Gravidez após os 35 anos e cuidados a tomar

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Gravidez após os 35 anos: cuidados a tomar

Quais as orientações pré-concepção?

Mulheres que engravidam com mais de 35 anos apresentam

probabilidade maior de ter complicações que podem afetar tanto elas

quanto os bebês. Além disso, dados recentes indicam que podem correr

um risco maior de desenvolver problemas de saúde ao longo da vida do

que aquelas que ficam grávidas mais cedo. Um estudo analisou dados

coletados entre 1988 e 1994 pela III Pesquisa para Exame da Nutrição e

da Saúde Nacional (National Health and Nutrition Examination Survey

III), amostra nacional de dados sobre a situação de saúde dos norte-

americanos. Foram analisados vários indicadores de saúde de longo

prazo de mais de 6 mil mães. Mulheres com mais de 50 anos que

tiveram bebê após os 35 apresentaram uma taxa um pouco mais

elevada de várias decorrências negativas, como enfarte, fatores de risco

para hipertensão e diabete, além de problemas odontológicos e

oftalmológicos.

O que se observa é que as mulheres estão atrasando a gravidez por

razões educacionais e profissionais. Embora seja difícil conciliar, nosso

papel é orientá-las quanto a esses possíveis riscos, a fim de planejarem

adequadamente a melhor época de gestar, com menos risco. Apesar da

aparente tendência de postergar a gravidez, no estudo americano da

década de 90, 84% das mulheres completaram a fase reprodutiva por

volta dos 35 anos. Apenas 14% continuaram a ter bebês após essa

idade, e somente 2% deram à luz o primeiro filho depois dos 35 anos,

embora haja forte tendência de mudança dessas porcentagens na época

atual.

Outro aspecto importante para o ginecologista é fazer o controle de

situações clínicas que eventualmente possam prejudicar uma gravidez.

Deve-se realizar uma propedêutica básica, com exame físico cuidadoso

e levantamento das condições pregressas de saúde. Especial atenção

deve ser dada a doenças circulatórias e diabetes. O controle de um

diabetes antes de engravidar ou de alguma doença que porventura

tenham pode melhorar muito as condições dos fetos. Mudança de

hábitos são importantes, como evitar o fumo e a perda de peso. Os

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efeitos nocivos do fumo são bem conhecidos, mas a questão da

obesidade também é séria, há uma verdadeira epidemia, e um cuidado

importante preconcepcional é justamente tentar fazer medidas

preventivas ANTES de engravidar. A obesidade está relacionada a uma

série de problemas durante a gestação para a mãe (Diabetes,

hipertensão, tromboembolismo, aumento de cesárea) e para o feto

(macrossomia e morte perinatal), e recentemente uma meta análise

mostrou que aumenta o risco relativo de ter também anomalias

congênitas estruturais de seus fetos. Além disso, a obesidade também

prejudica a fertilidade, e mulheres que queiram engravidar devem

manter seu peso dentro da normalidade.

Quais outros riscos existem nestas gestações?

Os quadros hemorrágicos do terceiro trimestre também são

freqüentes, principalmente o descolamento prematuro da placenta, a

placenta prévia, havendo também maior probabilidade de ruptura

prematura das membranas. Para o feto, com o avançar da idade

materna na gestação, aumenta a incidência de retardo no crescimento

fetal, recém-nascido de baixo peso, a prematuridade e o sofrimento fetal

agudo. Mas vamos ressaltar que o fator idade é de menor relevância

para o comprometimento fetal quando comparado às alterações clínicas

da gestante; como hipertensão e outras. Também há aumento do risco

de abortamento espontâneo, anormalidades cromossômicas nos

produtos de abortamentos e de alterações cromossômicas fetais; como a

Síndrome de Down. Podemos dizer, entretanto, que a abordagem desses

riscos deve ser feita de maneira cuidadosa por parte do médico, tendo

em vista sentimentos de culpabilidade por parte das mães, lembrando

sempre da possibilidade de diagnóstico pré natal. Por volta dos 40 anos,

os riscos não são tão pronunciados, e não há motivos para

desaconselhar gravidez nessa faixa etária, embora eles fiquem bem mais

altos após os 44 anos.

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Quais exames são indicados para o rastreamento de anomalias

fetais?

Quando devem ser realizados?

O controle da gestação numa idade materna avançada, além de um

pré-natal minucioso, deve ser voltado para detectar precocemente

doenças maternas, e avaliar o desenvolvimento fetal. A acurácia do

diagnóstico pré natal é alta, desde que feita por profissionais com bom

treinamento.Novos métodos tem surgido a cada dia e tem aumentado o

número de opções para as pacientes. Incluem a biópsia de vilo coriônico

no primeiro trimestre e a amniocentese no segundo trimestre. As opções

de screening no primeiro trimestre incluem a medida da translucência

nucal em combinação com dosagens de PAPP-A (pregnancy-associated

plasma protein A) e hCG, pois a translucência nucal isolada não é tão

efetiva. No segundo trimestre, pode-se usar um screening mais

completo, e a ultrasonografia assume papel de destaque, fazendo um

screening integrado. A indicação de screening precisa ser bem avaliada,

pois os métodos invasivos tem seus riscos.

Qual a melhor via de parto, caso não existam outras patologias

associadas?

Do ponto de vista obstétrico, as repercussões da idade são também

bem evidentes, sendo as apresentações fetais mais comuns as pélvicas,

e as defletidas. As induções do trabalho de parto e a normalidade das

contrações são também alteradas, aumentando o número de partos

cesarianos. A indicação da cesariana, como via de parto, muitas vezes

não é por nenhuma condição materna, nem alteração das condições

fetais, e nem tão pouco por complicações obstétricas, e sim pela

ansiedade dos pais, em razão de muitos mitos de uma gestação em

idade avançada.

Prof. Dr. Rui Alberto Ferriani

Professor Titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP.

Chefe do Setor de Reprodução Humana do HC Ribeirão Preto.