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GESTÃO DE RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETRO- ELETRÔNICOS: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A CARACTERIZAÇÃO E DESTINAÇÃO NA UEM Francisco Rodrigues Lima Junior (UEM) [email protected] Olívia Toshie Oiko (UEM) [email protected] O crescente uso de equipamentos eletro-eletrônicos, os quais possuem um ciclo-de-vida cada vez menor, tem aumentado significativamente a quantidade de produtos que são descartados. Os resíduos de equipamentos eletro-eletrônicos (REEE) contêêm substâncias tóxicas e, aliado ao grande volume em que são produzidos, representam um problema sócio-ambiental em ascensão. As universidades, assim como outras organizações, utilizam da tecnologia da informação na realização de suas atividades e produzem resíduos oriundos destas. Estes resíduos devem receber tratamento específico conforme legislação vigente. No Brasil, ainda não existem leis voltadas à regulamentação da gestão de REEE. Neste cenário preocupante, este trabalho traça um panorama da situação atual dos REEE na Universidade Estadual de Maringá-PR (UEM), por meio de um estudo dos procedimentos adotados para destinação dos REEE, realizando também a caracterização dos equipamentos de informática que compõe os REEE da universidade. Foram analisados relatórios internos e realizadas entrevistas em alguns departamentos, obtendo informações relativas ao volume de equipamentos descartados, ciclo-de-vida dos equipamentos, procedimentos de destinação dos resíduos, dentre outros. Estas informações serão utilizadas na criação de um modelo de gestão de REEE dentro do campus, o qual compõe um Projeto de Iniciação Científica. Palavras-chaves: gestão de resíduos, resíduos de equipamentos eletro- eletrônicos (REEE), estudo de caso em universidade. XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

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GESTÃO DE RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETRO-

ELETRÔNICOS: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A CARACTERIZAÇÃO E

DESTINAÇÃO NA UEM

Francisco Rodrigues Lima Junior (UEM) [email protected]

Olívia Toshie Oiko (UEM) [email protected]

O crescente uso de equipamentos eletro-eletrônicos, os quais possuem um ciclo-de-vida cada vez menor, tem aumentado significativamente a quantidade de produtos que são descartados. Os resíduos de equipamentos eletro-eletrônicos (REEE) contêêm substâncias tóxicas e, aliado ao grande volume em que são produzidos, representam um problema sócio-ambiental em ascensão. As universidades, assim como outras organizações, utilizam da tecnologia da informação na realização de suas atividades e produzem resíduos oriundos destas. Estes resíduos devem receber tratamento específico conforme legislação vigente. No Brasil, ainda não existem leis voltadas à regulamentação da gestão de REEE. Neste cenário preocupante, este trabalho traça um panorama da situação atual dos REEE na Universidade Estadual de Maringá-PR (UEM), por meio de um estudo dos procedimentos adotados para destinação dos REEE, realizando também a caracterização dos equipamentos de informática que compõe os REEE da universidade. Foram analisados relatórios internos e realizadas entrevistas em alguns departamentos, obtendo informações relativas ao volume de equipamentos descartados, ciclo-de-vida dos equipamentos, procedimentos de destinação dos resíduos, dentre outros. Estas informações serão utilizadas na criação de um modelo de gestão de REEE dentro do campus, o qual compõe um Projeto de Iniciação Científica. Palavras-chaves: gestão de resíduos, resíduos de equipamentos eletro-eletrônicos (REEE), estudo de caso em universidade.

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1. Introdução Os resíduos de equipamentos eletro-eletrônicos (REEE) representam um problema sócio-ambiental em ascensão devido ao crescente volume que está sendo gerado e a quantidade de substâncias tóxicas contidas nesse material. O uso de dispositivos eletro-eletrônicos cresceu muito nas últimas décadas, aumentando proporcionalmente a quantidade de produtos que são descartados (WIDMER, 2005).

O aumento do consumo de equipamentos eletro-eletrônicos está relacionado com a diminuição do ciclo-de-vida desses equipamentos, rápida inovação tecnológica e a criação de novas necessidades e desejos de consumo. Além disso, o preço de venda dos equipamentos, que não incluem os custos para uma possível gestão de resíduos, torna-os mais acessíveis e conseqüentemente mais descartáveis (RODRIGUES, 2007).

As universidades, assim como quaisquer outras organizações, geram resíduos oriundos de suas atividades e estes devem ser dispostos e tratados conforme regulamentação vigente. O uso de tecnologias da informação e comunicação por parte das universidades, cada vez mais difundido, resulta na geração de resíduos de equipamentos-eletrônicos, para os quais ainda não existe legislação específica de tratamento no Brasil. A situação atual na Universidade Estadual de Maringá-PR (UEM) segue a tendência nacional, já que a prefeitura do campus não apresenta nenhum regimento interno voltado ao estabelecimento de uma cadeia de transformação de REEE.

Tendo em vista este cenário preocupante, este trabalho visa estudar os procedimentos de destinação adotados atualmente pela UEM, assim como a caracterização dos equipamentos de informática que compõe os REEE da universidade. Foi estabelecido um panorama da situação atual dos REEE na universidade por meio da aplicação de questionários aos funcionários de alguns setores da UEM, levantamento de relatórios internos e posterior análise. As atividades relatadas neste trabalho compõem um Projeto de Iniciação Científica, no qual também se estudarão alternativas de destinação dos computadores que compõe os REEE da UEM.

A seção 2 apresenta uma contextualização em torno da gestão de resíduos sólidos comuns e das peculiaridades da gestão de REEE, mostrando as iniciativas tomadas por algumas entidades que buscam resolver o problema de acordo com a legislação e diretrizes em vigor, quando existente. A seção 3 trata da metodologia utilizada. A seção 4 relata o trabalho de campo realizado para coleta dos dados, o processo de aplicação dos questionários e obtenção dos relatórios, apresentação dos resultados e análise dos dados. Por fim, na seção 5, apresenta-se o panorama dos REEE na universidade e as conclusões sobre este trabalho.

2. Resíduos Resíduos são restos de atividades humanas considerados como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, sendo que tais atividades podem ser de origem comercial, industrial, doméstica, hospitalar, agrícola, de serviços e de varrição. A Associação Brasileira de Normas Técnicas, por meio da NBR 10004, classifica os resíduos em três classes: resíduos perigosos, não-perigosos e não inertes, e resíduos inertes (ABNT, 2004). A característica inservível de um resíduo é relativa, já que o mesmo não apresenta serventia para quem o descarta mas pode ser útil como matéria-prima para um novo processo ou produto (MONTEIRO, 2001) .

Durante vários séculos os resíduos foram classificados como meros subprodutos do sistema econômico, sendo removidos para locais distantes das áreas habitadas. Atualmente os resíduos

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são considerados como importante insumo do processo produtivo, contribuindo para que a gestão adequada dos resíduos sólidos seja um assunto prioritário no âmbito de debates da política ambiental (DEMAJOROVIC, 1996).

2.1 Gestão de Resíduos Sólidos A gestão de resíduos sólidos consiste no processo de manuseio, acondicionamento, armazenagem, coleta, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos em estado sólido ou semi-sólido. As decisões técnicas e econômicas a serem tomadas neste processo devem estar fundamentadas na classificação dos mesmos, definindo custos envolvidos e medidas especiais de proteção necessárias a cada uma das fases da gestão (PIMENTA; MACEDO; MARQUES JUNIOR, 2003). As primeiras políticas ambientais voltadas à gestão de resíduos sólidos surgiram em 1972, por meio da criação do Programa das Nações Unidas de Meio Ambiente (PNUMA). Criou-se o conceito de desenvolvimento sustentável, estabelecendo um processo de mudança no qual a orientação dos investimentos, exploração dos recursos, os rumos do desenvolvimento ecológico e a mudança institucional devem levar em conta as necessidades das gerações futuras (NEVES; QUELHAS; BARROS, 2002).

Nos anos 80 a reciclagem de resíduos foi tomada como política principal na gestão de resíduos sólidos. Alguns instrumentos econômicos foram elaborados para estimular a reciclagem, tendo a população grande receptividade ao uso de produtos reciclados. De acordo com Demajorovic (1996, pg. 52), “A reciclagem leva ao crescimento mais lento do consumo de recursos naturais e do volume de resíduos a serem dispostos”. No entanto, o processo de reciclagem também produz resíduos, além de demandar quantidades consideráveis de matéria-prima e energia.

No final da década de 80, foi proposto o conceito de reutilização, objetivando o reaproveitamento da energia presente nos resíduos. Por meio da reutilização, ou reuso, pode-se prolongar a vida útil de um produto e ainda, antes de ser depositado em aterros, aproveitar sua energia em incineradores. Além da reciclagem e da reutilização, outra política adotada pelo PNUMA na década de 80, foi a redução da quantidade de resíduos gerados, do uso de matérias-primas e de energia, decorrentes do processo de produção de um novo produto. Para tanto, essas questões deveriam ser pensadas no projeto do produto e deveria-se dispor de tecnologias limpas e de baixo desperdício (DEMAJOROVIC, 1996). A política conjunta de redução, reutilização e reciclagem, recebeu o nome de 3’R e atualmente é tida como princípio básico para a gestão de resíduos de qualquer natureza.

2.2 Resíduos de equipamentos eletro-eletrônicos Os equipamentos eletro-eletrônicos têm sido cada vez mais utilizados novos tipos de aplicações, impulsionando o crescimento do setor. Consequentemente, este tipo de equipamento torna-se gradativamente mais acessível e facilmente descartável. De acordo com (ANDRADE, pg. 33), “os primeiros computadores possuíam uma utilização de 10 anos, e atualmente este período é de 2 a 4,3 anos para os produtos mais inovadores”.

A disposição do crescente volume de REEE, geralmente tratados como resíduos sólidos comuns, traz grande preocupação para diversas entidades do mundo inteiro: União Européia, governos, GreenPeace, dentre outros. Essas entidades procuram desenvolver iniciativas voltadas à responsabilidade ambiental na disposição e tratamento desses resíduos, e ainda no consumo racional desses equipamentos.

A União Européia aprovou em 2003 duas diretrizes a serem seguidas pelos Estados-Membros. A Directive 2002/95/EC trata das restrições ao uso de substâncias perigosas em equipamentos

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eletro-eletrônicos (EP; CEU, 2003a), enquanto a Directive 2002/96/EC é uma norma voltada à redução, reutilização e reciclagem de resíduos REEE, e que torna os produtores financeiramente responsáveis pelo produto quando estes se transformam em resíduos (responsabilidade estendida do produtor) (EP; CEU, 2003b).

Já o GreenPeace, organização não-governamental que busca sensibilizar a opinião pública em questões voltadas à preservação ambiental e ao desenvolvimento sustentável, desenvolveu em 2006 o Guide to Greener Eletronic. Esta guia classificou os 18 maiores fabricantes de computadores pessoais, celulares, televisores e video-games, de acordo com suas políticas em matéria de produtos químicos tóxicos, reciclagem e mudanças climáticas. O guia é atualizado periodicamente e atualmente está na 11ª edição (GREENPEACE, 2009).

No Brasil, ainda não existe um modelo de coleta e destinação dos REEE regulamentado em nível nacional. Os REEE costumam ser tratados como resíduos sólidos comuns e eliminados em aterros sanitários, o que traz grandes ameaças aos recursos naturais, principalmente aos lençóis freáticos, e ainda apresenta graves riscos à saúde humana (AZEVÊDO, 2008). Um projeto de lei federal foi elaborado em 2007 pelo Deputado Carlos Bezerra e está aguardando a aprovação na Câmara de Deputados. Este projeto trata das disposições gerais sobre a coleta, reciclagem e a destinação final de aparelhos eletrodomésticos e eletro-eletrônicos irreversíveis. O projeto define que a responsabilidade financeira sobre os REEE recai sobre os fabricantes e importadores desses equipamentos, ou seja, adota-se a responsabilidade estendida do produtor nos moldes das diretrizes européias (BEZERRA, 2007).

Apesar de existirem algumas experiências em universidades brasileiras que desenvolvem programas próprios de gestão de resíduos, “o gerenciamento de resíduos nas universidades e a recuperação de valor dos materiais descartados pelas universidades é assunto pouco discutido no Brasil”, afirma Soto e Morales (2006, pg. 1). Como exemplo de experiência bem sucedida, pode-se citar o USP Recicla, desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP). O objetivo do programa é “contribuir para a construção de sociedades sustentáveis através de ações voltadas a minimização de resíduos, conversão do meio ambiente, melhoria da qualidade de vida e formação de recursos humanos comprometidos com essa missão” (USP RECICLA, 2009). Além deste, o Projeto Reciclar da UFV (Universidade Federal de Viçosa-MG), o Sistema de Gestão Ambiental da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos-RS), o Programa de Reciclagem de Papel da UNESP (Universidade Estadual Paulista-SP), o Trote da Cidadania pelo Consumo Consciente da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas–SP) e o Grupo Ambiental do Ipê Amarelo da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos-SP) são projetos notáveis de universidades brasileiras voltados à reciclagem de resíduos (CAVICCHIOLI, 2008).

3. Metodologia A metodologia utilizada neste trabalho consistiu em revisão bibliográfica e pesquisa de campo. A revisão bibliográfica tratou sobre os seguintes assuntos: gestão de resíduos comuns e de REEE; leis, diretrizes e iniciativas voltadas à destinação e tratamento dos REEE. A pesquisa de campo consistiu em três etapas: análise documental, entrevistas semi-estruturadas e observação in loco.

A análise documental utilizou-se de um relatório interno da UEM referente à baixa patrimonial de equipamentos eletrônicos. As entrevistas foram semi-estruturadas, utilizando-se de questionários com perguntas abertas e fechadas. As entrevistas e as observações foram realizadas em todas as secretarias, localizadas no campus sede, dos departamentos do Centro de Tecnologia (no qual está inserido o Curso de Engenharia de Produção), e objetivaram a

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investigação de procedimentos adotados pelos departamentos da UEM quanto à destinação interna de REEE, e a caracterização qualitativa dos equipamentos descartados.

Os dados coletados pelos três métodos descritos subsidiaram o processo de análise. Este processo consistiu no cálculo do tempo médio de uso dos equipamentos (ciclo-de-vida), representação gráfica dos fluxos de destinação dos equipamentos e elaboração de gráficos e tabelas para representação de demais dados coletados nas etapas anteriores. A Figura 1 consiste na representação esquemática da metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho.

Figura 1 – Metodologia utilizada neste trabalho

A última etapa deste trabalho será elaborar uma proposta de modelo de gestão dos REEE da UEM, e esta não será contemplada neste artigo.

4. Pesquisa de campo A pesquisa de campo foi realizada no campus sede da UEM, em Maringá–PR. Segundo os dados apresentados no site da universidade (UEM, 2009), em 2008 a comunidade acadêmica era composta por 1.482 docentes, 2.675 técnicos administrativos e 20.524 alunos matriculados em cursos de graduação ou programas de pós-graduação. A universidade oferece atualmente 52 cursos de graduação, sendo que estes são ministrados por departamentos lotados em um dos sete Centros de Ensino. O Centro de Ensino de Tecnologia (CTC) é composto pelos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Informática, Engenharia Civil, Engenharia de Alimentos, Engenharia Química, Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção e Engenharia Têxtil, sendo que este último pertence ao câmpus de Goioerê-PR.

O controle patrimonial da UEM é de responsabilidade da Diretoria de Materiais e Patrimônio (DMP). Já a manutenção de computadores e periféricos é realizada internamente pelos técnicos dos departamentos ou pelo Núcleo de Processamento de Dados (NPD). A universidade possui um programa de gerenciamento de resíduos (Pró-resíduos), no qual é viabilizado a destinação e tratamento de resíduos de seis categorias distintas, não incluindo a categoria de resíduos de equipamentos eletro-eletrônicos.

As entrevistas, num total de dez, foram realizadas com funcionários do NPD, da DMP, Pró-resíduos, e com as secretárias e técnicos em informática dos departamentos do CTC sediados no câmpus sede da universidade, os quais chamou-se de departamentos usuários (Arquitetura e Urbanismo, Informática, Engenharias Civil, de Alimentos, Química, Mecânica e de Produção). O relatório de baixa patrimonial dos equipamentos eletro-eletrônicos foi emitido

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pela DMP, no qual constou a descrição, data de aquisição e data da baixa patrimonial de monitores, impressoras, scanners, projetores data show e CPU’s.

4.1 Apresentação e análise dos resultados Nesta seção, os resultados obtidos por meio das entrevistas e dos relatórios do DMP são apresentados e discutidos.

As questões fechadas dos questionários levantaram informações acerca dos componentes descartados com maior freqüência e dos fatores que caracterizam um equipamento como REEE. A Figura 2 representa os equipamentos apontados como mais descartados. O mouse, por exemplo, foi apontado como uns dos mais descartados por todos os entrevistados, exceto pelo curso de Engenharia de Produção.

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7

2

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Fatores

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Figura 2 – Listagem de componentes e frequência em que são descartados.

Os dados mostrados na Figura 2 apontam que mouses, fontes de energia, teclados, e placas de circuito impresso são os componentes mais representativos dentre os REEE da UEM. Durante a aplicação dos questionários, todos os cursos apontaram as oscilações da rede elétrica da UEM como o fator principal causador da queima de fontes de energia com grande frequência. Já os mouses e teclados são considerados “materiais de consumo”, portanto apresentam menor vida útil e maior descartabilidade. Por fim, as placas de circuito impresso, por serem os componentes diretamente ligados ao desempenho do computador, são os principais componentes a sofrer obsolescência.

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012345678

defeitos irreversíveis

falta de peças para manutenção

obsolescência

tempo de uso

mau funcionamento

Fatores

Qua

ntid

ade

(uni

d)

Figura 3 – Fatores que caracterizam um equipamento como REEE

De acordo com Figura 3, os principais fatores que caracterizam um equipamento como REEE são “defeitos irreversíveis” e “falta de peças para manutenção”. Fatores como “tempo de uso” e “mau funcionamento” foram pouco citados, devido à adoção de políticas de reuso por todos os departamentos usuários (que é mostrado na Figura 4).

As perguntas abertas das entrevistas investigaram se é pré-estabelecido um período de vida útil para os equipamentos eletro-eletrônicos (ciclo-de-vida padrão), por exemplo, se um computador pode ser considerado resíduo devido ao fato de apresentar cinco anos de uso. Investigou-se também se são adotadas políticas de reuso para os equipamentos; se os departamentos usuários receberam algum tipo de orientação sobre procedimentos-padrão para destinação dos REEE; e se houve interesse, por parte dos departamentos usuários e NPD, em se informar sobre a existência de tais procedimentos. A Figura 4 apresenta o índice de respostas afirmativas para cada uma das questões levantadas.

100%

0%

14%

57%

0%

10%

20%

30%

40%

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60%

70%

80%

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100%

Políticas de Reuso

Ciclo-de-vida padrão

Receberam Orientação

Procuraram se informar

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Figura 4 – Práticas de Gestão dos REEE apontadas pelos entrevistados

Durante as entrevistas, todos os departamentos usuários mostraram-se preocupados em prolongar ao máximo o ciclo-de-vida dos componentes, tanto que não determinam um tempo de vida útil padrão para os equipamentos, conforme mostra a Figura 4. A principal causa desta preocupação, segundo os mesmos, é a dificuldade de adquirir novos equipamentos, seja pela inexistência de recursos imediatos ou pelo processo demorado de aquisição em instituição pública. Portanto, o prolongamento do ciclo de vida não está associado à preocupação ambiental ou desejo de minimização da geração de resíduos.

A Figura 4 também mostra que a maioria dos departamentos não recebeu orientação para destinação interna dos REEE por parte de outros setores da UEM. No entanto, 57% procuraram se informar com a DMP ou a Pró-Resíduos.

A Figura 5 foi construída com base em informações obtidas nas entrevistas e apresenta o fluxo de REEE de acordo com os com procedimentos de destinação adotados em cada departamento, assim como os procedimentos recomendados pela DMP. Pela Figura 5, fica evidente a falta de padronização dos procedimentos de descarte resultante da inexistência de um regulamento da UEM, associada à ausência de orientação com relação a isto (evidenciada na Figura 4). Alguns departamentos usuários enviam os componentes defeituosos diretamente para a Pró-Resíduos, enquanto outros enviam para a DMP que posteriormente envia para a Pró-Resíduos. Nota-se também que a doação de equipamentos, uma forma de reuso possível, é praticada somente por dois departamentos.

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Figura 5 – Fluxo de REEE

O relatório emitido pelo sistema da DMP apontou a quantidade de CPU’s adquiridas desde 1981 pela Universidade e também a quantidade de equipamentos adquiridos entre 1981 e 2008 que sofreram baixa patrimonial entre 2000 e 2008. Por meio das datas de aquisição e de baixa patrimonial dos equipamentos, calculou-se o ciclo-de-vida dos equipamentos adquiridos. Estas informações são mostradas na Tabela 1, sendo subdivididas em intervalos de tempo.

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Ano de aquisição Computadores Monitores Impressoras Scanners Projetores

1981 a 1985 18,37 - 20,26 - - 1986 a 1990 14,78 13,93 13,87 - - 1991 a 1995 11,48 11,07 10,78 10,76 - 1996 a 2000 9,02 8,60 8,18 8,45 - 2001 a 2005 4,86 5,13 4,19 4,54 - 2005 a 2008 1,78 2,28 1,55 1,90 3,81

Tabela 1 – Período de aquisição do equipamento versus ciclo-de-vida (anos)

O ciclo-de-vida dos equipamentos diminuiu progressivamente nas últimas duas décadas, aumentando a descartabilidade. Os primeiros computadores foram usados cerca de 18 anos, enquanto esse período atualmente é menor que 5 anos. A Tabela 2 mostra a quantidade de CPU’s adquiridas pela UEM, evidenciando o quanto destas já foram descartadas desde 1981.

Ano de aquisição CPU’s em uso CPU’s descartadas Total 1981 a 1985 8 3 11 1986 a 1990 13 16 29 1991 a 1995 129 168 297 1996 a 2000 527 452 979 2001 a 2005 1655 123 1778 2005 a 2008 2168 2 2170 Total 4500 764 5264

Tabela 1 – Período de aquisição do equipamento versus quantidade de equipamentos adquiridos

O relatório apontou que atualmente 4.500 computadores estão em uso pela UEM e 764 já foram descartados. O relatório emitido pela DMP apresentou dados condizentes com a literatura no que diz respeito ao aumento do consumo e à diminuição do ciclo-vida dos equipamentos eletro-eletrônicos, apresentados nas Tabela 1 e Tabela 2. A quantidade de equipamentos adquiridos aumenta muito a cada quinqüênio, aumentando, proporcionalmente, a quantidade de sucatas de destinação incerta futuramente. Contudo, a partir das entrevistas realizadas nos departamentos usuários, nota-se que, na Universidade, os equipamentos ainda têm seu ciclo de vida determinado pelas condições de uso, e não pela substituição tecnológica. Desta forma, o aumento no descarte parece estar associado somente ao aumento do consumo.

5. Considerações finais As informações levantadas neste trabalho evidenciaram que o problema dos REEE na UEM é bastante preocupante. As instalações elétricas precárias contribuem diretamente para o aumento da quantidade de resíduos, a descartabilidade dos equipamentos de informática considerados materiais de consumo e a obsolescência das placas de circuito impresso foram apontadas como causas principais da geração dos resíduos. Apesar dos departamentos usuários se preocuparem com a manutenção dos equipamentos e o reaproveitamento de componentes, essa preocupação se deve à escassez de recursos e à dificuldade em se adquirir um novo equipamento devido à burocracia do sistema público de compra, e não à preocupação ambiental.

A prática de reuso, por meio de doação de equipamentos para outras instituições, é praticada somente por dois departamentos usuários. Nota-se a falta de informação e de iniciativa por parte dos departamentos usuários que deveriam estudar a possibilidade de doação de

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equipamentos de acordo com procedimentos burocráticos da universidade. A falta de informação dos departamentos usuários também se reflete nos procedimentos adotados para descarte dos equipamentos, já que estes não são padronizados.

Os dados mais surpreendentes levantados na pesquisa de campo são o ciclo-de-vida e a crescente quantidade de REEE na universidade. Em 20 anos, o ciclo-de-vida dos equipamentos está cerca de 4 vezes menor, sendo a que a tendência é diminuir ainda mais. A quantidade de equipamentos adquiridos a cada qüinqüênio tem sido mais que o dobro do qüinqüênio anterior. Dos 5.264 CPU’s adquiridos pela UEM até então, 764 foram descartados e estes não foram submetidos a nenhum tratamento.

Estes dados servirão de base para a realização da etapa conclusiva do Projeto de Iniciação Científica, na qual serão sugeridos procedimentos padrão para descarte interno a serem regulamentos pela UEM, treinamentos aos departamentos usuários e irá se propor alternativas para destinação externa à universidade, possibilitando o tratamento adequado dos REEE.

Referências ALBERONI, V. G.; NEVES, M.; QUELHAS, O. L. G.; BARROS, A. B. Gestão de resíduos industriais como facilitador da gestão do conhecimento e da otimização do processo produtivo. In: Anais do XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção – ENEGEP. 23 a 25 de Outubro de 2002. Curitiba, 2002.

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