Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

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Os municípios de Belmonte e Trancoso realizaram em Junho de 2005, as PrimeirasJornadas do Património Judaico da Beira Interior. A vasta herança cultural da presençade comunidades judaicas nestas duas localidades durante vários séculos, (e dacomunidade viva, ainda hoje existente na de Belmonte) motivou estas autarquias aconvidarem investigadores nacionais e espanhóis a debaterem temas incluídos nasdiferentes áreas do saber, tais como: sociedade, mentalidades e quotidianos; e/ouarquitectura, arqueologia e valorização do património judaico. Os testemunhosmateriais, imateriais e documentais desenvolvidos durante estes dois dias enriquecerama História dos judeus e cristãos-novos da Beira Interior de Portugal. Orgulhamo-nos determos contribuído para a preservação, promoção e divulgação do Património Judaicoda região sabendo que iniciámos um evento para ter continuidade, convidando outrasautarquias a participar na sua longevidade.

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(…) «Porque é realmente da esperança que aqui, sobretudo, se fala, a de todos aqueles que, ao

longo da História, mas especificamente nestes últimos dois mil anos, investiram o seu ser,

corpo, alma e espírito, na expectativa-certeza de dias melhores (…). in António  Carlos 

Carvalho, obra: Prisioneiros da Esperança. 

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Actas das Primeiras Jornadas 

do Património Judaico da 

Beira Interior 

TRANCOSO E BELMONTE2008

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 COMISSÃO DE HONRA 

R eitora da Universidade A berta de Lis boa 

Vice - R eitor  da Universidade de Lisboa 

Governadora Civil da Guarda 

Presidente do (ex)IPPAR

Presidente da Câmara Municipal de Trancoso 

Presidente da Câmara Municipal de Belmonte 

Presidente da R egião de Turismo da Serra da Estrela 

Presidente da Comunidade Judaica de Belmonte 

R abi da Comunidade Judaica de Lisboa 

R abi da Comunidade Judaica de Belmonte 

Director  da Delegação do IPPAR de Castelo Branco 

Presidente da Cátedra de Estudos Sefarditas “Alberto Benveniste”da Universidade de 

Lisboa 

Presidente da Associação Portuguesa de Estudos Judaicos 

Presidente do Centro de Estudos Judaicos da Universidade da Beira Interior  

COMISSÃO CIENTÍFICA 

Prof. Doutor  Adriano Vasco R odrigues 

Prof. Doutor  António Marques de Almeida 

Prof. Doutora Maria Antonieta Garcia 

Prof. Doutora Maria José Ferro Tavares 

Prof. Doutor  Santiago Palomero 

COMISSÃO EXECUTIVA 

Dr. ª Carla Alexandra Gaspar  Santos 

Dr. ª Paula Monteiro 

Dr. ª Júlia R ito 

Dr. ª Elisabete R obalo 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Índice 

NOTA INTRODUTÓR IA.......................................................................................................................... 6 

A COMUNA JUDAICA DA VILA DE CASTELO BRANCO [1381-1496].......................................... 7 

EL  PROYECTO MUSEOGR ÁFICO DEL MUSEO SEFAR DÍ DE TOLEDO. ...............................30 

JUDAÍSMO E AR QUITECTURA VERNÁCULA CIVIL NA BEIRA INTER IOR  

QUINHENTISTA ..................................................................................................................................... 55 

JUDIAR IA DE BELMONTE – AVALIAÇÃO E REFLEXÃO SOBRE PROCESSOS DE 

REABILITAÇÃO. ................................................................................................................................... 80 

MARCAS CRUCIFORMES DE AGUIAR  DA BEIRA........................................................................ 91 

MEDELIM - A RUA DA JUDIAR IA ................................................................................................... 100 

MEMÓR IAS GRAVADAS NA PEDRA – UM PATR IMÓNIO A CONHECER  NO CONCELHO 

DE TRANCOSO ..................................................................................................................................... 108 

OS JUDEUS DE TRANCOSO: ENTRE A LEI DE MOISÉS E O BAPTISMO..............................131 

UMA LÓGICA PER IFÉR ICA PARA OS CENTROS: OS MENDES/BENVENISTE ENTRE A 

BEIRA INTER IOR  E ISTAMBUL ...................................................................................................... 161 

UM MOTIM NO FUNDÃO EM 1580 .................................................................................................. 171 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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NOTA INTRODUTÓR IA1 

Os municípios  de  Belmonte  e  Trancoso  realizaram  em  Junho  de  2005,  as  Primeiras 

Jornadas do Património Judaico da Beira Interior. A vasta herança cultural da  presença 

de  comunidades  judaicas  nestas  duas  localidades  durante  vários  séculos,  (e  da 

comunidade  viva,  ainda  ho je  existente  na  de  Belmonte)  motivou  estas autarquias  a 

convidarem  investigadores  nacionais  e  espanhóis  a  debaterem  temas  incluídos  nas 

diferentes  áreas  do  saber,  tais  como: sociedade,  mentalidades  e  quotidianos; e/ou 

arquitectura,  arqueologia  e  valorização  do   património  judaico.  Os  testemunhos 

materiais, imateriais e documentais desenvolvidos durante estes dois dias enriqueceram 

a História dos judeus e cristãos-novos da Beira Interior  de Portugal. Orgulhamo-nos de 

termos contribuído  para a  preservação,  promoção e divulgação do Património Judaico 

da  região  sabendo que  iniciámos um evento  para  ter   continuidade, convidando outras 

autarquias a  participar  na sua longevidade. 

Trancoso’s  and  Belmonte’s  Town  Hall  develop  2005 June,  the  First  Beira  Interior  

Jewish  Heritage  Meeting.  The  large  cultural  heritage  of   the  presence  of   the  Jewish 

Communities  in  this cities  for  centuries  (and  the  living community, still  in Belmonte) 

cause  this  municipalities  to  invite  national  and  spanish  scholars  to  debate  several 

sub jects in the different areas of  k nowledge, such as: society, mentalities and quotidian.;

and/or   architecture,  archaeology and  jewish  heritage  highlighting.  The  material, 

immaterial  and  documental  testimonies’ develop  during  these  two  days  improve  the 

Jewish Histor y and New-Christians of  Portugal Beira  Interior. We  proud  to contribute 

for   the  preservation,  promotion  and  divulgation  of   Jewish  Heritage  of   this  region, 

k nowing that we started an event to continue, inviting other  municipalities to undertak e 

this  pro ject in the future. 

O Presidente da Câmara Municipal de Trancoso  O Presidente da Câmara Municipal de Belmonte 

(Júlio José Saraiva Sarmento)  (Amândio Manuel Ferreira Melo) 

1  Todos  os  artigos  publicados  neste  sítio  são  da  exclusiva  responsabilidade  de  cada  autor.  Existiram  outras  comunicações 

apresentadas  neste  evento,  no  entanto  por   motivos  pessoais,  profissionais  ou  outros,  relativos  aos  autores  não  chegaram  para  publicação. 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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 A COMUNA JUDAICA DA VILA DE CASTELO BRANCO 

[1381-1496](LAÇOS ANCESTRAIS DE FERNANDO PESSOA À BEIRA BAIXA) 

Eng. Manuel da Silva Castelo Branco 

CAPÍTULO I 

Introdução. Evolução da comuna judaica em Castelo Branco. Em demanda da localiza- 

-ção da sua judiaria nesta vila (1381-1496) 

Há muitos anos que me dedico nos tempos livres à investigação histórica sobre “coisas”

da Beira Baixa e, em  particular, de Castelo Branco. Publiquei alguns trabalhos de entre 

os quais recordo  N otas e  Documentos para a História dos  J udeus e C rist ã os  N ovos de

C astelo  Branco.2 Talvez  por  esse motivo em (2004), o Arq.to José da Conceição Afonso, 

Director  da Delegação do IPPAR de Castelo Branco, convidou-me,  bem como à Prof. ª

Dr. ª Maria Adelaide Salvado,  para uma visita ao  prédio n.º 94 da R ua de Santa Maria, 

integrado  na  área  do  Programa  Polis  da  cidade  e  onde  se  haviam  encontrado  sinais 

muito curiosos. 

Fachada  principal do edifício da R ua de Santa Maria, nº94. 

2  Cf.  Castelo Branco,  Manuel  “Notas  e Documentos  para  a História  dos  Judeus  e  Cristãos  Novos  de Castelo Branco”,  E  studos de C astelo  Branco, n.º10, 1963,  pp.5-37. 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Com efeito, no  piso  inferior  do edifício  (em obras de  beneficiação e com acesso  pela 

R ua de Santa Maria) vimos uma  pequena sala  rectangular, dividida em  tr ês naves  por  

dez colunas de  pedra, dispostas duas a duas. Nas  paredes interiores da sala, com reboco 

à vista, achavam-se gravados  pentagramas. Os mesmos sinais estavam dispersos  pelas 

 paredes exteriores do edifício, dando  para o quintal. 

Ora, a estrela de cinco  pontas, designada geralmente  por   pentagrama, era  reconhecida 

entre outras coisas  pela estrela ou selo de Salomão e utilizada nas tradições mágicas e 

nos  rituais  árabes  e  judaicos.3  Por   tal  motivo,  surgiu  a  ideia  de  que  o  local  teria 

 pertencido à judiaria de  Castelo Branco  (1381-1496) ou  seria, mais  tarde, o  ponto de 

encontro  para  pr áticas mosaicas dos cristãos-novos. 

Procurarei esclarecer  este caso,  por   forma sucinta,  recorrendo a elementos de diversas 

fontes:

1) Eu já visitara aquela casa, cerca de 35 anos atr ás,  por  volta de 1969, quando residia 

em Castelo Branco, sendo  professor  da Escola Comercial e  Industrial. Um dia, o meu 

ilustre  Amigo  Coronel  Vasco  da  Costa  Salema  informou-me  de  que  o Dr.  António 

Tavares Carriço  (então médico na cidade)  lhe dissera que na  referida casa da R ua de 

Santa Maria, onde morara com seu  pai, o Dr. António Lobato Carriço, se achava uma 

 pedra de armas cu ja  proveniência desconhecia. Tal facto despertou-me a curiosidade e 

obtida a devida autorização  formou-se um grupo de amigos, entre os quais  recordo o 

C.el Salema, M.e Salles Viana, Dr.s José Lopes Dias, António de A brunhosa e Luís Pinto 

Garcia.  E lá fomos  à descoberta  do  “tesouro”.  Encontr ámos  a   pedra  deitada  no 

 pavimento da  carvoaria dando  para o quintal e,  portanto, ao  lado da  referida  sala das 

Colunas  e,  num  breve  exame,  verificámos  tratar-se  de  um  brasão  com  as  armas  dos 

PESSOAS e AMOR INS.4 

3 Para um esclarecimento mais  preciso do sentido do termo  pentagrama cf. Cox, Simon, C ódigo  Da V inci Descodificado, Publicações Europa-América, 10. ª edição, Lisboa, 2005,  pp.145-46. 

4 Afinal, o Dr. António Lobato Carriço era casado com D. Branca da Cunha Tavares, filha do C.el médico R afael  de  Sousa  Tavares  e  D.  Maria  Cândida  Leite  da  Cunha,  ambos  com  ascendentes  ligados  aos Tavares Pessoa de Amorim. 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Ora,  tinha conhecimento da existência em Castelo Branco, a  partir  da segunda metade 

do séc. XVIII, de uma família descendente de cristãos-novos e com estes apelidos. Mais 

 precisamente, a do Sargento-mor  José Pessoa Tavares de Amorim, cavaleiro da Ordem 

de Cristo, fidalgo de cota de armas, negociante de grosso trato e “uma das pessoas mais

ricas da província da Beira”,5 mas cu jas moradas eram na R ua do Pina. R eceando que a 

 pedra de armas sofresse qualquer   percalço, sugeri ao Dr. A brunhosa  para a colocar  na 

frontaria de uma casa desta R ua na qual,  presumivelmente, havia vivido aquela família e 

de  que  ele  era  então  proprietário.  Assim  aconteceu  e  deste  modo,  enriqueceu-se  o 

 património  artístico da  cidade  ficando  perpetuada a memória daquela  família na  terra 

onde vivera e  prosperara.6 

2) Por  outro lado, soube mais tarde que na casa da R ua de Santa Maria e, certamente, na 

sala das Colunas tinha existido um oratório  particular,7  pertencente a Gregório Tavares 

Pessoa de Amorim,8 neto do  referido Sargento-mor  e natural de Castelo Branco onde 

exerceu diversos cargos entre os quais o de Presidente da Câmara Municipal,9 de que 

tomou  posse na sessão de 27.1.1836.10 

5 Castelo Branco, Manuel da Silva, “O Amor  e a Morte nos Antigos R egistos Paroquiais Albicastrenses, C adernos de C ultura, M edicina na  Beira  I nterior , n.º7, 1993,  pp.24 e 25. 

6 Investigações  posteriores levaram à conclusão de que a morada do antigo Sargento-mor  situava-se um  pouco mais acima na mesma rua, conforme me informou o meu amigo Dr. Leonel Azevedo. 

7 ANTT, C âmara  E clesiá stica de C astelo  Branco, Diversos, Mç.2063. 

8 ASCB,  Rol de C onfessados da  F reguesia de S . M iguel da S é, 1839. Devo esta informação à gentileza da Dr.a Maria Adelaide Salvado que a meu  pedido consultou o dito rol do Arquivo da Sé. 

9 A estas famílias estava ligado o notável  poeta Fernando Pessoa, como veremos no Cap. III, §4, n.12. 

10 Martins, Padre Anacleto P. S., C apítulos  I néditos da História de C astelo  Branco, Ed. do Autor, Braga, 1981,  p.79. 

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 Tardoz do edifício da R ua de Santa Maria nº94, com acesso à sala das colunas. 

3) Outros motivos me levaram a não considerar  credível a ideia de a sala das Colunas 

ter   pertencido  à comuna dos  judeus de  Castelo Branco.  Ve jamos os  principais  locais 

“suspeitos” de estarem integrados na respectiva judiaria. 

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 Planta da malha urbana de Castelo Branco onde se localizam as ruas “suspeitas” de terem  pertencido à

 judiaria. 

a) R ua Nova 

Com  esta designação  aparece  ainda  em muitas  povoações  a  artéria que  a  certa  altura 

marcou  uma  nova  expansão  urbanística; noutras  corresponde  efectivamente  à antiga 

 judiaria,  recinto  fechado  e  reservado  exclusivamente  aos  judeus  que,  após  a  sua 

expulsão e conversão  forçada em cristãos-novos, se abriu  pela  primeira vez a  todas as 

classes  sociais.  Tal  facto  não  sucedeu  nesta  vila  conforme  constatei  ao  encontrar   o 

“Tombo com os  bens da Ordem de Cristo em Castelo Branco e no seu termo”, datado de 

1408.11 Nele são referidas, entre muitas outras coisas, duas adegas, mas separadamente:

uma na Judiaria e a outra na R ua Nova. Aliás, esta R ua Nova é muito antiga,  pois já se 

11 Castelo Branco, Manuel da Silva, “O Tombo mais Antigo com os Bens da Ordem de Cristo em Castelo Branco e no seu Termo (1408)”  Raia, n.º18, 2002,  pp.51-62. 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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acha mencionada no  inquérito  aos usos  e  costumes dos  Templários,  feito  em  Castelo 

Branco, a 8.4.1314.12 

 b) R ua dos Peleteiros 

 Num  instrumento  de  escambo  de  duas  casas,  datado  de  5 de  Junho  de  1480,  vai 

demarcada uma delas na R ua dos Peleteiros e tendo nas traseiras a judiaria (vide  Adenda

 Documental ).  Também  nesta  rua  existe  um  portado  quinhentista  com  uma  tesoura 

esculpida  no  ornato  superior   e  como  veremos,  na  vila  de  Castelo  Branco,  viveram 

muitos judeus que exerceram a  profissão de alfaiates (vide  Adenda Documental ). 

Portado quinhentista na R ua dos Peleteiros, nº42. 

c) R ua da Misericórdia 

 Nela  existe  uma  casa  (a  n.º12)  com  o  portal  ogival  idêntico  aos  portais  góticos  da 

sinagoga de Castelo de Vide. Por  isso, há alguns anos que  pensava investigar  melhor  o 

caso.  No  entanto,  o  Dr.  Leonel  Azevedo  esclareceu-me  que  por   cima do  encontro 

esquerdo  encontra-se  ainda  a  Mezuzah.  Nesse  orifício  eram  introduzidos  rolos  de 

 pergaminho  com  vários  preceitos  e  ordenações  atribuídos,  na  generalidade,  a  Moisés 

12 Castelo Branco, Manuel da Silva, “Subsídios  para o Estudo da Toponímia Albicastrense no Séc. XVI”, I Parte,  Adufe, n.º2, 1985,  pp.16 e 17. Neste estudo, na  p.17 foi referido também que, em 1431, a Câmara Municipal funcionava na R ua Nova: este facto atesta de maneira quase incontestável que, na data citada, este topónimo estava fora da jurisdição da comuna. 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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como hagiógrafo  (do Pentateuco) e como  legislador, os quais  faziam  parte da Torah. 

Este seria,  pois, com grande  probabilidade, o  portal de serventia da sinagoga.13 

Portal da antiga sinagoga (?) 

M ezuzah “entupida” na ombreira esquerda do  portal da sinagoga. 

d) R ua d’Ega 

 Nesta artéria informou-me também o Dr. Leonel Azevedo (que  participou recentemente 

em trabalhos do Programa Polis nesta cidade) existir  ali um  portado em cu ja ombreira 

direita  se  acha  gravada  a  Menorah  (candelabro  de  sete  braços),  embora  já muito 

desgastada  pela erosão e,  por  consequência,  pouco visível. Ega é um topónimo que,

segundo  Joseph  M. Piel, deriva do nome  próprio  Egas.  No  entanto, o  R ev.do  Cónego 

Tarcísio  Alves,  considerando  provável que  ali  estivesse  localizada  a  judiaria,  procura 

dar-lhe  outro  significado,  dizendo  “T alvez possamos descobrir na palavra  E  ga uma

reminiscência do tributo da «judarega». Habitariam naquela rua todas as pessoas

13  Aliás,  em  trabalho  elaborado  por   Azevedo,  Leonel  & Conceição,  José,  M apa de  Arquitectura deC astelo  Branco,  Ed.  Argumentum,  Lisboa,  2002,  já vem  referenciada  esta  casa  como  sendo  a antiga sinagoga, com data  provável dos sécs. XIII ou XIV. 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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abrangidas por tal imposto e daí nos veio o nome de  Rua d ’E  ga ou  Rua da

 J udarega.”14. 

M enorah na ombreira direita do  portado da R ua d`Ega, nº10. 

e) R ua do Caquelé 

O R ev.do  Cónego  Tarcísio  Alves,  no  artigo  supracitado,  dá-nos  uma  explicação 

engenhosa e surpreendente  para a origem do nome deste topónimo. Diz-nos ele:  J unto à 

 J udiaria ficava o «almocak ué» ou cemitério dos  judeus.  E  ste ficaria entre as  Ruas do

M uro e C aquelé.  N a verdade, a decomposiçã o da palavra almocak ué (cemitério) d á-

nos tr ê s elementos curiosos: al (o); mons (monte, campo); k ak ué (mortos). Da evoluçã o

do último elemento ter á vindo «C aquelé», nome que ainda ho je existe numa das ruas

daquela zona. Também  menciona  a  casa  da  R ua  da  Misericórdia  acima  referida,  ao 

afirmar  o seguinte: M ais tarde a  judiaria estendeu-se ao longo da rua da M isericórdia

onde se encontra uma casa cu ja fachada parece indicar a velha sinagoga. Ele acaba 

 por   concluir   que  seria  muito  provável  que  a  judiaria  ficasse  entre  a  R ua  d’Ega  a 

Travessa do Muro e a R ua do Caquelé (vide Planta). 

Como  é  evidente,  embora  fornecendo  elementos  interessantes  e  pertinentes  para  a 

localização e reconstituição do tecido urbano da judiaria de Castelo Branco, verificamos 

a necessidade de ainda se  pesquisar  melhor  e mais atentamente, quer  no que diz respeito 

14 Alves, Tarcísio, “A Judiaria de Castelo Branco” Reconquista (22.12.1973). 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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aos  vestígios  arquitectónicos  e  arqueológicos  capazes  de  abrir   caminho  a  novos 

esclarecimentos,  quer   no  que  diz  respeito  à con jugação  desses  elementos  com  a 

documentação  existente  e,  porventura,  outra  que  se  venha  a  descobrir.  No  Cap.  II 

apresentarei uma relação cronológica dos documentos consultados e que nos dão uma 

imagem da sua evolução enquanto comunidade. 

CAPÍTULO II 

As  mais  antigas  refer ências  documentais,  respeitantes  à comuna  judaica  da  vila  de 

Castelo Branco 

1  –  A  primeira é certamente a carta de foral que lhe foi concedida, em 1213,  pelo M.e 

templário D. Pedro Alvito e o seu Convento, a fim de se  poder  restaurar  e  povoar  a dita 

vila, dando-lhe  para o efeito os foros de Elvas. E, entre eles, na versão do R ev.do Padre 

Dr.  José  R ibeiro  Cardoso  aparece  o  seguinte: estatuímos e perpetuamente

estabelecemos que todo aquele que apreender alguma coisa a mercadores ou via jantes

crist ã os, mouros ou  j udeus , nã o sendo (o espoliado) fiador ou devedor, pague o

agressor 60 soldos ao fisco e substitua em dobro ao dono a coisa apreendida e, além

disso, por ter violado a imunidade municipal, pague 100  morabitinos, sendo metade

 para o M estre e metade para o concelho.15 

2  –   Carta  de  El-R ei D. Fernando,  dada  em  Lis boa  a  15.12.1381,  em  que  concede  o 

arr endamento  das  sisas  gerais  de  Castelo  Branco  e  seu  termo,  a  um  judeu  chamado 

Azequirim, que as arr ematara  por  mais 100 libras em cada ano do que o seu antecessor  

A braão  Amado.  O mesmo  Azequirim  e  A braão  de  Malina,  obtiveram  ainda  do  R ei 

Formoso, carta de arr endamento das sisas gerais de Sarzedas e Sobr eira Formosa. Eram 

estes judeus  morador es  em  Castelo  Branco,  onde  pr esumimos  a  existência  de  uma 

comuna  judaica organizada segundo as normas  pr escritas  por  D. Pedro  I. Com ef eito, 

este  R ei  or denara  que  em  todas  as  terras  onde  o  número  de  judeus  chegasse  a  dez, 

deviam  viver   num  sector    privado,  a  judiaria,  constituindo  uma  comunidade  com 

administração es pecial e su jeita a severas r estrições.16 

15 Car doso, José R ibeiro, C astelo  Branco e o seu Alfoz, Ed. Autor, 1953,  pp.63 e 64. 

16 ANTT, C hancelaria de D. F ernando, Liv.3, fl.1v. 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

16

3  –  Carta de mercê a Lopo Vasques de Castelo Branco, Comendador  de S. Vicente de 

Beira, dos dir eitos  r eais dos  judeus na vila  de  Castelo Branco  (dada  em  Alenquer,  a 

11.9.1384,  por  D. João  –  ainda Mestr e de Avis, mas também já R egedor  e Def ensor  do 

R eino).17 Esta carta ser-lhe-ia confirmada, a 16 de A bril de 1385, na cidade de Coimbra, 

onde se cele braram as Cortes que aclamaram r ei D. João I.18 

Os dir eitos r eais dos judeus consistiam nas r endas e impostos que tinham de  pagar  aos 

monarcas todos os anos. Seriam designados também  pelos dir eitos do serviço novo e do 

serviço velho dos  judeus que, na maioria das vezes, os  R eis  concediam a  alguns dos 

seus  servidor es.  Assim,  em  Castelo  Branco  temos  notícia,  além  do  anterior,  dos 

seguintes:

3a  –  Álvaro Pais  Sapata  a  quem D. Duarte  f ez mercê dos  dir eitos  do  serviço  r eal  e 

serviço novo em atenção aos que ele havia  pr estado a seu  pai D. João I,  por  carta dada 

em Santarém em 13.11.1443 e confirmada  por  D. Afonso V em Lis boa a 9.4.1449.19 

3 b  –  Martim Vasques Vilela, Alcaide do castelo de Óbidos e C. O. C., a quem D. João I 

f ez mercê dos dir eitos r eais dos judeus de Castelo Branco (Lis boa, 13.1.1393).20 

3c  e  3d  –   Galiote  Per eira,  Alcaide  de  Castelo  Mendo,  fidalgo  da  Casa  R eal  e  do 

Conselho de D. Afonso V, que  lhe f ez mercê das  r endas do serviço velho e novo dos 

 judeus. Mas  por  acor do com D. Martinho de Ataíde, Conde de Atouguia, r enunciou em 

 proveito deste à cobrança da mercê,  por  carta dada em Elvas a 8.6.1464.21 

3e  –  D.  João  de  Ataíde,  filho  do  anterior  D.  Martinho,  após  a  r enúncia  de  seu  pai, 

r ece beu carta da r enda do serviço velho e novo dos judeus, f eita em Sintra a 5.8.1488.22 

4 –  Instr umento f eito em Castelo Branco a 19.12.1386  por  Vasco Clemente, tabelião de 

El-R ei naquela vila, em que D. Juça e D. Crara, judeus, compram a Diogo Gonçalves, 

17 ANTT, C hancelaria de D.  J oã o  I , Liv.1, fl.38v. 

18 ANTT, C hancelaria de D.  J oã o  I , Liv.1, fl.126. 

19 ANTT, C hancelaria de D. A fonso V, Liv.19, fl.15. 

20 ANTT, C hancelaria de D.  J oã o  I , Liv.2, fl.71. 

21 ANTT, C hancelaria de D. A fonso V, Liv.8, fl.127v.º. 

22 ANTT, C hancelaria de D.  J oã o  II , Liv.14, fl.6. 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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escudeiro, e a sua mulher  Maria Lopes (todos morador es na vila) a metade de uma casa 

que estes  possuíam na R ua do Cavaleiro.23 

5  –  No seu testamento f eito em Castelo Branco a 3.7.1397,  por  Afonso Anes, tabelião 

de  El-R ei  na  dita  vila,  Maria  Afonso,  mãe  do  Mestr e  de  Avis  (D.  Fr ei  Fernando 

R odrigues  de  Sequeira),  r ef er e-se  às  eiras  que  deixava  a  Afonso Per es,  clérigo,  para 

 pagamento de um anal de missas cantadas, na igr e ja de Santa Maria do Castelo,  por  sua 

alma, de seus  pais, marido, filhos e avós. Estas eiras comprara ela a D. Juça, judeu, já

citado no documento anterior.24 

6   –   No  ANTT encontramos  inúmeros  documentos  (em  es pecial  nas  Chancelarias 

R égias) que  nos  permitem  avaliar   a  evolução  e  composição  populacional  da  comuna 

 judaica  de  Castelo  Branco,  desde  D.  Afonso  V até  D.  Manuel  I  –   por   exemplo,  os 

nomes,  laços  familiar es  e  as  profissões que  exerciam,  etc.  Estas notícias  são obtidas, 

sobr etudo, a  partir  das cartas de contrato, das quais extraímos a lista r elativa ao ano de 

1455 (vide  Adenda Documental ). 

7  –   Carta  de  D.  Afonso  V concedendo  à comuna  dos  judeus  de  Castelo  Branco 

autorização  para se acr escentar  mais uma r ua à sua judiaria, em virtude de ela ser  muito 

 pequena e já ter em ocu pado uma r ua  pequena e travessa sem  permissão régia (dada em 

Lis boa, 10.10.1473).25 

8  –   Instr umento  de  escambo  citado  antes  (em  3  b))  como  fonte  de  localização  da 

 judiaria  nas  traseiras  da  R ua  dos  Peleteiros,  (Castelo  Branco,  5.6.1480; ve ja-se  a 

 Adenda Documental ). 

9  –  Carta régia de aforamento, a Mose Molfo, de umas casas existentes na  judiaria de 

Castelo Branco (Lis boa, 13.12.1491).26 

10  –  Em Março de 1496, no  inquérito  f eito sobr e o valor  dos  bens  r eais cobrados na 

Comarca da Beira, consta que a comuna da vila de Castelo Branco com a de S. Vicente, 

r endia  por  ano 23 mil r eais.27 

23 ANTT, Ordem de Avis, n.º512. 

24 ANTT, Ordem de Avis, n.º608. 

25 ANTT, C hancelaria de D. A fonso V, Liv.33, fl.279. 

26 ANTT,  Livro  I  da  Beira, fls.141-142v (O leitor  inter essado  pode consultar  este documento na íntegra no artigo citado na nota de rodapé n.º1). 

27  R au,  Virgínia,  “Para  a  História  da  População  Portuguesa  nos  Sécs.  XV e  XVI”,  Do T empo e da História, n.º1, Lis boa, 1965,  pp.42 e 43. 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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11  –  Carta régia de mercê a Martim Anes, de umas casas na judiaria de Castelo Branco, 

 pertencentes ao judeu Aar ão e a sua mulher  Malzato (Montemor-o- Novo, 12.3.1496).28 

12  –  Caderno dos  bens  próprios de El-R ei no almoxarifado da Guar da até 26.4.1498. 

 Neste documento  pode ler-se um rol dos  bens existentes na judiaria de Castelo Branco, 

acabada  de  extinguir,  que  estão  em  processo  de  avaliação  e  aforamento.  Entr e  eles 

r ef erimos os seguintes:

Umas casas que foram de Salomão Machoro avaliadas em 4.667 r eais, aforadas a Mose 

Molfo. 

Fachada da  provável sinagoga albicastr ense na R ua da Misericór dia, nº12. 

Item seedas na sinoga que sam fora pella causa dos judeus.29 

Item uns  potes que foram de raby Salomão avaliados em 580 r eais. 

Item as casas e quintal de Salomão Çoleima avaliados em 21.000 r eais. 

Item em casa de  A fonso de Pa yva30 dois  potes avaliados em 100 r eais. 

Umas casas que foram da Lavrandeira, avaliadas em 4.666 r eais31 

28 ANTT,  Livro  I  da  Beira, fls.202-202v (ver  a nota 25 su pra). 

29 Estas sedas  bem  podiam ser, justamente, o tecido que cobria a arca onde, nas sinagogas, se guar davam os rolos de  pergaminho que compõem a Torah. (Cf. T ora, tradução e introdução de Luís Filipe Sarmento, S porpr ess, Mem Martins, 2003,  p.9) 

30 Afonso de Paiva, companheiro de Pêro da Covilhã na céle br e  procura do  r eino de Pr estes  João, era natural de Castelo Branco onde fora escrivão do serviço r eal e novo que  pagavam os judeus em cada ano, 

 por  carta dada em Santarém em 13.12.1482 (Cf. ANTT, C hancelaria de D.  J oã o  II , LIv.6, fl.141v.º.) 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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13 –  Aforamento de umas casas a Afonso Gomes, na R ua Nova, em Castelo Branco.32 

14  –  Mercê de umas casas na antiga R ua da  Judiaria de Castelo Branco a Marcos da 

Gaya, f eita em Lis boa a 8.10.1513.33 

CAPÍTULO III 

Laços ancestrais do  poeta Fernando Pessoa à Beira Baixa 

 No capítulo I r ef erimos que Fernando Pessoa, uma das figuras marcantes do nosso  país 

como  poeta  e  pensador,  pertencia  também  à família  de  Gr egório  Tavar es  Pessoa  de 

Amorim  (nascido  em  Castelo Branco  a  23 de  Março  de  1806),  descendente  de  uma 

larga geração de cristãos-novos da Beira Baixa. 

Curiosamente  cele bra-se  ho je  (13 de  Junho  de  2005)  o  117.º aniver sário  do  seu 

nascimento,  ocorrido  em  1888.  Por   este  motivo  r esolvi  apr esentar   aqui  um   br eve 

esquema sobr e a sua ascendência que,  por  vezes, tem sido estudada apr essadamente. 

31 ANTT, C olecçã o de F ragmentos do C orpo C ronológico, Núcleo Antigo, n.933. 

32 ANTT,  Livro  I  da  Beira, fls.73 e 74 (ver  a nota 25 su pra). 

33 ANTT,  Livro  III  da  Beira, fl.44 (ver  a nota 25 su pra). 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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§1

Castelo Branco vista tirada do NE por  Duarte de Armas em 1509 (LF) 

1. Pedro da Cunha, x. v., alcaide-mor  do castelo de Alfaiates, almoxarif e de Pinhel, 

escudeiro-fidalgo da casa de D. Manuel I (c.r. de 8.12.1519) que lhe foi confirmada  por  

D.  João  III  (c.  r.  de  8.11.1527),  etc.  Morou  em  Alfaiates  e  casou  com  Brites  do 

Mercado,  x.  n.,  filha  de  Luís  do  Mercado,  cavaleiro-fidalgo  da  Casa  R eal  (c.  r. 

12.2.1514), tendo entr e outros:

2. R odrigo da Cunha, que segue. 

2. R odrigo da Cunha, ½ x. n., natural de Alfaiates,  f eitor  da alf ândega de  Almeida, 

onde morou,  etc.  Pr eso  pelo  S.  O.,  ab jurou  das  suas  culpas  no  A.  F.  cele brado  em 

Lis boa a 28.11.1621. Casou a  primeira vez em Castelo Branco com Maria Henriques, x. 

n., tendo entr e outros:

3. Beatriz da Cunha, que segue. 

3. Beatriz da Cunha, x. n., natural de Alfaiates, foi  pr esa pelo S. O. e ab jurou no A. F.

em  Lis boa,  a  28.11.1621,  sendo  já casada  com  Miguel  Henriques  Falcão,  x.  n.,  do 

Alcaide, onde viveram de suas fazendas, tendo entr e outros:

4. Juliana da Cunha, que segue. 

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Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior  

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4.  Juliana  da  Cunha,  x.  n.,  baptizada  a  28.4.1604 no  Alcaide,  onde  casou  com 

Martinho de Oliveira, x. v.,  pagador  geral da gente de guerra no  partido de Penamacor, 

tendo entr e outros:

5. Custódio da Cunha de Oliveira, que segue. 

5. Custódio da Cunha de Oliveira, x. n., nascido no  Alcaide  a  25.8.1632,  sear eir o, 

tratante  de  lãs  e  estanqueir o  do  ta baco.  Mor ou  no  Fundão  e  em  Montemor -o-Velho, 

onde casou com Madalena Pessoa de Gouveia, da nobr e f amília dos Pessoas e Amorins 

daquela  vila.  Foi  pr eso  pelo  S.  O.  e  a b jur ou  de  suas  culpas  no  A.  F.  cele brado  em 

Lisboa a 13.5.1669, tendo entr e outr os:

6. Sancho Pessoa da Cunha e Amorim, que segue. 

6. Manuel da Cunha Pessoa, que segue no §4. 

6.  Sancho  Pessoa  da  Cunha  e  Amorim,  x.  n.,  natural  de  Montemor -o-Velho.  Foi 

Cadete do R egimento de Dragões de Aveir o e, de pois, mer cador . Pr eso  pelo S. O. em 

2.11.1704. Casou  pela 3. ª vez no Fundão a 20.8.1703, com Branca Nunes Tavar es, x. n. 

daquele lugar  que,  pr esa  pelo S. O., a b jur ou no A. F. de 6.12.1704, em Lisboa. Tiveram 

entr e outr os:

7. Ga briel Tavar es Pessoa de Amorim, que segue. 

7. R osa Maria Pessoa, x. n., nasceu no Fundão a 3.5.1712 e  foi 

 pr esa  pelo S. O. a 28.1.1733. Casou com o seu  primo Diogo da 

Cunha que segue no §4. 

7. Gabriel Tavares Pessoa de Amorim, x. n.,  f oi  pr eso  pelo S. O. em 1746. Grande 

negociante  da  praça  de  Lisboa  e  no  Fundão,  casou  com  Leonor   Per eira  da  Silva,  de 

Penamacor , tendo entr e outr os:

8. Gas par  Pessoa Tavar es de Amorim, que segue. 

8. Gr egório Tavar es Pessoa de Amorim, que segue no §2. 

8. José Pessoa Tavar es de Amorim, que segue no §3. 

8.  Gaspar  Pessoa  Tavares  de  Amorim,  nasceu  no  Fundão  a  30.1.1740.  Grande 

negociante da  praça de Lisboa e instituidor  de um vínculo de 60 contos de r éis de ca pital 

investido em um  padr ão da R eal Fazenda. Foi cavaleir o da O. C. e cavaleir o- f idalgo de 

cota de ar mas (um escudo  par tido em  pala: I  –  PESSOA; II  –  AMOR IM, Lisboa 26.6.1795, 

tendo  por   dif er ença  uma  brica  de  prata  com  trifólio  ver de).  Viveu  em  Lisboa, onde 

casou  com  D.  Ana  Joaquina  Guerra  e  Sousa  e  deles  descendem,  entr e  outr os,  os 

Viscondes da Var gem da Or dem. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

22

§2 

8. Gregório Tavares Pessoa de Amorim, f ilho de Ga briel Tavar es Pessoa de Amorim, 

nasceu no Fundão e f oi  pr o prietário em Castelo Branco. Viveu em Torr es Novas, onde 

exer ceu os car gos de Monteir o-mor  e Ca pitão-mor  de Or denanças. Foi cavaleir o da O. 

C. e  f idalgo de cota de ar mas  (as mesmas de seu  ir mão Gas par  e  tendo  por  dif er ença 

uma  brica  de  our o  com  um G  de  negr o,  Lisboa,  30.1.1796).  Casou  2. ª vez  com D. 

Francisca Angélica da Silva, tendo entr e outr os:

9. D. Leonor  Mar garida Pessoa, natural de Torr es Novas e casada 

com seu  primo Joaquim Pessoa de Amorim n.9 do §3. 

§3 

8. José Pessoa Tavares de Amorim, natural do Fundão, mas morador  na R ua do Pina 

em  Castelo  Branco,  onde  f oi  Ca pitão  e  Sar gento-mor   das  Or denanças  e  f aleceu  a 

10.5.1815.  Foi  cavaleir o  da  O.  C.  e  f idalgo  de  cota  de  ar mas  (semelhantes  às  dos 

ir mãos,  mas  tendo  por   dif er ença  uma   brica  de  prata  com  um  J de  negr o,  Lisboa 

27.2.1797). Casou na Covilhã, a 11.4.1773 com sua  prima D. Leonor  Per eira da Silva, 

tendo entr e outr os:

9. Joaquim Pessoa de Amorim, que segue:

9.  Joaquim Pessoa de Amorim, nasceu  em  Castelo Branco  e  ali  f aleceu a  4.6.1811. 

Casou  em  Torr es  Novas,  a  19.4.1803,  com  sua  prima  co-ir mã, D.  Leonor   Mar garida 

Pessoa, n.9, §2, tendo entr e outr os:

10. Gr egório Pessoa Tavar es de Amorim, que segue. 

10. Gregório Pessoa Tavares  de Amorim,  nasceu  em  Castelo Branco  a  23.3.1806, 

sendo  ba ptizado a 10 de A bril no Oratório dos avós  pater nos e tendo sido  padrinhos de 

 ba ptismo os avós mater nos. Fr equentou a Univer sidade de Coimbra, mas não ter minou 

o  cur so.  Viveu  em  Castelo Branco  no  n.º94 da  R ua  de  Santa  Maria  e  exer ceu  entr e 

outr os car gos o de Pr esidente da Câmara Munici pal (1836), etc. 

§4 

6. Manuel da Cunha Pessoa, x. n., natural de Montemor -o-Velho. Casou 2. ª vez com 

Ana Nunes, sua  prima, tendo entr e outr os:

7. Diogo da Cunha, que segue. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

23

7.  Diogo  da  Cunha,  x.  n.,  nasceu  no  Fundão  a  15.1.1709.  Exer ceu  a  pr of issão  de 

fundidor  e f oi  pr eso  pelo S. O. a 2.3.1746. Casou com sua  prima co-ir mã, R osa Maria 

Pessoa, n.7, §1, tendo entr e outr os:

8. Gas par  Pessoa da Cunha, que segue. 

8. Gaspar Pessoa da Cunha, natural do Fundão, viveu também em Ser  pa, casado com 

a segunda mulher  Per  pétua Constança, tendo entr e outr os:

9. Daniel Pessoa e Cunha, que segue. 

9. Daniel Pessoa e Cunha, nasceu em Ser  pa, onde f oi  ba ptizado a 5.8.1780, na Igr e ja 

do Salvador . Tir ou o cur so de medicina na Univer sidade de Coimbra (1805) e viveu em 

Tavira. Casou com D. Joana Xavier  Per eira, f ilha do Ca pitão de ar tilharia, no Algarve, 

José António Per eira de Araú jo e Sousa, f idalgo de cota de ar mas ( brasão esquar telado 

de  PEREIRA,  CAMISÃO,  SOUSA  e  ARAÚJO,  por   car ta  de  2.12.1799)  e  de  D.  Bár  bara 

Joaquina de Sequeira Mimoso, todos de Far o. Tiveram entr e outr os:

10. Joaquim António de Araú jo, que segue. 

10. Joaquim António de Araú jo, nasceu em Tavira a 15.2.1813 e seguiu a carr eira de 

ar mas atingindo o  posto de general. Casou em Lisboa com D. Dionísia R osa Estr ela de 

Sea bra, tendo:

11. Joaquim de Sea bra Pessoa, que segue. 

11. Joaquim de Seabra Pessoa, nasceu e f aleceu em Lisboa (1850-1893), tendo casado 

com D. Maria Madalena Pinheir o Nogueira, f ilha do Conselheir o Dr . António Nogueira. 

Tiveram:

12.  FERNANDO  ANTÓNIO  NOGUEIRA  PESSOA,  nascido  em  Lisboa  a  13.6.1888,  na 

f r eguesia dos Már tir es, e f alecido na mesma cidade a 30.11.1935, f r eguesia de S. Isa bel. 

 Neste  esquema  genealógico  a pr esentou-se,  por   f or ma  muito  sumária,34  a  ligação  de 

Fer nando Pessoa com alguns ramos da sua f amília da Beira Baixa (oriunda do Alcaide, 

Castelo Branco, Covilhã, Fundão,  Idanha-a- Nova, Penamacor , etc.), e tendo  por   início 

Pedr o da  Cunha, n.1.  Em  seguida,  f ar emos  a  leitura da  pedra de  ar mas desta  f amília 

existente em Castelo Branco, como já r ef erimos no Ca p. I,  p.2. 

34 Estou ela borando um  por menorizado tra balho sobr e a ascendência de Fer nando Pessoa tendo início em Pedr o da Cunha, n.1, e com o estudo de todos os ramos que dele  pr ovieram. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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 Pedra de ar mas (de Pessoa e Amorim), na R ua do Pina, nº8 (pr oveniente da R ua de Santa Maria, 

nº94). 

Es pécie  –  Pedra de ar mas (i.e. com um  brasão de ar mas escul pido) 

Localização  –   Cidade  de  Castelo  Branco.  Actualmente  e  desde  1969,  encimando  a 

entrada da casa com o n.8 da R ua do Pina  para onde f oi transf erido (do n.º94 da R ua de 

Santa Maria como se r elatou no Ca p. I, 1),  p.2). 

Época  –  Finais do século XVIII ou começos do XIX. 

Lição Her áldica 

Classif icação  –  Her áldica de f amília 

Com posição do Con junto:

- escudo f rancês, com suas corr eias 

- elmo com  paquif e, vir ol e timbr e 

Leitura: Escudo  par tido em  pala (I e II) 

I  –  As ar mas dos Pessoas, que são em cam po azul seis cr escentes de 

our o, com as  pontas  para cima; or la ou  bor dadura de negr o, dividida  por  uma cotica de 

our o e carr egada de oito estr elas de cinco raios ou  pontas, de  prata. 

II  –  As ar mas dos Amorins, que são em cam po ver melho cinco ca beças 

de mour os de  sua  cor ,  toucadas de  prata,  cor tadas  em  sangue e  com  bar  bas de our o, 

 postas em sautor . 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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  Elmo  de  prata  a ber to,  gradeado,  voltado  à dir eita,  a  tr ês  quar tos  e 

guar necido de our o. 

Paquif e dos metais e cor es das ar mas 

Timbr e dos Pessoas, que é um cometa de  prata com cinco raios, sendo 

o que cai sobr e o elmo o maior  de todos 

Dif er ença (no canto superior  dir eito do escudo) uma  brica ilegível.35 

Conclusão 

Como já r ef eri no ca pítulo I,  pu bliquei em 1963, na r evista  E  studos de C astelo  Branco o 

ar tigo  “Notas  e Documentos  para  a História dos  Judeus  e  Cristãos  Novos de  Castelo 

Branco” no qual se acha a transcrição com pleta de alguns documentos aqui nomeados. 

Desta vez,  pr etendi or denar  e f or necer  as mais diver sas notícias sobr e a evolução (e em 

es pecial  a  localização)  da  comuna  judaica  albicastr ense.  E,  embora  o  pr oblema  não 

tenha  f icado  inteiramente  esclar ecido,  o  acervo  documental  r evelado  constituir á, 

cer tamente, uma  base segura  para futuras investigações. 

A  pr o pósito, r ecor do o seguinte. Até 1496, os judeus viviam nas judiarias onde  podiam 

exer cer  a  r es pectiva administração  por   f or ma  semelhante à dos municípios em que se 

achavam  inseridos,  bem  como  seguir   e  praticar   a  sua  r eligião  sem  qualquer   entrave. 

Antes de ser em obrigados a usar  sinais nas  r oupas que os  identif icavam como  judeus, 

alguns deles (em  par ticular  os físicos, cir ur giões e os grandes mer cador es e negociantes) 

 podiam  viver   f ora  das  judiarias  e  até  obtinham  car tas  de  privilégio  para  isenção  de 

a posentadoria,  per missão  para  andar   em mula,  etc.  Ora,  em  1492 f oram  expulsos  de 

Es panha os  judeus que não se  conver tessem à r eligião  católica e, como consequência 

disso,  a maioria  veio  para Por tugal  f ixando-se na  zona  raiana  e nos  centr os da  costa 

mar ítima.  Em  Castelo Branco,  bem  como  nas  terras  da  f r onteira,  f ixou-se  então  um 

grande númer o desta legião. Do seu neoba ptismo sur giram as f amílias de cristãos novos 

com  os  a pelidos  de  Luna,  Lucena,  Mer cado,  Santilhana,  Mor ão,  Montalto,  etc 

(pr ovenientes  de  Castela  e  Extr emadura  es panhola)  e  com  imensos   patr onímicos:

 Nunes,  R odrigues,  Mendes, Fer nandes,  Lo pes,  etc.  Só nessa  altura  e,  princi palmente, 

de pois do esta belecimento da  Inquisição, começaram a ser   per seguidos e a  praticar  os 

35 As mesmas já f oram descritas  para cada um dos ir mãos em n.8, §1, n.8, §2 e n.8, §3. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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ritos  r eligiosos  às  escondidas  e,  em   par ticular ,  nas  suas  casas  ou  nas  de  seus 

corr eligionários. É  pr eciso não esquecer  que com a extinção das comunas judaicas e dos 

seus  locais  de  r eunião  (as  sinagogas,  as  escolas,  etc),  muitas  de  suas  casas  f oram 

destr uídas ou  passaram a ser  ha bitadas e utilizadas não a penas  por  cristãos novos. Estes 

 para  com pr ovar  o  seu novo  estatuto  r eligioso  eram obrigados  a  gravar   uma  cr uz nas 

ombr eiras da  por ta das suas r esidências.36 Os cristãos novos  passaram então a  pr ef erir  as 

zonas mais  pr o pícias  para  a  pr ática  comer cial  e os  locais onde  pudessem  esta belecer  

tendas.  Em  épocas  tar dias,  já de pois  de  1773,  ano  em  que  o  Mar quês  de  Pombal 

decr etou  que  se  anulasse  a  distinção  entr e  cristãos  velhos  e  novos,  muitos  deles, 

gozando de um grande desaf ogo  f inanceir o e, em muitos casos, munidos de  f or mação 

univer sitária ir ão ocupar  car gos e  posições de destaque na sociedade civil. 

Mas, em todas as épocas, os judeus e os seus descendentes deixaram  por  todo o lado a 

memória da  sua grande  actividade  e  iniciativa, destacando-se  em diver sas  pr of issões. 

Em  Castelo Branco  tiveram  grande  im por tância na  assistência,  antes  e  de pois da  sua 

conver são; muitos deles naturais desta vila cele brizaram-se ao serviço de Por tugal e no 

estrangeir o.  R ecor do,  entr e  outr os,  João  R odrigues  de  Castelo  Branco  (também 

designado   por   Amato  Lusitano),  Leonar do  Nunes,  Fili pe  de  Luna  Montalto  e  os 

Henriques de Paiva.37 

ADENDA DOCUMENTAL 

DOCUMENTO 138 

[Instr umento de escambo  lavrado em Castelo Branco a 5.6.1480 onde se acha 

localizada a judiaria nas traseiras da R ua dos Peleteir os] 

S aibham os que este estormento e carta desca ybo pera senpre firme e valledo yro

virem como aos çinco dias /   do mes de  J unho da era do nacimento do nosso S enhor

 J hesû39 C hristo de m jll e quatroçentos e o ytenta años em a /  v jlla de C astello  Branco

36 Bor ges, Júlio António, C astelo  Rodrigo –  Passado e Presente, Ed. da Câmara Munici pal, 2001,  p.85. 

37 Castelo Branco,  Manuel da Silva,  “Assistência aos Doentes na Vila de Castelo Branco e  seu Ter mo entr e Finais do Séc. XV e  Começos do  Séc. XVII”, M edicina na  Beira  I nterior , Cader nos de Cultura, n.º2, 1990,  pp. 7-20. 

38 ANTT, C orporações  Religiosas, Ordem de C risto, Cx.135, Mç.7, Doc.12 (em  per gaminho). 

39 Por  ser  im possível utilizar  o til na vogal u, colocámos na mesma letra um acento cir cunf lexo. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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dentro nas cassas da morada do senhor Dom  Diogo de S ousa, comendador de S egura,

etc. /  estando elle presente e estando hi outrosi  Duarte de S ousa seu filho /   E  estando hi

outros y M içia  A fonso /  molher que fo y de  Lopo Galego que  Deos a ja e estando  Lopo

Galego seu filho escudeiro del  Re y nosso S enhor os sobre / ditos, a saber, o dito  Diogo

de S ousa primeiramente em nome do dito Duarte de S ousa menor de hidade como /  seu

 padre e curador e  y sso mesmo o dito  Duarte de S ousa presente diserom que sentindo

elle Diogo de S ousa /  ser proveito do dito seu filho a elle e ao dito seu filho prazia como

 fecto aprouve de esca ybar e como de facto esca ybava com a dita M içia  A fonso e seus

 filhos huûas casas que elle  Duarte de S ousa hav ja na dita villa /  na  Rua dos Piliteiros

que elle ouvera per titollo de compra de huû Gonçalo V aaz de C astello  Branco

morador  /   em a v jlla de  E  stremoz as quaes casas com seu quintaall e asentamento

 partiam de huûa parte com cavalar  jça  /  da dita M içia  A fonso e quintall e asentamento

 partiam de huûa parte com cavalar  jça /  da dita M içia A fonso e de seus filhos e da outra

com casas que foram de Gill  E anes dos porcos e detras com quintall de /   Diogo de

S equeira e com a j ud aria da dita v jlla e com quaesquer outros com que de direito dev ja

 partir  E  que /  as ditas casas e asentamento esca ybavam e davam aa dita M içia A fonso e

 seus filhos por todo o quinham e direito /  que a dita M içia A fonso e seus filhos hav jam e

em que t  jnham nas casas em que ora morava  Alvaro M artins escudeiro e asi /   pollo

quinham do quintall que esta detras as casas de Garçia M endez o quall quinham de

casas e quintal foram /  do padre e madre da dita M içia A fonso as quais casas e quintall

 partiam com casas della M içia  A fonso e com /  o dito  Alvaro M art  jns e asi com o dito

Garcia M endez e Rua pubrica dosleiros [deve ser  dos Oleir os] e com quaaesquer outros

com que de direito dev ja /   partir, o qual esca ybo o dito  Diogo de S ousa e  Duarte de

S ousa seu filho e a dita M içia  A fonso em nome seu /   e de  Ana sua filha que sob seu

 poder estava e o dito  Lopo Galego diseram que lhes prazia como de fecto aprouve /  

 fazer como de fecto fizeram e huûs a outros outorgaram a posse e senhorio das ditas

casas e quintaes /   deste dia pera todo o sempre com todas as suas entradas saídas

direitos e pertenças como as cada huû hav ja e /  de direito podia aver e que cada huû

 podesse fazer e fizesse do que asi esca ybavam como de sua propria /  cousa e verdadeira

 posessam e prometeram e afirmaram a fazer a dita troca e esca ymbo bõõ/  e de paz de

quem quer que a contradizer quisesse asi em juizo como fora delle e lho compoer com

quanto em ello te / vessem fecto e melhorado.  E   ao senhor da terra outro tanto

obrigando o dito  Diogo de S ousa todos os seus bens profanos /  e os do dito  Duarte de

S ousa seu filho e a dita M içia  A fonso todos seus beens e dos ditos  Lopo Galego e  Ana /  

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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 seus filhos asi moveis como  Raiz.  E   em testemunho de verdade outorgaram ser fecta

escriptura d ’ esca ymbo que fo y/   fecta dia mê s e era ut supra.  E   cada huû pedio sua

ambas de huû theor e esta he pêra aa dicta /  M içia  A fonso que primeiro saio da nota.

T estemunhas que fforam presentes o senhor Pedro de S ousa comendador da Y danha a

 N ova /  e C ristóvã o de S ousa seu irmãã o e  J oham Gonçalvez e J oham F er  / nandez C origo

clérigos de missa moradores em a dita /   villa e outros e eu  A ffonso do  Amarall  /  

escudeiro e notairo pubrico geerall em o M eestrado de C hristus pollo /   duque  Dom

 Diogo meu senhor que este estormento e carta escprev y e em elle meu pubrico sinall fiz

que tal he.

DOCUMENTO 240 

[Cader no das car tas de contratos,  passadas em Lisboa no ano de 1455, a judeus 

morador es na vila de Castelo Branco] 

Nome  Prof issão  Data 

S amuel C idicairo  Alfaiate  É vora, 5.12.1455 

 Abraã o C ofem  F erreiro  É vora 4.12.1455 

 J acob T ov y   F erreiro  É vora 5.12.1455 

 I  saque T ov y   F erreiro  É vora 3.12.1455 

 J acob F ranco T ecel ã o  É vora 1.12.1455 

 Abraã o T ouro M ercador  É vora 4.12.1455 

S amuel C idicairo  Alfaiate  É vora 1.12.1455 

S alomã o Amado  F erreiro  É vora 1.12.1455 

 J uça M açoude  Alfaiate  É vora 1.12.1455 

 Dav y T ouro S apateiro  É vora 4.12.1455 

 J uça Ç oleima M ercador  É vora 4.12.1455 

 I  saque M olfo  Alfaiate  É vora 4.12.1455 

40  ANTT,  C hancelaria de  D.  A fonso V  , Liv.15,  f l.158v.º.  Listas  deste  géner o  e  a bar cando  outras  pr of issões  –   tais como médicos, cir ur giões; car tas de  privilégios, criminalidade, conver sos, of iciais das comunas,  etc.  –   podem encontrar -se  em  diver sos  estudos  ela borados  por   especialistas  entr e  os  quais menciono Maria José Pimenta Ferr o, Iria Gonçalves e Aida Gisela das Neves Faria (para esta última ve ja-se  Análise S ócio-económica das C omunas  J udaicas de Portugal , Bi blioteca da Faculdade de Letras de Lisboa, TL  –  H  –  209). Vários outr os livr os da Chancelaria de D. Af onso V f or necem-nos listas idênticas àquela que  aqui  a pr esentamos.  Assim,  entr e  elas ve ja-se: ANTT, C hancelaria de  D.  A fonso V,  Liv.  2, f ls.59v.º e 60 (1441); Liv.23, f ls. 108f . e v.º (1442); Liv.31, f ls. 25f . e v.º (1469). 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Pr oveniência das Imagens 

Ar quivo homo sapiens –  1, 4, 5, 6, 7, 8 e 10

ANTT –  9 

IPPAR , Delegação de C. B.  –  2

CMCB  –  3

Sinais Convencionais 

ANTT –  Ar quivo Nacional da Torr e do Tombo 

ASCB  –  Ar quivo da Sé de Castelo Branco 

A. F.  –  Auto de Fé 

O. C.  –  Or dem de Cristo 

S.O.  –  Santo Of ício 

x.v.  –  cristão velho 

x.n.  –  cristão novo 

 J acob C idicairo  Alfaiate  É vora 5.12.1455 

S alomã o Açir  Alfaiate  É vora 4.12.1455 

 J uça Amado  F erreiro  É vora 3.12.1455

 Abraã o Amado  E  specieiro  É vora 3.12.1455 

S alomã o C ofem  F erreiro  É vora 4.12.1455 

M ose T ov y   Alfaiate  É vora 3.12.1455 

S anto Abaiuf S apateiro  É vora 5.12.1455 

 Abraã o T ov y  S apateiro  É vora 1.12.1455 

 Abraã o N avarro  Alfaiate  É vora 1.12.1455 

S amuel Açir  Alfaiate  É vora 1.12.1455 

 Dav y C ofem  Alfaiate  É vora 6 .12.1455 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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EL  PR OYECTO MUSEOGR ÁFICO DEL MUSEO SEFAR DÍ DE TOLEDO. 

Pr of . Doutor . Santiago Palomer o Plaza 

Mi  incor  poración  al  Museo  coincidió  con  un  per íodo de  cambio  en  los  museos 

españoles,  que  arrastra ban  una  lar ga  desatención  administrativa,  y una  situación 

 pr eocupante  en  comparación  con los museos  de  Eur opa.  Estos  ha bían  iniciado  sus 

r ef or mas en los años 60,  per o aquí la situación empeza ba a cambiar  con la llegada de 

los socialistas al  poder  en la decada de los 80. 

R ecuer do  oir   def ender   con  pasión  a  la  entonces  Subdir ectora  de  Museos,  Paloma 

Acuña, en la  pr opia Administración la necesidad de “recuperar el retraso de casi un

 siglo”  en  materia  de  museos  en  España; la  suer te  de  que  f uese  el  añorado  M. 

Fer nández-Miranda el Dir ector  General de Bellas Ar tes ayudó mucho a este  pr oceso 

de  “normalización” , tal  como  le  gusta ba  llamar lo  a  Paloma  Acuña  de  los museos 

españoles.  En  esa  década  además  de  avances  en  el  campo  museológico  y

museogr áf ico, con la inauguración de nuevos museos en la  perif eria como el de Cádiz 

y el de Mérida, ambos de la mano de  pr estigiosos ar quitectos españoles, se logr ó “dar

a la luz” la Ley de Patrimonio Histórico Español, todavía hoy en vigor , que debemos 

a la constancia e inteligencia de Fer nández Miranda. 

Sir va el Pr eámbulo de la ley 16/85 escrita “con el puño y letra” del  pr opio Fer nández 

Miranda, como un sentido homena je a su her encia:

“ E n consecuencia,  y  como ob jetivo último,  La  Le y  no busca sino el acceso a los

bienes que constitu yen nuestro Patrimonio Histórico. T odas las medidas de

 protección y fomento que la Le y establece, sólo cobran sentido si, al final, conducen a

que un número cada vez ma yor de ciudadanos pueda contemplar y disfrutar las obras

que son herencia de la capacidad colectiva de un pueblo. Porque en un estado

democr ático estos bienes deben estar adecuadamente puestos al servicio de la

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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colectividad en el convencimiento de que con su disfrute se facilitara el acceso a la

cultura y que ésta, en definitiva, es camino seguro hacia la libertad de los pueblos”.41 

Así  pues,  desde  el  día  de  mi  incor  poración  al  Sef ar dí  en  el  año  1985 tuve  que 

 par tici par  dir ectamente en todo el  pr oceso administrativo que justif icase la necesidad 

de una amplia inter vención. 

R ecuer do en la  primera visita la emoción, que nunca me ha a bandonado, al  pasar  a la 

Sinagoga y la sor  pr esa de las  pequeñas salas del Museo, montadas con gran sobriedad 

museogr áf ica  por  f alta de medios,  per o con una museología inteligente, que explica ba 

una  cultura   para  mí  entonces  desconocida,  incluso  con  car teles  a  mano  de  una 

caligraf ía exquisita, en  base a las  princi pales f iestas judías,  por  las que se agr upa ban 

las  piezas en las vitrinas. Una serie de lá pidas hebr eas, en el centr o de las tr es salas, 

imposi bilita ban un  r ecorrido nor mal; la galer ía de mu jer es esta ba cerrada,  por que el 

f or  jado esta ba en r uinas, y andando con cuidado, a través del techo de la galer ía y  por  

las ra jas y huecos de la cubier ta, se acer ta ba a contemplar  el limpio cielo de Toledo. 

Los  despachos  y Bi blioteca  ocupa ban  el  lugar   en  el  que  hoy está el  vestíbulo  de 

entrada y el actual centr o administrativo era una casa a bandonada en la que nunca se 

llegó  a  instalar   el  Centr o  de  Estudios  Judeo-españoles.  El   patio  Nor te  esta ba 

totalmente degradado y sucio, a bier to a la ciudad y de espaldas al Museo; el  patio Este 

tampoco era visita ble,  pues el  r ecorrido era de entrada y salida  por   la misma  puer ta 

 princi pal de la sinagoga y por  la misma  puer ta de entrada al Gran Salón. 

Una vez  puesto en mar cha el Pr oyecto Museológico, del que ya hemos ha blado en el 

a par tado  anterior ,  teníamos que  centrar nos  en  el Plan  de  O bras,  bastante  comple jo, 

 por que  incluía no sólo  la r emodelación del edif icio y ane jos, sino  la  r estauración de 

yeser ías, ar tesonado y  piezas del Museo, además de  la ar queología y la museograf ía 

 pr opiamente dicha. Entr e 1985 y 1994 el Museo estuvo de algún modo en obras, y en 

todo ese la pso sólo se cerr ó unos tr es meses,  pudiendo el  público seguir  el desarr ollo 

41) Ley del Patrimonio Histórico Español. Ministerio de Cultura. (Madrid, 1986). 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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del   pr oceso,  del  que  se  inf or ma ba   per manentemente  en  un  panel,  situado  en  la 

sacristía,  e  incluso  se  pudo  en  jor nadas  anunciadas,  subir   a  ver   en  dir ecto,  por   un 

andamio  segur o  y en  visitas  r estringidas,  la  la bor   de  r estauración  de  yeser ías  y

ar tesonado. 

Fr ente al “secreto” tradicional con que se acogían este ti po de obras, optamos  por  la 

más  incómoda,  per o  más  a pr opiada  la bor   didáctica  desde  el  comienzo  de  todo  el 

 pr oceso, incluyendo a vecinos y comer ciantes en las visitas. 

En lo que a Arquitectura se r ef ier e, ca be decir  que el Pr oyecto f ue dirigido  por  Jaime 

Mar tínez y Car men Bravo en la r emodelación de 1985-1994, con la ayuda y tutela del 

equi po  f or mado  por  Paloma Acuña en  la Subdir ección de Museos Estatales, a cuyo 

f r ente  esta ban  Car los  Baztán,  memoria  viva  de  la  r enovación  de  los  museos 

españoles42y Mª Dolor es Muñoz. 

En el ámbito f uncional se r ecupera el monumento enteramente  para la visita  pública. 

Se concentran los ser vicios inter nos-  par te de los cuales se ubica ban  en el vestíbulo 

actual-  en  el  edif icio  ane jo  y se  constr uye  un  pequeño  cuer  po  que  lo  conecta  la 

sinagoga.  En  el  inmueble  ane jo,  que  se  constr uyó  para  ser   Centr o  de  Estudios  del 

CSIS en  Toledo,  nunca   puesto  en  f uncionamiento,  se  ubican  salón  de  actos, 

dependencias administrativas, de  investigación, de conser vación,  bi blioteca,  taller  de 

f otograf ía y r estauración, junto con los almacenes en el sótano. 

Se  r ecupera  también  la  galer ía de mu jer es,  antes  inaccesi ble,  y se  pr eparan  para  la 

visita  pública el jar dín y el  patio. 

En  la cr u jía de acceso -actual vestíbulo- se or ganiza un  pequeño espacio de acogida 

con la venta de entradas, tienda, y espacio de audiovisuales. 

42) Baztán, C: La renovación arquitectónica de los museos españoles. Ministerio de Educación yCultura. (Madrid, 1997). 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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La actuación ar quitectónica tra ba ja a todas las escalas y compr ende desde la bor es de 

r estauración  pura  a  la  media  inter vención  de  nueva  constr ucción.  Se  r estauran  las 

f á bricas exterior es de ladrillo, se eliminan huecos degradantes  para el monumento y se 

suprime también un cuer  po añadido (antigua vivienda del sacristán)  tras  la espadaña 

que  cega ba  los  ventanales  originales  de  la  sala  de  oración,  r ecuper ándose  así  la 

luminosidad con que f ue concebida la sala central. 

Se sustituye el f or  jado de la Galer ía de Mu jer es- de los años 20 y en r uinas-por  otr o de 

madera de gran ca pacidad  por tante, se eliminan las divisiones que compar timenta ban 

espacios amplios en origen, se consolidan mur os y se  pr otege la madera de la cubier ta;

se eliminan humedades y se  pr otege su  per ímetr o de las aguas super f iciales. 

Complementando  la  la bor  de  r estuaración  y conser vación  ar quitectónica  se  r ealizan 

actuaciones  necesarias  de  nueva  constr ucción,  con  criterios  de  r ever si bilidad  y

contemporaneidad. Se diseñan los elementos del espacio de acogida: el cor tavientos, 

el mostrador , tienda y espacio de or denador es. 

Se constr uye también un f also techo de maderas nobles en la galer ía de mu jer es sobr e 

el  que  discurr en  las  instalaciones  y una  puer ta  de  conexión  entr e  la  sala  III  y la 

sinagoga, a pr ovechando un  hueco  pr eexistente, cerrado en el XVII  por  los ca baller os 

de la Or den de Calatrava. 

Se  diseña  y constr uye  el  cuer  po de  conexión  entr e  el  con junto  de  la  sinagoga  y el 

edif icio  ane jo  y se  r eor ganizan  los  patios Nor te  y Este. En el  primer o  se  pr ocede a 

cerrar lo a la calle,  para que sea sólo accesi ble desde el Museo; después de r ealizadas 

algunas catas ar queológicas, se diseña y constr uye un ár ea de descanso que además 

aco ja las grandes lá pidas sepulcrales que impedían un tr ánsito f luido  por  las salas del 

Museo, se a jar dina y se cierra a la visión y r uido de la calle R eyes Católicos, mediante 

un mur o con una inscri pción hebr ea de M. Ibn Ezra,  poeta judío granadino, que hace 

alusión a la f ragilidad de la vida. En el  patio Nor te, la excavación descubr e 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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impor tantes r estos desconocidos hasta el momento que se  inter  pr etan como  par te de 

una antiguo Hammán de la juder ía de Toledo, amor tizados en el s. XIV, junto con una 

serie de casas,  para  levantar   la  sinagoga. Se decide  pr eser var los  por   su  impor tancia 

histórica y hacer los visi bles, que no visita bles, mediante una ver  ja de hierr o, a la vez, 

que mediante un  f or  jado, se  per mite hacer  de  las excavaciones cubier tas, un ár ea de 

descanso. 

La escalera de acceso a la Galer ía de mu jer es se cambia  por  una de madera de nuevo 

diseño y constr ucción. 

Se  pr ocede  también  a  r epasar   y limpiar   el  te jado,  per o  la  f alta  de  pr esupuesto  no 

 per mite  una  la bor   en  pr of undidad,  una  de  las  causas  por   las  que  luego  ha br á que 

acometer  la segunda r ef or ma en los años 2002 al 2004. 

A la vez que se lleva ba a ca bo el  pr oceso de obras, tuvo lugar  un gran tratamiento de 

r estauración  integral  no  sólo  de  la  pr opia  sinagoga,  sino  de  todas  la  piezas  que 

f or mar ían  par te del Museo. 

La Conservación-Restauración conllevó un comple jo  pr ograma de documentación e 

investigación que f ue r ealizado  por  los equi pos técnicos del ICR BC del Ministerio de 

Cultura,  ba jo  la  dir ección  de  Car men  R allo  (yeser ías)  Ana  Carrasón  (ar tesonado), 

laudas sepulcrales (Concha Cir u jano) y f otogrametr ía (A. Almagr o). 

Para  ello  se  montó  un  andamio  perimetral  que ocupó  2/3 de  la  Sala,  con  sendas 

 plataf or mas de tra ba jo  para yeser ía y ar tesonado, con  luz, agua y desagües. 

Se r estaurar on un total de 325 metr os cuadrados de yeserí as, que en su estado  pr evio 

el  sopor te   pr esenta ba  diver sos  pr oblemas,  desde  grietas,  zonas  huecas,  sales, 

humedades,  ataques   biológicos,  suciedad  generalizada  y algunas  desaf or tunadas 

r estauraciones anterior es de los siglos XIX y XX a las que hemos hecho r ef er encia en 

al a par tado de historiograf ía. 

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La  ca pa  pictórica  pr opiamente  dicha  pr esenta ba  una  ca pa  de  polvo,  escamaciones, 

suciedad y r epintes. 

El  princi pio general ha sido el de la inter vención mínima, primando la consolidación y

la  limpieza.  Se  comenzó  primer o  por   la  Galer ía  de  Mu jer es,  lo  que  a por tó  una 

inf or mación muy valiosa que luego se a plicó al r esto de la Gran Sala. 

El  tratamiento del sopor te consistió en  r ellenar   las grietas con escayola a nivel más 

 ba jo  que  el  sopor te  original,  conser vando  una   pequeña  junta  de  dilatación,  se 

consolida ban  los  bor des  con  r esina  acr ílica  en  emulsión,  y  por   f in  se  completa ba  y

entona ba  con  una  ca pa  de  “acqua  spor ca”  para  que  el  blanco  no  distor sionase  el 

con junto.  Las  zonas  huecas  se  consolidar on  con  inyecciones  de  r esina  acr ílica  en 

emulsión, con o sin car ga de escayola (el consolidante utilizado f ue Primal AC-33, en 

distintas  pr opor ciones de emulsión con agua). 

Las  sales  pr esentar on  poco  pr oblema  y sólo  se  tratar on.  Se  limpió  la  suciedad  de 

ataques  biológicos y polvo y en las zonas r ehechas de alguna r estauración anterior  que 

distor siona ban  el  con junto,  se  pr ocedió  a  eliminar   esa  coloración  para  a plicar les  el 

tono general de “acqua sporca”. 

El  tratamiento de  la ca pa  pictórica consistió en consolidar  el color  de  los  pigmentos 

mediante  r esina  acr ílica,  per o  en  disolución,  lo  que  f acilita ba  su  r ever si bilidad  (el 

 pr oducto utilizado f ue Paraloid B-72 en disolvente Nitr ocelulis al 5%, mediante  pincel 

obr e el color ). Del mismo modo con ayuda de  pa pel ja ponés y algún instr umento de 

asentamiento se eliminar on y limpiar on el r esto de las materias extrañas que a par ecían 

super  puestas a  la ca pa  pictórica. No  se han eliminado  r epintes,  lo mismo que no  se 

han  sustituido  pér didas  f ragmentarias  de  decoración  como  r osetones  o  piñas.  En 

general,  tras  discusión  sobr e  el  pr oceso  en  plena  polémica  por   la  r estauración  de 

Colallucci en  la Ca pilla Sixtina, donde esta ba claramente  justif icada  la  limpieza, en 

este caso se optó  por  no  r eintegrar   la  f alta de  policr omía, excepto en algunas zonas 

muy concr etas, con el f in de que se  pudiese  “leer ”la historia de deterior o del  pr opio 

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edif icio y  por que además los r epintes de las r estauraciones del XIX y XX hacían casi 

imposi ble la tar ea, ya que no r espetar on, ni dif er enciar on originales de adicciones. 

En  consecuencia  se  ha   pr ef erido  conser var lo  todo,  eliminando  sólo  lo  que  se 

super  ponía  sobr e  el ver dader o original  y ésta  pr emisa  sólo  se  podía  compr obar   con 

seguridad en lo tocante al sopor te yeso, nunca a la  policr omía. 

En  suma  con  esta  inter vención  se  corrigier on  los   pr oblemas  de  esta bilidad  y

 pr esentación  estética  de  las  yeser ías  ralentizando  el  pr oceso  de  deterior o  al  que 

esta ban sometidas y que  podr ían acelerar se  por  humedades ca pilar es, humedades de 

f iltración, suciedad de  polvo y ataques  biológicos.43 

En cuanto al artesonado la inter vención f ue  paralela a la de las yeser ías y se trató en 

todo momento de r ealizar  un  tratamiento unif or me, tanto desde el  punto de vista del 

criterio a adoptar  como de los  pr oductos a emplear , salvando las lógicas distancias que 

suponen un material inor gánico (yeser ías) y un material or gánico (madera). 

Se  trata  de  una  ar madura  de  par   y nudillo  con  tirantes  dobles  y ochavada  en  sus 

extr emos, de 23  por  9 metr os, de coníf era muy r esinosa (Pinus Pinaster ),  totalmente 

 policr omada y emplea en su decoración  láminas de estaño y cor las, magníf icamente 

estudiado  por  E. Nuer e44. 

El estado en cuanto a su estr uctura y ca pacidad  por tante era  bueno,  pr esentando sólo 

 pequeños desper f ectos como ala beo de  ta blas en el arr oca be, ataque de xilóf agos en 

algunos  puntos, manchas de humedad  y algunas  piezas despr endidas o movidas.  La 

 policr omía  en ver de,  azul,  r o jo,  blanco  y negr o  esta ba,  sin  embar go, muy alterada, 

ennegr ecida  y con  pér didas  a bundantes de  color ,  además de una  gran  cantidad de 

 polvo acumulado. 

43) R allo Gr uss, C: “ Restauración de las yeserías de la Galería de M u jeres de la S inagoga delT r ánsito( T oledo)” , Rev. Sef arad. XLIX. (Madrid, 1998). Págs 397-408. 

44) Nuer e, E: O p. Cit. Nota Nº 143. Edit. ICR BC. Ministerio de Cultura. (Madrid, 1990). 

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La  inter vención se  basó  princi palmente en la consolidación  tanto de  piezas sueltas o 

movidas  como  en  la  f i jación  de  la   policr omía  y limpieza  unif or ma  de  toda  la 

techumbr e, siendo las zonas atacadas  por  xilóf agos desinf ectadas y consolidadas. En 

cuanto a la  policr omía se eliminó el  polvo y la suciedad super f icial, f i jándose el color  

y sentándolo con cola animal. Se  pr ocedió a una media limpieza y la r eintegración se 

limitó  a  entonar   las  zonas  en  blanco  de  la  pr eparación  por   medio  de  aguadas  de 

acuar ela, r estringiéndose sólo  por  el sistema de “R egatino” un f ragmento del texto del 

arr oca be,  a plicando  una   pr otección  f inal  tanto  a  la  madera  visi ble  como  a  la 

 policr omía. 

R especto a las laudas sepulcrales decidimos trasladar las desde las salas del Museo al 

 patio Nor te a modo de Jar dín de  la Memoria,  tal como explicá bamos en el  pr oyecto 

museológico. R esolvíamos así el  pr oblema de  tr ánsito  en unas  salas  pequeñas  y las 

 piezas  r ecupera ban  su  sentido  de  “cementerio al aire libre”.  Para  ello  no  sólo 

necesita ban  una  r estauración  convencional,  sino  un  tratamiento  especial  que  les 

 per mitiera  per manecer  al air e li br e. 

La mayor ía de las laudas son de granito, aunque hay una de már mol. Las alteraciones 

más  f r ecuentes  eran: suciedad  super f icial,  concr ecciones  diver sas,  f isuras,  grietas, 

r oturas, exf oliaciones, manchas de cal,  biodeterior o  y r eintegraciones anterior es con 

mor ter os de cemento y vástagos de hierr o que debían ser  eliminados. 

En general el tratamiento ha seguido los siguientes  pasos: Fi jación  pr evia de las zonas 

despr endidas  mediante  gasa  y r esina  acr ílica,  Paraloid  B-72 al  10% de  acetona;

limpieza super f icial con agua desionizada y sal de amonio ter nario (Desogén al 1%);

secado  de  la  humedad  de  la  super f icie  con  alcohol  etílico; limpieza mecánica  con 

cepillos de cera suave,  bistur í, cinceles, tor no de dentista con f r esas de car  bor undo y

corindón  de  distintas  granulometr ías  en  f unción  de  la  concr ección  a  limpiar   y

micr oa brasímetr o; las manchas de origen or gánico o desconocido se eliminar on con 

disolventes; desalación con sepiolita impr egnada en agua desionizada y  para f inalizar  

se sometier on a un  pr oceso de hidr of ugación,  para  pr oteger las de las inclemencias del 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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tiempo,  r epitiéndose  este  último   pr oceso  cada  5 años.  Para  ello  se  optó   por   la 

a plicación  de  un  metil-etoxi-siloxano  (Tegosivin  HL-100-Goldsschmidt)  en  una 

concentración que osciló entr e el 8 y 10 %. 

Por   f in  el  r esto de  piezas  ar queológicas de  la  colección  per manente del  Museo  f ue 

r estaurado  por   Car los Álvar o  y el  añorado  R aúl  Amitrano,  ba jo  la  super visión  del 

equi po técnico de Museos Estatales, dirigido  por  Mar ía Sanz. 

La  museograf í a   pr opiamente  dicha  f ue  r ealizada   por   el  ar quitecto  Juan  Pa blo 

R odr íguez  Frade,  que  se  encar gó  de  coor dinar   todos  los  aspectos  r ef er entes  a 

iluminación, seguridad,  inf or mación gr áf ica, monta je de vitrinas y  paneles e  incluso 

del desarr ollo del Pr ograma Gr áf ico Institucional del Museo Sef ar dí. 

El ob jetivo  prioritario de esta nueva  instalación museogr áf ica era el mar cado  por  el 

 pr oyecto  museológico: la  divulgación  de  la  historia  de  los  judíos,  mediante  un 

conocimiento  completo  y razona ble,  of r ecido  a  través  de  un  itinerario  de  piezas,  y

 paneles explicativos situados en un contexto histórico secuencial. Se ha considerado 

en todo momento que la  pieza más impor tante  del Museo es la sinagoga en sí misma, 

 por  lo que se ha  pr etendido que la inter vención f uese lo más r espetuosa  posi ble con la 

Gran Sala, dentr o de los límites mínimos de iluminación, seguridad e inf or mación que 

las condiciones museológicas exigían. 

El Proyecto de Identidad Gráf ica Institucional,  en el que tra ba jamos activamente 

los conser vador es con el diseñador , tenía como ob jetivo ingr esar  de un modo visual, 

como  cualquier   empr esa  que  se  pr ecie,  en  el  contexto de  la  comunicación  social  e 

institucional,  para  que  el  nuevo  per f il  de  identidad  del  Museo  coincidiese  con  el 

cambio  pr oducido en su interior  y sir viese de a poyo a su f utura gestión. 

La  aceleración  del  consumo  y la  alta  densidad  de  mensa jes  que  r eci bimos  hacía 

necesaria  una  identidad  que  esta bleciese  vínculos  de  conf ianza  en  el  emisor   en 

f unción de los valor es atri buidos a esa identidad. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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La  institución,  a  través  de  su  actividad  diaria  y de  su  per manente  diálogo  con  sus 

usuarios va generando  f or mas de autorr epr esentación,  pone  en mar cha una  serie de 

mensa jes  y mecanismos  de  pr oducción  que  pueden  comunicar   su  identidad  y así 

conseguir  la imagen deseada. 

Para ello se conci bió un Manual Cor  porativo45 en el que se conf igur ó el nombr e de 

Museo  Sef ar dí  como  el  exclusivo  a  utilizar   y se  diseñó  un  logoti po,  con  sus 

corr espondientes imagoti pos. 

El imagoti po elegido se extrae de una simplif icación de una de las  piezas más antiguas 

del  Museo,  la  pileta  trilingüe  de  Tarraco,  del  s.  V d.C.  En  la  pileta  se  encuentran 

inscritos una serie de símbolos judaicos como el candela br o de siete  brazos, el cuer no 

ritual,  la  rama  de  palmera  más  los  pavos  o  animales  simbólicos  que  f lanquean  la 

escena o motivo  princi pal, que no ser ía otr o, según R achel Haclili46, que  los ob jetos 

rituales que r ecuer dan el “rito de las cuatro especies” que se celebra en  la Fiesta de 

los  ta ber náculos  (S ukk ot),  una  de  las  tr es  grandes  f estividades  judías  de 

“peregrinación” al templo de Jer usalén en la época del segundo Templo. 

La  mayor ía  de  los  Museos  e  Instituciones  judías  utilizan  casi  en  exclusiva  el 

candela br o de siete  brazos, la  popular  menor á  para la identif icación con el judaísmo, 

 per o   pr ecisamente   por   eso,   para  dif er enciar nos  y singularizar   al  Museo  Sef ar dí, 

utilizá bamos una  pieza hallada en la Hispania r omana, Tarraco, con el candela br o más 

otras  piezas  de  judaica,  que  conseguían  singularizar   nuestr o  esf uer zo  institucional, 

 per o no lo separa ban radicalmente del r esto, ya que la menor á también f igura ba en el 

centr o, en este caso, como una r epr esentación institucional del Templo  per dido, como 

r ecuer do y símbolo del Gran Templo de Jer usalén. 

45) R odriguez Frade, J.P: Sistemas Gráf icos de Identidad Institucional. Museo Sef ardí. Ministerio de Cultura. (Madrid, 1989). 

46)Hachlili, R:Anciente Jewish Art and Archaelogy in the Diaspora.Edit. Brill. (Boston. 1998). Ver  Ca p. 7 Jewishs Simbols. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Como  color   cor  porativo  se  elige  el  “Pantoné 179  U ”,  con  una  clara  connotación 

evocadora; si no se utilizase en color , se designa el “ Pantone 431 U ” de color  gris, 

ambos tanto en  positivo como en negativo. 

A  par tir  de ese momento todas nuestras actividades, incluida la R evista Noticias, han 

 paseado  por   el  mundo  el  logoti po  institucional,  que  se  ha  consolidado  como  una 

imagen atractiva y signif icativa del Museo. 

La elección de los logoti pos debe hacer se con mucho cuidado,  pues un “error ” o una 

mala inter  pr etación  pueden traer  graves consecuencias  para una entidad;  por  e jemplo 

nosotr os desechamos  por  excesivamente obvio el candela br o con el que tra ba jamos en 

los  primer os  diseños  o  la  “ E  strella de  David”,  por   cuanto  después  de  un  estudio 

iconogr áf ico nos  per catamos de que sólo es utilizada en el judaísmo a  par tir  de época 

moder na  y en  la  bandera  del  Estado  de  Israel  en  época  contempor ánea,  per o  ese 

logoti po no se  podía r etr otraer  a la historia,  por  cuanto en la Edad Media española era 

un  símbolo claramente mudé jar  como demostramos al estudiar  algunas  piezas de  la 

r eciente exposición de Sef arad47 y como destaca, con razón Díez Jor ge r ef iriéndose a 

la  techumbr e  de  la  catedral  de  Ter uel  en  la  que  se  r epr esenta  la  lucha  entr e  un 

ca baller o cristiano y uno musulmán,  par eciendo este último con la  piel más oscura, la 

espada  cur va  y con una  estr ella de  cinco  puntas  en  el  casco,  en  el  escudo  y en  la 

gualdra pa que lo identif ica como tal, f r ente a los cristianos48. 

R epasar emos   br evemente  los   princi pales  a por tes  museogr áf icos   por   salas  del 

magníf ico tra ba jo de González Frade, que consiguió dar  unicidad al Museo. 

V estíbulo y  Á rea de acogida.

47) Bango Tor viso, I: Memorias de Sef arad. (Toledo, 2002). Págs. 128 y 129. 

48) Díez Jor ge, Mª E:. (Granada, 2001). Págs.140 y 141. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Además  de  las  sustituciones  del  equi pamiento  de  la  zona  de  acogida,  car teleria, 

entradas, el ar quitecto diseñó un mur o estucado  para a poyar  el f ragmento original de 

viga, completándolo con una r einter  pr etación en escayola con el texto r estante en 

 ba jorr elieve, ideando en el  panel explicativo un ingenioso sistema de color es sobr e la 

r epr oducción del di bu jo original de la f achada en el s. XVIII  para entender  el origen 

de la viga y sus signif icado. 

Ya a par ece en  la entrada y car teles, así como en cristales y dif uminador es de  luz,  la 

nueva imagen gr áf ica institucional. 

S ala de oración.

Al ser  el centr o de inter és de la mayor ía de los visitantes el ob jetivo de la instalación 

museogr áf ica  es  pasar   lo más desa per ci bida  posi ble  para  poder  obser var   la  sala  sin 

elementos distor sionantes. Sólo en  la  par ed oeste,  la  trasera, se  r ealiza una  pequeña 

inter vención  para explicar   la historia del edif icio con cuatr o  paneles y una maqueta, 

así como un  banco corrido que da unidad al con junto y per mite una zona de descanso. 

Así mismo  se musealiza  con  otr o  panel,  en  este  caso  horizontal,  la  zona  del  suelo 

 primitivo y se a pr ovecha  para explicar  allí las inscri pciones hebr eas de la sinagoga. 

A pr ovechando las obras se ilumina el ar tesonado  para  poder  contemplar  la  policr omía 

r ecién r estaurada, y se esconden las luminarias en los tirantes del  pr opio ar tesonado. 

Se  hace  lo   pr opio   para  iluminar   la   par ed  este  y se   per mite  con  esta  mínima 

inter vención  que  la  sala   pueda  tener   usos   polivalentes,  desde  conf er encias  a 

concier tos, teatr o etc. 

S alas del M useo.

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Se  pr etende una acción unitaria en las tr es salas  para que  puedan entender se como un 

único espacio. Para ello se adopta una solución que enlaza  las  tr es salas a modo de 

zócalo  continuo  y dada  la  gran  variedad  de   piezas,  tanto  en  tamaño  como  en 

materiales, la gran cantidad de  paneles inf or mativos y las condiciones mar cados  por  el 

 poco espacio, se decide instalar  vitrinas  par ed. 

Dichas vitrinas-par ed se  plantean mediante una serie de machones en madera de haya 

que  además  de  ser vir   como  elemento  estr uctural  sir ven  de  elemento  dif er enciador  

entr e  los distintos  temas; uniendo  estos machones  se  cr ea una  cor nisa que  sir ve de 

sopor te al nombr e de cada  sala, que además oculta  la maquinaria  y el engrana je de 

a per tura y cierr e, iluminación, seguridad y climatización; ba jo esta cor nisa se or ganiza 

un  panel en el que a par ecer án los textos e imágenes del discur so museológico. 

Al  interior   las  piezas  se  exponen  en  baldas  de  vidrio,  su jetas  a  la  par ed  por   un 

ingenioso  sistema  de  vástagos  cr omados  ator nillados  en  las  calizas  que  f or man  la 

 par ed de la vitrina. 

 Patios.

La museograf ía del “ J ardín de la M emoria” debía r ef le jar  en el  patio Nor te un gran 

r espeto  por  las laudas sepulcrales,  pues más allá de un r esto ar queológico son un canto 

f unerario  en  honor   de  los  dif untos  con  cuantas  vir tudes   pueden  ensalzar   su 

 per sonalidad; se  trata de documentos humanos  y literarios de  pr of undo  lirismo que 

nos acer can al acendrado espíritu r eligioso de los judíos. 

El  jar dín  se  or ganizó  como  una  exposición  de  lá pidas  sepulcrales  distri buidas 

r egular mente y orientadas al este, y cada una va acompañada de una r eseña serigr áf ica 

en una  placa de  latón,  situada  en  el  extr emo de dos  pletinas de hierr o.  Las  lá pidas 

r eposan sobr e una  base de acer o, con gomas en  su  par te  superior   para no dañar   las 

lá pidas al colocar las. 

En  el  ár ea  de  descanso  entr e  la  sala  III  y el  patio  Este  se  diseñó  una maqueta  de 

Toledo en madera que  r epr oduce  la ciudad  y sobr e  todo  la  juder ía en el s.XIV  para 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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que los visitantes tengan una sensación visual del espacio-tiempo en el que se inser tan 

la mayor ía de las  piezas de la sala III. Esta maqueta además se  puede ver  desde el 

exterior  del Museo  ba jo un gran  paño de már mol  blanco con la inscri pción y logoti po 

institucional, con el f in de ser vir  de  punto de atención en la calle  posterior  al Museo 

donde ese detalle sir ve como anuncio y r eclamo de su  pr oximidad. 

El  Patio  Este  no   pudo  ser   convenientemente  dotado  de  mobiliario  exterior ,  y

simplemente  quedó  como  un  ár ea  de  paso,  más  que  como  una  zona  de  descanso 

 pr opiamente dicha,  por  f alta de  pr esupuesto. Sólo un  pequeño  panel explica ba junto a 

la excavación los r esultados de nuestras investigaciones. 

C apilla Gótica y Galería de M u jeres.

Una museograf ía tenue, tanto en iluminación como en inf or mación, se imponía en esta 

zona de  paso entr e la Galer ía de Mu jer es y la tienda. Por  ello decidimos r ealizar  una 

escenograf ía visual mediante una vitrina maclada con dos  tra jes de novios sef ar díes 

del Nor te de Áf rica y un  br eve,  per o meditado texto explicativo sobr e los sef ar díes. 

En  la  subida a  la Galer ía de Mu jer es a par ecen  f otograf ías  r elacionadas con mu jer es 

sef ar díes. 

En la Galer ía  pr opiamente dicha se r ealizar on dos ti pos de implantación museogr áf ica, 

unos  paneles horizontales  para explicar  la diáspora sef ar dí y los Judíos en la España 

Moder na y Contempor ánea y cuatr o vitrinas  paralepi pédicas (doble cubo) en el centr o 

de  la  sala,  para  per mitir  un  tr ánsito  f luido  y tenuemente  iluminadas  por   razones de 

conser vación y para garantizar  cier to r ecogimiento, a modo de sala oscura con cuatr o 

vitrinas iluminadas especialmente con f i bra óptica. 

Los laterales y techos de las vitrinas eran de vidrio laminado  para aligerar  al máximo 

el ef ecto visual y en el interior  unos  paneles de cha pa  por  ambas caras, que a brazan un 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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alma de ta bler o, ocupan distintas  posiciones sobr e una r etícula trazada en el suelo de 

la vitrina. Una serie de orif icios  practicados en los  paneles  per mitan asociar  a los 

mismos,  por  medio  de  unas  piezas  de  engar ce  cr omadas,  las  baldas  de  vidrio  para 

sopor tar  los dif er entes ob jetos. 

Entr e  los  años 1994 y 2002, casi diez años,  el  tiempo  razona ble,  según  K . Hudson 

 para  r evisar   monta jes49  pasar on  por   nuestr o  Museo  alr ededor   de  dos  millones  de 

visitantes  que  pr ovocar on un deterior o  en  algunos de  los  elementos museogr áf icos. 

Unido este hecho a una serie de  pr oblemas graves como la a parición de goteras en la 

 pr opia sinagoga o  la  f alta de estanqueidad de  las vitrinas de  las salas del Museo,  lo 

que  ocasiona ba  pr oblemas  de mantenimiento  y de  climatización,  así  como  el  total 

desgaste  de  la  escalera  de  madera  de  subida  a  la  Galer ía  de  Mu jer es,  nos  llevó  a 

 plantear  un Pr oyecto  puntual  de R enovación Museogr áf ica y Museológica. 

Para acometer  las obras se decidió cerrar  el Museo al  público el día 1 de Octubr e del 

2002,  ya  que  la  comple jidad  de  las  obras  y el  hecho  de  tener   que  levantar   por  

completo  el  te jado de  la  pr opia  sinagoga hacían  imposi ble  su visita.  A pr ovechando 

este momento  se  incor  porar on nuevas  instalaciones  audiovisuales  y de  f i bra óptica, 

que  r equer ían  canalizaciones  especiales  y se  r eor ganizar on  espacios,  teniendo  en 

cuenta  la  experiencia  de  las  visitas  r eci bidas  para  corr egir   algunos  planteamientos 

museogr áf icos  y  por   e jemplo  eliminar   algunas   barr eras  ar quitectónicas   para 

disca pacitados. Este  pr oyecto f ue dirigido  por  el ar quitecto D. Jor ge R uiz Ampuer o, 

que  r espetó  las  líneas  generales  del  anterior   pr oyecto museogr áf ico,  destacando  su 

inter vención en la Galer ía de Mu jer es. 

49)Hudson, K: Museums of  Inf luence. Univer sity Pr ess. (Cambrige, 1987). 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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 Naturalmente el  pr oyecto museológico se volvió a r enovar  con el mismo esquema del 

Conse jo Científ ico Asesor  como consecuencia de la adquisición de nuevas  piezas y de 

nuevas  investigaciones50que  hacían  necesario  r enovar   algunos  de  los   paneles 

inf or mativos del Museo,  por  e jemplo en el caso de  la Sinagoga de Elche, se ha bían 

 pr oducido nuevas excavaciones y r einter  pr etaciones, que hacían necesaria una  puesta 

al día51. 

R ealizamos una  br eve desri pción de las modif icaciones r ealizadas en el 

 pr oyecto 2002-2004. 

V estibulo y  Area de acogida.

Se r ealiza en la entrada una rampa de acceso  para minusválidos esta ble,  per o ligera y

se coloca nueva car teler ía exterior . 

Entr e  las  puer tas de acceso originales del edif icio y el ár ea de acogida se  r ealiza un 

vestíbulo  pr evio con  las corr espondientes  puer tas de entrada y salida,  incluyendo un 

 panel  inf or mativo,  instalando  además  en  el  techo  para  r esolver   los  pr oblemas  de 

estanqueidad una cor tina de air e ti po “Air F low”.

Se coloca un f elpudo doble de vinilo con el logoti po del Museo serigraf iado a modo 

de  bienvenida. 

50) Villaver de Vega, N: Tingitana en la Antigüedad Tardí a (siglos III-VII). Edit. R . A. de la Historia. (Madrid, 2001).Págs. 85 a 91. 

51) Poveda Navarr o, A: “E l Obispado de  I lici”, Los orígenes del cristianismo. Edit. Univ. Alicante. Págs. 80 a 95. 

Már quez Víllora, J y Póveda Navarr o, A: “ E  spacio religioso y cultura material en  I lici (ss.  I V - V  II  d.C  )” , V Reunió d, Arqueologí a cristiana Hispánica. Institut  d’Estudis Catalans.(Bar celona, 2000). Págs. 185-198. 

R amos Fer nández, R: “N otas sobre la basílica paleocristiana de  E lche” , Actas  del XXICongreso Nacional de Arqueologí a. Edit. Gobier no de Aragón. Tomo  III. (Zaragoza, 1995). Págs. 1231-1233. 

 Noy, D: Jewish Inscriptions of  Western Europa, 1.Italy, Spain and Gaul.  Edit. Cambridge Univ. Pr ess. (Cambridge, 1993). 

R utger s, L: The Hilden Heritage of  Diáspora Judaism. (Leuven, 1998). Págs.  97-123. Hachlili, R:Ancient Synagogues in Israel (III-VII d.C). BAR Inter national 

Series. (Haif a, 1989). 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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En el vestíbulo se  practicar on excavaciones ar queológicas que  per mitier on delimitar  

un nuevo espacio con r estos ar queológicos, al que  pueden acceder  los investigador es, 

y que sir ve de almacén de entradas y f olletos explicativos  para la taquilla, ha bilitado 

mediante una nueva escalera y un cierr e  practica ble de madera. 

Una nueva adquisición, un cuadr o de Jer usalén, acompaña al  panel de la f achada de la 

sinagoga y de la viga con inscri pción hebr ea. 

S ala de Oración.

El  gr ueso  de  la  actuación  se  centr ó  en  la  cubier ta  de  la  Gran  Sala  donde  se 

constr uyer on unos nuevos f aldones que incor  poran una ca pa imper mea bilizante y un 

aislante tér mico que optimiza  para siempr e la climatización del edif icio. 

Esta  actuación,  que  obligó  a  levantar   y r econstr uir   todo  el  te jado  para  evitar   las 

f iltraciones  de  agua   pr ovocó  una  nueva  inter vención  sobr e  las  yeser ías  y el 

ar tesonado. 

Se  pr ocedió a una  limpieza exhaustiva  y generalizada de  las  yeser ías  y se  r evisó el 

estado de conser vación de  lo r estaurado en el  pr oyecto del 1985-1994. En cuanto al 

ar tesonado,  que  ha bía  suf rido  dir ectamente  las  f iltraciones  de  agua,   pr ovocando 

manchas  puntuales,  con  el  desplazamiento  de  algunas  ta blas  originales,  hubo  que 

ef ectuar    pequeñas  inter venciones,  además  de  la  limpieza  y se  volvió  a  dar   los 

tratamientos antixilóf agos así como a dar  un  bar niz de  pr otección. 

Se  a pr ovechar on  los  andamios   para  sustituir   la  iluminación  de  los  tirantes  y

 pr opor cionar  una luz más cálida y menos f r ía que la utilizada en el  primer  monta je. 

Se instalar on así mismo disuasor es de vidrio  practica bles y anclados en el suelo  para 

 pr oteger   las  yeser ías  en  los  pasos  de  la  Gran  Sala  a  la  Ca pilla  Gótica.  Asimismo, 

después de la excavación de la Gran Sala se  pr ocedió a sustituir  el antiguo  pavimento 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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 por   uno  nuevo,  ya  implantado  en  las  obras  de  r emodelación  de  la  mezquita  de 

Cór doba.  Se  pr otegió  la  zona de  pavimento original  con una  barandilla  ligera  y se 

iluminó con cinco  pr oyector es especiales con f iltr os de r ecor te y  pantallas  para evitar  

el deslumbramiento. 

S alas del M useo.

Las r eparaciones af ectar on f undamentalmente al con junto de las vitrinas  para eliminar  

los  pr oblemas  de  estanqueidad,  las  dif icultades  para  su  a per tura  y el  acceso  a  las 

mismas,  la  def iciente  iluminación  y la  actualización  de  los  elementos  gr áf icos 

explicativos. 

Una  gran novedad  desde  el  punto de vista museogr áf ico,  consistió  en  conver tir   las 

 puer tas del  panel delanter o de cristal en ho jas a bati bles  (a  pesar  de su gran  tamaño) 

sobr e  un  e je  con   bisagra  especial,  impor tado  de  la  museograf ía  neozelandesa 

(Manf r ed Frank de “ I nterium”). 

Anterior mente  a  este  pr oceso  y a  la  r etirada de  las  antiguas vitrinas  se  acometió  el 

empotramiento del  ca bleado de seguridad, iluminación, multimedia y megaf onía. Se 

conser var on, sin embar go, los  paneles de madera y las sola pas originales del  pr oyecto 

de Frade  para seguir  garantizando la unicidad del con junto. En r esumen, el “vestido”

era  el mismo,  per o  por   dentr o  se  r enovar on  por   completo  y se  r esolvier on  así  los 

 pr oblemas de estanqueidad y a per tura, que tantos quebrader os de ca beza dier on  para 

la conser vacion-r estuaración. 

 Patios y  Á reas de Descanso.

Las  puer tas  de  los  patios  se  ha bían  degradado  completamente  por   el  uso  y se  ha 

 pr ocedido a su sustitución. Por  otr o lado una rampa de nueva constr ucción  per mite a 

los disca pacitados el acceso al  patio Nor te o “ J ardín de la M emoria”. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Se ha  instalado nuevo mobiliario de descanso  de  exterior es  y se ha  constr uido una 

 pér gola en el  patio Este, muy necesaria en época estival,  para tamizar  la luz. 

C apilla Gótica y Galería de M u jeres.

Se trata del espacio más af ectado  por  la r ef or ma ya que  pr ácticamente se dota de una 

nueva escalera, en la que se sustituyen  los escalones de madera  por   losas de granito 

a bu jar dadas  para evitar  el desgaste. 

En la Galer ía desa par ecen las anterior es vitrinas centrales en f or ma de doble cubo y se 

sustituyen  por  otras vitrinas-par ed, similar es a las del r esto del Museo, laterales, con el 

mismo y novedoso sistema de a per tura. En este espacio se han incor  porado numer osas 

 piezas nuevas y se a pr ovecha  para sustituir  el f also techo  por  uno de tono más neutr o, 

se r epasa la tarima f lotante y se instalan sistemas de multimedia en las  pr opias vitrinas 

mediante  pantallas  planas,  per f ectamente integradas en el con junto, que ahora  per mite 

un  r ecorrido  sin obstáculos  y una contemplación meridiana de  la  sinagoga desde  la 

 pr opia Galer ía. Unos  pequeños  bancos y una serie de  pequeñas vitrinas, a pr ovechando 

los machones de las columnas nos acer can al mundo de la lengua y la literatura o la 

 pr ensa sef ar dí. 

T ienda.

Se trata de uno de los espacios con más af luencia del Museo, un  punto de inf or mación 

impor tante sobr e el mundo sef ar dí, con una gran demanda de música, historia y todo 

lo r elacionado con la antr opología del judaísmo, desde las costumbr es alimentar ías y

la cocina a  la vida cotidiana. Un nuevo diseño y una suger ente ar quitectura  interior  

han ampliado considera blemente el espacio de venta. 

Fr ente a ella se instalan dos  puntos de inf or mación de multimedia de li br e acceso  para 

el  público  con  consultas  a bier tas  sobr e  los  f ondos  del museo  o  la  cultura  judía  en 

general, onomástica, cocina, museos judíos etc. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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En suma con este nuevo Pr oyecto el Museo ha  pr etendido me jorar  sus  pr estaciones al 

Público  y desde  su  a per tura  el  17  de  Noviembr e  del  2004,  hemos  aumentado  la 

cantidad y calidad de nuestra visita a briendo hasta  las 9 de  la noche desde Mar zo a 

 Noviembr e, con novedades como Las Noches de los Museos de la Juder ía de Toledo, 

con a per turas extraor dinarias de 10 a 12 de la noche en los meses estivales. 

El Museo está ahora en condiciones de of r ecer  una of er ta de calidad a sus visitantes y

el f utur o en el que ya estamos tra ba jando  pasa  por  la ampliación de nuestr os ser vicios 

y actividades,  para  lo  que  ya  el  Ministerio  ha  adquirido  una  tienda  y unas  casas, 

colindantes  con  el  centr o   para  constr uir   una  sala  multiusos   para  exposiciones 

temporales, multimedia,  taller es didácticos y nuevas zonas administrativas con el f in 

único de seguir  atendiendo a nuestr o cada vez más variado y exigente  publico. 

Detalle Yeser ía decorativa 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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 Excavacion ar queológica Patio Este 

Sinagoga en 1911 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Exterior  de la Sinagoga del Transito 

Fr ontal de la sinagoga 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Galer ía de mu jer es, ciclo vital y f estivo 

Los sef ar díes 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Patio Nor te, Jar dín de la memoria 

Pileta trilingüe, logoti po institucional 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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R estauración del ar tesanado de la gran Sala de Oración 

Sala 2, monta je actual 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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JUDAÍSMO E AR QUITECTURA VERNÁCULA CIVIL NA BEIRA INTER IOR  QUINHENTISTA 

Ar q. José da Conceição Af onso 

Intr odução 

A Beira  Interior   de  Por tugal  é  indiscutivelmente  uma  r egião  com  tradições 

multiculturais,  com  r ef lexos dif er enciados nas  f or mas do ha bitat.  A pesar  de  se  poder  

considerar  que a  pr esença  judaica nesta  r egião se verif icava com algum signif icado  já

no séc. XII, f oi essencialmente a  par tir  de 1492, com a entrada massiva em Por tugal de 

cer ca de 120.000 r ef ugiados sef ar ditas expulsos  pelos r éis católicos de Espanha, que o 

 panorama  da  Beira  Interior   em  ter mos  ur  banos,  culturais,  económicos  e  sociais  se 

alter ou  radicalmente.  O  património  legado  pelos  muitos  judeus  que  se  r ef ugiaram  e 

f ixaram nas zonas de f r onteira é  por  isso vastíssimo em todos os campos da actividade 

humana na Beira Interior , a pesar  de incrivelmente ta pado, escondido, inconsciente, com 

ele  tantas  vezes  na  f r ente  dos  olhos  sem  que  tenhamos  consciência  disso.  Alguns 

historiador es  consideram que os  judeus  chegaram  a  constituir   ¼ da nossa  população;

Por tugal era então conhecido no mundo  pelo País dos judeus. 

R ef er enciam-se  um  con junto  de   princípios  da  cultura  judaica  no  ur  banismo  e 

ar quitectura do ocidente,  sintetizados  por  Br uno Zevi,  judeu  italiano, um dos maior es 

ar quitectos  do  séc.  XX,  historiador   e  teórico  da  ar quitectura.  Foi  a   par tir   desses 

 princípios, enquanto instr umentos metodológicos e de análise, que se caracterizaram as 

linguagens do ur  banismo  e  da  ar quitectura  judaica na Beira  Interior   de Por tugal, dos 

começos  do  século  XVI  a  meados  do  século  XVII,  mostrando-se  a  sua   pr ovável 

evolução ti pológica e a pr esentando-se casos exemplif icativos. 

Diga-se ainda que a  publicação “Ar quitectura Popular  em Por tugal”, do antigo Sindicato 

dos  Ar quitectos,  r esume  a  inf luência  do  judaísmo  na  ar quitectura  por tuguesa  a  uma 

simples  página,  sendo  pr ovável  que  a  inquisição  salazarista dia bolisando  esta  cultura 

não  per mitisse que se f osse mais longe. A  pr esente comunicação, ainda que conf inando 

a sua incidência à ár ea geogr áf ica da Beira Interior , r ompe de vez com tal visão r estrita 

e vem mostrar  que o judaísmo no nosso País  pr oduziu uma autêntica r evolução ur  bana, 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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quer  quanto a ti pologias de ha bitação, quer  quanto ao aumento  populacional verif icado 

durante os sécs. XVI e XVII. 

METODOLOGIA DE I NVESTIGAÇÃO A PARTIR DE BRUNO ZEVI 

•  Pode  existir   uma  casa,  uma  r ua,  um   bairr o,  nunca  ha bitados   por   judeus, 

 pr oduzidos ou não  por  judeus, r ef lectir  a mensagem do judaísmo no ur  banismo e 

ou na ar quitectura?

R: pode!

 Negá-lo,  seria  negar  no ocidente, o  pa pel  inf luente, motor   e  activo da  cultura 

 judaica sobr e outras culturas e economias, mesmo as opostas, ao longo do devir  

histórico. Seria considerar  o judaísmo como uma cultura  passiva, quando na sua 

essência é uma cultura voltada  para a acção. 

 Negá-lo,  seria  negar   que  no  devir   da  história  do  ur  banismo  e  ar quitectura  do 

ocidente, a mensagem da cultura judaica, através daquilo que mais a caracteriza, 

a  temporalização  do  espaço,  está  pr esente  no  ver náculo,  no  gótico,  no 

maneirismo,  no   barr oco,  no  expr essionismo,  no  or ganicismo  e  no 

desconstr utivismo;

•  Podem ar quitectos não  judeus,  ela borar   pr o jectos de ur  banismo  e ar quitectura, 

de acor do com a mensagem judaica?

R: pode!

 Negá-lo,  signif icaria  por   exemplo,  que  toda  a  obra  do  ar quitecto  não  judeu, 

Frank Loyd Wright, em especial a  f amosa Casa da Cascata e o Gugenheim de 

 Nova Ior que, não são disso r ef lexo. Seria negar  que Le Cor  busier , não judeu, em 

Le  R onchamp,  seguiu  a  mensagem  judaica  da  temporalização  do  espaço,  do 

or ganicismo, do anti-plano, e da irr egularidade geométrica. 

•  Pode  existir   uma  casa,  uma  r ua,  um  quar teir ão,   bairr o,  cu jo   pr o jecto  de 

ar quitecto judeu, ou mandado constr uir   por  judeus, não r ef licta a mensagem do 

 judaísmo no ur  banismo e ou na ar quitectura?

R: pode!

Existem, como af ir ma Br uno Zevi, exemplos disso em Israel. 

•  Um historiador   pode  pr ovar   através de documentação  escrita que deter minado 

edif ício f oi ha bitado ou  pr o jectado  por  judeus; contudo, tal f acto não  pr ova que 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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esse mesmo edif ício se ja expr essão ar quitectónica de judaísmo enquanto cultura 

e ar te. 

•  Para  um  “historiador   ar quitecto”,   para  além  da  documentação  escrita  ou 

desenhada que ha ja,  inter essa-lhe  sobr etudo,  sa ber   se o  edif ício  em  análise  se 

situa dentr o deste ou daquele f io condutor  de cultura, clássica ou judaica, qual a 

sua datação,  e  se no  todo ou  em  par te  é ou não  r ef lexo dessa mesma  cultura. 

Sa ber   ver   a  ar quitectura  é  tão  impor tante  como  sa ber   ler   e  inter  pr etar   um 

documento escrito. 

•  O que essencialmente nos inter essa, é sa ber  se deter minada casa ha bitada ou não 

 por   judeus,  pr oduzida  ou  não  por   judeus,  obedece  ou  não  aos  princípios  que 

segundo Br uno  Zevi,  nor teiam  a  cultura  judaica  na  ar quitectura  de  uma  dada 

época. 

•  A a bor dagem  ao  tema  “Judaísmo  e  Ar quitectura  Ver nácula  Civil  na  Beira 

Interior  Quinhentista”,  perante  a  extensão geogr áf ica da  investigação,  seria de 

todo impossível a  par tir  de simples f ontes escritas sobr e as casas ainda existentes 

que  ter ão  sido  pr opriedade ou  ha bitadas  por   judeus.  No  máximo,  as  f ontes 

escritas,  sendo  impor tantes,  poder ão  pr ovar   ou  não  que  deter minada  casa  f oi 

ha bitada  por   judeus mas  isso nada nos diz sobr e se essa mesma casa segue as 

linguagens  e  as  inf luências da  mensagem  judaica  na  ar quitectura.  Acr esce  o 

f acto de ser   pr evisível que r elativamente ao con junto vastíssimo de ar quitectura 

civil quinhentista na Beira  Interior  de Por tugal,  as  f ontes  escritas da  época  só 

 possam cobrir  uma ínf ima  par te desse todo existente. R ecorr eu-se  por  isso a um 

outr o  ti po  de  a bor dagem  e  uma  outra  metodologia,  pr óprias  da  história  da 

ar quitectura,  que  consiste  no  caso   pr esente  em  especif icar   os   princípios 

caracterizador es  da  cultura  judaica  que  se  r ef lectem  no  ur  banismo  e  na 

ar quitectura ao longo das várias épocas. 

•  O método  de  investigação  e  a  caracterização dos  princípios  em que  assenta  a 

cultura  judaica,  enquanto  instr umentos que  possi bilitem  a  análise  a  a plicar  na 

ar quitectura ver nácula da Beira  Interior  de Por tugal,  seguem o  pensamento de 

Br uno Zevi,  judeu  italiano, um dos maior es ar quitectos historiador  e cr ítico do 

século XX, autor  de “Ar quitectura e Judaísmo: Mendelsohn”(1) 

( 1 ) “ Bruno Z evi -  Ar quitectura  e  Judaísmo: Mendelsohn,  Editora  Per spectiva, 

São Paulo, 2002, 253 pp., ilustrado www.editora per spectiva.com.br  .”

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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•  R ef ira-se  contudo  que  é  da  maior   r elevância   para  o  a pr of undamento  desta 

temática que se f aça sempr e que  possível o conf r onto entr e os dados da história 

da ar quitectura  com os dados conhecidos, caso  a caso, da história  escrita e da 

ar queologia. 

•  Os  estudos  que  dentr o  da  temática  específ ica  do  “Judaísmo: Ur  banismo  e 

Ar quitectura” vêm  sendo desenvolvidos na Beira  Interior , dividem-se  em dois 

ti pos quanto à extensão da ár ea geogr áf ica a brangida:

1)  Investigação à escala de toda a Beira Interior  (Distritos de Castelo Branco e 

Guar da).  Estes  estudos,  de  que  estou  na  origem  dentr o  da  temática  da 

ar quitectura  ver nácula,  f oram  de  algum  modo  incentivados,  dir ecta  ou 

indir ectamente  pelos tra balhos quer  do âmbito da  pesquisa histórica quer  da 

ar queologia,  desenvolvidos  r espectivamente   pela  Pr of .  Dr . ª Antonieta 

Gar cia,  e  pelas  Dr . ª Car men  Ballester os  e  Dr . ª Car la  Santos,  quer   pelos 

contri butos sobr e cultura judaica dados  pelo Ar qt.º Caria Mendes, quer  ainda 

 pelos r esultados das  pesquisas do Ar qt.º Vasco Morais Soar es sobr e a R ua da 

Judiaria, no âmbito do Plano de Por menor  de Medelim  / Idanha-a- Nova de 

que é autor . 

As constatações a que cheguei dentr o duma  pesquisa em extensão geogr áf ica 

nesta  temática,  em  toda  a  Beira  Interior ,  car eciam  ser   a pr of undadas  e 

conf r ontadas com investigações de igual modo nas ár eas do ur  banismo e da 

ar quitectura,  num  con junto  de  sítios   pontualisados  e  de   pequena  escala 

geogr áf ica  e,  sempr e  que  possível,  cr uzadas  com  dados  pr ovenientes  da 

história e da ar queologia desses locais;

2)  Incentivadas  para  o  ef eito,  algumas  equi pas  técnicas  como  a  do  Dir ector  

Executivo  do  POLIS da  Guar da,  Arq.º   António M anuel. M . S araiva,  do 

G.T.L. de Belmonte na ár ea da Ar queologia,  Dr.ª   E lisabete M artins  Robalo, 

do G.T.L. do Sa bugal,  Arqª . C l áudia Quelhas, do G.T.L. da Covilhã,  Arq.º  

 Pedro F l ávio Lopes M artins, do G.T.L. do Fundão,  Arq.ª   Ana  I  sabel Aranda

e C unha e  Dr. Pedro S alvado,  f oram  extraor dinariamente  r eceptivas  ao 

estudo  da  ar quitectura  e  judaísmo  dentr o  das  suas  ár eas  de  inter venção 

ur  bana. O estudo de casos específ icos como a Judiaria e o Centr o Histórico 

da  Guar da,  as  Judiarias  da  Covilhã,  as  Judiaria  de  Trancoso,  Belmonte, 

Medelim, vêm  chegando  às mesmas  interr ogações  e  conclusões que  as  da 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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investigação que  tem  sido  levada  a ef eito  por  mim em  toda a  extensão da 

Beira Interior  e mesmo em obser vações à ar quitectura quinhentista na R aia 

de  Espanha.  Ho je,  do  séc.  XVI  a  meados  do  séc.  XVII,   pode  f alar -se 

indiscutivelmente, da existência de uma ar quitectura judaica e de inf luência 

 judaica em toda esta r egião. 

REFERÊNCIAS À OR IGEM DA PRESENÇA JUDAICA NA PENÍ NSULA

IBÉR ICA

•  “Os  judeus  penetraram  em muitas  sociedades  e  em  todas  elas deixaram  a  sua 

mar ca.” ( 2 )

( 2 ) «In Paul  J ohnson, História dos Judeus  –  edit. Imago,  p. 14» 

•  Para  se  compr eender   o  ur  banismo  e  a  ar quitectura  da  época  quinhentista  na 

Beira  Interior   de Por tugal,  ter emos  de  r ecuar   ao  per íodo  do  Al-Andalus,  cu ja 

época de our o f oi do séc. VIII ao séc. X, e ao conceito das Tr ês Culturas. 

Al-Andalus é a designação de Península Ibérica r elativa à delimitação geogr áf ica 

do  domínio muçulmano. De  711  a 1492,  teve  avanços  e  r ecuos  consoante  as 

dif er entes invasões ára bes e a linha de f r ente da r econquista cristã. 

•  É razoável supor  que os  primeir os assentamentos de judeus na Península Ibérica 

tenham  ocorrido  com  a  diáspora  depois  da  destr uição  de  Jer usalém  e  do  2.º

Templo,  no  ano  70  por   or dem  de  Tito  e  mais  tar de  em  135  por   Adriano, 

imperador  r omano. 

•  Algumas teses a pontam  para o f acto de que ter ão sido os judeus a incentivar  os 

omíadas a invadir  a Península Ibérica,  por  f or ma, a li ber tar em-se da  per seguição 

dos visigodos, depois de R ecar edo I se haver  conver tido ao cristianismo, em 587 

da E.C., no Concílio de Toledo. 

OS JUDEUS SOB O DOMÍ NIO DOS MOUROS

•  «No  ano  711  da  E.C.  deu-se  a  Invasão  muçulmana  da  Península  Ibérica,  a 

mando  de  Muza   ben  Nossair   (muçulmano),  e  de  Tarik ,   ber  ber e  que  se 

r econhecia como judeu da tri bo de Simão.» ( 3 )

( 3 ) «  I n Los  J udios en Al- Andalus, C ronología  J udeo E  spañola - T rad. Livre -http:// redraven.garcia-cuervo.com / delco.htm»

•  Os judeus f oram li ber tos da opr essão visigótica e em cer tos casos ter ão  passado 

a  cola borar   com os muçulmanos na guar da de  castelos  e  cidades.  Como  estes 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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eram  poucos  e  em  cada  cidade  que  conquistaram  necessitaram  de  a juda  para 

manter   o  contr ole militar ,  ter ão  sido  a judados  pelos  judeus  que  tiveram  uma 

opor tunidade de se li ber tar  do jugo dos visigodos. 

•  As origens  pr óximas entr e ára bes e judeus, ambos se consideram descendentes

de  Abraã o,  a judaram  em muito  a mescla  de  culturas. Durante  cer ca  de  cinco 

séculos, desenvolveu-se uma sociedade a ber ta e f or te. Os judeus f oram incluídos 

na sociedade moura do Al-Andalus e tiveram a opor tunidade de melhorar  muitos 

aspectos da sua cultura. 

•  O conceito de “Três Culturas” nasce no Al-Andalus, expr essão que designa a 

coexistência  e  inter -inf luência  entr e  ára bes,  judeus  e  cristãos,  na  Península 

Ibérica durante a época muçulmana. 

•  “Três Culturas” designa no campo r eligioso o que na Idade Média se entendia 

como  as  tr ês  r eligiões  do  Livr o: a  cristã com  a  Bíblia,  a  muçulmana  com  o 

Cor ão, e a judaica com a Tora. 

•   Na  sociedade  andaluza,  cristãos  e  judeus  f oram  considerados  dimmies,  os 

“protegidos”,  que   per tenciam  à r eligião  do  Livr o  e   possuíam  um  estatuto 

 jur ídico  e  social   pr óprio.  Foi  uma  sociedade  ur  bana,  na  qual  a  cidade  era 

dividida em  tr ês  bairr os  f undamentais, com uma  f isionomia  par ticular  segundo 

os seus morador es. 

•  Foram designados como moçárabes, ter mo ára be que signif ica “ara bizado”, os 

cristãos de origem  pr é-islâmica e os descendentes que  per maneceram dentr o da 

sociedade Andaluz, tendo sido a minoria r eligiosa mais numer osa. 

•  Os mudé jares f oram os muçulmanos que viveram nos r einos cristãos, depois da 

r econquista. 

•  Os judeus da Península Ibérica chamavam-se sef ar ditas. Sef arad, que signif ica 

“Terra  Pr ometida”,  f oi  o  nome  com  que  denominaram  a  Península  Ibérica. 

Tiveram a sua  pr ópria língua, o ladino. 

•  É  de  todo  impensável  que  os  judeus,  sendo  um  povo  voltado  essencialmente 

 para a acção, cu jos vestígios no  território que é ho je Por tugal  já r emontam há

cer ca de mil e novecentos anos, que  segundo alguns historiador es chegaram a 

ser  um quar to da  população  por tuguesa, mesmo nas  condições mais  adver sas, 

não  tenham deixado mar cas e  inf luências da sua matriz cultural e  r eligiosa, no 

nosso ur  banismo e na nossa ar quitectura. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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•  Ainda  que  os  judeus  não  se jam  conhecidos  como  ligados  tradicionalmente  às 

actividades  da  constr ução,  como  é   possível  ser -lhes  r oubada  a   par cela 

impor tante da sua r esponsa bilidade, na caracterização das cidades, vilas e aldeias 

do nosso  país, na edif icação do seu  pr óprio ha bitat?

•  Por que se continua a ignorar , no r elativo ao  património edif icado, que os judeus 

deixaram em Por tugal as mar cas f ísicas no espaço da sua  pr ópria existência, ou 

f azer  cr er  que o seu legado nesse ca pítulo é de cariz r esidual?

•  Por que continua a duvidar -se que no nosso País, a história do ur  banismo e da 

ar quitectura,  tal como em  todo o ocidente, é a história da dialéctica entr e uma 

visão helénica, clássica e estática do mundo, e uma visão dinâmica e li ber tadora 

da f or ma, or gânica, expr essionista e desconstr utivista, de origem hebraica?

•   Na Península  Ibérica, no  campo da história do ur  banismo  e da  ar quitectura,  a 

cultura islâmica não  pode ser  tida como única r esponsável  pela caracterização da 

cultura do Al-Andalus (sécs. VIII ao séc. X,  podendo contudo ser   pr olongada à

 primeira metade do séc. XIII). 

•  Os  muçulmanos  não  impuseram  o  ur  banismo  or ganicista  aos  judeus  e  aos 

cristãos; este ti po de assentamento ur  bano era intr ínseco à cultura judaica. 

•  O que  os  ára bes  f izeram  f oi  criar   uma  estr utura  administrativa  num  tecido 

ur  bano  or gânico,  cu jo  ar quéti po,  o  la birinto,  era  culturalmente  intr ínseco  a 

muçulmanos,  judeus  e  cristãos  não  r omanos,  f icando  a  cidade  or ganizada  nas 

seguintes zonas:

O Alcazar  –  zona r eduto f or tif icada e lugar  do gover nador ;

A Medina, com a mesquita, o mer cado (zoco), e os  bairr os de cada uma das tr ês 

etnias;

O Albacar  -  zona muralhada  de  ar mazenamento  da  cidade,  e  de  pr otecção  a 

camponeses e gados em caso de  perigo;

O Arrabal - subúr  bios, geralmente f ora de muralhas. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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 F1 

F1. R econstr ução zonal de cidade ára be do Al-Andalus e nor te de Áf rica 

In,  J ose M aría M . Hernandez, Historia da las For mas Ur  banas Medievales,  p.33, 

Univer sidad de Sevilla 

•  Algumas das nossas cidades medievais, a pr esentam ainda no seu traçado ur  bano, 

mar cas dos  bairr os cristãos, judeus e muçulmanos. Sa ber emos destrinçar  as suas 

caracter ísticas  ar quitectónicas,  dentr o  duma   base  ur  banística  com  muitas 

semelhanças?

•  « Na Espanha ¹ muçulmana, os judeus encontraram uma r elação simbiótica com 

o  mundo  não  judaico  que  os  envolvia.  Em  lar ga  medida,  os  muçulmanos 

exer ceram o seu  impacto  sobr e os  judeus. Alguns dos grandes er uditos  judeus 

escr everam  em  ára be.  Mas  a  inf luência  f oi muito mais  impor tante  no  sentido 

contr ário.  Pode  af ir mar -se,  a  pr opósito  disto,  que  se  o  mundo muçulmano, 

sobr etudo em Espanha¹, se desenvolveu  tanto, f oi devido ao grande númer o de 

 judeus que aí  puderam viver  livr emente.» ( 4 )

( 4 ) « Rabin  K en S  P  I  RO,  Os  Judeus  de  Espanha,  in 

http://www.lamed.f r / judaisme/Histoir e/1402.asp 

¹  Entenda-se Península Ibérica dado que a Espanha ainda não era existente. 

•  A f or ma  do  tecido  ur  bano  pode  per manecer   inalter ável  durante  séculos  ou 

milénios enquanto que a ar quitectura se altera com ra pidez. 

•  Os omíadas que invadiram a Península não f oram  pr opriamente ur  banistas nem 

constr utor es mas  sim  guerr eir os; o  tecido ur  bano or gânico  e  la bir íntico  já era 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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intr ínseco de alguns dos  povos  pr é-existentes, nomeadamente judeus, e cristãos 

não-r omanizados. 

•  Se  durante  muitos  séculos,  a   base  or ganicista  do  assentamento  ur  bano  f oi 

comum às tr ês culturas, não  poder emos af ir mar  o mesmo quanto à ar quitectura;

esta, não obstante as  inf luências mútuas, seguiu mais ra pidamente  tendências e 

 per cur sos específ icos a cada uma destas culturas. 

•  Cláudio Torr es, nas comemorações dos 800 anos de Idanha-a- Nova, af ir mou que 

durante o Al-Andalus, na Beira Interior , viviam  judeus, cristãos não r omanos e 

muçulmanos.  Tinham  em  comum,  o  car ácter   uno  de  Deus  e  o  não 

r econhecimento da Santíssima Trindade do cristianismo de R oma. 

•   Na Beira Interior  existiu uma  base cultural do Al-Andalus. Por ém, do séc. XVI à

 primeira  metade  do  séc.  XVII,  em  ter mos  muito  gerais,  pode  dizer -se  que  o 

ur  banismo  e  a  ar quitectura desta  r egião,  f oi  pr edominantemente de origem ou 

inf luência judaica,  pelas seguintes razões:

1.  Dos  árabes,  na  Beira  Interior ,  salvo  alguma  inf luência  ber  ber e  nas  zonas 

r urais, não são grandes as mar cas da sua ar quitectura do  barr o,  pr edominante a 

sul do rio Te jo como considera Or lando R i beir o. 

2.  O  cristianismo  r omano  da  f ase  da  R econquista  da  Península,  tende  a 

intr oduzir  geometria, simetria, axialidade e r egularidade na ar quitectura r eligiosa 

e civil; em Por tugal, isso verif ica-se essencialmente a  par tir  de D. Dinis. 

3. O  judaí smo,  pelo  contr ário, na  ar quitectura  civil  tende  a  expr essar -se  pela 

acentuação das  irr egularidades existentes na natur eza, desalinhamentos,  r ecusa 

de axialidades e de simetrias. 

•  As ti pologias e a linguagem ar quitectónica do séc. XVI a meados do séc. XVII, 

têm  caracter ísticas  mais  ur  banas  que  as  do  século  anterior ; a per cebemo-nos 

disso  através  de  comparação  com  as  do  Livr o  das  For talezas  de  Duar te 

D´Ar mas, ainda que os seus desenhos se jam  bastante esquematizados. A título 

de exemplo, vemos naquela obra que no séc. XV são  rar íssimas as casas com 

escadaria  exterior   e   balcão  cober to  ou  descober to,  sur gindo  este  elemento 

constr utivo de  f or ma generalizada essencialmente a  par tir  dos começos do séc. 

XVI  pela  necessidade  de  se  aumentar em  o  númer o  de  pisos  das  casas,  f r uto 

 pr ovável  dum  extraor dinário  aumento  demogr áf ico  e  de  grandes  necessidades 

ha bitacionais, r esultante da vinda massiva de judeus  para Por tugal;

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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•  Se tais ti pologias ar quitectónicas entram mesmo em r uptura com as do séc. XV

na Beira Interior , e se não manif estam ter  origem ou inf luência islâmica, também 

é  cer to  que  pelo  seu  grande  númer o  de  exemplar es,  não  f oram  trazidas  por  

cristãos mas sim  por  judeus sef ar ditas r ef ugiados de Espanha em 1492. 

•  Com tão grande númer o de judeus vindos  para Por tugal, r ef or çou-se em todo o 

 país e muito em especial na Beira Interior , a cultura ur  banística e ar quitectónica 

do Al-Andalus que nos era tradicional, agora com as especif icidades dominantes 

de uma das suas componentes, a do judaísmo. 

APONTAMENTOS SOBRE A HISTÓR IA DO UR BANISMO E

AR QUITECTURA QUI NHENTISTAS NA BEIRA I NTER IOR DE

PORTUGAL

•  Em Por tugal, durante a  Idade-Média, a  tendência  para o ur  banismo car tesiano, 

r omano,   por   via  do  cristianismo  da  f ase   pós  r econquista,  em  oposição  ao 

ur  banismo or ganicista medieval do Al-Andalus, ganhou expr essão a  par tir  do r ei 

D. Dinis (1279-1325). 

•  Em f inais do séc. XV  por  f or te inf luência r esultante da vinda massiva de judeus 

f ugidos  e  expulsos de  Espanha  pelos  r éis  católicos  (1492),  a  tendência  para  a 

r egularidade  dos  traçados  ur  banos  f oi  r etar dada  ou minimizada  em  f avor   dos 

traçados  irr egular es, la bir ínticos  e  or ganicistas; Quando  per sistem  os  traçados 

or togonais, eles tendem a modelar -se e adossar -se à topograf ia. 

•  Ao  contr ário  de  Por tugal,  no  país  vizinho,  af ir maram-se  os  traçados  ur  banos 

car tesianos  r ígidos  supor te de uma  r ígida  política  centralizadora de  contr olo  e 

gestão territorial. 

•  A chamada  ar quitectura   popular   da  Beira  Interior ,  ho je  ainda  existente, 

r econhecida  pelos  por tados  biselados quando em granito, vãos desalinhados e de 

dif er entes  dimensionamentos,  situa-se  essencialmente  entr e  começos  do  séc. 

XVI a meados do séc.XVII. 

•  Essa ar quitectura coincide  com a vinda  para Por tugal de  cer ca de 120.000 ( 5 )

r ef ugiados judeus;

( 5 ) T al estimativa resulta do cruzamento de informações e dados dos  judeus

 Abraã o Z acuto,  Damiã o de Góis, e do cura da povoaçã o espanhola de  Los

 Palacios,  André  Bernaldez.

http:// www.ensinandodesiao.org.br  /Abrad  jin / 1201.htm 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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•  Segundo  estimativas  de  alguns  historiador es  (6 ),  a  população  judaica  chegou 

então a atingir  quase 1/4 da  população  por tuguesa da época;

(6 ) in http:// www.ensinandodesiao.org.br  /Abrad  jin / 1201.htm 

•  Entr e 1496 e 1527, “cr escem mais de 60% os  princi pais núcleos ha bitacionais, 

com destaque  para a Guar da, Castelo Branco e Covilhã” (Dias, 1987,  pp. 50-51) 

•  O elevado  aumento  demogr áf ico  que  então  se  verif icou  nesta  zona  do País, 

andou concer teza associado a uma enor me  pr ocura de ha bitação. 

•  Essa   pr essão  na   pr ocura  de  alo jamento  ter á sido  tal,  que   para  além  da 

densif icação  das  antigas  judiarias,  passou  a  verif icar -se  pr esença  judaica  quer  

nas muitas “r uas novas” então constr uídas, quer  em con juntos disper sos de casas 

doutr os  arr uamentos,  quer   ainda  em  con juntos  de  casas  térr eas  de  extr ema 

 pr ecariedade, mesmo em lugar es ainda ho je quase er mos. 

•  Com a extinção das judiarias em 1496,  por  D. Manuel I, decorr eu uma disper são 

da  implantação  judaica,  agora  de  cristãos-novos,  essencialmente  pelas  ár eas 

envolventes ou conf inantes dos seus  bairr os. 

 NOTAS PARA UMA I NVESTIGAÇÃO SOBRE A PROVÁVEL

I NFLUÊNCIA DA CULTURA JUDAICA NO UR BANISMO E

AR QUITECTURA DAS DESCOBERTAS

•  Dado que só agora se dão os  primeir os  passos em Por tugal na  investigação da 

nossa ar quitectura com inf luências da cultura judaica, que  por  razões r eligiosas e 

 políticas  f oi completamente  ignorada e  lançada no esquecimento, nada se sa be 

do  impacto  desta  mesma  cultura  na  ar quitectura  e  ur  banismo  da  f ase  das 

descober tas  por tuguesas. 

•  Contudo, a cultura ur  banística e ar quitectónica do Al-Andalus, na sua ver tente 

 judaica, ter -se-á dif undido durante o séc. XVI até meados do séc. XVII, não só 

em Por tugal como  pelo mundo das nossas descober tas,  pr o jecto a que os judeus 

estiveram dir ectamente associados quer  cientif icamente e f inanceiramente, quer  

ainda  pela  sua  f ixação nessas  paragens  em  f uga  á inquisição.  Colocam-se  por  

isso as seguintes hi póteses  para  investigação e que não ca bem no âmbito deste 

tra balho:

1.  É  essencialmente na cultura  judaica ligada á s descobertas portuguesas que

reside a grande diferença na urbanística de Portugal (org ânica  /   judaica) e de

 E  spanha (hipod âmica /  crist ã  romana) até finais do séc. X V  II .

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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  2.  N os séculos  X V  I  a meados de  X V  II  , a linguagem arquitectónica das cidades

das descobertas, reflecte em parte as influências das formas de expressã o da

cultura judaica no edificado.

AS DUAS VISÕES DO MUNDO: JUDAÍSMO E CLASSICISMO

Segundo Br uno Zevi:

- O judaísmo é a cultura do tempo;

- O classicismo é a cultura do espaço;

•  Para os judeus a casa signif ica o ob jecto f r uído, o morar  ou o lugar  de r euniões. 

Um  espaço  não  utilizado  pela  comunidade,  como  encontramos  nos  templos 

egípcios e na cela do templo gr ego, é inconcebível  para os judeus. 

•  Uma ar quitectura  baseada no  pensamento  judaico é uma ar quitectura or gânica, 

viva, modelada segundo as necessidades dos utilizador es;

•  Uma ar quitectura judaica é ca paz de cr escer e de se desenvolver , livr e das leis da 

simetria,  dos  alinhamentos,  das  r elações  entr e  cheios  e  vazios,  das  r egras  da 

 per spectiva,  enf im,  uma  ar quitectura  cu ja  única  lei,  cu ja  única  or dem  é  a  da 

transf or mação. 

F2 F3

F2. Espanha / La Alber ca  –  Bairr o Novo ( judeu)  –  Séc. XVI 

Exemplo de ar quitectura or gânica,  judaica,  pensada de dentr o  para  f ora,  r esultante 

do jogo aditivo de volumes, desalinhamento de vãos e r ecusa de simetrias. 

F3. Par ténon em Atenas: nenhum elemento compositivo se  pode adicionar  ou r etirar . 

Origem da imagem in Wik i pédia, a enciclopédia livr e. 

•  Para  os  gr egos,  a  casa  ou  o  templo,  signif icam  o  ob jecto  casa  ou  o  ob jecto 

templo, o edif ício; Como consequência, a ar quitectura inspirada no  pensamento 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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helénico  baseia-se nas or dens das  colunas, nas  pr opor ções, nos  enta blamentos 

numa visão compositiva def initiva segundo a qual nada se  pode acr escentar  ou 

subtrair . 

•  O conf lito entr e  tempo e espaço é o conf lito entr e  li ber dade e contrição, entr e 

inventividade e academia; Decorr e dessa contradição entr e a cultura do  tempo 

no  judaísmo e  a  cultura  do  espaço  no  classicismo,  o  seguinte  pr oblema  no 

âmbito do desenho ur  bano e ar quitectura:

S e como na tradiçã o do classicismo a arquitectura for entendida como a arte

que tenta amarrar o tempo, ent ã o, ressalta desde logo a contradiçã o entre

 judaísmo (a cultura do tempo, do devir dos eventos e da História) e a profissã o

de arquitecto (enquanto tentativa de amarrar esse devir a um espaço imut ável e

eterno). T alvez por isso, só a partir do séc.  XX  , e essencialmente a partir dos

anos 80 , os arquitectos  judeus, imbuídos da sua própria cultura, ganharam

 pro jecçã o mundial ;  ultrapassaram tal conflitualidade, levando a dimensã o

tempo do espaço arquitectónico, ao cume das formas de expressã o. A pesar  

dessa  contradição,  o  judaísmo  mar cou  de  f or ma  r elevante  toda  a  História 

Ocidental do Ur  banismo e da Ar quitectura. 

BREVE CARACTER IZAÇÃO DA CULTURA JUDAICA, SEGUNDO BRUNO ZEVI 

1.  Não à mitif icação da cultura. 

1. a  - Decorr e do a pelo Divino  à Li ber dade, a  r ef utação de  todo o  ti po de mitos, 

inclusive o de cultura e ar te. Ninguém como os judeus sa be que no mundo, já houve 

quem  amante da  cultura,  atirasse  ser es humanos  para  as  câmaras  de gás  e  f or nos 

cr ematórios. «Nã o sou t ã o ingénuo a ponto de esquecer que o saber nã o traz automaticamente

 paz e piedade, porque  já  ocorreu na história que homens que amavam  Brahms e

Goethe tenham sido capazes de organizar campos de extermínio». 

in U mberto  E co, Discur so  pr onunciado em Jer usalém  por  ocasião da cerimónia de 

agraciamento com o título de Doutor  Honoris C ausa da Univer sidade Hebr eia. 

1.b - Não Ao Mito Da Ar te Catár tica 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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Para o judaísmo a ar te não é catár tica, no sentido mítico ou evasivo. Ao contr ário, 

como  a  ciência,  é  avessa  aos  mitos  de  qualquer   natur eza,  transcendentes  ou 

imanentes.  O judaísmo  na  ar te  a posta  no  anticlássico,  na  desestr uturação 

expr essionista da f or ma, r e jeita os f etiches ideológicos da  pr opor ção áur ea e celebra 

a r elatividade; desmente as  leis autoritárias do  belo  e opta  pela  ilegalidade  e  pela 

f alta de r egras existente na r ealidade. 

2. Celebração  dos  seguintes  princípios  do  judaísmo  no  ur  banismo  e  ar quitectura 

civil:

2.a - Do r elativismo;

É  do  a pelo  Divino  à Li ber dade  e  consequência  da  pr ópria  diáspora  que  no 

 judaísmo  enquanto  cultura,  a  história  do  pensamento,  pode  ser   per f eitamente 

r econstituída a penas  na  dialéctica  com  o  pensamento  de  várias  épocas  e  de 

 povos diver sos. Consequência dir ecta da diáspora, o judaísmo sempr e dialogou e 

teve  em  conta  as  dif er entes  atitudes  intelectuais  e  corr entes  ideológicas  e 

f ilosóf icas  no  mundo,  mesmo  as  opostas.  Avaliou  simultaneidades  e 

compati bilidades,  bem como ela bor ou ver sões actualizadas da  f ilosof ia  bíblica, 

tor nou-se   por   isso  a  Cultura  do  Relativismo.  Einstein,  inventor   da  f ísica 

r elativista, era judeu. 

2.b - Da dissonância;

 Não  é  necessário  uma  inter  pr etação  simbolista   para  se  compr eender   que  a 

emanci pação  da  dissonância  coincide  com  a  emanci pação  do  povo  judeu,  o 

elemento dissonante mais hostilizado, odiado,  escar necido  e  lesado da  cultura 

humana.  A dissonância  é  um  dos  aspectos  f undamentais  que  caracterizam  o 

 judaísmo  enquanto  cultura.  Emanci par   a  dissonância  signif ica  eliminar   as 

últimas escórias do iluminismo e do neoclassicismo O  princípio da dissonância 

está também  pr esente  na  ar quitectura  que  r ef lecte  a  mensagem  do  judaísmo 

enquanto  cultura; É  graças  a  este  princípio  que  os  judeus,  sempr e  que  em 

contexto  de  li ber dade  e  em  consonância  com  a  sua  pr ópria  matriz  cultural, 

assumem  este  princípio  como  indispensável  e  indissociável  dos  pr ocessos  de 

mudança  e  transf or mação.  Sem  dissonância,   por    pequena  que  se ja,  não  há

evolução e transf or mação na ar quitectura ou desenho ur  bano. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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2.c - Da diver sidade, dif er ença e irr egularidade 

“…não  podemos r enunciar  ao  princípio da “diver sidade”, diz Br uno Zevi, “não 

a penas  por que  é  ele  que  nos  qualif ica  ao  longo  de milénios  em  r elação  aos 

 povos escravos de r eligiões idólatras, a concepções a bsolutistas e totalitárias ou 

 postulados  científ icos  e  ar tísticos  pr etensiosos  e  f alsos,  mas  também  por que 

of er ece  uma chave  insubstituível  para  entender   as  ar ticulações,  as  inúmeras 

 posturas e os múlti plos modos de ser  judeu.” A luta judaica  pela emanci pação do 

“dif er ente”, também é  pr osseguida  pela ar quitectura. 

2.d - Da anti-simetria 

A simetria na ar quitectura anda associada às f or mas estáticas, r ígidas, e  por  isso 

a sua r e jeição na cultura ar quitectónica judaica ou de inf luência judaica civil do 

ocidente.  Na  Beira  Interior   quinhentista,  em  Por tugal,  dentr o  desta  cultura, 

 jamais sur ge uma f achada de edif ício  baseada na composição simétrica dos seus 

elementos. 

3. Inf luência Judaica na História do Ur  banismo e da Ar quitectura do  Ocidente 

Graças à cultura judaica, a história do ur  banismo e da ar quitectura do ocidente é 

a história da  luta em  tor no da  li ber tação do espaço estático,  intr oduzindo-lhe a 

dimensão tempo e o movimento. 

4. O judaísmo na Ar te é oposição ao:

•  Clássico;

•  R enascença;

•  Iluminismo;

•   Neo-clássico;

•  Cubismo 

•  R acionalismo;

•  Pós-Moder no. 

5. O judaísmo na Ar te é celebração do:

•  Espaço la bir íntico, viático, da f ase catacumbária;

•  Or ganicismo ver nacular  e er udito;

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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•  Contraste dir eccional da catedral Gótica;

•  Maneirismo;

•  Barr oco;

•  Expr essionismo;

•  Desconstr utivismo. 

F4 F5 F6 

F4  –  Em  R oma,  as catacumbas cristãs de Domitila,  r ef lectem  a concepção  la bir íntica 

das catacumbas judaicas de Tor lonia que as antecederam em cer ca de um século. 

F5  –  Planta de Toledo / Espanha - In BEAJEAU, Gar nier . CHABOT. Geor ges: (1970), 

in Tratado de Geograf ía ur  bana. Bar celona. España. Vicens Vivens. 

F6  –  Planta antiga de Trancoso / Por tugal52. 

O princípio, viático la bir íntico e catacumbário, tem pr osseguido ao longo da História do 

ur  banismo  e  ar quitectura  judaica.  É  per cebido  no  traçado  irr egular   e  la bir íntico  dos 

aglomerados  or gânicos  medievais,  nos  per cur sos  decorr entes  das  ligações  interior es 

entr e  as  casas  nos  bairr os  judeus  quinhentistas  da  Beira  Interior   de  Por tugal,  e  na 

ar quitectura de grandes criador es como Daniel Li besk ind e outr os. 

6.  Ar quitectos  contempor âneos  que  no  todo  ou  em  par te  da  sua  obra  expr essam  a 

inf luência da cultura judaica:

1. Erich Mendelson (J) - T orre de E instein em Potsdam ( 1918 )

2. Le Corbusier  –  (n/ j) -  A C apela de Ronchamp, 1950 

3. Frank  Loyd Wright  –  (n/ j) - Guggenheim M useum, NYC  , 1959 

e a C asa da C ascata,  Bear Run, P  A , 1934-37  

4. Richard Meier (J)  –  O  Ateneu da N ova Harmonia, I ndiana 197 5 a 1979 

52 Planta  publicada na obra: Trancoso  –  notas  para uma monograf ia, 1989. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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5. Peter Eisenman  (J)  –  M emorial em  Berlim à s V ítimas do Holocausto,

2005 , e o C entro U niversit ário das Artes em Atlanta, 1991 

6. Daniel Li besnk ind (J)  –  M useu  J udaico de Berlim, 2004 

7. Zvi Hecher (J) -  A partamentos em E  spiral, Ramat Gan /   I  srael, 196 3 

8. Frank Gerhy (J)  –   A C asa Dançante, Praga, 1994 

(J)  –   judeu

( N/J)  –  nã o judeu

7 . R ef lexos dos  princípios do judaísmo no ur  banismo e  ar quitectura quinhentistas na 

Beira Interior  de Por tugal 

Análise  con junta  de  casos: Belmonte,  Meda,  Penamacor ,  Castelo  Branco, 

Celorico da Beira, Covilhã, Figueira de Castelo R odrigo, Fundão, Gouveia, 

Guar da, Idanha-a- Nova, Trancoso;

7.a - Símbolos mágico-r eligiosos associados à ar quitectura na Beira Interior  

quinhentista, expr essão de  pr esença judaica :

Hanuk iahs; Menoraths; Mezuzhats; Hexagramas  (Estr ela  de  David);

Pentagramas (Selo de Salomão); Cr ucif or mes. 

Estes símbolos sur gem com maior  f r equência nas ombr eiras  biseladas e nas 

tosas das  por tas das casas quinhentistas, com vãos desalinhados de  por tas e 

 janelas. 

7.a1  –  Considerações gerais sobr e a questão dos cr ucif or mes. 

•  Existe em toda a Beira Interior , uma f or tíssima tradição oral de que casa 

com cr ucif or me/s f oi ha bitada  por  judeus. 

•  Segundo  a  tradição oral,  os  judeus,  tentando  evitar   ou  minimizar  

 per seguições, ver -se-iam obrigados a colocar  cr ucif or mes nas ombr eiras das 

 por tas das casas que ha bitavam, de  f or ma a manif estar  a  sua conver são ao 

cristianismo. 

•  Consider o, ao contr ário da  posição actual da Pr of . ª Dr . ª Maria José Ferr o 

Tavar es,  que  os  cr ucif or mes  quanto  à sua  origem  e  signif icado,  perante  a 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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f or tíssima  tradição oral,  podem  e devem  ser   analisados  como  indiciador es 

 potenciais de “casa ha bitada  por  judeus”, ainda que nem todos o se jam. 

•  Os  cr ucif or mes,  com  alguma  f r equência  são  dif icilmente  per ceptíveis 

mesmo  por  quem já este ja tr einado na sua visão, o que se consegue  por  vezes 

só com  luz rasante. Pude constatar  que existem  pessoas que convivem com 

os cr ucif or mes das ombr eiras das suas  por tas há décadas, sem que nunca se 

tenham a per cebido da sua existência. 

•  Os  cr ucif or mes  não  têm   pr opriamente  inter esse  como  elemento 

decorativo  numa  linguagem  ar quitectónica,  mas  sim  como  elemento  de 

grande  valor   simbólico  que  pode  potenciar   a  compr eensão  dessa  mesma 

linguagem do edif ício. 

•  O cr ucif or me,   pode  ainda  ter   grande  impor tância  do  ponto  de  vista 

ar queológico, histórico e etnológico,  se  f or   conf ir mado que a  tradição oral 

tem razão quanto à sua origem e signif icado. 

•  R ef ira-se também, que se o cr ucif or me é indicativo de casa ha bitada  por  

 judeus,  tal  não  é  garante  de  que  essa  mesma  casa  se ja  expr essão  de 

linguagem ar quitectónica mensagem de cultura judaica. 

•  Os  cr ucif or mes,  como  qualquer   símbolo,  em  contextos  e  épocas 

dif er entes,   podem  ter   inter  pr etações  e  signif icados  dif er entes.  Há que 

ti pif icá-los,  contextualizá-los,  inter ligá-los  e  ar ticulá-los  com outr o  ti po de 

inf or mação  e  elementos  da  ar quitectura   para  que   possamos  chegar  

 pr ogr essivamente a alguma luz sobr e o assunto. 

7.a2. –  Considerações Sobr e os Cr ucif or mes na Beira Interior  

•  Existem  com  maior   f r equência  nas  casas  das  judiarias  e  zonas 

dir ectamente envolventes, em f achadas com ombr eiras e tosas cor tadas a 45 º

em  bisel e com os vãos desalinhados; Porquê esta coincidência? 

•  Existem  cr ucif or mes  de  f or ma  muito  disper sa,  em  muito  menor  

quantidade, noutras ár eas dos tecidos históricos, em casas já com tendência 

 para  a  r egularidade  e  alinhamento  dos  vãos,  e  com  as  ombr eiras  e  tosas 

cor tadas a ângulo r ecto. 

•   Na Beira Interior , há uma grande coincidência (pr esumo cer ca de 75%) *

de mar cas  cr ucif or mes,  em  ombr eiras  ou  ver gas  biselados  de  por tados  ou 

 janelas quinhentistas. Porquê tal coincidência? 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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* S obre esta estimativa há  que proceder a um cálculo rigoroso com base

num cadastro sistemático dos casos existentes.

•  A grande  quantidade  de  casas  quinhentistas  com  (por tados  biselados, 

vãos desalinhados e ligações interior es entr e si), com cr ucif or mes ou outras 

mar cas mágico-r eligiosas, só se  pode explicar   pela vinda massiva em 1492

de  cer ca  de  120.000 sef ar ditas  de  Espanha  para  Por tugal  e  o  pr esumível 

enor me  sur to  de  constr ução  decorr ente  dum  aumento  de mais  de  60% na 

 população da Beira Interior . Sendo os cr ucif or mes coincidentes na sua maior  

 per centagem  com  o  sur to  de  constr ução  de  novas  ti pologias  e  linguagens 

ar quitectónicas  pr edominantes no séc. XVI,  pode concluir -se que andem em 

r egra  associados  a  casas  ha bitadas  ou  mandadas  constr uir    por   judeus 

conver sos. 

7.b - Caracter ísticas Que Suger em A Pr esença Ou Inf luência Do Judaísmo 

 Na Ar quitectura E Ur  banismo Da Beira Interior  Quinhentista 

7.b1  –  Caracter ísticas do Ur  banismo 

1.  Grande  compactação  ur  bana  e  traçados  or gânicos  de  arr uamentos  em 

la birinto;

2.  R ecusa  da  malha  or togonal,  mesmo  em  zonas  planas; quando  aquela 

existe como  pr é existência, é f or çada a adoçar -se à topograf ia do terr eno e a 

ganhar  sinuosidades;

3. Existem alguns  traçados de arr uamentos  em  espinha ondulada de  peixe, 

em que o eixo  princi pal ganha ondulação de  per cur so;

4. Total r ecusa de simetrias na ar quitectura civil e no ur  banismo;

5. R ecusa de f or mas r epetitivas, mesmo que dentr o da mesma ti pologia;

6. Polígonos  base de implantação das casas em f or ma tra pezoidal;

7. Ondulação do  plano das f achadas nos arr uamentos;

8. R ecusa das leis  per spécticas. 

7.b2 –  Caracter ísticas da Ar quitectura 

a) Tal como Br uno Zevi r ef er e quanto ao judaísmo na ar quitectura, também 

aqui se verif icam os  princípios da diver sidade, dif er ença, irr egularidade, não 

r epetividade e anti-simetria;

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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 b) Acentuado desalinhamento de vãos de  por tas e janelas; (F7) 

c)  Por tados   biselados,  em  r egra  com  símbolos  mágico-r eligiosos  nas 

ombr eiras ou ver gas;

d) Ligação entr e as casas, em la birinto,  pelo seu interior ;

e)  A existência  por   vezes  da  chamada  Pedra  do  Espírito  Santo  numa  das 

divisões da casa;

f ) Existência  por  vezes de ar mários de altar  ( judaicos) ou de  pedras de altar  

(de inf luência judaica, ligados ao culto do Espírito Santo);

h) For mas de  composição  aditiva, geradoras da  transf or mação  contínua da 

ar quitectura;

(F7 - con junto) - Na ar quitectura quinhentista de inf luência judaica é 

constante o  princípio do desalinhamento dos vãos. 

7.b3 –  Cri pto- judaísmo na Ar quitectura:

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

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  O ter mo  marrano,  depr eciativo,  era  r ef erido  aos  judeus  sef ar ditas  da 

Península  Ibérica,  obrigados  a  adoptar   identidade  cristã,  pela  f or ça,  como 

consequência das cr uéis  per seguições levadas a ca bo  pela inquisição. Muitos 

mantiveram  as  suas  antigas  tradições  como  cripto- judeus,  pr of essando  o 

cristianismo em  público, e o judaísmo em segr edo. 

O cripto- judaí smo, também é visível na ar quitectura da Beira Interior  a que 

chamamos  AR QUITECTURA CR IPTO-JUDAICA,  a pr esentando  esta  nos 

alçados,  princi pal e  tar doz, duas  linguagens dif er entes, a  clássica  (estática, 

obedecendo às  leis da simetria e  pensada de  f ora  para dentr o) e a or gânica 

(irr egular , dinâmica e  pensada de dentr o  para f ora). 

7.b3.a - Exemplos de Ar quitectura Cri pto-Judaica 

•  Solar  da Barr oca  Grande  / Fundão  (antes da  inter venção ar quitectónica 

r ecente); (F8) 

Verif ica-se a conf luência de linguagens judaica e clássica:

a) Na tradição do Judaísmo, o alçado tar doz do solar  da Barr oca Grande f oi 

 pensado  de  dentr o   para  f ora,  a pr esentando  os  vãos  daquela  f achada 

desalinhados;

 b) O alçado f r ontal no mesmo edif ício, segundo o classicismo,  f oi  pensado 

de f ora  para dentr o, com f or te alinhamento de vãos e obediência ao  princípio 

da simetria e axialidade na composição da f achada. 

F8

F8  –   Linguagens  ar quitectónicas  clássica  e  or gânica,  r espectivamente  nos 

alçados  princi pal e tar doz do solar  da Barr oca Grande / Fundão (séc. XVIII); no 

todo r esulta um edif ício caracter ístico do marranismo em Por tugal 

•  Solar  de Casal Vasco, concelho For nos de Algodr es. 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

76

 Na f achada  princi pal, verif ica-se o  princípio da dif er enciação do desenho de 

cada moldura de vão de  janela,  contrariando o  princípio da  r epetividade  e 

igualdade  dos  mesmos.  A caracter ística  decorativa  das  molduras 

dif er enciadas  das  janelas,  associada  ao  alinhamento  dos  vãos  (por tas  e 

 janelas)  na  f achada  princi pal  do  edif ício  expr essa  uma  tendência  para  o 

marranismo  na  ar quitectura,  isto  é,  con jugação  de  inf luências  clássica  e 

 judaica. 

7.c - Br eve Síntese da Evolução Ti pológica da Ha bitação Quinhentista com 

inf luências judaicas na Beira Interior   (F9) 

F9 (con junto)  –  Pr ovável evolução ti pológica das casas quinhentistas quanto ao númer o 

de  pisos 

As  linguagens  e  os  princípios,  os  símbolos mágico-r eligiosos  e  os  índices 

que  potenciam a  identif icação da ar quitectura  judaica quinhentista na Beira 

Interior  de Por tugal, r ef lectem-se nas seguintes ti pologias ar quitectónicas:

1 .  Casas de  piso térreo; 

2.  Casas de dois  pisos: 

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Actas das Primeiras Jor nadas do Património Judaico da Beira Interior  

77

  2.a - C om balcã o lateral direito ou esquerdo, com ou sem alpendre; 

2. b - C om balcã o de gaveto, com ou sem alpendre e com ou sem  janelas de

 gaveto; 

 A  janela de gaveto, elemento de cavidade para entrada de luz no edifício, d á 

dinâmica e movimento ao espaço interior, afunila-o, orienta o olhar de

dentro para fora no sentido do ângulo e nã o do plano, anula a percepçã o de

regularidade e estaticidade geométrica desse mesmo espaço, de acordo com

a mensagem judaica na arquitectura do séc. XV  I .

2.c - S em balcã o: 

2ca –  C om porta estreita; 

2cb –  C om uma porta estreita e outra larga.

3. Casas de três  pisos, com ou sem varanda. 

8.  Semelhanças  de  linguagens  na  ar quitectura  das  raias  de  Por tugal  e  de  Es panha 

durante o séc. XVI 

•   Na Beira  Inter ior  de Por tugal, a  par tir  dos começos do séc. XVI, as linguagens 

ar quitectónicas  a pr esentam  muitos  as pectos  semelhantes  aos  das  judiar ias  ou 

outr os locais de im plantação judaica, na R aia de Es panha. 

•  É  com pr eensível  que  f ace  às   per seguições  de  que  eram  alvo,  os  judeus 

encontrassem  nas  raias  de  Por tugal  e  de  Es panha,  um  es paço  de  r elativa 

segurança,  chegando  mesmo  a  fixar -se  em  lugar es  muito  r ecônditos  e  pouco 

acessíveis. Per seguidos, colocar -se-iam mais f acilmente em f uga e a salvo  para 

um ou outr o lado da f r onteira. 

Por  tudo isto se considera natural que num e no noutr o lado da f r onteira, existam 

tipologias  e  linguagens  de  ar quitectura,  e  outr os  as pectos  de  cultura,  muito 

semelhantes. 

9. Conclusões 

•  É muito limitada a tese de que a “casa de judeu” na Beira Inter ior , se r esume à

tipologia de  r /chão  e  1.º andar ,  com  por ta  lar ga  e  por ta  estr eita  e  janela,  sem 

 balcão, na f achada  pr incipal, tal como descr ito no levantamento da Ar quitectura 

Po pular , ela borado  pelo antigo Sindicato dos Ar quitectos Por tugueses;

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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•  Constata-se  na  Beira  Inter ior ,  a  existência  de  uma  grande  diver sidade  de 

tipologias  e  var iantes de  casa ver nácula, quinhentistas,  em  banda,  com 1  piso 

térr eo,  piso ao nível da r ua e meio  piso em cave, 2 pisos e nalguns casos 3 pisos;

•  Cada casa de  r /chão e 1.º andar   pode  ter  ou não escadar ia exter ior   saliente do 

 plano da f achada e com  balcão. 

•  O balcão tem ou não guar da e  poder á ser  co ber to ou desco ber to. 

•  A bar cando toda a com plexidade de tipologias r ef er idas, as casas que expr essam 

a cultura judaica na Beira Inter ior  Nor te e Sul são no seu con junto constr uções 

muito com pactadas, geralmente em  r ede,  por quanto  ligadas entr e  si  por   por tas 

inter ior es  em  par edes meeiras ou  confinantes,  f acilitando  a  f uga  em  per cur sos 

la bir ínticos e  pr áticas colectivas de culto em segr edo;

•  Porém,  em  cada  uma  das  tipologias  ref erida,  podemos  encontrar  nas 

ombreiras ou tosas das portas: 

Mar cas  ou  sinais  que  expr essam  a   pr esença  da  cultura  judaica  (M ezuzzas,

 Hanuk ias, M enoraths, Hexagramas, Pentagramas, C ruciformes.) 

•  Coloca-se a questão:

Foi a cultura judaica que influenciou a ar quitectura ver nácula,  po pular , da Beira 

Inter ior , ou o inver so?

Par ece  evidente,  que  o  judaísmo  influenciou  e  mar cou   pr of undamente  a 

ar quitectura civil na Beira Inter ior , durante o séc. XVI. 

•  O or ganicismo  é  uma  das  linguagens  ar quitectónicas  da  mensagem  cultural 

 judaica na  ar quitectura,  sucedendo o mesmo  com grande  par te da  ar quitectura 

ver nácula na Beira Inter ior . 

•  Segundo  Br uno  Zevi,  a  ar quitectura  civil  que  r eflecte  a  mensagem  cultural 

 judaica é evolutiva, anti-estática, es pontânea, aditiva e irr egular , tal como grande 

 par te da ar quitectura ver nácula quinhentista na Beira Inter ior , o é. 

•  A ar quitectura civil que  r eflecte a mensagem cultural  judaica  r ecusa as  leis da 

simetr ia, tal como grande  par te da ar quitectura ver nácula quinhentista na Beira 

Inter ior  as contesta. 

 N ota: em M onsanto da  Beira diz-se que a porta principal a eixo da fachada, d á 

azar ! 

•  De acor do com os  pr incípios da irr egular idade e da diver sidade, segundo Br uno 

Zevi,  caracter ísticas  essenciais  da  cultura  judaica,  as  tipologias  r ef er idas  da 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Beira Inter ior  quinhentista a pr esentam em r egra  polígonos  base de im plantação 

com f or ma irr egular , tra pezoidal;

•  A distr ibuição  dos  vãos  nas  f achadas  r ef uta  alinhamentos  hor izontais  com 

ver ticais,  ou  sim plesmente  quaisquer   alinhamentos,  introduz  movimento 

gerador de desconstrutivismo, e o seu dimensionamento ou as pecto decorativo 

é diver sificado e dif er enciado;

•  Ao  contr ár io da  ar quitectura or gânica  e  desconstr utivista  descr ita  como  sendo 

expr essão da cultura judaica,  pode o bser var -se uma outra ar quitectura ver nácula 

civil na Beira Inter ior , seguida  pelos cr istãos, com tendência  para a r egular idade 

da  f or ma dos  polígonos  base de  im plantação,  r e petitividade e alinhamento dos 

vãos  na  com posição  das  f achadas,  alinhamento  dos   planos  das  f achadas, 

existência de simetr ias e eixos  per s pécticos nas casas e arr uamentos. 

•  Ao contr ár io do  postulado deter minista quanto à r elação casa r egião ou local, a 

ar quitectura  po pular   séc. XVI na Beira  Inter ior  não  f oi cr iada de um  só golpe 

 para um só lugar , é evolutiva e dinâmica no tem po, é f or temente expr essiva da 

dimensão tempo na ar quitectura, caracter ística essencial da cultura judaica. 

•   Na  ar quitectura  ver nácula  da Beira  Inter ior ,  todos  os  edifícios  têm  identidade 

 pr ópr ia  mesmo  que  sigam  a  mesma  tipologia  e  se  encontr em  ligados 

inter ior mente entr e si; tal não suceder ia se o bedecessem a modelos. 

•  O “desconstrutivismo  natural”,  se  assim  se  pode  chamar   quando  r elativo  à

ar quitectura ver nácula de  influência  judaica na Beira  Inter ior , é  potenciado  por  

uma   postura  cultural  que  associa  or ganicismo,  liber dade  f or mal, 

desalinhamentos e economia. 

•  A cultura ar quitectónica  judaica civil,  segundo Br uno  Zevi,  é na  sua  essência, 

or gânica, expr essionista ou desconstr utivista. 

•   Na  Beira  Inter ior ,  as  tipologias  de  ar quitectura  ver nacular   aqui  r ef er idas, 

quinhentistas,  têm  que  ter   or igens  culturais; estas  são  demasiado  evidentes  e 

coincidentes com a mensagem cultural do judaísmo.

•   Na  Beira  Inter ior ,  o  ur  banismo  e  a  ar quitectura  do  judaísmo  f oram  um 

ur  banismo e ar quitectura de r esistência, de coexistência e contextualização;

•   Na cultura da Beira Inter ior  de Por tugal, uma das suas com ponentes mais r icas, 

o  judaísmo,  encontra-se  ta pado,  escondido,  em  r egra  inconsciente,  quer   pelo 

medo, quer   pela mor te da memór ia e f alsificação da histór ia.

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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JUDIAR IA DE BELMONTE – AVALIAÇÃO E REFLEXÃO SOBRE PROCESSOS DE REABILITAÇÃO. 53 

Dr . ª Elisa bete Mar tins R o balo 

Intr odução 

A pesar  dos escassos conhecimentos acer ca da  pr imitiva  pr esença judaica em Belmonte, 

o contr ibuto desta comunidade  para a histór ia da Vila é indiscutível,  pela sua  pr esença 

ainda na actualidade e  pelos vestígios deixados  por  comunidades anter ior es. 

De pois de tem pos de ocultação r eligiosa, a actual comunidade judaica de Belmonte une 

esf or ços no seu  Resgate, na sua r econver são de cr istãos-novos ou marranos ao judaísmo 

 pur o,  visto  que  anos  de  convivência  com  os  cr istãos  corr om peram  algumas  das  suas 

 pr áticas  judaicas54. Conhecendo os vestígios da sua  per sistência ao  longo dos séculos, 

sem pr e  poder emos contr ibuir   para o conhecimento da histór ia  passada dos  judeus em 

Belmonte e tam bém  para a sua histór ia f utura. 

Com este  tra balho,  pr etendeu-se  f azer  um  inventár io dos  possíveis vestígios mater iais 

ainda visíveis em Belmonte,  legados  pelas  pr imitivas  po pulações  judaicas. Analisando 

as  vár ias  eta pas  da  evolução  ur  bana  da  Vila,  tendo  em  conta  os  inúmer os  vestígios 

conhecidos,  pr etendeu-se  tam bém  lançar  hipóteses  acer ca da  localização dos diver sos 

es paços de esta belecimento de judeus. 

De  r ef er ir   que,  o  levantamento  dos motivos  cr ucif or mes  f oi  ef ectuado  no  âm bito  do 

Ga binete Técnico Local de Belmonte, que ef ectuou o Plano de Salvaguar da da Vila, no 

qual  f oram  r ef er enciados  os  vár ios  vestígios   patr imoniais   pr esentes  em  Belmonte, 

nomeadamente os judaicos. 

A Pr esença Judaica em Belmonte 

53 Na comunicação a pr esentada nas I Jor nadas de Patr imónio Judaico, em  par cer ia com o Ar qt.º Car los 

Figueir edo,  f ocaram-se  tam bém as estratégias de r ea bilitação da  judiar ia de Belmonte. No entanto, essa 

 par te não ser á r ef er ida neste ar tigo, visto o comunicante considerar  que a sua comunicação se  baseou no 

que f oi dito durante o dia das Jor nadas,  per dendo-se o essencial na  passagem  para o escr ito. A pesar  disso, 

decidiu-se manter  o título. 

54 Cr istina Nogueira, M onografia Histórica do C oncelho de  Belmonte –   N ovos C ontributos, Belmonte, 

Câmara Municipal de Belmonte, 2006,  p. 122. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Em  plena Cova da Beira, a vila de Belmonte destaca-se  pela sua exce pcional  posição 

estratégica,  não  só  pela  sua  altitude,  mas  tam bém  como  ponto  de  conver gência  de 

im por tantes  vias  antigas,  bem  como  pela  sua  boa  a ptidão  dos  solos,  a  sua  r iqueza 

mineral e a sua  pr oximidade a r ecur sos hídr icos que  ter ão contr ibuído  para que, desde 

os tem pos mais r emotos,  po pulações se tenham esta belecido em Belmonte. 

Por  todo o Concelho r egistam-se vestígios  pr é e  pr oto-histór icos, r omanos e medievais, 

que   pr ovam a   pr ef er ência  das  comunidades   pr imitivas  em  se  esta belecer em  neste 

es paço. Os judeus tam bém não devem ter  ficado indif er entes a estas condições,  pelo que 

a sua  pr esença em Belmonte deve r ecuar   bastante no tem po. 

Devido  à escassez  de  r ef er ências  documentais  e  de  vestígios,  não  se  conhece  a  data 

exacta do esta belecimento de judeus em Belmonte, no entanto, eles são citados no f oral 

de D. Sancho I (1199), o que  poder á ser  já um sinal da sua  pr esença. É de r ef er ir  que a 

 passagem onde se menciona a  palavra “judeus”, r e pete-se em outr os f orais atr ibuídos na 

época, em vár ios locais da Beira Baixa, ada ptados do f oral de Ávila;“ testemunhamos e

 para sempre confirmamos que todo o que penhorar mercadores ou via jantes crist ã os,

 judeus ou mouros, a nã o ser que se ja fiador ou devedor, todo o que isto fizer, pague ao

 Bispo 6 0 soldos e dar á em dobro o gado que tomar ao seu dono”55. 

 Não se sa be se este tr echo com pr ova a existência, já no final do século XII, de judeus 

em Belmonte, no entanto,  por  essa altura, sa be-se da existência de  po pulações judaicas 

na  Covilhã, Guar da, Gouveia, Trancoso e outras  terras da Beira. Por   isso,  é  pr ovável 

que Belmonte tivesse já a sua comunidade de judeus. 

Em 1910,  aquando da demolição da  Igr e ja de  S. Francisco  (antiga  Igr e ja do  Es pír ito 

Santo  e  Miser icór dia),  no  actual  Lar go  António  José  de  Almeida,  Francisco  Tavar es 

Pr oença  Júnior   identificou  uma  lá pide  com  caracter es  he braicos  inscr itos,  com  a 

seguinte legenda; “  E   Adonai est á no seu templo sagrado, emudece perante E le toda a

 sua terra”56 (Livr o de Ha ba buc, 2.20), que  possivelmente  per tencer ia à tor ça da  por ta 

 pr incipal da  pr imitiva sinagoga e cu ja datação r emonta a 1297 (5057 da Era he braica). 

55 David Augusto Canelo, O s últimos cripto judeus em Portugal , 2ª ed., Belmonte, Edição do Autor  com 

 patr ocínio da Câmara Municipal de Belmonte, 2001,  p. 73. 

56  I dem, ibidem,  p. 74. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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O f acto de haver  já uma sinagoga nessa altura, r eflecte a  per manência na  povoação de 

uma comunidade judaica numer osa, bem esta belecida e or ganizada. 

É  ponto  assente  que  não  ter iam  sido  os  judeus  expulsos  de  Es panha  (em  1492,  pelo 

édito de 31 de Mar ço) que f undaram a comunidade judaica de Belmonte, em bora,  pela 

 pr oximidade da f r onteira, a tivessem r ef or çado57. 

A 5 de Dezem br o de 1496 é assinado o decr eto de expulsão dos judeus em Por tugal,  por  

D. Manuel, que  ir á mudar  radicalmente a situação da comunidade judaica.  Inter essado 

no casamento com a filha dos R eis Católicos de Es panha, D. Manuel aceita a condição 

 pr o posta  -  a de  expulsar   os  judeus  do  País.  Assim,  todos  os  judeus  são  o br igados  a 

a bandonar   o  R eino  num   prazo  de  10 meses,  no  entanto,  D.  Manuel  não  estava 

inter essado  na   par tida  dos  judeus,   por   isso,  o   prazo  alar gado  de  expulsão  e  as 

conver sões  à f or ça.  Os  judeus  exer ciam   bastante  influência  em  diver sos  cam pos:

económico,   político,  social  e  cultural,  destacando-se   pelas  actividades  mer cantis, 

ar tesanais, usur ár ias e,  por  isso, a inconveniência na sua expulsão. 

Em Belmonte, o  pagamento da judenga, em 1496, confir ma que os judeus continuavam 

a viver  na localidade, mas com o decr eto de expulsão de D. Manuel e o esta belecimento 

da  Inquisição, em 1536, muitos  judeus devem  ter  a bandonado a Vila. Os que ficaram, 

 praticavam  a  sua  r eligião  em  segr edo.  Assim,  Belmonte  nunca  ter á sof r ido  um 

a bandono total dos judeus. 

Foi Samuel Schwar z que, nos anos 20 do século XX, detectou a existência de judeus em 

Belmonte; “uma comunidade bastante demarcada da comunidade católica,

conservando pr áticas, usos e costumes muito característicos que teimam em manter-

 se”58. 

Judiar ia de Belmonte 

A pós a concessão do f oral sanchino (1199) e o r econhecimento da entr ega do senhor io 

da Vila ao Bis pado de Coim bra, f omentou-se o cr escimento do  pr imitivo núcleo ur  bano 

57  I dem, ibidem,  p.73. 

58  I dem, ibidem,  p.17. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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de Belmonte,  pr ocedendo-se  tam bém  à constr ução do castelo. A Vila,  a pr oveitando  a 

dis posição  to pogr áfica  do  es paço,  expande-se  para  poente,  em  tor no  da  actual  R ua 

Dir eita,  e   para  nascente,  em  tor no  da  Igr e ja  de  S.  Tiago  e  de  Sta.  Mar ia  ( já

desa par ecida). 

Quanto  à localização da  judiar ia,  a pesar   de não  haver   cer tezas,  devido  à escassez de 

f ontes histór ico-ar queológicas, é a to ponímia, com nomes como R ua da Judiar ia, Bairr o 

de Marr ocos, que nos  poder á auxiliar  a localizar  es pacialmente a  pr imitiva Judiar ia de 

Belmonte. Esta  poder ia situar -se em tor no das actuais R ua Dir eita e R ua Fonte da R osa 

(antes R ua da Judiar ia), no inter ior  do es paço ur  bano amuralhado59. 

 No entanto, se a Sinagoga f undada em 1297 se situava no actual Lar go António José de 

Almeida, estava demasiado  longe da  pr imitiva  judiar ia,  além de que o  local  ser ia um 

sítio er mo, começando a ser  ocu pado somente a  par tir  do século XV. Ser á que existia 

uma  sinagoga  mais  antiga? Ser á que  se  constr uiu  uma  segunda  sinagoga,  de pois 

transf or mada  em  tem plo  cr istão,  no  Lar go  António  José  de  Almeida,  talvez  maior , 

r eutilizando-se  pedras de uma  pr imitiva sinagoga? Ou haver ia a penas uma sinagoga, no 

núcleo mais antigo, que f oi desmantelada a pr oveitando-se a  pedra  para a constr ução da 

Igr e ja do Es pír ito Santo? A localização dessa  possível sinagoga é ainda desconhecida. 

A sinagoga, com o Édito de Expulsão de D. Manuel (1496), f oi transf or mada em tem plo 

r eligioso  –   na  Igr e ja  do  Es pír ito  Santo,  culto  bastante  f r equente  na  época.  Alguns 

elementos ar quitectónicos manuelinos  pr ovenientes da Igr e ja, como uma  pia  ba ptismal, 

r ef or çam a ideia da transf or mação da sinagoga em tem plo r eligioso  por  essa altura. 

59 Da antiga muralha ur  bana medieval de Belmonte não há quaisquer  vestígios, nem cer tezas acer ca do 

seu  traçado. No entanto, existem documentos que  r ef er em a  sua existência  (MAR QUES, 2001,  p. 96), 

dizendo que a igr e ja de S. Tiago se situava intramur os e que a de Sta. Mar ia ficava já extramur os. 

Segundo Manuel Mar ques (MAR QUES, 2001,  p.196), que tenta r econstr uir  o  traçado da  possível cer ca 

ur  bana, esta a pr oveitar ia o desnível natural do lado sul e leste. Entr e a R ua da Fonte da R osa e o castelo, 

associada à estrada medieval que está enterrada  junto aos Chaf ar izes do Ar eal,  poder ia estar  uma  por ta. 

De pois  passar ia cer ca do cemitér io velho, acima da R ua da Corr edoura, incluía a igr e ja de S. Tiago e ir ia 

à torr e que f oi centr o dos Paços do Concelho. Estar ia aqui a  por ta da vila,  per to ou encostada ao torr eão 

da velha muralha. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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A sinagoga era o centr o da comunidade  judaica,  f uncionando como  tem plo,  tr ibunal e 

escola.  Os  açougues,  f or nos,  lagar es,  entr e  outr os  equipamentos,  eram  tam bém 

indis pensáveis  numa  judiar ia. Quanto  ao  cemitér io,  desconhece-se  a  sua  localização, 

mas ser ia, com cer teza, f ora do limite amuralhado. 

Como  já f oi  r ef er ido,  é  nos  séculos  XIV e  XV,  devido  ao  cr escimento  económico, 

demogr áfico  e  ur  bano,  que  Belmonte  começa  a  am pliar   o  seu  es paço ur  bano  para 

 poente, estr uturando-se em tor no do Lar go Af onso Costa, Praça da R e pública, R ua 1º de 

Maio, R ua do Inver no, R ua Nossa Senhora de Es perança, R ua Pedr o Álvar es Ca bral, e 

Lar go António José de Almeida, local conhecido como Devesa, onde se r ealizar iam as 

f eiras e mer cados. 

De  f acto,  o  es paço  situado  entr e  o  Lar go  Af onso  Costa  e  o  Lar go  António  José  de 

Almeida era um es paço de grande actividade comer cial e ar tesanal, a que os judeus não 

ter iam sido alheios, esta belecendo aqui um segundo núcleo ha bitacional. Além disso, a 

comunidade  local  de Belmonte,  por   esta  altura,  deve  ter   sido  engr ossada  por   judeus 

vindos de Es panha, a pós o Édito de Expulsão es panhol de 1492. 

 Nesta altura, ter ia mais lógica, a f undação de uma sinagoga no Lar go António José de 

Almeida,  pois estava mais  per to de um novo centr o de  pr esença judaica. 

Devemos  lem brar ,  no  entanto,  que  estes  locais  não  estar iam  totalmente  demar cados, 

havendo seguramente uma es pécie de coa bitação dos ha bitantes de Belmonte,  posta em 

causa a pós 1496. A pesar  de  poder  haver  arr uamentos esta belecidos e  pr é-definidos, os 

 judeus  poder iam,  pr ovavelmente, fixar -se de f or ma es pontânea e livr e entr e a  po pulação 

cr istã. 

Já que as  f ontes documentais e os vestígios  são escassos, são os motivos cr ucif or mes 

ainda  visíveis,  que  nos  poder ão  f or necer   algumas  inf or mações  acer ca  da  ocu pação 

es pacial judaica em Belmonte. No decur so do levantamento dos elementos  patr imoniais 

ef ectuado   pelo  G.T.L.,  f oi  dada  es pecial  atenção  às  cr uzes   pr esentes  nalgumas 

om br eiras de casas,  pelo que  f oi  f eito o seu  inventár io, assim como o seu decalque  e 

r egisto f otogr áfico. 

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Os motivos cr ucif or mes identificados, numa  pr imeira análise,  poder emos r ef er ir  que não 

são muito  a bundantes,  por que  alguns  f oram destr uídos  e outr os  poder ão  encontrar -se 

co ber tos com os r evestimentos moder nos das casas. 

Além dos motivos cr ucif or mes, r egistam-se ainda algumas datas e o bser va-se tam bém a 

 pr esença de casas com  por tas du plas e outr os vestígios que r eflectem o secr etismo dos 

cultos. 

Começando  pelo  núcleo  mais  antigo,  discr iminamos  no  quadr o  seguinte  os  motivos 

cr ucif or mes que são ainda visíveis:

Nome da R ua  N.º de casa  Descrição/ Localização  Dimensões (cm) 

Lar go da R ua Dir eita  96 Segundo Manuel 

Mar ques, ser ia 

aqui o  pr imitivo hos pital da Vila (MAR QUES, 2001,  p. 135) 

Motivo  cr ucif or me  sim ples  na om br eira esquer da. 

Motivo  cr ucif or me  ‘com  a bas’,  na tor ça da  por ta. 

15,5X8

16X15,5

Lar go da R ua Dir eita  108 No inter ior  do edifício, o bser va-se um es paço  com  dois  or ifícios,  que ser vir ia  para  colocar  velas  e queimar  azeite,  o  qual  estar ia  ta pado  por   um caixote, de f or ma a ocultar  a chama. 

R ua Fonte da R osa  468 Cr uz sim ples na om br eira dir eita. Cr uz sim ples na om br eira dir eita. Um r ectângulo escavado na om br eira esquer da. 

18,5X12,514,5X10

R ua Fonte da R osa  470 Cr uz sim ples, quase im per ce ptível, na om br eira dir eita. 

17X12

R ua Fonte da R osa  484 Cr uz sim ples, numa  pedra da f achada  pr incipal. 

12X9,5

R ua Fonte da R osa  455 Cr uz  com   base  em  meio  cír culo  e hastes  com  ter minação  tr iangular , associada à data 1764 (11,5X7,5 cm), na om br eira esquer da. 

20X14,5

Travessa da Fonte da R osa 

137  Data  na  om br eira  esquer da,  onde  se r econhecem  a penas  os  númer os “764”, inser idos numa moldura 

15X11,5

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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 No  segundo  núcleo  o bser vam-se  os  seguintes  motivos  cr ucif or mes,  descr itos  no 

seguinte quadr o:

Nome da R ua  N.º de casa  Descrição/ Localização  Dimensões (cm) 

Lar go de Santar ém  31  Cr uz sim ples na om br eira dir eita.  14,3X8,5

R ua do Inver no (Muitas  vezes  chamada, de pr eciativamente,  como 

R ua  do  Inf er no,  quando nela  ha bitavam  mem br os da  comunidade  judaica (Aldeias  Histór icas  de 

Por tugal, 2000,  p.101) 

51  Cr uz sim ples na om br eira esquer da de  por ta  biselada. Cr uz  com  hastes  nas   pontas,  na om br eira esquer da da  por ta. Cr uz  com  “ter minação  af unilada”na om br eira esquer da da  por ta. Cr uz sim ples na om br eira dir eita da 

 por ta  biselada. 

12,5X3

14,5X6,5

11,5X8

6X6 

R ua 1º de Maio  56  Cr uz  com   pontas  de  ter minação tr iangular   e  no  to po  um  traço o blíquo,  f or mando  outra  cr uz, situada na om br eira dir eita. 

25,5X22,5

Travessa do Corr eio  90 Cr uz sim ples na om br eira dir eita  17X12

R ua 25 de A br il  240 Data  de  “1704” (?),  na  om br eira dir eita, so b uma  base. 

6 de altura 0,4 de es pessura 

As  cr uzes  são  geralmente  sim ples,  a pr esentando  algumas  hastes  nas  pontas.  O seu 

tamanho var ia entr e os 6 e os 25,5 cm. O traço de gravação é geralmente muito irr egular  

e  tosco,  var iando  dos  0,4 aos  2,5 cm.  De  r ef er ir   tam bém  que  muitas  destas  cr uzes 

a par ecem  associadas  a   por tas   biseladas,  assim  como  a  casas  com  caracter ísticas 

comer ciais. 

Existem tam bém r ef er ências à existência de outr os motivos cr ucif or mes nas casas n.º 97 

e n.º 107 (R ua Dir eita), assim como na n.º 483 e 486 (R ua Fonte da R osa). O con junto 

de casas f or mado  pelos n.os 106, 107, 108, 109 e 110 ter iam ligação inter na entr e si, de 

modo  a  poder em  ser vir   de  esca patór ia,  caso  f ossem  detectados  nas  suas  pr áticas.  As 

casas n.º 102 e 103 e o n.º 138 tam bém ter iam ligação inter na entr e si. Nas traseiras do 

edifício n.º 138 é  possível o bser var  uma  por ta entaipada que dar ia com outr o edifício, 

ho je em r uínas. Na R ua Pedr o Álvar es Ca bral são tam bém r ef er idas cr uzes em alguns 

edifícios. 

Em Belmonte  r egistaram-se  tam bém  cr uzes  em  afloramentos  r ochosos,  talvez  com  a 

intenção de demar car  es paços e no Lagar  da Fontinha, aí em razoável quantidade. 

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De r ef er ir , no entanto, que a existência de estes motivos cr ucif or mes, que  podem estar  

associados a datas e outr os anagramas, gravados nas om br eiras de ha bitações e outr os 

es paços  públicos (f ontes, moinhos, etc), deve ser  com pr eendida como um elemento de 

cr istianização do local60. Nem sem pr e a gravação de um elemento cr ucif or me deve ser  

entendida  como  a  mar cação  de  um  es paço  de  ocu pação  judaica.  Assim  como  não 

devemos entender  todas as  por tas  biseladas e ha bitações com  por tas destinadas a local 

de comér cio como locais de judeus. 

De  r ef er ir  que o  inventár io destes motivos cr ucif or mes está a ser   r ealizado em outras 

f r eguesias, tendo sido até agora identificados mais exem plos no Colmeal da Torr e e em 

Car ia. Em Car ia sur  pr eendeu não só  pela sua a bundância como tam bém  pela var iedade 

de f or mas. A bundam no centr o histór ico da Vila, nas r uas do For no, R ua do Poço, R ua 

Dir eita, entr e outras. 

Todos  estes  elementos  constituem  vestígios  de vivências,  pelo que  a  sua  pr otecção  é 

indis pensável   para  a   pr eser vação  da  memór ia  colectiva.  Ameaçados   pela  er osão, 

a bandono, r econstr uções do edificado e  por  acções humanas, os vestígios da judiar ia de 

Belmonte  são  já escassos.  É  de  toda  a  im por tância  que  se  arran jem  soluções  que 

 per mitam  a  salvaguar da  dos  vestígios  das  comunidades  pr imitivas,  nomeadamente  a 

 judaica. Acções de  inventár io e r egisto são, com cer teza, um  pr imeir o  passo,  para que 

estes indícios não caiam no esquecimento. 

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 Actas do S impósio  I nternacional –  O s  J udeus e os Descobrimentos, Tomar ,  p. 95-100. 

SCHWARZ, Samuel (1923),  I nscrições Hebraicas em Portugal , Lis boa. 

SILVA, Joaquim Candeias da (2000),  Belmonte, C abral e o  Descobrimento do  Brasil , 

Belmonte, Câmara Municipal de Belmonte, Edição  incluída nas Comemorações do V

Centenár io da Desco ber ta do Brasil. 

TAVARES,  Joaquim  Car doso,  MAR QUES,  Manuel, S ubsídios para uma monografia

da V ila de Belmonte, 3. ª Edição, Belmonte, Câmara Municipal de Belmonte. 

TAVARES, Mar ia José Pimenta Ferr o  (1982), O s  J udeus em Portugal no S éculo  XV , 

Lis boa,  Univer sidade  Nova  de  Lis boa,  Faculdade  de  Ciências  Sociais  e  Humanas, 

Volume I. 

TAVARES, Mar ia José Pimenta Ferr o  (1982), O s  J udeus em Portugal no S éculo  XV , 

Lis boa, I. N.I.C., Vol.II. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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MAR CAS CRUCIFOR MES DE AGUIAR  DA BEIRA 

Dr . Victor  Fer nandes Dr . Miguel Leal 

A  pr esente  exposição  tem,  como   base,  os  tra balhos  de  investigação  histór ica  e 

ar queológica r ealizados  pelos  técnicos do Ga binete Técnico Local de Penaver de, entr e 

os  anos  de  2002 e  2004. Durante  a  tar ef a  de  inventar iação  do  patr imónio  histór ico-

ar queológico a brangido  pela ár ea de inter venção do GTL, deu-se conta da existência de 

inúmeras mar cas cr ucif or mes  pr esentes nas om br eiras,  bem como em outras secções de 

estr uturas ha bitacionais.  Inicialmente associadas  a um hipotético  sentido de  pr otecção 

do  es paço  ha bitacional  ou  exor cismo  contra  o  mal,  o  contacto  com  outras  teor ias, 

r elativas  a  este  tipo de  gravações,  levantou  a hipótese de  uma  associação  entr e  estas 

mar cas  e  a  pr esença  de  cr istãos-novos/cr ipto- judeus  na  r egião.  O grande  númer o  de 

mar cas existentes,  bem como a constatação da sua  pr esença em inúmer os aglomerados 

ur  banos  de  toda  a Beira  Inter ior ,  aguçou  a  nossa  cur iosidade,  tendo-se  dado  início  à

tar ef a de inventar iação ar queológica deste  patr imónio no município de Aguiar  da Beira. 

CRUCIFORMES: LOCALIZAÇÃO E TIPOLOGIAS

 Não  dis pomos  de  dados  concr etos  que  nos  per mitam  uma  associação  dir ecta  entr e  a 

existência  de mar cas  cr ucif or mes  e  a  pr esença  de  comunidades  ou  f amílias  cr istãs  -

novas.  Sa bemos,  pelos  ar quivos da  Inquisição, que  indivíduos or iundos de  Aguiar  da 

Beira  f oram  acusados  de  pr áticas  judaizantes.  Contudo,  tirando  esse  por menor ,  não 

dis pomos de quaisquer  outr os dados ou  bases documentais que confir mem a  pr esença 

de tais minor ias r eligiosas na r egião. Por  isso, há que ter  muita cautela r elativamente às 

associações que se  possam f azer , tanto mais que, como a baixo se  pode ver , a gravação 

de cr uzes  pode estar  meramente associada a f unções de invocação divina  para  pr otecção 

dos es paços e das estr uturas. 

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A maior ia das mar cas encontradas segue o modelo da cr uz latina sim ples, des pr ovidas 

de  or namentação.  Contudo,  muitos  dos  exem plar es   possuem  deter minado  tipo  de 

decoração,  possuindo  bases ou até vár ios  braços. Em alguns dos casos os cr ucif or mes 

 par ecem r emeter -nos  para a f or ma de um candela br o. 

Fonte  Ameada  da  Vila  de  Aguiar  da  Beira.  Estr utura 

 possivelmente  do  século XIV.  Ladeando  o  ar co  que  dá acesso  à

f onte de chaf ur do encontram-se duas mar cas cr ucif or mes, talvez do 

século XIV ou XV,  que  estar ão  ligadas  a  f unções  de  “ pr otecção 

contra o mal”. 

Edifí cio  em  ruí nas  na  aldeia  de  Pinheiro,  com  mar cas 

cr ucif or mes  em  am bas  as  om br eiras.  Como  se  pode ver   as 

tipologias  diver gem,   podendo-se  encontrar   numa  mesma 

casa uma cr uz latina sim ples ou uma cr uz de seis  braços com 

 base em f or ma de cír culo/tr ipé. 

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De um modo geral as gravações encontram-se em edifícios que a par entam alguma 

antiguidade,  r emontando  possivelmente  aos  séculos XVI, XVII  ou  até XVIII.  Por  

vezes,   per to  das  mar cas  cr ucif or mes   podem  encontrar -se  datas,  aludindo 

 possivelmente  ao  ano  de  constr ução  dos  edifícios.  Estas  estr uturas  inser em-se 

geralmente  naqueles  que  poder ão  ser   definidos  como  os  “núcleos  histór icos” dos 

aglomerados ur  banos. 

Habitação em ruí nas na aldeia de Cortiçada. Podem 

distinguir -se vár ias gravações de cr ucif or mes em am bas 

as om br eiras 

R esidência em avançado estado de degradação na aldeia de 

Cortiçada. Desta vez, juntamente com os cr ucif or mes  pode 

distinguir -se uma data: 17 29 

1729

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Marca crucif orme na  ombreira direita de uma entrada de 

habitação em Dornelas. A ligação entr e os vár ios  braços da 

cr uz  par ece r emeter   para uma f or ma de cálice ou de candela br o 

Habitação  em  Forninhos,  com  mar cas 

cr ucif or mes em am bas as om br eiras

Muro  de  delimitação  de  propriedade  na  aldeia  de 

Forninhos. No entanto, é  possível que a  pedra que ser ve de 

su por te  às  cr uzes  tenha  sido  r etirada  da  sua  im plantação 

or iginal, que  poder ia ser  uma ha bitação. 

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Marcas encontradas nas ombreiras de um 

solar em ruí nas, na aldeia de Valverde. As 

gravações  de  cr ucif or mes  podem  encontrar -

se  nos  mais  diver sos  tipos  de  ha bitações, 

desde as mais humildes, às mais a bastadas. 

Marca  crucif orme  encontrada  no   jardim  de  um 

particular, na aldeia de Penaverde.  A  pedra  f oi  r etirada 

da  sua  localização  or iginal.  R e pr esenta  uma  cr uz  r odeada 

 por   dois  “ postes” de  cada  lado,  sendo  o  con junto  envolto 

 por   uma  moldura  r ectangular .  Uma  leitura  mais  atenta 

 par ece  a pontar   para  uma  estilização  de  um  candela br o  de 

sete  braços, onde a cr uz ser ia o  braço central. 

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Acima: mar cas cr ucif or mes encontradas em vár ias ha bitações na aldeia de Penaver de 

Abaixo: mar cas  cr ucif or mes  numa  ha bitação  que,  su postamente,  ter á sido  o antigo  edifício  da  Câmara  e 

 pr isão de Penaver de. Uma das cr uzes é ladeada  por  dígitos,  possivelmente r elativos a uma data: 1811. 

Mar ca  no  inter ior   de  om br eira  dir eita,  na aldeia de Mosteir o. 

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Marca crucif orme na f achada principal da capela de S. Domingos, 

na  aldeia de Moreira.  Existem  vár ios  destes  exem plar es,  não  só  na 

ca pela  em  questão,  como  em  vár ios  outr os  tem plos  cr istãos.  Estes 

sím bolos estão associados às Estações da Via Sacra. 

Marca de delimitação territorial entre as f reguesias de Dornelas e 

Urgueira.  Mais  um  exem plo  de  utilização  de  mar cas  cr ucif or mes, 

desta  vez  enquanto  sinal  de  demar cação  de  terr itór io,   para  fins 

administrativos. 

Pedra  da  Cruz  da  Fortuna,  na  f reguesia  de  Carapito.  Neste 

monólito  f oram  gravadas  diver sas  cr uzes,  associadas  à su per stição 

 po pular . 

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LOCALIZAÇÃO DE MARCAS:

Em  baixo  são  a pr esentadas  as  plantas  dos  núcleos  histór icos  dos  aglomerados  ur  banos,  com  a 

indicação  das  estr uturas  onde,  até  agora,  f oram  desco ber tas  mar cas  cr ucif or mes,  sendo  estas 

identificadas  pelos  edifícios  pr eenchidos a cor .  A nosso ver   este  tipo de  localização  to pogr áfica 

f eita  por  meios  digitais  par ece-nos  essencial  para  um melhor   desenvolvimento  da  investigação 

ar queológica. Ser ia mesmo ideal que todos os esf or ços conver gissem no sentido da ela boração de 

uma  base de dados nacional, envolvendo este,  bem como outr os tipos de  patr imónio. 

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TÉCNICAS DE LEVANTAMENTO:

Achámos   por    bem  r ef er ir ,  muito   br evemente,  as  técnicas   por   nós  em pr egues  aquando  do 

levantamento das mar cas cr ucif or mes que  podem ser  a pr eciadas nesta a pr esentação. 

Para a o btenção dos desenhos, r ecorr eu-se à técnica de decalque dir ecto so br e a su per fície  pétr ea, 

usando grafite e  pa pel vegetal. Os decalques daí r esultantes f oram  poster ior mente trans postos  para 

uma  f olha  de  desenho,   pr eser vando-se  a  escala  or iginal.  Os  desenhos  o btidos  f oram, 

 poster ior mente, conver tidos em f or mato digital e incluídos numa  base de dados. Nos casos em que 

sur giram  dúvidas  r elativamente  ao  decalque  f eito  com  grafite,  f oram  executados  moldes, 

r ecorr endo-se ao  barr o ou a  pasta de moldar . As su per fícies gravadas f oram co ber tas  por   película 

ader ente (de maneira a  pr eser var  a integr idade da  pedra), so br e a qual f oi  poster ior mente a plicada a 

 pasta  de moldagem,  tendo-se  assim  o btido  um  “negativo” da mar ca.  So br e  o molde  r esultante 

ef ectuou-se,  poster ior mente, a trans posição  para  pa pel vegetal  por  meio de grafite. 

CONCLUSÃO:

A pr esentámos  aqui  alguns  exem plos  dos  diver sos  tipos  de  mar cas  cr ucif or mes  que  podem  ser  

encontrados no município de Aguiar  da Beira. Como se  pode o bser var , existem as mais distintas 

tipologias so br e as quais se  podem em pr egar  as mais diver sas teor ias e explicações:  pr otecção do 

es paço  ha bitacional,  demar cação  terr itor ial,  identificação  r eligiosa,  entr e  outras  hipóteses  que 

 poder ão  sur gir .  Não  podemos  afir mar   que  exista  uma  só  f unção  para  este  tipo  de  mar cas,  da 

mesma f or ma que não existe um tipo univer sal de estr uturas que lhes sir va de su por te. 

R elativamente  à questão da  associação  entr e  comunidades  cr ipto- judaicas  e mar cas  cr ucif or mes 

esta  é  uma  questão  que  continuar á em  a ber to.  Os  dados  que  temos  não  nos  per mitem  tirar  

conclusões  pr ecisas.  A penas o  pr osseguimento das  investigações e a desco ber ta de novos dados 

nos  per mitir ão f or necer  r es postas e colocar  novas  per guntas. Mas fica  pelo menos a satisf ação de 

sa ber  que os  pr imeir os  passos têm sido dados no âm bito da ar queologia dos “es paços domésticos”

e da histór ia cultural e das vivências sociais. R esta agora  pr osseguir  a caminhada. 

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MEDELIM - A RUA DA JUDIAR IA 

Ar qt. Vasco Morais Soar es 

BREVE RESUMO HISTÓR ICO

Medelim emer ge nas Terras de Idanha como  povoado im por tante na segunda metade do 

século  I, com a  localização de um acantonamento militar   r omano  f undado  por  Cecilio 

Metelo Pio (Cecillium Mettelum Pium) na  pr oximidade de um o ppidum  pr é-r omano em 

Monsanto. 

Considerada uma das mais im por tantes cidades da Lusitânia, era-o - como ainda ho je o 

é  -  passagem  e  cr uzamento  para  outras  terras  à ilhar ga  da  estrada  r omana,  de  longo 

cur so,  que  ligava  Emer ita  Augusta  (Mér ida)  a  Viseu.  O to pónimo  Medelim,  em 

terr itór io  da  Lusitânia,  como  Medellin  na  Bética (a  Sudeste  de Cácer es),  der iva  de 

Metellinus - o citado Quintim Cecillium Mettelum Pium, sendo  por  or dem deste que f oi 

constr uída a  r ef er ida estrada, com vár ias  pontes dentr o as quais avulta a de Alcântara. 

Vice-cônsul de cinco colónias, estas a bar cavam um vasto terr itór io, com pr eendendo as 

actuais, Andaluzia, Estr emadura, e vastas ár eas do Alente jo e da Beira Baixa. 

Fixou  a  sua  sede  em  Medellin  -  Castr um  Metellinensis,  cidade  amuralhada,  guar diã

centrada no vasto terr itór io que gover nava. Os  povos de Idanha - Igaeditane, mantinham 

r elações  pr ivilegiadas com o Sul, nas suas ligações até à f oz do Guadalquivir , sendo que 

este r io navegável até Sevilha viu constr uir  nas suas mar gens um  im por tante  por to de 

mer cador ias  por  mando e or ientação do Im perador  Tra jano, o qual  para o ef eito desviou 

o seu cur so, na ár ea aonde ho je se f or maliza de novo a ilha da Car tuxa. 

Até ao séc. XVI, existiu em Medelim uma im por tante colónia judaica com o seu lugar  

de culto  - a Sinagoga, da qual não  r estam vestígios  por  desastrada  inter venção ur  bana 

havida nos anos 70 do séc. XX, convivendo com a  po pulação autóctone, que desde o 

séc. VI se havia misturado com os visigodos cr istianizados, mais tar de com os ára bes. 

Consta  que  convivendo  com  esta,   por   encosto  de  em penas  tar dozes  existiu  uma 

mourar ia. 

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TRAÇADOS UR BANOS E TIPOLOGIAS AR QUITECTÓ NICAS

DA RUA DA JUDIAR IA

A Judiar ia de Medelim a pr esenta-se com casar io contínuo, desenvolvido  por  am bos os 

lados da R ua, em casas de  r /chão e um andar  ao qual se acede  por  escadas exter ior es 

r ematadas  por   patamar  de f or ma quadr ática, os caracter ísticos  balcões. 

 Na  análise  do  cadastr o  e  da  ar quitectura  das  casas  da  judiar ia,  detectam-se  algumas 

caracter ísticas  que  não  quer endo  tor nar   exclusivas,   per mitir ão  contudo  r ecolher  

elementos,  alguns deles  com par áveis  com  idênticas  caracter ísticas de outras  judiar ias 

 possibilitando vir  a esta belecer -se elementos distintos dos outr os  povos, e que a seguir  

sucintamente se enumeram:

§ A inexistência  de  qualquer   pequeno  jar dim  ou  logradour o  de  su bsistência,  para 

cr iação de cultivo de hor ta ou cr iação de animais. 

§ Uma volumetr ia ligeiramente menor  que as das outras casas de outras r uas; mas com 

os  balcões de igual dimensão. Por que a par entes?

§ A inexistência  de  plantas  geometr icamente  r egular es,  a  inexistência  de  eixos  de 

simetr ia,  de  nivelamentos  ou  de  alinhamentos  entr e  por tais.  O que  sem  som bra  de 

dúvida o sa biam f azer , mas não f aziam!

§ As escadas de ligação arr umadas a um canto da casa, nunca centradas ou  pr óximas da 

 por ta  da  entrada,  sendo  contudo  esta  uma  caracter ística  da maior   par te  das  casas  de 

Medelim e das terras de Idanha. 

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Algumas casas com meia f olha de a br ir , a penas no  piso térr eo, ser vindo ao comér cio, e 

tal está com pr ovado histor icamente. 

Um  a par elho  po br e  nos  aca bamentos  dos  chãos  e  das  par edes,  que  r ealça  a  f alta  de 

r egular idade dos ângulos r ectos inexistentes no encontr o destas. 

Os  tectos   baixos  a  f echar   as  alcovas  com  uma  escada  diminuta  e  esconsa, 

 pr ovavelmente so br e estes  para guar dar  alf aias ou  pr odutos da terra, já que o  piso térr eo, 

tudo leva a cr er , ser   para comér cio, ar tes ou ofícios. Par edes inter ior es de taipa, e não de 

ti jolo ou ado be, r ematadas com o r ef er ido tecto  baixo. 

A r ua  de  desenho  r ectilíneo  é  contudo  entr ecor tada   pelos  r ef er idos   balcões,  com 

avanços dif er entes entr e eles  r elativamente  ao  plano das  f achadas  conf er indo-lhes um 

traçado or gânico, anulando a  per s pectiva geométr ica  pura que o eixo r ectilíneo definir ia. 

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Dentr e o con junto das casas - a denominada Casa do Judeu - que no caso em nada se 

distingue das r estantes. A  po pulação mais idosa, alguns quase centenár ios, só sa be dizer  

que desde cr ianças assim chamavam àquela casa, não sa bendo explicar  o  por quê desta 

distinção. Uma  coisa é  cer ta! Mesmo  f r onteira  a esta  situava-se a Sinagoga,  podendo 

daqui tirar em-se vár ias ilações. 

A  pesquisa  por  nós ef ectuada so br e as casas ou ur  banismo  judaicos nesta zona raiana, 

f oi mor osa e inf r utíf era, tendo vindo a quem consultamos sem pr e a r es posta tão sim ples 

quanto  esta: Não  sa bemos  da  existência  de  qualquer   caracter ística  ar quitectónica 

significativa,  mas  tão  somente  a  necessár ia  e  justificada  integração  na  tipologia 

ar quitectónica existente em cada r egião. Ser iam a penas alf aias móveis, ou a se paração 

num  sim ples  ar már io  de  cozinha  que  as  distinguiram.  Por   outr o  lado  o  que  alguns 

histor iador es  denominam  de  «iconof o bia»  leva  tam bém  a  que  o bviamente  não  ha ja 

vestígios identificativos, nos cam pos da imaginár ia ou da  pintura. 

O que é  per f eitamente com pr eensível, vista a necessidade de  passar em desa per ce bidos, 

ou  a  r esguar dar em-se  da  inve ja  de  outr os  povos,  seguramente  mais  po br es,  por que 

menos cultas, mais atr eitas à agr icultura e não ao comér cio, à escr ita ou às ciências. 

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Sem  som bra de dúvidas,  pode-se afir mar  que a  f or mação das cidades, no que  tem de 

decorr ente  do  judaísmo,  f ace  as  constantes  per seguições  e  migrações,  se  traduz  em 

o bras latentes e raramente emer gentes. 

E tam bém  que  há,  nitidamente,  uma  distor ção,  um  desconstr utivismo  consciente,  no 

alinhamento das r uas, na constr ução das casas, ver ificável mesmo a  par tir  do exter ior  já

que  nos  telhados  o  beirado  hor izontal  em  poucas  delas  está galgado  com  a  linha  de 

r emate  su per ior   da  cumeeira.  Ou,  o  «sutamento»  sur ge  em  todos  os  seus  lados,  se ja 

tam bém nas  par edes de meação. 

MEDIDAS E PRECAUÇÕES DE SALVAGUAR DA

 No Plano  de  Salvaguar da  de  Medelim,  f oi  f eito  o  inventár io  de  todas  as  casas,  com 

fichas  individualizadas,  e  caracter izados  os  as pectos  ur  banos  mais  r elevantes, 

nomeadamente  o  que  r es peita  a  calcetamentos  e  ao  escamotear   das  r edes  inf ra- 

-estr uturais,  bem  como  a  manutenção  dos  traçados  e  dos  locais  aonde  se  pr econiza 

dever em ser  f eitas escavações ou  pesquisas. 

 Na R ua da Judiar ia, o calcetamento vetusto da calçada à antiga  por tuguesa assente so br e 

terra  batida  com  barr o,  manter -se-á,  como  todos  os  seus  balcões,  soleiras  e  vãos  de 

 por tais, tentando a penas r e por -se aqueles que  por que modificados a descaracter izam. 

Alguns  balcões ser vem duas casas. 

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A inter venção  so br e  a  Casa  do  Judeu  ser á singela,  mantendo  as  suas  caracter ísticas 

antigas  ainda  detectáveis  e  que  os  documentos  f otogr áficos  e  o   pr o jecto  melhor  

descr evem. 

Como atr ás mencionado, as constr uções da r ua da Judiar ia, seguem mimeticamente as 

caracter ísticas das outras constr uções, as quais  r e pr esentam ainda ho je um acer vo que 

ur ge  pr eser var   pelas suas es pecificidades constr utivas dentr e as quais se destacam:

-  Por tais  com  om br eiras  e  algumas  tor ças  a pr esentando  sem pr e  ar estas  «sutadas», 

distinguindo-se das  dos  cr istãos,  estas  com  ar estas  r ectas,  e nalguns  casos de  casar io 

mais no br e, com as ar estas arr edondadas típicas da ar quitectura filipina. 

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- Pisos  térr eos com acesso dir ecto à r ua, se parados do andar ,  pr ovavelmente ocu pados 

 para  guar da  de  alf aias  agr ícolas  e  ar mazém  da  casa  ou  mesmo  gado  ovino  para  os 

cr istãos e  posto de comér cio  para a  po pulação judaica. 

-  Exiguidade dos  cadastr os,  com  constr uções  pequenas que venciam  a  co ber tura  com 

uma só água descarr egando  para a r ua. 

-Inexistência  de  logradour os,  o  que  conf er ia  aos   povoados  uma inter venção 

essencialmente  ur  bana,  concentrada  e  não  dis per sa  como  a  do  Nor te  do  País, ou  a 

su por tada  em  grandes  pr o pr iedades  como  no  Sul,  no  que  as  distingue  ainda  ho je  da 

tradição decorr ente r es pectivamente do dir eito visigótico ou do dir eito r omano. 

 No  intuito  de  pr eser var   as  constr uções  da  judiar ia  e  de  toda  a  aldeia,  para  além  de 

R egulamento que  enquadra o Plano de Salvaguar da,  seguem  anexos desenhos que de 

f or ma  sim ples,  -  o  que  deve  e  o  que  não  se  deve  f azer   -,  pr etendem  esclar ecer   os 

 pr o pr ietár ios e os constr utor es, so br e acções f uturas. 

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MEMÓR IAS GRAVADAS NA PEDRA – UM PATR IMÓNIO A CONHECER  NO CONCELHO DE TRANCOSO 

(CONTR IBUTOS PARA O ESTUDO DA PRESENÇA JUDAICA E CR ISTÃ-NOVA) 

Dr . ª Car la Alexandra Santos 

A  pr esença da comunidade  judaica em Trancoso é anter ior  ao  r einado de D. Pedr o  I, 

este  monar ca  concedeu-lhe  pela  pr imeira  vez,  a  15 de  Setem br o  de  1364,  judiar ia 

a par tada, localizada na rua da metade da …”vila onde sempre tinham vivido”61. No que 

se  r ef er e  à localização  dessa  r ua,  vár ios  autor es  têm  hipóteses  dif er enciadas.  Uns 

def endem a R ua dos Cavaleir os, outr os a R ua Conde de Tavar ede, a R ua da Corr edoura 

ou ainda a R ua da Alegr ia. 

 No  entanto  lamentavelmente  até  ho je  não  existe  qualquer   documento  escr ito  que 

com pr ove uma das hipóteses  sustentadas. A  par te da vila menos  povoada,  e com um 

maior  númer o de terras em a ber to é a zona das antigas igr e jas de S. Tiago e de S. João 

intra-mur os, cr iada com a am pliação das muralhas, f undamentalmente, entr e os séculos 

XIII a XIV. A igr e ja de S. João intra-mur os ficou a pelidada, já no r einado de D. Dinis 

de S. João de Vila Nova e  poster ior mente no de D. João II,  pois em car ta r égia de 5 de 

Junho de 1486, este r ei  legitimou  Isa bel, filha de Álvar o Saraiva, a bade de S. João de 

Vila Nova de Trancoso e de Leonor  Nunes, solteira62. Ora a R ua Dir eita a R ua Emídio 

 Navarr o, a R ua Dr . Fer nando Vaz ou a R ua da Corr edoura63 dos nossos dias são uma e 

mesma R ua. Lo pes Corr eia elucida-nos:

61 Elias Lipiner , Gonçalo  Anes  Bandarra e os C rist ã os- N ovos, A.P.E.J., Câmara Municipal de Trancoso, 1996,  p.29. 

62 Joaquim Serr ão,  I tiner ários de  E l-  Rei  D.  J oã o  II  , in Academia Por tuguesa de Histór ia, Lis boa, 1975,  p.210. 

63 Lo pes Corr eia, T rancoso (  N otas para uma M onografia), Câmara Municipal de Trancoso, 1989,pp-89-90. 

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Poster ior mente  na  chancelar ia  de D.  Af onso  V,  o btemos  outra  inf or mação  acer ca  da 

 pr esença da comunidade judaica em Trancoso. Numa car ta de confir mação de “todallas

 graças e previllegios e liberdade”  à comuna dos  judeus outor gada  a 15 de  Julho de 

1439. A 27 de Novem br o de 1464, Lo po Albuquer que era nomeado “…real da judiaria

de T rancoso, com a feira…” , a fim de o bter  os im postos sem a inter venção de oficiais 

r égios.  A 18 de  Janeir o  de  1470,  o  r ei  su bstitui  o  ta belião  dos  judeus  de  Trancoso, 

 por que  João  Af onso  r enunciou  às  f unções  e  nomeou  o  escudeir o  Fer nando  Álvar es 

r esidente na vila de Trancoso64. 

Ao  longo do  século XV a  po pulação  judaica  cr esceu  su bstancialmente  em  Trancoso, 

tor nou-se mais numer osa que a comunidade da Guar da65. O mesmo é confir mado  pela 

necessidade que os judeus tiveram em am pliar  a sinagoga, o  pedido f oi ef ectuado ao r ei 

D.  João  II  a  12 de  Dezem br o  de  1481,  que  aceitou  mas  com  a  seguinte  condição:

“…contanto que a nam façam preceosa, riqua nem sumpetosa sem embargo de

qaaesquer defesas que h y a ja em contra yro…”66 . 

O fim da  toler ância  estava  pr óximo, D. Manuel em Dezem br o de 1496,  expedia uma 

 pr ovisão  na  qual  or denava  a  saída  do  país  de  todos  os  judeus  e  muçulmanos,  não 

64 José Mar ques, “R elações de D. Af onso V e D. João II com a Comuna Judaica de Trancoso. Algumas notas”, in S eparata da Revista de C iências Históricas da U niversidade Portucalense  I nfante D. Henrique, Por to, 1988,  pp.226-236. 

65 Adr iano Vasco R odr igues,  J udeus e  I nquisiçã o na Guarda, Por to, 1980,  p.18. 

66 Elias Lipiner ,  I bidem,  p.31. 

« (…) Esta r ua era chamada R ua Emídio Navarr o e  por  acór dão municipal de 20 de Janeir o de 

1894,  passou  a  chamar -se Fer nando  Vaz,  não  só  em  homenagem  ao  eminente Pr of essor   de 

Dir eito Dr . José Joaquim Fer nandes Vaz, mas tam bém de seu ir mão,  pouco antes f alecido, Dr . 

Francisco José Fer nandes Vaz, médico e de putado  pelo cír culo de Trancoso (…) E cum pr indo 

 pr estar  à memór ia do saudoso extinto e ao nome que ele no bilitou uma consagração ainda mais 

solene e ao mesmo tem po r ender   pu blicamente um  pr eito de homenagem  pelos altos mér itos e 

elevada qualidades de seu  ilustr e  ir mão, o Exmo. Sr . Dr . José Joaquim Fer nandes Vaz, a r ua 

desta  vila  onde  tem  a  sua  casa  de morada  que  ao  pr esente  se  denomina  Emídio  Navarr o  e 

antigamente R ua Dir eita,  passe a denominar -se Fer nandes Vaz.  (…). À Corr edoura  f oi dado 

nome  de  Emídio  Navarr o,  na  sessão  de  6  de  Outu br o  de  1887,  em  atenção  aos  grandes 

melhoramentos  iniciados  por  este digno Ministr o e ser  ele quem a pr ovou a  ligação das duas 

estradas que  tinham  ficado às  por tas de EL-R ei e do Prado.  (…) Esta  r ua  sof r eu su bstancial 

arran jo a  par tir , so br etudo, de 1890 (…)». 

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escravos  e  não  conver tidos  à fé  católica.  Mas  o  pior ,  para  os  que  o ptaram  ficar ,  os 

chamados cr istãos-novos, ainda havia de vir ; já no r einado de D. João III, esta beleceu-se 

tam bém  em Por tugal o  Tr ibunal da  Santa  Inquisição.  Esta  intoler ância  iniciava-se no 

século XVI e r umar ia até ao século XIX, muitos f oram  per seguidos e mor tos nos vár ios 

Autos  de  Fé  que  f oram  acontecendo  ao  longo  destes  séculos67.  Entr e  eles  tam bém 

contavam  muitos  cr istãos-novos  naturais  e/ou  morador es  em  Trancoso  que  f oram 

 julgados  pelo mesmo Tr ibunal. 

Alguns dos  indivíduos a pr esentados de seguida  têm a pelidos que ainda ho je  podemos 

encontrar   nesta  cidade.  A lista  seguinte  r ef er e-se  somente  à Inquisição  de  Lis boa, 

menciona os cr istãos-novos, julgados em diver sos Autos de Fé, naturais e/ou morador es 

em localidades que  per tencem ao actual concelho de Trancoso de 1597 a 176468. 

23/02/1597 - Miguel de Sousa69, cr istão-novo, natural de Trancoso e morador  Lis boa, 

cavaleir o da Or dem de Santiago, acusado de judaísmo e condenado só com adver tência. 

16/01/1605 - Brites Lopes70, cr istã-nova, natural de Trancoso e moradora na Guar da, 

acusada de judaísmo e condenada (?). 

18/11/1659  -  Filipa  Ferraz71,  cr istã-nova,  com  69  anos,  natural  e  moradora  em 

Trancoso,  filha  de  João  Fonseca,  acusada  de  judaísmo  e  condenada  a  cár cer e  para  o 

Brasil. 

18/09/1662 - Luí s Solha72, cr istão-novo, com 35 anos, natural e morador  em Trancoso, 

filho  de  Fer não  Lo pes  da  Costa,  contratador ,  acusado  de  judaísmo  e  condenado  a 

cár cer e e ar  bítr io com 3 anos  para o Brasil. 

23/07/1664 -  Guiomar  Serrana73,  cr istã-nova,  com  35 anos,  natural  Trancoso  e 

moradora Lis boa, acusada de judaísmo e condenada a a b juração em f or ma74. 

67  Alexandr e  Her culano,  História da origem e  E  stabelecimento da  I nquisiçã o em Portugal ,  Tomo  I,  pp.180-212. 

68  Lista  incom pleta.  Para  um  estudo  mais  a pr of undado  convém  consultar   as  listas  já  pu blicadas  nas seguintes  o bras:  J udeus em Portugal no século  X  I V   e  XV   da  autor ia  da  Pr of . ª Dr . ª Mar ia  José  Ferr o Tavar es e  N oticias de T rancoso do Dr . Lo pes Corr eia 

69 António Joaquim Mor eira, C olecçã o de  Listas  I mpressas e M annuscritos dos  Autos de  F é Públicos e Particulares da  I nquisiçã o de É vora, C oimbra e Lisboa, Lis boa, 1863, B NL. (r es) COD864. p.43v. 

70  I bidem,  p.54v. 

71 I dem,  p.206v. 

72 I dem, p.221. 

73 I dem, p.219. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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 04/04/1666  -  Diogo  Mendes  de  Castro75,  cr istão-novo,  com  35 anos,  natural  de 

Trancoso e morador  em Lis boa, homem de negócio, acusado de judaísmo e condenado a 

cár cer e e ar  bítr io com 3 anos  para o Brasil. 

Bernardo Ferro76, cr istão-novo, com 40 anos, natural da Quinta do Ferr o, (Trancoso)77 

e  morador   no  Azevo,  Pinhel.  Acusado  de  judaísmo  e  condenado  a  cár cer e  e  há bito 

 per  pétuo78. 

Lucrécia R oiz79,  cr istã-nova, com 55 anos, natural da Quinta do Ferr o,  (Trancoso) e 

moradora em Celor ico, mulher  de Francisco da Costa, vive da sua f azenda, acusada da 

 pr imeira  a b juração  em  judaísmo  e  condenada  a  cár cer e  e  ar  bítr io  com  2 anos  para o 

Brasil. 

11/03/1668 - Duarte R oiz Soares, cr istão-novo,  com  59 anos, natural de Trancoso  e 

morador  em Celor ico, mer cador , acusado de ter ceira a b juração em f or ma e condenado a 

cár cer e e há bito  per  pétuo. 

31/03/1669 - Isabel R oiz80, cr istã-nova, com 40 anos, natural da Guar da e moradora em 

Trancoso,  mulher   de  António  Gomes,  vive  da  sua  f azenda,  acusada  de  judaísmo  e 

condenada a cár cer e e ar  bítr io com 3 anos  para o Brasil. 

22/07/1670 - Maria Montova81,  cr istã-nova,  natural  de  Trancoso, moradora  na  Faia 

ter mo da Guar da, mulher  de João Gomes,  pintor , acusada de a b juração em  f or ma  por  

 judaísmo e condenada a (?). 

10/12/1673 -  João  Soares82,  cr istão-novo,  natural  Trancoso  e  morador   em  Lis boa, 

mer cador , acusado de judaísmo e condenado a cár cer e  per  pétuo. 

74  Mar ia  Antonieta  Gar cia,  I nquisiçã o e  I ndepend ência  –  U m motim no  F und ã o  –   1580,  Alma  Azul,  p.153. Traduz  pelo seguinte: A b jurar  em f or ma - o  penitente conf essa a her esia e jura não voltar  a  pecar . 

75 I dem, p.229. 

76 I dem,  I bidem.

77 Ainda ho je existe esta quinta, a pesar  de há muito não  per tencer  à f amília Ferr o, a qual deu o to pónimo a esta   pr o pr iedade  agr ícola  que   per dur ou  até  aos  nossos  dias,  ainda  que  com  diver sas  r ea bilitações ar quitectónicas ef ectuadas ao longo dos séculos. 

78 Mar ia Antonieta Gar cia, o b. cit.,  p.155. Cár cer e e há bito  per  pétuo: a  pena durar ia 3 anos. 

79 I bidem, p.230v. 

80 I bidem,  p.222v. 

81 I dem, p.245v. 

82 I dem,  p.256. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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José Pinho83, cr istão-novo, natural de Cótimos ter mo de Trancoso e morador  de Lis boa, 

filho de  Geor ge Pinho, mer cador ,  acusado de  judaísmo  e  condenado  a cár cer e  para o 

Brasil. 

Leonor  R oiz84,  cr istã-nova,  natural  e  moradora  em  Trancoso,  filha  de  Antão  Pina 

r endeir o, acusada de a b juração leve e condenada com r e pr eensão. 

Maria da Fonseca85, cr istã-nova, natural e moradora em Trancoso, mulher  de Nuno May (?), 

acusada de judaísmo, convicta, condenada a cár cer e e r elaxada em estátua86. 

Maria  da  Fonseca87,  cr istã-nova,  com  54 anos,  natural  e  moradora  em  Trancoso, 

mulher   de  Nuno  Álvar es  Per eira,  mer cador   em  Trancoso,  acusada  de  judaísmo, 

condenada a cár cer e e r elaxada em estátua. 

12/09/1706 - Isabel Mendez Furtado88, cr istã-nova, com 25 anos, natural de Trancoso 

e moradora em Lis boa, filha de Pedr o Fur tado, homem de negócio, acusada de judaísmo 

e condenada a cár cer e de há bito  per  pétuo sem r emissão com insígnias de f ogo89. 

Pedro Furtado90, cr istão-novo, com 60 anos, natural Trancoso e morador  em Lis boa, 

 pai de Isa bel Mendez Fur tado, homem de negócio, acusado de judaísmo e condenado a 

cár cer e de há bito  per  pétuo sem r emissão com 5 anos  para o Brasil. 

06/11/1707 - Diogo Mendez Sola91, cr istão-novo, com 36 anos, natural de Trancoso e 

morador  em Lamego. Assistente em Lis boa, ca pitão de cavalos, acusado de judaísmo e 

condenado a cár cer e de há bito  per  pétuo. 

Isabel Mendez Furtado92, cr istã-nova, com 42 anos, natural de Toledo, moradora em 

Trancoso. Assistente em Lis boa, casada com Manuel Pinheir o Ferr o, acusada judaísmo 

e condenada a cár cer e de há bito  per  pétuo. 

83 I dem.

84 I dem,  p.257. 

85 I dem, p.258. 

86  Mar ia  Antonieta,  o b.,cit.,  p.151.  R elaxada  em  estátua: julgada  e  condenada  à r evelia,  e  as  imagens queimadas na f ogueira. 

87António  Joaquim,  Ibidem,  p.259.  Existem duas mulher es  com o mesmo nome, mas  constam na  lista dif er enciadas, como aqui descr evemos. 

88 I dem, p.367. 

89 Mar ia Antonieta, Ibidem,  p.155. Insígnias de f ogo: chamas  pintadas nos há bitos dos r éus condenados àmor te e que não eram queimados  por  ef ectuar em confissões a pós a sentença. 

90 I dem, p.366. 

91  I dem,  p.369v. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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30/07/1709  -  Francisco Mendez de Castro93,  cr istão-novo,  com  54 anos, natural de 

Trancoso e morador  em Lis boa. Homem de negócio, acusado de judaísmo e condenado 

a cár cer e  per  pétuo sem r emissão com insígnias de f ogo e 5 anos  para as galés. 

Maria R ibeiro94, cr istã-nova, com 71 anos, natural e moradora nos Vilar es (Trancoso). 

Acusada de  f azer   curas, usando de  palavras  su per sticiosas e  per  petuação de  ter   pacto 

com o dia bo, f oi condenada a 3 anos  para a cidade de Évora. 

06/07/1711 - Heitor Mendez Furtado95, cr istão-novo, com 25 anos, natural e morador  

em Trancoso,  filho de Pedr o Fur tado, estanqueir o. Acusado de  pr imeira a b juração em 

f or ma de judaísmo e condenado a cár cer e e ar  bítr io com há bito  per  pétuo. 

Miguel Telles da Costa96, cr istão-novo, com 57 anos, natural de Trancoso,  r esidente 

em Vila de Molas (R io de Janeir o), e filho de Diogo Mendez Castr o  tam bém acusado 

nesta  lista. É  ca pitão-mor   de  Parati,  f oi  acusado  pela  quinta  a b juração  em  f or ma  de 

 judaísmo e condenado a cár cer e com há bito per  pétuo. 

10/03/1725 -  Brites  Henriques97,  cr istã-nova,  com  45 anos,  natural  de  Trancoso  e 

r esidente em Penamacor , mulher  de Henr iques Nunes,  tam bém vai na  lista dois meses 

de pois, am bos f oram acusados de judaísmo. Condenada a (?). 

07/05/1725 -  Henrique  Nunes98,  cr istão-novo,  com  50 anos,  natural  e  r esidente  em 

Penamacor , mar ido de Br ites Henr iques,  tratante, acusado de  judaísmo e condenado a 

(?). 

10/03/1727  - Duarte R odrigues da Fonseca99, cr istão-novo, com 22 anos, natural do 

R io  de  Janeir o,  r esidente  em  Trancoso  (Por tugal),  sem  ofício,  acusado  judaísmo  e 

condenado a (?). 

21/07/1727  -  Leonor  Gomes  Henriques100,  cr istã-nova,  com  32 anos,  natural  e 

r esidente Guar da. 

92  I dem,  p.371. 

93 I dem, p.376v. 

94 I dem, p.377. 

95  I dem,  p.381v. 

96  I dem,  p.382v. 

97 I dem,  p.426. 

98  I dem.

99  I dem,  p.434v. 

100  I dem.

Page 114: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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25/07/1727  -  Gaspar  Furtado  Ferro101,  cr istão-novo, com  34 anos,  natural  de 

Trancoso e  r esidente na Guar da é administrador  de  ta baco,  f oi acusado de  judaísmo e 

condenado à pr isão. 

07/02/1728 - Guiomar da Costa102, cr istão-novo, com 15 anos, natural e r esidente em 

Trancoso,  filha de Fer nando  Lo pes da  Costa, que  era  advogado  e  tam bém natural da 

mesma vila. Acusada de judaísmo e condenada a a b juração em f or ma. 

16/10/1729  -  Matheus  Gueterrez  Pacheco103,  cr istão-novo,  com  59  anos,  natural  e 

r esidente em Trancoso, mer cador . Acusado de judaísmo e condenado a cár cer e  per  pétuo 

 para f ora do r eino. 

17/06/1731  -  Duarte Navarro104,  cr istão-novo,  natural  de  Guimar ães  e  r esidente  em 

Trancoso, vive da sua  f azenda  (f azendeir o), acusado novamente  por   judaísmo,  por que 

tinha sido r econciliado  por  culpas de judaísmo na Inquisição de Coim bra a 25/09/1683, 

agora f oi  pr eso segunda vez  pelas mesmas culpas. Foi condenado a cár cer e  per  pétuo e 5

anos  para Castr o Mar im. 

Maria  de  Sousa105,  cr istã-nova,  natural  e  r esidente  em  de  Trancoso,  casada  com 

Caetano Tavar es que era f azendeir o. Foi acusada de f eitiçar ia e condenada a cár cer e e 

há bito  per  pétuo sem r emissão e 5 anos  para S. Tomé. 

06/07/1735 -  Diogo  Trancoso106,  cr istão-novo,  com  40 anos,  natural  da  Galiza, 

r esidente  em  Trancoso,  era  filho  de  Diogo  Trancoso.  Foi  sar gento  da  Ganadar ia, 

acusado de judaísmo e condenado a a b juração107. 

24/07/1735 - José Tavares de Sousa108, cr istão-novo, com 39 anos, natural do Terr enho 

(Mor eira de R ei)109, r esidente em Lis boa. Filho de Manuel Gonçalves que era sa pateir o. 

101 I dem,  p.435. Mulher  de Gas par  Fur tado Ferr o tam bém f oi acusada de judaísmo e condenada à pr isão. 

102 I dem,  p.435v. 

103 I dem, p.441v. 

104 I dem, p.444. 

105  I dem,  p445. 

106 I dem, p.456v. 

107 R enunciar  à cr ença judaica. 

108 I dem, p.456v. 

109 Nesta altura a  povoação de Terr enho  per tencia à vila de Mor eira de R ei, esta última só vir ia a  per tencer  ao concelho de Trancoso a pós 1855. 

Page 115: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Foi  acusado  da  segunda  a b juração  em  f or ma110  de  judaísmo,  era  ta ber neir o  e  f oi 

condenado a cár cer e. 

01/09/1737  -  Josef a  Correia111,  cr istão-novo,  com  57  anos,  natural  de  Trancoso  e 

r esidente na Guar da, solteira, filha de Manuel Bor ges, f errador . Foi acusada de judaísmo 

e condenada a cár cer e e há bito  per  pétuo. 

16/10/1746 - Pedro Furtado Ferro112, cr istão-novo, com 58 anos natural de Trancoso e 

r esidente  na  Guar da  era  advogado.  Acusado  da  segunda  a b juração  em  f or ma  de 

 judaísmo e condenado a cár cer e e ar  bítr io com há bito que se tirar á no auto. 

Manuel Pinheiro Ferro113, cr istão-novo, com 33anos, natural e r esidente na Guar da era 

filho de Pedr o Fur tado Ferr o que vai nesta lista e era natural de Trancoso. Era homem 

de  negócio,  f oi  acusado da  segunda  a b juração  em  f or ma de  judaísmo  e  condenado  a 

cár cer e e ar  bítr io com há bito que se tirar á no auto. 

Maria Clara114, cr istã-nova, com 30 anos, natural da Torr e do Terr enho  (Mor eira de 

R ei)115  e  r esidente  em  Monsanto.  Casada  com Henr ique  Nunes  de Paiva,  homem  de 

negócio. Acusada  pela segunda a b juração em f or ma de judaísmo e condenada a cár cer e 

 per  pétuo. 

Henrique  Nunes  de  Paiva116,  cr istão-novo,  com  37  anos,  natural  e  r esidente  em 

Monsanto,  casado  com  Mar ia  Clara117.  Era  tratante  f oi  acusado  de  judaísmo  e 

condenado à f or ma de r elaxado em car ne. 

27/08/1758 -  Gaspar  Francisco  Soares118,  cr istão-novo,  natural  de  Trancoso  e 

r esidente  em  Sintra,  filho  de Duar te  Lo pes  Ca br eira.  Era médico  tal  como o  pai,  f oi 

acusado de a b juração em f or ma de judaísmo e condenado a cár cer e  per  pétuo. 

110 Mar ia Antonieta, Ibidem. Conf essou a her esia e jura não voltar  a  pecar . 

111 I dem,  p.460. 

112 I dem, p.505. 

113 I dem, p.505v. 

114 I dem, p.506v. 

115 Ver  nota nº35. 

116 I dem,  p.506v. 

117 Ler  texto r ef er ente à nota nº39. 

118 I dem, p.532. 

Page 116: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Joana Pereira119, cr istã-nova, solteira, com 51 anos, natural de Trancoso e r esidente em 

Sintra era filha de Ga br iel Lo pes Ca br eira120, que f oi dentista. Acusada de a b juração em 

f or ma de judaísmo e condenada a cár cer e  per  pétuo. 

04/02/1764 - R odrigo Lopes Pereira121, cr istão-novo, com 68 anos, natural e r esidente 

em  Trancoso,  casado  com  Br ites  Ter esa.  Era  homem  de  negócio,  f oi  acusado  de 

 judaísmo e condenado a a b juração em f or ma. 

Perante esta lista de cr istãos-novos r esidentes e/ou naturais de Trancoso,  podemos r eter  

alguma inf or mação acer ca das suas  pr ofissões. Os homens de negócio, os f azendeir os e 

mer cador es  são  os  mais  r e pr esentativos,  existem  em  menor   númer o,  os  médicos,  os 

tratantes, os f errador es, os sa pateir os entr e outr os. Assim  podemos concluir   perante as 

 pessoas aqui r ef er idas que a grande maior ia delas viviam das suas terras, dos negócios, 

dos  seus  r endimentos,  e  dos   pr odutos  que  comer cializavam  estes  últimos,  os 

mer cador es,  a judaram  a  desenvolver   em  Trancoso  a  f eira  que  com  caracter ísticas 

dif er entes  per dura até aos nossos dias. 

A documentação escr ita, não é a penas a única inf or mação que  podemos r ecolher  acer ca 

do   patr imónio  judaico   por tuguês.  «(…)  A s  judiarias, as sinagogas e as l á pides

 funer árias  judaicas, constituem outros aspectos do património material  judaico(…)»,

 bem  como  as  mar cas  mágico-r eligiosas  que  se  identificam  em  muitos  imóveis  das 

antigas  judiar ias  por tuguesas122.  « A s marcas de simbologia religiosa  judaica e crist ã  

 sã o identificadas por cinco grupos:  as marcas nas «mezuzot», ou se ja ombreiras de

 porta, as quais resultam da tradiçã o  judaica de marcar nas portas das casas ou

 sinagogas o testemunho da fé monoteísta no Deus único de  I  srael ; as cruzes crist ã  s; as

abreviaturas católicas;  as marcas longitudinais123;  e as gravações de «menorot», ou

119 I dem, p.532. 

120 Pr ovavelmente ir mão de Duar te Lo pes Ca br eira que f oi médico, tam bém mencionado nesta lista. 

121 I dem,  p.546. 

122 Car men Balester os e Car la A. Santos, “As pectos da Ar queologia Judaica em Trancoso”, in  Actas  Beira I nterior História e Património, Guar da, 2000,  p.331. 

123 Car men Balester os, “Mar cas de sim bologia R eligiosa Judaica e Cr istã  –   para um levantamento  pr évio em  povoações da raia  por tuguesa e es panhola. Callipole”, in  Revista C ultural , nº3/4, 1995-6,  pp19-26. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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 se ja candelabros  judaicos124» (…).  A inexistência  de  documentos  escr itos  que 

confir mem  os  autor es  de  tais  mar cas  tem  tecido  alguns  conflitos,  no  entanto,  estes 

sím bolos,  estão  pr esentes  em  cer ca  de  90%,  do  es paço  geogr áfico  corr es pondente  às 

antigas  judiar ias  Por tuguesas,  em  r elação  ao  r estante  equivalente  a  cada  Centr o 

Histór ico das vilas ou cidades deste  país. E na sua f or ma nada têm de idêntico às siglas 

ou mar cas de canteir o existentes nos var iadíssimos monumentos militar es, r eligiosos e 

civis125. «(…)S er ã o estas resultantes de um puro acto de fé por parte dos crist ã os  –  

velhos ou novos ou reflectir ã o antes uma necessidade de defesa por parte dos crist ã os –  

novos, gravando essencialmente cruciformes nas ombreiras das portas para afirmarem

a sua adesã o ao novo credo religioso126»(...).O Centr o Histór ico de Trancoso é aquele 

que em toda a Beira Inter ior  de Por tugal, contém até ao momento, o maior  númer o de 

mar cas  mágico-r eligiosas  cento  e  dezassete,  distr ibuídas  f undamentalmente  na  par te 

Este do aglomerado ur  bano. 

 No que se r ef er e à ar tér ia da vila r eser vada como r ua da Judiar ia a nossa  investigação 

inclina-se,  para a R ua da Alegr ia. « (…) Parece-nos ser esta a rua da metade da vila,

quer no que se refere à  da localizaçã o da antiga cerca amuralhada, quer da ligaçã o

ainda ho je visível, entre as Portas do Prado e a  Rua da  Alegria» 127(…). Acr escem as 

nossas cer tezas,  pelo f acto desta ser  a ar tér ia da vila que contem o maior  númer o (27) de 

mar cas  mágico-r eligiosas.  E tam bém   por que  no  imóvel  nº11  existem  as  seguintes 

gravações: 10 cr uzes, 1 f ragmento de candela br o e 1  peixe sím bolo do cr istianismo e da 

 pr ofissão  dos  pr imeir os  seguidor es  de  Cr isto.  Não  é  demais  lem brar   que  a  palavra 

” peixe”, no gr ego antigo se escr evia  ICQUS (ik thus), da qual encontramos ainda ho je 

mar cas em alguns dos nossos es paços  r eligiosos, através das  suas  pr imeiras  letras, ou 

se ja o I (esus) X (r isto) so br e posto. 

124  Car men  Balester os  e  Car la  A.  Santos,  “Ar queologia  Judaica  no  Concelho  de  Trancoso  (novos elementos) ”, in C adernos de E  studos S efarditas, Univer sidade de Lis boa, n4, 2003,  pp.9-40. 

125 Convém consultar  os ar tigos do Dr . Moutinho Bor ges acer ca destas siglas. 

126  I dem,  I bidem,  p.334. 

127  I bidem, p.18. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Ainda neste imóvel e segundo a tradição oral se  praticou culto judaico, o levantamento 

to pogr áfico dos es paços indicados  para o culto, coincidem com as  plantas das sinagogas 

de Évora, Tomar  e Valência de Alcântara128. 

O  patr imónio  judaico mater ial e  por  vezes associado ao  imater ial, não existe somente 

em  Trancoso mas  tam bém  noutras  f r eguesias  do  concelho,  pr incipalmente: Cótimos, 

Mor eira  de  R ei,  Valdu jo,  Torr e  do  Terr enho,  Cogula,  Car nicães,  Palhais,  Fr eches, 

Venda do  Cê po,  R ibeira  do Fr eixo,  Vila Franca  das  Naves,  Tamanhos  e Feital  entr e 

outras,  segundo  a  nossa  investigação. De  seguida  a pr esentamos  alguns  exem plos  de 

mar cas mágico-r eligiosas existentes nalguns imóveis do Centr o Histór ico de Trancoso e 

nas r estantes localidades do concelho. 

«Mer orah» (candela br o de 7  braços), r e pr esentado na sua metade, localizado na R ua da Estr ela129. 

Cr ucif or me decorado com as extr emidades que  poder á ser  o  pr imeir o car ácter  he braico da  palavra DEUS

= S  H ́   DA I  , R ua da Estr ela130. 

128  I dem,  I bidem,  pp.9-40. 

129  I bidem, p.20. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

119

 

 Na Fr eguesia de Fr eches o imóvel nº10A, na R ua Chão da Calçada é um dos que tam bém contém mar cas 

cr ucif or mes. 

 Na localidade da Venda do Cê po, nesta om br eira dir eita de um imóvel  podemos o bser var  duas mar cas 

cr ucif or mes. 

130  I dem,  p.21. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Em Vila Franca das Naves, na om br eira dir eita deste imóvel o bser vam-se duas mar cas cr ucif or mes. 

 Na f r eguesia dos Car nicães, num lintel a inscr ição IHS= Jesus, com uma mar ca cr ucif or me, um motivo 

floral e a data de 1687. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

121

0 2   cm4

  No  Terr enho  na  R ua  da  Carr eira  encontramos  aquilo  que  nos  par ece  ser   uma  menorah, ou  se ja  um 

candela br o131.

Em Mor eira de R ei, no imóvel nº68 da R ua da Praça, uma mar ca cr ucif or me acom panhada da data 1776. 

A planta r ef er ente ao Centr o Histór ico de Trancoso, e os quadr os seguintes r ef er entes ao 

inventár io  das  mar cas  mágico-r eligiosas  distr ibuídas  nos  imóveis  assinalados,   bem 

como  datas,  anagramas  e  outr os  sím bolos  vêm  acr escentar   um  maior   númer o  de 

inf or mação,  no  que  diz  r es peito  ao   patr imónio  mater ial  judaico  r elativamente  a 

 pu blicações anter ior es132. 

131  I bidem, p.34. 

132 Car men Balester os e Car la A. Santos, “As pectos da Ar queologia Judaica em Trancoso”, in  Actas  Beira I nterior História e Património, Guar da,  2000; Car la  A.  Santos,  Car la  Sofia  e  Car men  Ballester os, 

Page 122: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

122

 

“Terr enos da Ar queologia da Península Ibér ica”, in M arcas de S imbologia  Religiosa  J udaica e C rist ã  ou C rist ã -nova nos N úcleos U rbanos Antigos de E  stremoz e de T rancoso, Por to, 2000,  pp.218-225. 

Page 123: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

   A   c     t      a     s

        d      a     s

     P      r

     i   m     e

     i      r      a     s

     J     o

      r   n      a

        d      a     s

        d     o      P

      a     t      r     i   m     ó   n     i     o

      J   u

        d      a

     i   c     o         d

      a      B

     e     i      r      a

      I   n     t     e      r

     i     o      r

 

     1   2   3

     L   o     c   a

    l     i   z   a   ç     ã   o

 

    M   a   r     c   a   s

    M     á   g

     i     c   o   -

     R   e

    l     i   g     i   o

   s   a   s     n   o

     C   e     n

       t   r   o

    H     i   s       t      ó   r

     i     c   o

 

     R     u   a

      N  .   º    d    e

     P    o  l   í    c  i    a

    N   o

   I   m      ó   v   e

    l

      N  .   º       M    a    r    c    a   s

      N  .   º     C    r     u    z    e   s

    N  .     º

     A     b

   r   v

  .

     R   e

    l     i   g     i   o

   s   a   s

   D    a   t    a   s

     O     u

       t   r   o   s    :

    (     C   a     n

     d   e

    l   a     b

   r   o   s  ,

   e   s       t   r   e

    l   a   s  ,

    m    e    z    u    z    a

    h ,

   r   a   s   g   o   s

    l   o   n   g    i    t   u    d    i   n   a    i   s  , …

    )

    O    b   s .

     E   s   t    a    d    o

  1    3    3

 

   L   u

    í     s

   R     i     b   e     i      r     o         d

   e

   M   e     l     o

 

    7   A

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d      a

    p     o      r

     t      a    e     s

     t      r   e     i     t      a

 

   2

   2

  -

  -

  -

   N      a

 

     b      a     s   e

   e   x     i     s     t   e

      a     l    g   u   m

   c     i   m   e   n     t     o

 

   R

   “

   “

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d      a

    p     o      r

     t      a      l      a

      r    g      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

  -

   R

   L      a      r    g     o 

        d   e

   S  .

    J     o   ã     o

 

    1

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

         d      a

    p     o      r

     t      a    j   u

   n     t     o 

   à   e     s   q   u     i   n      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

   E     s

     t   e     i   m    ó   v   e     l    é

     o   n

        d   e    f   u   n   c     i     o   n      a

 

      a     J   u

   n     t      a

         d   e    F

      r   e    g   u   e     s     i      a

 

   R

   “

   “

   A     s

        d   u      a     s

   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d

      a

   p     o      r

     t      a    j   u

   n     t     o    à

   e     s   q   u     i   n      a

 

   2

   2

  -

  -

  -

  -

   R

   “

   “

   A   p     o      r

     t      a       a      s

   e    g   u     i      r

     t   e   m   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

   e     s   q   u   e      r

        d      a

 

   2

   2

  -

  -

  -

  -

   R

   “

   “

   N      a

    e     s   q   u

     i   n      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

  -

   R

   “

   2

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

 

   4

   4   ?

  -

  -

    J   u   n

     t     o    à     s

   c      r   u   z   e     s

   e     s     t   á    g      r      a   v      a

        d      a

 

   u   m      a

     f   e      r      r      a

        d   u      r      a

 

   ?

 

    D      a     s

   S   e     i   x      a     s

   2

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

         d

      a 

   p     o

      r     t      a

     l      a      r    g      a

 ,    (      r   u      a

         d      a     s

   S   e     i   x      a     s

     )   u   m      a

    c      r   u   z ,

      a      o

   u     t      r      a

    n      a

     f      a   c     h      a

        d      a

    S   u     l   c     o   n

     t     i    g   u      a

    à

   R   u      a

         d   e   S

  .    J     o   ã     o

  .

   3

   2

  -

  -

   R      a     s    g     o     s

     l     o   n    g     i     t   u        d     i   n      a

     i     s

   n      a

 

   p     o

      r     t      a

      l      a      r    g      a

 ,     o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 ,

   G      r      a   v      a

        d     o     s

   n      a

     f      a   c     h      a

        d      a

    E

     s     t   e

   c     o   n     t     i    g   u      a

    à   R   u      a

         d      a

    E     s

     t      r   e     l      a

  .

   E     s

     t   e     i   m    ó   v   e     l    é   c     o   n     t    í    g   u     o       a      t      r

   ê     s

      a      r

     t    é      r     i      a

     s

        d     i     s     t     i   n     t      a

     s  :

   R   u      a

         d

      a     s

   S   e     i   x      a     s

 ,   R   u      a

         d   e    J     o   ã     o

   e   R   u      a

 

        d      a

    E

     s     t      r   e     l      a

  .

   N     o 

   e   n     t      a   n     t     o

 

      a   p      r   e     s   e   n     t      a   m     o  -     l     o    c     o

   m     o      i   m

    ó   v   e     l

        d      a

    R   u      a

         d

      a     s

   S   e     i   x      a     s

   p     o      r

      a     i

   e   x     i     s     t     i      r

      a    e   n     t      r

      a        d

      a      h

      a     b     i     t   u      a

     l        d

     o     s

   m     o

      r      a

        d     o

      r   e     s

  .

   R

   “

   4

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

         d

      a 

   p     o

      r     t      a

   e     s     t      r   e     i     t      a

         d   e      a

     l   u   m    í   n     i     o

 

   2

    1

  -

  -

   U   m      a

    p     o     s     s

    í   v   e     l  «   m   e   z   u   z      a     h   »

  -

   R

     1   3   3

    M   u     i     t     o

     B     o   m  =

   M    B  ;

    B     o   m  =

    B  ;

   R      a   z     o   á   v   e     l  =

   R   e    D   e    f     i   c     i   e   n     t   e  =

    D  .

Page 124: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

   A   c     t      a     s

        d      a     s

    P      r

     i   m   e     i      r      a     s

    J     o      r   n      a

        d      a     s

        d     o     P

      a     t      r     i   m    ó   n     i     o

     J   u        d

      a     i   c     o

         d      a

     B   e     i      r      a

     I   n     t   e      r     i     o      r

 

    1   2   4

   “

   “

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d      a

    p     o      r

     t      a 

   m      a

        d   e     i      r      a

 

   2

    1

   -

   U   m      a

         d      a

     t      a         d

   e    1    7    7   3

  -

   -

   R

    D      a

    E     s

     t      r   e     l      a

 

    1   4

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

 

    1

    1

   -

   -

  -

   T      a   p      a

        d      a

    p     o      r

   u   m   c      a     l   e     i      r

     o 

    D

   “

   5

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

    e   x     t   e      r   n      a

 ,

   n      a

 

    ú     l     t     i   m      a

    p     o      r

     t      a    p      a

      r      a

    N     o

      r     t   e  .

   4

   4

  -

  -

  -

  -

    D

   “

   “

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

    e   x     t   e      r   n      a

 ,   q   u      a     s   e

   j   u   n     t     o

         d     o      l     i   n     t   e     l  .

   3

  -

   3

  -

   A     s

      a     b      r   e   v     i      a     t   u      r      a     s

     s   ã     o  :

    I    H   S

 ,

   A   M

    e    P   N   E

 

   R

   “

    1   8

    F      a   c     h      a

        d      a

      o   e     s     t   e   c     o   n     t    í    g   u      a

    à   R   u      a

         d      a

   E     s

     t      r   e     l      a

         d

     o 

     i   m    ó   v   e     l   c     o   m

    f      a   c     h      a

        d      a

   p      r     i   n   c     i   p      a

     l   p      a      r      a

       a    R

   u      a

         d   e   S

  .    J     o   ã     o

  .

   3

   2

  -

    1

   M   e     t      a

        d   e

        d   e   u   m

   c      a   n

        d   e     l      a     b      r     o

    g      r      a   v      a

        d     o    n

      a    e     s

   q   u     i   n      a

 

   R

    D   e   S

  .    J     o   ã     o

 

    1   8

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e   n     t      r   e      a     s

        d   u      a     s

   p     o      r

     t      a     s

  .

   3

   2

  -

   -

   M      a      r   c      a

    q   u   e   p      a      r   e   c   e   u   m   m     o

     l        d   e

   N   e     s     t      a

 

    f      a   c     h      a

        d      a

 

   p      r

     i   n   c     i   p      a

     l

   e   x     i     s     t   e   m   u   m      a

    c      r   u   z   e     o    m

     o     l        d   e  .

   U   m      a

         d      a     s

   c      r   u   z   e     s

   e     s     t   á   e      r   u

    í   n      a     s

        d      a

     i      a     s

        d   u      a     s

     s     i    g     l      a

     s

   n      a

    c     o     l   u   n      a

 

     s   e    g   u

     i   n     t   e  .

   R    /    D

   “

    9   A

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

    e   x     t   e      r   n      a

         d

      a

   p     o      r

     t      a    e     s

     t      r   e     i     t      a

  .

   2

    1

  -

   U   m      a

 

        d      a

     t      a 

   p      r     o   v      a   v   e     l   m   e   n     t   e

        d   e

    1    7    9   ?    (   4     ) ,

   n      a

 

     o   m     b      r   e     i      r      a

 

        d     i      r   e     i     t      a

 

   e   x     t   e      r   n      a

  .

  -

  -

    D

    D     o     B

      a   n

        d      a      r      r      a

 

   8

   A     b      a

     i   x     o 

        d      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

        d      a

   j      a   n   e     l      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

  -

   R

   “

   4

   N      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

    e   n     t      r   e      a     s

        d   u      a     s   p     o

      r     t      a

     s

    1

    1

  -

  -

  -

  -

   R

 

Page 125: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

   A   c     t      a     s

        d      a     s

    P      r

     i   m   e     i      r      a     s

    J     o      r   n      a

        d      a     s

        d     o     P

      a     t      r     i   m    ó   n     i     o

     J   u        d

      a     i   c     o

         d      a

     B   e     i      r      a

     I   n     t   e      r     i     o      r

 

    1   2   5

 

   L      a      r    g     o 

        d      a

 

   R     o     s   e     i      r      a

 

    1

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

   E     s

     t      a 

   m      a      r   c      a

 

    f     o     i

   q   u      a     s   e

     t     o     t      a     l   m   e   n     t   e

     t      a   p      a

        d      a

 

   c     o   m

   c     i   m   e   n     t     o

 

    D

   “

   8

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

   2

   2

  -

  -

  -

   U   m      a

    c      r   u   z   e     s     t      a

    e   m      r      a   z     o   á   v   e     l

   e     s     t      a        d

     o       a      o

   u     t      r      a

    e   m      r   u

    í   n      a     s

   p     o

      r

     i     s     s     o       a

     s        d   u      a     s

   c     l      a     s     s

     i    f     i   c      a   ç   õ   e     s

   n      a

 

   c     o     l   u   n      a

      s   e    g   u     i   n     t   e  .

   R    /    D

   R   u      a

     D

      r  .

    D      a   v     i        d

 

    B      r   u   n     o 

   2

    D   u      a     s

   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

    e   n     t      r   e      a

    p     o      r

     t      a 

   e     s     t      r   e     i     t      a

    e      a

    p     o      r

     t      a      l      a

      r    g      a

  .   E

     o   u     t      r      a

 

   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

       a     b      a

     i   x     o ,

   n      a

 

   p     o      r

     t      a    e     s

     t      r   e     i     t      a

  .

   3

   3

  -

  -

  -

  -

    D

    D      r

  .

    D      a   v     i        d

 

    B      r   u   n     o 

   4

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

      i   n     t   e      r   n      a

 

   2

   2

  -

  -

  -

    I   m    ó   v   e     l

     o   n

        d   e   m     o

      r     o   u     o 

    D      r

  .

    D      a   v     i        d

     B      r   u   n     o 

    D

    P     o   ç     o

         d     o    M

   e     s     t      r   e

  -

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

     g      r      a   v      a   ç   ã     o

         d   e

        d   u      a     s

   c      r   u   z   e     s

      a         d

      a     t      a

    n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

 

   e     s   q   u   e      r

        d      a

 

   3

   2

  -

   U   m      a

         d      a

     t      a         d

   e    1    7    7    9

  -

   E     s

     t   e     s

     i   m    ó   v   e     i     s

   e     s     t   ã     o

    e   m

      r   u

    í   n      a     s

    D

   “

   3

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d      a

    p     o      r

     t      a      l      a

      r    g      a

     1

   0

  -

   -

    1   C

     o   m

      a     s

     s   e    g   u

     i   n     t   e     s

     l   e     t      r      a     s  :

  «   C   O   S   T    F   »

   E     s

     t      a 

      a     b      r   e   v     i      a     t   u      r      a

    p   e      r   e   c   e  -   n     o     s

      a     s

     i   n     i   c     i      a     i     s

        d     o 

      a   p   e     l     i        d     o 

        d     o

   m     o

      r      a

        d     o

      r

   R

   “

    9

   U   m      a

 

   c      r   u   z

   n      a

 

     o   m     b      r   e     i      r      a

 

   e     s   q   u   e      r

        d      a

         d      a

    p     o      r

     t      a      l      a

      r    g      a

    e        d   u      a     s

   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

  .

    6

   3

  -

    D      a

     t      a 

        d   e

    1    7    1    7

     l     o   c      a     l     i   z      a        d

      a 

   n      a

 

     o   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

 

   e      a

         d   e    1   8   2    6   n      a

 

     o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

  -

  -

   R

    P     o

      r     t      a

     s

        d   e

   S  .

    J     o   ã     o

 

    M    u    r     a  l    h     a

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

   3

   3

  -

  -

  -

   N      a

       r   e   c   u   p   e      r      a   ç   ã     o

         d      a

    m   u      r      a

     l     h      a

 

   e   x     i     s     t   e   u   m      a

         d

      a     s

   p   e        d      r      a     s

   c     o   m

   m      a      r   c      a

    q   u   e    f     o     i     i   n   v   e      r     t     i        d      a

 

   R

    D     o     s

   c      a   v      a     l   e     i      r

     o     s

   3

   2   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

 ,    1   n      a

 

     o   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

      i   n     t   e     i      r      a

    e

     o   u     t      r      a

    n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

  .

   4

   4

  -

  -

  -

  -

    D

   “

    7

   N      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

    e   n     t      r   e      a     s

        d   u      a     s

   p     o      r

     t      a     s

 ,   e     s     t      r   e     i     t      a

    e     l      a      r    g      a

 

   2

   2

  -

  -

  -

   U   m      a

         d      a     s

   c      r   u   z   e     s

   e     s     t   á   p     o   u   c     o

 

   v     i     s    í   v   e     l

    D

Page 126: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

   A   c     t      a     s

        d      a     s

    P      r

     i   m   e     i      r      a     s

    J     o      r   n      a

        d      a     s

        d     o     P

      a     t      r     i   m    ó   n     i     o

     J   u        d

      a     i   c     o

         d      a

     B   e     i      r      a

     I   n     t   e      r     i     o      r

 

    1   2    6

   “

    9

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d      a

    p     o      r

     t      a      l      a

      r    g      a

    2

    1

  -

   O     s

    í   m     b

     o     l     o

    p      a      r   e   c   e  -

   n     o     s

      a    g      r      a   v      a   ç   ã     o

         d   e

   u   m      a

         d

      a     t      a

 

   m      a     s

     i   n   c     o   m   p     l   e     t      a  :

  «    I__

    I   »

  -

  -

    D

   T      r      a   v   e     s     s

      a 

        d      a

 

   M     o

    f     i   n      a

    M   e   n

        d   e     s

    1

   A   c     i   m      a

         d     o      l     i   n     t   e     l

        d      a

    p     o      r

     t      a 

    1

  -

  -

  -

   O

     s    í   m     b

     o     l     o

    p      a      r   e   c   e  -   n     o     s

      a     l    g

     o 

     l     i    g      a

        d     o       a    u

   m      a

    p      r     o

    f     i     s     s

   ã     o  .

   O

     l     i   n     t   e     l

        d   e     s     t      a

    p     o      r

     t      a 

    é

     t      r      a

     b      a

     l     h      a

        d     o

 ,

     i        d   ê   n     t     i   c     o

 

      a     o     s

   e   x     i     s     t   e   n     t   e     s

   n     o     s

   C    ó     t     i   m

     o     s

  .

    D

   “

    7

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d

      a 

   p     o      r

     t      a 

   e     s     t      r   e     i     t      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

  -

    D

   G     o   n   ç      a     l     o

 

    F   e      r   n      a   n

        d   e     s

   T      r      a   n   c     o     s     o 

   3

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

    e   x     t   e      r   n      a

 

    1

    1

  -

  -

    P      a      r   e   c   e  -   n     o     s

      a    c      a

   v     i        d      a

        d   e   p      a      r      a

      o 

      r     o

     l     o    n

      a   «   m

   e   z   u   z      a     h   »

  -

    D

    D     o    A

   ç     o   u    g   u   e

   2

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

         d

      a 

   p     o      r

     t      a 

     l      a      r    g      a

 

   3

  -

  -

  -

   G      r      a   v      a   ç   ã     o

         d   e   u   m      a

      t      r   u   q   u   e     s      a

 ,

    f   e      r      r      a

        d   u      r      a

    e   e     s   p   á     t   u     l      a

  .

  -

    D

   “

    1

   N      a

    e     s   q   u

     i   n      a

    q   u   e     i   n     i   c     i      a

       a       r

   u      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

  -

   R

   “

    7

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

  -

    D

   “

    1    7

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

    Q   u      a     s   e     i   n   v     i     s    í   v   e     l

    D

    D     o    C

      a     s

     t   e     l     o 

   5

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

    e   A     b      a

     i   x     o 

     l      a        d

     o    e     s

   q   u   e      r

        d     o         d

      a

     s     o

     l   e     i      r      a

 

   2

   2

  -

  -

  -

  -

   R

    D     o     s

   C      a   v      a     l   e     i      r

     o     s

   3   0   A

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d      a

    p     o      r

     t      a      l      a

      r    g      a

     1

    1

  -

  -

  -

  -

   R

Page 127: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

   A   c     t      a     s

        d      a     s

    P      r

     i   m   e     i      r      a     s

    J     o      r   n      a

        d      a     s

        d     o     P

      a     t      r     i   m    ó   n     i     o

     J   u        d

      a     i   c     o

         d      a

     B   e     i      r      a

     I   n     t   e      r     i     o      r

 

    1   2    7

 

   “

   3   0

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

    e        d     i      r   e     i     t      a

         d      a

 

   p     o      r

     t      a    e     s

     t      r   e     i     t      a

 

   3

   2

    1

  -

  -

   N      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

       a    m

      a      r   c      a

 

   c      r   u   c     i    f     o      r   m   e    é     i   n   v   e      r     t     i        d      a

 

   R

   R   e     s     i        d   ê   n   c     i      a

         d

     o     s

   e     s     t   u        d

      a   n     t   e     s

        d      a

    E  .

    P  .

    F      a   c     h      a

        d      a

    E

     s     t   e

   N   u   m   p      a

     i   n   e     l

   4

    1

   2  «    I    H

   S   +   A   M

 

  -

    I   n   c     l   u     i   u   m      a

    e     s     t      r   e     l      a

         d   e   c     i   n   c     o

 

   p     o   n     t      a     s   n   u   m   c    í      r   c   u     l     o

 

  -

   R

    P      r      a   ç      a

     D  .

    D     i   n     i     s

   5   A

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

    e   e     s   q   u   e      r

        d      a

  .   E

   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d

      a 

     o   u

     t      r      a

 

   p     o      r

     t      a  .

   3

   2

  -

  -

   A    g      r      a   v      a   ç   ã     o

         d   e   u   m   S

   O   S        d   e   v   e      r     i      a

      t   e      r

     o   u     t      r      a     s

     l   e     t      r      a     s

      a 

     s   e    g   u     i      r

   m      a     s

   e     s     t   ã     o

      t      a   p      a

        d      a     s

   c     o   m   c     i   m   e   n     t     o

  .

   R

    F      r   e     i

    J     o   ã     o

         d   e

   L   u   c   e   n      a

 

    9   A

   E   n     t      r   e      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

    q   u   e     s   e      r   v   e      a     s

        d   u      a     s

   p     o      r

     t      a     s

  .

   2

    1

  -

  -

   M   e     t      a

        d   e

        d   e   u   m   c      a   n

        d   e     l      a     b      r     o 

   A    g      r      a   v      a   ç   ã     o

         d     o    c      a

   n        d   e     l      a     b      r     o     é

        d   e    f     i   c     i   e   n     t   e   e      a

    c      r   u   z      r      a   z     o   á   v   e     l ,

   p     o      r

     i     s     s     o       a

   p      a      r   e   c   e      r   e   m      a     s

        d   u      a     s

     l   e     t      r      a     s

   n     o    c      a

   m   p     o

      s   e    g   u

     i   n     t   e  .

   R    /    D

   “

    9

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

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    e     o   u     t      r      a

    n      a

 

   e     s   q   u

     i   n      a

         d      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

  .

   3

    1

  -

  -

   A    g      r      a   v      a   ç   ã     o

         d   e   u   m      r     o     s

     t     o 

  -

   R

   “

    1   0

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d

      a 

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    e

     o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

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     b      a

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        d      a

 

   p     o      r

     t      a  .

   2

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  -

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    F      a   c     h      a

        d      a

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      a     s

   p     o      r

     t      a     s

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    J   e      r   u     s

      a     l    é   m

 ,    1   p   e     l     i   c      a   n     o 

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     l   e   ã     o         d

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    D     o     s

   c      a   v      a     l   e     i      r

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    1   0

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     i   x     o         d

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   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d      a

 

   p     o      r

     t      a 

     l      a      r    g      a

    e

   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

 

   e     s   q   u   e      r

        d      a

 ,

   e

   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

 

   e     s   q   u   e      r

        d      a

       a     o 

   c     i   m     o 

        d      a

    p     o

      r     t      a

 

   e     s     t      r   e     i     t      a

  .

   4

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  -

  -

  -

  -

   R

    D      a

    A     l   e    g      r

     i      a 

    1   3

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

      i   n     t   e      r   n      a

   e

     o   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

         d

      a 

     o   u     t      r      a

 

   p     o      r

     t      a 

   3

   3

  -

  -

  -

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        d      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

     é

     i   n   v   e      r     t     i        d      a

 

    D

   “

   2   0

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

    e        d     i      r   e     i     t      a

         d      a

 

   p     o      r

     t      a    e     s

     t      r   e     i     t      a

 

   4

   4

  -

  -

  -

   N      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

       a    c      r

   u   z    é

     i   n   v   e      r     t     i        d      a

  .

    D

   “

    1    1

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

         d      a

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     t      a

   2

  -

  -

  -

   A    g      r      a   v      a   ç   ã     o

         d   e   m   e     t      a

        d   e

        d   e   u   m

   c      a   n

        d   e     l      a     b      r     o    e

   u   m   p   e     i   x   e

   E     s

     t   e     i   m    ó   v   e     l     t   e   m    1   8   m      a      r   c      a     s

   e

        d   e     s     t      a

     f     o

      r   m      a

    c      r     i      a   m     o     s

   v   á      r     i     o

     s

   c      a   m   p     o     s

   p      a      r      a

         d   e     s   c      r     i   ç   ã     o

 

    D

Page 128: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

   A   c     t      a     s

        d      a     s

    P      r

     i   m   e     i      r      a     s

    J     o      r   n      a

        d      a     s

        d     o     P

      a     t      r     i   m    ó   n     i     o

     J   u        d

      a     i   c     o

         d      a

     B   e     i      r      a

     I   n     t   e      r     i     o      r

 

    1   2   8

   “

   “

   N     o   u     t      r      a

 

   p     o      r

     t      a 

     l      a      r    g      a

 

   n      a

 

     o   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

  -

    D

   “

   “

   N      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

         d      a

    p     o      r

     t      a 

     s   e    g   u

     i   n     t   e

    1

    1

  -

  -

  -

   A   c      r   u   z   p      a      r   e   c   e     i   n   v   e      r     t     i        d      a

    c     o   m

   4     b      r      a   ç     o     s

    D

   “

   “

   N      a

     ú     l     t     i   m

      a 

   p     o      r

     t      a 

      a   n

     t   e     s

        d      a

 

   e     s   q   u

     i   n      a

    n      a     s

     o   m     b      r   e     i      r      a     s

        d     i      r   e     i     t      a

 

   e   e     s   q   u   e      r

        d      a

      i   n     t   e      r   n      a     s

   8

   8

  -

  -

  -

  -

    D

   “

    1    6

   N      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d      a

    p     o

      r     t      a

    e     s     t      r   e     i     t      a

 

   e   p     o

      r     t      a

      l      a      r    g      a

       a   n

     t   e     s        d

      a    e     s

   q   u     i   n      a

 

   3

   3

  -

  -

  -

    D   u      a     s

     s   ã     o

      i   n   v   e      r     t     i        d      a     s

   R

   “

    1   4

   N      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

    e        d     i      r   e     i     t      a

 

        d      a

    p     o

      r     t      a

      l      a      r    g      a

 

   3

   2

 

    D      a

     t      a         d

   e    1    7   2   3

  -

   A   m      a      r   c      a

         d      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

    é     i   n   v   e      r     t     i        d      a

 

   R

   “

    1   0

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

  -

   R

    D     o     s

   m   e      r   c      a

        d     o

      r   e     s

     s    /   n   º

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

    p      r

    ó   x     i   m     o 

        d      a

      s     o

     l   e     i      r      a

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   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

 

        d     i      r   e     i     t      a

 

   3

   3

  -

  -

  -

  -

    D

    D     o     P

     i   n     t     o      r

    1   2

   N      a

     f      a   c     h      a

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         d   e     s     t      a

       r   u      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

   E     s

     t   e    I   m    ó   v   e     l    f     i   c      a

    n      a

    R   u      a

     F      r   e     i

    J     o   ã     o

         d   e   L   u   c   e   n      a

    e   n      a

       r   u      a

         d     o 

   p     i   n     t     o      r

    D

    D     o     s

   C      a   v      a     l   e     i      r

     o     s

   2   3

   N      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

         d

      a 

   p     o

      r     t      a

 

   e     s     t      r   e     i     t      a

    e     o   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

 

        d      a

    p     o

      r     t      a

      l      a      r    g      a

         d   e   m      a

        d   e     i      r      a

 

   3

   2

    1

  -

  -

   A

      a     b      r   e   v     i      a     t   u      r      a

 

     t   e   m

      a     s

     s   e    g   u     i   n     t   e     s

     i   n     i   c     i      a     i     s  :

   E    I   C

   R

    D     o     s

   C      a   v      a     l   e     i      r

     o     s

   5   2

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

   2

    1

  -

    1   8   0    9

  -

   A

        d      a

     t      a 

    é

   n      a

      o   m     b      r   e     i      r      a

 

   e     s   q   u   e      r

        d      a

    e

     o 

   e     s     t      a        d

     o 

    é

        d   e    f     i   c     i   e   n     t   e

   R

    D     o     P

     i   n   c     h     o 

    1

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

  -

    D

    D     o     P

     i   n   c     h     o 

   5

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

         d

      a 

   p     o      r

     t      a 

   e     s     t      r   e     i     t      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

   E     s

     t   á   q   u      a     s   e

        d   e     s     t      r   u

    í        d      a

 

    D

Page 129: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

   A   c     t      a     s

        d      a     s

    P      r

     i   m   e     i      r      a     s

    J     o      r   n      a

        d      a     s

        d     o     P

      a     t      r     i   m    ó   n     i     o

     J   u        d

      a     i   c     o

         d      a

     B   e     i      r      a

     I   n     t   e      r     i     o      r

 

    1   2    9

    D     o     P

     i   n   c     h     o 

    1   8

   O   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

    e        d     i      r   e     i     t      a

         d      a

 

   p     o      r

     t      a      l      a

      r    g      a

 

   4

   3

  -

    1    7    6   8

  -

  -

   R

    D     o     P

     i   n   c     h     o 

   2   0

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

    1

    1

  -

  -

  -

  -

   R

    7

   2

   2

  -

  -

  -

  -

   R

   A        d

      r     i      a   n     o 

   M     o   u     t     i   n

     h     o 

    D     o    R

   e     l    ó    g     i     o

 

    1   0

   O   m     b      r   e     i      r      a

         d     i      r   e     i     t      a

 

   E   n     t      r   e     o   m     b      r   e     i      r      a     s

        d   e

   p     o      r

     t      a     s

    1

    1

  -

  -

  -

  -

   R

    D     o    R

   e     l    ó    g     i     o

 

    6

   A     b      a

     i   x     o         d

      a      o

   m     b      r   e     i      r      a

    e     s   q   u   e      r

        d      a

 

        d      a

    p     o

      r     t      a

      l      a      r    g      a

 

   2

    1

  -

  -

  -

  -

    D

    I    g      r   e   j      a

         d   e

   S  .

    P   e        d      r     o 

  -

    F      a   c     h      a

        d      a

    N

     o      r

     t   e   j   u   n

     t     o 

   à   p     o      r

     t      a 

   e     s     t      r   e     i     t      a

 

   2

    1

  -

    1   8   2    6

  -

  -

   R

    P     o

      r     t      a

     s

    D   ’   E   L

   R   e     i

  -

    P     o

      r     t      a

      i   n     t   e      r     i     o      r

        d     o      l      a

        d     o         d

     i      r   e     i     t     o

    à

   e   n     t      r      a

        d      a

    S   u     l  .

   2

    1

  -

    1    7   0   4

   U   m      a

    e     s     t      r   e     l      a

         d   e   c     i   n   c     o

    p     o   n

     t      a     s

    (    g    é   n   e      r     o       a

   m   u

     l   e     t     o     )

    P      a      r      a

       a

     l    é   m

        d      a     s

   m   u

     i     t    í     s     s

     i   m      a     s

   m      a      r   c      a     s

        d   e   c      a   n

     t   e     i      r     o 

     t   e   m     o     s

   e     s     t   e     s

     s    í   m     b

     o     l     o

     s

        d     i    f   e      r   e   n     t   e     s

        d      a     s

   m   e     s   m      a     s

  .

   R

      B     i     b     l     i     o    g      r      a

    f     i      a  :

      B   A   L   E   S   T   E   R   O   S

 ,   C

      a      r   m   e   n    (    1    9    9   5  -    9    6     ) ,

    M  a  r  c  a  s

   d  e

    S   i  m   b  o

   l  o  g

   i  a    R  e   l   i  g

   i  o  s  a

      J  u

   d  a

   i  c  a  e

    C  r   i  s   t    ã  –  p  a  r  a  u  m

   l  e  v  a  n

   t  a  m  e  n

   t  o  p  r   é  v   i  o  e  m  p  o  v  o  a  ç    õ  e  s

   d  a  r  a

   i  a  p  o  r   t  u  g  u  e  s  a  e  e  s  p  a  n

   h  o

   l  a  .

    C  a

   l   l   i  p  o

   l  e  –

   i  n   R   e   v     i     s     t      a

    C   u     l     t   u      r      a

     l ,   V     i     l      a

    V     i   ç     o

     s      a

 ,   N   º   3    /   4

 ,    1    9    9   5  -    9    6  .

      B   A   L   E   S   T   E   R   O   S

 ,   C

      a      r   m   e   n  ;

   S   A   N   T   O   S

 ,   C

      a      r

     l      a    A

     l   e   x      a   n

        d      r      a

 ,    A  s  p  e  c   t  o  s

   d  a

    A  r  q  u  e  o

   l  o  g

   i  a      J  u

   d  a

   i  c  a  e  m

    T  r  a  n  c  o  s  o

  .      I  n

    B   e     i      r      a

     I   n     t   e      r     i     o      r

    H     i     s     t    ó      r     i      a

    e    P

      a     t      r     i   m    ó   n     i     o

 ,   G   u      a      r

        d      a

 ,   2   0   0   0

  .

      B   A   L   E   S   T   E   R   O   S

 ,   C

      a      r   m   e   n  ;

   S   A   N   T   O   S

 ,   C

      a      r

     l      a    A

     l   e   x      a   n

        d      r      a  ;

   S   A   N   T   O   S

 ,   C

      a      r

     l      a    S

     o    f     i      a

 ,    M  a  r  c  a  s

   d  e

    S   i  m   b  o

   l  o  g

   i  a    R  e   l   i  g

   i  o  s  a

      J  u

   d  a

   i  c  a  e

    C  r   i  s   t    ã  o  u

    C  r   i  s   t    ã  –

    N  o  v  a  n  o  s

    N   ú  c   l  e  o  s

    U  r   b  a  n  o  s

    A  n

   t   i  g  o  s

   d  e

    E  s   t  r  e  m  o  z  e

   d  e

    T  r  a  n  c  o  s  o ,

   i  n   “   T   e      r      r   e   n     o     s

   ”        d

      a    A

      r   q   u   e     o     l     o    g     i      a

         d      a

     P   e   n    í   n

     s   u     l      a

     I     b    é      r     i   c      a

 ,    P

     o      r

     t     o ,

   2   0   0   0

  .

 

Page 130: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

   A   c     t      a     s

        d      a     s

    P      r

     i   m   e     i      r      a     s

    J     o      r   n      a

        d      a     s

        d     o     P

      a     t      r     i   m    ó   n     i     o

     J   u        d

      a     i   c     o

         d      a

     B   e     i      r      a

     I   n     t   e      r     i     o      r

 

    1   3   0

    B   A   L   E   S   T   E   R   O   S

 ,   C

      a      r   m   e   n  ;

   S   A   N   T   O   S

 ,   C

      a      r

     l      a    A

     l   e   x      a   n

        d      r      a  ;

   S   A   N   T   O   S

 ,    A  r  q  u  e  o

   l  o  g

   i  a      J  u

   d  a

   i  c  a  n  o

    C  o  n  c  e   l   h  o

   d  e

    T  r  a  n  c  o  s  o

   (    N  o  v  o  s

    E   l  e  m  e  n

   t  o  s   ) ,

      I  n

   C      a

        d   e      r   n     o     s

        d   e   E

     s     t   u        d

     o     s

   S   e    f      a      r

        d     i     t      a

     s ,

   C   á     t   e        d

      r      a

         d   e   E

     s     t   u        d

     o     s

   S   e    f      a      r

        d     i     t      a

     s

  «   A     l     b   e      r     t     o

     B   e   n   v   e   n     i     s     t   e   » ,    F

      a   c   u     l        d      a

        d   e

        d   e   L   e     t      r      a     s

        d      a

    U   n     i   v   e      r     s

     i        d      a

        d   e

        d   e   L     i     s     b

     o      a

 ,   n   º   4

 ,   2   0   0   3

  .

  G   A   R   C    I   A

 ,   M

      a      r

     i      a    A

   n     t     o   n

     i   e     t      a ,

      I  n  q  u

   i  s   i  ç    ã  o  e

      I  n

   d  e  p  e  n

   d    ê  n  c   i  a  –

    U  m

    M  o

   t   i  m  n  o

    F  u  n

   d    ã  o  –

    1    5    8    0 ,   A     l   m      a

    A   z   u     l  .

      H   E   R   C   U   L   A   N   O

 ,   A     l   e   x      a   n

        d      r   e ,   H   i  s   t   ó  r   i  a

   d  a

    O  r   i  g  e  m  e

    E  s   t  a

   b  e   l  e  c   i  m  e  n

   t  o   d  a

      I  n  q  u

   i  s   i  ç    ã  o  e  m

   P  o  r   t  u  g  a

   l ,   T

     o   m     o     I ,

   S    /        d

 ,   p   p  .    1   8   0  -   2

    1   2  .

  L    I    P    I   N   E   R

 ,   E     l     i      a

     s ,

    G  o  n  ç  a

   l  o    A  n  e  s

      B  a  n

   d  a  r  r  a  e  o  s

    C  r   i  s   t    ã  o  s  –

    N  o  v  o  s ,

   A  .    P  .

   E  .    J  . ,

   C   â   m

      a      r      a

    M   u   n

     i   c     i   p      a     l        d   e   T

      r      a   n   c     o     s     o

 ,   T

      r      a   n   c     o     s     o

 ,    1    9    9    6  .

  M   A   R    Q   U   E   S

 ,    J     o

     s    é ,   R   e     l      a   ç   õ   e     s

        d   e    D

  .   A    f     o   n     s     o    V

   e    D

  .    J     o   ã     o

     I    I   c     o   m      a

    C     o   m   u   n      a

     J   u        d

      a     i   c      a

         d   e   T

      r      a   n   c     o     s     o

  .   A     l    g   u   m      a     s

   N     o

     t      a     s

 ,    I   n   S   e   p      a      r      a

     t      a         d

      a    R

   e   v     i     s     t      a

         d   e   C     i   ê   n   c     i      a     s

    H     i     s     t    ó      r

     i   c      a     s

        d      a

    U   n     i   v   e      r     s

     i        d      a

        d   e

    P     o

      r     t   u   c      a     l   e   n

     s   e    I   n    f      a   n

     t   e    D

  .    H   e   n      r

     i   q   u   e ,    P

     o      r

     t     o ,

    1    9   8   8

  .

  M   O   R   E    I   R   A

 ,   A   n     t    ó   n     i     o

     J     o      a   q   u     i   m

 ,   C

     o     l   e   c   ç   ã     o

         d   e   L     i     s     t      a

     s

    I   m   p      r   e     s     s

      a     s

   e   M

      a   n   n   u     s   c      r     i     t      a

     s

        d     o     s

   A   u     t     o     s

        d   e    F    é    P    ú     b     l     i   c     o

     s

   e    P

      a      r

     t     i   c   u     l      a      r   e     s

        d      a

     I   n   q   u     i     s

     i   ç   ã     o         d

   e     É   v     o      r      a

 ,   C

     o     i   m     b      r      a

    e   L     i     s     b

     o      a

 ,    1   8    6   3

 ,    B   N   L

  .

    (      r   e     s     )   C   O    D   8    6   4

  .

  R   O    D   R    I   G   U   E   S

 ,   A        d

      r     i      a   n     o    V

      a     s   c     o

 ,      J  u

   d  e  u  s  e

      I  n  q  u

   i  s   i  ç    ã  o  n  a

    G  u  a  r   d  a

 ,    P

     o      r

     t     o ,

    1    9   8   0

  .

  S   E   R   R

     Ã   O

 ,    J     o

      a   q   u

     i   m   V   e      r    í     s

     s     i   m

     o ,

      I   t   i  n  e  r    á  r   i  o  s

   d  e

    E   l  -    R  e   i

    D .

      J  o    ã  o

      I      I

 ,   A   c      a

        d   e   m     i      a

     P     o

      r     t   u    g   u   e     s      a

         d   e    H     i     s     t    ó      r     i      a

 ,   L     i     s     b

     o      a

 ,    1    9    7   5

 ,   p  .   2    1   0  .

       C   o    l   a    b   o   r   a   r   a   m

    n   e   s    t   e    t   r   a    b   a    l    h   o     c   o   m     i   m

   a   g   e   n   s  ,     p

    l   a   n    t   a   s

   e    l   e

   v   a   n    t   a

   m   e   n    t   o   s   o   s   s   e   g   u    i   n    t   e   s    t      é

     c   n    i     c   o   s   :

     C   a   r    l   o   s     A   n    d   r   a    d

   e  ,

     A   n    t      ó   n    i   o     R   a   m   a    l    h   o  ,    E    l    í   s    i   o    G   a   s     p   a   r  ,   I   s   a    b   e

    l   F   e   r   n   a   n    d

   e   s  ,     R   u    i

     S   a   n    t   a   n   a  ,     S   o    f    i   a     A   g   u    i   a   r

   e     P   a   u    l   a    M   o   n    t   e    i   r   o .    E   s    t   a    ú    l    t    i   m   a    t      é

     c   n    i     c   a    t   a

   m    b      é   m     f   o    i

     c   o   -   a   u    t   o   r   a   n   a   a     p   r   e   s   e   n    t   a   ç     ã   o    d   a     c   o   m   u   n    i     c   a   ç     ã   o     p   r   o    f   e   r    i    d   a   n   a   s   J   o   r   n   a    d   a   s    E   u   r   o     p   e

    i   a   s    d   o

     P   a    t   r    i   m

      ó   n    i   o   J   u    d   a    i     c   o    d   a   B   e

    i   r   a   I   n    t   e   r    i   o   r  ,   a   1    3    d

   e   J   u   n    h   o    d

   e    2    0    0    5

 .

 

Page 131: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

131

OS JUDEUS DE TRANCOSO: ENTR E A LEI DE MOISÉS E O BAPTISMO 

Pr of . ª Doutora Mar ia José Ferr o Tavar es 

1.  Intr odução 

Se  pr ocurar mos  a memór ia dos  judeus  por tugueses, ver if icamos que  ela  per dur ou  até 

aos nossos dias no inter ior   beir ão e transmontano no r omanceir o  po pular  e em tradições 

r eligiosas, onde o  judaísmo  se  cr uzava  com o  cr istianismo  imposto.  A bade de Baçal, 

Leite de  Vasconcelos134,  Amílcar  Paulo135,  Samuel  Schwar z136,  e, mais  r ecentemente, 

David  Canelo137  ou  Mar ia  Antonieta  Gar cia138  f izeram-se  eco  de  uma  memór ia 

etnológica,  ainda  viva  –   em bora  infelizmente  em  vias  de  extinção  -  que  pr ocuraram 

completar   com  o  conhecimento  histór ico,  por   vezes,  pr esente  numa  ou  noutra  rara 

inscr ição em  pedra, como a que Samuel Schwar z r elacionou com uma  pouco  pr ovável 

sinagoga em Belmonte no século XIII, ou a mais r ecente inscr ição de uma sinagoga em 

Gouveia, em vés peras da expulsão. 

Amílcar  Paulo  escr evia,  em meados do  século XX, o  seguinte: “N a  Beira, há  ainda

 povoados que vivem em usos de sinagoga e o mesmo acontece em muitas povoações

raianas de T r á s-os-M ontes. C hamam-se a si mesmos “ gente de naçã o” e cr êem-se, em

verdade, um povo à parte, mas já nã o t êm a noçã o de que povo é esse.

 Para os seus ritos, dum  judaísmo oculto e tímido, usam reunir-se em casa uns dos

outros.  E  , nessas reuniões, sã o principalmente as mulheres que recitam, por tradiçã o

oral, rezas e salmos de acentuada origem hebraica”139 . 

134 J. Leite de Vasconcelos,  E tnografia Portuguesa, Impr ensa Nacional-Casa da Moeda, vol. IV. 

135 Amílcar  Paulo, O s judeus secretos em Portugal , ed. La bir into, 1985

136 Samuel Schwar z, O s crist ã os novos em Portugal no século  XX , UNL, Lis boa, s/d. 

137 David Canelo, O s últimos  judeus secretos, Jor nal de Belmonte, 1985;  I dem, O s últimos C ripto judeusem Portugal , Belmonte, 1987. 

138 Mar ia Antonieta Gar cia, O s  J udeus de  Belmonte. O s caminhos da memória, UNL, s/d 

139 Amílcar  Paulo, o b. cit.,  p. 26 

Page 132: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

132

Belmonte,  Pinhel,  Covilhã,  Fundão  f oram  lugar es,  na  Beira,  onde  estes  autor es 

coligiram  orações  e  r itos  de  or igem  judaica  que,  em   pleno  século  XX,  ainda  se 

mantinham  vivos.  No  entanto,  se  cote jar mos  os  es paços  desta  memór ia  r ecente, 

ver if icamos  que  nem  sempr e  eles  coincidem  com  a  inf or mação  documental,  sendo 

f or çoso que  r emetamos a sua so br evivência  para uma  pr esença  tar dia,  pr ovavelmente, 

mais cr istã nova  por que  pr óxima dos últimos tempos da  pr esença judaica em Por tugal. 

 Não temos qualquer  dúvida em af ir mar  que a  pr esença dos seguidor es da Lei de Moisés 

 por  estas  paragens  é antiga  e  r emonta,  pelo menos, à outor ga dos  foros e costumes a 

alguns destes terr itór ios  pelos r eis de Por tugal, em bora alguns destes foros per tençam ao 

domínio leonês, como acontece em Castelo R odr igo que, tal como os de Castelo Melhor  

e  de  Castelo  Bom, estão  datados  de  1209.  Neles  se  mencionavam  as  multas  que 

incidiam  so br e  todo  aquele  que  fer isse  um  judeu,  as  quais  oscilavam  entr e  2 e  4

mora bitinos  de  our o,  sendo  os  testemunhos  a pr esentados  com  testemunhas  cr istãs  e 

 judias. Os foros de Alf aiates e de Castelo Melhor  legislavam so br e o empr éstimo a jur o, 

feito  por  judeus140. 

Se estes f or os,  pelo f acto de ter em uma or igem leonesa,  poder ão não compr ovar  uma tão 

r emota  pr esença  judaica  em  terr itór io  por tuguês,  podemos,  no  entanto, af ir mar   sem 

r eser vas que,  pelo menos, desde D. Af onso III os encontramos na Guar da. De f acto os 

f or os deste concelho mencionavam a existência de judeus e transcr eviam a legislação do 

Bolonhês contra a usura e o empr éstimo judaicos. Das inquir ições do mesmo so berano 

se extrai que nos foros dos ter mos de Gar dão havia uma “Póvoa de judeus”, da qual se 

 per deu a memór ia, excepto a do to pónimo141. 

Per tencem a D. Dinis as mais antigas minutas de car tas de conf ir mação de  pr ivilégios a 

comunas de  judeus  do  r eino,  entr e as quais  as das  comunidades de  Castelo  R odr igo, 

Sa bugal,  Monf or te  e  Guar da.  Esta última  r esidia  num  es paço  do  município  que  era 

 pr o pr iedade do  r ei e,  por   isso,  possuímos  inf or mações a bundantes so br e a comuna da 

140  Portvgaliae M onvmenta Histórica,  Leges et C onsvetvdines,  vol.  I,   pp.  865,  911  e  789, r es pectivamente; For tunato  de  Almeida,  História da  I  gre ja em Portugal ,  2ª ed., Por tucalense  Editora, Por to, vol. I,  pp. 207 e 209; Mar ia José Ferr o Tavar es, O s  J udeus em Portugal no século  X  I V , Guimar ães ed., Lis boa, 2ª ed., 1999 (1 ª ed. IAC, Lis boa, 1970,  p. 15),  p. 16. 

141 “For os da Guar da”, in  Livros  I néditos de História Portugueza, Lis boa, Impr ensa Nacional, 1926, tº V,  pp. 433 e 448; For tunato de Almeida, o b. cit.,  p. 206, nota 6. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Guar da,  a  sua  localização  e  os  seus  ha bitantes142.  A judiar ia  pr inci piava  pr óximo  da 

 por ta d’el-r ei  e  ter minava  junto  ao  adr o da  igr e ja de  S.  Vicente,  tal  como  ainda ho je 

 per siste  na memór ia  to ponímica  da  cidade. De  1316,  data  a mais  antiga  r efer ência  à

chancelaria do arrabiado da  Beira,  que  valia  para  a  cor oa  100 libras  por   ano.  Nele 

eram mencionadas as 80 libras anuais que os judeus de Castelo R odr igo  pagavam ao r ei 

de  peita r eal, enquanto os de Monf or te eram colectados em 40143. 

2.  A comuna de Trancoso e a sua judar ia ou judiar ia 

Com  existência  documentada  em meados  do  século XIV,  encontramos  a  comuna  de 

Trancoso,  que  nos  sur ge  mencionada  nas  car tas  r égias  de  D.  Pedr o  I  com  alguma 

notor iedade, o que nos f az  pensar  que a sua or igem se ja anter ior ,  tanto mais que o r ei 

af ir ma  pr ecisamente que a judiar ia se r eduz a uma r ua “em que sempre viverom que he

na metade da dicta villa”144.  De  f acto,  a  sua  existência  e  impor tância  a par ecem 

dir ectamente associadas à feira f ranca da vila, a qual f oi cr iada  por  D. Af onso III,  pelo 

que a  podemos su por  contempor ânea na or igem das acima mencionadas. Sa bemos que a 

ainda ho je conhecida feira de S. Bar tolomeu durava cer ca de tr ês semanas, quinze dias 

de feira e oito dias antes  para a chegada e acolhimento dos mer cador es. Com D. Dinis, o 

concelho o bteve a  per missão  para ter  feiras mensais, no início da quar ta semana de cada 

mês, a qual tinha a duração de tr ês dias145. 

A sua  impor tância  para a r egião esteve  bem  patente na documentação desta centúr ia e 

da  seguinte.  Vir gínia  R au  escr eveu  a  este  r es peito: “A  sua influência nas relações

económicas da regiã o fez-se sentir numa área bastante grande.  E ra nela que o cabido

da S é de V iseu conseguia arrendar mais vanta josamente as suas propriedades, e que

142 Mar ia José Ferr o, o b. cit., ed. 1970,  pp. 20 e 26; Mar ia José Ferr o Tavar es, “Judeus e Cr istãos- Novos:o ante e  pós- ba ptismo nas  terras de R iba Côa e arr edor es”,  in O T ratado de  Alcanices e a import ânciahistórica das T erras de  Riba Côa,  Univer sidade  Católica  ed.,  Lis boa,  1998,  pp.  271-272; R ita  Costa Gomes,  A Guarda medieval : 1200-1500, Cader nos da R evista de Histór ia Económica e Social, eds. Sá da Costa, Lis boa, 1987,  pp. 54-58. 

143 Mar ia José Ferr o, o b. cit.,  pp. 156-160. 

144 C hancelarias Portuguesas.  D. Pedro  I ,  Centr o  de  Estudos Histór icos,  I NIC,  Lis boa,  1984,  p.  457;Mar ia José Ferr o, o b. cit.,  p. 27. 

145 Vir gínia R au,  F eiras medievais portuguesas. S ubsídios para o seu estudo, ed. Pr esença, 1983, 2ª ed.  pp. 85-86. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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C astelo  Branco vendia os gados da sua criaçã o, factos que demonstram a amplitude da

esfera de acçã o desse centro de traficância, nos fins do século  X  I V   e princípios do

 século X V” 146.

Ora,  esta  actividade  económica  era motivo de deslocação de  pessoas gradas,  leigas  e 

cler icais,  ao  concelho  e motor   de  desenvolvimento  de  Trancoso  e  do  seu  ter mo. Por  

isso, não  podemos estranhar  que ela estivesse dir ectamente r elacionada com a  pr esença 

da comunidade judaica, que, na segunda metade da centúr ia de Tr ezentos147, tinha a sua 

 judiar ia  localizada  intra-mur os  e   por ventura  numa  das  zonas  mais  impor tantes  do 

es paço munici pal, a da maior   pr oximidade com o chão da feira. 

A 15 de  Setem br o  de  1364,  a  comuna,  alegando  que  o bteve  r ecentemente  judar ia 

a par tada,  solicitava  e o btinha  a  isenção do dir eito de  a posentador ia  a no br es, of iciais 

r égios e a outras dignidades que visitassem o concelho. No entanto, este r ecusava-se a 

cumpr ir   a  car ta  de  pr ivilégio  outor gada  pelo  so berano  e  continuava  a  exigir -lhes  o 

dir eito,  incluindo a ocu pação de suas casas. Queixavam-se os judeus de que no  tempo 

da  feira os corr egedor es e os  seus of iciais  se  instalavam nas  suas  casas, f azendo-lhes 

 per der   o  ganho  com  o  aluguer   de  suas  casas  aos  mer cador es  e  visitantes  que  se 

deslocavam à feira, o qual era naquela altura  igual ao que  r etiravam no  r esto do ano. 

Atento ao agravo da comuna que, o bviamente, se r eper cutia nos impostos que r ece bia, 

D. Pedr o I ratif icava a anter ior  car ta de  pr ivilégio, estendendo a isenção aos inf antes e 

seus  of iciais,  aos  corr egedor es  e  outr os  of iciais  da  justiça,  assim  como  a  quaisquer  

 poder osos148. 

 No  entanto,  a  1  de  Fever eir o  do  ano  seguinte,  o  monar ca  r evogava  o   pr ivilégio 

concedido à comuna dos  judeus. Se a bstrair mos na car ta de  pr ivilégio ao concelho de 

Trancoso, datada deste dia e ano, uma cer ta r ivalidade,  podemos anotar  o seguinte:

a)  Trancoso  possuía  uma  comuna  com  ra bi,  entidade  com  quem  os  juízes  do 

concelho dialogavam  para o cumpr imento do dir eito da a posentador ia;

146 Vir gínia R au, o b. cit.,  pp. 86-87. 

147 Não nos  podemos esquecer  que a muralha de Trancoso ter ia sido iniciada no século XIV, talvez no r einado de D. Dinis ou de D. Af onso IV. 

148 C hancelaria de D. Pedro  I ,  pp. 433-434; Mar ia José Ferr o, o b. cit.,  pp. 203-204. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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 b)  A judar ia era uma  r ua que  f icava na “metade da dicta villa” e  f ora-lhes dada 

r ecentemente como judar ia a par tada;

c)  Os judeus eram “muitos” e “muito r icos”. 

 Nas entr elinhas,  podemos ver  que os agravos do concelho contra a comuna assentavam 

no  f acto  de  esta,  alegando  ter   judiar ia  a par tada,  ter    benef iciado  da  isenção  de 

a posentador ia, o que o bviamente ia  pr e judicar  a comunidade cr istã so br e a qual  passara 

a  r ecair   a  totalidade  da  a posentador ia.  Cur iosamente,  a  irr itação  de  D.  Pedr o  I,  ao 

r evogar   a  car ta  de  graça  dada  aos  judeus  da  vila,  r esidia  no  f acto  de  ter   havido  um 

acor do  pr évio entr e o concelho e a comuna, acor do que f ora escondido, voluntar iamente 

ou  não,  pelos  r epr esentantes  dos  judeus,  e  que  muito  pr ovavelmente  se  baseava  no 

seguinte: os judeus continuavam a r esidir  na r ua onde sempr e tinham ha bitado, r ua que 

 per tencia ao concelho e onde eles viver iam misturados com os cr istãos, no início. Para 

não  ser em  desalo jados  dessa  r ua,  os  judeus  ter iam  aceite  f icar   com  o  encar go  da 

a posentador ia,  passando a r ua a ser  “judar ia a par tada agora novamente”, ou se ja, havia 

 pouco tempo149. 

É  pr ovável  que  toda  a  r iqueza  que  a  comunidade  r etirava  do  aluguer   das  casas  aos 

mer cador es  e  visitantes  tenha  diminuído  com  as  r estr ições  ao  r elacionamento  entr e 

cr istãos e  judeus,  imposto  pelos  pr imeir os r eis de Avis,  pois o concelho queixava-se a 

D. João I, em 1407, que a no br eza  pr ocurava a a posentador ia nas aldeias dos arr edor es 

com  pr e juízo do município, que não alugava as suas casas, e dos morador es destas que 

viam as searas e as vinhas destr uídas. Ainda em 1459, a feira era  bastante f r equentada, 

a pesar  de o concelho nas cor tes  f alar  de decadência. Dos sete ca pítulos das cor tes de 

Lis boa deste ano,  seis  r elacionavam-se  com  a  feira, o que mostra a  impacto que  esta 

tinha  na  economia  do  concelho.  Nos  agravos,  associavam  a  decadência  da  feira  aos 

arr endamentos das  sisas, não  indicando  se os  r endeir os eram  judeus  se  cr istãos150, os 

quais cometiam o pr essões e agravos so br e os mer cador es. Noutr o ar tigo, queixavam-se 

149 C hancelaria de  D. Pedro  I ,  p.  457. “ E   que ora quando eu fu y  em essa comarca os dictos  judeusvieram a m jm dizer que o concelho lhe dera  judaria apartada agora nouamente pella qual razam lhes eude y  m jnha carta de graça per que lhes nom tomasem roupa nem galinhas nem pousasem com ellesC alando em ello os dictos  judeus a uerdade da dicta razam porque a elles fo y dada por  judaria a Rua emque sempre viuerom que he na metade da dicta villa…”. 

150 Aliás, em 1454, os r endeir os da sisa eram dois judeus, Jaco b Castelão e Jaco b Soleima, e um cr istão, Álvar o Mar tins da Covilhã (Vir gínia R au, o b. cit,  p. 89) 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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da  mudança do  local  da  feira  e  da  exposição  das  mer cador ias,  a  que  atr ibuíam  o 

desinter esse de alguns mer cador es  pela feira de Trancoso. De f acto, a feira, que devia 

r ealizar -se  à  por ta  da  vila  e  intra-mur os,  era  pr e judicada  pela  ausência  de  um  bom 

r egimento  para a a posentador ia de todos quantos a ela se dir igiam. Talvez,  por  isso, ela 

f ora mudada  para Alver ca151. 

Por  esta altura, as comunidades  judaicas de Trancoso e da Guar da a pr esentavam uma 

r ivalidade, que  r esidia no  f acto de esta última  ser   ca beça do almoxar if ado da Beira  e 

dela  par tir   a  r epar tição dos  impostos  pelas demais  comunas da  r egião.  Mais  antiga  e 

localizada  numa  sede  de  bis pado,  a  comuna  da  Guar da,  decadente  em  meados  de 

Quatr ocentos, continuava a deter  o  poder  de eleger  entr e os seus mem br os o r epar tidor  

dos  impostos,  agr egando  a  este  um  r epr esentante  de  outra  comunidade  do  mesmo 

almoxar if ado. Os dois of iciais deter minavam em con junto quanto ca bia na glo balidade e 

 per capita a cada agr egado  po pulacional, sem  pr eviamente o ouvir em. Contra este f acto 

insur giram-se  os  judeus  de  Trancoso,  em  plena  pu jança  económica,  que  pediram  e 

o btiveram  de  D.  Af onso  V a  per missão  para  um  seu  pr ocurador   estar   pr esente  na 

r efer ida r epar tição152. 

Aliás,  consultando  o  Dicionário Geogr á fico,  podemos  ler   o  que  o  a bade  de  Nossa 

Senhora da Fr esta escr evia, em 1732, so br e a existência de  tr ês  feiras em Trancoso: a 

feira de S. Bar tolomeu, ou feira f ranca, no chão junto à por ta d’el-r ei, estendendo-se  por  

toda a Corr edoura e terr eir o da igr e ja de S. João, a mais antiga e que nos inter essa, neste 

momento, a de Sta. Luzia e a feira junto a Nossa Senhora da Fr esta153. 

Para além da  feira  f ranca e da  feira mensal, Trancoso  tinha ainda o mer cado semanal 

que  vinha  a   per der   f r equentador es,  devido  aos  mer cados  mensais  r ealizados  em 

concelhos  pr óximos como em Celor ico, Aguiar  da Beira, Pinhel, Guar da, etc. É nesta 

r elação de Trancoso com a sua feira ou feiras que devemos entender  o cr escimento da 

151 Vir gínia R au, o b. cit.,  pp. 89-90. Os agravos mencionavam a feira mudada “ per  aluer ca”. 

152 Mar ia José Ferr o Tavar es, O s judeus em Portugal no século  X V , UNL, Lis boa, 1981,  p. 195;  I dem, O s J udeus e C rist ã os N ovos: ante e pós baptismo nas T erras de Riba Côa,  p. 273. 

153 A. N.T.T.,  Dicionário Geogr á fico, vol. 43,  p. 417. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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comuna e dos seus  bairr os: o mais antigo, em Trancoso, e o mais  pequeno, satélite da 

comuna, em Alver ca154. 

Ora, onde se localizava o  bairr o ou a r ua dos judeus de Trancoso? Em 1997, escr evi o 

seguinte  a   pr o pósito  da  sua  localização: “ Documentos relativos aos processos de

crist ã os novos deste concelho na  I nquisiçã o permitem-nos localizar a judiaria perto da

C orredoura, onde terminava uma parte. S eria chamada V ila  N ova e daria o nome à 

igre ja que lhe estava próxima, S .  J oã o de V ila  N ova.  Ao bairro dos  judeus deve ter

 pertencido a  Rua  Direita, paralela à  C orredoura e que ia desembocar na praça,

 próximo das igre jas de S . T iago, de S ta. M aria de Guimar ã es e de S . Pedro, ou se ja, na

 zona destruída para construçã o do recente edifício da câmara” 155. 

Tenho  consciência  de  que  esta minha  af ir mação  vai  contra  o  que  é  voz  corr ente  em 

Trancoso, que a coloca  para os  lados da  por ta de S. João, e cu ja or igem documentada 

desconheço156. No entanto,  pr ocurando  per ce ber  a razão desta tradição, li com atenção o 

livr o  N otícias de T rancoso de  Lo pes  Corr eia,  autor   que  a  transmite  e  que  f az  esta 

af ir mação: “ Do lado nascente nã o há  nem nunca houve igre jas e isto, em nossa

opiniã o, por ser a judiaria” 157. Ora, nada mais err óneo. As judiar ias, em todo o mundo 

cr istão, tiveram sempr e igr e jas nas  pr oximidades,  pois um dos o b jectivos da toler ância 

r eligiosa  era  a  conver são voluntár ia dos  judeus ao  cr istianismo e  esta  era  incentivada 

 pela a pologética  pr egada no  púl pito das igr e jas ou no seu adr o. 

154 A. N.T.T., C hancelaria de  D.  A fonso V , liv. 31, f ls. 25vº e 32vº; Mar ia José Ferr o Tavar es, O s  judeusem Portugal no século  X V ,  p. 45. 

155 Mar ia José Ferr o Tavar es,  J udeus e C rist ã os- N ovos: o ante e pós baptismo nas T erras de  Riba Côa earredores,  in  o b.  cit.,  p.  273.  Tenho  em  pr eparação,  a pesar   de  há muito  estar   interr ompido  devido  a car gos univer sitár ios que tenho desempenhado, um estudo so br e os cr istãos novos de Trancoso. 

156 Tenho depr eendido, ao longo destes anos, que uma das explicações é a existência de mar cas em f or ma de cr uzes nas  pedras das casas. A minha contestação à tentativa de identif icação destas casas mar cadas, como sendo casas  per tencentes a cr istãos novos, r esulta da leitura da documentação so br e esta matér ia e 

 por que nada há que o compr ove documentalmente. De f acto, desde longa data, a cr uz era uma mar ca de  posse de uma  pr o pr iedade,  por   par te de um senhor  ou de uma or dem r eligiosa. Ve ja-se, a penas, a título de exemplo:  Livro das  Leis e Posturas,  transcr ição de  Mar ia  Ter esa  Campos  R odr igues,  Univer sidade de Lis boa, Faculdade de Dir eito, Lis boa, 1971,  pp. 14,132-133, etc. 

157 Lo pes Corr eia,  N otícias de T rancoso, Câmara Munici pal de Trancoso, 1986,  p. 47. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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 No  entanto, este  autor   esteve  muito   pr óximo  da  sua  ver dadeira  localização,  ao 

mencionar  a R ua Nova, ou se ja, a antiga  r ua da  judiar ia que, com o  ba ptismo f or çado 

dos judeus, se tor nou a r ua nova da cr istandade. No entanto, em f inais do século XV, a 

 judiar ia devia ter  sido constituída  por  outras r uas ou travessas, f or mando um  bairr o,  pois 

vir ia  a  ser   r efer ida  por   Vila  Nova.  A igr e ja de  S.  João, ho je destr uída, e  f r equentada 

 pelos  cr istãos  novos  da  vila,  deve  ter   sido  a  antiga  sinagoga,  tor nada  templo  cr istão 

como  tantas outras e  local  pr efer encial,  para alguns deles se f azer em sepultar  em  terra 

vir gem. 

A corr o borar  a nossa hi pótese de  localização da  judar ia,  junto à  por ta d’El-r ei e entr e 

esta e a  por ta do Prado, está a descr ição que o a bade de Nossa Senhora da Fr esta  f az 

destas duas  por tas, que as  tor nam únicas em  r elação às outras duas  por tas da vila. De 

f acto, am bas  têm “dois andares de portas de pau” e “junto a primeira porta de pau

quando se entra para a villa desce encaixada em huma e outra torre huma forte grade

de pau, de que se nã o uza por nã o ser necessário”. Acr escentava o nosso autor  que a 

 por ta do Prado, igual à d’el-r ei, tinha à dir eita de quem entrava um grande  poço158. As 

outras duas  por tas, a do Car valho e a de S. João, não a par ecem assim descr itas. Ora esta 

r efer ência a  por tas du plas,  sendo uma delas constituída  por  uma grade que  se descia, 

leva-nos  a  su por   que  am bas  def iniam  o  es paço  do   bairr o  dos  judeus,  o  que  é 

corr o borado   pelo  f acto  de  as   pr imeiras  gerações  de  cr istãos  novos  a par ecer em 

associadas,  pelo local de r esidência, às f r eguesias de S. Tiago, S. João de Vila Nova ou 

S.  João  de  intra-mur os,  Nossa  Senhora  do  Sepulcr o  ou  Sta.  Mar ia  do  Sepulcr o,  no 

exter ior  das muralhas159 e, mais raramente, a  S. Pedr o. 

Isto signif ica que, tal como a documentação do século XIV nos f azia su por , a judar ia de 

Trancoso situava-se na zona mais r ica e impor tante do concelho, junto à  por ta d’El-r ei e 

da Corr edoura, r ua em que, mais tar de, alguns cr istãos novos ir iam ha bitar , assim como 

do es paço ocu pado  pela  feira  f ranca,  à  por ta da vila,  r ua onde  se  localizava uma das 

 por tas  da  judiar ia,  como  ver emos,  a   par tir   da  documentação  do  século  XVI. 

158 A. N.T.T.,  Dicionário Geogr á fico, vol. 43,  pp. 412-413. 

159 Segundo  par ece, é o antigo nome da igr e ja r omânica de Sta. Mar ia da Fr esta (Júlio R ocha e Sousa,  A antiga vila de T rancoso, Viseu, 2004,  p. 63). 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

139

Infelizmente as casas não  per tenciam ao monar ca como acontecia na Guar da,  pelo que a 

sua localização não nos está per feitamente delimitada no es paço munici pal. 

É  pr ovável  que  a  evolução  do  seu  es paço  nos  conduza  a  uma  pr imitiva  f ixação  no 

exter ior  de uma  pr ovável cer ca velha,  pr óximo do  local onde se começou a  r ealizar  a 

feira, es paços da(s) r ua(s) dos judeus e da feira que, mais tar de, durante o século XIV, 

f icar iam integrados no inter ior  da muralha nova, junto à  por ta d’el-r ei. Por  isso, as suas 

casas  poder iam ser   pr o pr iedade da comuna, dos  judeus, do concelho ou das  igr e jas,  já

então, localizadas no exter ior  da cer ca velha, ou de  todos eles, uma vez que os  judeus 

em Por tugal  puderam usuf r uir  do dir eito de adquir ir  solo ur  bano e outr os  bens de raiz. 

3.  A po pulação judaica 

O  pr estígio  cr escente  da  comunidade,  e  que  era  visível  no  es paço  concelhio  que 

ocu pava,  estava  r elacionado  com  o  estatuto  sócio-económico da  sua   po pulação. 

Infelizmente  para  o  estudo  desta  só   possuímos  a  documentação  do  século  XV, 

nomeadamente  as  car tas  de  contrato  que  eram  outor gadas  pelos  r eis,  inicialmente  a 

título  individual,   pelas  quais  um  indivíduo  da  minor ia  judaica   podia  exer cer   uma 

 pr of issão  e  ser   colectado  por   ela.  Em meados da  centúr ia,  a  per missão  passar ia  a  ser  

integrada  nos  pr ivilégios  gerais  concedidos  às  comunas,  deixando  de  identif icar   os 

indivíduos destas. 

Assim,  podemos o bser var  que a comunidade  f oi alar gando o númer o daqueles que se 

intitulavam mer cador es e que  podemos associar  ao comér cio  por  gr osso, geralmente de 

 panos,  panos que eram vendidos na feira, mas que tam bém eram expostos, consoante o 

r egimento munici pal, no exter ior  das  lo jas  em  expositor es  so b  as ar cadas, ou não, de 

uma r ua Dir eita ou de uma  praça,  praça que ainda em  pleno século XVIII era descr ita 

com  os  seus  balcões  co ber tos  de  mer cador ias  diver sas  e  a bundantes.  Dir ectamente 

associadas ao comér cio dos tecidos estão os ofícios que os transf or mam como alf aiates 

e gibiteir os.  Outr os mester es que  se  pr endem  com o  tra balho das  peles, numa  r egião 

onde a cr iação de gado era  já mencionada, são os dos sa pateir os e  per gaminheir os. A

comunidade tinha ainda um físico, mestr e José Levi, que acumulou com as f unções de 

ra bi, um mestr e Isaac Fa bibe, cir ur gião, e um mestr e Salomão Cidecair o, físico. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

140

Cartas de contrato e profissões na 1ª

metade do século XV

0 5 10 15 20 25

sapateiro

gibiteiro

alfaiate

mercador 

s/ prof .

Series1

 

0 5 10 15

sapateiro

alfaiate

mercador 

f ísico

espingard

tecelão

s/prof .

Profissões na 2ª metade do século XV

Series1

 

Os  gr áf icos  mostram-nos  o  aumento  de  númer o  de  mer cador es,  assim  como  o 

a par ecimento  de  novas  pr of issões,  não  existentes  na  pr imeira metade  da  centúr ia.  O

númer o  elevado  de  judeus  sem  pr of issão  indicada  não  signif ica  que  não  tivessem 

r endimentos,   pois   podiam  dedicar -se  à agr icultura  ou  à cr iação  de  gado  ou 

simplesmente  aos  arr endamentos  e  empr éstimo  de  dinheir o,  ou,  ainda,  ser em 

 pr o pr ietár ios e viver em dos aluguer es das suas ha bitações a judeus ou a cr istãos, durante 

o tempo das feiras. 

A pesar  da  r iqueza, os  judeus de Trancoso não  eram  bafe jados  pelos  pr ivilégios  r eais, 

talvez  por   se  encontrar em  longe  dos  locais  pr efer idos  pela  cor te.  No  entanto,  alguns 

conseguiram  r ece ber   car tas  de   pr ivilégio.  Assim  aconteceu  com  David  Bor cas  ou 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Bacoa,  ser vidor   de  D.  Gonçalo  Coutinho,  alcaide  de  Trancoso,  o  atr ás  mencionado 

mestr e  José,  físico, e Salomão Canês, es pingar deir o do  r ei160. Bacoa  r ece beu car ta de 

 pr ivilégio  que  o  dis pensava  do  exer cício  de  car gos  comunais,  enquanto  mestr e  José 

o btinha a  per missão  para se deslocar  em  besta muar  de sela e f r eio e,  por  f im, Salomão 

Canês, o  pr ivilégio de es pingar deir o do r ei161. 

Os  judeus de  Trancoso  pagavam  ao  r ei o  ser viço r eal, velho  e novo,  a  sisa, o  sisão, 

 peitas  e  taxas  vár ias.  Em  1435,  o  ser viço  r eal,  velho  e  novo,  eram  arr endados  por  

A braão Bar uc,  por   227  500 libras,  e  no  ano  seguinte  o mesmo  judeu  arr ematava  os 

mesmos tr ibutos  por  251 000 libras. Para os mesmos anos, o  pagamento que a comuna 

f azia distanciava-se de outras da  r egião, como Sa bugal que entr egava 35 000 libras e 

Gouveia 15 750, em 1435, contra as 140 000 de Pinhel e 40 000 do Sa bugal, no ano 

seguinte162.  As  sisas  pelas  transacções  r ealizadas  na  feira  eram  anotadas  e  r ece bidas 

 pelo escr ivão das sisas dos judeus que f r equentavam a feira de Trancoso163. 

 Nem sempr e os dir eitos dos judeus f oram r ece bidos  pelo so berano. Em 1464, uma  par te 

deles ou a totalidade f oi dada a Lo po de Albuquer que, camar eir o de D. Af onso V164. No 

momento da expulsão, as r endas das  judiar ias de Trancoso e Mar ialva eram  r ece bidas 

 por  D. Diogo de Castr o e somavam 30 000 r eais165. 

A comuna tinha os seus magistrados  pr ópr ios. R a bis, como o físico mestr e José Levi, o 

escr ivão, como Haim Franco, ou o escr ivão da câmara, sisão e genesim, como Moisés 

R odr iga  f oram  alguns  dos  nomes  que  chegaram  até  nós166.  Os  of iciais  judeus  eram 

o br igados,  desde  os  f inais  do  século  XIV,  a  dominar   o  por tuguês  escr ito,  pois  as 

chancelar ias  comunais  deixaram  de  ser   r edigidas  em  he braico.  Como  nem  todos 

160 Mar ia José Ferr o Tavar es, O s  J udeus em Portugal no século  X V , I NIC, Lis boa, 1985, vol. II,  pp. 374-378. 

161  I bidem,  pp. 787 (1450, 31/03), 795 (1465, 18/02), 807 (1492. 29/03). 

162  I bidem,  pp. 633-634. 

163  I bidem,  p. 695

164  I bidem,  p. 735. 

165  I bidem,  p. 756. 

166  I bidem,  pp. 376 e 378. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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escr eviam o  por tuguês, havia cr istãos que desempenhavam car gos na comuna como o 

ta belião João Af onso ou Fer não Álvar es, escudeir o, ou Álvar o Per es, escr ivão da sisa 

 judenga  paga na feira de S. Bar tolomeu, desde 1473 a 1496, acumulando, neste último 

ano,  com a escr ivaninha dos dir eitos  r eais dos  judeus de Trancoso167. Em meados do 

século XV, a comuna teve os seus ra bis eleitos, em vez de nomeados  pelo r ei, a título 

 per  pétuo.  Tal   pr ivilégio  teve  a  inter cessão  junto  de  D.  Af onso  V de  Lo po  de 

Albuquer que, camar eir o do r ei, o mesmo f idalgo que, a  par tir  de 1 de Janeir o de 1465, 

 passar ia a r ece ber  como r endimento o ser viço r eal e novo dos judeus de Trancoso168. 

A onomástica  das  f amílias  judaicas  deste  concelho  indica-nos  pelos  to pónimos  de 

alguns  dos  a pelidos  a  sua  pr oveniência  para  além  das  f r onteiras,  como  os  R odr igo, 

talvez de Cidade R odr igo, os Navarr o, os Castelão, os de Cácer es, os Sor iano que se 

 juntavam aos Bar zelai, aos Justo, aos Cohen, aos Levi, aos Favive, aos Tovi, aos Car o, 

aos  Barr ocas,  etc.169,  nomes  que  se  r epetem  noutras  comunidades   beir ãs170.  Não 

 podemos compr ovar  que a expulsão dos judeus de Es panha, em Mar ço de 1492,  pelos 

R eis  Católicos  tenha  tido  como  consequência  o  aumento  da  po pulação  judaica  do 

concelho, em bora  pensemos que tal aconteceu, à semelhança de outr os locais do r eino, 

nem tão  pouco que os r ecém-vindos tenham contr ibuído  para o r enascimento económico 

do concelho. 

Quantas  f amílias  ha bitavam  na  comuna? Podemos  estimar   pelo  númer o  de  car tas  de 

contrato,  passadas  em  1441-42,  que  44 judeus  adultos,  pelo menos,  aqui  r esidiam  e 

 podiam  identif icar  outras  tantas  possíveis f amílias, num  total de cer ca de 200  pessoas, 

se não mais, se  pensar mos que muitas das f amílias cr istãs novas eram constituídas  por  

uma grande  pr ole de f ilhos que atingiam a idade adulta e que,  por  vezes, ultra passava a 

dezena.  O númer o  de  ha bitantes  da  minor ia   pode  ter   du plicado  nas  vés peras  da 

expulsão, com a vinda dos judeus castelhanos. Tam bém é ver dade que algumas destas 

 pessoas atingiam uma elevada longevidade, chegando aos 80 anos. 

167  I bidem,  pp. 695-709. 

168 A. N.T.T., C hancelaria de D. A fonso V , liv. 8, f l 175. 

169  I bidem,  pp. 374-378. 

170 Mar ia José Ferr o Tavar es,  J udeus e C rist ã os N ovos…,  pp. 272-274. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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4.  A expulsão e o  ba ptismo f or çado. A comunidade cr istã nova 

Em  Dezem br o  de  1496,  D.  Manuel  pr omulgava  o  édito  de  expulsão  das  minor ias 

 judaica e muçulmana. À semelhança do que aconteceu noutr os lugar es, os of iciais do r ei 

leram o édito nos  paços do concelho,  perante as autor idades munici pais e da comuna, e, 

em seguida,  f oram-no  ler  na  sinagoga a  toda  a  po pulação  judaica, a qual  se  pr epar ou 

 para  par tir ,  cumpr indo a vontade do  r ei.  Sa bemos,  tam bém, que  a maior ia não o  fez, 

sendo f or çada a r ece ber  o  ba ptismo nas igr e jas de Trancoso ou de outr os concelhos do 

r eino,  depois  de  lhes  ter em  r etirado  as  cr ianças,  a  19  de  Mar ço de  1497,  sá bado  de 

R amos,  por ventura  o  dia  da  Páscoa  judaica.  Ba ptizados  à f or ça,  per maneceram  no 

concelho  devido  às  r estr ições  à mo bilidade  para que não  a bandonassem o  r eino  nem 

vendessem  os  bens.  Uma minor ia  r ece bê-lo-ia  voluntar iamente  pelo  que  o bteve  uma 

car ta de limpeza de sangue e,  por   pr ivilégio r eal, entrava na  pequena no br eza. Tal deve 

ter   sucedido com  João  R odr igues Ferr o,  judeu  castelhano, natural de  San Felices que 

 pediu  para r ece ber  o  ba ptismo e ascendeu a escudeir o, estatuto em que ser ia conf ir mado 

 pela  pr o pr iedade da quinta da R ibeira de Távora171. 

Outr os atingiram Trancoso depois de uma  per egr inação  por  outr os lugar es do r eino. Tal 

aconteceu com Andr é Gonçalves, sa pateir o, tam bém ele natural de San Felices, que f oi 

 ba ptizado de  pé em Sanf ins da Mar inha,  per to do Por to, tendo como  padr inhos todos os 

f r egueses  da  localidade  que  f oram  pr esentes  ao  seu  ba ptismo172.  No  entanto,  a pós  o 

 ba ptismo,  a  catequização  não  f oi  muito  convincente,  em bora  a  maior ia  dos  cr istãos 

novos de Trancoso sou bessem  per signar -se e r ecitar  as orações  pr inci pais, como o Pai 

 Nosso,  a  Ave  Mar ia, o  Cr edo,  em  latim ou  em  por tuguês,  e  com mais  dif iculdade  a 

Salve R ainha. 

Ana R odr igues, natural de Medina del Campo, f ora  ba ptizada em S. João de Vila Nova 

 pelo a bade Álvar o Saraiva e cr ismada na igr e ja de S. Pedr o173. Por  sua vez, Francisco do 

Vale  r ece bera  as  águas  do  ba ptismo,  sendo  cr iança, na  igr e ja de  S. Pedr o174. Beatr iz 

171 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  37 38. 

172 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 512. 

173 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  8918.

174 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 896 .

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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R odr igues  f ora   ba ptizada  quando  D.  Manuel  mandara  tirar   os  meninos  aos  judeus. 

Tinha dez anos de idade175. 

Ba ptizados  livr emente  ou  à f or ça,  os  cr istãos  novos mantiveram  a  sua  r esidência  na 

 judar ia, que  passou a ser  ha bitada tam bém  por  cr istãos velhos, quando aqueles, depois 

do  levantamento  contra  os  cr istãos  novos  de  Lis boa,  em  A br il  de  1506,  passaram  a 

 poder   par tir   para  f ora do  r eino ou  para outras  paragens onde o seu  passado de  judeus 

não era conhecido. A comunidade  per manecia no es paço da antiga  judar ia, agora Vila 

 Nova176,  à  por ta  d’el-r ei,  a  Corr edoura,  a  R ua Dir eita  e  estendia-se  pela Praça,  onde 

muitos  cr istãos novos  tinham  as  suas  tendas  a ber tas,  pela  r ua da  Cadeia,  pela  r ua de 

Santiago e  pelas  pr oximidades da igr e ja de S. Tiago,  pela r ua dos Vales. Declaravam-se 

f r egueses  de  S.  João  de  Vila  Nova,  de  S.  Tiago,  de  S.  Pedr o  e  de  Santa  Mar ia  do 

Sepulcr o.  As  casas  eram   pr o pr iedade  do  concelho,  de   par ticular es  cr istãos,  de 

esta belecimentos r eligiosos e até dos  pr ópr ios cr istãos novos os quais as su b-alugavam a 

cr istãos novos. Por  exemplo, Francisco Gonçalves r esidia na r ua de Santiago em casas 

de Lo po Dias, cr istão novo177. Já Jor ge Henr iques, mer cador , era f r eguês de Santa Mar ia 

do Sepulcr o e nesta igr e ja se f ar ia sepultar  em terra vir gem, ou mestr e Manuel, físico, e 

Lucr écia Nunes, sua mulher , o licenciado Luís Gomes,  pr ocurador , casado com a f ilha 

de Diogo Pinheir o, mer cador ,178. Por   sua  vez,  o mer cador   João Fer nandes  r esidia  na 

Praça179, Graça Fer nandes, cu jo mar ido ser via o r ei como cavaleir o em Ar zila, morava 

na  R ua da  Cadeia180  enquanto Diogo Fer nandes, mer cador  e almocr eve, vivia à  por ta 

d’el-r ei181. 

175 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  2431.

176 A pr ópr ia designação de Vila Nova nos indica que a judar ia de Trancoso se es palhava  por  vár ias r uas e travessas,  entr e  as  por tas  d’el-r ei,  a  Corr edoura  e  a  muralha  do  século  XIV,  a  par te  mais  no br e  do concelho.  A dif iculdade  em  localizá-la  com  r igor   r esulta  da  pr o pr iedade  das  suas  casas  per tencer   aos 

 pr ópr ios  judeus/cr istãos novos ou aos cr istãos, entendidos este  por  concelho,  igr e jas e  par ticular es, que  poster ior mente as su b-alugavam aos indivíduos da minor ia. 

177 T.T.,  I nquisiçã o de É vora nº  6 346 , f ls. 109v-113. 

178 T.T.,  I nquisiçã o de É vora nº  6 346 , f ls. 33. 

179 T.T.,  I nquisiçã o de É vora nº  6 346 , f ls. 59v-60. 

180 T.T.,  I nquisiçã o de É vora nº  6 346 , f ls. 60-60v. 

181 T.T.,  I nquisiçã o de É vora nº  6 346 , f ls. 86-86v. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Com a mo bilidade veio  tam bém  a deslocação  para outras  zonas do concelho, outr ora 

exclusivamente  ha bitadas  por   cr istãos. Ba ptizados,  podiam  r ece ber   or dens  r eligiosas, 

mandar   os  f ilhos   para  a  Univer sidade  ou   par tici par   na  vida  munici pal,  como 

magistrados,  ou  ser   mem br os  de  conf rar ias  e  da  Miser icór dia.  O nome  já não  os 

distinguia,  excepto  na  comunidade  onde  f oram  conhecidos  como  judeus,  em  que  o 

nome judaico  per manecia agora como alcunha, como acontecia com Manuel R odr igues 

Bar uc182. A pesar  de  pr oibido o casamento entr e cr istãos novos, este f oi mantido como 

r egra,  sendo o  casamento misto uma  excepção.  E o mesmo vir ia  a  acontecer   com  as 

sociedades  comer ciais  que  cr iavam,  que  mais  não  eram  senão  o  pr olongamento  das 

r elações f amiliar es, onde os cr istãos velhos não entravam. 

5.  A comunidade cr istã nova e a entrada da Inquisição em Trancoso 

Os  pr ocessos  da  Inquisição  de Évora,  iniciados  pouco  depois  do  esta belecimento  do 

Tr ibunal do Santo Ofício, mostram-nos uma comunidade  pr ós pera, onde o cr istianismo 

escondia um  judaísmo  clandestino no  inter ior  das  casas.  A visitação dos  inquisidor es 

 pr ovocou um des povoamento quase geral no concelho, de tal modo que no  par ecer  que 

os r epr esentantes dos cr istãos novos deram a D. João III, declaravam que o  inquisidor  

“ fez fogir em dous ou tr ê s dias cento e satenta moradores que os mais delles her ã o

merquadores riquos”183.  Aliás  esta  ser á uma  das  acusações  feitas  a  alguns  dos  r icos 

cr istãos  novos  do  concelho,  como  a  Francisco  Car los,  mer cador ,  acusado  de  vender  

 bens  para  par tir  do r eino. Pr eso enviara uma car ta ao f ilho, or denando-lhe que vendesse 

a “mer cador ia”, o que  levou os  f amiliar es, que ainda se encontravam  livr es e na vila, 

entender  que ele confessara e indir ectamente lhes estava a indicar  que f ugissem, o que 

aca bar iam  por   f azer  Manuel Car los, Branca Car los e outr os cr istãos novos184. Alguns, 

a pesar   de  se  encontrar em  f ora  do  r eino,  não  conseguiram  esca par   aos   braços 

inquisitor iais,  como  aconteceu  com  o  r ico  mer cador   Diogo  Pinheir o  que,  tendo-se 

acolhido  em  Es panha,  f oi  pr eso  em  Cidade  R odr igo  pela  inquisição  de  Ller ena  que 

182 Pai de António R odr igues, genr o de Andr é Gonçalves de Trancoso (A. N.T.T.,   I nquisiçã o de É vora, nº  7 512) 

183 Gavetas da T orre do T ombo,  CEHU,  Lis boa, vol.  I,  pp.  38 w 232-234; Mar ia  José Ferr o  Tavar es,  J udaísmo e  I nquisiçã o.  E  studos, ed. Pr esença, 1987,  p. 92;  I dem,  Los  J udíos en Portugal , eds. Ma pf r e, Madr id, 1992,  p. 189. 

184 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9890. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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desconf iara do grande númer o de  por tugueses que entravam naquele r eino. Vir ia a ser  

denunciado  à inquisição  de  Ller ena,  por   corr es pondência  enviada  pelo  inquisidor   de 

Évora185. 

 Não  há dúvida  que  Trancoso  mer eceu  logo  no  início  o  inter esse  dos  inquisidor es, 

 por que o concelho tinha f or tes r elações com a raia es panhola e, so br etudo,  por que nele 

se  localizou  um  dos  mais  impor tantes  f ocos  de  irradiação  do  messianismo  judaico, 

f or talecido  pelas tr ovas do sa pateir o de Trancoso, Gonçalo Eanes, o Bandarra186. Aliás, 

era voz e f ama que os cr istãos novos da vila eram maus cr istãos, como  pudemos ler  em 

muitos  depoimentos  a  eles  r elativos,  dados   por   escravas,  cr iadas  cr istãs  velhas, 

r eligiosos  e  cidadãos  da  vila,  como  António Benevides,  a bade  de  S.  Tiago,  António 

Car valho, ar ci pr este, António Saraiva, juiz dos ór f ãos, Fer não Lo pes Saraiva, escudeir o 

f idalgo, Gonçalo Anes, sa pateir o, quem sa be se o nosso Bandarra, assim como nos autos 

da inquir ição r ealizados  pelo  bachar el Jor ge Gonçalves R ibeir o187. Mas não só. Alguns 

cr istãos novos  f oram os grandes denunciantes da comunidade,  tais como os sa pateir os 

Andr é Gonçalves, seu f ilho António Gonçalves e Duar te Gonçalves que acusar iam  per to 

de  cento  e  cinquenta  f amílias  de  judaízar em188.  Quem  eram,  como  viviam  e  a  que 

actividades económicas se dedicavam estes cr istãos novos, é o que tentar emos r etratar , 

sumar iamente,  a   par tir   do  quotidiano  denunciado  nos   pr ocessos  da  Inquisição  de 

meados do século XVI. 

185 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  8122. 

186 So br e este assunto e so br e a inf luência do Bandarra na comunidade cr istã nova, ve ja-se: “Para o estudo dos  judeus  de  Tr ás-os-Montes,  no  século  XVI: a  1 ª geração  de  cr istãos  novos”,  in  Revista C ultura

 História e  F ilosofia, Centr o de Histór ia da Cultura, UNL, 1985, vol. IV,  pp. 371-417 ;  I dem,  J udaísmo e I nquisiçã o, ed. Pr esença, 1987;  I dem, “Caracter ísticas do messianismo judaico em Por tugal”, in  E  studosOrientais  II   –  O legado cultural de  J udeus e M ouros, Instituto Or iental, UNL, Lis boa, 1991,  pp. 245-266;

 I dem,   Los  J udíos en Portugal ,  eds.  Ma pf r e,  Madr id,  1992,   pp.  187-259.  Estes  tra balhos  e  outr os r esultaram  de  uma  investigação,  f inanciada  pela  Fundação  Gulbenk ian,  e  dir igida  por   mim  com  a 

 par tici pação  de  Lucília  R una  e  Mar ia  do  Car mo  Teixeira  Pinto,  como  bolseiras  deste  pr o jecto  de investigação.  Mais  r ecentemente  e  utilizando  muita  inf or mação  dos  tra balhos  então  pu blicados,  Elias Li piner ,  Gonçalo  Anes  Bandarra e os crist ã os-novos,  Trancoso,  Associação  Por tuguesa  de  Estudos Judaicos, 1996. 

187 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora,nº  11 56 7  (auto da diligência feita em Trancoso);  nº  9890, f ls. 79-90v. 

188 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 512 , 116 51  e 6 436  ,, r es pectivamente.

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Pudemos conf ir mar  que estes descendentes de  judeus em  pr imeira, segunda e  ter ceira 

geração  de  cr istãos  mantinham  entr e  si  uma  fer oz  endogamia,  casando  com  outr os 

cr istãos  novos  da mesma  ou  de  comunidades  vizinhas,  onde  se  salientavam  Guar da, 

Pinhel,  Celor ico,  Valver de  nos  arr edor es  de  Aguiar   da  Beira,  Sa bugal,  Melo, 

Penamacor , Fundão, ou mais distantes como Montemor -o- Novo, Bragança, Vila R eal, 

 por   exemplo.  Tais  casamentos  tor naram-se  sus peitos  pelo  que  houvera  uma  devassa 

contra os cr istãos novos da r egião, enca beçada  pelo corr egedor  Mar tim Velho189. 

A mo bilidade  era  uma  constante,  quer   no  inter ior   do  r eino,  quer   do  outr o  lado  da 

f r onteira, onde alguns se f ixavam quer  como mer cador es, quer  como médicos. Francisco 

Car los deslocava-se com f r equência a Quintela de Lampaços, a Bor nes, a Bragança ou a 

Lis boa, ou a Cidade R odr igo, onde a panhara  peste. Justif icava as deslocações  por  razões 

de negócios;  para os seus denunciantes, era uma maneira de divulgar  a r eligião judaica, 

 junto das comunidades cr istãs novas. Tal acontecera quando era r endeir o dos votos de 

Sam bade, onde  pousara na casa de Álvar o de Leão de Cor tiços e de sua mulher  Leonor  

de Car va jal, o qual, com seu ir mão Jor ge de Leão, tinham as r endas do ar ce bis pado de 

Braga, em que ele  pr ópr io, Francisco Car los,  tinha  par cer ia,  pois  ia arr ecadar   a  r enda 

com os dois ir mãos190. 

Por  sua vez, mestr e Manuel, cir ur gião, veio  para Trancoso  por  ter  casado com Lucr écia 

 Nunes  que  aqui vivera  com  sua mãe, natural de Pinhel.  Conheceu-a  em Évora, onde 

r esidiam os ir mãos e de Évora f ora morar   para Por tel e daqui  para Lis boa, onde casou, 

antes  de  par tir   para  Trancoso191.  O  bachar el  em  leis,  Diogo  de  Solazar ,  natural  da 

Guar da,  f ora  casar   a  Trancoso  e   par tira   para  Cidade  R odr igo,  onde  vivia  com  a 

f amília192 

Este  r elacionamento  estr eito,  quer   f amiliar ,  quer   económico,   per mitiu-lhes  viver , 

durante  quase  um  quar to  de  século,  numa  atitude  hí br ida: exter ior mente  cr istãos, 

f r equentador es da  igr e ja  e dos  sacramentos, mem br os de  conf rar ias, continuador es da 

189 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9890. 

190 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9890. 

191 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  11285.

192 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  11285 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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tradição  r eligiosa  judaica no  inter ior  das suas f amílias e casas. No entanto, nem  todos 

eram  assíduos  à missa,  alegando  ter   o btido  dis pensa  pa pal  que  os  isentava  da  ida  à

igr e ja, como Lucr écia Nunes. 

Se as mulher es mantinham o r itual que lhes  per tenceu sempr e, como a limpeza da casa e 

a  mudança  de  r ou pa  da  cama  à sexta-feira,  a  pr eparação  da  r efeição  do  sá bado,  a 

limpeza da candeia e a colocação de matula nova e de azeite na candeia que f icava acesa 

num quar to ou numa ar ca, durante toda a noite de sexta  para sá bado, a limpeza da casa 

 para  a   pr eparação  da  Páscoa  do   pão  ázimo,  o  f a br ico  deste  e  a  sua  distr ibuição 

clandestina  por   algumas  delas  junto  das  f amílias  cr istãs  novas,  aos  homens  ca bia  a 

degolação dos animais, a indicação dos dias cer tos em que ocorr iam as Páscoas judaicas 

e os je juns, nomeadamente o qui pur  e o da rainha Ester , indicação que  pr ocuravam no 

S idur , livr o que alguns ainda  possuíam às escondidas. A  pr ática do descanso sa bático, 

das  festas  judaicas, como  a  Páscoa  do  cor deir o  e  a  das  ca banas,  dias  em  que  se 

ador navam e vestiam melhor , os  je juns  à maneira  judaica de dia  inteir o, os  thanis de 

segunda e quinta-feira, a  r ecusa em comer  car ne de  por co ou sangue, a  cozedura dos 

 pães ázimos com os  bolos de azeite no f or no de Francisco Lo pes, f or neir o, cr istão novo 

de  Trancoso,  eram  outras  das  denúncias  feitas,  quer   por   cr istãos  velhos,  quer   por  

cr istãos novos. 

Alguns ser iam acusados de  pr eparar  os cr istãos novos f alecidos à maneira judaica: aos 

homens ca bia o amor talhamento com as mãos ao  longo do cor  po e os  pés  paralelos e 

não, à maneira  cr istã com as mãos e os  pés cr uzados, a  lavagem do mor to com água 

 per f umada com r osas e r osmaninho, o cor te das unhas das mãos e dos  pés, assim como 

o a paramento da  bar  ba e outr os  pelos, de vestir em os mor tos com r ou pa nova e mor talha 

nunca usada nem lavada em linho cr u e  pr ocurar em uma sepultura em terra vir gem. Às 

mulher es  ca bia  o  pranto dos mor tos.  A estas  tam bém  per tencia des pe jar   toda  a  água 

existente na casa ou nas casas  pr óximas,  pois acr editavam que o an jo da mor te e a alma 

do mor to lá tinham mer gulhado. 

Entr e eles estava divulgada a cr ença messiânica. Acr editavam que estar ia  para  br eve a 

vinda  do  Messias  dos  judeus,  inter  pr etando  os  acontecimentos  da  época  como  sinais 

conf ir mativos de que estavam a viver  anos messiânicos. A vinda de David R eu beni ao 

r eino e a sua  pr esença em Almeir im, onde estava a cor te, r ef or çou a cr ença dos cr istãos 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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novos de que o Messias dos judeus, que os havia de conduzir  a Jer usalém, estar ia  para 

 br eve.  Aliás,  com  o  o b jectivo  de  o bter   inf or mações  a  este  r es peito,  João  R odr igues 

Ferr o, de  Trancoso, deslocou-se  a  Lis boa  para  f alar   com o  f ilho do  r ei dos  judeus, o 

denominado “judeu do sa pato”, que vinha a Por tugal como em baixador  em nome de seu 

ir mão. Nas denúncias constava esta deslocação de João R odr igues a Almeir im, segundo 

uns,  para levar  os  pr esentes que os cr istãos novos de Trancoso ofer eceram a R eu beni. 

 Na  denúncia que  fez  de Francisco de  Valladolid,  pr eso  em  Es panha,  João  R odr igues 

Ferr o declar ou que o Messias dos  judeus era o  Anticr isto dos cr istãos,  segundo umas 

tr ovas que cir culavam, talvez as do Bandarra, que f alavam das tr ibos  per didas de Israel 

e do seu ca pitão  per tencente à tr ibo de Dan o qual devia vir   pelo ano de 1550193. 

Feiras, como a de Sta. Eufémia, em Setem br o, eram  pr etexto  para os je juns, como o do 

qui pur , ou  para  feste jar  a Páscoa das Ca banas que  caiam  por   esta  altura.  Um  passeio 

 pelo campo, com saída e entrada  pela  por ta de S. João, era uma maneira de cumpr ir  o 

descanso sa bático, alegando af azer es f ora da vila, ou no caso das mulher es, a deslocação 

ao mer cado, na Praça, com as suas escravas que, depois das compras mandavam  para 

casa, enquanto elas f icavam a conver sar  o dia todo umas com as outras,  passeando  pela 

Praça  e  pela  Corr edoura.  Nos  R amos,  feste javam  a Páscoa  judaica,  e no domingo de 

Páscoa, conf rater nizavam com os cr istãos na Páscoa cr istã. Pelo Natal, iam  buscar  água 

à f onte e  lançavam nela um  ferr o em  brasa e às vezes  tam bém vinho. Nas Páscoas de 

Setem br o (hanuca) e na dos R amos (a Páscoa judaica), comiam em louça nova, e alguns 

acendiam  a  menorah de  sete   braços,  segundo  testemunhava  a  escrava  Antónia. 

Feste javam o Pentecostes.  Je juavam  o  thisabeat ,  os  thanis de  segunda  e quinta-feira, 

sempr e à maneira judaica, ou se ja, até ao cair  da noite. R ezavam ca beceando como os 

 judeus e alguns f aziam-no ainda em he braico, segundo os denunciantes194. 

Alguns  cr istãos novos  tinham  f ama de  ser em  ra bis, como Francisco Car los, que ser ia 

acusado  de  amor talhar   os  cr istãos  novos  f alecidos  à maneira  judaica,  de  degolar   os 

animais e co br ir  o sangue com terra, de conhecer  os dias dos je juns dos judeus, como o 

qui pur , indicando-os a outr os e je juando-os à maneira judaica, durante o dia todo até a 

193 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  37 38. 

194 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  8355 , 7 512.

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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noite cair , de sa ber  orações judaicas e de  possuir  livr os  pr oibidos, além de se vanglor iar  

de ser  f ilho de ra bi Iça (Joshua) Cohen195. 

Tam bém  o  licenciado  João  Luís  Medina  ser ia  alvo  da  mesma  acusação  e  de  ter  

sepultado  o  pai  junto  aos  degraus  da  por ta  da  igr e ja  de  S.  Pedr o  que  f ora  a ber ta 

r ecentemente  para a travessa de S. Pedr o,  por  ser  terra vir gem196. Não eram os únicos. 

Isa bel  de  Almeida  acusar ia  Duar te  Lo pes,  o  “nevoeir o” e  Manuel  Car los  de  ser em 

“sa bidos na Lei” e de lhe indicar em os je juns e as festas judaicas  para ela as guar dar 197. 

Algumas  das  casas  de  cr istãos  novos  f uncionavam  como  sinagoga,   pois  nelas  se 

r euniam gr u pos  pequenos  para r ezar  e ouvir  os “clér igos dos judeus”, ou se ja, os ra bis. 

A r eunião era feita numa câmara no  piso su per ior ,  por  vezes, numa câmara inter ior ,  para 

que  olhos  indiscr etos  não  vissem  e  não  f ossem  denunciar .  No  entanto,  com  pouco 

sucesso,  pois  as visitas de vár ios  cr istãos novos a outr o ou outra  cr istã nova, mesmo 

com o  pr etexto de que estes últimos se encontravam doentes, eram o b jecto de sus peita 

 por   par te dos vizinhos cr istãos velhos ou da cr iadagem. Uma destas “sinagogas” era a 

casa de Manuel Car los, onde se juntavam aos sá bados alguns dos seus f amiliar es, como 

os casais Pedr o Henr iques e Ana R odr igues, o mer cador  e siseir o Simão Gar cia e Isa bel 

do Vale, Jácome R odr igues Beselga e Br ites R odr igues, Catar ina R odr igues, a dona da 

casa e ir mã destas, assim como a mãe Mécia do Vale e sogra de Manuel Car los198. 

Alguns mem br os da comunidade detinham uma cultura e um estatuto social, comum a 

uma  bur guesia média ou alta. Francisco Car los  possuía livr os em sua casa, incluindo a 

 História do Palmeirim, uma T orah, segundo alguns, que ele declarava ser uma Bí blia e 

outr os  livr os199.  No  auto  da  sua   pr isão  em  Trancoso,  o  ta belião  descr eveu  o  seu 

vestuár io e  penteado,  tanto mais que ele declarara ter   tomado or dens, o que o  ta belião 

duvidara  por que não lhe vira sinais de cor oa na ca beça. O cor te do ca belo era r edondo 

195 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9890. 

196 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  5305.

197 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  8355.

198 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 512.

199 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9890. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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até às or elhas. Na ca beça usava um  barr etinho  pr eto r edondo e trazia vestido um  pelote 

 pr eto até aos  joelhos, de mangas dir eitas. Trazia vestidas umas calças  brancas e umas 

 botas  brancas com o car naz virado. 

Francisco Car los era tido  por  ra bi ou ca pelão dos cr istãos novos de Trancoso, como já o 

f ora dos cr istãos novos de Tr ás-os-Montes, quando aqui vivera. Pr eso na cadeia da vila, 

Francisco  Car los  aceitava  pagar   a  um  homem  de  conf iança,  nomeado  pelo  juiz  de 

Trancoso, que o  acompanhasse  até  à  pr isão  da  Inquisição  em Évora,  depois de  o  ter  

r ecusado f azer ,  por que não tinha  bens  para tal. O meir inho Andr é Gil f oi indigitado  para 

o acompanhar   pr eso a Évora. Estávamos em 1543 e  per maneceu  pr eso até 1549, tendo 

a b jurado na sé desta cidade, graças à bula do  per dão concedida  por  Paulo III aos cr istãos 

novos  por tugueses200. 

Tam bém mestr e Manuel, cir ur gião,  possuía em casa livr os de medicina, sendo acusado 

de  ter   livr os  dos  judeus  que  quis  esconder   junto  do  ar ci pr este,  o  qual  se  r ecusar ia  a 

r ece bê-los  por que  os  achou  sus peitos201. Por   sua  vez  o  licenciado  João  Luís  Medina 

tinha  em  casa  livr os  de  quir omância,  assim  como  o  Antigo  Testamento  glosado  por  

 Nicolau de Lira202. 

Como  dissemos  acima,  os  grandes  denunciantes  da  gente  de  Nação,  r esidente  em 

Trancoso,  f oram  tr ês  sa pateir os,   bem  conhecedor es,   pois  eram  os  degolador es  e 

distr ibuidor es  da  car ne  degolada  ao  modo  judaico,  assim  como  auxiliavam  no 

amor talhamento dos cr istãos novos  f alecidos, ao mesmo  tempo que eram os coveir os 

das suas  sepulturas. Pelos seus depoimentos,  temos o  r etrato da comunidade, dos que 

tinham f icado e dos que, com medo da Inquisição, conseguiram f ugir   para Es panha ou 

tinham  par tido  por  razões de negócio  para mais longe, como o Per u. Segundo eles, não 

haver ia em Trancoso tr ês cr istãos novos que f ossem  bons cr istãos. 

6.  As r elações com os cr istãos velhos e a vivência cr istã

200 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9890. 

201 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  11285.

202 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  5305.

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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 Não  era  só  a  posse  de  livr os  e  a  convivência  com  a  gente  grada  do  concelho  que 

indicava  o  estatuto  social  de  algumas  f amílias  da  ex-minor ia  judaica.  Alguns 

af ir mavam-se  honrados  e  par ticular izavam  a  sua  posição  no município  pelo  f acto  de 

 poder em ser  eleitos  para os car gos do concelho,  tal como declarava o  licenciado João 

Luís Medina,  físico,  perante os  inquisidor es203. Aliás, cr istãos velhos e cr istãos novos 

gladiavam-se entr e si  pelos car gos munici pais, tendo o gr u po daqueles, enca beçado  por  

João Gomes conseguido que os cr istãos novos não ocu passem os  car gos nem  f ossem 

corr egedor es, excepto se f ossem eleitos, enquanto João Luís Medina alcançara na cor te 

um documento que  lhes  per mitia  integrar em o  númer o dos  elegidos.  Segundo  alguns 

testemunhos,  quer   de  cr istãos  velhos,  quer   de  cr istãos  novos,   pessoas  gradas  de 

Trancoso,  havia  bandos  de  uma  e  outra  par te  pelo  domínio  do  poder   do  concelho, 

a par ecendo alguns destes  bandos mistos204. Pelas contraditas a pr esentadas contra alguns 

acusador es,  depr eendemos  a  r ivalidade  entr e  pessoas  do mesmo  estatuto  social  ou  o 

ódio ao r endeir o que lhe f icara com as  pr o pr iedades  por  dívida. 

Para além das  ligações  à comunidade cr istã nova, alguns mem br os desta comunidade 

a pr esentavam como testemunhas a bonatór ias da sua vida cr istã, mem br os da oligar quia 

munici pal ou do cler o local, alguns dos quais aca bar iam  por  ser  seus acusador es através 

do “ouvir  dizer  a outr ém”. Francisco Car los indicou como testemunhas de defesa, entr e 

outr os, o ar ci pr este António Car valho, a bade de S. Miguel, Diogo Bor ges, a bade de S. 

João, Diogo de Matos, cura de S. Pedr o, João Frade, cura da igr e ja de S. João, António 

Gil, cura de S. Tiago, Jor ge Car valho,  padr e de Sta. Mar ia, António Saraiva,  juiz dos 

ór f ãos, entr e outr os205. 

António Fonseca, cavaleir o  f idalgo da casa  r eal, morador  em Trancoso, era compadr e 

do  ta belião João da Fonseca, de quem era amigo, e se encontrava  pr eso na  Inquisição 

 por   pr áticas e cr enças judaicas. João da Fonseca Saraiva, igualmente cavaleir o da casa 

r eal  e  r esidente  no  concelho,  declarava-se  seu  compadr e  e  amigo206.  Aliás,  tal  como 

João da Fonseca, Francisco Car los era  tido  por  homem honrado que convivia com as 

203 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  5305.

204 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  5305.

205 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9890. 

206 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  5995.

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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 pessoas  gradas  da  vila,  acompanhando-as  na  caça.  João  Frade,  clér igo  e  ca pelão  da 

igr e ja  de  S.  João  de  Vila  Nova,  era  tam bém  seu  compadr e,  depondo  a  seu  f avor   e 

declarando  que  ele  era  seu  f r eguês  e   bom  cr istão  207.  Tam bém  mestr e  Manuel 

f r equentava a igr e ja de S. João de Vila Nova, ia à missa de Nossa Senhora do R osár io a 

S. Pedr o e às missas na igr e ja da Miser icór dia,  para além de acompanhar  o Santíssimo 

Sacramento quando ia ser  dado aos enfer mos208. 

Às  mesmas  f r eguesias  e  conf rar ias   per tencia  o  licenciado  João  Luís  Medina  que 

acr escentava  às conf rar ias de Trancoso  a de  Nossa Senhora de Guadalu pe,  talvez  em 

Es panha,  e  a  de  Nossa  Senhora  da  Graça,  talvez  em  Lis boa209.  A estas  juntavam-se, 

ainda em Trancoso, a conf rar ia da Miser icór dia, a de S. Se bastião e a do Es pír ito Santo 

de  S.  João de  Vila  Nova,  esta última  cr iada no  início do  século XVI210,  e  tida  como 

 pr efer ida  pelos cr istãos novos  para acompanhar  os seus mor tos em vez da Miser icór dia, 

como  f aziam  os  cr istãos  velhos.  A seguir   a  S.  João  de  Vila  Nova,  a  outra  igr e ja 

 pr efer ida  para  sepultura  pelos  cr istãos  novos  era  a  de  S.  Miguel,  “ por que  era  igr e ja 

nova”,  segundo  af ir maram  alguns morador es  nos  autos  de  diligência  or denados  pela 

Inquisição  de  Évora211.  Fr equentavam  as  r omar ias  de  Nossa  Senhora  da  R ibeira,  de 

 Nossa  Senhora  dos  Açor es,  de  Nossa  Senhora  de  Aguiar ,  etc.  O ta belião  João  da 

Fonseca era acusado de ser  o mor domo da conf rar ia do Es pír ito Santo, conf rar ia onde, 

segundo os cr istãos velhos, os cr istãos novos se f aziam sepultar  em covas vir gens,  para 

além das conf rar ias de Nossa Senhora do R osár io e de S. Se bastião212 

A pesar   da  f r equência  das  igr e jas,  nem  todos  se  encontravam  catequizados,  sa bendo 

dizer  as orações ou  per signar -se. Tal acontecia com Fili pa Lo pes, cr istã nova com cer ca 

de 80 anos.  Interr ogada  pelos  inquisidor es so br e as suas  pr áticas cr istãs, Fili pa Lo pes 

não conseguiu  r ecitar  nenhuma oração cr istã nem  tão  pouco se sou be  per signar ,  tendo 

207 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9890. 

208 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  11 285.

209 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  5305.

210 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 896 .

211 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 896  , 5995 

212 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  5995.

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aca bado  por  dizer  mal o Pai Nosso. Aliás, as denúncias eram unânimes em dizer  que ela 

não ia assistir  à missa nem entrava numa igr e ja, ao contr ár io da tradição judaica que era 

acusada de transmitir  a outras  pessoas, incluindo orações ditas em he braico, acusações 

que o  pr ópr io cura de S. João de Vila Nova não conf ir mava  pois confessara-a e vira-a na 

igr e ja, em bora f altasse muito a  pr etexto de se encontrar  doente. 

Acr editava que o  Messias dos  judeus havia de vir , denominando-o  por   “R a bi  Iça”, o 

qual havia de dar  aos judeus toda a r iqueza do mundo. Je juava no tempo das vindimas, 

ou se ja, o qui pur  que vinha em Setem br o. Ao contestar  a acusação de que ela  pr ópr ia 

degolava  as galinhas de  que  se  alimentava, declarava  aos  inquisidor es  que  era  r ica  e 

a bastada,  tinha  muitos  escravos  e  escravas,   pelo  que  nunca  ser ia  ela  a  r ealizar   a 

degolação  dos  animais  que  cozinhavam  em  casa.  Tal  como  outr os  cr istãos  novos 

a bastados, Fili pa Lo pes a pelou  para o  pa pa, a pelação que o Inquisidor  Pedr o Álvar es de 

Par edes não aceitar ia213. 

As f amílias eram numer osas, a pr esentando um númer o elevado de f ilhos que atingiam a 

idade  adulta  e  iniciavam  um  novo  agr egado  f amiliar ,  independentemente  do  estrato 

social, em bora os mais r icos a par ecessem com uma  pr ole mais  pequena. Casavam entr e 

si,  estendendo  os  laços  f amiliar es  a  comunidades  pr óximas,  como  a  Guar da,  Pinhel, 

Celor ico, Mar ialva, ou um  pouco mais longe, como Bragança. Para além da endogamia, 

os cr istãos novos de Trancoso  pr ocuravam mar idos  para as suas  f ilhas entr e mem br os 

do  mesmo  ofício,  ofício  que,  tam bém,  era  mantido   pelos  f ilhos.  R aras  vezes  nos 

a par ecem casais estér eis. Ve jamos alguns exemplos. 

Fili pa Lo pes tinha cer ca de 80 anos, quando f oi  pr esa  por   praticar  actos contra a r eligião 

cr istã,  a pesar  de  ter   r ece bido o  ba ptismo.  Casara  em Bragança  com Ber nar do  Lo pes, 

escudeir o e af ilhado de D. Manuel. Seu  pai, Henr ique Nogueira, era natural de Trancoso 

e sua mãe, Isa bel Soar es, de Bragança. Am bos f aleceram cr istãos e f oram enterrados na 

igr e ja de S. João, templo que diz f r equentar . O  pai f ora mer cador , tal como era o ir mão 

Jor ge R odr igues, que acumulava com os arr endamentos,  pelo que andava a maior   par te 

do  tempo  f ora de  Trancoso.  Era  tia de  Guiomar   Lo pes,  casada  com Ber nar do  Lo pes, 

213 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9238.

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r esidentes em Bragança. A r estante f amília  pr óxima já tinha f alecido. Declar ou não ter  

f ilhos, desconhecendo nós se já não os tem vivos, se  par tiram ou se nunca os teve214. 

Ana Seixas era mãe de Manuel Henr iques,  r ico mer cador  que negociava em  panos de 

Flandr es, o qual estava casado com uma ir mã do Licenciado Medina, e de Jusar te Nunes 

que  casara  com  Ana  Nunes215.  O casal Francisco  R odr igues,  ta belião/Ana  R odr igues 

tinha as duas f ilhas casadas com Fer não Lo pes Ferr o e Ber nar do Ferr o, f ilhos de João 

R odr igues Ferr o216, uma outra casada com Simão Peixoto, tratante e siseir o, r esidente na 

Covilhã,  enquanto  o  f ilho,  Jor ge  Francisco,  se  consor ciara  com  uma  f ilha  de  Diogo 

Pinheir o. Era tia do Licenciado Medina217. 

Por  sua vez o sa pateir o Andr é Gonçalves  tinha uma  f amília numer osa, com 11  f ilhos, 

entr e os 35 anos de idade, o mais velho, e os mais novos, ainda cr ianças. Os dois f ilhos 

mais velhos eram sa pateir os como o  pai e estavam casados. O mesmo acontecia com as 

f ilhas: uma casara com um almocr eve e  par tira  para Es panha, r esidindo em Placença, a 

outra  estava  casada  com  um  sa pateir o,  o mesmo  acontecendo  com  uma  ter ceira  que 

estava  noiva  de  um  jovem  do  mesmo  ofício.  Todos  os  f ilhos  r esidiam  ou  tinham 

r esidido  em  Trancoso.  É  cur ioso,  que  na  enumeração  das  f ilhas,  Andr é  Gonçalves 

utilizava os diminutivos: Isa belinha, Branquinha, Mor zinha, Fili pinha218. 

Muitos destes cr istãos novos eram  pessoas honradas e r icas. No entanto, quando  pr esos, 

declaravam-se   po br es.  Tal  aconteceu  com  Manuel  Ferr o,  f ilho  menor   de  Fili pa 

R odr igues e de Fer não Lo pes Ferr o, am bos  pr esos, que se r ecusou a defender  a memór ia 

da avó, f alecida no cár cer e da inquisição de Évora, declarando-se “muito  po br e”, assim 

como os seus  pais219, o que nos  pode f azer  su por  que a  pr isão destas f amílias acarr etou a 

queda em  po br eza dos  f amiliar es em  liber dade, alguns deles deslocados  para Évora, a 

214 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9238.

215 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 512.

216 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 512.

217  A. N.T.T.,   I nquisiçã o de  É vora, nº   8918  (pr ocº de  Ana  R odr igues,  viúva  de  ra bi  Iça,  físico  (1ºcasamento) e de Francisco R odr igues, ta belião (2º casamento)) 

218 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 512.

219 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  8918.

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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f im de sustentar em o  pr ocesso dos que se encontravam  pr esos. Sa bemos que os  bens de 

Ana R odr igues, as casas  pr ópr ias que tinha em Trancoso, f oram vendidas  para continuar  

o  pr ocesso, a pesar  de mor ta. Com o mesmo f im f oi utilizada a quantia de 2800 r eais que 

ela levara consigo  para a cadeia. Sentindo a mor te a pr oximar -se, Ana R odr igues f izera 

testamento onde declarava quer er  ser  sepultada na sé de Évora, deixando dinheir o  para 

que  lhe  r ezassem  6  missas  por   alma  e  dinheir o  para  as  conf rar ias  do  Santíssimo 

Sacramento, de S. João, Sta. Mar ia e da Cr uz. Legava à f ilha Fili pa R odr igues, tam bém 

 pr esa, a casa com  torr e que era de sua  ter ça e estava contígua à sua  r esidência, assim 

como ao genr o Fer não Lo pes Ferr o, tam bém  pr eso, a quantia de 2800 r eais que tr ouxera 

de Trancoso220. 

As  ha bitações  eram  constituídas  por   uma  casa  térr ea  ou  dianteira  e  por   um  pr imeir o 

 piso,  onde  se  dis punham  uma  ou  mais  câmaras  ou  quar tos  de  dor mir ,  por   vezes, 

tam bém, escr itór io de  tra balho, de que é exemplo a casa de João Luís Medina. Outras 

vezes, a casa era no  pr imeir o  piso  para onde se su bia  por  uma escada a que se acedia 

 pela  por ta da r ua. Às vezes tinham ainda um sótão ou um quar to esconso. R esidiam:

•  na Corr edoura, como o tendeir o Manuel Dias e sua mulher  Leonor  de Sousa, que 

moravam onde se fechava toda a judiar ia, o cir ur gião mestr e António e sua

mulher   Br ites  Lo pes,  ou   per to  da  Corr edoura  (“à Corr edoura”),  como  o 

mer cador   Manuel  Henr iques  e  Jusar te  Nunes,  à  por ta  da  Corr edoura  como 

Simona Lo pes, viúva de um mer cador  cr istão novo 

•  na  praça221,  junto ao  r elógio, como o mer cador  Diogo Fer nandes e sua mulher  

Ana Gomes, 

•  na  r ua  que  ia   para  Sta.  Mar ia  de  Guimar ães,  como  os  sa pateir os  Antão 

Gonçalves e Manuel Lo pes, 

•   junto de S. Tiago, a  par  da r ua da Cadeia, como Francisco Car los e Mar ia Draga, 

sua mulher , 

•  na R ua de S. Tiago, como os Fei jó, João Lo pes Fei jó e sua mulher  Br ites Fei jó e 

f ilhos, o mer cador  Vasco R odr igues e Lucr écia Fei jó, o sa pateir o João Dias 

•  ou junto a esta como o mer cador  Henr ique Lo pes e a sua f amília, 

220 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  8918.

221 A praça iniciava-se junto ao adr o da Miser icór dia. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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•  ou  na  r ua  de  S.  Tiago   para  os  álamos,  como  o  sa pateir o  Jor ge  Dias,  o 

“negr ote”222,

•  ou nas traseiras da igr e ja de S. Tiago, como Isa bel Lo pes, a “terra pala”223, 

•  na r ua da Cadeia, como Branca R odr igues, mulher  do sa pateir o João Dias224, 

•  na r ua Chã, de Vila Nova, como Ber nar do Lo pes, serralheir o225, 

•  ou na r ua dos Vales, como Ana do Vale. 

R esidiam  pr óximo uns dos outr os. Isa bel de Medina era vizinha de Ana R odr igues, sua 

 pr ima; Catar ina  Soar es  e o mar ido Ber nar do Ferr o  eram vizinhos  do  licenciado  João 

Luís  Medina; Jor ge  Francisco  morava  ao  lado  de  Clara  Pinheir o,  f ilha  de  Diogo 

Pinheir o; Fer não  Lo pes  Ferr o  r esidia  ao  lado  de  Manuel  Álvar es; Andr é  Gonçalves 

sa pateir o e denunciante de quase toda a comunidade era vizinho de Manuel Car los,  pelo 

que f acilmente o bser vava as  idas e vindas ao sá bado ou aos dias das  festas  judaicas a 

casa deste. Distr ibuíam-se  pelas f r eguesias de S. João de Vila Nova a que  per tencera o 

Licenciado Medina, antes de se mudar  e  passar  a  per tencer  a S. Pedr o, Francisco Car los;

 pela  f r eguesia  de  S.  Pedr o,  como  Ana  R odr igues,  em  cu ja  igr e ja  f oi  lida  a  car ta  da 

Inquisição  onde  se  citavam  os  her deir os  para  vier em  defender   a  memór ia  de  Ana, 

entr etanto  f alecida226,  ou  pela  de  S.  Tiago,  como  Justa  R odr igues227,  ou  ainda  pela 

f r eguesia de Nossa Senhora do Sepulcr o, como o sa pateir o Duar te Gonçalves228. 

O to pónimo R ua Nova a par ece mencionado no século seguinte, assim como a igr e ja de 

S. João extra-mur os, o que  pode quer er   indiciar  que não se a plicava à antiga  judiar ia 

mas  sim  a  uma  r ua  a ber ta  r ecentemente  no  agr egado  munici pal229.  Tam bém  a 

222 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 512 , 7 491.

223 A. NT.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  238.

224 A. NT.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  238.

225 A. NT.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  3312.

226 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  5305 , 8918.

227 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  7 6 04.

228 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  6 346 .

229 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  1437 . Na generalidade dos casos, a r ua Nova indicava a r ua da  judiar ia, mas, no caso de Trancoso, a existência de um  bairr o, fez que este viesse designado  por  Vila  Nova. O mesmo sucedia em Lis boa, Évora ou Por to, onde o  bairr o judaico era densamente  povoado. A 

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Corr edoura,  nome  que  se mantinha  na  segunda metade  de Quinhentos230  deve  ter -se 

 passado a chamar  a r ua Dir eita. Aqui morava o mer cador  Diogo R odr igues Chaves e sua 

mulher  Branca  R odr igues,  f r eguesa  da  igr e ja  e  S. Pedr o231. É na  segunda metade  do 

século XVI, que começamos a ter  r efer ências a cr istãos novos que r esidiam à por ta de S. 

João.  Tal  acontecia  com  Fer não  Lo pes,  o   ba boso,  e  sua  mulher   Ana  Fer nandes, 

azeiteira232. 

Sa pateir os,  alf aiates,  mer cador es,  tratantes,  tendeir os,  médicos,  ta beliães,  os  cr istãos 

novos  desenvolviam  actividades  a  que  nem  as mulher es  se  eximiam.  Estas  f iavam  e 

do bavam  bar  bilho  de  seda,  f iavam  mantas  nas  tendas  ou  à  por ta  de  casa,  ou  eram 

tendeiras vendendo es peciar ias na tenda, como a mulher  de mestr e António, cir ur gião 

A  praça da vila era um local de encontr o entr e os mem br os das duas comunidades que, 

neste  es paço  e  noutras  r uas,  vizinhavam.  Fili pa  Lo pes  era  vizinha  de  Domingos 

Car doso,  cavaleir o  f idalgo  de  Trancoso,  r esidindo  am bos  na  f r eguesia  de  S.  João  de 

Vila Nova233. 

As r elações com a raia castelhana eram  pr ivilegiadas e tinham a sua or igem no f acto de 

alguns  destes  cr istãos  novos  ser em  descendentes  de  judeus  castelhanos  que  aqui  se 

f ixaram  a pós  o  édito  de  expulsão  dos  judeus  de  Es panha  pelos  R eis  Católicos.  San 

Felices de los Gallegos f oi a localidade de onde  pr ovieram Andr é Gonçalves, sa pateir o, 

João R odr igues Ferr o, escudeir o e r endeir o. Cidade R odr igo f oi o lugar   para onde f ugiu 

o  a bastado  mer cador   Diogo  Pinheir o.  Outr os  tam bém  o  f izeram,  como  Cr istóvão 

Fer nandes  e  sua  mulher   Clara  Car los,  ir mã de  Francisco  Car los,  Duar te  Lo pes,  o 

“nevoeir o”, os  f ilhos de Ana R odr igues  (Jor ge Francisco, Catar ina Soar es e o mar ido 

Ber nar do Ferr o, Isa bel R odr igues e o mar ido Simão Peixoto) 

hi pótese de esta R ua Nova ter  designado uma outra  possível r ua da judiar ia não é conf ir mada  pela documentação conhecida, que sempr e a localizou à por ta d’el-r ei e na zona mais impor tante do concelho. 

230 A. NT.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  238.

231 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  336 3. 

232 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  238.

233 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de É vora, nº  9238 

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7.  Conclusão 

Os  pr ocessos da  Inquisição,  per tencentes à  pr imeira entrada do  tr ibunal em Trancoso, 

mostram-nos  uma  comunidade   po pulosa.  Se   pensar mos  que  só  Duar te  Gonçalves 

denunciou  cer ca  de  cento  e  quar enta  f amílias,  dir ecta  ou  indir ectamente,  podemos 

calcular   que  estamos  perante  uma  comunidade  com  cer ca  de  700  pessoas,  que, mais 

tar de ou mais cedo, aca bar iam  por  se dis per sar   pelo r eino,  por  Es panha e outras  par tes. 

Os descendentes destes cr istãos novos depois do  per dão geral de 1547 r egr essaram ao 

concelho e aos f amiliar es, e devem ter  r etomado as suas  pr of issões, r eocu pando as suas 

casas  que  aqui  tinham  deixado  desamparadas.  Mas,  se  uns  f icaram,  outr os  sentiram 

necessidade de  par tir , tal era o  peso da inf âmia que so br e eles caíra. A Es panha f oi um 

dos locais escolhidos: Cidade R odr igo, Placência, Salamanca, Sevilha. Outr os o ptaram 

 pelas  cidades  italianas  como  alguns  mem br os  da  f amília  Pinheir o  ou  de  Francisco 

Car los.  Esta  última  f amília  tam bém  se  deslocou  para  Lis boa,  onde  constituiu  uma 

sociedade  comer cial  com  a  f amília  Milão  que  levar ia  um  neto  deste  ultimo,  Car los 

Francisco, a S. Tomé, onde vir ia a cr iar  a conf rar ia do Es pír ito Santo, e aos negócios do 

açúcar 234. 

Tam bém os Fonseca f icaram e tiveram f amiliar es seus de novo  pr esos  pela Inquisição. 

Assim aconteceu com Álvar o Fonseca Ferraz, o “nar igão”, velho, casado com Beatr iz 

do Mer cado, neto de João Fonseca, ta belião e de sua mulher  Violante Nunes,  por   par te 

de sua mãe, e de João Fer nandes “ pé de gin ja” por   par te de seu  pai António Ferraz, que 

vir ia a ser  entr egue à justiça secular  em Coim bra235. Outr o Álvar o Fonseca era f ilho de 

um meio cr istão novo, Pedr o Tavar es e de Ana Fonseca. No seu r egr esso do Brasil dera-

se a conhecer  a umas  pr imas como judeu o que f ar ia que f osse denunciado. Declar ou-se 

 bom cr istão, sendo conf rade da conf rar ia de Sta. Catar ina em S. João intra-mur os. Era 

 pr imo dos Fonseca Henr iques com os quais  f alara so br e a Lei de Moisés no caminho 

 para a La pa e em Gradis. O campo de S. Francisco, a Corr edoura, a Praça, assim como 

lo jas e tendas eram locais onde ele e outr os cr istãos novos se declaravam uns aos outr os 

 judeus. Fonseca, Car doso, Mota, Mendes, Nunes Car valho, Costa Teles, Pinheir o Ferr o, 

234 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de Lisboa, nº  12132.

235 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  6 21.

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Mendes da Costa, Mendes Guterr es, Soar es Franco, Neto, etc, mer cador es, assentistas, 

médicos, advogados, tendeir os, etc encontravam-se e conver savam, declarando a sua fé 

e or gulho na sua ascendência judaica 236. 

Se  alguns  mem br os  da  f amília  Pinheir o   par tiram,  outr os  aqui   per maneceram  e 

ensaiaram  casar   com  cr istãs  velhas,  como  Manuel  Pinheir o  que,  num   pr imeir o 

casamento,  se matr imoniou  com  Isa bel,  cr istã velha,  e num  segundo  casamento,  com 

Mar ia  Fonseca,  cr istã nova237.  Continuaram  a  r esidir   na  Quinta  do  Ferr o,  como  os 

descendentes  daquele  João  R odr igues  Ferr o,  o  mer cador   Ber nar do  Ferr o,  Manuel 

Pinheir o Ferr o que vivia de  sua  f azenda,  João  R odr igues Ferr o,  soldado de  inf antar ia 

Uns continuavam a r esidir  nos grandes centr os; outr os  pr efer iam f ixar -se em Muxagata, 

Mor eira,  Dor nelas,  Ca baços,  ter mo  de  Moimenta  da  Beira,  Folgosa,  Vila  da  Ponte, 

Ar mamar , etc,  localidades  sem  passado  judaico  e onde os cr istãos novos  pr ocuravam 

viver  a sua  fé sem a  intr omissão dos olhar es daqueles que os  tinham conhecido como 

 judeus238. 

236 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  9297 .

237 A. NT.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  37 61.

238 A. N.T.T.,  I nquisiçã o de C oimbra, nº  3358.

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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UMA LÓGICA PER IFÉR ICA PARA OS CENTR OS: OS MENDES/BENVENISTE ENTR E A BEIRA INTER IOR  E 

ISTAMBUL 

Dr . Paulo Mendes Pinto 

O tema aqui desenvolvido centra-se no que se  pode designar   por  Patr imónio Imater ial. 

Falamos  das  pessoas,  das  suas  r elações,  não  dos  es paços  e  dos  pr odutos  que  elas 

 pr oduziram ou vivenciaram. 

 Nor malmente,  quando  nos  f ocamos  nos  grandes  per sonagens  histór icos,  f ocamo-nos 

tam bém nos grandes es paços, nas grandes cidades, nos centr os onde a vida  pulsa. Ao 

f alar  de mer cador es no  século XVI, no  início do Mundo Moder no, no nascimento do 

ca pitalismo,  na  génese  do  cosmo politismo  como  ho je  o  entendemos,  ainda  mais 

arr eigados f icamos a essas ideias de centralidade. 

Dizemos, numa herança dessa f or ma de ver  o mundo que «Por tugal é Lis boa e o r esto é 

 paisagem».  Neste  texto  ir emos deam bular   por  uma  situação  f amiliar  em que ver emos 

que a  possibilidade da centralidade advém, em cer ta medida, do domínio das  per ifer ias. 

Os  Mendes/Benveniste  andavam  exactamente  pelos  tais  centr os  (Lis boa,  Antuér  pia, 

Ferrara,  Istam bul)  mas,  de que  f or ma  essa  sua  centralidade  não  é  possível  por que 

tinham  toda  uma  base  social  e  f amiliar   de  a poio  que  me  muito  encontrava  elos  de 

r elação, f idelidade e r es peito em algumas das  per ifer ias que, assim, dominavam muitas 

das lógicas dos centr os?

Ao longo de quase um milénio de histór ia f amiliar , os Benveniste estão documentados 

em quase meia centena de cidades do mundo239. 

Linguisticamente or iginár io do  es paço his pânico, o  a pelido Benveniste  sur ge  r efer ido 

 pela  pr imeira vez em Bar celona, em documentação de 1097, e dever á ter  or igem numa 

239 Seguindo o  Dicionário S efardi de S obrenomes, de Guilher me Faiguen boim, Paulo Valadar es e Anna R osa  Campagnano  (São  Paulo,  Fraiha,  2003,   p.  204),  o  nome  «Benveniste»  encontra-se  citado 

 bibliograf icamente  nos  seguintes  locais: “Veneza,  Alepo,  Alexandr ia,  Por t-Said,  Esmir na,  Salónica, Belgrado,  R odes,  Edir ne,  Gálata,  Pera,  Istam bul,  Çanakk ale,  R ússia,  Sóf ia,  Bulgár ia,  Tunísia,  Jáf a, Jer usalém, Livor no, Vevey-Montr eux, Por to Alegr e, R io de Janeir o, São Paulo, Buenos Air es, Ur uguai, Temuco, Chile, Los Angeles, Londr es, Amster dão, Curaçao, Ham bur go, Andaluzia, Bar celona, Zaragoça, Ger ona, Ber lim, Drancy, Par is, Ville la Grande, Languedoc, Mont pellier , Lamego, Lis boa, e R oménia”. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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cr istalização  da  expr essão  « bem  vindo».  Uma  tradição,  uma  lenda,  justif ica  o  nome, 

 pondo-o a nascer   pela  boca de um monar ca de Aragão. R ealmente, ao  longo de,  pelo 

menos, quatr o séculos, ser á  por  esse  r eino his pânico que os Benveniste  ter ão  par te da 

sua acção e da sua f or tuna. 

O peso desta f amília na sociedade sef ar dita  peninsular  f oi imenso. Durante dois séculos 

a sua  posição económica é  tal que encontramos, com r ecorr ência, monar cas cr istãos a 

 pedir  a  liber tação de mem br os desta f amília em momentos contur  bados. Assim f oi em 

1391, na violente onda de conver sões f or çadas ao cr istianismo,  pela  pena da rainha de 

Aragão240, assim  f oi em 1485  pela mão dos R eis Católicos, a penas sete anos antes da 

expulsão  geral  de  Es panha241,  assim  f oi  em  1536  com D.  João  III  e D.  Catar ina  de 

Bragança a solicitar  ao imperador  Car los V a liber tação de Diogo Mendes242. 

Mas,  quando  e  como  passa  esta  f amília  para  Por tugal? A documentação  até  agora 

estudada não nos a pr esenta r es posta consistente alguma. A Histór ia é feita, a  par tir  deste 

momento, de con jecturas, de modelos de inter  pr etação, de ver osimilhanças. 

Os  anos  oitenta  do  século  quinze  f oram   pr of undamente  dolor osos   para  os  meios 

r eligiosos  dos  r einos  castelhano  e  aragonês.  Por   um  lado,  os meios  cler icais  cr istãos 

tomavam cr escente consciência da ver dadeira f raude r eligiosa que tinha sido a onda de 

conver sões de f inais do século XIV (o ano de 1391, já aqui r efer ido) e inícios do XV (a 

céle br e Dis puta  de  Tor tosa  em  1412,  1413); sem  qualquer   a poio  de  catecumenato,  a 

Inquisição,  autor izada  desde  1  de  Novem br o  de  1478,  mostrava  agora  toda  a 

 pr of undidade  dos  r itos  e  pr áticas  judaicas  daqueles  que  su postamente  eram  cr istãos. 

Como r eacção, as  po pulações, que justif icavam muitos dos  pr o blemas de insalu br idade 

e de saúde  pú blica com esta situação de her esia judaizante. As entidades r eligiosas, cada 

240 As car tas corr es pondentes a este  pr ocesso estão  pu blicadas  por  Flor entino Zamora em “Los judios en Sor ia”, C eltiberia, Ano XIV, Vol. XV, ener o- junio 1964,  pp. 122-125. 

241 Ve ja-se R egistr o del Sello, 1485-VII, f ol. 212. Pu blicado  por  Luis Suár ez Fer nández, O p. cit., nº 91,  pp. 267-268. 

242 Ver  as entradas corr es pondentes a Diogo Mendes e Francisco Mendes no  Dicionário dos S efarditas Portugueses, em f ase ter minal. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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vez mais  pr óximas dos monar cas,  pediam um cer co mais f or te aos f alsos conver sos e, 

 por  impossibilidade de a Inquisição julgar  os não  ba ptizados, de expulsar  os judeus. 

Desde 1478 que a  Inquisição  f ora muito dura nas cidades onde os Benveniste  tinham 

mais  poder  e tradição: Saragoça e Sór ia. Em 1485, em vir tude de ter  sido assassinado o 

inquisidor  Pedr o de Ar  buès, a  per seguição  po pular  em Saragoça ganha f or o de violência 

quotidiana. 

 Neste quadr o, dá-se a expulsão de 1492, o ano da conquista de Cór dova e da chegada de 

Colom bo ao Novo Mundo. 

 Num sentido linear  da leitura dos escassos documentos que temos, a chegada a Por tugal 

da  f amília Benveniste  poder á ter   ocorr ido  na  época  da  expulsão  dos  r estantes  r einos 

 peninsular es (1492). Mas, devemos  tentar   ir  mais além. Nesta situação de um efectivo 

conhecimento  dos  meandr os  da  política  e  r eligião  peninsular ,  aliada  a  uma  pr essão 

segr egacionista  cada  vez  maior   na  sua   pr ópr ia  r egião,  e  na   posse  de  um   poder  

económico  inve jável,  poder ão  mesmo  ter   sido  os  Benveniste  quem  negociou  com  o 

monar ca  por tuguês a  passagem dos judeus de Es panha  para Por tugal. Numa situação de 

f or te  pr eponder ância no mundo judaico his pânico, vár ios autor es colocam mem br os dos 

Benveniste como negociador es da vinda, ou melhor , da  passagem, dos judeus de Castela 

 para Por tugal. 

Os  Benveniste  são  um  impor tante  gr u po  de  f amílias  or iundas,   possivelmente,  de 

Aragão. Francisco, a par entemente, o  pr imeir o desta f amília Benveniste a ter  actividade 

económica  e morada  em Por tugal,  ser ia,  segundo  af ir ma H. P.  Salomon num  r ecente 

texto243, f ilho de Dom Mayr  Bienveniste de Calahorra, destacado elemento desta secular  

f amília, e de doña Gracia. 

243 “A or igem dos Mendes / Benveniste”, C adernos de E  studos S efarditas, vol. 5, 2005, no  pr elo. 

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A basar : 10.000246  –  nenhum destes nomes consta do documento enviado  por  D. João II, 

r efer indo os Benveniste já então, em 1494, morador es em Lis boa. 

O nome  Samuel  Benveniste  assume  uma  complexidade  que  talvez,  em  f uturas 

investigações,  se  possa  começar   a  compr eender  melhor .  A pesar  da  r ecorr ente  e,  para 

nós investigador es, muitas vezes exas perante homonímia entr e indivíduos, ser ão eles, de 

f acto,  os mesmos  Samuel Benveniste  (o  identif icado  por   Salomon,  o  arr endatár io  de 

impostos e/ou o homem do casal acusado  pela Inquisição, e liber tado  pelos monar cas)?

Mas mais:  poder emos equacionar  um quadr o  f amiliar  em que este Samuel Benveniste 

(que  ter ia  de  nome  cr istão  Álvar o  Henr iques),   para  além  de  r ico  arr endatár io  de 

impostos  per tencente ao gr u po f amiliar  mais  pr óximo de Francisco, f osse, ainda, o  pai 

de Agostinho Henr iques (A braão Benveniste), que f icar á, signif icativamente, na década 

de quar enta de quinhentos como um dos testamenteir os de Diogo Mendes?

 Naturalmente,  a penas  começamos a  lançar   os  dados  so br e  este  quadr o  f amiliar . 

Contudo, começa a ser  cada vez mais clar o e cer to que os ir mãos Mendes vieram  para 

Por tugal  enquadrados  num  lar go  gr u po  f amiliar   que,  logicamente,  fez  uma 

r elativamente  pacíf ica transição dos seus negócios de um r eino  para o outr o. 

A grande  questão  em  causa,  para  além  da  mais  linear   identif icação  dos  indivíduos, 

r eside  na  per cepção  dos motivos  que  levaram  a  que  uns Benveniste  ado ptassem  um 

nome cr istão, Mendes, e outr os o Henr iques. Quase cer tamente, como avançaram Leoni 

e Salomon247, são  par entes  pr óximos. Toda a r ede de negócios o evidencia, assim como 

a  poster ior   pr oximidade em Antuér  pia e na Península Itálica. 

castellanos del siglo XV en el arr endamiento de impuestos r eales”, C uadernos de Historia.  Anexos de la Revista Hispania, Madr id, Instituto Jer ónimo Zur ita, 1975,  pp. 431-439. 

Ser á algum destes o A braão r efer ido no empr éstimo a Isa bel, a Católica?

246 Ve ja-se Flor entino Zamora, O p. cit.,  p. 123. 

247 SALOMON, Her man, LEONI, Ar on, “Mendes, Benveniste, de Luna, Micas, Nasci: the State of   the Ar t (1532-1558)”, T he  J ewish Quaterl  y  Review, vol. LXXXVIII, n. º 3-4,  p. 141e 145. 

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Contudo,  muito   pouco  conhecemos  so br e  estes   pr imeir os  elementos  vindos   para 

Por tugal.  Sa bemos  que  Francisco  é  um  Benveniste,  ocultado  so b  um  nome  cr istão, 

 por que o  pr ópr io D. João III o diz na car ta que escr eve a Car los V a 29 de Agosto de 

1532 ao r efer ir -se a  F rancisco M endes  Benveniste - a pesar de escondido  por  tr ás de um 

«Mendes», ado ptado  possivelmente em 1497 aquando da conver são f or çada, continuava 

a  ser   conhecido,  e usado, o  a pelido  da  tradição  judaica  (se  bem que  este  nome nada 

tenha de he br eu, linguisticamente f alando). 

 Nesta car ta menciona-se que Francisco Mendes se encontrava no seu r eino há quar enta 

anos,  isto  é,  exactamente  desde  o  ano  da  expulsão  de  Es panha,  em  1492,  o  que 

conf ir mar ia a vinda da f amília no ano da expulsão de Es panha, se  bem que não invalide 

uma longa  pr eparação da f uga. 

Tendo f icado em Por tugal depois do édito de expulsão de D. Manuel,  pr esumimos que 

Francisco tenha sido  ba ptizado como milhar es de outr os companheir os de f uga. Do seu 

nome  pr ópr io  judaico  nada  sa bemos; alguma  bibliograf ia  pr oduzida  a ponta  o  nome 

Semah Benveniste, se  bem que se trata de uma conclusão errada, na medida em que no 

 pr ocesso de Henr ique Nunes, o  Righetto, de onde o dado f oi r etirado, o acusado r efer e-

se, não a Francisco e Diogo, mas sim de Henr ique Nunes e Nuno Henr iques. 

Centrando-nos na vinda, o simples dado r elativo à data dessa migração levanta algumas 

questões algo  complexas.  Numa  leitura  r elativamente  linear  dos escassos documentos 

que temos, a chegada a Por tugal da f amília Benveniste  poder á ter  ocorr ido, de f acto, na 

época  da  expulsão  dos  r estantes  r einos  peninsular es.  O a pelido  cr istão  Mendes  (Ou 

tam bém o Henr iques), ocultando o Benveniste (e tam bém o Nasi e o Luna) que era sua 

identidade desde há séculos, dever á ter   sido escolhido aquando do  ba ptismo248, o que 

vai no sentido de os nomes avançados  por  Salomon corr es ponder em à mesma f amília. 

Contudo,  desde  há vár ios  séculos  que  os Benveniste,  assim  como  os  Sénior   (f utur os 

Cor onel, depois  da  conver são  de 1492 em  Castela  e  Aragão),  detinham  uma  posição 

248 SALOMON, Her man, LEONI, Ar on, “Mendes, Benveniste, de Luna, Micas, Nasci: the State of   the Ar t  (1532-1558)”,  T he  J ewish Quaterl  y  Review,  vol.  LXXXVIII,  n.º 3-4,  Center   f or   Judaic  Studies Univer sity of  Pennsylvania, Jan.-A br . 1998,  p. 141 e 145. 

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 pr ivilegiada, quer   junto das al  jamas e das elites  judias, quer  junto da cor te: ora, nessa 

 posição,  não  é  de  estranhar   que  pr essentissem  o  andamento  da Histór ia,  sentindo  de 

f or ma esclar ecida a  pr essão segr egacionista cada vez maior  na sua  pr ópr ia  r egião. Na 

 posse de um  poder  económico inve jável,  poder ão mesmo ter  sido alguns dos Benveniste 

quem  negociou  com  o  monar ca  por tuguês  a  passagem  dos  judeus  de  Es panha  para 

Por tugal249. Numa situação de f or te  pr eponder ância no mundo judaico his pânico, vár ios 

autor es  colocam  mem br os  dos  Benveniste,  nomeadamente  Vidal  Benveniste,  como 

negociador es da vinda, ou melhor , da  passagem, dos  judeus de Castela  para Por tugal. 

Tentadora, no  entanto,  esta  tese  é  f r ágil. Por   exemplo,  Er na Par is, diz  expr essamente 

que  f ora  Vidal Benveniste o negociante desta  passagem,  citando um documento que, 

a par entemente nada nos diz so br e a questão. 

Sem  f azer   alusão  à f amília  Benveniste,  Alexandr e  Her culano,  seguido  por   diver sos 

autor es, diz-nos que, de f acto, um gr u po de judeus castelhanos e aragoneses ter ão vindo 

a Por tugal e negociado, quer  a vinda em massa dos judeus es panhóis, quer  a instalação, 

mais cuidada, de um cer to númer o de  f amílias  pr oeminentes. Ter ão sido seiscentas as 

f amílias  mais  r icas  a  ser   a brangidas  por   esse  acor do  mais  es pecíf ico,  mediante  o 

 pagamento da  avultada  soma de  sessenta mil  cr uzados250. Da  negociação mais geral, 

sa bemos  par te do desfecho, se  bem que não se conheçam númer os exactos251. 

249 Ytzahk Baer , O p. cit.,  p. 757. ou 

250 Ve ja-se Alexandr e Her culano, O p. C it.,  p. 104. 

251 A grande mole de judeus que f oi o br igada a f ugir  sem qualquer   pr eparação, ter á vindo em 1492 com o aval de D. João II, e a penas com autor ização  para  per manecer   por  um cur to  per íodo de tempo. A pesar  das muitas vozes contra, o r ei  por tuguês impôs um lar go gr u po de condições vanta josas  para os seus cof r es, não  per dendo esta o por tunidade de negócio e de eventual engrandecimento económico. Sistematizando a cr onística da época, as condições impostas, e aceites, f oram as seguintes: entrar iam  por  uma das seguintes f r onteiras: Olivença,  Arr onches,  Castelo  R odr igo,  Bragança  e  Melgaço; cada  um  dever ia  pagar   oito cr uzados  (pagos  em quatr o  pr estações),  excepção  para  cr ianças de  peito  e  algumas  pr of issões manuais (ferr eir os,  latoeir os,  malheir os  e  ar meir os); a   per manência  era,  então,  de  oito  meses; quem  f osse encontrado  para além dos oito meses ou sem a dita cer tidão ser ia considerado cativo; o monar ca o br igava-se  a  f or necer -lhes  navios,  no  f im  dos  ditos  oitos meses,  para que  pudessem  par tir   para outr o  destino, mediante o  pagamento da r es pectiva viagem. 

 No cômputo geral, Ber naldez (cr onista dos R eis Católicos) indica  para esta migração o valor  de 93.000indivíduos. Ve ja-se Mendes dos R emédios, O s  J udeus em Portugal , [s.l., s.n., s.d.],  p. 267. 

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Tudo  leva  a  cr er   que  ter ão  existido  duas,  senão  mais,  modalidades  na  vinda  e 

incor  poração dos judeus es panhóis. Algumas f amílias  podem, mesmo, ter  usado linhas 

de  f uga,  conhecimentos  de  f amiliar es  que  tenham  vindo  para Por tugal  a pós  1391  ou 

depois da Dis puta  de  Tor tosa, data das  pr imeiras migrações massivas de  judeus  para 

Por tugal,  pr eparando  a  deslocação  de  ca pitais.  Outras,  mais  ligadas  ao  poder   r égio 

quando este solicita o Tr ibunal do Santo Ofício ao  pa pado, atr ibuído a 1 de Novem br o 

de 1478  pelo  pa pa Sisto IV, ter ão tido tempo  –  14 anos -  para f azer  uma sistemática e 

 bem conseguida deslocação de  bens e ca pitais. 

 Neste sentido, e numa leitura mais complexa, mas tam bém ela ver osímil, a chegada da 

f amília Benveniste a terras  por tuguesas  pode ter  ocorr ido alguns anos mais cedo, como 

que  pr eparando a vinda que  se  sa bia  ser   inevitável dentr o em  pouco. De  f acto, existe 

uma  r efer ência  a  um Benveniste  em  Lamego  antes  da  expulsão  dos  r einos  vizinhos. 

Com  data  de  3 de  Julho  de  1478,  há um  emprazamento  de  terras  em  nome  de  um 

A braão Benveniste e R uga, sua es posa, junto à sua casa na judiar ia de Lamego252. 

Ora, este A braão Benveniste253,  pode mostrar -nos o que, de  f acto, encaixa como uma 

estratégia  de  efectivo  contr ole  da  evolução   política,  social  e  r eligiosa  nos  r einos 

his pânicos. Desde há muito que a f amília estava  pr esente nas situações mais mar cantes 

da vida e integração das comunidades sef ar ditas nos r einos de Aragão e de Castela, em 

situação  de  grande  pr oximidade  às  casas  r einantes.  Estão  pr óximos  da  questão  de 

Tor tosa e da consequente onda de conver sões; estão  pr óximos do  poder   r égio quando 

este solicita o Tr ibunal do Santo Ofício ao  pa pado, atr ibuído a penas a 1 de Novem br o 

de 1478  pelo  pa pa Sisto IV. Ser ia com naturalidade que, vendo a evolução da situação 

de  tensão, cedo distr ibuíssem  bens  e  f amiliar es  por   alguns outr os  r einos,  em  es pecial 

252 ANTT, C hancelaria de D. A fonso V .  Beira, Livr o 2, f l. 177-177 v. R efer ido  por  Mar ia José F. Tavar es, O s  J udeus em Portugal no S éculo X V , vol. 2, Lis boa, 1984,  p. 172. 

253 Meyer  K ayser ling indica num dos índices de ca pítulo da sua o bra História dos  J udeus em Portugal o nome «A braão de Lamego» (p. 74); acontece que em texto nunca o tor na a r efer ir . Pensamos que se trata de uma conf usão cr iada com o f acto de, na  página 77, sur gir  na mesma linha uma r efer ência a um «José Sa pateir o de Lamego» e outra a um «R a bi A braão de Be ja». De qualquer  f or ma, esta  pequena conf usão que nos  fez  julgar  que K ayser ling  r efer ia este nosso A braão Benveniste, deve  ter   lugar   por que o autor  dever ia conhecer , de f acto, a existência de um A braão de Lamego. 

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Por tugal,  Flandr es  e,  quem  sa be,  Tur quia,   para  onde  f ugiu  Chemuel   ben-Meir  

Benveniste logo em 1492. 

Olhemos  para a data deste documento: estamos exactamente no ano do  início da mais 

dura r epr essão em Saragoça, e ano da instalação da Inquisição em Castela, e no ano da 

instalação da Inquisição em Castela. 

De r esto, a  pr oximidade da f amília à cidade de Lamego é, ao menos, estranha. Muito da 

r ede  de  poder   e  de  negócio  dos  Mendes  passa,  com  estranheza,  por   essa  cidade.  É 

inter essante constatar , numa visão mais complexa das r elações f amiliar es e sociais, que 

na  pr oximidade a esta f amília sempr e estar ão indivíduos or iundos desta r egião. 

Assim se  passa com Francisco Vaz, homem que f az entr egas de  prata na Casa da Moeda 

na mesma época que Francisco Mendes e que, mais inter essante, casa com a ter ceira das 

ir mãs  Luna,  quando  as  duas  r estantes  estavam  casadas  com  os  dois  ir mãos  Mendes 

(Francisco e Diogo), mostrando-nos uma grande  pr oximidade  f amiliar . Ora, Francisco 

Vaz, que na década de quar enta do século XVI estar á na Casa de Gr ácia Nassi, viúva de 

Francisco Mendes,  tam bém dá  pelo nome de Francisco Vaz Beir ão, assumindo assim 

uma  possível or igem r egional. 

Poder íamos  ainda  f alar   de  Gas par   R ibeir o,  possivelmente  natural  de  Lamego,  que  é 

 pr eso duas vezes  pela Inquisição de Veneza (uma nos anos sessenta e outra nos setenta). 

Em  am bas  ele  é  testemunha; na  pr imeira  é  testemunha  no   pr ocesso  de  A braão 

Benveniste, o R ighetto, mostrando estar  muito  por  dentr o dos há bitos e vivencias dos 

Mendes/Benveniste. Na segunda, é  testemunha de uma  beir ã, Benvenida de Aguiar . O

mais inter essante, e que une de f or ma  pr of unda este homem aos Mendes, é que Gas par  

R ibeir o casa com uma Luna, Alum bra de Luna, tal como os ir mãos Francisco e Diogo 

Mendes  algumas  décadas  antes,  e  tem  como  padr inho  o  descendente  destes,  Joseph 

 Nassi. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Muitos  outr os  casos  de   beir ões  se   poder iam  elencar   entr es  os  mem br os  da  casa 

Mendes/Benveniste,  ou  entr e,  simplesmente,  a  mir íade  de  cr istãos-novos  que  esta 

f amília a juda a f ugir  de Por tugal nas décadas de vinte a oitenta do século XVI. Talvez 

este ja mesmo aqui uma das mais  signif icativas  linhas de  pesquisa  f utura em  tor no da 

necessidade  de,  em meados  de  1530,  se  ter   instalado  um  Tr ibunal  da  Inquisição  em 

Lamego,  como  que  r es pondendo  a  um  impor tante  centr o  de  vivência  judaica. 

Signif icativamente,  esse  tr ibunal,  como que nos dizendo  que  a  sua  tar ef a  era mesmo 

 pontual, teve uma vida  bastante cur ta, ao contr ár io dos de Coim bra, Lis boa e Évora. 

 Naturalmente,  não  é  nossa  intenção  af ir mar   que  os Benveniste  vieram  para  Por tugal 

antes  de  1492  –   este  único  documento  não  nos  possibilita  tal  af ir mação  -,  mas  é 

inter essante constatar , na tal visão mais complexa das r elações f amiliar es e sociais, que 

na  pr oximidade a esta f amília sempr e estar ão indivíduos or iundos desta r egião. 

Sur ge-os  cada vez mais  clar o que  a  r egião  beir ã deu  a  esta  f amília,  tenha  ela  por   lá

 passado em 1478, ou não, muitos dos seus  pr inci pais cola borador es.  Sem esta  per ifer ia, 

talvez este centr o, que é esta f amília, não tivesse tido a grandiosidade que teve. 

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UM MOTIM NO FUNDÃO EM 1580254 

Pr of . ª Doutora Mar ia Antonieta Gar cia 

Intr odução 

O inter esse  pelo  tema  radica  na  leitura  da  R evista255  O  M unicípio do  F und ã o nas

comemorações centenárias, datada de 1940, que  fecha com um cur to  r elato so br e um 

alvoroço  judaico que  acontecera  no Fundão,  no  ano  de  1580.  So br e  o  desenr olar   do 

motim  f icaram  dúvidas,  incer tezas  que  a  pesquisa  de  nova  documentação  per mitiu 

esclar ecer . 

Lugar   de  r efúgio  de  judeus,  a Beira  cr escera,  demograf icamente,  desde  1391,  com  a 

f uga aos motins de Bar celona, Sevilha, Toledo, Valência e Cór dova, que se cif raram em 

 judiar ias incendiadas e milhar es de vítimas. 

Em 1492, com o Édito de Expulsão dos R eis Católicos de Es panha, o númer o de judeus, 

em  Por tugal,  na  Beira,  aumentar á de  novo,  signif icativamente.  Se  outr os  sinais  não 

existissem,  o  to pónimo  R ua  Nova,  com mar cas  ar quitectónicas  quinhentistas,  que  se 

encontra  no  casco  antigo  de  muitos   bur gos,  atestar ia  o  aumento  de   po pulação256, 

naquele  per íodo. 

O convívio tr i-cultural (cr istãos, muçulmanos, judeus), no r eino, teve o f im anunciado a 

 par tir  do Édito de Expulsão de D. Manuel  I, em 1496. Em Por tugal, na Península, só 

havia  lugar   para  os  f iéis  ao  catolicismo.  A con juntura  político-social  que  envolve  a 

 pu blicação  do  documento,  a  legislação  poster ior ,  a  actuação  do  monar ca  per mitem 

254 Síntese do  livr o: Mar ia Antonieta Gar cia,  I nquisiçã o e  I ndepend ência, U m motim no  F und ã o -1580 ,Coim bra, Alma Azul, 2006. 

255  José  Monteir o,  “O alvor oço  Judaico”A pêndice,  O  M unicípio do  F und ã o nas comemoraçõescentenárias, Fundão, 30 de Novem br o de 1940,  pp 115,116. 

256 As  f ontes diver gem r elativamente aos  judeus que entraram em Por tugal, mas aceita-se que não ser ia infer ior   a  120 mil.  Cf ,  entr e  outr os,  Meyer   K ayser ling,  História dos  judeus em Portugal, São  Paulo, Livrar ia  Pioneira  Editora,  1971, pp.98 e  99.  Lúcio  de  Azevedo,  História dos crist ã os novos,  Lis boa, Clássica Editora, 1989; José Mattoso, História de Portugal, vol III, Lis boa, Cír culo de Leitor es, 1993. 

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 pr esumir  que o Édito não expr essava a vontade r eal; D. Manuel  per ce bia o inter esse da 

 per manência dos judeus no  país. 

Os pogroms de 1504 e 1506, em Lis boa, são,  por ém, r evelador es de que o sentimento 

anti- judaico  era  f acilmente  ateado; com  o  acr éscimo  po pulacional  das  comunidades 

 judaicas, e  por que deixara de haver  her eges no  país, com a o br igator iedade do  ba ptismo, 

o ódio cr escera contra os neo-conver sos, então, em igualdade legal  para dis putar  car gos 

e  pr of issões. 

Acumularam-se conf litos; D. João III ir á r eclamar  insistentemente a Inquisição, junto do 

Pa pa; são  conhecidas  as  dis putas  di plomáticas,  as  ver  bas  que  se  movimentam  e 

compram adiamentos, antes que o Tr ibunal se instale no  país. Em 1536, a Bula C um ad

nihil magis cer tif ica a vitór ia do monar ca. 

 Na Beira, são múlti plas as histór ias de um tempo que ator doa  pela violência,  pelo  poder  

do medo e  pela sua ef icácia.. 

Aos  judeus  impediam-nos  de  f icar   sem  a  conver são  ao  catolicismo,  pr oibiam-lhes 

tam bém a saída do r eino,  por  razões que esta ou aquela con juntura deter minava; como 

 pr oceder   para ser em quem eram e dese javam ser ? Onde viver ?

Tempo de massacr e, em nome de Deus, a cultura tr i-cultural ( judeus, ára bes e católicos) 

vivida na Península  I bér ica, cedera  lugar  à intransigência r eligiosa. Na  linguagem dos 

ar quivos inquisitor iais trans par ece a mar ca de um mundo enfer mo: a traição, o terr or , a 

solidão  envolveram  gerações  e  gerações  o br igadas  a  es par tilhar   compor tamentos  no 

casulo de afectos; ainda assim as delações grassavam. 

Sa be-se,   por   exemplo,   por   uma  denúncia  do   bachar el  Simão  Nunes,  morador   na 

Covilhã, em 1542, 

que no  F und ã o, em casa de  F ernã o  N unes, havia uma sinagoga, e aí faziam os seus ofícios e orações

 segundo o rito  judaico,  F ernã o  N unes ensinava aos crist ã os-novos salmos e lhes dizia que o M essias

estava ainda para vir, fazendo assim as suas pregações.  Aí compareciam os crist ã os novos  Rui M endes,

 pessoa principal do  F und ã o e  já defunto; sua mulher,  I  sabel M endes que ainda ho je costuma praticar

 je juns dos  judeus;  o seu filho Henrique M endes, mercador que habita na vila de  E  stremoz, e que

 praticava o  je jum de quipur ; o seu filho  Duarte M endes, a irmã  deste,  Beatriz M endes mulher de  Duarte

Gonçalves, mercador e morador no F und ã o;  Ana M endes, irmã  dos sobreditos e  Branca M endes

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Esta  denúncia,  perante  a  Inquisição  de  Lis boa,  r evela  ainda  que Fer não  Nunes  tinha

morrido a caminho do Golfo para onde ia fugido e que a testemunha  praticara também

durante muito tempo, cerimónias  judaicas, mas  que  se  af astara,  por lhe chamarem

malsin por ele ter descoberto o dinheiro que eles tiraram para sustentar  em R oma a luta 

contra os seus  per seguidor es. Disse ainda que S imã o V az, morador no lugar do F und ã o,

era  judeu estando à espera do M essias e dizendo que  Deus «nã o tinha necessidade de

 se meter no ventre de uma mulher e que o M essias nã o havia de ser Deus».257  

O medo devorava,  atento, vidas no  f io da navalha. Ora, é em con juntura  inquisitor ial 

que acontece a revolta do F und ã o. Como f oi, então,  possível a r esistência, que f actor es 

engendraram a aventura f undanense de 1580?

Contexto histór ico-cultural 

A análise do contexto histór ico-cultural  per mite compr eender , ar ticular  as pectos causais 

e teleológicos de Alcácer  Quibir , as lutas  pela sucessão ao tr ono, a vitór ia de Fili pe I e o 

motim do Fundão. 

A oscilação entr e o r eal, o sonho e o delír io  por  que enver eda a sociedade  por tuguesa, 

r evela, em última análise, uma inconsciência alar gada e uma cr ença inf inita numa mão 

 pr ovidencial a guiar  os destinos de Por tugal. 

D.  Se bastião  escolheu  ser   her ói,  su bmeter -se  a   pr ovas,  desco br ir -se  na  aventura, 

ado ptando os modelos de cor tesia, honra, no br eza, es pír ito de cr uzada de cavaleir o ao 

gosto medieval. Pr edestinado a um f utur o glor ioso  –   E  V ós, ó bem nascida segurança

(...); novo temor da maura lança258 )  –  acr editou-se «eleito»; as histór ias de cavalar ia, a 

demanda do Santo Graal, os  padr ões da  fé  cr istã, as narrativas de  r eis  e navegador es 

sá bios e cora josos tinham  povoado o seu imaginár io e desaf iado  para um dese jo de ser  

que igualasse os maior es. Este ca pital do f antástico ditou r egras de  jogo; aventur ou-se 

em  Alcácer   Quibir , em bar cou  em  nave  de  loucos,  não  desvelou  o  lugar   do  Graal. 

257 Cf : Mendes dos R emédios, O s  J udeus em Portugal, Edição f ac símile, Lis boa, Alcalá, 2004, vol II. p. 148; António Baião,  A  I nquisiçã o em Portugal e no  Brasil, Lis boa, 1921,  p. 129. 

258 Luís de Camões, O s Lusíadas, Canto I, Dedicatór ia. 

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Todavia,  pelo  deses per o,  pela  cr ença,  pela  lenda,  f oi  o  Enco ber to.  Sem  f utur o  r eal, 

tor nou-se,  na  ver dade,  no  a póstolo  do  Quinto  Impér io,  um  traço  incontor nável  da 

cultura  por tuguesa, através dos tempos. A lenda do Enco ber to, a pós a  batalha, encontr ou 

terr eno  fér til   para  ger minar   f or te  e  duradouramente; em  situação  de  deses per o,  o 

Se bastianismo  er igia-se  como  um  dos  quatr o  mitologemas259  da   por tugalidade;

sintécticamente, traduz a nostalgia de uma idade de ouro que passara e o sentimento de

humilhaçã o nacional de um povo ocupado pelo estrangeiro, bem como a espera

messiânica duma comunidade incapaz de resolver os seus destinos26 0. 

A cr ença num Messias salvador , na vinda de um r ei  pr edestinado explica a divulgação 

das tr ovas  pr oféticas de Gonçalo Anes. Conhecia a Bí blia que lia e r elia, empr estada  por  

João Gomes de Gr ã, escudeir o natural de Trancoso. Para os judeus f uncionava como um 

mestr e, um  ra bi; os  cr istãos  tam bém o consultavam so br e o  signif icado de  textos. Na 

ver dade, o  pr ocesso inquisitor ial do Bandarra, contém car tas que lhe elogiam a o bra261. 

As  tr ovas  de  Gonçalo  Anes  –   1520 e  1540 -  ,  o  Bandarra,  sa pateir o  de  Trancoso, 

sustentam  dese jos e es peranças:

O Porco, e é muito certo /   F ugir á para o deserto /Do Leã o e seu bramido /Demonstra que

vai ferido /Desse bom Rei E ncoberto26 2.

Ver sos que  se memor izavam e cr istalizavam a cr ença no  r egr esso do monar ca, mor to 

em com bate, que o her oif icavam e o deif icavam. 

Vencer   o  Adamastor   que,  por   cer to,  povoara  o  seu  imaginár io  de  menino  e  jovem, 

guiara D. Se bastião e f idalgos. Em Por tugal, lem bramos, nada mais adequado do que o 

ver so  pessoano,  polissémico,  para desocultar  o f ado do r ei, ao longo de séculos: Quem

vem viver a verdade /  que morreu D. S ebastiã o?26 3 

259 Sequências  lendár ias que o  imaginár io  pr of undo do  povo  por tuguês r epete e  pr ivilegia  –  Cf . Gilber t Durand,  “ O imaginár io  por tuguês  e  as  as pirações  do  ocidente  cavaleir esco”,  C avalaria espiritual econquista do mundo, Lis boa, I NIC/ Ga binete de Estudos de Sim bologia, 1986.  p 11. 

260 J.M., O S ebastianismo,  Breve panorama de um mito portuguê s, Lis boa, Terra Livr e, 1978,  p.10. 

261 ANTT, Inquisição de Lis boa, Pr ocesso nº 7197. 

262 Nas Co plas de Pedr o Fr ias lê-se: E  sto ser á al mes d ’ outubre /   E  sta escritura no erra, /   Avera la vitor  yaen guerra /   U n re y  que non se descubre / . Juan  de  R ocacelsa  escr eveu: S ube por el mar airado. /   uncrusado prisionero /   E ncubierto aventurero /   Llegara de dia al prado /   aun amañessa primero / . A pud, Belar d da Fonseca,  D. S ebastiã o, antes e depois de  Alcácer Quibir, Vol  II,  Lis boa,  Ti pograf ia  R amos Af onso e Moita, 1978,  p. 27. 

263 Fer nando Pessoa , M ensagem,  poema D. Se bastião. 

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O sucesso do texto de Bandarra é, tam bém,  per ceptível à luz da decadência que Alcácer  

Quibir   desencadeia.  O Enco ber to,  qual  R ei  Ar tur ,  r etirado  para  o  deser to,  ou  oculto 

numa  Ilha  Enco ber ta,  havia  de  cumpr ir   velhas  pr ofecias,  e  r egr essar   um  dia  para 

constr uir  o Quinto Impér io:

 E  ste sonho, que sonhei, /É  verdade muito certa, /Que l á da  I lha E ncoberta / V os há-de vir

este Re y.26 4 

Af inal, o  enigmático Bandarra,  -  António  Vieira  di-lo-ia  pr ofético  -  ,  com  as  Tr ovas 

r imadas f avor ecia a memor ização; a condenação  pelo Santo Ofício tor nava-as sedutoras. 

Conhecidas,  ditas  e cantadas  por   cr istãos  velhos  e  cr istãos  novos,  conheceram  uma 

enor me divulgação. D. João de Castr o f ala do cardume grande de cópias , es palhadas 

 principalmente  pela  Beira; e  tam bém que os  judeus trazem mui empapeladas muitas

 profecias nossas, por amor das grandes venturas que prometem, parecendo-lhe que sã o

as que eles esperam.265  Tam bém  António  Vieira  diz  que  os  meninos  da  Beira 

aprendiam  a  ler   pel os  seus”   t oscos  versos”  , que exprimiam com tanta felicidade as

 secretas aspirações de muita gente portuguesa.266  

Em  suma, no  país  e, na Beira,  como dissemos,  lugar  de  judeus,  pelo menos desde o 

século  XIV,  Bandarra  e  o  Se bastianismo,  uma  ver são  do  messianismo  judaico, 

medravam. 

Ao car deal r ei que sucede no tr ono a D. Se bastião, a pós a notícia da mor te em Alcácer  

Qui bir ,  valor izam  uns  a  r eligiosidade,  a  santidade,  o  r igor   escr u puloso;  pr ivilegiam 

outr os a componente ditator ial. 

A loucura grassara, a  r iqueza dila pidada atolara o r eino; em  tempo difícil, com vár ios 

candidatos ao tr ono  por tuguês, D. Henr ique, doente,  per de-se em hesitações e a anar quia 

assenta  arraiais  no  país.  Conf litos,  batalhas,  escaramuças  semeiam  o  desnor te  e  a 

insegurança.  Fili pe  II,  através  de  Cr istóvão  de  Moura,  vai  vencendo  os  o positor es, 

conquistando Por tugal; a f rase que se lhe atr i bui a  pr o pósito do r eino  por tuguês: Y o lo

 I n Don Juan Valera, Historia General de E  spaña, Bar celona, Montaner  y Simon, Editor es, 1889,  p. 115. 

264 Bandarra, T rovas, Lis boa, Ina pa, 1989, Ter ceir o cor  po das Tr ovas, Sonho 2º, quadra 5ª. 

265 In Lúcio de Azevedo,  A evoluçã o do S ebastianismo, Lis boa, Ed. Pr esença, 1984,  p. 15. 

266 José van den Besselaar , O S ebastianismo, História S umária, Lis boa, ICALP, 1987,  p. 52. 

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heredé,  yo lo compré,  yo lo conquisté é a síntese de um  per cur so que culmina com a 

união  das  cor oas  peninsular es.  Não  foi  imediata,  pacíf ica,  global,  a  aceitação  do  r ei 

castelhano. D. António, Pr ior  do Crato, r esistir á quanto  pode. 

É  este  o  contexto  mar cado   pelo  caos  e   pela  conf litualidade  que  sub jaz  aos 

acontecimentos  que  se  iniciaram  no Fundão  no  ano  de  1580.  A aventura  de  Alcácer  

Qui bir   cr iou  condições  pr o pícias  à união  dos  países  i bér icos.  Uma  economia  difícil, 

uma Inquisição267 intolerante, tinham isolado Por tugal do mundo culto. 

A intranquilidade, no último quar tel da era de Quinhentos, é toda  poder osa na Península 

Ibér ica; Alcácer  Qui bir   f r ustr ou  as  es peranças de quantos  a postaram na  aventura: em 

1580, Por tugal  per de  a  independência; em 1588, a  Invencível  Ar mada não  f az  jus ao 

nome e é  batida  pelos Ingleses. 

As  desgraças,  os  err os   políticos,  a  tr ágica   batalha,  a  mor te  de  D.  Se bastião 

desencadeiam cr enças num fatum sagrado. 

O insucesso  da  batalha  é,  na  é poca,  tendencialmente,  inter  pr etado  como  castigo  de 

Deus. Para os conver sos, ao Édito de ex pulsão  somara-se o  r efúgio em Marr ocos e a 

coincidência de ter em de  pr estar  auxílio aos sobr eviventes da  batalha; acr escia a mor te 

da numer osa descendência de D. João III, que instalara a Inquisição em Por tugal, sinais 

que eram  inter  pr etados como demonstração da  ira divina  pelos  tor mentos que o  r eino 

havia inf ligido ao  povo eleito. 

Ao contr ár io,  para os cr istãos, foram o r ecur so a dinheir o judaico e o  per dão do conf isco 

dos  bens que ocasionaram a derr ota, a  linguagem escolhida  por  Deus  para manif estar  

discor dância f ace às o pções r eais. A cada  povo, sua ver dade. 

267 Leia-se, a  título de exemplo, o  texto de um via jante: “S e sabe  ya con que serenidad la  I nquisicióncastiga a los que llama here jes, sobre todo a los  judíos, a los que quema vivos. C omo éstos est án en grannúmero,  y  originarios del país, donde el interés  y  la riqueza del comercio les su jetan, afect án el serbuenos cristianos, tienen sus bolsillos llenos de libros de devoción, sus casas tapizadas de imá genes de

 J esús C risto, de la V irgen  y  de los santos  y  bastante a menudo se comprometen en el estadoeclesiá stico.”. Aubr y de la Motraye, in J. Gar cia Mer cadal, V ia jes de extran jeros por E  spaña  y Portugal , Vol. IV, Junta de Castilla y León, 1999,  p. 440. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Sobr e  Por tugal,  escr eviam,  então,  Gas par   Cunner tor f   e  João  Jansen,  mer cador es 

neer landeses:  Deus acuda ao reino neste seu terrível estado de miséria e desgraça.

 Ainda a quem, como nós, nã o é vassalo ou natural parece estala o coraçã o de ver e

ouvir nesta cidade tanto dano, l á stima e destruiçã o e desonra que á naçã o causaram

nossos pecados.268 

A intranquilidade,  a  desor ientação  cr escia  em  Por tugal; ouvia-se,...o mais lastimoso

 pranto e choros de donas e de todas as pessoas que  jamais se viu, porque nã o houve

ninguém que ficasse t ã o livre desta perda que lhe nã o fosse l á  marido, filho, pai ou

 parente, e aos fidalgos coube tanto a maior parte disto que as mais casas grandes de

 Portugal ficaram sem herdeiros26 9... 

O estado do  país era caótico e a f ragilidade de D. Henr ique acentuara-se com as divisões 

inter nas, com as dissenções r eligiosas e  políticas que grassavam na Eur o pa e ganhavam 

adeptos entr e a elite nacional. 

D.  António,  Pr ior   do  Crato,  r esistia; conhecia  bem  o  terr eno  e  pr ocurava  gente  de 

conf iança, qualidade que rar eava, num mundo em desconcer to. Aos r eligiosos conf iava 

o Pr ior  a def esa do  temporal, acr editando no empenhamento desinter essado dos que o 

seguiam. A La pesa mer ece o comentár io: Y  depositando en los monasterios sus dineros

 y  sus  jo yas,  juntó algunos miles de hombres entre soldados, menestrales, esclavos  y 

 gente colecticia,  y  siguiéndole  y haciendo de capitanes los frailes, llevando cruces en

 sus manos izquierdas  y  en sus diestras espadas, llegó el antiguo Prior do C rato á 

 Belem...27 0 

Era  este  o  exér cito  com  que  contava  D.  António;  po pular es  e  f rades  for mavam 

 batalhões, mas as terras e  praças do  país iam caindo nas mãos de Fili pe. 

268 In João Lúcio Azevedo, “Notícias de Por tugal de 1578 a 1580 segundo car tas de uma Casa comer cial neer landesa”,  Lusit ânia S acra, Lis boa, f asc 7, vol 3, 1925, Outubr o,  p. 43. 

269 Pêr o R oiz Soar es, M emorial, Coim bra, Univer sidade de Coim bra, ed Manuel Lo pes de Almeida, 1953,  p. 102. 

270 Idem, i bidem. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Vence  e  a  vingança  de  Fili pe  II  é  avaliada  de modos  dif er entes; uns  cr êem-na  leve, 

outr os  qualif icam-na  como  dura.  Na  ver dade,  amnistiou,   per doou  alguns,  mas  há

 pessoas castigadas  por  seguir em D. António. Quando Fili pe  II é aclamado  r ei, alguns 

tinham  par tido  para o exílio, outr os haviam ex piado a f idelidade ao Pr ior  do Crato. 

Por ém, com o monar ca ausente, Lis boa é cantada como viúva, comparada a Jer usalém. 

O se bastianismo e o antonionismo sobr eviviam, guar davam a es perança do r enascer  da 

monar quia  por tuguesaJacobo  Sobiesk i,  via jando  por   Por tugal  e  Es panha,  em  1611, 

r eparava que:  E ntre los portugueses  y españoles rige una antipatía mu y profunda:  los

 primeros no pueden sufrir a los últimos. (...).

R etrato síntese de um sentir  anti-i ber ista a que acr escenta: Ha y en Portugal muchísimos

 judíos, y tan numerosos, que varias casas tienen su origen de ellos. A pesar de haberlos

quemado  y  expulsado, viven muchos ocultos entre los portugueses.  La gente de

 Portugal tiene mu y buenas disposiciones para el comercio y la navegación.27 1 

Sur  pr eendem-no  os  muitos  navios,  as  casas,  as  igr e jas,  os  mosteir os  o pulentos.  O

am biente de Lis boa conquistara o via jante  polaco. Negociantes r icos, as es peciar ias, as 

 jóias  do  Or iente,  o  comér cio  var iado  guindavam  Lis boa  ao  to po  do  cosmo politismo. 

Mas a  sociedade  estava  enf er ma: os nauf r ágios,  a manutenção dos  por tos, as  lutas ao 

longo da  costa, o desastr e da  batalha,  as  pestes,  a  corr u pção, o  estado  de misér ia da 

lavoura  por tuguesa,  traduziu-se,  em última  análise,  em  per da de vidas  e de  bens,  em 

desencanto. 

 Na  Beira,   pastor es  e  cultivador es,  r udes,  integram-se  mal  numa  sociedade  sem 

har monia: na  justiça  vigorava  o  dir eito  local,  vilas  e  aldeias  conf lituam.  O ódio  e  o 

medo  comandam  as vidas.  O quotidiano desmente  a  r eligiosidade.  Af inal,  em muitas 

terras  do  r eino,  não  havia  cristandade mais que no nome, como  r econhecia  Fr ei 

Bar tolomeu dos Már tir es.

271 Jacobo Sobiesk i, in J. Gar cia Mer cadal, V ia jes de E  xtrangeros por E  spaña y Portugal, Salamanca, Junta de Castilla y León, vol III, 1999,  p. 182. 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Olhar es vár ios, de nacionais e de estrangeir os, r evelam o contexto, o r etrato em grande 

 plano de um tempo que  per mite compr eender  o episódio de r esistência que se inicia no 

Fundão em 1580. 

As Br igas do Fundão 

Como era então o Fundão?

Em documento datado de 15 de Janeir o de 1569, lê-se:

 Dizem oficiais do lugar do  F und ã o, termo da vila da C ovilhã  , por suas partes e de todo o povo do dito

lugar e dos lugares a ele chegados, que os do  F und ã o est ã o grandes tr ê s léguas afastados da dita vila,

entre as quais tr ê s léguas há dois rios grandes e outras muitas ribeiras que por vezes tolhem v ã o, o qual

é mui   g rande de mais de 500 vi  z inhos e muito grande trato e a mais honrada aldeia que no reino há  ,

aonde há d ois  j uíz es e um tabelião das notas que há mais de 80 anos , que está separado da dita vila  por  

autoridade dos reis  passados...

O documento inter essa  por  ser  r evelador  que, no  tempo de D. Se bastião, o Fundão era 

aldeia grande e es boçava a sua vontade de emanci pação da Covilhã. Por  isso, o monar ca 

satisf ar á o  pedido; r econheceu a  par tir  da diligência que:

mostra ter o dito lugar os ditos 500 vizinhos e ser  aldeia  g rande e de muito trato , e estar tr ê s léguas da

vila da C ovilhã  , e nã o terem posse de ter tabeliã o antes sempre os da dita vila iam ali escrever e somente

um dos seis tabeliã es das notas havia muito tempo que morava no dito lugar por provisã o de E l rei meu

 senhor e avô que santa glória ha ja, e que o povo do dito lugar receberia pre juízo em nã o ter tabeliã o

(...)272 

Eram muitos os  judeus que viviam na  localidade,  f oram muitas  as  pr isões, muitas  as 

f ugas. A Beira estava na mira da Inquisição. 

Houve  beir ões  que  se  r ef ugiaram: um  depoimento  datado  de  1581  r egistava  que  na 

cidade  de  Ferrara  havia uma l âmpada de S . V icente, uma do  F und ã o e outra da

C ovilhã .273. Tam bém  pr ocur ou  exílio na  Itália o céle br e  f undanense Pedr o de Barr os, 

 professor de M edicina que ensinou na C orte de T urim, onde foi físico mor de C arlos  II  ,

 Duque de S abóia; f aleceu com 90 anos , em 1558; f oi autor  das obras editadas nos anos 

de 1507 e 1512: De pestilentia e  Lexipir  ytae perpetuae quaestionis.

O Fundão cr escera,  por  cer to, com o r efúgio de judeus vindos de Es panha, a pós o Édito 

de ex pulsão. Em meados do século XVI, a  par tir  dos lugar es de culto que se constr uíram 

272 A. N.T.T.Chancelaria de D. S ebastiã o e D. Henrique, Privilégios, Liv 8, f olhas 54vs 

273 António Baião,  A  I nquisiçã o em Portugal e no  Brasil, Arquivo Histórico Portuguê s, vol VIII,  p. 419. 

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e que delimitavam o es paço ur  bano, o es paço sagrado,  pr esume-se a dimensão do lugar . 

As ca pelas, de Nossa Senhora da Conceição constr uída em 1560, as de Santo António e 

de  S. Francisco  que  datam  de  1574,  e  a  do  Es pír ito  Santo  de  1578,  a  par   das  casas 

quinhentistas r evelam um  bur go  pr ós per o. 

O Convento de Nossa Senhora do Seixo, outr o edifício quinhentista, ser vir á de lugar  de 

r ecepção  a visitador es,  e de  a br igo  ao meir inho  da  Inquisição que,  em 1580, veio  ao 

Fundão e esteve na or igem do alvor oço judaico. Foi f undado  por  D. Diogo da Silva, no 

tempo em que era Desem bar gador  dos agravos de D. João  III; natural do concelho do 

Fundão ser á o  pr imeir o Inquisidor . 

 Na Santa Casa da Miser icór dia instituída tam bém no século XVI, que se situar ia na R ua 

da Fonte Grande, actual r ua da Miser icór dia velha numa casa com  por ta ogival, f oram 

ouvidas as testemunhas dos tumultos de 1580. 

Médicos,  par teiras,  boticár ios,  sa pateir os,  padeir os,  alf aiates,  mer cador es,  corr eeir os 

são  pr of issões r egistadas entr e os ha bitantes do Fundão, na era de Quinhentos. 

Mar cos Teixeira, inquisidor  de Évora, em 1579, visita a Beira274. Ouve a Mar ia de Sá e 

a Ana Lo pes, cr istãs velhas da Covilhã e do Fundão, que Francisca R odr igues, viúva do 

Fundão,  assegurava  que  o  Santo  Ofício  metia  as  almas  nos  inf er nos  com  as  suas 

 pr egações. Na R ua Nova do Fundão, Diogo Vaz af ir mava que não o  podiam  pr ender   por  

não comer   por co e guar dar  o sá bado. Conhecia a  legislação  inquisitor ial, este cr istão-

novo, mas de  pouco valia; a  petição dos conver sos do Fundão contra o que consideram 

ser  atr o pelos do visitador  Mar cos Teixeira aos dir eitos que  possuíam, não sur te ef eito. 

D. Jor ge,  bis po de Lis boa, encarr egar á Fr ei João de Santar ém, guar dião do convento de 

S. Francisco de Penamacor   para ouvir   testemunhas  sobr e  a  petição.  Ser á r ece bido no 

mosteiro de S .  F rancisco (assim o denominam) do dito lugar do  F und ã o, onde vem em 

 segredo, ouvir  testemunhas. 

A uma visitação seguiam-se  pr isões,  per seguições e... f ugas, quando era  possível. Graça 

Henr iques275, Diogo Barr eir os, Leonor  Gomes, Jor ge Francisco, Francisco de Matos e 

274 A. N.T.T., Inquisição de Coim bra,  Livro de visita do licenciado M arcos T eixeira ( 157 9 )

275 Graça Henr iques, Inquisição de Lis boa,  pº 1269. É queimada viva, em auto da fé. 

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Beatr iz R odr igues, do Fundão, são alguns  beir ões que, então, sof r eram os cár cer es da 

Inquisição. A Beira  inter essava à Inquisição e os cr istãos-novos não conhecem a  paz. 

Que aconteceu, então, no Fundão, no  Ano do nascimento de nosso S enhor  J esus C risto

de mil e quinhentos e oitenta anos, aos vinte e dois dias de  N ovembro do dito ano nesta

vila do  F und ã o27 6  , título do auto  que  Damião  Mendes,  meir inho  do  Santo  Ofício, 

r equer eu?

Feito nas  pousadas de Simão de Sequeira,  pr ior  da vila, queixa-se o meir inho de uma

resist ência que foi feita a ele...e à s pessoas que ele tinha para favor e a juda da

dilig ência que vinha fazer por parte do S anto O fício e de S ua M a jestade.

Conta o auto que chegara a uma sexta-f eira, muito de noite, em segr edo, ao Mosteir o de 

 Nossa Senhora do Seixo um meir inho. Sá bado, cedo, mandara o guar dião do convento a 

casa do Pr ior  do Fundão. A mensagem dizia que convinha muito ao serviço de Deus que 

viesse  ao mosteir o.  Simão  de  Sequeira  obedece; é  inf or mado  sobr e  as  intenções  dos 

Inquisidor es; acor dam que convinha para o tal caso os delinquentes se prenderem ao

domingo seguinte estando à missa.

Por   isso,  o  Pr ior   mandou  chamar   os  licenciados  Domingos  Alves  e  Jor ge  R uber te, 

clér igo  de  missa,  Domingos  Franco,  cura  da  igr e ja  da  vila,  e  Gonçalo  Vaz,  todos 

cr istãos velhos e gente principal da terra, em quem conf iava. 

R epar tiu-os  pelas  tr ês  por tas  da  igr e ja; aler tou  que,  quando  o  meir inho  entrasse,  os 

encarr egados  da  guar da  das   por tas  não   podiam  deixar   sair   nenhum dos culpados.

Tentaram cumpr ir . 

Vá lá sa ber -se como, o segr edo solta-se. Estêvão de Sampaio, morador  na vila, capit ã o

de uma companhia, f oi visto a avisar  os cr istãos novos  para não ir em à missa,  por que o 

meir inho os  pr ender ia. Diz o Auto que os mais deles assim homens como mulheres se

ausentaram e nã o vieram à missa. Por  que  pr ocedia assim? A af eição e o comer deles é 

a ex plicação avançada  por  delator es. 

276 ANTT, Inquisição de Lis boa, Cader no VI do Pr omotor   –  1571- 1591 -, Liv 197. 

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Conta mais o Auto: C omo capit ã o e V ereador que é na dita vila mandou por em armas

a todos lançando tom e sob pena de que vinha o C orregedor da Guarda e  justiça da

C ovilhã  para lhe tomarem a vila.

Estratégia  de  Estêvão  de  Sampaio  para  juntar   toda  a  po pulação  contra  o  meir inho?

Pr etendia  salvar   os  cr istãos  novos  ou/  e   pr eser var   o  r ecente  estatuto  de  vila?

Considerado ter mo da Covilhã, o Fundão é titulado como vila, na documentação a que 

tivemos acesso, durante um cur to  per íodo277 e, como ver if icámos, os ha bitantes quer iam 

salvaguar dar  o estatuto adquir ido. 

Damião Mendes adianta que  f oi  r ece bido à  por ta da  igr e ja  por  Estêvão de Sampaio e 

homens ar mados para matarem, afrontarem e impedirem o S anto O fício, como de feito

afrontaram a ele, meirinho, defendendo-lhe que nã o fechasse as portas da dita igre ja

com armas ofensivas e defensivas, arcabuzes, montantes e espadas nuas, repicando o

 sino dizendo com altas vozes matai estes ladr ões, matai estes ladr ões. Queixa-se mais o 

meir inho da  Inquisição. Fala de  impuxões, de o  ter em derr ubado, de  lhe que brar em  a 

vara e lhe tomar em a es pada, de ter  f icado sem ca pa e sem cha péu, no chão; não f ora a 

chegada do  pr ior  que o identif icou como mem br o do Santo Ofício, garante que não ter ia 

sido solto e de feito o mataram como tinham determinado e depois dito.

 No  adr o  da  igr e ja,  cor taram  as  r édeas  aos  cavalos,  af ugentaram-nos  pelo  campo  e 

es pancaram, assim como a António Francisco, homem do meir inho, que os  segurava, 

deles cuidava. 

Damião  Mendes  denuncia  tam bém  Estêvão  de  Sampaio   pelo  que  ouvira  a  Jor ge 

R uber te, o guar dador  da  por ta  pr inci pal da igr e ja; o ver eador  r ecr iminado  por  não a judar  

a Inquisição, r es pondera com palavras muito in juriosas; a pelidara o clér igo de missa de 

crist ã ozinho e  tredo à  vila do  F und ã o, donde era natural, e que ao meirinho lhe

tomaria a vara e lha meteria pelo cu acima e outras muitas palavras semelhantes.

Acr escenta que, com os juízes ausentes e sendo ver eador  mais velho não quisera tomar  

a vara  para  f avor ecer  o  Santo Ofício. Pelas  razões aduzidas,  por  def ender  os  cr istãos 

277  In R i beir o Car doso  (dir ), S ubsídios para a História regional da  Beira  Baixa, Castelo Branco, Junta Pr ovincial da Beira Baixa, 1940,  p. 50. 

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novos, Damião  Mendes  lança  a  sus peita: pode-se dizer que é da dita naçã o. Damião 

Mendes  nomeia  testemunhas  para  ser em  per guntadas,  e das mais das ditas coisas

conteúdas no Auto deu fé passarem na verdade, o escrivã o.

A 26 de Novem br o de 1580, na casa do  pr ior , a par ece Gonçalo Vaz, e porquanto nã o

havia  juiz na terra, mandou  f azer  outr o Auto. Queixa-se Gonçalo Vaz que os cr istãos 

novos saltaram com ele, que o quer iam matar ; cul pa Estêvão de Sampaio e conta que 

levara muitas estocadas e pancadas; valeram-lhe, af ir ma, os cr istãos velhos. Ameaçado 

de mor te  por  ter  a judado ao Santo Ofício a  pr ender  os cr istãos novos, sa be mais: à tar de, 

viera à vila António de Pr oença, meir inho da vila da Covilhã,  trazendo um  pr eso  para 

entr egar   a  Damião  Mendes.  O sino  r epicou  e  o  povo,  avisado  pelo  ver eador ,  não 

 per mitiu que o meir inho da Covilhã entrasse de  vara levantada na vila do Fundão.  E  

depois disto saltou com ele dito meirinho no caminho com muitos homens, atitude que 

Gonçalo Vaz inter  pr eta como r eveladora da vontade de impedir o S anto O fício, porque

trouxe o dito preso ao meirinho da S anta  I nquisiçã o.

Tr ocam  palavras  of ensivas  e  ouvem  a  Estêvão  de  Sampaio  clamar   matai, matai o

ladr ã o. R azão mais do que suf iciente  para Gonçalo Vaz r equer er  ao juiz, Gonçalo R oiz, 

que  pr enda o ver eador ; a or dem não é cumpr ida e a  justif icação é clara  para Gonçalo 

Vaz: o juiz é cr istão-novo e solta-o. Pr esume tam bém que os compor tamentos do juiz e 

do ver eador   decorr em  da  cumplicidade  gerada  pelos  laços  de  per tença  aos da nação;

conf ir ma que um dia, na missa, Estêvão de Sampaio dissera ao  pr ior : mente que pois as

mentiras se diziam no púlpito... Acusa-o mais: de ousar  cometer  cr imes  por  comprazer

aos crist ã os novos e comer deles.

Ousadia  demasiada  em  tempo  de  f er vor   r eligioso,  ainda  que  a  anar quia  r einasse, 

acr editámos que este episódio não  podia ter   parado  por  aqui. 

 Na  ausência  de  pr ocessos  inquisitor iais,  r ecorr emos  ao  Cader no  do  Pr omotor   onde 

encontr ámos outr os textos sobr e o motim. 

Lemos que  no ano do nascimento de  N osso S enhor  J esus C risto de mil quinhentos e

oitenta e um anos, a 17 de Novem br o, ou se ja, um ano depois do alvor oço, o Dr . Gas par  

de Castr o, corr egedor  e  pr ovedor  da comar ca de Castelo Branco, veio ao Fundão  para 

devassar acer ca de uma resist ência que se fez ao meirinho da S anta  I nquisiçã o.

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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A or dem  ser á obedecida.  A leitura  dos  depoimentos  dos  inquir idos  sur  pr eende.  A

histór ia dos acontecimentos r epete-se, com ângulos de visão nem sempr e coincidentes, 

valor izando uns o que outr os menos pr ezam, alguns guar dando  inf or mações  r elevantes 

 para a compr eensão do episódio. Ouçamos as testemunhas, a  par tir  do r egisto de Gas par  

da Silva, o escr ivão. 

O  pr imeir o  a depor   é  Simão de  Sequeira,  pr ior   da  igr e ja.  Af ir ma que o meir inho  do 

Santo  Ofício  o  tinha  mandado  chamar   estando escondido no M osteiro de  N ossa

S enhora do S eixo, pelo guardiã o do dito mosteiro. Foi então que conheceu a  pr ovisão 

do Santo Ofício e soube que iam  pr ender  cr istãos novos morador es no Fundão os quais

ele deu o rol ; ex plica que acor daram que  escolher ia  tr ês homens cr istãos velhos  para 

guar dar em cada uma das  por tas da  Igr e ja; descr eve a conver sa com Gonçalo Vaz, um 

dos  eleitos: sur  pr eende-se  o  pr ior ,  quando  o  ouve  pedir -lhe  que o nã o enganasse,

 porque  E  st êvã o de S ampaio, morador aqui, lhe dissera que  o  meir inho  da  Santa 

Inquisição  quer ia  meter   no  Fundão  o  Corr egedor   da  Guar da.  Dissuadiu-o  Simão  de 

Sequeira, e Gonçalo Vaz aceita encarr egar -se da guar da de uma das  por tas. Os  f actos 

narrados  pelo  depoente  incluem  por menor es; Damião  Mendes  entrara  na  igr e ja,  pela 

 por ta  pr inci pal e nela levantou a vara dizendo da parte da S anta  I nquisiçã o trazendo o

rosto coberto com um papafigo e logo muita gente saltou nele e o derribara dando-lhe

muitas punhadas e coices com muitas espadas (...). O sacer dote acudiu, lem brando que 

o meir inho vinha da  par te da Inquisição e que nã o estavam na Rochela, cidade f rancesa, 

onde muitos conver sos idos de Por tugal se r ef ugiavam. Levanta do chão o meir inho, e 

vê à porta travessa onde estava Gonçalo V az sof r er  uma estocada nos peitos e nã o o

matara, justif ica, por ter umas couraças.

Simão de Sequeira indica Anr ique Antunes, cr istão-novo, que atacara Gonçalo Vaz  por  

sa ber  que ele impedia a saída da igr e ja a quem quisesse sair . 

Gas par  de Castr o, o corr egedor  de Castelo Branco, interr oga-o: de quem se queixava o 

 pr ior ? Estêvão de Sampaio é o acusado. Af r ontara-o quando entrara na igr e ja, mandara 

cor tar   as  r édeas  ao  cavalo,  além  de  ser   pública voz e fama que o dito  E  st êvã o de

S ampaio foi o princípio deste motim; andara  pelas r uas avisando  pessoas, por a ele vir a

notícia de que o dito meirinho estava escondido no mosteiro.

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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Como soubera o ver eador  da  pr esença do meir inho da Inquisição? Como se des pr endeu 

o  segr edo? Os  convocados   para  guar dar   as   por tas,   por   cer to,  não  divulgar iam  a 

inf or mação,  não  lhes  convinha; af inal  ter iam de viver   no Fundão  par edes-meias  com 

muitos cr istãos novos que  passar iam a olhá-los com,  pelo menos, sus peição. E que ser ia 

da terra se  par tissem os conver sos?

De  posse  do  segr edo  estava,  de  cer teza,  o  guar dião  do mosteir o  que  viera  chamar   o 

 pr ior . E os outr os f rades não sa ber iam? As  par edes tinham ouvidos e, na é poca, o há bito 

não f azia o monge; muitas vezes ser via,  pr ecisamente,  para ocultar  cr enças  pr oi bidas. O

númer o de acusados de heter odoxias e her esias, entr e eclesiásticos, é consider ável. 

Segundo  o  depoimento  do  pr ior ,  a  mãe  de  Estêvão  de  Sampaio  era  cr istã nova,  ele 

 pr ó pr io convivia amigavelmente com eles e os f avor ecia,  por que eles o sustentavam. O

compor tamento,  para Simão de Sequeira, não deixava mar gem  para dúvidas. Acr escenta 

que sendo ver eador  e ca pitão, ele e o meir inho mandaram que tomasse a vara de  juiz,

 por um dos juízes se ausentar por ser crist ã o-novo e ele o nã o quisera fazer.

As questões mais difíceis f icam  para o f inal: o corr egedor  exige mais esclar ecimentos. 

Desf iando  o  auto  de Damião  Mendes,  a  histór ia  incluía  o meir inho  da  Covilhã,  que 

viera  ao Fundão  trazer   um  pr eso do  Santo  Ofício; ouvira-se  r epicar  o  sino  e  o  povo 

amotinado saltou com o dito meirinho no caminho. O pr ior  esclar ece que o meir inho da 

Covilhã é  seu  ir mão,  uma  inf or mação  r elevante,  como  ver emos.  Para  validar   o 

depoimento, interr ogado sobr e o costume declara que estava diferente com  E  st êvã o de

S ampaio. Inter vir iam o  af ecto  pelo  ir mão  e o desaf ecto  pelo ver eador , no  r elatar  dos 

f actos? Ajudam a a juizar  sobr e a ver são da testemunha?

 No  f inal  do  depoimento  constam  assinaturas  de  Gas par   de  Castr o  e  de  Simão  de 

Sequeira,  bem como a do escr ivão, Gas par  da Silva. 

 No  dia  18 de  Novem br o,  o  Corr egedor   de  Castelo  Branco  ouve,  na  Santa  Casa  da 

Miser icór dia do Fundão, a António R oiz, mer cador . Não diver gem as inf or mações em 

r elação ao essencial: inova,  por ém, quando es pecif ica que havendo quatro meses que 

este  povo  estava  levantado  por   vila  e não  entrava nele  J usti ça  da C ovilhã nem  da 

G uarda por terem para isso provisã o veio António de  Proença, meirinho da Covilhã a

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este  F und ã o e trouxe um preso da S anta  I nquisiçã o; o  pr o blema, na visão de António 

R oiz, é que depois de entregar o dito preso andou  pela vila de vara levantada  fa z endo 

demoras nas r uas ,  prag uejando da terra di  z endo que havia de ser  aldeia da Covilhã.

Testemunho  pr ecioso,  o  de  António  R oiz: como  aceitar   a  ostentação  de  poder   do 

meir inho da Covilhã, as  pragas  r ogadas ao Fundão, a  pr ovocação de que havia de ser

aldeia da C ovilhã ? Bem aconselhou este mer cador  ao meir inho que não tr ouxesse vara

levantada que o povo estava alvoroçado. A r esposta  da  autor idade  viera  em  tom  de 

desaf io: António de Pr oença jura que havia de levar duas varas uma numa mã o e outra

noutra e se alguém lhe falasse que o havia de pagar e que havia de fazer com que

destr uí sse este l u gar ...

Foi Estêvão de Sam paio quem o f ez  baixar  a vara o que lhe valeu uma tr oca de  palavras, 

que  pr esumimos  pouco amigáveis, com o ir mão, o  pr ior  do Fundão. 

Af inal, o motim  tinha outra dimensão; em causa estava a def esa da  inde pendência da 

vila, conseguida havia quatr o meses; ora, o desaf io/pr ovocação de António de Pr oença, 

meir inho da Covilhã, maldizendo o novo estatuto do Fundão, exacer  bara os ânimos. Em 

tem po de  conf lito mandava quem  podia  e o  estatuto de vila  para o Fundão  f ora uma 

conquista. 

O ter ceir o  de poimento  é  de  Jor ge  R uber te,  clér igo  de  missa.  Não  altera  muito  as 

inf or mações;  pr ivilegia  uns  f actos,  desvalor iza  outr os.  Boato  ou não,  acr escenta  que 

Gonçalo R oiz, juiz, cr istão-novo, se pusera a cavalo... e se fora por detr á s das casas e

andou fora quatro ou cinco dias.

Indícios de cul pa que, um ano de pois dos acontecimentos, são r egistados, r econstituídos 

com  o  por menor   possível.  R ef er e  tam bém  o  alvoroço, o rumor de muita gente,  o

reboliço gerado  pela  entrada  do  meir inho,  em buçado  e  de  vara  levantada  na  igr e ja. 

Factos,  memór ias  e  boatos  amalgamam-se  e  Jor ge  R uber te  lança  a  dúvida,  tor nada 

 pública, na altura dos acontecimentos, so br e um filho de P êro Gomes, defunto, o mais

moço a quem nã o sabe o nome, crist ã o-novo, autor  do cor te das r édeas e da  pancada aos 

cavalos  do meir inho.  Não  esquece,  tam bém,  o  clér igo  de missa  o  gol pe  sof r ido  por  

Gonçalo  Vaz; Anr ique  Antunes  ser ia  um  suspeito,  pelo  que  ouvira  dizer ,  mas  viu

 António  Roiz, sapateiro, de alcunha o doudo, crist ã o-novo com uma espada arrancada.

Def ende ainda que lhe  par ece que de um dos lados da  por ta, o meir inho f ora im pedido 

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de entrar   por que nã o se sabia que era da S anta  I nquisiçã o e cuidava que era da C ovilhã  

ou da Guarda;  conf ir ma  que  o  negócio que houve com o meirinho,  António  de 

 Proença , foi depois de ter entregue o preso, levar  vara  levantada e o  im pediram  por  

sustentarem a  posse da vila , e dizem que o prior, irmã o do dito meirinho, acudira e

 prendera ao dito E  st êvã o de S ampaio... 

Estar ia ili bado de cul pas, o ver eador ?

Jor ge R uber te  tem outr os dados  para  lançar : ouvira dizer  ao  escr ivão dos achados do 

Fundão que Estêvão de Sam paio aconselhara a f uga a um cr istão-novo,  por que estava na 

terra  o  meir inho  da  Inquisição.  Acr escentou  que  r e pr eendera  o  ver eador    pelo 

com por tamento que  tivera, e ele lhe respondera mal e com palavras descorteses, mas

que ele testemunha lhe nã o quer mal.

O licenciado  Domingos  Álvar es,  cum pr idos  os  r ituais  de  juramento  so br e  os 

Evangelhos,  inicia  o  de poimento,  conf ir mando  que  estando  esta  terra  levantada  por  

vila  havia  quatro  meses  pouco  mai s  ou  menos  e  tendo  provi são  no  caso , veio  ao 

Fundão, o meir inho da Covilhã. Declara que Francisco Mendes se deslocara a sua casa 

 por  ser  ver eador , a pr eensivo,  por que não se arreceava de outra coi sa senão que viesse 

o Corregedor  da G uarda e Covilhã e  lhe  tomassem a cadeia e  posse em que estava . 

Domingos Álvar es deu conta desta conver sa a Estêvão de Sam paio por ser outrossim

vereador e, como o  pr ior  o mandara chamar ,  pede-lhe tam bém que provesse na guarda

e defesa do caso. Conta que Estêvão de Sam paio se levantou da cama e se encarregou

disso.

Esta  testemunha  é  uma  das  escolhidas  pelo  pr ior ,  para  guar dar   as  por tas  da  igr e ja;

desconf iou Sam paio da  pr esença do meir inho da  Inquisição, a  par tir  da conver sa com 

Domingos Álvar es? Esta testemunha ter á desvendado o segr edo, ou suger iu mais do que 

af ir mou?

Declara ainda o cura que aconselhara o  pr ior  a desviar  o r umo dos acontecimentos por

 saber o estado em que terra e gente dela estavam  por que a qual quer  sinal  se iravam 

 j untos , armados os moradores quase todos  por  ra z ão da  g uarda e  posse . 

O  pr ior  não o ouve  e a Domingos Álvar es não  r esta  senão o bedecer : guar da  a  por ta. 

Quando  o  meir inho  da  Inquisição  entra,  vestido de S aragoça com um papafigo da

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mesma cor, rebuçado e a vara dobrada, o  povo não o identif ica como mem br o do Santo 

Ofício.  Alvor oça-se,  cuidando que era o C orregedor da Guarda. Quando  f oi 

r econhecido, as  pessoas aquietaram-se. Em  traços  br eves, o cura  f ala do e pisódio com 

Gonçalo Vaz, e adianta uma inf or mação dissonante,  per tur  badora: segundo ouvira dizer,

 E  st êvã o de S ampaio é tido na dita vila por crist ã o velho.

Par ece estranho o f acto de os inquisidor es a pr eciar em o de poimento; anotam ao lado do 

manuscr ito:  E  sta testemunha parece que conta a verdade. Por que  assim  se 

salvaguar dava o r osto, a f or ça da instituição? Por que conheciam o medo que inspirava a 

Inquisição? Af inal, concluíam, o r econhecimento do meir inho como elemento do Santo 

Ofício acalmara as  pessoas. A questão desviava-se; no Fundão, a  po pulação enf r entava 

o  meir inho  da  Covilhã e  não  a  Inquisição.  Def endia-se  o  estatuto  de  vila  e  não  os 

cr istãos novos. 

Francisco  Anes,  outr o  de poente,  não  se  af asta  das  declarações  até  então  pr oduzidas. 

Disser ta so br e o temor  que viessem tomar  a vila, a cr ença de que era o Corr egedor  da 

Guar da que entrara na  igr e ja, e o  f acto do meir inho da  Covilhã trazer  um  pr eso  para 

entr egar  ao Santo Ofício. R eitera que, de pois de o ter  entr egue, andara  pela vila com a

vara levantada e começara  a zombar da cadeia e da vila, e  r evoltara  as  pessoas.  Ao 

 pedido da  testemunha  para que  baixasse a vara,  por  amizade, António de Pr oença, em 

casa do ir mão, r espondera à testemunha que havia de levar uma em cada mã o.

António  Mendes, Manuel Pir es,  paneir o, Diogo  Vaz,  almocr eve,  Jor ge  Antunes, Pêr o 

Fer nandes e Miguel Pir es, f err eir os, nada acr escentam aos testemunhos anter ior es. 

Matias Fer nandes, alf aiate, lem bra um  por menor : os cr istãos novos, quando f ugiam  pela 

 por ta onde o meir inho estava,  lhe davam encontr ões e que alguns dos crist ã os novos

que fugiam eram de C astelo  Branco que vieram aqui para uma boda que ele

testemunha nã o conhece.

António  Teixeira,  mance bo,  identif ica  quem  agr ediu  o  cunhado  de  Gonçalo  Vaz. 

 Nomeia: Domingos  Mendes,  Anr ique  Antunes  e Duar te  Antunes.  Viu  tam bém  quem 

cor tou  as  r édeas  aos  cavalos: António  R oiz,  doido   por   alcunha,  Manuel  Gomes. 

Francisco  da  Conceição,  cr istão  velho,  tam bém  ter ia  atacado  os  cavalos,  mas  nã o

 sabiam que eram do meirinho da  I nquisiçã o. Conclui o  de poente,  claramente, que o 

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Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

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negócio que aconteceu ao meirinho da C ovilhã  nã o fora sobre coisas do S anto O fício

 somente fora por levar vara levantada tendo entregue o preso porque nisso foram

alguns crist ã os velhos.

Quem,  entr e  não  her éticos,  ousar ia  agr edir   um  meir inho  da  Santa  Inquisição? Que 

melhor   pr ova  do  que  a  par tici pação  dos  cr istãos  velhos  no  conf lito  com  António  de 

Pr oença?

Declara ainda António Teixeira que não vira na volta Estêvão de Sam paio, nem sa bia 

que  avisara os  cr istãos-novos,  e que  dizem algumas pessoas que o ver eador  visado  é 

meio crist ã o-novo. Sa be-se  pouco  so br e  o  ver eador :  para  uns  é  cr istão  velho,  outr os 

dizem-no cr istão-novo, e tam bém há quem o identif ique como meio cr istão-novo. Quem 

e o que ser ia? Em que acr editar iam os inquisidor es?

Os  interr ogatór ios  continuam.  A 19  de  Novem br o  de  1581,  na  Santa  Casa  da 

Miser icór dia do Fundão, Gaspar  de Castr o ouve novas testemunhas. 

Francisco de Pr oença r eitera que conhece as acusações de Jor ge R uber te a Estêvão de 

Sam paio, que outras  pessoas (das quais não se lem brava) conf ir mavam, e que soube que 

o visado é amigo de crist ã os-novos e come deles por ser pobre e que ele testemunha o

tem por crist ã o velho.

O ver eador  é ou não conver so?

 Não conf ir mamos a  judaicidade; não coincidem os de poimentos que  lemos,  af ectos  e 

cr enças  par tici pavam na  r econstr ução dos  f actos. Estêvão de Sam paio  podia  per tencer  

ao r eduzido númer o de gente solidár ia com os cr istãos-novos, e não  pr of essar  a cr ença 

 judaica. Def endia-os  por que def endia a terra onde era ver eador ? Como ser ia o Fundão 

sem  a   pr esença  dos  conver sos? Acr esce  que  o  meir inho  da  Covilhã manif estara 

 publicamente o dese jo de r ecusar  o estatuto de vila ao Fundão, e ao ver eador  incum bia a 

def esa da emanci pação alcançada. 

Francisco  de Pr oença  lem brar á o  conf lito, o medo  que  se  a poder ou  dele  pr ó pr io  e  o 

levara  a  r ef ugiar -se  na  ca pela  r eceando  o  alvor oço  do  povo; temera  as  cutiladas  em 

Gonçalo Vaz, estr emecera com o desaf io do meir inho da Covilhã; tr emera a  pr isão de 

Estêvão de Sam paio,  pelo  pr ior ,  por  ter  mandado r e picar  o sino e mandar   baixar  a vara, 

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assustara-o a deso bediência do juiz, cr istão-novo, que soltara o ver eador ... Paralisou-o o 

medo? Tinha razões  para isso. O testemunho f inaliza com a  per gunta so br e o costume; o 

escr ivão anota que o inquir ido conf essa ser  parente da mulher de E  st êvã o de S ampaio.

Domingos  Franco,  cura  da  igr e ja,  estava  acautelado; ouvira,  na  sacr istia,  a  conver sa 

entr e o  pr ior  e Gonçalo Vaz, tinha  per ce bido a dúvida deste encarr egado de guar dar  uma 

das  por tas, antes de sa ber  quem se deslocar ia ao Fundão: se o meir inho da Inquisição ou 

o Corr egedor  da Guar da. O r esponsável  pela desconf iança, lem bra, havia sido Estêvão 

de  Sam paio  que,  sendo  vizinho,  o  chamara  e  lhe  dera  a  entender   que  estava  a  ser  

enganado.

Af ir ma a  testemunha que o  r e boliço da gente o  im pedira de ouvir  r e picar  o sino; mas 

actuara  por que,  ar gumenta,  se  pr eocupara  em  aplacar as mulheres que gritavam por

cuidarem vinha sobre eles a  justiça da C ovilhã   ou Guarda, pelos sobressaltos que

havia, no que r espeitava à posse da vila.

Os de poentes continuam a ser  ouvidos, aos vinte dias de Novem br o de 1581, ainda na 

Santa Casa da Miser icór dia do Fundão. 

As declarações de  Andr é Gonçalves,  bar  beir o, arr olado  como  testemunha, af inal, não 

têm valor ; no dia em que vieram os meir inhos da Inquisição e da Covilhã, estava preso

na cadeia e nã o sabia de nada. Por que f oi indicado?

Gaspar   Antunes  conf ir ma  que  vira  Estêvão  de  Sam paio  andar   pela  vila  a  avisar   que 

vinha o Corr egedor  da Guar da que se fizessem prestes porque vinha a quebrar a posse

da vila; não f osse o dia bo tecê-las, tam bém ouvira dizer  a um vizinho, António Jor ge, 

que  Branca  Manuel  e  outr os  cr istãos-novos  não  tinham  ido  à missa  por   ter em  sido 

avisados  pelo ver eador . A Gonçalo R oiz tinha-o visto sair a cavalo pela porta de tr á s se 

 fora à aldeia do  Al caide a uma a z enha onde esteve alguns dias até o prior lhe dizer

que podia vir seguro;  nessa  altura,  em  sua  casa  estavam  Gaspar   Mendes  e  ...Vaz,  o 

Gana. O r elato do e pisódio da  igr e ja explicita a dif er ença de actuações entr e cr istãos-

novos  e  cr istãos velhos; os últimos  a paziguam-se  logo que  per ce bem que  se  trata do 

meir inho da  Inquisição; os conver sos  trabalhavam por se sair e abrir algumas portas

assim os que estavam dentro como os de fora.

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Gaspar  Antunes vira, ainda, agr edir  Gonçalo Vaz, e chegar  um f ilho de Branca Manuel, 

com uns dez, doze anos que f ugira e  trazia uma espada f err ugenta que ele  lhe  tomara. 

Do  tem plo,  tam bém  esca para  Diogo  Antunes,  o  bodegueir o,  cr istão-novo,  a  quem 

caíram as chinelas pelo caminho; conf ir ma tam bém,  por  ouvir  dizer , que f ora António 

R oiz, o Doudo, que cor tara as r édeas aos cavalos; r ef er e, como novidade, que na igr e ja 

estavam  uns  noivos,  cr istãos-novos,  de  Castelo Branco,  o esposado com outros seus

 parentes e parentas, e  que  estando  ele   per to  viu,  crist ã os-novos e crist ã  s-novas

deitaram tanta arrochada no meirinho e o prior, e algumas  saíram; identif ica  uma 

delas: era  Isa bel R oiz, mulher  de Pêr o Lo pes que ora vive em Guimar ã es. Indicações 

valiosas  para uma instituição que constr uíra uma r ede de olhos e ouvidos que envolvia 

todo o r eino. 

Gaspar   Antunes  testemunha  ainda que os  cavalos do meir inho  foram ter a  Aldeia de

 J oanes, e corr o bora que o  pr o blema com António de Pr oença, da Covilhã, ocorr era  por  

levar  vara levantada. 

Gracia R osales, serralheir o, outr o inquir ido, nada acr escenta às inf or mações anter ior es. 

Cheio de razão, Vaz, f eltr eir o, conf essa que estava de candeias às avessas com o juiz; na 

noite anter ior  tinha-lhe tomado uma espada que lhe vira usar  no dia do alvor oço. Conta 

mais: à  por ta da casa de Gonçalo R oiz, o  juiz, encontrara Estêvão de Sam paio que o 

avisara que não estava em casa; explica, então, que fora para as traseiras das casas do

dito Gonçalo Roiz e o vira ir pelo olival abaixo. Fugira o juiz?

É ódio e  raiva de quem diz? São com por tamentos e de poimentos que  r evelam medos 

entranhados e f undamentam desconf ianças ca pazes de colocar  na mira do Santo Ofício 

novos  per seguidos. 

Fer não Vaz r ecor dar á  por menor es na agr essão de Gonçalo Vaz;  para além de Anr ique 

Antunes, f r equentemente nomeado, vira António Manuel, Diogo Nunes, Diogo Antunes 

e Francisco Lo pes, e outr os de que nã o é lembrado;  puxa  pela memór ia e r ef er e que no 

e pisódio  entram  Catar ina  R oiz,  mulher   de  Francisco  Manuel,  e Beatr iz  R oiz  que  o 

de poente vê a atirar   pedras ao guar dador  da  por ta da igr e ja. Outr o nome é ventilado: o 

de Simão, f ilho de Isa bel Fer nandes, cr istão-novo que cortara as rédeas aos cavalos.

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O bser vador , dá conta que muitas  pessoas conver sam com Estêvão de Sam paio; justif ica, 

 por ém,  o  f acto  lem brando  que  era  capit ã o e vereador ;  ver dade  é  que  a  conf usão  se 

instalara: uns diziam que vinha o Corr egedor  da Guar da, outros diziam que podia ser o

meirinho da S anta  I nquisiçã o por estar no mosteiro e o dito  E  st êvã o de S ampaio dizia

nã o havia de ser senã o o C orregedor da Guarda...

Ver sões dif er entes  para dif er entes  públicos? Não era esta a f or ma ideal  para motivar  uns 

e outr os e evitar   pr isões de cr istãos-novos que ter iam ef eitos nef astos na vila? Pr esumia 

Estêvão de Sam paio um conluio, entr e os  poder es, que  pudesse  por  em r isco a r ecente 

inde pendência do Fundão f ace à Covilhã? Cer tezas e desconf ianças mesclavam-se,  por  

cer to,  e  o  ver eador   acautelava  a def esa  em  todas  as  f r entes.  Visado  em  vár ios 

de poimentos,  per ce be-se que era homem que desper tava sim patias, e que tinha os seus 

inimigos. Como acontece com os que inter vêm na res publica.

António da Cunha, outr o inquir ido, f oi o r e picar  do sino, quando estava em casa, que o 

tr ouxe  para  a  r ua.  Chegado  ao  adr o  da  igr e ja,  vira  agr edir   a  Gonçalo  Vaz,  Anr ique 

Antunes e António R oiz, e ao meio crist ã o-novo, F rancisco Lopes M arote.

Helena João, mulher  de Fer nandes Cara pito, inf or ma que estava à janela que é defronte

da igre ja, e disseram que vinham... tomar a vila; são mais nomes, mais suspeitos; havia 

gente  com  ar mas,  cr istãos  velhos  e  cr istãos-novos, mas  quando  souberam  que  eram 

of iciais da Santa Inquisição toda a gente se tornou a recolher.

Do testemunho de Francisco R oiz Bár  bara r eleva a declaração que  E  st êvã o de S ampaio

era tido por crist ã o velho e homem honrado natural de S antarém, segundo dizem.

O de poimento de Manuel Dias tem outr o inter esse. Af inal, no Fundão seguia-se o  pulsar  

do  país. Explica o inquir ido que, domingo, antes da missa se rugia caladamente que em

 N ossa S enhora do S eixo, estavam uns homens aí recolhidos e uns di  z iam que era  D . 

 António e mai s o  Bi spo e outros diziam que podia ser o C orregedor da Guarda ou de

C ovilhã ... O contexto f avor ecia os r umor es, as dissidências, os conf litos, desencadeava 

motins,  alimentava a  anar quia. As  pr esenças de D. António e do Bispo da  Guar da, o 

com panheir o  f iel,   podiam,  na  ver dade,  estar   na  or igem  do  alvor oço  do  Fundão. 

R ef er imos,  anter ior mente,  que  era  f r equente  o  acolhimento  do  Pr ior   do  Crato  em 

conventos  que  o   pr otegiam.  Este  é  o  único  testemunho  r egistado  que  r ef er e  a 

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 possi bilidade da  pr esença na Beira dos o positor es a Fili pe II, ainda r esistentes à data da 

audição das testemunhas. 

Gaspar  Lo pes e Gaspar  Luís são os últimos a de por , no dia 20 de Novem br o. 

Gaspar  Luís  pr esume que o meir inho da Covilhã se metera em casa do  ir mão, o  pr ior  

Simão de Sequeira,  por   o povo estar mal com o dito meirinho. Ser vindo na Covilhã, 

inf er ia-se que estava contra a vila do Fundão. A 21 de Novem br o, continua a audição de 

testemunhas. Era a vila a contas com a Justiça. 

Gonçalo Vaz é o  pr imeir o a de por  e traz muito  para contar . No domingo, vira a Estêvão 

de Sam paio andar   pela  r ua com uma espada; estranhou,  por  não ser  costume. De pois, 

quando o  pr ior  o  chamou,  por que  as  janelas  eram def r onte uma da outra, o ver eador  

suger iu que o  pr ior   podia estar  a enganá-lo... Ainda assim cum pr e com a tar ef a que lhe 

f oi  atr i buída.  Encarr egado  de  guar dar   uma  das  por tas,  conf ir ma  que  vira  entrar   o 

meir inho da Inquisição, e que o  povo se alvor oçara  por   pensar  que era o corr egedor  da 

Guar da. Fechara  a  por ta  e  no primeiro ímpeto da gente se atiraram nele deitando-o

 para fora da porta a tempo que havia algum sossego... Anr ique Antunes, Fili pe Nunes, 

Pêr o Anr iques  e Diogo Antunes, o engasgado, de alcunha, e outr os cr istãos-novos de 

f ora; explica ainda que o intimaram a que a br isse a  por ta  para deixar  sair  as  pessoas. A

r ecusa  valera-lhe  uma  estocada  e  tê-lo-iam  mor to  se  não  tivesse  umas  couraças 

 pr otectoras.  Acr esce  que  os  cr istãos-novos,  quando  assim  pr ocederam,  sa biam  que

 guardava a porta por parte do S anto O fício. Desde então, af ir ma que estava diferente

com E  st êvã o de S ampaio.

Dif er ença ó bvia de com por tamentos: os cr istãos-novos estavam de má f é, e continuaram 

a agr edir  o meir inho do Santo Ofício mesmo de pois de sa ber em que o assunto  tinha a 

ver  com a Inquisição. 

Gonçalo R oiz, alf aiate, vê o que inter essa. Lem bra o em buçado, o alvor oço da gente, os 

em purr ões,  antes  que  conhecessem  que  o  meir inho  era  do  Santo  Ofício,  mas  nã o

conheceu as pessoas que empurravam por a volta ser grande...

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Francisco, f ilho de Manuel Luís, sa be  pouco: só viu deitar uma pedrada aos cavalos e 

isso  ouvira-o  a  Francisco  R oiz  Dourado,  cr istão  velho,  quando  o  meir inho  chegou 

em buçado,  Armas por armas.

João  Nunes  conf essa  tam bém que  nã o sabia outra coisa mais que somente, domingo

 pela manhã  lhe dissera o padre-cura com pena de excomunhã o que nã o dissesse nada

 porque havia de haver negócio na igre ja. O segr edo  estrangulava  o  cura? Li ber ta-se 

dele, mas ameaçou com a excomunhão a João Nunes se o divulgasse. 

Inquir idas  todas  as  testemunhas,  o  Corr egedor   de  Castelo  Branco  mandou  que esta

dilig ência se cerrasse e selasse para ser enviada, especif icando  que  o  texto  se 

com punha de tr inta e cinco meias f olhas. Seguem-se anotações:  Até ao presente nã o se

 pagou nada. 

 Na mesma  f olha  vê-se  o  r egisto:  Deixa-lhe nesta M esa dois mil réis na S emana da

 P á scoa de 82 e houve-se por pago.

 Na  página 326, do documento constam as conclusões que transcr evemos:

 E  stas culpas posto que me nã o parecem de qualidade para por elas se proceder a prisã o, contudo por

 serem de matéria de muito pre juízo ao ministério do S anto O fício se deve fazer muito caso de culpas

 semelhantes para exemplo de outros e castigo dos delinquentes.

 E  consta por muitas testemunhas que é fama pública em o lugar do  F und ã o E  st êvã o de S ã o Paio natural

do dito lugar avisara a muitos crist ã os novos que nã o fossem à igre ja onde sabia que estava o meirinho

do S anto O fício para fazer dilig ência e isto para os favorecer e pre judicar ao S anto O fício e isto diz o

licenciado  J orge Ruberte que viu; e outras testemunhas depõem de indícios; e por seu aviso se ausentou

o juiz da dita vila que era crist ã o-novo e andou fora do dito lugar tr ê s ou quatro dias até se segurar.

 Pelo que peço a V . M . que mandem comparecer ante si a  E  st êvã o de S . Paio; e lhe mandem dar sua

 fiança abonada de27 8... para ser acusado e castigado pelas ditas culpas como o caso merecer.

 E   o mais que algumas testemunhas dizem que ele tem raça de crist ã o-novo e favorece a gente desta

naçã o e come e vive dela. T ambém consta que  Anrique  Roiz, (  Antunes, entrelinham, em cima de  Roiz)

crist ã o-novo do dito lugar sabendo que Gonçalo V az tinha cargo de uma das portas da igre ja que parte

do S anto O fício para melhor se efectuar a dita dilig ência, lhe resistiu arrancando da espada e lhe deu

uma estocada fazendo motim e alvoroçando a gente em pre juízo do S anto O fício, pelo que peço a V . M .

vistas as ditas culpas que o mandem prender e que se passe mandado para ser trazido ao c árcere deste

S anto O fício.

278 Duas  palavras ilegíveis. 

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Pela Páscoa de 1582, dois homens, Estêvão de Sam paio e Anr ique Antunes, dever iam, 

 pois, ser  detidos e entr egues ao Santo Ofício. Pr esume-se que o Corr egedor  aceitara que 

a volta do Fundão  tinha mais a ver  com ódios velhos entr e o Fundão,  já  pr omovido a 

vila, e a Covilhã que não aceitava o novo estatuto. 

Acr editámos que o  pr ocesso estar ia concluído. Não era assim. Continuámos a  pesquisa 

e uma nova f olha se a br iu com outr o ciclo de interr ogatór ios. Desta vez, as diligências 

são da  com petência do  mui ilustre governador do  Bispado da Guarda,  Arcipreste da

C ovilhã  , licenciado E  st êvã o M agro.

Enviam-lhe um S umário sobre o caso do meirinho da S anta  I nquisiçã o da cidade de

 Lisboa e que aconteceu no F und ã o.

Titulam-no:  A s brigas do  F und ã o sobre prisões que se fizeram como est á decretado no

 fim. Na mar gem esquer da da f olha consta um a pontamento: Para se devassar e ver se se

 far á  dilig ência. Este  con junto  de  documentos  está em  mau  estado.  O tem po  e  a 

humidade encarr egaram-se de a pagar  e conf undir  a  inf or mação; a  tinta so br e pôs-se às 

 palavras,  enco br iu  graf emas,   pr e judicou  a  descodif icação  do  texto.  Pelo  contexto, 

 per ce be-se que as inf or mações não são dif er entes das  pr oduzidas anter ior mente. 

Considerações f inais 

Ao tem po dos acontecimentos do Fundão, vivia-se, na Península, um clima de r e pr essão 

inquisitor ial,  que  im punha  uma  disci plina  ideológica  esmagadora  de  quaisquer  

dissidências r eligiosas; às nascidas do conf r onto entr e a R ef or ma e a Contra R ef or ma, 

somavam-se os conf litos com f iéis a outras f és. 

Simultaneamente o contexto de anar quia gerado  por  Alcácer  Qui bir , a luta de acesso ao 

tr ono de Por tugal, a que se  juntava, no Fundão, o dese jo de emanci pação da Covilhã, 

está na génese das brigas que descr evemos. 

A vitór ia tr identina disseminava-se em todos os domínios. Nesta con juntura ideológica, 

a aventura de Alcácer  Qui bir  que culmina com o desa par ecimento de D. Se bastião, é 

modelar : ébr io de Deus, o dese jado monar ca acr editara-se eleito divino,  para um f utur o 

glor ioso, na senda de her óis de um  país  pioneir o que a pr endera a cultuar ; o terr itór io do 

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eu é um  la bir into, e  f antasista, em bar ca na aventura da conquista de Áf r ica/derr ota de 

inf iéis,  os  esteios do  r eino; as  per das  somaram-se,  a  tragédia mitif icou  o monar ca,  a 

cr ença  num  salvador   sustentou-se  com  a  cr iação/idealização  do  Enco ber to; o 

messianismo/se bastianismo  ger minou  em  esplendor .  A cr ise  do  r eino  f or  java  lendas, 

r ecr iava  r elatos,  r eacendia  o  inter esse   por    pr of ecias,  quer ia  cr er   em  f alsos  D. 

Se bastião279, r essuscitava o  bandarr ismo. 

As oscilações, as cedências de D. Henr ique, de no br es, de algum alto cler o r edundaram 

na  união  das  cor oas   peninsular es.  É  este  o  contexto  ideológico  que  envolve  os 

acontecimentos no Fundão. 

Da análise da documentação  f icam algumas questões. Quem era Estêvão de Sam paio?

Um ver eador  consciente da im por tância dos cr istãos novos no desenvolvimento da vila?

Um  ir mão de  f é oculto? Uma das  raras  (mas existentes)  pessoas que se solidar izavam 

com os  per seguidos,  por que o convívio desocultava a condição humana dos conver sos, 

as suas alegr ias e af lições, e gerava amizades? Um vendido, como testemunham cer tos 

inquir idos, às dádivas dos cr istãos-novos que lhe garantiam uma vida mais desaf ogada?

A  pr esença  simultânea  dos meir inhos da  Inquisição  e da  Covilhã,  a  coexistência dos 

f actos  per mitiu,  conhecido  o  segr edo,  af r ontar   a  Inquisição  e  im pedir   a  pr isão  de 

conver sos? Ou a volta do Fundão teve em Estêvão de Sam paio um def ensor , acima de 

tudo da inde pendência da então vila, f ace à Covilhã?

E os  outr os,  envolvidos  tam bém  no  tumulto,  r eagiram  à Inquisição  ou  def enderam  a 

 posse do estatuto de vila alcançado havia quatr o meses, à data dos acontecimentos? A

o posição  manif esta-se  contra  o  Corr egedor   da  Guar da  e  justiças  da  Covilhã?

Pr esumivelmente, a maior ia dos cr istãos-novos insur gia-se contra a Inquisição e contra 

a  tomada da vila  pela Covilhã. Mas tam bém os cr istãos-velhos dese javam conser var  a 

emanci pação do Fundão. 

279  O  pr imeir o  é o  r ei de Penamacor .  Cf,  entr e outr os: Pinheir o  Chagas,  História de Portugal, vol V  I  ,

Chagas, Pinheir o, História de Portugal, popular e ilustrada, Lisboa, Escr i ptor io da Em pr eza, 1900. 

 pp. 456, 457 e 458; José van den Besselaar , o p, cit,  pp. 68 a 71. Seguiram-se o r ei da Er iceira, Ga br iel Espinosa e o  pr isioneir o de Veneza. 

Page 197: Actas das Primeiras Jornadas do Património Judaico da Beira Interior

 

Actas das Pr imeiras Jor nadas do Patr imónio Judaico da Beira Inter ior  

197

Per ce be-se  pela análise dos  textos que António de Pr oença, o meir inho da Covilhã, é 

f igura anti pática,  para os que  testemunham. Por  que  zombava da vila onde entrara de

vara levantada, em ostensiva manif estação de  poder ? Ir mão do  pr ior  do Fundão sentiu-

se  pr otegido? Que sentido f azia aquele desaf io à po pulação?

Muitos não entenderam as razões do alvor oço. Em tem po de cr ise, de f acções diver sas, 

D. António,  pr etendente  ao  tr ono de Por tugal deam bulava  pelo  país,  era  acolhido  em 

conventos.  Manuel Dias  testemunha  o  boato  que  corr ia; expr essivamente  r ef er e  que, 

antes da missa do f amigerado domingo, se rugia caladamente que D. António e o Bispo 

da Guar da estavam escondidos no Convento de Nossa Senhora do Seixo; o alvor oço era 

inter  pr etado como mais uma luta desencadeada  pelas solidar iedades e o posições que o 

candidato que continuava a disputar o tr ono a Fili pe II animava. 

Do motim que envolveu a  po pulação emer ge, sem dúvida, uma nota comum: o dese jo 

de manter  a  posse da vila;  po pular es r esistir ão simultaneamente a uma justiça que não 

existia, ao mesmo tem po que, (a pesar  de alguns), questionam o modus faciendi da S anta

 I nquisiçã o.

O Fundão  soltou-se;  pagou,  como  r ef er imos,  a  ousadia.  A r ivalidade  entr e  as  duas 

localidades  beir ãs  manter -se-ia.  Os  pr ocurador es  da  Covilhã às  Cor tes  im pediram  o 

acesso,  enquanto  puderam.  Em  1641  Francisco  Botelho  da  Guerra  e  João  de  Sousa 

Falcão, aler tavam:

Têm os suplicantes informaçã o ou  temem  que  os moradores  do  l u gar   do F undão, 

aldeia do termo da dita vila, tratem de que seja vila, como  j á antigamente intentaram, 

oferecendo d ádivas e fazendo largas ofertas, e porque de o ser resulta not ável agravo e

vitupério à V ila da C ovilhã  , e grande perda e interesse aos moradores dela, porque

havendo de ser vila o dito lugar, nã o se poder ã o sustentar e acabar á de se destruir de

todo a dita vila. Pedem a V . M . lhes nã o defira em caso que os contentem e os conserve

na posse em que est ã o.

 Na ver dade, o estatuto de vila só em 1747 se concr etizar ia.