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Ginástica e ética na escola Apontamentos para compreender a convivência humana

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LINHA DE PESQUISA ESTRATÉGIAS DO PENSAMENTO PRODUÇÃO DO

CONHECIMENTO

Leonardo Rocha da Gama

GINÁSTICA E ÉTICA NA ESCOLA: APONTAMENTOS PARA COMPREENDER A CONVIVÊNCIA HUMANA

NATAL, RN

2009

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Leonardo Rocha da Gama

GINÁSTICA E ÉTICA NA ESCOLA: APONTAMENTOS PARA COMPREENDER A CONVIVÊNCIA HUMANA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN, linha de pesquisa Estratégia do Pensamento e Produção do Conhecimento, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação sob a orientação da Professora Doutora Karenine de Oliveira Porpino.

NATAL, RN

2009

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Leonardo Rocha da Gama

GINÁSTICA E ÉTICA NA ESCOLA: APONTAMENTOS PARA COMPREENDER A CONVIVÊNCIA HUMANA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN, linha de pesquisa Estratégia do Pensamento e Produção do Conhecimento, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação sob a orientação da Professora Doutora Karenine de Oliveira Porpino.

Aprovada em: 28 / 09/ 2009

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Profª. Drª. Karenine de Oliveira Porpino Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Orientadora

___________________________________________ Prof. Dr. José Pereira de Melo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

___________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Figueredo de Lucena

Universidade Federal da Paraíba

___________________________________________ Profª. Drª. Maria Isabel B. de Souza Mendes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Suplente

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Dedico este trabalho aos professores e alunos que ao longo da minha formação constituíram comigo interações que me fizeram caminhar até aqui. Por outra razão dedico também esse trabalho a minha família.

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Ando valorizando o silêncio e as atitudes, ultimamente. Pouco falar, muito sentir, muito agir. Há muito valor em silenciar diante do espetáculo exuberante da vida, enquanto caminhamos pela estrada da existência. [...] Caminho e penso, interrompendo os meus passos somente para trocar abraços e beijar o rosto dos meus amigos sinceros, para colher as impressões dos transeuntes que, indo ou vindo, percorrem comigo a mesma estrada, em busca de auto-conhecimento, e me dão dicas importantes sobre as saliências do terreno. [...] Assim é. A vida e a caminhada. Emociono-me e sigo, então, dando graças a Deus por tudo isso. [...] Fui acometido de eloqüente estesia que me trouxe até aqui, agradecido. De novo, para caminhar (Ricardo Ferreira, 2007, p.1).

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AGRADECIMENTOS O caminhar, assim como qualquer gesto humano, é uma ação que não se

reduz a uma leitura mecânica do movimento. Ao caminhar nos movemos no tempo e

no espaço, sentindo, pensando, nos emocionando, ora pela própria experiência que

o percurso nos proporciona, ora pelo distanciamento do pensamento ao longo da

rota escolhida. Nesse meio de tempo, o caminhar nos conduz ora ao ato em si, ora a

outros lugares, aqueles que só o pensamento pode vagar.

O caminhar nos leva sempre a algum lugar. No caso específico, meu

caminhar me conduziu a pensar em outros, como legítimos outros na convivência.

Esse pensamento me conduz a outro: o privilegio da vida. E, por isso, sou grato a

Deus por esse privilégio.

Sou grato ainda a minha família e amigos que ao longo do tempo souberam

compreender as minhas opções e a importância delas para o meu existir. Sou grato

aos meus pais, pelo zelo de anos, aos meus irmãos pelos gestos amorosos, que

para nós são sempre escassos, tamanha a nossa carência. Sou grato aos meus

sobrinhos que de forma alegre e risonha sempre nos enche de ternura, confiança e

propósitos.

Entre os amigos destaco àqueles que estiveram comigo ao longo dessa

jornada. Edna, pela presença constante e incondicional, companheira de lutas e

emoções. Ruth, pela oportunidade em que pudemos trocar força e motivações.

Everaldo, por reunir as qualidades anteriores, tornando-se um companheiro singular.

Anderson Leão, Gleydson Dantas e Túlio Fernandes por compartilhar parte do

tempo comigo, assim como de alguns sonhos.

Agradeço aos professores que ao longo da vivencia acadêmica se tornaram

amigos. José Pereira, pelo estímulo constante e a disponibilidade em contribuir.

Pádua e Petrucia, por me mostrar que as palavras têm sabor e que além das doces,

existem também as amargas, as azedas e as salgadas. Os mesmos me mostraram

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___________________________________________________________________________ que todas as palavras quando ditas verdadeiramente, dada à necessidade,

contribuem sempre.

Agradeço aos professores colegas da Escola Municipal Terezinha Paulino,

pela torcida, apoio e alegria prestados no decorrer do processo. Em especial a Profª

Lêda, que soube compreender a dimensão desse momento.

Agradeço ao apoio institucional do GEPEC, do PAIDÉIA, bem como aos

colegas que os compõem, assim como aos outros colegas do GEPEM e do

GRECOM pelo convívio, oportunidade em que podemos trocar e ampliar

conhecimentos. Agradeço ainda aos que fazem o Departamento de Educação Física

da UFRN e o PPGEd/UFRN pelo apoio institucional. Todos fundamentais.

Há aqueles sem os quais esse trabalho seria impossível. Dedico-me nesse

instante a render meus mais profundos agradecimentos aos meus alunos que junto

comigo, nutrem o mesmo espaço de desejo, o Grupo Ginástico da Escola Municipal

Terezinha Paulino. Principalmente aquelas que comigo compartilharam outros

espaços de desejo, o livro Ginástica Geral na Escola Pública – anotações e saberes

de um conviver pedagógico. São elas: Caroline Bezerra, Caroline Diniz, Fabrícia,

Fernanda, Llows, Naya, Pollyana, Stephany e Yaponira. Haverá um tempo em que

todos os não abnegados aprenderão por estesia o que nos fazem afins. Eu acredito

nisso.

Ainda pensando naqueles sem os quais esse trabalho seria impossível, rendo

minha gratidão a Professora Karenine Porpino, minha orientadora e de tantos outros.

Uma gratidão que se aprofunda na mesma medida da minha admiração. Ao longo

de nossa história de interações, três momentos distintos nos fizeram orientando e

orientadora. Obrigado pela sua exaustiva paciência, mas principalmente, pela

relação profissional, ética e estética (porque não?), em que foi possível

compartilhamos saberes e emoções.

Destaco que independentemente das formas de caminhar e de pensar,

ambas foram feita com muito zelo, para que outros pudessem perceber, se não tudo,

pelo menos parte da paisagem que desenhamos ao longo desse processo

dissertativo, e isso só foi possível porque todas as pessoas e instituições aqui

relacionadas estiveram de alguma forma envolvidas.

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Como Platão o disse há muito tempo: para ensinar é necessário o eros. O eros não se resume apenas ao desejo de conhecer e transmitir, ou ao mero prazer de ensinar, comunicar ou dar: é também o amor por aquilo que se diz e do que se pensa ser verdadeiro. É o amor que introduz a profissão pedagógica, a verdadeira missão do educador (MORIN, 2005, p.71.).

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RESUMO

O cotidiano docente nos invoca a responder questões que cercam a ação educativa, o que constitui exercícios de ética e de política de nós professores, considerando a responsabilidade que nos é apresentada em circunstância da perspectiva que criamos quanto a formação de nossos alunos. Considerando a Escola Municipal Terezinha Paulino como palco do cotidiano docente a qual investimos, e por fim, o Grupo Ginástico dessa escola (GGTP), como prática pedagógica, especificamente tratada no decorrer desse estudo, lançamos mão das seguintes questões: 1. Quais os indicadores éticos presentes na experiência vivida pelos integrantes do GGTP? 2. Qual o sentido destes indicadores para os integrantes do GGTP? 3. Esses sentidos configuram uma dimensão sócio-política da formação dos sujeitos envolvidos? Que dimensão sócio-política é essa e qual a sua contribuição para pensar a Educação Física na escola? A partir destas questões, destacamos nossos objetivos nessa pesquisa: investigar a experiência educacional vivida no GGTP, tendo como enfoque os elementos éticos que as caracterizam, bem como refletir a relação desses elementos na dimensão sócio-política da Educação Física na escola. Visando responder as questões iniciais e alcançar nossos objetivos, recorremos a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2004) como aporte metodológico dessa pesquisa. A partir do mesmo foi que chegamos aos dois eixos de discussão aqui relacionados: condutas relacionais da convivência e condutas relacionais indesejáveis e não-sociais. São próprios das condutas da boa convivência: união, cooperação, solidariedade, fraternidade, conversa, diálogo, amor, confiança, responsabilidade, compromisso, dedicação, aplicação, respeito, partilha, compartilhar, gratidão, companheirismo, benevolência. Correspondem as condutas indesejáveis ao bom convívio: intriga, contenda (disputa), vaidade, arrogância, raiva, ira, fúria, nervosismo, ansiedade e medo. Perpassa a discussão das categorias, o conjunto de conhecimentos produzidos por diferentes autores, entre eles predomina Humberto Maturana, ora relacionado à alguns de seus principais parceiros, José Varela, Gerda Verden-Zöller e Sima Nisis de Rezepka. Embora menos freqüente, abordaremos outros autores, entre eles Edgar Morin e Paulo Freire, para ampliar, articular, e assim, contribuir para alicerçar os apontamentos, conteúdos desse estudo. Além do capítulo introdutório, constituí o conteúdo dessa dissertação: ética: compreensões textuais; o caminho metodológico; condutas relacionais da convivência; condutas relacionais indesejáveis e não-sociais; ginástica geral como aposta ética e política na formação humana. Em ética: compreensões textuais, fazemos uma breve introdução para distinguirmos o campo ético a qual estaremos avançando; em o caminho metodológico, descrevemos brevemente a aplicação da análise de conteúdo (BARDIN, 2007); em condutas relacionais da convivência, assim como, nas condutas relacionais indesejáveis e não-sociais, apontamos os sentidos discutindo-os alicerçados pelo aporte teórico dessa pesquisa; por fim, em ginástica geral como aposta ética e política na formação humana, apontamos algumas possibilidades para a prática da ginástica e da Educação Física escolar, assim como, para pensar a educação pelo viés da formação humana.

Palavras – chaves: Ginástica geral. Ética. Educação.

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ABSTRACT

The daily teaching invokes us to answer questions that surround the educational action, they are ethic and political exercises of us teachers, considering the responsibility that is presented to us in circumstance of perspective that we create as for our students´ formation. Considering the public school Terezinha Paulino as stage of the daily teaching which we invested, and finally, the school gymnastic group (GGTP), as pedagogical practice specifically attended during this study, we launch the following questions: 1. What are the ethic indicators present in the experience lived by GGTP members? 2. What’s the meaning of these indicators for the GGTP members? 3. Do these meanings configure a socio-political dimension of the individuals involved formation ? What socio-political dimension is that? And What is its contribution to think of Physical Education in school? From these issues, we highlight our goals in this research: investigate the educational experience lived in GGTP, with a focus on the ethical elements that characterize and reflect the relationship of these elements in the socio-political dimension of Physical Education in school. To answer the initial questions and achieve our goals, we use the Content Analysis (BARDIN, 2004) as a methodological contribution of this research. From this methodological contribution we got two strands of the discussion here related: relational behavior of living and undesirable relational conduct and non-social. typical examples of good living are: union, cooperation, solidarity, fraternity, conversation, dialogue, love, trust, responsibility, commitment, dedication, application, respect, partition, sharing, gratitude, companionship, kindness Correspond to undesirable behaviors conduct: intrigue, strife (dispute), vanity, arrogance, anger, rage, fury, nervousness, anxiety and fear. Permeates the categories discussion, The group of knowledge produced by different authors, Humberto Maturana predominate among them, sometimes related to some of its main partners, , José Varela, Gerda Verden-Zöller and Sima Nisis de Rezepka. Although less frequent, we broach other authors, including Edgar Morin and Paulo Freire, to enlarge, articulate, and thus contribute to support the notes, contents of this study. Besides the introductory chapter, is the content of this dissertation: ethics: textual understanding, the methodological way; relational behaviors of living; undesirable conduct relational and non-social; gymnastics as an ethical and political bet on training human. In ethics: textual understandings, we make a brief introduction to distinguish the ethical field which we are advancing; In the methodology way, we briefly describe the implementation of the analysis content (BARDIN,2007); in relational behaviors of living, as well as, in undesirable relational conduct and non-social, we point out the meanings discussing them supported on theoretical contribution of this research. Finally, in gymnastics as an ethical and political bet on training human, we point out some possibilities for the gymnastic practice and physical education at school, as well as to think about education by training human bias.

Word-keys: general gymnastics. Ethics. Education.

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RESUMEN

El cotidiano docente nos invoca a contestar cuestiones que rodean La acción educativa, lo que constituye ejercicios de ética y de política de nosotros profesores, considerando la responsabilidad que es nos he presentada en circunstancias de perspectiva que creamos cuanto la formación de nuestros alumnos. Considerando la Escuela Municipal Terezinha Paulino como escenario del cotidiano docente la cual invertimos, y por fin, el Grupo Gimnástico de esa escuela (GGTP), como practica pedagógica, específicamente tratada en el trascurrir de ese estudio, lanzamos manos de las siguientes cuestiones: 1. ¿Cuáles los indicadores éticos presentes en la experiencia vivida por los integrantes del GGTP? 2. ¿Cuál el sentido de estos indicadores para los integrantes del GGTP? 3. ¿Esos sentidos configuran una dimensión socio-política de la formación de los sujetos envueltos? ¿Qué dimensión socio-política es esa y cuál es su distribución para pensar la Educación Física en la escuela? A partir de estas cuestiones, destacamos nuestros objetivos en esta pesquisa: investigar la experiencia educacional vivida en el GGTP, teniendo como enfoque los elementos éticos que las caracterizan, bien como reflejar la relación de estos elementos en la dimensión socio-política de la Educación Física en la escuela. Visando contestar a las cuestiones iniciales y alcanzar nuestros objetivos, recorrimos a la Análisis de Contenido (BARDIN, 2004) como aporte metodológico de esa pesquisa. A partir del mismo fue que llegamos a los dos ejes de discusión aquí relacionados: conductas relacionales de convivencia y conductas relacionales indeseables y no sociables. Son propios de las conductas de buena convivencia: unión, cooperación, solidariedad, fraternidad, charla, dialogo, amor, confianza, responsabilidad, compromiso, dedicación, aplicación, respecto, partición, compartimiento, gratitud, compañerismo, benevolencia. Corresponden a las conductas indeseables al buen convivir: intriga, disputa, vanidad, arrogancia, rabia, ira, furia, nerviosismo, ansiedad y miedo. Prepasa la discusión de las categorías, el conjunto de conocimientos producidos por distintos autores, entre ellos predomina Humberto Maturana, ora relacionado a algunos de sus principales compañeros, José Varela, Gerda Verden-Zöller y Sima Nisis de Rezepka. Embora menos frecuente, abordaremos otros autores, entre ellos Edgar Morin y Paulo Freire, para ampliar, articular, y así, contribuir para fundamentar los apuntamientos, contenidos de ese estudio. Más allá del capítulo introductorio, constituye El contenido de esa disertación: ética: el camino metodológico; comprensiones textuales; conductas relacionadas de la convivencia; conductas relacionales indeseables y no sociales; gimnástica general como apuesta ética y política en la formación humana. En el camino metodológico describimos brevemente la aplicación de la análisis de contenido (BARDIN, 2007); en ética: comprensión textuales, hacemos una breve introducción para distinguimos el campo ético lo cual estaremos avanzando; en conductas relacionales de la convivencia, así como, en las conductas relacionales indeseables y no sociales, apuntamos los sentidos discutiéndolos fundamentados por el aporte teórico de esa pesquisa; por fin, en gimnástica general como apuesta ética y política en la formación humana, apuntamos algunas posibilidades para la práctica de la gimnástica y de la Educación Física escolar, así como, para pensar la educación por el bies de la formación humana.

Palabras-llaves: gimnasia general. Los éticas. Educación.

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SUMÁRIO

O MITO DE SÍSIFO E O DESAFIO DOCENTE.........................................................13

ÉTICA: COMPREENSÕES TEXTUAIS.....................................................................34

CONDUTAS RELACIONAIS DA CONVIVÊNCIA.....................................................46

CONDUTAS RELACIONAIS INDESEJÁVEIS E NÃO-SOCIAIS..............................85

GINÁSTICA GERAL COMO APOSTA ÉTICA PARA UMA FORMAÇÃO

HUMANA..................................................................................................................111

NEM CONDENAÇÃO SÍSIFA, NEM MENINAS LOBO...........................................127

REFERÊNCIAS........................................................................................................135

ANEXOS..................................................................................................................143

ANEXO A: TABELAS DE FREQUÊNCIA.....................................................144

ANEXO B: FICHAS DE CONTEÚDO...........................................................151

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O mito de Sísifo e o desafio docente ______________________________________________________________________

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O MITO DE SÍSIFO E O DESAFIO DOCENTE

Nas minhas andanças dia-a-dia, ponderava sobre velhas questões que

cercam o educar e certo dia me veio em pensamento à relação dessas

questões com um mito que muito me apraz, o mito do rei Sísifo de Corintos.

Reza à mitologia grego-romana que Zeus enviou Hermes para conduzir Sísifo,

após sua morte, aos infernos. Chegando lá, Hades, deus dos mortos,

condenou Sísifo pela sua rebeldia em vida a empurrar uma imensa pedra de

mármore montanha acima. Toda vez que o condenado chegava ao cume da

montanha, a pedra rolava até a base da mesma, obrigando o antigo rei a

retomar sua tarefa (domínio público).

Essa história atravessou o tempo, se tornando conhecida não só pela

pena de se executar um trabalho rotineiro e cansativo, mas pelo propósito

moral pela qual a mesma foi difundida: mostrar que nos cabe a liberdade de

escolha e que sobre ela pesa a responsabilidade da decisão tomada, pois uma

vez posta em prática nos afazeres da vida cotidiana, somos responsáveis pelas

decisões tomadas e suas conseqüências. É preciso com isso pensar nas

escolhas como uma atitude ética do viver.

Passo pós passo, na condição de andarilho, ponderei: da mesma forma

que na condenação sísifa nós nos deparamos no cotidiano docente com um

fazer que implica responder as questões que persistem ao tempo. O que é

educação? O que é educar? Que mundo nós queremos? Para que e para

quem educar? Percebi que essas questões, no mesmo campo semântico, nos

conduzem à ética, principalmente quando nos remetemos à responsabilidade

que constitui o fazer docente. Percebi ainda que as mesmas questões

resistentes ao tempo, surgem no perpétuo processo de deslocamento,

acomodação e transformação das coisas, exigindo-nos que nos posicionemos

de tempo em tempo. Essa exigência que nos faz tomar posição é um apelo

político da prática docente que se faz na própria prática. Há de se entender que

essa exigência é um apelo do mundo em movimento por novas respostas. E

quando as velhas respostas já não atendem as exigências e demandas da

atualidade, partimos em buscamos de outras novas. As possíveis respostas

pertencem a diversidade de entendimentos e compreensões que vão se

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modificando ao longo da própria trajetória humana. Essas possibilidades estão

associadas a um fenômeno engendrado na relação entre pessoas e que se dá

no mundo vivo e em movimento.

O fazer docente não é uma tarefa que envolve esforços inúteis, como

propõe o “trabalho sísifo” e tomar a tarefa docente como essa condenação,

implica afirmar uma condição pouco criativa, mecânica do exercício da

profissão quando sabemos que não o é. Ao deslocar o exemplo da mitologia

para o exercício docente, estaríamos condenados a não buscar novas

respostas, jamais exerceríamos a liberdade de busca e de criação no decorrer

do exercício profissional, uma vez que estaríamos condenados a realizá-lo da

mesma forma. As questões relacionadas ao educar exigem do profissional da

área, de tempos em tempo, novas reflexões. Pois, o que desafia o professor é

a busca constante por respostas para o seu fazer cotidiano.

O fazer docente implica no trato com pessoas, ou seja, atores sociais

situados numa dimensão histórica da humanidade, o que não convém pensar

nossa prática enquanto uma tarefa sísifa, mas numa perspectiva de superação

da idéia fatídica de uma atividade rotineira, cansativa e entediante. Nesse

sentido, recorro à máxima heracliana1 que diz que, ao fazer fazemos de forma

diferente. Portanto, o traço da estética docente que nos faz redefinir as ações a

cada nova experiência, nos permite transformar, inventar e criar novas

estratégias para o como fazer.

Acreditamos que é possível pensar numa intervenção pedagógica que

subverta a idéia do “trabalho sísifo”. Assim, propomos um olhar para uma ação

pedagógica no espaço escolar que apresente essa característica irreverente

aos olhos da tradição pedagógica. No obstante, lançamos o olhar para o Grupo

Ginástico Terezinha Paulino (GGTP), no que se refere a experiência

pedagógica. Recorremos a referida prática da Escola Municipal Professora

Terezinha Paulino de Lima, não só por sua característica irreverente, mas pela

1 Heráclito (séculos VI - V a.C.) é considerado o mais importante filosofo pré-socrático. O filosofo do devir, do movimento. O universo muda e se transforma infinitamente a cada instante. Um dinamismo eterno o anima. Entre as suas representações está a de que o sol é novo a cada dia e de que não nos banhamos duas vezes no mesmo rio. A substância única do cosmo é um poder espontâneo de mudança e se manifesta pelo movimento. Tudo é movimento, tudo frui, nada permanece o mesmo. As coisas estão numa incessante mobilidade. (JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996, p. 125).

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possibilidade que essa experiência apresenta para o campo da Educação

Física. A mesma designa uma ação pedagógica no chão da escola pública

brasileira que descaracteriza a idéia de que o fazer pedagógico é um trabalho

fatídico, uma tarefa de esforços inúteis e entediantes, uma condenação divina

do destino do professor, uma ação mecânica, um apelo fatal da ação,

engessada e inquestionável.

Em busca de esclarecer sobre o GGTP, como surgiu, onde funciona,

como funciona, quem são seus componentes e quais os objetivos do grupo

apresentaremos a seguir uma breve contextualização do lócus dessa pesquisa:

o Grupo Ginástico da Escola Municipal Professora Terezinha Paulino de Lima.

A Escola Municipal Professora Terezinha Paulino de Lima está

localizada no Conjunto Habitacional Parque dos Coqueiros, localizado no bairro

Nossa Senhora da Apresentação, zona norte de Natal. Esse bairro fica no

limite da cidade com os Municípios de São Gonçalo do Amarante e Extremoz.

O Parque dos Coqueiros possui um hospital infantil público de referência

que atende boa parte do estado do Rio Grande do Norte; uma unidade de

saúde municipal; uma escola estadual de ensino médio; outra escola municipal

que oferece os anos iniciais do ensino fundamental; algumas creches

conveniadas com a rede pública municipal de ensino; estabelecimentos

comerciais de pequeno porte, a saber: padarias, mercearias, mercadinhos, lan

houses, bares, restaurantes, postos de gasolina, farmácia, cigarreiras, lojas de

material de construção, entre outras.

A escola possui aproximadamente mil e oitocentos alunos matriculados

nos três turnos, divididos entre os anos finais do ensino fundamental e a

educação de jovens e adultos (EJA). Nela são desenvolvidas diferentes

projetos e ações pedagógicas, entre elas o ProGin.

O Projeto Ginástico da Escola Municipal Professora Terezinha Paulino

de Lima (ProGin), nasceu há cinco anos, especificamente em março de 2004,

quando através de concurso público fui integrado a rede de educação de Natal.

Chegando à Escola Municipal Professora Terezinha Paulino (EMTP),

comuniquei minha intenção: formar um grupo de dança. Fui então comunicado

que já havia um projeto dessa natureza sendo desenvolvido há alguns anos

(hoje, 14 anos). Redimensionei o projeto para oferecer a ginástica geral (GG),

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por considerar que essa expressão da Cultura de Movimento2, permitiria a

realização de um trabalho que envolvesse e articulasse diferentes expressões,

entre elas a dança e a ginástica, numa perspectiva educacional.

Constitui nossas metas no ProGin ampliar o conjunto de conhecimentos

corporais, a partir do domínio das diferentes técnicas da ginástica, do circo e da

dança, o exercício da criatividade, do pensamento crítico e da autonomia dos

alunos/ginastas, o cultivo de uma convivência baseado nos princípios da

cooperação, da benevolência e do altruísmo, e por fim, a criação e

apresentação de espetáculos. A construção dessas habilidades e

competências se dá nas dimensões procedimentais, atitudinais e conceituais,

enquanto proposta metodológica (COLL, 2000; DARIDO, 2003, 2005).

O ProGin visa a iniciação em ginástica geral, assim como continuação

dessa formação, na perspectiva de apresentação de espetáculos de ginástica

sem fim competitivo, articulando-se com uma proposta educacional voltada

para uma cidadania calcada em valores altruístas e na autonomia do indivíduo.

O ProGin engloba outros projetos e ações, são elas: as turmas de iniciação a

ginástica, o grupo intermediário, o Grupo Ginástico da Escola Municipal

Terezinha Paulino (GGTP), o projeto Ginástica é Coisa de Menino e a Oficina

de Escritores. Destacamos o GGTP, uma vez que estaremos nos voltando

especificamente para esse grupo de ginastas, referência do nosso estudo para

essa dissertação; e a produção da Oficina de Escritores, material que

estaremos analisando, do qual falaremos mais adiante na metodologia.

O GGTP corresponde a um grupo de alunos, meninos e meninas, cujo

nível técnico de ginástica está entre uma fase intermediária e avançada. Em

2 O termo Cultura de Movimento adentrou o universo da Educação Física brasileira a partir dos estudos de Kunz (1991), compreendida como critério organizador do conteúdo da Educação Física escolar, considerando as culturas tradicionais do movimento em detrimento das matrizes européias e norte-americanas, comumente reproduzidas, principalmente se considerarmos o espaço escolar brasileiro, consideramos por Cultura de Movimento: um termo genérico para objetivações culturais, onde os movimentos dos seres humanos serão os mediadores do conteúdo simbólico e significante, que uma determinada sociedade ou comunidade criou. Pode ser encontrado de forma específica em quase todas as culturas: em dança, jogos de movimento, competições e teatro. A este conteúdo cultural correspondem comportamento de movimento específico da cultura com orientações dos sentidos determinados. Esse comportamento de movimento é geral, quer dizer não é ativado somente na atualização das formas culturais. Mesmo absorvendo movimentos de outras culturas, eles serão efetuados no esquema tradicional daquela cultura. (DIETRICH, Apud MENDES, 2002, p.17).

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outras palavras, os mesmos possuem um repertório corporal ampliado,

observado que boa parte dos componentes desse grupo já experimentou e

corporificou diferentes experiências da Cultura de Movimento, por exemplo,

jogos, esportes, capoeira, danças e brincadeiras, não só nas aulas de

Educação Física, mas no cotidiano das ruas, assim como outras linguagem da

ginástica, a saber: Ginástica Artística (GA), Ginástica Rítmica (GR) e Ginástica

Aeróbica Esportiva (GAE). Além de destacar que os componentes do GGTP

dominam parcialmente a linguagem oral e gestual dessas diferentes disciplinas

gímnicas, enfatizamos aqui que as diferentes disciplinas da ginástica se dão no

âmbito da ginástica geral ou Para Todos. Seguem alguns esclarecimentos

quanto à ginástica e a ginástica geral ou Ginástica Para Todos.

Compreendemos a ginástica “como uma forma particular de exercitação

onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de atividades que

provocam valiosas experiências corporais,...” (COLETIVO DE AUTORES,

1992, p.77). Estes autores nos mostram que a ginástica é uma prática que

oportuniza aos indivíduos o conhecimento, reconhecimento e compreensão da

movimentação do seu corpo, como também, os movimentos construídos no

contexto sócio-cultural a que pertencem.

Como forma particular de exercitação podemos entender a ginástica

como “técnicas de trabalho corporal que, de modo geral, assumem um caráter

individualizado com finalidades diversas. Por exemplo, pode ser feita como

preparação para outras modalidades, como relaxamento, para manutenção ou

recuperação da saúde ou ainda de forma recreativa, competitiva e de convívio

social. Envolvem ou não a utilização de materiais e aparelhos, podendo ocorrer

em espaços fechados, ao ar livre e na água”. (BRASIL/SEF–PCNs/EF, 1997,

p.49). Estas definições nos levam a concluir que a compreensão de ginástica

se constrói conforme o contexto onde esta prática encontra-se inserida e os

objetivos a que se propõe.

A Ginástica como esporte se caracteriza atualmente nas seguintes

modalidades: Ginástica Artística (GA), Ginástica Rítmica (GR), Aeróbica

Esportiva (GAE), Trampolim (TRA) e Esportes Acrobáticos (ACRO). Estas

modalidades são práticas institucionalizadas por meio da codificação e

regulamentação de movimentos dos ginastas e, neste contexto, encontramos

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O mito de Sísifo e o desafio docente ______________________________________________________________________

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uma modalidade esportiva que oferece a oportunidade de agregar vivências e

aprendizagens de variadas manifestações gimnicas: a Ginástica Geral (GG) ou,

recentemente denominada pela Federação Internacional de Ginástica (FIG),

Ginástica para Todos (GPT).

A GG ou GPT “é a mais antiga dentre todas as associações esportivas

internacionais e foi desenvolvida em uma base democrática”. Em sua origem

teve como denominação inicial Federação Européia de Ginástica (1881), após

a filiação dos EUA em 1921, passou a ser denominada de Federação

Internacional de Ginástica (FIG) (AYOUB, 2004, p.42). Existem estimativas que

afirmam que, são entre 30 a 50 milhões de participantes ativos pelo mundo na

atualidade e que a GG é a modalidade mais lucrativa da FIG.

Esclarecemos que o entendimento da GG ou GPT passa por sua versão

oficial e outras não oficiais. Sua conceituação na perspectiva oficial é

institucionalizada pela FIG, cuja denominação foi proposta entre 1970 e 1980,

em referência a “ginástica em geral”, designando as atividades gímnicas não

competitivas.

A Ginástica Geral (GG) ou Ginástica para Todos (GPT) é uma prática

que busca a participação de todos aqueles que se sentem atraídos pela

vivência e demonstração de movimentos de forma criativa e original e que

oportunizam o conhecimento e/ou reconhecimento dos limites e possibilidades

do corpo. Oferece um extenso número de atividades de expressão ginástica,

com e sem aparelhos, que se apóiam nos aspectos da cultura nacional do

grupo que a pratica. É uma prática que oportuniza a parceria entre a educação,

o lazer e a arte. Devido a estes aspectos, poderá ser ofertada nos diferentes

espaços educacionais (escola, clubes, associações, etc) que valorizam a

movimentação do corpo, independente dos padrões técnicos, artísticos e

esportivos presentes na sociedade (GARANHANI, 2008).

O livro História da Ginástica Geral no Brasil (SANTOS; SANTOS 1999,

p.1), resume que, a GG nasceu de uma concepção sociocultural, livre de

motivos especulativos e/ou econômicos, define que:

A Ginástica Geral compreende um vasto leque de atividades físicas orientadas para o lazer, fundamentadas nas atividades gímnicas, assim como em manifestações corporais com

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particular interesse no contexto cultural nacional”; “A ginástica Geral engloba as modalidades competitivas de ginástica reconhecida pela Federação Internacional de Ginástica (Ginástica Olímpica, Ginástica Rítmica, Ginástica Aérobica Esportiva, Esportes Acrobáticos e Trampolim), a Dança, as atividades acrobáticas com e sem aparelhos, além das expressões folclóricas nacionais, destinadas a todas as faixas etárias e para ambos os sexos, sem limitações para a participação e, fundamentalmente, sem fins competitivos”; “A ginástica Geral desenvolve a saúde, a condição física e a integração social. Além disso contribui para o bem-estar físico e psíquico, sendo um fator cultural e social” .

Santos e Santos (1999) destacam entre os principais objetivos da GG:

1. Oportunizar a participação do maior número de pessoas em atividades físicas de lazer fundamentadas nas atividades gímnicas; 2. Integrar várias possibilidades de manifestações corporais às atividades gímnicas; 3. Oportunizar a auto-superação individual e coletiva sem parâmetros comparativos com outros; 4. Oportunizar o intercâmbio sócio-cultural entre os participantes ativos ou não; 5. Manter e desenvolver o bem estar físico e psíquico pessoal; 6. Promover uma melhor compreensão entre os indivíduos e os povos em geral; 7. Oportunizar a valorização do trabalho coletivo, sem deixar de valorizar a individualidade neste contexto; 8. Realizar eventos que proporcionem experiências de beleza estética a partir dos movimentos apresentados, tanto aos participantes ativos quanto aos espectadores; 9. Mostrar nos eventos as tendências da ginástica. (SANTOS; SANTOS, 1999, p.1-2).

Esses mesmos objetivos foram disponibilizados no site da Confederação

Brasileira de Ginástica (CBG), o que nos revela duas possibilidades: a adoção

dos objetivos propostos pelos autores por parte da CBG; ou, a citação não

identificada dos objetivos oficiais por parte dos autores. Independentemente da

autoria, esses objetivos correspondem aos oficiais, que traz ainda em seu site,

a definição de Ginástica Para Todos ou Ginástica Geral:

Essa é uma modalidade bastante abrangente que, fundamentada nas atividades ginásticas como (Gin. Artística, Gin. Rítmica, Gin. Acrobática, Gin. Aeróbica e Gin. de Trampolim), valendo-se também de vários tipos de manifestações, tais como: danças, expressões folclóricas e jogos, expressos através de atividades livres e criativas, objetiva promover o lazer saudável, proporcionando bem estar físico, psíquico e social aos praticantes, favorecendo a performance coletiva, respeitando as individualidades, em busca da auto-superação pessoal, sem qualquer tipo de limitação para a sua pratica, seja quando às possibilidades de

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execução, sexo ou idade, ou ainda quanto à utilização de elementos materiais, musicais e coreográficos, havendo a preocupação de apresentar neste contexto, aspectos da cultura nacional, sempre sem fins competitivos. (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA)3.

Mais de 90 Federações Nacionais foram representadas em um

congresso promovido pela da FIG, do qual foi decidido que desde Janeiro de

2007 a modalidade Ginástica Geral denominar-se-ia Ginástica para Todos.

Essa mudança sinaliza mais que uma mudança de nomenclatura, indica o uso

textual e corrente do termo “Esporte Ginástica”, apontando para uma doutrina

do esporte; o entendimento de que a modalidade é ampla, por permitir

diferentes atividades; e, por fim, seu acesso para pessoas de todas as idades,

habilidades, gêneros e culturas. A Presidente do Comitê de Ginástica Geral da

entidade, na ocasião, Sra. Margaret Sikkens Ahlquist justificou que:

Esta mudança é uma ação tanto importante como histórica da FIG. Pelo mundo temos muitos idiomas utilizados entre nossas Federações e a tradução de termos muitas vezes é difícil. Muitos dos termos já usados pelas nossas Federações promovem com maior facilidade o verdadeiro significado desta estimulante modalidade. Agora, a Ginástica Para Todos permitirá à FIG também posicionar o esporte da Ginástica em seu lugar de direito como uma das maiores atividades esportivas que proporciona enormes benefícios para a saúde e condicionamento físico aos cidadãos em todos os cantos do mundo, independente de sua idade, habilidades, gênero ou cultura 4.

Constituindo a base histórica e cultural das demais atividades da FIG, a

GG no contexto internacional ao passar a ser denominada Ginástica Para

Todos5, aponta, no que pesa seu programa de desenvolvimento, para a

ideologia do movimento internacional “Esporte Para Todos”6. Outras

denominações fazem referência a essa atividade, são elas: “esporte

3 Texto retirado da Internet através do site: (www.cbginastica.com.br) e não paginado. 4 Texto retirado da Internet através do site: (www.cbginastica.com.br) e não paginado. Gentilmente enviado pela Professora Dra. Eliana Ayoub em 06/08/2008, por e-mail, as 13:35h. 5 De acordo com a palestra do Prof. Herbert Hartmann, Ayoub, considera: “[...] que tal iniciativa revela, sobretudo, mais uma estratégia de marketing da federação. [...] a FIG está mais preocupada em tirar proveito do impacto social, político e econômico que o movimento Esporte para Todos desfruta no cenário mundial do que em repensar suas estratégias para o desenvolvimento da ginástica geral ou ginástica para todos, uma vez que sua prioridade tem sido as modalidades competitivas” (AYOUB, 2007, p.140). 6 No Brasil esse movimento foi tratado em Esporte Para Todos: um discurso ideológico (CAVALCANTI,1984).

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participação”, “esporte não formal” ou “esporte de inclusão”. Estarei adotando

nessa dissertação o termo ginástica geral ou sua abreviação (GG).

Contudo, outros entendimentos não oficiais sobre a ginástica geral

emergem. Os conceitos dessa natureza surgem às margens da FIG, e, se por

um lado, ajudam a enriquecer o entendimento, por outro, somam uma

diversidade de compreensões que dificultam a sua localização conceitual.

Traremos aqui uma versão não oficial a partir do Grupo Ginástico da

Unicamp (GGU). O GGU é ligado ao Grupo de Pesquisa em Ginástica Geral da

Faculdade de Educação Física da Unicamp. Escolhemos a compreensão

adotada por esse grupo por considerar que o mesmo apresenta em sua

trajetória, principalmente ao longo da última década, um conjunto de produções

que abrange as apresentações públicas das coreografias, os estudos e

pesquisas já publicados no âmbito nacional e internacional no que se refere a

ginástica geral, sendo uma referência no Brasil para outros grupos que trilham

o caminho da GG.

Para o Grupo Ginástico Unicamp a Ginástica Geral “é uma manifestação da Cultura Corporal que reúne as diferentes interpretações da Ginástica (Natural, Construída, Artística, Rítmica Desportiva, Aeróbica, etc.) integrando-as com outras formas de expressão corporal (Dança, Folclore, Jogos, Teatro, Mímica, etc.) de forma livre e criativa, de acordo com as características do grupo social e contribuindo para o aumento da interação social entre as participantes” (GALLARDO; SOUZA apud UGAYA; TRUZZI, 2001, p.1).

Observando nas diferentes versões que organizam o entendimento da

GG em suas múltiplas possibilidades de pensar, tratar e fazer essa

modalidade, percebe-se que a GG permite uma gama de investimentos nos

diferentes campos do lazer e da educação. Trataremos especificamente a

ginástica geral no campo escolar, principalmente nas questões que cercam

esse estudo. No entanto, considero importante outros investimentos

acadêmicos na esfera do lazer, assim como possíveis outros campos da ação

humana associado à GG. Observamos também, que, as versões postas se

aproximam muito mais que se distanciam. As mesmas constituem os principais

expoentes da ginástica geral no Brasil e, em comum, compreendem que a

ginástica geral se caracteriza por: não apresentar código gestual próprio;

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O mito de Sísifo e o desafio docente ______________________________________________________________________

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apresentar aspectos de um movimento sócio-político visto sua trajetória no

panorama da ginástica internacional; agregar e articular em seu campo,

diferentes expressões da Cultura de Movimento; ter como fim a participação e

inclusão de pessoas nas apresentações públicas de ginástica.

Compreendemos que cerca a prática da GG, um conjunto de valores

éticos que nos fazem pensar essa prática na escola como uma ação formativa

que, articulada a escola pública brasileira, pode contribuir de forma significativa

para a qualidade da formação dos nossos jovens. Para tanto, lançamos a

seguir as questões de estudo, objetivos e a justificativa desse trabalho.

Voltados para o Grupo Ginástico da Escola Municipal Professora

Terezinha Paulino, elegemos as relações que se dão nesse ambiente escolar e

o tipo de convivência que envolve professor e alunos. Lançamos o olhar para o

conjunto de práticas que se desenrolam no convívio dos atores sociais desse

grupo, entre eles eu, na condição de professor. Para tanto, lanço as questões

que orientam essa dissertação:

1. Quais os indicadores éticos presentes na experiência vivida pelos

integrantes do Grupo Ginástico Terezinha Paulino?

2. Qual o sentido destes indicadores para os integrantes do Grupo

Ginástico Terezinha Paulino?

3. Esses sentidos configuram uma dimensão sócio-política da formação

dos atores sociais envolvidos? Que dimensão sócio-política é essa?

4. Qual a contribuição dessa possível dimensão sócio-política para pensar

a relação entre os atores sociais envolvidos num processo formador na

escola?

É na convivência que se dá a origem do que tomamos por humano, sendo

todo ato humano tomado por um sentido ético: “Essa ligação do humano ao

humano é, em última instância, o fundamento de toda ética como reflexão

sobre a legitimidade da presença do outro” (MATURANA; VARELA, 2002,

p.269). Partindo desse axioma lançamos mão dos seguintes objetivos:

investigar a experiência educacional vivida no Grupo Ginástico Terezinha

Paulino, tendo como enfoque os elementos éticos que as caracterizam, bem

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como refletir a relação desses elementos na dimensão sócio-política da

convivência entre os atores sociais envolvidos numa experiência formadora, no

contexto escolar.

Encontramos na análise de conteúdo (BARDIN, 2004) a possibilidade

metodológica para essa pesquisa. Para que se entenda como chegamos ao

método e, principalmente, ao corpus de análises dessa pesquisa, é preciso

entender o contexto pelo qual o mesmo foi pensado. Para tanto, percorremos

um caminho metodológico que passamos a descrever a seguir.

Ainda no primeiro semestre de 2007, já na pós-graduação, cursando a

disciplina Complexidade e Educação, sob a responsabilidade das professoras

Conceição Almeida e Wani Pereira, assisti juntamente com outros colegas um

filme brasileiro, de título: Narradores de Javé. Em busca do método adequado,

acabei encontrando a inspiração nas artes, especificamente no cinema. Nesse

sentido, cabem algumas informações que elucidam a trama inspiradora. Falarei

a seguir do filme.

Entre o elenco do filme estão José Dumont, Nélson Dantas e Nélson

Xavier, cujo roteiro é de Luis Alberto de Abreu e Eliane Caffé, a mesma que

assina a direção. Embora seja uma comédia, Narradores de Javé retrata o

drama de uma pequena cidade brasileira, num cenário tipicamente nordestino,

prestes a ser suprimida do mapa, ao ser encoberta pelas águas de uma

represa em construção. A empreitada é justificada pelo discurso do progresso,

um discurso que tenta convencer a população que a barragem trará uma vida

nova, de prosperidade, de empregos e de conforto. O discurso é entoado por

entidades do governo e pessoas ligadas à construtora. E é assim que tem

início a trama.

Os moradores de Javé foram informados que não teriam direito às

indenizações, uma vez que, não havia registros que provassem a existência

das propriedades e de seus prováveis donos. Na verdade, em Javé a maioria

das pessoas sequer existiam de direito, uma vez que não possuíam registro

algum. Os habitantes do lugar, inconformados, reuniram-se em busca de

remediar o problema. Os mesmos foram informados que o lugarejo também

não tinha memória, não havia registro de sua história em lugar algum. Javé é

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O mito de Sísifo e o desafio docente ______________________________________________________________________

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uma licença poética, uma metáfora para resgatar o cotidiano de lugarejos

desassistidos ou de pouco investimento público.

Ao despertar para o problema e a fim de remediar o que estava para

suceder a cidade, a população resolveu escrever sua história. Contudo,

encontrou uma dificuldade, só uma pessoa nela sabia ler e escrever, um

funcionário dos correios (personagem vivido por José Dumont), desafeto da

comunidade. Mesmo assim, o povo o elege para inventariar o patrimônio

histórico e cultural da cidade, a partir dos relatos orais de seus habitantes mais

antigos e ilustres.

O personagem vivido por José Dumont, embora resistente, é submetido

a tarefa sobre forte pressão popular e sobre a pena de ser banido de Javé. O

mesmo sai com um camalhaço de papel a visitar as casas dos seus moradores

mais influentes. Sua tarefa era registrar tudo. O funcionário dos correios, em

busca de florear a história contada, acrescentava durante a escrita informações

que valorizavam os fatos e que enriquecia a história. Contudo, sua prática

controvertida foi duramente combatida pelos próprios partícepes. É nesse

contexto que se desenrrola a trama do filme, o engajamento social em defesa

da propriedade e da memória de uma comunidade prestes a ser suprimida sob

a égide do progresso. Transferi dessa trama a idéia de registrar as memórias

das ginastas através da escrita.

A primeira idéia ventilada pesava que eu escrevesse sobre a experiência

vivida no GGTP, uma forma de registro unilateral e solitário. Abandonei a idéia

de que eu mesmo escrevesse essa história e investi em outra: de uma

produção coletiva, aonde participassem membros do GGTP. Essa nova idéia

não me descartava do processo. Entendi que a nossa experiência, dos

componentes do GGTP, ao escreverem nossas impressões, participações e o

que mais fosse pertinente no convívio, seria mais rica do que uma entrevista

estruturada, semi-estruturada, ou algo que se assemelhe. Para tanto, criamos a

Oficina de Escritores, um projeto de produção textual que teve como fim

registrar a trajetória recente do GGTP.

Constituíram a Oficina de Escritores eu e mais nove jovens escribas, são

elas: Caroline Bezerra, Caroline Diniz, Fabrícia, Fernanda, Llows, Naya,

Pollyana, Stephany e Yaponira. Na ocasião todas foram alunas/ginastas do

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O mito de Sísifo e o desafio docente ______________________________________________________________________

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GGTP, cuja idade variava entre 13 e 16 anos. Hoje, algumas são ex-alunas já

que concluíram o ensino fundamental na Escola Municipal Terezinha Paulino.

Todas são ou foram praticantes de ginástica há pelo menos quatro anos. As

mesmas vivem em um contexto de periferia, no bairro Nossa Senhora da

Apresentação predominantemente habitado por famílias de baixa renda. A

maioria procede de famílias estruturadas por pai, mãe e outros irmãos. Uma

parte é evangélica e a outra é católica, em comum possuem valores cristãos.

Diferentes razões nos fizeram investir na Oficina de Escritores. O que

me motivou inicialmente a executar esse projeto foi a possibilidade de coletar

informações para discutir nessa dissertação, diferentemente da razão que

impulsionou as meninas. O que levou as mesmas a participar da Oficina de

escritores foi a possibilidade de escrever um livro de memórias do GGTP. A

produção em questão resultou no livro, Ginástica Geral na Escola Pública –

anotações e saberes do um conviver pedagógico. O projeto desse livro passou

a constar entre as prioridades da Escola Municipal Terezinha Paulino no

exercício de 2008. Foram destinados recursos para esse empreendimento

sócio educacional, portanto, cultural. O mesmo foi publicado em 2009. Embora

as razões que nos envolveram no projeto Oficina de escritores tenha tido fins

distintos, a experiência nos fez entender outras possibilidades no fazer da

ginástica na escola.

Nós nos reunimos para falar da Oficina de Escritores pela primeira vez

em junho de 2007. Mesmo que informalmente, a reunião versava um novo

projeto para o ProGin. Falei do filme, dos objetivos e marquei um novo

encontro com as pessoas que se interessaram pelo projeto, doze meninas.

Uma semana depois elas compareceram de espontânea vontade para darmos

início ao projeto. Na oportunidade assistimos juntos Narradores de Javé.

Depois do filme todas se interessaram em escrever. Embora as doze tenham

mostrado interesse no processo apenas nove continuaram até a conclusão e

publicação do livro. Fato é que, o trabalho ao somar outras participações, de

outros componentes, ganhou novos contornos e ajudou a acrescentar novas

informações à prática pedagógica do GGTP. A Oficina de Escritores nos fez

ganhar novos e diferentes contornos, revelando nuances ainda não percebidas

da experiência pedagógica a qual estamos envolvidos.

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O mito de Sísifo e o desafio docente ______________________________________________________________________

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Os encontros aconteceram sempre nas segundas-feiras. O nosso

primeiro encontro oficial foi em 18 de junho de 2007, na própria escola. Desde

então passamos a nos encontrar periodicamente, sem a presença de um

cronograma fixo e rígido. Outros encontros sucederam-se até o último dia da

etapa de escrita, em 14 de julho de 2008. No processo foram desenvolvidos

dez relatos, entre eles, o meu. Passamos mais de um ano amadurecendo

esses textos. É através dos textos produzidos durante a Oficina de Escritores

que partiremos nessa caminhada rumo ao conhecimento construído

coletivamente no GGTP.

Os textos foram produzidos seguindo um curso de produção, curso esse

que respeitou o tempo de cada integrante. Os encontros seguiram algumas

fases, a saber: roda de discussão, produção de texto, leitura e socialização do

conteúdo produzido, ajustes finais da escrita e publicação em forma de livro.

No primeiro momento, a partir do método brainstorming (tempestade de idéias)

e de perguntas operacionalizadas (TAFFAREL,1985), identificamos as

qualidades dos componentes do grupo, assim como os possíveis “defeitos”.

Após relacionar os adjetivos, iniciamos uma discussão quanto à compreensão

dos diferentes termos. A partir das discussões dos temas relacionados, por

exemplo, inveja, companheirismo, colaboração, partimos para escrever nossas

experiências no grupo associada aos diferentes temas. Além desse momento

falamos e escrevemos sobre os espetáculos, sobre nós mesmos em relação ao

grupo e aos demais componentes; e por fim, narramos e descrevemos alguns

episódios que marcaram cada um de nós no decorrer de nossa permanência

no GGTP. O produto desse trabalho além do compor o Corpus de análise

dessa pesquisa, compõe o livro Ginástica Geral na Escola Pública – anotações

e saberes do um conviver pedagógico.

A minha participação no processo inclui: mediação das discussões;

coordenação do cronograma; escrita da minha memória; digitalização dos

textos manuscritos; sistematização de questões e aplicação de perguntas

operacionalizadas; organização das idéias e da escrita dos demais membros;

motivação do grupo para a escrita; organização do material para publicação e

divulgação do trabalho.

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Ainda quando produzíamos os textos, já ventilávamos a análise de

conteúdo (BARDIN, 2004) como possibilidade de análise metodológica. Para

tanto, compomos o corpus de análises dessa pesquisa com os dez textos

produzidos ao longo de pouco mais de um ano e meio, no projeto Oficina de

escritores. Ao elencar esses registros, considerávamos que os mesmos

revelariam parte da complexidade, da importância e da dimensão da

convivência a partir de uma experiência com a ginástica geral na vida de cada

componente envolvido.

Ao recortar o corpus de análises, elegemos a modalidade análise

temática por entender que a mesma se aplica aos textos, reagrupando as

diferentes idéias em categorias, estabelecendo um quadro geral e

representativo dos juízos, individuais e coletivos, presentes nos diferentes

relatos, condição para que pensássemos nas questões iniciais dessa pesquisa.

Após a exploração e o longo tratamento do material, obtivemos os

seguintes núcleos de sentido, indicadores relacionados a ética, são eles: união,

persistência, perseverança, resistência, esforço, disposição, força de vontade,

cooperação, colaboração, trabalho coletivo, conversa/diálogo, amor/carinho,

tolerância/resignação, partilha, coragem, amizade, vaidade/orgulho,

vaidade/arrogância, responsabilidade, compromisso, dedicação, aplicação,

disciplina, gratidão, respeito, calma, intriga, contenda, raiva, ira, fúria,

nervosismo, medo e ansiedade. Destacamos que consideramos a freqüência

desses indicadores em relação ao universo de sujeitos investigados, antes de

definir os eixos de discussão.

Os mesmos foram organizados em dois eixos de discussão, ou

categorias dessa pesquisa, a saber: condutas relacionais da convivência e

condutas relacionais indesejáveis e não-sociais. São próprios das condutas da

boa convivência: união, cooperação/solidariedade/fraternidade, conversa,

diálogo, amor, confiança, responsabilidade, compromisso/dedicação/ aplicação,

respeito, partilha/compartilhar, gratidão, companheirismo, benevolência.

Correspondem as condutas indesejáveis ao bom convívio: intriga, contenda

(disputa), vaidade/arrogância, raiva/ ira/ fúria, nervosismo, ansiedade e medo.

A partir dos estilos literários, narrativo e descritivo, realçamos aspectos

desse projeto existencial que se desenvolve dentro da escola pública e que

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cerca um contexto de convivência. Destacamos nos escritos aspectos do

comportamento social relacionados ao conviver, a distinção entre os diferentes

valores éticos, os saberes que alicerçam as ações crítica e reflexiva, por fim, o

cultivo da humanidade, através das linguagens oral e escrita.

Concordamos com o pressuposto de que “para entender o ser vivo, o

que temos que encarar é o que o faz, o que o constrói” (MATURANA, 1997, p.

41). Portanto, essas experiências narradas e descritas por atores sociais,

membros do GGTP, no contexto de uma escola pública, trazem elementos de

uma ética que anunciam uma prática educativa, perspectiva essa que atende o

chamado dessa pesquisa. Nesse sentido, a partir dos eixos supracitados

comparamos, associamos, refletimos, constatamos ou não, atitudes e

comportamentos valorizados e desvalorizados nas experiências textuais da

realidade do GGTP.

Compreendemos ser essa uma oportunidade de sistematizar e contribuir

para a produção de conhecimento em Educação a partir de uma ação do

profissional de Educação Física. As questões e objetivos anteriores nos

conduzem a discutir uma experiência pedagógica em ginástica geral no âmbito

escolar e elencar possíveis contribuições numa dimensão sócio-política. Entre

outros elementos do conjunto de importâncias que enumero ao justificar essa

investigação estão: a oportunidade de nos debruçar sobre a experiência

docente no grupo investigado, no espaço de uma escola pública e de periferia

do município de Natal, sobretudo, revelando aspectos de um fazer educacional

e de uma convivência, enquanto projeto de mundo, que se ergue a partir de

princípios éticos e da prática da ginástica geral, revelados na experiência dos

seus componentes; a oportunidade de apontar aspectos de experiências

diversas (no caso dos sujeitos investigados), como parte de realidades,

projetos existenciais distintos, e de uma existência coletiva (o GGTP).

Justificam ainda esse investimento: a contribuição que os resultados

apontam quanto à continuidade da formação de seus integrantes, no qual me

incluo; no redimensionamento e no aproveitamento das ações educativas e na

produção do conhecimento que pode referenciar outros educadores. Estou me

referindo aqui a contribuição dessa pesquisa para a minha própria prática, sem

contudo, negar a contribuição dela para outras práticas de mesma natureza.

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Assim, aceitamos que os resultados desse estudo podem contribuir para o

fazer de outros docentes, não só na Educação Física.

Na busca de constituir o Estado da Arte dessa pesquisa, trilhamos

caminhos em busca das produções acadêmicas que cercam o universo da

ginástica geral relacionadas ao campo da educação e da ética para possíveis

diálogos. Para tanto, recorremos aos Anais do Congresso Brasileiro de

Ciências do Esporte (CONBRACE), nas suas últimas cinco edições (2001,

2003, 2005 e 2007), assim como o Fórum Internacional de Ginástica Geral

(FIG) na sua última edição (2007). Elegemos o COMBRACE por entender que

esse evento é um dos maiores na área da educação física e do esporte no

Brasil. A razão pela qual incluímos o FIG é o fato desse ser um dos maiores

eventos acadêmicos, pedagógico e performático na área de ginástica geral em

nosso país. O Fórum Internacional de Ginástica Geral se realiza bienalmente,

reunindo pesquisadores de vários lugares do Brasil e do mundo em Campinas,

São Paulo. Esse evento é uma iniciativa da FEF/Unicamp em parceria com o

SESC Campinas e a International Sport and Culture Association (ISCA).

Verificamos e elegemos apenas os textos que tratam da ginástica geral,

que se coadunam com a educação e que expressam a ética de alguma forma.

Os trabalhos sobre GG no universo escolar identificados nos COMBRACE

encontram-se distribuídos em dois diferentes grupos de trabalhos temáticos

(GTT), a saber: Escola e Movimentos Sociais. A distribuição dos textos em

relação ao ano e ao GTT segue a seguinte distribuição: “Composição

coreográfica em ginástica geral” (UGAYA; TRUZZI, 2001) e “Ginástica geral:

diagramação das formações coreográficas” (ROCHA, 2001), são os pôsteres

apresentados em 2001 no GTT Escola; o texto “Análise e interpretação dos

significados da ginástica geral na proposta do Grupo Ginástico Unicamp em

instituições sócio-educativa” (PAOLIELLO; CHAPARIM, 2003) foi apresentado

na forma de comunicação oral em 2003 no GTT Movimentos Sociais; já os

textos “Ginástica geral na escola: uma proposta metodológica” (OLIVEIRA;

LOURDES, 2005) e “Ginástica Geral: possibilidades de trato com o

conhecimento gímnico na educação física escolar” (RINALDI; SOUZA, 2005),

foram apresentados em forma de pôster em 2005 no GTT Escola. Em 2007

não foi publicado trabalho em GG no evento em questão. Esse baixo número

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O mito de Sísifo e o desafio docente ______________________________________________________________________

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na produção acadêmica evidencia um tímido investimento no conhecimento

quanto a GG no tocante a escola.

Considerando os Anais do FIG (2007) e o conjunto de trabalhos

publicados7 voltados para o nosso interesse, descamos os seguintes textos: “A

influência das concepções da Ginástica Geral na construção da Cultura de Paz

a partir da perspectiva de valores Humanos” (ABRAHÃO, 2007); “Uma análise

acerca da prática pedagógica da ginástica geral com os adolescentes em

situação de risco social da FEBEM de Araraquara/SP” (MATOS; EHRENBERG,

2007); e, “Valores da Ginástica Geral no contexto escolar” (REDONDO, 2007).

Os três textos relatam pesquisa envolvendo valores postos enquanto humanos

ou da GG. O primeiro é fruto da UFPR; o segundo é uma parceria entre

professoras da Academia de Ensino Superior de Sorocaba, SP; e, o terceiro é

proveniente da Unicamp.

Ao relacionar algumas publicações no sentido de estabelecer um

conjunto de informações que comunique, referencie, ou mesmo que se articule

com os objetivos aqui propostos, constatamos uma baixa produção no que se

refere à GG no contexto escolar. Embora o conjunto de trabalhos pesquisados

aponte o tratamento de valores éticos em diferentes perspectivas, os mesmos

mostram a demanda reprimida no contexto nacional para a discussão e

aprofundamento dos termos relacionados, especificamente no campo da

Educação Física, nos referimos a uma dimensão ética da prática esportiva na

escola.

Apesar da baixa produção no que trata a GG no contexto escolar em sua

dimensão ética, chamo a atenção para o Grupo de Pesquisa em Ginástica

Geral, da Faculdade de Educação Física da Unicamp, que ao longo dos anos

vem se consolidando como pólo de pesquisa na área da GG no cenário

brasileiro. O Grupo de Pesquisa em Ginástica Geral da FEF/Unicamp vem

formando profissionais e ofertando produções acadêmicas que alicerçam

7 Acorsi, Emídio, Silva, Romão e Desidério (2007), Mérida e Nista-Piccolo (2007), Cesário e Pereira (2007), Carbinatto e Pezzotto (2007), Toledo (2007), Abrahão (2007), Firme, Favalessa, Porto e Paiva (2007), Gama (2007a), Tissei, Dermer, Santana, Parra, Oliveira, Rinaldi, Souza e Pereira (2007), Figueiredo, Hunger, Sanioto e Andrade (2007), Sborquia (2007), Bacciotti e Loshida (2007), Delbem e Brasileiro (2007), Pinto (2007), Redondo (2007), Yorges (2007), Utiyama (2007), Saralegui (2007), Gama (2007b).

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outras pesquisas pelo país. Assim como a Professora Dra. Elizabeth Paoliello,

a também professora Dra. Eliana Ayoub, entre outros, compõem esse

importante grupo de fomento à pesquisa em GG. “Ginástica geral e educação

física escolar” (AYOUB, 2004) é uma das referências mais citadas nas

diferentes produções em GG no Brasil, fruto do trabalho desenvolvido pelo

grupo.

Outros grupos vêm trilhando o mesmo caminho, um deles é o Grupo de

Estudos e Pesquisas em Ginástica do Departamento de Educação Física da

Universidade Estadual de Maringá (UEM) através da Professora Doutora Alda

Lúcia Pirolo e, na Universidade Estadual de Londrina, a Professora Doutora

Ana Maria Pereira do Laboratório de Pesquisa em Educação Física.-

LaPEF/UEL vem se dedicando ao estudo da GG. Ao encaminharmos esse

estado da arte, destacamos a existência de outros pesquisadores de diferentes

universidades investindo neste campo da Cultura de Movimento.

Ao fim do estado da arte e ao iniciarmos uma breve apresentação dos

autores que estaremos elegendo para ampliar a discussão, destacamos que

apesar de abordarmos ética e política com freqüência em nossas discussões,

enfatizamos que nessa pesquisa não estamos considerando sua aplicação a

partir da Ética e da Política clássica. Essa opção não exclui a importância de

pensadores da tradição filosófica como Platão, Aristóteles, Descartes, Spinoza,

Hume, Kant, Kierkegaard, Nietzsche, Weber e, mais contemporaneamente,

Foucault. Na busca de constituir o aporte teórico para sustentar nossas

reflexões, perspectivando articular saberes que perpassam a ação pedagógica

sobre a qual nos debruçamos e a existência de um conjunto de conhecimentos

produzidos, recorremos a Humberto Maturana e alguns de seus principais

parceiros, José Varela, Gerda Verden-Zöller e Sima Nisis de Rezepka.

Abordaremos ainda Paulo Freire, Edgar Morin e outros autores, que embora

menos freqüente, são importantes para ampliar, articular, e assim, contribuir

para alicerçar os apontamentos, conteúdos desse estudo.

Ao longo do texto, acrescentamos ainda outras produções acadêmicas,

específicas do universo da Educação Física na lida com o corpo e da ação

pedagógica do Professor de Educação Física no âmbito escolar. Destacamos a

produção do Grupo de Estudo e Pesquisa Corpo Cultura de Movimento –

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O mito de Sísifo e o desafio docente ______________________________________________________________________

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GEPEC, assim como sua parceira o Paidéia (Núcleo de Formação Continuada

de Professores de Artes e Educação Física/UFRN).

Organizamos o conteúdo dessa pesquisa em seis partes. Além deste

capítulo introdutório, constitui o conteúdo dessa dissertação: ética:

compreensões textuais; condutas relacionais da convivência; condutas

relacionais indesejáveis e não-sociais; ginástica geral como aposta ética e

política na formação humana. Em ética: compreensões textuais, fazemos uma

breve introdução para distinguirmos o campo ético o qual estaremos

avançando no decorrer do conteúdo dessa pesquisa. Nas condutas relacionais

da convivência, assim como, nas condutas relacionais indesejáveis e não-

sociais, analisamos os textos e apontamos os sentidos éticos, discutindo-os

alicerçados pelo aporte teórico dessa pesquisa; em ginástica geral como

aposta ética e política na formação humana, apontamos algumas

possibilidades para a prática da ginástica, da educação física, para pensar a

educação pelo viés da formação humana, por fim, nem condenação sísifa nem

meninas lobo, retomamos as questões iniciais para brevemente situar que a

condição humana só é possível quando se vive entre humanos e que é nesse

viver entre humanos que aprendemos a ser. Destacamos que as imagens que

seguem no texto são meramente ilustrativas.

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Ética: compreensões textuais ______________________________________________________________________

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ÉTICA: COMPREENSÕES TEXTUAIS

Somos herdeiros de um legado cultural que se propaga através do

tempo. Entre a herança cultural, uma área do conhecimento que trata do

pensamento do comportamento moral, estamos nos referindo à Ética. Ao longo

da tradição acadêmica, compreendemos a importância de alguns pensadores

para a constituição deste campo específico da Filosofia. Em Textos básicos de

ética, Marcondes (2007) reporta-se à A República e Górgias de Platão, assim

como, à Aristóteles em Ética a Nicômaco, e as idéias clericais de Santo

Agostinho e São Tomás de Aquino quanto ao livre-arbítrio, confissões e a suma

teológica, passando por outros nomes, entre eles, Spinoza, Hume, Kant, até

chegar a Moral e prática de si de Foucault. Esse legado constitui uma fração do

que se tem produzido sobre Ética ao longo da História. Na seqüência,

apresentaremos resumidamente alguns paradigmas que cercam esse legado.

Para tanto, recorremos a Marchionni8 (2008).

Em Ética, a arte do bom (MARCHIONNI, 2008), é possível perceber a

ética a partir de três grandes vertentes relacionadas à razão humana, a saber:

Deus e religião (teísmo), Deus sem religião (deísmo) e nem Deus nem religião

(ateísmo). Na perspectiva teísta, a razão Criadora é mãe da razão humana a

partir dos códigos revelados do judaísmo, cristianismo e islamismo. No deísmo,

a razão humana é parte da razão cósmica, muito comum nas filosofias

cósmico-espiritualistas do Oriente e no Platonismo. Diferente da perspectiva

ateísta edificada principalmente no Racionalismo iluminista-materialista.

Marchionni (2008) defende a ética como o Bom Sumo, ou seja, o bom

supremo. Destacando outros paradigmas, o autor traz o Bom Sumo ora

relacionado ao Criador, ora a Natureza habitada pelo Espírito, ora a Liberdade

do homem. A essência dos diferentes modos de ver e de se mover no mundo,

8 Antonio Marchionni nasceu na Itália em 1944 e vive no Brasil desde 1974. Completou os estudos de Filosofia e Teologia na Universidade Urbaniana de Roma e de Letras clássicas na Universidade do Sagrado Coração de Milão. É mestre em Teologia pela PUC-SP e doutor em Filosofia pela Unicamp. Foi missionário e agente social na Amazônia. Professor de Teologia e de Ética nos Negócios na PUC-SP e professor de Filosofia Medieval e Teoria do Conhecimento na Unifai de São Paulo.

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Ética: compreensões textuais ______________________________________________________________________

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consiste na afirmação de condutas morais. Na seqüência, apresentaremos

brevemente o que diz cada um desses paradigmas.

O Bom Sumo é o Criador parte da ética numa perspectiva religiosa,

organizada a partir de um Livro Revelado, por exemplo: Torá para os judeus,

Bíblia para os cristãos e Alcorão para os islâmicos, ou seja, os livros sagrados

das diferentes culturas religiosas. Seus adeptos crêem que o universo teve um

Criador (MARCHIONNI, 2008).

O Bom Sumo é a Natureza habitada pelo Espírito é conhecida na

meditação, no ensinamento do guru (o iluminado). Seus adeptos crêem no

Grande Todo e buscam a sintonia espiritual com a “Alma do Mundo”,

designada nirvana; cultivam a idéia comum de que a matéria é habitada pelo

espírito eterno. Constitui manifestações dessa forma do Bom Sumo no oriente

o Hinduísmo, o Budismo, o Taoísmo, o Xintoísmo, o Confuncionismo, o

Jainismo e o Sikhismo; e no ocidente, o Platonísmo, Estoicismo, Espinoza e

Hegel (MARCHIONNI, 2008).

Em O Bom Sumo é a Liberdade do Homem tem na Ética Materialista seu

principal paradigma. Seus adeptos crêem que só existe a matéria, suas regras

de condutas não são pautadas em Livros sagrados, mas no fluir da razão

humana, a partir do exercício das ciências. Compreendem as principais

doutrinas desse paradigma o positivismo, o Epicurismo, o Marxismo, o Niilismo

nietzschiano, o Freudismo, o Existencialismo e o Utilitarismo (MARCHIONNI,

2008).

O que podemos tomar essencialmente na produção de Marchionni

(2008) é que o bom está posto como objeto da Ética. Destacamos que essa

compreensão do bom como objeto da ética se dá na perspectiva da razão.

Compreendemos assim, que, toda forma de expressão ética está diluída de

alguma maneira no cotidiano da vida social na qual estamos inseridos.

Sem desconsiderar o que está posto na Ética tradicional,

compreendemos que a essência dos diferentes modos de ver e de se mover no

mundo, numa perspectiva moral, consiste na afirmação de condutas que ocorre

no convívio social (MATURANA, 1995, 1997, 1998, 2001), (MATURANA;

VERDEN-ZÖLLER, 2004), (MATURANA; REZEPKA, 2000). É importante que

antes de apontarmos o entendimento ético que povoa os sentidos, a conduta e

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Ética: compreensões textuais ______________________________________________________________________

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a escrita dos atores sociais dessa pesquisa, façamos uma breve elucidação da

compreensão da qual estamos partindo.

Morin (apud, ALMEIDA, 2005), aponta as unidades indivíduo-sociedade-

espécie, natureza-cultura e individual-coletivo, para uma outra perspectiva de

se pensar ética. Conforme ainda o autor acima, a articulação da história da vida

com a história da cultura e da história individual de cada pessoa, constitui o

espaço para se pensar a ética, porque “a ética se manifesta em nós e de forma

imperativa, como exigência moral” (MORIN, apud ALMEIDA, 2005, p.1). Assim,

a ética, na concepção moriniana, constitui-se como um campo de diálogos

possíveis, entre natureza e cultura, e entre, indivíduo e sociedade. Constitui de

forma interligada esse imperativo ético, uma fonte interior ao indivíduo, que se

manifesta como um dever, uma externa constituída pela cultura, e por fim, uma

fonte anterior, cuja origem corresponde a uma ordem biológica (ALMEIDA,

2005). Nesse sentido, iniciamos nossa reflexão sobre ética pensando na nossa

condição, o entendimento de quem somos e de que forma estamos no mundo.

Nas diferentes vestes do conhecimento, por exemplo, Física, Filosofia,

História, Antropologia, Sociologia e Biologia, o corpo é compreendido de

diferentes formas, sobre a justificativa de dizer quem somos. Contudo, o que

ocorre muitas vezes é a negação do que somos. Como ilustração e como

exemplo, recorremos a Gaiarsa (1998, p.13) que nos mostra o homem

freudiano: o mesmo não passa de “um terotoma (um tumor embrionário)”, uma

vez que é percebido na redução das fases oral, anal e genital.

Em “Borboletas, homens e rãs”, Almeida (2002) insere uma reflexão

sobre o percurso científico e os diferentes discursos que cindiram o

entendimento de quem somos; reflexão esta que vai em busca do elo perdido

entre corpo, natureza e cultura. As rupturas destacadas pela autora no texto

são evidenciadas nas diferentes áreas do conhecimento e em seus variados

recortes. Vejamos o fragmento citado a seguir.

Primaram em explicar a cultura, a sociedade e a condição humana de forma cindida e esquizofrênica, quase sempre isolando-as das contingências biológicas. Uma anatomia perversa esquartejou o sujeito: homo economicus, faber, um produto do passado, um singular étnico, um autômato simbólico, uma entidade mítica. Essas fraturas e ‘determinações em ultima instancia’ desenham um homem

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Ética: compreensões textuais ______________________________________________________________________

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esquadrilhado por territórios sem ligação, um sujeito disforme e mal remendado, uma colcha de retalhos com costura grossa (ALMEIDA, 2002, p.44).

Preservado entre nós o pensamento de que somos a religação dos

diferentes entendimentos, a amalgamação entre os diferentes discursos do

corpo. Somos um conjunto de matéria sensível que existe em movimento e

com o outro, no tempo e no espaço, convivendo e mediando, produzindo ou

descansando, somos parte natureza, parte cultura. Afirmar nossa condição

natural não quer dizer negar a nossa condição cultural e vice-versa;

principalmente quando entendemos, nessa perspectiva, que ser uma coisa

implica imediatamente ser a outra.

Somos homo sapiens, enquanto discurso biológico, e somos humanos,

enquanto discurso antropológico. Portanto, somos inicialmente discursos de

nós mesmos. Estes discursos servem em parte para nos distinguir das demais

estruturas vivas, para negar nossa condição animal, mas o curioso é que,

quanto mais tentamos, mais ficamos implicados na nossa condição primeira

dentro do contexto em que existimos, pois não são apenas nestes discursos

que existimos e coexistimos, mas no espaço, no tempo, na vida. É nesse

sentido que constituiremos nossa reflexão sobre ética, numa perspectiva de

coexistência, possibilidade em que encontramos espaço para a amalgamação

das compreensões que cercam as interações, a linguagem, as condutas e os

afazeres humanos.

Estaremos considerando e utilizando no decorrer desse trabalho, o

seguinte axioma:

Todo ato humano ocorre na linguagem. Toda ação na linguagem produz o mundo que se cria com os outros, no ato de convivência que dá origem ao humano. Por isso, toda ação humana tem sentido ético. Essa ligação do humano ao humano é, em última instância, o fundamento de toda ética como reflexão sobre a legitimidade da presença do outro (MATURANA; VARELA, 2002, p.269)

Assim, partiremos da compreensão de que não existe ato humano fora

da linguagem; que todo ato humano se dá com o outro, na relação; que toda

ação humana é linguagem, assim como toda linguagem é ação humana; que

são a partir das interações que produzimos coletivamente; que esse mundo é

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um acerto de condutas coletivas entre nós humanos ao longo da nossa

ontogenia e epigenia (MATURANA; VARELA, 1997, 2002), (MATURANA,

1995, 1997, 1998, 2001), (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004),

(MATURANA; REZEPKA, 2000).

Em “A Árvore do Conhecimento, as bases biológicas da compreensão

humana”, Varela e Maturana (2002), apresentam a seguinte tese: a vida é um

processo de conhecimento. Buscando compreender essa idéia, os autores

desenvolvem a biologia da cognição, demonstrando como os seres vivos

conhecem o mundo e como juntos compartilhamos o viver. Portanto, o mundo

em que vivemos é o mundo a qual fazemos parte; um influencia a existência do

outro e nele apreendemos, existimos e nos relacionamos. É nesse caminho

que compreenderemos não só a perspectiva ética, mas o sentido que nos

tornam humanos.

O humano surge na história evolutiva a que pertencemos ao surgir a linguagem, mas se constitui de fato como tal na conservação de um modo de viver particular centrado no compartilhamento de alimentos, na colaboração de machos e fêmeas, na criação da prole, no encontro sensual individualizado recorrente, no conversar. Por isso todo afazer humano se dá na linguagem, e o que na vida dos seres humanos não se dá na linguagem não é afazer humano; ao mesmo tempo, como todo afazer humano se dá a partir de uma emoção, nada do que seja humano ocorre fora do entrelaçamento do linguajear com o emocionar e, portanto, o humano se vive sempre num conversar (MATURANA, 1997)

Quando tratamos dos domínios de existência e as dimensões do espaço

relacional, é importante compreender como o humano surge. Assim, a partir do

entrelaçamento do linguajear9 com o emocionar10 que nós, seres humanos,

começamos a desenvolver a nossa humanidade. A linguagem, as emoções e

os afazeres pertencem ao domínio da conduta, que junto com a dinâmica

fisiológica, constituem os domínios de nossa existência e, consequentemente,

as dimensões do espaço relacional (MATURANA, 1997, 2001).

9 Para Maturana (1997, p.168), o linguajear constitui um neologismo que faz referência ao ato de estar na linguagem sem associar tal ato à fala, como aconteceria com a palavra falar. 10 “As emoções são disposições corporais dinâmicas que especificam os domínios de ações nos quais os animais, em geral, e nós seres humanos, em particular, operamos num instante” (MATURANA, 2001, p.129).

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No momento em que se pode demonstrar que a linguagem, como fenômeno, existe nas coordenações de ação, tudo o que ocorre no que poderíamos chamar de fisiologia fica implícito e fico oculto. Nós, seres humanos, existimos em dois domínios. Existimos como seres humanos no domínio da linguagem: é na linguagem, nas coordenações de ações que acontece isso da conversação do discurso, da reflexão, da poesia. Mas é na fisiologia que acontece a base absolutamente invisível, a partir da qual surge na linguagem, nas coordenações de ação (MATURANA, 2001, p.99).

O que nos constitui humanos, não é só um legado de afazeres/técnicas

aprendidos ao longo da vida, mas a forma pela qual captamos essas técnicas

em nossa estrutura e como a nossa estrutura responde e produz novas

técnicas. As interações, a linguagem e a emoção são essenciais para o que

nos constitui humanos, assim como é essencial o aparato que nos constituem

sistemas, seres vivos.

A linguagem como um fenômeno biológico se explica pelo determinismo estrutural, ou seja, na história de interações dos seres vivos [epigênese], na qual é possível constatar a recursividade. Os sistemas determinados estruturalmente são sistemas nos quais as interações desencadeiam mudanças que estão determinadas neles mesmos (MATURANA, 2001, p.74. Grifo nosso).

Interagir é operar na linguagem (MATURANA, 1995, 1997, 1998, 2001),

(MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004), (MATURANA; REZEPKA, 2000). A

partir do momento em que interagimos, operamos na linguagem, assim como,

ao operarmos na linguagem, estamos interagindo. A linguagem corresponde às

coordenações de ação como resultado de interações recorrentes.

(MATURANA, 2001). As coordenações de coordenações são recursões, ou

seja, o produto de uma interação é objeto de aplicação para novas interações e

assim sucessivamente.

“Para afirmar uma recursão é preciso fazer uma referência histórica”

(MATURANA, 2001,p.73). Portanto, as interações, ou as coordenações

consensuais de conduta, pertencem ao campo da história da espécie

(epigênese). “A história de interações de um ser vivo no meio dura

necessariamente enquanto houver interações e enquanto se conservem duas

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condições: a organização do ser vivo e a correspondência com o meio”

(MATURANA, 2001, p.76).

Maturana (2001) faz uma distinção entre organização e estrutura. O

mesmo considera o termo organização exclusivamente para fazer referência às

relações entre componentes que definem a identidade de classe de um

sistema, enquanto que estrutura designa os componentes mais as relações

entre eles, ao realizar uma unidade particular. Tanto os componentes quanto a

estrutura precisam satisfazer as relações de organização. Embora a

organização não faça referência aos componentes, a estrutura faz.

Quando abordamos os assuntos que tratam da organização do ser vivo

e a correspondência com o meio, logo pensamos em autopoeise e deriva

natural. “Deriva faz referência a um curso que se produz, momento a momento,

nas interações do sistema e suas circunstâncias” (MATURANA, 2001, p.81).

Para Maturana (1997, 2001) e Maturana e Varela (1997, 2002), o que define

autopoiese é a organização própria da vida. Caso a organização de um

determinado ser vivo seja violada, esse sistema perde sua identidade de classe

e passa a ser outra coisa.

A história de um sistema é uma deriva estrutural (MATURANA; VARELA,

1997, 2002; MATURANA, 1995, 1997, 1998, 2001). A vida de cada um de nós

é uma deriva de mudanças estrutural contingente com as nossas interações.

Para Maturana (1995, 1997, 1998, 2001), não é o meio que nos conduz, mas a

nossa congruência com o mesmo. “Organismo e meio vão mudando juntos,

uma vez que se desliza na vida em congruência com o meio”. (MATURANA,

2001, p.80). Estar em congruência com o meio é estar em concordância com a

vida, e estar em concordância com a vida é estar em coerência com a

organização do sistema a qual pertencemos. Sendo a estrutura variável, sua

variação pode ou não conduzir a conservação da identidade de classe, numa

perspectiva biológica (MATURANA, 1995, 1997, 1998, 2001). Essa variação da

estrutura corresponde a ruptura da autopoiese.

“A história de um ser vivo é uma história de interações que

desencadeiam nele mudanças estruturais: se não há encontro, não há

interação, e se há encontro, sempre há um desencadear, uma mudança

estrutural no sistema” (MATURANA, 2001, p.75). Ensina-nos Maturana (1995,

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1997, 1998, 2001) que não somos nós que definimos o meio, tampouco não é

o meio que nos define, mas a coerência que existe entre nós, explicado pelo

principio da deriva natural.

A partir de Maturana (1998) compreendemos que as relações sociais

são todas as interações que se baseiam na aceitação do outro como legítimo

outro na convivência. Portanto, é na relação social que as interações

acontecem e são nas interações que, a relação social se efetiva. Para o autor

(Op. Cit.), é pela forma de nos mover que nos reconhecemos ou nos

estranhamos, principalmente se estivermos imersos na mesma história de

interações. Assim, quando o curso corporal de todos nós se parece,

acidental/casualmente com a história de interações de nosso agrupamento, nos

identificamos, nos reconhecemos, nos aceitamos e convivemos, o que implica

compreender a afirmação do autor que diz: “Interação implica num encontro

estrutural entre os que interagem” (Maturana, 1998, p.59). O encontro

estrutural é o curso corporal que nos identifica, nos reconhece e nos faz afins.

As interações, a princípio, só são possíveis no conversar, manifestação

da ação do linguajear, concomitante ao fenômeno da linguagem (MATURANA,

1998, 2004). Para Maturana (2004), o linguajear constitui uma seqüência de

ações comunicativas entre aqueles que interagem, já a linguagem “se constitui

quando se incorpora ao viver, como modo de viver, este fluir em coordenações

de conduta de coordenações de conduta que surgem na convivência como

resultado dela – quer dizer, quando as coordenações de conduta são

consensuais” (Maturana, 1998, p.59), em outras palavras, quando o curso

corporal de dois ou mais sujeitos implica num ato comunicativo, de resposta

mútua de atitudes corporais de forma sucessiva e rotineira.

Para Maturana e Varela (1997, 2001) e para Maturana (1997, 2004)

cada indivíduo traz consigo rastros da epigênese particular da espécie. A

epigênese particular está associada ao fluir das coordenações de ações e

emoções vividas por cada indivíduo na história de interações, sendo mais

relevante às interações familiares, principalmente aquelas vividas com a figura

materna, que pode ser qualquer sujeito que assuma na prole o papel

correspondente a função materna (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004).

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Ética: compreensões textuais ______________________________________________________________________

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Para Maturana (1998, p.76) a “linguagem sempre nos prende no fazer”.

A linguagem se manifesta de diferentes formas, é ela, também, componente

desse curso corporal que nos aproxima ou distancia, quando aceitamos ou

negamos o outro na convivência. A linguagem, por exemplo, que nos prende

no fazer do GGTP é a ginástica, mas não qualquer ginástica, mas a ginástica

geral e as linguagens que adotamos em nosso projeto para essa prática, nos

referimos a ginástica rítmica, a ginástica aeróbica esportiva, a ginástica

acrobática, além de outras expressões não gímnicas, como por exemplo, a

dança, o teatro e o circo.

O fazer segundo Maturana (1997, 2004) é o fluir em coordenações de

conduta de coordenações de conduta consensuais que surgem na convivência

como resultado dela. A ginástica geral constitui um particular fazer quando

surge no fluir em coordenações de conduta de coordenações de conduta

consensuais na convivência entre pessoas do GGTP. A Escola Municipal

Terezinha Paulino de Lima constitui um dos espaços de interações dessas

pessoas, sendo ela o principal lugar de interações dessas pessoas na condição

de ginastas, indivíduos implicados nesse fazer específico. Essa perspectiva de

compreender a escola como ambiente de interações, nos faz pensar na escola

como um campo da interação potencializado, no qual coexistimos e

aprendemos.

O que está envolvido no aprender é a transformação de nossa corporalidade, que segue um curso ou outro dependendo de nosso modo de viver. Falamos de aprendizagem como da captação de um mundo independente num operar abstrato que quase não atinge nossa corporalidade, mas sabemos que não é assim. Sabemos que o aprender tem a ver com as mudanças estruturais que ocorrem em nós de maneira contingente com a história de nossas interações (MATURANA, 1998, p.60).

Lembremos Freire (1979), em Educação e Mudança, que já afirmava

que nós, seres humanos, somos seres de relações e não estamos apenas no

mundo, mas sim, com o mundo. Assim, somos seres capazes de transcender e

objetivar a nós mesmos, e ainda de distinguir. Nessa perspectiva é que

compreendemos a nossa realidade, mas só o fazemos com o outro, na

convivência, como afirma incansavelmente Maturana, no conjunto da obra. É a

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Ética: compreensões textuais ______________________________________________________________________

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nossa condição de seres linguajeadores, fazedores, possuidores de uma

epigenia particular de interações e de convivência que seguimos um curso

corporal, ou como prefere o próprio Maturana (1999), corporalidade. Essa

corporalidade, que também nos identifica como seres humanos, é a mesma

que nos diferencia dos demais seres vivos. Somos essa corporalidade que nos

torna capaz de nos relacionar uns com os outros, mas também de nos

projetarmos em outros (FREIRE, 1979), principio ético fundamental que

compactua com a antropo-ética de Morin (2005). Morin (2005) quando afirma

que ainda de acordo com esse autor, “não desejar para os outros, aquilo que

não quer para você” expõe a condição da antropo-ética, balizada em três

elementos: indivíduo, sociedade e espécie. Morin (2005) defende a interligação

destes três elementos desde O paradigma perdido: a natureza humana. Esse

princípio ético fundamental nos faz desde já apostar numa coexistência no

respeito e no amor.

Compreendemos que toda ligação entre humanos é um fundamento da

ética em qualquer discurso, em qualquer tempo, legitimando a presença e a

importância do outro na condução de si e da vida em grupo. Por que ao nos

movermos no domínio de ações, nos emocionamos e emocionamos, o que

constitui distintas disposições corporais, que na condição de expressão

amorosa nos atrai para o convívio (MATURANA, 1989, 2001). Os valores

estabelecidos para a condução da vida na coletividade se referem a um acerto

complexo entre os atores sociais implicados nesse desafio. Pois

compreendemos que é no convívio que a conduta ética se revela.

A partir do seguinte capítulo, em condutas relacionais da boa

convivência, nos propomos responder as questões propostas no início desse

trabalho. Desde já, adiantamos que encontramos nos sentidos éticos

relacionados os valores que regem as interações no GGTP; de outra forma,

relacionamos nas condutas relacionais indesejáveis, emoções que refletem a

negação do outro no convívio ou que não corrobora para que as interações

aconteçam. Compreendemos que os sentidos a seguir relacionados constituem

um conjunto que corresponde ao centro da nossa reflexão, designados a partir

de uma conjuntura, uma experiência vivida por sujeitos vivos, atores sociais,

que derivam no espaço e no tempo e que compartilham emoções no interagir.

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Ética: compreensões textuais ______________________________________________________________________

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Destacamos que, no decorrer desse estudo, estaremos postulando a

convivência como um dos componentes essenciais para a compreensão ética a

qual nos propomos.

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Condutas relacionais da convivência ______________________________________________________________________

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CONDUTAS RELACIONAIS DA CONVIVÊNCIA

Estaremos abordando e discutindo nesse capítulo os indicadores éticos

e seus sentidos para os integrantes do GGTP, enquanto conteúdos que

implicam em condutas relacionais da convivência. Verificaremos ao longo do

texto que a associação dos domínios do emocionar com o linguajear

constituem o que estamos designando por convivência, entendendo que a

mesma se dá, a princípio, na partilha de um desejo comum como propõe

Maturana (1995, 1997, 1998, 2001). Enfatizamos que os indicadores aqui

tratados são expressões das interações dos atores sociais envolvidos nessa

pesquisa, o que não permite qualquer iniciativa em constituírem por si, ou em

si, um código ético rígido, visto que os mesmos correspondem ao produto

recursivo do operar na linguagem como proposto por Maturana no conjunto da

obra.

A união, por exemplo, é um dos indicadores éticos. A mesma foi

apontada por 80% dos atores sociais analisados. Os mesmos expressaram

sentidos para compreender a união no convívio entre os pares e a importância

desse aspecto ético para a vida do grupo.

O GGTP é um grupo de pessoas unidas que tem como objetivo mostrar nosso trabalho. O nosso objetivo maior é o que nos uni. [...] A união do nosso grupo é muito importante para a realização do nosso trabalho. Por isso, é que amo todos do GGTP e sei que ninguém consegue sair do grupo sem levar consigo um sentimento especial pelas pessoas ou por parte delas (Caroline Diniz).

A partir do fragmento, observamos que Caroline Diniz percebe a união

como uma característica ética do grupo, assim como, conseqüência de uma

amorosidade. Para Maturana (2000, 2001), a convivência é resultado de dois

domínios, o emocionar e o linguajear. O que nos faz pensar que as interações

são manifestações de partilhas de saberes e emoções que se dão na

convivência, e que, as interações só são possíveis na união. Observamos que

a união apresenta-se como expressão do que estamos considerando

convivência.

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Condutas relacionais da convivência ______________________________________________________________________

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Compreender a importância da convivência com outros é reconhecer,

em parte, a importância que os outros tem no todo. “Quando digo que a GGTP

é uma família, eu não o digo apenas por dizer. Existe uma razão pra isso, e

essa razão é a união e a amizade que compartilhamos [...]” (Llows). No sentido

inverso, expõe Llows o reconhecimento da importância do todo quando se

refere às partes. Expõe, portanto, a importância das partes para o todo e do

todo para as partes. Nesse sentido, compreendemos que os domínios que

unem os atores sociais, ou seja, o linguajear e amor, também são partes que

constitui o todo, aqui tomada como convivência.

“Convivência é quando as pessoas se vêem com freqüência, conversam

e mantém uma rotina entre elas. Manter uma rotina com o outro é estar sempre

ao lado de alguém, agindo em conjunto, unidos” (Stephany). Ao tentar

conceituar a convivência, o sujeito afirma a necessidade do outro na

manutenção dessa estrutura coletiva e, também, da troca de saberes, ou seja,

da aprendizagem. Acena Stephany para uma possibilidade de compreender

porque a partilha, assim como a união, entre outros, são apontadas como

virtudes pela maioria dos sujeitos analisados nessa pesquisa. Para tanto,

tomemos a partilha/compartilhar para pensarmos inicialmente esses sentidos.

Partilhar e compartilhar, do mesmo gênero semântico, são sinônimos e

indicam a divisão, a repartição de algo. Ambos constituem um dos indicadores

éticos, produtos da convivência no GGTP. Estamos considerando aqui a

partilha no sentido de troca, de compartilhamento de desejos comuns que se

dão na interação entre sujeitos na convivência, como sugerido em geral por

Maturana, nas obras aqui citadas, ou de forma mais específica, a partir da

biologia do amor (2004).

Para Maturana (1998), ao gerarmos na convivência um projeto, nos

unimos em torno de um desejo comum e, assim, constituímos um espaço de

aceitação mútua. A convivência é produto das interações, sendo as interações

frutos de um desejo comum (MATURANA, 1998). O desejo comum que nos

une no GGTP é o fazer gímnico. A prática em si não é o que conduz os atores

sociais da relação à condição de entes – o outro como objeto de desejo no

relacionamento (AQUINO, apud ABBAGNANO, 2007, p. 122) – mas a condição

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dessa prática como objeto de desejo comum. É deste objeto de desejo comum

que provém um objetivo comum: mostrar o trabalho produzido no grupo.

Compreendemos, contudo, que o desejo comum tanto pode despertar a

conduta de partilha como a de disputa. Quando disputamos o objeto de desejo,

negamos o outro como legítimo outro na convivência. Já quando

compartilhamos o desejo, afirmamos o outro como legítimo outro na

convivência. O que diferencia a constituição de um quadro de convivência com

o de disputa é a possibilidade de disposição corporal, em aceitar o outro como

legítimo outro da convivência, como já identificamos no conjunto das obras de

Maturana, aqui citadas.

Portanto, compreendemos que a reciprocidade da aceitação dos atores

sociais como legítimos outros da convivência nos conduz às interações que

nos tornam parceiros, compartilhando o mesmo desejo. De outra forma,

quando negamos o outro como parceiro frente ao desejo comum, passamos a

uma negação de interações com esse sujeito, disputando o objeto de desejo e

o tomando como adversário. Compreendemos assim que, não é o desejo

comum que conduz a uma conduta de aceitação ou negação do outro como

legítimo outro da convivência, mas a nossa disposição corporal em nos

emocionar com o outro, ou não, em torno deste objeto de desejo. É neste

sentido que compreendemos que, o desejo comum tanto pode rivalizar

pessoas como torná-las companheiras, caso específico dos integrantes do

GGTP.

As condutas relacionais que se dão no âmbito das aulas do Grupo

Ginástico da Escola Municipal Terezinha Paulino, ou seja, no domínio de

congruência entre os atores sociais e o meio onde estamos convivendo,

constituem os próprios indicadores que na condição de gesto, constitui a

aceitação ou negação do outro na convivência. Compreendemos que ao

aceitar o outro como legítimo outro na convivência, nós nos conduzimos com o

outro numa relação de boa convivência. De outra forma, quando negamos o

outro como legítimo outro na convivência, nossa conduta refuta a interação

com o outro, conduta essa indesejável, principalmente quando buscamos o

caminho da boa convivência.

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Apontada nessa pesquisa como um indicador ético, o

partilhar/compartilhar quando posto em relação com a disputa, constituem

reciprocamente um exemplo de aceitação e de negação do outro na

convivência. A aceitação se dá no instante em que dois ou mais integrantes

dividem o desejo comum pela disputa, mas a disputa por algo implica na

suspensão da aceitação do outro na convivência (MATURANA, 1995, 1997,

1998, 2001), (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004), (MATURANA;

REZEPKA, 2000).

Observado que o que nos envolve no GGTP é aquilo que nos une, uma

base emocional que nos unifica em um projeto comum, ou seja, a ginástica

geral. Observado ainda que, para Maturana (1998), as relações humanas

acontecem sempre a partir de uma base emocional que nos unifica em um

projeto, que a priori é de convivência, apresentamos outro fragmento,

expressão de linguagem que compartilham e ilustram as considerações:

“...acredito que vai ser cada vez melhor, porque somos muito unidas e

queremos muito bem umas as outras e a ginástica também” (Caroline Bezerra).

Nesse sentido, a GG constitui um afazer, que se revela no linguajear e no

emocionar dos atores sociais, constituindo-se um bem comum. Para defender

esse bem que todos compartilham o valor, faz-se necessário a união:

“...procuramos crescer juntas, ou seja, vencer os obstáculos unidas, isso nos

ajuda a ficar mais próximas uma da outra” (Fabrícia); “[...] O que nos faz fortes

é a nossa união” (Pollyana). Entendemos assim, que a união é valorizada no

grupo, e em si, surge como uma fraternidade não oficializada que se explica a

partir do desejo comum, das interações e da aceitação do outro como legítimo

outro na convivência.

A união pertence ao domínio das interações, portanto, é agregadora. A

mesma envolve os sujeitos numa relação em torno de um bem comum,

articulando propósitos individuais (MATURANA, 1995, 1997, 1998, 2001),

(MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004), (MATURANA; REZEPKA, 2000).

Quando esses propósitos individuais se tocam urdem uma teia de interesses

que não perde o seu sentido individual, mas acabam revelando o interesse

coletivo que no caso do GGTP é o fazer gímnico. Portanto, compreendemos

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também que, a prática da ginástica geral, objeto de desejo comum, atrai

pessoas para o convívio.

Vejamos a seguinte fala: “[...] Graças à união de todas nós, ginastas e a

dedicação do Professor Leonardo, a coreografia estava pronta” (Fernanda). Ao

se expressar, Fernanda expõe que a união, além da dedicação, são fatores

que contribuíram para o êxito do trabalho. O fragmento posto se reporta ao

episódio da viagem de parte dos integrantes a cidade de Campinas, interior de

São Paulo, oportunidade em que participamos do Fórum Internacional de

Ginástica Geral, em agosto de 2007. A viagem passou a ser um objeto de

desejo comum e, nesse sentido, foi possível verificar a materialização de

valores como união, partilha, solidariedade, cooperação, só para citar alguns.

Vejamos outro trecho da fala de Fernanda que afirma as avessas, a mesma

idéia: “... Não nos saímos bem em relação a nossa primeira apresentação,

acho que foi falta de concentração e também por que estivemos separadas o

dia inteiro, umas fazendo cursos outras se divertindo. Faltou a energia do grupo

na hora da apresentação” (Fernanda). O que implicou na má apresentação do

grupo foi o rompimento do desejo comum, ou seja, o interesse pela ginástica. A

separação e o distanciamento só confirmam a diluição de interesses naquele

momento.

“[...] Sinto orgulho de fazer parte de um grupo unido. Aquilo que um dia

foi uma experiência nova pra mim, ainda hoje não deixa de ser” (Pollyana).

Esse tipo de experiência não caduca, visto que no dia-a-dia a mesma é

renovada de forma recursiva, na interação entre os atores sociais e desses

com outros sistemas, principalmente se consideramos os princípios da

ontogenia e da convivência. É no operar na linguagem, na interação do sujeito

com os demais participantes, ou com outros sistemas vivos implicados em

algum desejo comum, que o sentido de união se renova.

Compreendemos que o fazer gímnico na coletividade depende da união

entre sujeitos, sendo essa a condição pela qual um ator social aceita o outro na

convivência. Para Maturana e Rezepka (2000, p.14 - 15), o amor “é um

domínio de condutas relacionais através das quais o outro surge como legítimo

outro em convivência com alguém”, nesse sentido, pensamos a união no

GGTP, também como uma manifestação amorosa, por envolver pessoas em

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condutas relacionais em que o outro é tomado como legítimo outro em

convivência. Isso implica pensar o exercício do linguajear e o emocionar na

convivência como essenciais para a condição humana, sendo o amor a

emoção latente que nos eleva a essa condição.

Ao mergulharmos nas falas dos atores sociais, buscamos removê-las em

busca dessa disposição corporal que constitui a operacionalidade das ações

que nos fazem sujeitos amorosos.

A ginástica para mim tem grande importância, porque me sinto a vontade, tenho várias amigas – tenho um grande carinho, um grande amor por todos da ginástica – aprendi muitos valores, como confiança. Passei a confiar mais nas minhas colegas e principalmente no professor (Pollyana).

Antes de um valor ético, percebemos a partir de Maturana e Verden-

Zöller (2004), que o amor pertence ao domínio das emoções. Quando o sujeito

interage, ele já manifesta aí uma condição amorosa (MATURANA; VERDEN-

ZÖLLER, 2004). É no convívio que o indivíduo vive com outras pessoas

diferentes emoções que se manifestam de diferentes formas, por exemplo, os

afetos. As manifestações afetuosas constituem emoções que ocorrem na

própria convivência e que estamos denominando de amor.

Essas condutas amorosas se renovam diariamente, pelo fenômeno

recursivo que se produz nas interações. As manifestações de afeto são tão

vitais para a manutenção das interações, quanto é as interações para a

manifestação do afeto. Talvez essa reciprocidade ajude a compreender melhor

o que afirma Cyrulnik (2005, p.12): “O afeto é um compromisso tão vital que,

privados dele, tendemos a nos apegar de qualquer acontecimento que faça

aparecer um fio de vida em nós, não importa a que preço: estar sozinho é o

pior sofrimento...”. Portanto, ser companheiro é existir com o outro, o que nos

permite pensar e apostar numa existência amorosa.

É no convívio que nós, atores sociais do GGTP, observamos no interagir

a reciprocidade das condutas afetuosas que aqui estamos designando por

indicadores éticos, entre os quais, a responsabilidade. A responsabilidade é um

dos valores mais recorrentes entre nós. Podemos visualizá-la em diferentes

momentos.

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[...] A ginástica me mostrou que temos escolhas e que temos a responsabilidade sobre aquelas que fazemos. Fazer uma escolha é assumir responsabilidade e isso é um desafio, pois estamos aprendendo a ter maturidade, uma vez que ainda somos pré-adolescentes, e por isso, antes de assumir cada responsabilidade, nós temos que pensar muito. (Pollyana).

Pollyana compreende no seu estágio de maturidade que é possível

escolher e que o resultado da escolha e suas conseqüências são de

responsabilidade daquele que escolhe. Nesse sentido, o ato de escolher é em

si um ato de responsabilidade que, na visão dela, é um desafio, parte do seu

amadurecimento. Ser responsável é responder pelos próprios atos, é

corresponder à própria decisão tomada. Expõe a mesma, da necessidade de

ponderar para tomar decisões, necessidade essa que gira em razão das

conseqüências que essa possa ter sobre as coisas, sobre os sujeitos

envolvidos na convivência e sobre si. Segue o mesmo caminho o seguinte

registro:

Sei que poder decidir é em si uma vitória, uma conquista, nem todos podem isso. Isso implica responsabilidades, pois toda escolha tem conseqüências. Por isso, sei que dependendo da escolha que eu faça, a estrada pode apresentar mais ou menos barreiras. Fácil não é superar as barreiras, tão pouco escolher o caminho a tomar, o mais fácil é sonhar, mas sem sonhos não há caminhos, não há obstáculos, não há lugar aonde chegar. É preciso dar o primeiro passo, é preciso sonhar. Resta saber para onde a ginástica vai apontar, pois o caminho cabe a eu decidir. (Naya).

Mesmo segura e confiante, Naya ao tomar decisão sabe da

responsabilidade que é decidir. Optar por algo tem conseqüências e ela

sabendo disso, entende o sentido da responsabilidade. Fazer escolhas não é

algo fácil, requer além de coragem e confiança, a responsabilidade. Contudo,

aponta a tomada de decisão como um ato necessário para quem “sonha”, uma

metáfora de metas e objetivos na vida. No Jardim do Éden, foi um Adão

imaturo que, ao descobrir que havia provado do fruto proibido, colocou a

responsabilidade em Eva. E foi uma Eva imatura que, por sua vez, colocou-a

na tentação da serpente.

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Sören Kierkegaard, um dos pioneiros do Existencialismo do século XIX,

deplorava os efeitos nocivos dos grupos e das multidões em nosso senso de

responsabilidade, isso por que o filósofo acreditou, entre outras coisas, que o

próprio conceito de multidão enfraquece o senso de responsabilidade do

indivíduo, reduzindo-o a uma fração (MARCONDES, 2007). Contudo,

observamos que embora a responsabilidade seja algo próprio do indivíduo, sua

conduta é para o outro e para si. Nesse sentido, acreditamos que além de ser

uma conduta amorosa a responsabilidade é uma virtuosidade que não se

enfraquece no grupo, ao contrário se fortalece. Essa força não se dá ao acaso,

ela é fruto ainda de um desejo comum. Enquanto o desejo for partilhado, o

senso de responsabilidade se manifestará nas interações em forma de

condutas.

O GGTP para mim não é só um grupo de pessoas reunidas, fazendo algo comum e que gostam, mas, uma grande família. Aprendi no decorrer do tempo, convivendo com as pessoas do grupo, entre outras coisas, que a vida não é só diversão e que existem responsabilidades das quais não podemos fugir. Na ginástica, assim como na vida, a responsabilidade pode ser entendida de diferentes maneiras. A responsabilidade que quero falar está relacionada com compromissos do trabalho desenvolvido no GGTP, a saber: compromisso com o trabalho no GGTP; compromissos relacionados ao combinado entre os integrantes; compromisso relacionado ao cuidado com os equipamentos; o compromisso em cuidar do próprio corpo; compromisso para o cuidado com nossas ações com as outras pessoas. (Yaponira).

Observamos nas metas postas por Yaponira, o desejo que une os

demais atores sociais do GGTP num projeto comum. Percebemos que o

fragmento traz alguns caminhos para ampliar o sentido de responsabilidade no

universo do GGTP, a saber: responsabilidade enquanto compromisso com

algo; responsabilidade como virtude aprendida; responsabilidade como parte

da convivência no grupo; e, responsabilidade como uma necessidade para a

prática da ginástica. Pensando em Maturana, ao longo das obras aqui citadas,

todas essas pressuposições que cercam o respeito constituem, a priori, a

aceitação do outro como legítimo outro na convivência, como essencial na

manutenção das interações e da partilha do desejo comum.

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A responsabilidade no sentido de compromisso é posto por Yaponira

como um acordo coletivo para a realização do trabalho gímnico. Esse trabalho

espira uma rotina, parte dela é traduzida na fala da mesma:

A disciplina começa quando nós chegamos antes do início da aula, para arrumar e limpar nosso espaço de treino, o pátio multiuso da escola, aonde funciona também o refeitório; e passa pelo cuidado com os colchonetes, com os aparelhos e com os figurinos que utilizamos nas apresentações; respeitando os horários e os dias de treino; respeitando as etapas do treino e o comando do professor (Yaponira).

Tanto a disciplina quanto o respeito pertencem ao domínio das condutas

que reúnem os atores sociais no trabalho, sendo esse o próprio projeto comum.

Razão da existência do grupo e o sentido da reunião de pessoas nesse

convívio. É no trabalho realizado no cotidiano que os sujeitos interagem no

GGTP. Esse trabalho constitui nosso afazer, expressão não só da prática da

ginástica, na condição de aprendizado e repetição dos exercícios físicos, mas

da prática que envolve pessoas num espaço de emoções compartilhadas.

Compreendemos assim que a ginástica por si só não ensina, mas sim o que

cerca essa prática, enquanto uma rotina de trabalho.

É possível verificar a partir da Yaponira que a responsabilidade se

manifesta na prática da ginástica, como produto da interação de pessoas que

se aceitam na convivência, manifesto a partir de um desejo comum. Ainda

nesse caminho, tomemos a idéia de que a responsabilidade é aprendida com o

outro na convivência. Compreendemos assim que, a responsabilidade é própria

do individuo, mas é no coletivo, quando é partilhada com outros atores sociais,

que a mesma faz sentido tanto para o indivíduo quanto para o seu grupo.

Na cumplicidade, quando se divide, soma e multiplicam-se

responsabilidades, todos se tornam responsáveis pelos afazeres que fazem

parte do cotidiano do GGTP. Podemos afirmar que a responsabilidade é uma

virtude facilitada na rotina da prática (a ginástica), mas cultivada e aprendida no

convívio entre os entes praticantes. A postura de responsabilidade quanto à

qualidade dos treinos, das apresentações, com o outro e, conseqüentemente,

consigo é parte da trama que envolve essa virtude. Exige confiança e

cumplicidade entre os integrantes, como ilustram os seguintes fragmentos.

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Quando assumimos o compromisso de participar de um grupo como o GGTP, assumimos a responsabilidade com os compromissos do grupo também. Os compromissos do grupo são as apresentações das coreografias em diferentes eventos. Mas, para se apresentar precisamos manter uma disciplina nos treinos [...] (Yaponira). [..]Outra forma de cuidar do outro é quando estamos trabalhando em duplas, no treinamento de flexibilidade, assumimos a responsabilidade sobre o corpo da nossa colega. É nesse momento em que a colega confia o seu corpo agente. ..., é na ginástica aonde eu aprendo a ser mais companheira. (Yaponira).

A responsabilidade é uma virtude essencial para esses ginastas em

duas principais frentes: quanto ao trabalho em grupo e quanto à sua

integridade. Nesse sentido, compreendemos que a partir de uma meta em

comum, todos seguem algumas regras de convivência, elementos morais, que

em seu conjunto, lançam a luz os princípios e sentidos éticos do grupo,

fundamentais para a realização do trabalho pedagógico o qual estamos

implicados.

Na condição de “entidades biológicas e culturais” (MORIN, 1997;

ALMEIDA, 2002; MATURANA; VARELA, 2001; MATURANA; VERDEN-

ZÖLLER, 2004; NÓBREGA, 2005), vivemos na responsabilidade o

compromisso do bem viver com o outro, seja numa perspectiva de coexistência

com seres da própria espécie, seja com os de outras espécies. No campo

antropológico, vivemos com o outro na responsabilidade de coexistir no bom

convívio. Isso nos coloca numa condição existencial de trocas, de partilha, de

conhecimentos e de tomada da responsabilidade pelo coletivo. Portanto,

compreendemos que cada um é responsável pelos seus atos, mas também

pela vida em coletividade, assim como o coletivo é responsável pelos atos que

implicam na condição de cada indivíduo, independentemente de gênero sexual,

etário, étnico, socioeconômico.

Outros termos foram postos como virtudes, e de forma significativa e

recorrente os mesmos aparecem em mais de 75% dos textos analisados, são

eles: Compromisso/ dedicação/ aplicação. Perguntamos: que diferença há

entre responsabilidade, compromisso, dedicação e aplicação? O Dicionário

Houaiss (2008) traz sutis diferenças quanto à semântica dos termos.

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Dedicação e aplicação são sinônimas quando designam devotar-se à algo, por

exemplo ao trabalho. Já compromisso é um ajuste do trabalho por convenção,

um dever. Talvez a diferença esteja posta no sentido que cada ator social

pesquisado dê aos termos. O fato é que a maioria deles traz o compromisso

como um tênue filamento entre o que se expõe sobre responsabilidade e o que

se põe quanto dedicação e aplicação.

Está nas falas desses atores sociais a sutileza. Vejamos a fala a seguir:

“Muitas vezes abri mão de fazer outras coisas ou mesmo do lazer em família

para me dedicar à ginástica e o fiz por prazer [...] (Pollyana)”. Verificamos a

partir dessa fala que, o fato de abrir mão do lazer em família é uma atitude de

renúncia que implica na escolha por outra atitude, esta aplicada ao projeto

comum dos atores sociais, integrantes do GGTP. Compreendemos que é do

ator social a conduta que o faz tomar decisões, mas que as decisões só são

tomadas a partir de um apelo coletivo do qual o mesmo está implicado, ou seja,

no desejo pelo afazer, como ilustra o próximo fragmento:

Durante esses anos sempre fui muito dedicada ao GGTP e a ginástica geral, uma modalidade que eu não conhecia e que, hoje sou apaixonada. Quando estou me apresentando, sinto-me bem, realizada, principalmente quando o grupo executa um bom trabalho e corresponde nossas expectativas (Fernanda).

A condição de um bom trabalho realizado é uma conduta de

compromisso que envolve os demais em questão, dedicação, esforço,

responsabilidade, união, entre outros. Nos fragmentos que seguem é possível

perceber a força do envolvimento de um dos atores sociais com o tema

discutido: “Foi preciso muito treino, dedicação e concentração. Na hora então,

muita concentração” (Fabrícia); “..., o grupo treinava firme, com afinco e

dedicação” (Fabrícia). Nesse sentido, dedicação e concentração tomam uma

força e se avolumam na rotina do grupo; atuam como expressões do conjunto

das virtudes que se materializam na forma de afeto com o outro, na prática do

GGTP.

A dedicação tem em comum com as demais modalidades a realização

pessoal em conseguir fazer, mas se difere quanto ao resultado. A dimensão

posta da seriedade de dominar os exercícios, embora se assemelhe com a

rotina das disciplinas desportivas da ginástica, toma outra forma.

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[...] Quando acabo de passar a coreografia, eu vou treinar o que errei; aí, repito várias vezes até conseguir. Não é um errinho que vai me deixar triste. Por isso que, o treino é importante, para que possamos tentar várias vezes para que o erro não aconteça novamente (Fernanda).

Na ginástica geral, a otimização dos exercícios não se dá para

sobrepujar os adversários ou para prevalecer entre eles; ocorre na

necessidade de cumprir seu papel no grupo. Não é a unidade que prevalece e

sim a parte do todo. Portanto, a dedicação do Fernanda não é uma vaidade

pessoal é um compromisso assumido com o grupo na realização de um ótimo

espetáculo, o que nos faz pensar a dedicação como uma manifestação de

responsabilidade.

A qualidade dos exercícios está vinculada à qualidade da coreografia.

Para os ginastas, o principal compromisso é com essa qualidade. Sua

dedicação e compromisso são verificados nas falas de quem assiste e nas

delas, as agentes principais das ações: “Treinamos muito para que desse tudo

certo” (Caroline Diniz); “Aprendi que as apresentações funcionam como um

conjunto de elementos que mostram o nosso aperfeiçoamento técnico e

artístico. Se conquistamos isso, saibam que o conquistamos por meio de muito

esforço” (Fabrícia). A verificação da qualidade das apresentações é posta em

diferentes momentos da existência do grupo, inclusive por pessoas que

acompanham as produções, como demonstra o texto seguinte:

[...] Meninas, alunas-artistas da E. M. Terezinha Paulino, desfilavam no linóleo os frutos dum trabalho-aprendizado do ano, apresentavam-se a seus pares, parentes, docentes, outrem apresentavam-se com uma segurança na execução dos movimentos, creio, maturada na excelência do processo pedagógico do movimento; uma busca continua de sempre corresponder a estesia do belo, que nem mesmo os olhares vacilantes aqui-e-ali submergiram o fulgor do espetáculo em cena (Apud Leonardo Gama).

“..., a responsabilidade no GGTP não é só essa na qual nós nos

responsabilizamos com o trabalho do GGTP. Cuidar dos outros componentes

do grupo é um compromisso de cada integrante” (Yaponira). Diz-nos Yaponira

que a responsabilidade não é algo restrito ao fazer do grupo, mas tem início no

próprio componente deste. Cabe a cada sujeito cuidar do outro, é esse cuidar

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que dá sentido ao termo que viemos utilizando com freqüência nesse texto: o

amor. Os sujeitos só passam à condição de entes quando é possível observar

uma relação de desejo, de querer, de interesse comum, na interação entre os

mesmos, o que é sugerido na próxima fala:

No grupo somos ginastas, porém, em primeiro lugar somos amigas. Quase sempre estamos todas juntas no colégio. Nesses momentos procuramos saber ainda mais sobre cada uma. Considero todas amigas, umas mais do que as outras, mas o importante é o que eu sinto sobre elas em geral, muito carinho. A cada dia ficamos mais próximas umas das outras e, assim, consolidamos grandes amizades. Tenho a felicidade de poder ter novas amigas que posso contar em alguns momentos (Fabrícia).

Essa relação de amizade circunscreve o valor dado pelos sujeitos a essa

ação com o outro. No mesmo caminho segue o seguinte fragmento:

Cuidamos do outro de diferentes maneiras. Quando entra alguma novata na ginástica, as mais antigas, entre elas eu, por sermos mais experientes, nos aproximamos para ajudar à novata, ou o novato, quando percebemos que alguém está fazendo algum exercício errado. (Yaponira).

Essa dedicação ao outro é o princípio que rege o que estamos

chamando aqui de coleguismo/companheirismo. Esses valores estão postos no

cotidiano do grupo de diferentes formas, como demonstra o próximo fragmento.

“..., em todas as coreografias eu vejo o companheirismo envolvendo diferentes

pessoas, através das colaborações, dos conjuntos e dos contatos e apoios,

esse é preciso ainda confiança” (Fabrícia). Percebemos que a prática em si

fomenta o companheirismo e a amizade uma vez que o trabalho gímnico se

baseia em confiança entre os envolvidos.

[...] Algumas vezes precisei de alguém por algum motivo, nessas horas sempre tinha alguém disponível para me ajudar. Essa atenção representa o grande carinho que temos umas com as outras, afinal somos companheiras no mesmo grupo. (Fernanda)

O carinho é uma manifestação afetuosa, de amor. Tomemos por afeto

um compromisso vital, como sugere Cyrulnik (2005). Esse compromisso é vital

na relação entre indivíduos, pois compreendemos que é somente com afeto

que é possível tecer os caminhos da boa convivência.

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Eu sei da importância do apoio recebido das minhas colegas e do professor, entre tantas outras pessoas e isso só é possível porque passamos muito tempo juntos, e essa convivência nos aproxima ao ponto de apoiarmos um ao outro [...] (Naya).

É esse apoio que ajuda a compreender como o amor se manifesta. O

apoio é outra manifestação de afeto que agrega, aproxima e estabelece uma

cumplicidade, vital para o tipo de trabalho que é desenvolvido no GGTP. A

mesma cumplicidade que ora é denominada pelos próprios atores sociais

investigados como amizade, companheirismo ou coleguismo11.

A seguir, os fragmentos expressam, ao mesmo tempo em que ilustram,

o que viemos defendendo até agora: a interação como domínio do espaço

relacional da convivência: “Sinto-me muito bem fazendo parte da família GGTP,

pois quando estamos treinando os amigos nos ajuda quando precisamos”

(Yaponira). O sentir-se bem é efeito da manifestação de apoio que se dá no

devir, efeito da aceitação do outro como legítimo outro da convivência

(MATURANA, 1995, 1997, 1998, 2001), (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER,

2004), (MATURANA; REZEPKA, 2000).

Entendemos que o que caracteriza o GGTP são as partes que o

compõe, as pessoas; e o que caracteriza a prática não é a rotina de exercícios

e movimentos que a identifica, é necessariamente a interação que ocorre no

domínio do espaço relacional da convivência. Essa convivência constitui uma

atmosfera que nega uma rotina e afirma uma constante transformação a partir

da recursividade, que inclui não só o código gestual, mais também, os atores

sociais e os elementos circulantes dessa prática (família, valores, outros

setores da escola, legislação, outras instituições, etc.). Portanto, ninguém ama

um grupo ou a prática em si, o que se ama é o conjunto que envolve a

constante transformação. A transformação deve ser entendida como a única

rotina possível dessa prática. Os indivíduos que nela circulam são

constantemente envolvidos nessa prática que renova e se renova, uma prática

11 Considerando que 100% dos atores sociais analisados abordaram a amizade, dos quais 70% falaram de coleguismo/companheirismo, vale uma breve consideração. O sufixo “ismo” nos coloca diante de uma doutrina de algo; quando falamos companheirismo, consideramos a doutrina do companheiro, ao falarmos coleguismo nos referimos a doutrina do colega. Contudo, acreditamos que os sujeitos analisados não se posicionaram nesse sentido. Os termos sufixados com “ismo” estão postos de forma arbitrária para o sentido de valores morais ou na condição de uma entidade engendrada no convívio.

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que atende a uma circularidade12, pois só se renova porque é parte dos

afazeres de pessoas que ao interagirem na prática a transforma. Portanto,

atores sociais e práticas se renovam.

Outras formas de interação se dão no domínio do espaço relacional da

convivência no GGTP, entre eles o respeito. O respeito está posto como um

indicador ético sendo possível visualizá-lo na expressão dos textos dos atores

sociais analisados aqui: “O GGTP é o lugar aonde eu aprendo a conviver

melhor com as pessoas, respeitando todos, não importando o quanto elas

sejam diferentes, tanto nas opiniões quanto nas características” (Caroline

Diniz). Respeitar a individualidade do outro é afirmá-lo no convívio, dando-lhe a

condição de existir plenamente, isto é respeito pelo outro e pelo bom

convívio13, além de constituir uma conduta de aceitação do outro como legítimo

outro na convivência, independentemente das diferenças. Ao falar em

convivência entre indivíduos, logo pensamos no respeito como uma atitude

moral essencial à mesma, contudo, nos mostra Caroline Diniz que o respeito

também é uma expressão amorosa. Para Maturana (2004, p.21), “o respeito

por si mesmo e pelo outro surgem nas relações de aceitação mútua e no

encontro corporal, no âmbito de uma confiança mútua e total”.

Cuidamos do outro, respeitando cada um, deixando cada pessoa agir de acordo com sua consciência, desde que esse agir não prejudique ninguém. Para isso, é importante manter o foco no grupo, deixar vaidades e picuinhas de lado e centralizar as energias na união do grupo. (Yaponira).

Tomemos o cuidado de perceber aquilo que é permitido pelos atores

sociais na convivência, aquilo que é admitido e tomado como um “cuidado com

o outro”; reza ainda uma condição: “desde que esse agir não prejudique

ninguém”. Yaponira chama nossa atenção para o que lhe é prioridade, o grupo.

Ela nos diz que é preciso garantir esse espaço relacional onde é possível

interagir de modo bem singular, como garantia da existência não só dá

entidade coletiva em si, mas dos anseios que perpassam as expectativas dela

para com o grupo e as suas particularidades.

12 A idéia de circularidade foi formulada por Nobert Wiener; seu equivalente em inglês é looping; designa o caráter retroativo do sistema (ALMEIDA, 1997). 13 Ao mesmo tempo em que acreditamos que não é possível um mau convívio, quando expressamos o bom convívio é para dar ênfase ao que já constatamos.

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[...] Para se ter um grupo é necessário ainda carinho, respeito, amizade, amor, tolerância, coragem, atitude para chegar e fazer as coisas acontecerem, no Grupo Ginástico tem tudo isso [...] É por tudo isso que somos uma grande família, uma família feliz (Caroline Bezerra).

Nesse instante, em que enfatizamos o respeito enquanto valor cultivado

no grupo, é importante destacar que o que constitui a ética do grupo não é a

união, ou qualquer outro valor especificamente. O que compõe essa unidade é

a reunião desses valores postos como sugere Caroline Bezerra logo acima:

uma unidade em que as partes interagem na emoção e no linguajear. Essa

constatação é possível no pinçar das emoções, das atitudes como afazeres, e

por fim, da família, como metáfora para remeter a unidade de interações, todos

do domínio da convivência.

Destacamos que não é só as particularidades do grupo em si que

religam os atores sociais envolvidos na ação pedagógica de forma amorosa,

mas sim os próprios indivíduos que envolvidos no convívio produzem essas

particularidades. O que opera de fato o amor é o conjunto de interações que se

dá no linguajear de sujeitos que se aceitam mutuamente como legítimos entes

na convivência, a partir de uma prática, objeto de desejo comum, e que os

despertam para situações e uma existência imersa no devir. Uma existência

pautada no amor, na potência da superação das dificuldades e no afazer

coletivo e solidário. Essa prática solidária também incide no que designamos

por companheirismo.

Foto 1 - Meninos consolando e apoiando a ginasta. Fonte: João Vital

Ser companheiro é aprender com o outro, sendo o outro, fonte de

saberes, como sugere a fala a seguir: “[...] Ser companheira é aquilo que

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aprendemos na experiência quando estamos com alguém, não só nas horas

boas, mas também, nas horas difíceis em que precisamos cuidar de alguém.

(Yaponira)”. Ao existirmos, existimos na condição de sermos com o outro na

relação; relação essa que, agrega saberes e que promove o ser a condição

humana. Aprendemos chamar essa relação de convivência.

Para Maturana (1998), é na convivência que se aprende. O que

podemos constatar ao visualizar o fragmento a seguir: “[...] Aprendi que

amizade é algo muito sério e que ela é cultivada no dia-a-dia” (Yaponira).

Observamos que a importância da amizade para os próprios atores sociais,

revela uma preocupação com a qualidade do convívio. A amizade constitui um

valor que deve ser cultivado na convivência, a partir das interações,

principalmente no exercício do linguajear e das emoções. Portanto, a amizade

ou companheirismo é percebido como um domínio moral que pode ser

estimulado, cultivado.

Os valores postos pelos atores sociais, no que se refere à boa

convivência do grupo, refletem a identidade ética da relação em questão. O

respeito é um desses valores lembrados nos diferentes discursos: “Com o

professor que nós temos, é bem difícil discutir ou brigar, por que conversamos

bastante sobre respeito. Temos o respeito como um fator importante para

conviver em harmonia, entendendo como é o outro ser humano” (Caroline

Bezerra). Caroline Bezerra expressa o reconhecimento da ação do mestre na

compreensão de respeito e traz, na seqüência, o sentido desse valor.

Foto 2 - Meninas conversando no intervalo.

Fonte: João Vital

Criar um espaço, uma atmosfera capaz de fazer do ser um indivíduo que

interaja com o outro não constitui um desafio. Constitui um desafio para o

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educador, seja ele quem for, compreender e fazer o aprendiz compreender, já

na tenra idade, a importância do respeito para a harmonia da vida em um grupo

de pessoas que almejam algo em comum. Acrescentamos que esse deslocar

para o outro é antes de qualquer coisa uma atitude ética de respeito com o

outro, sobretudo, com o cultivo da boa convivência e da vida social, na qual

existimos. Existência condicionada à atitude rotineira da conversa, tema que

estaremos adentrando com maior especificidade a seguir.

Antes de adentrar a proposição encaminhada inicialmente quanto aos

sentidos éticos dos indicadores conversa e diálogo, o investimento primeiro é

de compreender o que designa cada termo para que não cometamos desvario.

Para tanto, recorreremos a Maturana (2004) e a Freire (2005) para elucidar a

aplicação dos termos.

Para Maturana (1998, 2000, 2001, 2004) o conversar é viver na

linguagem e na emoção, condição para o viver humano: “constituiu-se então de

fato o viver na linguagem, a convivência em coordenações de coordenações,

de ações e emoções que chamo de conversar” (MATURANA 1988, apud

MATURANA, 2004, p.31).

Nenhum comportamento isolado, nenhum gesto, nenhum movimento, nenhum som, nenhuma postura corporal, por si só, é parte da linguagem. Mas, se está inserida no fluir de coordenações consensuais de coordenações consensuais de ação, é parte da linguagem (MATURANA, 2001, p.73).

O conversar é parte desse fluir de coordenações consensuais de

coordenações consensuais de ações, ou seja, da rede de conversações de

nós, seres humanos. Para Maturana (1998, 2000, 2001, 2004) o termo

linguajear designa a “maneira de conviver em coordenações de condenações

comportamentais consensuais” (MATURANA, 2004, p.30). Em outras palavras,

o autor atribui ao conversar um fenômeno que confere a nós, homo sapiens, a

condição humana. Portanto, é a existência humana um desdobramento do

conversar.

Freire (2005, p.95) traz no conceito de diálogo uma importante

contribuição para a nossa reflexão. Diz o autor: “o diálogo é o encontro dos

homens para ser mais”. A condição de ser mais está associada à forma de

pensar e agir dos sujeitos: “pensar crítico”. Pensar criticamente é uma atitude

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política do pensamento. É uma manifestação do sujeito, termo dileto pelo autor,

que ao perceber a realidade a compreende de forma dinâmica, como um

processo constante e ininterrupto. É a capacidade de captar o mundo como

parte de si, como uma substância única, inviolável, cujas partes agem em

solidariedade.

Tomamos duas abordagens distintas que diferenciam o conversar do

dialogar. A conversa está para nós, homo sapiens, como condição de nossa

humanidade, ou seja, da nossa condição existencial. Quanto ao diálogo,

compreendemos que este é um desdobramento do conversar, estar para o

sujeito/indivíduo como qualidade da condição política do pensamento desse

sujeito/indivíduo. Logo afirmamos que, todo diálogo é essencialmente uma

conversa, porém, nem toda conversa é um diálogo. Lembremos que para

Maturana (1998, 2000, 2001, 2004) a conversa é o princípio universal da

condição humana.

Tanto a conversa, na perspectiva de Maturana (2004), quanto o diálogo,

proposição freiriana (FREIRE, 2005) estão postos no campo existencial,

desdobramento da corrente filosófica do pensamento existencialista. Nesse

contexto, apostamos no conversar como a amalgamação de emoções e do

linguajear que se dá no fluir de coordenações consensuais de coordenações

consensuais de ação (MATURANA, 2001).

Adotando as compreensões que cercam o nosso pensamento sobre o

que é o conversar e o dialogar, partiremos para o sentido posto pelos ginastas

quanto aos termos, indicadores éticos da convivência no GGTP. Para tanto,

estaremos considerando os verbos conversar e dialogar, e suas variações,

postos nos discursos dos sujeitos/atores sociais para compreender seus

significados na trama ética que cerca o convívio no grupo.

[...] O diálogo é de uma riqueza tão grande que, se parássemos para pensar ou para imaginar só por um instante entenderíamos que melhor do que tentar resolver as coisas no grito é tentar resolvê-las com o diálogo. Sabemos mais quando dialogamos com outras pessoas. Com isso o nosso intelecto aumenta porque aprendemos mais sobre às várias maneiras de pensamento do ser humano. (Naya).

Observamos no fragmento a articulação do pensamento acadêmico que

cerca o conversar e o dialogar. Observamos que ao eleger o diálogo como

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melhor caminho, Naya elege uma ferramenta política recorrendo ao

pensamento crítico; e ao fazê-lo, não nega o conversar. Propomos assim, o

pensamento de que o diálogo é uma ação, expansão política do conversar.

Essa condição do dialogar não nega a atribuição primeira do conversar, que é

a manutenção das interações e da nossa condição existencial: sermos

humanos.

O que mais gosto de fazer é conversar com as meninas nos intervalos que o professor Leonardo dá meio aos treinos. Falamos de tantas coisas, sempre damos opiniões e ouvimos cada uma, quanto ao que elas acham e que aconteceu com elas, dá até para desabafar com coisas que aconteceu conosco, o que sentimos e o que fazemos. É engraçado porque sempre temos um assunto, e isso é bom porque previne contra discussões entre nós. (Fernanda).

Embora os conceitos que cercam o conversar e o dialogar possuam

raízes epistemológicas distintas, o sopro existencialista é um vestígio que os

articulam. Conversar aparece para Fernanda como um elo que liga ela aos

demais componentes do grupo numa ação de reciprocidade de conhecimento e

de emoções. Ainda na perspectiva da Fernanda, a conversa é um elo

comunicativo que reúne, assim como funciona como estratégia para dirimir

atritos na comunicação/relação entre as partes. Essa perspectiva é

compartilhada por Stephany:

Depois de termos enfrentado vários problemas entre nós e de ter resolvido todos eles conversando, muitas vezes com muito suor, choro e até boas gargalhadas, é que me convenço que somos sim, uma grande família. Somos uma família e como tal, temos que resolver nossas indiferenças e sermos unidas [...] (Stephany).

Além de confirmar a perspectiva de compreensão da conversa como

uma manifestação de ligação afetiva entre os atores sociais, Stephany nos

propõe pensar também que, a conversa é útil, pois, como ferramenta política,

eis que surge como uma possibilidade para solucionar problemas. Embora não

tenhamos a intenção de trilharmos esse caminho utilitarista atribuído ao

diálogo, não descartamos a possibilidade de breves trajetos nesse sentido.

Optamos por retomar a idéia posta pelos atores sociais, quanto ao ato de

conversar e de dialogar, enquanto fenômeno que se dá no convívio e na prática

pedagógica do GGTP. Nesse ponto, o caminho é pensar a conversa e o

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diálogo como estratégia da convivência cuja função é agregar indivíduos

socialmente.

O nosso grupo estava muito desunido, quase que acabava, foi também conversando que o professor nos salvou de uma catástrofe. Ele nos chamou, todos, e a partir de uma conversa, nos alertou do perigo e assim salvou o nosso grupo. Não conversar é um erro. Como estávamos nos desentendendo, sem conversar, todas nós estávamos erradas (Naya).

Depois de uma longa conversa com o grupo, acertamos que unidos é bem melhor. Em seguida fizemos um circulo e oramos. Conseqüentemente o grupo ficou mais forte e ainda com mais luz. Para mim esse foi um dos momentos mais valiosos que vivi junto ao grupo (Fabrícia).

Naya e fabrícia alimentam a idéia que estamos compartilhando, de que a

conversa reúne pessoas no convívio e de que o diálogo é um componente

político que nos mantém em interação. Nesse sentido, pensamos em Maturana

(1998), para atribuir ao diálogo a condição de componente, pertencente ao

domínio da convivência e da política, que nos implicam nas relações sociais.

A conversa é um componente essencial na constituição dos vínculos

emocionais e na tomada do outro e de si no convívio (MATURANA, 1998,

2000, 2001, 2004). Considerando a perspectiva que nos traz Maturana (1998),

quando considera a conversa como condição das relações sociais,

compartilhamos o pensamento de que não há conversa na opressão. A

conversa é tomada como episódio de socialização da qualidade das relações

que se dão no convívio. É a partir do conversar que os conflitos são

suprimidos, pois a conversa materializa o amor, uma vez que conversando,

aceitamos o outro como legítimo outro na convivência (MATURANA, 1998,

2000, 2001, 2004), (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004). Verificamos que,

além desse sentido articulador dos atores sociais em rede, o ato de conversar,

e consequentemente do dialogar, propõe algo mais quando “salva”, quando

“fortalece” e quando conduz ao conhecimento. Tanto o conversar como o

dialogo insurge para o GGTP como uma condição existencial do próprio grupo,

seja na manutenção e integridade, seja na reunião e fortalecimento, seja na

construção do saber.

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Outra forma de assumir compromisso em um grupo é quando nos reunimos, conversamos e combinamos alguma coisa. Quando combinamos algo assumimos tarefas, essas tarefas passam a ser um compromisso entre nós integrantes e se algo falhar, colocamos o combinado em risco, conseqüentemente, comprometemos o processo de trabalho do grupo. De outra forma, atrapalhamos o trabalho do grupo, quando, por exemplo, não cuidamos da nossa saúde. (Yaponira).

Yaponira acrescenta a idéia de que, a conversa articula os combinados,

sendo esses postos como um ato de responsabilidade, o que nos leva a pensar

que a conversa não é um simples ato em si, mas algo que suscita uma

hierarquização da importância do que é tratado no conversar. O que possa

parecer um simples combinado na conversa é uma articulação de tratados que

cercam a vida do grupo, é uma postura que gera ações no cotidiano e que

refletem a trajetória histórica do mesmo. A conversa ergue-se como

instrumento da boa convivência, mas assimila um sentido político. Nessa última

condição a conversa transforma-se em diálogo, como proposto pelo Pollyana.

Entre nós, o diálogo nos ajuda a nos conhecermos mais e nos tornarmos pessoas mais humanas, mais prestativas e que certamente saberão ouvir as pessoas a nossa volta, sejam conselhos ou críticas, de quem quer que seja, escutando e opinando. (Pollyana).

Observamos que a conversa é uma aposta no processo pedagógico do

GGTP, tomada como fundamental para o próprio trabalho que é desenvolvido.

Todos participam da vida no grupo, seja qual for a dificuldade, todos são postos

a par. Fazem-se reuniões em quase todas as aulas, umas mais e outras menos

demoradas. Fala-se sobre tudo: limpeza e manutenção do espaço de treino e

de equipamentos, figurinos e aparelhos; de orçamentos; das apresentações;

das coreografias e dos temas; da vida escolar; das notas e rendimentos em

sala de aula; de comportamento, no sentido lato e estrito: dos diferentes temas

como: família, sexualidade, higiene, amizade, companheirismo, solidariedade,

etiqueta social; também, dos desentendimentos e conflitos que o percurso da

convivência expõe. Toda e qualquer manifestação de desentendimento que,

inicialmente, não é resolvida entre as partes, é socializada no grupo. Nesse

sentido verificamos que essa abertura para a participação de todos os

componentes do GGTP nas decisões, além de ser algo corriqueiro é algo

estimulado pela ação pedagógica. Sublinhemos que as reuniões nem sempre

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são formais e formalizadas, ao contrário, muitas vezes elas se dão

naturalmente, na informalidade, quando não são previamente pensadas.

Quando Maturana (1998, 2000, 2001, 2004) afirma que a conversa é condição

de nossa humanidade, compreendemos que na prática pedagógica do GGTP,

a conversa, intensamente estimulada, revela-se como componente pedagógico

que problematiza, ensina, transforma e, portanto, humaniza.

Foto 3: conversando na roda. Fonte: Andréa Gurgel

Observamos que é no conversar que são expostos assuntos relativos à

manutenção do espaço, da organização pedagógica, das produções

coreográficas, ou mesmo dos valores morais que cercam a convivência.

Considerando o exposto, observamos que todo e qualquer fato pode ser

discutido ou socializado no grupo, portanto, tudo pode ser chamado à

discussão e como pauta, pode ser matéria-prima para os acertos, o que implica

numa postura participativa dos seus componentes e de uma postura

democrática do professor que, estimula esse tipo de comportamento. Para

Maturana (1998) a democracia é uma conspiração social, portanto, um ato

político, para uma convivência na qual se busca um desejo comum, esse

desejo é um projeto comum aos atores sociais em convivência e que nasce da

necessidade, partilhada na linguagem, cujo fazer também coletivo se dá na

efetivação desse projeto. Esse fazer pode ser na direção de um desejo de

mudança ou manutenção de uma condição comum.

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[...] No dia da competição, que durou o dia inteiro, ele [o professor] nos chamou e nos disse que o maior valor daquele torneio não era a competição em si, mas, a possibilidade de poder divulgar o que criamos e os exercícios que aprendemos ao longo dos anos, com muita dedicação e esforço. Ele nos disse também que estávamos ali para nos divertir e que tudo não passava de uma grande brincadeira. Mas, nós levamos tudo muito a sério. (Fabrícia, grifo nosso).

Observamos a partir desse fragmento que, a relação mestre-aprendiz é

uma relação de diálogo, na qual são discutidos e negociados os diferentes

assuntos que cercam a prática e a convivência entre indivíduos. Enfatizamos

que os assuntos são sempre retomados no processo pedagógico, pois não se

encerram. Ao reunir e esboçar o sentido da atividade, o professor recupera no

aprendiz o estímulo que o faz pensar sua condição na convivência.

A conversa é uma componente da experiência pedagógica praticada no

cotidiano do grupo, sendo esse componente posto pelos atores sociais como

um princípio fundamental da interação entre os mesmos, como ilustram os

fragmentos a seguir: “Entre outras pessoas, o professor me deu um grande

apoio, conversamos e, compreendemos que eu teria que ficar e lutar por um

outro grande sonho meu [...]” (Fabrícia); “[...] Aproveitamos para conversar

sobre como executar melhor cada movimento nas coreografias, para nós e

para o público que irá nos assistir, fazemos isso até entrarmos num consenso”

(Fabrícia). A fala de Fabrícia materializa a rotina desse convívio que não se faz

no silêncio, embora muitas vezes no grito, mas sempre na convivência,

condição de afirmação do outro como legitimo outro na convivência, ou seja, na

materialização do amor (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004). Para Verden-

Zöller (2004, p.134):

O amor é a emoção, a disposição corporal dinâmica que constitui em nós a operacionalidade das ações de coexistência em aceitação mútua em qualquer domínio particular de relações com outros seres, humanos ou não.

Os fragmentos de texto dos atores sociais aqui expostos, demonstram o

entendimento de que a conversa é um acontecimento que cerca o cultivo da

humanidade, nela o ser conhece a fraternidade, o entendimento do outro, o

perdão, entre outros valores éticos. Emergem outros sentidos: de que a

realidade é transformada e é transformadora. Isso se dá no devir, mas entre

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sujeitos que interagem na convivência. Novas exigências se fazem nessa

relação tempo-espaço-indivíduos, sendo necessária a ponderação e os

acordos através de seus atores em rede de conversações (MATURANA, 2004).

É nesse instante que se abre mão das vontades individuais e se lança mão das

exigências coletivas, condição para a unidade do grupo. Vejamos então:

Conversar é muito importante na convivência fraterna entre as pessoas, porque nos ajuda a nos entender. A conversa nos ajuda a chegar a algum lugar. Com a conversa as pessoas podem mudar seus conceitos, aprender e compreender o outro, é possível, inclusive, alcançar o perdão. E, são esses os elementos necessários à consolidação de um grupo. (Pollyana).

Entendemos que a conversa é o primeiro e único passo para o

entendimento. O caminho da conversa é livre e, qualquer um, inclusive eu,

pode ser ponto de pauta. Isso vem ajudando na qualidade das relações entre

nós, professor e alunos. Para Maturana (2004, p.44), a biologia do amor

corresponde ao “domínio das ações que tornam o outro um legitimo outro em

coexistência conosco”. Nessa perspectiva, nós, componentes ou não do

GGTP, só melhoramos a nossa conduta se nos relacionamos, aceitando o

outro como legítimo outro na convivência.

É através da conversa, como componente da biologia do amor, que nós,

componentes do GGTP, nos relacionamos no espaço em que acontece essa

experiência pedagógica. O diálogo, como expansão do conversar, surge nesta

experiência não só na forma de um instrumento pedagógico, na condição de

estratégia para uma boa convivência, mas como possibilidade de saber: “Um

pouco de conversa às vezes serve de lição, lição essa que nos ajuda a cultivar

nosso dia-a-dia bem melhor, pois aprendemos com o outro [...]” (Pollyana). A

biologia do conhecimento (MATURANA; VARELA, 2002), nos ensina que

vivemos no conhecimento ao mesmo tempo em que conhecemos no viver,

portanto, aprender não é uma ação solitária, fria e calculada, ele também

ocorre no calor das relações entre pessoas.

O aprender mobiliza o corpo por desejos que, em comum, revela a

reciprocidade da interação com o meio, da natural necessidade de produzir

componentes que o conduza a própria interação. Aprender é um fenômeno

recursivo que alimenta aquele que aprende no interagir, ao interagir adquire e

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produz novos conhecimentos, experiência essa que se sucede (MATURANA;

VARELA, 2002). Na seqüência, o registro nos ilustra uma possibilidade de

aprendizagem observada na perspectiva da recursividade.

[...] Uma pessoa que não é acostumada a ouvir os outros, jamais conseguirá organizar as suas idéias, pois é a partir de opiniões das outras pessoas que tiramos nossas próprias conclusões quanto o que é certo e o que é errado. Portanto, escutar é sempre bom principalmente quando se trata de alguém que só quer o melhor pra nós [...] Assim, aprendemos a ser pessoas melhores, com aqueles que têm outras experiências de vida. (Naya).

Naya nos mostra que o conhecimento é algo produzido na interação e

que o conhecimento produzido, o foi a partir de uma síntese que se faz na

interação entre um conhecimento posto pelo outro, como legítimo outro da

convivência, e o conhecimento anterior, parte do repertório particular já

constituído. Nessa perspectiva, a produção de conhecimento atende as

perspectivas da biologia do conhecimento, que preconiza que aprendemos no

viver e vivemos no conhecer (MATURANA; VARELA, 2002).

Partindo da máxima de que “vivemos no conhecimento e conhecemos

no viver” (MATURANA; VARELA, 2002, p.14), compreendemos que o ato de

aprender requer além do outro e da rotina entre as partes, seja na descoberta

do espaço, na otimização do tempo, nas disputas, ora calorosa ora fria, a

consciência da importância do outro, o que constitui uma manifestação de

humildade. A manifestação de humildade é constatada quando reconheço na

relação com o outro a minha potência e a do companheiro: sem o outro não

conheço [aprendo] (MATURANA, 1998, 2000, 2001, 2004), (MATURANA;

VARELA, 2002), (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004), (grifo nosso).

Reconhecer o outro como legítimo outro na convivência faz-se necessário,

constitui componente da aprendizagem.

A manifestação do outro na convivência é essencial na construção de

um conhecimento. A conduta que nos faz aceitar uns aos outros como legítimo

outro na convivência é um ato amoroso, da mesma forma em que eu

reconheço isso, expresso numa conduta humilde, disposição corporal do

domínio da emoção. Compreendemos, portanto, que a humildade soma-se

como expressão do amor, uma vez que essa virtude constitui uma conduta de

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aceitação do outro como legítimo outro da convivência, como viemos

observando ao longo do texto, a partir dos autores aqui citados.

Ao falarmos de amor, expomos o entendimento de que a confiança

constitui um sentido ético do GGTP, sendo a mesma, também, uma expressão

da emoção. Vejamos o seguinte fragmento, “O apoio das pessoas é

fundamental para se ter segurança. A segurança é essencial em nossas vidas,

ela nos dá o suporte que precisamos para vencer os obstáculos” (Stephany).

Stephany sugere que o apoio coletivo é essencial na tomada da segurança ─ É

importante destacar que a segurança é um valor também essencial para o

praticante de ginástica, pois a atividade em si exige medidas preventivas e

cuidados para a manutenção da integridade do corpo e sua manutenção.

Acreditamos que, o conjunto destes sentidos revela a partitura que contém o

significado para confiança/segurança no convívio do grupo.

A cumplicidade constitui um elemento importante no que diz respeito à

construção da confiança/segurança de um ator social quanto a alguma coisa,

isso inclui a execução de elementos gímnicos ou mesmo da série desses

elementos nas coreografias do GGTP, por exemplo. A fala seguinte fortalece a

idéia exposta: “...tentei passar para outras ginastas, pessoas interessadas em

fazer ginástica ou outra atividade esportiva ou artística, ..., que não

conseguimos nada sozinhos. Há sempre alguém com quem você pode contar,

(...)” (Naya). Seguiremos considerando que a cumplicidade é um fator essencial

que acrescenta a confiança e a segurança um componente ético importante

nas relações observadas. Compreendemos que a cumplicidade só é possível

na convivência, num processo de interação, de experiências e de

conhecimentos.

As pessoas a minha volta são fundamentais para que eu percebesse que o que antes era medo agora fosse realização, pois com muito apoio agente sente mais confiança pra enfrentar as dificuldades. Agora tenho maior confiança nos meus colegas da ginástica, ..., até mais do que no meu professor, porque elas são as mais antigas (...) (Stephany).

A confiança no outro e nas ações a ser realizadas são urdidas na

aceitação do outro como legítimo outro no convívio, portanto, confiança é uma

expressão amorosa. O tempo e as relações nessa convivência são

imprescindíveis na construção da confiança, e da rede de relações que surgem

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ao mesmo tempo em que essa teia amorosa se configura. O amor tece a

cumplicidade que por sua vez tece a confiança, manifestação amorosa. O que

estamos afirmando, a partir da biologia do conhecimento (MATURANA;

VARELA, 2002), é que amor-cumplicidade-confiança constitui uma

circularidade produtiva, ou seja, um relacionamento transacional, em que ao

me emocionar com o outro, geramos uma cumplicidade que pode implicar

numa confiança mútua, gerando novas interações – em si amorosas e

linguajeantes – que implicam em mais confiança. Essa perspectiva atende ao

princípio de recursividade que constantemente recorremos nesse texto a partir

de Maturana e Varela (2002).

Como sugere Stephany, o medo se transforma em segurança no

decorrer do processo vivido com outros, sendo o apoio recebido pelos demais

membros do GGTP, como manifestação da cumplicidade, decisivos para o

enfrentamento do medo. No processo de aula é compreensível que o professor

se divida para assistir todos os envolvidos, desse modo, o parceiro de ginástica

torna-se o principal cúmplice, àquele que passa o apoio de forma mais

intensiva, próxima e constante. Assim, é natural que a mesma exponha sua

confiança maior em seus companheiros em relação ao mestre. Contudo,

veremos a seguir, a partir de outras falas, a importância do professor nesse

processo.

Mesmo existindo a figura do outro como referência, no que cerca o apoio

e a construção da confiança e segurança como enfrentamento do medo ―

tema comum no lidar gímnico e que discutiremos no decorrer desse texto ― é

o ator social quem decide sua ação no instante necessário, como demonstra a

seguinte fala: “[...] Ainda assim sei que mesmo apontando os caminhos, sou eu

quem decide quando e qual o caminho tomar, aprendi isso com o professor

Léo, assim como aprendi com ele a importância que é tomar decisões” (Naya).

Mesmo exposto pelo mestre que a decisão cabe ao indivíduo da ação, é o

mestre nesse instante que está presente como cúmplice, mesmo que não de

forma materializada e sim, na condição de saber corporificado.

Mesmo corporeamente ausente, o mestre tem um papel fundamental na

vida de um ginasta, quando seu ensinamento é incorporado ao aprendiz. O

ensinamento se manifesta de diferentes maneiras, a verbal é só uma

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possibilidade. As ações propriamente ditas são manifestações de saberes

construídos nas interações, no decorrer do convívio. Se a ação do professor

conduz o aluno à confiança, a ação pedagógica também é facilitada. O

seguinte registro confirma a nossa idéia: “A primeira vista já achei o professor

Leonardo contente e atencioso com todas nós. Ele me mostrou muita confiança

e personalidade. Tudo isso contribuiu para eu gostar do que estava fazendo”

(Fabrícia).

A confiança e a segurança urdidas no processo são postos como

valores, expressões da emoção que mobiliza pessoas e acrescenta

conhecimentos aos atores sociais em interação. Demonstra a fala seguinte

parte dessa transformação: “...hoje eu sou mais flexível, mais técnica, tenho

mais confiança e menos medo, e ainda, preservo o prazer em praticar a

ginástica” (Caroline Diniz). A confiança e a segurança mobilizam o ator social à

constante transformação, sendo que essa não se restringe ao campo

morfológico, fisiológico ou mecânico, por exemplo, a transformação resvala no

campo cognitivo, como sugere Caroline Diniz, principalmente quando a faz

pensar e escrever suas experiências.

A minha vida mudou para melhor depois que entrei para a ginástica. Hoje, se quero uma coisa, corro atrás. A ginástica me tornou uma pessoa autoconfiante, isso com a ajuda do professor que, não desiste de nós. Pela persistência dele, sinto maior confiança e esperança de um futuro melhor. Quem melhor do que o professor para te ajudar tecnicamente e te encorajar na vida? Eu descobri que a vida não é feita de derrotas. Pensar assim nos faz pessoas que não desistem fácil; aprendi também que a vida é feita de valores éticos e que as vitórias não são aquelas que nos mostram as conquistas esportivas e sim as lições que ficam. (Pollyana).

As últimas falas não constituem panfletagem do professor em questão,

mas, exemplos dessa confiança que é construída no linguajear e no emocionar.

E é a partir desses dois domínios que estamos apostando na relação entre

professor e alunos no GGTP. Nesse sentido, compreendemos que são naturais

que as expressões de confiança e de segurança se manifestem entre as partes

em interações, em forma de emoções e de conhecimento, principalmente por

acreditar que, o educar é uma manifestação da auto-organização de

linguagens, na qual os sujeitos envolvidos propiciam e desencadeiam, uns nos

outros (ASSMANN, 2007). A nosso ver o processo de auto-organização só é

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possível na convivência, o que implica em pessoas em interações, e que a

priori, exige confiança e segurança entre os envolvidos.

O que queremos demonstrar aqui é que os valores em questão são

produtos dessa auto-organização (MATURANA; VARELA, 1997, 2002), e que,

essa auto-organização transforma recursivamente os sujeitos em interação

constante, o que deslumbra um significado de corpo que diverge do corpo

pensado na tradição da Educação Física, e mesmo, da Educação.

Concordamos com Nóbrega (2005, p.18) quando diz que “os conceitos de

corporeidade, corpo-sujeito e consciência corporal, bem como seus

desdobramentos, contribuem para a compreensão do próprio homem e de suas

possibilidades de ação no mundo”; contudo, compreendemos que é no afazer

que conhecemos a nossa condição, não mais como homens ou mulheres, mas

na condição de seres humanos que agimos no mundo. Esclarecemos que a

autora supracitada não nega a última possibilidade, uma vez que a mesma

lança mão de um projeto de Educação e de Educação Física que supere

qualquer dicotomia, aportada por Merleau-Ponty, no conjunto da obra

investigada pela autora, que preconiza, entre outras coisas, a integração do

corpo na perspectiva de totalidade do ser humano.

Merleau-Ponty (1992, 1999), compreende a linguagem como

instrumento de concepção do mundo, que não se esgota em si, mas que se

amplia para a análise dos nossos significados. Os entendimentos

merleaupontyanos da linguagem como criação do mundo e da idéia de

representação desse mundo, na metáfora do espelho (MERLEAU-PONTY,

2004), onde o artista expõe sua ótica, a partir de suas referências, nos

sugerem um corpo constantemente revisitado, visto sua condição de sujeito

que existe no mundo com outros. É nesse viver com outros que somos

capazes de sermos transformados transformando, e de até, mudar ou não a

nossa realidade.

Conseguimos ser vitoriosas quando tomamos decisões, a decisão de dar o primeiro passo na trilha que nos leva a realização de nossos sonhos. Antes de seguir em frente temos que ter a convicção se é esse o caminho que queremos seguir de verdade, pois temos várias escolhas e, dependendo da nossa escolha, nossa vida pode mudar pra melhor ou pra pior (Pollyana).

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Pollyana é um desses sujeitos em constante modificação, produto de um

devir que articulam atores sociais na ação pedagógica no GGTP, uma ação

pedagógica pensada a partir da GG, desejo comum, parte dos anseios de seus

componentes. Nesse sentido, compreendemos que a própria ação pedagógica,

também é produto do devir. Sendo assim, afirmamos que, como os sujeitos, o

processo pedagógico se modifica recursivamente. Compreendemos também

que essas relações tecidas no convívio, assim como o próprio afazer, geram

conhecimentos. Os conhecimentos são produtos das interações dos

componentes do GGTP no próprio grupo, assim como, da trama destes com os

demais conhecimentos aprendidos nos diferentes ambientes propiciadores de

experiência do conhecimento, por exemplo, a família, a igreja, ou mesmo,

outros seguimentos dentro da própria escola. Portanto, compreendemos que o

GGTP é mais um ambiente em que as relações se efetivam na linguagem,

como sugere Maturana (1998, 2000, 2001, 2004), assim como, Assmann

(2007).

Abrir um espaço de presença do outro junto a si constitui uma disposição

corporal na qual Maturana (2000, 2001, 2004) denomina amor. Para o autor, o

amor não é próprio do homo sapiens sapiens, mas de todos os seres vivos que

em seu comportamento seja identificada essa disposição, ele cita como

exemplo os seres sociáveis. O amor é fruto dessa deriva, dessa história

particular dos sistemas sociáveis, das interações, principalmente a partir da

maternidade (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004). Não caiamos na

armadilha maniqueísta de afirmar ou negar a condição do amor pela ótica da

biologia ou da antropologia, reduzindo o amor a uma ordem natural ou cultural.

O amor é uma disposição corporal em aceitar o outro junto a si (MATURANA,

2000, 2001), (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004), desse modo, o amor

pertence ao campo das interações que só é possível, quando pensamos

articulando o que é próprio da biologia com o que é da antropologia.

“Agradeço primeiramente a Deus depois ao professor... e a direção da

Escola..., por acreditar em nós e nos apoiar nos momentos em que mais

precisamos” (Yaponira). A gratidão é uma manifestação de reconhecimento do

outro como legítimo outro na convivência. Compreendemos que toda

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manifestação da gratidão está contida numa forma de pensar o outro como

parte de si e do projeto comum que unificam as pessoas na convivência.

Uma das coisas importantes do professor Leonardo é que ele sempre está com agente nas lutas, nas apresentações das coreografias, tenham elas sido bem ou má executadas. Mesmo com as dificuldades, adversidades, o professor ainda não desistiu de nós e, ainda assim, está sempre do nosso lado. Sou grata por ele não desistir daquilo que é importante pra ele e para nós, ou seja, o GGTP. (Caroline Diniz).

A virtude está no reconhecimento do outro, manifestação da emoção

como parte do sucesso, da autorealização do desejo pessoal que é, também,

coletivo. Expressa Caroline Diniz desdobramentos dessa convivência, a saber:

aprendizagem, esforço, conquista, autoconfiança e superação das dificuldades.

São esses desdobramentos que suscitam nela um sentimento de gratidão, o

que implica que a mesma enlaça o outro em sua emoção pela realização do

desejo que é antes de tudo pessoal, mas que compartilhado, passa a ser um

bem comum. Nesse sentido, compreendemos que o desejo compartilhado

passa a ser um compromisso de reciprocidade das atenções, dedicações e

emoções coletivas, quando e somente, é compartilhado entre os diferentes

componentes.

A partir de ensaios sobre aculturação e mudança cultural, em “Amar e

Brincar: fundamentos esquecidos do humano”, Maturana em parceria com a

alemã Verden-Zöller (2004), expõem sobre o desenvolvimento da consciência

individual e social da criança, na qual a existência humana é posta como um

acontecimento no espaço relacional do conversar. Posto ainda que na

condição de animal, homo sapiens, temos um modo de viver que revela nossa

condição humana, uma condição imersa no conversar. O conversar é

entendido como o entrelaçamento entre o emocionar (vivenciar as emoções) e

o linguajear (o que constitui a linguagem). Para Maturana e alguns de seus

parceiros (MATURANA, 1998, 2000, 2001, 2004), (MATURANA; REZEPKA,

2000), (MATURANA; VARELA, 2002), ao vivermos, fluímos de um domínio de

ação a outro num contínuo conversar: “Existimos como resultado atual de um

porvir de transformações anatômicas e fisiológicas, que ocorreram em torno da

conservação do viver no conversar” (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004,

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p.10). É conversando que compartilhamos sensibilidades, entendida nesse

sentido como emoções.

[...] A vida humana, como toda vida animal, é vivida no fluxo emocional que constitui, a cada instante, o cenário básico a partir do qual surgem nossas ações. Além disso, creio que são nossas emoções (desejos, preferências, medos, ambições...) – e não a razão – que determinam, a cada momento, o que fazemos ou deixamos de fazer. Cada vez que afirmamos que nossa conduta é racional, os argumentos que esgrimimos nessa afirmação ocultam os fundamentos emocionais em que ela se apóia,... (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004, p.29).

Compreendemos assim, que nossa conduta está posta no domínio das

emoções, uma vez que segundo os autores (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER,

2004), é no fluxo das mesmas que nós agimos e existimos. A manifestação das

emoções vividas pode explicar os rumos das interações entre os atores sociais.

O comportamento humano corresponde às condutas ou ações – termos

utilizados por Maturana (MATURANA, 1998, 2000, 2001, 2004), (MATURANA;

REZEPKA, 2000); (MATURANA; VARELA, 2002), (MATURANA; VERDEN-

ZÖLLER, 2004), ora como distintos, ora como correspondentes – que revelam

um modo de vida, uma existência que se faz não só na relação com o outro,

mas no emocionar-se com outros.

Não posso esquecer de quem nos ensinou os exercícios e principalmente os valores da conquista pelo esforço e da autoconfiança, daquele que nos anima e nos organiza, e ainda, que nos faz capazes de superar os desafios e entender as exigências que a ginástica nos impõe como força, inteligência, desempenho, maturidade e disciplina. [...] Por tudo isso, posso afirmar que ele é um dos mais importantes no GGTP, pois é com seu modo de pensar e de agir que observei e conheci essas coisas. Ele também é muito importante na nossa vida, eu em particular devo muito a ele (Pollyana).

Percebemos o efeito da gratidão como resultado da aplicação,

dedicação do outro. Essa doação de si é uma atitude acima de tudo altruísta,

mas que se opera no convívio e na reciprocidade das atenções e afetividades:

“[...] Ele [o professor] foi um grande pai e uma grande mãe nessa viagem. Sou

grata ao professor Leonardo pelo cuidado dele conosco” (Fernanda, grifo

nosso). A confusão que se estabelece quando a figura do professor é tomada

como a do pai e/ou da mãe constitui uma normalidade, em conseqüência da

postura materna do próprio professor frente aos seus alunos. Vejamos o que

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diz Maturana (2004, p.20): “A maternidade, seja ela feminina ou masculina, é

um fenômeno cultural, que pode ou não ser vivido em coerência com seus

fundamentos biológicos; e as conseqüências são diferentes em cada caso”. A

suposta postura materna do professor é a manifestação de uma predisposição

matrística, uma maneira de viver em co-inspiração entre seres humanos, na

qual é possível a co-participação numa convivência acolhedora e libertadora

para as partes envolvidas, em contraposição ao modo patriarcal que

hierarquiza e nega o outro como legítimo outro na convivência (MATURANA;

VERDEN-ZÖLLER, 2004).

A gratidão não é fruto apenas da relação mestre-aprendiz, mesmo entre

os aprendizes é possível verificar a manifestação dessa virtude: “[...] No GGTP

eu aprendi a lutar pelo que eu quero, aprendi a pensar antes de tomar

decisões, aprendi que a vida não teria sentido se não fossem as amigas que

temos” (Llows). Reconhecer o companheiro de ginástica como parte do

processo é tomá-lo como parte do que se é, é reconhecer em si o outro.

[...] Esses momentos especiais em que estamos reunidos só o são porque estamos entre pessoas que podemos contar. As amizades que eu fiz durante o tempo que estou na ginástica são para mim eternas. Mesmo que por algum motivo eu nunca mais veja estas pessoas eu sempre vou lembrar delas pelos seus gestos e vou considerá-las minhas amigas. (Pollyana).

Aquele que é grato reconhece na ação do outro, a atitude benevolente.

Em reconhecer o gesto, se reconhece o outro como legítimo ser da

convivência. O reconhecimento além de ser uma virtude de caráter, uma

atitude moral, é uma manifestação de amor. Àquele que é reconhecido em sua

atitude, recebe na gratidão uma manifestação do reconhecimento, a

manifestação do amor do outro. Reconhecer, além de ser um exercício do

caráter, é um exercício da emoção. A gratidão é um ato amoroso que aproxima

pessoas e as tornam amigas ou quistas, cujo tempo é uma variável não

determinante nessa condição.

Ao amar nós trocamos com outros a esperança, o conhecimento, outros

sentimentos e, porque não, fluídos de vida. Ao amar cultivamos no convívio

com outros seres, humanos ou não, valores que ajudam a contar a história do

nosso viver, como também do viver em coletividade. Outro aspecto do amor,

não menos importante é seu aspecto aglutinador de pessoas em torno de uma

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causa, que pode ser a superação de uma dificuldade comum, como vimos; ou

até mesmo questões de ordem política. Ao amar nós nos transformamos e

transformamos o lugar e as pessoas do nosso convívio, construindo assim a

história do nosso viver em coletividade. O que nos faz lembrar a educação

autêntica, na perspectiva de Freire (2005) que preconiza uma educação de um

com o outro, em detrimento de manifestações da educação que cultivam as

seguintes equações: um para o outro; um sobre o outro.

No decorrer do texto, ora alicerçados pelos autores, ora pelos

fragmentos de textos, expressão dos atores sociais dessa pesquisa, discutimos

valores/emoções que nos conduz a pensar numa outra conduta: a

benevolência. A benevolência também compõe o pool de indicadores citados

pelos atores sociais pesquisados. A compreensão que cerca o termo

benevolência traz em si vestígios de uma tradição religiosa cunhada em

valores morais, ora pagã ora cristã. A benevolência se distingue de outras

atitudes pela prática do bem, como reflexo do que está posto nos diferentes

paradigmas do Bom Sumo (MARCHIONNI, 2008). Não é nosso objetivo aqui

identificá-los. Consideraremos nesse instante a benevolência como um ato de

bondade, parte da experiência dos componentes GGTP.

[...] O GGTP é formado por pessoas admiráveis, com que se pode contar, pessoas que sempre terão uma palavra de conforto nas horas difíceis e uma palavra de incentivo a qualquer momento, pois amigo é aquele que lhe apóia em seus fracassos, torce pelo seu sucesso e fica feliz quando esse chega [...] (Llows).

O ato benevolente aqui expresso por Llows não é em si uma

possibilidade que se efetiva numa aligeirada e pretensiosa definição, é um

emaranhado de sentidos que passa por diferentes atitudes que laça os demais

atores sociais numa relação de cumplicidade quando um conforta, incentiva,

apóia, torce e fica feliz com o outro. Atitudes desse porte revelam a faceta

benevolente dos sujeitos e, também, do grupo em si. Essa faceta nos indica

que a benevolência apresentada não está no fluir da razão ou na tradição

cristã, a partir do culto ao Consolador. Embora outras falas reescrevam um

sentido próprio da cultura cristã impregnada, e por vezes, determinante na

convivência dos sujeitos, defendemos que a benevolência aqui praticada tem

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origem na manutenção do objeto de desejo compartilhado: o afazer na

ginástica geral.

Sublinhamos a ação pedagógica como um vetor nesse caminho de

materializar o bem. Destacamos o engajamento político de ex-alunos da Escola

Municipal Terezinha Paulino, praticantes de ginástica e ainda integrantes do

GGTP. Pontuemos o primeiro caso de engajamento nesse sentido: a ginasta

retornou pedindo para continuar no GGTP, mesmo fazendo parte da sua nova

equipe. Aceitei sem restrições. A mesma argumentou que queria ajudar as

meninas mais novas, com menos experiência. Naquele instante, tudo que

investi e apostei numa proposta educacional norteada por uma cultura altruísta,

emergiu com uma força impressionante. A atitude dessa aluna ginasta me

emocionou profundamente, vi meu trabalho enquanto professor germinar. A

mesma continua compromissada em passar sua experiência para as neófitas.

Esse tipo de atitude é constante, exercida com freqüência num ambiente

comum de aprendizagem, e que, nos faz pensar numa educação solidária.

“[...] Ela faz de tudo pra me explicar e às vezes para me ensinar algum

movimento ou exercício que eu ainda não sei fazer direito” (Fabrícia). A ajuda é

outra manifestação de benevolência entre os pares. Atitudes dessa natureza

revelam condutas morais que se manifestam no ato voluntário temporário,

como no caso dos universitários, e/ou no ato compromissado e engajado de

Fabrícia. Estas manifestações de benevolência implicam na troca de saberes

entre os envolvidos. Estas manifestações ou ausência delas é o que nos faz

benevolentes ou não, circunstância em que nós nos distinguimos e somos

distinguidos uns dos outros (MATURANA, 1997).

Eu tenho orgulho de saber fazer ginástica, pois é através desse saber que posso ajudar as outras meninas iniciantes e, assim, aumentar nossa família. Isso é importante pra mim porque eu estou ajudando a ginástica e ajudar sempre é bom. Eu gosto de ajudar, e é disso que eu gosto. (Pollyana).

Pollyana ao se colocar nessa condição de doadora de si, até como

forma de proteção do bem comum, manutenção do grupo, manifesta o sabor

pela conduta altruísta. Ela afirma diversas vezes, para dar ênfase, a satisfação

que sente em ser útil à alguém. No momento em que a mesma deixar de ser

coerente com essa sua circunstância, ela deixará de existir nessas

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circunstâncias (MATURANA, 1997). Compreendemos que a coerência em

questão está não na satisfação em ajudar ao próximo, mas na possibilidade de

aumentar a rede de pessoas conectadas pelo desejo comum.

Mesmo distintos em voluntários esporádicos ou politicamente

comprometidos, alunos ginastas, aprendizes ou mestre, todos somos

beneficiados no processo, pois aprendemos com o outro a todo instante, numa

rotina recursiva que destaca sempre o novo como produto. Ao tomarmos a

máxima anunciada por Maturana (1997) “viver é conhecer”, compreendemos

que a troca de experiências deixa um legado moral que carregamos,

independentemente da distinção, durante a nossa existência.

Creio que isto é muito fácil de acontecer, se educarmos a criança desde pequena no respeito por si mesma e no respeito pelo outro, respeitando-a e respeitando-nos a nós mesmos na relação com ela. E a isso incluímos a prática da reflexão sobre o afazer, de modo que possamos corrigi-lo em função de noções que surgem na convivência social (MATURANA, 1997, p.46).

Percebemos nessa citação que a atitude da ginasta de retornar para

“ajudar” as iniciantes é conseqüência de uma conduta moral apreendida no

convívio, mas que implica a manutenção do mesmo. A ação altruísta é uma

ação que nasce anteriormente: no desejo e na manutenção do mesmo. A

benevolência é uma ação posta na experiência emocional do sujeito com

outros e cultivada no linguajear e no emocionar. Nesse sentido,

compreendemos que a benevolência é compartilhada da convivência, como

uma emoção/valor, portanto, conduta que implica na manutenção da própria

convivência. É na partilha que se instala a conduta moral, resposta de um

apelo ético do viver com o outro no amor: “O amor é a biologia da aceitação do

outro” (MATURANA, 2001, p.105). É nesse sentido que desde já apostamos

numa possibilidade formadora à qual estaremos denominando de pedagogia do

amor, compreendendo a mesma como uma possibilidade que humaniza, em

detrimento do embrutecimento.

[...]“A preocupação ética, como preocupação com as conseqüências que nossas ações têm sobre o outro, é um fenômeno que tem a ver com a aceitação do outro e pertence ao domínio do amor. Por isso a preocupação ética nunca ultrapassa o domínio social no qual ela surge” (MATURANA, 1998, 73).

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Condutas relacionais da convivência ______________________________________________________________________

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Portanto, acreditamos numa educação em que educamos com o outro,

mediatizados pelo mundo. “Mundo que impressiona e desafia a uns e a outros,

originando visões ou pontos de vista sobre ele” (FREIRE, 2005, p.97).

Enfatizamos assim que, ao educar nos educamos, pois a educação se dá no

espaço em que aprendemos a partir de um desejo comum que nos move e nos

faz parceiros, aceitando o outro como legítimo outro na convivência.

Acreditamos que “Todos os espaços de ações humanas fundam-se em

emoções. Todo sistema racional se funda na aceitação de certas premissas a

priori” (MATURANA, 2001, p.109); e que “...o amor é a emoção que funda o

social e não se esgotou, ele está aí” (MATURANA, 2001, p.105). Esse conjunto

de informações constitui parte do conjunto de idéias que cercam uma

possibilidade de intervenção pedagógica na escola a qual estamos desde já

denominando de pedagogia do amor.

Defendemos que a educação é uma atividade amorosa que se dá entre

diferentes atores sociais em convivência e ávidos por um desejo comum, que

os aproxima, os move e os fazem criar. É no conviver, nessas circunstâncias

que somos coerentes com uma aprendizagem circular, recursiva e engajada

politicamente. Apostamos que a educação só se efetiva na solidariedade, e

que, essa forma de pensar a educação amplia a possibilidade de uma

educação autêntica, baseada não na superação das disputas de classe, mas

na defesa do nosso maior objeto de desejo: o viver com outros.

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Condutas relacionais indesejáveis e não-sociais ______________________________________________________________________

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CONDUTAS RELACIONAIS INDESEJÁVEIS E NÃO-SOCIAIS

Vimos no decorrer do capítulo anterior que o amor é um aspecto

fundamental do humano, constitui-se uma disposição corporal em aceitar o

outro como legítimo outro na convivência. Nesse sentido, compreendemos que

a negação do outro como legítimo outro na convivência é uma disposição

corporal contrária ao amor.

Existem outras emoções além do amor. Algumas o negam, outras não, outras se entrecruzam com ele. O emocionar da convivência no discurso, na linguagem, não pode nem deve ser negado, porque é com ele que se dá o viver humano (MATURANA, 1998, p.77).

A ausência da manifestação das emoções pode implicar na condição

humana do ser, como no caso clínico dos alexitímicos. Uma pessoa pode ser

acometida de alexitimia14, um fenômeno explicado pela psiquiatria para

designar pessoas que tenham dificuldade de expressar com palavras seus

sentimentos; uma pessoa com um vocabulário emocional seriamente limitado

(GOLEMAN, 1995). Porém, nem todo ser que não expressa sentimento é um

alexitímico, ou um ser sem sentimentos. E mesmo os alexitímicos podem

manifestar com gestos compaixão, ternura e outras emoções, sentimentos e

valores. O que torna sua condição humana em parte limitada pela limitação do

saber expressar (GOLEMAN, 1995). Portanto, a falta de expressão das

emoções não deve ser tomada como ausência delas.

Pensaremos a falta de expressão das emoções ou a dificuldade em

expressar emoções como condutas relacionais não-sociais ou indesejáveis na

convivência. A partir de Maturana (1998, p.69), compreendemos que “as

relações humanas que não se baseiam na aceitação do outro como legítimo

outro na convivência não são relações sociais”. As condutas que negam o

outro no espaço de interações que evidencia a prática da ginástica na EMTP e

as condutas que dificultam a convivência constituem o foco desse capítulo.

14 Termo cunhado pelo Dr. Peter Sifneos (psiquiatra de Havard) em 1972. Alexitimia: do grego a (ausência), léxis (palavra) e thymós (emoção). (Goleman, 1995, p.64).

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Aqui estão os indicadores que correspondem às condutas relacionais

indesejáveis e as não-sociais.

Partimos do pressuposto de que nem tudo que se refere à convivência

constitui qualidade moral. O componente competitivo, por exemplo, é um vetor

interessante no qual é possível destacar algumas situações conflituosas que

geram intrigas. No universo competitivo nem tudo é concílio, como ilustra a fala

a seguir: “Competição é a porta para as intrigas, mas também, é a porta para o

prazer, o sucesso e a felicidade. O problema é que tem pessoas que acham

que a vida só é feita de competições e, que tudo que vão fazer tem que

ganhar” (Caroline Diniz). Atitudes virtuosas e não virtuosas circulam o universo

competitivo na qual observamos que o conflito é tão vivo quanto o ato de

transigir.

[...] um sentimento de competição se formou entre nós: quem era melhor do que quem? Pensávamos que respondendo essa questão encontraríamos a campeã. Um erro. Isso só gerou intrigas, fofocas, inveja, contendas, desconforto, desprazer, tristeza e desunião, trouxe ainda, raiva, mentiras, orgulho e a falta de motivação. (Caroline Diniz).

As intrigas são portas para outros contra-valores, por exemplo, inveja,

contendas, mentira, como anuncia Caroline Diniz ao se referir a competição de

ginástica da qual participou, como parte dos Jogos Internos da Escola

Municipal Terezinha Paulino em 2008. É um componente negativo que trás

tristeza, fofocas, desconforto, falta de prazer e de motivação, além da

desunião, desagregando as pessoas e minando as interações, a partir da

negação do outro como legítimo outro na convivência. Essas condutas anti-

sociais indicam que não somos o tempo todo sociais (MATURANA, 1998,

p.71). O próprio Maturana, afirma que a nossa condição de aceitar o outro não

é um fenômeno cultural, de outra forma, que a delimitação ou restrição do outro

esse sim, tem a ver com o domínio cultual, pois é no modo de convivência que

justificamos de forma racional essa restrição, como nos indica Fabrícia a

seguir: “Na ginástica também acontecem as intrigas. [...] Ouvia comentários e

via outras meninas cochichando nos cantos; ao mesmo tempo olhares

intrigantes nos vigiavam” (Fabrícia). Tomando o fragmento de texto do Fabrícia,

podemos pensar que o ato operado não foi a conversa, e sim, a intriga. Pois, a

conversa é em si um ato edificante, consciencioso e de transigência.

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Compreendemos que muitas vezes as intrigas são geradas na falta

desse componente da convivência, o conversar. Vejamos a seguinte fala: “As

pessoas que pensam em fazer intrigas e implantam a desunião, só pensam em

si, são egoístas. Essas mesmas pessoas, agindo dessa maneira, mostram que

tem dificuldade em dialogar” (Caroline Diniz). Esse sentido nos faz pensar na

intriga como uma antítese ao ato de conversar e de dialogar. O linguajear, ora

tomado como diálogo e mesmo que conceitualmente não se refira ao caráter

político que damos ao esse termo, é lentamente negado nesse processo.

Compreendemos também que, a conversa e o diálogo são estratégias

da interação, estratégias estas que unificam, fortalecem os laços entre os

indivíduos, aproximando os atores sociais na convivência. Lembremos

Maturana e Verden-Zöller (2004) quando sustentam a tese da linguagem como

fenômeno relacional. A partir dessa tese compreendemos que a intriga embora

ocorra no linguajear, não se constitui uma conversa, pois, a conversa é

amalgamação entre o linguajear e o emocionar (MATURANA, 1998, 2000,

2001, 2004), (MATURANA; REZEPKA, 2000), (MATURANA; VARELA, 2002),

(MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004). Nesse sentido, a intriga pode

evidenciar carência, demanda ou, em última instância, ausência de amor, pois

constitui em si apenas um linguajear, desprovido dessa emoção edificante. O

que nos resta saber que toda intriga constitui uma antítese da interação, pois

ao contrário da interação, a intriga distancia pessoas.

Considerando ser possível pensar na intriga como conduta indesejável

da boa convivência, ao tomarmos a idéia posta por Maturana e Verden-Zöller

(2004) de que a existência humana se dá no espaço relacional do conversar,

logo compreendemos que a intriga nega a existência humana, mas ocorre

nesse mesmo. Refutar a intriga é um desafio posto, pois o mesmo é inevitável,

principalmente quando compreendemos que ele se renova com o tempo,

quando está em jogo o objeto de desejo, ou de outra forma, quando insistimos

em tornar o outro igual a nós15. O conflito de interesse ou a renovação dos

desejos constituem razões da disputa sempre.

15 Freire (2007), ao escrever sobre convivência e aprendizagem, constitui um diálogo entre semelhanças e diferenças, que aborda a idéia do conflito em razão de uma preocupação constante das nossas instituições escolares, em geral, que consiste em alimentar o vício de nos tornar iguais, rejeitando ou excluindo a possibilidade e riqueza da individualidade para o convívio.

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A seguir, apontaremos novamente como referência, um evento que

ocorreu no espaço relacional do grupo, um festival competitivo realizado como

parte do processo pedagógico. Referimos-nos ao torneio de ginástica dos jogos

internos da escola em 2008. Através desse evento os integrantes do GGTP

vivenciaram uma experiência competitiva. O aspecto positivo de reproduzir um

ambiente da cultura competitiva, reproduzindo inclusive a atmosfera que cerca

o fenômeno dentro do espaço escolar, constitui uma estratégia pedagógica, na

qual temos a possibilidade de discutir valores e de avaliar o comportamento

dos atores sociais na competição.

O torneio proporcionou alguns avanços, por exemplo, quanto à melhoria

da qualidade técnica e de manifestações de companheirismo, mas também

trouxe intrigas. Estas últimas geradas a partir da idéia cultivada pelas próprias

competidoras, no decorrer do caminho que a competição apontaria a melhor

ginasta, objeto de desejo comum. Apontar qual a melhor nesse ou naquele

aparelho ou na condição da ginasta mais completa, além de objeto de desejo,

constitui a própria razão da disputa.

Muito embora, sabemos que as competições integram o legado cultural,

por se tratar de um fenômeno criado e institucionalizado em diferentes

civilizações ao longo do tempo, ou seja, historicamente produzido pela

humanidade, sabemos que a razão que cerca o fenômeno competitivo é a

classificação dos competidores a partir de um princípio pré-estabelecido: quem

tem mais força, resistência, velocidade, agilidade, flexibilidade, só para citar

alguns vetores.

Na busca de classificar, hierarquizar, as ginastas experimentaram a

reciprocidade de negação mútua entre si, condição essa que nos faz tomar as

competições, nesse sentido, como espaços de relações não-sociais

(MATURANA, 1998). Ao apontar a melhor ginasta, conhecemos também a pior,

e foi nesse espaço que a intriga foi gerada. Com base nesse mesmo autor,

compreendemos que a hierarquização e sua manutenção no âmbito das

interações, constituem mecanismos de coordenação de conduta entre pessoas

que não constituem sistema social, principalmente se considerarmos que

“dentro do sistema social opera-se numa congruência de conduta que se vive

como espontânea, porque é o resultado da convivência na aceitação mútua”

(MATURANA, 1998, p.71).

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Por outro lado, compreendemos que o fenômeno competitivo só é

possível quando duas ou mais pessoas dividem esse desejo comum. Porém, o

desejo comum compartilhado pela competição é fronteiriço com o desejo

comum pela hierarquização do podium. É nessa fronteira que se confrontam a

condição das relações social e não-social, quando aceitamos o outro como

legítimo outro na convivência da prática esportiva, ao mesmo tempo em que o

negamos no instante da disputa. Para Maturana (1998) é possível observar um

discurso de aceitação e uma ação de negação. Para o mesmo, a competição é

um exemplo, mas que em si constitui um fenômeno de negação mútua.

Percebemos que é possível criar uma situação no ambiente escolar que

simule uma situação competitiva, em que as relações não-sociais se dão com

as sociais, a partir da própria conduta que se engendra na ação competitiva,

mesmo que isso implique num discurso de aceitação e uma ação de negação,

quando sua razão constitui aferir o mais rápido, o mais ágil, o mais forte, o mais

flexível, o mais expressivo, enfim, classificar, quando as pessoas compartilham

a vontade pelo fenômeno competitivo. Destacamos que o desejo de competir

partiu das próprias ginastas. As mesmas manifestaram verbalmente o interesse

pela competição e se organizaram para que o mesmo acontecesse. Essa

organização em torno da realização do desejo comum constitui uma atitude

política, traço marcante dos membros do GGTP.

A partir do evento realizado, observamos que os conflitos são

engendrados quando há disputa ou choque de interesses. Vejamos o seguinte

fragmento: “É muito egoísmo pensar que só vamos ganhar, até porque pra um

ganhar outros têm que perder. A competição reina na vida, seja nos esportes,

nas artes, no trabalho, por isso, é importante saber conviver com ela” (Caroline

Diniz).

A adequação da competição a situação (desafio) e não ao outro

(adversário), foi tratado por Araújo (2005). Na oportunidade, essa mesma

autora nos mostra a partir das aulas de Educação Física na escola que é

possível vivenciar outras possibilidades de competição deslocando sua

compreensão na tradição para uma perspectiva mais humana, quando nos

referimos aos paradigmas humanistas da educação. Nesse sentido,

compreendemos que o fenômeno competitivo pode ser vivido na escola de

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forma que o fenômeno não incite a negação do outro, mas a superação do

desafio posto.

Considerando que o ato competitivo entre pessoas não implica tomar o

outro como inimigo na relação, mas sim como adversário, compreendemos que

uma coisa não implica na outra. Quando aceitamos disputar com o outro,

aceitamos o outro como legítimo outro na convivência, ao mesmo tempo em

que postergamos a negação um do outro no fim da disputa, quando

hierarquizamos entre vencedores e vencidos. Portanto, podemos afirmar que

há conduta de aceitação do outro como legítimo outro na disputa esportiva, ao

mesmo tempo em que há a negação, quando no instante final da disputa

esportiva deslocamos o outro para uma condição inferior.

Enfatizamos que é nessa fronteira que se confrontam as condições das

relações sociais esportivas. Destacamos ainda que, não podemos tomar toda e

qualquer disputa, ou ato competitivo como uma ação de contenda e intriga.

Compreendemos assim que, mesmo que a disputa se dê em um nível

lúdico e festivo, não deixa de ser uma disputa. E mesmo que prevaleça a idéia

de se “vencer a qualquer preço”, a competição não tornam as pessoas

inimigas, faz delas oponentes, muito embora, consideramos que essa atitude

predispõe conflitos mais acentuados quando compartilhada por dois ou mais

sujeitos envolvidos na mesma disputa.

É importante sublinhar que a disputa não se dá apenas na cultura

competitiva, ela acontece dentro da própria prática da ginástica geral, por outro

ângulo. A disputa na GG é pelo espaço, portanto territorial. Os atores sociais

buscam espaços: nas coreografias, isso inclui, além da disposição no espaço

propriamente dito, os papéis representados nelas; na quantidade de tempo que

aparecem nas apresentações; no número de coreografias e de festivais que

participam, contadas pelo número de medalhas de participação; na quantidade

de exercício que executam e que dominam. Compreendemos que essa

conduta no âmbito da ginástica geral é perniciosa, uma vez que potencializa a

criação de um espaço de relações não-sociais, na qual os próprios atores

sociais envolvidos se negam mutuamente.

A partir de Maturana (MATURANA, 1998), (MATURANA; REZEPKA,

2000), (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004), compreendemos que é na

supressão dos conflitos que se desenha o quadro amoroso, de amizade e

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união, condição para um grupo de pessoas melhores, como demonstram os

fragmentos a seguir: “...acredito que vai ser cada vez melhor [o grupo], porque

somos muito unidas e queremos muito bem umas as outras e a ginástica

também” (Caroline Bezerra, grifo nosso); “[...] E foi com muita união que

conseguimos mudar a história do grupo para melhor. A união nos ajudou a

persistir e a realizar sonhos. A união nos leva a não desistir” (Caroline Diniz). É

nesse sentido que defendemos uma proposta para a educação, a partir de uma

compreensão de uma existência amorosa, sem alienar o sujeito sobre o

universo da razão que nega essa existência no amor, considerando que:

O cerne ético, antropológico e político do conhecimento, ou seja, a radicalidade democrática e a inclinação a soluções pacíficas dos conflitos que surgem no convívio social humano, são dimensões do conhecimento que precisam ser criadas no interior dos processos de aprendizagem. Em termos mais tradicionais, trata-se da formação humana e política dos cidadãos. (ASSMAN, 2007, p.113).

Compreendemos que o educar não é uma pintura estanque, sua

dinâmica sugere conflitos e concílios. É no viver com outro que se aprende:

“[...] E é a amizade que nós construímos que nos ensina muita coisa, uma

delas é a própria convivência [...]”; “[...] Sempre que existe um diálogo há uma

troca de pensamentos de opiniões de pontos de vista, que somente com uma

conversa poderemos chegar a um lugar, a um acordo, a uma decisão”

(Pollyana). Nesse sentido, encontramos no conversar e no dialogar não só as

condutas, com as quais nós nos municiamos para suprimirmos qualquer peleja,

mas os fundamentos que implicam nas dimensões do conhecimento. Portanto,

educar predispõe manter a conversa e o diálogo na construção do

conhecimento.

Verificando a amizade como exemplo da manifestação amorosa,

compreendemos que é na consolidação da amizade que se eclode um

sentimento capaz de perceber no outro valores que comumente não é

observado:

Não se podem escolher amigos do jeito que a gente quer; não é preciso mudar as pessoas para que elas sejam suas amigas; não podemos excluir as pessoas só pelo jeito dela ser ou, por algo que você não gostou nela. Essas atitudes podem nos levar a perder ótimas oportunidades de amizade. É necessário que haja respeito entre as pessoas e suas diferenças. (Pollyana)

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Olhar e perceber o outro no convívio é reconhecê-lo como parte desse

viver, ou seja, dessa aprendizagem. É o saber aprendido nessa relação

amigável que nos faz enxergar o outro e a nós mesmos. Conviver com o outro

é cultivar amizade, permitindo-nos conhecer e reconhecer o outro, como parte

desse quadro vivo, o que nos leva a pensar a amizade como um componente

político dessa aprendizagem que se faz na convivência. Desse modo,

compartilhamos com Freire (1995) o pensamento de que educar também é um

gesto amoroso e político, envolvendo duas ou mais pessoas.

Vejamos o fragmento: “..., o tempo é nosso amigo, é ele que nos faz

esquecer e perdoar as brigas, as tristezas e, assim, melhorar a convivência”

(Caroline Diniz). Ao julgar o tempo como o senhor das soluções, esquecemos

que não é o tempo em si o componente essencial da comunhão, mas, a

possibilidade de viver com o outro nesse tempo, o conflito e a busca pelas

soluções das animosidades no conversar. Soluções encontradas entre amigos,

parceiros no convívio. Desse modo, compreendemos que a convivência abre

um campo de aprendizagens que se sucedem no tempo pela interação entre

pessoas.

No grupo somos ginastas, porém, em primeiro lugar somos amigas. Quase sempre estamos todas juntas no colégio. Nesses momentos procuramos saber ainda mais sobre cada uma. Considero todas amigas, umas mais do que as outras, mas o importante é o que eu sinto sobre elas em geral, muito carinho. A cada dia ficamos mais próximas umas das outras e, assim, consolidamos grandes amizades. Tenho a felicidade de poder ter novas amigas que posso contar em alguns momentos. (Fabrícia).

Fabrícia, ao expor a constituição dos componentes do grupo, revela a

condição de sujeito/indivíduo que, nessa condição, é capaz de interagir com

outros, negando o sentido posto pelo olhar alheio que enxerga nos ginastas

uma caricatura de pessoas, como variações de um objeto autômato, sem

vontades e extremamente competitivas.

Em parte, essas caricaturas são construídas quando os ginastas são

postos à avaliação aligeirada e de longe, por pessoas alheias, por exemplo, no

relato de uma componente do grupo no que se refere a sua experiência na

platéia durante os Jogos Escolares do Rio Grande do Norte em 2007, o texto

diz: “durante a apresentação de uma colega ouvi alguém da platéia dizer:

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pobrezinha, tão esforçada, pena que é de escola pública” (Caroline Diniz). O

resultado da avaliação é a própria caricatura que se ergue a partir das

disposições corporais dos ginastas no tempo e no espaço frente a uma cultura

desportiva que preconiza a hierarquização proveniente do deslocamento do

outro da convivência pelo desejo competitivo de submeter o adversário. O

comentário de pesar, revestido de preconceito, desloca a ginasta por

circunstância do apelo social. Essa caricatura pode afastar a mesma do

convívio do esporte, caso a mesma considere que é imprópria para o mesmo,

ou que não teria chance de sucesso nele, por ser de escola pública.

Destacamos que qualquer caricatura constitui um caminho explicativo

percorrido pelo sujeito contra outro (MATURANA, 1998), o que implica na

negação do mesmo.

Fabrícia ilustra que, o convívio traz com o tempo o conhecimento.

Conhecimento esse construído ao longo das interações entre pessoas afins e

não caricaturadas. A interação se dá no linguajear e no se emocionar,

especificamente no âmbito da conversa, como uma comunicação informal, mas

rica em experiências e saberes (MATURANA, 1998, 2000, 2001),

(MATURANA; REZEPKA, 2000), (MATURANA; VARELA, 2002), (MATURANA;

VERDEN-ZÖLLER, 2004). As interações são aprofundadas no diálogo,

expressão política do linguajear. É nessa relação entre afins que se opera a

amizade, que descobre a vida, o outro, o grupo, o respeito por si próprio e

pelos outros. É nessa relação entre afins que sonhamos, descobrimos espaços

e as coisas. É na relação que nos posicionamos, tomamos decisões e

assumimos responsabilidades. Assim, seguimos pela vida nos posicionando

como uma peça de um brinquedo de encaixe que está sempre se renovando.

O fragmento a seguir, refere-se à 2007, oportunidade em que o grupo

viajou ao estado de São Paulo, trata-se especificamente das picuinhas e

especulações por parte de alguns componentes que tinham como objetivo

integrar o grupo na viagem, porém, a má conduta acabou selando a não ida

dos envolvidos, privilegiando àqueles que não se envolveram nesse tipo de

contenda.

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As pessoas que temos como amigas estão sempre prontas pra nos ajudar naquilo que precisamos; já as que não temos como amiga, agem justamente ao contrário, nos leva cada vez mais para a escuridão das intrigas e desunião. As pessoas que pensam em fazer intrigas e implantam a desunião, só pensam em si, são egoístas. Essas mesmas pessoas, agindo dessa maneira, mostram que tem dificuldade em dialogar. (Caroline Diniz)

Embora oposta à situação anterior, esse fragmento revela a condição da

negação da amizade ou do processo de consolidação dela, uma vez que

sabemos que a amizade não é dada, mas é cultivada ao longo da convivência.

Para Maturana e Varela (2001, grifo nosso) a atitude egoísta de um

componente pode desligá-lo da unidade [do grupo]. Isso significa que a prática

constante do egoísmo distancia o ator social da rede de convivência. Para

entender o que nos propomos, retomemos a fala quando Caroline Diniz expõe

sobre a dificuldade em dialogar como manifestação do problema de

convivência: se a dificuldade é superada, o convívio entre os sujeitos prospera

e tendencia a se fortificar; já quando essa dificuldade não é sobreposta, o

convívio é comprometido e resulta na separação de corpos, ou seja, ruptura

com a unidade coletiva.

Escondem-se nesses discursos, um outro, o discurso da tolerância. O

mesmo pode ser uma aposta para incluir o sujeito negado na convivência,

coisa que recusamos e negamos nesse trabalho. Tolerar é adiar a negação do

outro como legítimo outro na convivência (MATURANA, 1998).

Compreendemos em primeira instância que a tolerância implica na condição

forçosa de aceitação do outro no convívio. Para Maturana (2001, p.117):

“tolerância não é aceitação. Tolerância não é respeito. Tolerância é negação

postergada, ou a negação agora com uma ação postergada”. Nesse sentido,

compreendemos, em última instância, que a tolerância é uma manifestação de

aceitação provisória do sujeito como legítimo outro na convivência. Portanto,

consideramos tolerância como uma pseudoaceitação castrada de amor e serve

a hipocrisia, a dissimulação de algum sentimento arbitrário ao bom convívio,

uma neutralidade que escamoteia o verdadeiro sentimento pelo outro, uma

postura política que no seu estado latente é uma ameaça ao bom convívio.

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A hipocrisia nunca é no presente; a hipocrisia é uma reflexão sobre a sinceridade das condutas do outro no passado, não agora, de modo que enquanto não se puder acusar aquele que fala a mentira, o que fala está aprisionado por suas palavras [...] A convivência na desconfiança de hipocrisia só gera ruptura social e sofrimento, porque sempre implica a contínua geração de ações contraditórias (MATURANA, 1998, p.76-77).

Afirmamos que nem sempre a harmonia sobrepõe as tentativas de

polarização entre as condutas da boa convivência e as condutas indesejáveis

ao bom convívio. A harmonia em que pesa à superação dessa prática só é

possível pela ampliação do sentido posto por Maturana e Verden-Zöller (2004),

quanto à convivência no entrelaçamento dos sujeitos a partir de uma

experiência no linguajear e no amor. É no encadeamento do linguajear com o

amor que se convive, se vive. Condição para uma existência desenhada na

acepção humana.

A dimensão política do existir na convivência corresponde a conduta do

ser em se relacionar com o outro no linguajear, um linguajear que tem sua

forma inicial no conversar e que se expande, até assumir sua forma ampliada e

potencializada, a qual estamos considerando o diálogo. Fazemos referência ao

ato do diálogo, como manifestação política e consciente do sujeito,

manifestação ampliada do linguajear.

Ainda temos muito a fazer, podemos mudar pra melhor ou pior, somos nós que fazemos nossas escolhas, pois são elas que fazem de nós o que somos hoje, e por isso, é sempre bom ouvir, pois é ouvindo que amadurecemos e crescemos como pessoa. (Pollyana).

O amadurecimento e crescimento mencionados pelo Pollyana,

constituem manifestações do acúmulo de interações e de experiências

aprendidas com o outro. Essa troca com o outro constitui uma história de

condutas solidárias que nos faz retomar Freire (2005) quando afirma que, é no

diálogo que transformamos a realidade. O que nos faz pensar que, qualquer

transformação social é uma resposta solidária entre indivíduos que tomam uma

decisão, a partir de uma demanda comum, o que constitui uma conduta política

em si. Nesse sentido, expomos que a dimensão sócio-política da convivência

encontra-se no diálogo, amplitude do linguajear que implica na articulação

coletiva de renúncias e também de reivindicações comuns aos indivíduos afins

no emocionar.

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A dimensão ética da convivência está no diálogo, elemento fundamental

do viver com outros compartilhando experiências e saberes, condição de um

existir humano, político, ético e sensível. Nesse sentido, compartilhamos com

Maturana (1998, p.73), o pensamento de que “a ética não tem um fundamento

racional, mas sim emocional” (MATURANA, 1998, p.73), pensamento esse que

destacamos. Portanto, compreendemos que a ética também é uma forma de

viver nas emoções coletivamente, um viver na qual aprendemos uns com os

outros.

Através da maneira de abordar, tratar e falar uns com os outros,

aprimoramos os laços de relacionamento. Isso implica em cumplicidade,

amizade, companheirismo, fortalecendo o sentimento de grupo, ao mesmo

tempo em que facilita o processo e a qualidade de ensino e de aprendizagem

do conhecimento da ginástica. Essa resposta solidária é fruto de um

engajamento político, ato que se faz no diálogo entre afins. Outrossim, é no

diálogo que o indivíduo ouve e se pronuncia, criticando, sugerindo, expondo,

agindo e transformando a realidade (Freire, 2005). O diálogo também é visto

como uma preciosidade na construção do entendimento, sendo esse um

caminho para cultivo da amizade posta como elemento essencial na

composição do grupo. Nos fragmentos a seguir observamos a partir de

situações vividas no processo de seleção das ginastas que viajaram em 2007

para Campinas que a unidade do grupo e da amizade deve prevalecer: “...

todas nós amamos muito o grupo, para deixá-lo por quaisquer intrigas e brigas

sem propósitos, isso faz com que ninguém desista do GGTP. Eu não sei como

seria minha vida sem o grupo” (Caroline Diniz); “O GGTP é o lugar aonde eu

me sinto bem. Quando estou triste, é no GGTP que encontro ombro amigo”

(Yaponira).

[...] O diálogo é de uma riqueza tão grande que, se parássemos para pensar ou para imaginar só por um instante entenderíamos que melhor do que tentar resolver as coisas no grito é tentar resolvê-las com o diálogo. Sabemos mais quando dialogamos com outras pessoas. Com isso o nosso intelecto aumenta porque aprendemos mais sobre às várias maneiras de pensamento do ser humano. [...] Entre nós, o diálogo nos ajuda a nos conhecermos mais e nos tornarmos pessoas mais humanas, mais prestativas e que certamente saberão ouvir as pessoas a nossa volta, sejam conselhos ou críticas, de quem quer que seja, escutando e opinando. (Pollyana)

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Indica-nos o Pollyana acima que, o GGTP sendo um lugar comum, de

paredes invisíveis e de amigos que se conflitam e que se solidarizam, tem no

diálogo um sentido aglutinador, restaurador da convivência e, portanto,

transformador. Yaponira, a seguir, reforça o pensamento do grupo quanto à

importância e sentido da amizade para a existência do grupo: “[...] Aprendi que

amizade é algo muito sério e que ela é cultivada no dia-a-dia” (Yaponira). O

mesmo expõe que é no tempo que se cultiva a amizade. Mas, sublinhemos que

a amizade não se faz por si só, é necessário dialogar como forma de

articulação dos desejos dos atores sociais, vivida na exposição dos mesmos a

sorte do que é posto na experiência do viver em grupo.

“[...] Um sorriso ou, até mesmo, outro gesto de apoio de alguém basta

para tornar nossos dias mais felizes [...]” (Llows). A condição de “dias felizes”

está no empenho dos componentes da convivência em cultivá-los, para tanto,

exige-se um ímpeto transformador que designamos de conduta política da

convivência.

Seguindo os caminhos que nos levam às condutas que negam o outro

no espaço de interações, a qual estamos designando por condutas

indesejáveis, destacamos os seguintes indicadores: raiva, ira e fúria. Esses

indicadores constituem os tipos de comportamento que se somam ao conjunto

de contra-valores. Essas condutas são postas na negação do outro na

convivência, ou se constituem manifestações da reflexão das condutas dos

outros no passado (MATURANA, 1998). Expomos que essas ações se dão em

conseqüência de outras ações, de outros atores sociais, como sugere o

fragmento seguinte: “Nosso professor ... é muito rigoroso. Outro dia ele se

estressou comigo e eu me estressei com ele [...] Embora eu não me arrependa,

fiquei com raiva de mim mesma por ter respondido da forma que fiz [...]”

(Stephany). O que não isenta nenhuma parte da responsabilidade da conduta.

A minha convivência com o professor Leonardo é boa. Não digo ótima porque algumas vezes tomo uns “carões” e, isso me deixa furiosa. Embora saiba que foram os “carões” que me ajudaram ao longo desses anos a me tornar a ginasta e a pessoa que sou hoje, uma ginasta e, conseqüentemente, uma pessoa mais forte e com modos [...] (Fernanda).

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Observamos que o ato desencadeador da raiva, ira ou fúria, muitas

vezes sobre a luz da ponderação é subvertido na condição de necessário. Esse

julgamento não é possível no momento da ação “explosiva” e não desejada. A

convivência na desconfiança, manifestação da reflexão das condutas dos

outros no passado, gera ruptura social, ou seja, relações não-sociais.

(MATURANA, 1998). Nesse sentido, ponderamos se não são possíveis outros

caminhos, sendo um deles a conversa, exaustivamente discutido e sugerido no

decorrer do texto. O fato nos leva a pensar que muitas vezes é necessário

tomar decisões que implique na ação furiosa do outro sujeito, contudo, é

preciso ponderar no que cerca a convivência e tomar no exercício pedagógico,

o diálogo como a estratégia política do ensinar para superar tais condutas.

Ainda no caminho que nos leva aos indicadores que nos revelam as

condutas relacionais indesejáveis, expomos aqui a vaidade, no sentido de

arrogância, para manter nossa reflexão. Compreendamos inicialmente que, a

vaidade não é posta apenas como uma virtude, seu sentido varia de acordo

com a ação do sujeito no mundo. Tomemos os exemplos: “No início, achei as

meninas, que já praticavam ginástica, chatas, elas aparentavam ser

amostradas e orgulhosas; ao contrário das meninas que começaram comigo”

(Fabrícia); “Eu achava as meninas que já faziam ginástica muito exibidas.

Pensei que fosse ficar como elas [...]” (Fernanda). Ambas tecem um juízo de

valor a partir da altivez corporificada pelo sujeito observado e julgado, mais

uma vez nos referimos às caricaturas. Compreendemos que, embora o

julgamento se consolidasse na observação da disposição corporal dos ginastas

no tempo e no espaço, foi na convivência que foi possível reconsiderar a

postura dos mesmos. Destacamos que o afazer, ou seja, a prática da ginástica

possibilitou Fernanda avaliar a imagem construída arbitrariamente. E que a

desconfiança, como geradora de rupturas sociais, só foi suprimida na

convivência.

[...] Vi que eu não ia ser uma “amostrada”, mas, uma ginasta que mostrasse o que sabia fazer, sem ter que baixar a cabeça por nada. Era isso que as meninas mais antigas faziam, se orgulhavam dos exercícios que executavam. Executando bem ou mal os exercícios, nunca perdiam a pose, nem deixavam de ser graciosas. (Fernanda).

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Demonstra Fernanda, que é na convivência com os demais que é

possível de fato tecer algum juízo sobre o outro, sobre a pena de não

negarmos o outro como legítimo outro na convivência. Foi convivendo com os

outros indivíduos que, Fernanda subverte a idéia de que toda ginasta é

arrogante. Nesse sentido, compreendemos que é na convivência, e somente

nela, que é possível identificar e diferenciar a vaidade como arrogância ou

como altivez, ou seja, valorização de si. Nesse sentido, acreditamos que por

mais que se fale da experiência ninguém pode substituí-la, pois é nela que

temos a oportunidade de lançar um olhar mais criterioso, nem sempre

aproveitado para redimensionar a própria experiência.

O comportamento que mais me incomoda é a humilhação. Muitas vezes alguma menina age como se fosse superior, não só dentro como fora do grupo, humilhando alguma outra menina, querendo ser mais que as outras. Isso não dá pra entender, falamos tanto em trabalho coletivo, parece que algumas meninas ainda não aprenderam sobre o que é isso. (Stephany).

A vaidade mal dosada deixa de ser uma virtude e passa a ser uma

contra-virtude. A arrogância, como demonstra Stephany, é uma desmedida

dessa natureza. Se por um lado, “Ter um espírito de ginasta ajuda a ter uma

postura altiva, muitas vezes confundida com uma postura amostrada e exibida

[...]” (Naya), por outro, essa postura da vaidade pode incomodar não pela

imagem arrogante, mas pela ação arrogante, conforme verificado acima,

quando Stephany expõe sua experiência, fazendo-a servir à humilhação,

negando o sujeito como legítimo outro na convivência.

Tomemos a humilhação como uma manifestação da vaidade,

conseqüência de ações contraditórias as relações sociais. Usar da humilhação

para sobrepor-se, como forma de sobressair-se em relação ao outro é uma

forma de negação do outro na existência. Ao negar o outro na existência eu o

anulo na convivência, aspecto que nega a existência humana no espaço

relacional. (MATURANA, 1998, 2000, 2001, 2004), (MATURANA; REZEPKA,

2000), (MATURANA; VARELA, 2002), (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER,

2004).

Compreendemos que humilhação, vaidade, arrogância, altivez, assim

como a raiva, a ira, a fúria são exemplos de referências pessoais, fazem parte

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do estado de conhecimento de cada um dos atores sociais pesquisados. Os

conhecimentos deles, ou qualquer indivíduo que seja, carregam consigo sobre

as suas circunstâncias e suas ações no momento em que agem com outros,

quando sentem os efeitos da humilhação, da vaidade, etc., constitui um

caminho explicativo das nossas capacidades cognitivas que Maturana (1998)

designa de o caminho da objetividade-sem-parênteses. A objetividade-entre-

parênteses é posto pelo autor (Op.Cit) como um domínio da objetividade que

ao considerar que não há verdade absoluta, não nega o outro como legítimo

outro na convivência.

Não há verdade absoluta nem verdade relativa, mas muitas verdades diferentes em muitos domínios distintos. Nesse caminho explicativo existem muitos domínios distintos de realidade, como distintos domínios explicativos da experiência fundados em distintas coerências operacionais e, como tais, são todos legítimos em sua origem, ainda que não sejam iguais em seu conteúdo, e que não sejam igualmente desejáveis para serem vividos (MATURANA, 1998, p. 48).

Queremos demonstrar com isso que nossas discussões embora no

caminho da objetividade-sem-parênteses16, não exclui o outro caminho. A partir

do instante em que consideramos as falas dos atores sociais, expressão da

consciência, referência da experiência dos mesmos, em que não podemos

distinguir ilusão de percepção, caminhamos no domínio da objetividade-entre-

parênteses17 (MATURANA, 1998).

Ao tratar de nervosismo, ansiedade e medo, os últimos três indicadores

discutidos ao fim desse capítulo, compreendemos que a distinção entre ilusão

e percepção não é possível. Para manter a coerência com o que viemos

desenvolvendo ao longo do texto, ao tratar das condutas que negam o outro no

espaço de interações que evidencia a prática da ginástica na EMTP e das

condutas indesejáveis nessa, seguiremos ora caminhado pelo domínio da

16 Segundo Maturana (1998), a objetividade-sem-parênteses consiste num caminho explicativo na qual a referência de uma realidade independe do sujeito explicador e que em si se explica e valida o explicar. 17 Ao indicar a consciência de não poder distinguir ilusão e percepção no processo de explicar, Maturana (1998) nos aponta objetividade-entre-parênteses como um caminho explicativo. Nesse caminho, o autor (Op. Cit., p.47) nos expõe que “não podemos desprezar mais nossa condição se seres que na experiência não podem distinguir entre ilusão e percepção [...], o que aceitamos não é uma referência a algo independente de nós, mas uma reformulação da experiência com elementos da experiência”.

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objetividade-sem-parênteses, ora pelo domínio da objetividade-entre-

parênteses.

O nervosismo é uma constante na rotina de um ginasta e por diferentes

razões, como indica Llows: “Lembro da hora em que fiquei mais nervosa: foi na

troca de roupas,...”. Não temos a intenção de explicar nesse estudo o porquê

desse nervosismo ou, o de explicar o que é esse fenômeno e como ele se

manifesta, mas de relacionar como a ansiedade se constitui na expressão dos

atores sociais uma contra-virtude, que pelo viés do domínio da objetividade-

sem-parênteses implica nas relações humanas.

“Sempre quando eu vou apresentar fico um pouco nervosa. Adoro sentir

este nervosismo antes das apresentações. Acho isso normal, até porque, quem

não fica nervosa antes de se apresentar para um público?” (Pollyana). Tudo

pode ser razão para uma conduta nervosa, desde uma troca de roupa com

pressão temporal, até mesmo a hora da apresentação. O Pollyana nos sugere

que o nervosismo é comum quando afirma sua “normalidade” e quando inquire

“quem nunca sentiu?”.

Se alguém me perguntar qual a pior parte disso tudo, a que me deixa mais nervosa, com certeza responderei: é aquela partezinha chata depois que somos chamadas: o silêncio entre a nossa entrada e o início da música, a mesma que corresponde a nossa entrada na área de apresentação, a pose inicial e o início da música. Aquele enorme silêncio leva uma eternidade e deixa muita gente impaciente. Mesmo estando parada na pose inicial, não consigo conter a minha impaciência. Logo meu coração bate mais forte. Enquanto eu vou pensando nisso tudo, o público espera. Realmente é a parte mais difícil pra mim. (Naya).

O fragmento acima nos leva a compreender que, é uma conjuntura que

determina o nervosismo. Foi o contexto, especificamente a parte da entrada

para a apresentação, que desencadeou a aceleração cardíaca, mas não é o

ritmo do coração em si a nossa preocupação, mas como o nervosismo está

posto nas relações humanas, considerando o caso GGTP.

Encontramos ainda no fragmento anterior outro indício para

compreender como o nervosismo está posto na condição de referência ao

estado de conhecimento que Naya tem sobre suas circunstâncias. O

nervosismo desencadeia em Naya o aumento da freqüência cardíaca, a priori,

uma reação fisiológica ao que estamos designando de nervosismo. Contudo,

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compreendemos que a freqüência cardíaca foi alterada a partir de uma

circunstância e não por si ou em si. Nesse sentido, o nervosismo constitui uma

disposição corporal circunstancial.

Vejamos no seguinte fragmento de texto: “O frio na barriga me acontece

por excesso de euforia, nervosismo e ansiedade, o que encadeia uma carga

muito grande de agonia, e isso, finda numa má apresentação [...]” (Naya). O

sentido que damos ao “frio na barriga” é reflexo da experiência que se dá no

indivíduo, em circunstância na qual o ator social está exposto. Sugere Naya

que a agonia e demais expressões constitui uma tentativa de expressar o

reflexo dessa experiência. Essa dificuldade em expor a sensação percebida se

explica por carência de objetividade-sem-parênteses, quando não é possível ao

sujeito distinguir fora da circunstância o fenômeno que foi sentido na fronteira

entre ilusão e percepção. Nesse sentido, outros fragmentos de textos

expressam a mesma dificuldade: “Apesar de já ter apresentado essas

coreografias algumas vezes, eu estava muito ansiosa. O meu coração batia

forte e minhas mãos não paravam de suar” (Fabrícia) e “[...] Vieram as

apresentações e com elas o famoso friozinho na barriga, eu comecei a gostar

daquilo que se sente antes de qualquer apresentação” (Llows). Destacamos as

mãos suadas como um novo componente desse reflexo da experiência que se

dá no corpo, em circunstância na qual o ator social está exposto. Não tomemos

esses elementos como sintomas do nervosismo, mas como manifestação dele,

sensibilidades que emergem do corpo a partir de uma experiência de um ator

social em um determinado contexto.

“Quando as ‘pequenas’ se apresentaram pela primeira vez estavam tão

nervosas quanto eu em minha primeira apresentação. Algumas até bem mais”

(Fabrícia). Embora Fabrícia anuncie o nervosismo como fato da imaturidade,

propomos revisar esse pensamento, no seguinte caminho: ninguém é imune ao

nervosismo. Enfatizamos que o contexto é o fator desencadeador do

nervosismo, e que cada situação vivida é vivida uma única vez, porque não se

repete. Por mais experiente que o ginasta seja, por mais situações vividas, ele

estará sempre diante do novo. Diante do novo, somos todos susceptíveis a

entrar nesse estado de nervosismo.

Vejamos outras falas que nos conduz compreender como a ansiedade,

manifestação do nervosismo, está posta enquanto referência ao estado de

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conhecimento que o ator social tem sobre suas circunstâncias: “...estávamos

ansiosas para nos apresentar” (Caroline Diniz); “Sentia uma ansiedade já no

fim dos treinos, pois a cada dia sem treino, a espera pela próxima aula, era

minha maior agonia” (Fabrícia); “[...] Eu e as outras meninas nos revemos, nos

abraçamos, trocamos sorrisos, contamos histórias; estávamos muito ansiosas

para o primeiro dia de aula e de novamente poder treinar e se apresentar com

prazer” (Pollyana); e por fim, “Todo fim de ano fico ansiosa pra saber o que vai

acontecer no ano seguinte. (Fernanda). Considerando as expressões

anteriores é possível perceber a relação da ansiedade com o as circunstâncias

dos atores sociais em relação ao tempo, o que nos leva a pensar que ansiar é

aguardar algo por vir, independentemente da quantidade de tempo.

Ainda não falei da hora em que nos arrumamos para apresentar, é uma agonia. Ao mesmo tempo em que nós estamos ansiosas, estressadas ainda temos que nos arrumar. As palavras do professor também valem nessa hora: “vamos, calma, mais rápido, se organizem, Naya ajude as outras meninas”, e por aí vai. (Naya).

Acreditamos que a experiência da Naya ao sentir ansiedade, reverbera

na condição dela na interação com os demais atores sociais na convivência.

Buscamos as pistas que nos indique as conseqüências desse reflexo da

experiência que se dá no corpo, em circunstância na qual o sujeito está

exposto, (MATURANA, 1998), para convivência no GGTP e as relações

humanas de um modo geral. Acreditamos que essas pistas nos ajudarão a

proceder com maior consciência com esses indicadores no afazer que constitui

a nossa prática pedagógica.

Há algumas atividades na qual o sujeito é envolvido em situações que

desafiam a coragem. Nessas atividades o medo é uma barreira, um desafio

constante. Superar o medo em atividades como alpinismo, pára-quedismo,

asa-delta, entre outros, é necessário. Na ginástica não é diferente. Destacamos

que ao expressar o medo, nessas e em outras situações, muitas vezes o

sujeito o camufla na forma de nervosismo e ansiedade. O medo que causa o

“frio na barriga”, o aumento da freqüência cardíaca e que faz as mãos suarem

em excesso, constitui a emoção que nesse contexto admite também outras

expressões da emoção, inclusive nervosismo e ansiedade.

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As modalidades de ginástica esportiva são algumas dessas atividades

em que a endorfina, juntamente com a adrenalina são destiladas. Observamos

esse fato com maior freqüência quando na execução dos exercícios mais

complexos, por exemplo: ao se lançar no ar, na execução dos mortais; no

lançamento ou recuperação de um aparelho; ou ainda, quando são realizadas

colaborações entre ginastas de forma mais arriscada. Nesses casos o medo e

a coragem são componentes presentes, agindo sobre os próprios ginastas.

Na ginástica geral não é diferente, o medo existe: “[...] A postura altiva

ajuda na hora da apresentação e faz com que agente se esqueça do medo de

amarelar, medo esse que quase toda ginasta tem. Amarelar é desistir na hora

da apresentação [...]” (Yaponira). O medo não é da execução do exercício em

si, mas, justificado inicialmente pela ausência de execução: “o medo em

amarelar”. O “medo em amarelar” é uma constante, posta pela maioria dos

atores sociais implicados na pesquisa, um indicativo de que o medo pode ser

em conseqüência das conseqüências em falhar. Esse reflexo da experiência

que se dá no corpo, em circunstância na qual o sujeito está exposto, camufla a

conseqüência final, a negação do outro, em reconhecê-lo como legítimo outro

na convivência. Essa primeira pista é ilustrada assim: “As pessoas a minha

volta são fundamentais para que eu percebesse que o que antes era medo

agora fosse realização, pois com muito apoio agente sente mais confiança pra

enfrentar as dificuldades” (Stephany). Vejamos ainda:

Foi praticando ginástica que fui adquirindo mais confiança e isso me deu maior segurança nos exercícios e nas relações com outras pessoas. Podemos entender essa insegurança como medo. Para vencê-lo é preciso primeiro que se queira vencê-lo, depois é preciso contar com o apoio das pessoas. O apoio das pessoas é fundamental para se ter segurança. A segurança é essencial em nossas vidas, ela nos dá o suporte que precisamos para vencer os obstáculos. (Stephany)

Outra pista segue o caminho em que pensamos que o alcance ou

importância do medo sentido implica naquele que o sente: “Treinamos muito

pra que desse tudo certo. Obstáculos se impuseram na nossa frente, por

exemplo, o medo. O medo sempre é um obstáculo, principalmente para mim”

(Caroline Diniz). Neste sentido, observamos outra possibilidade de

compreender os efeitos do medo no convívio dos atores sociais do GGTP: o

medo sentido possui implicações na relação do ator social com as suas

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necessidades e interesses. O medo ameaça as pretensões individuais, ou

mesmo coletiva.

Senti-me nervosa, embora estivesse segura do que tinha que fazer. Apesar de já ter apresentado essas coreografias algumas vezes, eu estava muito ansiosa. O meu coração batia forte e minhas mãos não paravam de suar. Mas foi só apresentar a minha primeira coreografia, contorcionistas indianas, que o meu nervosismo sumiu. E o que era nervosismo transformou-se em segurança [...] O fato de ficar ansiosa e nervosa deve-se ao fato do medo que senti de errar alguma coisa, contudo eu estava muito segura, pois treinamos bastante para tudo dá certo. (Fabrícia)

Percebemos que as expectativas dos ginastas em fazer uma boa

apresentação geram ansiedade, nervosismo e medo. A busca por esse fazer

belo é tomada enquanto realização pessoal e coletiva. Destacamos a

contradição entre prazer e dor, no que se refere ao sentir prazer quando se

sente o “frio na barriga”. Expomos como possibilidade que, o prazer na dor

pode estar associado à realização do desejo, resumido na forma de realização

pessoal.

“A cada apresentação eu ia à loucura, algo que despertava emoção, não

só em mim, como no público em geral; sentia muita vontade de fazer, embora

tivesse certo medo. Foi à realização de mais um sonho” (Fernanda). Realizar

sonhos implica em confrontar-se com obstáculos das emoções, entre eles, o

medo. Fernanda nos indica que a superação do medo potencializa uma

emoção. Essa emoção é conseqüência da superação do obstáculo na

realização do desejo. Essa superação de uma emoção por outra, expressão da

existência humana, é percebida com freqüência em diferentes textos dos

distintos atores sociais, como veremos a seguir:

Sei que é difícil superar o medo, mas não é impossível; tenho que lutar e vencer as barreiras e os obstáculos. Mas o que eu gosto mesmo é de sentir o friozinho na barriga, isso me faz até acreditar mais em mim. E é acreditando em mim que conseguirei largar esse medo, embora saiba que o medo faz parte disso tudo. (Caroline Diniz)

Compreendemos o medo como parte desse mundo em que existimos e

que permeia as razões dessa condição. O caminho pelo qual estamos

explicando o medo até o momento pertence ao domínio da objetividade-entre-

parênteses. Expomos até aqui fatos que colocam o medo como conhecimento

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dos sujeitos sobre suas circunstâncias e ações (MATURANA, 1998). Um

reflexo da experiência que se dá no corpo, em circunstância na qual os atores

sociais estão expostos no cotidiano da prática da ginástica. Em busca de

validar o nosso explicar, percorreremos a seguir um caminho explicativo

pautado na objetividade-sem-parênteses.

Uma das análises mais interessantes posta no campo filosófico quanto

ao medo, foi legada por Aristóteles no II livro da Retórica (ABBAGNANO,

2007). Ao citar Aristóteles, Abbagnano (Op.Cit.) nos traz a seguinte definição

do medo: “O medo é uma dor ou uma agitação produzida pela perspectiva de

um mal futuro que seja capaz de produzir morte ou dor” (p.363). Essa

perspectiva do medo nos faz pensar no que nos diz Caroline Diniz: “...é

estranho sentir medo, mas ele existe em mim. Tenho medo de cair e me

machucar, das pessoas rirem de mim, de errar, de altura, entre outras coisas,

mas também tenho coragem de enfrentar tudo isso [...] Medo e coragem fazem

parte da vida”. O que nos chama a atenção é a justaposição do medo e da

coragem como parte da mesma experiência. Essa condição ajusta-se a idéia

aristotélica de que dado o medo resumido a emoção, é acompanhada pela

contradição prazer e dor, percebida pelo sujeito que a sente em relação as

suas necessidades e perspectivas.

Um dos componentes importantes verificados no decorrer dessa busca

pelo sentido que o medo traz para a convivência no GGTP, posto pelos

próprios integrantes, é a presença do outro como condição de redução do

medo. “O medo também é reduzido ou eliminado por condições que tornam os

males menos temíveis ou os fazem parecer inexistentes” (ABBAGNANO, 2007,

p.363). Assim, pensamos o outro como aquele que é capaz se não de suprimir

o medo, mas aquele que é, em parte, responsável pela redução dessa emoção.

Entendemos que, é na interação entre as pessoas que, é possível se

aventurar e correr o risco da dor, ou mesmo da morte. Contudo, afirmamos

que, nada ou pouco adianta a presença do outro se o mesmo não for capaz de

oferecer ao espírito aventureiro a segurança demandada. Portanto, é na

interação entre as pessoas que, é possível se aventurar e correr o risco da dor,

ou mesmo da morte, desde que os outros estejam presentes em condições de

oferecer a segurança exigida pelo sujeito aventureiro. Compreendemos que a

presença do outro é importante desde que o mesmo seja aquele capaz de

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manter uma interação de confiança com o indivíduo amedrontado, enfrentando

com ele aquilo que amedronta.

Partindo do pressuposto de que: “pertencemos a uma história na qual

existe uma emoção fundamental chamada amor. Se aceitamos isto e queremos

de fato a convivência, então vamos gerar outro domínio de realidade no qual a

aceitação mútua esteja presente” (MATURANA, 2001, p.117). No caminho da

objetividade-sem-parentêses, pensamos no nervosismo, na ansiedade e no

medo como emoções imobilizantes no caminho da convivência. Nesse sentido,

compreendemos que essas emoções promovem um contínuo engessamento

dos sujeitos, restringindo a mobilidade e as ações dos atores sociais nas

interações, consequentemente, nas possibilidades que a convivência traz para

o desenvolvimento humano.

Destacamos que a compreensão do medo e as conseqüências dessa

emoção/contra-valor para a convivência no GGTP, perpassa as três idéias

iniciais, aqui relacionadas: a negação do outro, quando o sujeito resiste em

reconhecer esse outro como legítimo outro na convivência; o medo sentido

possui implicações na relação do sujeito com as suas necessidades e

interesses, quando o medo ameaça as pretensões individuais, ou mesmo

coletiva; da superação do obstáculo na realização do desejo. Nesse sentido, o

medo constitui para os atores sociais pesquisados um contra-valor por não

apoiar a manutenção da convivência entre os indivíduos do grupo.

Compreendemos que o medo, o nervosismo e a ansiedade,

predominantemente tratados no caminho da objetividade-sem-parênteses,

pertencem ao domínio do reflexo da experiência que se dá no corpo, em

circunstância na qual o ator social está exposto. De outra forma, no caminho da

objetividade-entre-parênteses, não podemos tomar o medo como um contra-

valor por não corroborar a convivência. Compreendemos que o medo, o

nervosismo e a ansiedade pertencem ao domínio das emoções sentidas em

circunstâncias, e como tal, temporários. Assim, suscita a compreensão de que

é natural sentir tais emoções desde que os mesmos sejam breves.

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Condutas relacionais indesejáveis e não-sociais ______________________________________________________________________

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É por causa da incorporação do modo de viver que não é fácil mudar, pois as pessoas já ‘viveram de um determinado modo’ quando a questão da mudança se coloca. A dificuldade das mudanças de entendimento, de pensamento, de valores, é grande. Isto se deve à inércia corporal, e não ao fato de o corpo ser um lastro ou constituir uma limitação. Ele é nossa possibilidade e condição de ser. Além disso, o viver transcorre constitutivamente como uma história de mudanças estruturais na qual se conserva a congruência entre o ser vivo e o meio, e na qual, por conseguinte, o meio muda junto com o organismo que nele estar (MATURANA, 1998, p.61).

No universo da ginástica, no âmbito do esporte, o ginasta idealizado

deve ser um sujeito corajoso, calmo, entre outras virtudes já tão apresentadas.

Sentir medo, ansiedade e nervosismo, é tão saudável quanto enfrentá-los e

superá-los. A não superação dessa condição é incongruente com a prática da

ginástica porque o sujeito não se implica na rotina do fazer gímnico.

Observamos no decorrer do processo em que o medo, a ansiedade e o

nervosismo predominam no cotidiano do ginasta que, esse ginasta vai se

imobilizando e, consequentemente, se distanciando do convívio e do grupo à

medida que prolonga a sua experiência pessoal nas tais emoções. Destacamos

que a não superação dessa condição ao longo do processo, requer atenção

maior de outros profissionais no lidar específico com os excessos do

comportamento. A partir de Maturana (1998), destacamos a dificuldade do lidar

com essas emoções. A lida do professor de Educação Física, implica nas

mudanças quanto ao entendimento que cerca as mesmas, na superação ou no

lidar com esses reflexos da experiência que se dá no corpo, em circunstância

na qual o aluno encontra-se exposto. Considerando o universo da ginástica

geral, expomos que para enfrentar a ansiedade, assim como o medo e o

nervosismo, o ator social requer para si estratégias envolvendo a presença do

outro como ponto de apoio, segurança, confiança.

O viver com o outro na aceitação, no amor, não é educá-lo, não é dizer-lhe: ‘isto não é bom’, mas dizer-lhe que isso não é bom na aceitação, ou seja, assumir a presença do outro junto a si no momento em que se faz a correção (MATURANA, 2001, p.107).

Nesse sentido, retomamos a conversa, como estratégia para

ponderação e modificação da relação do sujeito com as emoções em questão.

O enfrentamento do reflexo da experiência que se dá no corpo, em

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Condutas relacionais indesejáveis e não-sociais ______________________________________________________________________

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circunstância na qual o sujeito está exposto se dá na união dos indivíduos

envolvidos na convivência. União que pertence ao domínio dos reflexos das

experiências que se dão no corpo, em circunstância na quais os atores sociais

estão expostos.

O esforço repetido para que os alunos se apropriem desse

conhecimento, cumpre agora sua derradeira missão: a capacidade deles

expressarem esses valores e de falar por si só sobre cada um deles. Isso não é

ensinado, pelo menos não na perspectiva da educação tradicional do professor

explicador18, se aprende no linguajear: “maneira de conviver em coordenações

de coordenações comportamentais consensuais” (MATURANA, 2004). Entre

outras palavras, se aprende na prática cotidiana do convívio.

Para tanto, não basta estar vivo, é preciso existir, e só é possível existir

convivendo com outros indivíduos. O ser só se torna indivíduo na medida em

que é social, assim como o social só o é na medida em que seus componentes

são indivíduos (MATURANA, 1997). Compreendemos que o respeito é lançado

como uma atitude de deslocamento de si para o outro, condição essa para a

compreensão do outro e de si na relação, assim como da aceitação do outro

como legitimo outro da convivência, portanto, o respeito constitui uma atitude

amorosa.

O enfrentamento do reflexo da experiência que se dá no corpo, em

circunstância na qual o ator social está exposto, também se dá no respeito

entre os indivíduos envolvidos na convivência. O respeito também pertence ao

domínio dos reflexos das experiências que se dão no corpo, em circunstância

na quais os atores sociais estão expostos. O sujeito respeitador pode aprender

qualquer coisa e adquirir a habilidade que desejar por si mesmo (MATURANA;

REZEPKA, 2000). No sentido de assegurar essa virtude, defendemos uma

educação escolar voltada para a formação humana.

18 Fazemos referência à obra O mestre ignorante, cinco lições sobre a emancipação intelectual, de Rancière (2004). Jacques Rancière é considerado uma das principais referências no aprofundamento do método proposto por Joseph Jacotot.

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Ginástica geral como aposta ética para uma formação humana ______________________________________________________________________

112

GINÁSTICA GERAL COMO APOSTA ÉTICA PARA UMA FORMAÇÃO

HUMANA.

No campo da especulação, quando perguntamos a um grupo de

professores, isoladamente, sobre o propósito da educação, logo teremos

algumas respostas que podem caminhar para justificar essa prática quanto a

sua utilidade na sociedade. Por outro lado, compreendemos que as respostas

podem se distanciar, dado os diferentes entendimentos políticos que cada

professor tem sobre o projeto educacional. Ao perguntarmos, seja qual for a

resposta, a mesma implicará diretamente na perspectiva política desse

professor frente a sua prática. A resposta revelará como esse professor pensa

e faz educação, em que perspectiva sócio-política dirige-se sua prática

pedagógica.

Compreendemos que, ainda na formulação das perguntas, nós nos

comprometemos politicamente, por que já nesse instante nos articulamos,

pensamos e dialogamos a cerca de um projeto que não se encerra na ação do

ensinar, mas nas orientações que regem a prática docente quanto ao projeto

de cidadão, cidadania e de sociedade que nós professores nos lançamos junto

com os nossos alunos. Esse comprometimento é uma manifestação viva de

uma prática ética e política do fazer educativo. Portanto, ao nos perguntarmos

sobre a prática educativa ― o que é educação, para quem educar, por que

educar? Entre outras questões de mesma ordem semântica ― revelamos a

constante preocupação ética e política com as pessoas envolvidas em nossa

ação pedagógica. Revelamos ainda, possibilidades que exigem escolhas no

campo político. Ao eleger os caminhos somos responsáveis não só pela

escolha em si, mas no que ela representa para a vida dos envolvidos na prática

pedagógica.

A compreensão ética exposta até aqui não se reduz à reflexão crítica

sobre determinados valores presentes no comportamento humano em

sociedade, mas no conjunto de atitudes que integram seres humanos numa

convivência escolar que, implica na coexistência entre pares, na reprodução,

transformação e construção de valores/condutas e dos demais saberes que

circulam a prática da ginástica e da vida. O conjunto que agrega esses sentidos

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Ginástica geral como aposta ética para uma formação humana ______________________________________________________________________

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configura uma dimensão sócio-política da formação dos atores sociais

envolvidos, assim como, da própria prática que nos confraternizam.

Ao nos referimos a uma ética no GGTP, nós nos referimos a um

conjunto de condutas altruístas. Para Maturana e Varela (2002), o altruísmo

está associado ao que é próprio do social, contrário ao egoísmo; constitui

equilíbrio entre o existir individual e o coletivo, à exemplo da deriva natural.

Ainda para esses autores, o altruísmo corresponde ao conjunto de condutas

dos indivíduos que tem efeito benéfico sobre o coletivo, uma condição de

existência do indivíduo e do grupo social a qual pertence. Nesse sentido,

caminha a ética que apontamos no decorrer desse estudo e que estamos

apostamos para pensar o educar, além do entendimento de escola e de

cidadão que queremos formar.

A partir da análise da prática pedagógica no GGTP, pautada na

convivência entre humanos, destacamos que essa pesquisa constitui um

exercício de voltar-se para uma prática educativa, como um fazer

essencialmente humano que abarca saberes de ordem política e ética,

constituídas no viver de seus participes, considerando os princípios da

idiossincrasia e da aceitação do outro. Um exercício que recomendamos e

insistimos como uma tarefa constante, exercitada na convivência. Portanto, o

conteúdo desse texto dissertativo amplia entendimentos no que cerca a

formação humana e seu papel na escola quanto ao educar.

O educar se constitui no processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência. O educar ocorre, portanto, todo o tempo e de maneira recíproca (MATURANA, 1998, p.29).

Compreendemos assim que, a educação humana está centrada nas

condutas relacionais da convivência, e que de outra forma, nas condutas

relacionais indesejáveis e não-sociais, não humanizam. As condutas

relacionais da convivência geram os princípios do educar que se apóia na

biologia do amor. Nesse sentido, dividimos a compreensão de que a escola

constitui um espaço artificial de convivência (MATURANA; REZEPKA, 2000), e

é nesse espaço que, professores e alunos devem compartilhar experiências

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Ginástica geral como aposta ética para uma formação humana ______________________________________________________________________

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que permitam desde a tenra idade, o indivíduo vivenciar uma cultura de

respeito por si e pelo outro.

Maturana (1998, p.29) entende que “A educação é um processo

contínuo que dura toda a vida, e que faz da comunidade onde vivemos um

mundo espontaneamente conservador, ao qual o educar se refere”. O autor

coloca a educação como um sistema de efeitos em longo prazo, indício de uma

perspectiva ética e sócio-política a partir da ação educativa. É nesse sentido

que, nos colocamos com os outros no aprender. Compreendemos que essa

forma de pensar educação é fundamental para a manutenção das relações

sociais e para a nossa humanização. É nessa perspectiva que constituímos o

nosso projeto político pedagógico, redimensionando a compreensão do educar

para ampliar a perspectiva das práticas escolares, compreendendo que é no

existir humano que nos educamos educando, e que, educamos convivendo. O

que, também, constitui um caminho para compreender o sentido da instituição

escolar na sociedade.

O sentido da instituição escolar é o que a mesma representa para nós,

homo sapiens: constitui um espaço de convivência que amplia a nossa

percepção de mundo, nos envolvendo em uma convivência que reproduz o

modus vivendi e os conhecimentos produzidos e transmitidos historicamente. É

a escola, a instituição que nos aproxima em linguagem, em comportamento,

em emoções e valores éticos. É ela que ao reproduzir em pequena escala a

percepção humana do mundo, nos torna parte dele. A escola constitui um

importante espaço de convivência voltado para o ser humano e o saber que

nos potencializa para essa condição, sendo as experiências com o outro e do

próprio conhecimento (conteúdo a ser verificado) que nos ampliam a percepção

do mundo, do outro e de nós mesmos. Essa perspectiva de compreensão da

instituição escolar nos aponta um sentido do aprender.

Compreendemos que o ser e o fazer do aprender com o outro são

inseparáveis: “[...] todo conhecer é ação efetiva que permite a um ser vivo

continuar sua existência no mundo que ele mesmo traz à tona ao conhecê-lo”

(Maturana, 1997, p.23). Pelo exposto, dividimos com Maturana e Varela (2001),

o entendimento de que é durante a trajetória de vida que construímos além do

nosso conhecimento do mundo, o mundo e nós mesmos, influenciando e sendo

influenciado, nos modificando pelo que experienciamos num processo

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Ginástica geral como aposta ética para uma formação humana ______________________________________________________________________

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recursivo de aprendizagem que se dá na convivência. Havendo convívio, há

experiências. Havendo experiências há troca, elaboração, tomada de

conhecimento. Portanto, conhecer é um processo contínuo, ininterrupto desde

que haja convivência. Assim investimos na idéia de que a própria apreciação

de nossa condição diante do outro, da vida e de nós mesmos é um convite à

compreensão da nossa existência junto há outros. Esse investimento revela a

dimensão sócio-política e ética da nossa prática pedagógica que se

complementa na idéia de educar.

Para nos manter coerentes com nossas questões de estudo, na busca

de demonstrar como as dimensões sócio-política e ética podem contribuir para

pensar a Educação Física na escola, partindo do pressuposto de que “o amor é

a biologia da aceitação do outro” (MATURANA, 2001, p.105), e que é o amor

um dos princípios fundamentais da convivência. Compartilhamos a

compreensão de que é no amor que se educa (MATURANA; VERDEN-

ZÖLLER, 2004). A reflexão que fazemos no decorrer desse texto, traz as

interações como um fenômeno que se dá no linguajear e nas emoções, sendo

o amor à emoção que agrega e que produz conhecimento. Essa compreensão

constitui a perspectiva humana que estamos dimensionando para a educação

e, consequentemente, para a Educação Física, no tocante a convivência entre

os atores sociais do GGTP. Essa perspectiva da educação humana se constitui

na experiência pedagógica vivida pelos entes envolvidos, no tocante ao afazer,

quando nos referimos especificamente à ginástica geral.

Afirmarmos que a ginástica geral, fenômeno da Cultura de Movimento,

expressa qualidades humanas cujas características podem remeter ao

altruísmo e a formação humana. Quando expressamos ao longo do texto os

fragmentos de memórias dos atores sociais investigados, expomos parte das

ações formadoras dessa prática que não se restringem ao exercício gímnico.

As ações pedagógicas se ampliam à medida que consideramos a convivência

e seus componentes como manifestação dessa educação que humaniza e não

embrutece o ser.

A educação humana preconiza uma formação humana, formação esta

que se dá a partir da interação entre humanos no linguajear e no amor. O que

nos faz compartilhar que “Essa ligação do humano ao humano é, em última

instância, o fundamento de toda ética como reflexão sobre a legitimidade da

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Ginástica geral como aposta ética para uma formação humana ______________________________________________________________________

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presença do outro” (MATURANA; VARELA, 2002, p.269); e nessas

circunstâncias, ligar-se ao outro é aceitar o outro como legítimo outro da

convivência, manifestação amorosa.

Pelo exposto, acreditamos que a ginástica geral é um afazer que se

constitui uma possibilidade de resignificar o contexto das práticas pedagógicas

tradicionais da escola. Considerando que a ética se constitui nas relações e

nelas repercutem, e que, a ginástica geral é uma atividade coletiva que só é

possível na relação entre indivíduos, afirmamos que a GG é uma atividade que

parte de valores humanos comuns e que precisam ser preservados para a

manutenção da própria identidade da atividade.

A ginástica geral ao ser inserida no universo escolar, apresenta-se não

só na sua dimensão gestual, mas principalmente, no seu conteúdo ético e

político. É esse conteúdo que manifesta a possibilidade de uma ação

pedagógica humanizadora, idéia à qual defendemos. Destacamos que a

referência da ginástica geral em si não constitui as dimensões ética e sócio-

política da prática, mas sim as referências da própria prática pedagógica, que é

viva, por envolver além do gestual codificado, pessoas interagindo num espaço

comum a partir de um objeto de desejo, também comum.

No intuito de ilustrar e exemplificar o que queremos afirmar, apontamos

a própria produção de textos que constitui o nosso corpus de análise: a

produção dos textos em si são frutos do engajamento político entre os

envolvidos no ProGin. Esse engajamento objetivou, entre outras coisas,

registrar e documentar a breve trajetória do GGTP. O conteúdo desses textos

traz os valores que constitui na prática uma ética que não se dá de forma

estanque, mas sim, de forma dinâmica. Não é apenas a partir da ginástica

geral que as dimensões ética e sócio-política se constituem, mas a partir da

forma pela qual o afazer foi posto para o grupo de alunos, considerando a

conversa, o diálogo, a boa convivência e o amor como elementos fundamentais

do processo formador perspectivado na humanização.

A partir da seguinte afirmação “no processo de humanização, a

aprendizagem desempenha um papel primordial: o de assimilação da

existência social” (NÓBREGA, 2005, p.15), compreendemos que a convivência

constitui o campo das experiências, situação em que reconhecemos e somos

reconhecidos como o legítimo outro da relação: condição da nossa existência

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social. Essa convivência constitui lugar em que nós estabelecemos as relações

sociais e, assim, existimos.

Para Maturana (1998) quando geramos em conjunto um projeto, nós nos

unimos no espaço dos desejos e constituímos um espaço de aceitação mútua.

Ao voltarmos para o caso específico no qual investimos ao longo da pesquisa,

já identificamos que o desejo comum que nos uni é a própria prática da

ginástica na Escola Municipal Professora Terezinha Paulino de Lima,

compreendemos que tanto a escola quanto a prática da ginástica constituem o

espaço de aceitação mútua, onde nós, atores sociais, convivemos e

aprendemos.

Cercam o GGTP valores/condutas que tecem a identidade ética do

grupo, assim como da própria prática pedagógica, e esse fenômeno é

recíproco. A conduta dos ginastas desse grupo, por exemplo, veste-se de

alguns valores, como respeito, benevolência e solidariedade. Considerando a

forma na qual nós nos relacionamos no GGTP, compreendemos que essa

forma de relação constitui uma ética amorosa, própria do grupo.

Preservando o sentido posto, acreditamos que o perfil amoroso dos

valores apresentados constitui a ética compartilhada no cotidiano do referido

grupo pelos próprios integrantes. Observamos a concretização dessa ética

amorosa nas diferentes falas ao longo do texto, quando são expressas, entre

outras coisas, o cuidado com o outro, manifestação do que estamos

compreendendo como companheirismo. Posto o exemplo de como essa prática

ética amorosa se dá na prática pedagógica, compreendemos que a ginástica

geral, nesse contexto, é uma ação pedagógica que humaniza.

A aceitação do outro na convivência também constitui um campo em que

existimos numa dimensão política. O ator social decide o lugar, o desejo e as

pessoas que cercam o seu existir, por outro lado, esse mesmo sujeito se

submete a aceitação dos outros na existência. O que nos leva a compreender

que ninguém existe sem o outro, logo, precisamos do outro para existir. Assim,

quando dois ou mais atores sociais se envolvem num projeto comum, e ainda,

que envolve obviamente um objeto de desejo, também comum, os mesmos

passam a coexistirem. Essas decisões que circulam o cotidiano do convívio

constituem um exercício essencialmente político que não se encerra na atitude

de decidir, mas no desenrolar das tomadas de decisões.

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No momento em que nos voltamos para as dimensões ética e sócio-

política dessa prática, constatamos que a última dimensão é observada quanto

nos voltamos para os discursos que orientam o próprio afazer pedagógico,

principalmente os princípios orientadores e a própria estrutura política que

compõe o GGTP, mas que são nas ações que, de fato, ela se efetiva. Quando

falamos que a ginástica geral é uma atividade sem fim competitivo e que

abrange todos os gêneros da ginástica, das expressões artísticas e das demais

manifestações da Cultura de Movimento, de sexo, étnico e etário, estamos

anunciando alguns princípios do domínio da política que cercam essa prática.

Destacamos que é tênue a fronteira que separa as duas dimensões em

questão.

Percebemos que as escolas se constituem como unidades singulares,

cujas formas e características se dão a partir do contexto e conjuntura a qual

estão inseridas e associadas. Essa ampla possibilidade de paisagens revela

uma profusão de possibilidades que identificam cada escola. Cada escola é

ainda mais singularizada quando consideramos sua natureza, fim institucional,

características da proposta política pedagógica. Nesse contexto é possível

encontrar algumas escolas que compreendam ou optem por práticas

pedagógicas pautadas em modelos historicamente construídos que negam a

criatividade e a emancipação do aluno, em manutenção de uma padronização

de condutas e de estilos de vida. Essas idéias são amplamente criticadas por

diferentes autores contemporâneos, alguns dedicados aos estudos que tratam

da Educação19, outros, especificamente, na Educação Física escolar20.

Na Educação Física escolar, ou mesmo no esporte na escola, é comum

esse tipo de verificação, em especial quando a busca é pela primazia do gesto

técnico, pela hierarquização do ator social, pela habilidade, pelo seu potencial

esportivo e competitivo. Nesse sentido, acrescentamos à compreensão do

esporte educacional a idéia de que, o ensinamento do esporte na escola, seja

na condição de conteúdo específico nas aulas de Educação Física, seja na

19 Entre eles: Flecha e Tortajada (2000); Sacristán (2000); Giroux (2000); Macedo e Bartolome (2000); McLaren (2000); Popkewitz (2000); Rigal (2000); Subirats (2000). 20 Alguns dos principais nomes da área que expressam essa idéia: Coletivo de Autores (1992); Borges (1998); Gallardo (1998); Fonseca (1999); Hildebrandt-Stramann (2001); Darido (2003); Duckur (2004); Darido e Rangel (2005); Bracht (2003; 2006); Hildebrandt-Stramann e Laging (2005); Kunz (1991, 1994, 1998, 2001); Medina (1990); Bregolato (2002); Melo (2001; 2002); Shigunov (2002); Soares (2002; 2004).

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condição de esporte na escola, não se reduz a tradição que parte de uma

compreensão mecânica da aprendizagem, mas numa mobilização que envolve

ao mesmo tempo o professor e o aprendiz numa ação cúmplice de atitudes

criativas, críticas e transformadoras para a construção do conhecimento que

cerca o próprio fenômeno, na realidade em que os indivíduos interagem e

convivem.

O entendimento da relação mestre-aprendiz, parte da nossa dedicação,

está na compreensão que adotamos desde o início desse texto no que se

refere à convivência. Ao longo do texto, discutimos e entendemos que a nossa

humanidade se no constitui na amalgamação do linguajear com o emocionar,

mesmos fatores do conversar; e que é na manifestação do conversar na

convivência que existimos na nossa condição humana. Compreendemos

também que é no conversar que existimos com o outro e é nessa relação que

compartilhamos experiências. Ao compartilhar experiências estamos ampliando

nossa percepção do mundo, sentindo, conhecendo e transformando ou

conservando a nossa condição e/ou nosso espaço. O conjunto de discussões e

entendimentos nos faz pensar a relação mestre-aprendiz como uma unidade

posta na convivência, que permite a qualquer ator social implicado no convívio

com outros, a condição de mestre-aprendiz.

A compreensão do mestre no sentido lato revela a figura do professor,

como aquele que profere o conhecimento à alguém. Esse alguém revela a

outra face da relação do ensinar-aprender, ou seja, o próprio aprendiz ou o

aluno. A compreensão de aprendiz é inversa ao de mestre: mestre é o que

ensina, aprendiz é o que aprende. Esse pensamento é o que circula o senso

comum e na cultural da escola tradicional. No entanto, compreendemos, em

um sentido estrito que a relação mestre-aprendiz avança esse entendimento

para uma condição mais ampliada. Rancière (2004), aponta princípios

importantes que norteiam as práticas pedagógicas, dos quais elegemos que:

todos os homens [seres humanos] partem do princípio da igualdade de

inteligência; a educação deve trilhar o caminho da emancipação; e por fim, tudo

estar em tudo (grifo nosso).

Toda experiência vivida com o outro é reflexo da experiência que se dá

no corpo, em circunstância na qual o ator social está exposto, que implicam

nas aprendizagens e saberes para os envolvidos. É na experiência que somos,

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ao mesmo tempo, mestres e aprendizes. Somos mestres quando permitimos

ao outro compreender, acessar, resignificar condutas, conhecimentos,

outrossim, somos aprendizes quando recebemos do outro o benefício de

ampliar a nossa perspectiva de mundo. Paulo Freire (1979; 2005), afirma, entre

outras coisas que, quem educa se educa, e que, ao ensinar se aprende e vice-

versa. Nesse sentido, somos mestres-aprendizes e aprendizes-mestres na

partilha das experiências. Enfatizamos que a ética em questão não se reduz a

um campo filosófico ou ao campo da razão, mas como parte dessa história de

interações, sendo a convivência o campo no qual nós, seres humanos,

coexistimos e nos emocionamos uns com os outros, e dessa forma,

estabelecemos relações sociais (MATURANA, 1998; 2004), (MATURANA;

REZEPKA, 2000).

Ser confirmado na convivência implica uma existência que pode ser

interpretada numa perspectiva de experiência viva do ser diante da dinâmica

social. Condição de um ator social inserido na vida do grupo. Essa inserção

também é política quando o ser na condição de indivíduo é engajado com

outros, compartilhando idéias e trabalhando para executá-las. A ampliação da

condição política do indivíduo na sociedade é uma construção cultural, que

pode ser iniciada na formação escolar, na perspectiva de uma pedagogia do

amor.

Ao longo desse texto, predispomos apostarmos numa possível

pedagogia do amor considerando as dimensões sócio-política e ética vividas no

GGTP, por compreender que a mesma humaniza. Quando vislumbramos para

o ginasta uma formação humana, perspectivamos que ao ganhar o mundo

vivido, ele torne-se capaz de compreender o outro como legítimo outro na

convivência, compreendendo que a amizade e o respeito são elos sócio-afetivo

essenciais; que a conversa e o diálogo não sobrepõem à convivência, como

manifestação das relações sociais, mas que implicam na própria; que é ele

capaz de refletir criticamente sobre suas ações e as dos outros, sendo ele não

superior nem inferior ao outro, por acreditar que todos somos capazes de

aprender; e por fim, que aprender e ensinar são princípios comuns no campo

do fazer pedagógico, o que nos tornam mestres e aprendizes simultaneamente.

Os atos de conversar e de dialogar constituem elementos dessa formação

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humana, pois, compreendemos que é no compartilhar de experiências com o

outro que nos educamos.

Porpino (2006), ao citar Foucault, em critica às condutas morais

historicamente tidas como referências absolutas, em sugestão da distinção

entre os preceitos morais e a diversidade de possibilidades, defende que é

possível que nós, seres humanos, ao nos conduzirmos, o façamos de acordo

com as regras sociais, sem perder de vista a nossa capacidade de nos

reconhecermos como sujeitos da nossa própria ação. Para tanto, a autora

sugere uma conduta criativa, a partir da imbricação entre o que é próprio do

individual e o que é próprio do coletivo, numa perspectiva de partilha de

experiências e emoções que, a priori, ocorre no âmbito social, ou como prefere

a autora, no “experimentar juntos”. Nesse sentido, acreditamos que a conduta

criativa constitui uma forma de agir e pensar a educação de modo a defender

que: “o corpo precisa ser despertado para que o desejo, o prazer, a ludicidade

permitam um conhecer, ou uma aprendizagem, que não se confunda com o

adestramento, mas que tenha um sentido existencial” (PORPINO, 2006, p.93).

Nesse sentido, compreendemos que a conduta criativa é congruente com a

abordagem pedagógica alicerçada na aceitação do outro como legítimo outro

da convivência, porque, além de considerar o potencial individual, a autora nos

indica que o mesmo só é possível se posto no coletivo, idéia da qual

compartilhamos.

Associando a perspectiva sócio-política da educação no amor,

investimos na idéia do diálogo como ação essencial na existência do ser na

ética. O diálogo pressupõe saber ouvir, escutar, estar aberto a diferenças e

pluralidade dos modos de ser e pensar do outro, é suspensão de crenças.

Implica confiança, acolhimento, reflexão sobre outros componentes éticos. O

diálogo em Freire (1996, 2005) é reflexão sobre si, sobre o mundo, entre

sujeitos que se relacionam socialmente. O diálogo pode ser percebido nesse

autor como dimensões do modo de estar, ser, viver, sentir e pensar do sujeito

no mundo, e ainda, podemos compreendê-lo como um operador de mudanças

e transformações das ações humanas, seja nas práticas sociais, educativas,

pedagógica, no âmbito da escola, na relação de ensino e da aprendizagem.

Portanto, compreendemos o diálogo como o fenômeno que envolve a palavra,

a história, o testemunho do outro, todos, fontes de saberes. Outrossim,

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compreendemos o diálogo como um operador político, no engajamento21 dos

indivíduos, na manutenção e subsistência de si e do coletivo, a partir de um

desejo que congrega.

Compreendemos que a conduta humana é uma condição deste

compartilhar que envolve atores sociais na convivência, através da conversa e

do diálogo. A partir dos nossos atos, formamos um conjunto de experiências

que caracterizam as condutas no GGTP, experiências essas vividas, sentidas e

acumuladas pelos seus integrantes (história de interações) e que constitui uma

ética circunstancial, provisória, pois está sempre se transformando, no curso

das interações recursivas, envolvendo pessoas.

Também compreendemos ao longo desse texto que, todos nós somos

aprendizes-mestres e que nossa forma de existir no mundo se constitui na

troca de experiências pelas interações e pelas histórias de interações. E é no

coexistir que ampliamos o nosso conhecimento e no conhecimento somos

ampliados. E é nessa ampliação, que se dá sempre com o outro, que nos

constituímos mestres-aprendizes. Compartilhamos a idéia de que, com a

expansão do mundo que nós nos expandimos (MATURANA; VARELA, 1997,

2002), (MATURANA, 2001). Sendo essa manifestação de expansão uma

possibilidade de pensar o desenvolvimento humano a partir da convivência.

Pois ao nos expandir, expandimos o nosso sentido de mundo e, a expandirmos

a nossa perspectiva de mundo, nos desenvolvemos.

O que nos ensina a convivência entre os indivíduos do GGTP é uma

perspectiva ética pautada na coexistência a partir do respeito e da aceitação do

outro, da partilha e soma de conhecimentos, da cooperação no afazer e da

benevolência, manifestação do amor. Essa ética altruísta a qual nos referimos

não é um projeto unilateral, pensado pelo professor ou outro ator social, mas

constitui-se a partir da conivência que reúne pessoas em torno de um desejo

comum. Uma ética que se reconstrói a cada dia, no exercício mútuo e

democrático em que estabelecemos relações sociais.

21 Ao pensarmos na dimensão política, logo nos vem à memória o uso corrente no texto do termo engajamento. Compreendemos o engajamento como forma de mobilização política do indivíduo: militância. Essa militância se dá em um fazer comum, na convivência e para ela. Uma convivência que se justifica no objeto de desejo, por exemplo, o caso dos componentes do GGTP em que a ginástica geral, tal qual compreendemos e fazemos, corresponde ao objeto de desejo comum. É nesse estado de engajamento que destacamos o senso político no grupo.

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A dimensão ética da experiência pedagógica a partir do GGTP suscita

uma orientação política de base democrática, só possível no campo das

interações, pois segundo Maturana (1998) o interagir só é possível num

sistema político democrático. Para esse mesmo autor, a democracia consiste

numa política do cotidiano que nos exige atuar sabendo que a verdade não é

absoluta e que a mesma não é propriedade de nenhum sujeito ou grupo de

sujeitos, e que o outro é tão legítimo quanto qualquer um na convivência.

Sobretudo, “uma oportunidade para colaborar na criação cotidiana de uma

convivência fundada no respeito que reconhece a legitimidade do outro num

projeto comum” (MATURANA,1998, p.75). Para Maturana (1998), o viver na

democracia exige aceitar que o projeto de uma ordem social, de fato, é uma

conspiração fundada num desejo de convivência.

Se não aceitamos a presença do fluir emocional num discurso não o compreendemos, e se não nos ocupamos do propósito criativo do discurso democrático, se não nos inteiramos de que a democracia pertence ao desejo e não à razão, não seremos capazes de viver em democracia, porque lutaremos para impor a verdade. (MATURANA, 1998, p.77).

Logo pensamos na democracia como um sistema político que se efetiva

na convivência e em seus componentes: linguajear e amor. Logo, os

componentes da convivência constituem princípios essenciais para a

efetivação da democracia. Outrossim, podemos pensar que a democracia é um

projeto político só possível na convivência, como um exercício mútuo de

reconhecimento do outro no debate e não no conflito.

Compreendemos que este estudo não é um tratado de comportamento

moral, nem de representação social de valores, mas uma análise de uma

prática pedagógica pautada na convivência entre humanos, cujo conteúdo

aponta duas dimensões: a ética e a sócio-política. Essas dimensões, possíveis

de observar na própria convivência do GGTP, foram identificadas e discutidas

ao longo do texto considerando os domínios da explicação da objetividade-

entre-parentêses e da objetividade-sem-parentêses (MATURANA, 1998).

Tudo que foi exposto ao longo desse texto faz sentido quando

lembramos Morin (2005), ao se referir à ética como a arte do saber viver. E

para sermos fieis à condição humana, para que outros especulem e ampliem,

sempre de forma melhor, o que já foi pensado, tanto no campo individual como

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no coletivo. Nesse instante nos vêm a seguinte pergunta: como queremos viver

nesse mundo?

A partir de Morin (2005), pensamos a democracia como um sistema

político que supõe e alimenta a diversidade dos interesses assim como a

diversidade das ideias. O respeito da diversidade significa que a democracia

não pode ser identificada com a ditadura das maiorias sobre as minorias. A

democracia tem ao mesmo tempo necessidade de conflitos de ideias e de

opiniões que lhe dão a vitalidade e a produtividade. Assim, exigindo ao mesmo

tempo consenso, diversidade e conflitualidade, a democracia é um sistema

complexo de organização e de civilização políticas que alimenta e se alimenta

da autonomia do espírito dos indivíduos, da sua liberdade de opinião e de

expressão, do seu civismo, que alimenta e se alimenta do ideal Liberdade –

Igualdade – Fraternidade que comporta uma conflitualidade criadora entre os

seus três termos inseparáveis22.

A tarefa de criar uma democracia começa no espaço da emoção com a sedução mútua para criar um mundo no qual continuamente surja de nossas ações a legitimidade do outro na convivência, sem discriminação nem abuso sistemático (Maturana, 1998, p.77).

Sendo as relações humanas aquelas que definem a convivência, sendo

a convivência o espaço de aceitação mútua entre seres humanos, façamos da

democracia um espaço político para a cooperação na criação de um mundo de

convivência pautado na democracia e no altruísmo, sem negar o outro como

legítimo outro da convivência. Esse pensamento constitui parte de nossa

aposta política e ética enquanto prática educativa na benevolência.

A partir de Delors (1999), considerando que a UNESCO elegeu o

aprender a conviver como um dos seus quatro pilares, ao estabelecer metas

para a política das nações do mundo para a educação, acrescentamos que a

convivência é um fenômeno de reconhecimento mútuo, e também, de respeito

e benevolência com o outro, essencial para uma cultura de paz e respeito

mútuo. Concordamos com a tese de que a convivência constitui-se em uma

prática amorosa e política entre humanos, que permite a coexistência e a vida

em sociedade (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004). O respeito e a

22 Retirado da Internet através do site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Morin>

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benevolência mútua entre os sujeitos, correspondem a uma existência amorosa

que preserva os mesmos numa unidade política democrática. (MATURANA;

REZEPKA, 2000). Portanto, a convivência além de essencial para concretizar

um projeto político democrático, é em si uma manifestação política, afetiva e

existencial da nossa espécie.

Para Maturana (1998) as relações humanas acontecem sempre a partir

de uma base emocional que nos unifica em um projeto, um projeto que a priori

é de convivência. Ao compreendermos que o projeto que nos une no GGTP é a

ginástica geral, cuja base emocional que nos unifica corresponde tanto as

Condutas relacionais da boa convivência, como as Condutas relacionais

indesejáveis e as não-sociais. Compreendemos que, a base emocional é

também, a base ética do GGTP. A base ética do GGTP é calcada em condutas

não sistematizadas ou impostas, mas que nasce da história de interações de

cada sujeito e do compartilhamento dessas histórias particulares entre os

membros do grupo. A ética que estamos falando não foi convencionada,

imposta ou proposta, ela é contingente, surgiu na coexistência, no exercício do

linguajear e do amar, no fazer que surge no fluir em coordenações de conduta

de coordenações de conduta consensuais na convivência, de forma engajada e

democrática.

Considerando o projeto pedagógico do GGTP, na perspectiva das

dimensões ética e sócio-política, a educação está para seus integrantes na

perspectiva de formar cidadãos capazes de criticar, sugerir, reivindicar e

transformar a realidade, respeitando o processo democrático que reuni seus

integrantes – eu e meus alunos – na convivência; sendo eles conhecedores

dos direitos, assim como dos deveres, engajados em um projeto comum,

conscientes do desejo que constitui esse projeto e dos princípios éticos

apreendidos e corporificados na prática esportiva/educativa; é uma educação

que serve aos próprios atores sociais envolvidos, assim como ao coletivo, na

condição de reconhecê-los como aqueles que desejam, possuem vontades e

necessidades próprias, mas que são consciente do apelo coletivo para a

coexistência e, portanto, do apelo prioritário da necessidade coletiva; é uma

educação que nos permite, professor e alunos, exercitar não só os músculos e

articulações, mas o amor, a indulgência e a responsabilidade uns com os

outros, seja no cotidiano das práticas, referindo-me ao fazer gímnico, seja nos

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outros campos da vida. Assim, compreendemos que a democracia é a

dimensão política da ginástica geral, essencial para a constituição

circunstancial de um campo de interações em que o conjunto ético é instituído

e, no qual, os atores sociais envolvidos nessa prática pedagógica aprendem e

criam no experimentar juntos.

Por fim, alertamos para a seguinte consideração: compreendendo que o

espaço de convivência não é só a escola ou a rua, mas, o mundo em que

existimos, Maturana (1998) reflete a condição da política educacional do Chile,

seu país de origem, pensando a educação numa perspectiva ética alicerçada

na vida, implicando na relação existente entre eu e o outro, onde o outro não

deve ser entendido como o semelhante, mas tudo aquilo que está no mundo. O

mundo deve ser entendido, nesse sentido, como um espaço de convivência e

que o coletivo não é privilégio da espécie humana, mas de tudo que há nesse

espaço que chamamos Terra.

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Nem condenação sísifa, nem meninas lobo. ______________________________________________________________________

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NEM CONDENAÇÃO SÍSIFA, NEM MENINAS LOBO.

Os indicadores éticos presentes na experiência vivida pelos integrantes

do Grupo Ginástico Terezinha Paulino correspondem a união, persistência,

perseverança, resistência, esforço, disposição, força de vontade, cooperação,

colaboração, trabalho coletivo, conversa/diálogo, amor/carinho, partilha,

coragem, tolerância/resignação, amizade, vaidade/orgulho, vaidade/arrogância,

responsabilidade, compromisso, dedicação, aplicação, disciplina, gratidão,

respeito, calma, intriga, contenda, raiva, ira, fúria, nervosismo, medo e

ansiedade. Descobrimos que não havia um sentido específico para cada um

desses indicadores. Os mesmos revestem-se dos múltiplos significados,

respeitando as referencias pessoais de cada componente, tomados a partir de

experiências de vida diversas de cada sujeito aqui analisado. Contudo os

indicadores apresentam similitudes quanto ao designo de significados. Essas

similitudes foram observadas e contribuíram para a organização dos dois eixos

de discussão, ou categorias dessa pesquisa: condutas relacionais da

convivência e condutas relacionais indesejáveis e não-sociais.

Em condutas relacionais da convivência apontamos o conjunto de

comportamentos e valores que corroboram com uma unidade social, em que

pessoas convivem aprendendo e aprendem convivendo, aceitando uns aos

outros como legítimos seres da convivência. Essas condutas nos mostram a

importância do outro para sermos o que somos. Em condutas relacionais

indesejáveis e não-sociais vimos alguns elementos do comportamento que

negam o outro no espaço relacional, e nesse contexto, essas condutas

apresentam-se como não desejáveis para os próprios componentes ou

mostram-se incongruentes com a própria existência da vida social ou mesmo

da humanidade, mesmo que essas condutas surjam na própria dinâmica de

convivência entre os indivíduos. São próprios das condutas da boa

convivência: união, cooperação/solidariedade/fraternidade, respeito, amor,

confiança, conversa, responsabilidade, compromisso/dedicação/aplicação,

gratidão, diálogo, companheirismo, partilha/compartilhar, benevolência.

Correspondem as condutas indesejáveis ao bom convívio: intriga, contenda

(disputa), vaidade/arrogância, raiva/ ira/ fúria, nervosismo, ansiedade e medo.

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O conjunto dos sentidos configura uma dimensão sócio-política da

formação dos atores sociais envolvidos, assim como, da própria prática que

nos confraternizam. A dimensão sócio-política que nos integra nessa

experiência educacional está calcada numa prática pedagógica de

transformação e construção desses valores/condutas na convivência entre

humanos, associado aos demais saberes que abarcam o afazer da ginástica,

assim como os demais elementos que circulam no viver. A partir da análise da

prática pedagógica no GGTP, pautada na convivência entre humanos,

destacamos que essa pesquisa constitui um exercício de voltar-se para uma

prática educativa, como um fazer essencialmente humano que abarca saberes

de ordem política e ética, o que constitui a principal contribuição para pensar e

fazer a Educação Física na escola. Buscando ampliar o sentido que nos faz

pensar esse fazer na escola partiremos da negação da condição sísifa, como

metáfora para pensar a educação na sua acepção mais ampliada.

O professor condenado à tarefa sísifa se depara em seu cotidiano com

um afazer enfadonho, que se repete sempre da mesma forma. A educação

nessa perspectiva é rotineira, mecânica e pouco motivadora. Embora a mesma

possa ter algum valor, não vamos adentrar no mérito da questão. O que nos

interessa aqui apresentar é o fato de negarmos a condição sísifa do fazer

docente, considerando a experiência pedagógica vivenciada no GGTP.

Negamos veementemente que, a nossa prática pedagógica, a exemplo

da condenação, funcione na perspectiva de um trabalho monótono, rotineiro e

mecânico. O nosso fazer constitui uma prática que se renova cotidianamente,

na ação e na criação do próprio fazer. É no cotidiano que nós (eu e os alunos)

acrescentamos e somos acrescidos pelos saberes do cotidiano.

Compreendemos que esse redimensionamento só é possível no campo das

interações, quando vivemos com o outro o desejo, ou a descoberta dele na

convivência de forma recursiva e amorosa. É nesse conviver com o outro que

vivemos, existimos, e com isso, descobrimos o mundo que nos cerca.

Quando consideramos que “viver é conhecer” (MATURANA, 1997),

compreendemos que a troca de experiências deixa um legado de saberes que

carregamos, independentemente de qualquer distinção, durante a nossa

existência. Nesse sentido, refutamos a condição sísifa quando nos referimos a

qualquer prática pedagógica vivida entre pessoas que se reconhecem no

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espaço democrático como aprendizes e mestres. E ao reconhecerem seus

papéis, todos devem ser cientes, seja qual for o lado do processo educativo

exercido, que o ensinar e o aprender constituem faces da mesma moeda. Ao

aprender ensinamos e ao ensinarmos aprendemos, já dizia Freire (1979).

Assim, somos ora aprediz-mestre, ora mestre-aprendiz.

Meio ao percurso formador em que todos nós aprendemos e ensinamos,

reside um desejo comum: viver bem. Considerando que vivemos numa deriva

natural (MATURANA; VARELA, 1997, 2002), nem sempre é possível

alcançarmos a tão sonhada condição, isso por razão muito simples: cerca

nossa condição natural, uma outra, a condição cultural. Estamos imersos na

cultura e é nela que existimos na coletividade. Mesmo considerando a nossa

condição de indivíduo, esses fatores agem geralmente independente da nossa

vontade.

A cada instante nós aprendemos algo novo vivendo, preservando a

compreensão da recursividade (MATURANA; VARELA, 1997, 2002). Como

efeito dessa recursividade, nós deixamos de ser o que somos e nos tornamos

outro ser a cada instante, ao aprender algo novo. Esse processo é sutil e

constante, dura a vida inteira. Defendemos aqui nessa dissertação um caminho

para esse viver em que somos a cada instante um novo ser, ao conhecer o

novo.

Ao longo do texto viemos denominando esse novo caminho de

altruísmo. Vimos que o altruísmo está associado ao que é próprio do social,

contrário ao egoísmo. Defendemos esse caminho por entender que, o mesmo

constituí equilíbrio entre o existir individual e o coletivo, à exemplo do que

acontece na explicação sobre deriva natural. O altruísmo corresponde ao

conjunto de condutas de nós indivíduos, cujo efeito benéfico age sobre o

coletivo. O conjunto de condutas constitui uma condição da nossa existência,

enquanto indivíduo, assim como do grupo social ao qual pertencemos. Esse

conjunto é o que chamamos de ética.

A ética que nós apontamos no decorrer desse estudo é a mesma que

estamos apostando para pensar o educar, a escola e os indivíduos que ela

compõe. É uma ética para além da condenação sísifa. Constitui um acervo

capaz de agregar pessoas numa existência humana. Destacamos que a

existência humana só é possível no desdobramento do conversar: linguajear e

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emocionar (amar). Lembremos que para Maturana (1998, 2000, 2001, 2004) a

conversa é o princípio universal da condição humana.

Em 1992 foram achadas e resgatadas na aldeia bengali, norte da Índia,

duas meninas, uma supostamente com oito anos e outra com cinco. Até aí

parece um caso de resgate comum de crianças desaparecidas com um final

feliz, não fosse o fato de que as mesmas dividiam um drama, considerando a

nossa compreensão de mundo. As mesmas viveram, até o resgate, um

completo isolamento, quanto ao contato com outros seres humanos.

Referimos-nos ao caso das meninas lobo. Assim ficaram conhecidas por terem

convivido e aprendido a viver com lobos. As mesmas aprenderam os hábitos

dos caninos, por exemplo, se deslocavam na forma quadrúpede e se

alimentavam de carne crua (MATURANA; VARELA, 2002). Os mesmos

autores, ao ilustrar a Árvore do conhecimento com o episódio das meninas

lobo, demonstram partes do domínio do comportamento.

Para nós, as meninas lobo além de ilustrar o que os autores (idem)

expõem sobre a construção de uma representação de mundo que permitiu as

meninas sobreviverem longe de outros humanos, ilustram o quanto é frágil a

nossa humanidade. Nossa humanidade depende de outros humanos. E é na

convivência que aprendemos a ser humanos. Nesse sentido, sem outros iguais

a nós e sem a estrutura social que nos congregam, nos despimos do que é

cultural, e o que resta é a nossa condição animal. Despidos da nossa

humanidade nos resta viver nossa condição estritamente natural, ou seja, a

nossa instintiva animal. Por sobrevivência, acabamos nos adaptando da melhor

forma que convier, à exemplo das meninas lobo.

A partir de ensaios sobre aculturação e mudança cultural, em “Amar e

Brincar: fundamentos esquecidos do humano”, Maturana em parceria com a

alemã Verden-Zöller (2004), expõem sobre o desenvolvimento da consciência

individual e social da criança, na qual a existência humana é posta como um

acontecimento no espaço relacional do conversar. Posto ainda que na

condição de animal, homo sapiens, temos um modo de viver que revela nossa

condição humana, uma condição imersa no conversar. Contudo, sem o outro

humano não podemos viver nossa condição humana.

É no conversar que trocamos com o outro a história de condutas que

nos torna humanos. Ao conversarmos abrimos um espaço para a presença do

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outro junto a nós, o que constitui uma disposição corporal na qual Maturana

(2000, 2001, 2004), assim como nós, viemos evocando no decorrer do texto, a

saber: o amor. É no convívio que o indivíduo vive com outros o amor e é

amando que vivemos a nossa humanidade: aceitando o outro como legítimo

outro na existência comum. Compreendemos assim, que nossa humanidade

está posta no domínio das emoções e da convivência com outros humanos,

uma vez que compreendemos que é no fluxo da convivência com outros

humanos que nós agimos e existimos. Nesse sentido, afirmamos que:

precisamos do outro para viver a nossa humanidade.

Compreendemos ao longo do texto que a conduta que nos faz aceitar

uns aos outros como legítimo outro na convivência, atende por amor. Vimos

que amar é trocar com outros a esperança, o conhecimento, desejos, outros

sentimentos e até fluídos. Ao amar dividimos com o outro o que temos de

melhor e pior, seja considerando as condutas relacionais da convivência, seja

considerando as condutas relacionais indesejáveis e não-sociais. Convivendo,

nós trocamos com outros, aquilo que temos por aquilo que não temos, isso

preserva a nossa individualidade e a importância desse aspecto para o

coletivo. Ao amar cultivamos no convívio com outros seres, humanos ou não,

valores que ajudam a contar a história da nossa humanidade, uma humanidade

que só é possível no viver em coletividade, aprendendo com o outro aquilo que

ainda não sabemos e vice versa. Nesse sentido, compreendemos que a

conduta amorosa se renova cotidianamente de forma recursiva, durante as

interações entre nós, seres humanos e que foi amplamente demonstrada,

considerando a convivência entre pessoas no GGTP.

O amor é uma disposição corporal, uma emoção que agrega e que

produz conhecimento. A partir do processo formador que vivemos no GGTP,

podemos compreender que o amor é uma mobilização que envolve ao mesmo

tempo o professor e o aprendiz numa ação cúmplice de atitudes criativas,

críticas e transformadoras para a construção de conhecimentos que cercam o

próprio fenômeno da educação, assim como, da própria realidade em que nos

faz interagir e conviver com outros humanos. Desse modo, compreendemos

que a convivência abre um campo de aprendizagens que se sucedem no

tempo pela interação entre pessoas. Assim, compreendemos que o amor

educa e nos transforma em humanos.

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Reiteramos que a educação humana preconiza uma formação humana,

formação esta que se dá a partir da interação entre humanos no linguajear e no

amor. Pois, ao amar nós nos transformamos e transformamos o lugar e as

pessoas do nosso convívio, construindo assim a história do nosso viver em

coletividade. O que nos faz lembrar a educação autêntica que na perspectiva

de Freire (2005) preconiza uma educação de um com o outro. O que preserva

o entendimento de democracia, segundo Maturana (1998), como manifestação

política dessa educação.

Ao longo do texto, expomos o entendimento de que a democracia é uma

conspiração social, portanto, um ato político, para uma convivência na qual se

busca um desejo comum, esse desejo é um projeto comum aos sujeitos na

convivência e que nasce da necessidade, partilhada na linguagem, cujo fazer

também coletivo se dá na efetivação desse projeto. Esse fazer pode ser na

direção de um desejo de mudança ou manutenção de uma condição comum.

Ao retomarmos Freire (2005) quando afirma que, é no diálogo que

transformamos a realidade, compartilhamos da idéia de que, qualquer

transformação social é uma resposta solidária entre indivíduos que vivem a

democracia como conduta política de convivência, à qual são preservados o

respeito e a aceitação mútua entre humanos. Compreendemos que o sujeito

respeitador pode aprender qualquer coisa e adquirir a habilidade que desejar

por si mesmo (MATURANA; REZEPKA, 2000). Expomos ainda que, a

dimensão sócio-política da convivência encontra-se no diálogo, amplitude do

linguajear que implica na articulação coletiva de renúncias e também de

reivindicações comuns aos indivíduos afins.

É nesse viver com outros que somos capazes de sermos transformados

transformando, e de, até, mudar ou não a nossa realidade. Viemos

demonstrando até aqui que, os valores em questão são produtos de uma auto-

organização ou autopoiese (MATURANA; VARELA, 1997, 2002), essa auto-

organização transforma recursivamente os sujeitos em interação constante, o

que deslumbra um significado existencial que diverge daquele pensado na

tradição da Educação Física, e mesmo, da Educação: enquadramento,

homogeneização e padronização do comportamento, hierarquização com

autoritarismo e negação da individualidade.

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Negamos esse paradigma que conduz formadores e formandos ao

pensamento de que sua condição é de um apenado, condenado a um trabalho

sísifo. Defendemos uma educação escolar voltada para a formação humana.

Para tanto, compartilhamos com Freire (1995), o pensamento de que educar

também é um gesto amoroso e político, envolvendo duas ou mais pessoas.

Assim, defendemos ainda a democracia e o altruísmo numa perspectiva

política e ética, respectivamente, para um educar que preconiza o experimentar

junto como máxima. Uma educação cuja negação do outro como legítimo outro

da convivência deve ser constantemente combatida. Destacamos que esse

pensamento constitui parte da nossa aposta educativa.

Apostamos numa perspectiva pedagógica calcada nos princípios do

amor considerando as dimensões sócio-política e ética, cujo exemplo foi

percebido a partir do referencial do Grupo Ginástico Terezinha Paulino, ao

longo dessa dissertação, por compreender que a mesma humaniza.

Apostamos nessa prática educativa, por considerá-la um afazer

essencialmente humano que abarca saberes de ordem política e ética,

constituídas no viver de seus participes, considerando os princípios da

idiossincrasia, da aceitação do outro e da democracia. Um exercício que

recomendamos e insistimos como uma tarefa constante, exercitada na

convivência. O conteúdo desse texto dissertativo nos leva a crer que o mesmo

amplia os entendimentos no que cerca a formação humana e seu papel na

escola quanto ao educar.

Sugerimos que outras iniciativas partam desse texto dissertativo

considerando a pedagogia do amor. Estamos esperançosos de que outros

professores venham investir nessa forma de pensar a educação, para que

possamos ampliar a rede de convivência a partir de um desejo comum: mudar

a realidade da educação brasileira a partir da transformação na maneira de

pensar e de se fazer educação em nossas escolas. Ainda considerando o

próprio GGTP outras possibilidades se dão para pensar o fazer educativo.

Entre as possibilidades está à discussão de gênero em relação à prática

especifica da ginástica considerando a quantidade de meninos envolvidos e a

exposição dos mesmos ora a discriminação, ora a aceitação.

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Referências ___________________________________________________________________________

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REFERÊNCIAS

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Anexos _________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXO A: TABELAS DE FREQUÊNCIA

Sujeitos

Indicadores éticos

União

Persistência/

Perseverança/ Resistência

Esforço

Vaidade

Força

(disposição) /Força de vontade

Cooperação/ Colaboração/

Trabalho coletivo

Conversa/ Diálogo

Amor/ carinho

Tolerância / resignação

Coragem

Amizade

01 6 2 2 1 2 2 3 1 1 1 4

02 16 23 9 1 2 7 - 10 1 4 6

03 10 6 3 1 2 2 3 3 1 2 4

04 6 7 2 1 - 2 - - - 1

05 5 8 8 4 5 6 8 - 1 - 8

06 2 2 10 4 2 3 - 5 - 2 3

07 4 1 10 - 10 2 - 2 1 3 5

08 2 5 1 2 1 3 4 - - - 5

09 1 7 - - - 1 1 1 - 2

10 2 4 6 2 6 8 11 3 1 1 3

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Anexos ___________________________________________________________________

145

Sujeito

Indicadores éticos

Família

Inclusão

Trabalho/Treinos

Aprender /

aperfeiçoamento/ Auto-avaliação

Confiança/ segurança

Responsabilidade

Esperança

/ fé

Paixão

Compromisso

Ambição

Dedicação/ Aplicação

Aguerrir/

lutar

01 2 - 2 - - - - - - - 3

02 4 2 20 17 3 1 2 4 2 5 5 7

03 1 - 8 9 7 - - - - - 6 3

04 3 - 12 5 2 - 4 - - - 4 -

05 5 - 8 7 - 5 2 - 1 2 8 -

06 - - 17 1 4 3 4 - 1 - 4 -

07 2 - - 2 16 - - - - - 6 -

08 4 - 16 - 3 10 - - 9 - 1 -

09 1 - 5 3 - - - - 3 - - 3

10 8 1 9 4 1 3 4 1 4 1 1 1

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Anexos ___________________________________________________________________

146

Sujeito

Indicadores éticos

Inveja

Intriga

Contenda/ disputa/

rivalidade/ competição

Egoísmo

Raiva/

ira/ fúria

Benevolência/

perdão/ compromisso

Incentivo/ motivação

Menosprezo/ subestimar

Preconceito

Extroversão

Companheirismo/

solidariedade/ coleguismo

Disciplina

01 - - 1 - - - 2 1 - 1 - -

02 1 12 8 2 2 6 15 5 3 - - 3

03 - 1 4 - - 4 2 - - 1 5 -

04 - - 1 - 1 1 - - - 2 9 -

05 2 2 1 - 1 3 2 - - - 3 2

06 - - 1 - - 2 1 - - - 6 2

07 - 1 1 - 4 2 - 1 1 - 1 1

08 - 1 - - 1 1 - - - - 4 -

09 - - - - - - - - - - 3 -

10 - 1 17 - - 1 8 1 1 - 5 1

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Anexos ___________________________________________________________________

147

Sujeito

Indicadores éticos

Partilha/

compartilhar

Preguiça

Ralhação

Otimismo

Entusiasmo

Gratidão

Ciúme

Fingimento/ falsidade

Dever

Altivez/ arrogância

Saciedade

Compulsão/ insaciedade

01 - - - 1 - 1 - - - - - -

02 - - - - - - - - - - - -

03 1 1 3 1 1 - - - - - - -

04 2 - - - - 2 1 - - - - -

05 - 1 - - - 2 - 1 1 2 1 2

06 2 - - - - 1 - - - - - -

07 - - - - - 1 - - - 1 - -

08 1 - - - - 2 - - - - - -

09 1 - - - - - - - - - - -

10 3 - - 1 2 1 - - - - 3 -

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Anexos ___________________________________________________________________

148

Sujeito

Indicadores éticos

Ponderação

Fraternidade

Respeito

Aceitação

Euforia

Simpatia

Ignorância

Honra

Desespero

Calma/ PAZ

Aflição

Humildade

01 - 1 2 3 - - - - - - - -

02 - - 3 - - - - - - - - -

03 - 1 4 - - - - - - - - -

04 - - 1 - - - - - - - - -

05 1 2 5 1 3 1 1 8 1 5 2 1

06 - - 1 - - - - - - 2 - -

07 - - 5 - - - - - - 11 - 1

08 - - 1 - - - - - - 2 - -

09 - 1 - - - - - - - 3 - -

10 3 - 2 6 4 1 - 2 - - 1 1

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Anexos ___________________________________________________________________

149

Sujeito

Indicadores éticos

Igualdade

Distração

Inteligência/ sabedoria

Superação

Zelo

Dúvida/

insegurança

Descontração

Harmonia

Disciplina/

ordem/ organização/ planejamento

Convivência

Concentração

01 - - - - - - - 3 - 1 -

02 - - - - - 1 - - - - -

03 - - - - - - - - - - -

04 - - - - - - - - - - -

05 3 - - - - - - - - - -

06 - 1 1 3 1 2 1 2 10 - 1

07 - - - - - 1 - - 4 9 3

08 - - 1 - - - - - 1 2 -

09 - - - - - - - - 1 2 -

10 - 1 1 6 - - 2 1 2 13 -

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Anexos ___________________________________________________________________

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Sujeito

Indicadores éticos

Fascinar-se

Emocionar- se

Prazer

Visibilidade/

fama e sucesso

Mudar/

transformar/ criar

Ansiedade/ angustia/ impaciênc

ia

Vergonha/

timidez

Desejar/

sentir vontade/

Medo

Sentir

orgulho

Felicidade/

alegria

Nervosismo

01 1 3 2 2 1 1 - 3 - - 3 2

02 - 1 29 3 11 1 1 - 14 5 21 1

03 2 4 3 1 3 8 4 3 2 18 6

04 - 12 5 2 3 - - 1 5 1

05 1 1 9 2 1

5 3 3 5 - 12 9

06 - 4 1 3 2 4 - 1 1 - 3 1

07 - 1 17 3 - 6 1 3 8 - 9 10

08 1 1 - 1 - 4 - 1 - - - -

09 4 5 - - 1 - 4 - - 10 4

10 3 3 5 10 9 4 - 6 1 2 9 -

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Anexos ___________________________________________________________________

151

ANEXO B: FICHAS DE CONTEÚDO

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 1: Caroline Bezerra TÍTULO: VOU CONTAR DUAS HISTÓRIAS EM UMA: A MINHA E A DO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO. SUBTÍTULO: PRA COMEÇAR... UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Nada como uma boa conversa e bons sentimentos para nos unir. Isso que nos uni, também nos faz esquecer ou deixar de lado as besteiras que nos leva a brigar. Com o professor que nós temos é bem difícil discutir ou brigar, por que conversamos bastante sobre respeito. Temos o respeito como um fator importante para conviver em harmonia, entendendo como é o outro ser humano. Sabemos que cada um é de um jeito. A importância de sermos diferentes é a possibilidade de conviver com alguém com atitudes e modo de pensar diferente da sua.

Fascínio pelo imprevisível I.Est/I.Étc.: A conversa e os bons sentimentos como fatores para a união. O respeito suprime a briga e é tomado como fator para o convívio com esse e o volume de experiências que esse tipo de convivência trás.

O professor é uma pessoa ótima, sempre nos apóia, independentemente da situação, (...) O professor luta por aquilo que quer e por nós. (...) Suas atitudes são boas, ele conversa e dar risadas com a gente...

I.Est/I.Étc.: Imagem do professor: ótimo, apoiador, lutador, conversador, divertido

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 1 TÍTULO: VOU CONTAR DUAS HISTÓRIAS EM UMA: A MINHA E A DO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO. SUBTÍTULO: MEU PRIMEIRO ESPETÁCULO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...quando falamos de circo, logo pensamos na alegria, no sorriso, no encanto e em tudo de bom e de legal que há nele. Participar do espetáculo foi importante porque me deu muito prazer e alegria ver todas ali no ginásio juntas, mostrando e vendo o nosso trabalho realizado no ano, foi a melhor coisa que aconteceu no ano. Embora eu não lembre de tudo, a coreografia que mais gostei de ver foi a dos palhaços e, a que mais gostei de apresentar foi a coreografia final.

I.Est.: Ao tomar o circo vêm pensamentos bons e desejados. A participação no espetáculo proporcionou prazer. O prazer esta na experiência sinestésica de participar e ver o trabalho ser assistido, acompanhado, reconhecido e valorizado por terceiros. A intensidade no gostar: no ver e no se mover; a coreografia que mais gostei (ver e apresentar).

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 1 TÍTULO: VOU CONTAR DUAS HISTÓRIAS EM UMA: A MINHA E A DO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO. SUBTÍTULO: O DIA EM QUE O GRUPO ACABOU UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...eu vi o grupo acabar numa tarde e renascer pouco tempo depois, ainda mais forte. (...) Decidimos sair porque ficou muito repetitivo, cansativo, enfim enjoamos. Na ginástica só fica quem resiste e se esforça, como não agüentávamos mais, saímos. Contudo, senti falta da ginástica e retornei no mesmo ano... Era um grupo novo, com meninas novas... O grupo estava melhor. Isso foi muito importante pra mim porque eu gosto da ginástica, e eu sempre estou ou faço o que gosto.

I.Est.: Persistir foi possível pelo gosto que se tem a ginásticas (a prática em si ou/ao conjunto de coisas que envolvem essa prática. I.Est.: Resistir, assim como se esforçar, são componentes éticos presentes na experiência.

A rotina do novo grupo tava bem diferente. Bem mais puxado, tinha um pouco mais de alongamento e outros exercícios antes de começarmos a trabalhar as coreografias. A rotina e as exigências são cada vez maiores, percebo isso, ao longo dos anos, o que me motiva e a buscar novas metas, novos exercícios.

I.Est/I.Étc.: Exigências do trabalho conduziram a uma nova rotina de conduta.

Percebi assim, que o dia que marcou o fim do grupo também foi o dia em que o grupo ressurgiu, se renovou com uma força ainda maior. A cada ano o grupo se renova, Isso mostra a capacidade do grupo de se reerguer.

I.Est.: Ressurgir reinventar-se são traços da dinâmica da convivência no GGTP, uma vez que os componentes do grupo vão se renovando com o tempo e as relações SAP potencializados e construídas nesse processo.

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Anexos ___________________________________________________________________

152

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 1 TÍTULO: VOU CONTAR DUAS HISTÓRIAS EM UMA: A MINHA E A DO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO. SUBTÍTULO: A CADA APRESENTAÇÃO, RENASCE A EMOÇÃO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Todas as apresentações são ou foram emocionantes, independentemente de onde for ou foi apresentado, são especiais. Em cada lugar renasce o sentimento, uma vontade de chegar ao lugar aonde outros chegaram.

I.Est/I.Étc.: A busca por algo aponta a opção por metas e a perseverança como valor desse sujeito na realização de seus objetivos. DESEJO

Foram várias apresentações, em vários lugares e, como conseqüência, também surgiram alguns admiradores. Por onde passamos somos queridos, principalmente na escola, onde somos queridos por todos. Não acho que sou famosa ou que somos famosas, somos conhecidas pelo grupo que formamos; mesmo assim ainda estranho quando chegamos aos lugares e as pessoas falam: “Elas são alunas de Leonardo”.

I.Est/I.Étc.: A visibilidade está associada a uma busca de aceitação de si pelo outro. Ser querida é ser aceita, vista, admirada reafirma a existência de si. I.Est.: A fama não se relaciona com o individual e sim com o coletivo.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 1 TÍTULO: VOU CONTAR DUAS HISTÓRIAS EM UMA: A MINHA E A DO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO. SUBTÍTULO: BREJEIRO, O MEU FAVORITO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO O fato de nos apresentar no colégio já é bastante significativo pra mim, pois me sinto mais a vontade. Passamos o ano inteiro preparando esse espetáculo. Brejeiro, sem dúvida, foi o espetáculo que eu mais gostei de participar, havia mais meninas que o primeiro espetáculo, havia grupos convidados, mais pessoas assistindo, as coreografias eram mais difíceis, houve mais emoção, foi melhor.

I.Est.: Participação; vaidade de ser assistida por maior número de pessoas; maior dificuldade, maior a emoção, são condições para apontar o juízo de valor quanto ao retrospecto das apresentações. Não existe pressão em se apresentar na escola Terezinha Paulino. Ser vista = emoção e ser melhor

A coreografia que eu mais gostei de apresentar foi o Forró porque era um tema diferente, com uma musica diferente, um ritmo de pouca ou nenhuma tradição na ginástica, e, finalmente por termos apresentado com vestidos que nada lembra o mundo da ginástica. O espetáculo apresentou uma luz especial, um cenário, o linóleo, a participação dos grupos convidados, um tema pouco comum, o figurino, tudo isso junto me fez gostar mais de Brejeiro.

I.Est.: O gostar relacionado ao gosto pelo diferente, pela novidade; ou, mesmo, ao conjunto de novidades.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 1 TÍTULO: VOU CONTAR DUAS HISTÓRIAS EM UMA: A MINHA E A DO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO. SUBTÍTULO: FÓRUM INTERNACIONAL DE GINÁSTICA GERAL UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...mais importante evento que participei nesses cinco anos que estou no GGTP foi, sem dúvida, a viagem para o estado de São Paulo...

Juízo de valor: melhor evento

Essa viagem era muito importante pra mim, pra o grupo e pra escola. Foi importante para o grupo porque nós mostramos o nosso trabalho, e assim, ficamos sendo conhecidos; foi importante para a escola porque divulgou o nome Terezinha Paulino; e foi importante pra mim, primeiro pelo prazer de me apresentar, e depois pela oportunidade de conhecer outros lugares, outras pessoas, sair com as amigas. O professor lutou muito para que agente pudesse ir ao FIG, mostrar o nosso trabalho. Recolhemos assinaturas de várias pessoas, cerca de 1800 assinaturas, o que demonstra o quanto o grupo queria essa viagem, isso nos uniu ainda mais.

Necessidade de afirmação da existência e pertencimento de si, do grupo e do próprio grupo dentre os que fazem GG. Isto reduz a expectativa. Força de vontade e cooperação. Unidade e sentimento de pertencimento social. Ampliação da visão e do conhecimento de mundo. Ampliação da rede de relações no mundo. Campo de oportunidades.

Estávamos ansiosas e nervosas... Ansiedade e nervosismo. Reações do cotidiano vivido.

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Anexos ___________________________________________________________________

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(...) Foram boas as apresentações, algumas foram chatas, admito. Havia muita coisa diferente, roupas, músicas, coreografias, isso é legal, muito bom. (...) Eu me impressionei foi com a força dos homens e principalmente com a força das mulheres. Era tudo muito diferente: música, figurino e coreografia.

Juízo de valor: coreografias chatas, outra diferentes. I.Est: impressionar-se é uma experiência de percepção pelos sentidos. O que impressiona: a força e as novidades.

...chegou o grande momento. Estreamos bem, foi nossa melhor apresentação, houve falhas nas cordas, mas nada que tirasse o brilho da coreografia. Eu adorei a nossa coreografia, principalmente a musica. Foram vários os exercícios e as colaborações com os aparelhos: cordas, arcos e bastões. Os aparelhos cordas e bastões são fáceis de manipular, já o arco é um pouco mais difícil, pois, pelo seu formato em circulo, ao cair, ele rola e dificulta a sua recuperação. Tudo foi satisfatório: entrar na arena, se apresentar e ser aplaudida no começo e no fim do espetáculo.

Vaidade em relação ao reconhecimento Juízo de valores: falhas, adorar no sentido de aprovação; colaboração e aprovação do outro; fácil e difícil. I.Est.: embora houvesse falhas essas não suprimiriam o brilho da coreografia. Colaborações Percepção de volume, forma e dinâmica.

... nos emocionamos quando ouvimos o grupo ser anunciado por uma voz feminina um pequeno texto que dizia: “A união faz surgir uma força capaz de mudar, de transformar as coisas em volta, como também o espaço em que estamos... buscamos mostrar que o trabalho coletivo faz a diferença e que a força se encontra no diálogo entre as pessoas”. Só uma pessoa poderia pensar nisso, o professor Leonardo.

I.Est.: Juízo de valor como impressões construídas na relação sujeito-objeto no cotidiano da convivência Valor: mudança, união, força, transformação, trabalho coletivo, diálogo, são percebidos enquanto juízos de valor. I.Est.: emoção ao ouvir uma voz feminina (ligação e/ interpretando um texto que fala de valores, maturidade). Associados a existência e a emoção do sujeito.

Foi uma boa apresentação, embora tenha me enrolado um instante com a corda. O professor diz que esses tipos de errinhos servem pra dar mais emoção. O mais gratificante da apresentação é saber que as pessoas que estavam ali te assistindo gostaram do que viram, pois depois algumas nos procuraram para elogiar.

I.Est.: Minimização do erro, transformando-o em emoção durante a superação dos erros. Aprovação I.Étc.: O elogio perseguido enquanto traço da aceitação, aprovação do público.

Foi ótimo conhecer pessoas de diferentes lugares, assim como foi maravilhoso ver de perto diferentes culturas, jamais vou esquecer disso tudo. Percebi pelo carinho com que fomos tratados que éramos queridos, especiais.

I.Est.: Ótimo conhecer: maravilhoso ver; como condição da relação estesiológica entre o sujeito e o novo, o diferente, a novidade. Expansão das fronteiras. Juízo de valor: Jamais vou esquecer. I.Est.: A imagem é perpetuada em forma de pensamento pelo sujeito.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 1 TÍTULO: VOU CONTAR DUAS HISTÓRIAS EM UMA: A MINHA E A DO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO. SUBTÍTULO: A ESCOLA, EXTENSÃO DE MINHA CASA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Quando eu estou fazendo ginástica, esqueço do mundo e dos problemas...

I.Est.: A ginástica como elemento da fuga da realidade.

Por causa da ginástica, eu passo boa parte do dia na escola, ela me aproxima da vida da escola com meus amigos, conhecendo os diretores e os demais funcionários, pessoas maravilhosas. A escola é a minha segunda casa.

.Est.: As pessoas da escola são pessoas maravilhosas. I.Est.: Escola enquanto casa. I.Est.: Ginástica como fator de aproximação entre a escola e a aluna.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 1 TÍTULO: VOU CONTAR DUAS HISTÓRIAS EM UMA: A MINHA E A DO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO. SUBTÍTULO: PARA O GRUPO, COM CARINHO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...acredito que vai ser cada vez melhor, porque somos muito unidas e queremos muito bem umas as outras e a ginástica também.

I.Étc.: A fala aponta uma condição do sujeito: a fraternidade. Nesses termos o sujeito vislumbra que vai ser melhor; pois querer muito bem umas as outras: uma condição para uma relação amorosa. Traços de convivência.

Tanto as meninas avançadas, quanto as iniciantes são muito esforçadas, sempre tentando chegar à perfeição; sempre, motivamos umas as outras, assim como faz o professor Leonardo. Contudo, para se ter um grupo é necessário ainda carinho, respeito, amizade, amor, tolerância, coragem, atitude para chegar e fazer as coisas acontecerem, no Grupo Ginástico tem tudo isso. Além disso, não devemos passar por cima dos outros, não devemos ser prepotentes. É por tudo isso que somos uma grande família, uma família feliz.

Valor dessa relação: esforço: motivos; percepção. I.Est.: Carinho, respeito, amizade, amor, tolerância, coragem, atitude são indícios do que o sujeito toma por perfeição. Juízo de valor: são muito esforçadas. I.Étc.: Carinho, respeito, amizade amor, tolerância, coragem, atitude para chegar e fazer as coisas acontecerem , são componentes da existência desse grupo.

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Anexos ___________________________________________________________________

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I.Étc/I.Est.: A condição de esforçada da maioria. Nossa família já viveu muitas emoções, entre elas, o dia em que o grupo acabou, a viagem e os espetáculos. Sem dúvida a melhor emoção que eu tive foi viajar com parte do grupo para o estado de São Paulo. A ginástica nos dá a oportunidade de viajar e isso é bom porque nos dar visibilidade para participar de outros eventos. Contudo a maior oportunidade é o que aprendemos na convivência com colegas e com o professor.

I.Est.: O grupo enquanto família. O fim do grupo, a viagem e os espetáculos, são apontados como lembranças de emoções vividas.

O GGTP e a Ginástica Geral são maravilhosos, através deles posso dizer que acordada vivo um sonho real. Por isso, é importante acreditar sempre em nossos sonhos, pois é acreditando em nossos sonhos que temos a chance de torná-los reais. Lembro do que o professor uma vez disse: o céu é o limite e que nós juntos, unidos pela amizade somos imbatíveis. Por isso, acredito que isso é só o começo de uma grande, duradoura e maravilhosa história. Uma história verdadeira e feliz, de um grupo guerreiro de ginástica.

I.Est.: Viver um sonho real acordada aponta a expectativa do sujeito. I.Est.: O GGTP e GG são maravilhosos porque são lugares reais no qual se vive sonhos capazes de emocionar e dar oportunidades. É a partir deles que o sujeito sente-se imbatível, ou seja, sentem-se potente.

Ficha de conteúdo DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 2: Caroline Diniz TÍTULO: UMA HISTÓRIA DE CORAGEM NA GINÁSTICA SUBTÍTULO: QUANDO TUDO COMEÇOU UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...estava adorando a idéia de entrar para a ginástica. Ver aquelas meninas com mais experiência, deu-me vontade de um dia ser igual ou até melhor do que elas. Senti muita alegria e prazer de estar apreendendo coisas novas com elas e com o professor. Foi uma experiência muito boa, mesmo sentindo vergonha das pessoas que estavam lá. Ainda sim me sentia a melhor ginasta do mundo. Finalmente estava praticando um esporte. É muito bom sentir o gostinho de ser atleta.

I.Étc.: Aprender/vergonha, são valor e contra-valor destacados no fazer do sujeito no grupo. Juízo de valor: foi uma experiência muito boa sentir-se a melhor ginasta é um pensamento hierarquizador. I.Étc.: A vontade foi alimentada pelo que o sujeito via. Sentir muita alegria e prazer está relacionado com o aprender coisas novas, alimento para essa alegria e para esse prazer.

...fiquei super feliz, pois finalmente eu ia me apresentar e mostrar o que havia aprendido nos últimos seis meses de treino e de convivência com os integrantes do grupo. Treinamos muito pra que desse tudo certo. Obstáculos se impuseram na nossa frente, por exemplo, o medo. O medo sempre é um obstáculo, principalmente para mim.

I.Étc.: Seis meses de treino e o entendimento e cultivo da persistência e do esforço; enquanto valores. O medo constitui um obstáculo do fazer gímnico, ele limita a ação do individuo. I.Est.: Mostrar-se publicamente executando uma série de exercício levou o sujeito a uma condição de felicidade.

(...) Na minha primeira apresentação e de outras meninas iniciantes, todas estávamos ansiosas para nos apresentar. A apresentação foi na quadra coberta da própria escola. O público esperava o grande momento. Já posicionadas, nós esperamos a musica começar, e quanto mais esperávamos, mais nervosas ficávamos. Após aguardar uns quinze minutos, começamos a apresentar a coreografia. Parecíamos sereias no mar, estávamos alegres e felizes. Quando terminamos, todas ficamos alegres com o resultado. Valeu a pena tanto treino, tanto esforço. O professor comentou como foi a coreografia, ele nos disse que nós tínhamos arrasado, que tinha sido ótimo. Ficamos muito orgulhosas.

I.Est.: ansiedade, nervosismo, esperar, alegria e felicidade, esforço, orgulhos são traços da experiência estesiológica entre o sujeito e sua vivencia no grupo. I.Est.: A apresentação como o grande momento. I.Est.: “Parecíamos sereias no mar”. I.Est.:Parecíamos sereias no mar. Falar ou escrever sobre uma experiência quando faltam referencias ou palavras leva a utilização de referencias fantásticas como o caso da sereia. A sereia é uma figura mitológica que foi utilizada para dar vazão a experiência estesiológica entre o sujeito e o movimento vivido.

(...) Minha primeira medalha foi algo significativo para mim e para minha família que, sempre me acompanha nos eventos e sente muito orgulho de mim.

I.Est.: Sentimento de orgulho próprio e para a família tendo o símbolo da medalha e seu significado efeito desencadeador.

(...) Brejeiro foi meu primeiro espetáculo, foi muito especial, não só pra mim, mas para todos que participaram desse espetáculo (...) Estava me sentindo a melhor ginasta do mundo (...) Foi o nosso primeiro espetáculo e foi maravilhoso.

I.Est.: A melhor ginasta é rastro do pensamento hierarquizador.

Nós ensaiamos muito. Já com mais experiência, os movimentos ficaram ainda mais difíceis, sendo obstáculos a mais para todas.

I.Étc.: Aperfeiçoamento, persistência, perseverança são rastros de uma conduta moral do sujeito na relação em grupo. I.E. As dificuldades como obstáculos para o grande momento: A apresentação.

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Anexos ___________________________________________________________________

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 2 TÍTULO: UMA HISTÓRIA DE CORAGEM NA GINÁSTICA SUBTÍTULO: A GINASTICA GERAL, O GGTP E EU UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Para mim a ginástica geral (GG) é uma arte, nela não existe competição e nossa preocupação é se apresentar bem e bonito para o público que nos assiste. Através da GG podemos mostrar nosso talento de diferentes formas, apresentando nossas coreografias coletivamente, demonstrando diferentes exercícios e sem excluir ninguém. Temos talento e expressamos isso em nossas coreografias. Na GG não excluímos ninguém por que sabemos que cada um tem algo a acrescentar e isso ajuda e motiva o grupo como um todo. Isso nos faz sentir que somos importantes no grupo, que somos partes do todo e que contribuímos para o trabalho.

I.Est.: Redefinição e conceituação do que a GG.” é uma arte, nela não existe competição e nossa preocupação é se apresentar bem e bonito para o público que nos assiste. Através da GG podemos mostrar nosso talento de diferentes formas, apresentando nossas coreografias coletivamente, demonstrando diferentes exercícios e sem excluir ninguém”. I.Étc.: Inclusão, coletividade. Sentimento de participação de parte e do todo (pertencimento), colaboração, trabalho, são traços morais pertencentes ao código de conduta do grupo. I.Est.: A necessidade do grande momento para dar visibilidade ao grande talento. “se apresentar bem e bonito”.

O GGTP é um grupo de pessoas unidas que tem como objetivo mostrar nosso trabalho. O nosso objetivo maior é o que nos uni. Cada um, com o seu talento, contribui a sua maneira para o crescimento do grupo. A união do nosso grupo é muito importante para a realização do nosso trabalho. Por isso, é que amo todos do GGTP e sei que ninguém consegue sair do grupo sem levar consigo um sentimento especial pelas pessoas ou por parte delas.

I.Est.: A visão que o sujeito tem em relação ao GGTP inclui os seguintes valores: união, trabalho, contribuição/ participação. Essa visão revela parte das relações e das condutas que a elas se referem.

Outro dia ouvi do professor Leonardo algo assim: “A união faz surgir uma força capaz de mudar e de transformar as coisas em volta...”, daí penso que todos nós, integrantes do GGTP, temos a responsabilidade de cuidar e cultivar esse grupo, e é ajudando e colaborando que vemos o grupo crescer a cada dia, não só em qualidade técnica mas, também, em número de praticantes. Somos pessoas que acreditamos em nós mesmas e no próprio grupo, acho que é por isso que temos conquistado tantas coisas, nos fazendo sentir campeãs na vida.

I.Étc.: Os seguintes valores união, força, mudança, transformação, colaboração, responsabilidade, cuidado, cultivo do sentimento coletivo e auto-confiança são apontados pelo sujeito como elementos da convivência em grupo, referente ao GGTP. I.Est.: O grupo como alicerce para um sentimento de segurança e de potencia. I.Est.: Sentir-se campeãs na vida revela a compreensão de vitória para além do sentido estrito relacionado a cultura esportiva

O GGTP nos proporciona visibilidade e, por isso, oportunidade, assim temos a chance de vencer obstáculos que ainda não conseguimos vencer, como por exemplo, preconceitos sociais. A GG nos possibilita outras chances na vida.

I.Est.: As outras chances revelam oportunidade e esperança demonstra a vontade de vencer e amplia o sentimento de vitória, quando expõe um quadro de superação da realidade posta.

(...) Fiquei muito feliz por ela e torço que eu e outros integrantes tenhamos a mesma sorte.

I.Étc.: : Acreditar na conquista do outro revela traço do comportamento do sujeito, aproximando-o de uma existência solidária feliz e esperançosa.

O GGTP é o lugar aonde eu aprendo a conviver melhor com as pessoas, respeitando todos, não importando o quanto elas sejam diferentes, tanto nas opiniões quanto nas características. No GGTP treinamos os exercícios; montamos, aprendemos e apresentamos coreografias, mas aprendemos coisas boas como o compromisso, o respeito, a união e o conviver.

I.Est.: O grupo como um espaço de boa convivência. E: Valores: respeito, aprendizado, compromisso, união e a própria convivência, são aspectos cultivados no processo existencial do grupo.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 2 TÍTULO: UMA HISTÓRIA DE CORAGEM NA GINÁSTICA SUBTÍTULO: A GINÁSTICA NOS DÁ... UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...hoje eu sou mais flexível, mais técnica, tenho mais confiança e menos medo, e ainda, preservo o prazer em praticar a ginástica.

I.Étc.: Confiança/medo são sentimentos/atitudes que se dão no processo existencial de qualquer individuo em algumas situações. Enquanto a confiança é almejada socialmente o inverso ocorre quanto ao medo. Ver o sujeito relatar que a ginástica lhe proporcionou uma potencial confiança em detrimento do medo, faz-nos afirmar que é possível adquirir confiança e coragem no decorrer do trabalho gímnico. I.Est.: Prazer em praticar ginástica.

Foi ainda nas primeiras aulas que entendi a importância de ouvir as instruções do professor, isso é importante tanto para nossa segurança, quanto para o nosso crescimento técnico. As meninas que não obedeciam aos comandos não se desenvolveram na ginástica. É muito importante ficar atenta às dicas e aos comandos do professor.

I.Est.: Segurança enquanto conhecimento. I.Étc.: Importância de ouvir na perspectiva de crescimento/desenvolvimento pessoal e auto-realização, apontam para o desenvolvimento do auto-conhecimento e amplia o entendimento de aprendizado e segurança.

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Anexos ___________________________________________________________________

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(...) Se a cada dor que eu sentisse, eu desistisse de fazê-los, nunca teria chegado ao nível que estou hoje.

I.Étc.: Suportar a dor aponta a persistência enquanto característica do comportamento do sujeito. I.Est.: Auto-realização superar a dor é conseqüência..

Família, paixão e amizade são três coisas que me dão forças para agüentar a dor, as exigências do professor e principalmente o medo. É por isso que eu estou aqui lutando contra a dor, para ser uma grande ginasta.

I.Est/I.Étc.: Família, amizade e paixão fonte de força e resistência para superar a dor e as exigências da prática.

(...) Sonho em ser a melhor ginasta do estado e depois ser campeã brasileira. Sei que pra conseguir chegar onde eu quero é muito difícil, mas eu estou me dedicando.

I.Est.: Metas ambiciosas revelam além da ambição, a esperança e a necessidade de muita dedicação exige um quadro de esforço e trabalho além da média.

(...) A ginástica é feita de sacrifícios, mas também de alegrias e satisfações e isso é que me motiva a continuar. Estou na ginástica porque eu a amo.

I.Est.: Sacrifício››esforço, alegria (sentir); satisfação (saciedade) são características da experiência com a ginástica nessa perspectiva. E graças as satisfações que é possível continuar.

... a ginástica nos exige concentração e criatividade. Entendo por concentração, a atenção em escutar as orientações do professor, estudar os exercícios e se preocupar com a coreografia. Por criatividade entendo as ações do ser humano para melhorar o mundo e a vida das pessoas, impulsionado pela vida ativa, pelo amor, paixões e alegrias, uma dádiva de Deus. Na ginástica, eu aprendi a ser uma pessoa mais concentrada e criativa.

I.Est.: Concentração enquanto atenção, estudo e preocupação. I.Est.: Criatividade: ações do ser humano para melhorar o mundo e a vida das pessoas... dádiva de Deus. I.Étc.: Tanto concentração e criatividade são valores postos pelo sujeito necessários a condição de ginasta.

..., a medalha de participação representa uma vitória, vitória por estarmos ali, naquele momento apresentando nosso trabalho, fruto de muito esforço nos treinos e dedicação ao grupo. Cada medalha representa uma conquista diferente, simboliza a participação em um festival, uma mostra, um evento e, por isso, cada um tem um valor diferente e especial para mim.

I.Étc.: Conquista, aguerrida, trabalho, esforço, dedicação, união, participação são valores expostos como condição de conduta do e da ginasta. I.Est.: A vitória está na realização do trabalho.

...a ginástica nos dá ainda prazer, felicidade e união. Outra coisa importante que a ginástica me dá é a coragem para enfrentar os desafios.

I.Étc.: Prazer, felicidade, união, coragem, superação são outros valores postos como condição da conduta do e da ginasta. I.Est.: Ginástica enquanto caminho de prazer, unidade social e superação de obstáculos.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 2 TÍTULO: UMA HISTÓRIA DE CORAGEM NA GINÁSTICA SUBTÍTULO: ENTRE O MEDO E O FRIO NA BARRIGA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...é estranho sentir medo, mas ele existe em mim. Tenho medo de cair e me machucar, das pessoas rirem de mim, de errar, de altura, entre outras coisas, mas também tenho coragem de enfrentar tudo isso (...) Medo e coragem fazem parte da vida.

I.Est.: A ambigüidade entre o medo e a coragem posta como parte da vida.

(...) O medo é um sentimento de insegurança, mas também de segurança.

Valor: segurança e insegurança. I.Est.: Ambigüidade entre segurança e insegurança, posta enquanto sentimentos que na ambigüidade se revela medo. Portanto, medo é a ambigüidade dos sentimentos de segurança e insegurança.

(...) O medo que sinto me desafia, pois sei que é preciso sentir menos medo para que eu possa mostrar o que sei. Pra isso é sempre bom contar com alguém pra te apoiar. Na ginástica encontrei esse apoio. Antes eu não tinha com quem contar...

I.Est.: O ombro amigo revela-se como a figura do companheiro, ou a atitude de companheirismo. O medo insurge como um valor necessário.

Sei que é difícil superar o medo, mas não é impossível; tenho que lutar e vencer as barreiras e os obstáculos. Mas o que eu gosto mesmo é de sentir o friozinho na barriga, isso me faz até acreditar mais em mim. E é acreditando em mim que conseguirei largar esse medo, embora saiba que o medo faz parte disso tudo.

I.Est.: O sabor do frio na barriga revela a experiência estesiológica do sujeito com o medo, esse posto como necessário.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 2 TÍTULO: UMA HISTÓRIA DE CORAGEM NA GINÁSTICA SUBTÍTULO: A GINÁSTICA E AS COISAS QUE ME DÃO PRAZER UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Prazer é uma sensação que sempre está presente em nosso grupo. Mesmo que não possamos ser as melhores ginastas do estado, temos a certeza que a ginástica geral nos dá mais prazer do que se tivéssemos numa modalidade esportiva, pois não sofremos a pressão da competição esportiva. Esse prazer me ajuda a continuar acordando cedo para ir treinar. Sem o prazer, acredito que, se quer o GGTP existiria.

I.Est.: Prazer é posto como uma sensação. I.Est.: A ambigüidade entre o sentimento competitivo e o sentimento que envolve uma atividade não competitiva. I.Est.: A mensuração do prazer deve-se a relação sinestésica entre o sujeito e a atividade com ausência da pressão competitiva..

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Entendo prazer como tudo aquilo que fazemos e gostamos, como por exemplo: comer, dançar, sorrir; por isso, sentir prazer é fácil. Algumas coisas me dão prazer, na ginástica então, nem se fala, sinto prazer em quase tudo. Muitas são as coisas prazerosas que a ginástica me proporciona como, por exemplo, assistir novas apresentações para ver coisas diferentes. A cada dia, a ginástica nos envolve mais com essa sensação de prazer.

I.Est.: Prazer é o que é aprovado nos sentidos.

Sinto prazer quando assisto novas apresentações e vejo algo novo, diferente do que vejo ou consigo fazer. Muitas vezes vejo outras ginastas executando alguns exercícios incríveis, lindos e que me impressionam. Sinto-me estimulada e passo a treiná-los até eu aprendê-los. Sinto prazer em conseguir executar esses exercícios que conheci e treinei muito para realizá-los. Sinto prazer em aprender.

I.Est.: Desafio, persistência, esforço, auto-realização são elementos da conduta do sujeito. I.Est.: Prazer: aquilo que é percebido pelos sentidos como novo e desafia o sujeito a fazer.

Lembro como foi maravilhoso assistir os JERNs de 2007. Fui surpreendida ao ver tantas ginastas juntas, as séries, os exercícios. Senti ali, ...que eu também era uma ginasta e, fiquei muito orgulhosa de mim mesma. Ainda me surpreendi com o nível daquelas meninas, tudo fruto de muito esforço e dedicação.

I.Étc.: Esforço, dedicação, condições para um nível técnico avançado. I.Est.: Ser surpreendida por aquilo que identifica e que revela esforço e dedicação, traz orgulho, identidade, esforço e dedicação.

Sinto prazer em fazer as aulas. Sinto-me tão motivada no alongamento que, só falto me rasgar toda, apesar da dor. Vencer a dor me deixa mais resistente e me ensina a superar dificuldades, me fazendo uma pessoa campeã e uma ginasta melhor (...)faltar aos treinos é abrir mão do meu prazer...

I.Étc.: Superação, resistência, auto-realização são elementos da conduta do sujeito, condição para ser uma ginasta melhor. I.étc.: Superar dificuldades é o que indica o sentido de vitória. I.Est.: Ausência dos treinos é privação do prazer. Prazer: na prática de se exercitar.

(...) A luta é quase diária, me dedico muito aos treinos. Os treinos me ensinam e me motivam ser cada vez melhor, enquanto ginasta e, enquanto pessoa também. É nos treinos que desenvolvemos nossa técnica, nossa condição física, nos relacionamos com outras pessoas e, assim, aprendemos com os colegas também. É só com muita dedicação aos treinos que conseguimos chegar a algum lugar.

I.Est.: A) Os treinos ensinam que é possível ser melhor. B) A necessidade do outro para a aquisição do saber. C) Para atingir metas são necessárias dedicação e determinação. Atingir metas é obter conquistas.

As coreografias também nos proporcionam prazer, muitas são legais e algumas são até engraçadas. As apresentações, tanto na escola como fora dela, além de importantes para o GGTP, nos trazem prazer. São importantes para o GGTP porque o grupo é conhecido através das coreografias apresentadas. São prazerosas porque fazemos amizades, conhecemos outros lugares, nos apresentamos, nos sentimos importantes e sentimos muita alegria nisso tudo.

I.Est. A) Coreografias como fontes de prazer. B) Coreografias como fontes de visibilidade. C) Coreografias como fontes de conhecimento. I.Est.: A ginástica como campo para ampliar e solidificar amizades

Quando apresentamos, o lugar, as pessoas, os aplausos, a tietagem, os elogios, tudo contribui. Sem dúvida, receber elogios é a melhor parte, adoro isso (...) adoraram tanto as nossas apresentações que até pediram autógrafos. Esse foi um momento especial para nós, nos sentimos como Daiane dos Santos, Jade Barbosa, Daniele Hypólito e Laís Souza, estrelas da nossa ginástica. Senti prazer naquele momento. Naquele instante vi também que todo esforço durante os treinos valeram a pena.

I.Est.: A) Prazer no sucesso. B) Projeção no sucesso; prazer na projeção. A realização justifica o esforço.

Para mim o GGTP é uma família e a ginástica uma paixão. Nela fiz muitas amizades. Quando fico brava vou treinar, daí eu esqueço o motivo que me deixou assim. Por isso, a ginástica me proporciona um alívio em minha vida.

I.Est.: Substituição/compensação da família pelo GGTP. I.Étc.: compreensão da família, união e amizade são virtudes cultivadas no grupo. Essas virtudes compensam a raiva que se sente no cotidiano.

A paixão que tenho pela ginástica é alimentada pelo prazer que ela me proporciona.

I.Est.: O prazer justifica a paixão pela ginástica.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 2 TÍTULO: UMA HISTÓRIA DE CORAGEM NA GINÁSTICA SUBTÍTULO: OUTRAS COISAS ME INCOMODAM UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Coisas que não dão prazer pra ninguém são brigas e intrigas. As brincadeiras de mau gosto levam o grupo a ter esse comportamento e, isso não é bom porque nos leva a desunião. Temos que ser unidos, pois assim somos mais fortes e resistentes às intrigas.

I.Est.: A união posta como valor necessário para fortalecer e resistir aos contra-valores: brigas, intrigas, desunião e conflitos.

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...um sentimento de competição se formou entre nos: quem era melhor do que quem? Pensávamos que respondendo essa questão encontraríamos a campeã. Um erro. Isso só gerou intrigas, fofocas, inveja, contendas, desconforto, desprazer, tristeza e desunião, trouxe ainda, raiva, mentiras, orgulho e a falta de motivação. “Espírito de ouro”, isso gerou todos os conflitos.

I.Étc.: Competição; intrigas, inveja, contendas, desconforto, desprazer, tristeza, desunião, raiva, mentiras, orgulho, desinteresse e conflitos são indicadores que se opõe aos valores desejados na convivência.. I.E. “Espírito de ouro”: competição

Competição é a porta para as intrigas, mas também, é a porta para o prazer, o sucesso e a felicidade. O problema é que tem pessoas que acham que a vida só é feita de competições e, que tudo que vão fazer tem que ganhar. Não sabem elas que vivemos de ganhos e de perdas. É muito egoísmo pensar que só vamos ganhar, até por que pra um ganhar outros têm que perder. A competição reina na vida, seja nos esportes, nas artes, no trabalho, por isso, é importante saber conviver com ela.

I.Étc.: Condutas valores que habitam o universo competitivo: intrigas, sucesso, felicidade, egoísmo, competição (vive-se para a competição). I.Est.: A competição enquanto porta para os contra valores.

Esses acontecimentos serviram como teste para a nossa união. Entendemos que a busca pelo “ouro”, ou seja, pela competição em ser a melhor, a maior, a mais isso ou aquilo, nos levaria apenas a um possível podium e a ruína do grupo. Por isso, é preciso ouvir os outros, conselhos de pessoas mais velhas e experientes, não agir individualmente, pensar sempre nos outros, isso faz parte de uma receita de vida para uma boa relação em grupo.

I.Étc.: ouvir os mais experientes é posto como valor a se cultivar. Outros valores: união, benevolência coleguismo. O egoísmo enquanto contra valor.

...em 2006 eu não tinha amizades na ginástica, tinha uma relação péssima com as meninas, por não nos conhecer, e por isso, nós não nos falávamos; com o tempo fui tentando e, em 2007, eu já falava um pouco mais, mesmo assim, me sentia sozinha...

I.Est.: A experiência posta como solitária conduziu o sujeito ao entendimento e valorização da amizade.

..., o tempo é nosso amigo, é ele que nos faz esquecer e perdoar as brigas, as tristezas e, assim, melhorar a convivência.

I.Est.. O tempo curador das mágoas. I.Étc.: O perdão como valor e a tristeza como algo indesejável.

... todas nos amamos muito o grupo, para deixá-lo por quaisquer intrigas e brigas sem propósitos, isso faz com que ninguém desista do GGTP. Eu não sei como seria minha vida sem o grupo.

Contra valores: intrigas. I.Est.: O grupo como bússola da vida, aquele que aponta os caminhos. I.Étc.: As intrigas como condutas indesejadas.

(...) E foi com muita união que conseguimos mudar a história do grupo para melhor. A união nos ajudou a persistir e a realizar sonhos. A união nos leva a não desistir.

Valores: persistência, união, esperança. I.Étc.: A união que leva a persistência, conduz o grupo a agir para transformar e a realizar sonhos.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 2 TÍTULO: UMA HISTÓRIA DE CORAGEM NA GINÁSTICA SUBTÍTULO: CAMPINAS: UMA VIAGEM MUITO LEGAL UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Percebi nessa viagem que nós somos vencedoras. I.Est.: a vitória para além da subjugação do outro, enquanto

crescimento pessoal e auto-realização. O nosso professor aceitou o convite e desde então começou mais uma luta. Foi muito difícil, fizemos um mutirão...

I.Est.: O mutirão e a luta como componentes do trabalho coletivo planejado, organizado e articulado.

... não sei por que, eu sentia medo, acredito que por ser a primeira vez que eu ficaria sozinha sem minha família, num lugar tão distante deles.

I.Étc/I.Est.: A distância da família, um exercício de autonomia e emancipação.

O Fórum Internacional de Ginástica Geral me traz boas lembranças, amigas, musicas alegres, apresentações, enfim, mas, também me trás más recordações, mentiras, intrigas, saudade. Percebo assim que não existe lugar perfeito e, que nem sempre as coisas são do jeito que a gente imagina

Valores:amizade, alegria. Contra valores: mentiras, intrigas, saudade. I.Est.: Em busca do lugar perfeito se descobre que esse não existe. A viagem proporcionou experiências situações com mentiras, intrigas e alegrias, saudade, conduziu o sujeito a pensar a amizade e a sua importância. Foi na convivência que foi possível o sujeito se apropriar desses saberes.

... temos que ser fortes, persistentes, para seguimos aquilo que nos propomos. Por isso é que acredito no ditado que diz: aquilo que se conquista com dificuldade é dado maior valor. Cada conquista significa ato de coragem, persistência e vitória.

I.Est.: Busca do ser vencedor., conduz a sujeito a experiências com os seguintes componentes (conhecimentos e saberes): força, persistência, dificuldade, conquista, coragem.

... cada medalha de participação representa uma conquista naquela etapa do grupo, por isso, não existe maior ou menor conquista, seja ela qual for deverá ser sempre valorizada. É por tudo isso que cada medalha me dá mais forças para persistir treinando. Quem sabe um dia, eu conquiste uma medalha competitiva.

I.Est.: Medalha simboliza uma conquista ›› essa enquanto participação, porém o que ela espera é a medalha que aponta a conquista em sub-julgar o adversário.

As pessoas que temos como amigas estão sempre prontas pra nos ajudar naquilo que precisamos; já as que não temos como amiga,

I.Étc.: Amizade e benevolência são elementos da boa convivência, enquanto que as intrigas, desunião e egoísmo são

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agem justamente ao contrário, nos leva cada vez mais para a escuridão das intrigas e desunião. As pessoas que pensam em fazer intrigar e implantam a desunião, só pensam em si, são egoístas. Essas mesmas pessoas, agindo dessa maneira, mostram que tem dificuldade em dialogar.

características indesejáveis no convívio.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 2 TÍTULO: UMA HISTÓRIA DE CORAGEM NA GINÁSTICA SUBTÍTULO: O PROFESSOR UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ... sempre amamos aqueles que cuidam da gente. I.Étc.: O cuidar gera amor. ... eu mudei, ele também mudou, agora temos uma relação melhor. Apesar dos gritos foi ele que motivou, incentivou e nos ajudou na superação das barreiras, a subir os degraus, a persistir e a conquistar. Isso são demonstrações de afeto, provas de preocupação, de cuidado e de amor. Hoje somos fortes graças a isso tudo.

I.Étc.: Mudança positiva, incentivar, ajudar, persistir e conquistar I.Est.: o grito que sublima: o indesejado que motiva, incentiva, ajuda, leva a superação, a persistência e a conquista.

Uma das coisas importantes do professor Leonardo é que ele sempre está com agente nas lutas, nas apresentações das coreografias, tenham elas sido bem ou má executadas. Mesmo com as dificuldades, adversidades, o professor ainda não desistiu de nós e, ainda assim, está sempre do nosso lado. Sou grata por ele não desistir daquilo que é importante pra ele e para nós, ou seja, o GGTP.

I.Étc. . O trabalho é posto como importante. Valor assim como o companheirismo, a persistência e a gratidão

Sou feliz por muitos motivos, entre eles, por existir alguém que nos motiva no dia-a-dia, não para sermos campeãs em ginástica, mas, para sermos lutadoras e vencedoras na vida. (...) Por isso também sou grata.

Valores: felicidade, gratidão. I.Est.: A ginástica como, campo de apropriação de saberes, cuja troca de conhecimentos se dá entre os sujeitos no cotidiano e no espaço de convivência. a ginástica enquanto campo de saberes e de aprendizagem articulada a vida do sujeito.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 2 TÍTULO: UMA HISTÓRIA DE CORAGEM NA GINÁSTICA SUBTÍTULO: QUEBRANDO PRECONCEITOS UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Nossas coreografias são trabalhos coletivos e são muito bons por que empolgam o público. Através delas mostramos que somos vencedoras.

I.Est..: coreografia: espelho da auto-realização.

(...) É muito bom poder participar das coreografias do grupo, elas nos oportunizam conquistar novos exercícios; faz-nos aprender novas estratégias coreográficas; ajuda-nos a ser pessoas melhores no presente e no futuro; por isso, guardo cada uma delas no meu coração. Além do mais, elas nos ensina valores importantes.

I.Est..: Coreografia: oportuniza o novo, novas experiências; o crescimento e a melhora pessoal (aprendendo valores importantes). Não é a coreografia que ensina valores, mas a convivência com outras pessoas envolvidas, isso inclui o professor e o processo em si: espaço, tempo, proposto, família, o individuo.

Quando me apresento e não vou muito bem, sinto-me mal quando vejo as pessoas me olharem com dó de mim ou, como se estivessem decepcionadas ou, como se eu não tivesse me esforçado o suficiente. Outra coisa que não gosto é quando nós nos esforçamos muito e não agradamos o público. Percebo no semblante das pessoas tristeza. É como se nós não tivéssemos nos esforçado o suficiente.

I.Est.: Julgo do outro na quebra da virtude do esforço e no comprometimento da beleza da apresentação, ação do expectador.

Quando participamos de eventos, em que dividimos as apresentações com escolas particulares, eu me sinto diminuída, porque algumas ginastas dessas escolas têm o nível técnico melhor do que o nosso; e porque as pessoas aplaudem com mais alegria essas escolas.

I.Est.. Ambigüidade entre dois sentimentos: superioridade e inferioridade.

... durante a apresentação de uma colega ouvi alguém na platéia dizer: pobrezinha, tão esforçada, pena que é de escola pública. Eu não sinto vergonha de ser de escola pública, temos talentos e qualidades tão boas quanto às pessoas que estudam nas escolas particulares.

I.Étc.: Vergonha, pena e fragilidade, postos como contra valores pratica do olhar de expectador, a injustiça ao esforço. I.Est.: O crime do olhar alheio. Subvalorização do trabalho produzido na escola pública.

Nos eventos percebo que na hora do desfile são poucas pessoas no público que nos aplaudem, não gosto disso. Mas, quando chega a nossa hora de se apresentar, mostramos o nosso talento e, finalmente, o público nos reconhece e aplaude com empolgação e alegria. Os aplausos que recebemos pelo nosso trabalho, me deixam muito feliz e orgulhosa de pertencer ao GGTP.

I.Étc.: Trabalho, orgulho, felicidade, superação são condutas para o sucesso. I.Est.: Talento e trabalho, atributos para conquistar o público.

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Essas coisas me ensinaram que nunca devemos menosprezar alguém, seja por classe social, raça, sotaque, cor, beleza, ou por qualquer outro motivo. A vida já não é fácil e, com preconceitos, ela se torna ainda mais difícil.

I.Est.. Subestimar ensina a não agir tal qual. I.Étc.: O menosprezo e o preconceito como contra-valores praticados pelo público.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 2 TÍTULO: UMA HISTÓRIA DE CORAGEM NA GINÁSTICA SUBTÍTULO: A GINÁSTICA MUDOU MINHA VIDA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO A partir da ginástica minha vida mudou, me proporcionou prazer, vitórias, motivação, alegrias, conquistas, valores, como união e respeito, me fez ser mais amorosa, tudo isso fez de mim uma pessoa mais próspera e mais forte. Hoje sou uma ginasta, mas, também, posso dizer que sou uma pessoa feliz. Apesar de saber que só o fato de existirmos é motivo suficiente para sermos felizes, foi na ginástica que encontrei um dos muitos sentidos pra mim.

I.Étc.: União, respeito, alegria, motivação, vitória, prazer, conquista, amor, prosperidade e força são valores apontados em referencia a prática pedagógica. I.Est.: A ginástica possibilita a felicidade e sentidos pessoais

A ginástica nos ensina a importância da disciplina, de ouvir e de obedecer. Foi através da ginástica, com a ajuda do professor, que melhorei a minha flexibilidade e a qualidade dos meus exercícios. Isso foi à custa de muito sacrifício. Entre outras coisas, a ginástica nos exige concentração, criatividade e nos proporciona prazer, felicidade e união. A ginástica é feita de sacrifícios, mas também, de alegrias e satisfações, e isso me faz continuar. Além do mais, eu estou na ginástica porque eu a amo.

I.Est..: A ginástica exige mas te oferece retorno. Há exigências à cumprir na prática gímnica, contudo as exigências trazem retorno ora como saber, ora como prazer. Disciplina, ouvir, obedecer, sacrifício, felicidade, união, satisfação concentração são ações ou atitudes que revelam saber e permitem o prazer.

(...) A força é um prodígio que sempre deve estar presente em nossas vidas, pois sem força não conseguiríamos se quer nos mover, imagine pensar, amar e aprender. Acredito que, a “força” é um elemento importante para a vida da gente e de um grupo. Aprendi muitas coisas na ginástica, entre elas, disciplina, confiança, mas, acima de tudo, aprendi a ser uma pessoa mais forte.

I.Est..: Força enquanto forma de resistência as adversidades e como condição para um trabalho coletivo bem sucedido. Disciplina e confiança são apontadas como valores.

Cada sonho representa uma nova luta e, sabemos que as conquistas e vitórias dependem de esforços, união e motivação, além de fatores que muitas vezes fogem ao nosso alcance. Mesmo existindo estes outros fatores, corremos o risco e sonhamos, pois sabemos que nem sempre venceremos, mas agora, sabemos também que nem sempre perderemos.

V.: esforço →conquistas←união fatores que não__↑ ↑__motivação se controla. I.Est.: Autoconfiança. I.Est.: Esforço, motivação e união conduzem as conquistas e vitórias.

Ficha de conteúdo DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3: Fabrícia Ferreira TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: UM COMEÇO DE DESCORBERTAS UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...nunca tínhamos ouvido falar nele [a GG como o esporte]. Aí, resolvemos optar pela ginástica, pois, além de acabar com a nossa dúvida sobre do que se tratava, poderíamos até gostar de praticar.

I.Est.: Experimentar algo que não conhece para conhecer.

(...) Ficamos muito felizes por termos escolhido o mesmo esporte, e eu, em particular, alegre por saber que estávamos juntas nessa.

I,Étc.:Felicidade e união como traços da relação.

Já no primeiro dia de aula gostei muito da ginástica, talvez porque gosto de conhecer coisas novas. A primeira vista já achei o professor Leonardo contente e atencioso com todas nós. Ele me mostrou muita confiança e personalidade. Tudo isso contribuiu para eu gostar do que estava fazendo.

I.Étc.: contente e atencioso são qualidades observadas no docente; , confiança e personalidade são atribuições da relação estesiológica entre o sujeito (a aluna) e o professor (o objeto). I.Est.:O sabor do saber sobre o novo.

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: COMPANHEIRAS DE GINÁSTICA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO No inicio, achei as meninas, que já praticavam ginástica, chatas, elas aparentavam ser amostradas e orgulhosas; ao contrário das meninas que começaram comigo. Essas que iniciaram juntas comigo, aparentavam ser muito divertidas. Depois percebi que eu estava enganada com as meninas mais experientes, elas também eram legais.

I.Étc.: A condição de ser divertida é uma condição valorizada. I.Étc/I.Est.: Exibicionismo e orgulho são percebidos como contra-valores, uma vez que não são desejados no processo. I.Étc.: as aparências enganam.

No grupo somos ginastas, porém, em primeiro lugar somos amigas. Quase sempre estamos todas juntas no colégio. Nesses momentos procuramos saber ainda mais sobre cada uma. Considero todas amigas, umas mais do que as outras, mas o importante é o que eu sinto sobre elas em geral, muito carinho. A cada dia ficamos mais próximas umas das outras e, assim, consolidamos grandes amizades. Tenho a felicidade de poder ter novas amigas que posso contar em alguns momentos.

I.Est.: A felicidade em poder fazer/ter e conquistar novas amizades. I.Étc.: As amizades são cultivadas a cada dia no processo; rastro do produto da convivência. amizade, união, companheirismo e carinho são aspectos da relação entre o sujeito que relata e dos demais integrantes do GGTP.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: A ROTINA DE TREINOS E BOAS SURPRESAS UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ... no fim nós passávamos as coreografias, sempre com muita alegria e persistência. Sentia uma ansiedade já no fim dos treinos, pois a cada dia sem treino, a espera pela próxima aula, era minha maior agonia.

V: alegria e persistência são valores atribuídos ao trabalho. C.V.: ansiedade e agonia são contra valores apontados para a ausência ou intervalo do trabalho gímnico.

O prazer de conseguir executar um exercício que esperava fazer implica em uma nova conquista. Graças a nossa dedicação (do GGTP) ao longo do tempo, íamos melhorando. Pouco a pouco, íamos aprendendo novos exercícios. E assim, o nosso desempenho na ginástica foi crescendo junto. A cada dia uma nova conquista.

V: conquista e dedicação. I.Est.: O prazer na realização de algo almejado, apontam caminhos percorridos de conquista e dedicação ao trabalho.

O querido professor Leonardo é sempre atencioso com todas nós. Às vezes levamos “carões” e “puxões de orelhas” dele, mas sabemos que precisamos disso, pois sem os mesmos não chegaríamos a lugar algum, por que, algumas vezes ficamos preguiçosas. Mas quem pensa que é só “carões” que levamos do professor está enganado, ele passa pra gente muita confiança e coragem, principalmente quando vamos apresentar. Por isso o mérito de melhorarmos também é dele.

I.Étc/I.Est..: atencioso é uma qualidade do docente. Confiança, coragem são valores passados pelo mesmo. V.I.: Ralhação é uma atitude docente posta como necessária.. C.V.: A preguiça é vista como um contra-valor. Para o GGTP chegar a algum lugar as vezes é necessário a ralhação..

Esse tipo de conquista junto com o entusiasmo do professor em vencer obstáculos juntos e felizes, contribuíram para que eu me encantasse pela ginástica. (...) ainda estou nela, muito dedicada e perseverante, pois este esporte já faz parte da minha vida.

I.étc.: Entusiasmo é uma característica docente. Conquista, união, solidariedade, felicidade e perseverança somadas a característica do professor são fatores de encantamento pela prática. I.Est.: Isso indica que a prática em si não é suficiente, mas o que a cerca. I.E.: o encantamento pela ginástica esta nas conquistas, na qualidade do professor e em valores como união e solidariedade.

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: O CIRCO: NOSSO PRIMEIRO ESPETÁCULO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...me senti nervosa, embora estivesse segura do que tinha que fazer. Apesar de já ter apresentado essas coreografias algumas vezes, eu estava muito ansiosa. O meu coração batia forte e minhas mãos não paravam de suar. Mas foi só apresentar a minha primeira coreografia, contorcionistas indianas, que o meu nervosismo sumiu. E o que era nervosismo transformou-se em segurança.

I.Est.: Nervosismo e ansiedade são sentimentos que povoam o sujeito nessas condições. Esse estado se manifesta no corpo biológico e simbólico: “O meu coração batia forte e minhas mãos não paravam de suar”. V.: Segurança é outro sentimento posto como inversos ao nervosismo e a ansiedade.

O fato de ficar ansiosa e nervosa deve-se ao fato do medo que senti de errar alguma coisa, contudo eu estava muito segura, pois treinamos bastante para tudo dá certo. O professor nos dá segurança e confiança nas coreografias e isso faz com que fiquemos confortáveis e confiantes durante a execução dos exercícios nas coreografias.

I.Est.: O treino enquanto condição para se ter segurança e confiança. Essa última cultivada pelo professor no decorrer do trabalho.

...interpretamos lindas e ingênuas indianas, uma coreografia cheia de contorções... Na coreografia Funâmbulos da Irlanda, eu e outras cinco meninas, mostramos a perfeita condução na execução dos exercícios com as mãos livres,... Em Farofa

Carioca eu vejo a alegria estampada nos rostos de todos que se apresentaram.

I.Est.: Lindas e ingênuas; a perfeita condução na execução dos exercícios; vejo alegria estampada nos rostos: visão do sujeito quanto as coreografias executadas.

..., em todas as coreografias eu vejo o companheirismo envolvendo diferentes pessoas, através das colaborações, dos conjuntos e dos contatos e apoios, esse é preciso ainda confiança.

I.Est.: colaboração na série gíminica, uma representação o companheirismo.

Entre as coreografias que apresentei, eu prefiro as contorcionistas indianas, pois, duas grandes amigas, ...dividiam comigo essa apresentação e estivemos juntas desde o início, desde a montagem. Nós adorávamos ensaiar essa coreografia, fazíamos isso sem que o professor precisasse pedir. Procurávamos sempre apresentar melhor. Quando o professor fazia algum elogio ficávamos muito felizes e com mais estímulo de ensaiar.

V.: elogio, felicidade, estímulo. I.Est.: O preferir está relacionado ao tipo de convivência. Não é a forma da coreografia que determina a predileção e sim as relações subjetivas entre os sujeitos da convivência. I.Étc.: Dividir e juntas são termos que indicam conduta nas relações entre o sujeito que relata e as suas companheiras.

..., percebi nos olhares do público presente um ar de prazer. Senti muita emoção, principalmente quando nos aplaudiram. (...) Eles realmente, estavam gostando do que estavam assistindo. Mesmo depois do tão esperado espetáculo, ainda sentia meu coração bater forte de tanta emoção.

I.Est: A leitura DA EMOÇÃO: “Mesmo depois do tão esperado espetáculo, ainda sentia meu coração bater forte de tanta emoção” e ” Percebo pelo olhar do professor” a aprovação ou não.

Percebo pelo olhar do professor Leonardo quando ele não está gostando de algo ou quando está muito alegre quando dá tudo certo. Por isso, tenho certeza que o professor gostou de tudo, assim como nós, ginastas, também gostamos. Acho o professor transparente nas suas emoções.

I.Est.: o perceber pela visão, o corpo que comunica, aprova ou reprova.

Convidei minhas colegas de sala para nos assistir no espetáculo... Essas que assistiram ficaram impressionadas com a nossa apresentação e mostraram-se muito satisfeitas por terem ido.

I.Est.:O olhar alheio, como instrumento do julgo.

...Sempre que eu ia trocar o figurino ouvia as pessoas no público comentarem: como elas fazem isso? Olha, que show! Logo isso me deixava mais contente, principalmente porque as pessoas mostravam estar gostando do nosso espetáculo.

I.Est.: o olhar alheio como instrumento de aprovação ou não do resultado final do trabalho. A busca do belo.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: CONVIVENDO COM AS PERDAS UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Algumas meninas tiveram que desistir da ginástica. Entre elas, duas grandes amigas... Essas dividiram comigo mais que as apresentações, nós estivemos juntas desde o início, entramos juntas na ginástica geral e também estudamos na mesma sala. Ficávamos o tempo todo no colégio falando da ginástica. Quando elas comunicaram que iriam sair do grupo, eu fiquei triste. No começo senti falta delas, mas depois, fui me acostumando.

A perda e o desistir. I.Est.: Amizade, compartilha e companheirismo são estruturas do comportamento na convivência valorizadas, já a desistência,a tristeza e a saudade. São elementos que não repudiados, indesejados. A combinação desses elementos estabelece outros, exemplo: o desistir, associado a amizade conduziu a tristeza.

(...) Ela sofreu muito em ter que sair da ginástica. I.Est.: sofrimento associado a desvinculação da prática da ginástica e da vida no grupo.

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Anexos ___________________________________________________________________

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Foi duro saber que elas não continuariam conosco no GGTP. Mesmo assim, eu continuei firme e forte no grupo, pois, o meu amor pela ginástica ainda batia forte em meu coração.

I.Étc.: Força, firmeza e perseverança são traços do comportamento do sujeito no grupo. I.Est.: “o meu amor pela ginástica ainda batia forte em meu coração” : revela a grande importância da ginástica em sua vida ao associar o amor pela ginástica ao pulsar do órgão que nutre os tecidos do corpo.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: A NOVA GERAÇÃO E A CONSOLIDAÇÃO DE UMA GRANDE FAMÍLIA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ... novas meninas no grupo. Todas muito legais. De longe percebíamos que elas eram muito guerreiras e talentosas também.

I.Est.: ser guerreira: o que é ser guerreira? Ser aguerrida ou guerreira é uma condição para ser uma boa ginasta.

Como nós, que já estávamos no grupo, tínhamos uma estatura maior que as meninas que entraram, todas eram novinhas e pequenininhas, o professor passou a nos chamar carinhosamente de “as grandes” e “as pequenas”.

I.Étc.: Carinho enquanto estratégia da convivência entre o docente e os alunos. I.Est.: a dificuldade em classificar os alunos no processo.

Quando as “pequenas” se apresentaram pela primeira vez estavam tão nervosas quanto eu em minha primeira apresentação. Algumas até bem mais. Foi em Feira de Mangaio, uma coreografia alegre e agitada que fala do povo nordestino.

I.Est.: O nervosismo como característica da primeira apresentação. I.Est.: leitura estética da coreografia: alegre e agitada.

...já tínhamos um pouco mais de experiência, por isso, estávamos muito seguras. Isso contribuiu para fazermos um ótimo espetáculo. A nossa experiência ajudou muito as “pequenas”, fizemos de tudo para que elas se sentissem mais seguras e confortáveis nas coreografias que elas apresentaram.

I.Étc.: Experiência e solidariedade revelam traços da convivência no GGTP. I.Est.: A experiência a serviço da solidariedade se transforma em conforto, segurança para a realização de “um ótimo espetáculo”..

Aos poucos, as “pequenas” foram se soltando e assim mostrando nos seus olhares e sorrisos a enorme felicidade por tudo, naquele instante, está dando certo. Duas coisas impressionam nas “pequenas”: o otimismo e a satisfação.

I.Est.: Otimismo e satisfação como característica das meninas iniciantes. I.Est.: o corpo anuncia o estado emocional através da soltura, dos olhares e sorrisos.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: BREJEIRO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Gosto de ver outros grupos se apresentando, pois observo outros estilos e o jeito de ser dos seus componentes. Os grupos se apresentam de diferentes formas, é esse fazer que eu gosto de ver. Por isso, acho que foi importante o professor ter lhes convidado. É legal ver a diferença de estilos, algumas semelhanças entre os grupos, como também o amor que cada um tem pela arte que faz. Isso também ajuda a mostrar como cada grupo se forma, como surgem.

I.E.: o sabor pelo diferente. A percepção visual de semelhanças, diferenças, a afetividade da ginasta com o que faz. Fazer gímnico enquanto arte. Percepção da origem dos grupos; o interesse pela história.

Neste espetáculo, a segurança no que íamos fazer, os recursos de iluminação e os convidados, tudo contribuiu para o que foi a nossa maior apresentação na escola até os dias de hoje. Com isso nosso espetáculo ficou mais bonito e ainda mais interessante de se vê e de se apresentar. Com os acessórios, figurinos, além do cenário, linóleo e iluminação, e senti mais solta e alegre.

V.: segurança, alegria. I.Est.: Mensuração “maior apresentação na escola até os dias de hoje”. As experiências conduzem as ações de comparar, qualificar e apontar interesses como o de ver e de se apresentar.

Eu me sentia mais feliz quando eu apresentava Saudade e Forró, talvez por elas serem alegres, próximo do que eu gosto que é dançar e me divertir. De todas as coreografias que apresentei, considero Retalhos, Trapos e Farrapos, a mais difícil. Nela, cada menina apresenta com dois bastões, os manipulávamos o tempo todo, fazíamos trocas e lançamentos assim como, algumas colaborações difíceis. Foi preciso muito treino, dedicação e concentração. Na hora então, muita concentração.

I.Étc.: Dedicação, trabalho, esforço e concentração antecedem a apresentação. I.Est.: Impressão de mensuração e classificação ou servem como critérios para justificar as escolhas. Optar pelo mais difícil requer um espírito aventureiro e ávido por desafios. Essa última condição é um rastro que caracteriza um ginasta componente do GGTP.

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Dos dois espetáculos que eu participei, o que mais gostei foi Brejeiro, pois, além das luzes e do cenário perfeitos, das lindas coreografias e dos convidados, estavam lá meus pais, alguns vizinhos e minha outra irmã querida, ...

I.Est.: Anterior aos recursos do espetáculo e as partes que a cercam está a família. A presença dos entes aumenta o significado do se apresentar, fato explicado pelos laços de afetividade. O saber do espetáculo é determinado pelo componente afetivo, quanto a PARTICIPAÇÃO da família no processo. Essa participação corresponde a condição de espectador. Esse saber se dá ao partilhar uma ação de interesse com sujeitos da referencia existencial. A família é formada por sujeitos da referencia existencial.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: ANOTAÇÕES PARA QUE MINHA IRMÃ NUNCA ESQUEÇA DE MIM UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Meus pais juntos me assistiram pela primeira vez ... Vê-los lá me deixou muito feliz.

I.Étc.: A família como componente importante na apreciação dos resultados obtidos no processo.

Na primeira sessão, eu estava muito nervosa, mas confiante e me sentindo segura do que ia fazer. Embora me sentisse segura em Retalhos, Trapos e Farrapos, eu deixei o bastão cair várias vezes. Mesmo apresentando bem as outras coreografias, sabia o que tinha errado. Sabia também que ainda havia uma outra chance de acertar na sessão da noite.

I.Est.: O nervosismo, erro ou falha são postos como componentes da estréia. I.Étc.: Enquanto o acerto é posto como valor, o erro é posto como contra valor. A segurança também é posta como uma virtude da ginasta.

Quando vi meus pais lá, na sessão da noite, aquilo me deu uma força incrível, uma vontade a mais para me apresentar. Queria impressioná-los para que eles sentissem orgulho de mim e soubessem que tinha valido a pena toda a minha dedicação durante este ano.

I.Est.: A família fonte de força. A força que vem da família, conduz o sujeito a motivação e a dedicação no fazer gímnico.

Agora não tem mais volta, respirei, enxuguei minhas mãos e, entrei firme e concentrada, no linóleo. Só lembro do final, quando a música acabou e ficamos na pose; foi só ali que tive a certeza: deu tudo certo.

I.Est.: O desenho do nervosismo e da realização: nervosismo associado ao medo de errar; a realização associada ao acerto.

É muito significante pra mim o apoio da minha família na prática da ginástica, pois, com isso eles me ajudam a ser persistente e corajosa para enfrentar meus desafios e os medos que tenho.

I.Est.: O medo que desafia e que pode inibir é posto como um contra valor. A persistência e a coragem são postos como virtudes, principalmente por se opor ou combater o medo. I.Est.: A família impulsiona., motiva.

...procuramos crescer juntas, ou seja, vencer os obstáculos unidas, isso nos ajuda a ficar mais próximas uma da outra.

I.Est.: A união e a solidariedade como recurso para vencer os obstáculos; a ação compartilhada facilita a superação dos obstáculos.

(...) Ela faz de tudo pra me explicar e às vezes para me ensinar algum movimento ou exercício que eu ainda não sei fazer direito.

I.Étc.: Solidariedade e fraternidade são postos como valores da convivência no grupo.

(...) Aproveitamos para conversar sobre como executar melhor cada movimento nas coreografias, para nós e para o público que irá nos assistir, fazemos isso até entrarmos num consenso.

I.Est.: A busca pelo acerto, pela beleza, pela aceitação e o reconhecimento é uma constante naqueles que se dedicam ao fazer gímnico. O diálogo, o trabalho solidário são postos como valores, essenciais para atingir as metas.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: 2007: UM ANO DE EVOLUÇÕES: O TORNEIO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Todo fim de ano fico ansiosa pra saber o que vai acontecer no ano seguinte.

I.Est.: a espera da novidade provoca ansiedade.

(...) Para participar teríamos que fazer nossa própria série. Achei isso excelente, pois, nos ajudou bastante a crescer, a exercitar nossa imaginação e termos iniciativa própria.

V.: Autonomia. I.Est.:a ginástica permite criar o que indicia autonomia.

(...) No dia da competição, que durou o dia inteiro, ele [o professor] nos chamou e nos disse que o maior valor daquele torneio não era a competição em si, mas, a possibilidade de poder divulgar o que criamos e os exercícios que aprendemos ao longo dos anos, com muita dedicação e esforço. Ele nos disse também que estávamos ali para nos divertir e que tudo não passava de uma grande brincadeira. Mas, nós levamos tudo muito a sério.

I.Est.: Embora se buscasse a superação dos traços estéticos que caracterizam uma competição, a brincadeira insurgiu enquanto matriz estética para as ações competitivas, reafirmando alguns valores éticos da competição, por exemplo: a disputa e a hierarquização. O que difere é a forma na qual se percebe o evento: ao invés da seriedade, uma brincadeira. A leveza do brincar substitui o peso de uma competição. Não existe cobrança.

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I.Est.: competição enquanto algo sério. Diversão enquanto alternativa para a competição.

Muitos alunos acompanharam a competição que aconteceu nos dois turnos. Pela manhã aconteceu a prova para as equipes e no período da tarde a para os individuais. Como só tinha eu na minha sala, competi apenas no torneio individual, no parte da tarde. Além dos alunos, acompanharam a competição alguns professores e até parte da direção, houve funcionário que deixou o trabalho para nos assistir. Por tudo isso, ficamos muito contentes.

I.Est.: O belo mobiliza, hipnotiza, atrai, imobiliza, assim como engaja o sujeito, fazendo-o participar das ações do grupo.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: 2007: UM ANO DE EVOLUÇÕES: A ESCOLHA ENTRE DOIS GRANDES SONHOS UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ..., eu precisei escolher entre dois grandes sonhos: viajar com o GGTP ou tentar ingressar numa escola profissionalizante. Entre outras pessoas, o professor me deu um grande apoio, conversamos e, compreendemos que eu teria que ficar e lutar por um outro grande sonho meu (...)

I.Est.: Fazer escolhas e lutar por elas são traços da conduta do sujeito.

..., o grupo treinava firme, com afinco e dedicação. A incerteza causava certa angustia, aflição e ansiedade, nas meninas que treinavam pra ir,...

I.Étc.: Trabalho, firmeza /dedicação, rastro de virtudes: incerteza, angústia, aflição/ansiedade, negação da conduta virtuosa.

(...) Quando ela estava saindo de casa para o aeroporto, nos despedimos, ficamos tão emocionadas que nós nos abraçamos e choramos. Isso foi um fato marcante. Eu pensava nela o tempo todo.

I.Étc.: Companheirismo, um valor.

Outro fato marcante pra mim, foi quando minha mãe ligou e o professor atendeu, quando ouvi a voz dele falando com minha mãe, me emocionei e comecei a chorar (...)

I.Est.: o estímulo sonoro constrói imagens.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: 2007: UM ANO DE EVOLUÇÕES: AINDA 2007 UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO 2007 foi um ano ótimo para todos que participam da ginástica, pois, foi o ano em que evoluímos mais, tanto tecnicamente como na vida. Aprendemos novos exercícios, de maiores dificuldades e aprendemos coisas que melhoram o nosso caráter.

.I.Est.: O ótimo está associado a participação, evolução técnica e pessoal.

Na ginástica também acontecem às intrigas. Não sei por qual razão eu e minha irmã fomos envolvidas numa delas. Ouvia comentários e via outras meninas cochichando nos cantos; ao mesmo tempo olhares intrigantes nos vigiavam. Porém nem eu nem minha irmã demos bolas, pois tínhamos as nossas consciências limpas. Íamos pra ginástica treinar e não para falar dos outros componentes do grupo. Os boatos se espalharam e foram parar nos ouvidos do professor.

I.Étc.: intrigas e fofocas condutas indesejáveis. I.Étc.: trabalho como virtude. I.Est.: o quadro: o sussurro; o cochicho.

(...) Entendi que respeitar é agir de modo que não prejudique e não afunda o próximo e que conviver é saber respeitar o próximo, vivendo em comum.

I.Étc.: respeito enquanto virtude. I.Est.: Visão do sujeito quanto o respeito “é agir de modo que não prejudique e não afunda o próximo e que conviver é saber respeitar o próximo, vivendo em comum.”

Depois de uma longa conversa com o grupo, acertamos que unidos é bem melhor. Em seguida fizemos um circulo e oramos. Consequentemente o grupo ficou mais forte e ainda com mais luz. Para mim esse foi um dos momentos mais valiosos que vivi junto ao grupo.

I.Étc.: União e força postos como virtudes. I.Est.: O apelo ao Divino, a súplica por proteção Aquele que tudo pode quando não há quem possa entre os mortais.

Podemos também dizer que em 2007, foi o ano em que o professor Leonardo sentiu mais orgulho de nós, pois ele viu o quanto nós crescemos desde o nosso primeiro dia de aula.

I.Étc.: Orgulho e evolução, postos como virtudes. I.Est.: A realização do mestre, quando ele sente orgulho do grupo.

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: OS DESAFIOS DE PERTENCER A UM GRUPO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO O Grupo Ginástico da Escola Municipal Terezinha Paulino é o lugar onde recarrego minhas forças para poder enfrentar os desafios que ocorrem em minha vida; é o lugar onde aprendo a conviver com pessoas diferentes. Contudo, o mais difícil que acho nessa nossa convivência é suportar as ginastas que põem olho gordo quando uma outra supera seus obstáculos e alcançam seus objetivos. São nessas horas que sinto saudades daquelas que gostamos muito...

Catarse; renovação de energia. V.: Saudade. C.V.: Inveja. I.Est.: É o lugar onde recarrego minhas forças para poder enfrentar os desafios que ocorrem em minha vida renovação de energia: catarse. Lugar onde aprendo a conviver com pessoas diferentes: espaço de convivência e aprendizagem.

O que mais me motiva a praticar ginástica são as conquistas, a evolução técnica dos exercícios e as lembranças que marcaram a brilhante trajetória do grupo. Na ginástica geral aprendi que disciplina é respeitar e manter o diálogo dentro do grupo, pois com isso ficamos unidos. E já que a união faz a força...

V.: O conquistador, evolução/progresso/memória. I.Est.: O que a motiva são as conquistas, o desenvolvimento e a memória (lembranças). O Progresso é percebido enquanto evolução técnica dos exercícios.

Fazer parte de um grupo assim é saber que tem pessoas no qual posso contar como companheiras e companheiros para o resto de minha vida. Identifico como qualidades nos meus companheiros de ginástica no GGTP: solidariedade, energia, coragem, força, entendimento, aceitação e amizade. Assim como identifico as qualidades, identifico também defeitos, dos quais destaco um: formação de grupinhos.

I.Étc.: Companheirismo, solidariedade, energia, coragem, força, compreensão, resignação e amizade são elementos éticos percebidos nos demais sujeitos da convivência. Outrossim, destaca a desunião como contra valor da convivência.

Conviver com os defeitos no grupo é muito bom, pois aprendemos a respeitar e também a criticá-las, quando esses se referem a si mesma. As lições que aprendi na convivência com os outros integrantes do grupo foram muitas, entre tantas estão: conviver em grupo é saber respeitar e ser solidário com outras pessoas; é saber a hora de falar e a de escutar o que as outras pessoas tem pra falar; é tentar entender o outro mesmo que suas ações não pareçam justificáveis.

Auto-avaliação. I.Est.: ficam as lições. As lições são o grande legado dessa convivência ( e não de todos?) Mas quais as lições/legados da convivência no GGTP? As lições são saberes narrados e descritos, postos como herança. Os saberes aprendidos: respeito, críticas e solidariedade. I.Étc: Conduta do sujeito foi de auto-avaliação.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 3 TÍTULO: ANOTAÇÕES DE UMA GINASTA: A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO GRUPO GINÁSTICO TEREZINHA PAULINO SUBTÍTULO: OUTROS DESAFIOS UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ..., confio no professor e sei que ele vai nos ajudar, como sempre,... Confio também em mim, e sei que sou capaz de enfrentar os meus desafios.

I.Est.: Os desafios são os inimigos a serem vencidos. I.Étc.: Confiança, altruísmo e autoconfiança como indicadores éticos. I.Est.: o professor, o altruísta.

Aprendi que as apresentações funcionam como um conjunto de elementos que mostram o nosso aperfeiçoamento técnico e artístico. Se conquistamos isso, saibam que o conquistamos por meio de muito esforço. Apresentamos essas coreografias em diferentes lugares e isso ajuda a divulgar nosso trabalho e o GGTP. E é assim que somos descobertas.

I.Est/I.Étc.: O conquistador é aquele que trabalha e persiste. I.Est.: As apresentações funcionam como vitrinas onde elas se expõem no intuito de se revelar de serem descobertas e oportunizadas. O que reduz o sentido das apresentações.

...ganhei agora em 2008 uma bolsa para estudar balé na Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (EDTAM), assim como também minha irmã ... Isso me deixa ainda mais feliz, pois continuaremos juntas, e isso é uma das nossas maiores conquistas.

I.Étc.: Conquista e união como valores. I.Est.: A idéia de compartilhar conquistas revela um traço benevolente do sujeito.

A ginástica geral já me proporcionou outros conhecimentos, como nunca desistir dos nossos sonhos, acreditar em si própria e não ter medo de algo sem antes tentar. (...) Nela foi me dado o direito de escolher entre dois grandes sonhos,... hoje sonho e faço de tudo para que no futuro eu seja uma bailarina profissional.

I.Étc.: Autoconfiança; coragem; perseverança; livre-arbítrio, fé e esperança são elementos da conduta do sujeito. I.Est.: O sonho impulsiona o sujeito a agir.

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Eu entendo que a ginástica geral é o equilíbrio entre o esforço do ginasta com a energia de vencer os obstáculos. Nós para vencermos temos que lutar e pra lutar não basta crer em si própria, mas na força da união de pessoas que querem a mesma coisa: ser feliz.

I.Étc.: Equilíbrio/harmonia; esforço e energia elementos da virtuose. I.Est: A vitória só é possível com a luta . Quando se propõe a lutar por algo em comum é preciso haver união. I.Est.: Definição do que GG: “é o equilíbrio entre o esforço do ginasta com a energia de vencer os obstáculos”. I.Est.: Em comum todas querem ser felizes.

Ficha de conteúdo DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 4: Fernanda Ferreira TÍTULO: GINÁSTICA GERAL: UMA BRINCADEIRA QUE SE TRANSFORMOU EM OPORTUNIDADE SUBTÍTULO: O PROFESSOR E A PESSOA QUE ME TORNEI UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO No primeiro dia de treino já tive afinidade com o professor, falo do professor Leonardo, embora tenha ficado um pouco tímida, porque, nunca tinha tido aulas com um professor. Mas, o seu jeito de falar e de ser, me mostrou que se tratava de um grande profissional, isso me fez ficar mais a vontade a cada treino.

C.V.: timidez. I.E.: identificação: postura profissional: “o seu jeito de falar e de ser, me mostrou que se tratava de um grande profissional, isso me fez ficar mais a vontade a cada treino”.

A minha convivência com o professor Leonardo é boa. Não digo ótima por que algumas vezes tomo uns “carões” e, isso me deixa furiosa. Embora saiba que foram os “carões” que me ajudaram ao longo desses anos a me tornar a ginasta e a pessoa que sou hoje, uma ginasta e, consequentemente, uma pessoa mais forte e com modos (...)

V.: força, bons modos (boas maneiras). C.V.: fúria. I.E.: o grito: implica na qualidade de ginastas e na do individuo. Transformação.

...na ginástica aprendemos modos como saber ouvir e respeitar os outros. Meus pais me deram uma educação muito boa, entretanto, o GGTP me proporcionou um professor que, não só ensina os movimentos, mas nos ensina que devemos ser uma boa pessoa e até mesmo ser uma grande ginasta, e ser uma grande ginasta é ser disciplinada. O que eu aprendo no grupo eu levo pra casa e pra vida.

V.: respeito. I.E.: ginástica: espaço de aprendizagem. I.E. do processo pedagógico: “um professor que, não só ensina os movimentos, mas nos ensina que devemos ser uma boa pessoa e até mesmo ser uma grande ginasta, e ser uma grande ginasta é ser disciplinada”.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 4 TÍTULO: UMA BRINCADEIRA QUE SE TRANSFORMOU EM OPORTUNIDADE SUBTÍTULO: SEMPRE TEMOS ASSUNTO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) O tempo foi passando e as outras meninas foram desistindo. Algumas por falta de identificação com a ginástica, outras por que faltavam muito aos treinos, ou por que não persistiram, ou tiveram que ser transferidas de escola,...

V.: persistência. C.V.: desistência.

(...) Acredito que estou entrando no meu quarto ano no GGTP, por amor ao grupo e a ginástica; também por gostar de treinar e de participar das apresentações, seja na escola ou fora dela.

I.E.: visibilidade: a oportunidade de ser vista, conhecida, reconhecida como parte integrante do grupo. I.E.: persistência relacionado ao amor/prazer que sete a pessoa ao trabalho gimnico (fazer) e a participação na coletividade.

Eu achava as meninas que já faziam ginástica muito exibidas. Pensei que fosse ficar como elas (...)

C.V.: exibicionismo. I.E.: a postura exibida desenha a figura da ginasta.

C. é uma pessoa legal, ela sempre está ajudando as meninas mais novas a aprender os exercícios. Aos poucos fui aprendendo muitas coisas com essas meninas mais experientes,...

A importância da convivência entre gerações. V. solidariedade, companheirismo. I.E.: aprendendo na convivência e coma experiência.

...vi que eu não ia ser uma “amostrada”, mas, uma ginasta que mostrasse o que sabia fazer, sem ter que baixar a cabeça por nada. Era isso que as meninas mais antigas faziam, se orgulhavam dos exercícios que executavam. Executando bem ou mal os exercícios, nunca perdiam a pose, nem deixavam de ser graciosas.

I.E.: amostrada → uma postura de auto-afirmação. orgulho→auto-estima. I.E.: “perder a pose”: consolidação da imagem. C.V.: amostrada [exibida]. V.: orgulho, graciosidade.

Descobri com o tempo V.: dedicação, trabalho. O que mais gosto de fazer é conversar com as meninas nos intervalos que o professor Leonardo dá meio aos treinos.

V.: coleguismo, diálogo.

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Falamos de tantas coisas, sempre damos opiniões e ouvimos cada uma, quanto ao que elas acham e que aconteceu com elas, dá até para desabafar com coisas que aconteceu conosco, o que sentimos e o que fazemos. É engraçado porque sempre temos um assunto, e isso é bom porque previne contra discussões entre nós.

I.E.: a unidade e a união passam por um processo de relacionamento e de intimidade que ajusta a conduta.

As novatas são muito fofas e, embora elas não consigam ainda fazer os exercícios corretamente, suas forças de vontade mostram que elas encontram-se num bom caminho.

V.: foca de vontade, aplicação, precisão. C.V.: imprecisão. I.E. a dedicação enquanto um bom caminho.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 4 TÍTULO: UMA BRINCADEIRA QUE SE TRANSFORMOU EM OPORTUNIDADE SUBTÍTULO: APRESENTA: UM GRANDE SONHO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Tinha um grande sonho... I.E.: sonho ←→esperança. (...) Eu e as outras meninas do grupo tínhamos muita fé que tudo daria certo. Mas sabíamos que só com fé não chegaríamos a lugar nenhum. Era preciso trabalhar muito pra conseguir passagens, hospedagens, alimentação e um pouco de dinheiro pra levar.

V: fé, esperança, trabalho. I.E.: que adianta a fé se não há trabalho.

(...) Foi com muita perseverança que conseguimos... V.: perseverança. (...) O professor falava do hotel Casa Chocolate: um lugar muito lindo e que todas nós iríamos adorar e, ainda, que nesse hotel estava incluso o café da manhã. Eu imaginava um lugar lindo, cheio de paisagens especiais para curtirmos. Criava sempre grandes expectativas de estar lá com todas as meninas e o professor.

I.E.: Eu imaginava um lugar lindo, cheio de paisagens especiais para curtirmos. Criava sempre grandes expectativas de estar lá com todas as meninas e o professor. – a construção da imagem a partir de referenciais verbalizados e de referencias outrora vistas.

Em menos de dois meses criamos uma coreografia com bastões, arcos e cordas. Foi um processo muito suado, por que montar uma coreografia e depois limpá-la ou aperfeiçoá-la, em menos de dois meses, para apresentar com qualidade num evento internacional, onde estaríamos representando o nosso país, sem dúvida é um desafio.

Superação, trabalho, aperfeiçoamento: (valores). I.E.: apresentar com qualidade: a busca do belo.>>desafio. Fazer isso em pouco tempo.

Embora tivéssemos pouco tempo e ainda enfrentando as dificuldades de conseguir as coisas, criamos uma linda coreografia com alguns exercícios bem difíceis e algumas colaborações bem diferentes (...)

Eficiência = trabalho/tempo → qualidade x dedicação V.: eficiência. I.E.: lindo>> diferente e difícil (virtuoso).

(...) Graças à união de todas nós, ginastas e a dedicação do Professor Leonardo, a coreografia estava pronta.

V.: união, dedicação (professor)

Mas, o começo foi muito difícil, errávamos muito, o que é normal quando se está começando. Quando estamos aprendendo uma coreografia nova é comum que aconteça alguns erros, quando acontece isso comigo, levanto a cabeça e continuo até o fim (...)

C.V.: erro. I.E.: o erro é inevitável quando se busca acertar. V. persistência, perseverança.

(...) Quando acabo de passar a coreografia, eu vou treinar o que errei; aí, repito várias vezes até conseguir. Não é um errinho que vai me deixar triste. Por isso que, o treino é importante, para que possamos tentar várias vezes para que o erro não aconteça novamente.

V.: Persistência, trabalho. C.V. tristeza, erro.

(...) Quando vi todos os pais se despedindo, senti uma emoção muito grande. Na despedida, meus pais me apertaram muito, isso me passou uma segurança para entrar no avião.

V.: segurança, confiança. I.E.: a despedida<<móvel e emoção.

Ao entrar no avião, procurei logo meu lugar, senti uma sensação estranha, algo que não consigo explicar. A ansiedade tomou conta de mim. Aquele avião não se mexia, não saia do lugar, já estava ficando impaciente. Quando ele começou a andar meu coração disparou, nunca tinha andado em algo tão veloz. Passada a sensação, pude apreciar a visão lá de cima, era impressionante, as paisagens eram de chorar só de olhar. As aeromoças, muito bem educadas, sempre nos auxiliando. Tivemos um vôo tranqüilo, a aterrissagem foi a parte que mais gostei, uma sensação boa, de chegada.

C.V.: ansiedade; impaciência. Bem educada >> bons modos. I.E.: “senti uma sensação estranha, algo que não consigo explicar”. A experiência de perceber algo que não se consegue verbalizar, pois foge a racionalização do sentido. “pude apreciar a visão lá em cima, era impressionante, as paisagens eram de chorar só de olhar”. Experiência estética: a contemplação enquanto exercício >> geradora de prazer.>> prazer pode vim de uma contemplação. “a aterrissagem foi a parte que mais gostei, uma sensação boa, de chegada”. Classificação / hierarquização da experiência estética.

Chegando a Guarulhos o frio tomou conta de tudo (...) passamos pela cidade de São Paulo, achei muito linda, limpa e muito barulhenta, uma cidade grande e diferente. Nunca tinha estado ali, só conhecia São Paulo pela televisão.

I.E.: a ampliação das referências de cidade e de mundo. A forma como ela leu a cidade de São Paulo.

(...) Fiquei muito impressionada com a beleza do local. Fiquei encantada tanto com a beleza natural, vegetação e os animais,

V.: companheirismo.

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quanto com a arquitetura do hotel, linda, cheia de detalhes. O chalé em que ficamos me deu um grande conforto, também adorei as companheiras do alojamento.

I.E.: o encantamento ao se deparar, ou ao entrar em contato com uma paisagem incomum. A experiência sinestésica.

Conheci gente nova, pessoas maravilhosas, de culturas diferentes, gente de grandes grupos e de outros países. O que me chamou mais atenção foi o jeito deles, o modo que eles se tratavam, eram alegres e extrovertidos. Embora a língua fosse uma barreira, eu sempre entendia seus gestos.

V.: alegria, extroversão. I.E. outras referencias, ampliação de mundo. I.E.: Embora a língua fosse uma barreira, eu sempre entendia seus gestos. Comunicação gestual.

A nossa primeira apresentação foi muito especial. Nós nos apresentamos numa arena muito linda, havia luzes e dois telões; lá cabiam muitas pessoas (...) Fizemos uma apresentação muito boa, erramos pouco e isso ajudou. Estávamos muito concentradas.

V.: concentração; eficiência. C.V.: o erro. I.E.: Uma nova configuração do espaço de apresentação da GG. I.E.: “A nossa primeira apresentação foi muito especial. Nós nos apresentamos numa arena muito linda, havia luzes e dois telões; lá cabiam muitas pessoas”. Apresentação muito boa/ de poucos erros.

(...) A festa foi ótima, deu até pra relaxar do dia cansativo que tivemos. “E” me chamou a atenção porque eu fui uma das primeiras a começar a dançar (...)

I.E.: a festa como catarse. Sujeito “E” o olho vigilante. (o fenótipo).

...a idéia era sobrar tempo para que pudéssemos aproveitar um pouco mais (...)

V.: eficiência. I.E.: A otimização do tempo.

(...) Foi muito interessante andar dentro daquela estrutura em forma de uma roda, onde podia girar de diferentes formas, se deslocando ou não (...)

I.E.: Modificação das referencias de locomoção causada pelo novo aparelho, revelou um novo esquema intensamente interessante.

(...) A cada apresentação eu ia a loucura, algo que despertava emoção, não só em mim, como no público em geral; sentia muita vontade de fazer, embora tivesse um certo medo. Foi à realização de mais um sonho.

C.V.: medo. I.E.: a apresentação mudou o estado do espectador ia à loucura, despertando emoção (comoção/novas).

...eles realizavam coisas lindas. Faltam as palavras para descrever a beleza das coisas que eles faziam juntos. No mesmo dia pude vê-los se apresentando no Festival Universitário, foi uma das coisas mais emocionantes que eu já havia visto na minha vida. Um trabalho lindo, de força e graciosidade, tudo parecia tão fácil, mas sei que foi preciso que eles trabalhassem muito para se tornarem grandes profissionais.

V.: Persistência, união, força, graciosidade, trabalho. C.V.: faltam as palavras... (estado de estase/comoção).

...nós nos arrumamos, almoçamos, retocamos a produção e nos dirigimos para o local da nossa segunda apresentação oficial, ... Não nos saímos bem em relação a nossa primeira apresentação, acho que foi falta de concentração e também por que estivemos separadas o dia inteiro, umas fazendo cursos outras se divertindo. Faltou a energia do grupo na hora da apresentação. Mas fiquei feliz pela compreensão das pessoas que nos assistiram, todos deram muita força. Disseram, entre outras coisas, que o nosso trabalho era maravilhoso e além de tudo muito lindo (...)

V.: vaidade, compreensão, força. C.V.: descontração (lefinebata); desunião, cansaço. J.M.: embelezar-se: parte do fazer em ginástica geral. I.E.: O elogio que eleva, reconhece, faz Laços.

Essa experiência me aproximou ainda mais das outras meninas do grupo, tivemos uma boa convivência (...) Sempre ouvia as pessoas falando bem da nossa união.

V: amizade, companheirismo, união.

(...) Algumas vezes precisei de alguém por algum motivo, nessas horas sempre tinha alguém disponível para me ajudar. Essa atenção representa o grande carinho que temos umas com as outras, afinal somos companheiras no mesmo grupo. Contudo, não posso dizer que não houve discussões, porque houve. Eu levava tudo na brincadeira. As discussões não podiam apagar o momento mágico que estávamos vivendo. Eram discussões bestas. Penso que era motivado por um pouco de ciúmes entre as meninas, já que nós gostamos muito do nosso professor. Ele foi um grande pai e uma grande mãe nessa viagem. Sou grata ao professor Leonardo pelo cuidado dele conosco.

V: solidariedade, companheirismo, benevolência, caridade, compreensão, resignação, paz e gratidão. C.V.: conflito, ciúme. I.E.: paternidade e maternidade se confundem na atitude do professor.

...me emocionei ao ver todos os pais no aeroporto Augusto Severo nos esperando. Quando olhei vi a minha mãe e o meu pai vindo ao meu encontro, os dois estavam muito emocionados. Não agüentei, fui às lagrimas. Foi muita emoção. Ao passar pelo portão de desembarque, foram muitos abraços e beijos. Ainda abarcada aos meus pais ouvi eles agradecerem emocionados ao professor Leonardo.

V.: gratidão. I.E.: a emoção que faz chorar: o reencontro com o cordão umbilical. I.E.: outros gestos: o contato afetuoso (abraços e beijos).

O que restou foi à lembrança dos grandes momentos, das pessoas e dos lugares que conheci, das apresentações e das muitas emoções. Tenho também na minha lembrança a imagem de um grande professor, ele nos mostrou que um sonho, que tínhamos com quase impossível, poderia se tornar realidade (...)

I.E.: ótica são as lembranças e as emoções registradas pelo corpo no corpo. A mobilização é corporal. V.: gratidão, fé. I.E.: “na minha lembrança a imagem de um grande professor, ele nos mostrou que um sonho, que tínhamos com quase impossível, poderia se tornar realidade (...)” Lições de fé, esperança, esforço, trabalho, superação, persistência.

(...) A experiência que vivemos é fruto do nosso esforço e do V.: esforço, empenho → (o professor) ← responsabilidade,

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empenho do professor Leonardo, o maior responsável pelo sucesso dessa viagem. O apoio de Gleydson e de Edna, sempre atenciosos e cuidadosos com todos, foi muito importante, eles nos passaram muita segurança (...)

segurança, atenciosidade, generosidade.

Tudo foi um sonho que se realizou. Isso nos motiva a sonhar cada vez mais. Acreditar, batalhar e persevera são os caminhos para realizar os sonhos. Essas são umas entre muitas lições que aprendi no GGTP.

V.: confiança, trabalho, perseverança. I.E.: o que motiva: a realização. I.E.: as lições aprendidas: os valores.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 4 TÍTULO: UMA BRINCADEIRA QUE SE TRANSFORMOU EM OPORTUNIDADE SUBTÍTULO: PARA QUE MINHA IRMÃ LEMBRE SEMPRE DE MIM UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) E é sempre muito difícil estar longe de quem amamos, principalmente quando essas pessoas são a que mais amamos. Nunca havia viajado sozinha e se afastado da minha família (...)

V: saudade, emancipação, família. I.E.: o corte do cordão umbilical.

(...) Embora tivesse com saudade, foi possível suportar, pois considero o GGTP como se fosse parte da minha família, pois estamos sempre perto umas das outras e as meninas, de uma forma ou de outra, fazem ou fizeram parte de grandes momentos na minha vida, toda essa intimidade gera entre nós uma grande união.

C.V.: saudade, família, união, companheirismo e intimidade. I.E.: O GGTP como se fosse família: sentimento afetivo próximo do que se sente pela própria família.

Embora estivesse alegre por transformar possibilidade em oportunidade e dessa em realidade, falo em viajar para o estado de São Paulo e de participar de um evento internacional de ginástica, a minha alegria não podia estar completa, pois faltava alguém (...)

V.: alegria, trabalho, esperança. I.E.: transformar possibilidade em oportunidade.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 4 TÍTULO: UMA BRINCADEIRA QUE SE TRANSFORMOU EM OPORTUNIDADE SUBTÍTULO: PREPARA BREJEIRO, APRESENTA O CIRCO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO O Circo foi o meu primeiro espetáculo e, eu estava muito nervosa na estréia (...) Sei que me apresentei muito bem e era minha primeira apresentação.

C.V.: nervosismo. I.E.: estréia acompanha nervosismo.

O que eu gosto mais de utilizar são os bastões, não sei por que, mas, acho que tenho mais talento com eles. Já com a corda, tenho um pouco de dificuldade, demoro mais para aprender, eu acho a corda um aparelho mais complexo. Também acho os arcos lindos, adoro utilizá-los nos lançamentos e colaborações. A utilização dos aparelhos valoriza mais as coreografias, contudo, gosto mais de fazer coreografias de mãos livres.

I.E.: juízo de valor, ao qualificar e classificar o uso ou não dos aparelhos.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 4 TÍTULO: UMA BRINCADEIRA QUE SE TRANSFORMOU EM OPORTUNIDADE SUBTÍTULO: PREPARA UM GRANDE SONHO, APRESENTA BREJEIRO

UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Fico até emocionada de escrever sobre esse espetáculo, pois foi o mais especial e emocionante pra mim. (...) Retalhos Trapos e Farrapos, ... me deu mais trabalho, pois tive que me concentrar bastante.

V.: concentração. I.E.: a emoção ao lembrar, o quadro pintado na memória: o registro de experiências com o belo.

...me senti feliz por ter feito um lindo espetáculo. Foi emocionante porque, além de termos apresentado várias coreografias, uma mais linda que a outra, tivemos um grande cenário, equipamentos de iluminação e fumaça, além de grandes participações (...)

(...) Apesar do meu pai nunca ter gostado desse tipo de apresentação, esta foi à primeira vez que ele, junto com boa parte

I.E. A surpresa: a aprovação do pai }um aspecto importante da experiência que valoriza a emoção sentida ao relembrar

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da minha família, nos viu apresentar. Foi neste grande dia, para minha surpresa, que ele gostou muito de tudo. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 4 TÍTULO: UMA BRINCADEIRA QUE SE TRANSFORMOU EM OPORTUNIDADE SUBTÍTULO: A BRINCADEIRA DE ANTES SE TORNOU OPORTUNIDADE UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Quando eu entrei na ginástica geral, não ligava muito pra vida, tudo era só uma brincadeira. Desde que entrei no GGTP percebi o quanto amadureci. A ginástica me proporcionou superações. Eu tinha vergonha de tudo, pra apresentar um trabalho na sala de aula, seja qual fosse à matéria, era uma dificuldade. Além de tudo eu era muito tímida (...)

V: experiência, maturidade. C.V.: vergonha, timidez. I.E.: superações pessoais>> vitórias.

(...) Na ginástica me tornei uma pessoa diferente, mais forte, responsável e com vontade de fazer cada vez melhor as coisas.

V.: força, responsabilidade, força de vontade, trabalho e I.E.: trabalho em busca da qualidade >> beleza.

...foi na ginástica que encontrei o desejo, uma vontade de continuar e, o prazer no que estou fazendo (...)

I.E. desejo> sonho >> objetivos e projetos pessoais ligados ao prazer.

(...) Gosto muito da idéia de nós trabalharmos não só com coreografias do professor Léo, coreografias de ginástica, mas também com outros profissionais, ..., numa perspectiva de dança contemporânea. Estou adorando experimentar movimentos redondos. Espero que outras oportunidades surjam e que possamos receber mais convites para mostrarmos nosso trabalho.

I.E.: novas oportunidades >> conhecimentos de técnicas >> ampliação de mundo. Visibilidade.

Durante esses anos sempre fui muito dedicada ao GGTP e a ginástica geral, uma modalidade que eu não conhecia e que, hoje sou apaixonada. Quando estou me apresentando, sinto-me bem, realizada, principalmente quando o grupo executa um bom trabalho que correspondem as nossas expectativas.

V: dedicação, paixão. Desejo realização: quando está se apresentando, quando o grupo (coletivo) executa um bom trabalho (esforço); quando o coletivo corresponde as expectativas.

Ficha de conteúdo DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5: Naya da Silva TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: COMEÇAREI LOCALIZANDO A GINÁSTICA NO MAPA DA MINHA VIDA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Eu ficava me exibindo em casa, fazendo contorcionismo, o meu pai me filmava e fez vários vídeos sobre mim, o que me deixava muito feliz. Todos os meus familiares me viam fazer contorção em casa, o meu avô era o que mais se impressionava com a minha flexibilidade. Desde pequena gostava de dançar e de fazer exercícios de flexibilidade, queria ser modelo, mal sabia que minha flexibilidade ia me levar para a ginástica.

V: vaidade, felicidade. I.E. Visibilidade já na família. Viu na ginástica a possibilidade de dar continuidade e aproveitar o talento natural, expansão da visibilidade.

(...) Eu até fingia que estava fazendo para o professor não brigar, e, principalmente, porque ele tinha uma cara de exigente.

V: exigência V.I. fingimento. I.E.: juntar ao trabalho gimnico.

..., no momento em que eu fazia os exercícios nada mais me importava, o mundo parecia não existir, era como se fosse um sonho.

I.E.: a ginástica a conduzia a um estado de apartamento da realidade extra-aula.

Logo percebi que o meu lugar era ali, que eu me encaixava naquele lugar, que aquilo era o que eu queria pra mim, que eu não precisava mais procurar o que me ocupar (...)

I.E: Sentido de pertencimento: identidade. C.V. ócio>> falta de ocupação. I.E.: possibilidade de se sentir útil, atuante, ocupada. (sentimento)

(...) Sabia que não iria sair dali tão cedo, pois o que eu via me encantava e me dava prazer de fazer, pois, ao mesmo tempo em que eu reclamava da dor, eu sorria satisfeita por dentro (...)

I.E.: a experiência sinestésica levava-a a catarse, mesmo com componente negativo de dar o prazer e o encantamento redimiu e os efeitos da dor.

(...) Eu me esforçava muito, por ter tanto orgulho, empolgação e felicidade por ser uma ginasta. Eu, às vezes triste e desmotivada, encontrei na ginástica o meu lugar.

C.V.: tristeza, desmotivação. I.E. a ginástica trouxe o encantamento como experiência existencial para o sujeito.

Eu nunca vou esquecer do dia em que entrei na ginástica, no dia em que conheci o professor (coisa que estou fazendo a cada

I.E.: conhecer o outro: um exercício diário.

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dia), da primeira vez em que consegui fazer um determinado exercício, do dia em que eu conheci as meninas, do dia em que eu apresentei pela primeira vez na escola (...)

I.E.: experiências que resistem ao tempo e perpetua-se na memória.

(...) No dia em que entrei na ginástica minha vida mudou em todos os aspectos completamente.

I.E.: a ginástica que transforma vidas.

A ginástica geral me fez perceber a grandeza e a beleza que é a vida (...)

I.E.: a ginástica que possibilita seu praticante e enxergar ou a sentir a grandiosidade e a beleza que é e que há na vida. A ginástica que traz sentidos para a existência do ser.

(...) Eu percebi que cada vez que eu ia para a ginástica, quando voltava pra casa, eu voltava com uma lição para a minha vida. Aprendi a ser paciente, controlada, disciplinada, altiva, otimista, corajosa dentre outras virtudes.

I.E.: a ginástica que ensina coisas para a vida << que coisas são essas? >> V: paciência, auto-controle, disciplina, altivez, otimismo, coragem.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: DOR E SACRIFÍCIO ENQUANTO SUPERAÇÃO E PRAZER: O DESEJO DE REALIZAR ME FEZ VER ISTO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Todas as vezes que eu me esforço bastante, minhas pernas doem muito; o professor diz que é porque eu estou alongando, aí eu penso: então a dor é minha amiga. É isso que me motiva a não desistir, ajuda-me a continuar mesmo com a dor, tanto é que eu já estou começando a me acostumar com ela, pois, já tem alguns exercícios que faço e que, eu não sinto mais dor alguma, fico até rindo (...)

V: resistência; persistência. I.E: convivendo coma dor << ginástica. O treinamento (o trabalho) faz suportar e acostumar-se com a dor.(rir da dor).

(...) As meninas nem percebem que eu estou me esforçando, pela expressão da minha face: fico sorrindo. As meninas se matando pra fazer determinado exercício, enquanto eu já consigo fazer com o mínimo de esforço e ainda sorrindo. Mal sabem elas o quanto demorei a aprendê-los. Particularmente acho isso engraçado.

V: esforço, dedicação, resistência e persistência. I.E.: o domínio da técnica, da habilidade, OUA a melhoria do condicionamento físico exige tempo, dedicação, esforço, resistência e persistência.

Os saltos executados por L são lindos, uma iguaria que só uma aluna bem aplicada pode prepara com a maior precisão para alimentar nossos olhos. Os saltos de E então, maravilhosos, espetaculares, indescritíveis, estupendos (...)

Dedicação I.E. a perfeição de um salto comparado a um alimento saboroso e apreciado capaz de alimentar os sentidos. A beleza alimenta o corpo.

(...) Ambos vivem tentando melhorar seus saltos. [E] busca sempre executar os mais difíceis.

Desafio e superação:>> aperfeiçoamento. I.E.: a busca pelo exercício mais difícil e mais belo (em executado): isso diferencia um ginasta do outro e lhe confere status

(...) Não me atrevo a dizer que sou tão aplicada quanto eles, mas, o pouco que sei, eu tento aperfeiçoar a cada dia e, dentro do possível eu estou conseguindo.

V: dedicação; aperfeiçoamento. I.E.: em busca de conquistas >> aqui entendida enquanto aperfeiçoamento.

Melhorar o que já aprendi com muito esforço é necessário para que eu possa estar executando as coreografias de forma limpa. Até porque as pessoas que estão nos assistindo querem ver o nosso melhor e, se gostarem, continuarão nos assistindo nos futuros eventos. O professor Leonardo percebe quando e onde estou errando e fala logo pra eu corrigir.

C.V.: o erro V: o acerto I.E.: o aperfeiçoamento da técnica repercute na qualidade e na beleza da série. Para aprovação e reconhecimento público. I.E.: O olho clinico que ver o erro e corrige, ajuda no aperfeiçoamento e otimiza a relação do trabalho com o tempo.

Treino o que faço mal feito, os saltos, até conseguir executá-los com melhor qualidade. Não sei o que acontece comigo que eu não consigo executar bem os saltos! Eu tento! E logo os saltos que são mais importantes pra mim! Ainda sim, consigo realizar o cabriole e a gazela bem feitos, pelo menos isso.

I.E.: os saltos: o tendão de Aquiles.

Na coreografia Feira de Mangaio eu executava uma gazela horrível, ... O professor percebendo o motivo que fazia com que eu não saltasse me corrigiu ... Sem conseguir saltar e as vésperas da apresentação, o professor mudou essa parte da coreografia para deixá-la mais bonita e pra me preservar diante do público. Hoje eu já executo o salto...

I.E.: o salto feio/horrível: com defeitos de execução. I.E.: a adaptação da coreografia>> compromisso com a beleza da série e coma manutenção da auto-estima da ginasta.

Essa experiência na ginástica serve de exemplo para minha vida: persistir quando eu quero alguma coisa. Nunca desistir, tentar e treinar até conseguir executar o exercício que eu desejo. O desejo de realizar me fez ver isto. Percebo agora que a dor no corpo ou a dor de não conseguir me fizeram persistir, até alcançar as coisas que eu queria, por isso tenho a dor como minha amiga.

V: persistência, trabalhar. I.E.: a busca do exercício desejado. I.E.: a dor enquanto sentimento de não dominar o exercício foi motivadora.

A ginástica me traz prazer, me traz a sensação de ser uma pessoa de sorte. Tenho a sensação de estar no lugar certo, na hora certa,

Felicidade como dever ou meta de vida? I.E.: ginástica enquanto privilégio, para pouca felicidade

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pois é na ginástica que eu fico feliz. Assim estou cumprindo meu dever: de ser feliz.

como devem: uso inadequado das expressões.

Também sinto prazer quando eu vejo que consegui fazer mais do que na aula anterior. Melhorar um exercício ou mesmo realizar algum outro novo isso me dá prazer e além do mais me motiva (...)

V: Superação, conquista. I.E.: prazer na superação, na conquista. I.E.: aprimorar a técnica ou mesmo aprender um novo elemento traz o aperfeiçoamento e o domínio do conhecimento gimnico, isso implica na qualidade, beleza da série e traz status para a ginasta. A busca pelo fazer melhor traz prazer por i só, ou seja, pelo aperfeiçoar-se, pelo status que isso proporciona, ou em conseqüências da beleza das séries gímnicas? Uma coisa leva a outra.

Sempre ir além, nunca se conformando com o exercício que faço agora, sempre querendo crescer na ginástica e se esforçar para isso, são meus objetivos. Isso mostra que não estou na ginástica desde o começo sem um propósito (...)

C.V.: conformismo I.E.: a meta é sempre avançar, expandir. I.E. ir além é uma busca pessoal com seus limites, um enfrentamento com os próprios desafios.

(...) Sinto prazer quando estou me apresentando, principalmente se for uma coreografia complicada, isso aumenta minha satisfação. E mesmo que eu sinta dor, eu não penso somente em mim, penso no público, penso no que eu quero sentir no final da apresentação e, por isso tento dar o melhor de mim. No final, ao ouvir o som dos aplausos, sou recompensada, isso me dá prazer e me faz pensar o quanto valeu me esforçar no treino. Foi só depois de ter trabalhado muito as minhas habilidades e ter obtido alguns resultados (satisfações), é que vi o verdadeiro sentido do prazer a partir da ginástica.

V: esforço, trabalho. I.E.: o prazer está associado a dificuldade enfrentada e a satisfação é proporcional ao tamanho da dificuldade. I.E.: ouvir o som dos aplausos é uma experiência estética que traz reconhecimento público pelo esforço e pelo trabalho. (Em: muito embora a relação do aplauso está associada a aprovação da experiência estética daquele momento, de reconhecer a série como bela ou não.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: O FRIO NA BARRIGA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) Embora saiba da impossibilidade de transferir a sensação à outra pessoa, encaro a difícil tarefa que é explicar o famoso problema (...)

I.E.: o que se sente é pessoal, intransferível. Ao sentir não sinto pelo outro, nessa condição o que eu sinto é uma sensação minha, a dificuldade de explicar essa sensação.

Sempre quando eu vou apresentar fico um pouco nervosa. Adoro sentir este nervosismo antes das apresentações. Acho isso normal, até porque, quem não fica nervosa antes de se apresentar para um público? Mas, o nervosismo em excesso não é bom, pode até causar esquecimento momentâneo, por exemplo (...)

C.V.: nervosismo. I.E.: as expectativas frente ao público traz o nervosismo. O que se espera do público: a aprovação. I.E.: Essa expectativa faz perder o foco. Isso explica o esquecimento da série.

O frio na barriga me acontece por excesso de euforia, nervosismo e ansiedade, o que encadeia uma carga muito grande de agonia, e isso, finda numa má apresentação (...)

C.V. euforia, nervosismo, ansiedade, agonia, má apresentação (?)

...se uma pessoa passa a maior parte do seu dia, de seu tempo, ensaiando, isso pode levá-la a ficar muito tranqüila; porém, quando essa pessoa se dá conta da quantidade de pessoas presentes no local da apresentação e que elas estão lhe assistindo, não tem como não ficar um pouco nervosa. É isso que acontece comigo.

V: tranqüilidade. I.E.: a tranqüilidade é construída com trabalho e dedicação, ela é conquistada quando se está segura quanto a execução dos exercícios. I.E.: a intranqüilidade se dá na falta do domínio da série e da expectativa que se tem diante do público.

...o frio na barriga começa desde a hora em que a pessoa sai de sua casa para o local do espetáculo. Eu já estou ansiosa antes de chegar ao local no horário marcado com as demais meninas. Ao embarcarmos no ônibus, as meninas começam a cantar, brincar, para nos distrair, para aliviar a tensão e isso nos acalma progressivamente até chegarmos ao local da apresentação.

C.V.: ansiedade. I.E.: o frio na barriga é uma sensação causada quando se tem uma grande expectativa e a mesma está para se confirmar ou não. È um fenômeno sentido individualmente e que traz significados diferentes. Ora o frio na barriga é aprovada, noutras traz desconforto. V.: Enganar a tensão. I.E.: V: calma.

Quando eu chego ao local da apresentação admiro o espaço, conheço o lugar e finalmente vou aquecer. Nós nos aquecemos

V.: Calma, autoconfiança.

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para que tudo dê certo. Quando vou apresentar sempre me lembro do lugar que eu estava quando me encontrava aquecendo e marcando a série. O professor, no seu papel, nos ajuda nos encorajando cada vez mais para nos acalmar; suas palavras encorajadoras nos apóiam e nos ajuda a aliviar a pressão do lugar, do público, do clima, fazendo com que nós nos apresentemos com mais qualidade, tranqüilidade, leveza e delicadeza; afinal, quase tudo que é bem feito, é realizado com calma e delicadeza. E assim entramos calmas para darmos o nosso melhor. E é nessa hora que é preciso dizer para eu mesma: eu consigo, sei que posso.

I.E.: encontrava aquecendo e marcando a série até chegar a apresentação passava-se por etapas, como um ritual, ou rotina necessária ao resultado esperado: uma boa apresentação. I.E.: quando as palavras trazem conforto, alívio, minimizam o peso da tensão.

Sempre que estiver na frente da várias pessoas e você se sentir insegura, com medo, nervosa ou até mesmo esquecer do que fazer diga para si mesma: essas pessoas estão aqui para me ver e para assistir o espetáculo, por isso tenho que fazer o meu melhor para satisfazê-las. Depois é só se concentrar e pensar no que está fazendo. Seguindo essas recomendações você conseguirá ir longe, terá êxito na sua apresentação, perderá a sua timidez, fará os movimentos com maior elegância e com mais vigor. É sempre bom pensar em coisas boas para incentivar, pra dar uma força e, principalmente, para encorajar. Nessas horas, recorro a isso.

C.V.: timidez. I.E.: a razão da ginástica ou de se apresentar está no público (visibilidade, aval, aprovação). Em G.R. está nos árbitros. O público é a razão ou um elemento que motiva. V.: elegância, vigor, encorajar (apoiar) incentivar.

Sempre que estou apresentando vejo a expressão do público e assim sei se eles estão gostando ou não da nossa apresentação. Percebo no sorriso estampado no rosto das pessoas e na concentração delas quanto ao que estamos apresentando. Mesmo sendo de escola Municipal, eu vejo a diferença entre o nosso conteúdo em relação às coreografias de outras escolas: a nossa tem um grande valor artístico e, por isso, as pessoas aplaudem. Parte da minha alegria esta em ouvir e receber a sinfonia dos aplausos. Sinto-me honrada por estar ali. É muito bom e gratificante fazer parte desse momento. Assim como é bom sentir, ter a sensação de aproximação do público. Os aplausos soam como agradecimento por algo que foi visto e que agradou.

I.E.: A aprovação pela expressão antecede os aplausos. I.E.: O sorriso é o que comunica a aprovação. I.E.: É a diferença que fa a diferença. Por trazer elementos pouco comum na ginástica, as séries apresentam um diferencial em relação as demais e isso traz esse entendimento. I.E.: O diferencial é interpretado como um grande valor artístico. I.E.: Os aplausos soam agradável aos ouvidos, pois carregam em si o significado da aprovação. I.E.: A aprovação tem honra e alegria, sensações quistas, aguardadas. I.E.:Aplausos enquanto expressão de gratidão e satisfação. A ginástica serve ao público satisfação prazer.

Mesmo com o nervosismo na minha sombra, quando eu me apresento, o faço com a minha alma, pensando bem no que eu estou fazendo e me sinto tão feliz de estar me apresentando, por ser aplaudida, por ser uma pequena estrela no meio de uma constelação de meninas que mostram o que sabem fazer com sincronismo e dedicação, buscando sempre a perfeição, e o fazemos, principalmente com o coração, e isso nós temos de sobra.

V.: Nervosismo. I.E.:Apresentar-se traz felicidade pelo reconhecimento público (beleza ou pelo trabalho?). V.: dedicação. Meta: perfeição. I.E.:Parte de um todo.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: ESPÍRITO DE GINASTA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Ter um espírito de ginasta ajuda a ter uma postura altiva, muitas vezes confundida com uma postura amostrada e exibida (...)

Entre a altivez e a arrogância, ou quando a altivez se confunde com arrogância.

(...) A postura altiva ajuda na hora da apresentação e faz com que agente se esqueça do medo de amarelar, medo esse que quase toda ginasta tem. Amarelar é desistir na hora da apresentação (...)

V.: Altivez

(...) Acredito que uma pessoa que ensaia o tempo todo na hora de se apresentar não amarela, porque esta segura quanto à apresentação: os exercícios, o tempo da musica, a disposição quanto aos lugares, seus e dos demais participantes.

V.: Trabalho I.E.:Trabalho: o segredo do sucesso.

A segurança quanto aos exercícios, na maioria das vezes é sinal de maturidade e senso de responsabilidade, o que conta muito para caracterizar o espírito de ginasta. Quanto maior for o tempo em que à pessoa pratica a ginástica, maior será seu senso de responsabilidade quanto à segurança necessária para treinar os exercícios, pois o tempo traz maturidade, como também, tranqüilidade. Assim, a ginasta ao tentar algum exercício de maior dificuldade, saberá tomar os devidos cuidados de segurança para que não se machuque, saberá respeitar seus limites e, ao invés de se precipitar, saberá aguardar o momento certo de tentar algo novo.

V.: Segurança, responsabilidade, respeito, experiência →maturidade; tranqüilidade. I.E.:Espírito de ginasta: valores no discurso, valores no corpo →incorporação desses valores. Quando os valores passam a fazer parte do individuo, de sua corporeidade. C.V.: Precipitação.

(...) É esse o espírito essencial para o crescimento da ginasta em sua atividade e, também, na vida pessoal.

I.E.: A incorporação dos valores anteriores como essencial para se viver, a existência do indivíduo << In: em suas

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relações >> na qualidade das relações.

O espírito de ginasta envolve todas essas coisas, fazendo com que a mesma se acostume cada vez mais com as apresentações; que consiga explorar mais o que sabe fazer, aprofundando mais seus conhecimentos naquilo que sabe; e, obtendo maior segurança e responsabilidade no decorrer dos anos.

I.E.: O espírito de ginasta: tendo esses valores incorporados os mesmos devem reverter-se em benefício do fazer artístico. Isso é possível na relação trabalho-tempo.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: O CÉU É O LIMITE UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO O professor Leonardo sempre diz: nunca se contente com o que você sabe fazer, busque sempre mais. E é isso que faço, me esforço para alcançar o exercício mais difícil, aquele que ainda não consigo (...)

Saciedade e compulsão: I.E.: a busca pelo novo limite implica na superação do atual.

...deve ser esse o segredo dos atletas famosos; das ginastas que parecem saber quase tudo, realizando os exercícios difíceis e em perfeita sincronia (...)

O segredo da fama: exercícios difíceis e com perfeição. << a busca, a meta a ser alcançada>>

(...) Certamente elas treinaram muito até conseguir chegar ao nível em que estão hoje. Aprender um exercício difícil e obter uma qualidade em sua execução são resultados de muito esforço, dedicação e de disciplina nos treinos

V: Trabalho, esforço, dedicação, disciplina. I.E.: levam a qualidade dos exercícios (beleza).

As pessoas que nunca se contentaram com o que sabiam fazer, sempre buscaram mais, e é esse o segredo da conquista. A conquista é a satisfação de buscar algo e alcançar. Essa realização pessoal é o que chamo de conquista (...)

V: Insatisfação, inquietude. Giram ou motivam a busca por conquistas. Conquistas enquanto realização pessoal.

(...) A satisfação vem, por exemplo, ao se apresentar bem uma coreografia, em conseqüência a obtenção do reconhecimento caloroso do público (...)

I.E.:Satisfação em ser reconhecida.

(...) Nada vem de graça, tudo na vida é conquistado. Jamais alguém conquistará algo se não lutar por isso. Às vezes nos ginastas pensamos: será que não vou conseguir? Afirmo, pois que, se você lutar com todas as suas forças, dando o seu melhor e no limite de suas capacidades, absolutamente nada te impedirá de conquistar o que você tanto quer.

V.: Trabalho, concentração, força, resistência, persistência. I.E.:As coisas não surgem do nada, precisam ser conquistadas. Lutar por isso implica em trabalhar por isso.

O mundo é de quem se esforça e quer vencer na vida; você só vai pra frente se lutar por aquilo que se acredita. Não adianta você integrar um grupo, participar de coreografias, quando em pensamento você sabe que não esta dando o seu melhor, que esta sempre procurando fazer o que já sabe, sem tentar superar o seu limite, sem tentar aprender coisas novas (...)

V.: Esforço. I.E.:O espaço é para aqueles que se esforçam/ trabalham. I.E.:A maior vitória. C.V.: acomodação.

(...) Oferecer algo de diferente pra o grupo é sempre muito importante, faz com que o grupo cresça em conhecimento. É importante identificar seus ideais, estabelecer e alcançar metas.

V: perspectiva. I.E.:O novo que traz renovação e alimenta o crescimento do grupo. I.E.: Entendido como uma nova informação

Podemos ver no mundo em que vivemos como é difícil encontrar uma oportunidade, por isso, se alguém lhe vier oferecer uma oportunidade é importante avaliar bem e daí aproveitar ou não (...) ... é sempre bom fazer mais do que podemos, forçar mas, respeitando os limites. Lembre-se que se você quiser ser alguém, precisa batalhar por aquilo que deseja.

V: Ponderação (avaliação), respeito, trabalho. I.E.:As oportunidades devem ser avaliadas. I.E.:Ser alguém: trabalhar e atingir metas.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: TAMBÉM SE INTERPRETA NA GINÁSTICA GERAL UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO A primeira coisa a se fazer quando se quer interpretar é saber do que se trata a música e qual é a mensagem que ela transmite; depois, é se concentrar na música e interpretar a história, a idéia da coreografia. É importante saber sorrir nas músicas alegres e rápidas; saber ficar séria nas horas de músicas lentas, tristes melódicas. Saber fazer cara de mal nas músicas que mostram personagens maus, e, é preciso interpretá-los muito bem, seja

V: Concentração, treinamento/trabalho, aprendizagem. I.E.:Em busca da virtuose: a virtuose requer saberes/técnicas e o domínio sobre isso.// transformação da dificuldade em um hábito corriqueiro, possível de ou acionado a qualquer instante.

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com cara malvada, autoritária, mandão ou arrogante. Para interpretar bem tem que parecer real, bem compenetrado na personagem, sentir a vibração, toda magia da interpretação, expor sua alma, sentir na pele o que o personagem precisa sentir, gozar da dor da personagem, viver outra vida, um outro mundo, diferente do nosso, onde tudo pode acontecer, um lugar onde você se entrega por inteiro a personagem. Nessa hora tudo passa a mudar.

V: Entrega de si e abnegação. I.E.:Sentir, expor, gozar, dor, vibração, pele: vias para uma elaboração ou a qualidade e construção do personagem. I.E.: magia: interpretação, um parecer real, viver uma vida, um outro mundo, um não lugar espelho do lugar real. I.E.:A magia traz a mudança.

As luzes, as emoções, os sentimentos a flor da pele, o nervosismo, tudo faz parte do encanto do espetáculo, da ação de se apresentar para outros. O espetáculo é uma vida a ser descoberta. O espetáculo é uma narração de algo, para alguém, em algum lugar, existem ações, figurinos, luzes e, isso, é parte dessa magia, complementada pelas emoções que sentimos. Nesse momento você é a personagem.

I.E.:O encanto do espetáculo, no conjunto dos recursos, emoções e dos sujeitos que as sentem. I.E.:O espetáculo como uma vida paralela a ser descoberta. I.E.: No momento em que o encanto acontece, interprete e personagem se confundem.

O balé é uma peça dançada, que narra uma história e que fica muito bonita por causa do figurino que os bailarinos e bailarinas usam combinando muito bem com a ocasião e com a interpretação dos personagens. No teatro a interpretação é obrigatória, deve ser precisa e deve ser cobrada a qualidade. Na ginástica, geralmente não se usa muito o recurso da interpretação, vê-se com mais freqüência seu uso no teatro, no balé, mas, mesmo assim, na ginástica que praticamos utilizamos esse recurso. A ginástica geral permite (...)

Distinção entre diferentes linguagens quanto ao uso de técnicas: no caso, a interpretação. V: A qualidade, beleza, cobrança.

(...) Em nossa ginástica é possível perceber que a cada movimento a ginasta tem uma expressão facial, correspondente ao movimento que esta executando. Isso deixa a apresentação mais bonita e esplendorosa. Usar a interpretação na execução dos exercícios gímnicos, torna-se um diferencial na ginástica geral, deixando a ginástica mais bela.

Interpretação como diferencial na ginástica geral. I.E.: A beleza não está apenas na execução dos exercícios, mas na forma como eles são resultados.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: O MEU PROFESSOR UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) O desentendimento é parte do convívio, afinal, quem nunca se desentendeu com um amigo? A briga sempre existiu, faz parte da natureza, portanto, se desentender com o outro é natural. Eu entendo o professor, eu sei que ele tem suas razões para se irritar, de se estressar, ele tem lá seus motivos, assim como nós ginastas também temos nossos momentos de estresse umas com as outras.

V: Compreensão, resignação. VI.: Brigas, irritação, estresse.

(...)Ele me ensinou a ser perseverante, persistente, a não desistir dos meus sonhos, a lutar por eles. Há algumas coisas que ele me ensinou e que eu nunca esqueci:... quem decide isso são vocês, através das suas atitudes; (...)As nossas ações são aquelas que nos definem como pessoas; (...) Não é apenas pela força de vontade que chegamos a algum lugar, a conquista é fruto de muito trabalho; (...) O que nos faz fortes é a nossa união.

V: Perseverança, persistência, trabalho, força, união. I.E.: Somos em nossas ações, são elas quem desenham o que somos. I.E.: A união é interpretada como nossa maior força do grupo.

Essas são algumas das palavras que o professor nos diz, sempre na intenção de gerar na nossa mente a esperança, a motivação, para que não percamos a fé. Ele esta sempre do nosso lado, procurando nos orientar a não querer ser melhor do que a outra, nos ensinando a ajudar a companheira da ginástica no que ela precisar para seu crescimento enquanto ginasta. Sempre nos diz que o que nos torna campeãs não é um lugar no podium, mas, aquilo que desejamos e conquistamos com atitudes. Por isso, quando ele briga, eu nem ligo, porque sei que é da boca pra fora, que ele faz pensando no melhor para agente. De um tempo pra cá o nosso grupo vem evoluindo tecnicamente e crescendo em quantidade de pessoas, acredito que é graças a estes grandes ensinamentos.

V: Esperança. Incentivo, fé, companheirismo, solidariedade, cooperação. I.E.: Existência altruísta. I.E.:As atitudes apontam os vencedores. V: I.E.:Atuar com energia, ser enérgico, faz parte da exigência, para manter a disciplina e o foco no trabalho que está sendo desenvolvido. I.E.:A configuração estética e ética do grupo vem promovendo prosperidade no âmbito técnico e no atendimento.

O nosso grupo estava muito desunido, quase que acabava, foi também conversando que o professor nos salvou de uma catástrofe. Ele nos chamou, todos, e a partir de uma conversa, nos alertou do perigo e assim salvou o nosso grupo. Não conversar é um erro. Como estávamos nos desentendendo, sem conversar, todas nós estávamos erradas.

V: Conversa/diálogo V.V.: Desunião, erro, falta de comunicação. I.E.:A boa relação passa pó uma convivência no diálogo.

Conversar é muito importante na convivência fraterna entre as pessoas, porque nos ajuda a nos entender. A conversa nos ajuda a

Entendimento entre pessoas. V: Fraternidade, aprendizagem, compreensão, perdão.

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chegar a algum lugar. Com a conversa as pessoas podem mudar seus conceitos, aprender e compreender o outro, é possível, inclusive, alcançar o perdão. E, são esses os elementos necessários à consolidação de um grupo.

I.E.:Convivência fraterna logo uma não fraterna. Todos importantes para a consolidação de um grupo.

Se não existe conversa, não há amizade, e sim, pessoas solitárias, isso não pode haver num grupo. No nosso grupo o professor dialoga bastante conosco para que não haja discordâncias ou mesmo, que se formem grupinhos. Acredito que atualmente conversamos bem mais; dialogamos bastante até entrar em acordo.

Ações necessárias para a união.. V: Amizade, diálogo. C.V.: Discórdias. I.E.:Para existir amizade é necessário conversar.

Não se podem escolher amigos do jeito que a gente quer; não é preciso mudar as pessoas para que elas sejam suas amigas; não podemos excluir as pessoas só pelo jeito dela ser ou, por algo que você não gostou nela. Essas atitudes podem nos levar a perder ótimas oportunidades de amizade. É necessário que haja respeito entre as pessoas e suas diferenças.

V: Aceitação, respeito, amizade. C.V.: Exclusão. I.E.: Valorização das diferenças na manutenção do grupo.

Ninguém é igual, a não ser nos olhos de Deus, por isso que eu não reclamo desse jeito resmungão do professor, pois entendo que ninguém é perfeito e que as reclamações do professor são para o nosso bem. Por isso, eu digo que, Léo não é somente meu professor, é também meu amigo.

V: Benevolência, compreensão. I.E.:O professor resmungão.>> imperfeito e amigo, por querer nosso bem.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: DESCONTRAINDO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO A descontração ajuda na integração das pessoas como um todo e não como um ser individual. Com a descontração fica bem mais fácil esquecer dos medos, da timidez (...)

V: Dscontração. C.V.: Medo e timidez.

Havendo descontração, você não será tímida, ira interagir, cooperar e, dessa forma, se envolver amigavelmente com as pessoas que estão à sua volta. A desconcentração ajuda a ter um treinamento menos monótono, para que não se torne uma rotina e, consequentemente, ficar chato. Tudo fica melhor quando se é descontraída, você se enturma com todos, sem parecer antipática, assim, você não fica solitária, achando que não tem amigos, principalmente quando se percebe que se pode fazê-los (...)

V: Interação, cooperação, amizade, trabalho, simpatia. C.V.: Timidez, antipatia, solidão.

(...) E é a amizade que nós construímos que nos ensina muita coisa, uma delas é a própria convivência (...)

I.E.:Amizade ensina.

A descontração ajuda no crescimento pessoal, no espírito de conjunto e é sempre bom que as alunas, as aprendizes, as ginastas se entrosem umas com as outras. A descontração funciona como um tipo de dinâmica meio que imperceptível, pois o engraçado é elas, as ginastas, serem tão amigas e sem nenhum tipo de inveja ou competição, pois sabemos que cada uma delas tem um talento, exemplo: umas são boas em flexibilidade, outras nos saltos.

Mesmo sem sentido, ver e considerar os seguintes valores: inveja e competição. V: Colaboração, união. C.V.: Inveja, competição entre os membros do grupo. I.E.:Visualiza o talento individual.

(...) Sempre que existe um diálogo há uma troca de pensamentos de opiniões de pontos de vista, que somente com uma conversa poderemos chegar a um lugar, a um acordo, a uma decisão.

I.E.:Diálogo são trocas, acordos e decisões.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: DIALOGANDO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Entre nós, o diálogo nos ajuda a nos conhecermos mais e nos tornarmos pessoas mais humanas, mais prestativas e que certamente saberão ouvir as pessoas a nossa volta, sejam conselhos ou críticas, de quem quer que seja, escutando e opinando.

V: Solidariedade, ouvir, opinar. I.E.: O diálogo faz as partes se conhecerem e humanizam.

Quando duas ou mais pessoas de um grupo não dialogam, não conseguirão ter uma amizade e com isso terão opiniões opostas e isso levará à discussões fúteis, por qualquer coisa elas vão brigar e isso certamente gerará intrigas e contendas no grupo todo, levando assim, a decadência.

I.E.: Intrigas e contendas como geradores da decadência das relações em grupo. C.V.: Intrigas, brigas e contendas.

(...) Uma pessoa que não é acostumada a ouvir os outros, jamais V; Ouvir.

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conseguirá organizar as suas idéias, pois é a partir de opiniões das outras pessoas que tiramos nossas próprias conclusões quanto o que é certo e o que é errado. Portanto, escutar é sempre bom principalmente quando se trata de alguém que só quer o melhor pra nós (...)

C.V.: Ignorância.

Ainda temos muito a fazer, podemos mudar pra melhor ou pior, somos nós que fazemos nossas escolhas, pois são elas que fazem de nós o que somos hoje, e por isso, é sempre bom ouvir, pois é ouvindo que amadurecemos e crescemos como pessoa.

V: Transformação, livre-arbítrio. I.E.: Predomínio do pensamento maniqueísta. I.E.:É o nosso fazer que determina nossa transformação para melhor e para pior.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: A VIAGEM PARA CAMPINAS UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...destaco a dedicação do professor Léo na concretização dessa viagem, uma experiência inigualável, sou grata e sinto-me realizada por poder ser parte disso tudo (...)

V: Dedicação, gratidão. I.E.:A viagem: uma experiência inigualável. I.E.:A realização fazer parte.

...eu fiquei perplexa e ao mesmo tempo com um sorriso irônico no rosto, pois, como é que uma pessoa poderia acreditar numa coisa tão absurda? Pra mim, ir para São Paulo com o grupo para se apresentar, era algo impossível de alcançar.

I.E.:Perplexidade ao anuncio da viagem.

(...) As meninas ficaram perplexas e, por um instante, em silêncio, logo explodiram em gritos de alegria. Já eu, em meio a essa alegria, não sabia se pulava, se gritava, se sorria – era difícil de acreditar – apenas chorei, essa foi a forma de expressar minha alegria. Parte dessa alegria vem da satisfação do cumprimento de um trabalho, de poder corresponder às exigências do professor, atender suas perspectivas, para ir a tão aguardada viagem, com certeza foi a maior experiência que já pude viver. Adorei participar, sentir as emoções que senti, enfim, tudo.

I.E.: Um estimulo, muitas reações. I.E.:A magia da emoção. V: Trabalho, alegria, exigência. I.E.:Satisfação/dela realização do trabalho para viajar é necessário atender expectativas, viagem para Campinas: a maior experiência que viveu. Emoções sentidas.

A primeira coisa que amei foi viajar de avião, foi uma experiência nova pra mim, logo eu que nunca havia saído de Natal, voar num avião era realmente um sonho. No começo fiquei com medo, mas depois da decolagem, consegui até dormir, nem percebi quando o avião pousou (...)

C.V.: Medo. I.E.:A experiência nova/realização de sonho.

No segundo dia, nós aproveitamos muito, amei o lugar, em especial uma cama elástica que havia lá, foi pura curtição, pulamos muito, inclusive o professor (...)

I.E.:Pura curtição.

Amei as apresentações, em especial as rodas alemãs, por ser lindo e mágico. Vi também balé e até dança junina, ambos misturados com ginástica. Havia muitas coisas diferentes.

I.E.:Lindo e mágico. I.E.:A estética da G.G.: Vi também balé e até dança junina, ambos misturados com ginástica.

(...) Lá a ginástica é de grande área, umas cem pessoas por apresentação, mais de mil pessoas assistindo. Foi lindo.

I.E.:A estética da G.G.G.A.

Treinamos até à hora de tomar banho e arrumar os cabelos; jantamos e fomos para o local da apresentação, que já estava lotado quando agente chegou, nos maquiamos e aquecemos. Até chegar a hora que fomos chamados para a área de entrada para se apresentar. Parecia surreal. Eu entro primeiro e isso me fez sentir uma grande responsabilidade, mas ainda bem que o público gostou. Eu adorei a nossa apresentação, achei simplesmente boa. Mas comparando com a segunda apresentação, a primeira foi melhor que a segunda, pois não houve quedas de aparelhos.

V: Acerto. C.V.: O erro. I.E.:sentir responsabilidade diferente de agir com responsabilidade ao entrar na arena numa ocasião que traz em si um contexto de muito trabalho, esforço, dedicação, persistência, conflitos, renuncias, desejos.< talvez por isso: surreal. I.E.:Aprovação do público. I.E.:A quantidade de erros define o melhor ou pior: menos erro o melhor mais erro pior.

(...) Gostei muito da festa, foi muito legal, gostei das diferentes músicas, dos diferentes lugares, gostei muito quando tacou a música brasileira, forró. Achei engraçado ver os estrangeiros tentando dançar forró. Pois não é que eles conseguiram! Depois do forró veio o samba. E, não é que, pra minha surpresa, eles também sambaram! Nós também dançamos as musicas deles, foi muito engraçado (...)

I.E.:Gostar, aprovar >> aquilo que os sentidos não rejeitam ou que se afirmam, se aproximam. Os sentidos aprovam inclusive as formas de comportamento. É nele que nasce ou desperta a simpatia ou antipatia por esse ou aquele comportamento que revela além da individualidade, uma série de condutas construídas culturalmente e transmitida, modificada ou adaptada a cada geração. Inclui-se as regras de convivência moral. I.E.:Intercambio cultural através de uma manifestação da cultura de movimento.>> de forma espontânea e divertida.

Nesse fórum conheci pessoas novas e amei isso. (...) Os estrangeiros foram muito simpáticos e alegres. O pouco que conversei com eles, aprendi muito com tudo que pude entender, pois eles falavam coisas que não dava para entender, principalmente os alemães.

V: Simpatia alegria. I.E.:A conversa traz conhecimentos.

(...) Eu simplesmente achei nossa apresentação boa, pois mesmo que, as coisas não tenham dado muito certo, pelo menos nós

V: Tentar/persistir.

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fizemos o possível e demos o nosso melhor. E isso é o que vale mais. Não é o fato de executar mal os exercícios ou de se apresentar mal, que diz que nós não tentamos. A derrota em si é menos deplorável do que o fato de não ter lutado.

C.V.: Derrota, desistir, fugir dos trabalhos das obrigações. I.E.:O que vale mais é dar o melhor de si.

Os melhores momentos não são feitos em anos, pode estar numa fração de segundos e esses segundos, assim podem se eternizar (...)

I.E.:Brincando com o tempo.

...foi ótimo reencontrar minha família. Eles estavam nos esperando no aeroporto, com os olhos cheios de alegria. Como foi bom revê-los. Isso nos faz perceber o valor que a nossa família tem para todos nós, tudo que temos devemos a eles. Tudo isso vai ficar pra sempre em minhas lembranças.

História: Fato ocorrido no tempo e no espaço e que é registrado e cultivado por uma cultura. I.E.:O registro: quando se tatua no corpo informações de um fragmento de História e esse perdura por longo tempo. I.E.:É possível enxergar a alegria nos olhos do outro. V: Família, gratidão.

A ginástica geral é uma forma de aprendizado sem competição, contudo é uma possibilidade de revelar talentos; é uma forma de descoberta fantástica, que nos trás lições para a nossa vida cotidiana, nos faz ser pessoas de caráter e sonhadora. Antes eu via a Ginástica Geral somente com meus olhos, eu achava que tudo era somente dor e mais dor, mas percebi, ou melhor, descobri que não era só isso. Ginástica Geral são também prazer e alegria. Prazer de conseguir fazer os exercícios; e, a alegria de ser ginasta, das amizades que fazemos. Prazer e alegria trabalhados no espírito de conjunto, na persistência das metas que todos sabemos e que nos dispomos a cumprir (...)

Experiência estética da G.G. • Forme de aprendizado • Ausência de competição • Transforma caráter • Prazer • Alegria • Realização • Vaidade • Amizades/fazer • Visão: solidariedade, participação, cooperação,

benevolência, atenção, aceitação, compreensão. (...) São essas descobertas que nos traz lições para a nossa vida cotidiana, como ser persistentes sempre, lutando pelo que queremos, vencendo as barreiras e seguindo em frente. Portanto, entendo que essas lições nos fazem ser pessoas de caráter melhor e, também, sonhadoras, mas com os pés no chão (...)

V: persistência I.E.:As descobertas ensinam, entre as coisas que se aprende estão os valores. I.E.:lutar, vencer, seguir = esforço / trabalho / resistência / persistência. Conjunto de fatores que “fazem ser pessoas de caráter melhor e, também, sonhadoras, mas com os pés no chão” (cautela).

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: A SOLIDARIEDADE DE OUVIR E SER OUVIDO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO A ginástica é parte da minha vida e é minha outra família. É na ginástica, além da minha família, que aprendo lições sobre a vida, são essas lições do dia-a-dia que me fazem crescer em todos os aspectos da minha vida.

I.E.: Ginástica e família > lições da vida (ensinam / fazem crescer nas diferentes dimensões).

Foi na ginástica que aprendi que as pessoas podem ser diferentes umas das outras, mesmo estando no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas, pois isso implica apenas que estão com o mesmo propósito, do qual vencer na vida pode ser um deles. Mesmo tendo objetivos iguais, as pessoas têm modos próprios de fazer para conquistá-los.

Visão da meta coletiva. I.E.:Percepção das diferenças e do sentido que uni pessoas: algo em comum >> vencer na vida. Ainda que se tenha o mesmo propósito, o agir está relacionado ao individuo.

Na busca de conquistar aquilo que realmente se quer, cada pessoa age uma maneira: umas usam o dom que tem como a simpatia, já outros usam qualidades profissionais. As pessoas têm várias formas de conseguir o que querem. Cada pessoa, com seu jeitinho especial, conseguem de diversas maneiras, chegar onde querem. As pessoas deveriam aproveitar esta riqueza, esta diversidade que é as diferentes formas de pensar. As diferentes formas de pensar nos diferenciam e, isso pode nos ajudar. As pessoas têm problemas e a forma de pensar de cada um pode ajudar a resolvê-los. Um pouco de conversa às vezes serve de lição, lição essa que nos ajuda a cultivar nosso dia-a-dia bem melhor, pois aprendemos com o outro. Isso nos ensina e contribui para que sejamos mais experientes. Assim, aprendemos a ser pessoas melhores, com aqueles que têm outras experiências de vida.

Compreensão de que as pessoas são diferentes, não só na morfologia, mas, na forma de pensar. I.E.: Percepção das diferentes formas de agir e de pensar como diferenciador do comportamento humano: somos todos diferentes. Para além do entendimento morfológico. I.E.:Através da conversa é cultivado o cotidiano de forma melhor; a convivência traz aprendizado [quem aprende? Ambos]; traz naturalidade com o tempo; torna o individuo melhor.

(...) O diálogo é de uma riqueza tão grande que, se parássemos para pensar ou para imaginar só por um instante entenderíamos que melhor do que tentar resolver as coisas no grito é tentar resolvê-las com o diálogo. Sabemos mais quando dialogamos com outras pessoas. Com isso o nosso intelecto aumenta porque aprendemos mais sabre às várias maneiras de pensamento do ser humano.

V: Diálogo. I.E.:diálogo para resolver coisas; para saber mais; inclusive como pensam outras pessoas.

É isso que aprendemos com o professor e são estas lições que, muitas vezes, salvam nossas vidas quando nos desesperamos com

V: Aprender com o outro (o professor). C.V.: Desespero.

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diversos problemas no nosso dia-dia. I.E.: Saberes que salvam.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: LIÇÕES DE SOLIDARIEDADE NA CONSTRUÇÃO DO BELO: PREPARA... UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Ainda não falei da hora em que nos arrumamos para apresentar, é uma agonia. Ao mesmo tempo em que nós estamos ansiosas, estressadas ainda temos que nos arrumar. As palavras do professor também valem nessa hora: “vamos, calma, mais rápido, se organizem, N ajude as outras meninas”, e por aí vai.

C.V.: Agonia, ansisedade, estresse. V: Calma.

É contagiante a ansiedade das meninas. Nós nos agoniamos pra vestir a roupa por causa dos zíperes, e ainda por causa dos detalhes do cabelo e da maquiagem. São nessas horas que precisamos de “uma ajudinha”. Sempre aparece uma menina disposta a ajudar. O pior é quando temos que nos trocar mais de uma vez para apresentar diferentes coreografias. Isso só acontece quando tem espetáculo. Imaginem a aflição. Mas nós nos ajudamos.

V: Solidariedade, cooperação. C.V.: Aflição. I.E.: A ansiedade contagia.

Para estarmos realmente prontas e deslumbrantes ainda resta a maquiagem. Às vezes é o professor que nos maquia, noutras somos nós mesmas, ajudando uma à outra. Essa tarefa é demorada, pois temos que escolher a cor e o tom certos, passar lápis no contorno dos olhos, batom, entre outras coisas.

V: Cooperação, solidariedade. I.E.: Enfeitar-se, embelezar-se: parte final da preparação para apresentação.

Uma a uma, as meninas vão ficando prontas e só saímos quando todas estão com os detalhes ajustados minimamente. E lá vamos nós como se nada tivesse acontecido, como se não tivéssemos sofrido para colocar o figurino, fazer cabelo e ainda maquiagem.

I.E.: O embelezamento traz sofrimento é uma forma de dizer que não é fácil.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: EMOÇÕES SE MISTURAM NA APRESENTAÇÃO DO BELO: APRESENTA ESCOLA MUNICIPAL PROFESSORA TEREZINHA PAULINO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Prepara Escola Municipal Professora Terezinha Paulino, apresenta... Esse é o sinal, fomos chamadas. Eu logo me preparo, me colocando no meu lugar na entrada. É lá mesmo que me concentro e tento não me empolgar excessivamente para que ocorra tudo bem. Prefiro me concentrar meio ao barulho.

V: Concentração. C.V.: Euforia. I.E.: O preparo para se apresentar >> momentos antes a necessidade é concentração << focar a série.

Não dá pra conter a alegria e o orgulho de estar ali prestes a se apresentar. Confesso que fico bastante ansiosa, pois zelo para fazer tudo lindo. Ao mesmo tempo em que me concentro, vejo a reação do público, percebo o sorriso no rosto das pessoas. Embora não pareça, o tempo passa muito rápido entre o “prepara...” e o “apresenta...” e, quando menos esperamos, somos anunciadas: apresenta Escola Municipal Professora Terezinha Paulino.

V: Vaidade , orgulho, atenção, zelo, concentração. C.V. Ansiedade. I.E.: Fugacidade do tempo. Fazer tudo lindo >> o trabalho em função da beleza.

Alguns poucos segundos nos separam do início da coreografia. Esses segundos às vezes se tornam intermináveis. Vamos caminhando em direção à área de apresentação. Porém é no caminhar que nossa apresentação começa. É nessa hora que tudo vai ficando diferente. Nossa tranqüilidade está à prova. É um misto de sensações boas e más. Essa mistura faz com que você não pense em mais nada, pelo menos não deveria.

V: Tranqüilidade. I.E.: Na fugacidade do tempo a sensação de duração. O posicionamento é ponte da apresentação, uma vez que a mesma é vista. >> a tranqüilidade em avaliação. Conflito de sensações.

Se alguém me perguntar qual a pior parte disso tudo, a que me deixa mais nervosa, com certeza responderei: é aquela partezinha chata depois que somos chamadas: o silêncio entre a nossa entrada e o início da música, a mesma que corresponde a nossa entrada na área de apresentação, a pose inicial e o início da música. Aquele enorme silêncio leva uma eternidade e deixa muita gente impaciente. Mesmo estando parada na pose inicial, não consigo conter a minha impaciência. Logo meu coração bate mais forte. Enquanto eu vou pensando nisso tudo, o público espera. Realmente é a parte mais difícil pra mim.

C.V.: Nervosismo, impaciência. I.E.: Num pequeno intervalo de tempo, a imensidão do silêncio esconde o tamanho da tensão.

De repente a música começa e esta valendo a honra, dos nossos V: Honra, esforço/trabalho.

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esforços nos treinos, e a glória, recebida através dos aplausos recebidos não só no final, mas, a cada exercício mais complexo executado, a cada lançamento ou mesmo nas colaborações. Nesse instante tudo gira em torno da apresentação, tudo precisa sair conforme o ensaiado. Logo depois de nos apresentar recebemos os aplausos. Depois de ter passado por tudo o que passamos é muito bom receber a recompensa através dos aplausos e dos elogios. É muito bom também sair da área de apresentação com a sensação de dever cumprido e mostrar a nossa capacidade de fazer algo bem feito, que nos agrade e que agrade ao público.

Glória >> vitória >> conquista. I.E.: Os aplausos anunciam a conquista >> a idéia: que todo esforço é para arrebatar o público, num exercício de vaidade, visibilidade e aceitação. É importante ser vista, mas ser vista apenas não basta é preciso algo mais para comover o público que através dos aplausos confirmam ou negam a aceitação. Esse algo mais é a beleza. É necessário se agradar com o que esta fazendo para poder conquistas ou seduzir o outro. I.E.: É dever da ginasta se apresentar bem. I.E.: “sensação de dever cumprido e mostrar a nossa capacidade de fazer algo bem feito, que nos agrade e que agrade ao público”. Escambo de satisfações: Eu te encho os olhos com beleza e em troca tu me reconheces enchendo-me os ouvidos com os sons dos aplausos e dos elogios << os sentidos exercem o seu papel natural : captar estímulos.

Assim que nós saímos da área de apresentação vamos ver o professor para saber sua reação, o seu aspecto, sua perspectiva, seu olhar, seu humor. É essa a hora em que aguardamos os elogios, as críticas, os conselhos, os puxões de orelhas, as correções, os sermões. Tudo isso serve para o nosso crescimento, tanto como pessoas quanto como ginastas.

I.E.: ainda resta a última aprovação. O corpo anuncia o humor. O professor fala e o que se leva ao crescimento.

Ainda sim, amo muito todas essas etapas que antecedem à apresentação e todas as sensações vividas no antes, durante e depois dela. A vida é feita, dentre outras coisas, de momentos e sensações, e são esses momentos e sensações que valem. Os momentos como esse carrega em si à realização de um trabalho feito com amizade, humildade, liberdade e com o espírito de conjunto e união (colaboração, participação e solidariedade). Esses momentos e sensações ficam na lembrança. É por tudo isso que a ginástica significa pra mim: alegria, prazer, orgulho (num bom sentido), garra, vontade de fazer, força, união, satisfação e, principalmente, ter o grupo como minha outra família.

V: Trabalho, amizade, humildade, liberdade, colaboração, participação, solidariedade e união. I.E.: Existe satisfação nas etapas que antecedem a apresentação e na etapa após, viso a experiência com as sensações. I.E.: As experiências atravessam o tempo, registradas no corpo. I.E.: Ginástica é alegria, prazer, força, orgulho (auto-estima elevada), garra, união, vontade de fazer, satisfação e família.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 5 TÍTULO: DIÁRIO DE UMA GINASTA SUBTÍTULO: LIÇÕES QUE FICARAM: É PRECISO DAR O PRIMEIRO PASSO PARA SEGUIR UM CAMINHO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...tentei passar para outras ginastas, pessoas interessadas em fazer ginástica ou outra atividade esportiva ou artística, cuja convivência em grupo é imprescindível, que não conseguimos nada sozinhos. Há sempre alguém com quem você pode contar, seu professor, por exemplo (...)

V: Solidariedade. I.E.: O aprendizado/ a lição:

1. Convivência em gruo é imprescindível; 2. Não conseguimos nada sozinhos; 3. Há sempre alguém com quem se pode contar.

(...) São necessários aplicação, dedicação e, principalmente, concentração e disciplina. Todas essas coisas não deslancham se não há atitude (...)

V: Dedicação, concentração, disciplina. I.E.: atitude enquanto impulso para o agir nas virtudes.

(...) Todas essas ações são características humanas, só pronunciá-las não basta, é preciso agir para ser uma pessoa bem aplicada, dedicada e concentrada no que se propõe a fazer, além de disciplinada e atenciosa.

V: dedicação, concentração, trabalho, disciplina, atenção. I.E.: Existe uma distancia entre o discurso e a ação. É preciso incorporar o discurso transformando as virtudes destacadas em ações do corpo.

No GGTP prevalece a igualdade de oportunidade, o que nós lutamos para conservar em nosso grupo, e não a individualidade. Todas são tratadas iguais como ginastas, mas, enquanto pessoas, somos tratadas de forma diferente, pois, cada uma de nós somos diferentes, temos necessidade, humores, e nos comportamos diferentemente (...)

V: Igualdade (desvantagem). O principio da igualdade aplica-se ao universo da ginasta. A todos é dado a mesma oportunidade. No aspecto individual as pessoas são tratadas a partir das necessidades e dos comportamentos.>> respeito à individualidade e a igualdade. I.E.: Manter o princípio de igualdade exige trabalho constante. I.E.: Prevalece a igualdade >> isso aponta que ainda assim há resquícios da vantagem.

Além do respeito à individualidade e a igualdade de oportunidades, lutamos também para conservar em nosso grupo o espírito de conjunto e a força de vontade, pois isso é importantíssimo para a evolução técnica, artística e moral do grupo.

V: Respeito; força de vontade. C.V.: Espírito de conjunto: união... Importante para: evolução técnica, artística e moral do grupo.

Nós nos orgulhamos de fazer parte deste grupo, um só grupo, na qual a união, a fraternidade e a amizade fazem parte de nossa

V: União, fraternidade e amizade.

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convivência. Sentimos o prazer de fazer parte de um grupo simples, mas que nos oportuniza lições de vida muito importantes.

I.E.: orgulho (auto-estima alta) de pertencer a um grupo de tais características, que embora simples (recursos) possibilita saberes: isso provoca prazer.

A minha vida mudou para melhor depois que entrei para a ginástica. Hoje, se quero uma coisa, corro atrás. A ginástica me tornou uma pessoa autoconfiante, isso com a ajuda do professor que, não desisti de nós. Pela persistência dele, sinto maior confiança e esperança de um futuro melhor. Quem melhor do que o professor para te ajudar tecnicamente e te encorajar na vida? Eu descobri que a vida não é feita de derrotas. Pensar assim nos faz pessoas que desistem fácil, desistem antes mesmo de tentar; aprendi também que a vida é feita de valores éticos e que as vitórias não são aquelas que nos mostra as conquistas esportivas e sim as lições que ficam.

V: Determinação, autoconfiança, confiança, esperanças. I.E.: A vida se modificou para melhor :juízo de valor/avaliação. I.E.: Professor persistente. I.E.: O papel do Professor . I.E.: um olhar positivo para o viver substituiu um olhar sem perspectiva, desmotivado, negativo. I.E.: Vitórias: lições aprendidas diferente da conquista esportiva de superar o outro.

Por tudo isso, eu passei a ver a ginástica com outros olhos, passei a vê-la como uma bússola que aponta caminhos em minha vida (...)

I.E.: Leitura estética da G.G.: aquela que aponta caminhos.

(...) Ainda assim sei que mesmo apontando os caminhos, sou eu quem decide qual o caminho tomar e quando, aprendi isso com o professor Léo, assim como aprendi com ele a importância que é tomar decisões.

V: Livre arbítrio. I.E.: O papel do professor.

Conseguimos ser vitoriosas quando tomamos decisões, a decisão de dar o primeiro passo na trilha que nos leva a realização de nossos sonhos. Antes de seguir em frente temos que ter a convicção se é esse o caminho que queremos seguir de verdade, pois temos varias escolhas e, dependendo da nossa escolha, nossa vida pode mudar pra melhor ou pra pior.

I.E.: Tomar decisões é trilhar o caminho da realização. I.E.: Convicção < certeza. I.E.: O risco da escolha: transformar a vida para pior ou para melhor.

Eu fiz uma escolha que mudou a minha vida. Escolhi ser ginasta, tinha várias escolhas, mas foi nesse caminho que descobri que posso chegar a qualquer lugar que eu desejar, para isso, preciso fazer escolhas e lutar por elas.

I.E. A ginástica foi uma escolha que trouxe mudanças para a vida desse sujeito; mudanças essa julgada pelo mesmo como melhor.

Sei que poder decidir é em si uma vitória, uma conquista, nem todos podem isso. Isso implica responsabilidades, pois toda escolha tem conseqüências. Por isso, sei que dependendo da escolha que eu faça, a estrada pode apresentar mais ou menos barreiras. Fácil não é superar as barreiras, tão pouco escolher o caminho a tomar, o mais fácil é sonhar, mas sem sonhos não há caminhos, não há obstáculos, não há lugar aonde chegar. É preciso dar o primeiro passo, é preciso sonhar. Resta saber para onde a ginástica vai apontar, pois o caminho cabe a eu decidir.

Metáfora: ginástica enquanto bússola. Embora a ginástica aponte caminhos cabe a pessoa decidir que caminho tomar. I.E.: Decidir não é pra todos: responsabilidade (conseqüências) convicção. I.E.: O sonho é o primeiro passo até a realização.

Ficha de conteúdo DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 6: Pollyana Medeiros TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL É SÓ UM SONHO REAL, UM SONHO DO QUAL EU NÃO QUERO ACORDAR SUBTÍTULO: UMA EXPERIÊNCIA NOVA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...quem me lembrou da primeira aula foi ... Eu estava ansiosa para chegar lá. (...) Tudo era tão novo pra mim. Tinha tanta gente na quadra fazendo ginástica que até me perdia nos exercícios de tão distraída (...)

C.V.: Distração. I.E.: A ginástica enquanto novidade.

No começo eu não conseguia fazer nada, mas com o passar do tempo, comecei a executar nos treinos alguns movimentos. Cada dia de treino passou a representar pra mim uma grande vitória. Aprender um novo movimento, por mais simples que ele fosse, significa para mim uma nova conquista.

V: Trabalho. I.E.: Entendimento de vitória está (no que se) na conquista a partir do trabalho (os treinos).

As aulas para mim são boas, praticamos atividades diversas, por V: Esforço.

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exemplo, os alongamentos. Essa parte da aula é um pouco dolorosa, pois exige um pouco mais de esforço de cada um de nós, contudo é a parte da aula que mais sinto prazer. Com o passar do tempo superamos a dor na hora do alongamento, transformando-a em prazer e em conquistas. Embora essas conquistas tenham um preço, o da dor, eu não desisto, porque o prazer que sinto me faz superar esse obstáculo (...)

I.E.: O bom está na diversidade “As aulas para mim são boas, praticamos atividades diversas, por exemplo, os alongamentos”. I.E.: “Essa parte da aula é um pouco dolorosa, pois exige um pouco mais de esforço de cada um de nós, contudo é a parte da aula que mais sinto prazer”. Paradoxo entre a dor e o prazer; 2°) a exigência do esforço é dolorosa.

(...) Antes eu era gordinha, hoje eu tenho o peso compatível com a minha altura; eu era sedentária, hoje eu sou uma pessoa ativa, tenho inclusive mais disposição para estudar; e ainda, as pessoas elogiam meu corpo. Apesar de gostar muito da ginástica e dos efeitos que ela me causou, não pensei que eu fosse permanecer tanto tempo fazendo essa atividade, muito disso, por causa dos treinos. Eles são muito puxados.

V: Trabalho. I.E.: “não pensei que eu fosse permanecer tanto tempo fazendo essa atividade, muito disso, por causa dos treinos”. Treino/trabalho puxado um fator que determina a permanência ou não na ginástica. I.E.: A ginástica que transforma, molda o corpo e muda comportamentos. 2°) Satisfação pela aprovação terceira (grupo social de convívio a qual pertence) das mudanças morfológicas.

Embora a aula não seja difícil os treinos são duros, ... Essa jornada é cansativa e, pra agüentar tudo isso, a ginasta tem que ter força de vontade, cabeça boa, isso significa pensar rápido e ter inteligência para driblar o tempo de treinamento.

V: Resistência, trabalho, força de vontade, tranqüilidade, agilidade cognitiva (raciocínio rápido). I.E.: Treinos duros; esforço, cansaço. I.E.: Driblar o tempo de treinamento aponta estratégias para que o corpo resista ao trabalho gímnico o que move o sujeito ao esforço? O esforço aqui é relativizado, onde a ginasta aponta o trabalho gímnico como algo estimulante.

A ginástica para mim tem grande importância, porque me sinto a vontade, tenho várias amigas – tenho um grande carinho, um grande amor por todos da ginástica – aprendi muitos valores, como confiança. Passei a confiar mais nas minhas colegas e principalmente no professor. Aprendi a importância de escutar os outros. Além do mais, percebi que os exercícios faziam bem pra mim.

V: Confiança, ouvir. I.E.: Identidade →importância. I.E.: a ginástica → faz bem.

(...) A ginástica foi amor à primeira vista. Posso dizer que me apaixonei pela ginástica, por esta razão é que não pretendo desistir dela. Mesmo quando eu concluir meus estudos na escola, quero continuar praticando e dando continuidade a essa atividade tão maravilhosa, que para mim vem se tornando parte da minha história de vida.

C.V.: Desistência. I.E.: relação afetuosa coma ginástica. I.E.: Ginástica tornou-se parte da história pessoal do sujeito.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 6 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL É SÓ UM SONHO REAL, UM SONHO DO QUAL EU NÃO QUERO ACORDAR SUBTÍTULO: GINÁSTICA: INCENTIVO, DOR, PERSEVERANÇA E PRAZER UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO A ginástica não é só uma atividade que eu gosto, mais sim faz parte da minha rotina e principalmente da minha vida. Quando fico sem fazer ginástica sinto falta. É como um vício. Embora saiba que os vícios são ruins, abro uma exceção no caso da ginástica. Mas a paixão foi tanta que no fim do primeiro ano praticando ginástica, eu e outras meninas que estudávamos no período da tarde, pedimos para trocar de turno no início do ano seguinte, porque queríamos estudar de manhã para que pudéssemos ficar mais tempo na ginástica. Conseguimos mudar de turno e passamos a ficar mais tempo praticando os exercícios, se dedicando mais as coreografias e a ginástica.

Contradição quanto à rotina de treinos destacada na ficha anterior. Confirma as interpretações anteriores. Embora a rotina de treinos aponte uma condição de esforço nem sempre compatível com a resistência da ginástica, outros fatores, como por exemplo, o afetivo contribui para a permanência o sujeito na atividade, submetendo-se e transgredindo a rotina imposta. Contradição: na ficha anterior o tempo é uma dificuldade, aqui a ginasta muda seu turno de estudo para se dedicar ainda mais aos treinos.

Muitas vezes abri mão de fazer outras coisas ou mesmo do lazer em família para me dedicar à ginástica e o fiz por prazer (...)

V: Abnegação, dedicação. I.E.: escolhas.

..., precisei fazer escolhas e optei pela ginástica, pois é nela que me encontro enquanto pessoa. Fui muito criticada por isso (...)

V: Identidade (é um valor? ) afinidade. I.E.: Escolhas. I.E.:Identidade.

..., foi através da ginástica que consegui a oportunidade que tanto queria, já a algum tempo, de entrar para o GGTP e trabalhar diferentes ritmos.

V: Trabalhar. I.E.: A ginástica oportuniza conhecer novos ritmos.

(...) A ginástica me mostrou que temos escolhas e que temos a responsabilidade sobre aquelas que fazemos. Fazer uma escolha é assumir responsabilidade e isso é um desafio, pois estamos

V: Livre arbítrio, responsabilidade. I.E.: “fazer uma escolha é assumir responsabilidade e isso é

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aprendendo a ter maturidade, uma vez que ainda somos pré-adolescentes, e por isso, antes de assumir cada responsabilidade, nós temos que pensar muito.

um desafio”. A afirmação mostra um entendimento amadurecido.

(...) Apresentar, receber medalhas, certificados, subir no podium, tudo isso é muito bom, embora tudo isso tenha apenas o valor simbólico. Na ginástica geral não há competição, tanto as medalhas como o podium são para aqueles que apresentam. Nem todos recebem medalha ou sobem ao podium, esse sabor é para aqueles que apresentam. Tenho uma coleção razoável de medalhas e poucos certificados, minha meta é aumentar minha coleção ainda mais.

I.E.: O conceito de muito bom está relacionado ao apresentar, receber medalhas, certificados, o momento do pódium, mesmo sabendo que seu valor é representativo. I.E.: Mesmo na ginástica geral o pódium não é para todos, mas para os que conseguem se apresentar. I.E.: Acumular símbolos que representam a quantidade de feitos: as apresentações e participação em eventos.

Outra coisa que me incentivou, além de aprender novos exercícios é a própria grandiosidade deles. Cada exercício que você consegue é uma nova conquista e isso me dá mais incentivo. São movimentos de grande beleza e que impressiona não só quem faz, mas aqueles que apenas apreciam.

V: O estímulo, a conquista, o aprendizado. I.E.: O novo exercício aprendido é uma conquista. I.E.: Movimentos de grande beleza imprecionam não só quem visualiza, mas o próprio sujeito ao se exercitar (vaidade, comoção de si).

O mais importante disso tudo é o que a ginástica nos ensina: que a nossa força de vontade é importante para vencer os obstáculos que são postos em nossa frente, seja no simples alongamento, seja na vida; que a ginástica me traz grandes dificuldades e desafios, mas é com confiança que eu posso enfrentá-los e superá-los. Isso nos mostra que somos capazes de vencer. Tudo isso me motiva profundamente e faz com que eu e os outros amigos da ginástica nos esforcemos nos treinos; sendo o esforço e a confiança em si os nossos grandes valores.

V: Força de vontade → vencer obstáculos Confiança → superar obstáculos. I.E.: A possibilidade de enfrentamento e de vitória frente aos obstáculos são elementos que motivam, estimula. Possibilidade de sucesso. V: A idéia de sucesso estimula o: esforço, trabalho, autoconfiança.

Fazer ginástica revela em mim o prazer que sinto de conhecer e praticar essa atividade, não tão divulgada em nosso país, mas que me permite mostrar a minha capacidade, assim como permite aos meus colegas mostrar os seus respectivos potenciais. Eu tenho orgulho de saber fazer ginástica, pois é através desse saber que posso ajudar as outras meninas iniciantes e, assim, aumentar nossa família. Isso é importante pra mim porque eu estou ajudando a ginástica e ajudar sempre é bom. Eu gosto de ajudar, e é disso que eu gosto.

V: Altruísmo, benevolência. I.E.: Ginástica geral uma prática pouco conhecida. I.E.: GG permite visibilidade de si e do grupo. I.E.: auto-estima alta. Ajudar é importante.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 6 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL É SÓ UM SONHO REAL, UM SONHO DO QUAL EU NÃO QUERO ACORDAR SUBTÍTULO: A BELEZA DA CONVIVÊNCIA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...o que mais me incentivou foi o desempenho do professor Leonardo e o esforço de algumas meninas (...)

V: Esforço. I.E.: Desempenho do professor >> avaliação >> coisas que motivam, impulsionam.

(...) Sempre quando vou dormir, recordo tudo que aconteceu no treino, desde fatos mais simples aos mais importantes, lembro também do sorriso, dos gritos, do modo de pensar e de agir do professor.

V: Recordar >> estratégia de avaliação. I.E.: As ações do professor povoam as lembranças.

É sempre muito bom treinar com os meninos por que eles sempre dão espetáculos nos treinos, principalmente quando treinam os mortais; do mesmo jeito eles adoram treinar conosco para nos ver dando show com os exercícios de flexibilidade (...)

V: Trabalho, vaidade. I.E.: O espetáculo acontece já nos treinos. I.E.: O encantamento mútuo estimula a vaidade e instiga o show entre os gêneros como forma de chamar a atenção um do outro.

(...) Mais importante nesse conviver é que aprendemos um com os outros os valores. São com os valores de cada integrante do GGTP que observo o modo de agir e de pensar de cada um.

I.E.: Convivência → aprendizagem dos valores → revelam o modo de agir e de pensar dos integrantes.

Na ginástica geral há beleza nos exercícios, nos movimentos, nas apresentações e até na convivência com o grupo e isso inclui o professor. Não posso esquecer de quem nos ensinou os exercícios e principalmente os valores da conquista pelo esforço e da autoconfiança, daquele que nos anima e nos organiza, e ainda, que nos faz capazes de superar os desafios e entender as exigências que a ginástica nos impõe como força, inteligência, desempenho, maturidade e disciplina. (...) Por tudo isso, posso afirmar que ele é um dos mais importantes no GGTP, pois é com seu modo de pensar e de agir que observei e conheci essas coisas. Ele também é muito importante na nossa vida, eu em particular devo muito a ele.

V: Esforço, gratidão, inteligência, rendimento, maturidade e disciplina. I.E.: A beleza da GG encontra-se nos exercícios, movimentos, apresentação e convivência. I.E.: Hierarquização da importância no processo.

Sempre quando chega o meio do ano, quase todas as ginastas começam a se preparar para o festival do final de ano. O festival pode ser um espetáculo, com um tema específico, como foi O Circo e Brejeiro, ou várias coreografias que nós mesmas montamos. Acontece sempre na quadra coberta da nossa escola

Visão do espetáculo. V: Trabalho, criatividade. I.E.: O evento move e dá sentido e estimulo para o trabalho

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(...) gímnico: aperfeiçoamento e aprendizagem de técnicas. (...) No final do primeiro ano foram entregues certificados e medalhas. Existem concursos que distribuem medalhas, como a ginasta mais técnica, a mais popular, a mais pontual, enfim, fiquei em segundo lugar na votação da ginasta mais popular do grupo. Nesse mesmo ano houve amigo secreto, aonde compartilhamos presentes, cartas, foi muito bom. Tiramos férias e foi muito duro sair da rotina de um ano de treino na ginástica. A saudade que senti das minhas amigas foi grande.

Visão do processo pedagógico e das estratégias de ensino e motivação. V: Compartilhar V.I.: Saudade. I.E.: Concursos que classificam, mas estimulam a participação e motiva o sujeito a permanecer por mais tempo na ginástica geral. I.E.: Tão duro quanto a rotina é o distanciamento dessa rotina o que aponta que os treinos não se reduz ao esforço, do trabalho, ao cansaço, mas a teia de relações e as emoções que brotam dessas.

Bondade, respeito, fraternidade, coletividade, cooperação, amor, compreensão, competição, conquistar, lutar, confiar, trabalhar, cada palavra tem o seu valor, cada palavra exprime um sentimento, cada palavra tem um conhecimento. Na ginástica estou aprendendo novos sentidos para muitas dessas palavras; conquista, por exemplo, não é só vencer alguém, mas uma forma de vencer desafios pessoais (...)

V: Bondade, respeito, fraternidade, coletividade, cooperação, amor, compreensão, competição, conquista, luta, confiança, trabalho. I.E.: O termo traz conhecimento. I.E.: Vitória enquanto conquistas pessoais.

(...)Entre as palavras citadas, a mais importante pra mim, entre essas, se chama amor (...) Posso falar pra todo mundo ouvir: a palavra amor não está apenas no meu conhecimento, mas dentro de mim e, por isso, posso dizer que, entre outras coisas amo a ginástica e tudo o que ela me proporciona enquanto conhecimento, sabedoria através da beleza da convivência.

I.E.: hierarquização de valores. I.E.: Potencia de falar ou a fala enquanto uma força que atinge outros. I.E.: A prática da ginástica gera uma afetividade amorosa, por sua vez essa amorosidade possibilita ou instiga a continuidade da prática gímnica.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 6 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL É SÓ UM SONHO REAL, UM SONHO DO QUAL EU NÃO QUERO ACORDAR SUBTÍTULO: DECEPÇÕES, EVOLUÇÕES E ALEGRIAS: UM ANO PARA EU NUNCA ESQUECER UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) Eu e as outras meninas nos revemos, nos abraçamos, trocamos sorrisos, contamos histórias; estávamos muito ansiosas para o primeiro dia de aula e de novamente poder treinar e se apresentar com prazer.

V: Amizade, compartilhar, companheirismo, trabalho. I.E.: A possibilidade de continua >> continuidade.

(...)Fizemos planos e sonhamos. V: Organização, esperança. (...) Resolvemos então, organizar um abaixo assinado em apoio a nossa participação no Fórum. Estabelecemos metas, ... Tínhamos o objetivo de sensibilizar o prefeito, a partir do apoio popular das assinaturas.

V: Organização, engajamento. I.E.: Participação política.

...recolhemos um número inferior ao da meta estabelecida ... Resolvemos fazer um mutirão ... conseguimos superar a meta prevista que era de mil assinaturas, estabelecemos um número total superior a mil e oitocentas assinaturas.

Conquistas e novos sentidos para o que é vitória V: Persistência, avaliação, superação e conquistas I.E.: O sentido para conquista indica novo sentido para vitória: conquistas pessoais.

...o dia em que o professor anunciaria quem iria para São Paulo. Foi um momento de grande expectativa para todas. A ansiedade era algo comum entre nós, principalmente naquelas que não tinham a certeza de que seriam selecionadas. Hora do anuncio, o professor começa a ler a lista com os nomes... Foram conhecidos os nomes... Eu e outras ficamos de fora ... Decepcionada por não constar meu nome na lista e vendo o sonho de ir a Campinas me escapar, eu resolvi escrever uma carta ao professor contestando sua decisão... acho injusto...

Contestação como ação virtuosa desejada pelo docente. C.V.: Ansiedade, seleção, exclusão.

Sem dúvida foi um momento de grande decepção para mim (...) ...eu fiquei em casa, doente e de cama. Passei dois dias sem comer nada e perdi sete quilos. ...vou treinar bastante para que no próximo eu possa ir.

C.V.: Decepção. V: Superação, estímulo, fé, esperança, trabalho, esforço, merecimento. I.E.: Em busca de novas conquistas.

O ano da minha maior decepção na ginástica, foi, sem dúvida, o ano em que eu mais aprendi. Foi também o ano mais alegre e mais emocionante. Foi um ano pra nunca mais eu esquecer. Isso por que houve apresentações mágicas...

I.E.: A decepção ensinou. I.E.: Um ano de decepção, alegrias e de emoções para nunca mais esquecer registro; retenção; aprendizagem.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

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SUJEITO 6 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL É SÓ UM SONHO REAL, UM SONHO DO QUAL EU NÃO QUERO ACORDAR SUBTÍTULO: A MAGIA DAS APRESENTAÇÕES UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Já no primeiro ano foram muitos treinos, muitas apresentações: festivais, espetáculos e outros eventos, dentro e fora da Escola...

I.E.: Momentos de visibilidade.

Limpeza é o que denominamos em coreografia, seja em dança ou em ginástica, o aperfeiçoamento do movimento, da técnica ou mesmo da coreografia em si, para efeito de qualidade artística e de embelezamento da apresentação coreográfica.

I.E.: Conceituação do que é limpeza em referencia as coreografias.

(...) A quadra ficava lotada, éramos mais de cinqüenta, a maioria era meninas. Apesar da correria, isso era divertido, pois montamos tudo em três encontros, dando tudo certo.

I.E.: Otimização do tempo e do trabalho em relação ao primeiro e a satisfação de apresentar o fruto do esforço e da superação para uma quantidade relativa de pessoas.

No dia da nossa apresentação, na abertura dos Jogos das Escolas Municipais de Natal, eu gelei justamente na hora do anuncio. O Palácio dos Esportes estava lotado. Mal conseguíamos nos ouvir, diante de tanto barulho. O som da nossa voz era vão. Depois do anuncio, e já posicionados para entrar na quadra, o ginásio inteiro silenciou. Eu me senti a melhor ginasta do mundo. Quando a musica começou, foi uma emoção em tanto (...) Foi tão legal e divertido sentir a magia que aconteceu naquele instante, principalmente, porque apresentar em conjunto é sempre bom.

I.E.: O zelar ao ouvir o anúncio. I.E.: A experiência sinestésica do sujeito com o movimento rico em símbolos, estímulos e significados.

(...)Restando apenas uma vaga o professor anunciou que decidiria entre mim e C. Eu não colocava muita fé... O professor nos disse que revelaria o último nome em duas semanas, eu não fugi a luta, tratei de treinar. Essas duas semanas foram as que eu mais me esforcei; superei metas estabelecidas por mim. Todos viram o meu desespero, eu precisava conseguir pelo menos isso e, por isso, não podia ficar parada. Era um sonho e passei essas duas semanas vivendo na realidade sonhando. Eu não podia acordar dele. Depois de aguardar e passar pela ansiedade, veio o anuncio: a vaga é sua...

V: Fé, coragem, dedicação, trabalho, persistência, esforço, superação, organização. C.V.: Desespero, ansiedade, incerteza, dúvida. I.E.: Tanta dedicação se justifica pela vontade da realização de um sonho: integrar a grade de apresentações nesse festival.

Ao receber a notícia eu gelei, não acreditei quando ouvi meu nome (...) Outra vez me senti a maior ginasta do mundo, afinal fiquei com a vaga, disputada ..., Eu respirei fundo e disse pra mim mesma: eu consegui. Corri para os braços de ... e chorei. Afinal, amigo é aquele que estar conosco nos momentos de alegria, de tristeza e de dor.

V.I.: Disputa. I.E.: A experiência sinestésica de gelar no ato de se emocionar com o momento que anunciou a decisão. A atitude de chorar, desfecho da experiência e do processo e os valores envolvidos: dedicação, coragem, trabalho, persistência,...

Fazer séries individuais pra nós era algo muito difícil, criar a nossa própria série era um desafio. Muitas vezes queríamos executar algum exercício que não conseguíamos. O professor sempre nos orientando para compormos as séries com os elementos que já sabemos fazer. Além disso, escolher a musica, encaixar os movimentos no ritmo dela e ainda fazer isso com graça e beleza, era um conjunto de desafios a ser vencidos (...)

V: Graça, beleza, ritmo, criatividade. I.E.: Criar a própria série é um exercício da criatividade, embelezamento (experiência de) é creditado confiança e exigido responsabilidade; exercício de autonomia.

As apresentações foram lindas, fiquei muito emocionada, em especial com a minha série individual, mãos livres, um dos motivos da minha grande alegria foi ter usado a roupa que eu mesma bordei, foram vários dias sem descansar, bordando e treinando, mas foi muito bom por saber que superei mais esse desafio.

V: Alegria (estado emocional), satisfação, prazer, trabalho, superação. I.E.: O olho que vê: a percepção da beleza nas apresentações.

Todas as apresentações são mágicas, desde a mais simples até a mais esplendorosa, nelas trocam-se sorrisos, olhares; dividem-se e somam-se encantamentos. Usar o figurino, pentear o cabelo e depois enfeitá-lo, fazer a maquiagem, se embelezar, além de se alongar, passar os exercícios, se concentrar, enfim, tudo faz parte da preparação da ginasta antes da apresentação; isso tudo é muito prazeroso para mim.

I.E.: A magia das apresentações está na toca sinestésica, no compartilhamento e no acumulo de emoções. I.E.: O cuidado que se tem e o embelezar-se para a apresentação como elementos de catarse, parte da apresentação.

Tudo começa antes da apresentação. Esse encantamento tem várias etapas, a começar pela nossa casa. Saímos de casa e já passamos na casa de uma ou de outra menina, colega da ginástica que mora no caminho da escola. Moram perto... No percurso vamos conversando sobre a apresentação, assuntos escolares e outros assuntos; ora vamos ainda cantando, brincando e rindo. Isso pra mim é uma das melhores etapas.

V: Companheirismo, solidariedade. I.E.: Aspectos relevantes que antecedem a apresentação e implicam nela.

Geralmente, quando a apresentação é fora da escola, nós vamos no ônibus da Secretaria Municipal de Educação de Natal. Nós nos encontramos na nossa escola, lá o ônibus nos leva para o local da apresentação. No caminho nós vamos conversando,

V: Descontração.

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cantando, brincando e rindo, às vezes até o professor participa. Quase sempre, se não sempre, nos penteamos ainda em casa, mas quando chegamos ao local da apresentação, ou mesmo ainda na escola, antes de ir para o local da apresentação, arrumamos o cabelo novamente. Antes da apresentação, aumenta o cuidado com os cabelos, passamos gel, colocamos os enfeites e o professor Leonardo nos reúne para fazer suas maquiagens extravagantes, que particularmente, gosto muito.

V: Beleza, vaidade e homogeneidade. I.E.: O embelezamento é parte do fazer gímnico, nela acrescenta-se objetos, pinta-se corrige-se imperfeições, homogeneiza-se os penteados e a própria imagem.

Antes de se arrumar, logo quando chegamos ao local da apresentação, vamos alongar, passar a coreografia no local da apresentação, passamos os exercícios mais difíceis de executar na coreografia. Depois de tudo isso é que vamos nos arrumar e isso inclui o figurino, geralmente lindo, com muito brilho.

I.E.: Partes do preparativo que antecedem as apresentações. I.E.: O figurino arremata o processo de embelezamento necessário na G.G.

O desfile da equipe, também faz parte do espetáculo. É uma etapa que apresenta a equipe, a escola, as ginastas e os ginastas, além do professor, ao público presente. Sinto muita emoção quando nos enfileiramos para cantar o hino nacional brasileiro. Após o hino saímos e seguimos com a preparação para a apresentação. Nesse momento, cada ginasta tem uma sensação diferente, por exemplo: em Caroline Diniz bate um nervosismo, Yaponira sente um frio quente na barriga, eu fico temerosa e alegre. A minha alegria é porque vou me apresentar, já meu temor é devido ao medo de errar alguma coisa que comprometa a apresentação do grupo (...)

V: Coragem e acerto. C.V.: medo, erro, nervosismo. I.E.: O desfile de apresentação das delegações é incluído como parte do espetáculo. I.E.: A emoção de ouvir o hino, perfilada na equipe, sentimento patriótico. I.E.: Os efeitos no corpo dado a experiência sinestésica.

(...) Uma boa apresentação, tanto pra mim como para o grupo, é quando executamos todos os exercícios bem na coreografia e sentimos a harmonia entre nossa apresentação e a reação do público. Essa harmonia é transmitida pelo público através da energia positiva que ecoa nos aplausos. Isso tudo faz parte da magia das apresentações e eu sinto particularmente muita satisfação nas etapas que destaquei.

V: Harmonia. I.E.: Uma boa apresentação: ausência de erros. Boa execução dos exercícios: ausência de erros. I.E.: O som dos aplausos: comunicam reconhecimento aprovação. (faz parte da magia).

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 6 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL É SÓ UM SONHO REAL, UM SONHO DO QUAL EU NÃO QUERO ACORDAR SUBTÍTULO: DEDICAÇÃO E GINÁSTICA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Na ginástica geral a disciplina é importantíssima. É através dela que conseguimos alcançar nossas metas. É a disciplina que nos move a sermos as ginastas que nós somos e é assim que vemos as várias oportunidades surgirem para todos (...)

V: Disciplina.

(...) Balé e ginástica são coisas diferentes e, entre outras coisas, tem a disciplina como ponto fundamental para o desenvolvimento do praticante, embora a disciplina exigida na ginástica seja diferente da exigida no balé. O professor Leonardo fala que o nosso comportamento no GGTP é ótimo. Já no Ballet nosso comportamento ainda fica a desejar segundo a nossa professora.

I.E.: A percepção de que a disciplina não é única; cada atividade exige uma certa disciplina; ou seja, uma conduta de comportamento no trabalho a qual se realiza.

...nos esforçamos muito. Eu, em particular me esforço para fazer desde um pequeno detalhe na ginástica até um exercício de maior dificuldade. Pra isso estabeleço metas e me esforço para cumpri-las, da mesma forma que me esforço pra cumprir as metas estabelecidas pelo professor. Ele inclusive sempre fala que eu sou esforçada, pois além de treinar na escola, que não é um local apropriado para a prática da ginástica, ainda treino em casa (...)

V: Esforço, trabalho, organização. I.E.: Superação do espaço impróprio: mesmo não sendo o espaço ideal, não se deixa de praticar os exercícios, inclusive de se esforçar.

(...) Somos muito exigidas nos treinos, o esforço é grande, mas é essa a hora em que temos que nos esforçar mais, dando tudo de si, uma vez que o professor precisa ver nossas evoluções para poder ensinar coisas novas pra gente. As coisas novas são os exercícios de maior dificuldade, que particularmente eu adoro aprender e fazer.

V: Exigência, proporcional ao esforço e vice-versa. I.E.: Atender as exigências é sinal de novas experiências, exercícios mais difíceis. O novo além do que é, torna-se um novo desafio. Assim a ginástica passa a ser uma atividade de constante desafio quanto ao aprender e a fazer novos exercícios. Esse tipo de experiência atrai algumas pessoas por gerar prazer e assim aprovação (satisfação).

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 6 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL É SÓ UM SONHO REAL, UM SONHO DO QUAL EU NÃO QUERO ACORDAR SUBTÍTULO: AMIZADE E GINÁSTICA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO A ginástica para mim é a coisa mais linda do mundo. Ela envolve desafios, tranqüilidade, concentração, espetáculos, rigor, dedicação, amor e vários outros sentimentos, todos eles reunidos em momentos que se tornam especiais e eternos como as reuniões que fazemos para resolver algum problema do grupo ou mesmo para falar de alguma apresentação (...)

V: Concentração, rigor, dedicação, tranqüilidade, amor. I.E.: “A ginástica para mim é a coisa mais linda do mundo”. O olho que vê na ginástica e coisa mais bela que há no mundo. “todos eles reunidos em momentos que se tornam especiais e eternos”. A reunião de valores cristaliza-se na lembrança porque são especiais, ou seja, significativo. O sujeito daí afirma sua perpetualidade.

(...) Esses momentos especiais em que estamos reunidos só o são porque estamos entre pessoas que podemos contar. As amizades que eu fiz durante o tempo que estou na ginástica são para mim eternas. Mesmo que por algum motivo eu nunca mais veja estas pessoas eu sempre vou lembrar delas pelos seus gestos e vou considerá-las minhas amigas.

V: Amizade, reunião. I.E.: A reunião como um momento especial >> acertos.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 6 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL É SÓ UM SONHO REAL, UM SONHO DO QUAL EU NÃO QUERO ACORDAR SUBTÍTULO: ENFIM... UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO O rigor na ginástica é o principio fundamental para a segurança do seu praticante. Mesmo com o rigor eu continuei na ginástica até hoje, porque foi nela que encontrei sentidos pra minha vida. A ginástica apesar de ser muito rigorosa, de exigir disciplina, é acima de tudo prazerosa e espetacular (...)

V: Rigor, segurança, disciplina. I.E.:Foi o rigor da ginástica que deu sentido para vida do sujeito. O rigor articula disciplina. Embora as exigências decorrentes do rigor, são elas prazerosas e espetaculares.

(...) Aquele que apenas vê fica encantado com a beleza e com a perfeição dos movimentos que são executados. Por isso a ginástica não é só bom comportamento, é uma atividade linda, um colírio para os olhos (...)

I.E.: O encantamento de quem vê dado a beleza e a perfeição >> está na perfeição a beleza? É a perfeição o sentido do virtuoso?

(...) Com o passar dos dias eu fui me tornando amiga das meninas e do professor, fui conhecendo as pessoas, os lugares, me tornei uma pessoa melhor, mas o que me motivava a cada dia é a certeza que tenho quando me apresento: a da realização (...)

A realização enquanto meta. >> realizar-se e apresentar-se no sentido de auto-realização por está participando com os demais membros >> sentimento de pertencimento social, de utiidade. V: Amizade. I.E.: A ginástica em seu processo no GGTP transforma as pessoas para melhor. A capacidade transformadora de um processo educacional mediado e levado a efeito pelo diálogo.

(...) No começo via aquelas meninas grandes tão perfeitas! Era impressionante o que elas faziam! Hoje eu faço tudo aquilo e muito mais (...)

I.E.: O olho do leigo enxerga perfeição, embora não corresponda a um olhar mais criterioso. Essa experiência do olhar aponta os caminhos da magia e do encantamento que acomete o espectador com o olhar pouco treinado.

(...) Sei que algumas meninas mais novas se espelham em mim e nas outras meninas da minha idade e isso me dá orgulho e também responsabilidades (...)

V: Orgulho, vaidade e responsabilidade. I.E.: O espelho de narciso a medida que se vê o belo no outro, cresce a vontade de replicar, ao mesmo tempo que se observado na condição de observador, ver naquele que o copiou uma caricatura mal acabada do seu esforço, reduzindo o belo, a criatividade, porém fortalecendo ou evidenciando ora o envaidecimento, ora o ciúme, argumentado no contra-valor da inveja.

(...) Na ginástica há muitas apresentações; é um mundo alegre, divertido, mas cheios de sacrifícios (...)

V: Alegria. I.E.: O estado da alegria é uma conquista através de sacrifícios.

(...) Sinto orgulho de fazer parte de um grupo unido. Aquilo que um dia foi uma experiência nova pra mim, ainda hoje não deixa de ser.

V: União, orgulho. I.E.: A novidade sempre está presente no cotidiano do grupo.

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Ficha de conteúdo DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 7: Stephany de Sena TÍTULO: TRÊS ANOS DE GINÁSTICA E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR SUBTÍTULO: QUANDO EU ENTREI PRA GINÁSTICA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) Eu também sou meio louca e alegre. Não sou muito inteligente. Sou alta, magra, olhos castanhos claros, morena, tenho lábios pequenos e finos, olhos grandes e me acho linda. Eu me amo. Sou esperançosa, gosto de todo tipo de musica...

I.E.: A descrição de si aponta autocríticas, pré-conceitos, rótulos, mas a aprovação de si e o amor próprio.

(...) Assisti uma apresentação do GGTP na escola e, daí, me bateu aquela vontade de entrar para o grupo. Falei para os meus pais e eles gostaram da idéia. Não só meus pais, mas toda minha família apoiou minha decisão, embora ninguém acreditasse que eu fosse durar muito tempo na ginástica. Eu mesma não imaginava que fosse passar mais de um ano praticando ginástica.

V: apoio, família I.E.: sobra vontade, falta perspectiva, confiança.

(...) Quando eu entrei fiquei impressionada com as coisas que as ginastas mais antigas faziam. Tudo era muito perfeito. Pra mim, aquelas coisas todas eram difíceis. Com o tempo entendi que o que eu chamava de coisas eram os exercícios gímnicos, eu os achava muito legais e nunca imaginava que um dia eu aprenderia a fazer eles. Era impressionante o que se podia fazer com o corpo.

I.E.: a primeira imagem: o perfeito. I.E.: a potência do corpo está em sua mobilidade e na plástica que isso representa: beleza, força, flexibilidades resistência, coragem.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 7 TÍTULO: TRÊS ANOS DE GINÁSTICA E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR SUBTÍTULO: DISCIPLINA, CONCENTRAÇÃO, CORAGEM, ESFORÇO E DEDICAÇÃO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) A ginástica, por exemplo, é uma atividade física que requer muita disciplina, coragem, concentração, esforço e dedicação, além de outras coisas, pois ela mistura prazer, criatividade, desafio, segurança, confiança, beleza, alegria, tristeza, ansiedade, treinos, capacidades e felicidade.

I.E.: Definição da ginástica: uma prática que requer valores.

Encontramos estas posturas em nossas ações. Portanto, é possível vê-las nas nossas atitudes. Qualquer uma atitude que tomamos, influencia em alguma coisa, por exemplo: ficar calma e não sentir medo nos ajuda a desenvolver a concentração para executar as seqüências de exercícios mais difíceis. Os exercícios difíceis são as metas que nos levará até onde agente sempre sonhou chegar, no sucesso. Portanto, estabelecer metas é o primeiro passo para que um dia se chegue lá, mas, é necessário ainda, esforço e dedicação.

Perspectiva e sucesso. V: Calma, concentração, esforço e dedicação. C.V.: medo. I.E.: concentração necessária para “executar as seqüências de exercícios mais difíceis”. I.E.: O sonho: sucesso. O sucesso é alcançado com os exercícios difíceis.

Ouvimos muito no grupo se falar em força. Mas, que força é essa que todas nós falamos? Pra mim essa força é a força de pensar e de chegar aonde agente quiser; é a força de vontade, pois sem força de vontade você não tem nada (...) Isso exige disciplina, coragem, esforço e dedicação. Quando eu me lembro de tudo que fiz na ginástica para chegar aonde cheguei, fico cheia de orgulho de mim mesma. Em minha opinião, quando se têm objetivos, precisamos enfrentar os obstáculos e fazer alguns sacrifícios para poder vê-los realizados.

V: força, esforço, dedicação e disciplina. I.E.: A força: estabelecer metas, força de vontade, disciplina, coragem, esforço e dedicação. I.E.: A auto-estima alta pela relação esforço – realização. I.E.: atingir metas é preciso renunciar a enfrentar desafios.

Esforço, dedicação e disciplina são outras ações necessárias para superar os obstáculos não só na ginástica como na vida.

I.E.: A necessidade de alguns valores para a realização pessoal.

...eu escolhi uma música que estava dificultando muito meu desempenho na série; o professor me orientou pra que eu trocasse de música, mas eu insisti nela, pois a achava bonita. Em cima da apresentação terminei trocando de música e, por isso, me dediquei e me esforcei bastante para conseguir executar a série de exercícios. O esforço naquele instante era para que eu conseguisse terminar a tempo do nosso torneio interno. Deu tudo certo: ... fomos campeãs por equipe.

V: esforço. I.E.: O professor: aquele que orienta. I.E.: insistir no erro pode ser em razão do apego estético: “mas eu insisti nela, pois a achava bonita”. I.E.: a recompensa pelo esforço.

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 7 TÍTULO: TRÊS ANOS DE GINÁSTICA E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR SUBTÍTULO: A CONVIÊNCIA NA GINÁSTICA ME ENSINOU UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Para quem pensa que aprendemos na ginástica apenas exercícios de flexibilidade, de força, entre outros, estão muito enganados. (...) Uma das maiores conquistas minhas ao entrar para a ginástica geral foram às amizades que fiz e as coisas que aprendi convivendo com elas.

V: amizades I.E.: a gg: espaço de convivência, inter-relação e aprendizado >> maiores conquistas.

Convivência é quando as pessoas se vêem com freqüência, conversam e mantém uma rotina entre elas. Manter uma rotina com o outro é estar sempre ao lado de alguém, agindo em conjunto, unidos.

I.E.: visão, leitura, definição do que é convivência.

(...) Com a saída delas o nosso professor ficou muito triste, mas como tudo na vida, o tempo ajudo-o a esquecer.

I.E.: As artimanhas do tempo.

Aprendemos muitas coisas na ginástica, embora não seja a ginástica em si que nos ensina, mas sim, as pessoas que convivemos nessa prática. Assim, aprendemos um com o outro o significado de muitas coisas, como: DISCIPLINA, CONCENTRAÇÃO, CORAGEM, ESFORÇO, DEDICAÇÃO, CONFIANÇA E SEGURANÇA, entre outras coisas.

V: disciplina, concentração, coragem, esforço, dedicação, confiança e segurança. I.E.: Não é a ginástica que ensina, são as pessoas, através da convivência.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 7 TÍTULO: TRÊS ANOS DE GINÁSTICA E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR SUBTÍTULO: APOIO É FUNDAMENTAL PARA SE TER CONFIANÇA E SEGURANÇA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Eu não tinha muita segurança na ginástica, assim como outros meninos e meninas praticantes. Eu, em particular, era insegura com tudo e com todo mundo, isso inclui minha família e os meus colegas da ginástica (...)

C.V.: insegurança, ansiedade, medo, nervosismo, erro. I.E.: errar enquanto desastre.

No meu primeiro torneio ... Estava ansiosa, insegura, com medo e muito nervosa. Foi um desastre, infelizmente errei tudo e chorei bastante. Na ginástica, o apoio é imprescindível para superar alguns obstáculos, como: medo, ansiedade, insegurança e nervosismo. Minha mãe, que me acompanha em todas as apresentações da qual participo, e as minhas amigas da ginástica estavam lá pra me apoiar. Embora tenha ficado em penúltimo lugar, foi bom, pois aprendi, entre outras coisas, que nem tudo na vida são flores.

Convivendo com a derrota. I.E.: o apoio é fundamental para enfrentar os C.V. I.E.: a derrota ensina.

Foi praticando ginástica que fui adquirindo mais confiança e isso me deu maior segurança nos exercícios e nas relações com outras pessoas. Podemos entender essa insegurança como medo. Para vencê-lo é preciso primeiro que se queira vencê-lo, depois é preciso contar com o apoio das pessoas. O apoio das pessoas é fundamental para se ter segurança. A segurança é essencial em nossas vidas, ela nos dá o suporte que precisamos para vencer os obstáculos.

V; Confiança, segurança. .C.V.: Insegurança = medo. I.E.: a ginástica traz confiança. I.E.: Para superar o medo é necessário força de vontade; desejo; apoio.

As pessoas a minha volta são fundamentais para que eu percebesse que o que antes era medo agora fosse realização, pois com muito apoio agente sente mais confiança pra enfrentar as dificuldades. Agora tenho maior confiança nos meus colegas da ginástica, ..., até mais do que no meu professor, porque elas são as mais antigas (...)

I.E.: pessoas que apóiam transformaram medo em realização.

Eu sei da importância do apoio recebido das minhas colegas e do professor, entre tantas outras pessoas e isso só é possível porque passamos muito tempo juntos, e essa convivência nos aproxima ao ponto de apoiarmos um ao outro (...)

I.E.:O TEMPO, de convivência: aproxima.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

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SUJEITO 7 TÍTULO: TRÊS ANOS DE GINÁSTICA E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR SUBTÍTULO: COM AS MENINAS UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Entre as tantas coisas que a ginástica me proporciona, em especial, está à paz e a tranqüilidade. Sem a paz e tranqüilidade eu não teria conseguido participar do GGTP, se quer fazer ginástica por tanto tempo, pois sou muito histérica com tudo que faço. Não há nada que eu não faça um escândalo e fico com muita raiva. As meninas da ginástica ficam muito estressadas, alias, elas são estressadas, e se não bastasse eu ainda fico perturbando elas. E quando eu as aperreio, aí é que elas se estressam mesmo (...)

V: paz, tranqüilidade. C.V.: histerias, escândalos, raiva, estresse, perturbação.

CB ... é morena; alta; magra; tem um corpo belíssimo; cabelos longos, preto e cacheado; é uma menina muito alegre e brava. Sempre gostei dela, apesar de ter havido um desentendimento entre agente, eu a amo como amiga. CD é baixa, loira, magrinha e tem olhos verdes, igual ao do professor; ela é paulista; e, embora seja um pouquinho chata, ela é legal, é a minha melhor colega. N é muito legal e muito zen. Ela é alta, magra, flexível, cabelos pretos e curtos, pele morena, boca e olhos pequenos. Ela é um crânio, de tão inteligente; é a minha melhor amiga. JJ é calma e quieta, além de amiga. Ela é baixa, cheinha, morena, cabelos preto, curtos e cacheados; seus olhos são castanhos escuros. L S é alta, branca, magra, alegre, muito alegre, inteligente; embora seja um pouco chata é uma pessoa legal e amiga. Guardem esse nome, pois se Deus quiser ...vai entrar para a História. Outro nome que vai entrar para a História é Fa. Ela é muito flexível e, embora eu não fale muito com ela, por ela ser calada, ela é muito calma e legal também. Assim como P, que além de legal é observadora... é morena, baixa e agora está magra; é flexível; possui cabelos pretos, lisos, olhos escuros e lábios finos. Fé é irmã de Fa, ela fala mais que a irmã e é bem extrovertida.

O Olho de quem vê. I.E.: A leitura estética das companheiras de ginástica., inclui aspectos fenótipos e do comportamento. Aponta qualidades, características e acentos que identificam o individuo uma espécie de marcador da individualidade. Brava de corpo belíssimo Loira, colega leal. Zen: a melhor amiga. A pequena quinta. A amiga que entrará para a História. A menina calma que entrará para a História. A observadora. A extrovertida comunicativa.

Al é uma loira aguada, estou brincando, ela é loira de verdade, baixa, meio gordinha, olhos castanhos claros, cabelos longos e cacheados; dona de lábios finos. JP é louca varrida, mas é muito amiga e assim como amo CB eu a amo também. Aa é outra louca, gordinha e fashion. Ela é morena, olhos grandes e castanhos claros, e, também, tudo de louco que se possa imaginar. Para completar o time dos loucos, Ed, um dos meninos ginastas, além de louco e legal, ele é pequeno, magro, flexível, alegre e criativo. No fundo, todos eles me adoram e eu amo todos. As meninas são bem legais e Ed também (...)

Lábios finos, loira de verdade. Os loucos: 1) varrido; 2) fashion; 3) alegre e criativo. 12 pessoas descritas. I.E.: sentimento amoroso do sujeito com os colegas e sentimento de reciprocidade.

Apesar de termos uma relação amorosa, existem coisas que é muito difícil de suportar na convivência com as outras ginastas. O comportamento que mais me incomoda é a humilhação. Muitas vezes alguma menina age como se fosse superior, não só dentro como fora do grupo, humilhando alguma outra menina, querendo ser mais que as outras. Isso não dá pra entender, falamos tanto em trabalho coletivo, parece que algumas meninas ainda não aprenderam sobre o que é isso. Pra mim, trabalho coletivo não é só fazer exercícios em grupo, montar e participar de coreografias e das suas apresentações, mas discutir as situações do GGTP, como dificuldades estruturais, pedagógicas e de relacionamento.

I.E.: Uma relação amorosa e dificuldades de convivência. C.V.: Humilhação, arrogância. V: Trabalho coletivo:” mas discutir as situações do GGTP, como dificuldades estruturais, pedagógicas e de relacionamento”.

Um dos episódios mais marcantes ...diz respeito a uma intriga ...organizamos uma festa para o nosso professor ... três meninas não quiseram participar alegando que o professor não merecia. Eu e outra colega fomos dizer isso pra ele. Depois eu me arrependi profundamente ... O professor veio conversar com agente, ... comigo e minha colega; ... com as três meninas e ... com o grupo inteiro. (...) Falou que estaria atento ao comportamento do grupo e tomaria algumas medidas se necessário fosse para manter a harmonia do grupo, inclusive cortar alguém. Terminamos pedindo desculpas uma pra outra, de livre e espontânea vontade. Mesmo com o pedido de desculpas, acabamos nos distanciamos umas das outras. Mas como diz o ditado: a união faz a força. Com o passar do tempo nós ficamos cada vez mais unidas e hoje eu me emociono muito, muito mesmo em falar desse episódio que passamos. Eu agradeço tudo isso ao professor... e as suas palavras, pois sem ele nós não teríamos conseguido nos unir novamente. Descobri daí que a união é tudo de bom, pois é muito importante para a vida, faz com que agente se sinta melhor. E o que mais me deixa feliz na ginástica é saber que dia a pós dia eu posso melhorar cada vez mais, não só como ginasta, mas, também, como pessoa.

C.V.: intriga. V: participação, atenção, decisão, humildade. I.E.: O merecimento: I.E.: Tomar decisão: I.E.: humildade: reconhecer erros, pedir desculpas. V: União, força, gratidão. I.E.: a emoção ao recordar o quadro de dificuldades superados. I.E.: a união é importante para a vida: bem-estar. I.E.: A ginástica traz felicidade.. Felicidade (estado de) : saber que o tempo aperfeiçoa o ser na experiência vivida.

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 7 TÍTULO: TRÊS ANOS DE GINÁSTICA E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR SUBTÍTULO: COM O NOSSO PROFESSOR UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Nosso professor ... é muito rigoroso. Outro dia ele se estressou comigo e eu me estressei com ele (...)Embora eu não me arrependa, fiquei com raiva de mim mesma por ter respondido da forma que fiz (...)

V.I.: rigor, arrependimento. C.V.: estresse, raiva

Eu sei que o certo é assim, como ele age. Esses gritos são em razão da gente. Ele só quer o nosso bem. É como ele mesmo fala, por exemplo: uma menina está com o pé solto durante um salto, aí ele diz: estique a ponta. Aí ele repete a frase várias vezes. A menina parece não ouvir ou finge não ouvir, então ele solta o grito. E não é que dá certo! A menina nunca mais esquece de esticar a ponta. Comigo já aconteceu várias vezes (...)

I.E.: o grito para o bem. O grito é realmente necessário? Pode haver o bem sem grito? É por que não é possível o fazer sem grito?

(...) Com todos os defeitos da gente o professor pensou várias vezes em acabar com o grupo, mas ele não acabou com nada, pois ele ama muito esse grupo. O professor Leonardo também nos elogia muito e nos dar apoio. Ele respeita as decisões que tomamos em nossas reuniões. O que nós decidimos, ele nos apóia.

V: elogio, respeito, solidariedade. I.E.: a vontade de desistir. I.E.: o amor pelo grupo supera a vontade.

Assim que comecei a fazer ginástica, eu achava o professor muito chato, não confiava nele, mas, depois fui me acostumando e comecei a confiar mais. Foi convivendo com Leonardo que aprendi a entendê-lo e sei que os gritos e as reclamações foram para o nosso bem. Hoje eu agradeço a ele de coração por tudo. Quero dizer pra ele: professor receba os beijos e abraços da sua querida aluna que te ama.

I.E.: Contraponto com a falta de confiança. V: confiança, gratidão. I.E.: convivência enquanto caminho de aprendizado e de entendimento. I.E.: a gratidão: “Professor receba os beijos e abraços da sua querida aluna que te ama”.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 7 TÍTULO: TRÊS ANOS DE GINÁSTICA E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR SUBTÍTULO: APRESENTAÇÕES, FAMA E PRAZER UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO A ginástica me dá muito prazer, das quais eu destacaria duas formas: o prazer que sinto ao treinar e o prazer que sinto ao me apresentar. São duas formas de prazer totalmente diferente um do outro. Quando treino eu sinto muito, mas muito mesmo prazer, já quando eu vou me apresentar na escola, por exemplo, me dá um prazer diferente, porque vem acompanhada de um nervosismo. É o nervosismo que me dá na hora de me apresentar que faz toda a diferença. Quando vejo aquela multidão para nos ver apresentando me dá logo um nervoso, mas também me dá prazer. Afinal quem é que não gosta de público?

I.E.: Treinar/trabalhar e se apresentar/vaidade, desperta prazer. I.E.: O treino → prazer. I.E.: se apresentar → prazer mais nervosismo (gerado pela dúvida da aceitação/julgo do público).

Os alunos da nossa escola nos apóiam muito. Em minha escola todos os meus colegas e os das outras meninas da ginástica, nos acompanham, desde os treinos até as nossas apresentações. Eles ficam sabendo com antecedência quando vamos apresentar, ficam perguntando. Eu noto que eles olham com orgulho o GGTP, principalmente se algum componente do grupo for colega deles. É muito bom poder saber que as outras pessoas da escola sentem orgulho de nós. Eu acho que isso me faz ficar nervosa quando estou me apresentando, refletindo no prazer que sinto.

I.E.: o apoio dos demais alunos da escola é sentido. V: companheirismo. I.E.: A admiração dos colegas estimulam a vaidade do narciso. I.E.: As apresentações do grupo ginástico eleva a auto-estima dos alunos que acompanham a ginástica da escola. Isso gera responsabilidade e expectativa sobre as componentes do grupo. Com isso eis o motivo do nervosismo: responsabilidade em responder a expectativa gerada.

Quando eu me apresento em outros lugares, fora da escola, o prazer se potencializa. Na hora em que vou me apresentar eu sinto um pouco de tudo: confiança, segurança, medo, ansiedade, nervosismo, alegria, calma. Tudo se mistura na hora. No final o que resta é uma sensação de felicidade, de alegria.

V: confiança, segurança, alegria, calma. C.V.: medo, ansiedade, nervosismo. I.E.: O misto de sensações que podem ou interpretadas enquanto valores e seus antagônicos contra valores, resultando em felicidade/alegria.

Um sentimento de desafio nos toma quando vamos nos apresentar em escolas particulares, talvez por sermos alunas de escola pública, sem patrocínio e com pouco apoio, acho que nossa vontade é mostrar que isso não faz muita diferença na hora de mostrar os exercícios. Eu, juntamente com as demais meninas, assim como os meninos da ginástica, fazemos muito sucesso por onde passamos. Isso nos enche de orgulho e até penso que isso me ajudou a superar alguns medos, a controlar minha ansiedade e o nervosismo.

I.E.: A desigualdade como desafio. Não há complexo de inferioridade de uma vez que o sujeito afirma que no hora de mostrar os exercícios pouco importa ter ou não ter o apoio. I.E.: A convivência com a sensação de sucesso ajuda a aumentar a auto-estima, superar o medo e controlar a ansiedade.

O que nos enche de orgulho e que nos dar mais prazer é quando tudo dá certo na apresentação, pois treinamos muito pra isso. Quando tem

Prazer e hedonismo. V: Trabalho, solidariedade.

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algum colega do grupo se apresentando, os outros ficam de fora torcendo pra dá tudo certo. Torcemos muito um pelo outro, isso nos deixa felizes e quanto maior é a felicidade, maior é o prazer, e quanto mais prazer nós sentimos melhor é. Quem é que não gosta de sentir prazer? E é isso que a ginástica me dá. E se apresentar então! A ginástica me dá muito prazer mesmo.

I.E.: O resultado pelo trabalho traz orgulho e o prazer. I.E.: A felicidade está em sentir a atitude solidária. I.E.: quanto maior a felicidade, maior é o prazer. I.E.: ginástica fonte de prazer.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 7 TÍTULO: TRÊS ANOS DE GINÁSTICA E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR SUBTÍTULO: BOAS LEMBRANÇAS UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO No meu segundo ano de ginástica aconteceram muitas coisas boas. A ginástica me proporcionou momentos que nunca imaginei que pudessem acontecer em minha vida, como por exemplo, conhecer lugares diferentes... Nesses lugares ganhei muitas medalhas de participação e o grupo recebeu algumas doações de figurino.

V: caridade, benevolência. I.E.: A ginástica e os momentos nunca imaginados: conhecer lugares diferentes.

Uma lembrança boa que vou levar pra sempre comigo do GGTP é quanto à viagem que fizemos a Campinas, interior de São Paulo (...) Foram quatro dias, todos muito bem aproveitados. Uma oportunidade em que pude conhecer muitas pessoas,... Gostei muito dos uruguaios porque foram bem simpáticos conosco.

I.E.: o corpo que carrega registros em forma de imagens memorizadas. I.E.: viagem enquanto acontecimento que gera conhecimento. I.E.: o simpático é apreciado.

Embora pareça pouco tempo, afinal foram apenas quatro dias, tivemos uma convivência mais intensa. Tive a oportunidade de conviver com as demais meninas do GGTP, onde pude conhecer melhor as pessoas que fazem parte do grupo. Conversei mais com Y, ela foi muito legal comigo, da mesma forma, acho que fui com ela. Tive a oportunidade de consolidar amizades verdadeiras. Além de conhecer mais cada uma das meninas, também tive a oportunidade de conhecer melhor o professor..., também gostei muito dele, ele foi muito legal durante a viagem, sempre muito engraçado, ..., parecia uma criança, brincamos muito. Esses dias pra mim foram inesquecíveis.

I.E.: quanto maior for o tempo de convivência, maior é a intensidade dessa, e quanto maior é a intensidade melhor é para conhecer as demais pessoas. “Além de conhecer mais cada uma das meninas, também tive a oportunidade de conhecer melhor o professor..., também gostei muito dele, ele foi muito legal durante a viagem, sempre muito engraçado”. O exercício do conhecimento do outro depende do tempo de convivência. Ao conhecer o outro em me conheço. I.E.: Relação de reciprocidade. I.E.: brincar enquanto referencia infantil. I.E.: Imagens que persistem na memória corporal.

Das duas apresentações que o GGTP fez, uma eu participei, eu achei boa, mas o professor disse: foi perfeita. Diferente da segunda apresentação, na qual eu não me apresentei. Mesmo assim ficou muito bonita, porque no final nós sempre arrasamos (...)

I.E.: auto-estima elevada. I.E.: A importância do juízo de valor do professor. I.E.: Superestima.

T é uma amiga, companheira de ginástica. Ela viajou conosco para Campinas, era uma das mais antigas. Ela é bem criativa e sempre participava muito bem das apresentações.

I.E.: Suportar e controlar a vontade: quando tolerar é um esforço. I.E.: A experiência que se guarda dento do coração, funciona como metáfora para falar da experiência sentida e registrada no corpo. A companheira criativa (Leitura corporal de uma companheira).

(...) A emoção veio na hora de decolar, ainda na ida, me deu uma vontade de chorar. Eu estava sentada entre ..., segurei na mão delas e não me contive, chorei, elas então me abraçaram, foi aí que eu me acalmei. Não sei por que eu fiquei assim, mas aconteceu. Já na descida, o avião parecia uma montanha russa. Eu e Y não agüentamos, ela começou a gritar e eu a rir. Como diz Aa: foi hilário, tudo de bom.

I.E.: A emoção sentida implica em outras manifestações corporais, por exemplo, o choro. De onde veio o choro desse sujeito? Talvez de um conjunto de textos com significados importantes. Não foi o decolar, mas o que esse fato desencadeou no sujeito, tipo: lembranças que revelam o caminho até aquele instante, a falta da família, ou mesmo, uma emoção que não se explica. I.E.: A reação de rir, contrária ao choro. Apontam emoções muitas vezes antagônicas, mas despertadas no mesmo contexto, suscitam referencias distintas que na ora emociona para o choro, ora para o riso.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

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SUJEITO 7 TÍTULO: TRÊS ANOS DE GINÁSTICA E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR SUBTÍTULO: FAZENDO A DIFERENÇA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Ver meus pais, todas as meninas me olhando e me apoiando a fazer o que eu gosto. Receber o elogio e o apoio do professor Leonardo, principalmente quanto as nossas decisões faz diferença pra mim. Essas coisas me motivam a continuar fazendo o que gosto: a ginástica.

I.E.: Ver me olhando: quem aprecia quem? Aprecio a medida que sou apreciada: será essa a lógica da vaidade do ginasta?

O que faz a diferença no GGTP é o fato de sermos um grupo de ginástica, numa escola pública, municipal. E, apesar das dificuldades que toda escola pública enfrenta, nós fazemos os exercícios muito bem, somos alegres, exibidas, bonitas, entre outras coisas. Mas, o que faz mesmo a diferença são quatro coisas, a saber: é que nós todas temos muita força de vontade e acreditamos, acima de tudo, no nosso potencial; que ajudamos um ao outro a alcançar nossas metas; e respeitamo-nos, sem pré-julgar ninguém.

I.E.: Assistir e apoiar. O elogio é um apoio. I.E.: Participação nas decisões. I.E.: A ginástica é uma prática apreciada pelo conjunto de fatores que implica o contexto com o outro seja na apreciação, seja no apoio verbal. I.E.: O diferencial: fazer ginástica com qualidade na escola pública. Escola pública relacionada com dificuldades. I.E.: Somos (visão sobre o grupo) alegres, bonitas e exibidas. I.E.: O que faz a diferença no coletivo: força de vontade, fé no talento, colaboração, solidariedade, desejo, respeito, aceitação.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 7 TÍTULO: TRÊS ANOS DE GINÁSTICA E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR SUBTÍTULO: O LIMITE COMO A ÚLTIMA FRONTEIRA A CONQUISTAR UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...a ginástica nos envolve numa rotina de convivência que nos faz aprender muita coisa para a vida da gente. Entre elas estar: ser alguém na vida; respeitar os pais e as outras pessoas; vencer desafios e superar obstáculos; e finalmente, pensar no limite como a última fronteira até alcançá-la. ...hoje eu sei que posso vencer na vida e que meu esforço é fundamental pra isso (...)

I.E.: A ginástica ensina para a vida. A ginástica envolve seus participes numa rotina de convivência. V: respeito, superação. I.E.: realização: “ser alguém na vida.” e “vencer desafios”. I.E.: Qual o seu limite? Aonde você quer chegar? (Eu) Faço essas questões para fazê-los pensar qual o limite deles agora e como eles podem superá-los. Como resultado: “...hoje eu sei que posso vencer na vida e que meu esforço é fundamental pra isso (...)”

(...) O grupo Ginástico da Escola Municipal Terezinha Paulino é o lugar aonde eu me sinto em paz com a minha alma; sinto prazer e alegria; é o lugar onde eu encontro a calma; é nesse lugar que sei que eu posso aprender coisas boas; foi nele que aprendi o que era respeitar o meu colega, a escutar as pessoas e ajudar ao próximo.

V: Paz. I.E.: GGTP.: um lugar de bem estar e aprendizagem. Bem estar: sentir paz, prazer, alegria, calma. I.E.: aprender coisas boas: respeito, benevolência e caridade.

A ginástica me proporcionou alegria de viver; prazer de fazer ginástica e de me apresentar para outras pessoas; oportunidade de estudar ballet, ... oportunidade de viajar para fora do Rio Grande do Norte e de avião,... Vi a ginástica proporcionar outras conquistas para outras colegas:...

A ginástica trouxe: prazer no fazer e no exibir-se; alegria para o viver; oportunidades: estudar ballet, viajar. I.E.: a ginástica oportuniza pessoas seguirem outros caminhos.

(...) Quem sabe um dia veremos eles nas seleções brasileiras de GR e de AE, torço muito pra que isso aconteça.

I.E.: desejar o sucesso dos outros, mostra um sujeito que compartilha sonhos, solidária e benevolente.

...como se consegue tudo isso? As apresentações que fazemos fora da escola são tudo de bom, que se possa imaginar. Elas são importantes porque é nesses lugares que aparecem as oportunidades. É lá que somos vistas e reconhecidas pelo esforço e o trabalho que nós desenvolvemos no GGTP. Todas as bolsas conquistadas até o momento saíram das apresentações que fizemos.

I.E.: As apresentações fora da escola são apreciadas e aprovadas por dar visibilidade e apontar oportunidades. V: trabalho, esforço, persistência.

...“Esses exercícios vou levar para sempre comigo, pois, para mim isso é uma experiência de vida”.

I.E.: os fatos vividos como exercícios para a vida. I.E.: lições aprendidas registradas no corpo. Lembranças longevos.

O que me deixa triste é saber que um dia eu vou ter que abandonar a ginástica. Fico triste, pois sei que vou ter que deixar meus amigos e isso inclui o professor. Deixarei pra trás minha tranqüilidade, minha paz, minhas conquistas, mas levarei comigo a minha força, a força que desenvolvi na ginástica, a força de vontade.

I.E.: o entendimento que a ginástica não é para sempre, assim como as relações que existem na convivência das pessoas nas aulas. I.E.: ginástica espaço de tranqüilidade, paz, conquistas pessoais, força (auto-confiança), força de vontade. V: tranqüilidade, paz, força de vontade, trabalho. C.V.: Tristeza, saudade.

Lembro o dia em que a ginástica ficou um tempo de recesso e eu fiquei morrendo de saudades dos treinos, das meninas, das dores e de me apresentar. O importante pra mim é fazer ginástica. Eu não quero sair da ginástica nem tão cedo, mas muita coisa pode acontecer. Seja feita a vontade de Deus.

I.E.: a abstenção da vida no grupo fez o sujeito sentir falta inclusive da dor. I.E.: o importante: viver o grupo. Viver o grupo e não sair da ginástica.

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Ficha de conteúdo DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 8: Yaponira Palácio TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL EM MINHA VIDA SUBTÍTULO: A AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) A farra dentro do banheiro era grande, cantávamos, brincávamos e até gritávamos. Depois do banho comíamos algo que levávamos e seguíamos para sala de aula. Isso era cansativo, mas gostávamos tanto da ginástica que isso nós tirávamos de letra.

I.E.: Uma atmosfera festiva contribui para superar as adversidades.

Os exercícios durante os treinos eram muito forçados e avançados; aprendi muitos exercícios que se quer eu imaginava que existissem. No início via as meninas abrindo as pernas, na chamada segunda posição, de forma bem esticada, e comparava com as minhas pernas, bem fechadas e com os joelhos dobrados. Eu pensava: meu Deus, quando é que eu vou conseguir fazer isso? Ficava olhando e admirando as meninas mais antigas,... Imaginava ser CB, achava e ainda acho ela linda. Hoje tenho o prazer de me apresentar junto com ela.

V: Reconhecimento, talento. I.E.: Ginastas mais antigas são referências para as mais novas, despertam o desejo do espelho de narciso (replicar o belo)

(...) Muitas já passaram pelo grupo, algumas ficaram, entre elas eu (...)

I.E.: Rotatividade do grupo. Perde em continuidade, exige um novo começo freqüentemente. Ganha em dinamismo, visibilidade, ajuda a divulgar a modalidade, espaço de convivência ampliada.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 8 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL EM MINHA VIDA SUBTÍTULO: GINÁSTICA, COMPROMISSO, DESAFIOS & SACRIFÍCIOS UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO O meu primeiro ano praticando ginástica não foi só diversão. Foi um grande compromisso que assumi não só comigo, mas com todos (...)

V: Compromisso>> responsabilidade. I.E.: Ginástica não é só diversão>> é trabalho.

(...) Quando o professor nos reúne e pergunta-nos se podemos ficar mais uma hora, após o treino, na aula seguinte, a nossa resposta passa a ser um compromisso, uma responsabilidade. Quando dizemos que vamos participar de uma determinada coreografia, assumimos o compromisso com o grupo de ginastas, com o professor e com a escola em se apresentar, isso implica em responsabilidades, pois se estamos comprometidos com outros precisamos fazê-lo da melhor forma, no caso se apresentar bem.

V: Compromisso >> responsabilidade. I.E.: Processo mediado, dialogado, acertado. I.E.: O compromisso é se apresentar bem. A responsabilidade é não errar para não comprometer o trabalho do grupo.

No início eu achava os exercícios muito avançados pra mim, eles eram muito difíceis para aprender, mas os tinham como meta a alcançar (...)

V: Organização, trabalho, persistência. I.E.: Estabelecer metas é comover-se com algo que vira desejo de deter.

(...) Aprender os exercícios a cada treino significava pra mim uma grande conquista, pois via isso como desafios e meu objetivo era vencê-los. Entendo os desafios como agüentar os sacrifícios, como por exemplo, a dor. Ainda no início, meu corpo inteiro doía, sentia até dor de cabeça, daquelas de latejar, meu abdômen ficava duro e dolorido, enfim, mas com o passar do tempo fui me acostumando. Afinal a ginástica exige alguns sacrifícios, entre eles a vontade de atingir as metas e de superar a dor.

V: Trabalho, resistência. I.E.: Conquista → aprender algo novo << enquanto desafio a ser vencido. I.E.: Fazer sacrifícios: suportar, agüentar. I.E.: O corpo reage a resistência, mas com o tempo vai se adaptando as exigências. A vontade de aprender supera os reflexos no corpo das exigências.

(...) Vontade não é só a disposição de levantar cedo no sábado e ir para o treino, ou dizer pra si mesma: hoje eu vou treinar como nunca. Existem vários tipos de vontade, como, vontade de: se apresentar, de treinar, de parar de treinar, de abraçar, de beber água, enfim, de fazer ou não alguma coisa. Mas, quando se tem metas, a falta de vontade para atingi-las pode ser um problema, pois para alcançá-las é preciso fazer esses e outros sacrifícios, e para isso, é preciso dizer pra si mesma: eu tenho metas, portanto, não é por falta de vontade que irei parar.

Persistência. I.E.: Superar a falta de vontade e focar nos objetivos << um caminho de superações e persistência.

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 8 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL EM MINHA VIDA SUBTÍTULO: LAÇOS DE UNIÃO E NOVAS LIÇÕES UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO O GGTP pra mim não é só um grupo de pessoas reunidas, fazendo algo comum e que gostam, mas, uma grande família. Aprendi no decorrer do tempo, convivendo com as pessoas do grupo, entre outras coisas, que a vida não é só diversão e que existem responsabilidades das quais não podemos fugir. Na ginástica, assim como na vida, a responsabilidade pode ser entendida de diferentes maneiras. A responsabilidade que quero falar esta relacionada com compromissos do trabalho desenvolvido no GGTP, a saber: compromisso com o trabalho no GGTP; compromissos relacionados ao combinado entre os integrantes; compromisso relacionado ao cuidado com os equipamentos; o compromisso em cuidar do próprio corpo; compromisso para o cuidado com nossas ações com as outras pessoas.

V: responsabilidade. I.E.: O grupo enquanto família. I.E.: O tempo só não traz sabedoria, tão pouco a convivência, é a relação convivência e tempo que traz o saber. I.E.: responsabilidade → compromisso/trabalho + conservação do espaço e dos equipamentos + cuidado de si + cuidado com os outros.

Quando assumimos o compromisso de participar de um grupo como o GGTP, assumimos a responsabilidade com os compromissos do grupo também. Os compromissos do grupo são as apresentações das coreografias em diferentes eventos. Mas, para se apresentar precisamos manter uma disciplina nos treinos. (...) A disciplina começa quando nós chegamos antes do início da aula, para arrumar e limpar nosso espaço de treino, o pátio multiuso da escola, aonde funciona também o refeitório; e passa pelo cuidado com os colchonetes, com os aparelhos e com os figurinos que utilizamos nas apresentações; respeitando os horários e os dias de treino; respeitando as etapas do treino e o comando do professor.

V: Compromisso, responsabilidade, disciplina no trabalho. I.E.: compromisso: apresentar-se. I.E.: disciplina enquanto organização no trabalho: “A disciplina começa quando nós chegamos antes do inicio da aula, para arrumar e limpar nosso espaço de treino, o pátio multiuso da escola, aonde funciona também o refeitório”; zelo com equipamentos: “passa pelo cuidado com os colchonetes, com os aparelhos e com os figurinos que utilizamos nas apresentações”; assiduidade e pontualidade: “ respeitando os horários e os dias de treino”; no cumprimento da rotina: respeitando as etapas do treino e o comando do professor”.

Outra forma de assumir compromisso em um grupo é quando nos reunimos, conversamos e combinamos alguma coisa. Quando combinamos algo assumimos tarefas, essas tarefas passam a ser um compromisso entre nós integrantes e se algo falhar, colocamos o combinado em risco, consequentemente, comprometemos o processo de trabalho do grupo. De outra forma, atrapalhamos o trabalho do grupo, quando, por exemplo, não cuidamos da nossa saúde.

V: Responsabilidade, trabalho. I.E.: Democratização das decisões: as mesmas são tomadas coletivamente. I.E.: O cuidado de si e sua importância para não prejudicar o trabalho coletivo.

...quando o aquecimento começa, a nossa responsabilidade sobre a condição do nosso corpo também começa. O cuidado com o corpo já no aquecimento é para evitar lesões. Se uma ginasta se machuca ou adoece, ela compromete o trabalho do grupo ..., se uma ginasta que não faz os exercícios de alongamento e distende algum músculo, e, se ela faz parte de uma coreografia que será apresentada dias depois, ela prejudica o grupo inteiro, pois existe a possibilidade de não podermos nos apresentar (...)

I.E.: O cuidado de si e sua importância para não prejudicar o trabalho coletivo.

..., a responsabilidade no GGTP não é só essa na qual nós nos responsabilizamos com o trabalho do GGTP. Cuidar dos outros componentes do grupo é um compromisso de cada integrante.

V: Respeito, solidariedade, benevolência, livre-arbítrio, união.

Cuidamos do outro, respeitando cada um, deixando cada pessoa agir de acordo com sua consciência, desde que esse agir não prejudique ninguém. Para isso, é importante manter o foco no grupo, deixar vaidades e picuinhas de lado e centralizar as energias na união do grupo. Cuidamos do outro de diferentes maneiras. Quando entra alguma novata na ginástica, as mais antigas, entre elas eu, por sermos mais experientes, nos aproximamos para ajudar à novata, ou o novato, quando percebemos que alguém está fazendo algum exercício errado.

I.E.: Cuidar do outro. C.V.: Vaidade, picuinhas, erro.

(...) Outra forma de cuidar do outro é quando estamos trabalhando em duplas, no treinamento de flexibilidade, assumimos a responsabilidade sobre o corpo da nossa colega. É nesse momento em que a colega confia o seu corpo agente. ..., é na ginástica aonde eu aprendo a ser mais companheira.

V: Trabalho coletivo; responsabilidade, companheirismo; confiança. I.E.: A entrega de si ao outro e do outro a si: “. É nesse momento em que a colega confia o seu corpo a gente”. Confiança e segurança caminham juntos no momento em que há reciprocidade do contrato. Enquanto um se doa na ação o outro doa-se para a ação.

(...) São muitas pessoas no grupo, uns há mais tempo, outros há menos tempo. Muitos passaram, poucos permaneceram. Cada um que passa traz consigo alguma contribuição, algo novo. Aqueles que ficam constroem relações mais sólidas. Percebo que cada um tem um pensamento, um modo de pensar e de agir diferente. Esses modos diferentes que cada um tem, faz com que na

I.E.: Rotatividade de pessoas trás muitos referenciais. I.E.: Poucos permaneceram: aponta para uma prática em si restritiva. I.E.: A passagem breve ou duradoura de pessoas traz

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convivência uns com os outros, aprendamos a viver melhor nesse mundo doido.

aprendizagens.

Depois de termos enfrentado vários problemas entre nós e de ter resolvido todos eles conversando, muitas vezes com muito suor, choro e até boas gargalhadas, é que me convenço que somos sim, uma grande família. Somos uma família e como tal, temos que resolver nossas indiferenças e sermos unidas (...)

V: enfrentamento, conversa. I.E.: as soluções de problemas apontam para uma relação familiar.

(...) Quando resolveu voltar, ela me procurou para que eu a ensinasse a parte que ela havia perdido. Naquele instante eu me recusei, pois estava estudando uma parte muito avançada da coreografia. Ela então pensou que eu não queria ensiná-la e ficou com raiva de mim (...) Eu, óbvio, não gostei, mas fiquei calada (...) ...discutimos, choramos, mas foi conversando que agente se entendeu, até hoje estar tudo bem entre eu e ela.

I.E.: Quando a vaidade interfere no relacionamento. C.V.: Solidariedade, conversa.

(...) Aprendi que amizade é algo muito sério e que ela é cultivada no dia-a-dia.

V: Amizade. I.E.: Amizade se cultiva.

É muito bom passar o tempo com os componentes do grupo. Considero esse tempo como um tempo de aprendizagem, pois como disse anteriormente, aprendi muito no tempo em que estou no GGTP. Eu e os demais companheiros de ginástica ficamos muito tempo juntos; passamos o ano inteiro treinando e convivendo uns com os outros e também com o professor Leonardo; tornamos-nos uma família e com isso aprendemos muito uns com os outros. Entre outras coisas, aprendi que existem momentos pra tudo, inclusive pra ouvir e também pra falar as coisas (...)

V: Trabalho, convivência, família. I.E.: “é muito bom passar o tempo com os componentes do grupo”: Convivência. I.E.: Tempo de convivência, tempo de aprendizagem. I.E.: Na relação tempo ampliado e convivência é gerado o sentimento de família.

Por tudo isso, considero a ginástica muito importante pra mim, e é por isso que eu a levo muito a sério (...)

I.E.: A ginástica é importante pela convivência, pelo que se aprende >> ao mesmo tempo é um desafio.

(...) A ginástica é, também, um grande desafio pra mim, pois é aonde posso aprender muitas coisas, como a ser mais companheira e amiga, saber dividir as coisas, a respeitar. Também aprendi a ganhar e a perder. Aprendi que mais importante que ganhar ou, mesmo, competir é poder participar; estar junto com o GGTP; colaborar com a equipe e se apresentar bonito nos eventos (...)

V: Companheirismo. I.E.: A ginástica e o saber convivem com os ganhos e perdas >> entre os dois o importante é participar. I.E.: O que é importante: “poder participar; estar junto com o GGTP; colaborar com a equipe e se apresentar bonito nos eventos”. Capacidade de eleger prioridades e de entender o que é o não importante.

(...) Eu vou levar para sempre comigo esses exercícios, que são saberes que para mim são experiências valorosas, hoje, parte da minha vida.

I.E.: Os saberes adquiridos fazem parte da vida desse sujeito; registrado enquanto experiência vivida no corpo.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 8 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL EM MINHA VIDA SUBTÍTULO: EMOÇÕES QUE AGENTE NUNCA ESQUECE UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) Com certeza, a minha primeira apresentação foi um episódio marcante para mim. Um dia qualquer, no final do primeiro semestre, na quadra da escola, no turno da manhã, apresentei, junto com outros ginastas da escola uma coreografia linda. Lembro que quando eu comecei a me empolgar, a musica acabou. Deu-me uma vontade de apresentar de novo (...)

I.E.: A relação do tempo. I.E.: O desejo de mais.

(...) Pensem num espetáculo bom! As pessoas e os grupos convidados, as luzes, foi tudo muito lindo. Entre os convidados adorei o Coral...

I.E.: Espetáculo bem: aquele que há beleza nas pessoas, nos grupos de pessoas, nos recursos cenotécnico.

...coreografia que eu participei, parecia fácil, pois executamos muito bem e de forma limpa a coreografia, porém, para a gente ela era muito difícil. Aprendi Feira de Mangaio passo a passo, treinamos muito e, durante os treinos, se errássemos, tínhamos que repetir até deixá-la bem limpa, sem erros e, assim, bonita para quem fosse assistir.

I.E.: Executar bem faz parecer fácil. Executar bem e executar sem erros. Coreografia limpa e coreografia bonita. Fazer o difícil parecer fácil e dominar a técnica.

..., em Brejeiro foi como se eu tivesse treinando num dia normal, muito calma e sem erros me apresentei, nem parecia ser o meu primeiro espetáculo. Não só Feira de Mangaio fez sucesso, mas o espetáculo todo. Nossa linda apresentação contou ainda com um público caloroso.

V: Calma. C.V.: Erros. I.E.: A relação com o sucesso, só tem início com a exibição da ginasta.

Todas as apresentações são interessantes porque temos a oportunidade de apresentar o que aprendemos e de ver novos exercícios. Por isso, é importante participar dos festivais fora da escola também. Lá temos a oportunidade de ver as meninas de outras escolas fazerem exercícios belíssimos, de grande dificuldade. Aproveitamos pra ver, pra depois fazer (...)

I.E.: Público caloroso: aquele que aprova. I.E.: interessante: aquilo que interessa porque oportuniza aprender, apresentar e contemplar NOVOS exercícios. I.E.: Exercícios belíssimos: aquele que vejo e percebo como difícil, pois ainda não sei executá-lo ou não domino a técnica.

(...) Nesses eventos também ganhamos medalhas de participação, o que é muito legal também. Se estivermos com alguma pendenga entre nós, as apresentações ajudam a nos unir.

I.E.: A medalha simboliza a participação. I.E.: A apresentação como estratégia de união.

Muitas vezes recebemos convites para nos apresentar em festivais I.E.: As apresentações: em festivais e por convite.

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organizados, principalmente pela escolas particulares de Natal ou pela Federação Norteriograndense de Ginástica ...

(...) Passamos muito tempo treinando para se apresentar bem e fazer bonito nos lugares. Fazer bonito é fazer as apresentações corretas, executando bem os exercícios individualmente e executando de forma correta na coreografia, de forma coletiva.

I.E.: Apresentar bem e fazer bonito está condicionado ao tempo (persistência) de trabalho. I.E.: Fazer bonito: “Fazer bonito é fazer as apresentações corretas, executando bem os exercícios individualmente e executando de forma correta na coreografia, de forma coletiva.”.

(...) Muitas vezes antes de dormir fico pensando: como é que conseguimos montar coreografias maravilhosas no nosso espaço tão pequeno, o pátio da escola? Outras vezes, nem consigo dormir com medo de não acordar a tempo de me apresentar, principalmente quando os festivais são pela manhã.

Fazer bonito é fazer as apresentações corretas, executando bem os exercícios individualmente e executando de forma correta na coreografia, de forma coletiva. A magia do conseguir superar dificuldades, se superando está no desejo a ser alcançado, na força de vontade, no trabalho, persistência, criatividade, ou seja, num conjunto de fatores e ainda liderança.

Eu gosto tanto de treinar como de me apresentar, e uma coisa esta ligada a outra. Não tem como se apresentar com qualidade se a ginasta não treina o suficiente para tal. A qualidade do treino interfere na qualidade da apresentação. Por isso o que me move nos treinos é a possibilidade de me apresentar com qualidade junto com minhas colegas e às vezes até com os meninos, quando o professor monta coreografias mistas. É importante treinar bem para se apresentar bem, para que as pessoas gostem do nosso trabalho. Muitas pessoas que nos assiste, ou na escola, ou outros lugares próximos, acabam se interessando e procurando a nossa escola para praticar Ginástica Geral. Por isso, acho importante se apresentar bem. Quando nos apresentamos e recebemos os aplausos temos a certeza que valeu a pena tanto esforço nos treinos, não só nosso, mas também, os do professor.

C.V.: Medo, ansiedade. I.E.: Apresentar com qualidade é resultado de treino e qualidade. I.E.: O que motiva a ação da ginasta mãos treinos é a possibilidade de se apresentar bem, talvez esperando, ao final da apresentação, o tão esperado contato com o sucesso >> será essa a grande busca? Sim. Veja: “É importante treinar bem para se apresentar bem, para que as pessoas gostem do nosso trabalho”. “Quando nos apresentamos e recebemos os aplausos temos a certeza que valeu a pena tanto esforço nos treinos, não só nosso, mas também, os do professor”. I.E.: O sucesso como a grande catarse. Não há medalha que substitua. Não é a medalha que importa e sim a glória alcançada, ou seja, o sucesso, virar notícia, ser falada e admirada. I.E.: O esforço é coletivo e dele depende o sucesso.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 8 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL EM MINHA VIDA SUBTÍTULO: O FÓRUM INTERNACIONAL DE GINÁSTICA GERAL UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) Foi nessa cidade que eu convivi por quatro dias com diferentes pessoas, de diferentes lugares, ... Entre as várias pessoas que conheci, estava a nossa guia em Campinas ... uma pessoa maravilhosa que estava sempre ao nosso lado. Quando agente tava triste ela nos animava. Foi ela que nos mostrou o SESC, cuidava do nosso acesso ao restaurante das delegações e estava pronta para qualquer coisa. Por tudo isso, eu gostei muito dela.

I.E.: O que faz uma pessoa ser maravilhosa? Doando-se, dado atenção, sendo solidária e benevolente, sempre em prontidão para ajudar.

Assistimos muita coisa de ginástica, algumas bem diferentes, como as rodas alemãs e o “y” uruguaio. Havia muita coreografia legal. Vimos movimentos com nível de dificuldade altíssimo (...)

I.E.: Novas descobertas: a gg. Enquanto espaço para coisas diferentes.

(...) Eu e algumas meninas rodamos o conjunto Parque dos Coqueiros inteirinho para pegar as assinaturas, tendo que ouvir vários NÃO. Isso me deixou furiosa, mas a vontade de ir era maior e, por isso, continuei tentando.

C.V.: Negação, fúria, ignorância. V: Trabalho, persistência, esclarecimento (conhecer). I.E.: A relação de convivência com o não.

Foi mais fácil conseguir as assinaturas na UFRN do que no Parque dos Coqueiros. Conseguimos na UFRN coletar em uma tarde, o que não havíamos conseguido em uma semana no conjunto em que moramos. Acredito que isso se deve ao fato de das pessoas que assinaram na UFRN são, em sua maioria, estudantes universitários, sendo eles mais esclarecidos e, principalmente, por que sentem na pele a falta de apoio.

I.E.: Experimentando a facilidade e a dificuldade

..., tivemos um contratempo: P se perdeu no Campus, deixando todos preocupados. (...) O professor ficou bravo. Depois de algum tempo e de alguns telefonemas, P veio onde estávamos. Depois de ouvirmos as broncas do professor, seguimos pra casa.

V.I.: Preocupação, bravo, broncas.

...um tempo antes da viagem, eu vivia ansiosa,... um amigo da classe... vivia me dizendo que o avião ia cair, isso me deixou com muito medo.

C.V.: Ansiedade, medo.

(...) Eu quando entrei no avião, gelei do dedo do pé até o ultimo fio de cabelo do coro cabeludo da cabeça. Logo que o avião decolou, eu adormeci e só acordei em São Paulo,...

I.E.: A reação sinestésica diante do enfrentamento do novo, principalmente quando esse novo foi perspectivado a partir do medo.

Quando cheguei lá nada mais me importava a não ser minha V.I.: Saudade.

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família que ficou em Natal. Nunca tinha viajado pra tão longe, anda mais sem eles por perto, assim não tinha como a saudade não apertar um pouco (...) A saudade parece que pegou o avião e foi embora.

V: Família. I.E.: A família enquanto valor pode ser uma construção cultural, porém, no caso especifico, a família é o legado de vínculos afetivos das referencias de segurança.

(...) Chegando lá o que mais me chamou a atenção foi à beleza e a calma do lugar. Muito lindo. Havia piscinas, tirolesa, salão de jogos, quadras e muitos outros espaços

I.E.: Um lugar distante da realidade. O contato com uma referência positiva de espaço: beleza e calma.

Quando apresentei a primeira vez, foi no terceiro dia do Fórum, ...Foi cem por cento. No ultimo dia..., estava ansiosa, queria logo me apresentar e ir embora. Acho que isso influenciou nossa segunda apresentação, aquém da primeira.

I.E.: Avaliação de desempenho.

(...) Seguimos para o aeroporto, não via a hora de tomar o avião, de retornar para Natal, de ver minha família, eu estava louca pra me encontrar com eles. Ao subir no avião respirei aliviada, até dormi, coisa que não fiz a viagem quase toda, eu estava precisando, estava cansada. Ao desembarcar em Natal e ao rever minha mãe e meu pai com meus irmãos, incluindo o bebê, eu só faltei chorar. A saudade atacou quase todas as ginastas, mas apesar disso à viagem foi ÓTIMA. Foi tão boa que já recebemos o convite antecipado para 2009.

I.E.: A saudade provocou a ansiedade para retornar. I.E.: O cansaço rendeu. I.E.: Embora a saudade tenha sido apontada como o principal problema ou dificuldade, a viagem foi avaliada positivamente.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 8 TÍTULO: A GINÁSTICA GERAL EM MINHA VIDA SUBTÍTULO: A IMPORTÂNCIA DA GINÁSTICA GERAL E DO GGTP EM MINHA VIDA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Além de gostar muito da Ginástica Geral (GG) e do modo que nos apresentamos, pratico e continuo na GG porque sei que é uma atividade que me faz bem, seja na saúde, seja em outras esferas. Através da GG pude conhecer lugares maravilhosos, um mundo fora do Parque dos Coqueiros. (...)

I.E.: O gosto pela g.g. g.g. faz bem: no âmbito da saúde, no âmbito das descobertas (lugares, técnicas, relacionamentos).

(...) Na GG aprendemos muito, principalmente a viver. De algum modo, a ginástica nos ensina pelas apresentações. Aprendi que é com muito esforço que conseguimos o que queremos. Não basta dizer eu quero isso ou aquilo, temos que batalhar pra conseguir. Foi com muito esforço e dedicação à ginástica que hoje dez meninas, entre elas eu, estamos fazendo balé em conservatórios públicos de grande prestigio, dentro e fora de Natal.

I.E.: As apresentações ensinam. V: Esforço, trabalho, dedicação. I.E.: Esforço, trabalho gerados pelo desejo/ambição. I.E.: A g.g. abriu portas (oportunizou novos caminhos).

O GGTP é o lugar aonde eu me sinto bem. Quando estou triste, é no GGTP que encontro ombro amigo. Sinto orgulho de estudar numa escola pública que me dá a oportunidade de praticar ginástica de boa qualidade. Sinto-me muito bem fazendo parte da família GGTP, pois quando estamos treinando os amigos nos ajuda quando precisamos. É o espaço que me ajudou a perder a vergonha. Agradeço primeiramente a Deus depois ao professor ... e a direção da Escola..., por acreditar em nós e nos apoiar nos momentos em que mais precisamos.

I.E.: GGTP: um lugar de bem estar. I.E.: Orgulho de estudar numa escola pública. I.E.: Prática ginástica de boa qualidade. I.E.: GGTP: um espaço de convivência familiar, de trabalho, de solidariedade. I.E.: GGTP: na superação da timidez. I.E.: Quadro: o aprendiz C.V.: Timidez. V: Gratidão; confiança.

Ficha de conteúdo DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 9: Llows Medeiros TÍTULO: SABERES DE VIDA QUE SERVEM PRA GINÁSTICA E SABERES DE UMA GINASTA QUE SERVEM PARA A VIDA SUBTÍTULO: O COMEÇO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) Antes de entrar no..., GGTP, nunca havia levado nenhum esporte a sério. (...) Antes da GG nunca havia assumido um compromisso de verdade.

I.E.: O compromisso: ginástica geral.

...no começo não dei muita importância. Várias meninas da minha sala adoraram a idéia, ficaram empolgadas e resolveram participar. Foram elas que me incentivaram a entrar na ginástica (...) Por incrível que pareça, da minha turma só restou eu,...

I.E.: Mesmo sabendo que os exercícios que faz hoje, em relação aos códigos da ginástica da FIG, não são muitos valorizados, o sujeito não se sentia capaz de realizá-los no início da sua formação. Passado o tempo, o sujeito passou a executá-los I.E.: Mais que empolgação, um compromisso assumido.

O meu primeiro dia foi muito difícil, eu não sabia fazer I.E.: O não fazer, o não conseguir, impulsionou o sujeito a

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absolutamente nada e, justamente por não conseguir fazer nada, é que eu segui em frente (...)

buscar, atentar, a agir com persistência.

(...) Tomei os treinos como um desafio, mas não o treino em si, e sim, os exercícios que tentávamos fazer nele (...)

I.E.: O trabalho não era o desafio, mas o fruto desse trabalho: os exercícios.

(...) Vieram as apresentações e com elas o famoso friozinho na barriga, eu comecei a gostar daquilo que se sente antes de qualquer apresentação. Passei a gostar de treinar e de conviver com aquelas pessoas. Ao contrário das minhas antigas colegas de sala de aula, a cada dia eu me sentia mais motivada, e este foi o diferencial (...)

I.E.: As apresentações geraram uma sensação corporal aprovada pelo sujeito. I.E.: O gosto pelo trabalho gímnico e pela convivência no grupo. I.E.: O passar do tempo trouxe a motivação, não pelo tempo em si, mas pelos resultados obtidos no trabalho e na convivência.

Descobri na ginástica geral que “o segredo da existência humana não está somente no viver, mas também no saber pelo que se vive”

I.E.: A ginástica fez o sujeito perceber ou tomar para si uma razão para o viver nesse instante.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 9 TÍTULO: SABERES DE VIDA QUE SERVEM PRA GINÁSTICA E SABERES DE UMA GINASTA QUE SERVEM PARA A VIDA SUBTÍTULO: GINÁSTICA GERAL E O EXERCÍCIO DA FELICIDADE UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO De acordo com o dicionário Silveira Bueno, a ginástica é a arte ou ato de exercitar o corpo. Será? Será mesmo que essa prática corporal que envolve tantos sentimentos, gestos, movimentos se resume a essa única forma de pensar?

I.E.: A crítica ao conceito que se fechou para a definição de ginástica.

...a ginástica geral é uma família, que reúne um conjunto de sentimentos como o amor, a fraternidade, o companheirismo e a felicidade. No dia em que entrei para o GGTP, eu descobri tudo isso, e não foi através da ginástica proposta por Silveira Bueno, mas pela ginástica que me faz feliz.

I.E.: Sua compreensão estética para o que é ginástica geral: “...a ginástica geral é uma família, que reúne um conjunto de sentimentos como o amor, a fraternidade, o companheirismo e a felicidade”. V: Enquanto sentimentos, são eles: amor, fraternidade, companheirismo, felicidade. I.E.: A ginástica praticada foi percebida pelo sujeito de uma forma diferente do dicionário.

A essência da felicidade esta em não temer, conhecer os próprios limites. Eu conheço os meus, por isso, sigo em frente (...)

I.E.: Felicidade é não temer, saber sobre seus limites. I.E.: Saber sobre os seus limites como condição para seguir em frente.

(...) Sei que sou do tamanho que eu me vejo e não do tamanho que me medem (...)

I.E.: Ao parafrasear Drumont o sujeito adota para si o pensamento que sua dimensão é conhecida pela forma como a mesma a vê e não como os outros.

A ginástica geral é a arte mais bela, tão bela que talvez nem mesmo nós que a praticamos, ou mesmo os ditos sábios, consigam descrever exatamente tamanha beleza. Parodiando Hasbel sigo: a verdadeira ginástica geral deve ser uma pintura viva do drama, do caráter e dos costumes do gênero humano; deve ser representada de forma tão tocante como se fosse uma declamação de modo que pelos olhares possa falar à alma.

Para além do gesto técnico perfeito. I.E.: g.g. enquanto arte de beleza imensurável. I.E.: g.g. enquanto uma tela dinâmica, retratando o que é comum ao ser humano, e como poesia, deve tocar o outro: emocionar.

Quando digo que a GG é uma família, eu não o digo apenas por dizer. Existe uma razão pra isso, e essa razão é a união e a amizade que compartilhamos (...)

I.E.: Tomar a g.g. enquanto família. I.E.: Família: união e partilha.

(...) O GGTP é formado por pessoas admiráveis, com que se pode contar, pessoas que sempre terão uma palavra de conforto nas horas difíceis e uma palavra de incentivo a qualquer momento, pois amigo é aquele que lhe apóia em seus fracassos, torce pelo seu sucesso e fica feliz quando esse chega (...)

I.E.: Integrantes do GGTP: admiráveis pois são pessoas solidárias, cariosas, motivadoras.

(...)Um sorriso ou, até mesmo, outro gesto de apoio de alguém basta para tornar nossos dias mais felizes (...)

I.E.: Contribui para a felicidade: a simpatia do outro e a solidariedade.

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SUJEITO 9 TÍTULO: SABERES DE VIDA QUE SERVEM PRA GINÁSTICA E SABERES DE UMA GINASTA QUE SERVEM PARA A VIDA SUBTÍTULO: AQUILO QUE ME DESAFIA ME DÁ PRAZER UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Minha primeira apresentação foi simplesmente linda. Eu até hoje me lembro da roupa que usamos, até mesmo de alguns passos da coreografia, ... Com o tempo, eu posso esquecer dos detalhes daquele dia, porém, nunca do que senti na hora de me apresentar. Tenho certeza: nunca vou esquecer daquele instante.

I.E.: A auto aprovação da primeira experiência de apresentação pública. Lindo enquanto aprovação. I.E.: A experiência positiva registrada no corpo.

(...) A minha primeira coreografia com o grupo era simples e bonita (...) Embora não tenha saído tudo como nós esperávamos, pois uma das meninas distendeu um músculo da perna, prevaleceu a idéia de que tentar é um passo a ser dado para a grande caminhada. Foi um grande desafio. Mesmo tendo improvisado no final, tudo acabou bem. Eu fiquei muito feliz, senti-me bem em fazer aquilo. Foi ótimo.

I.E.: Há beleza na simplicidade. I.E.: Tentar como opção para não desistir da meta. Tentar como um desafio. O improviso não garante o sucesso, mas faz parte do tentar. Tentar como improviso e o improviso enquanto tentativa. Bem estar em ter tentado/improvisado e de ter obtido sucesso.

O tempo foi passando, vieram outras coreografias e novos desafios (...) No dia do espetáculo Brejeiro eu estava muito nervosa, especialmente por Feira de Mangaio, a coreografia mais difícil que eu já apresentei.(...) Ela foi a coreografia mais demorada de ser montada, mais cansativa e divertida que eu já apresentei (...) Foi ela um pouco problemática, principalmente seu início: havia um movimento que insistia em não dá certo, mas o professor insistia. É verdade que o movimento não era difícil, admito: era bem fácil. (...)

I.E.: O tempo traz novos desafios. I.E.:. Nervosismo. I.E.: A dificuldade causa nervosismo. I.E.: Embora as dificuldades com o tempo e o cansaço, a experiência foi avaliada / percebida / sentida como divertida. Diversão na dificuldade. V: Persistência. Comento: a dificuldade de aprendizagem não estava na dificuldade dos exercícios e sim na experiência do grupo naquele instante.

(...) Nós nos preocupávamos demais em realizá-lo no tempo da música e acabávamos esquecendo o resto. O professor literalmente enlouquecia. Eu acho que ninguém nunca havia gritado tanto comigo, mas aqueles gritos foram necessários, no final das contas ele sempre conversa com agente. Dizia entre outras coisas que aquele era o jeito dele e que nós não deveríamos nos preocupar com aquilo. No fundo nós sempre sabíamos disso.

I.E.: A preocupação deve se com o conjunto de fatores que cercam as coreografias. Ao se preocupar apenas com o ritmo, outros aspectos foram marginalizados e dificultou a série. I.E.: A necessidade do grito. O grito como uma atitude insana. O professor insano ou o professor comprometido com a qualidade, a imagem do grupo em si, e com a beleza. O grito que organiza e traz o foco para o grupo

(...) Sem dúvida foi um desafio pra todas nós (...) I.E.: Aprender e apresentar uma coreografia como desafio. O espetáculo Brejeiro foi divertido. Embora desgastante e estressante, foi maravilhoso. Lembro da hora em que fiquei mais nervosa: foi na troca de roupas,...

I.E.: Brejeiro: estressante e desgastante, mas divertido e maravilhoso. C.V. Trocar de roupa um fator que estressa.

Talvez existam vários motivos para se desistir, e, talvez esses motivos se tornem pequenos diante da alegria que é se apresentar. (...) eu e outras meninas fomos até o professor e perguntamos a ele sobre a nossa apresentação, então ele nos disse que havia sido maravilhoso, me deu um alívio muito grande e uma sensação de felicidade.

I.E.: A alegria de se apresentar superam os efeitos do sentimento de desistência. I.E.: A aprovação do professor interfere na sensação de felicidade.

(...) Uma das coreografias do GGTP que mais gostei de ver foi Retalhos, Trapos e Farrrapos. Finalmente o inesperado aconteceu no espetáculo: Feira de Mangaio pela primeira vez deu certo. Lutei muito para participar desse espetáculo e participar bem. Isso me fez ver que todo esforço valeu a pena e me deu muito prazer.

I.E.: Categorização da beleza. I.E.: O êxito da coreografia que desafiou o sujeito: o êxito como algo inesperado. Como inesperado, se foi exaustivamente trabalhado? O êxito possibilitou uma sensação de prazer pela realização frente ao esforço/trabalho individual, mas também do grupo.

A ansiedade antes de apresentar, o alívio do dever cumprido e a felicidade que vêm ao final de cada apresentação, nos levam a seguir em frente, nos motivam a continuar. Quando olho pra trás e lembro de tudo, vejo que valeu a pena. Brejeiro foi realmente espetacular: a iluminação estava perfeita, assim como tudo naquela noite.

I.E.: Ansiedade gerada quanto a incerteza do êxito. O dever cumprido gerou alívio. O término da apresentação com êxito gerou felicidade. V: Ansiedade, alívio e felicidade motivam. I.E.: Tomar Brejeiro como espetacular inclui a sensação/avaliação exitosa do que foi objetivado, mais os recursos cenotécnico, mas também o efeito disso tudo sobre as pessoas presentes.

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SUJEITO 9 TÍTULO: SABERES DE VIDA QUE SERVEM PRA GINÁSTICA E SABERES DE UMA GINASTA QUE SERVEM PARA A VIDA SUBTÍTULO: EU ÀS VEZES ME PERGUNTO... UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO O que pode ser mais prazeroso do que a sensação de lutar por uma coisa e idealizá-la? (...) Embora desgastante, adorei o nosso espetáculo, foi tudo muito bom, me deu muito prazer.

I.E.: Prazer obtido na sensação de realização.

(...) Embora saiba que prazer é um sentimento muito relativo, pra mim é o prazer que me dá força para continuar lutando pelas coisas que quero realizar.

I.E.: O prazer impulsiona o trabalho e a futuras realizações.

Quem viveu a experiência de se apresentar para várias pessoas sabe do que estou falando. Acho que essa emoção não tem explicação. As pessoas que estão ali, estão para assistir ao grupo, algumas delas estão ali só pra te ver e isso é simplesmente emocionante. Sem dúvidas que sinto mais prazer quando as pessoas reconhecem o que fazemos.

I.E.: A dificuldade em descrever a sensação vivida na experiência de se expor publicamente, como uma obra de arte viva. O ginasta ao se apresentar publicamente, exibi-se como um objeto de arte vivo, capaz de reagir aos efeitos contemplativos do público. I.E.: A potencialização do prazer vem do reconhecimento público.

(...) Ver que existem pessoas capazes de começar um projeto como este, dando um novo significado para a vida de outras pessoas, que muitas vezes se encontram numa situação pouco favorável, me fortaleceu, me estimulou e me proporcionou prazer pela vida, me ensinando a nunca desistir dos meus objetivos.

I.E.: O progin: oportuniza uma experiência que traz novas formas de se relacionar com o mundo, fortalecendo e estimulando o individuo, lhe causando prazer pela vida e o saber que traz a persistência.

A ginástica geral é sinônimo de prazer, pelo menos pra mim. O prazer é a conseqüência de fazer uma coisa de que se gosta. Por isso, eu sinto prazer em fazer ginástica porque eu amo o que faço; e amo a ginástica porque sinto prazer em praticá-la. Quando fazemos alguma coisa que gostamos, sentimos prazer apenas pelo fato de o fazermos.

I.E.: O sujeito sente prazer em fazer ginástica o que o leva a pensar a ginástica enquanto sinônimo de prazer, sendo o prazer entendido como uma ação apreciada.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 9 TÍTULO: SABERES DE VIDA QUE SERVEM PRA GINÁSTICA E SABERES DE UMA GINASTA QUE SERVEM PARA A VIDA SUBTÍTULO: O QUE REALMENTE IMPORTA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Como pode uma pessoa que jamais sentiu o prazer, a emoção e o nervosismo de se apresentar num ginásio completamente lotado, ..., dizer que não vale a pena tanto esforço?

I.E.: O estranhamento por não entender que alguém sem o referencial de prazer que ela, o sujeito, sente pode menosprezar o esforço.

(...) Eu já ouvi isso várias vezes. Diversas pessoas já me disseram que é uma bobagem eu me sacrificar tanto por uma coisa que não vai me levar em lugar nenhum. (...) Depende do lugar que as pessoas estão pensando que eu deva chegar. A ginástica me levou para caminhos, outrora sonhados, como a viagem ... Mesmo que a ginástica não me levasse a lugar algum, e daí? A quem importa se a ginástica vai ou não me levar a algum lugar?

I.E.: Para os que menosprezam, o trabalho gímnico é um sacrifício sem utilidade. I.E.: A ginástica possibilita realizar sonhos. I.E.: A prática da ginástica vinculada a algo para além da atividade.

O que me surpreende é saber que muitas pessoas subestimam o que realmente importa e superestimam o que não tem importância alguma pra mim. Muitas dessas pessoas se quer sabem o que é importante de verdade. Eu digo o que é importante: O importante é ser feliz, é lutar por seus ideais, é saber que no futuro, quando olhar para trás, vai sentir orgulho do que é e do que viveu, sem ter dúvidas de que realmente valeu a pena viver.

I.E.: A crítica quanto ao julgo alheio e a certeza das metas. I.E.: A importância ou utilidade eleita está na felicidade, no trabalho para alcançar metas, construir uma história para ter do que se orgulhar, como afirmação de uma existência bem vivida.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 9 TÍTULO: SABERES DE VIDA QUE SERVEM PRA GINÁSTICA E SABERES DE UMA GINASTA QUE SERVEM PARA A VIDA SUBTÍTULO: A DEUZA DA OPORTUNIDADE UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Lembro-me de que quase deixei uma oportunidade passar e foi exatamente essa oportunidade que me levou ao lugar em que estou hoje (...)

I.E.: Oportunidade enquanto crescimento pessoal.

O dia da apresentação chegou e por incrível que pareça eu estava tranqüila. Tudo parecia correr muito bem, o que não

V: Tranqüilidade/calma. I.E.: As impressões enganam: o que parecia ir bem não ia.

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passava de uma simples impressão (...) Vesti o colam as pressas. O ziper emperrou. A solução foi costurar o colam sobre o meu corpo. O resultado disso foi uma péssima apresentação. Cai no final da apresentação. Fiquei completamente arrasada. Chorei a noite inteira. E por mais que eu tentasse, não consegui parar de pensar naquele completo desastre. Pela primeira vez pensei em sair do GGTP (...) Resolvi esquecer aquilo e segui em frente, afinal, os momentos ruins também fazem parte da vida (...)

I.E.: Diante de dificuldades, a busca por soluções: autonomia. I.E.: O imprevisto traz conseqüências: má preparação/organização → má apresentação → emoções não desejadas. I.E.: Superação da decepção >> a convivência com o fracasso/decepção << aprendendo com os fracassos e decepções e a persistência.

... não tentar significa perder antecipadamente a oportunidade daquilo que poderíamos conquistar. Ao tentar e falharmos, o que fica é o aprendizado pela experiência vivida.

I.E.: Não tentar é a derrota antecipada. I.E.: A decepção de tentar e não conquistar traz aprendizado.

Se nós pensarmos que os sonhos nada mais são do que uma breve visão do futuro, tudo ficará mais fácil e as barreiras a nossa frente parecerão menores (...)

I.E.: O sonho: uma nova visão do futuro. I.E.: Pensar no sonho motiva para superação das dificuldades.

(...) É muito fácil desistir diante das barreiras, difícil é levantar a cabeça, fechar os olhos, respirar fundo e seguir seu coração acima de tudo. Tentar é persistir, sendo a persistência um pequeno passo, na grande caminhada (...)

I.E.: Desistir é fácil; persistir é difícil. V: Persistência. C.V.: Desistência. I.E.: A persistência enquanto uma fração das atitudes para alcançar as metas.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 9 TÍTULO: SABERES DE VIDA QUE SERVEM PRA GINÁSTICA E SABERES DE UMA GINASTA QUE SERVEM PARA A VIDA SUBTÍTULO: O DIA EM QUE CHOREI NA GINÁSTICA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Explicar o motivo de tanto choro é uma tarefa difícil, pois até hoje eu não entendi muito bem a reação que tive em minha primeira competição oficial de Ginástica Rítmica (...)

I.E.: A dificuldade em explicar a emoção.

... a minha reação de chorar antes de entrar na área de competição, ..., foi provocado por uma mistura de sentimentos, a saber: medo, insegurança, felicidade, nervosismo. Eu ao mesmo tempo queria e não queria competir.

I.E.: A dificuldade se dá em função do misto de sentimentos: “medo, insegurança, felicidades, nervosismo”. I.E.: Confusão quanto os desejos.

(...) Momentos antes da minha apresentação, eu lembrei da história que venho contando até agora nesse relato. Pensei em tudo que aconteceu comigo nesses últimos anos e que venho escrevendo aqui. Foi como se tivesse passando um filme da minha vida em minha cabeça.

I.E.: as artimanhas do tempo: num breve instante foi possível ao sujeito recuperar a memória: lembranças de sua trajetória na ginástica.

(...) Achei até que tinha ido bem na apresentação da minha série individual mãos livres. Parecia um sonho. Foi só quando eu saí do tapete que dei conta de que não se tratava de um sonho: eu vi que tudo aquilo era real. Foi difícil competir, mais difícil foi acreditar que tinha chegado lá. Chegar até ali significou muito pra mim. Foi a realização de um sonho: competir na ginástica.

I.E.: Impressão falsa ou não? A nota da arbitragem deslocou a sensação de uma boa apresentação. A apresentação da ginasta atingiu suas expectativas, porém não a do código oficial de GR da FIG. Daí a avaliação de que sua sensação não procedeu. O que é possível afirmar é que suas metas não condiziam com o que se espera na leitura do código: vincular-se aos critérios do código implica num enquadramento.>> homogeneização.

(...) Fiquei classificada em penúltimo lugar. Eu esperava um resultado melhor, mas ainda assim, fiquei feliz em ter participado (...)

I.E.: Mesmo não atingindo as metas o sujeito ficou feliz com a experiência vivida, pois “foi a realização de um sonho: competir na ginástica”.

Já na minha segunda competição, ..., agora competindo com o arco, eu estava bem mais tranqüila. Essa tranqüilidade me ajudou a melhorar minha nota. Pulei do penúltimo lugar para o sétimo. Isso foi uma grande conquista pra mim.

I.E.: A conquista só veio pois o sujeito não desistiu. Sua persistência o fez conhecer outras emoções.

(...) Talvez eu não possa ser a melhor do N, talvez eu não consiga atingir o primeiro lugar, mas eu vou tentar... ser acima de tudo feliz!

I.E.: A busca, a tentativa, a persistência são estimulados pela esperança de atingir, ou perseguir a felicidade: a felicidade enquanto meta.>> não é a medalha, ou a classificação que importa.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 9 TÍTULO: SABERES DE VIDA QUE SERVEM PRA GINÁSTICA E SABERES DE UMA GINASTA QUE SERVEM PARA A VIDA SUBTÍTULO: MINHA HISTÓRIA NO GGTP UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO As boas idéias não têm idade, apenas tem futuro. O GGTP é uma dessas boas idéias que deu certo (...)

I.E.: GGTP enquanto uma boa idéia. I.E.: Uma boa idéia é aquela que tem futuro.

(...) No GGTP eu aprendi a lutar pelo que eu quero, aprendi a pensar antes de tomar decisões, aprendi que a vida não teria

I.E.: Lutar enquanto trabalho. I.E.: A experiência no GGTP trouxe ao sujeito o saber que

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sentido se não fossem as amigas que temos. para alcançar metas é necessário trabalhar. I.E.: As amizades trazem sentido para vida, ou é a vida que traz sentido para as amizades? V: Trabalho, amizade.

Devemos viver, sonhar e lutar hoje por aquilo que consideramos verdadeiramente importante pra nós. A Ginástica é muito importante pra mim, pois sinto um conjunto de sentimentos: alegria, prazer, dever cumprido, só pra citar alguns. O GGTP faz parte do meu ser, pelas coisas que me dão prazer.

V: Vida, sonho, trabalho. I.E.: Alegria, prazer, dever e realização são percebidos enquanto sentimentos. I.E.: O GGTP como fração do sujeito, pois é através dele que o sujeito sente o prazer Afirmo da mesma forma o sujeito é fração do grupo.

Fichas de conteúdo DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10: Leonardo Gama TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: QUANTA AMBIVALÊNCIA DIANTE DA RACIONALIZAÇÃO DO TEMPO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Prestes a completar cinco anos de existência o ProGin, assim como o GGTP contraria o tempo e como a criança heracliana, brinca. Em um curto espaço de tempo, produzimos um volume interessante de história: espetáculos, apresentações, uma grande viagem, muitas vidas que se acham e que se ampliam nas fronteiras do mundo, da técnica, da convivência e das regras de condutas que perpassam a existência de um ser no universo da vida partilhada, ou seja, dos saberes. O tempo nos mostra através da experiência que somos muitos em um e um em muitos.

I.Est: Cinco anos é a medida de tempo da existência do GGTP, um tempo em que foi possível estabelecer uma convivência, desenvolver técnicas e valores. Um conjunto de saberes foram produzidos, vividos e compartilhados no decorrer de um espaço de tempo de cinco anos.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: QUANTA AMBIVALÊNCIA DIANTE DA RACIONALIZAÇÃO DO TEMPO: Do primeiro grupo

UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO A baixa procura dar-se ao fato da quase inexistente circulação de informações na grande mídia e o pouco ou nenhum conhecimento das pessoas sobre a modalidade em questão. (...)

I.Est: Uma atividade desconhecida. O que se desconhece não se procura.

(...) As primeiras dificuldades surgiram naturalmente em razão de se tratar de um projeto novo, em formação. (...)

I.Est: O novo e o desconhecido implicam em dificuldade.

(...) A maior dificuldade não é o fato de ser um projeto de ginástica geral, ou, por se situar numa escola pública, da periferia de uma cidade nordestina brasileira, mas do conjunto de tudo isso. (...)

I.Est: Dificuldade: novo + escola pública de periferia. Um conjunto de fatores que implicam na dificuldade.

(...) Apesar do cenário de dificuldades, acreditava muito no que estava propondo e, por isso, optei por ignorar as adversidades e seguir em frente.

I.Est: Posicionado num cenário de dificuldades, o caminho escolhido foi ignorar o conjunto dos fatores e persistir naquilo que acredita.

(...) Havia uma cumplicidade muito boa entre mim e as aprendizes de ginástica. (...)

I.Est: A cumplicidade foi um fator positivo em busca do êxito.

(...)Esses fatos contribuíram para que atravessássemos o primeiro ano com êxito. (...)

I.Est: As dificuldades e a cumplicidade são responsáveis pelo êxito. O êxito obtido não teria ou seria dessa forma se não fosse o conjunto dessas relações na convivência.

Finalizamos o ano com apenas oito meninas e alguns desafios, responder as seguintes questões: o que desmotivou as demais? como motivá-las? o que fazer para aumentar o grupo? onde falhei e onde acertei? Com o objetivo de acertar, melhorar e ampliar o projeto, perguntas dessa ordem foram fundamentais para avaliar o trabalho desenvolvido; e a mim mesmo, como profissional e como expectador como também para objetivar novas metas e diretrizes tendo em vista maior êxito.

I.Est: A ação docente, assim como qualquer área de atuação profissional, nos inquire para que possamos nos avaliar quanto as nossas ações, buscando acertar quando erramos e mantendo as condutas exitosas ao longo do processo analisado. Avaliação exibe reflexão.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

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SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: QUANTA AMBIVALÊNCIA DIANTE DA RACIONALIZAÇÃO DO TEMPO: O poder da fênix UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) Foi a primeira vez que os familiares das meninas foram assisti-las. As meninas estavam encantadas com o espaço, com a magia do palco, figurino e a presença de seus parentes.

I.Est: O encantamento diante do espaço, do que e de querer estavam nele. A família é a referência.

(...) Professor, faz alguns dias que estamos pensando e, decidimos sair da ginástica. (...)

I.Est: Uma decisão amadurecida

(...) O anúncio veio como uma bala direto no coração. (...) I.Est: a dor da notícia. (...) O treino tinha sido excelente (...mas pra quem? certamente que para mim.). perguntei-lhes o que tinha havido, se tinha sido algo que eu havia dito, feito, demonstrado. Sentia-me culpado. (...)

I.Est/ I.Étc: A culpa e o desespero desencadeiam uma forma de relacionamento do sujeito com o problema ou o problema desencadeiam um estado de culpa e de desespero?

(...) Elas então responderam em tom de pesar: ― Nada professor! Só decidimos porque não estamos mais curtindo. (...)

I.Est: Quando termina o prazer, a motivação, nega-se a prática.

(...) O novo anúncio parecia vir como um tiro de misericórdia, mas a dor de ver o grupo acabar ali, num lindo fim de tarde, não queria cessar. (...)

I.Est: O aumento quanto o fim do prazer e da motivação também foi doloroso.

Percebi que a baixa quantidade de meninas tornava as aulas monótonas para elas e que a decisão coletiva foi amadurecida sem que eu percebesse. Naquele momento entendi que eu não tinha dado espaço suficiente para que pudéssemos conversar. Perdi meu grupo assim: por falta de conversa.

I.Est: Em primeira análise, de forma aligeirada, foi constatado que a conversa e o diálogo, poderiam ter evitado o fim do grupo.

Uma tristeza me tomou. O anúncio correu à escola. Procurei a equipe pedagógica e falei o ocorrido. Apesar da ajuda, não revertemos à situação. Quando tudo parecia apontar o fim, surge a idéia de recomeçar. Busquei outras estratégias. Eu mesmo fui às salas de quintas e sextas séries divulgando a ginástica e seus novos horários; convidei ainda algumas meninas, alunas minhas na educação física.

I.Étc: O estado de tristeza se implantou dado uma seqüência de fatos ocorridos na convivência. I.Est: Recomeçar foi a opção para superar a crise. Divulgação e convites foram as estratégias.

A energia de superação potencializou-se de uma forma que 2005 tornou-se o ano de maior procura na ginástica, foram 75 matrículas. Apenas duas meninas do primeiro grupo retornaram ao projeto. Neste mesmo ano o Projeto Ginástico da E. M. Terezinha Paulino se consolidava como um projeto permanente da escola graças à junção de três fatores, a saber: avaliação, trabalho e persistência. (...)

I.Est: A consolidação do projeto se deu em razão de duas ações (avaliação e trabalho) e de uma atitude (persistência). Foi a atitude que desencadeou as ações.

(...) A grande procura e a realização do nosso primeiro espetáculo, intitulado O Circo, também contribuíram. Aquilo que parecia anunciar o fim, não deixou de ser um anúncio de algo por vir, um sinal de que estávamos apenas recomeçando. Esse algo anunciado tratava-se de reinício, ou seja, um novo começo.

I.Est: O espetáculo foi a estratégia pensada e desenvolvida para motivar. (A grande procura em si não bastava, o desafio era como manter essas pessoas no projeto?). A soma de atitudes e ações no decorrer do processo determinaram o sucesso do projeto.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: PRINCIPAIS FEITOS: O Circo UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Levamos o ano letivo inteiro preparando tudo, ... I.Est: Um trabalho que demanda tempo e esforço coletivo. (...) Havia cenário e figurino próprios. I.Est: Parte dos componentes do espetáculo. (...) Eles idealizaram e montaram o layout do espaço e do cenário, prepararam o lanche e receberam o público de preto e com nariz de palhaço, distribuindo pipoca e se incorporando a atmosfera do espetáculo.

I.Est: A ação foi coletiva e a atmosfera pensada, criada e vivida foi a do espetáculo.

(...) Eles abraçaram a idéia e o resultado foi excelente, ... pela articulação entre jovens e adultos universitários, ..., com crianças e adolescentes ... E não só por isso, mas principalmente, pelo envolvimento dos alunos do curso com o espetáculo. (...)

I.Étc: Convivência entre diferentes aumenta o volume de experiências. As partes se envolveram e se refizeram no decorrer do processo de convivência.

(...) Nós todos vibramos muito ao final, dado o sucesso da apresentação. A felicidade e a sensação de ser útil estavam estampadas em cada face. Sucesso esse comemorado não só pelos acadêmicos e por mim, o professor, mas pelos familiares presentes, funcionários, alunos e outros professores da escola, além dos ginastas envolvidos.

I.Est: O sucesso do evento foi comemorado e compartilhado pelas partes envolvidas. Sentimentos de felicidade, utilidade, realização se somaram ao término do processo.

Terminávamos o segundo ano letivo em grande estilo, mostrando que é possível realizar trabalhos que desloquem os universitários

I.Étc: Os valores morais apontam o caminho de uma cultura ética altruísta.

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Anexos ___________________________________________________________________

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do seu status no espaço da academia, para uma realidade externa e, melhor, com envolvimento, desenvolvimento, articulação, conhecimento, humildade, solidariedade, amor, respeito, dedicação e outros sentimentos altruístas que, nos elevam a uma condição humana, acima da racionalização que algumas áreas do conhecimento teimam em nos restringir, nos limitar e nos enquadrar.

I.Est: O deslocamento físico da universidade para a escola pública de periferia desloca o olhar, os demais sentidos, deslocam a forma de agir e de se relacionar. Instalam-se a cautela; as ações e as atitudes exigidas já não são as mesmas; o espaço é diferente. As novas exigências são geradas a partir das novas experiências. Essas exigências abarcam sentimentos ora conflituosos, ora de identidade. O grau de conflito ou de identidade é quem determina as relações e o tipo de convivência. Nesse caso,a convivência gerou para os universitários sentidos articulados com o conhecimento da sua formação e o sentimento de utilidade. Para os estudantes os sentidos obtidos são vários, o principal ao meu ver foi e de benevolência.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: PRINCIPAIS FEITOS: Brejeiro

UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO ...foi em 2006 que resolvi oficializar dentro do projeto, o Grupo Ginástico. Este grupo tem como fim representar a escola em eventos externos, não competitivos e com qualidade técnica e artística. Na primeira formação do GGTP foram 26 ginastas, meninos e meninas.

I.Est: Embora a as pessoas envolvidas na PROGIN já formavam um grupo que se apresentava e representava a escola, o grupo foi formalizado em 2006. O grupo não participa de eventos competitivos. Objetiva a qualidade técnica e artística.

(...) A idéia inicial minha era abordar temas da cultura nordestina. O grupo resistiu no início, mas com muito jeito, diálogo, acordos e no processo, todos foram se envolvendo. (...)

I.Est: Resistência aos temas da tradição popular nordestina e o diálogo enquanto estratégia para vencer a resistência.

A tematização surgiu a partir do projeto da ESCOLA de identificar elementos da nossa cultura e valorizá-la, tratando-se do Projeto Mapeamento Cultural, cujo objetivo é buscar, identificar, inventariar e mapear elementos da nossa cultura na comunidade, valorizando as pessoas que produzem arte ou outras manifestações culturais, assim como suas produções e elementos riquíssimos de nossa cultura. Esse projeto teve envolvimento de professores de história, geografia, português, arte e educação física.

I.Est: A proposta artística do grupo para o espetáculo de 2006 foi articulado com o projeto maior, envolvendo outros professores e áreas de conhecimento. Essa atitude indica compromisso do grupo com outras ações desenvolvidas na escola.

(...)O sertão foi o cenário eleito para retratarmos em nosso espetáculo. (...) Brejeiro foi o tema definido em meados de outubro. (...)

I.Est: Rastros da construção artística pela qual optou o GGTP.

Além da ginástica, outros elementos da Cultura de Movimento compuseram o espetáculo Brejeiro: teatro, cordéis, canto coral e dança. (...)

I.Est: Outros rastros: além da ginástica, outras linguagens ou expressões culturais se somaram ao projeto artístico.

Abordamos os cenários, comportamentos, o cotidiano e artefatos culturais do povo sertanejo. (...)

I.Est: Rastros da construção artística.

(...) O espetáculo foi composto por treze coreografias, sendo oito de minha autoria e as demais de diferentes coreógrafos,...

I.Est: Diversidade de criadores na composição do espetáculo. Brejeiro um espetáculo, diversos criadores.

As feiras livres foram retratadas na coreografia Feira de

Mangaio, dançada de forma alegre por oito meninas de nível técnico intermediário. O colorido das feiras, o movimento frenético de pessoas indo e vindo, a diversidade de formas, volumes e cheiros, as muitas opções oferecidas em forma de mercadorias, tudo transformado em movimento, contribuíram para que Feira de Mangaio remetesse ao universo das feiras populares das pequenas cidades nordestinas.

I.Est: A ginástica geral teatralizando a feira livre a partir de exercícios gímnicos.

O belo e a poesia, embora presente em todas as coreografias, foram enfatizados na coreografia, Pôr-do-sol no Sertão, que também incluiu a cultura da viola e do cancioneiro. (...)

I.Est: Expressar lirismo de um pôr-se-sol sertão através da ginástica é rastro de uma opção artística.

(...) O Grupo Ginástico abordou outros temas, como: saudade e fé. A fé, tão presente na vida do povo nordestino, muitas vezes como saída ou única esperança diante de tanta demanda social, pôde ser observada nas coreografias: Oração do Vaqueiro,

Cortejo e Procissão. (...)

I.Est: Outros rastros do fazer artístico presente na proposta do GGTP. I.Est: A coreografia como estratégia para debates as desigualdades sociais.

(...) Em Saudade, coreografia homônima, trata de resgatar esse sentimento muito presente naqueles que precisaram imigrar, dado as dificuldades enfrentadas no semi-árido brasileiro. (...)

I.Est: A coreografia como estratégias para debater problemas sócio-econômicos

Entre os tantos artefatos culturais elegemos a boneca de pano, ou bruxa, para representar o universo infantil das meninas

I.Est: A coreografia como estratégia para debater a condição da criança na sociedade: trabalho infantil, infância perdida,

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sertanejas, que tem nesse artefato, a garantia do lúdico, muitas vezes o escape para prolongar ao máximo a infância, essa que costuma ser curta, visto a necessidade de trabalhar e receber responsabilidade precocemente. Retalhos, Trapos e Farrapos é uma coreografia apresentada com bastões, figurino feito com retalhos de chita, trapos e farrapos de outros tecidos e bordados com lantejoulas e miçangas para tratar do artefato eleito.

gravidez precoce. I.Est: Retalhos, Trapos e Farrapos, quando a coreografia não é estratégia de debate e revela apenas o que se propõe, sem se preocupar com seu caráter político ou pedagógico, mas numa releitura do objeto apreciado.

Forró, coreografia do Grupo Ginástico, finalizou Brejeiro. Uma coreografia alegre inspirada no mito do forró-bodó. Forró em

Limoeiro, Sebastiana e O Canto da Ema somaram-se nesse momento final. A coreografia anunciava o fim do espetáculo em clima ainda de início de festa, quando convidava todas as pessoas presentes em continuar a festa com dona Zezé, o caboclo brejeiro, comadre Sebastiana e a Ema. (...)

I.Est: Forró: uma coreografia festiva para anunciar o final do espetáculo. Uma estratégia para que o espetáculo fosse encerrado com o espírito festivo que envolve uma trajetória de dificuldades do nosso povo.

(...) O público parecia não acreditar que chegou ao fim. Apesar do espetáculo ter uma duração aproximada de uma hora e meia, a sensação era que eles queriam mais, visto que após a reverência, as pessoas continuavam no espaço, algumas até sentadas, como que esperando algo mais acontecer. (...)

I.Est: A função do espetáculo se fez ao perceber que o público estava envolvido na atmosfera proposta pela apresentação, na condição de expectador, a espera de algo mais. Essa vontade por mais revela a aprovação do público frente ao apresentado.

E para confirmar esse deleite temos o relato de uma professora: As coreografias do grupo ginástico também se destacam pela postura profissional das meninas e principalmente pela criatividade, pelos movimentos que são executados com muita sintonia entre as integrantes do grupo, enfim a beleza das apresentações do grupo ginástico da E.M. Terezinha Paulino de Lima não é possível descrevê-las no papel, só assistindo para sentir.

I.Est: O que a professora – espectadora identifica como postura profissional é a forma pela qual os membros da GGTP vêem a g.g. e o evento do qual participa. I.Est: Quando a professora-espectadora diz não ser possível descrever no papel a beleza das apresentações é porque a mesma se apresenta num estado de vertigem, esse estado se dá entre o sujeito que vê e o objeto que é visto.

(...) Meninas, alunas-artistas da E. M. Terezinha Paulino, desfilavam no linóleo os frutos dum trabalho-aprendizado do ano, apresentavam-se a seus pares, parentes, docentes, outrem... apresentavam-se com uma segurança na execução dos movimentos, creio, maturada na excelência do processo pedagógico do movimento; uma busca continua de sempre corresponder a estesia do belo, que nem mesmo os olhares vacilantes aqui-e-ali submergiram o fulgor do espetáculo em cena.

I.Est e Étc: O trabalho, o esforço, a perseverança como condições para o amadurecimento e a segurança do gesto técnico. I.Est: Tanto a segurança quanto o amadurecimento do gesto técnico são postos pelo apreciador como condicionantes para que sua experiência sinestésica com objeto a natureza bela revele a perspectiva: Essa natureza bela se dá na relação entre objeto-sujeito de forma contínua.

...descrevem o fascínio e a magia exercida, sobretudo, pelos recursos cenotécnicos empregados no espetáculo, o nível técnico das ginásticas e conseqüentemente das coreografias, além do espetáculo em si, que contou com outros grupos convidados.

I.Est: O fascínio observado é entendido como a vertigem do sujeito frente a uma experiência, no caso, de beleza que ainda não tinha sido experimentado. [ mas, o que há de novo? Um espetáculo de ginástica fora dos padrões estéticos predominantes e que abraça uma natureza teatral, num espaço pouco comum: a escola pública]

Para mim, Brejeiro inaugurou um novo momento para o projeto. A idéia de realizar um grande espetáculo de fim de ano na própria escola, ofereceu a comunidade, a oportunidade de apreciar de perto uma produção de bom nível artístico e executado por pessoas do próprio bairro.

I.Est: Brejeiro marca no grupo a iniciativa de investimento cultural, proporcionando aos alunos envolvidos; espectadores, membros da comunidade escolar ou visinhos, entre outros convidados o contato, a experiência sinestésica com o espetáculo e com os temas, imagens, mensagens, alegorias e artifícios que nele perpassam.

(...) Conseguimos, com recursos da própria escola, investir em figurino e em cenário; embora simples, os mesmos foram funcionais e ajudaram a contar a história como queríamos. O som não tinha uma boa potência, sua baixa qualidade quase comprometeu todo o espetáculo, contudo superamos a adversidade e assim mesmo realizamos as apresentações com êxito.

I.Est: A escassez de recurso não justifica o não fazer, a mesma nos desafia com a seguinte questão? Como fazer? I.Étc: Superar as adversidades aponta a superação como componente moral importantíssimo na cultura ética do grupo.

Brejeiro trouxe, se não a auto-estima, a alegria e a capacidade de se emocionar para os partícipes, seus pares, entes e afins. Foi possível ver no semblante do público presente, nas ginastas e nos demais envolvidos, durante as duas sessões o orgulho de ter participado, de uma forma ou de outra. (...)

I.Est: A capacidade do sujeito se comover ao apreciar, ao mesmo participar de um espetáculo. (comover= emocionar-se e sentir orgulho do a to realizado).

(...) Olhares de espanto se misturavam as lágrimas, aos aplausos, aos sorrisos, entre outras manifestações de aceitação do que estava sendo posto ali. (...)

I.Est: A experiência estética e as manifestações do corpo frente dessa experiência.

(...) Familiares, colegas de classe, professores, funcionários, vizinhos, coordenadores, dirigentes e até pessoas da Secretaria Municipal de Educação, festejaram, cortejaram e celebraram seus jovens artistas. (...)

I.Est: A atmosfera instalada foi de aprovação, satisfação e festejo.

(...) A minha satisfação fechava ali o seu círculo. Embora, confesso, estava tão preocupado com os detalhes e o andamento do mesmo que pouco curti as honras do sucesso. O importante disso tudo é que meus objetivos foram alcançados ao término da reverência levando para a comunidade o espetáculo enquanto manifestação humana tornando-o acessível e, assim,

I.Est: O sucesso traz honras; se peocupar com os detalhes traz sucesso. [ O que é sucesso aqui?] Apresentar-se bem. Democratização do espetáculo como uma manifestação humanizante. [ o que chama de humanizante?]

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democratizando-o. (...) Ao apagar das luzes senti que a força que me movia havia se renovado, pois a minha vontade para continuar fazendo esse trabalho se potencializou, agora eu queria mais. Mesmo sem saber o que iria propor para 2007, havia em mim um desejo de fazer melhor.

I.Est: O sucesso do espetáculo renovou a vontade de trabalhar e a motivação para continuar investindo no projeto e na idéia de humanização através de uma proposta teatralizada da ginástica, através da manifestação da ginástica geral.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: PRINCIPAIS FEITOS: 2007 o ano do grande desafio

UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO A turma específica para meninos foi uma solicitação dos próprios, eles me procuraram e falaram: professor porque o senhor não abre uma turma só de meninos? Resolvi atender a solicitação na perspectiva de avançar em duas frentes, a saber: abrir um canal de acesso a ginástica para o gênero masculino e um espaço de diálogo para minimizar a resistência de separação de gênero.

I.Est/ I.Étc: A utilização da segmentação como estratégia para a inclusão.

Foram vinte o número de participações do GGTP em eventos no ano de 2007, incluindo uma viagem ao Estado de São Paulo. Essa quantidade de eventos projetou ainda mais o GGTP e deu maior visibilidade para o ProGin dentro e fora da escola, contribuindo para sua maior divulgação.

I.Est: As apresentações como estratégia para divulgação e vazão do trabalho e do seu produto.

São muitos os números do evento, números grandiosos – assim como grandiosa foi a nossa participação: dois trabalhos científicos, sendo um pôster e outro apresentado na mostra pedagógica, além de dois Festivais, entre eles o Internacional. (...)

I.Est.: Ações para além da repetição do gesto técnico. Inclui as seguintes ações: pesquisa; elaboração e participação em coreografias; participação em festivais e viagens.

Adiantar as glórias passa a falsa impressão de que foi tudo fácil, coisa que não foi. (...) Fiz os primeiros contatos e fiquei entusiasmado. O entusiasmo potencializou-se quando soube da possibilidade de levar o GGTP para o evento.

I.Est.: A dificuldade faz parte do processo, assim como o entusiasmo. I.Est.: O sonho de fazer uma viagem com o grupo a um passo.

(...) Tínhamos que providenciar o transporte e a alimentação, um trabalho árduo.

I.Est: Providencias tomada como trabalho árduo.

...reunimo-nos com os pais das prováveis ginastas que iriam para Campinas. Na reunião comunicamos o projeto, o que tínhamos conseguido e o que ainda precisávamos. Pedimos o apoio e sugestões dos pais.

I.Étc/I.Est: A participação da família nas tomadas de decisões e nas ações do grupo.

A reunião já foi uma primeira seletiva. Só permaneceram com a oportunidade de ir, às ginastas cujos pais estiveram na reunião. No segundo encontro, os pais deveriam anunciar a autorização, ou não, da participação de suas filhas no FIG. Dez meninas foram autorizadas. Só aí é que pude iniciar a montagem da coreografia. Prevendo algum tipo de contratempo, pensei numa coreografia para nove meninas.

I.Est./I.Étc: A participação da família como critério de seleção. A seleção a partir da autorização como estratégia de responsabilidade e de participação dos componentes na montagem do trabalho coreográfico.

A partir da Música Mosi-Oa-Tunya, do Victoria Falls, montamos a coreografia denominada De uma centelha nasce uma luz. Esse trabalho fala de esperança, quando tudo parece distante e impossível, a união faz surgir uma força capaz de mudar, de transformar as coisas em volta como também o espaço em que estamos. Talvez inspirado pela nova leitura do livro Pedagogia

do Oprimido de Paulo Freire, talvez pela disciplina Práticas Educativas em Movimento, parte da minha formação no Mestrado, busquei tratar, de forma poética, nessa coreografia que, o trabalho coletivo faz a diferença e que a força se encontra no diálogo entre as pessoas.

I.Est/I.Étc: A coreografia como estratégia de reflexão da esperança, união, mudança, transformação. I.Est/I.Étc: Está no diálogo a grande força a ser percebida, cultivada e exercitada.

A coreografia foi pensada para contemplar alguns aparelhos gímnicos, uns oficiais, outros não, sendo quase todos artesanais, fabricados por nós mesmos, a excessão foi a corda, ainda assim a mesma foi adaptada. Os aparelhos e quantidades, a saber: quatro pares de bastões, três arcos e quatro cordas. Nela predominou a linguagem da ginástica rítmica, com citação de ginástica acrobática e dança moderna. Não havia ginasta parada na coreografia. (...)

I.Est: Os aparelhos utilizados são oficiais ou não, alguns são fabricados pelos componentes de forma artesanal. A utilização deles nas coreografias é planejada, pensada.

(...) Mesmo nas composições em que parte da equipe manuseava aparelhos, as demais estavam colaborando numa formação de

I.Est/I.Étc.: O cuidado para que todas participem da coreografia integralmente e não parcialmente.

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ginástica acrobática. Por exemplo: enquanto haviam quatro meninas com quatro pares de bastões executando a série, as outras cinco estavam em uma formação acrobática. (...) (...) Quanto as citações de dança moderna, é possível visualizá-las diluidas na coreografia, ora em forma de deslocamento, ora no contato entre ginastas, ora na ida ao chão.

I.Est: Flexibilidade na utilização de diferentes linguagens nas produções; uma tendência da arte contemporânea.

Com a coreografia quase concluída e sem a certeza de que iríamos para Campinas, conversei com as meninas. Disse-lhes que embora com a coreografia montada, ainda faltava limpá-la e que, não era garantido viajar, pois ainda não tínhamos garantido o transporte e a alimentação.

I.Est: Embora a as dificuldades e incertezas, o trabalho prevê as incertezas e imprevistos.

(...) Pensei na seguinte estratégia, recolher assinaturas em apoio a nossa participação no FIG. Chamei as meninas para conversar e falei-lhes da idéia, elas aprovaram; reuni alguns seguimentos da escola e em seguida reuni os país para falar da coleta de assinaturas. Foi com o objetivo de manifestar apoio ao Grupo Ginástico da Escola Municipal Terezinha Paulino e sensibilizar as autoridades a investirem recursos no transporte de treze pessoas, integrantes da delegação, que surgiu um grande mutirão. A Escola Municipal Professora Terezinha Paulino de Lima foi mobilizada no intuito de levantar uma lista de assinaturas contendo inicialmente mil nomes.

I.Est: A convocação e engajamento dos sujeitos enquanto estratégia para o envolvimento, mobilização, articulação, planejamento e ação em razão de compartilhar as ações.

Essa lista de assinatura tem como objetivo manifestar apoio ao Grupo Ginástico da Escola Municipal Professora Terezinha Paulino de Lima, localizada no Parque dos Coqueiros, para que o mesmo chegue a Campinas-SP com o intuito de participar do IV Fórum Internacional de Ginástica Geral, que acontecerá dos dias 23 a 26 de agosto de 2007, nas dependências do SESC Campinas. Na oportunidade estaremos representando e divulgando Natal e o Rio Grande do Norte. Desde já agradecemos o engajamento nesse projeto que além de ser pedagógico, artístico, esportivo e, portanto, cultural é também social.

I.Étc: A lista como instrumento político reinvidicatório, possível num estado democrático. Recurso esse utilizado para exercitar a participação dos sujeitos envolvidos no processo.

As assinaturas foram coletadas em pontos de grande circulação da zona norte, leste e sul da cidade. (...) Lembramos que mesmo as ginastas que não foram para Campinas, além de pais de outras ginastas não contempladas, colaboraram na coleta das assinaturas.

I.Est: Organização, articulação e planejamento como elementos éticos presente na proposta pedagógica do GGTP.

Conseguimos recolher 1800 assinaturas válidas, ... Este número superou a nossa meta que foi de mil assinaturas o que demonstra que a sociedade apóia esse tipo de iniciativa e do investimento público na formação e divulgação cultural.

I.Est: A avaliação como parte do planejamento.

(...) Não fiz nenhuma exigência, pedi-lhes apenas que viabilizasse da forma mais econômica para o erário público. Depois de muitas idas e vindas, de esperas, dos caminhos tortuosos e enfadonhos da burocracia, tive a notícia da liberação das passagens aéreas.

I.Est./I.Étc.: A persistência como valor moral e como experiência do sujeito no mundo, um elemento ou componente da trajetória pedagógica e individual.

Sai da SME direto para escola, havia aula nesse dia. Imagine a minha alegria em poder oportunizar a todos, eu e elas, a participação do GGTP no FIG. Cheguei à escola e logo reuni todas para dar a notícia. (...)

I.Étc: O estado de alegria e o pensamento de oportunizar são traços de um comportamento ético altruísta.

(...) Planejei tudo. Criei certa expectativa, conseqüentemente uma atmosfera de tensão. Um silêncio breve e de cabeça baixa, que deve ter durado uma eternidade para elas, que aguardavam já com ansiedade alguma notícia, foi assim que iniciei a minha apresentação. Estabelecida a expectativa em torno da mensagem a ser anunciada, procurei falar em tom baixo, com uma feição desgastada e desanimada, como se fosse dar uma notícia ruim. Levantei vagarosamente a cabeça e, olhando em seus olhos, disse-lhes calmamente: ― Sentem todas. Algumas teimaram em ficar de pé. Eu voltei a olhar pra baixo, e quando subi falei-lhes com entusiasmo e alegria o seguinte: ― Arrumem as malas, nós vamos viajar e é de avião. (...)

I.Est: Os laços construídos na convivência permitem atitudes pandegas que não implicam em prejuízo para o sujeito, ou contrário fortalece o convívio.

(...) Gritos, choros e outras reações se misturaram. A escola em peso correu para saber do que se tratava. Logo a notícia se espalhou e os que chegavam, somavam-se aos choros, risos e festejos. Foi um momento de arrepio. Ver e ouvir tudo aquilo era algo de emocionar até corações dos mais endurecidos. Atuação a parte, imagine o que foi para elas ouvir essa notícia... Quanto tempo fazia que elas esperavam por isso? Os esforços delas, dos pais e da escola foram recompensados.

I.Est: A experiência de se emocionar em grupo é fruto do logro, após esforço e trabalho árduos, como também de relações ao longo do tempo e dos frutos que essa relação dá.

Motivações todos nós tínhamos de sobra naquele instante. Terminamos a limpeza da coreografia; organizamos figurino,

I.Est: As muitas etapas e ações que se sucedem nelas apontam o fazer, as responsabilidades da prática docente. Aqui a

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aparelhos, agasalhos; reunimos os pais mais algumas vezes para acertar detalhes da viagem. Ajustes feitos, eis que chega o grande dia. Nos reunimos momentos antes do embarque na própria escola. Lá verifiquei figurinos e aparelhos um a um; oramos na quadra junto com os pais; seguimos (os membros da delegação e os respectivos responsáveis) no microônibus da prefeitura até o aeroporto. Chegando lá nós nos despedimos dos entes e embarcamos em direção a cidade de Guarulhos,...

prática ou o fazer pedagógico ultrapassa as paredes da escola, quando a ação se expande dessa forma, aumenta também a responsabilidade e os cuidados com os sujeitos e as ações que reverberam neles.

A felicidade nas meninas estava estampada em seus rostos, uma mistura de alegria e de medo diante do desconhecido. (...)

I.Est: O paradoxo entre felicidade e medo revela um ponto da trajetória pedagógica.

Ao desembarcar em Guarulhos, fomos comunicados que não haveria vôo para Campinas e que a empresa aérea nos dariam o café da manhã e o translado de ônibus até a cidade do evento. Achei ruim inicialmente, mas depois ponderei e vi o quanto seria rico para elas atravessar a cidade de São Paulo em direção a Campinas. Particularmente gostei da viagem, mas elas estavam cansadas e enjoadas.

I.Est: O imprevisto é comum no percurso da vida, acontecem coisas que não estão nos planos. É preciso está atento para esse fator, manter a paciência para ponderar o melhor caminho.

(...) As meninas ficaram deslumbradas com o lugar, um hotel fazenda belíssimo. O mesmo que recebeu todos os grupos estrangeiros presente no FIG.

I.Est: A experiência sinestésica com uma espaço diferente rotineiro.

(...) Na oportunidade pude estabelecer as primeiras e boas conversas com outros professores/pesquisadores. (...)

I.Est: A troca de experiência entre pares.

Logo em seguida ao jantar, ainda no primeiro dia, houve o show de abertura com Antônio Nóbrega. Para minha surpresa elas não conheciam o artista em questão e ficaram apáticas ao Show. As meninas não demonstraram muito encanto, alegavam cansaço físico da viagem e do dia. (...)

I.Est: A adaptação a um espaço estrangeiro.

No dia seguinte, as meninas ainda muito desgastadas fisicamente, seguiram para o café da manhã. Visivelmente abatida, uma das meninas que, havia passado mal na noite anterior, desmaiou na mesa do café, causando certo alvoroço. (...)

I.Est: O contato com outros fatos não previstos. A relação com o imprevisto traz maturidade e experiência no tratamento com fatos novos.

(...) Nesse meio tempo fizemos aula de alongamento e de balé, tomamos banho de piscina e circulamos pelas dependências do hotel. (...)

I.Est: A adaptação ao espaço novo. A utilização do espaço como estratégia.

(...) A saudade pegou-as de cheio, nada agradava, a maioria delas. (...)

I.Est: A saudade o maior desafio. Saudade: ausência de convivência c/ os sujeitos da rotina.

(...) Algumas meninas dormiram, outras assistiram impacientes as apresentações, poucas curtiram tudo. (...)

I.Est: Conseqüência da saudade e do novo lugar.

Era o grande dia, nós iríamos apresentar a nossa coreografia no Festival Internacional de GG, o terceiro do FIG e o mais esperado por nós do GGTP. Eis que chega o grande momento. As meninas perfiladas esperavam no corredor de acesso, entre a concentração A e a arena, o término da leitura que anunciava o GGTP, para o posicionamento na área destinada a apresentação.

I.Est: A experiência sinestésica que envolve os sujeitos envolvidos com o momento que antecede a entrada para a apresentação. O caso do professor.

Uma emoção toma todos nós, quando ouvimos a música de entrada. Eu disse-lhes algo que não me lembro, arrasem, força, vamos lá... realmente, não sei. Vou para o lugar destinado aos técnicos e de lá vejo as meninas darem um show, apesar dos poucos erros. Os aplausos confirmavam a minha sensação: foi um espetáculo. Elas saíram satisfeitas e felizes com a apresentação.

I.Est: Na experiência do professor o erro não qualifica a apresentação como show, [embora saiba que o erro faz parte, pois é uma possibilidade]. Embora os erros elas deram show, ou seja, agradou ao professor e ao público.

(...) Do quarto ouvia as meninas lépidas e ruidosas a correr pelos campos verdes do hotel.

I.Est: A percepção da adaptação das meninas ao novo espaço.

...as meninas haviam se comportado bem, dançaram com os estrangeiros que lhes tratavam com carinho e simpatia. Os hispânicos as chamavam de las chiquitititas, os germânicos balbuciavam algo incompreensível, mas todos, por serem bem mais velhos, as tinham como uma espécie de mascotes do evento.

I.Est: Contribuiu para a adaptação ao novo espaço a aceitação dos integrantes do GGTP pelos demais sujeitos. O tratamento Cortez dado pelas delegações estrangeiras potencializou novas teias de convivência.

...nos apresentamos no último festival do FIG, destinado as escolas e clubes, nesse evento não fomos muito bem. Superada a tristeza por não ter encerrado como gostaríamos nossa participação, e já no aeroporto, ...

I.Est/I.Étc.: Lidar com as situações frustrantes faz parte do processo. Exige paciência, avaliação e novas decisões.

(...) As meninas e os pais se emocionaram muito no reencontro. Elas nunca haviam saído de perto deles, tampouco, numa distância tão grande como essa. Foi uma experiência ímpar, dificilmente apagadas das nossas memórias.

I.Est: Ao fim dessa etapa foi possível perceber o quanto a família é importante para os membros do GGTP. Foi possível observar o comprometimento da família com as ações da escola.

Talvez poucos tenham noção dos efeitos desse intercâmbio cultural para a vida de nossa delegação. Imaginem como era a imagem do mundo construída por cada uma delas antes da viagem, imagine agora como é que esse mundo se ampliou. (...) Uma pausa para refletir... Qualquer reflexão deve apontar para

I.Est: A avaliação ao término dessa ação pedagógica aponta que os objetivos iniciais foram alcançados: ampliação da perspectiva de mundo e de teia de convivência. Essa expansão do espaço de relacionamento ampliou as expectativas dos sujeitos em relação a apropria existência.

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um só caminho: o da transformação com esperança e ampliação de perspectiva para o futuro enquanto cidadãos. Dividir a Casa de Chocolate com diferentes povos, representou uma escrita em suas histórias pessoais que é difícil de aferir, mas que trarão a curto, médio e longo prazo importantes contribuições às suas vidas, com conseqüências no contexto social do lugar em que vivem.

I.Est: Os grupos estrangeiros são importantes referencias da diversidade cultural, da forma pela qual os seus membros se movimentam ou agem no espaço. Essas referencias ajudam na compreensão da diversidade cultural e reforçam o sentimento e o cultivo do respeito ao outro e a sua cultura.

A barreira do idioma que ora separaria, ajudou a aproximar a curiosidade, resgatou uma aproximação com o castelhano, inglês, alemão e até francês e italiano. A diferença de idade, de comportamento e até de gênero somam contribuições significativas uma vez que aumenta a perspectiva de diferença, respeito e tolerância. Respeito, aliás, é só uma virtude moral entre tantas lições de ética vividas nesse período.

I.Étc: As barreiras culturais serviram para o amadurecimento de valores éticos e no cultivo da aceitação, todos importantes caminhos para o desenvolvimento humano (humanização das relações).

Identificamos ainda enquanto contribuições: as diversas apresentações apreciadas nos quatro festivais dentro do FIG; o intercâmbio com diferentes técnicas corporais; com elementos gímnicos, antes nem conhecidos; com ginastas de várias modalidades gímnicas e com a diversidade de projetos estéticos apresentados pelos grupos nacionais e também internacionais.

I.Est: Eventos dessa natureza ampliam novas perspectivas pois somam novos referenciais para o individuo não só na convivência mas na arte/técnica de novos elementos, sendo esses importantes para melhorar a qualidade dos recursos gestuais e coreográfico, aumentando a qualidade do trabalho realizado.

Temos a certeza de que estávamos diante de uma aula para além das paredes da escola, uma aula de aproximadamente 96 horas, onde a saudade, a superação, o encantamento, a falta de apetite, as indisposições, a magia, a alegria, o cansaço, os aplausos fizeram parte de um contexto único; como fez a matemática, a língua portuguesa e as estrangeiras, arte, educação física, ciências. Valeu o esforço e as horas dedicadas para sensibilizar as pessoas da importância desse investimento educativo e, portanto, social, além de outros esforços que ficam nas entrelinhas.

I.Est: Essa viagem aponta que a sala de aula supera as quatros paredes tradicionalmente compreendida, ela se expande, sendo o professor, a escola, os pais e os alunos responsáveis por essa decisão. Quando a sala de aula se expande aumenta o campo/espaço a ser percorrido, a perda do foco aumenta, assim como aumenta a teia de convivência e na mesmo proporção do conjunto espaço-foco-convivência, amplia-se os desafios.

O maior investimento que se pode fazer é na pessoa. Esperamos para o futuro que as dez ginastas que participaram do FIG possam multiplicar suas experiências, incentivando outros jovens em situação de risco e ociosos a praticarem ginástica enquanto uma experiência estética, educativa, cidadã, mas acima de tudo ética, mobilizadora e transformadora.

I.Est: A ginástica geral é cultivada na E.M.Terezinha Paulino tomando a seguinte orientação: um campo para experiências estéticas, educativas, de cidadania, ética, de mobilização e de transformação dos sujeitos envolvidos.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: NOVAS OPORTUNIDADES: A experiência competitiva

UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Mesmo entendendo a vontade de competir que toma boa parte dos alunos envolvidos no Projeto Ginástico, abraçar esse projeto está além das minhas possibilidades, uma vez que implica em fatores que restringem a minha ação pedagógica no grupo. Fatores impeditivos como falta de recursos para inscrição e federalização de ginastas; aquisição de equipamentos, aparelhos e figurino apropriado, dificultam ou, mesmo, inviabilizam seguirmos com essa proposta.

I.Étc: Há o desejo de competir por parte dos sujeitos, vontade essa reprimida pelas limitações das ações. A consciência de limitações surgem como desafios ou como resignação do professor em superar as dificuldades ou deter-se ou limitar-se as fronteiras impostas pela dinâmica das políticas para educação pública.

Por eu não apreciar o discurso da dificuldade, tão cansada no espaço de convivência doscente ou mesmo nas instâncias que gerem a educação, constantemente tomadas para justificar a falta de atitude e de criatividade, aspectos fundamentais de iniciativa, é que venho buscando novas estratégias para suprimir parte dos problemas. Uma delas foi a orientação como forma de reflexão.

I.Étc: A postura do professor é de superação das adversidades. Novas estratégias foram pensadas, o mesmo destaca a orientação para a reflexão.

Já faz algum tempo que busco orientar os alunos apaixonados pelo fenômeno competitivo que, a vertente da ginástica geral têm outros encantos, sendo próprios dessa modalidade e que se diferencia das modalidades gímnicas competitivas, por exemplo, a satisfação encontrada no ato de se apresentar: uma experiência estética, desenhada no corpo a partir das sensações percebidas. Outra estratégia pensada foi traçar um paralelo entre pós e contras, cujo objetivo foi contribuir para uma reflexão a partir da experiência. Amenizar a vontade quando o sonho de competição esta muito vivo é muito difícil.

I.Étc: Não nega a competição mas realçar os “encantos” de uma atividade não competitiva relevam a dimensão ética da orientação dada, pois expõe valores dessa prática e conduz a aceitação do outro. I.Est: Traçar paralelos entre os prós e contras de uma atividade competitiva em relação a uma não competitiva apontam os caminhos do fazer pedagógico.

A vontade de competição me fez realizar um torneio de Ginástica Rítmica (GR) nos Jogos Internos da E.M. Terezinha Paulino, ...

I.Étc/I.Est: Como contraponto a ginástica geral, por natureza, uma atividade não competitiva, o professor lançou mão da GR

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O objetivo foi que elas experimentassem não a ginástica competitiva, mas a experiência da competição em si. Trabalhamos desde o início do ano com a idéia. Com muita antecedência organizei um regulamento, adaptando o código oficial da Federação Internacional de Ginástica (FIG).

como referencia competitiva. Essa estratégia avança as fronteiras da discussão/reflexão para o campo d experimentação, oportunidade de por em prática o trabalho inicial que foi construir um paralelo entre atividade competitiva e não competitiva. A proposta pedagógica caminhou da reflexão para a experimentação.

Chega a impressionar como a competição motiva. Embora a competição não fosse obrigatória, para minha surpresa, se escreveram oito equipes...

I.Étc/I.Est: Embora não fosse obrigatória, a competição atraiu um número significativo de ginastas o que demonstra o alto interesse e procura pelo fenômeno desportivo.

Ao final, a satisfação inicial de alegria e euforia das meninas quanto ao torneio e a competição se transformaram. Foram premiadas as equipes e ginastas do primeiro ao terceiro lugar da classificação. Embora quase todas tenham recebido medalhas, foi visível que a alegria final foi para poucas (...).

I.Étc/I.Est: Foi possível avaliar o evento competitivo ao final. Essa avaliação pode suscitar uma reflexão. Cabe ao professor estimular ou não.

Na ocasião pude trabalhar com algumas alunas do ProGin os seguintes elementos: discórdia, desunião, competição, classificação, união, colaboração, entre outros valores morais e componentes estéticos da convivência. Elas viveram a experiência de mergulhar na ginástica pelo viés competitivo. O torneio trouxe ainda a melhoria da qualidade técnica e as intrigas. Estas últimas geradas a partir da idéia cultivada pelas ginastas no decorrer do caminho que a competição apontaria a melhor. Nesse caminho foi esquecido que ao apontar a melhor encontraríamos o pior, a intriga. Ainda sobre o evento foi possível avaliar quanto a qualidade técnica dos exercícios e ao companheirismo das concorrentes; refletir a condição de vitorioso e de derrotado; e a responsabilidade no exercício da nossa vontade.

I.Étc: O professor fez a opção por discutir os valores éticos que envolve um ambiente competitivo refletindo a própria convivência nesse tipo de atmosfera e seus componentes: vitória, derrota, companheirismo, discórdia, união, desunião, colaboração.

Esse evento serviu ao nosso objetivo inicial: parâmetro para que nós pudéssemos comparar um festival de GG com uma competição de GR, apontando aspectos de um evento competitivo com um não competitivo. O resultado foi a constatação da pressão que um evento competitivo exerce na pessoa, em forma de ansiedade, angústia, sobrecarga de treinos, dores, desconfiança, só para citar alguns.

I.Est: O evento competitivo como estratégia do ensino.

Outros eventos não competitivos sucederam ou antecederam a nossa competição. Estes serviram como parâmetro para traçar o outro lado do paralelo. Mesmo eu sempre enfatizando as diferenças e me posicionando em favor da proposta da GG, alguns integrantes concordavam, outros não, porém a maioria vê encanto nos dois tipos de eventos.

I.Est: A relação sinestésica entre o sujeito e experiência a qual dói exposto é quem delibera o estado de encanto e predileção.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: NOVAS OPORTUNIDADES: Novos talentos UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Em muitas oportunidades pude conversar mesmo que informalmente com meus pares, Professores de Educação Física e técnicos de alguma modalidade gímnica ou não. Falávamos, entre outras coisas dos talentos e dos desperdícios nas escolas públicas em nossa cidade e em nosso país. Sabemos que não só ginastas talentosos, matriculados nas escolas públicas e com a vontade de competir, não tem a chance, uma vez que falta-lhes a estrutura necessária. O que narrarei a seguir são fatos inusitados que acontecem no contexto que estou abordando, ou seja, o esporte na escola pública.

I.Étc: A troca de informações através do diálogo entre os pares como ferramenta de consolidação da rede de partilha dos problemas e soluções comuns à área da Educação Física e do Desporto escolares.

(...) Sempre digo para os meus alunos que as oportunidades devem ser aproveitadas,...

I.Est/I.Étc: Caracteriza uma orientação (conversa) educativa para a vida do educando.

...a mesma retornou pedindo para continuar no GGTP, mesmo fazendo parte da sua nova equipe. Aceitei sem restrições. A mesma argumentou que queria ajudar as meninas mais novas, com menos experiência. Naquele instante, tudo que investi e apostei numa proposta educacional norteada por uma cultura altruísta, emergiu com uma força impressionante. A atitude de L me emocionou profundamente, vi meu trabalho enquanto professor germinar. L voltou e continua compromissada em passar sua experiência para as meninas mais neófitas.

I.Est: Os laços afetivos entre o sujeito que pertenceu a escola e a própria determinaram a vontade de retornar. I.Étc: A conduta de voltar com intuito de contribuir revelam características éticas, benevolência e o altruísmo. I.Est: Esse fato conduziu o professor a avaliar sua prática, numa projeção para o futuro de seus alunos e do seu esforço no cotidiano docente.

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: NOVAS OPORTUNIDADES: Outros caminhos

UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Na oportunidade comentei com a Professora que havia outros talentos, que ali estavam apenas cinco meninas de um universo cerca de seis vezes maior, entre meninos e meninas, e que eram aspirantes de prodígios que só precisavam ser descobertos, oportunizados e lapidados (...)

I.Est/I.Étc: O comentar é rastro de uma troca de experiência (convivência) entre pares.

Poder ver essas meninas crescerem, preenchendo os espaços que outrora só os abastados teriam a oportunidade, me enche de orgulho e satisfação. Sinto-me honrado enquanto pessoa e enquanto profissional. Dar oportunidades, quando não é muito comum dar, e, abrir portas, quando na maior parte das vezes presenciamos o seu cerrar, devem ser entendidas como uma realização pessoal, que me enche de prazer e satisfação. Credito isso às escolhas que fiz: pela Educação. E para ser mais específico: pela Educação pública de qualidade.

I.Est: O processo e a experiência no grupo abrm possibilidades que fora desse contexto, possivelmente não ocorreria. São as oportunidades no percurso do processo pedagógico no GGTP.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: UM PROJETO ESTÉTICO IRREVERENTE UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO Apreciado entre os muros da escola, o Grupo Ginástico da Escola Municipal Terezinha Paulino (GGTP) vem despertando cada vez mais interesse de seus membros. Fora das paredes, o GGTP é cada vez mais requisitado, recebendo convites para participar de diferentes eventos. Esses eventos trazem o reconhecimento ao GGTP e serve para divulgar não só a escola, mas o trabalho em ginástica geral que vem sendo produzido no âmbito da escola pública (...)

I.Est: Os eventos são tomados como possibilidade, oportunidade e visibilidade para o GGTP, seus componentes e a própria escola.

Desde sua origem foram aproximadamente 78 apresentações públicas, entre elas, dois espetáculos próprios. As primeiras apresentações, ainda em 2004, objetivaram incentivar, motivar e despertar o interesse das alunas/ginastas para a prática da ginástica geral.

I.Est: O número expressivo de aparições públicas acentua a toca de experiências dos ginastas com outros espaços e outras pessoas. Seus componentes são sujeitos e objetos dessa convivência. Sujeito que sente, se movimenta e transforma o espaço e objeto quando é observado, apreciado, ou não, transformado pela manifestação de outros sujeitos no processo. Na mesma linha, entendemos o público presente nesses eventos, público esse que não se repete o que aumenta a visibilidade.

O Auto de Nosso Senhor é uma coreografia gímnica que trata do nascimento do Menino Deus, Jesus Nosso Senhor. Durante quase cinco minutos, contamos a saga da Sagrada Família. A coreografia é dividida em quatro partes, a saber: o banquete hebreu, a perseguição às criancinhas, o presépio e, finalmente, a glória ao Senhor. Temos essa coreografia como um momento de agradecimento ao Nosso Senhor por tantas graças alcançadas não só no GGTP, mas em nossas vidas. Essa coreografia inaugura na cidade uma nova perspectiva na ginástica, falo de tematizar e expressar algo a partir de um código gestual que em sua tradição não tem essa prática; prática essa muito comum nas expressões artísticas como o teatro, a dança e a música. A coreografia foi bem aceita pela comunidade gímnica local. A euforia dos aplausos e a verbalização dos elogios por outros técnicos e técnicas, por Professores de Educação Física e dirigentes, ao término da apresentação evidenciam tal aceitação.

I.Étc: a coreografia como exercício de gratidão. I.Est: Tomar as expressões teatrais como referencia na produção coreográfica em ginástica revela uma irreverência, visto que tradicionalmente a estética da ginástica não atende essas formas. as coreografias gímnicas tradicionais atendem a necessidade de compor, executar e apresentar uma série de exercícios. [notoriedade de demonstrar a série? Sua notoriedade está em promover o ginasta ou a equipe de ginástica que apresente o conjunto de exercícios com maior dificuldade e melhor execução, condição essa para que se tome o valor artístico da performance.]

No mesmo caminho seguiu a outra coreografia do GGTP. Falo do Tribunal das Chamas. Essa coreografia segue uma narrativa, parte de uma história fantástica de seres e de mundos imaginários (...) A coreografia apresentada provocou grande euforia no público presente. Antes de dar início à coreografia propriamente dita, a história (release) é contada (e não lida) para o público presente. Isso é um artifício para que as pessoas entrem na atmosfera, tanto os ginastas que vão se apresentar, quanto os expectadores. Durante a narrativa, os ginastas vão tomando suas posições na quadra e formando o Tribunal. Ao término da história, o espaço está tomado pelos personagens, pelo colorido de seus figurinos e pela magia tão esperada da apresentação. O cenário é de um Tribunal. A coreografia começa e nossa intenção é que ela dê um desfecho à história contada. A repercussão da apresentação foi de aceitação, observado o calor dos aplausos e as manifestações verbais de elogios.

I.Étc: A coreografia como estratégia para o debate e reflexão da justiça, amor, conflito, bem mal e a ausência dessas condições. I.Est: A narrativa muito comum nas diferentes linguagens artísticas, inaugura uma nova forma de conduzir a apresentação gimnica. [Embora problematize quanto o estabelecimento fronteiriço entre dança e ginástica, principalmente no entendimento do público leigo, o envolvimento dos ginastas e do público foi diferente.]

A repercussão desse projeto estético que abraçamos no GGTP é o sinal de I.Étc/I.Est: A opção por uma estética teatral para as

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que escolhemos, entre tantos, um bom caminho. Nosso trilhar nessa estrada não é à toa, partimos de referenciais e de uma experiência de vida. Os referenciais a qual me refiro são os do Teatro e da Dança, enquanto manifestação artística vividas por mim, na condição de ator, bailarino, diretor, professor e coreógrafo. Uma vez que essas ações são parte da minha experiência de vida. Não sigo uma estética específica de Teatro ou de Dança, porque o que faço são coreografias gímnicas para ginástica geral. Se seguisse essa ou aquela escola de Dança ou de Teatro o que eu faria não seria ginástica geral e sim essa ou aquela Dança ou Teatro (...)

produções coreográficas na GGTP revelam outras opções: a estratégia para discutir temas transversais e sua aplicação na convivência. Para que não se tome opção por escolha, é preciso enfatizar que esse acontecimento foi possível visto a experiência de vida do professor e seu envolvimento com outras linguagens: teatro e dança.

(...) Não pretendo discutir se somos arte ou esporte. Adoto a seguinte identidade: somos ginastas que fazemos um trabalho gímnico irreverente e pretensioso, porque ultrapassamos as barreiras da estética tradicional da ginástica competitiva e buscamos em nossas apresentações o “status” de espetáculo.

I.Est/ I.Étc: Identidade pedagógica dos sujeitos no fazer gímnico no ambiente escolar.

Seguir esse caminho não é uma necessidade de inovar, embora, eu reconheço que inove. A idéia parte da seguinte questão: porque não podemos abordar em nossas coreografias temas já exaustivamente visitados por diferentes manifestações cênicas? Foi a partir dessa pergunta que começamos caminhar rumo às barreiras estéticas impostas historicamente a ginástica, ou seja, seus tratados rígidos. Refiro-me aos tão temidos códigos das modalidades de ginástica de competição. No caso da ginástica geral isso é diferente, pois como sabemos sua orientação internacional, a partir da Federação Internacional de Ginástica (FIG), em seu comitê específico, denominado recentemente de Ginástica Para Todos, admite-se maior liberdade no processo de criação. Sendo assim, nossa ação não se caracteriza como uma transgressão, e sim, como uma irreverência.

I.Est: Ultrapassar as barreiras da tradição gimnica é uma inovação. A inovação não é posta como intencional. A condição da inovação e a irreverência.

Uma vez que sem um código gestual que, a meu ver, reduz as possibilidades criativas, a GG é um campo estético fértil a ser explorado. A ginástica geral me dá essa liberdade enquanto criador, na condição de coreógrafo que sou. Ela me permite amalgamar diferentes linguagens numa perspectiva coreográfica em ginástica, para a produção de espetáculos gímnicos. O espetáculo torna-se assim uma possibilidade na GG, com uma estética diferente do espetáculo esportivo. A estética dos nossos espetáculos se aproxima da do Teatro, da Dança e do Circo.

I.Est: Os códigos oficiais da ginástica são limitantes, pois reduz o campo criativo ao que determinam as regras impostas em colegiados. O rompimento com as regras pré-estabelecidas em códigos aumenta o potencial criador e cria um sentimento de liberdade. I.Est: O fazer coreográfico no GGTP se distancia da estética esportiva na medida em que se aproxima das artes.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: O PROCESSO ENQUANTO AÇÃO PEDAGÓGICA UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) Busco nessas concepções desenvolver a autonomia do ginasta/sujeito e não coisa, oferecendo-lhes situações de co-responsabilidade. Atribuir tarefas, passar responsabilidades e acompanhar esse processo é parte da minha ação pedagógica. Compreendo autonomia como a capacidade do indivíduo de ouvir, ver, sentir o outro, criticar, sugerir e agir modificando a sua realidade. O sujeito autônomo é aquele capaz de cumprir todas essas etapas, isso inclui a iniciativa própria. O meu constante exercício para assegurar aos meus alunos a prática da autonomia é em si um desafio permanente. Contudo, os resultados obtidos muito me gratificam e me dignificam, esses são os sentimentos que sinto enobrecer-me e que me fazem amar minha condição.

I.Est/Étc.: Autonomia é o que se busca, ou se objetiva, na prática pedagógica desenvolvida no GGTP. Entre as atribuições do docente estão: distribuição das tarefas, promover o exercício da responsabilidade e acompanhar o processo que visa a autonomia do aluno. O aluno é visto como sujeito. Que sentido o professor expõe para a compreensão da autonomia? A autonomia só é possível no sujeito e a partir de uma vontade do mesmo para essa condição atingir. Autonomia assim é entendida como uma condição humana pela qual se optou.

A conversa é um princípio fundamental, intensamente estimulada no grupo. Todos participam da vida no grupo. Seja qual for a dificuldade, todos são postos a par. Fazemos reuniões em quase todas as aulas, umas mais e outras menos demoradas. Falamos sobre tudo: limpeza e manutenção do espaço de treino e de equipamentos, figurinos e aparelhos; de orçamentos; das apresentações; das coreografias e dos temas; da vida escolar; das notas e rendimentos em sala de aula; de comportamento, no sentido lato e estrito: dos diferentes temas como: família, sexualidade, higiene, amizade, companheirismo, solidariedade, etiqueta social; também, dos desentendimentos e conflitos que o percurso da convivência expõe. Toda e qualquer manifestação de desentendimento que, inicialmente, não é resolvida entre as partes, é socializada no grupo.

I.Est/Étc.: A conversa é uma componente da experiência pedagógica vivida na GGTP sendo esse componente posto pelo docente como um principio fundamental da convivência no grupo. É no conversar que são expostos assuntos relativos a manutenção do espaço, as produções coreográficas, aos custos das ações, aos elementos mais da convivência.. A principio, é exposto pelo professor que toda e qualquer fato pode ser discutido ou socializado no grupo.

A aula também é um espaço onde os alunos/ginastas são inseridos no processo de produção coreográfica. Utilizo com eles e, principalmente com elas, pois as meninas são mais freqüentes, alguns parâmetros como o conhecer, o vivenciar processos e o criar. Entendo esses parâmetros também como condições da qualidade artística do GGTP.

I.Est/Étc.: a produção coletiva das coreografias revela uma estratégia de ensino. // Conhecer, fazer e criar são postos como condição da qualidade da GGTP

Conhecer é uma etapa do processo que objetiva a identificação de I.Est.: O conhecer como etapa do processo

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linguagens e de tendências estéticas no fazer da ginástica e em outras linguagens. Reconhecer e diferenciar expressões gímnicas, circenses e da própria dança é uma necessidade, visto que cada uma corresponde a uma área específica da Cultura de Movimento, com características próprias e fronteiras bem definidas. Ginástica, dança e circo não são as mesmas coisas, embora possuam algumas características semelhantes. Provavelmente, as mesmas semelhanças são as que conduzem ao engano de tomar as referidas linguagens como a mesma coisa. Identificar as diferentes manifestações da ginástica implica um legado de conhecimentos que me faz, não só diferenciá-las, mas me situar no meu fazer, naquilo que estou aprendendo enquanto linguagem específica: O que é ginástica rítmica, masculina e feminina; a acrobática, a artística, feminina e masculina; a aeróbica de academia e a esportiva; as modalidades competitivas e a de demonstração; as que são olímpicas e as que não são. Essas questões nos ajudam a compreender que a primeira coisa que é preciso é entender que ao fazermos ginástica, não estamos fazendo nem dança e nem circo.

pedagógico. Visa reconhecer, identificar e diferenciar linguagens e tendências. I.Est.: Conhecer para situar a prática.

Convicto de que nem fazemos dança nem circo, destaco que ambas fazem parte da apreciação estética em nossas aulas como referências artísticas importantíssimas na construção do projeto para as nossas coreografias e para os nossos espetáculos, como também, para identificar aquilo que não fazemos e realçar aquilo que fazemos: ginástica geral. Na GG toda e qualquer expressão da Cultura de Movimento é importante e valorizada para o processo de construção da coreografia. Portanto, conhecer ou experimentar tem como fim adaptar as diferentes linguagens a coreografia.

I.Est.: O conhecer não se restringe as linguagens da ginástica, mas ao universo da dança e do circo, isso para entender que o que se faz não é dançar e nem circo, mas que essas manifestações podem contribuir para o fazer gímnico no grupo.

Vivenciar diferentes técnicas corresponde à maior parte da ação pedagógica no grupo e uma das condições para a qualidade coreográfica do GGTP. Esses instantes são vividos com mais intensidade corporalmente, diz respeito às práticas propriamente ditas. Praticar as diferentes técnicas da ginástica e também da dança, além de somar novos elementos, ajudam na compreensão, no reconhecimento e na diferenciação das diferentes expressões, fato importante para que os próprios alunos beneficiados identifiquem e definam sua prática acrescentando ao seu repertório corporal novas formas de se movimentar e de se expressar.

I.Est.: Experimentar diferentes técnicas é uma característica da prática pedagógica. Nessa etapa do processo o corpo se apropria dos distintos códigos das diferentes linguagens construindo um repertório gestual amplo no que cerca o movimentar-se e o expressar-se, trazendo benefício ao aluno, pois apresenta um repertório gestual não restrito e ao grupo que pode se utilizar de diferentes recursos no processo coreográfico.

A diversidade de linguagens vivenciadas contribui também, e mais diretamente, com o processo criativo, visto a ampliação dos referenciais. Por isso é visível observar em nossas coreografias citações de diferentes expressões gímnicas, como também, diferentes expressões da dança e de outros elementos da Cultura de Movimento.

I.Est.: Posto que a ampliação do repertório gestual e o aumento do conhecimento que cerca a técnica e a linguagem, resvala momento de criação.

O saber fazer não nos basta. É necessário conhecer para nos avaliar, nos programar, definir metas, estabelecer parâmetros e eleger referências. Conhecer as diferentes linguagens da ginástica, da dança e do circo, observando vídeos, filmes, apresentações em festivais, seja em ginásios, circos ou em teatros, seja pela internet, televisão ou fotografias, também faz parte dessa construção pedagógica.

I.Est.: O conhecer como planejamento das ações.

O exercício de criação é rotineiro, acontece em todas as aulas, desde a iniciação. Antes do término do encontro, alunos e alunas são provocados e incentivados a compor uma série de exercícios, da mais simples a mais complexa. Meio a aula, antes dos ensaios, cada aluno/aluna ou grupo deles apresentam o que produziram. No início os resultados inicialmente me surpreendiam. Atualmente, o encanto é diferente, sem o elemento surpresa de outrora. Diante do ser humano a capacidade criativa não tem limite, e não podia ser diferente, por isso, não me surpreendo mais quando vejo algo inusitado, isso é constante e muito incentivado e valorizado no GGTP.

I.Est.: O exercício da criação, parte da estrutura pedagógica do GGTP. I.Est.: O exercício criativo é feito, praticado na convivência. Perpassa o fazer criativo os mesmos componentes da convivência: atritos, conversa, entendimento, desentendimento, acertos, erros, exageros, preguiça. [Fazer ponte entre as falas das meninas]

Nossa ação pedagógica inclui ainda o processo de co-autoria coreográfica. Através de processo de construção de partituras gestuais, construímos coletivamente as frases coreográficas. De posse dessas frases, dos temas e músicas, passamos ao estágio de organização da coreografia. Geralmente essa é um produto de co-autoria, visto a co-participação na construção das partituras.

I.Est/I.Étc.: A co-autoria e a co-participação, revelam a opção docente por uma proposta pedagógica em que o grupo é o centro da ações.

O GGTP vem amadurecendo na construção coletiva de coreografia. É fato que em alguns casos isolados, cerca de meia dúzia deles já obtiveram êxito na montagem de pequenos conjuntos, duplas e trios. Destaco uma aluna que montou sozinha uma série de conjunto para seis meninas da turma de iniciação, por iniciativa própria, cumprindo todas as etapas. Essa autonomia foi construída ao longo de três anos integrada ao grupo. Ora o grupo ainda receia, ora ainda é dependente da minha intervenção direta na finalização do processo, fato que considero normal. Há de se destacar que já existe um bom número de alunos criando e desenvolvendo suas próprias séries individuais.

I.Est/I.Étc.: A autonomia é sempre uma iniciativa gerada na vontade e oportunizada na proposta pedagógica. A proposta é sempre a expressão da condução e das metas traçadas pelo professor. Caso esse professor seja centralizador não possível exercer a autonomia, mesmo havendo vontade, pois suas ações não permitem ao aluno realizar e realizar-se.

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: O PROCESSO ENQUANTO AÇÃO PEDAGÓGICA: Rompendo tradições

UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO O fato do fazer gímnico no âmbito da escola não implica na produção de um fazer menor. Acostumamo-nos ouvir expressões do tipo “musiquinha”, “dancinha”, “pecinha” para denominar as linguagens artísticas produzidas nas escolas, como uma forma “menor” de arte. Ainda não criaram “ginastiquinha”, embora pese no senso comum que a ginástica geral é uma expressão menor das modalidades gímnícas. A meu ver, um engano.

I.Est.: O trabalho gímnico realizado o é com a consciência de um fazer com qualidade. Superação do uso diminutivo para se referir ao trabalho produzido na escola. Pensamento expresso de que a GG não é uma expressão menor. Essa é a consciência que eage aação pedagógica.

Sabemos que parte desse preconceito tem sua origem no fato de que a GG não atende aos apelos da cultura competitiva. Tal cultura reza a sublimação de um em relação aos seus oponentes, fatalmente classificados e ordenados de acordo com seu potencial máximo: força, resistência, habilidade, flexibilidade, agilidade, domínio da técnica. Esses aspectos determinam notas, caracterizam o virtuosismo e servem como parâmetros para distinguir o belo nas modalidades desportivas da ginástica.

I.Est.: A pouca valorização da G.G. no cenário internacional ou nacional deve-se ao seu desvinculo com a cultura competitiva. São os elementos da cultura competitiva que determinam o sentido de virtuoso e belo. A inclusão, aspecto político/ético, principal da G.G. não atrai as massas,a costumadas com outras experiências sinestésicas para tomar como espetáculo: hipeflexibilidade, extrema força, velocidade e excelência no domínio técnico.

Produzir ginástica de qualidade na escola pública por um viés não competitivo foi uma escolha minha. Uma opção que contraria a tradição, uma vez que normalmente se toma o fazer de qualidade na perspectiva de alto rendimento, sendo essa naturalmente excludente. Na tradição do espetáculo esportivo e do artístico é fatal um quadro classificatório, seja em ranking, seja em indicações a prêmios. Quando se fala em qualidade no esporte e nas artes é sempre o talentoso ou o virtuoso a ser destacado.

I.Étc.: A opção por formas ginastas e coreografias de qualidade é uma característica da proposta pedagógica do GGTP. Essa opção revela um desafio: como fazer para não excluir as ginastas de pouca qualidade?

No processo de montagem coreográfica parto sempre da seguinte questão: como posso produzir algo de qualidade sem excluir ginastas? A equação me desafia a trabalhar com a perspectiva de qualidade na ginástica, sem excluir os rotulados como “menos hábeis”, “pouco talentosos”, numa perspectiva do virtuosismo esportivo ou artístico. Refaço sempre essa questão quando vou montar uma coreografia. de beleza.

I.Étc.: A questão gerada no núcleo de sentido acima é produzida no decorrer do processo como desafio a opção feita e ao respeito aos princípios da G.G, entre eles o de inclusão.

Incluir é uma posição política da Ginástica Para Todos, ou ginástica geral, e adotada no próprio GGTP. Por isso, quando vou montar uma coreografia priorizo os exercícios de domínio geral, aqueles que todos os componentes do grupo conseguem fazer; em seguida, os exercícios de domínio parcial ou individual. A equação é montada a partir dos limites técnicos dos indivíduos do grupo. Embora as capacidades individuais sejam aproveitadas secundariamente, não deixo de valorizar o esforço individual. Mesmo não sendo muito fácil resolver essas questões, contemplo o máximo de alunos/ginastas possível, de maneira que possam participar de alguma forma.

I.Étc.: A questão lança o seguinte desafio: associar a idéia de inclusão com a de qualidade. Como estratégias para não excluir estão a utilização de exercícios de domínio geral e adequação, ou adaptação. Para valorizar os mais habilidosos são aproveitados os elementos de maior dificuldade executados por parte do grupo.

Os exercícios de domínio coletivo são importantes para incluir todos no processo de elaboração, produção e apresentação da coreografia. Já os exercícios individuais, adornam e valorizam as coreografias, assim como as colaborações gíminicas, a criação de novos elementos e a aprendizagem dos exercícios de maior dificuldade. Todos se amalgamam e, assim, compõe um quadro

I.Étc.: Os exercícios de domínio coletivo incluem, os exercícios de domínio parcial embelezam, valorizam e estimula a aprendizagem (pelos demais membros) desses elementos. Os elementos de domínio parcial são os de maior dificuldade.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: O PROCESSO ENQUANTO AÇÃO PEDAGÓGICA: A convivência e o cultivo da ética UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO (...) A ação pedagógica proposta no ProGin tem como princípio básico e fundamental a convivência. Tomamos no GGTP as máximas que afirmam que a qualidade da convivência determina a qualidade de sociedade e que toda ação humana tem sentido ético. Assim, apostamos numa pedagogia calcada na convivência como fator que implica no tipo de sociedade, e na ética como conjunto de saberes relacionados ao convívio e a qualidade de cidadão e em nossa sociedade.

I.Étc/I.Est.: A convivência como princípio básico e fundamental da ação pedagógica, porque, a convivência é vista como o fator que determina a qualidade de sociedade; e porque as ações humanas tem sentido ético. O conjunto de saberes referentes a ética são relacionados ao convívio. É esse conjunto percebido com o que determina a qualidade de cidadão e de sociedade.

Compreendemos que, a partir das aulas de ginástica em nossa I.Étc.: Os valores desejados e cultivados ao longo da proposta

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escola, estimulamos uma convivência baseada em princípios de cooperação e solidariedade; amizade; criação; troca de informações e ações; diálogo (isso inclui: crítica, sugestão e ação transformadora) entendimento; tomada de decisões; responsabilidades e cuidados consigo e com os outros.

pedagógica, revelam o perfil ético do GGTP. O perfil ético é de uma convivência cordial, pacífica, benevolente e altruísta.

O convívio e a rotina fazem parte da dinâmica que integram os alunos/ginastas com a vida da escola, da comunidade e com o próprio sucesso do projeto. Essa integração repercute nas diferentes ações do ProGin, nas famílias dos envolvidos, na rotina da escola, na relação entre os componentes do projeto (alunos/ginastas, professores responsáveis e demais membros da comunidade escolar).

I.Étc.: As relações tecidas no convívio, assim como a própria rotina de trabalho geram como resultado a interação do aluno com seus pares, com os demais membros da escola e com a própria rotina da escola.

Nem sempre foi assim. A convivência minha com as demais meninas do GGTP no inicio não era das melhores. Havia muitos ruídos na comunicação. Ora eu não era entendido, ora eu não as entendia. Ao mesmo tempo em que não me fazia entender, eu não me esforçava para entendê-las. Fato comum também entre elas.

I.Est/I.Étc.: A convivência foi sendo construída. A boa convivência é construída ou cultivada ao longo do tempo. É a comunicação o veículo para o ajuste de condutas na relação com o outro e na partilha de outras. Aprendemos a medida em que ensinamos e assim ampliamos nosso campo de percepção das coisas, com o campo ampliado somos potencialmente melhores e nessa condição nos tornamos professores. [por isso não é exigido outros fatores? O bom professor está relacionado apenas a condição de sábio?]

As coisas foram mudando e atualmente entendemos que a conversa é o primeiro e único passo para o entendimento. Qualquer crise na relação entre algum componente é socializada e resolvida no próprio grupo. O caminho da conversa é livre e, qualquer um, inclusive eu, pode ser ponto de pauta. Isso vem ajudando na qualidade das relações entre nós. Nessa perspectiva, estamos melhorando a nossa forma de nos relacionar.

I.Est./I.Étc.: A conversa como instrumento da boa convivência. É através da conversa que o grupo vem melhorando a qualidade das relações.

Através da maneira de abordar, tratar e falar uns com os outros, estamos aprimorando os laços de relacionamento. Isso implica em cumplicidade, amizade, companheirismo, fortalecendo o sentimento de grupo. Ao mesmo tempo em que facilita o processo e a qualidade de ensino e de aprendizagem do conhecimento da ginástica e dos demais saberes que a órbita; ajuda ainda na construção da identidade do grupo e na qualidade da auto-estima dos componentes, onde me incluo.

I.Est.: A forma do tratar, falar e abordar vêm se aprimorando através do convívio e seu principal instrumento, facilitando o processo de ensino e aprendizagem, construindo uma identidade e melhorando a auto-estima dos seus integrantes.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: SUJEITO 10 TÍTULO: TEM GINÁSTICA GERAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SUBTÍTULO: SABERES DESENHADOS NO PROCESSO UNIDADE DE ANÁLISE NÚCLEOS DE SENTIDO As ações pedagógicas são momentos de construção do conhecimento. Percebo nesses elementos que compõem o processo educacional no GGTP que os saberes não estão apenas no conteúdo programado, mas nos atos de conversar, refletir, criticar, criar e fazer. A partir desses elementos é possível afirmar que o exercitar é conhecer na ação, um processo que se dá no tempo e no espaço. Outro ponto a se considerar nesse ínterim é que o conhecer é exercitar o saber, o outro e a vida.

I.Est.: A compreensão das ações pedagógicas como momentos da construção do conhecimento. Os saberes não se restringem ao conteúdo programado, incluem os componentes da convivência. I.Est.: O conhecer é exercitar o saber, o outro e a vida.

Ao falar de rupturas das tradições evidencio nossa opção pela qualidade técnica dos exercícios e das apresentações coreográficas. Sabemos que ela em si aponta uma estética reta e limpa, principalmente quando nos impomos à eterna busca pelo perfeito. Mesmo perseguindo o aperfeiçoamento, temos a consciência que nunca atingiremos a perfeição, uma vez que essa é condição Divina.

I.Est.: A perseguição pelo aperfeiçoamento constante é uma opção do professor refletindo-se na proposta pedagógica da GGTP. Existe a consciência de que não é possível alcançar a perfeição, visto ser essa uma condição de Deus.

A busca de qualidade exibe o Narciso vivo no GGTP. Tal referência à mitologia grega é para suavizar a expressão que usamos no cotidiano do grupo: síndrome de pavão. O termo foi adotado para se referir a vaidade do ginasta em se apresentar bem, ou seja, bonito (...) A vontade e o desejo de exibição associado ao esforço na superação da tradição apontam o compromisso com a beleza e com a participação.

I.Est.: A busca pelo aperfeiçoamento reflete a vaidade de se apresentar bem. Apresentar-se bem é apresentar-se com beleza. A construção do belo exige vontade ou desejo inicialmente, depois esforço (trabalho) e participação.

Tais compromissos têm no coletivo e na partilha as expressões da convivência no GGTP. Uma convivência que por vezes se confunde com a experiência do prazer. Não é por acaso que, no ponto do qual trato a convivência e o cultivo ético, o compromisso surge como entendimento do outro, um exercício de aceitação e de boa relação entre pares, condição essencial para uma vida virtuosa e prazerosa em sociedade.

I.Est.: O compromisso é um traço do comportamento ético do GGTP. A convivência é posta como uma experiência prazerosa. O companheirismo parte do entendimento do outro. I.Est.: O compromisso surge do exercício de aceitação e de boa relação entre sujeitos da convivência. A aceitação do outro e a boa convivência são postas como partes essenciais para se ter numa vida virtuosa e prazerosa em grupo.

Novas oportunidades, novos talentos, novos caminhos, além de I.Est.: As oportunidades o sucesso e os talentos são

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destacar a experiência competitiva, os feitos, os prodigiosos, fala de descobertas, de elementos até então não conhecidos na experiência do grupo. Esse contato com o desconhecido, com o novo, ao mesmo tempo em que surpreende, engrandece e fortalece, aponta que estamos trilhando um caminho de sucesso.

conseqüências do processo pedagógico.

Em um projeto estético irreverente, a narrativa inaugura na ginástica uma estética já comum entre as manifestações cênicas da Dança, do Teatro e da Ópera: o espetáculo. A ousadia de produzi-los, tematizando-os, contraria as expectativas da tradição. Seus olhos e bocas vêem e falam a partir do que lhes é possível ler e ponderar. Portanto, o rótulo imposto, irreverente, a meu ver, nos qualifica, logo, aceitamos honrados.

I.Est.: O espetáculo como proposta pedagógica para a construção ou elaboração das coreografias e do trabalho gímnico realizado no cotidiano da GGTP. I.Est.: A irreverência é uma qualidade posta pelos que acompanham as produções do grupo.

No início desse texto, a vertigem diante da quantificação do tempo e a relação com as experiências vividas. Cinco anos é o que é. Afirmar que é pouco tempo ou muito tempo nos posiciona no precipício do relativismo. Acredito que podemos tomar que foram muitas experiências vividas ao longo desses cinco anos; assim como, podemos dizer que foram muitas experiências vividas nesse curto espaço de tempo. A sensação que tenho é que tudo aconteceu muito rapidamente.

I.Est.: A relação sinestésica do sujeito com o tempo e as ações executadas: tudo aconteceu rapidamente.

O começo difícil aponta a busca de maturidade, a persistência. A viagem a Campinas foi um marco da maturidade do grupo. O Poder da

Fênix, realça a capacidade que temos de nos reinventar, de nos erguer diante dos tombos, de recomeçar a rolar a pedra montanha acima, mas diferentemente de Sísifo, retomar recorrendo a novas estratégias, com organização, com planejamento e com avaliação, buscando acertar.

I.Étc.: A maturidade vem com o tempo, mas é necessário persistir, reinventar (buscar novas estratégias), e planejar [dialogando]

É a idéia da busca constante pelo acerto que desenhamos constantemente, no processo dessa ação pedagógica, os múltiplos caminhos do saber. Saberes impregnados nos corpos, sujeitos autônomos e da transformação da realidade de carências. Não estou falando de desvario e sim de magia, falo do encantamento pela vida e pelo viver.

I.Étc./Est.: É na busca em acertar, ao longo do tempo, que a proposta pedagógica e os saberes são percebidos e construídos. [portanto não são acabados].