GELO POLAR DIMINUI E provoca invernos cada vez mais frios · o Egito é uma imensa extensão de...

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#129 EDIÇÃO OÁSIS CRISE PODE INCENDIAR TODA A GALÁXIA MUÇULMANA CAOS EGÍPCIO GELO POLAR DIMINUI E provoca invernos cada vez mais frios O CORPO É A TELA A body art descobre os clássicos O GÊNIO CRIATIVO Ele existe em cada um de nós

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#129

Edição Oásis

CrisE podE inCEndiar toda a galáxia muçulmana

CAOS EGÍPCIO

GELO POLAR DIMINUI

E provoca invernos cada vez mais frios

O CORPO É A TELA

a body art descobre os clássicos

O GÊNIO CRIATIVOEle existe em

cada um de nós

2/41OásIs . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

“Alguns AnAlistAs opinAm que mubArAk, há dois Anos, foi o primeiro líder mundiAl A perder

o posto por cAusA do Aquecimento globAl: o fenômeno provocou colheitAs ruins e o Aumento no mercAdo mundiAl do preço do trigo, do quAl

o egito é o mAior importAdor do mundo”

E m nossa matéria de capa, o jornalista italiano lucio Ca-racciolo diz que a atual crise no Egito não é nacional: é mundial. E afirma que o mundo observa impotente a

sucessão de matanças de populares sob as balas das forças da ordem por uma simples razão: não percebeu, até agora, a am-plitude mundial da crise. Caracciolo vê com pessimismo o de-senrolar desses conflitos. Para ele, o Egito – e em geral todos os países islâmicos – estaria repleto de revoltosos afiliados à irman-dade Muçulmana prontos para pegar em armas e lutar contra os governos constituídos, - principalmente aqueles que impedem a instalação em larga escala do poder religioso.

o que terá levado o Egito, um país árabe relativamente mais equilibrado durante as últimas décadas, a mergulhar no atual abismo de ferro, fogo e sangue? o fator religioso pesa sempre na balança. Mas há outro fator igualmente – ou talvez até mais – importante: o econômico. a economia egípcia vai mal, o pão

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escasseia no país. alguns analistas opinam que Mubarak, há dois anos, foi o primeiro líder mundial a perder o posto por causa do aquecimento global: o fenômeno provocou colheitas ruins e o aumento no mercado mundial do preço do trigo, do qual o Egito é o maior importador do mundo. as coisas não melhora-ram desde então.

o Egito é uma imensa extensão de areia (mais de um milhão de quilômetros quadrados) habitado por 84 milhões de pesso-as, quase todas amontoadas às margens do nilo. o grande rio constitui praticamente a única fonte de água e ao longo de suas margens está a única estreita faixa verde de terreno cultivável.o país depende dos mercados internacionais para comprar trigo e fazer o pão que mata a fome do povo. Como se não bastas-se, a importante produção de gás natural no Egito (sobretudo o metano) é cada vez mais absorvida pelo consumo interno. Sobra cada vez menos gás para a exportação, ou seja, para que entre dinheiro em caixa. Como diz o velho e sábio ditado, em casa onde não há pão, todo mundo briga e ninguém tem ra-zão...

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CAOS EGÍPCIOCrise pode incendiar toda a galáxia muçulmana

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sta não é uma crise egípcia, é uma crise mundial. Mas o mun-do a observa impotente, sem saber como serená-la. Talvez por não perceber o seu alcance global.

As manifestações de solidarie-dade à Irmandade Muçulmana, no entanto, já se estenderam do Magreb à Indonésia. Elas, inclusive, se fazem sentir a pou-cas quadras de nossas casas em Roma ou Paris. Tais mani-

festações deveriam nos lembrar que não estamos apenas diante de uma violenta contenda intestina entre islâmicos e milita-res, como na Argélia dos anos 90, mas sim diante de um embate destinado a influir

nas relações de força da inteira galáxia muçulmana.

A coisa vai além. Nas ruas e praças do Cairo, bem como em Alexandria e no Si-nai, em Suez e no Alto Egito, está amadu-recendo uma nova geração de jihadistas que terá nos “mártires” da matança em curso o próprio ponto de referência. Se é verdade que o 11 de setembro nasceu nas prisões de Mubarack, é melhor cruzar os dedos ao se imaginar o que poderá esca-par dos cárceres (e dos cemitérios) do ge-neral al-Sisi.

A repressão movida pelas forças armadas egípcias não golpeia, com efeito, apenas uma grande organização radicada há 85 anos na sociedade nacional do país. Ela mira ao coração de uma rede transnacio-nal, a rede da Irmandade Muçulmana, espalhada na inteira galáxia islâmica e com ramificações também entre os mao-metanos do Ocidente, dos Estados Unidos à Europa.

Essa rede é dotada de uma classe dirigen-te muitas vezes qualificada, recrutada nos círculos dos profissionais, bem como nas universidades e no comércio. “Erradicar” os Irmãos Muçulmanos não é possível. Certamente não no Egito, que é a sua ter

Eo atual conflito no egito entre as forças militares e a irmandade muçulmana não constitui apenas mais um episódio sangrento da interminável crise vivida no oriente próximo. seu alcance é muito maior e poderá contaminar todo o mundo islâmico

Por: Lucio caraccioLo, jornaL La rePubbLica, itáLia

ra de fundação e de inspiração, e nem em qualquer outro lugar, exatamente por causa da sua estrutura reticular de solidariedade. Essa rede conhece diversas declinações, várias agendas nacionais e locais, e in-clusive algumas rivalidades, mas não conhece frontei-ras intransponíveis.

Essa confraria não é a FIS (Frente Islâmica de Sal-vação), alvo da repressão dos militares argelinos nos anos noventa. Daquela guerra civil que lhe foi con-sequência, e que causou duzentos mil mortos sob o olhar indiferente do Ocidente, surgiu toda uma gera-ção de terroristas que até hoje infesta o Magreb. Se os chefes da Irmandade Muçulmana ainda insis-tem em predicar a não violência, é coisa certa que pelo menos uma parte dos seus afiliados decidirá re-correr às armas – e, portanto, também ao terrorismo – para reagir ao massacre atualmente em curso. São esses que responderão ao chamado de Ayman al-Zawahiri, o pediatra egípcio que hoje comanda aquilo que sobrou da Al Qaeda. Há décadas ele que, no entanto, aderira à Irmandade quando era jovem, aponta-lhe o dedo, acusando-a de ludibriar os “ver-dadeiros muçulmanos” por não querer restabelecer o califado através da guerra santa.

Embora seja verdade que Morsi e os que o acompa-nhavam tenham cometido todos os erros possíveis durante o ano em que estiveram no poder – e isso é admitido até mesmo por um dos líderes máximos da Irmandade, Muhammad Biltagi – permanece o fato de que o atual golpe militar cristalizou, para satisfa-ção silenciosa de muitos líderes ocidentais, o princí

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igreja cristã coPta incendiada no cairo. todas as igrejas da caPitaL egíPcia estão ameaçadas de destruição. na foto à direita, fieL coPta Lamenta a [[erseguição contra os cristãos movida Por setores radicais muçuLmanos

pio segundo o qual, em certas latitudes, o voto vale apenas quando vencem os “nossos”, ou aqueles que consideramos como tal. Este excesso de cinismo está destinado a cair sobre as cabeças daqueles que o idea-lizaram.

As ondas de choque do tsunami egípcio, ápice atual do movimento ainda subterrâneo que grassa no intei-ro fronte sul do Mediterrâneo, ameaça antes de tudo a nós, italianos, e as nações europeias mediterrâneas que estão mais expostas não apenas pela proximidade geográfica mas também pela amplitude das comuni-dades muçulmanas nelas emigradas. As vozes anêmi-cas que se manifestam de Roma a Paris, de Londres a Berlim, testemunham nossa angustiada impotência. A mascara tragicômica da baronesa Ashton (1) não impressiona ninguém, com certeza não ao general al--Sisi.

Até aqui, nada de novo. O que é realmente inquietante é a clara incapacidade dos Estados Unidos para influir nos acontecimentos egípcios. A estratégia de Oba-ma parece se reduzir até agora no apoio ao patrão, o provisório vencedor da vez, fosse ele Mubarack, o Co-mando supremo das forças armadas, ou Morsi, pouco importa. Se entrincheirar-se abertamente por trás do açougueiro al-Sisi é coisa que sequer pode ser propos-ta, alguma outra alternativa viável ainda não surgiu no horizonte. É demasiado evidente a debilidade e o duplo jogo dos assim chamados cairotas “laicos”, mui-tos dos quais aplaudem os soldados que atiram contra a multidão na ilusão de que, assim que o trabalho sujo estiver feito, o general al-Sisi passará a se dedicar à

9/41OásIs . ConCEitogeneraL aL-sisi, o novo homem forte do

egito. o País voLtou a ser governado Por uma ditadura miLitar.

jardinagem e concederá a eles um poder que, a partir das urnas, nunca conseguiriam obter.

O impasse de Obama é certificado pela patética anu-lação das manobras conjuntas entre militares norte--americanos e egípcios. Al-Sisi não deu nenhum pas-so para trás. Talvez não o fizesse nem sequer se, num sobressalto de verdade, a Casa Branca decidisse dar seu verdadeiro nome ao golpe de estado anti-Morsi, com isso congelando por lei o bilhão e meio de dóla-res anuais que deposita no caixa das forças armadas egípcias. Os generais do Cairo não podem mais ser chantageados. Sabem que, para eles, é questão de vida ou morte. Se não conseguirem reprimir no san-gue o protesto da Irmandade, acabarão diante de um pelotão de fuzilamento ou simplesmente linchados pela multidão.

Quem olha a situação do alto tem quase a impressão de que o Egito voltou à normalidade: os militares no poder à frente de um estado policial, os Irmãos Mu-çulmanos protestando e se fazendo de vítimas, os assim chamados liberais relegados ao limbo da não--influência, os membros do “partido do sofá” – que constituem a maioria silenciosa – cheirando o vento, prontos para se perfilarem ao lado do novo faraó, os cristãos coptas, mais uma vez, transformados em ob-jeto das represálias dos islâmicos. Quanto aos salafi-tas, a novidade no cenário político pós Mubarak, es-peram para ver se poderão tirar alguma vantagem da derrota dos apoiadores de Morsi, ou se serão atirados no abismo do esquecimento.

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baronesa ashton, ingLesa, atuaL chefe da diPLomacia euroPeia. eLa convoca seus Pares da união euroPeia Para que discutam Providênc ias

a serem tomadas em reLação à crise no egito

centenas de membros da irmandade muçuLmana foram mortos PeLos miLitares no interior dessa mesquita

Mas as aparências enganam: agora, rompeu-se o vaso de Pandora, não existem faraós e nem outras autori-dades intocáveis. Nem sequer os chefes do ainda pres-tigiado Exército Nacional. Ninguém, nem dentro nem fora do Egito, dispõe da fórmula mágica para nova-mente trancar o gênio dentro da garrafa. A revolução faliu, é certo. Ela talvez se suicidou, ou então foi sui-cidada. Talvez um dia ressurgirá. Mas a barragem do status quo desmoronou. As regras do velho jogo não funcionam mais. Não existem bombeiros capazes de dominar esse incêndio. As chamas se apagarão apenas quando o combustível estiver exaurido. Infelizmente, no Egito, e em toda aquela região e no mundo islâmi-co, existe ainda muito combustível à disposição. Sem falar nos incendiários que estão prontos a acender novos pavios.

(1) A baronesa Catherine Ashton é a atual chefe da diplomacia europeia. Ela garantiu há poucos que a responsabilidade da “tragédia” no Egito recai prin-cipalmente no governo interino e anunciou que a União Europeia discutirá possíveis medidas de re-taliação à violência vivida no país norte africano. Ashton considerou “aterrorizante” o saldo de mor-tos e feridos, e explicou em comunicado que esteve em contato com os ministros europeus das Relações Exteriores e pediu aos países que estudem “medidas apropriadas” para responder a essa violência (Nota da Redação).

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muçuLmanos feridos em tiroteio aguardam socorros

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GELO POLAR DIMINUIE provoca invernos cada vez mais frios

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inverno na Europa, este ano, foi um dos mais longos e rigorosos das últimas décadas. O mesmo fe-nômeno sucede agora no Hemis-fério Sul. No Brasil, por exemplo, nos estados do Sul e Sudeste, já estamos quase no final de agosto e o frio parece não querer ir em-bora. O que está acontecendo? Os meteorologistas já conhecem a resposta: a causa é a diminuição dos gelos polares, tanto no Ártico

quanto na Antártica, fenômeno que aconte-ce nos meses de verão em ambos os hemis-férios, alternadamente. Pesquisadores do

Oquase no final do mês de agosto, o frio dos últimos dias no sul do país é atípico, mas tem uma causa: o derretimento cada vez maior do gelo na Antártica. o mesmo aconteceu na europa, o ano passado, por causa da diminuição da calota polar ártica

Por: equiPe oásis

Research Unit Potsdam, do Alfred Wege-ner Institute for Polar and Marine Resear-ch, órgão da Helmholtz Association, des-cobriram um mecanismo segundo o qual a retirada dos gelos que recobrem os polos provoca mudanças na pressão atmosféri-ca ártica e antártica, com uma importan-te intensificação do inverno na Europa e, agora, na parte sul da América Latina.

Voltemos ao começo. Se, durante o verão, acontece uma grande retirada do gelo na região do Polo Norte, como tem aconte-cido nos últimos anos, acontecem dois efeitos importantes. Em primeiro lugar a retirada do gelo traz à tona a água oceâni-ca que é muito mais escura do que o gelo, e isso provoca um notável aquecimento dela, já que é capaz de reter muito mais calor.

Em segundo lugar, por causa da reduzida extensão do gelo, o calor presente no oce-ano é liberado na atmosfera sobretudo no outono e no inverno. “Essas temperatu-ras mais elevadas podem ser medidas nas correntes oceânicas próximas da região ártica”, explica Ralf Jaiser, um dos res-ponsáveis pela pesquisa.

Alterações na circulação do ar

O aquecimento do ar nas imediações do mar determina processos de subida das correntes atmosféricas que se tornam muito menos estáveis. “Analisamos os movimentos caóticos que são criados e demonstramos que se formam condições que alteram profundamente a circulação típica dessa área”, con-tinuou Jaiser. Uma dessas situações é a diferença de pressão atmosférica entre o Ártico e as médias latitu-des: a assim chamada “oscilação Ártica”, caracterizada por importantes diferenças de pressão entre os Açores e a Islândia. Se essa diferença está ligada a uma alta pres-são sobre os Açores e a uma pressão sobre a Islândia, formam-se fortes ventos ocidentais que, no inverno, levam ar atlântico quente e úmido para a Europa. Isso é o que tem acontecido nos dois últimos invernos.

Fenômenos análogos estão acontecendo também no Hemisfério Sul, na região da Antártica. Equipes de cien-tistas estudam neste momento como se processa a me-cânica do fenômeno nessa parte do mundo. De qualquer forma, tanto no Norte quanto no Sul, a expectativa é de que tenhamos invernos cada vez mais frios e prolonga-dos.

Quando o frio é muito rígido (entre -15/-20 °C) é pos-sível fazer esta experiência: lançar ao ar água fervente. Ela explodirá em vapor e cristais de gelo.

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AR

TEO CORPO É A TELA

A body art descobre

os clássicos

OásIs . artE

OásIs . artE

eu trabalho se intitula Anatomy Mu-seum (Museu de Anatomia) e consiste em reproduzir quadros que estão nos mais famosos museus do mundo sobre o corpo de alguns modelos, femininos e masculinos, como se se tratassem de gigantescas tatuagens, para depois fotografá-los. Parece fácil, mas não é: o casal de artistas Chadwick Gray e Laura Spector, com efeito, reproduz as obras inteiramente à mão, e usa como suporte o inteiro corpo do modelo. Para realizar uma única obra eles po-dem levar até 15 horas. Chadwick Gray e Laura Spector vivem atualmente em

Houston, Texas, depois de terem morado dez anos em Chiang Mai, na Tailândia.

Sos artistas plásticos norte-americanos chadwick gray e laura spector decidiram juntar os grandes clássicos da pintura com a mais transgressora (e moderna) body art

Por: equiPe oásis.

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1 Leda e o Cisne, de Correggio

Gray e Spector reproduzem as pintu-ras inteiramente à mão, usando como tela o inteiro corpo dos modelos, e depois de terem solicitado a eles para que assumissem diferentes poses plásticas e ter verificado, com o uso de um projetor, qual a pose que me-lhor fnciona para aquele quadro. O sentido da arte, para eles, esconde--se inclusive no esforço para alcançar com o pincel os pontos mais difíceis, redesenhando a perspectiva do corpo. Nesta foto, reproduziram a pintura “Leda e o Cisne”, de Corregio, sobre um modelo masculino agachado.

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2 Água, de Arcimboldo

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3 A festa de Cleópatra, de Jordeans

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4 Mulher que chora, de Picasso

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5 A cabeça da Medusa, de Rubens

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6 Joana D’Arc, de Eugene Thirion

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7 Judite com a cabeça de Holofernes, de Cranach

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8 Santa Ágata, de Orazio Riminaldi

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9 Santa Maria Madalena, de Carlo Dolci

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10 O Lamento de Cristo (detalhe), de Sandro Botticelli

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O GÊNIO CRIATIVOEle existe em cada um de nós

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genialidade – ou, mais propria-mente, o “gênio” que habita em cada um de nós – é tema que fas-cina Elizabeth Gilbert. Essa escri-tora, ao perceber que a “crise dos quarenta” ameaçava tomar conta dela, decidiu realizar um antigo sonho secreto: tirar um inteiro ano sabático. Viajou pela Itália, a Índia e a Indonésia e viveu todas as experiências gastronômicas e espirituais, além de algumas amo-rosas, que esses três países po-

dem proporcionar. O resultado de todas essas vivências foi o livro Comer Rezar Amar que, logo após a publicação, transformou-se num

A

elizabeth gilbert, autora do super bestseller comer rezar Amar, faz algumas reflexões sobre as coisas impossíveis que esperamos dos artistas e gênios - e divide conosco a ideia radical de que, em vez dessas pessoas raras “serem” gênios, todos nós deveríamos “ter” um gênio. é um relato muito pessoal, bem humorado e emocionantevídeo: ted – ideas Worth sPreadingtradução Para o Português: PauLa diP. revisão: beLucio haibara

dos maiores bestsellers dos últimos tem-pos. Foi também transformado em filme de sucesso protagonizado por Júlia Roberts. O tema central da obra é o encontro de si mes-mo através do afastamento do lar e da rotina do quotidiano.

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Tradução integral da palestra de Elizabeth Gilbert no TED

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“Eu sou uma escritora. Escrever livros é minha profissão, mas é mais do que isso, é claro. É também o grande amor e a fascinação de toda a minha vida. Espero que isso não mude nunca! Dito isso, aconteceu uma coisa muito pe-culiar comigo recentemente, na minha vida e na minha carreira, que me fez rever a relação que tenho com esse trabalho. E o que houve de peculiar é que eu acabo de escrever um livro de memórias, chamado Comer, Rezar, Amar que, ao contrário dos meus livros anteriores, se es-palhou pelo mundo e por alguma razão virou esse best--seller internacional, uma mega sensação. O resultado é que, agora, onde quer que eu vá, as pessoas me tratam como se eu estivesse condenada. É sério: condenada, con-denada! Tipo, eles chegam para mim bem preocupados e dizem: “Você não sente medo, não tem medo de nunca ser capaz de superar isso?” Você não tem medo de continuar escrevendo a sua vida toda e nunca mais escrever um livro que interesse alguma pessoa nesse mundo, nunca mais?”É um alívio ouvir isso, vocês imaginam. Podia ser pior, mas eu na verdade me lembro, que mais de 20 anos atrás, quando eu era adolescente e comecei a dizer às pessoas que queria ser escritora, encontrei esse tipo de comen-tário. As pessoas diziam “ Você não tem medo de nunca fazer sucesso?” Você não teme que a humilhação e a rejei-ção possam te matar? Você não está preocupada de traba-lhar a vida inteira num ofício que nunca vai te dar nada e você vai acabar num monte de sucata de sonhos não rea-lizados e com um gosto amargo de fracasso em sua boca?” (risadas) E coisas assim. Vocês sabem.E a resposta, uma resposta curta para todas essas pergun-tas é “sim”. É claro que tenho medo de tudo isso. Sempre tive. E tenho medo de muitas outras coisas além dessas que as pessoas nem imaginam. Como algas marinhas, e

outras coisas assustadoras. Mas quando se trata de escrever a coisa que eu tenho pensando e pondera-do ultimamente é, por que? Ou seja: isso é racional? É lógico que uma pessoa deva ter medo de fazer um trabalho que ela sente que é sua missão na terra? Sa-bem? E qual é o problema com as atividades criati-vas que parecem sempre nos deixar muito preocupa-dos com nossa saúde mental, coisa que não acontece em outras carreiras, sabe como? Meu pai, por exem-plo, foi um engenheiro químico e eu não me lembro de ninguém perguntar a ele, em seus 40 anos de ati-vidade, se ele tinha medo de ser engenheiro quími-co, certo? Ninguém dizia... você está sem inspiração para ser engenheiro químico, John, está tudo bem com você? Isso simplesmente não acontecia, sabem? Mas, verdade seja dita, os engenheiros químicos, como um grupo, não tem uma fama que atravessa séculos de serem alcoólatras e maníaco-depressivos.

OásIs . PEnSar

Tradução integral da palestra de Elizabeth Gilbert no TED

(risadas)Já nós, os escritores, meio que temos essa reputação, não apenas os escritores, mas pessoas criativas de todos os tipos, parecem ter essa fama de serem emocionalmente muito instáveis. E se olharmos para a triste marca do nú-mero de mortos apenas no século 20, de mentes criativas realmente magníficas, que morreram cedo e muitas vezes por suas próprias mãos, sabem? E mesmo aqueles que não cometeram suicídio, literalmente parecem ter sido derrotados pelos seus dons. Norman Mailer, pouco antes de morrer, em sua ultima entrevista, disse: “Cada um de meus livros me matou um pouquinho”. Uma declaração impressionante para se fazer sobre uma vida de trabalho, não? Mas nós nem ligamos quando ouvimos isso, porque já escutamos esse tipo de coisa por tanto tempo, e já in-

ternalizamos e aceitamos coletivamente essa ideia, que criatividade e sofrimento parecem estar indis-soluvelmente ligados e que, a arte, ao fim e ao cabo, sempre nos levará à angústia.E a pergunta que quero fazer a todos, hoje e aqui, é: vocês estão tranquilos com isso? Vocês aceitam isso - porque se a gente olhar com um mínimo de distanciamento, sabem - eu não estou NADA confor-tável com essa suposição. Eu acho que ela é odiosa. E também acredito que seja perigosa, e eu não quero vê-la perpetuada no próximo século. Eu acho que é muito melhor a gente encorajar as mentes criativas a viver.E, com toda a certeza, eu sei que na minha situação seria muito perigoso eu me deixar levar para aquele caminho escuro se considerarmos particularmente as circunstâncias em que me encontro agora, em mi-nha carreira. Que é o seguinte, vejam: Eu sou bem jovem, tenho apenas 40 anos de idade Com pelo menos outras quatro décadas de trabalho pela fren-te, e é muito provável que, qualquer coisa que eu escreva a partir de agora será julgada pelo mundo como o trabalho que veio depois do sucesso assus-tador do meu último livro, certo? E eu vou ser bem clara com vocês, porque aqui somos todos amigos, é muito provável que meu maior sucesso tenha ficado para trás. Oh, Jesus, que ideia terrível! Esse é o tipo de ideia que poderia levar uma pessoa a começar a beber gim às 9 da manhã, e eu não quero fazer isso! (risadas) Eu prefiro continuar a fazer esse trabalho que amo.Assim, a pergunta agora é: como? Depois de muita reflexão, me parece que a maneira como devo traba

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Tradução integral da palestra de Elizabeth Gilbert no TED

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lhar agora, para continuar escrevendo, é criar uma espé-cie de “construção psicológica protetora”, certo? Preciso encontrar uma forma de colocar uma distância segura en-tre eu mesma, quando escrevo, e minha ansiedade natural sobre qual será a reação à minha escrita, a partir de ago-ra. E, depois de analisar algumas maneiras de fazer isso, durante este ano, andei pesquisando através dos tempos, tentando encontrar outras sociedades e ver se elas por acaso tinham ideias melhores e mais saudáveis do que as nossas, sobre como ajudar pessoas criativas a cuidar dos riscos emocionais inerentes à criatividade.Essa busca me levou até à Grécia e à Roma antigas. Sigam meu raciocínio, logo estaremos de volta onde começamos. Na Antiga Grécia e em Roma, as pessoas não acreditavam que a criatividade viesse dos seres humanos, OK? Elas achavam que criatividade era um espírito divino de plan-tão que vinha ter com os seres humanos de uma fonte dis-tante e desconhecida por razões distantes e desconheci-das. Os gregos chamavam esses espíritos criativos divinos de “daemons”. Sócrates, diz a lenda, acreditava ter um daemon que lhe dizia de longe palavras de sabedoria. Os romanos tinham a mesma ideia, mas eles chamavam esses espíritos incorpóreos de gênios. O que é ótimo, porque os romanos não acreditavam que um gênio era uma pessoa particularmente inteligente. Eles achavam que gênio era esse tipo de entidade mágica e divina, que se acreditava viviam literalmente nas paredes do estúdio de um artista, como Dobby, o gnomo da casa, que saía e ajudava o artis-ta em seu trabalho, de forma invisível, e cuidava de tudo até o final.Brilhante! É exatamente desse tipo de distância que estou falando, é a tal “construção psicológica” que vai te prote-ger do resultado do seu trabalho. E todo mundo sabia que

era assim que as coisas funcionavam, certo? Assim, o artista na antiguidade ficava protegido de certas coi-sas, como, por exemplo, de um excesso de narcisis-mo. Se seu trabalho fosse brilhante, você não podia levar todos os créditos por isso, todo mundo sabia que você tinha um gênio invisível que te ajudava. E se seu trabalho fosse um fracasso, também não era só culpa sua, certo? Todo mundo sabia que seu gênio era meio folgado... Era assim que as pessoas pensa-vam sobre a criatividade no mundo ocidental, por bastante tempo.Aí veio o Renascimento e mudou tudo, e nós tive-mos uma grande ideia, que foi: vamos colocar o ho-mem no centro do universo acima de todos os deuses e mistérios e não haverá mais lugar para criaturas místicas que ditam coisas de uma fonte divina. Este foi o início do racionalismo humanista, e as pessoas passaram a acreditar que a criatividade vinha intei-ramente do “self” dos indivíduos. E pela primeira vez na história, a gente começa a ouvir as pessoas se re-ferirem a este ou aquele artista como sendo um gênio ao contrário de “ter” um gênio.Eu preciso dizer que acho que isso foi um grande erro. Eu acredito que permitir que alguém, uma mera pessoa, acredite que ele ou ela é o vaso, o molde, a essência e a fonte de todo o mistério criativo, divino, eterno e desconhecido, é um pouco de responsabili-dade demais para a nossa psique humana e frágil. É como pedir a alguém que engula o Sol. Isto só distor-ce e deforma egos e cria expectativas incontroláveis sobre a nossa atuação. E eu acredito que é esta pres-são que vem matando nossos artistas durante os últi-mos 500 anos.

OásIs . PEnSar

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E, se isso é verdade, e eu acredito que seja, a pergunta se torna: e agora? Podemos fazer isso de outra maneira? Quem sabe voltar àquela compreensão mais antiga sobre a relação dos humanos com o mistério da criatividade ou talvez não. Talvez a gente não possa simplesmente apagar 500 anos de pensamento racional humanista num peque-no discurso de 18 minutos. E provavelmente há pessoas na plateia, que vão levantar suspeitas científicas legítimas sobre a noção de que existem fadinhas que seguem a gen-te e esfregam um suco mágico nos nossos projetos, e tal. Provavelmente eu não consiga convencer todos vocês.Mas a questão que eu quero colocar é: por que não? Por que não pensar sobre isso dessa maneira? Para mim faz tanto sentido quanto todas as outras coisas que já ouvi a respeito em termos de explicar os caprichos enlouquece-dores do processo criativo. Um processo que, todo mundo que já tentou fazer algo, todo mundo que está aqui, basi-camente - sabe que não se comporta apenas de forma ra-cional. E que, de fato, muitas vezes parece ser inteiramen-te paranormal.Eu me encontrei recentemente com a extraordinária po-eta americana Ruth Stone, que está com 90 anos, e foi poeta a vida inteira e ela me contou que quando crescia no interior da Virginia, trabalhando na lavoura, ela podia sentir e ouvir um poema chegar até ela por sobre a paisa-gem. Ela contou que era como uma lufada estrondosa de ar que que descia atrás dela até o campo. E ela sabia que estava chegando, porque a terra tremia debaixo de seus pés. E ela sabia que só podia fazer uma coisa: que era, em suas próprias palavras, “correr como o diabo” e ela “corria como o diabo” até a casa como se estivesse sendo perseguida pelo poema, e ela tinha que pegar uma folha de papel e um lápis, bem depressa, de tal maneira que

quando o poema passasse através dela, ela pudesse agarrá-lo e prendê-lo naquela página. Algumas vezes ela não era rápida o suficiente e apesar de correr e correr, ela não chegava ao papel a tempo e o poema atravessava o corpo dela e ela o perdia e continuava a seguir através da planície procurando, como ela dizia , “por um outro poeta”. Algumas outras vezes, e essa é a parte que eu nunca esqueço, ela falou que havia momentos em que o poema passava raspando e ela ia correndo até a casa atrás do papel e o poe-ma a atravessava, e ela pegava o lápis no momento em que ele estava passando por ela e ela dizia que era como se ela o pegasse com a outra mão e o agar-rasse. Ela pegava o poema pelo rabo, e o puxava de volta para dentro do seu corpo enquanto transcrevia a página e nessas instâncias, o poema aparecia sobre o papel perfeito e intacto, mas de cabeça para baixo, começando pela última palavra (risos)Quando eu ouvi isso, eu fiquei tipo - isso é bizarro, é exatamente assim que funciona o meu processo cria-tivo. (mais risos)Meu processo criativo vai bem, além disso, eu não sou apenas uma antena! Eu sou uma mula, de tan-to que eu trabalho, eu tenho que acordar todos os dias na mesma hora, e suar e escrever e me atirar ao trabalho de uma forma bem atribulada e até eu, na minha mulice, já me encontrei de raspão com essa coisa, algumas vezes, e imagino que muitos de vocês também já tenham passado por isso. Até comigo já aconteceu de trabalhos ou ideias chegarem até mim através de uma fonte que eu honestamente não con-sigo identificar. O que é essa coisa? E como devemos nos relacionar com ela de tal forma que ela não nos

OásIs . PEnSar

Tradução integral da palestra de Elizabeth Gilbert no TED

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faça perder a cabeça, mas que, na verdade, nos ajude a sermos saudáveis?Para mim, o melhor exemplo contemporâneo que temos de como fazer isso é o musico Tom Waits que eu entre-vistei para uma revista anos atrás Nós estávamos falando sobre isso e Tom, vocês sabem, durante a maior parte de sua vida, foi o protótipo do artista atormentado moderno e contemporâneo, tentando dominar e administrar esses impulsos criativos incontroláveis que estavam totalmente internalizados nele.Mas aí ele ficou mais velho, mais calmo, e ele me contou que um dia estava dirigindo o carro numa marginal de Los Angeles, e foi quando tudo mudou. Ele estava corren-do e de repente ele ouviu um pequeno fragmento de me-lodia, que surgiu na sua cabeça, uma inspiração que surge às vezes, fugidia e tentadora, e você quer registrá-la pois é linda, ele a deseja, mas não tem como agarrá-la. Não tem papel, nem lápis nem gravador,E ele começa a sentir aquela ansiedade brotar nele tipo “eu vou perder essa coisa”, e essa canção vai me assom-brar pelo resto da vida. Eu não sou bom o suficiente para fazer isso.” Mas em vez de entrar em pânico, ele parou. Ele simplesmente parou aquele processo mental e fez algo completamente inusitado. Ele olhou para o céu e disse,”Desculpe, mas você não vê que eu estou dirigin-do?” (risos) “Eu estou com cara de quem vai escrever uma canção agora? Se você quer realmente existir, volte num momento mais oportuno em que eu possa cuidar de você. Ou então, vai enlouquecer outra pessoa... Vai atrás do Le-onard Cohen”.E todo o seu processo de trabalho mudou depois disso. Não o trabalho, que na maioria das vezes continua tão escuro quanto antes. Mas o processo e a ansiedade que

pesava em torno dele se liberaram quando ele tirou o gênio de dentro dele onde ele só criava problema, e devolveu-o ao lugar de onde tinha vindo. E perce-beu que não tinha que viver essa coisa internalizada e tormentosa e que ela podia ser apenas uma cola-boração maravilhosa e bizarra uma espécie de bate papo entre Tom e aquela coisa estranha fora dele, que não era exatamente Tom.Quando eu ouvi essa história, comecei a mudar um pouco minha forma de trabalhar, e isso já me salvou uma vez. Essa ideia me salvou quando eu estava no meio do livro Comer, Rezar, Amar e cai num desses poços de desespero em que todos nós caímos quan-do estamos trabalhando em algo que não acontece e você começa a pensar que vai acabar em desastre, e que o seu livro será a pior obra já escrita. Não ape-nas ruim, mas o pior livro de toda a história. E co-mecei a pensar em engavetar o projeto. E então eu me lembrei de Tom, falando para o ar, e experimen-tei fazer o mesmo. Eu levantei o rosto do manuscrito e dirigi meus comentários a um canto vazio da sala. E disse em voz alta, “ Escuta aqui, sua coisa, você e eu sabemos que se este livro não for brilhante, a culpa não será toda minha, certo? Porque você está vendo que estou colocando tudo que eu tenho nele E eu não tenho nada alem disso. Então, se você quer que ele fique melhor, dê as caras e faça a sua parte. OK? E se você não fizer isso, quer saber? Dane-se! Eu vou continuar escrevendo do mesmo jeito por que este é o meu ofício. E eu gostaria que hoje fi-casse registrado em nossa agenda que eu compareci para fazer minha parte do trabalho. (risos)Porque - no fim das contas é assim, OK - séculos

OásIs . PEnSar

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atrás, nos desertos do norte da África, as pessoas se en-contravam para fazer música e dançar ao luar, durante horas, até o amanhecer E elas eram magníficas porque os dançarinos eram profissionais, eles eram incríveis, sabe? Mas uma vez ou outra, raramente, acontecia alguma coi-sa, e um desses bailarinos realmente transcendia. E eu sei que vocês sabem do que estou falando, porque sei que to-dos vocês já viram, em algum momento de sua vida, uma atuação como esta. E foi como se o tempo parasse, e o dançarino entrasse numa espécie de portal e ele não fazia nada diferente do que vinha fazendo desde há mil noites atrás mas é como se tudo se alinhasse. E não mais que de repente ele deixasse de ser apenas humano. E ele era iluminado de dentro para fora, e debaixo para cima, todo iluminado pelo fogo divino.E quando isso acontecia, naquele tempo, as pessoas sa-biam do que se tratava e a chamavam pelo nome. Elas juntavam as mãos e cantavam, “Alá, Alá, Alá, Deus, Deus, Deus”. Era Deus, entendem? Uma nota de rodapé curiosa - historicamente, quando os mouros invadiram a Espa-nha, eles levaram consigo esse costume e sua pronúncia mudou com o passar do tempo, de “Alá, Alá, Alá, para olé, olé, olé” que ainda se ouve em touradas e danças flamen-cas. Na Espanha, quando um artista faz alguma coisa im-possível e mágica, “Alá, olé, olé, magnífico, bravo” é algo incompreensível é um lampejo de Deus. O que é ótimo, porque nós precisamos dele.Mas a parte complicada acontece na manhã seguinte, para o dançarino, quando ele acorda e descobre que é terça feira, são 11 da manhã e ele não é mais um lampejo divi-no. Ele é apenas um mortal que está envelhecendo com joelhos estourados, e quem sabe ele nunca mais suba tão alto, e que talvez ninguém mais cante seu nome outra vez

enquanto ele gira, e então, o que ele deve fazer com o resto de sua vida? É difícil. Este é um dos mais dolorosos acertos a se fazer numa vida criativa. Mas digamos que isso não tenha que ser tão angustian-te se você nunca acreditar, em primeiro lugar, que os aspectos mais extraordinários do seu ser vem de você. Quem sabe seja melhor acreditar que eles são emprestados a você por uma fonte inimaginável de uma parte rara de sua vida que será passada para alguém quando você partir. E acreditem, se a gente pensa nisso desta forma, tudo começa a mudar.Foi assim que eu comecei a pensar, e é assim que tenho pensado nesses últimos meses enquanto tra-balho no livro que devo publicar em breve, a tal pe-rigosa, apavorante e muito aguardada continuação do meu louco sucesso.E o que eu digo a mim mesma quando eu fico real-mente enlouquecida com isso, é: não tenha medo. Não desanime. Apenas faça o seu trabalho. Continue a comparecer para fazer sua parte, seja ela qual for. Se seu trabalho é dançar, dance. E se o gênio divino e maroto que foi designado para acompanhar o seu caso permitir que através do seu esforço aconteça um lampejo maravilhoso, então, “olé”! E se não, faça a sua dança, do mesmo jeito, e “olé” para você da mesma forma. Eu acredito nisso e acho que devemos ensinar isso uns aos outros. “Olé!” para você, apesar de tudo, simplesmente por possuir esse puro amor humano e a teimosia de continuar aparecendo para fazer a sua parte.”

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