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MACHADO, G.; MACHADO, C. B. G. Expansão Urbana na Península de Barra velha/SC e Problemas Ambientais Relacionados. In: Anais do VII Congresso Brasileiro de

Geógrafos, Vitória: UFES/AGB, 2014.

Ano da Publicação

2014

GILNEI MACHADO

Universidade Estadual de Londrina, [email protected]

CRISTINA BURATTO GROSS MACHADO

Universidade Estadual de Londrina, [email protected]

EXPANSÃO URBANA NA PENÍNSULA DE BARRA VELHA/SC E PROBLEMAS

AMBIENTAIS RESULTANTES

INTRODUÇÃO

O litoral do Estado de Santa Catarina se estende por 561,4 km, desde a foz do rio Saí-Guaçú,

na divisa com o Estado do Paraná (25°57’36”S), até a foz do rio Mampituba, na divisa com o

Estado do Rio Grande do Sul (28°21’48”S). Apresentando inúmeras praias, a zona costeira

catarinense tornou-se alvo, desde o século passado, de uma crescente demanda turística.

A atração pela orla marítima de Santa Catarina iniciou-se nos primeiros anos do século XX,

quando famílias residentes em cidades próximas ao litoral passaram a construir uma segunda

residência na faixa litorânea. Esse é o caso da praia de Cabeçudas situada junto à foz do rio Itajaí-

Açu onde as primeiras casas datam entre 1905.

Com a procura cada vez maior do litoral e seus balneários por moradores de cidades

próximas, houve um incentivo a instalação de estabelecimentos comerciais e de serviços, o que

promoveu o desenvolvimento da construção civil. As casas de veranistasocupavam, em geral,

terrenos amplos e formavam manchas contínuas que as diferenciavam das casas dos moradores

tradicionais, normalmente descendentes de açorianos que viviam da pesca.

O processo de ocupação do litoral se fez tão vertiginoso ao longo do século XX, que na

década de 1960, muitos núcleos urbanizados se emanciparam de suas antigas sedes municipais,

como é o caso de Barra Velha, município objeto desta pesquisa.

Percebe-se, pois, que o desenvolvimento e as transformações sócioespaciais do litoral de

Santa Catarina, marcado pela colonização açoriana, foram promovidos por iniciativas de pessoas

mais abastadas procedentes dos núcleos urbanos localizados próximos da fachada atlântica.

É importante salientar que as praias de Cabeçudas, BalneárioCamboriú e Porto Belo recebiam

prioritariamente veranistas da região de Blumenau, enquanto ao litoral do extremo norte, onde se

localizam as praias de Ubatuba, São Francisco do Sul, Itajubá e Barra Velha, afluíam moradores de

Curitiba, Joinville e áreas circunvizinhas.

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Atualmente é visível a desigualdade territorial na orla catarinense, provocada não apenas pelo

volume da movimentação turística, mas também pela diversidade dos estágios alcançados pelas

várias localidades em razão das diferentes temporalidades em que se intensifica a demanda turística

e, até mesmo, pela origem dos fluxos.

O adensamento dos fluxos turísticos promoveu o surgimento e a consolidação de um aparato

receptivo e deu a Santa Catarina uma posição de destaque no âmbito do turismo brasileiro. Os

locais mais procurados tendem a repetir o mesmo “modelo” turístico, caracterizado por um intenso

processo de urbanização e por grandes impactos sócioambientais. Esse é caso de Barra Velha,

situada no litoral norte de Santa Catarina, cuja ocupação e turismo se intensificaram a partir de 1960

resultando em problemas..

Cabe destacar que a ocupação da região de Barra velha não se deu apenas pelo turista que, a

partir da década de 1960, decidiu usufruir dos prazeres e da beleza do litoral norte de Santa

Catarina. Ela é significativamente anterior a isto. Como destaca Fagundes (2008), o início da

fixação de homens brancos na região de Barra Velha, se deu após a criação do povoado da “Vila

Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco” em 1660, que resultou no município de São

Francisco do Sul, ao qual Barra Velha pertenceu até 1924, passando a administração de Araquari,

até 1961 quando foi emancipado.

OBJETIVOS

Este artigo tem por objetivo analisar o processo de crescimento urbano do município de Barra

Velha/SC (Figura 01), particularmente da área referente à Península de Barra Velha, relacionando

esse processo de ocupação com os problemas socioambientais resultantes do mesmo.

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Figura 01: Mapa de Localização do Município de Barra Velha/SC.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização desta pesquisa tornaram-se necessários os seguintes procedimentos

metodológicos:

1) Busca de referencial sobre a temática da ocupação do litoral catarinense, mais

particularmente de Barra Velha;

2) Pesquisa no acervo de fotos antigas da biblioteca municipal de Barra Velha Prefeitura;

3) Realização de trabalhos de campo;

4) Realização de tomadas fotográficas atuais;

RESULTADOS PRELIMINARES

A pesquisa realizada por Machado (2013) mostra que as primeiras instalações construídas em

Barra Velha estavam, particularmente, ligadas à atividade pesqueira (caça) de baleias. Das quais se

extraía a gordura para produção de óleo, destinado a construção civil e à iluminação em casas e

ruas. Isso data de 1812 quando D. João VI incentivou a vinda de pescadores portugueses e

açorianos para a produção de óleo de baleia.

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As primeiras construções de Barra Velha surgiram na área próxima à Praia Central, Morro do

Cristo e Lagoa. Como conta a história, as primeiras casas a seremconstruídas foramas moradias de

pescadores que dependiam do mar para sobreviver, por isso estavam mais próximas a ele. Este fato

histórico é comprovado por Boer (1992), que afirmou que até meados da década de 1950, os

pescadores tinham suas residências e na orla da praia da península e praia centralonde exerciam a

sua atividade.

A série de imagens a seguir mostra uma ocupação incipiente no final dos anos 1940 (Figura

02) e início dos anos 1950 (Figura 03), intensificando-se nos anos 1960 (Figura 04) particularmente

na Praia Central e início da Península para qual já havia rua de acesso.

Por meio da análise da Figura 02, datada do ano de 1948, é possível perceber que a ocupação

inicial se deu pela organização dos ocupantes em propriedades relativamente grandes que se

configuravam como sítios. Cabe lembrar que nessa época a área pertencia ao município de Araquari

cuja sede administrativa estava localizada à uns 30 km de distância. Isso dava ao protonúcleo

urbano uma característica eminentemente rural.

No início dos anos 1950, como pode ser percebido na Figura 03, já tinham sido abertas

algumas ruas, inclusive a de acesso à Península, que já possuía também suas primeiras construções

sobre as dunas.

Figura 02: Barra Velha em 1948

Fonte: LuisBertacin (1948).

Figura 03: Década de 1950 - Vista da atual área

central de Barra Velha –Lagoa e península -

vista a partir do Morro do Cristo – destaca-se o

campo de dunas na área da península no canto

superior esquerdo da foto.

Fonte: Prefeitura Municipal (2011).

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Figura 04: Barra Velha - Década de 1960- Vista

da atual área central de Barra Velha –Lagoa e

península -

Fonte: Prefeitura Municipal (2011).

Figura 05: Vista Parcial de Barra Velha Década

de 1960. Praia Central.

Fonte: Prefeitura Municipal (2011).

Com o início das atividades turísticas no município, na década de 1960, esta área

tornou-se valorizada e passou a ser considerada nobre pelo mercado imobiliário (Figura

05), e, por agentes locais que viram no turismo um meio de expandir seus negócios

(donos de cartório, imobiliária, comerciantes, etc.). No início desta década a ocupação

no entono da lagoa cresceu significativamente e a retirada da vegetação de restinga e o

aplainamento do campo de dunas permitiu a expansão da ocupação península adentro.

O marco de ocupação da praia da Península e Central por outros segmentos que

não os pescadores foi a construção do Hotel Bella Vista (Figura 06), pertencente

atualmente à rede Candeias de hotéis. Esse hotel foi construído à beira mar entre a

Lagoa e o mar servindo para demarcar o limite entre a praia central e a da península.

Figura 06: Vista da Praia da Península com

barcos dos pescadores e carros de turistas – Foto

da década de 1980 – Prédio do Candeias ao

fundo. Destaque para a largura da praia.

Fonte: Prefeitura Municipal (2011).

Figura 07: Praia Central em 1965 percebe-se a

inexistência da Av. Beira Mar e a presença de

vegetação sobre as dunas

Fonte: Prefeitura Municipal (2011).

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Com a chegada do Bella Vista e de outros empreendimentos (Figura 07) os

pescadores começaram a ser pressionados a mudar sua colônia (porto) (Figura 06) para

outro lugar, sendo destinado a eles, no momento atual, o espaço final (canto) da praia

central. Como destacado por Machado (2013), tal fato provocou a perda de espaço por

parte dos pescadores, forçando-os a ocupar e morar em áreas distantes da praia.

Com a construção do Bella Vista, estavam abertas definitivamente as portas para a

ocupação da área da península como um todo, o que foi ocorrendo entre as décadas de

1960-1980, com a venda de lotes, por posseiros, para pessoas das mais diversas áreas do

Estado de Santa Catarina, Paraná e outros.

O problema é que a península (figura 08) é uma estreita faixa de terras

(sedimentos acumulados) (Figura 09) entre a lagoa e o oceano que se mantém graças ao

aporte constante desses sedimentos trazidos pelas ondas e correntes marítimas que

circulam perto da costa.

Figura 08: Lagoa – Península e Mar vistos da

área Central. Ocupação na década de 1980.

Fonte: Prefeitura Municipal (2011).

Figura 09: Península de Barra Velha destaque

para foz do Rio e Lagoa.

Fonte: Prefeitura de Barra Velha, 2012.

Esses sedimentos são jogados para a praia e carregados pelo vento, indo fazer

parte das dunas da península sendo aí segurados pela vegetação de restinga e por uma

série de materiais que chega com as correntes, como galhos de árvore, algas, conchas

etc.

Uma vez havendo a retirada da vegetação de restinga e aplainada a área para a

ocupação não há mais o que segure o sedimento, que é facilmente recarregado pelas

águas trazendo uma série de problemas de cunho socioambiental.O artigo que ora se

apresenta tem o objetivo de trazer ao debate alguns desses problemas socioambientais

atuais causados pela ocupação da península de Barra Velha.

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Como mencionado, o acúmulo de sedimentos na península de Barra Velha é

comandado pelas correntes que atuam no litoral do município. As correntes de inverno,

vindas do sul, trazem consigo uma carga sedimentar significativa que faz “engordar” a

praia Central e Praia da Península, já as correntes de verão, vindas do norte, varrem a

costa e levam para longe o sedimento anteriormente acumulado.

Essa carga sedimentar, aportada durante o inverno, normalmente é retida pela

vegetação de restinga que cresce sobre as areias depositadas.Em não havendo essa

vegetação a areia (inconsolidada) é facilmente retirada pelas correntes ou vai se

depositar sobre as casas ali construídas, invadindo-as e soterrando-as (Figuras de 10 a

13).

Figura 10: Casa soterrada com 1,5 m de areia.

Fonte: Gilnei Machado (2014).

Figura 12:Casa soterrada por duna de areia.

Fonte: Gilnei Machado (2014).

Figura 11: Casa soterrada com 1 m de areia.

Fonte: Gilnei Machado (2014).

Figura 13: Casa em perigo – por um lado a

erosão marinha, por outro, a deposição de areia.

Fonte: Gilnei Machado (2014).

Outro problema que a Península de Barra Velha tem enfrentado nos últimos anos,

além da invasão das casas pelas dunas, são as ressacas que a cada período de dois anos,

aproximadamente, assolam a praia e trazem problemas significativos aos moradores

dessa área.

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Quando a deposição de areia pelos ventos não ameaça os moradores é a erosão

(Figuras 14 e 15) marinha que causa prejuízos. Nos últimos 5 anos foram registradas

três ressacas no litoral Catarinense originadas pela localização do Anticiclone do

Atlântico nas proximidades da costa do estado, o qual gera ventos fortes que assolam o

litoral e geram grandes ondas.

Os moradores da Península desesperados por soluções para não perderem suas

casas passaram a entrincheirá-las com blocos de pedra, o que intensificou ainda mais o

processo erosivo, em função da inexistência de coesão entre as areias e as pedras ali

colocadas.

A praia que, segundo entrevista com pescadores realizadas por Machado (2013)

era relativamente larga nos anos 1960 (Figuras 06 e 07) atualmente não passa de um

“fio” de areia ou deixou de existir, como podemos verificar pelas Figuras 16 e 17 que

mostram a água do mar batendo nos muros de contenção construídos para proteger as

casas ou diretamente sobre as dunas.

Figura 14: Assolamento da Península pelas

ondas de Ressaca (2012). Mar à esquerda e

Lagoa à direita.

Figura 16: Ação das ondas de Ressaca sobre

muros de contenção de casa.

Figura 15: Aterro na península feito pela

prefeitura para evitar rompimento total da

mesma pelas ondas do mar(2012).

Figura 17: Ação das ondas de Ressaca sobre

muros de contenção de casa.

Na busca de soluções para os problemas que afligem a Praia da Península e,

automaticamente toda a Barra Velha, a Prefeitura Municipal tendo por base a decisão

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judicial exarada na Ação Civil Pública Ambiental n° 2008.72.01.000583-8 da 1ª Vara

Federal de Joinville decidiu por bem acatar e proibir (Figura 18) e coibir toda e qualquer

construção, reconstrução ou reforma de casas na área da península, particularmente

aquelas atingidas pela erosão marinha e deposição de areias.

A Prefeitura e o Ministério Público partem do princípio que a área da Península é,

primeiramente uma área de marinha, cujos terrenos nunca deveriam ter sido vendidos e,

segundo, que ela é e sempre deveria ter sido uma área de Preservação Permanente e,

portanto, vedada à ocupação.

Outra questão que pesou na tomada da decisão pela proibição de novas

construções e reforma das antigas foi o receio do possível rompimento da península pela

erosão marinha e invasão da lagoa pelo mar, o que afetaria diretamente a área central e a

margem esquerda da lagoa onde, na atualidade, a cidade está se em franca expansão.

Essa proibição pode ser considerada como uma atitude passiva da Prefeitura frente

aos problemas que a Península está enfrentando. A atitude ativa está representada na

Figura 19, onde podemos visualizar um dos 8 molhes projetados para serem construídos

ao longo da península, desde a foz do Rio Itapocu, onde já existe um molhe até o Hotel

Bella Vista, onde encontramos outro.

Esses molhes servirão de quebra-mar evitando que as ondas atinjam diretamente

as areias da península e que as correntes marítimas circulem próximo á praia, retirando-

as dali.

Figura 18: Placa anunciando a proibição

de alterações (melhorias) em casa

construída na Península.

Figura 19: Molhe construído na foz do

Rio Itapocu. Rio que deu origem à

Lagoa.

A ideia da prefeitura, com a construção desses molhes, é “engordar” a praia da

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Península fazendo com que esta deixe de ser uma praia de “tombo”1 e se torne uma

praia (ou várias entre os molhes) utilizável e segura, ou seja, sem processos erosivos

significativos. Uma análise das áreas próximas aos dois molhes construídos, isto é, na

foz do Rio Itapocu e nos fundos do hotel Candeias, mostra que este projeto tende a dar

certo, pois aí houve deposição de fixação de maior quantidade de sedimentos.

Barra velha tem um desafio interessante para as próximas décadas, que é o de

desocupar a área da península e renaturalizá-la, resolvendo assim os problemas de

invasão das casas pelas areias de dunas e o desmoronamento das mesmas pela erosão

marinha. É um desafio grande, para uma cidade que cresce (Figura 20) a cada dia e que

cada vez mais vira alvo de especuladores imobiliários e de turistas dispostos a fazer

tudo para garantir o seu prazer de verão, inclusive o de andar ilegalmente de bug ou

motocicleta sobre as dunas.

1Praia de tombo é a denominação dada a uma praia que se torna profunda rapidamente, ou seja, aquela

cuja retirada de sedimentos pelas correntes marítimas, à torna profunda de um instante para o outro. Isso

impede o uso para banho.

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Figura 20: Barra velha nos dias atuais. Fonte: Prefeitura de Barra Velha, 2012.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade de Barra Velha com sua Praia Central e sua Península passaram a ser

alvo de interesses turísticos na década de 60 do século passado e desde então vem

enfrentando problemas com a expansão urbana, particularmente sobre as áreas de dunas

da península, pois as casas dessa área passaram a ser invadidas pelas areias das dunas e

a serem derrubadas pela erosão marinha. Na tentativa de resolver esses problemas a

prefeitura Municipal proibiu novas construções ou reformas nas casas aí existentes e

previu a construção de um conjunto de 08 molhes desde a foz do Rio Itapocu até o

Hotel Bella vista.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOER, P. Barra Velha através dos tempos. Barra Velha: Art& Texto Editora Ltda.,

1992.

MACHADO, Cristina Buratto Gross. O território da pesca artesanal em Barra

Velha/SC: colônia Z4 entre a tradição e a modernidade. Dissertação de Mestrado.

Programa de pós Graduação em Geografia. Guarapuava: UNICENTRO, 2013.

FAGUNDES, J. C. Barra Velha: Portal das praias catarinenses.In: FAGUNDES, J. C. et

al. Perfil cultural e turístico dos municípios catarinenses. Barra Velha: Glück

Edições Ltda., 2008.

ESTÁGIO DA PESQUISA: Finalizada.