Hip hop

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Araçatuba Talita Rustichelli [email protected] A o contrário do que mui- tos pensam, o hip-hop não é uma dança e tam- bém não é só um estilo de mú- sica. É um movimento, uma cultura que funde principalmen- te a música, a dança e a arte visual: rap, discotecagem, break e grafite. O movimento surgiu na década de 70, em subúrbios da cidade de Nova Iorque, que enfrentavam a pobreza, a vio- lência, o racismo, o tráfico de drogas, entre outros problemas, e foi uma forma de canalizá-los positivamente. Os integrantes das gangues desses bairros passaram a fre- quentar festas organizadas pelo DJ Afrika Bambaataa, considera- do o padrinho do movimento, que reuniam as expressões artís- ticas de rua, incentivando com- petições de dança (break). No Brasil, o hip-hop surgiu inicial- mente em São Paulo nos anos 80, a partir de encontros na rua 24 de Maio e no metrô São Bento, frequentados por muitos dos artistas de destaque na mídia hoje, como Thaíde, DJ Hum, Racionais MC's, Rappin Hood, entre outros. Em Araçatuba, adeptos ao movimento vêm se organizando para realizar a divulgação e valo- rização de suas produções. Um exemplo é a Associação Cultural U'Manos, cujo projeto foi inicia- do há cerca de um ano e está em fase de documentação. De acordo com o DJ Sancler, presi- dente da associação, o objetivo é unir ainda mais as pessoas envol- vidas com a cultura hip-hop, e dar visibilidade ao trabalho de- senvolvido na região. "Há muita gente que reali- za trabalhos relacionados ao mo- vimento na região de Araçatuba. Queremos fortalecer estes gru- pos e oferecer-lhes formas de mostrar suas produções, além de ajudá-los a se profissionalizarem e ainda fazer com que a popula- ção compreenda realmente o movimento", afirma o DJ. EVENTO Segundo ele, uma forma de possibilitar isso é a realiza- ção de eventos. O próximo de- les, organizado pela associação U'Manos, acontece no domin- go, dia 26, na Praça do Pinhei- ros, no Jardim Pinheiros em Araçatuba: o "Som das Ruas", que terá a partir das 17h apre- sentações de grupos de Araçatu- ba, Birigui, Guararapes e outras cidades. O evento é realizado em parceria com a Associação de Moradores do Jardim Pinhei- ros, com a Cultura FM e a Se- cretaria Municipal de Cultura. "Já realizamos este tipo de evento no local há cerca de um ano. A ideia é fazer um circuito, passando por vários bairros de Araçatuba a partir do segundo se- mestre, em parceria com a Secre- taria Municipal de Cultura, levan- do o movimento a diversas pes- soas", explica. Até o momento, estão ins- critos mais de 30 artistas, entre cantores de rap, grupos de break, grafiteiros e DJs. Interes- sados em se apresentar ou em se associar podem procurar San- cler pelos telefones (18) 9129-9225 e 9743-3343. "As apresentações são curtas, o que possibilita a participação de vá- rios grupos e torna o evento di- nâmico", garante. SEGMENTOS O evento será palco para os três tipos de manifestações que fa- zem parte do hip-hop: o rap, um es- tilo musical com característica de texto poético, "cantado" no ritmo de uma base sonora, e a maioria das letras tem um contexto de críti- ca social; o break, dança quase acro- bática, que era utilizada em seu sur- gimento como forma de competi- ção na disputa entre gangues nova- iorquinas por territórios; e o grafite, arte derivada da pichação, com de- senhos e figuras elaboradas, feita ge- ralmente em muros. FILOSOFIA Para Sancler, uma das princi- pais características do hip-hop é a diversidade. "Não há uma filoso- fia única, mas sim alguns temas e interesses em comum. A maioria é jovem, mora na periferia e abor- da temas ligados ao seu cotidia- no, como a discriminação racial e desigualdade social. Mas as pes- soas são diferentes, têm pensa- mentos diferentes", conclui. Som Som das ruas "Som das Ruas” Dia: 26 de junho, domingo Horário: 17h Local: Praça do Pinheiros, no Jardim Pinheiros, Araçatuba Gratuito das ruas Do DJ Sancler, sobre o movimento hip-hop Serviço Por ter surgido a partir da pichação, o grafite é visto mui- tas vezes como ato de vandalis- mo; cria-se acerca dele uma at- mosfera de preconceito e de aversão, atribuindo-lhe interpre- tações pejorativas e sem o cará- ter de arte. Muitos grafites aca- bam sendo cobertos por cama- das de tintas, a fim de serem "escondidos". Para o grafiteiro e designer Daniel Barbosa Guizelini, 25, que participará do evento no do- mingo, o que mais o incomoda são os argumentos negativos uti- lizados pelas pessoas para ava- liar o trabalho. "O fato de haver a possibilidade de o grafite 'sumir' não me deixa tão frustra- do. Uma das características dele é a 'apropriação de um território', ou seja, pintar sem uma concessão. Então, já sabe- mos que nosso trabalho pode desaparecer a qualquer momen- to. Mas me incomodo quando as pessoas atribuem a ele, por exemplo, uma interpretação de apologia a drogas e violência quando não há", afirma. ATITUDE Guizelini explica que se houver a autorização prévia pa- ra a realização da pintura e dos desenhos, já não se caracteriza como grafite, mas sim como mural. "O grafite, como arte de rua dentro do hip-hop, valoriza a atitude de confronto, a contra- venção; de certa forma, nos apropriamos de um espaço que não é nosso", diz.TR Movimento reúne a música (rap), dança (break) e artes visuais (grafite); acima, o grafiteiro Daniel Guizelini em frente à sua obra Paulo Gonçalves/Folha da Região - 22/06/2011 HIP-HOP A maioria é jovem, mora na periferia e aborda temas ligados ao seu cotidiano, como a desigualdade social “Grafite é alvo de preconceito” C1 Araçatuba, quinta-feira, 23 de junho de 2011

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Araçatuba

Talita Rustichelli

[email protected]

Ao contrário do que mui-tos pensam, o hip-hopnão é uma dança e tam-

bém não é só um estilo de mú-sica. É um movimento, umacultura que funde principalmen-te a música, a dança e a artevisual: rap, discotecagem, breake grafite. O movimento surgiuna década de 70, em subúrbiosda cidade de Nova Iorque, queenfrentavam a pobreza, a vio-lência, o racismo, o tráfico dedrogas, entre outros problemas,e foi uma forma de canalizá-lospositivamente.

Os integrantes das ganguesdesses bairros passaram a fre-quentar festas organizadas peloDJ Afrika Bambaataa, considera-do o padrinho do movimento,que reuniam as expressões artís-ticas de rua, incentivando com-petições de dança (break). NoBrasil, o hip-hop surgiu inicial-mente em São Paulo nos anos80, a partir de encontros na rua24 de Maio e no metrô SãoBento, frequentados por muitosdos artistas de destaque namídia hoje, como Thaíde, DJHum, Racionais MC's, RappinHood, entre outros.

Em Araçatuba, adeptos aomovimento vêm se organizandopara realizar a divulgação e valo-rização de suas produções. Umexemplo é a Associação CulturalU'Manos, cujo projeto foi inicia-do há cerca de um ano e está

em fase de documentação. Deacordo com o DJ Sancler, presi-dente da associação, o objetivo éunir ainda mais as pessoas envol-vidas com a cultura hip-hop, edar visibilidade ao trabalho de-senvolvido na região.

"Há muita gente que reali-za trabalhos relacionados ao mo-vimento na região de Araçatuba.

Queremos fortalecer estes gru-pos e oferecer-lhes formas demostrar suas produções, além deajudá-los a se profissionalizareme ainda fazer com que a popula-ção compreenda realmente omovimento", afirma o DJ.

EVENTOSegundo ele, uma forma

de possibilitar isso é a realiza-ção de eventos. O próximo de-les, organizado pela associaçãoU'Manos, acontece no domin-

go, dia 26, na Praça do Pinhei-ros, no Jardim Pinheiros emAraçatuba: o "Som das Ruas",que terá a partir das 17h apre-sentações de grupos de Araçatu-ba, Birigui, Guararapes e outrascidades. O evento é realizadoem parceria com a Associaçãode Moradores do Jardim Pinhei-ros, com a Cultura FM e a Se-cretaria Municipal de Cultura.

"Já realizamos este tipo deevento no local há cerca de umano. A ideia é fazer um circuito,passando por vários bairros deAraçatuba a partir do segundo se-mestre, em parceria com a Secre-taria Municipal de Cultura, levan-do o movimento a diversas pes-soas", explica.

Até o momento, estão ins-critos mais de 30 artistas, entrecantores de rap, grupos debreak, grafiteiros e DJs. Interes-sados em se apresentar ou emse associar podem procurar San-c ler pelos te le fones (18)9129-9225 e 9743-3343. "Asapresentações são curtas, o quepossibilita a participação de vá-rios grupos e torna o evento di-nâmico", garante.

SEGMENTOSO evento será palco para os

três tipos de manifestações que fa-zem parte do hip-hop: o rap, um es-tilo musical com característica detexto poético, "cantado" no ritmode uma base sonora, e a maioriadas letras tem um contexto de críti-ca social; o break, dança quase acro-bática, que era utilizada em seu sur-gimento como forma de competi-

ção na disputa entre gangues nova-iorquinas por territórios; e o grafite,arte derivada da pichação, com de-senhos e figuras elaboradas, feita ge-ralmente em muros.

FILOSOFIAPara Sancler, uma das princi-

pais características do hip-hop é a

diversidade. "Não há uma filoso-fia única, mas sim alguns temas einteresses em comum. A maioriaé jovem, mora na periferia e abor-da temas ligados ao seu cotidia-no, como a discriminação racial edesigualdade social. Mas as pes-soas são diferentes, têm pensa-mentos diferentes", conclui.

SomSom

das ruas"Som das Ruas”Dia: 26 de junho, domingoHorário: 17hLocal: Praça do Pinheiros, noJardim Pinheiros, AraçatubaGratuito

das ruas

Do DJ Sancler,

sobre o movimento

hip-hop

Serviço

Por ter surgido a partir dapichação, o grafite é visto mui-tas vezes como ato de vandalis-mo; cria-se acerca dele uma at-mosfera de preconceito e deaversão, atribuindo-lhe interpre-tações pejorativas e sem o cará-

ter de arte. Muitos grafites aca-bam sendo cobertos por cama-das de tintas, a fim de serem"escondidos".

Para o grafiteiro e designerDaniel Barbosa Guizelini, 25,que participará do evento no do-

mingo, o que mais o incomodasão os argumentos negativos uti-lizados pelas pessoas para ava-liar o trabalho. "O fato de havera possibilidade de o grafite'sumir' não me deixa tão frustra-do. Uma das características deleé a ' ap rop r i a ç ão de umterritório', ou seja, pintar semuma concessão. Então, já sabe-mos que nosso trabalho podedesaparecer a qualquer momen-to. Mas me incomodo quandoas pessoas atribuem a ele, porexemplo, uma interpretação deapologia a drogas e violênciaquando não há", afirma.

ATITUDEGuizelini explica que se

houver a autorização prévia pa-ra a realização da pintura e dosdesenhos, já não se caracterizacomo grafite, mas sim comomural. "O grafite, como arte derua dentro do hip-hop, valorizaa atitude de confronto, a contra-venção; de certa forma, nosapropriamos de um espaço quenão é nosso", diz.TR

Movimento reúne amúsica (rap), dança

(break) e artes visuais(grafite); acima, o

grafiteiro Daniel Guizeliniem frente à sua obra

Paulo Gonçalves/Folha da Região - 22/06/2011

HIP-HOP

A maioria é jovem,

mora na

periferiae aborda

temas ligados ao

seu cotidiano, como

a desigualdade

social

“Grafite é alvo de preconceito”

C1 Araçatuba, quinta-feira, 23 de junho de 2011