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GRITO ANO V - NP 21 Realização da Equipe de Projetos Alterna' oaeíd JANEIRO/FEVEREIRO 1988 -«• ^leos-ieoe 1692 1711 -quase _ 1721-1725-quafro ano 1736- 1737 - um ano de 1745 - 1746 - um ano de seca 1754 - qifee um áno de seca 1777 - 1778 - um áho de seCüí^ •1790 - 1793 - quase três ano»de seca 3 1804 - quáS#«im ano de seca 1816- l8l7-umano3e$eca 1324 - 1825 - um ano de seca. . ' , 1830-%uase um «iodes IjSíÔ - 1845 -Jm'ano de s#* 1877 -,1879 -dois árlos#^ 1 ^t j-1*89 - um ano de 698 -1 Sgp - dois anjSs 1903^*^^"^- iW-qü 1 sfy- qy^pSínan» d# JStgí- «paft^jp^hg de sieâ ' 193(2 t-qj^e/ lâ42<^Kgtima ^1953—, quase uaa.|irt» d&se

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GRITO

ANO V - NP 21 Realização da Equipe de Projetos Alterna'

oaeíd JANEIRO/FEVEREIRO 1988

-«•■^leos-ieoe

1692 1711 -quase _

1721-1725-quafro ano 1736- 1737 - um ano de „ 1745 - 1746 - um ano de seca

1754 - qifee um áno de seca 1777 - 1778 - um áho de seCüí^ •1790 - 1793 - quase três ano»de seca 3

1804 - quáS#«im ano de seca 1816- l8l7-umano3e$eca 1324 - 1825 - um ano de seca. . ' , 1830-%uase um «iodes

IjSíÔ - 1845 -Jm'ano de s#* 1877 -,1879 -dois árlos#^

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GRITO DA SECA

GRITO CHEGA A CUIABÁ

Acusamos o recebimento de dois núme- ros do excelente jornal "Grito da Seca". Os assuntos foram tão palpitantes e diziam de nossa realidade, que companheiros nossos não resistiram e os levaram para ler em suas comunidades.

Solicitamos o envio de mais 10 exempla- res de cada. Se possível, até estudarem o en- vio de mais.

A Pastoral Social está apoiando uma ini- ciativa semelhante ao CECAPAS na região de Aguaçu, situada há 50 km de Cuiabá/MT. Está sendo realizada por Fé e Alegria, mas com o apoio de várias entidades e institui- ções.

Estamos pensando, se conseguirmos re- cursos, enviar um técnico agrícola para o curso que será dado no próximo mês de mar- ro no CECAPAS, sobre Agricultura Alterna- tiva e dirigido exclusivamente para técnicos.

Consultamo-lhes das possibilidades do en- vio da programação do curso. No aguardo de notícias, despedimo-nos. Fraternalmente. (Pastoral Social - Cuiabá/MT).

Queremos dizer aos companheiros do Ma- to Grosso, que para nós foi uma alegria rece- ber a comunicação de vocês e esta possibili- dade de troca de experiência que se abre.

CAMPONÊS ASSASSINADO

120 famílias posseiras do Engenho Patrimônio, em Condado/PE, denunciam a violência do usineiro João Pereira dos Santos, da Usina Santa Tereza.

No último dia 10 de fevereiro, quatro capangas armados com espingarda 12 mataram o posseiro José Soares da Silva Filho, conhecido por Cazuza, 42 anos e pai de sete filhos. Na mesma ho- ra, foi atingido o jovem José Martins da Silva, de 17 anos, que já está fora de pe- rigo.

Nossa solidariedade as famílias pos- seiras de Condado e esperamos que providências sejam tomadas o mais ur- gente, no sentido de acabar com tanto terror. Basta de violência contra o traba- lhador!

PRESO ANTÔNIO ELEÜTÉRIO O delegado de base do Sindicato de

Surubim/PE, companheiro Antônio Eleu- tério, da comunidade de Catolé, que também participa dos Projetos Alternati- vos na sua região, foi preso após uma queixa prestada pelo fazendeiro Solon de Melo e seu motorista, conhecido por Zuca.

As famílias de posseiros vivem em conflitos com os fazendeiros, violência que custou a vida do advogado Evandro

Cavalcanti, há um ano atrás. Os traba- lhadores da região vivem sob ameaças de pistoleiros, contratados por fazendei- ros, como Solon de Melo da Fazenda Caiana Cruzeiro. Charles e José Neto, principais acusados da morte de Evan- dro Cavalcanti tomaram "chá de sumiço" e ninguém foi punido. Os trabalhadores rurais cobram do Governo Arraes uma providência que ponha fim a esse clima de violência na região.

calendário do cecapas pesqueira |9S8 JANEIRO 24 a 29 - Agricultura Alternativa

FEVEREIRO 07 a 10 - Reciclagem em agricultura 21 a 26 - Nutrição e culinária alternativa

MARÇO 13 a 24 - Agricultura Alternativa para

Técnicos

ABRIL 24 a 29 - Criação de Abelhas

09 a 12 - Reciclagem em Agricultura 22 a 27 - Criação de Peixes

JUNHO 12 a 17 - Criação de Cabras

JULHO 24 a 29 - Horta Familiar Intensiva

AGOSTO 12 a 14 - Reciclagem em Abema 26 a 02/09 - Agricultura Alternativa

SETEMBRO 25 a 29 - Reciclagem P^a técmcos que acompanharam o trabalho do CECAPAb

OUTUBRO 23 a 28 - Horta Familiar Intensiva

I NOVEMBRO 20 a 25 - Plantas Medicinais

AVALIAÇÃO 30/11 a 02/12/88 CONFRATERNIZAÇÃO 03a05/1?/88

Atenção: Chegada e início dos treina- mentos no domingo a noite e término na

sexta-feira às 16 horas. Reservas de vagas por carta ou

pelo telefone (081) 835-1849.

CRIADORES DE ADELHAS SE ARTICULAM A última Reciclagem entre criadores de abelhas foi muito proveitosa, 30 pessoas,

de seis regiões diferentes, encontraram-se no CECAPAS e o assunto que mais debate- ram foi se criavam ou não uma articulação. Depois de ver um pouco as vantagens e desvantagens de uma associação decidiram pelos seguintes passos:

Primeiro passo: organizar-se a nível municipal, até o fim de maio. Conhecer os outros criadores ou pessoas que querem criar. Trocar visitas aos apiários; conversar sobre os sucessos e dificuldades; ficar a par das questões como: aquisição de material, exigências técnicas, o comércio do mel, a produção, etc.

Segundo passo: organizar-se a nível regional (vários municípios de uma mesma região) e realizar um encontro regional em junho ou julho.

Terceiro passo: preparar um encontro interestadual, com participantes escolhidos nos diversos encontros regionais, para avaliar toda a caminhada e dar passos maiores na questão da associação. Para este encontro ficou reservada a data de 13 e 14 de agosto/88, no CECAPAS - Pesqueira/PE. Abelhas, um negócio que está dando cada vez mais certo

GR,52seca Realização da Equipe de Projetos Alternativos da CNBB Regional NEM. Maria José, Edinho, Maria Aparecida e Paulo Crespo, Endereço: Rua Giriquiti, 48 - Boa Vista • Fone: 1081) 231-3177 - Recife-PE. Redação: Karine Raquel e Gerson Flávio. Programação Visual: Sulamita Ferreira. Produção: MOVIMENTO — Assessoria de Comunicação Popular.

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GRITO DA SECA

A FRATERNIDADE E 0 NEGRO Em 1988, comemora-se o centenário da abolição legal do trabalho es-

cravo no Brasil. Nessa ocasião, o tema da presença do negro na sociedade brasileira será objeto de reflexão e análise em várias instâncias.

A Igreja fiel à sua missão, se dispõe a abordar o tema na oração e na reflexão, no estudo e no diálogo, em espírito de penitência e busca da ver- dade que liberta. A Igreja reconhece, hoje, que nem sempre tratou a situa- ção vivida pelos negros com "a devida atenção evangelizadora e liberta- dora" (Puebla 8,40).

Nós, dos Projetos Alternativos e do CECAPAS podemos refletir tam- bém sobre a maneira como o negro, junto com os índios que eram os pri- meiro: abitantes do Brasil, se relacionava com a natureza. Não usavam adubos químicos, não maltratavam nem violentavam a nossa mãe terra, mas viviam em harmonia com ela. Sua cultura tem muito a nos ensinar, so- bretudo, nesse aspecto da ecologia e da sabedoria popular sobre os ele- mentos da natureza.

A quaresma de 1988 apresenta-se a todos nós, seja qual for nossa ra- ça, como um tempo privilegiado e favorável de conversão, busca de recon- ciliação e fraternidade.

VAMOS SALVAR AS CRIANÇAS

40 mil crianças já são salvas semanalmente

"A cada semana, mais de 250 mil crian- ças morrem, vítimas de infecções fre- qüentes e de desnutrição crônica, nos países em desenvolvimento (o Brasil é um deles)". A afirmação é do relatório "Situação Mundial da Infância - 1988", publicado pelo Fundo das Nações Uni- das para a Infância (Unicef). Por outro lado, a divulgação de métodos de baixo custo e muito simples de prote- ção à vida e ao crescimento infantil, em mais de 100 países do mundo, está sal- vando 40 mil vidas semanalmente - diz o relatório. Isso é uma demonstração do quanto é possível evitar a maioria das mortes e dos casos de desnutrição na in- fância, por meios alternativos.

Campanhas como a da CNBB, sobre o Soro Caseiro, que promove a reidra- tação oral da criança, ajudam a salvar milhões de vidas. A Unicef propõe em seu relatório a for- mação de uma "Grande Aliança pela Saúde da Criança" que envolva profes- sores e líderes religiosos, meios de co- municação e organizações voluntárias, movimentos populares, sindicatos, asso- ciações profissionais e serviços conven- cionais de saúde. É necessário criar esta aliança "capaz de difundir e implantar os conhecimentos ou os métodos que po- dem produzir uma revolução na questão da sobrevivência e desenvolvimento In- fantil."

ASSINE 0 GRITO E GANHE ÜMA CARRA E isso mesmo que vocês estão vendo! A partir de agora o Grito da Seca estará sorteando, de

seis em seis meses, uma cabra leiteira entre os seus assinantes. Cada assinante do Grito da Seca terá uma ficha numerada. Se o seu número for sorteado e você

estiver em dia, a cabra é sua. O primeiro sorteio será no dia 29 de junho próximo. Faça agora mesmo a sua assinatura e garanta sua participação no sorteio de junho. Quem já é

assinante, procure se informar se a assinatura está em dia. Os preços são os seguintes: ASSINATURA ANUAL (seis números) Cz$ 180,00 ASSINATURA DE APOIO Cz$ 300,00 NÚMERO AVULSO C2$ 50,00

Quem conseguir 10 assinantes, terá direito a 1 assinatura de graça. Para fazer sua assinatura é só mandar uma cartinha com o seu nome e endereço. O pagamento

pode ser em cheque cruzado ou por meio de vale postal nos Correios. Mande sua carta para o seguin- te endereço: Setor de Projetos Alternativos

Rua Giriquiti, 48 - Boa Vista CEP - 50.070 - Recife/PE

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CECAPAS AVALIA E PLANEJA 88

A avaliação anual do CECAPAS, realizada em fe- vereiro, em Pesqueira, mostra o quanto o CECA- PAS (Centro de Capacita- ção e Acompanhamento aos Projetos Alternativos) vem dando a sua parcela de contribuição pela transfor- mação da vida do pequeno produtor rural e do Nor- deste.

Como anda o acompa- nhamento aos Projetos Alter- nativos?

Esta primeira preocupação dos participantes na Avalia- ção do CECAPAS revelou aspectos importantes de um trabalho que vem progredindo junto as comunidades.

Tem região, feito Limoei- ro/PE e toda diocese de Na- zaré/PE onde ocorre uma in- tegração entre as organiza- ções de apoio ao trabalhador rural: sindicatos, cooperativas, OCEPE, SENAR, Casa da Mulher e outras. Já em Gra- vatá/PE, o resultado é o sur- gimento de novas áreas a se- rem acompanhadas. Em Pes- queira/PE, o companheiro João Costa se firma como um dos agricultores técnicos e desperta o interesse das co- munidades pelas técnicas al- ternativas. Ele anda entu- siasmado com o banco de proteínas (leucena, guandu) e com a sua criação de cabras.

Na região de Patos/PB, o trabalho se concentrou as margens das barragens. Na barragem da Farinha, por exemplo, vem mudando a vi- da de 177 famílias. Hoje, já tem mais de 60 casas, algu- mas de tijolos e a próxima conquista será a demarcação das terras. Aqui e acolá, o CECAPAS - Núcleo de Pe- dra Atravessada dá treina- mentos a grupos de 25 agri- cultores em média. Os pró- prios agricultores organizam tudo: trazem alimentos, provi- denciam dormida, dão uma grande colaboração e partici- pação. Ultimamente, o que atrapalha é a seca. Em San-

tana do Garrote, Barragem da Farinha e Pedra Atravessada é onde estão melhor desen- volvidas as técnicas alternati- vas.

A articulação dos projetos era a preocupação da equipe de Cajazeiras/PB. Para isso faltavam algumas condições, sobretudo o transporte. O problema foi resolvido com as motos: a articulação está sendo feita por cinco comis- sões municipais e a sub-co- missão diocesana. Lá tam- bém já tem camponês capaci- tado para dar treinamentos. Um deles é o João das Bata- tas. Ele e outros companhei- ros vão dar treinamentos no Núcleo de Pedra Atravessa- da, em Desterro/PB. Um dos projetos que vem dando certo é o grupo de criação comuni- tária de Abelhas, liderado por Zequinha. Os resultados são tão bons, que a turma pensa em ampliar o projeto.

O apoio das paróquias, dos vigários e equipes pastorais é importantíssimo para os Pro- jetos Alternativos. Onde o padre apoia, facilita muita coisa. Um exemplo disso é em Augusto Severo, diocese de Mossoró/RN. Lá o Padre Pedro é entusiasmado com o trabalho do CECAPAS e dá todo o apoio. Vários projetos existem na região e a paró- quia conseguiu até um técni- co agrícola, preparado e trei-

nado no CECAPAS, para acompanhá-los. Aliás, em Mossoró, graças a grande ajuda de Dom José Freire, o Núcleo do CECAPAS anda a todo vapor e com a sua pro- gramação semestral pronti- nha - tanto para os treina- mentos como para as visitas de acompanhamento.

CECAPAS E OUTRAS INSTITUIÇÕES

a nível local, estadual ou na- cional. A nível de instituição, depende da decisão política dos dirigentes e de seu com- promisso pessoal com os po- bres, com os programas do CECAPAS.

A verdade é que o CECA- PAS difundindo a sua mística, se firmou, se credenciou, conseguiu credibilidade, se legitimou perante várias enti- dades públicas e privadas.

Prioritariamente, o CECA- PAS atende as pessoas das comunidades enviadas pelas dioceses. Contudo, está aber- to para colaborar com outros grupos de Igreja ou não, cató- licos ou não, do nosso Regio- nal ou de outros regionais. Através do assessoramento já se iniciaram trabalhos em Floriano/PI(CEFAS), em Ba- cabal/MA e Santa Isabel/PB (AMENCAR). Vários técnicos de instituições tem sido trei- nados por meio de estágios no CECAPAS. Assim, em 87 contribuiu com dezenas de instituições governamentais e/ou religiosas e civis. Com essa abertura, o CECAPAS tem espalhado sua filosofia de trabalho, de amor a tenra para muitas outras institui- ções.

Não é por isso que o CE- CAPAS deixa de ter critérios para o seu relacionamento com os órgãos públicos, seja

TREINAMENTO NAS ÁREAS

Uma das decisões práticas que foram tomadas na Ava- liação do CECAPAS é a de levar os treinamentos para as próprias comunidades. A ne- cessidade de treinamentos de base surgiu a partir dos en- contros realizados nas áreas. Nas comunidades atingimos mais, com a vantagem de se criar grupos de ajuda mútua e de estruturar um trabalho mais participativo.

isso aumenta a responsa- bilidade dos camponeses- técnicos treinados no CECA- PAS. É a hora deles mostra- rem na prática, a consciência profunda da obrigação de passar adiante tudo o que aprenderam. Cada agricultor que passa pelo CECAPAS deve tornar-se um MISSIO- NÁRIO DA TERRA.

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PRIMEIRA RECICLAGEM É REALIZADA Estava todo mundo muito animado. Veio

gente de vários lugares: Gravata, Orobó, João Alfredo, Bom Jardim, Surubim, Limoeiro, Tacaimbó, Recife, Pesqueira, Triunfo, Flores, Campina Grande, Cajazeiras e Uriaúna. A primeira reciclagem do ano aconteceu em Pesqueira, de 07 a lOde fevereiro.

Para começar, cada município colocou o que está fazendo, os resultados e dificulda- des. A maior alegria dos agricultores é quan- do pessoas descrentes na agricultura orgâni- ca começam a praticá-la. Um trabalhador de Surubim disse o seguinte; "A gente acredita nessa agricultura alternativa. Aos poucos ela está se instalando e os trabalhadores estão tomando conhecimento e vendo as suas vantagens. Na nossa comunidade, quando se iniciou, os agricultores diziam: - Isso aí não vai valer de nada. Onde já se viu, fazer "es- trume" do mato? Hoje, esses companheiros são os que mais fabricam composto. Outra coisa, é que antigamente os agricultores queimavam todo o "basculho" que tinha na terra, mas agora eles não fazem mais isso."

A segunda parte da reciclagem foi um tra- balho de campo: observar duas áreas de- monstrativas do CECAPAS, horta e peixe, fa- zendo a relação entre elas. O uso contínuo do solo e o aspecto acentuado pelo CECAPAS, das formas de consorciamento entre plantas e animais diversos, foram os pontos mais destacados pelos participantes. São vários ti- pos de plantas e vários tipos de animais que se inter-relacionam no mesmo espaço e for- mam um conjunto harmonioso na natureza,

O solo se conserva forte, porque os micro- climas são respeitados. Um agricultor chegou a comparar a área visitada, devido a diversi- dade de culturas, com um coração de mãe que tem lugar para todos os seus filhos.

Outra observação feita é que num peque- no espaço desenvolve-se uma agricultura que é auxiliada pelo uso de técnicas alternativas, como a coberta morta, plantio de legumino- sas, uso de defensivos naturais e outras. Tu- do isso tem a grande vantagem do baixo custo para o agricultor e nada se perde.

PROGRAMAR A PROPRIEDADE

Como vamos programar melhor nossa propriedade?

Esta foi uma pergunta que todo mundo re- fletiu e apresentou propostas, inclusive fa- zendo um desenho da sua propriedade, anali- sando como ela está e procurando progra- má-la melhor. Quando a gente bota no papel e faz o "desenho predial", que mostra como as coisas estão distribuídas dentro da proprieda- de, fica fácil descobrir as coisas erradas que estamos fazendo. O "desenho predial" nos leva a um aproveitamento racional da peque- na propriedade.

Já no fim da reciclagem, os participantes debateram por área, uma programação do trabalho nas bases que deverá atingir 36 co- munidades, beneficiando 157 famílias. A pró- xima reciclagem em Agricultura Alternativa, marcada para os dias 9 a 12 de maio, avaliará os resultados desse trabalho.

DIRETRIZES DA AGRICULTURA URGÂNICA

Reunidas no final de janeiro, em Grava- tá/PE, 24 pessoas de Chá Grande/ Gravata e Limoeiro, mais representação do Círculo Ope- rário de Gravata, CECAPAS, Equipe dos Projetos Alternativos da Diocese de Nazaré, Irmãs Franciscanas de Limoeiro e a agente comunitária do PAPP em Gravata discutiram as diretrizes para escolha das famílias que vão participar do Programa de Difusão de Tecnologias Alternativas no Brejo de Per- nambuco.

Essas diretrizes foram apresentadas aos participantes da Reciclagem em Agricultura Alternativa, que resolveram acatá-las na pro- gramação do trabalho. Tais diretrizes são as seguintes:

1. Trabalho em Mutirão: Deverão fazer parte do projeto as famílias que organizarem o trabalho financiado em mutirão. Acima de 3 pessoas já é uma quantia boa.

Quais os dias? Quantas vezes por sema- na? Isso o grupo irá decidir. Poderá ser às tardes, ou manhãs ou o dia todo; duas vezes por semana, toda semana, etc.

2. Trabalho para o auto-consumo: O tra- balho financiado deverá responder a pergun- ta: O que preciso comer, que posso produzir na minha propriedade? Ou então: para sair do alugado, o que preciso plantar? Portanto, a produção não será comercial (para vender) e sim para uso próprio.

3. Trabalho Programado: A família partici- pará quando apresentar sua proposta de tra- balho e discutir com os companheiros do mesmo mutirão. Para isso, o CECAPAS e o Círculo Operário estudarão umas fichas, que auxiliará os agricultores. Os companheiros observarão, sobretudo, se a proposta está dentro dos critérios estabelecidos.

4. Trabalho que respeite o solo: As técni- cas usadas deverão levar em consideração a conservação do solo, as práticas de aduba- ção e fertilização e o controle natural de pra- gas. Isso supõe que elas já sejam conhecidas

pelos interessados. Para quem não conhece, os mais experientes darão as orientações ne- cessárias.

5. Trabalho que se multiplique: Para que não seja coisa dada, cada grupo deverá en- contrar a forma de multiplicar, isto é, render mais, com a ajuda dos 35 dias, esticar para 40 ou 50 . Poderá ser com o aumento dos dias em mutirão, com a participação de outras pessoas da família, sem a remuneração, fa- zendo uma reserva financeira, criando um animal, etc.

6. Trabalho primeiro reivindicado junto ao Governo: As propostas de um sítio serão reu- nidas em um projeto e apresentado ao gover- no (LBA, PAPP, etc). O nosso Programa adianta o recurso, enquanto a comunidade briga pelos recursos públicos. Chegando o recurso público, se repassa as diárias pra outra comunidade. Isso para educar os gru- pos a buscarem os seus direitos junto ao go- verno.

7. Trabalho Articulado: Cada grupo terá um articulador que vai atuar representando o mu- nicípio em ocasiões necessárias, escolhido entre os articuladores dos diversos grupos do município. Este representante municipal fará também a articulação entre os diversos muni- cípios.

Uma comissão provisória para articulação e contatos, representativa dos municípios, foi escolhida na Reciclagem. Os participantes aprovaram que o PAPP e a LBA participem da Comissão ou Conselho definitivo. A Co- missão vai se encarregar de negociar e en- tregar o Programa, de ver a contra-partida e contatos com Sindicatos, Cooperativas, Cebs, Rádios, PAPP, Casa do Agricultor e entidades financiadoras (LBA, OXFAM, CE- SE). Pretende-se elaborar um subsídio didáti- co que auxilie o trabalho.

O encerramento da Reciclagem foi com a avaliação e a celebração litúrgica entre os presentes.

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ECOMENDACOES DA COMISSÃO

REGIONAL DOS PROJETOS ALTERNATIVOS 01 - Que se garanta o mais possfvel a participação e corresponsabilidade das comunidades beneficiadas pelos projetos e para isso que as mesmas sigam o questionário, como um instrumento pedagógico, na elaboração do projeto pela própria comunidade, mes- mo que para isso sejam necessárias várias reuniões.

02 - Que o Regional comunique à comunidade o dia da chegada do projeto, o seu número e o encaminha- mento que lhe está sendo dado. 03 - Que os projetos sejam analisados e aprovados (ou não) nas reuniões mensais da Comissão de análi- se e aprovação integrada por Dom Costa, Paulo Cres- po, Ermfnio e mais dois representantes das províncias. 04 - Caso haja um número grande de projetos, o que não tem sido comum, que cada um dos 5 membros re- ceba alguns projetos para analisá-los e depois rela- tá-los para os demais para a devida aprovação ou não.

05 - Que cada província inicie uma articulação a nível de província, atendendo sugestão da Assembléia. Tomarão a iniciativa dessa articulação: no Rio Grande do Norte: Neilo Lopes de Maria; na Paraíba: Madalena Gomes Palmeira; em Pernambuco: Ricardo Teixeira; em Alagoas: Ângela. 06 - Que as Comissões diocesanas dêem um PARE- CER FUNDAMENTADQ aos projetos, quanto à sua viabilidade não apenas econômica, mas social, políti- ca e evangelizadora. O parecer deve ser assinado pelo menos por 03 (três) membros da Comissão. 07 - Caso chegue algum projeto que não esteja redi- gido no questionário-padrão ou com deficiência de informações a coordenação procurará logo devolvê- lo, indicando o que deve ser complementado, como por exemplo: a formação e a administração do Fundo Comunitário.

08 - Recomenda-se que haja esforço da comunidade, com a eventual ajuda do agente de pastoral da equi- pe, no preenchimento do formulário como instrumento pedagógico. 09 - Que os responsáveis escolhidos pela comunida- de sejam capacitados a preencher a ficha contábil, os recibos e a guarda dos documentos do projeto. 10 - Quanto às Comissões Diocesanas foi assumido o que recomendou a Assembléia: Que a Comissão Dio- cesana seja "composta: com pessoas comprometidas e engajadas na pastoral e ou movimentos populares de Igreja. - No mínimo 03 (três) pessoas. - Participa- ção de pelo menos 01 (um) trabalhador. - Que sejam liberados pessoas de acordo com as necessidades e possibilidades de cada diocese.

11 - FUNÇÕES DAS COMISSÕES DIOCESANAS: - Acompanhar de perto os Projetos Alternativos junto as comunidades, em todas as suas fases: elaboração, execução, prestação de contas, relatórios, avaliações. - Analisar ou náo os Projetos vindos das comunidades em reuniões conjuntas. - Promover e participar de encontros e treinamentos de capacitação e avaliação dos projetos. - Fomentar estágios e troca de experiências entre as comunidades e reuniões de acompanhamento. - Envolver cada vez mais pessoas de base, campone- ses, no acompanhamento. - Velar pelo conteúdo econõmico-social, político e evangelizador dos projetos. - Articular-se com as demais comissões diocesanas. - Procurar integrar o trabalho dos Projetos Alternativos com os demais setores de pastoral existentes na dio- cese. - Manter organizados as pastas de cada projeto; o fi- chário das lideranças treinadas; cópias dos projetos;

ficha das atividades realizadas; documentação arqui- vada; livro caixa. - Elaborar um calendário de reuniões para aprovação de projetos e para avaliar a programação de acompa- nhamento aos Projetos Alternativos: visitas, reuniões, encontros, treinamentos, estágios, etc. - Aproveitar ao máximo os instrumentos de comunica- ção especialmente: o Grito da Seca e os Programas de Rádio. 12 - FUNÇÕES DA COMSSÃO REGIONAL - Articular as atividades das Comissões Diocesanas. - Acompanhar e apoiar o trabalho das Comissões Diocesanas; assessorá-los. - Promover o contado e o intercâmbio com outros se- tores pastorais, pessoas e movimentos. - Descentralizar as decisões, acatando sempre que possível os pareceres das Comissões Diocesanas so- bre os projetos. - Esclarecer os critérios de aprovação de projetos. - Ser ponto de contado com organizações internacio- nais, governamentais ou não. - Situar os projetos dentro de uma visão de realidade e conjuntura mais global, garantindo seu conteúdo econômico, social, político e evangelizador. - Analisar e aprovar ou não os projetos enviados pe- las Comissões Diocesanas nas reuniões mensais. - Relacionar os Projetos Alternativos com o CECA- PAS, informando as comunidades da programação do CECAPAS e ajudando na seleção de candidatos para os treinamentos do CECAPAS. - Sugerir a implantação de novos núcleos do CECA- PAS onde for necessário. - Organizar o setor de comunicação dos Projetos Al- ternativos. - Verificar e velar pelo cumprimento das recomenda- ções da Assembléia anual dos Projetos Alternativos.

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i. Origem: Tirado da apostila do CET (Chile) sobre defensivos natu- rais.

Descrição: Ingredientes: 10 gramas de alho

1 litro de água

III. Preparo: Esmagar o alho e adicionar a água, coar e usar. A aplicação deve ser feita 3 vezes com intervalo de 3 dias, entre cada uma.

IV. Diluição: Não tem.

V. Atuação: Pulgões, cochonilhas, áca- ros.

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Encarte Especial

A SECA ESTÁ DE VOLTA E AINDA NÃO SABEMOS COVIVER COM ELA

Falar da seca é falar de uma situação que se repete a centenas de anos, no Nordeste. Há 300 anos atrás, D. João VI decretava aqui uma lei ordenando o plantio da mandioca para resistir a seca, sob pena de multa. O pior é que a seca está castigando de novo, e o que a gen- te vê? O que se faz para enfrentar o fla- gelo de milhares de nordestinos?

Atualmente, a principal reclamação dos Estados nordestinos é que faltam recursos do govemo federal.

O bispo do Sertão do Pajeú, diocese de Afogados da Ingazeira/PE, Dom Francisco Mesquita disse ter ouvido do Secretário da Agricultura e do próprio governador Miguel Arraes a reclamação de que o atraso das frentes de emergên- cia em Pernambuco foi causado pela fal- ta de dinheiro do governo federal para o Estado de Pernambuco. "Isso é público e notório, não há um bom relaciona- mento entre Pernambuco atual e Bra- sília atual" - comenta Dom Francisco.

Para o bispo de Afogados "O Nor- deste é uma região relegada, enteada- da nação brasileira. O centro-sul e sobretudo a União não acreditam no Nordeste. Nos dão migalhas, não in- vestem aqui". Ele criticou a propaganda enorme que se faz sobre recursos envia- dos para resolver a situação nordestina e os efeitos nocivos dessa propaganda. Comparou o Nordeste a um doente crô- nico (que vive doente) e na época da se- ca piora, a dor aumenta. E concluiu: "O problema do Nordeste não é a seca. O problema do Nordeste é a falta de uma decisão política de resolver os seus problemas."

O Sertão do Pajeú enfrenta a chama- da seca verde. Choveu bastante nos primeiros meses de inverno, mas parou. Então, as árvores ficaram folhadas, tudo verde, mas não houve safra. O povo não teve o que comer, seu trabalho foi perdi- do. Ficou sofrendo o desemprego total no sertão. Pelos meados de setembro, quando o povo já estava morrendo de fome, chegou a emergência. E o maior problema agora é que não há vagas na emergência, chegou muito pouca. 1.900 vagas para Afogados, quando o ideal se- riam 5.000 vagas. O povo está vivendo desta ajuda miserável de 100 cruzados por dia, os sábados e domingos não são pagos.

Outro que denuncia o caráter político do problema nordestino é Dom Paulo Cardoso, bispo de Petrolina/PE, na divi-

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sa com a Bahia: "Sabemos que a questão fundamental está na cres- cente concentração de terra. Não se vê ainda uma decisão clara para uma reforma agrária em profundidade."

Quanto as frentes de emergência na sua diocese. Dom Paulo reconhece que teve algumas conquistas, em relação as anteriores: No entanto, o contato com as áreas atingidas nos faz ficar an- gustiados com a extensão da proble- mática. Muitas famílias ainda não fo- ram beneficiadas e a indústria da seca não foi totalmente destruída. Se as comunidades organizadas tiverem mais vez, chegaremos a um trabalho não apenas emergencial, mas de ca- ráter permanente."

Embora se tenha notícia de avanços nas frentes de emergência em várias re- giões, como é o caso de Tacaimbó/PE, em muitos lugares a coisa continua nas mãos dos chefes políticos locais, que só querem tirar proveito eleitoral. Por exemplo, em Serra Talhada/PE, confor- me denúncia do vigário da cidade Padre Assis: "Os problemas da seca em nos- sa região não mudaram. Temos ape-

nas 20 por cento do material neces- sário para que o povo trabalhe. Tem 3.500 pessoas trabalhando. Traba- lhando é o modo de dizer, porque se 20 por cento é o material que nós te- mos, apenas 700 pessoas trabalham em obras que não são duradouras. As outras ficam ociosas, sem ter o que fazer, sem saber o que fazer."

Revoltado com a situação, Pe. Assis protesta: "O problema do Nordeste nunca foi solucionado, porque os nossos governantes não se interes- sam por isso. Querem que o povo se mantenha encabrestado por eles, para ser eternamente dependente deles. O povo ganha uma esmola de 100 cru- zados por dia, fica louco de satisfeito, porque é melhor 100 cruzados do que não ter coisa nenhuma. Não estamos do lado dos políticos reacionários de governos anteriores, por criticar o go- verno atual. Nós estamos do lado da verdade, do lado do povo, daqueles que estão sofrendo. De modo que, aqueles que pensam que nós estamos fazendo o jogo deles, tirem o cavali- nho da chuva".

Frente de emergência, a indústria da seca ainda não foi totalmente destruída

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continuação Na seca atual, com ou sem avanços,,

as frentes de emergências reaparece- ram. A seca continua sendo um ótimo negócio pra muita gente. A questão tem que ser encarada de frente e em profun- didade.

A situação não mudou nem nos Esta- dos onde os governos foram eleitos com o apoio popular. Em Pernambuco, por exemplo, quem apoiou Miguel Arraes alimentou a esperança de participar, de intervir na solução dos problemas e não ser simples executores de programas. O agricultor se tornou objeto - mais uma vez, um executor do programa da seca, como nos governos passados.

Comunidades que tinham propostas, que tinham uma prática organizada e capacidade de desenvolver pequenos programas, não só de captação de água, não foram ouvidas e não puderam inter- vir o suficiente na elaboração e execu- ção do programa da seca.

O CERTO E CONVIVER COM A SECA NÃO COMBATÊ-LA

Apesar de se apresentar cheio de boas intenções, o programa da seca é limitado no aspecto metodológico, ou seja, na forma como enfrenta a situação. Além da questão política, da sociedade civil não se sentir sujeita de um proces- so de mudança, devemos refletir a ação do governo, mesmo do ponto de vista técnico.

Um elemento fundamental que a gen- te tem a observar é que as medidas, por melhores que sejam, para enfrentar a seca, são medidas que levam em conta apenas um fator, um elemento, um componente da natureza: a água. Mas existem outros componentes importan- tes. Tem o solo, por exemplo, que nunca se leva em conta. Tem a questão da ve- getação. Tem o manejo da caatinga, das capoeiras. Tem a preparação dos terre- nos. Tem a própria açudagem, os barrei- ros. Tem os lençóis freáticos. A água dos lençóis freáticos do sub-solo vai de- pender muito do equilíbrio da natureza, da maneira como a erosão se comporta. A água, pra ser retida na região, não de- ve ser retida só nos açudes. Ela precisa ser retida no próprio local da lavoura, da mata, o que alimentará o sub-solo, os lençóis d'água, que por sua vez vão sus- tentar por mais tempo os riachos e ca- cimbas. Manteremos um equilíbrio muito maior da natureza se fizermos o manejo equilibrado dos desmatamentos. Por exemplo, quantos agricultores nesse tempo todo estavam fazendo açudes nas frentes de emergência e noutra hora estavam derrubando o mato pra quei- mar. A chuva vem e leva, com a erosão, o solo que esse agricultor desmatou pa-

Panelas vazias. Com 100 cruzados por dia, o que se pode fazer?

A única preocupação, na maioria das secas,

é com a captação d'água

O nordestino se vê diante de mais um flagelo, a seca está de volta

ra entupir o açude que ele mesmo abriu. É lamentável que não se leve em

conta essa proposta ecológica, de convi- vência harmoniosa com a natureza e com a própria seca.

Uma outra questão técnica é sobre as sementes. Não há uma preocupação de se conseguir as sementes da região. O que está acontecendo é que cada vez que existe uma calamidade dessa natu- reza, o govemo atende o trabalhador com sementes programadas, produzidas de forma melhorada por empresas. Exi- gem um certo manejo, que é acompa- nhado em geral de adubos químicos e inseticidas. No meio de muitas semen- tes dessas estão saindo sementes híbri- das, que só servem para um plantio com colheita. Então, o patrimônio de semen- tes do Nordeste está se perdendo dia a dia. Um período de seca, como o que nós estamos atravessando, acaba com muitos quilos de feijão, de milho que o agricultor guardou até quando pode. Dai, ser fundamental do ponto de vista da or- ganização e dos custos, pensar na ques- tão das sementes. Numa semente que dê condições ao agricultor de multiplicar e vencer a dependência de ter que com- prar sementes híbridas, cada vez que for plantar.

O maior patrimônio que o nordestino ainda pode ter é o solo. E é exatamente o patrimônio mais ameaçado. É muito mais fácil ele recuperar a água, porque existe possibilidade dela cair, do que re- cuperar o solo. Um centímetro de solo agrícola, a natureza leva de 150 a 1.000 anos pra refazer e para gastar esse cen- tímetro de solo, basta um manejo ou um desmatamento mal feito. Nosso apelo é que o agricultor descubra esse patrimô- nio e tente valorizá-lo, para que ele não desapareça nem se enfraqueça.

Outro elemento é o tipo de trabalho nas frentes de emergência. Tem traba- lhos perenes, ótimos, mas é preciso sa- ber se eles terão condições de sustentar o povo, se o povo não pensar no plantio do milho, do feijão, do gerimum, do guandu, do capim, da ferragem, etc. E o tempo de preparar isso é esse tempo da seca, quando ele está recebendo uma ajuda do govemo. Então, vai acontecer o seguinte: no momento que chover, que o agricultor precisar preparar o seu terreno, ele vai ter que trabalhar primeiro para os grandes, pra ganhar um dinheirinho e comprar as sementes para o plantio na sua roça.

Num govemo que se pretende popu- lar, é de se esperar que o agricultor pos- sa aproveitar essa chance, para quando chover ele poder plantar no seu terreno.

Poder aproveitar da seca para aprender a conviver com ela e a ser

mais autônomo, mais independente.

(Colaborou nesta matéria o asses- sor do CECAPAS, Abdalaziz Moura)

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GRITO OA SECA

RECADINHOS COOPERATIVA DE MANAÍRA:

Os pequenos produtores da região de Manaí- ra/PB se reuniram e fundaram a sua cooperativa. Eles vinham tentando se organizar no Sindicato, mas perderam as eleições. Agora, eles se reúnem todas as segundas-feiras à tarde, para ver os pro- blemas da semana, avaliar o trabalho e programar suas tarefas de forma integrada. Nessa luta cada um tem a sua tarefa própria. Eles fazem questão de que todo mundo participe da Cooperativa. MOSSORÓ/RN TREINA AGRICULTURA:

As técnicas da Agricultura Orgânica foi o as- sunto do treinamento realizado no Núcleo de Ex- tensão do CECAPAS, da diocese de Mossoró. Reuniu agricultores e técnicos da região, preocupa- dos com o manejo e conservação do solo e o equi- líbrio ecológico na natureza. O treinamento aconte- ceu nos dias 22 a 25 de fevereiro. LUZ NA MARGEM DO JATOBÁ:

Os companheiros dos Projetos Alternativos e do CECAPAS de Patos/PB estão mantendo conta- to com a SAELPA para a eletrificação rural das margens do Jatobá. Só assim os moradores da re- gião terão luz e vão economizar muito na agricultu- ra.

INAUGURAÇÃO DO NÚCLEO DE PATOS/PB: No último dia 06 de março, foi inaugurado em

Desterro/PB, o Núcleo de Extensão do CECAPAS de Pedra Atravessada. O novo núcleo já está fun- cionando a todo vapor e tem na sua programação um treinamento por mês.

FETAG FINANCIARÁ TREINAMENTOS: A Fetag da Paraíba está disposta a financiar

alguns treinamentos em técnicas alternativas na região de Patos/PB. As áreas prioritárias são a da Barragem da Farinha, Pedra Atravessada e Jatobá.

INHAME E MANDIOCA DÃO CERTO: Algodão o bicudo tem comido. Feijão não es-

tava dando mais. Tomate dá prejuízo. Por isso, os agricultores de João Alfredo/PE se interessaram por outras lavouras. Tiveram um treinamento sobre plantio de inhame e saíram super animados. O inhame e a mandioca são lavouras garantidas.

VERDUREIROS ADOTAM O COMPOSTO: Em Bom Jardim os agricultores promoveram

dias de campo em Barroso, Patuvira, Chã do Mari- nheiro, Feijão e Chã de Feijão. Construíram uns 30 compostos orgânicos. Até mesmo os verdureiros da região se despertaram e começam a aplicar essa técnica, com bons resultados.

ACOMPANHAMENTO AOS PROJETOS DE CA- BRAS:

Em 88, teremos um agricultor-técnico do CE- CAPAS dando um acompanhamento sistemático aos projetos e núcleos. Seu nome é Edmilson. Mui- ta gente que foi a Pesqueira já o conhece. Ele acompanhará mais de perto os projetos de capri- nos. Afinal, o homem entende das cabras. ESTAGIÁRIO DO CECAPAS:

Outra novidade para este ano é que o CECA- PAS pretende levar seus estagiários para as comu- nidades. E não só os técnicos, mas os agricultores ou filhos de agricultores poderão estagiar em Pes- queira ou nos núcleos. Uma comunidade precisa de ótimos técnicos dela mesma.

Vocês iáP^-,

UmBrasiUaoy

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sem alma e sem ospobreS

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LANÇAMENTO

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CZ$ 50,00 CRIAÇÃO

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8 GRITO DA SECA

SAO VICENTE:9S0/oNAS MÃOS DE CAMPONESES

A avaliação do Programa São Vicente no biênio 1986/87 aponta que 95 por cento dos seus recursos aplicados che- gam ao destino proposto - o pequeno trabalhador rural. Isso é a grande novida- de do São Vicente, se comparado a tan- tos outros programas implantados pelo governo até hoje, no Nordeste.

O expressivo resultado das ações desse Programa já se pode conferir nos dados representativos do acumulado 1986/87, com o beneficiamento, em re- cursos financeiros, da ordem de 809 mi- lhões e 400 mil cruzados, alcançando 68.901 famílias, dentro de 2.523 proje-

AVISO IMPORTANTE

A partir de janeiro/88, conforme Portaria n- 649/86, os cálculos dos projetos para o Programa São Vicen- te devem se basear no valor da OTN. Por exemplo:

Para saber o maior valor do proje- to, é só pegar o valor da OTN do mês em que estamos e multiplicar por 5.000. Em fevereiro a OTN valia Cz$ 695,50, que multiplicado por 5.000 OTNs dá um total de Cz$ 3.477.500,00.

Maior valor do' Projeto = Cz$ 3.477.500,00

Igual a 5.000 OTNs (OTN-Feve- reiro = Cz$ 695,50)

Valor do projeto por Família = Cz$ 104,325,00

Igual 150 OTNs (OTN-Fevereiro = Cz$ 695,50)

O valor de Cz$ 3.477.500,00 cor- responde a 33 famílias do projeto.

O menor número de famílias do Projeto é igual a 10 famílias.

Atenção: o valor da OTN aumenta todo mês. Procure se in- formar em qualquer ban- co - qual o valor da OTN do mês atual?

tos. Tudo indica que o terceiro ano de

atuação do Programa São Vicente será muito mais difícil. Por que? A situação dos pequenos trabalhadores rurais nor- destinos se agrava com a seca, que se alastra por todo o canto.

Para cumprir seus objetivos, o Pro- grama São Vicente recebeu em 1986 Cz$ 351 milhões e em 1987 Cz$ 500 milhões. Além disso teve um reforço de Cz$ 1 bilhão solicitado pelo Movimento Sindical - CONTAG, confirmado pelo Conselho Deliberativo da Sudene e au- torizado pelo Presidente da República.

SÍTUAÇÃO DOS PROJETOS EM 06.11.87

NÚMERO EXERCÍCI01986/87 DE TOTAL-CZ$

Segundo o coordenador do Programa, Vicente Torres Mourão os recursos para 1988 são os seguintes: 1 bilhão, 694 milhões e 200 mil cruzados, mais 1 bi- lhão do ano passado, somando um total de 2 bilhões 694 milhões e 200 mil cru- zados - o que é ainda muito pouco para as necessidades e demandas das co- munidades.

Uma coisa é certa: quanto mais or- ganização da comunidade, melhor a qualidade do projeto e os seus resul- tados. Afinal, um dos objetivos do São Vicente é fortalecer e incentivar a orga- nização de pequenos produtores rurais, em particular os Sindicatos e Cooperati- vas de trabalhadores na sua luta.

Esperamos que o Programa São Vi- cente cumpra cada vez melhor o seu papel junto ao homem do campo. Que isso realmente ajude o pequeno produtor a se fixar na terra, a ter melhores condi- ções de vida e bem-estar social - a con- quistar o acesso direto aos meios de produção, sobretudo a terra. Só assim, dará sua parcela de contribuição na mu- dança do quadro de miséria do trabalha- dor rural nordestino.

DBTRBUIÇÃO DOS PROJETOS POR ESTADO EM 13.01.88

ESTADO PROJETOS VALOR

PROJETOS MARANHÃO 350 140.935.134,84

PIAUÍ CEARÁ

790 1.062

392.244.040,08

Registrados 5.997 2.882.279.024,33 421.139.481,87

Analisados/Aprovados 2.602 850.303.400,00 RIO GRANDE DO

Famflias Beneficiadas 70.752 _ NORTE 920 399.058.669,90

Para Análise 3.395 2.031.423.924,35 PARAÍBA 269 129.507.094,05

Municípios atingidos 379 _ PERNAMBUCO 2.3Z7 1.462.324.030,65

Municípios a atingir 1.090 _ ALAGOAS 56 47.221.534,01

Média de projetos SERGIPE 55 29.406.118,12

aprovados por mês 174 _ BAHIA 629 319.253.210,55

MINAS GERAIS 99 58.268.221,27

TOTAIS 6.557 3.399.357.535,34

MUNICÍPIOS CONTEMPLADOS PELO PAOPP (SÃO VICENTE) NOV/87

MUNICÍPIOS ÁREA ESTADO

EXISTENTES(A) CONTEMPLADOS(B) KM2^)

POPULAÇÃO

URBANA RURAL

MUNICÍPIOS NÃO CONTEMPLADOS

(C)

MA 132 30 328.663 1.255.156 2.741.248 102 PI 115 36 250.934 897.994 1.241.027 79 CE 141 72 146.016 2.810.351 a477.902 69 RN 151 43 53.015 1.117.953 783.792 108 PB 171 41 56.372 1.449.004 1.321.172 130 PE 167 90 98.281 3.783.264 2.358.729 77 AL 96 01 27.731 976.536 1.006.055 95 SE 74 13 21.994 617.796 522.325 61 BA 336 42 561.026 4.663.950 4.808.573 294 MG 86 11 133.260 763.929 939.294 75

TOTAL 1.469 379 1.679.292 18.335.933 18.200.117 1.090

A ■ Total dos Municípios existentes: 1.469 B = Total dos Municípios contemplados: 799 % = Percentual dos Municípios não atingidos 44% C = Total dos Municípios não atingidos: 670 % ■ Percentual de Municípios não atingidos: 46% (+)= Anuário do Almanaque Estatístico de 1980 (Fonte) e Censo Demográfico Distrital de Minas Gerais