Henry Bresson - Biografia

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  • 7/21/2019 Henry Bresson - Biografia

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    Biografia de Henry Cartier Bresson|Artigo de Ndia Raupp Meucci|

    Henri Cartier-Bresson uma artista inato. Pensa como artista, vive como artista.Genuno em tudo o que faz e em tudo o que diz. Descomplicado para falar, para

    fotografar, para pintar, para viver... Fala o bvio ululante e por isto mesmo genial.

    Ama a liberdade acima de tudo e antes de tudo. No se deixa prender, no se deixaencurralar. D o fora sempre. A liberdade sua religio. Jamais fica num brete. Ama ordio, pois diz que atravs deste veculo se usa mais a imaginao. No gosta da luzofuscante. No gosta que tirem fotografias deles... diz que no quer que faam com ele,aquilo que fez toda a vida com os outros. Cobre o rosto sempre que pode. Cartier-Bresson artista de vanguarda, lrico, pintor, desenhista, literato, foto-jornalista... um

    poeta. Faz poesia atravs da cmera fotogrfica. Tem graa e leveza. Sempre passadesapercebido. Sempre invisvel. Por isto genial. Suas imagens no conhecemlimites. Ele no conhece limites. Diz que todos deveriam desenhar, no importa o

    resultado, o importante desenhar. No importam as respostas, s importam asperguntas. Diz que devemos questionar tudo e sempre.

    Questionar sempre...saber sempre do que se trata. preciso saber do que se trata.

    O que detonou sua vida de fotgrafo foi a fotografia de Martin Munkasci publicada naRevista Photographies em 1931, onde os 3 meninos negros nus no Congo, que saemcorrendo em direo s ondas do mar, numa coreografia de dana, com a liberdadegenuna do ser humano...totalmente livres sem obstculos, poderosamente sensuais,exuberantes, joviais, vivos... leves e verdadeiros, brincando entre si, como se fossem osnicos possuidores da verdade humana. Eles personificam a liberdade, a carne sem

    pecado. Seus movimentos foram ento congelados praticamente no ar, por Munkasci,onde aparece a silhueta dos 3 de costas... O momento exato que expressava aquelasituao foi congelado nesta fotografia, que impressionou Bresson por toda a vida. 'Oequilbrio plstico desta foto suspende seu mpeto pela vida... um retorno s origens...amais nobre humanidade.' Dizem aqueles que o conhecem, que a nica foto em sua

    parede...

    Esta foto foi o gatilho de sua efervescente carreira de fotgrafo.

    A partir da, ele continuou fazendo a esttica do corpo humano em suas fotos,

    introduzindo um novo conceito de liberdade no foto-jornalismo, sem perder a graa e aleveza de um artista verdadeiro. Nada pesado em suas fotos, apesar do drama. Todasso lricas e emocionantes. Todas so minuciosamente e incansavelmente compostascom a simplicidade de um gnio.

    Ele esmagou como ningum, sem fazer barulho. Ele apareceu como ningum sem, aomenos, se exibir. Mas, com um artista inato, toda a sua referncia pictrica, no resta amenor dvida....concluindo pela sua composio. A geometria das formas uma tnicaem suas imagens.

    A partir da foto de Munkasci, Bresson saiu para o mundo a fotografar, congelando o

    momento decisivo, que ele define como o momento certo para apertar o disparador etentar capt-lo. "Para mim, a fotografia um reconhecimento simultneo, numa frao

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    de segundo, do significado do acontecimento, bem como da precisa organizao dasformas que d ao acontecimento sua exata expresso'', diz.

    No usava trip, somente uma Leica na mo, justamente para passar desapercebido eno perder o momento certo, o momento decisivo...assim, no perdia a fluidez do tema.

    Estava sempre ali, no momento certo e no lugar certo, com seu olho de ciclope, a fim decaptar dos outros alguma expresso, algum silncio. Tinha a pacincia de Job. Erarpido e vivo. Para ele as interrogaes esto por todo o lugar. No tira concluses,

    porque diz que no concluses. Apesar de juvenil sempre, difcil, dizem todos que oconhecem bem. Diz coisas srias, de uma forma alegre. discreto e reservado com suavida particular. No moderao para julgar e no julga a si prprio. Parece estar sempredesfilando. altivo e elegante.

    Ele suporta a fama mas diz que ela terrvel e mordaz, pois ficamos acorrentados a ela.S fica vontade quando passa desapercebido. Sempre comenta que Degas disse umavez: ' timo ser famoso... com a condio de ser desconhecido', o que ele concorda

    completamente. Ele acha importante que as outras pessoas gostem do que fazemos... oestmulo para nunca ficarmos parados. No leva a srio a si prprio e contraditrio.Diz que se fosse uma pessoa que no se incomodasse, no seria fotgrafo. Ele vestiu acamisa da fotografia.

    A fotografia por si s no o interessava, somente a reportagem fotogrfica, onde h acomunicao entre o homem e o mundo.

    uma dana, onde passamos desapercebidos com a cmera na mo, registrando todosos momentos decisivos. Adorava estar presente no mundo, na rua... tentando captar estemomentos, testemunhando com a alegria da composio das formas. Evitou sempre aanedota, apesar de muitas fotos terem humor. Diz que a grande fotografia um presentedo acaso e devemos tirar proveito do acaso. Mas apesar de amar a reportagemfotogrfica, acha que a fotografia tem algo de mrbido. Diz ser raro uma foto passaruma emoo por mais de um instante.

    No tinha imaginao para fazer cinema, somente fotografia, por isto filmoudocumentrios. O retrato era o que achava mais difcil, mas adorava faz-lo. Ficavahoras na frente da pessoa, at conseguir captar seu silncio e no sua expresso. Noretrato no h normas. A relao direta.

    Bresson completamente apaixonado pelo que faz... pela vida, pela natureza, pelaspessoas... principalmente pela liberdade... pela liberdade de ser, de estar, de viver, depensar...de pensar...de andar, de fotografar, de desenhar, de sorrir, de ir e vir.Provavelmente foi, durante toda a vida at hoje s vsperas de completar 91 anos, uma

    pessoa que jamais desistiu de si prprio, jamais desistiu daquilo que acreditava... de serfeliz...sempre foi assumido de tudo o que sentia.... s ver sua trajetria como fotgrafoe como pessoa. Enfrentava as situaes de frente e assumia o que acontecia. Decidiacom paixo... vide todas as suas fotos. Provavelmente no ficou esperando a vida passar

    para morrer. Viveu intensamente sua paixo e vive at hoje. No se entrega nunca. admirvel.

    Cartier-Bresson diz que temos idias pr-concebidas, pois quando chegamos diante deuma pessoa, temos uma primeira impresso e esta a que persiste para sempre, mesmo

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    que depois venhamos conhecer a pessoa por inteiro... mas a primeira impresso aprimeira impresso... Acreditava na sua intuio.

    'O visor da mquina fotogrfica nos permite ver as pessoas completamente nuas... nofisicamente...' Somente os assuntos marginais o interessavam...tudo que estava a

    margem. Acha que isto que deve sobressair.

    Diz no se possvel aprender a tirar fotografias. preciso ter talento para perceber ereagir para disparar o boto na hora do clmax. Assim se evita que um pedao darealidade caia no esquecimento. Esta uma partida.

    Para ele, a fotografia e o desenho esto muitos prximos. Enquanto o desenho meditao, a foto um tiro. No desenho podemos ficar bastante tempo ou refaz-lo se

    preciso for, porm na foto corremos contra o tempo, sem a certeza de que ficar bom. Afoto ao e o desenho, meditao. Na fotografia falta o grafismo do desenho. Eleiniciou no desenho e na pintura, depois fotografou depois voltou ao desenho, sua paixo

    inicial. Atravs do desenho ele tenta entender melhor o mundo e a si mesmo. Passou afalar atravs do desenho. Rodin disse: 'o que se faz com tempo... o tempo respeita.' E eleconcorda com isto tambm. No tem medo da morte, somente da dor.

    Espera que aquilo que viu no mundo o tenha mudado para melhor. No resiste mudana.

    Apesar de ter se baseado toda a vida na foto de Munkasci, no se alimenta do passado,no tem nostalgia, o que considera uma coisa completamente negativa. Diz que quem ri

    por ltimo, ri melhor.

    'FOTOGRAFAR COLOCAR NA MESMA LINHA DE MIRA, A CABEA, OOLHO E O CORAO.' Henri Cartier-Bresson

    Nasceu em 22 de agosto de 1908, em Paris. descendente de uma famlia proeminenteda indstria txtil. A famlia o queria nos negcios familiares. Mas Bresson nasceuartista.

    Frequentou a cole Fnlon e o Lyce Condorcet em Paris. Estou pintura com Cotenet(1922-23) e com Andr Lhte (1927-28). Concluiu pintura e filosofia na Universidadede Cambridge. Comeou como fotgrafo em 1931. Foi influenciado pelo surrealismo.

    Com 21 anos j tinha absorvido a atitude de revolta do surrealismo. Aprendeucomposio e proporo com Lhte e completou seu servio militar.

    Em 1939, viajou para a frica, onde permaneceu por um ano. Ganhou a vida dediversas formas... como vaporeiro, vendendo bugigangas e carne salgada que ele mesmocaava e preparava. L tambm adquiriu malria e sua primeira cmera fotogrfica desegunda mo feita por Krauss. Mas todos os filmes que fotografou l, foramdeteriorados pela umidade.

    Mas apesar de tudo, esta viagem mudou sua vida. Sempre este aberto s mudanas emsua vida, talvez por isto tenha influenciado tanta gente no mundo inteiro. Talvez por

    este esprito to dinmico e sem medo, tenha tantos admiradores.

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    Apesar do fracasso das primeiras fotografias, a frica no somente mudou sua vida,como o tirou da pintura e o colocou na fotografia. Quando voltou Paris,imediatamente comprou uma Leica, que o acompanhou por toda a vida. Nesta poca, foiento publica na edio anual da Revista Photographies, a famosa foto de Munkasci,que deu novo rumo a sua carreira. Da para a frente, ele saiu para o mundo para

    fotografar.

    Entre 1932 e 1934, Cartier-Bresson fez algumas de suas melhores fotografias. Apesarde ter comeado olhando para os despossudos e oprimidos, principais temas do foto-

    jornalismo, muito cedo estas mesmas fotos impressionaram a Frana, Espanha, Itlia,Mxico, como arte, muito mais do que como reportagem.

    Em 1935, partiu para o Mxico e para New York, onde permaneceu por um anotambm. Neste perodo deixou de fotografar. Fez filmes com Paul Strand, retornandoem 1936 para Paris, onde trabalhou at 1939 com o cineasta francs Jean Renoir, filhodo pintor, tambm fazendo filmes.

    A Segunda Grande Guerra tinha comeado. Bresson foi prisioneiro de guerra dosalemes por 3 anos. Tentou fugir 3 vezes e s conseguiu na ltima vez. De volta a Paristrabalhou na Resistncia Francesa. Voltou a filmar novamente depois da guerra,dirigindo LE RETOUR, um documentrio sobre os campos nazistas e a volta da guerra.Mas sua falta de controle no processo de colaborao de produo de filmes, finalmentefez Bresson optar pela fotografia. Em 1946 viu a chance de recomear sua carreirafotogrfica. Ficou sabendo que o MOMA estava planejando uma exibio pstuma desuas fotos, atravs do curador Beaumont Newhall e sua mulher, Nancy, pois achavamque ele havia morrido na guerra. Informados de que Bresson estava vivo, a exposiofoi transformada em uma retrospectiva de suas fotos em meio de carreira. Ele viajou

    para New York em agosto de 1946, com suas histrias dos campos de concentrao,tentativas de fuga e trabalho clandestino executado para a Resistncia Francesa.Comearam a ser produzidos artigos hericos sobre ele. Quando a exposio abriu, seuamigo Robert Capa estava l.

    Em 1947 , Cartier-Bresson, Robert Capa, David 'Chim' Seymour e George Rodger,fundaram a AGNCIA MAGNUM.

    Entre 1948 e 1950, gastou a maior parte do seu tempo na ndia, Burma, Paquisto,China e Indonsia. Fotografou o fim do domnio britnico na ndia e o assassinato de

    Mohandas Gandhi. Na China fotografou os primeiros meses de Mao Tse Tung. Esteperodo estabeleceu sua reputao como foto-jornalista de incomparvel sensibilidade ehabilidade. Suas fotos capturaram os novos acontecimentos da poca e a vida culturaldos pases que fotografou. Depois de 3 anos voltou para casa e produziu o livroIMAGES LA SAUVETTE. As imagens, segundo Peter Galassi, so imagens tiradasrapidamente sem premeditao. Relutando, Cartier-Bresson fez um prefcio com suasidias sobre fotografia, com o ttulo de L'INSTANT DECISIF. Na edio americana dolivro, de Dick Simon da Simon&Schuster, o prefcio com o ttulo agora famoso, passoua ser o ttulo do prprio livro, THE DECISIVE MOMENT. Isto mudou para sempre orumo das pequenas mquinas fotogrficas de 35mm.

    Continuou fotografando pelo mundo, Europa, antiga Unio Sovitica, Japo, China,Mxico, ndia. Mas na metade da dcada de 60, ele voltou insatisfeito com o seu

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    trabalho. Foi para a Agncia Magnum com a inteno de destruir tudo. O editor defotografia e escritor Romeo Martinez convenceu Bresson a permitir que o editor RobertDelphire o printer da Magnum, Pierre Gassman, editassem um trabalho com suasmelhores fotos. Esta foi aparentemente a segunda vez que ele tentou destruir suas fotos.A primeira foi na poca da guerra, quando ele teria destrudo as fotos e pedido ao pai

    para guardar os negativos em uma lata e depositar em um cofre no Banco.

    Em 1966, Bresson retirou-se da Magnum, mas permitiu que a Agncia continuasse adistribuir suas fotos. Em 1970, com 62 anos, casou com a fotgrafa Martine Frank.

    A partir da, parou de fotografar profissionalmente, dedicando-se somente pintura e aodesenho. Na poca da retrospectiva de 1979 no International Center of Photography em

    New York, Cartier-Bresson recusou entrevistas, embora ocasionalmente cedesseconversaes com alguns, mas poucos diretores. At hoje ele mantm este

    procedimento. Ele passou a ser a conscincia da Fotografia, sem precisar falar.

    Cartier-Bresson tem um certo prazer no conflito. Ele modela na filosofia visual, algo decontraditrio.

    Nem fabricantes nem foto-jornalistas conseguem expressar o significado da obra deBresson. Sua obra incomparvel o resultado de uma experincia potica e sempreapaixonada por tudo. O fundamental para ele, o absoluto prazer que o trabalho lhe d.James Thrall Soby disse que 'a cmera de Cartier-Bresson no franca, encantada'.

    Sua influncia na fotografia mundial, alm de no ter precedentes, imensurvel. Suasfotos so realmente mgicas. Ele formou o pensamento dos fotgrafos durante dcadas.A idia de que a foto o que se v num exato momento em que nosso instinto deveestar preparado para captar, foi incutido por ele. E para isto temos que estar na rua,fotografando e experimentando. Foi, talvez, o fotgrafo mais hbil a criar imagens belasretratando a essncia da hora e do local.

    NDIA RAUPP MEUCCIFotgrafa e Documentalista Porto Alegre - RS - Brasile-mail: [email protected] www.fotonadia.art.br

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

    CLAIR, Jean. EUROPEANS: HENRI CARTIER-BRESSON. London, Thames e Hudson, 1998.

    MONTIER, Jean-Pierre.

    HENRI CARTIER-BRESSON AND THE ARTLESS ART. Boston, Bulfinch Press Book, 1996.

    HENRI CARTIER-BRESSON IN NDIA. Londo, Thames e Hudson, 1987. DELPIRE, Robert.

    A AMRICA FURTIVAMENTE: Fotografias de Henri Cartier-Bresson. Porto, Afrontamento, 1991.

    HENRI CARTIER BRESSON : Pont d'Interrogation. Um film de Sarah Moon avec colaboracion deRobert Delpire. Paris, Production Take Five, c1994. PHOTO: Henri Cartier-Bresson: festeggia i suoi 90anni. Milano, n. 20, ottobre 1998.