GESTÃO DE RESÍDUOS RESULTANTES DA PRODUÇÃO DE … · from the intensive poultry prodution...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES. DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM GEOGRAFIA Dissertação de Mestrado GESTÃO DE RESÍDUOS RESULTANTES DA PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE MARINGÁ/PR, 2006

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARING CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES.

    DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA CURSO DE PS-GRADUAO - MESTRADO EM GEOGRAFIA

    Dissertao de Mestrado

    GESTO DE RESDUOS RESULTANTES DA

    PRODUO DE FRANGOS DE CORTE

    MARING/PR, 2006

  • CSAR BADO

    GESTO DE RESDUOS RESULTANTES DA

    PRODUO DE FRANGOS DE CORTE

    Dissertao apresentada como requisito parcial para

    obteno do Ttulo de Mestre ao Programa de Ps-

    Graduao Mestrado em Geografia rea de

    Concentrao: Anlise Regional e Ambiental, do

    Departamento de Geografia do Centro de Cincias

    Humanas, Letras e Artes da Universidade Estadual

    de Maring/PR.

    ORIENTADOR: Prof Dr. GENEROSO DE ANGELIS NETO

    MARING/PR, 2006

  • II

    Dedico esta dissertao Sandra, minha esposa, pelo carinho e apoio no decorrer desta caminhada. Ao Matheus por aceitar a minha ausncia, mesmo que perto.

  • III

    AGRADECIMENTOS Ao professor Generoso De Angelis Neto, meu orientador, por aceitar o desafio da interdisciplinaridade entre as cincias e por trazer consideraes relevantes ao andamento desta pesquisa. Acima de tudo quero agradecer a amizade, fundamental para o andamento do trabalho. A Gabrieli e ao Leandro pela disponibilidade, agilidade e pelo suporte tcnico. A Sandra, pela cumplicidade e ainda, por saber que posso contar com voc.

  • IV

    RESUMO Neste trabalho procura-se analisar a gesto de resduos slidos em propriedades rurais decorrentes do sistema de produo intensivo de frangos de corte da regio Nordeste do Paran, abordando os principais resduos gerados, quantificando-os e descrevendo seu potencial poluidor. Consideram-se, ainda, as legislaes ambientais, impactos efetivos, potencialidades e deficincias do sistema de gerenciamento destes resduos, apresentando alternativas para minimizar os impactos ambientais decorrentes deste sistema de produo, dentro de um enfoque geogrfico. Palavras-Chave: Gesto de resduos, resduos da avicultura, propriedades rurais, impacto ambiental.

  • V

    ABSTRACT This paper tries to analize the solid residues management in rural counties derived from the intensive poultry prodution system in the northern Parana state area, approaching the main residues generated, qualifing them and describing its pluting potencial. The environment legislation effective impacts, potentialities and residues management systems deficiency are also considered presenting alternatives to minimize the environmental impacts derived from this prodution system in a geographic view. Keywords: residues management, residues of poultry, rural properties, environmental impacts.

  • VI

    SUMRIO

    DEDICATRIA ........................................................................................................... II AGRADECIMENTOS ................................................................................................ III RESUMO .................................................................................................................. IV ABSTRACT ............................................................................................................... V SUMRIO ................................................................................................................. VI LISTA DE TABELAS .............................................................................................. VII LISTA DE QUADROS ............................................................................................ VIII LISTA DE FOTOS .................................................................................................... IX LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. X INTRODUO ........................................................................................................... 1 UNIDADE I SISTEMA DE PRODUO DE AVES DE CORTE E ELEMENTOS POLUIDORES ............................................................................................................ 7 1.1 Sistema de Produo de Aves de Corte ............................................................... 7 1.2 Cama de Avirio ................................................................................................. 10 1.2.1 Utilizao da Cama como Fertilizante ............................................................. 13 1.2.2 Cama de Avirio na Alimentao de Ruminantes ........................................... 19 1.2.3 Utilizao da Cama como Fonte de Energia ................................................... 20 1.3 Carcaas de Aves Mortas ................................................................................... 23 1.3.1 Fossas ............................................................................................................. 26 1.3.2 Incinerao ...................................................................................................... 28 1.3.3 Compostagem ................................................................................................. 29 UNIDADE II ASPECTOS RELACIONADOS LEGISLAO AMBIENTAL ....... 32 UNIDADE III NORDESTE DO PARAN: RESDUOS DA PRODUO AVCOLA E SEU GERENCIAMENTO ...................................................................................... 38 3.1 Uso e Ocupao do Solo na rea da Pesquisa .................................................. 39 3.2 Produo e Tratamento da Cama de Avirio na rea da Pesquisa ................... 43 3.3 Disponibilidade e Tratamento de Carcaas de Aves Mortas .............................. 46 CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................... 53 REFERNCIAS ........................................................................................................ 55 ANEXOS .................................................................................................................. 58

  • VII

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 Produo de cama: matria natural (Kg), matria seca (Kg e %) e umidade (%) nas diferentes densidades por lotes ................................................. 11 Tabela 02 Concentrao mdia de Nitrognio (N), Fsforo (P2O5) e Potssio (K2O) e teor de matria seca (MS) em camas reutilizadas ....................................... 12 Tabela 03 Contagem bacteriana antes e aps o alojamento ................................. 19 Tabela 04 Percentual de nutrientes em amostras de compostos de carcaas de aves ..................................................................................................................... 31 Tabela 05 Abate de frangos de corte no Brasil em 2003/2004 por estado ............ 38 Tabela 06 Relao entre o ciclo de produo e troca de cama nos modelos de propriedades adotados pela pesquisa ................................................................. 43 Tabela 07 Relao entre o nmero de aves alojadas, rea fsica do avirio e quantidade de cama disponvel ............................................................................. 44 Tabela 08 Produtores, potencial de alojamento, comportamento semanal da mortalidade, mortalidade total e percentual sobre alojamento ............................ 47 Tabela 09 Idade, peso padro em relao (g) de carcaas de aves mortas disponveis para cada ave alojada ................................................................ 48 Tabela 10 Sistema de gerenciamento de carcaas de aves mortas adotado pelas propriedades rurais de acordo com o modelo de alojamento estabelecido .... 51

  • VIII

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 01 Estgios da biodigesto anaerbica .................................................... 20 Quadro 02 Disponibilidade em gramas (g) de carcaas de aves mortas sobre o nmero de aves alojadas durante o perodo de alojamento ........................ 49

  • IX

    LISTA DE FOTOS

    Foto 01 Avirio destinado ao alojamento de aves ................................................... 9 Foto 02 Cama de avirio com dejetos de aves ...................................................... 13 Foto 03 Lago eutrofizado com concentrao de plantas aquticas ....................... 16 Foto 04 Disponibilidade de cama aps ciclo de produo ..................................... 22 Foto 05 Aves mortas durante o ciclo de produo ................................................ 24 Foto 06 Modelo de fossa sptica para destino de aves mortas ............................. 26 Foto 07 Fossa sptica com carcaas em decomposio ...................................... 27 Foto 08 Incio da compostagem - Adio de marravalha e gua ............................ 29 Foto 09 Disposio das aves na composteira ....................................................... 30

  • X

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 Estado do Paran Delimitao da rea de estudo ............................... 4 Figura 02 Localizao dos municpios da pesquisa no Estado do Paran ............... 5 Figura 03 Modelo de fossa sptica impermeabilizada ........................................... 28 Figura 04 Localizao dos abatedouros de aves na regio Nordeste do Paran .. 40 Figura 05 Municpios de abrangncia da pesquisa Nordeste do Paran ........... 42

  • INTRODUO

    O crescimento constante da avicultura brasileira levou as unidades agrcolas

    de produo de frango de corte a aumentarem sua capacidade de alojamento de

    aves. A demanda crescente por protena de origem animal aliada ao melhoramento

    gentico, nutricional e controle climtico permitiram um incremento significativo na

    densidade de aves idade de abate, passando de 20 para 30 Kg/ m (PAIVA, 2002).

    Estes resultados so extremamente positivos quando analisados pelo aspecto

    produtivo, mas algumas questes devem ser consideradas. Na avicultura moderna

    se produz uma quantidade considervel de esterco em forma de cama (mistura de

    esterco mais subprodutos de secagem). Nas unidades de produo avcola, mesmo

    com taxas moderadas de mortalidade durante o desenvolvimento, a disposio de

    aves mortas torna-se um problema significativo.

    As alternativas de manejo destes resduos dependem da situao particular

    de cada propriedade. De modo geral, as restries baseiam-se na forma de manejo

    sobre o controle de doenas e sobre a qualidade do ar e da gua.

    Segundo DE LUCAS JUNIOR (2003) os impactos ambientais causados pela

    avicultura de corte podem estar relacionados com a emisso de gases e poeira, pelo

    excesso de minerais depositados no solo em decorrncia do mau uso da cama e

    acmulo de aves mortas, ainda pela contaminao do lenol fretico, por receber

    elementos residuais do que foi aplicado ao solo.

    Para CHAPMAN (1996) os principais componentes presentes nos resduos

    animais, que fornecem nutrientes para as plantas, mas que, ao mesmo tempo, esto

    relacionados contaminao das guas subterrneas e de superfcie, incluem o

    nitrognio e o fsforo. Entre os problemas atribudos disposio destes resduos

    no solo, citam, por exemplo, a contaminao de guas subterrneas com NO3

    (nitrato).

  • 2

    Segundo DE LUCAS JUNIOR (2003) microorganismos patognicos podem

    sobreviver nos resduos animais, contaminando o lenol fretico, prejudicando a

    qualidade microbiolgica da gua destinada a animais, recreao e ao consumo

    humano.

    A contaminao de gua de superfcie por Salmonella sp, por exemplo, pode

    se dar atravs de dejetos de abatedouros avcolas e, indiretamente, atravs de

    aplicao de resduos de aves contaminados no solo. A Salmonella sp pode se

    multiplicar ate 100.000 vezes na gua de rios, com cerca de 100 mg de substncias

    orgnicas por litro. Portanto os despejos de efluentes animais no tratados em

    guas superficiais ou subterrneas tornam-se um risco eminente para pessoas ou

    animais que a consomem ou tm contato direto (KRAFT, 2003).

    Um sistema de produo dispe do ar, da gua e do solo como receptores de

    efluentes de uma determinada atividade. Assim, torna-se fundamental considerar a

    capacidade de assimilao do ambiente, ou seja, de disperso atmosfrica, de

    autodepurao da gua e de filtrao no solo.

    O uso adequado dos recursos naturais (melhoria na eficincia e

    racionalizao do uso), o grau de capacidade de suporte para determinada atividade

    e o controle na gerao e disposio de efluentes, segundo as caractersticas dos

    receptores ar, solo e gua, determinaro maior ou menor sustentabilidade na

    atividade.

    dever da coletividade defender e preservar o meio ambiente. Para tanto

    necessrio um trabalho de conscientizao pblica por meio da promoo de

    educao ambiental (Constituio Federal1, 1988), de informao e publicidade dos

    projetos e programas pblicos e privados, que comprometam a qualidade de vida. A

    garantia da preservao e restaurao dos recursos ambientais locais e regionais

    depende, portanto, da ao conjunta e integrada do poder pblico e da coletividade.

    1Constituio Federal, art.225, 1, VI, 1988.

  • 3

    Assim, este trabalho tem como objetivo principal avaliar o gerenciamento de

    resduos slidos em propriedades rurais decorrentes de sistemas intensivos de

    produo de frango de corte no Nordeste do Paran. Pretendemos ainda identificar

    e quantificar os resduos produzidos, considerando suas caractersticas e o destino

    final adotado; analisar as legislaes vigentes; propor alternativas para o

    gerenciamento destes resduos, no intuito de minimizar os impactos decorrentes

    deste processo. Alm deste objetivo, fornecer subsdios para que a iniciativa privada

    local juntamente com os produtores consiga produzir com eficincia adequando seu

    sistema de produo quando necessrio.

    Para abordar tais questes o trabalho ser dividido em trs Unidades:

    A Unidade I pretende abordar e descrever sobre os resduos slidos gerados

    em propriedades rurais que trabalham com frangos de corte, sistema de

    gerenciamento e disposio final adotado, seu potencial como agente poluidor do

    meio, analisando fundamentalmente os que geram maior impacto.

    Para discutir o assunto, fundamental entender a dinmica de uma

    propriedade rural que trabalha com frangos de corte, conhecendo o processo da

    produo.

    Na Unidade II analisada a legislao ambiental no mbito Nacional e

    Estadual, Programas de Sanidade Avcola relacionados gesto de resduos slidos

    rurais decorrentes da produo intensivo de frango de corte, tratamento e disposio

    final recomendados pela legislao.

    Na Unidade III ser abordado o sistema de produo de frango de corte no

    Nordeste do Paran no que se refere ao gerenciamento de resduos slidos em

    propriedades rurais decorrentes deste processo. Quantificar os resduos produzidos

    e analisar potencialidades e deficincias nos sistemas de tratamento e disposio

    final.

  • 4

    A rea de estudo foi delimitada com base na metodologia adotada pelo

    Sindicato e Associao dos Abatedouros e Produtores Avcolas do Paran

    (Sindiavipar), o qual estabelece no Estado do Paran quatro regies geogrficas

    distintas: Noroeste, Sudoeste, Sudeste e Nordeste. Os critrios adotados pelo

    Sindiavipar para delimitao das regies levam em considerao caractersticas

    como: sistema de produo, instalaes, equipamentos e proximidade entre as

    plantas industriais de abate, porm, no obedece a limites geogrficos especficos.

    A agricultura uma atividade econmica dependente, em grande parte, do

    meio fsico. O aspecto ecolgico confere fundamental importncia ao processo de

    produo agropecuria. Qualquer pas ou regio apresenta vrias sub-regies com

    diferentes condies de solo e clima, ainda, aptides para produzir bens agrcolas.

    Para localizar geograficamente a rea de estudo, foi estabelecido um

    quadrante nordeste do estado do Paran, delimitado pelas coordenadas

    geogrficas, 22 40 e 24 40 de Latitude Sul e 49 20 e 52 00 de Longitude Oeste

    (Figura 01).

    Figura 01: ESTADO DO PARAN - DELIMITAO DA REA DE ESTUDO

    Nota: Para a delimitao da rea de abrangncia foi utilizada a regionalizao da SINDIAVIPAR/2005.

    Organizao: Csar Bado

    CURITIBA

    52 00' 49 20'

    22 40'

    24 40'

  • 5

    A rea geograficamente delimitada como regio Nordeste do Estado do

    Paran caracteriza-se como uma das principais regies produtoras do pas. No ano

    de 2004 foram abatidas 17.479.555 aves ao ms o que corresponde a 19,73% do

    nmero de aves abatidas no estado do Paran (SINDIAVIPAR, 2005).

    Para o levantamento de dados sobre quantidade, caractersticas, destino e

    gerenciamento de resduos slidos foram utilizados questionrios (amostragem)

    aplicados diretamente aos produtores rurais de forma ao acaso2 (Anexo 01).

    A base de dados gerou informaes sobre 14 municpios, distribudos na rea

    de estudo de forma ao acaso conforme a Figura 02, permitindo uma anlise

    qualitativa sobre o gerenciamento dos resduos slidos decorrentes da produo de

    frangos de corte em propriedades rurais.

    Figura 02: LOCALIZAO DOS MUNICPIOS DA PESQUISA NO ESTADO DO PARAN

    CURITIBA

    Base Cartogrfica: Prefeitura Municipal de Maring/PR 2005. Organizao: Csar Bado

    SO PAULO

    MATO GROSSODO SUL

    PARAGUAI

    SANTA CATARINA

    2Os questionrios foram preenchidos eventualmente nas visitas realizadas em propriedades rurais.

  • 6

    Assim, foram estabelecidas e analisadas trs categorias de propriedades

    rurais, conforme a capacidade de alojamento de aves, buscando avaliar possveis

    variaes na gesto dos resduos slidos entre os modelos de propriedades. Os

    modelos adotados esto baseados na capacidade de alojamento, divididos em:

    pequena capacidade de alojamento Inferior a 15.000 aves;

    mdia capacidade de alojamento entre 15.001 e 30.000 aves;

    grande capacidade de alojamento acima de 30.001 aves.

    Estas trs categorias de propriedades predominam na rea de estudo e

    caracterizam o modelo de avicultura adotado na regio. Cabe ressaltar que em

    nossa abordagem no analisamos a relao com o aspecto fundirio.

    O mtodo de coleta de dados por questionrio (amostragem) foi tambm

    utilizado para obter informaes das empresas integradoras no que se relaciona a

    gerao e destino para os dejetos produzidos nas propriedades rurais (Anexo 02).

    O diagnstico da situao atual da produo e gerenciamento de resduos

    slidos, mediante levantamento de campo (amostragem) permite analisar e propor

    alternativas para a gesto destes resduos slidos, alm de apresentar e discutir os

    resultados para produtores e iniciativa privada, fornecendo-lhes subsdios para

    adequao do seu processo de produo de frangos de corte, na tentativa de

    minimizar os impactos ambientais decorrentes deste processo.

  • UNIDADE I

    SISTEMA DE PRODUO DE AVES DE CORTE E ELEMENTOS POLUIDORES

    A cadeia produtiva de aves de corte no Brasil vem se destacando nas ltimas

    dcadas devido ao incremento tecnolgico e sua capacidade de coordenao

    entre os diferentes agentes que a compe.

    Segundo a Unio Brasileira de Avicultura (UBA, 2005) a produo brasileira

    de frangos de corte passou de 2.356.000 toneladas de carne em 1990 para

    8.490.000 toneladas de carne em 2004. Foram abatidos mais de 4.040.000.000 de

    aves, o que corresponde atualmente a 13% da produo mundial. Este volume de

    carne distribudo em dois tipos de mercado de consumo: o interno, que absorve

    71,5 % do volume total produzido e o mercado de exportao responsvel por

    consumir 28,5 % da produo nacional de carne de frangos. O setor avcola de corte

    no Brasil responsvel por gerar mais de quatro milhes de empregos diretos e

    indiretos.

    Estes dados no refletem apenas a caracterstica do setor, norteado pelo

    mercado de escala, seu excepcional desempenho em alojamento de aves,

    produtividade e rentabilidade, mas tambm demonstra a importncia social desta

    atividade tanto no meio agrcola quanto urbano.

    1.1 Sistema de Produo de Aves de Corte

    O sistema de produo de frangos de corte para o abate no Brasil

    constitudo por duas bases fundamentais. A primeira caracterizada pela indstria

    de capital privado ou cooperativo, dispe do espao fsico ou planta3 para abate e

    processamento de carnes e derivados, produo de pintainhos e fbrica de raes,

    mantendo sob sua responsabilidade jurdica todo e qualquer agrave que possa

    3Planta se relaciona ao espao fsico destinado para o abate e processamento de aves.

  • 8

    ocorrer no gerenciamento do cotidiano. So exemplos questes comerciais ou

    ambientais, ou ainda com recursos humanos.

    A segunda constitui a estrutura produtiva comumente denominada

    integrao aviria4 ou granja; de capital particular (fsico), onde configura a

    propriedade rural e seu proprietrio ou arrendatrio como elemento gerenciador do

    cotidiano. Caracteriza-se pela fora de trabalho, normalmente no vinculada

    indstria que utiliza o sistema de produo de frangos de corte como uma forma de

    diversificar suas atividades de produo agregando valor e renda.

    O crescimento constante da avicultura brasileira nos ltimos anos levou as

    unidades rurais de produo de frango de corte a aumentarem sua capacidade de

    alojamento de aves. A demanda crescente por protena de origem animal aliada ao

    melhoramento gentico, nutricional e controle climtico levou a um incremento

    significativo na densidade de aves idade de abate, passando de 20 para 30 Kg/

    m.

    Normalmente as granjas so dimensionadas para alojar 11 a 13 aves por m2,

    carga superficial5 que viabiliza no apenas o produtor e seu investimento como

    tambm a indstria com o transporte de alimentos e custo de assistncia tcnica

    (TINOCO, 2004).

    O alojamento consiste em preparar o ambiente avirio para o recebimento

    dos pintainhos em seu primeiro dia de vida (Foto 01).

    Para alojar um lote de pintainhos necessrio que a propriedade rural

    disponha de um avirio, o qual possui caractersticas como altura do p direito de

    3,5 m, largura de 12 m e comprimento variando entre 60 a 150 m. O mesmo padro

    adotado em quase todo o Brasil, correspondendo a um ou mais avirios por

    propriedade, cuja rea construda de cada varia entre 600 m2, 1200 m2 ou 1800 m2,

    permitindo um alojamento aproximado de 7.000, 14.500 ou 22.000 aves

    respectivamente (TINOCO, 2004).

    4Avirio corresponde estrutura fsica destinada a criao de aves. 5Carga superficial se refere a relao entre quantidade e/ou peso sobre rea.

  • 9

    Foto 01 - Avirio destinado para o alojamento de aves.

    Outros fatores importantes a serem considerados referem-se necessidade e

    disponibilidade de gua, alimentos, energia eltrica, comedouros, bebedouros,

    equipamentos para controle trmico como ventiladores, nebulizadores aquecedores

    e principalmente material absorvente para utilizar como cama.

    Segundo PAGANINI (2004) aves criadas em ambientes com temperatura

    adequada, com controle da carga microbiana, conseqentemente com baixa

    contaminao por agentes patognicos, com qualidade do ar e sobre uma

    superfcie confortvel, podero expressar melhor o potencial gentico de converter o

    alimento ingerido em peso corporal.

    Os resultados da avicultura brasileira so extremamente positivos quando

    analisados pelo aspecto produtivo e econmico. No entanto, algumas questes

    devem ser consideradas. Entre estas a questo ambiental e o impacto provocado

    pelos resduos slidos produzidos pela atividade se configuram entre as principais.

    Na avicultura moderna se produz uma quantidade considervel de esterco em

    forma de cama (mistura de esterco mais subprodutos de secagem). Alm disso, nas

    unidades de produo avcola, mesmo com taxas moderadas de mortalidade

    durante o desenvolvimento, torna-se evidente a disposio de aves mortas.

  • 10

    As alternativas de manejo destes resduos dependem da situao particular

    de cada propriedade e das restries impostas pelos rgos ambientais. De modo

    geral, as restries baseiam-se no impacto, na forma de manejo sobre o controle de

    doenas e sobre a qualidade do ar e da gua.

    Ainda que a tecnologia permita superar, em parte, as limitaes derivadas do

    condicionamento ecolgico, importante lembrar que a preservao dos recursos

    naturais restringe parcialmente as decises relacionadas com o uso e ocupao do

    solo.

    Desenvolver alternativas que estimulem a produo, mas, sobretudo, que

    minimizem os impactos causados por seus resduos no ambiente, tem-se tornado

    um dos grandes desafios da atividade agropecuria.

    1.2 Cama de Avirio

    Cama considerada, todo material orgnico6 seco, normalmente derivado ou

    subproduto de secagem de produo agrcola, inerte7 e que possui como

    caracterstica principal absoro de umidade, fcil manejo e disponibilidade regional.

    Vrios subprodutos industriais ou restos de culturas agrcolas podem ser usados,

    entre eles a maravalha8, a casca de arroz, fenos picados e resduos de marcenaria,

    como a serragem.

    A cama deve ser manejada de forma que sua umidade fique entre 20 e 35%

    (ALMEIDA, 1986). O aumento na densidade de aves determina maior compactao

    da mesma, diminuindo sua capacidade de absoro de umidade. Segundo MACARI

    (1997) a utilizao de uma lmina 10 cm de espessura do material sobre o piso

    suficiente para fornecer um ambiente confortvel para as aves.

    Elemento fundamental no processo produtivo, a cama atua como isolante

    trmico entre a ave e o piso, alm de alterar a caracterstica de dureza do mesmo.

    6Algumas empresas utilizam materiais inorgnicos como a areia para superfcie de cama. 7Inerte: Inativo, ou seja, materiais que no podem mudar espontaneamente de estado. 8Maravalhas so aparas de madeiras, gravetos finos, cavacos.

  • 11

    Alm disso, tm a funo de reter as fezes, restos de alimentos, descamaes da

    pele, penas e a umidade no decorrer da produo, tornando-se assim, aps seu uso,

    um dos principais resduos do sistema de produo de frangos de corte com

    potencial poluidor do ambiente.

    MALONE (1992) avalia a utilizao, o manejo e a produo de cama com

    materiais alternativos. Este estudo permitiu identificar que um sistema de produo

    de frangos de corte em escala industrial produz, em mdia, 1,6 a 1,8 Kg de cama por

    ave no perodo de alojamento9, ou seja, aproximadamente 24 Kg de material

    produzido por metro quadrado de rea construda. Esta carga superficial

    influenciada por diversos fatores, tais como a idade de abate, densidade e linhagem

    das aves, converso alimentar10, tipo de rao, condies climticas, tipo e

    quantidade de material utilizado como cama, entre outros.

    SANTOS e DE LUCAS JNIOR (2001) identificaram uma variao na carga

    superficial disponvel de acordo com o tipo de substrato usado para confeco da

    cama, a quantidade de material utilizado, a densidade de aves por m e o nmero de

    lotes criados sobre a mesma cama. A influncia da densidade de animais por m de

    rea e o nmero de reutilizaes da cama sobre a carga superficial produzida pode

    ser verificada na Tabela 01.

    Tabela 01 Produo de cama: matria natural (Kg) matria seca (Kg e %) e

    umidade (%) nas diferentes densidades, por lotes

    Lote Densidade Aves/m

    MN (Kg)

    Umidade (%)

    MS MS/ave (Kg)

    DA (Kg MS) (Kg) (%)

    10 107,825 28,84 76,556 71,16 1,727 0,949 1 16 137,363 33,2 91,366 66,74 1,349 0,839 22 170,525 39,03 103,511 60,97 1,124 1,124 138,571 33,72 90,478 66,29 1,400 0,970

    2 10 132,500 21,33 104,062 78,56 1,205 1,023 16 164,313 28,12 118,094 71,88 0,992 0,874 22 199,838 38,24 123,211 61,76 0,774 0,689 165,550 29,26 115,123 70,73 0,990 0,862

    MN: Material natural; MS: Matria seca; DA:Detritos acrescentados pelas aves Fonte: Santos e De Lucas Junior (2001), adaptado.

    9Este perodo pode variar entre 42 e 45 dias. 10Converso alimentar a relao entre o consumo alimentar e o ganho de peso.

  • 12

    A Tabela 01 mostra um incremento na carga superficial de material natural

    (MN) medida que aumenta a densidade de aves por metro quadrado. Esta relao

    tambm pode ser observada quando se reutiliza esta cama para a criao de um

    segundo lote de aves.

    Esta relao confirmada pela anlise da massa seca (MS) onde, depois de

    retirada umidade, percebe-se o incremento real de carga superficial disponvel em

    ambas situaes. Ao aumentar a densidade de aves por metro quadrado acresce a

    carga superficial de cama disponvel. Ao reutilizar a cama para criar um novo lote, h

    um incremento proporcional de massa seca (MS) produzida.

    Composta basicamente por resduos de cultura agrcola ou subprodutos da

    indstria madeireira, a cama recebe, durante o processo de produo, uma carga

    significativa de nutrientes como nitrognio (N), fsforo (P) e potssio (K), oriundos do

    metabolismo dos alimentos em forma de dejetos, restos de alimentos desperdiados,

    penas das aves e descamaes da pele. Neste sentido, o material utilizado para a

    confeco da cama bem como a reutilizao por vrios lotes vai influenciar na

    composio do material final, principalmente no que se refere concentrao de

    elementos qumicos e minerais.

    PALHARES (2005) verificou um processo acumulativo de determinados

    minerais na cama de frango aps sua reutilizao por vrios lotes. Esta

    caracterstica pode ser observada na Tabela 02.

    Tabela 02 Concentrao mdia de Nitrognio (N), Fsforo (P2O5), Potssio (K2O) e

    teor de Matria seca (MS) em camas reutilizada

    Resduo Nitrognio (N)

    Fsforo (P2O5)

    Potssio (K2O)

    Matria Seca (%)

    Cama de aves 1 lote 3,0 3,0 2,0 70 Cama de aves 3 lote 3,2 3,5 2,5 70 Cama de aves 6 lote 3,5 4,0 3,0 70

    Fonte: PALHARES (2005).

    A presena destes nutrientes fundamentais, associados a uma grande

    quantidade de material orgnico, normalmente determina o destino a ser empregado

  • 13

    para esses resduos. Desta forma a cama de avirio (Foto 02) pode ser considerada

    um recurso se usada adequadamente, pois apresenta riscos ambientais mnimos.

    No entanto, quando impropriamente manipulados, podem degradar o ambiente.

    Foto 02 Cama de avirio com dejetos de aves

    Relacionar o potencial poluidor da cama de avirio a outro tipo de resduo

    pouco provvel e coerente. No entanto possvel estimar a quantidade de cama

    produzida pela atividade avcola brasileira se considerados os dados da UBA (2005)

    e a pesquisa de MALONE (1992).

    Segundo a UBA (2005) em 2004 foram abatidas aproximadamente

    4.040.000.000 aves no territrio brasileiro, em conseqncia, a produo de

    7.272.000 toneladas de resduos ao ano.

    1.2.1 Utilizao da Cama Como Fertilizante

    O principal destino adotado, pelos produtores, para esses resduos relaciona-

    se sua composio e capacidade de suprir de nutrientes o solo e as plantas. No

    entanto, o volume de nutrientes adicionado ao solo deve equivaler-se quele retirado

    pelas plantas num determinado tempo, de maneira que no haja deficincias nem

    excessos.

  • 14

    Normalmente, o procedimento adotado para o clculo das quantidades de

    cama a serem aplicadas ao solo segue o critrio de suprir as quantidades de

    nitrognio ou fsforo recomendadas para as adubaes com fertilizantes qumicos.

    Sobre isso, SEGANFREDO (2005) traz que:

    Freqentemente, no entanto, aplica-se de uma nica vez, a quantidade de cama para suprir a dose total de nitrognio ou fsforo demandada pela cultura durante todo o seu ciclo. Esse procedimento, associado aos excessos de nutrientes nas raes, ao baixo aproveitamento pelas aves de diversos minerais como o nitrognio, fsforo, cobre e zinco e, as aplicaes indiscriminadas das camas ao solo, so os principais fatores que podem transformar as camas de aves de um fertilizante em potencial, num poluente do solo, das guas, da atmosfera e causador de fitotoxicidade s plantas e de deteriorao da qualidade dos produtos agrcolas com elas produzidos (SEGANFREDO, 2005).

    Complementando, CHAPMAN (1996) traz que embora os principais

    componentes presentes nos resduos animais forneam nutrientes para as plantas,

    tambm esto relacionados com a contaminao das guas subterrneas e de

    superfcie.

    O on amnio (NH4) a forma dominante de Nitrognio orgnico no esterco

    de aves, o qual convertido em amnia (NH3) pela elevao do pH e sob condies

    de umidade. Devido a sua alta volatilidade, a amnia difunde-se do esterco para a

    atmosfera, elevando os nveis deste gs no interior dos galpes e poluindo a

    atmosfera adjacente (SEIFFERT, 2000).

    No entanto, o escoamento de gua pluvial de pastagens fertilizadas com

    excesso de esterco de aves pode conduzir rede de drenagem concentraes

    elevadas de amnia.

    A amnia, quando dissolvida na gua, pode ser txica para peixes mesmo em

    baixas concentraes. Nveis elevados provocam estresse nos organismos, com

    problemas nos filamentos branquiais, destruio das nadadeiras, diminuio da

    resistncia a doenas e morte.

  • 15

    Problemas respiratrios podem ocorrer devido a concentraes de 0,4 a 1,0

    mg de amnia total/l de gua. Concentraes da amnia (NH3) prximas a 0,01mg/l

    mostraram efeitos insignificantes sobre os peixes, enquanto valores prximos ou

    superiores a 0,25 mg/l podem ser mortais para algumas espcies (PDUA, 2005).

    Limites de 0,02 ppm de N na forma de amnia (NH3) na gua so

    estabelecidos pela agncia americana de proteo ambiental para proteo da vida

    aqutica (KRIEDER, 1992).

    Por outro lado, estes compostos nitrogenados eliminados pelas aves na forma

    de fezes sofrem a ao de bactrias nitrificantes na cama e so transformados em

    nitritos (NO2) e nitratos (NO3), compostos no volteis que melhoram a qualidade

    fertilizante da cama (PAGANINI, 2004).

    O Nitrato (NO3) forma em que o nitrognio absorvido pelas plantas. Porm

    altamente solvel na gua e facilmente transportado pela soluo do solo da zona

    das razes para o lenol fretico e da para a rede de drenagem (SEIFFERT, 2000).

    A adubao com altos nveis de esterco de aves no solo resultam em

    elevadas concentraes de nitrato na gua subterrnea. Concentraes de nitrato

    acima de 10 mg/l em gua de poos so freqentemente detectadas em reas onde,

    se desenvolve criao intensiva de aves. As concentraes mais elevadas ocorrem

    em locais, com produo intensiva de frangos, uso intensivo de esterco e sob

    condies de solos arenosos bem drenados (SEIFFERT, 2000).

    A intensidade do processo de contaminao depende principalmente das

    quantidades de nitrato presentes ou adicionados ao solo, da permeabilidade do solo,

    das condies climticas, pluviosidade, manejo da irrigao e da profundidade do

    lenol fretico.

    Em um sistema estabilizado o nvel de amnia deve atingir, no mximo, a

    concentrao de 0,2 mg/l, sendo que, para os demais compostos nitrogenados como

    o nitrito, limites entre 0,1 a 0,3 mg/l so aceitveis. Para o nitrato a concentrao no

    deve exceder a 10 mg/l (PDUA, 2005).

  • 16

    O enriquecimento excessivo de guas superficiais com nitratos e derivados

    nitrogenados pode levar ao desequilbrio dos ecossistemas aquticos devido ao

    processo de eutrofizao, que consiste da proliferao exagerada de algas e plantas

    aquticas.

    Como conseqncia, pode haver reduo da penetrao de luz em

    profundidade, alterando o ambiente subaqutico. Plantas aquticas podem criar

    bancos de vegetao submersa retendo sedimentos e vindo a dificultar a

    navegao. Alm disso, a prpria respirao e os restos de plantas e algas mortas

    depositadas no fundo provocam a reduo na disponibilidade de oxignio,

    culminando com a mortandade de peixes e outros organismos aquticos. A Foto 03

    mostra a presena de plantas aquticas em corpos dgua superficiais.

    Foto 03 Lago Eutrofizado, com concentrao de plantas aquticas.

    Embora pessoas em idade adulta possam ingerir quantidades relativamente

    altas de nitrato atravs de alimentos e da gua e excret-lo pela urina sem maiores

    conseqncias prejudiciais sade, crianas com menos de seis meses de idade

    podem apresentar intoxicao alm de asfixia, pela reduo da capacidade do

    sangue em transportar oxignio (RESENDE, 2005).

  • 17

    A ingesto de altos nveis de nitrato por bovinos e eqinos podem levar a uma

    intoxicao devido capacidade de sua flora digestiva convert-lo em nitrito.

    Adequar as taxas de suprimento de nitrognio com a demanda da cultura no

    decorrer do seu perodo de crescimento vegetativo constitui-se no principal aspecto

    a ser buscado em termos de aumento da eficincia da adubao nitrogenada e

    concomitante reduo do risco de lixiviao de nitrato.

    Neste sentido, o parcelamento da adubao nitrogenada de acordo com os

    perodos de demanda das culturas, talvez seja a maneira mais fcil de ganhar

    eficincia e devem ser priorizadas quando as condies de solo (alta

    permeabilidade) e clima (chuva intensa e freqente) favorecerem a possibilidade de

    lixiviao de nitrato.

    Para SANT'ANNA NETO (1998) a anlise geogrfica do clima voltada para a

    organizao do espao agrcola deve, necessariamente, partir de uma concepo de

    clima como insumo nos processos naturais e de produo. Desta forma, tanto a

    radiao global quanto os principais elementos do clima passam a ser considerado

    como agentes econmicos e, portanto, interveniente na produo e rentabilidade.

    Da mesma maneira, o fsforo (P) presente no esterco das aves tem poder de

    fertilizar o solo. Em condies de normalidade no solo, o fsforo est fortemente

    adsorvido s argilas, forma pela qual sua capacidade de migrar no perfil se limita a

    poucos centmetros. Porm, altas concentraes desse elemento no solo podem

    alterar ou indisponibilizar alguns micronutrientes como Ferro e Zinco, alm de

    exceder a capacidade de absoro das plantas e chegar ao lenol fretico mediante

    lixiviao (SEIFFERT, 2000).

    Altas concentraes de fsforo tm sido encontradas em gua de

    escoamento superficial de pastagens onde foi aplicado esterco de aves. A maior

    parte (80 a 90%) solvel em gua e prontamente assimilvel por plantas e algas

    (MOORE, 1996).

  • 18

    Os nveis de fsforo em corpos dgua superficiais no devem ser superior a

    0,05 mg por litro para cursos dgua e 0,10 mg por litro para lagos e reservatrios

    (SEIFFERT, 2000).

    Do ponto de vista de sade, o enriquecimento da gua em fsforo no traz

    maiores problemas, j que se trata de um elemento requerido em elevadas

    quantidades pelos animais em geral.

    A maior preocupao com este elemento est relacionada ao seu potencial de

    eutrofizao dos corpos de gua superficiais. Nestas condies a atividade

    fotossinttica das algas eleva a concentrao de oxignio (O2) dissolvido na gua

    durante o dia, mas a respirao das plantas reduz novamente o oxignio noite e

    em dias nublados (SEIFFERT, 2000).

    A reduo na concentrao de O2 dissolvido pode resultar na mortandade de

    peixes e ictiofauna associada, alm de alterar o odor e o sabor da gua. Corpos de

    gua nestas condies podem se tornar anaerbicos e produzir metano, aminas e

    sulfitos (BLAKE, 1996).

    Neste sentido, estimar a disponibilidade do nutriente no solo, teor de matria

    orgnica, disponibilidade de palha da cultura anterior, condies climticas,

    permeabilidade do solo e a taxa de liberao dos nutrientes pelo fertilizante a ser

    utilizado (principalmente no caso dos estercos), precisam ser analisados de forma

    integrada a fim de ajustar a dosagem, forma e poca de aplicao, reduzindo a

    possibilidade de excessos de nutrientes (SEGANFREDO, 2005).

    Alm disso, substncias que demandam oxignio, materiais em suspenso e

    patgenos oriundas do inadequado gerenciamento dos resduos da produo

    avcola, carreados para corpos dgua, podem alterar ou contaminar o ambiente.

    Partculas em suspenso nos corpos de gua limitam a penetrao da luz e,

    conseqentemente, reduzem a produo de O2 livre por algas e plantas, interferindo

    na qualidade da gua.

  • 19

    OPARA (1992) observou uma correlao entre positividade para Salmonella

    enteritidis e variveis fsicas da cama: umidade, atividade de gua (medio da gua

    molecular livre) e pH. Quanto maior a umidade, maior a atividade de gua e maior o

    pH, maior a probabilidade de a cama ser positiva para Salmonella enteritidis.

    Para DE LUCAS JUNIOR (2003) a contaminao de gua de superfcie por

    Salmonella sp, por exemplo, pode ocorrer atravs de dejetos de abatedouros

    avcolas e, indiretamente, atravs de aplicao de resduos de aves contaminados

    no solo. Alm disso, outros microorganismos patognicos podem sobreviver nos

    resduos animais, contaminando o lenol fretico e prejudicando a qualidade

    microbiolgica da gua destinada aos animais, recreao e ao consumo humano.

    Para PAGANINI (2004) o mtodo de fermentao, processo natural de

    decomposio da matria orgnica em ambiente anaerbico, capaz de reduzir a

    populao microbiana da cama, baseiam-se na epidemiologia dos agentes, na

    logstica disponvel na propriedade e na viabilidade econmica. O aumento da

    temperatura e a reduo do pH que ocorrem no material compostado devido

    atividade microbiana, inviabilizam a sobrevivncia das principais bactrias de

    importncia, conforme mostra a Tabela 03.

    Tabela 03 Contagem bacteriana antes e aps o amontoamento

    Coliformes totais Coliformes fecais Enterobactrias Antes do amontoamento 65.620 49.400 75.460 Depois do amontoamento 260 160 2.640 Fonte: PAGANINI (2004).

    Alm do aproveitamento como fonte de nutrientes para a agricultura, a cama

    de avirio pode ser destinada a outras finalidades.

    1.2.2 Cama de Avirio na Alimentao de Ruminantes

    O aproveitamento da cama de avirio como fonte de alimento para

    ruminantes no recente. Resulta da capacidade dos ruminantes em transformar o

    nitrognio em protena e digerir os componentes fibrosos, disponibilizando energia

  • 20

    para o metabolismo (LEME, 2000). Porm, a Instruo Normativa n 15 do Ministrio

    da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, publicada em 17 de junho de 2001, ainda

    em vigor, proibiu o uso da cama de avirio para este fim.

    1.2.3 Utilizao da Cama como Fonte de Energia

    Alguns estudos apontam para o aproveitamento da cama de avirio como

    fonte de energia. A biodigesto ou digesto anaerbia o processo pelo qual as

    bactrias, atravs da fermentao, degradam a matria orgnica, transformando-a

    em subprodutos, como o biogs (gs inflamvel) e o biofertilizante (lquido organo-

    mineral estabilizado). Estes subprodutos possuem alto valor como fontes

    energticas e nutricionais para as plantas, respectivamente, podendo ser substitutos

    de insumos adquiridos pelo avicultor.

    Segundo PALHARES (2005) o processo de biodigesto pode ser dividido em

    trs estgios distintos, envolvendo grupos de microrganismos especficos em cada

    um deles. No primeiro estgio, materiais orgnicos complexos (carboidratos,

    protenas e lipdios) so hidrolizados e fermentados em cidos graxos, lcool,

    dixido de carbono, hidrognio, amnia e sulfetos, por microorganismos anaerbios

    e facultativos. As bactrias acetognicas participam do segundo estgio,

    consumindo os produtos primrios e produzindo hidrognio, dixido de carbono e

    cido actico, conforme Quadro 01.

    Quadro 01 Estgios da biodigesto anaerbica

    Fonte: PALHARES (2005) adaptado.

    H2, CO2 cido actico (CH2COOH)

    ESTGIO 1 Bactrias fermentativas

    Ac. Propinico (CH2CH2COOH), c. butrico (CH2CH2CH2COOH) Alcoois e outros compostos.

    Resduo orgnico Carboidratos Protenas, Gorduras, Celulose,

    H2, CO2, cido actico CH2COOH

    ESTGIO 2 Bactrias acetognicas

    Metano (CH4 ), CO2

    ESTGIO 3 Bactrias metonognicas

  • 21

    Dois grupos distintos de bactrias metanognicas participam do terceiro

    estgio: o primeiro grupo reduz o dixido de carbono a metano e o segundo

    descarboxiliza o cido actico produzindo metano e dixido de carbono

    (PALHARES, 2005).

    De modo geral a reciclagem de resduos orgnicos ou dejetos decorrentes da

    produo animal via biodigesto vem ganhando espao, principalmente na atividade

    suincola devido disponibilidade de equipamentos e tecnologias para implantar tal

    processo. No entanto, adequar esta tecnologia para os tipos de resduos

    encontrados na avicultura se torna fundamental, medida que necessrio

    produzir, minimizando os impactos causados ao ambiente, decorrentes do volume

    de material disponvel e sua carga patognica.

    Para PALHARES (2005) a escolha de um modelo de biodigestor adequado

    para o tipo de resduo produzido fundamental para obter sucesso operacional e

    econmico no empreendimento. No entanto, para estabelecer uma relao entre os

    principais tipos de biodigestores e suas caractersticas microbiolgicas, torna-se

    fundamental conhecer alguns parmetros que influenciam no modo de operao

    destes equipamentos e na sua eficincia na produo de biogs:

    O Tempo de Reteno Hidrulica (TRH) entendido como o intervalo de tempo necessrio para que ocorra o processo de biodigesto de maneira completa. O Tempo de Reteno de Microorganismos (TRM) e o Tempo de Reteno de Slidos (TRS) so os tempos de permanncia dos microorganismos e dos slidos no interior dos biodigestores. Estes tempos so expressos em dias e, de maneira resumida, pode-se dizer que altas produes de metano so conseguidas, satisfatoriamente, com longos TRM e TRS (PALHARES, 2005)

    Outro fator a ser considerado relaciona-se disponibilidade do resduo (Foto

    04). A cama de frango um resduo produzido em intervalos de tempo, ou seja, sua

    disponibilidade no contnua devido ao modo de produo. Alm disso,

    caractersticas fsicas e qumicas como alto teor de slidos, baixa umidade e

    tamanho das partculas limitam o uso de alguns modelos de biodigestores.

  • 22

    Foto 04 Disponibilidade de cama aps ciclo de produo

    Para PALHARES (2005) um biodigestor em batelada11 poderia ser usado para

    tratar este tipo de resduo, devido s suas caractersticas fsicas e de desempenho,

    que permitirem uma perfeita digesto da biomassa. Alm disso, sugere que uma

    reduo mecnica do tamanho das partculas da cama por moagem antes de ser

    adicionada ao biodigestor poderia melhorar a ao dos microorganismos. Da mesma

    forma a adio de gua ao contedo da cama poderia diminuir o teor de slidos e

    conseqentemente reduzirem o TRH.

    Neste sistema, o uso de inculo como o esterco biofertilizado de bovinos,

    aves ou sunos contendo flora de bactrias acidognicas e metanognicas,

    poderiam acelerar o processo, principalmente em decorrncia dos altos teores de

    celulose e lignina presentes na cama limitarem a biodigesto.

    Vrios fatores vo interferir na converso biolgica da cama de frango em

    biogs, entre eles o tipo de rao, estao do ano, densidade de alojamento das

    aves, tipo de substrato de cama, nvel de reutilizao da cama e caractersticas das

    excretas das aves.

    Na forma como produzido nos biodigestores, o biogs constitudo

    basicamente de 60% a 70% de metano (CH4) e 30% a 40% de dixido de carbono

    11Grande quantidade. LAROUSSE. Dicionrio da lngua portuguesa (1992) p.129.

  • 23

    (CO2), alm de traos de O2, N2 e H2S para resduos orgnicos. A composio do

    biogs ir depender do resduo que alimenta o biodigestor e tambm das condies

    que o mesmo operado. Fatores como temperatura, pH e presso no interior do

    biodigestor podem alterar a composio do gs levemente (PALHARES, 2005).

    O metano tem um poder calorfico de 9.100 kcal/m a 15,5 C e 1 atm e sua inflamabilidade ocorrem em misturas de 5% a 15% com o ar. J o biogs, devido presena de outros gases que no o metano, possui um poder calorfico que varia de 4.800 a 6.900 kcal/m. Em termo de equivalente energtico, 1,33 a 1,87 e 1,5 a 2,1m de biogs so equivalentes a 1litro de gasolina e leo diesel, respectivamente. (PALHARES, 2005)

    DE LUCAS JUNIOR (2003) verificaram o potencial de produo de biogs e

    seu equivalente em GLP, quando se faz a biodigesto de diferentes substratos de

    cama em um e dois ciclos de produo. Concluram que a reutilizao da cama de

    maravalha, alm de ser benfica em relao ao meio ambiente, reduzindo a

    quantidade de substrato consumido, gera menor quantidade de resduo e tambm

    vantajosa quando se objetiva a produo de energia.

    No entanto, a deficiente condio operacional encontrada nas propriedades

    rurais que trabalham com frangos de corte somada s restries de ordem tcnica e

    econmica, limita a adoo desta alternativa para o aproveitamento e destino destes

    resduos a casos espordicos.

    Torna-se fundamental estabelecer polticas e programas de incentivo

    produo e utilizao do biogs, facilitando a aquisio de tecnologia,

    desenvolvendo programas de assistncia tcnica e manuteno de equipamentos

    aos avicultores para que o sistema possa ser implantado com sucesso.

    1.3 Carcaas de Aves Mortas

    O aumento na densidade populacional de aves nas regies produtoras, bem

    como nas propriedades rurais, elevando sua capacidade de alojamento individual,

    trouxe novos desafios para a avicultura moderna. A tendncia mundial de

    concentrao das escalas de produo leva o produtor rural a ter que considerar a

  • 24

    mortalidade de animais como um problema de propores significativas, o qual

    merece ateno.

    Na avicultura de corte, em condies normais de produo, os ndices de

    mortalidade variam entre 3 a 5 % do total de aves alojadas, distribudos no perodo

    de criao conforme Foto 05. Nestes termos, torna-se necessria implantao de

    sistemas de tratamento ou destino das carcaas.

    Foto 05 Ave morta durante o ciclo de produo.

    Segundo DE LUCAS JUNIOR (2005) os processos de decomposio dos

    bioslidos produzem um lquido caracterstico, denominado chorume, no qual a

    demanda bioqumica de oxignio (DBO5) que expressa a quantidade de oxignio

    utilizada na oxidao bioqumica da matria orgnica situa-se entre 4.000 a 15.000

    kg/dia.

    Demanda Bioqumica de Oxignio definida como a quantidade de oxignio

    necessria para oxidar a matria orgnica biodegradvel sob condies aerbicas,

    isto , avalia a quantidade de oxignio dissolvido, em mg/l, que ser consumida

    pelos organismos aerbios ao degradarem a matria orgnica. Um perodo de tempo

    de 5 dias numa temperatura de incubao de 20 C freqentemente usado e

    referido como DBO 5.20.

  • 25

    Os maiores aumentos em termos de DBO num corpo d'gua so provocados

    por despejos de origem predominantemente orgnica. A presena de um alto teor de

    matria orgnica pode induzir completa extino do oxignio na gua, provocando

    o desaparecimento de peixes e outras formas de vida aqutica.

    Um elevado valor da DBO pode indicar um incremento da micro-flora presente

    e interferir no equilbrio da vida aqutica, que alm de produzir sabores e odores

    desagradveis pode obstruir os filtros de areia utilizados nas estaes de tratamento

    de gua.

    A DBO5 se constitui no principal indicador de impacto ambiental de origem

    orgnica de um material, que ao entrar em contato com qualquer outro meio hdrico,

    concorre pelo oxignio disponvel e, desta forma, compete com as demais formas de

    vida ali existentes.

    Alm disso, materiais de origem orgnica como carcaas de animais, quando

    mal acondicionados favorecem a proliferao e alimentao de alguns animais e

    insetos como as moscas, ratos e baratas, os quais podem se tornar vetores de

    doenas aos seres humanos (DE LUCAS JUNIOR, 2003).

    Para SEIFFERT (2000) existem diversas opes ambientalmente seguras

    para destino de aves mortas em condies de normalidade. No entanto, estas no

    sero adequadas para ocasies de mortandade massiva, que esto associadas a

    choque trmico, problemas no equipamento de climatizao ou surto de doenas.

    Na dcada de 1980 as carcaas das aves eram destinadas para o consumo

    de animais domsticos residentes nas propriedades agrcolas, sem nenhum tipo de

    tratamento. Posteriormente se descobriu que ces e outros animais poderiam se

    tornar hospedeiros de algum agente patognico causador de doenas nas aves.

    Assim, esta prtica foi sendo gradativamente abandonada.

    Os mtodos tradicionais adotados para a disposio de carcaas incluem

    fossas anaerbicas, incinerao e aterramento. Cada um desses mtodos revela

  • 26

    vantagens e desvantagens tanto em aspectos relacionados ao manejo como em

    resultados sanitrios e ambientais.

    1.3.1 Fossas

    As fossas anaerbicas so amplamente usadas como alternativa para o

    destino de carcaas de aves. Sua escolha normalmente est atrelada ao baixo custo

    inicial e por no necessitar mo-de-obra especializada para sua construo.

    O modelo mais usual consiste num buraco escavado no solo contendo uma

    tampa em alvenaria ou madeira com uma abertura central que permite a introduo

    de aves mortas, conforme mostra a Foto 06.

    Foto 06 Modelo de fossa sptica para destino de aves mortas

    Dimensionadas para receber carcaas em perodos relativamente curtos, em

    mdia dois anos, tem sua capacidade esgotada normalmente antes do tempo

    projetado, sendo necessrio todo ano reinvestir na abertura ou conservao das

    fossas (ZANELA, 1999).

  • 27

    A deposio de resduos neste sistema produz um meio de decomposio

    anaerbico, cujo resultado deste processo ser o chorume, metano e outros gases

    que provocam maus odores. A Foto 07 mostra a caracterstica do contedo de uma

    fossa sptica destinada para o acondicionamento de aves mortas.

    Foto 07 Fossa sptica com carcaas em decomposio

    Para SEIFFERT (2000) estes depsitos instalados mediante escavao do

    terreno e mantidos cobertos ao nvel do solo deveriam ser revestidos com paredes e

    piso de concreto, cujas dimenses permitissem uma capacidade volumtrica de 3m3,

    sendo desta forma suficiente para um avirio de 10.000 aves, conforme Figura 03.

    No entanto, em solos rasos ou com lenol fretico superficial a estrutura deveria ser

    locada de forma que um tero superior desta estrutura situe-se acima da superfcie

    do solo.

    Embora estes depsitos possuam um custo mais elevado para sua

    implantao, no apresentam restries ambientais. Sua estrutura impermeabilizada

    limita a infiltrao dos poluentes.

  • 28

    Fonte: SEIFFERT (2000).

    Segundo DE LUCAS JUNIOR (2003) outro mtodo adotado com freqncia

    pelos produtores de frangos de corte o aterramento de carcaas. Neste sistema a

    disposio feita em valas rasas, normalmente sem revestimento e a cu aberto,

    possibilitando muitas vezes o ataque de animais roedores e escavadores que se

    alimentam deste tipo de material.

    O movimento de guas pluviais na periferia destas reas pode levar ao

    assoreamento precoce destas valas ou ainda carrear patgenos ou resduos de

    carcaa em decomposio, contaminando guas superficiais ou subterrneas. Outro

    aspecto negativo deste sistema se refere impossibilidade de uso em dias

    chuvosos.

    1.3.2 Incinerao

    A incinerao tambm pode ser considerada como um mtodo a ser

    empregado no tratamento de carcaas de aves, porm as carcaas de animais de

    modo geral apresentam umidade em torno de 65-70%, limitando ou dificultando a

    queima em baixa temperatura.

    Figura 03 Modelo de fossa sptica impermeabilizada

  • 29

    Essa caracterstica, natural da composio da carcaa dos animais faz com

    que o uso deste processo seja limitado em situaes normais de campo, e acima de

    tudo, com alto custo devido necessidade de se utilizar algum tipo de combustvel.

    Aliado a isso os custos com a implantao de incineradores especiais e a emisso

    de odores desagradveis inviabilizam o uso de incinerao para este fim (DE

    LUCAS JUNIOR, 2003).

    1.3.3 Compostagem

    O uso do sistema de compostagem para tratamento e destino de carcaas de

    animais vem sendo amplamente pesquisado desde a dcada de 2000. Este sistema

    tem como objetivo converter a matria orgnica, tal como esterco fresco de aves,

    cama de avirio ou restos de culturas em um material quimicamente mais uniforme e

    com baixa presena de substncias odorferas, chamado hmus ou composto.

    Para que este processo ocorra necessrio existncia de uma relao

    adequada entre carbono e nitrognio no material (cerca de 30 de Carbono para 1 de

    Nitrognio), um contedo adequado de umidade (40 a 50%) e um adequado

    suprimento de oxignio para desenvolvimento das bactrias que iro processar a

    fermentao (SEIFFERT, 2000).

    Foto 08 Incio da compostagem - Adio de marravalha e gua.

  • 30

    A Foto 08 mostra o incio do processo de compostagem com maravalha,

    utilizada como fonte de carbono e a adio de gua em quantidade adequada para

    propiciar o ambiente necessrio para a decomposio de carcaas.

    No entanto, a baixa relao entre carbono e nitrognio presente nas carcaas

    de modo geral, limitam a atividade biolgica no composto, interferindo na

    decomposio destes resduos. Torna-se necessrio adicionar ao sistema fontes

    alternativas de carbono como a palha, casca de arroz e resduos de cereais.

    A maravalha indicada para a compostagem por conter caractersticas ideais.

    So exemplos: alta relao Carbono/Nitrognio (aproximadamente 140:1), alta

    porosidade e pela sua capacidade de acomodar-se bem ao redor das carcaas. O

    processo de decomposio se inicia com a deposio das carcaas (Foto 09),

    cobertas por uma camada de maravalha, a qual serve como fonte de carbono.

    Foto 09 Disposio das aves na composteira

    Inicialmente ocorrem reaes bioqumicas de oxidao intensa do material,

    desencadeada pela ao de microorganismos termoflicos, principalmente bactrias,

    protozorios, fungos e actinomicetos, que atuam no material compostado elevando a

  • 31

    temperatura a 60 a 70C e acelerando o processo de decomposio. Posteriormente

    a temperatura decai, ocorrendo o processo de humificao.

    O processo de compostagem reduz o peso, volume e o teor de umidade do

    material original. DE LUCAS JUNIOR (2003) observou uma reduo de 40% no

    contedo de Nitrognio do material original, obtendo no final do processo um

    produto rico em matria orgnica, uniforme e adequado para uso em jardinagem e

    viveiros de plantas.

    PAIVA (2002) analisaram diferentes amostras de material compostado a partir

    de carcaas de aves e concluram que uma tonelada de composto corresponde 16,8

    kg de nitrognio (N), 20,9 Kg de fsforo (P2O5) e 14,1 Kg de potssio (K2O). A mdia

    de concentrao de nutrientes pode ser verificada na Tabela 04.

    Tabela 04 Percentual de nutrientes em amostras de compostos de carcaas de aves

    Elemento Percental (%) Nitrognio (N Total) 1,85 Nitrognio amoniacal 0,15 Nitrognio orgnico 1,79 Fsforo (P2O5) 2,29 Potssio (K2O) 1,56

    Fonte: Adaptado de PAIVA (2002).

    Porm, a qualidade do material utilizado, como substrato para a composteira,

    mtodo e tempo de estocagem, ainda, o tipo de carcaa utilizada interfere na

    composio de nutrientes do produto final. Desta forma, analisar o produto obtido

    antes de ser aplicado ao solo evita a aplicao exagerada de nutrientes.

    A utilizao deste mtodo de compostagem permite um rpido e seguro

    destino aos resduos da produo avcola, como no caso das carcaas de animais

    mortos. Se conduzido corretamente reduz a emisso de odores, contaminao das

    guas destri agentes patognicos, fornecendo como produto final um composto

    orgnico que pode ser utilizado no solo sem risco ao meio ambiente (DE LUCAS

    JUNIOR, 2003).

  • 32

    UNIDADE II

    ASPECTOS RELACIONADOS LEGISLAO AMBIENTAL

    Resduos slidos so conceituados pela Associao Brasileira de Normas

    Tcnicas (NBR 10.004/02 ABNT), como resduos descartveis ou inteis para a

    atividade urbana, agrcola, radioativa e outros (perigosos e/ou txicos), em estado

    slido, semi-slido ou lquido. Inclui nesta definio lodos provenientes de sistemas

    de tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle

    de poluio, bem como determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel

    seu lanamento na rede pblica de esgoto ou corpos dgua.

    Os resduos slidos orgnicos de origem animal e vegetal constituem uma

    fonte potencialmente causadora de impactos ambientais sobre o meio fsico,

    particularmente sobre os mananciais hdricos, superficiais e subterrneas.

    Os dejetos de animais so integrantes do processo produtivo. Assim, pela sua

    relao com a qualidade ambiental, esses resduos exigem formas de tratamento e

    reciclagem adequados, sob pena de inviabilizar a atividade pecuria empresarial

    baseada em sistemas confinados como a avicultura.

    As alternativas de manejo destes resduos dependem da situao particular

    de cada propriedade e das restries impostas pelos rgos ambientais federais,

    estaduais ou municipais. De modo geral, as restries baseiam se no impacto, na

    forma de manejo sobre o controle de doenas e sobre a qualidade do ar e da gua.

    O desenvolvimento sustentvel busca atender as necessidades do presente

    sem comprometer as geraes futuras, ou seja, um processo de transformao no

    qual a explorao de recursos, a direo dos investimentos, a orientao do

    desenvolvimento tecnolgico e a mudana institucional se harmonizam e reforam o

    potencial presente e futuro, a fim de atender as necessidades e aspiraes humanas

    (BARBIERI, 1997).

  • 33

    dever da coletividade, defender e preservar o meio ambiente. Para tanto

    necessrio um trabalho de conscientizao pblica atravs da promoo de

    educao ambiental (CF, art. 225, 1, VI), de informao e publicidade dos projetos

    e programas pblicos e privados que comprometam a qualidade de vida.

    A garantia da preservao e restaurao dos recursos ambientais locais e

    regionais depende, portanto, da ao conjunta e integrada do poder pblico e da

    coletividade.

    A Lei 6938, publicada em 1981 dispe sobre a Poltica Nacional de Meio

    Ambiente, estabelecendo em seu artigo 2 a importncia da qualidade ambiental, a

    preservao e recuperao de reas degradadas para o desenvolvimento scio-

    econmico, segurana nacional e manuteno do equilbrio ecolgico, considerando

    o meio ambiente patrimnio pblico e de uso coletivo. Aborda ainda a necessidade

    da racionalizao do uso do solo, subsolo, gua e ar, planejamento e fiscalizao do

    uso dos recursos naturais, controle e zoneamento de atividades potencialmente ou

    efetivamente poluidoras (CONAMA, 2005).

    A Lei n 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 dispe sobre as sanes penais e

    administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente,

    responsabilizando pessoa jurdica ou pessoas fsicas, autoras, co-autoras ou

    partcipes do mesmo fato. Em seu captulo V, Artigo 33, considera crime ambiental

    a emisso de efluentes ou carreamento de materiais, provocando o perecimento de

    espcies da fauna aqutica existentes em rios, lagos, audes, lagoas ou guas

    jurisdicionais brasileiras. Na Seo III, Artigo 54 considera infrator quem possa

    causar poluio de qualquer natureza em nveis tais que resultem ou possam

    resultar em danos sade humana, fauna e flora.

    No entanto, a legislao federal dispe de forma generalizada sobre os

    cuidados a serem tomados com o destino de subprodutos das atividades humanas,

    ficando a cargo dos estados a legislao mais especfica a respeito. Na legislao

    federal no h citaes especficas, quanto ao destino de carcaas ou resduos

    slidos, decorrentes da produo agrcola. Da mesma forma, a legislao ambiental

    de alguns estados aborda indiretamente o tema.

  • 34

    A Lei n 8.171, de 17 de janeiro de 1991, que dispe sobre a poltica agrcola

    prev, em seu Captulo II, Artigo 4, Inciso IV a proteo do meio ambiente,

    conservao e recuperao dos ambientes degradados. Para tal estabelece em seu

    Captulo V, Artigo 16 a necessidade de institucionalizar a assistncia tcnica e

    extenso rural buscando viabilizar, com o produtor rural, proprietrio ou no, suas

    famlias e organizaes, solues adequadas a seus problemas de produo,

    gerncia, beneficiamento, armazenamento, comercializao, industrializao,

    eletrificao, consumo, bem-estar e preservao do meio ambiente.

    O Captulo VI aborda sobre a proteo ao meio ambiente e a conservao

    dos recursos naturais. Indicando o Poder Pblico como responsvel por disciplinar e

    fiscalizar o uso racional do solo, da gua, da fauna e da flora atravs de zoneamento

    agroecolgico, permitindo estabelecer critrios para disciplinar e ordenar a

    ocupao.

    Em seu Captulo VII estabelece como funo do poder pblico coordenar

    programas de estmulo e incentivo preservao das nascentes dos cursos dgua

    e do meio ambiente, bem como o aproveitamento de dejetos animais para a

    converso de fertilizantes.

    No entanto, no Pargrafo nico estabelece que a fiscalizao e o uso racional

    dos recursos naturais do meio ambiente so tambm da responsabilidade dos

    proprietrios de direito, dos beneficirios da reforma agrria e dos ocupantes

    temporrios dos imveis rurais.

    No Estado do Paran, a Lei n 12.493, publicada em 05 de fevereiro de 1999,

    estabelece princpios, procedimentos, normas e critrios referentes gerao,

    acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destino final

    dos resduos slidos, visando controle da poluio e da contaminao, minimizando

    seus impactos ambientais.

    Esta Lei define como resduos slidos, no Artigo 2, qualquer forma de

    matria ou substncia, no estado slido e semi-slido, que resultem de atividade

    industriais, domsticas, hospitalares, comerciais, agrcolas, de servios, de varrio

  • 35

    e de outras atividades da comunidade, capazes de causar poluio ou contaminao

    ambiental. Preconiza em seu Artigo 3 que as tcnicas de tratamento utilizadas

    devem ser baseadas na reutilizao e/ou reciclagem de resduos slidos, exceto nos

    casos em que no exista tecnologia vivel.

    A Lei n 9.921, do Estado do Rio Grande do Sul, publicada em julho de 1993,

    dispe sobre resduos slidos, considerando como tal para efeito legal queles

    provenientes da atividade rural. Em seu Artigo 5 estabelece critrios para a

    destinao final dos resduos quando estes poluem potencialmente o solo, tomando

    medidas adequadas para a proteo de guas superficiais e subterrneas.

    Restringe, em Pargrafo nico, a deposio de resduos considerados

    perigosos pelo rgo ambiental estadual, permitindo sua deposio no solo somente

    aps o condicionamento e tratamento adequado.

    Neste caso, o rgo ambiental fiscaliza o cumprimento dessas leis, amparado

    pelo Artigo 9 da Lei Federal n 6.938/81 que trata dos instrumentos da Poltica

    Nacional do Meio Ambiente, seus mecanismos de formulao e aplicao, dentre os

    quais cita o licenciamento ambiental.

    Esta situao tambm pode ser observada no Estado do Paran atravs da

    Secretaria Estadual do Meio Ambiente pela Resoluo 031/98 publicada em agosto

    de 1998. Em seu Captulo II dispe sobre o licenciamento e autorizao ambiental

    para atividades poluidoras, normatizando as etapas para a implantao de um

    determinado projeto. Aborda, porm, em seu Captulo III como sendo passveis de

    autorizao e licenciamento especial somente as atividades agropecurias de

    suinocultura e piscicultura.

    Nesta situao o gerador de resduo cadastrado conforme sua atividade

    potencialmente ou efetivamente poluidora, e orientado a estabelecer um cronograma

    para implantao e tratamento de resduos, mediante uma licena prvia do rgo

    ambiental.

  • 36

    Posteriormente um projeto com detalhes sobre o sistema de coleta,

    transporte, tratamento e destino desse material permitem a emisso de uma licena

    de instalao. Informaes fundamentais como a previso de rea disponvel para a

    disposio do resduo, tipo de solo, altura do lenol fretico, nome do proprietrio da

    rea onde ser depositados o esterco e cultura so dados fundamentais para a

    obteno da licena desta operao.

    Como regra geral, os proprietrios rurais, produtores e operadores so

    responsveis pela obteno de licenciamento ambiental para o desenvolvimento de

    atividades rurais poluidoras, sendo que, estes ainda devem produzir dentro de

    normas e regulamentos legais existentes.

    Este procedimento adotado pelo rgo ambiental restringe-se basicamente a

    atividade suincola, normatizando o tratamento e o destino adotado para os dejetos

    desta atividade. No h citaes legais sobre outras atividades agropecurias que

    apresentam a mesma caracterstica de produo, como a avicultura de corte.

    Porm, a dinmica do setor avcola, caracterizado pelo mercado de escala,

    leva ano-a-ano a um aumento significativo no volume de aves alojadas na mesma

    propriedade rural ou regio e, conseqentemente, aumentando o volume de

    resduos decorrentes do processo na mesma proporo.

    Diante disso, alguns estados como o Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul,

    Santa Catarina, So Paulo e Paran, caracterizados por concentrar a maior parte da

    produo de aves de corte brasileira, tentam estabelecer para esta atividade o

    mesmo critrio utilizado para a suinocultura. Desta forma, para implantar um

    empreendimento avcola o produtor necessitaria de licenciamento ambiental.

    Segundo PAIVA (2002), os destinos de resduos gerados na produo de

    aves adotados pelos produtores deveriam prevenir problemas comuns como a

    proliferao de insetos, maus odores e principalmente evitar a contaminao

    ambiental. So condenadas prticas que no atendam a estes requisitos.

  • 37

    A Resoluo no 283, publicada em 12 de julho de 2001 pelo CONAMA (2005)

    dispe sobre resduos gerados nos servios de sade, definindo o sistema de

    tratamento destes resduos atravs de processos e procedimentos que alteram as

    caractersticas fsicas, fsico-qumicas, qumicas ou biolgicas de maneira a

    minimizar os riscos a sade pblica e ao meio ambiente (PAIVA, 2002).

    Segundo PAIVA (2002) a utilizao da compostagem dos resduos da

    produo avcola atenderia as caractersticas propostas na Resoluo n 283,

    anteriormente citada, mesmo que estes resduos no pertenam categoria

    daqueles derivados dos servios de sade. Para este autor, este processo biolgico

    eliminaria agentes patognicos, transformando os resduos em material aproveitvel.

    Faz-se necessrio uma discusso ampla sobre o tema, buscando alternativas

    que limitem os impactos causados pela atividade avcola no ambiente.

    Deste modo, acreditamos que o mtodo de compostagem, bem conduzido e

    dimensionado, possa atender as necessidades atuais do sistema de produo de

    frangos de corte no gerenciamento de seus resduos, principalmente, naqueles

    relacionados a carcaas de aves mortas. Alm disso, consideramos que o mtodo

    de fermentao poderia ser empregado para o tratamento da cama do avirio

    objetivando reduzir sua carga microbiolgica e possivelmente aumentando sua vida

    til. Desta forma teramos menor disponibilidade deste resduo e consequentemente

    uma menor possibilidade de impacto no solo e gua.

    Nestes termos, a Constituio Federal estabelece que o estado, atravs das

    agncias ambientais federais, estaduais e municipais, deve qualificar recursos

    humanos, conduzir pesquisas e monitorar as condies fsicas, qumicas e

    bacteriolgicas do ar, solo e da gua com o propsito de minimizar riscos de

    degradao ambiental.

    Uma ao conjunta entre o Poder pblico, iniciativa privada, cooperativas,

    associaes de produtores e instituies de pesquisa poderiam veicular esta

    tecnologia at o produtor de forma mais abrangente e efetiva.

  • 38

    UNIDADE III

    NORDESTE DO PARAN: RESDUOS DA PRODUO AVCOLA

    E SEU GERENCIAMENTO

    Esta Unidade aborda a produo e o gerenciamento de resduos slidos

    gerados pela produo de frangos de corte em propriedades rurais do Nordeste do

    estado do Paran.

    Para tal, faremos uma breve discusso sobre a avicultura Paranaense,

    objetivando embasamento terico ou referencial no contedo desta unidade.

    Em 2001, o Estado do Paran tornou-se o maior produtor nacional de frangos

    de corte. Segundo UBA (2005), no Brasil foram abatidos 4,042 bilhes de frangos

    em 2004. A produo paranaense passou a representar 22,72% do total de aves

    abatidas no Brasil, conforme mostra a Tabela 05.

    Tabela 05 Abate de Frangos de corte no Brasil em 2003/2004, por estado.

    Estado N de aves 2004

    Particip. % 2004

    N de aves 2003

    Particip. % 2003

    Crescim. %

    Paran 918.483.512 22,72 813.373.908 21,90 12,92 Santa Catarina 712.581.904 17,63 648.752.226 17,47 9,84 Rio Grande do Sul 607.278.961 15,02 602.214.275 16,22 0,84 So Paulo 539.134.821 13,34 467.215.143 12,58 15,39 Minas Gerais 256.503.939 6,35 233.044.561 6,28 10,07 Gois 154.740.689 3,83 138.022.314 3,72 12,11 Mato Grosso do Sul 116.875.377 2,89 112.086.545 3,02 4,27 Mato Grosso 69.049.273 1,71 66.331.766 1,79 4,1 Bahia 42.857.510 1,06 33.228.18 0,89 28,98 Pernambuco 40.568.863 1,00 37.139.875 1,00 9,23 Distrito Federal 34.677.153 0,86 31.506.211 0,85 10,06 Outros com SIF 32.972.377 0,82 30.488.925 0,82 8,15 Total com SIF 3.525.724.379 87,22 3.213.403.867 86,53 9,72 Abate sem SIF 516.632.399 12,78 500.281.207 13,47 3,27 Total Brasil 4.042.356.778 100 3.713.685.074 100 8,85

    Fonte: UBA (2005).

    Outro dado relevante apresentado na Tabela 05 se refere ao crescimento de

    12,9% na quantidade de aves abatidas em 2004 pela avicultura paranaense quando

    comparado ao ano anterior, superando a mdia brasileira de 8,85%.

  • 39

    A avicultura paranaense responsvel por gerar 50.000 empregos diretos e

    se estima que aproximadamente 500.000 empregos de forma indireta

    (SINDIAVIPAR, 2005). Este dado reflete a realidade crescente da atividade avcola

    de corte no Estado do Paran e sua relao com o desenvolvimento social e

    econmico do estado.

    A estrutura industrial do estado composta por 31 abatedouros de aves

    sendo que destas, 10 encontram-se na regio Nordeste (Figura 04). Em 2004, na

    regio Nordeste do Paran foram abatidas 17.500.000 aves ao ms, o que

    corresponde a 19,7% do nmero de aves abatidas no Estado (SINDIAVIPAR, 2005).

    Esta rea se caracteriza como uma das principais regies produtoras do pas.

    A populao de aves de corte do Paran se encontra distribuda em vrios

    municpios e de modo geral, se concentra naqueles onde se localizam as Indstrias

    ou plantas de abate ou ainda nos municpios adjacentes.

    3.1 Uso e Ocupao do Solo na rea da Pesquisa

    Na rea de estudo, a produo avcola concentra-se basicamente no Terceiro

    Planalto Paranaense. A ocupao desta regio se deu a partir da dcada de 1930,

    com a forte presena das companhias imobilirias. Estas companhias imobilirias

    colonizadoras traaram um novo aspecto com a colonizao dirigida a pequenas

    propriedades. O intenso desenvolvimento da cafeicultura e o cosmopolismo12 de

    seus povoadores definiram as especificidades da paisagem regional (MORO, 1998).

    No entanto, em pouco de tempo, uma srie de fatores econmicos, naturais e

    estruturais contriburam para a decadncia do sistema produtivo vigente na regio.

    A espacializao da populao, a reestruturao fundiria e a modernizao

    agrcola do Estado do Paran esto associadas s geadas que ocorreram nesse

    perodo, na legislao social estendida ao campo e na poltica de modernizao da

    agricultura.

    12Pessoa que apresenta aspectos comuns a diversos pases (LAROUSSE. Dicionrio da Lngua Portuguesa, 1992. p. 284).

  • 40

    Figura 04: LOCALIZAO DOS ABATEDOUROS DE AVES NA REGIO NORDESTE DO PARAN

    CURITIBA

    Maring

    Arapongas

    Astrga

    Londrina

    Rolndia

    Joaquim Tvora

    Jaguapit

    Jacarezinho

    1

    1

    1

    12

    12

    1

    Base Cartogrfica: Prefeitura Municipal de Maring/PR 2005.

    Municpios N de Abatedouros

    Municpios com abatedouros

    Fonte: SINDIAVIPAR, 2005. Organizao: Csar Bado

  • 41

    Assim, a partir da dcada de 1960 inicia o processo de modernizao da

    agricultura paranaense, se intensificando na dcada de 1970. Para MORO (1998) as

    lavouras de caf foram substitudas principalmente pelas culturas da soja e trigo,

    essencialmente mecanizadas. No perodo de 1975 a 1985 as lavouras temporrias

    de soja e trigo foram ampliadas em 59% e as de pastagens em 32%.

    O novo modelo de produo agrcola impulsionado pelo uso da tecnologia,

    caracterstica do solo e condies climticas intensificaram a produo de gros.

    Neste perodo so implantados os primeiros projetos de criao de aves na regio.

    Aliado a isto, a proximidade geogrfica do Estado de So Paulo e outros mercados

    consumidores do centro do pas passam a fortalecer a atividade.

    LANILLO (2006) caracteriza a agricultura do Estado do Paran, considerando

    variveis como uso do solo, relaes de trabalho e capital, fertilidade dos solos e

    possibilidade de mecanizao.

    Nestas bases, dois grupos de municpios com caractersticas diferentes

    predominam na regio delimitada. O Primeiro corresponde a municpios com

    predominncia de pastagens plantadas, pecuria bovina extensiva e mo-de-obra

    permanente. So exemplos: Jaguapit, Guaraci, Astrga, Sabaudia, Jacarezinho.

    Para FASOLO (1986) as regies com predominncia de solos arenticos

    possuem fertilidade natural, inferior Terra Roxa Estruturada (terra roxa) sendo mais

    friveis13, portanto mais vulnerveis aos processos erosivos. Estas razes

    direcionam o uso e ocupao do solo para a atividade pecuarista. A predominncia

    da agricultura ocorre onde o solo tem origem na decomposio do basalto

    constituindo-se na Terra Roxa Estruturada.

    Nestas reas predominam a agricultura moderna de gros especializada, com

    utilizao de mo-de-obra permanente (pouco familiar), reduzido uso para a

    pecuria, pequenas reas de mata e insignificante terciarizao de mquinas, dos

    13Friveis Propriedade dos minerais e das rochas se fragmentarem, facilmente, at mesmo por simples presso dos dedos. GUERRA, Antonio. Dicionrio Geolgico Geomorfolgico, 1997. p. 288.

  • 42

    quais caracterizam-se Londrina, Ibipor, Marilndia do Sul e Maring. Circunscrito a

    esta regio, o uso e ocupao do solo est voltado para a cafeicultura e lavouras

    permanentes. Integram este grupo os municpios de Arapongas, Rolndia, Camb,

    Prado Ferreira, Miraselva, Marialva e Sarandi, entre outros.

    Os dados de campo foram obtidos mediante (questionrio) amostragem

    efetuada de forma ao acaso em 44 propriedades rurais que trabalham com frango de

    corte. A base de dados gerou informaes sobre 14 municpios, distribudos na rea

    de estudo, conforme Figura 05.

    Figura 05: MUNICPIOS DE ABRANGNCIA DA PESQUISA - NORDESTE DO PARAN

    2

    3

    1

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    1011 12

    13

    14 ApucaranaArapongasAsporgaCalifrniaCambCambiraGuaraciIbipor

    JaguabitMarilndia do SulNovo Itacolomi

    123

    456789

    1011

    Rio BomRolndiaSabadia

    121314

    Base Cartogrfica: Prefeitura Municipal de Maring/PR 2005. Organizao: Csar Bado

    MUNICPIOS BASE DE COLETA DE DADOS

    A composio dos resduos produzidos pela atividade avcola nas

    propriedades rurais do Nordeste do Paran corresponde queles descritos na

    Unidade I. Basicamente encontramos compostos orgnicos, cama e carcaas de

    aves mortas naturalmente no decorrer do ciclo de produo. No entanto, o destino

    adotado para os resduos gerados apresenta algumas particularidades.

  • 43

    3.2 Produo e Tratamento da Cama de Avirio na rea da Pesquisa

    A cama de avirio composta de maravalha ou casca de arroz oriunda de

    engenhos regionais e, distribuda pelo avirio uniformemente formando uma lmina

    de aproximadamente 10 cm de espessura. Normalmente o material para a

    confeco da cama comprado e o custo por varia de acordo com a disponibilidade.

    Na maioria das vezes a cama retirada do avirio aps dois ciclos de

    produo. Porm, em determinadas situaes ou pocas do ano pode ser trocada a

    cada ciclo. A troca da cama aps dois ciclos de produo foi observada em 75% das

    propriedades analisadas, no sendo possvel identificar variaes entre os modelos

    de propriedades adotados para a anlise, conforme mostra a Tabela 06.

    Esta caracterstica, pouco comum no Sul do Pas, determinada pela

    disponibilidade de material para sua confeco e, sobretudo, pelo valor econmico

    de venda desse tipo de resduo em determinados meses do ano.

    Tabela 06 Relao entre o ciclo de produo e troca de cama nos modelos de

    propriedade adotados pela pesquisa

    Troca de cama Amostragem Propriedades Municpios 1 ciclo % 2 ciclo %

    At 15.000 aves 13 7 3 23,07 10 76,93 15.001 a 30.000 16 8 4 25 12 75 Acima de 30.001 15 8 4 26,67 11 73,33 Todos os grupos 44 14 11 25 33 75

    Nota: Amostragem se refere capacidade de alojamento das propriedades pesquisadas.

    A anlise dos dados obtidos em campo nos permite estabelecer uma relao

    entre a carga superficial de cama disponvel e o nmero de aves alojadas,

    identificando uma possvel correlao entre estas duas variveis. Diante disso,

    analisamos a carga superficial de cama disponvel em 11 propriedades rurais, cuja

    cama foi retirada no 2 ciclo de produo, conforme mostra a Tabela 07.

    Org: BADO (2005)

  • 44

    Tabela 07 Relao entre o nmero de aves alojadas, rea fsica do avirio e

    quantidade de cama disponvel.

    Produtor

    Nmero de Aves

    alojadas Avirio

    (m) Cama produzida

    (Kg) Relao Kg de

    cama/m N de ciclos

    Cama produzida (Kg)/ave

    1 15000 1200 35.000 29,16 2 2,33 2 39000 2700 80.000 29,62 2 2,05 3 15000 1200 45000 37,5 2 3 4 30300 1740 40.000 22,98 2 1,32 5 13000 900 14.000 15,55 2 1,07 6 22000 1680 30.000 17,85 2 1,36 7 18000 1440 52.000 36,11 2 2,88 8 36000 2800 80.000 28,57 2 2,22 9 32000 2580 70.000 27,13 2 2,18

    10 28.000 2350 60.000 25,53 2 2 11 30000 2400 75.000 31,25 2 2,25

    Total 278300 20990 581.000 27,67 2 2,087675

    A disponibilidade de cama por m de rea fsica de avirio variou entre 15,5 a

    37,5 Kg, estabelecendo como mdia 27,67 Kg, conforme Tabela 07. Estes dados se

    aproximam queles descritos por MALONE (1992), onde so considerados 24 kg por

    m. No entanto, para nossa anlise foram considerados os dados obtidos a partir de

    amostragem de campo mediante questionrio. Variveis como umidade e massa

    seca no so consideradas e possivelmente explicam a variao na quantidade de

    cama produzida por m. Nestas condies, umidade entre 20 e 35% so

    consideradas normais (ALMEIDA, 1986).

    Da mesma forma, a quantidade de cama produzida por ave alojada variou

    entre 1,07 a 3 Kg, estabelecendo como mdia 2,08 Kg, no sendo consideradas as

    variveis descritas acima. Estes dados se aproximam daqueles descritos por

    MALONE (1992), onde considerado 1,6 a 1,8 Kg de cama produzida para cada

    ave alojada.

    Considerando os dados do SINDIAVIPAR (2005) onde so apresentados os

    nmeros relativos ao abate de aves na regio nordeste do Estado do Paran em

    2004 e queles relacionados quantidade de cama disponvel por ave alojada,

    obtidos pela nossa pesquisa de campo, poderemos estimar de maneira subjetiva a

    Org: BADO (2005)

  • 45

    quantidade de cama produzida na rea de estudo. Em 2004, foram abatidas

    209.754.000 de aves na regio Nordeste gerando aproximadamente 436.000

    toneladas de cama disponvel.

    A regio se caracteriza pela agricultura, integrando lavouras perenes de caf

    e pastagens ou ainda culturas anuais como a soja, milho, trigo entre outras. Esta

    caracterstica tambm influencia o ciclo produtivo de frangos de corte, visto que a

    atividade agrcola que consome praticamente toda a cama produzida.

    O uso da cama de avirio como fonte de nutrientes para as plantas segue o

    mesmo modelo adotado nas outras regies do Pas, normalmente sem a

    observncia de critrios agronmicos. Desta forma, no se estabelece uma relao

    entre disponibilidade de nutrientes administrados ao solo e a necessidade das

    plantas em seus devidos estgios de desenvolvimento como preconizado por

    SEGANFREDO (2005).

    Outra caracterstica apresentada pela regio se relaciona ao tipo de solo,

    onde so encontradas diferentes texturas, variando de arenoso a argiloso. Estas

    caractersticas vo influenciar no comportamento hdrico no solo e na rede de

    drenagem. Para SEIFFERT (2000), a adubao com altos nveis de esterco de aves

    no solo resulta em elevadas concentraes de nutrientes na gua subterrnea,

    principalmente em condies de solos arenosos e bem drenados.

    Sobre isso, CUNHA (2002) relata que:

    Teoricamente, um solo de textura arenosa, quase sempre apresenta maior quantidade de macroporos e menor capacidade de reteno de gua, tendo em vista que o arranjo do espao poroso pode ser mais aberto e mais conectado, o que dificulta a existncia da fora de capilaridade entre as partculas; enquanto que um solo de textura argilosa, quase sempre apresenta maior quantidade de microporosidade e uma maior capacidade de reteno da gua devido ao arra