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Gênero e Violência
contra mulheres
Profa. Dra. Sandra Lourenço de Andrade Fortuna
Eixos de análise
Em que o conceito de gênero e relações de
gênero interferem na produção das condições
para a violência contra as mulheres?
Quais as principais dimensões da violência
contra as mulheres?
Vivemos um momento no mínimo paradoxal. Se
por um lado verificamos a expansão dos
estudos de gênero e o interesse das políticas
públicas nesse campo, por outro, ainda
perdura, no meio acadêmico, muitas polêmicas
e desqualificações com respeito a essa
temática. O lugar que esse saber ocupa no
campo acadêmico, no campo da ciência
enfrenta resistências.
NOTAS INTRODUTÓRIAS
A categoria gênero foi incorporada pelas
ciências sociais, sendo forjada no bojo dos
movimentos de luta feminista, possuindo,
portanto uma dimensão política, além da
teórica.
Institucionalização dos estudos de
gênero: principais marcos
1975 = ano Internacional da Mulher (ONU);
No Brasil, nos anos de 1970, surgiram grupos
feministas autônomos que colocaram em pauta
a luta pelos direitos das mulheres e instigaram
a produção do conhecimento. Inicialmente
contamos com os estudos sobre a condição
feminina e, posteriormente, os estudos sobre a
mulher.
Já em 1969, a profa. Dra. Heleieth Iara
Bongiovani Saffioti, escreveu a sua tese de
livre docência: A Mulher na Sociedade de
Classes, transformando-se posteriormente em
livro. Esta publicação pode ser considerada
fundamental para a incorporação da categoria
gênero na produção acadêmica brasileira.
Nos anos de 1980, os estudos sobre a denominada
condição feminina e sobre a mulher (no singular)
passou a ser considerado como estudos de gênero
na antropologia e história da mulher, na
historiografia.
Há neste período também, o surgimento de alguns
estudos sobre as masculinidades. Porém no
campo dos estudos de gênero ainda são vistos
como polêmicos, por conta da orientação política
da categoria gênero.
Os primeiros Núcleos de Gênero surgiram no
final dos anos de 1980 e durante os anos de
1990 foram ampliados.
Neste período também surgiram as principais
Organizações Não Governamentais–ONGs
como, por exemplo, a CEFEMEA,
contribuindo diretamente para colocar na
agenda da política nacional e das políticas
públicas a discussão de gênero, articulando-a
com a produção acadêmica.
Este foi um período de grandes avanços.
Verificamos neste também a criação de
revistas científicas como: Estudos Feministas
(1991) e os Cadernos PAGU (1992).
Atualmente ambas são revistas publicadas na
SCIELO, com excelente pontuação no
Qualis/CNPq.
No Brasil nos anos 2000, há o fortalecimento
da polêmica temática da sexualidade no campo
dos estudos de gênero e feministas, havendo
dicotomia entre os estudos feministas e os da
sexualidade.
Outro destaque é em relação à curva de
formação de doutores no Brasil no ano de
2006, sendo 51,9% de mulheres doutoras
(GROSSI, 2010).
Em 2010 contamos com aproximadamente 150
núcleos de gênero no Brasil.
Atualmente contamos com quatro grandes
centros interdisciplinares de referência dos
estudos de gênero: PAGU/UNICAMP; CLAM
– Centro Latino americano/UERJ, NEIM-
UFBA e o Instituto de Estudos de Gênero da
UFSC.
A resistência ainda enfrentada no campo
acadêmico está posta também numa ordem
patriarcal de gênero, ou seja, o vetor da
dominação é o masculino, considerando os
estudos sobre mulheres e feminismos como algo
menor. Interessante notar que há um significativo
volume de capital científico reconhecido, que
deveria legitimar a constituição de um campo
científico, devido à expansão do conhecimento,
porém os estudos de gênero ainda são vistos com
sérias ressalvas.
Assumir um projeto que tem sua tônica na
categoria gênero é antes de mais nada, assumir
um compromisso político, neste caso, na
defesa intransigente dos direitos humanos das
mulheres que sofrem violência.