é o benazepril na dose de 0,25 a 0,5mg/kg a

cada 24 horas. Como monoterapia para o tratamento de HAS em felinos não demonstra

resultados satisfatórios em todos os pacientes; associado a amlodipina demonstrou

redução modesta de 10mmHg nos valores de PAS em doentes renais crônicos. Atua

dilatando principalmente a arteríola renal eferente diminuindo a pressão intraglomerular

sendo, portanto, sua principal vantagem a redução da proteinúria nesses animais

(BROWN et al., 2007; STEPIEN, 2011).

O prognóstico depende da condição física do animal na época do diagnóstico, da

coexistência de doenças concomitantes, da característica histológica da massa, da

terapia adequada de acordo com a condição física do animal e da localização das massas

hiperfuncionantes. Felinos hipertireoideos sem tratamento geralmente têm um

prognóstico desfavorável, devido às complicações, tais como nefropatias,

cardiomiopatias, hepatopatias e HAS (GUNN-MOORE, 2005). Gatos tratados mostram

mudança comportamental e um significativo ganho de peso, apresentando normalmente

prognóstico favorável (BIRCHARD, 2006; GUNN-MOORE, 2005).

Estudos indicam que o tempo médio de sobrevida é de dois anos, mas existe

grande variação individual (FELDMAN & NELSON, 2004). Segundo estudo realizado

por Milner et al. (2006), o tempo médio de sobrevida para gatos tratados apenas com

metimazol é de dois anos, significativamente menor do que o tempo médio de sobrevida

para gatos tratados apenas com iodo radioativo que foi de quatro anos. Quando

associados metimazol e iodo radioativo, o tempo médio de sobrevida foi de 5,3 anos. O

tratamento com doses elevadas de iodo radioativo prolonga a sobrevida, em média de

três anos, de animais com carcinoma da tireoide (HIBBERT et al., 2009).

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4 RELATO DE CASO CLÍNICO

O Hospital do gato recebeu para atendimento clínico um gato fêmea, sem raça

definida, de nove anos de idade, esterilizada, com queixa de perda de peso, polifagia,

agitação, episódios eméticos diários há dois meses e fezes normais intercaladas com

diarreia.

Ao exame físico constatou-se dificuldade em examinar, peso 2,780kg, escore

corporal magro, temperatura e tempo de preenchimento capilar normais, mucosas

normocoradas, desidratação de 6%, pelagem opaca, sem alterações na auscultação

respiratória; auscultação cardíaca com sopro sistólico de grau moderado e taquicardia,

PAS de 201mmHg e tireoide palpável bilateralmente.

Foi realizada colheita de sangue de veia femoral para realização das análises:

hemograma, perfil bioquímico e dosagem sérica da concentração de T4 total.

Apresentaram-se normais para os valores de referência: hemograma, albumina, amilase,

bilirrubina total, cálcio, fósforo, creatinina, glicose, sódio, proteínas totais e globulinas.

Os demais resultados anormais estão demonstrados na tabela 2.

Tabela 2 – Alterações apresentadas nos resultados do primeiro exame laboratorial da

paciente

A paciente foi hospitalizada para fluidoterapia intravenosa com solução

cristalóide de ringer lactato, suplementada com cloreto de potássio (KCl), para correção

do desequilíbrio hidroeletrolítico e administrado citrato de maropitant subcutâneo, na

dose de 1mg/kg a cada 24 horas devido aos episódios eméticos. Iniciou-se terapia

Resultado Referência

ALT 113 20-100 U/L

FA 137 10-90 U/I

K 3,6 3,7-5,8 mmol/L

Ureia 40 10-30 mg/dL

T4 >10 1,5-4,8 µ/dL

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antitireoidiana com metimazol na dose de 2,5mg VO a cada 12 horas. A PAS obtida no

internamento foi de 201mmHg.

Também foram solicitadas ecografia abdominal e ecocardiografia. A ecografia

abdominal não revelou alterações, porém a ecocardiografia demonstrou as seguintes

alterações: átrio esquerdo moderadamente aumentado, hipertrofia do septo

interventricular e da parede livre do ventrículo esquerdo e regurgitação da valva

tricúspide (Figura 16). Demais alterações referem-se à obstrução dinâmica do trato de

saída dos ventrículos direito e esquerdo.

Figura 16 – Imagens ecocardiográficas da paciente demonstrando alterações

em estruturas cardíacas

AE

AO

K L1

FIG. 16 K - átrio esquerdo (AE) moderadamente aumentado quando comparado com o diâmetro da

aorta (AO). FIG. 16 L1 - hipertrofia moderada da parede do ventrículo esquerdo (VE) de forma

generalizada, simétrica e concêntrica. FIG. 16 L2 – hipertrofia do septo interventricular (seta

vermelha) e parede livre do VE (seta azul), ambos com espessura superior a 6mm em diástole.

Legenda: átrio direito (AD), ventrículo direito (VD). FONTE: MONZO, 2015

AE

VE

VD

AD

M

FIG. 16 M - regurgitação da valva tricúspide.

FONTE: MONZO, 2015

L2

VE

M

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Após três dias de internamento, a paciente obteve alta médica. Prescreveu-se para

casa continuação do metimazol na dose de 2,5mg VO a cada 12 horas por dez dias e

retorno clínico no fim desse período para reavaliação e repetição de exames.

No 13º dia após consulta inicial, a paciente retornou ao hospital para reavaliação

e repetição da dosagem sérica da concentração de T4 total. Os exames bioquímicos uréia

e creatinina foram repetidos a fim de monitorar a função renal e também foi colhida

urina, por cistocentese guiada por ecografia, para dosagem da relação proteína/

creatinina urinária (RPC) e análise urinária. Os resultados estão expostos na tabela 3.

Tabela 3 – Resultados do segundo exame laboratorial da paciente

Resultado Referência

Análise urinária Normal

Creatinina 1,4 0,8-1,8 mg/dL

RPC 1,02 *0,2-0,4 mg/dL

T4 1,7 1,5-4,8 µ/dL

Ureia 26 17,6-2,8 mg/dL

Ao exame físico a paciente apresentou-se muito mais calma, porém a responsável

relatou persistência da polifagia, pesou 2,840kg (aumento de 60g desde a última

consulta), sem alterações nos demais parâmetros avaliados, com excessão da PAS de

188mmHg.

Iniciou-se tratamento anti-hipertensivo com amlodipina VO na dose

0,625mg/gato a cada 24 horas e recomendou-se continuidade do tratamento com

metimazol na mesma dose e frequência. Foi solicitado retorno em dez dias para

reavaliação e repetição da RPC.

No 23º dia, a paciente pesou 2,915kg (aumento de 75g desde a última consulta),

apresentou melhora significativa do quadro clínico de HT e PAS em 164mmHg.

Recomendou-se manter amlodipina na mesma dose e frequência e continuidade do

metimazol também na mesma dose e frequência. Colheu-se urina por cistocentese para

realização de exame microscópico de sedimento, cujo resultado não demonstrou

*<0,2 não proteinúrico; 0,2 - 0,4 – proteinúria no valor

limite; >0,4 proteinúria significativa (IRIS, 2013)

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alterações. A RPC foi repetida, o resultado de 0,8mg/dL revelou proteinúria conforme

IRIS (2013).

Retornará em 30 dias para reavaliação do estado geral, reavaliação da pressão

arterial e repetição dos exames de sangue. Exame ecocardiográfico será repetido em

quatro meses.

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5 DISCUSSÃO

No presente relato, o animal acometido por HT possui nove anos de idade. De

acordo com a literatura, essa endocrinopatia acomete, mais frequentemente, animais

acima de oito anos de idade (BIRCHARD, 2006; LURYE, 2006; NELSON, 2010). O

acometimento dos hipertireoideos com menos de dez anos de idade compõem menos de

5% dos animais afetados (MOONEY, 2010).

As principais queixas relatadas pelo responsável condizem com a literatura para

o quadro de HT, sendo a perda de peso relatada em 95 a 98% dos casos, polifagia em

65 a 75%, emese em 33 a 50% e diarreia em 30 a 45% (PETERSON, 2008).

A agitação mencionada pelo tutor foi constatada ao exame físico como

hiperatividade e dificuldade para examinar, relatada em 70 a 80% dos casos, podendo

ser secundária ao efeito direto dos hormônios tireoidianos aumentados sobre o sistema

nervoso (PETERSON, 2004). As manifestações comportamentais tendem a regredir

com o tratamento da doença (NELSON, 2010), o que de fato ocorreu após dez dias de

tratamento com metimazol, quando o tutor relatou que a paciente estava muito mais

calma.

A desidratação constatada deveu-se, possivelmente, aos episódios eméticos

diários ou foi superestimada ao exame físico, pela progressiva perda de elasticidade e

turgidez da pele provocada pela perda de peso severa (FELDMAN & NELSON, 2004).

Taquicardia e sopro constatados no exame físico estão descritos na literatura em

55 a 65% e 20 a 55%, respectivamente, para os animais hipertireoideos (PETERSON,

2008). Essas manifestações ocorrem devido a alterações cardiovasculares comumente

acarretadas pelo HT. O sopro está atribuído a regurgitação de tricúspide encontrada no

ecocardiograma, apesar de que, pensa-se que sejam provocados por obstrução dinâmica

do cone de saída do ventrículo esquerdo ou direito, alteração também encontrada no

ecocardiograma da paciente (SYME, 2007).

A HAS acompanha o hipertireoidismo (PETERSON, 2008). Devido a esta

relação descrita em literatura, a pressão arterial sistólica da paciente foi medida, obtendo

múltiplas mensurações em momentos diferentes conforme recomendado por Stepien

(2011). Apresentou aumento significativo da PAS segundo o consenso “Diretrizes para

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Identificação, Avaliação e Manejo da Hipertensão Arterial Sistêmica em Cães e Gatos”

de Brown et al. (2007). Foi classificada na categoria de risco elevado (PAS ≥ 180mmHg)

de desenvolvimento de lesão hipertensiva aos órgãos-alvo: olhos, cérebro, rins e

coração; havendo, portanto, necessidade de tratamento.

O diagnóstico de HT foi obtido conforme recomendado em literatura

(FELDMAN & NELSON, 2004; PAEPE et al., 2008; RECHE et al., 2007). Baseou-se

no histórico, presença de lobos tireoidianos cervicais palpáveis e confirmado através do

aumento na concentração sérica de T4 total.

Neste relato a tireoide foi palpável ao exame físico e encontrou-se bilateralmente

aumentada corroborando com estudos que indicam que a tireoide pode ser palpável em

até 95% dos gatos hipertireoideos (CRYSTAL & NORSWORTHY, 2006; PETERSON,

2006). E o aumento bilateral foi encontrado com maior frequência em estudos realizados

com gatos hipertireoideos por Souza et al. (2007).

O hemograma da paciente não se apresentou alterado. Segundo Nelson (2010), o

hemograma pode estar normal em gatos hipertireoideos. Conforme Peterson (2008), a

contagem de hemácias, o VG e as concentrações de hemoglobina podem estar normais

ou ligeiramente elevadas nesses gatos.

Tal qual esperado, em mais de 90% dos gatos com HT, a análise bioquímica da

paciente revelou aumento das enzimas hepáticas FA e ALT, segundo a literatura, ao

menos uma das enzimas hepáticas encontra-se elevada. Este aumento ainda não está

bem esclarecido, mas pressupõe-se que ocorra em decorrência da má nutrição, da

insuficiência cardíaca congestiva, da hipóxia hepática e do efeito tóxico direto dos

hormônios tireoidianos no fígado (MOONEY, 2001; PERTERSON, 2008).

A creatinina sérica apresentou-se normal para os valores de referência. Este

achado é comum em animais com HT e este fato deve-se, possivelmente, ao aumento

da taxa de filtração glomerular causado pelo estado de tireotoxicose. Apenas cerca de

10% dos animais hipertireoideos são azotêmicos, o que justifica a correlação negativa

observada entre creatinina e T4 total (FELDMAN & NELSON, 2004; SHIEL &

MOONEY, 2007). Em contrapartida, a ureia sérica apresentou-se aumentada. Segundo

Feldman & Nelson (2004), a maior parte da população estudada apresentou aumento do

valor de ureia, o que pode ser esperado devido ao aumento do catabolismo proteico.

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53

A hipocalemia apresentada está presente em 32% dos gatos hipertireoideos

(NAAN et al., 2006). Apesar de normalmente moderada, quando severa, pode originar

fraqueza muscular e ventroflexão cervical (GUNN-MOORE, 2005) que não foram

observadas neste caso, muito provavelmente pela discreta hipocalemia apresentada.

Um estudo realizado mostrou que cerca de 34% dos gatos hipertireoideos não

azotêmicos e sem evidências de infecção urinária, têm uma RPC elevada (SYME, 2007).

Para determinação da magnitude da proteinúria foi realizada análise RPC em dois

momentos, que também teve por objetivo identificar fatores renais de perda proteica que

se confirmaria pelo aumento persistente da RPC (POLZIN, 2008). Através dos exames

de análise microscópica de sedimento, análise urinária e urocultura descartou-se

inflamação do trato urinário ou hemorragia, fatores que influenciam marcadamente este

exame (IRIS, 2007).

Neste caso, houve redução significativa no resultado da RPC obtido na segunda

análise em comparação à primeira, porém a proteinúria se manteve. Se não houver DRC

mascarada pelo estado hiperdinâmico da endocrinopatia (GUNN-MOORE, 2004),

possivelmente, a proteinúria deve-se ao fato de que, na segunda análise, a paciente ainda

encontrava-se em HAS (PAS 164mmHg) e esta condição pode levar a hipertensão

glomerular e hiperfiltração causando proteinúria (SYME, 2007).

Os exames de ecografia abdominal e ecocardiografia foram solicitados para

verificar possível presença de anormalidades concomitantes em outros sistemas,

considerando o efeito multissistêmico do HT (PETERSON, 2008). O exame

ecocardiográfico é de extrema importância, pois 29 em cada 30 gatos hipertireoideos

apresentam alterações neste exame (FELDMAN & NELSON, 2004).

As alterações reveladas na ecocardiografia são compatíveis com os achados

comuns em animais com HT descritos em literatura: hipertrofia da parede livre do

ventrículo esquerdo (em aproximadamente 70% dos gatos), dilatação do átrio esquerdo

(aproximadamente 70% dos casos) e hipertrofia do septo interventricular (40% dos

casos) (FELDMAN & NELSON, 2004; GUNN-MOORE, 2005). A hipertrofia do

ventrículo esquerdo, observada neste relato, ocorreu tanto na parede livre do ventrículo

esquerdo quanto no septo interventricular. Espessura de parede acima de 6mm é

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54

considerada evidência de hipertrofia concêntrica, causada pela hipercinética cardíaca

(BOON, 2011; HAGGSTROM, 2003; OLIVEIRA et al., 2010).

Segundo Bond et al. (1988) e Boon (1998) dilatação do átrio esquerdo pode

indicar maior gravidade, com risco de tromboembolismo e arritmias supraventriculares.

Em experimento de tireotoxicose induzida de forma aguda por Oliveira et al. (2010),

não foram evidenciados estes riscos. Os autores relacionaram, portanto, o quadro a

maior cronicidade da doença. Apesar de, neste caso, haver dilatação do átrio, também

não foram evidenciados tromboembolismos e arritmias supraventriculares,

possivelmente por se tratar de quadro agudo e pelo tromboembolismo arterial não ser

uma alteração comum no HT e sua ocorrência ser menos frequente que a cardiomiopatia

primária (ATKINS, 2010).

Obstrução dinâmica do trato de saída dos ventrículos direito e esquerdo foi uma

alteração constatada na ecocardiografia e deve-se, possivelmente, à hipertrofia

encontrada (NELSON, 2010).

O tratamento preconizado para o HT foi o metimazol VO na dose de 2,5mg/gato

a cada 12 horas. Optou-se por este fármaco por ser o antitireoidiano de escolha para

tratamento clínico dos gatos com HT, eficaz e seguro a curto e longo prazo, o mais bem

tolerado e associado com menos reações adversas (PETERSON, 2008). Estudos

demonstraram que a dose de 5 a 15mg/gato divididas em duas administrações diárias

apresenta maior eficácia na indução do eutireoidismo (PETERSON, 2008;

TREPANIER, 2003).

Como a paciente respondeu bem ao tratamento inicial na dose mínima, reduzindo

as concentrações séricas de T4 dentro do limite de referência antes de duas a três

semanas, que é o período recomendado em literatura, esta não precisou ser incrementada

(PETERSON, 2008).

Não foram observados efeitos colaterais, pórem neste caso, essa afirmação ainda

pode ser muito precoce. Para afirmar que não aparecerão esses efeitos, deve-se esperar

os primeiros três meses de tratamento que é o período de maior ocorrência de efeitos

colaterias mencionados em literatura, por isso é importante monitorar o animal

rigorosamente durante este período, a cada duas ou três semanas (PETERSON, 2008).

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Como geralmente não há queda significativa da PAS após o tratamento do

hipertireoidismo (REUSCH et al., 2010), o tratamento recomendado para o quadro de

hipertensão da paciente foi amlodipina VO na dose 0,625mg/gato, a cada 24 horas. A

escolha foi feita com base na eficácia demonstrada na monoterapia e também por ser a

primeira opção para controle de HAS em felinos (MONAGHAN et al., 2012; STEPIEN,

2011). Segundo Morais (2008), esta dose, nesta frequência de administração, a cada 24

horas é suficiente, uma vez que o fármaco possui longa meia vida.

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56

6 CONCLUSÃO

O hipertireoidismo em gatos é uma endocrinopatia cada vez mais diagnosticada

na Clínica Médica de Pequenos Animais, portanto, o médico veterinário deve adequar-

se a esta nova realidade enfatizando pesquisas para melhor manejo e sucesso terapêutico

desta doença, considerando o bom prognóstico quando diagnosticada e tratada

adequadamente. Um hospital veterinário exclusivo para felinos e com alta casuística, tal

qual o do referido estágio, comprova que as pessoas estão cada vez mais preocupadas

em oferecer aos seus animais atendimentos diferenciados.

O período de estágio curricular é de grande importância na vida do acadêmico,

pois é nesta fase que ele se depara com a realidade da Medicina Veterinária prática em

conjunto com a sociedade, preparando-o para o mercado de trabalho. O estágio realizado

em dois locais distintos complementaram-se em suas diferenças trazendo um benefício

ainda maior no que diz respeito ao aprendizado revisto e adquirido.

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62

APÊNDICES

APÊNDICE A - TABELA DE CASUÍSTICA ACOMPANHADA NO HOSPITAL

VETCENTRAL EM PORTUGAL, DE 03 AGOSTO A 7 DE SETEMBRO/ 2015.

APÊNDICE B - TABELA DE CASUÍSTICA ACOMPANHADA NO HOSPITAL DO

GATO EM PORTUGAL, DE 14 SETEMBRO A 16 DE OUTUBRO/ 2015.

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63

APÊNDICE A - TABELA DE CASUÍSTICA ACOMPANHADA NO HOSPITAL

VETCENTRAL EM PORTUGAL DE 03 AGOSTO À 7 DE SETEMBRO/ 2015

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64

APÊNDICE B – TABELA DE CASUÍSTICA ACOMPANHADA NO HOSPITAL

DO GATO EM PORTUGAL DE 14 SETEMBRO À 16 DE OUTUBRO/ 2015