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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 GESTÃO E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO DE CASO EM UMA USINA SUCROALCOOLEIRA [email protected] APRESENTACAO ORAL-Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável THATIANA PEDROSO PEREIRA MONTEIRO; PATRÍCIA APARECIDA FERREIRA. UFLA, LAVRAS - MG - BRASIL. Gestão e meio ambiente: um estudo de caso em uma usina sucroalcooleira Management and environment: a case study based on a sugar and alcohol plant. Grupo de Pesquisa: Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável Resumo A questão ambiental tem sido preocupação de diversos atores como o Estado, a sociedade e o mercado. Esta pesquisa procurou compreender, por meio de um estudo de caso, como uma usina do setor sucroalcooleiro tem tratado a questão ambiental e a sustentabilidade em suas atividades. Neste sentido, foram contextualizados os principais marcos da discussão sobre sustentabilidade, apresentando a evolução da conscientização ambiental na sociedade, bem como os aspectos que mostram como as empresas, o agronegócio e o setor sucroalcooleiro têm tratado o meio ambiente. Os resultados encontrados revelam que a atenção dada pela usina quanto a sua gestão ambiental está restrita a uma concepção apenas de legalidade e de vantagem competitiva, distanciando-se um pouco da dimensão sócio ambiental tão preconizada pelo conceito de sustentabilidade. Palavras-chaves: setor sucroalcooleiro, sustentabilidade, meio ambiente, agronegócio, competitividade. Abstract Environmental preservation has become a major concern to various players, such as the State, society and market. This paper aimed to understand, through a case study, how a sugar and alcohol plant has treated this environmental issue and the sustainability in its activities. To achieve this goal, a contextualization of the main events of sustainable discussion was made, showing the environmental conscientiousness evolution in society and aspects that demonstrate how companies, agribusiness and sugar and alcohol sector has treated the environment. The findings revealed that the worries of this plant about green management is quite restricted to comply the law and gain competitive advantage, going a little too far from social-environmental concept defended by sustainable meaning.

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GESTÃO E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO DE CASO EM UMA US INA SUCROALCOOLEIRA [email protected] APRESENTACAO ORAL-Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável THATIANA PEDROSO PEREIRA MONTEIRO; PATRÍCIA APARECIDA FERREIRA. UFLA, LAVRAS - MG - BRASIL.

Gestão e meio ambiente: um estudo de caso em uma usina

sucroalcooleira

Management and environment: a case study based on a sugar and alcohol plant.

Grupo de Pesquisa: Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável

Resumo A questão ambiental tem sido preocupação de diversos atores como o Estado, a sociedade e o mercado. Esta pesquisa procurou compreender, por meio de um estudo de caso, como uma usina do setor sucroalcooleiro tem tratado a questão ambiental e a sustentabilidade em suas atividades. Neste sentido, foram contextualizados os principais marcos da discussão sobre sustentabilidade, apresentando a evolução da conscientização ambiental na sociedade, bem como os aspectos que mostram como as empresas, o agronegócio e o setor sucroalcooleiro têm tratado o meio ambiente. Os resultados encontrados revelam que a atenção dada pela usina quanto a sua gestão ambiental está restrita a uma concepção apenas de legalidade e de vantagem competitiva, distanciando-se um pouco da dimensão sócio ambiental tão preconizada pelo conceito de sustentabilidade. Palavras-chaves: setor sucroalcooleiro, sustentabilidade, meio ambiente, agronegócio, competitividade. Abstract Environmental preservation has become a major concern to various players, such as the State, society and market. This paper aimed to understand, through a case study, how a sugar and alcohol plant has treated this environmental issue and the sustainability in its activities. To achieve this goal, a contextualization of the main events of sustainable discussion was made, showing the environmental conscientiousness evolution in society and aspects that demonstrate how companies, agribusiness and sugar and alcohol sector has treated the environment. The findings revealed that the worries of this plant about green management is quite restricted to comply the law and gain competitive advantage, going a little too far from social-environmental concept defended by sustainable meaning.

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Key Words: sugar and alcohol sector, sustainability, environment, agribusiness, competitively. 1. INTRODUÇÃO

Desde o início do século XXI a preocupação com o meio ambiente vem tomando proporções cada vez maiores em virtude dos efeitos visíveis de desequilíbrio e degradação causados pelo homem à natureza. Dentre os culpados desses efeitos, considera-se que a atividade empresarial tem sido uma das maiores vilãs por ter obtido seu crescimento econômico em detrimento daquela.

Ainda que uma consciência ambientalmente correta seja pouco disseminada, as empresas que a adotam representam lideranças que vão se tornando referência em seus respectivos setores. Nesse contexto, vários países vêm propondo acordos que obriguem suas indústrias a diminuírem os impactos causados na natureza, como por exemplo, o Protocolo de Kyoto, o qual disserta sobre a mitigação das emissões de gases de efeito estufa A fim de se adaptar a essa nova condição mundial e obter competitividade no mercado, a adoção de políticas ambientais pelas empresas é de suma importância.

Pode-se dar destaque ao setor canavieiro como um exemplo de busca pela produção sustentável. Embora este setor seja bastante criticado pela poluição atmosférica causada pelas queimadas, desmatamento de vegetação nativa para aumentar suas áreas de plantação, contaminação de lençóis freáticos pela irrigação de vinhaça, há também o desenvolvimento de métodos sustentáveis para prevenir que o aquecimento global atinja maiores proporções, como por exemplo: a substituição das queimadas pela mecanização, a busca por maior produtividade por hectare, pesquisa e desenvolvimento na criação de mudas mais resistentes a insetos e de substituição das energias atuais (petróleo e carvão) por energias limpas a partir do bagaço da cana; aliando assim interesses dos setores sucroalcooleiro, elétrico e do governo.

Dessa forma, este estudo procurou compreender como uma agroindústria do setor canavieiro de Alagoas tem tratado a questão ambiental e a sustentabilidade em suas atividades. Este trabalho se justifica, visto que cada vez mais a questão ambiental e a sustentabilidade estão se tornando matéria obrigatória no planejamento, implementação e avaliação das atividades empresariais. Reflexões acerca desta temática, principalmente no setor sucroalcooleiro, tornam-se essenciais, pois embora este setor tenha um papel determinante na produção do etanol como um biocombustível, a produção de cana de açúcar nem sempre contempla práticas tão sustentáveis.

2.REFERENCIAL TEÓRICO Crescimento econômico, industrialização e o uso desenfreado dos recursos naturais

sempre estiveram em pauta em prol do progresso da sociedade. Em um período recente, entretanto, a preocupação com o futuro tem levado a sociedade a repensar esta situação e a se preocupar com a questão da sustentabilidade, visto que a falta de limites e a ambição desmedida da humanidade conduziram o planeta à beira do abismo (Pellegrini, 2009).

Já afirmava Tomas Hobbes, filósofo nascido no século XVI, “o homem é o lobo do próprio homem” (Reis, 2006). Sua ambição e desejo incessantes de dominar os meios de produção sem se preocupar com o seu redor estão se tornando sua própria destruição. A

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manutenção da existência daquele não tem fundamento exclusivo em si mesmo, mas na convivência sinérgica com o ecossistema.

Devido a essas atitudes egoístas, hoje, a humanidade se encontra em uma situação antagônica àquela anteriormente vivenciada. Essa é a era do aquecimento global, o qual consiste no aumento das temperaturas médias do planeta causadas pelo efeito estufa1, e trabalhar em conjunto é a melhor forma de se conter as alterações climáticas e preservar a biosfera.

Tais alterações obtiveram maior publicidade na segunda metade do século XX em razão do intenso crescimento econômico e das mutações climáticas percebidas. Poluição, degelo das calotas polares, extinção de animais, aumento do nível dos oceanos, escassez de recursos naturais, surgimento de doenças, etc., são alguns dos motivos aparentes postos em evidência.Vale ressaltar que essas mudanças não aconteceram do último século para cá. Com a invenção da máquina a vapor e a sua aplicação na produção, surgiu uma nova concepção de trabalho que modificou completamente a estrutura social e comercial da época, provocando profundas e rápidas mudanças de ordem econômica, política e social. Essa foi a chamada Revolução Industrial que teve início no século XVIII, e foi quando se sentiu de forma mais intensa a atividade industrial e a queima de recursos naturais fósseis para geração de energia em suporte a aquela (Chiavenato, 2000). Sabe-se que os combustíveis fósseis como o carvão, petróleo e derivados, recursos propulsores desse desenvolvimento, são os principais emissores de GEEs2 na atmosfera. O acúmulo desses gases ao longo dos anos e a ignorância do ser humano a respeito de suas conseqüências futuras colocaram a humanidade frente a uma opção, parar e encontrar caminhos alternativos que não a levem a sua própria extinção.

A partir de 1962, com a publicação do livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), publicado pela bióloga Rachel Carson, iniciou-se uma abordagem mais profunda sobre a relação entre o homem e o meio ambiente, até então discutida de forma leviana. Várias convenções e acordos foram firmados desde então, dentre eles, os principais foram a Conferência de Estocolmo, informe Brundtland, Eco-92, Rio+5, Protocolo de Kyoto, Rio+10 e a mais recente, COP15 em Copenhagen. Todas essas manifestações tiveram o intuito de reunir chefes de Estado e procurar um meio de diminuir as ações nocivas ao meio ambiente despejadas pelo desenvolvimento econômico, evocando, assim, uma preocupação com a sustentabilidade.

Quando se fala em desenvolvimento econômico, a principal classe participativa são as empresas, independente do setor da qual fazem parte. Estas disponibilizam no mercado, todos os dias, produtos e serviços para atender as necessidades dos consumidores e gerar seu objetivo principal, o lucro. Por muitos anos esses produtos e serviços não continham em sua composição o valor intangível da preservação do meio ambiente, sendo assim, fazia-se uso contínuo de matérias-primas não renováveis e de processos poluentes. Havia a preocupação com os custos e não com o desenvolvimento sustentável.

1 Concentração excessiva de gases como: Dióxido de carbono, metano e óxido nitroso; na camada de ozônio. Esses gases retêm radiações infravermelhas e as impede de ir para o espaço, permanecendo na atmosfera terrestre e provocando o aumento da temperatura. 2 Gases de Efeito Estufa.

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Ainda hoje métodos predatórios como estes são utilizados, mas para muitas empresas ficou em segundo plano, em função dos problemas ambientais causados, regulamentação governamental e a mudança de perfil do consumidor. Segundo Reis (2006), as empresas, vistas como as maiores vilãs do problema, estão conseguindo, de alguma forma, dar uma resposta positiva para muitos questionamentos da sociedade.

Caracterizando esse contexto, procurar-se-á mostrar nessa seção os principais marcos da discussão sobre sustentabilidade, mostrando a evolução da conscientização ambiental na sociedade, e posteriormente ressaltar as relações do meio ambiente com as empresas, o agronegócio, mais especificamente, o setor sucroalcooleiro.

2.1 Evolução da consciência ambiental A epifania da preservação ambiental iniciada pela sociedade começou a ter relevância a

partir do século XX devido às ocorrências em maior intensidade dos fenômenos naturais, o surgimento de doenças, advindas da poluição e da maior incidência dos raios ultravioletas. Iniciou-se, então, uma série de discussões que envolveram vários países com a finalidade de encontrar, coletivamente, instrumentos de preservação do meio ambiente e contenção das mudanças climáticas, bem como a colaboração do conceito de sustentabilidade. Dentre estes marcos, vale destacar:

a) Conferência de Estocolmo A Conferência de Estocolmo, em 1972, foi a primeira das grandes conferências da

Organização das Nações Unidas – ONU a debater intensamente os vínculos existentes entre desenvolvimento e meio ambiente (Camargo, 2003). Participaram 113 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) e desse evento resultou a criação do Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente - PNUMA (Reis, 2006).

O PNUMA, principal autoridade global em meio ambiente, é uma agência da ONU responsável por promover a conservação do meio ambiente e o uso eficiente de recursos no contexto do desenvolvimento sustentável.

(...) o PNUMA tem entre seus principais objetivos manter o estado do meio ambiente global sob contínuo monitoramento; alertar povos e nações sobre problemas e ameaças ao meio ambiente e recomendar medidas para aumentar a qualidade de vida da população sem comprometer os recursos e serviços ambientais das futuras gerações.(ONU, 2010)

b) Informe Brundtland O segundo evento mais importante relativo à questão ambiental foi a publicação do

relatório Brundtland, da CMMAD3, o “Nosso Futuro Comum”. Foi nele que, pela primeira vez, foi apresentada uma definição para o termo desenvolvimento sustentável:

[...] é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. (WWF Brasil, 2010)

3 Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

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Embora esse conceito seja amplamente utilizado, outras versões que abordam tanto a preservação da natureza quanto projetos sociais que visam ter a pobreza erradicada e a melhoria da qualidade de vida, foram adicionados a essa definição ao longo dos anos.

Os objetivos principais, segundo Reis (2006), para o desenvolvimento de políticas ambientais e desenvolvimentistas contidos no informe são: i) retomar o crescimento e alterar a qualidade do desenvolvimento; ii) atender às necessidades essenciais de emprego, alimentação, energia, água e saneamento; iii)manter um nível populacional sustentável; iv) conservar e melhorar a base de recursos; v) Reorientar a tecnologia e administrar o risco; vi) incluir o meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisões.

c) Eco 92 – Conferência das Nações Unidas no Rio de Janeiro e a Agenda 21 A Conferência das Nações Unidas, Eco 92 ou Cúpula da Terra, aconteceu em junho

de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Nessa ocasião participaram 179 países, e seu objetivo era dar continuidade ao Informe Brundtland, abordando os problemas ambientais e colocando no centro das discussões soluções sustentáveis para o crescimento econômico de cada nação levando em consideração suas particularidades.

De acordo com Reis (2006), resultaram dessa Conferência cinco documentos: i)Declaração do rio sobre o meio ambiente e desenvolvimento; ii) Declaração de princípios para a gestão sustentável das florestas; iii) Convênio sobre a diversidade biológica; iv)Convênio sobre mudanças climáticas; e v) Agenda 21.

Dentre esses, a Agenda 21 foi a mais importante e abrangente. Esta compreende um plano de ação a ser aplicado global, nacional e localmente por organizações participantes das Nações Unidas, governos e grupos dominantes em áreas do meio ambiente que sofrem impactos gerados pelos seres humanos (Division for Sustainable Development, 2010).

d) Rio+5, Rio+10 e o Protocolo de Kyoto Realizadas em New York (USA), 1997 e em Johannesburgo (África do Sul), 2002,

respectivamente, a Rio+5 e Rio+10 procuraram examinar se as ações estabelecidas nos documentos da Eco-92 foram implementadas e avaliar seus resultados. Aproveitou-se também para reiterar o compromisso assumido pelos países participantes com os princípios do desenvolvimento sustentável.

Em 1997, iniciou-se uma discussão concreta sobre corte de emissões de GEEs na atmosfera. Em Kyoto, no Japão, foi assinado um protocolo, que levou o nome da cidade em questão, o Protocolo de Kyoto, segundo o qual os países desenvolvidos deveriam diminuir suas emissões aos níveis de 1990. No entanto, para que o protocolo entrasse em vigor, precisaria que 55 países, que respondessem por 55% das emissões de gases, o ratificasse. O protocolo só entrou em vigor em 2005, depois que a Rússia, que detinha 17% das emissões mundiais, o ratificou. Este passou a se chamar Tratado de Kyoto. Vale destacar que os Estados Unidos, governado por George W. Bush, o principal emissor de GEEs, assinou o protocolo, porém não o ratificou, alegando que a mudança de tecnologia geraria impactos negativos na economia local e a conseqüente diminuição de empregos (Relatório de Conferência das Partes, 2006).

Uma das partes do protocolo trata sobre o MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – o qual dispõe orientações que beneficiam os países em desenvolvimento. Aos países desenvolvidos é dada a alternativa de cumprir suas metas de redução de emissões de

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gases de efeito estufa através de investimento financeiro e intercâmbio de tecnologia em países em desenvolvimento.

e) COP 15 Recentemente, em dezembro de 2009, foi realizada em Copenhagen na Dinamarca,

a 15ª Conferência das Partes, a qual ficou conhecida como COP 15 e foi considerada a maior reunião diplomática da história, com a presença de 119 lideres de governo. Assim como as tentativas anteriores, devido à complexidade do tema e da dificuldade em agradar a todos os participantes, houve momentos frustrantes, dos quais não se chegou a um senso comum e momentos promissores, onde a evolução das discussões foi pequena, mas considerada um começo. De acordo com Prado (2009), foram colocados em pauta cinco blocos de sustentação para a Conferência: visão compartilhada; mitigação; adaptação; transferência de tecnologia; e apoio financeiro.

Descrevendo sucintamente o que foi exposto no relatório de imprensa da COP 15, ficou decidido pela criação de um fundo monetário de 100 bilhões de dólares até o ano de 2020 para financiar projetos de desenvolvimento sustentável, sendo os países desenvolvidos os financiadores e os em desenvolvimento os beneficiados; e limitar o aumento da temperatura em no máximo 1,5º Celsius. Foram também apresentados estudos científicos que apontaram diversas mutações no planeta até 2010 se a temperatura média aumentar em dois graus Celsius. Conforme relata Araia e Gomes (2009), algumas das mudanças que poderão ocorrer: derretimento no oceano Ártico; degelo na Groenlândia; buraco de ozônio sobre a Europa; degelo no Tibete e no Himalaia; Saara mais verde; redução da floresta Amazônica; entre outros. Dentre os 119 países participantes, um grande avanço foi a entrada dos Estados Unidos e da China, maiores contribuintes do aquecimento global, os quais se comprometeram a reduzir suas emissões de poluentes.

Pode-se observar que a evolução da consciência ambiental permeou um movimento com várias reuniões de países desenvolvidos e em desenvolvimento, e se fundamentou em um conceito de sustentabilidade que visa o alinhamento das dimensões econômica, social e ambiental. Traçado esse panorama macro da consciência ambiental no contexto internacional, vale destacar aspectos que mostram como as empresas têm tratado o meio ambiente, incluindo posteriormente o agronegócio e o setor sucroalcooleiro, que será o lócus da pesquisa empírica a ser realizada neste trabalho.

2.2 O meio ambiente e as empresas Todas as principais civilizações do passado foram civilizações fundamentadas na

biomassa, uma vez que dependiam quase que exclusivamente de produtos da biomassa para sua vida material: alimentos e ração animal (como é o caso até hoje), e também combustível, fibras para vestimentas, madeira para a construção de abrigos e mobiliário, plantas curativas, etc. Ainda hoje, milhões de pessoas dos ecossistemas – habitantes das florestas e população rural – lutam por sua subsistência nos ecossistemas próximos, geralmente de modo criativo, baseado em conhecimento profundo sobre as ocorrências da natureza (Sachs, 2008). Ainda segundo Sachs (2008), o problema central da adaptação a novos meios de produção para frear o aquecimento global não é retroceder aos modos ancestrais de vida, mas adaptar tecnologias e criar uma moderna civilização de biomassa. Só assim a dívida ecológica acumulada com o passar dos anos poderá ser reduzida.

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A tomada de consciência ambiental no século XX, com a roda do desenvolvimento econômico girando a todo vapor, conquistou a desconfiança e a indiferença de líderes governamentais e de grandes multinacionais. A justificativa para essa rejeição é o custo financeiro que a troca da tecnologia atual para uma de produção mais limpa ocasionaria em seus caixas. Ou seja, preservar o meio ambiente seria um entrave ao crescimento e vice-versa.

Embora ainda exista muita necessidade de pesquisa no tema, vários autores (Porter; Van Der Linde, 1995a, 1995b; López, 1996; Kemp et al., 2000; Lustosa, 2002) afirmam o contrário: o investimento em gestão ambiental pode reduzir os custos de produção em médio e longo prazos porque evita desperdícios e ineficiências no consumo de energia e matérias-primas, além de melhorar a imagem da empresa e seus produtos junto aos consumidores. Ou seja, revertem custos em benefícios: o que seria um problema (atender às normas ambientais) passa a ser uma vantagem, por causa dos ganhos de rendimento, produtividade e mercado. Ao mesmo tempo, com mais recursos, os consumidores passam a ser mais exigentes com as pegadas ecológicas dos produtos que consomem, e o aumento do gasto em recuperação ambiental aumenta a demanda efetiva e o nível de emprego. Portanto, podem-se criar situações de “ganho-ganho”, em que o aumento de competitividade é simultâneo à melhoria das condições ambientais e, conseqüentemente, da qualidade de vida da população. Revertendo o mito, pode-se dizer que crescimento econômico e qualidade ambiental são complementadores em um ciclo virtuoso de desenvolvimento sustentável. (Young, 2007, p.89)

Ainda citando Young (2007), esse ciclo virtuoso não ocorre de forma espontânea, setores público e privado precisam construir uma relação sinérgica, de modo que sejam estabelecidas regulamentações que favoreçam e estimulem comportamentos proativos e ações contundentes com as normas impostas por parte das empresas.

Preservar o meio ambiente, segundo Reis (2006) é um bom negócio para as empresas. É onde entra a utilização do marketing verde ou Green Marketing. Conceituando Marketing Verde a partir de idéias expostas por Jacquelyn A. Ottman (2010), autora do livro Green Marketing: the opportunity for innovation4, pode-se dizer que é um meio encontrado pelas empresas de mostrar aos consumidores que suas maiores preocupações são a qualidade, a transparência, no que concernem as informações sobre o produto; o interesse no que realmente importa para o cliente e avaliar cuidadosamente sua expressão monetária.

Esses consumidores são as ONGs, agências governamentais, grupos ambientalistas e varejo. Estes últimos, de modo geral, assumem pagar um preço relativamente maior pelo produto ecologicamente correto. Eles percebem que o valor agregado e externalizado pelo aumento de preço, significa seu aumento de valor social. Ottman (2010) aponta cinco regras simples do marketing verde: 4 Marketing Verde: a oportunidade para a inovação

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1.Conheça seu consumidor: procure saber se o seu consumidor está consciente de que seu produto atende às especificações ecológicas por você apresentadas;

2. Influencie consumidores: mostre os impactos positivos que seu produto trás ao planeta. Certifique-se que o consumidor, ao usar o produto, sinta que pode fazer a diferença;

3. Seja transparente: consumidores precisam acreditar na legitimidade do produto e nas dimensões que a empresa diz atender;

4. Tranquilize o consumidor: além de apresentar a forma ecológica de sua concepção, apresente as utilidades reais do produto;

5. Pense no preço: ao cobrar mais por um produto, esteja certo de que seus clientes podem pagá-lo e o sintam que valha, e leve em consideração a situação econômica vivenciada por eles.

Algumas considerações já estão sendo feitas pelas firmas, como a utilização de embalagem refil e tamanho econômico, assim como o uso de materiais biodegradáveis em sua estrutura e a certificação de modos de fabricação e dos produtos. As normas ISO5, desenvolvidas por uma instituição não governamental com sede em Genebra, estabeleceram um conjunto de normas ambientais, a ISO 14000, que visa estabelecer ferramentas e sistemas para a administração ambiental em uma organização. A busca por certificações pelas empresas surgiram por diversos fatores: imposição legal, empréstimos financeiros condicionados, perfil de varejo, diferenciação da concorrência internacional e barreiras não-tarifárias na exportação (Young e Lustosa, 2001). Esse ainda é um pequeno nicho de mercado, mas com tendência de crescimento a partir desse século XXI.

Reconhecendo que as empresas são uns dos atores principais causadores da degradação ambiental, espera-se que a solução desses problemas ambientais, ou sua minimização, partam de empresários e administradores. Neste sentido, devem estabelecer uma gestão ambiental como uma das prioridades e como fator de desenvolvimento sustentável, estabelecendo assim políticas, programas e procedimentos para conduzir as atividades de modo ambientalmente correto. Como os impactos ambientais variam de acordo com o setor produtivo, apresenta-se as relações entre meio ambiente e agronegócio, enfatizando, as principais medidas que podem ser adotadas pelo setor para que haja uma gestão ambiental eficiente.

2.3 Meio ambiente e o agronegócio Assim como as empresas em geral, o agronegócio também utiliza processos

produtivos ineficientes que geram impactos negativos ao meio ambiente. Problemas como perda de terras cultiváveis, redução na quantidade e qualidade da água, desmatamento, desertificação e perda de recursos genéticos, surgimento de doenças pela contaminação dos alimentos com alto teor de pesticidas e emissão de metano pela atividade agropecuária são exemplos de atitudes que contribuem para o agravamento da condição ambiental (Souza, 2008).

Produtos agrícolas são geralmente commodities, ou seja, não possuem diferenciação e seu preço é cotado em bolsa, os produtores são price takers6 e a forma encontrada pelos

5 International Organization for Standartization 6 Tradução: tomadores de preço

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produtores para manter sua rentabilidade é aumentando a capacidade produtiva. Sendo assim, o ganho provém da geração de economia em escala.

Dito isto, o professor da Universidade de São Paulo e doutor em economia, Guilherme Dias da Silva Leite, em entrevista à Agencia CNA, reconhece que a atividade agrícola tem sua parcela de contribuição para o desequilíbrio climático, mas que é fato comprovado que seus impactos são bem menores que outras atividades, como as indústrias de cimento e siderúrgica, que agridem muito mais o meio ambiente devido ao uso constante de combustíveis fósseis em seus processos, emitindo grande quantidade de gás carbônico na atmosfera (CNA, 2010).

Entretanto, a agricultura vem dando uma resposta positiva às críticas a ela feitas. O maior exemplo é a fabricação de etanol a partir de culturas de cana-de-açúcar e milho, que são recursos renováveis. E em termos de tecnologias agrárias, o setor tem evoluído bastante ultimamente, através da aplicação de práticas que combatem a erosão e exposição de solo.

Os produtores de cana-de-açúcar há 15 anos atrás utilizavam as queimadas no processo produtivo, mas o estado restringiu a prática com uma legislação mais severa, e hoje as queimadas diminuíram muito. Isso mostra que é preciso ter políticas públicas voltadas para a solução dos problemas ocasionados pela produção agrícola. (CNA, 2010)

O Ministério do Meio Ambiente vem reforçar o cumprimento de regulamentos de combate a práticas ambientais inadequadas com a criação da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Sustentável Rural. Esta foi criada com o objetivo de buscar o diálogo entre o setor produtivo e inserir a dimensão ambiental nos processos produtivos desses.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, as ações da Gerência deste estão voltadas para: i) desenvolver e incorporar a variável ambiental nos processos produtivos do agronegócio, por meio do desenvolvimento de novas técnicas que visem à sustentabilidade ambiental da atividade, bem como pela incorporação das já existentes; ii) desenvolver políticas públicas que visem à diminuição da abertura de novas fronteiras agrícolas, à ocupação ordenada e racional do território e ao efetivo cumprimento da legislação ambiental.

No Brasil, a proteção ambiental é citada na Constituição Federal Brasileira de 1988. O artigo 170, inciso VI, propõe a defesa do meio ambiente como princípio a ser seguido pela livre iniciativa de ordem econômica. Ainda à luz da Constituição Federal de 1988, fundamentada nos incisos VI e VII do art. 237 e no art. 2358 deu-se a criação da Política Nacional do Meio Ambiente pela Lei nº 6.938/81, assim como a constituição do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e instituição do Cadastro de Defesa Ambiental.

Essa Lei prevê três categorias de instrumentos de gestão ambiental: regulatórios e punitivos; de mercado ou incentivos econômicos; de informação.

Em sua essência, ela é composta por instrumentos de comando e controle, ou seja, por regras e padrões a serem seguidos, atribuindo penalidades aos que não as cumprirem

7 Dispõe acerca da proteção do meio ambiente, florestas, fauna e a flora, e combate à poluição como competências comuns da União, dos Estados, do DF e dos Municípios 8 Consta as normas básicas a serem seguidas por Estados recém criados.

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(Neumann e Loch, 2002). Padrões, zoneamentos e licenciamento ambiental são alguns dos instrumentos de regulamentação. Para ilustrar essa situação de coerção que a legislação ambiental trás, basta citar o Código Florestal9, que obriga toda propriedade rural a ter uma área florestal mínima. Essas áreas são as chamadas APP10 e Reserva Legal que tem o intuito de preservar os recursos hídricos, o solo a biodiversidade e bem-estar das populações humanas. Outro argumento relevante para a motivação do empresariado a serem proativos nas questões ambientais, seria a revisão de pontos como carga tributária e incentivos fiscais (CNA, 2010).

Neumann e Loch (2002) apontam que a legislação ambiental brasileira está construída na concepção do espaço rural, associado e confundido com a atividade agrícola. O meio rural é ligado intimamente com o meio ambiente, porquanto é dele que sobrevive a atividade, extração de meios de produção dos solos e habitats aquáticos. Apesar de todo esse controle regulamentar, ainda recai sobre as empresas rurais a pressão exercida por políticas externas do comércio internacional. Países importadores de produtos agrícolas cada vez mais exigem certificados ambientais, mapeamento dos processos produtivos, fiscalização e parecer de órgãos competentes e renomados (exemplo a ISO).

Com a finalidade de manter as vendas e superar a concorrência, a adoção de tecnologias limpas e ambientalmente corretas são requeridas. Alguns exemplos de práticas agrícolas sustentáveis são: compostagem, adubação verde, fertilização mineral, cultivo mínimo, intercalação de culturas, armadilhas e plantas atrativas, controle biológico, pesticidas derivados de plantas, agricultura integrada com a criação de animais, plantio direto e outras (Souza, 2008).

Nos dias atuais, as zonas rurais são atingidas por um tipo específico de inovação, oriunda da ciência e tecnologias modernas e dos métodos industriais de gestão, a chamada modernização agrícola (Binicheski apud Lima, 2003). Entende-se por essa modernização o processo de melhoria do cultivo dos solos pela adoção de técnicas modernas (Lima, 2003).

Lima (2003) ainda aponta que a gestão ambiental rural está acontecendo à medida que pequenos e grandes produtores optam por uma série de modernas inovações:

• Inovações mecânicas – modificando a qualidade e rapidez do trabalho; • Inovações biofísicas – agindo na qualidade e conservação dos produtos

(pasteurização, congelamento, secagem e silagem); • Inovações bioquímicas – melhoramento genético.

Para que a atividade continue, cuidados com o solo e a manutenção do equilíbrio do meio ambiente são necessários. Sendo assim, outras oportunidades para o setor surgem. A agricultura orgânica é definida por Ormond et al. (2002) como um conjunto de processos de produção agrícola que parte do pressuposto básico de que a fertilidade é função direta da matéria orgânica contida no solo. É um processo que procura nos primórdios da agricultura a tecnologia de produção sustentável e ambientalmente exigida pela sociedade do futuro. A produção orgânica visa além de disponibilizar produtos mais saudáveis para o consumidor, diminuir a agressão que o meio ambiente vem sofrendo. Faz-se uso intensivo de fertilização mineral, pesticidas feitos a partir de ativos de plantas e adubos orgânicos. Todavia, o grande entrave desse método de produção ainda é seu custo, que é bastante alto 9 Lei nº4.771/65 10 Área de Preservação Permanente

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se for comparar com a produção convencional. Entretanto, a evolução da genética e a revitalização do solo, formam um ambiente saudável que resultam em plantas mais vigorosas e resistentes a pragas e doenças, condicionando assim um possível futuro de igualdade em termos de quantidade produzida com os métodos convencionais já praticados e ecologicamente incorretos.

Sendo assim, apesar dos entraves e dificuldades que o meio rural enfrenta, seja pela legislação aplicada seja pela exigência de agentes externos ao setor, os produtores rurais vem conseguindo se adaptar e adotar técnicas ambientalmente aceitas, acompanhando o perfil de mudança do consumidor e elevando sua competitividade frente à concorrência interna e externa. Dentre os setores promissores do agronegócio, destaca-se o sucroalcooleiro. Neste sentido, torna-se necessário apresentar os principais problemas ambientais causados por este, bem como práticas preventivas, entre outras.

2.4 Meio ambiente e o setor sucroalcooleiro O setor sucroalcooleiro brasileiro possui posição de destaque, sendo o maior

produtor mundial de açúcar de cana, sua produção de etanol é feita de maneira sustentável, considerando aspectos sociais, econômicos e ambientais e representa atualmente a melhor e mais avançada opção existente no mundo para produção de biocombustível em larga escala em substituição ao petróleo (UNICA, 2010). De acordo com o PROCANA (2010), o setor é atualmente composto por 373 usinas e destilarias (em operação + projetos) apresentando, na safra de 2008/2009, uma movimentação de 51 bilhões de reais, representando 1,76% do PIB. Gerou 4,5 milhões de empregos diretos e indiretos envolvendo 72 mil agricultores. A moagem foi em torno de 560 milhões de toneladas de cana, da qual foram produzidos 32 milhões de toneladas de açúcar e 27 bilhões de litros de álcool. A inserção da atividade canavieira no Brasil é datada da época colonial, no século XVI, sendo uma cultura de base latifundiária e monocultora, apoiada na força do trabalho escravo. O cultivo extensivo e o baixo custo de mão-de-obra introduziram a agroindústria brasileira e seu respectivo produto - o açúcar - no comércio desenvolvido por políticas da metrópole portuguesa, imprimindo à economia colonial um modelo agro-exportador e dependente (Carvalheiro e Schallenberger, 2007).

Essa atividade, que foi a primeira agroindustrial do Brasil, buscava por terras férteis e de fácil acesso de escoamento da produção para o mercado Europeu na Zona da Mata Nordestina, Alagoas e Pernambuco, avançando sobre a Mata Atlântica, que era o principal ecossistema da região. Posteriormente, tendo os mercados internacionais e internos consolidados, a produção canavieira aos poucos passou a se concentrar no estado de São Paulo, que é considerado o principal mercado consumidor do país (Piacente e Piacente, 2004). Ainda segundo considerações feitas por esses autores, antigos cafeicultores e novos investidores instalaram neste estado grandes usinas de processamento de cana-de-açúcar, atraídos pelo baixo preço das terras, pela inversão do capital gerado com o café, pelas vantagens de infra-estruturas e pelos incentivos financeiros, e a partir da década de 1950, tornaram-se os principais produtores nacionais e posteriormente mundiais de açúcar.

Na década de 70, em plena crise do petróleo, os altos preços do barril e a grande dependência externa desta fonte energética, fez com que o governo, através do decreto nº 76.593 de 1975 criasse o Programa Nacional do Álcool, mais conhecido como Proálcool. Seu objetivo era o de incentivar a produção de álcool, que proporciona uma queima mais

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limpa, diminuindo as emissões de CO2 na atmosfera, a partir da cana-de-açúcar, da mandioca ou de qualquer outro insumo, em especial os advindos da produção agrícola. Visava também pela modernização e pela ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas unidades produtoras e de armazenagem (Biodieselbr, 2010). Para a fabricação do etanol, a cana-de-açúcar é a que tem o maior retorno para os agricultores por hectare plantado, visto que o custo de produção do açúcar é mais baixo, o que o torna mais competitivo internacionalmente. Entretanto, o mercado é volátil e apresenta grandes oscilações de preço (Biodieselbr, 2010).

Vale destacar que o sucesso e o fracasso do ProÁlcool esteve atrelado às oscilações do preço do barril de petróleo e com o que se considerava economicamente mais viável pelo governo e instituições empresariais. A partir de 1985, o petróleo retornou os patamares de preços baixos, desestimulando assim o Proálcool. Em 1990, o Instituto de Açúcar e Álcool (IAA), órgão governamental que controlava a negociação do produto internacionalmente foi extinto. Esse declínio do consumo de combustível renovável pode ser observado até no ano de 2001, período no qual a participação dos carros a álcool no mercado brasileiro representou 1,02% da produção total dos carros (Inácio, 2004 citado por Ferreira et al., 2006). Mas, todavia, essa decadência do combustível renovável foi compensada por uma grande expansão da produção de açúcar, puxada, principalmente, pelas exportações. Além disso, em 2003, a iniciativa privada retomou o programa de álcool no Brasil, visto que a indústria automobilística nacional deu início à produção dos carros bicombustíveis – movidos tanto a álcool quanto a gasolina. Essa produção de carros bicombustíveis teve como pano de fundo as atuais complicações do mercado internacional de petróleo, no qual as altas cotações do combustível fóssil incentivaram a busca por alternativas renováveis de energia para os carros.Dessa forma, o setor sucroalcooleiro entrou em um novo ciclo positivo, que conforme Carvalho (2006) citado por Ferreira et al. (2006) representa o fruto do amadurecimento dos mercados internos e externos, caracterizado pela sustentação dos preços e demais condicionantes de curto, médio e longo prazos.

Contudo, a preocupação com a questão ambiental não recebeu a mesma preocupação que o aumento de produção, fatores essenciais para um desenvolvimento sustentável da agricultura canavieira nunca foram levados em conta, e embora seja indiscutível o avanço ambiental trazido pela substituição de parte do combustível fóssil por álcool, principalmente nos grandes centros urbanos, não se pode dizer o mesmo dos impactos ecológicos de seu processo produtivo. A ampliação dos canaviais para a produção de álcool acarretou na intensificação de pelo menos dois grandes problemas ambientais: 1) a degradação de ecossistemas e a poluição atmosférica acusada pelas queimadas e, 2) a poluição de cursos d’água e do lençol freático causado pela aplicação excessiva da vinhaça in natura (SZMRECSÁNYI apud Piacente e Piacente, 1994, p. 73-74).

Apesar dos impactos ambientais decorrentes da atividade, como já mencionado, o Brasil se destaca pela conscientização que vem tomando do ano 2000 para cá.

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A UNICA11 (2010) destaca 3 aspectos acerca da sustentabilidade da produção de etanol:

• Balanço energético (refere-se à energia contida no combustível em comparação com a energia fóssil usada para produzi-lo) - é de aproximadamente de 9,3, cerca de quatro vezes melhor que o etanol de beterraba e trigo e quase cinco vezes superior ao etanol produzido de milho (World Watch Institute).

• Gases de efeito estufa - o etanol produzido de cana-de-açúcar reduz as emissões de GEEs em mais de 80% em substituição à gasolina;

• Produtividade - o etanol brasileiro apresenta a maior produtividade em litros por hectares quando comparado às demais alternativas. Ainda citando estudos da UNICA, existem algumas práticas agrícolas que tendem à

preservação do meio ambiente, tais como: • Utilizar fertilizantes orgânicos como a vinhaça e a torta de filtro, resíduos

industriais da produção do etanol e açúcar; • O uso da palha da cana no solo depois da colheita tende a reciclar os nutrientes e

proteção do solo; • Evitar o uso de inseticidas trocando-o pelo controle biológico de pragas e seleção

de variedades resistentes, em programas de melhoramento genético; • Colheita sem queima da palha de cana leva a perdas baixas de solo, é comparável

ao plantio direto12 em culturas anuais; • Adoção da fertirrigação, que consiste na complementação do uso de água na

plantação com a aplicação de vinhaça, diminui substancialmente o uso de água. • A geração de energia a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar pode ser

utilizada no processo industrial da produção de etanol e açúcar e é capaz de suprir as necessidades da usina e em caso de excedente, prover energia para a rede pública de energia elétrica. Assim como as várias atividades agrícolas existentes, a agroindústria canavieira

tem a sua devida contribuição tanto para o desenvolvimento econômico quanto ao que tange a degradação ambiental. Porém, esse setor é considerado estratégico para o desenvolvimento, pois ele é fonte de energia, para movimentar a frota veicular, máquinas industriais, geração de eletricidade, e outros. Reconhecendo a importância que este segmento agro-empresarial tem no desenvolvimento econômico, bem como os possíveis impactos que este pode causar no meio, que este estudo procura mostrar qual é a percepção de uma usina de cana-de-açúcar tem sobre a questão ambiental e a sustentabilidade em suas atividades.

3. METODOLOGIA A metodologia é relevante no contexto da pesquisa científica, porque se refere ao

método científico, tratando-se das regras disciplinares e fornecendo as diretrizes e orientações de como proceder, pesquisar, qual a seqüência correta a seguir e quais as técnicas serão utilizadas com o objetivo de dar confiabilidade aos resultados.

11 União das Indústrias de cana-de-açúcar 12 Método em que o fertilizante e as sementes são depositados nas linhas de plantio com mínima movimentação do solo sem o seu prévio preparo.

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A pesquisa foi estruturada conforme os critérios propostos por Vergara (2005), no qual são divididos: quanto aos fins e quanto aos meios. E neste sentido, quanto aos fins, a pesquisa foi de caráter descritiva, uma vez que procurou compreender a gestão ambiental da empresa estudada. Quanto aos meios de investigação, a pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso, desenvolvido em uma agroindústria de transformação de cana-de-açúcar, situada no estado de Alagoas, na cidade de Rio Largo, que fica vizinha a capital Maceió. O estudo de caso foi escolhido como método de pesquisa por admitir a exploração intensa de dados e permitir bastante flexibilidade na coleta dos mesmos. Esta agroindústria foi selecionada para a pesquisa, por meio da amostragem não-probabilística por acessibilidade.

Para a coleta de dados, utilizou-se a técnica de entrevista não-estruturada, elaborando, assim, um questionário que foi enviado por e-mail para ser respondido pelo entrevistado que ocupa o cargo de assistente da diretoria. Vale destacar que a empresa indicou este entrevistado por ser o colaborador que se relaciona intimamente com os assuntos pertinentes à gestão estratégica da empresa, dentre os quais são de sua responsabilidade, a gestão ambiental. Os dados coletados foram transcritos e submetidos a análise qualitativa.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A usina estudada foi fundada em 1950, através de um processo natural de expansão

de um antigo engenho, de propriedade de uma família bastante tradicional no Estado, na cidade de Rio Largo. Suas atividades iniciaram com uma capacidade de processamento de 19 mil toneladas de cana, que para aquela época era considerada de média grandeza em uma área de 8.000 hectares. Sua produção se destinava exclusivamente à fabricação e comercialização de açúcar, sendo o álcool, na época, um subproduto tido como resíduo químico. Dentro dos 20 anos posteriores a sua fundação, a empresa se deparou com um crescimento médio de 10% ao ano, tanto na produção de cana-de-açúcar quanto no seu processamento. Este montante era considerado significativo dadas as limitações que sua localização territorial impunha, visto que a quantidade de terras ofertadas na região eram escassas e consequentemente supervalorizadas devido ao crescimento da capital, que avançava para as localidades mais distantes do mar, e da própria cidade de Rio Largo.

Após 16 anos do desenvolvimento da planta industrial foi inserido no mix de produtos a produção de álcool para comercialização. Em 1975, com o advento do ProÁlcool, a quantidade de recursos disponível para o setor subiu significativamente. Tal feito motivou largas modificações na planta industrial, principalmente na destilaria e nas moendas, aumentando a capacidade produtiva para 600 mil toneladas de cana por safra.

No meio da década de 80, quando houve a queda do preço do petróleo e a decadência do ProÁlcool e tendo o preço do açúcar continuado atrativo, os investimentos da empresa concentraram-se na área de campo, na aquisição de terras e na planta de fabricação de açúcar. Com a retomada da fabricação de carros movidos a álcool pela utilização de motores denominados flex fuel13, a demanda pelo combustível e o apelo pela sua queima mais limpa impulsionou um crescente interesse das usinas em geral para

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Motor no qual pode ser utilizado mais de um combustível.

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aumentar sua capacidade produtiva e suprir além do mercado de açúcar, o de álcool também.

Já na década de 90, foram desencadeadas concepções de preservação da natureza e o controle sobre as empresas e suas emissões de gases de efeito estufa para conter o aquecimento global. Destaca-se como marco a assinatura do Protocolo de Kyoto, em 1999. Este foi tido pela usina como uma nova oportunidade de negócio que nascia com a comercialização de créditos de carbono. A empresa então assumiu um posicionamento estratégico de obter a certificação ambiental ISO 14.001 e de adquirir terras com o objetivo de estabelecer áreas de reflorestamento para, futuramente, poder constituir renda pela venda de créditos de carbono. Atualmente a empresa processa dois milhões de toneladas de cana por safra, um aumento visível de aproximadamente 952% em sua capacidade produtiva desde o início de suas atividades, e estabelecida sobre uma área de 20.000 hectares, somando reserva – em torno de 10% da área -, fábrica e plantação, sendo que sua prioridade continua sendo a produção de açúcar. Se colocados em proporção de totalidade de produtos comercializados pela empresa, o açúcar assume 80% enquanto o álcool completa os outros 20%. Acerca da quantidade de funcionários, varia de acordo com a época, na época da safra chega-se a ter 1.400 funcionários (diretos + terceirizados) e na entressafra, 400 funcionários. Sua composição acionária divide-se em três majoritários e 12 micro acionistas, completando assim 15 acionistas. A produção é quase que em sua totalidade direcionada ao mercado internacional, sendo Rússia, Japão, União Européia e Estados Unidos os seus principais importadores e seus contratos de venda são feitos em bolsa de valores, utilizando-se do mercado de futuros, a maioria, e do mercado spot.

A economia do estado de Alagoas é fundamentada no setor sucroalcooleiro. Dessa forma, para obter competitividade no mercado, na primeira metade do século XX, foi formada a cooperativa dos produtores de açúcar e álcool. Essa cooperativa tem como principais atividades a compra de insumos e venda dos produtos de seus cooperados, assim conseguem aumentar seu poder de barganha. Hoje, são 11 usinas cooperadas, sendo a usina estudada uma dessas participantes.

4.1 A usina e o meio ambiente Pode-se verificar que a empresa adota uma política ambiental de monitoramento de

cumprimento de normas para se manter no mercado. Ela se movimenta no sentido de estabelecer um paralelo com as exigências da União Européia14,um dos maiores clientes do setor, e com o descarte no meio ambiente de resíduos químicos e orgânicos resultantes do processo de fabricação. Existe também a preocupação com impactos no solo e nas reservas verdes de sua propriedade, a fim de que seu desempenho produtivo seja alcançado pela maior produtividade por hectare ao invés de ampliar sua área. Ainda com o intuito de respeitar normas impostas, seja pelo mercado seja pelo governo, a empresa procura ao máximo evitar danos ou impactos ambientais significativos, seguindo as normas técnicas estipuladas para manejo de campo, como o corte da cana sem a queima das folhas, depositando-as sobre o solo e utilização de matéria orgânica – vinhaça e torta – em substituição aos fertilizantes químicos; de maquinário e de fabricação. Devido a esta

14 Dentre estas exigências destaca-se o controle de variáveis sócio-ambientais, como o desmatamento, mão-de-obra, impactos na produção de alimentos, entre outras.

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conduta, não existe histórico algum de multas ou sansões consolidadas em termos de dano ambiental, mas sim um TAC15, o qual resultou de um problema de pressão em um duto de vinhaça, gerando vazamento do material.

A empresa também implantou a norma ISO 14.001 no começo de 2009, que foi caracterizada como uma necessidade identificada pela cooperativa dos produtores da qual é filiada, para penetrar em alguns mercados internacionais mais exigentes e utilizá-lo como mais uma ferramenta de marketing comercial e social. Vale destacar que esta certificação exige a adequação de técnicas desde o início da plantação até o produto acabado em prol do meio ambiente. Portanto, verificou-se que em alguns processos, foi necessária a adoção de mecanização para diminuir a degradação ambiental, e esta se deu em detrimento do corte de empregos, trazendo insatisfação por parte dos funcionários de escalões mais baixos da empresa, que nem sempre estão dispostos a colaborar com as metas ambientais da empresa.

A rotatividade de funcionários de baixo escalão é muito alta, pois existe muito trabalho na época de safra e na de entressafra não; são dadas férias coletivas e funcionários que estão no nível operacional são demitidos, dessa forma, o comprometimento com as metas que a empresa determina, sejam ambientais ou de outras naturezas, são difíceis de serem cumpridas, exceto por cargos de hierarquia superior e supostamente estáveis. Com relação aos colaboradores da empresa, estes são largamente informados sobre os riscos e impactos causados pela atividade de produção, como por exemplo, uma possível contaminação dos lençóis freáticos pela utilização da vinhaça, a formação de fumaça e a dissipação de fuligem nos caso de queimadas, que embora hoje sejam mínimas devido a utilização das colheitadeiras, necessitam de controle e a autorização da secretaria do meio ambiente. Essa comunicação interna se dá por intermédio de reuniões com supervisores operacionais de cada setor, estes por sua vez, reúnem-se com a gerência e recebem as diretrizes ambientais da empresa. Como toda atividade, a produção do açúcar e álcool também gera subprodutos, considerados resíduos, com exceção da vinhaça, o bagaço, a torta e o mel são inertes, ou seja, nem reagem espontaneamente nem representam riscos ao meio ambiente e tem elevado valor comercial. Sendo assim, os funcionários recebem treinamentos para fazer o armazenamento adequado desses subprodutos. São oferecidos também aos funcionários cursos de reciclagem sobre normas impostas ao setor, adequação à legislação internacional e manejo consciente.

Para manter o controle ambiental, é preciso estar ciente e controlar o impacto de suas ações produtivas. Dentre os principais impactos, a companhia lista a queimada da cana, a emissão de partículas pesadas – fuligem - e de CO2 na atmosfera e afirma que atualmente, visto que investimentos em novas tecnologias e o acompanhamento da mudança de normas internacionais pertinentes ao assunto são constantes, já houve redução da ordem de 60% da área em que se realiza a queimada com a aquisição de novas máquinas de colheita, implantação de novos filtros industriais para conter a fuligem e aquisição de novos queimadores e catalisadores para as caldeiras que resultaram em uma

15 O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) é um instrumento legal destinado a colher do causador do dano ao meio ambiente, entre outros interesses difusos e coletivos, um título executivo de obrigação de fazer e não fazer, mediante o qual, o responsável pelo dano assume o dever de adequar a sua conduta às exigências legais, sob pena de sanções fixadas no próprio termo.

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emissão 45% menor de gás carbônico. Para identificar a necessidade dessas ações, internamente foi criada uma comissão responsável por soluções rápidas para eventuais problemas de natureza ambiental, dentro dessas ações são incluídas campanhas para reciclagem de materiais descartados dentro da própria empresa, como tubos plásticos, borracha, chapas de aço e alumínio, dentre outros, para que se guardem esses materiais ao invés de descartá-los no meio ambiente e os destine para empresas especializadas em sua reciclagem. Quando o impacto atinge maiores proporções, prejudicando o meio externo à empresa, a solução vem de uma consultoria contratada para este fim, que realiza estudos de impactos semestralmente. Um desses estudos resultou na implantação de um circuito fechado de água de lavagem. Ao invés de despejar essa água descartada no processo produtivo em rios, faz-se sua reutilização dentro da fábrica, resultando, assim, em um consumo mais consciente deste recurso.

Com relação às fontes de energia utilizadas pela usina, seu consumo energético é feito por sistema próprio, através de uma hidroelétrica a vapor que na época de safra se combina com a geração de energia através de biomassa, com a queima do bagaço da cana-de-açúcar. Seu controle de consumo/produção é tido como um dos melhores do nordeste. A empresa percebe na geração de energia através da utilização de fontes renováveis, uma vantagem em custos e de consumo consciente em relação às fontes não renováveis, desta forma, ela apóia e difunde fortemente a utilização dessa produção energética na comunidade em geral.

Ao mencionar a comunidade, incluindo os moradores vizinhos, os funcionários, o governo, as ONGs e fornecedores, vale ressaltar que a empresa mantém projetos educacionais relativos a cursos de qualificação profissional técnica quando existe carência de demanda de recursos humanos para funções na empresa, como soldador e operador de colheitadeira, em parceria com o governo do estado, através da secretaria da educação e da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), porém, projetos educacionais que abordem especificamente educação ambiental não são realizados. Acerca das ONGs, inexistem empreendimentos com a temática ambiental no estado, todavia se porventura surgir algum no estado, a empresa julga ser de grande valia a formação de uma parceria. Quando se fala em comunidade, a empresa julga não precisar dar maiores esclarecimentos a ela, pois acredita que sua atividade e seus produtos, considerados comuns, já são de conhecimento geral. A respeito dos fornecedores, estes não tem relação interpessoal alguma com a empresa, toda compra, seleção e avaliação é feita pela cooperativa, que faz as compras em grande escala para abastecer todos os cooperados.

Em linhas gerais, a empresa se considera bem estabelecida acerca da temática ambiental e se for comparar com o setor em sua totalidade, com exceção de grandes produtoras paulistas que estão expostas a grandes quantidades de regulamentações para atender um maior número de mercados, suas atitudes estão bem a frente a outras usinas sucroalcooleiras e além de impedir maiores degradações ambientais, acredita que a adoção de métodos dessa conjuntura trouxeram uma maior penetração no mercado internacional, maior rentabilidade, melhor relacionamento com os órgãos públicos e a sociedade como vantagens competitivas para a empresa.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O novo contexto que classifica o meio ambiente como extremamente importante para a perpetuação da raça humana na terra, está fazendo com que as empresas, tidas como uma das maiores vilãs na contribuição para o aquecimento global assumam uma posição pró-ambiente e adotem ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, como o gás carbônico, o óxido nitroso e o metano, tidos como principais causadores do efeito estufa.

As tentativas de diminuir esse efeito geraram conferências, informes e protocolos. Dando seu devido destaque ao Protocolo de Kyoto, de onde saíram metas objetivas e concretas de redução de GEEs, tendo como um dos principais assinantes a Rússia, que sozinha detinha 17% das emissões.

Assim, governos, sociedade e mercado trataram de estabelecer regras para controlar a atividade econômica desenfreada e de consumo respectivamente. Essas regras, de certa forma, foram tomadas pelos empresários como diferenciação competitiva no mercado, quem as cumprisse, ganharia destaque e conquistaria maior market share.

Colocando em evidência o setor sucroalcooleiro, tido como estratégico em uma nação, pela sua importância na fabricação de combustíveis e na geração de energia, pode se observar que este causa tanto benefícios como prejuízos ao meio ambiente. Desmatamento, queimadas e contaminação de lençóis freáticos são algumas das atividades que prejudicam o meio ambiente, mas adoção de técnicas de conservação do solo, a troca da queimada por colheitadeiras, o reaproveitamento de resíduos orgânicos e a geração de energia através de fonte renovável – o bagaço da cana – apontam um novo rumo que pode trazer benefícios para o setor e para o meio ambiente, como também foi demonstrado no estudo de caso da usina.

Importante reiterar que a iniciativa de se adotar a gestão ambiental nessa usina é, puramente, baseada na conquista de competitividade econômica. Sua preocupação com a comunidade e com a multiplicação de informações acerca de como sua atividade atinge o meio ambiente e como aquela poderá se prevenir, se dá através de uma sinalização do mercado; distanciando-se um pouco dos princípios da sustentabilidade, onde não se condiciona a preocupação ambiental apenas voltada para o mercado, mas principalmente para sociedade, portanto, contra o conceito de sustentabilidade.

Seguindo a linha deste conceito e os benefícios que sua aplicação traz ao meio ambiente, seria interessante adotar na empresa uma forma de conscientizar os colaboradores para a questão da gestão ambiental, por exemplo, adotando programas internos de educação voltados para este tema; principalmente aos funcionários de baixo escalão, que em sua maioria possuem baixo de nível de instrução e não entendem sobre do que a gestão ambiental se trata.

Além disso, a empresa deve procurar desenvolver projetos ambientais que tenham a comunidade na qual ela está inserida como parceira, aumentando, assim, a sua responsabilidade sócio-ambiental.

Seguindo esta orientação, este estudo permitiu concluir que apesar das vantagens encontradas na adoção de técnicas ambientalmente corretas, cabe ainda a esse setor e aos de natureza diversa a devida adequação de seus processos em favor da preservação do meio ambiente e, que em meio a discussões infindáveis e da prolixidade de se chegar a um denominador comum que consiga beneficiar cada participante empresarial, governos e, principalmente, a sociedade. Enfim é preciso que todos esses atores envolvidos tenham em

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mente que a sobrevivência econômica depende primeiramente da sobrevivência do ambiente que nos engloba. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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