Guia de Leitura ABC Do Mundo Judaico

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do mundo judaico Moacyr Scliar Ilustrações Renato Alarcão Temas Cultura judaica (narrativas bíblicas, festas e costumes, diáspora, história de Israel); Diversidade cultural; Tolerância GUIA DE LEITURA PARA O PROFESSOR 48 páginas A HISTÓRIA DO LIVRO RELEVÂNCIA DO TEMA E ORGANIZAÇÃO DOS VERBETES Este ABC do mundo judaico propõe uma aproximação ao universo da cultura judaica e do povo judeu retratados em seus diversos aspectos, dos tempos bíblicos até os dias de hoje. Os temas abordados dizem respeito, portanto, a uma tradição cultural e religiosa antiga, que está na base do cris- tianismo e do islamismo; a um grupo minoritário muito ativo (cujos valores compõem o quadro ético que serve de esteio à civilização ocidental) e a um país, Israel, que vive em conflito com seus vizinhos numa das regiões mais con- flagradas do mundo, o Oriente Médio. A fim de abarcar esse universo de questões de modo equilibrado e representativo, os verbetes foram organiza- dos em torno dos seguintes eixos: 1. Festas do calendário judaico (Pêssach, Rosh Hashaná, Yom Kipur); 2. Cerimônias em geral (shabat, circuncisão, bar mitzvá, casamento, luto); 3. Objetos rituais (chupá, quipá, xale de oração); 4. Refe- rências bíblicas (Abraão, David, Moisés) e históricas (gueto, nazismo, usura); 5. Língua (iídiche, hebraico, ladino), livros TRADIÇÕES POPULARES O AUTOR Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre, RS, em 23 de março de 1937. Médico com especialização em Saúde Pública, é um dos mais conhecidos escritores brasileiros da atualidade, autor de mais de 60 livros para adultos, jovens e crianças. O carnaval dos animais (1968), A balada do falso Messias (1976), O centauro no jardim (1980), Max e os felinos (1981) e A mulher que escreveu a Bíblia (1999) são alguns títulos seus. Como cronista, escreve para veículos de grande circulação, como os jornais Zero Hora e Folha de S.Paulo. Vencedor de um número considerável de prêmios literários, Scliar é também membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2003.

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Este ABC do mundo judaico propõe uma aproximação aouniverso da cultura judaica e do povo judeu retratados emseus diversos aspectos, dos tempos bíblicos até os dias dehoje. Os temas abordados dizem respeito, portanto, a umatradição cultural e religiosa antiga, que está na base do cristianismoe do islamismo; a um grupo minoritário muitoativo (cujos valores compõem o quadro ético que serve deesteio à civilização ocidental) e a um país, Israel, que viveem conflito com seus vizinhos numa das regiões mais conflagradasdo mundo, o Oriente Médio.

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  • do mundo judaicoMoacyr Scliar

    Ilustraes Renato AlarcoTemas Cultura judaica (narrativas bblicas, festas e costumes, dispora, histria de Israel); Diversidade cultural; Tolerncia

    Guia de leitura

    para o professor

    48 pginas

    A histriA do livro

    Relevncia do tema e oRganizao dos veRbetesEste ABC do mundo judaico prope uma aproximao ao

    universo da cultura judaica e do povo judeu retratados em

    seus diversos aspectos, dos tempos bblicos at os dias de

    hoje. Os temas abordados dizem respeito, portanto, a uma

    tradio cultural e religiosa antiga, que est na base do cris-

    tianismo e do islamismo; a um grupo minoritrio muito

    ativo (cujos valores compem o quadro tico que serve de

    esteio civilizao ocidental) e a um pas, Israel, que vive

    em conflito com seus vizinhos numa das regies mais con-

    flagradas do mundo, o Oriente Mdio.

    A fim de abarcar esse universo de questes de modo

    equilibrado e representativo, os verbetes foram organiza-

    dos em torno dos seguintes eixos: 1. Festas do calendrio

    judaico (Pssach, Rosh Hashan, Yom Kipur); 2. Cerimnias

    em geral (shabat, circunciso, bar mitzv, casamento, luto);

    3. Objetos rituais (chup, quip, xale de orao); 4. Refe-

    rncias bblicas (Abrao, David, Moiss) e histricas (gueto,

    nazismo, usura); 5. Lngua (idiche, hebraico, ladino), livros

    TRADIES POPULARES

    o Autor Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre, RS, em 23 de maro de 1937. Mdico com especializao em Sade Pblica, um dos mais conhecidos escritores brasileiros da atualidade, autor de mais de 60 livros para adultos, jovens e crianas. O carnaval dos animais (1968), A balada do falso Messias (1976), O centauro no jardim (1980), Max e os felinos (1981) e A mulher que escreveu a Bblia (1999) so alguns ttulos seus. Como cronista, escreve para veculos de grande circulao, como os jornais Zero Hora e Folha de S.Paulo. Vencedor de um nmero considervel de prmios literrios, Scliar tambm membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2003.

  • ABC do mundo judaico Moacyr Scliar

    (Tor, Talmude, Zohar) e literatura (Primo Levi, Elie Wiesel);

    6. Referncias a Israel (Jerusalm, Israel, kibutz).

    Desse modo, o livro pretende propiciar no apenas uma in-

    troduo ao judasmo, mas tambm propor uma reflexo sobre

    assuntos como a tolerncia cultural e religiosa, a condio de

    imigrante, as relaes entre povos, culturas e pases e questes de

    identidade coletiva e individual.

    a Histria dos Judeus

    Fatos geogrFicos e histricosO mundo judaico tem duas referncias geogrficas distintas

    ao longo da histria. A primeira delas liga-se terra de Israel (que

    corresponde regio bblica de Cana), onde os judeus constitu-

    ram um reino na Antiguidade. Foi para Cana que Moiss levou

    o povo aps a libertao dos escravos judeus do Egito, o xodo.

    No reinado de David, ele tornou Jerusalm capital, onde depois

    foi construdo o Grande Templo, do qual hoje resta apenas uma

    parede externa, conhecida como Muro das Lamentaes. Por-

    tanto, a terra de Israel est no centro da cultura e da religio ju-

    daicas desde as suas origens.

    No sculo I, o reino judeu foi conquistado pelo Imprio Roma-

    no e comeou o perodo da dispora, durante o qual a populao

    judaica se dispersou pelos continentes. Ao longo dos sculos, no

    entanto, os judeus mantiveram um vnculo espiritual com a terra

    de Israel e pequenos ncleos populacionais ali permaneceram.

    No sculo XIX, em meio a movimentos nacionais que enfati-

    zavam a ligao de povos com uma terra e um passado comuns,

    grupos judeus fundaram o movimento sionista, que defendia poli-

    ticamente o estabelecimento de um Estado moderno na terra

    de Israel. Nessa poca, a regio fazia parte

    do Imprio Turco, tornando-se protetora-

    do britnico aps o trmino da Primeira

    Guerra Mundial.

    A imigrao judaica para a Terra Santa come-

    ou em fins do sculo XIX, com a fundao de ncleos como

    os kibutzim, j que muitos dos primeiros imigrantes eram sio-

    nistas e socialistas, ou seja, defendiam um modelo de sociedade

    no qual, conforme se l no verbete Israel (p. 21), tudo era

    dividido igualmente entre todos.

    A outra referncia geogrfica na histria dos judeus a di-

    spora. Nos vrios pases onde eles passaram a viver a partir do

  • ABC do mundo judaico Moacyr Scliar

    sculo I, organizaram-se em torno de uma srie de instituies,

    como sinagogas, escolas, entidades assistenciais, cemitrios e ou-

    tras. Com isso, importantes comunidades foram se estabelecen-

    do em vrios pases.

    Os judeus viveram nessas comunidades perodos de intensa

    vitalidade cultural. Em Toledo, na Espanha medieval, floresceu

    uma comunidade integrada com os muulmanos e cristos. Nos

    pases em que a maioria era muulmana, os judeus tinham es-

    tatuto prprio e eram respeitados por isso, em vrios pases

    rabes floresceram comunidades judaicas.

    Com os conflitos polticos no sculo XX, especialmente aps

    as grandes guerras e a fundao do Estado de Israel, em 1948, a

    maioria dos judeus emigrou dos pases rabes aps sofrer restri-

    es. Mas, apesar de o conflito no Oriente Mdio ter misturado

    poltica e religio nos ltimos 50 anos, no existe qualquer fun-

    damento religioso ou histrico para se falar em algum antago-

    nismo ancestral.

    Os judeus tambm viveram pocas em que foram vtimas de

    preconceito e de perseguio na Idade Mdia crist, como du-

    rante as Cruzadas e a Inquisio. Foram acusados de deicdio e

    outras injrias, proibidos de cultivar terras, numa poca em que

    era essa a principal atividade econmica o que levou muitos

    deles a se dedicar ao comrcio e usura.

    Foi apenas com o Conclio Ecumnico Vaticano II, ocorri-

    do entre 1962 e 1965 e convocado pelo Papa Joo XXIII (1881-

    1963), que a Igreja catlica reconheceu oficialmente a origem ju-

    daica do cristianismo, admitindo o judasmo como religio irm

    e retirando da teologia e da liturgia catlicas todas as referncias

    anti-semitas.

    holocausto e segunda guerra Mundial Com a subida de Adolf Hitler ao poder, em 1933, na Alema-

    nha, o nazismo passou a atacar judeus, democratas, ciganos, ho-

    mossexuais e povos, culturas e idias que no se afinassem com a

    ideologia ariana (com seus mitos de supremacia racial) e o tota-

    litarismo. Os nazistas ento impuseram aos judeus uma srie de

    leis restritivas, como a proibio de freqentar escolas e trabalhar

    em universidades. De 1939 em diante, quando a Alemanha ata-

    cou a Polnia e teve incio a Segunda Guerra Mundial, os judeus

    foram confinados em guetos, depois deportados para campos de

    concentrao e de extermnio na Polnia. Seis milhes de judeus

    foram mortos, alm de milhes de ciganos, testemunhas de Jeo-

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    v, homossexuais, integrantes dos povos da Europa Oriental e os

    que os nazistas consideravam doentes mentais e incurveis.

    O anti-semitismo nazista no foi a continuao do anti-se-

    mitismo medieval, em que os judeus eram excludos e mesmo

    atacados com justificativas teolgicas. Os nazistas implementa-

    ram, com a fora de um Estado, um plano de destruio de todo

    o povo judeu, um genocdio em escala industrial juridicamente

    definido pela Organizao das Naes Unidas (ONU) como cri-

    me contra a Humanidade.

    Fundao de israelAo fim da guerra, em 1945, quando vieram a pblico os hor-

    rores cometidos pelo nazifascismo, com a criao da ONU, tor-

    nou-se consenso a idia de que era preciso criar um Estado judeu.

    Aps lutar contra o colonialismo britnico, os judeus formaram

    um pas independente, o Estado de Israel, em maio de 1948. O

    ponto de partida foi a Declarao de Partilha da Palestina pela

    ONU, em novembro de 1947, que dividiu a terra entre judeus e

    rabes-palestinos.

    A guerra que se seguiu entre os pases rabes e Israel levou

    ao exlio parte da populao rabe-palestina que vivia no terri-

    trio e que no chegou a formar um pas independente. A atual

    Cisjordnia passou para domnio jordaniano e a atual Faixa de

    Gaza, para o controle egpcio (at 1967, quando Israel as ocu-

    pou). Essa situao originou a questo palestina e a necessidade

    de criar um pas tambm para os palestinos. Os rabes-palesti-

    nos que permaneceram no territrio de Israel se tornaram cida-

    dos israelenses.

    O Estado de Israel tem cerca de 20 mil km2 (rea equivalente

    do Estado de Sergipe). Depois de pelo menos cinco guerras

    (1948, 1956, 1967, 1973 e 1982), Israel tem tratados de paz com o

    Egito e a Jordnia. A Faixa de Gaza, atualmente sob jurisdio da

    Autoridade Nacional Palestina, e o territrio da Cisjordnia, de

    maioria palestina, devero formar, ao longo de um processo de

    paz, um Estado palestino com fronteiras delimitadas em comum

    acordo, concesses de ambos os lados e reconhecimento mtuo.

    Israel tem 6,6 milhes de habitantes, dos quais pouco mais de

    5 milhes judeus, 1 milho de israelenses rabes muulmanos,

    113 mil de israelenses rabes cristos, 170 mil bedunos e cerca

    de 106 mil drusos. Suas principais cidades so Jerusalm, Tel-

    Aviv e Haifa e 40% do seu territrio um deserto, o Neguev, cuja

    capital Beer Sheva.

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    Judeus no MundoA populao judaica composta hoje de cerca de 13,5 mi-

    lhes de pessoas no mundo, 0,002% da populao mundial. O

    maior ncleo o Estado de Israel e depois os Estados Unidos,

    com cerca de 5,5 milhes de judeus. Fora de Israel e dos Estados

    Unidos, atualmente, algumas das principais comunidades judai-

    cas esto na Rssia, Frana, Inglaterra, alm de Mxico, Argen-

    tina e Brasil.

    A maior parte dos integrantes das comunidades judaicas de

    classe mdia e recebe o amparo de uma slida rede de institui-

    es assistenciais, que garante escola, sade e lazer a praticamen-

    te todos os membros. A comunidade d valor central escola,

    educao e cultura, garantindo que todas as crianas estudem e

    que a maioria dos jovens possa cursar a universidade.

    tradio e universalisMo A Tor (Pentateuco), o Tanach (a Tor mais os livros dos Pro-

    fetas e os Escritos), o Talmude (compilao de tratados de leis

    e interpretaes) e diversas outras fontes literrias compem a

    base religiosa da tradio judaica. A partir dessa tradio, dando-

    lhe continuidade ou buscando rupturas, surgiram tambm im-

    portantes movimentos e autores modernos em defesa de idias

    universalistas, humanistas e socialistas (como Karl Marx, Sig-

    mund Freud e Albert Einstein).

    Especificamente no campo literrio, os poetas, contistas, ro-

    mancistas e dramaturgos judeus produziram obras em uma di-

    versidade de idiomas. Primo Levi escrevia em italiano, Bernard

    Malamud e Philip Roth escrevem em ingls; Amos Oz, David

    Grossman e Iehuda Amichai, em hebraico; Scholem Aleichem,

    em idiche; Moacyr Scliar escreve em portugus e assim por

    diante. Desse modo, os judeus alcanam uma expresso artstica

    peculiar, que lhes define a identidade combinando traos locais

    e cosmopolitismo.

    as lnguas JudaicasOs judeus no possuem unidade lingstica, mas muitos deles

    conhecem o hebraico, a lngua em que foram escritos a Tor e os

    demais livros religiosos, idioma oficial do Estado de Israel (jun-

    tamente com o rabe).

    O idiche j foi a lngua mais falada entre os judeus da Eu-

    ropa Oriental, onde, at a Segunda Guerra Mundial, vivia o

    maior ncleo populacional judaico. Tal lngua, que foi a base

  • ABC do mundo judaico Moacyr Scliar

    de manifestaes culturais diversas (da literatura msica,

    passando pelo teatro e pelo cinema), entrou em processo de

    extino com a morte dos que lhe davam alento, silenciados

    pelo Holocausto.

    Outro exemplo de lngua judaica o ladino, ou judeu-es-

    panhol. Ele passou a ser falado por judeus sefaraditas, ou seja,

    aqueles que, expulsos da Pennsula Ibrica no sculo XV, espa-

    lharam-se por pases como Turquia e Romnia, entre outros.

    unidade e diversidadeUma das caractersticas marcantes dos judeus a manuteno de

    uma identidade comum, que os singulariza (sejam eles brasileiros,

    israelenses, etopes ou chineses), e, ao mesmo tempo, a diversida-

    de interna uma marca do judasmo moderno, quando a religio

    deixou de ser o nico trao identificatrio e, no limite, quando ser

    judeu passou a depender de uma escolha do indivduo.

    No existe no judasmo uma autoridade religiosa que decida

    tudo, como o papa para os catlicos. Alm disso, as prticas

    religiosas variam conforme a linha adotada pelo judeu crente:

    ortodoxa, liberal ou reformista. Grosso modo, os judeus orto-

    doxos defendem a odedincia lei bblica compreendida ao p

    da letra, isto , sem grandes margens para adaptaes vida

    moderna. J os liberais e reformistas entendem que se deve pre-

    servar a essncia da doutrina (por exemplo, os valores ticos),

    admitindo a necessidade de mudanas para se inserir plena-

    mente no mundo contemporneo (revoluo nos costumes,

    conquistas cientficas, tecnolgicas etc.) e aceitando novidades

    como igualdade religiosa entre os gneros, a exemplo da orde-

    nao de mulheres (rabinas).

    integrados e rebeldes No entanto, h judeus que se sentem integrados cultura ju-

    daica sem ser religiosos em sentido estrito, ou seja, h diferentes

    graus de participao nesse legado que inclui rituais dirios e

    semanais, coletivos e individuais. Assim, h judeus que

    vo sinagoga duas vezes por dia, h judeus que vo

    uma vez por semana (por exemplo, no shabat), h

    judeus que vo apenas nas chamadas Grandes Fes-

    tas (Pscoa, Ano-Novo e Yom Kipur).

    A maior parte das celebraes feita em famlia, o

    que refora os laos comunitrios. Prevalece a idia de que

    cada indivduo responsvel pela comunidade e esta

  • ABC do mundo judaico Moacyr Scliar

    responsvel por cada um dos seus membros, mantendo escolas,

    sinagogas, entidades assistenciais, cemitrios, clubes, associaes

    culturais, entidades femininas, movimentos de jovens e outros.

    Em contrapartida, h tambm judeus que mantm uma relao

    tensa e contraditria com a tradio judaica, adotando por vezes

    uma atitude de questionamento, parcial ou abrangente, dos valores

    que lhe servem de esteio. Atualmente encontramos ecos dessa ati-

    tude contestadora naqueles para quem o sentimento de ser judeu

    no passa necessariamente pela identificao com o Estado de Israel

    ou com o modelo familiar heterossexual, entre outros casos.

    Judeus no brasilNo perodo colonial muitos cristos-novos judeus conver-

    tidos fora para escapar da Inquisio chegaram ao Brasil

    vindos de Portugal (alis, at a Constituio de 1824, era proi-

    bido aos brasileiros professar qualquer outra religio que no a

    catlica). Esses cristos-novos conservaram alguns dos costumes

    e rituais de seus antepassados.

    Mais perto de ns, a entrada de judeus se deu com os imigran-

    tes que comearam a desembarcar por aqui a partir da Primeira

    Guerra Mundial. Eles se estabeleceram em cidades grandes: So

    Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte,

    Curitiba, Recife e Santos. Em 1939 j havia nesses locais comuni-

    dades organizadas, com cerca de 40 mil judeus no pas.

    Aps a guerra, novas levas de imigrantes chegaram, compos-

    tas por sobreviventes e refugiados do nazismo. Hoje, no Brasil,

    existem aproximadamente 100 mil judeus, 90% dos quais viven-

    do em So Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Eles representam

    uma frao da ordem de 0,053% da populao brasileira.

    1. Realizar com os alunos um levantamento geogrfico e de-

    mogrfico da presena judaica no mundo e verificar as porcen-

    tagens da populao judaica em cada pas e continente em rela-

    o populao mundial. Que tal comparar os dados relativos a

    religio, povo, etnia, destacando alguns pases com porcentagens

    bem diversas, como o Brasil, a China, o Egito, a ndia e a Indo-

    nsia? Com base nisso, possvel propor um trabalho com os

    professores de histria e geografia, sobre a distribuio desigual

    de diferentes religies e culturas.

    Como trabalHar o livro em sala de aula

  • ABC do mundo judaico Moacyr Scliar

    2. Ao lidar com o mapa, os alunos podem localizar o Estado

    de Israel e entender sua posio estratgica como uma estrei-

    ta faixa de passagem entre frica, Europa e sia. Isso permite

    tratar da histria dos grandes imprios, povos e religies (egp-

    cios, assrios, gregos, romanos...) que viveram naquela regio e se

    estabeleceram no territrio que hoje corresponde a Israel e aos

    pases rabes vizinhos.

    3. O termo judasmo compreende, ao mesmo tempo, uma re-

    ligio, uma cultura, um povo e uma nao. Tal sobreposio d a

    oportunidade de conversar sobre diferenas intra e inter-tnicas,

    e sobre as vrias formas de se vincular a uma identidade espec-

    fica (ao contrrio do esteretipo, que fixa uma imagem homo-

    gnea do grupo).

    4. Os povos judeu e rabe so vizinhos no Oriente Mdio. Em

    So Paulo, por exemplo, descendentes de judeus e rabes divi-

    dem lado a lado o comrcio, em lugares como a rua 25 de Maro

    e o bairro do Brs. Proponha aos alunos a seguinte discusso: o

    Brasil constitui um exemplo de convvio pacfico e intercmbio

    cultural devido ao encontro entre diferentes povos e tradies?

    Como isso se d, por exemplo, com o racismo e a violncia, qua-

    se sempre velados, em relao aos negros?

    5. Sugira classe que pesquise em dicionrios, enciclopdias

    e na internet o significado dos termos judeu, israelita, israelense,

    hebreu, judaico, Judia e Israel. Aproveite o resultado da pesquisa

    para demonstrar os sentidos (inclusive pejorativos) subjacentes

    a tais termos, reportando-se sua gnese histrica.

    6. Leia com os alunos o seguinte trecho de Elie Wiesel:

    O ato de escrever para mim, muitas vezes, nada mais que

    o desejo secreto ou consciente de gravar palavras numa lpide:

    em memria de uma cidade que desapareceu para sempre, em

    memria de uma infncia no exlio, em memria de todos aque-

    les que amei e que se foram antes que eu pudesse dizer que os

    amava (Holocausto canto de uma gerao perdida. So Paulo:

    Documentrio, 1978, p. 31).

    O autor est se referindo ao Holocausto (Sho, em hebraico).

    A maioria desses mortos no tem tmulos com seus nomes para

    serem visitados no cemitrio, j que eles foram mortos, incinerados

    e tiveram as cinzas dispersas, para que deles no restasse nenhum

    trao. Destruindo a memria dos que pereceram, perpetua-se a vio-

    lncia contra eles cometida. por essa razo, entre outras, que os

    livros, as bibliotecas, os arquivos, os monumentos e os museus so

    to importantes. Eles so lugares da memria. Partindo dessa idia,

  • ABC do mundo judaico Moacyr Scliar

    proponha aos alunos que discutam as diferentes formas de lembrar

    e marcar um episdio coletivo de violncia contra um grupo.

    7. Ao lembrar a infncia e como comeou a escrever, o escritor

    Moacyr Scliar registrou:

    Filho e neto de imigrantes, nasci em Porto Alegre, no bairro

    do Bom Fim. Ali me criei, ouvindo as histrias que meus pais e

    nossos vizinhos contavam, sentados em cadeiras na calada das

    noites de vero ou ao redor da mesa de ch no inverno. Histrias

    que incendiavam minha imaginao e que muito cedo me leva-

    ram a colocar no papel minhas prprias narrativas no que era

    ajudado por minha me, ela prpria uma grande contadora de

    histrias e professora na escola judaica do bairro. Grande parte

    do meu trabalho de fico resulta de vivncias de infncia ou da

    juventude e tambm de episdios histricos.

    () Como escritor, sinto-me herdeiro de uma pesada carga de

    sofrimentos e de uma rica tradio cultural, da qual parte a re-

    verncia pela palavra escrita. Livros foram parte da minha vida, e

    no sei de melhor maneira para falar de judasmo do que um livro

    (Judasmo: disperso e unidade. So Paulo: tica, 1994, p. 12 e 13).

    Sugira aos alunos que discutam, a partir da leitura desse tex-

    to, que tipo de referncias um escritor utiliza para compor a sua

    literatura.

    Elaborao do guia Roney CytRynowiCz; PrEPa-rao Fabio weintRaub; rEviso Gislaine MaRia da silva, CaRla Mello MoReiRa e MRCia Menin