GEAEL Estudos doutrinários do GEAEL A infância · filhos bons e meigos, os pais lhes dedicam toda...

8
GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1 Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Conhecendo a Doutrina Espírita – 11 Estudos doutrinários do GEAEL GEAEL A infância 379. O Espírito que anima o corpo de uma criança é tão desenvolvido quanto o de um adulto? – Pode ser até mais, se progrediu mais; só os ór- gãos ainda não perfeitos impedem-no de manifestar- -se. Ele age de acordo com o instrumento de que dis- põe para poder fazê-lo. 380. Excetuando-se o obstáculo que a imperfeição dos órgãos opõe à sua livre manifestação, quando numa criança em tenra idade o Espírito pensa como criança ou como adulto? – Tratando-se de uma criança, é natural que, não estando desenvolvidos, os órgãos da inteligência não consigam dar-lhe toda a intuição de um adulto. Na verdade, a criança tem uma inteligência muito limitada, enquanto a idade não lhe amadurece a ra- zão.A confusão que se segue à encarnação não cessa imediatamente na hora do nascimento; só se dissipa aos poucos, com o desenvolvimento dos órgãos Uma observação vem apoiar essa resposta: é que os sonhos de uma criança não são iguais aos de um adulto; sua motivação é quase sempre infantil, o que é um indício das coisas com que o Espírito se preocupa. 381. Ao morrer a criança, o Espírito recupera imedia- tamente seu primitivo vigor? – Deve recuperá-lo, uma vez que está livre do seu invólucro carnal; só recobra a lucidez, porém, quando a separação estiver completa, ou seja, quan- do não existir mais ligação alguma entre o Espírito e o corpo. 382. Durante a infância, o Espírito encarnado sofre pela limitação que a imperfeição dos seus órgãos lhe impõe? – Não; nesse estado é uma necessidade, está na natureza e segundo os desígnios da Providência; é uma fase de repouso para o Espírito. 383. Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pelo estado de infância? – Ao encarnar visando a aperfeiçoar-se, nesse período o Espírito fica mais suscetível às impressões

Transcript of GEAEL Estudos doutrinários do GEAEL A infância · filhos bons e meigos, os pais lhes dedicam toda...

GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraConhecendo a Doutrina Espírita – 11

Estudos doutrinários do GEAELGEAEL

• A infância379. O Espírito que anima o corpo de uma criança é

tão desenvolvido quanto o de um adulto?– Pode ser até mais, se progrediu mais; só os ór-

gãos ainda não perfeitos impedem-no de manifestar--se. Ele age de acordo com o instrumento de que dis-põe para poder fazê-lo.

380. Excetuando-se o obstáculo que a imperfeição dos órgãos opõe à sua livre manifestação, quando numa criança em tenra idade o Espírito pensa como criança ou como adulto?

– Tratando-se de uma criança, é natural que, não estando desenvolvidos, os órgãos da inteligência não consigam dar-lhe toda a intuição de um adulto. Na verdade, a criança tem uma inteligência muito limitada, enquanto a idade não lhe amadurece a ra-zão. A confusão que se segue à encarnação não cessa imediatamente na hora do nascimento; só se dissipa aos poucos, com o desenvolvimento dos órgãos

Uma observação vem apoiar essa resposta: é que os sonhos de uma criança não são iguais aos de um adulto; sua motivação é quase sempre infantil, o que é um indício das coisas com que o Espírito se preocupa.

381. Ao morrer a criança, o Espírito recupera imedia-tamente seu primitivo vigor?

– Deve recuperá-lo, uma vez que está livre do seu invólucro carnal; só recobra a lucidez, porém, quando a separação estiver completa, ou seja, quan-do não existir mais ligação alguma entre o Espírito e o corpo.

382. Durante a infância, o Espírito encarnado sofre pela limitação que a imperfeição dos seus órgãos lhe impõe?

– Não; nesse estado é uma necessidade, está na natureza e segundo os desígnios da Providência; é uma fase de repouso para o Espírito.

383. Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pelo estado de infância?

– Ao encarnar visando a aperfeiçoar-se, nesse período o Espírito fica mais suscetível às impressões

2 Conhecendo a Doutrina Espírita

que recebe e que podem auxiliar seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação.

384. Por que o choro é o primeiro som emitido pela criança?– Para despertar o interesse da mãe e atrair para si

os cuidados que lhe são necessários. Não vedes que se ela só gritasse de alegria, quando ainda não sabe falar, pouco se preocupariam com os cuidados de que precisa? Admirai, pois, em tudo a sabedoria da Providência.

385. Qual é a razão da mudança que se efetua no caráter em determinada idade, e especialmente na saída da adolescência? É o Espírito que se modifica?

– É o Espírito que retoma sua natureza e se mostra como era.

Não avaliais o segredo que, na sua inocência, as crian-ças escondem; não sabeis o que elas são, nem o que foram ou o que serão, e no entanto as amais, gostais delas como se fossem uma parte de vós mesmos, a tal ponto que o amor de uma mãe pelos filhos é considerado o maior amor que um ser possa sentir por outro. De onde vem essa doce afeição, essa terna bondade que até mesmo os estranhos sentem por uma criança? Sabeis? Não; é isso que vou explicar-vos.

As crianças são seres que Deus envia para novas exis-tências, e, para que não possam acusá-lo de excessiva seve-ridade, dá-lhes todas as aparências da inocência; Mesmo tratando-se de uma criança de má índole, acobertam-se suas faltas alegando irresponsabilidade por seus atos. Essa inocência não é uma real superioridade sobre o que elas eram antes. Não; é a imagem do que deveriam ser, e, se não o são, é unicamente sobre elas que recai a punição.

Mas não é só por causa delas que Deus lhes dá essa aparência, é também, e principalmente, por causa dos pais, cujo amor lhes é necessário em sua fragilidade, e esse amor ficaria significativamente enfraquecido diante de um indi-víduo rabugento e intratável, ao passo que, achando seus filhos bons e meigos, os pais lhes dedicam toda sua afeição e os cercam dos mais atenciosos cuidados. Quando, porém, as crianças não precisam mais da proteção, da assistência que lhes foram dispensadas durante quinze a vinte anos, seu caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez: se era fundamentalmente bom, esse caráter permanece bom; mas continua mesclado com tons que a primeira infância ocultava.

Vedes que os caminhos de Deus são sempre os melho-res, e que, quando o coração é puro, é fácil conceber-se a explicação para tudo isso.

Realmente, imaginai que o Espírito das crianças que nascem entre vós pode vir de um mundo onde adquiriu hábitos completamente diferentes; como poderíeis admitir que estivesse entre vós esse novo ser, que chega com paixões bem diferentes das vossas, com tendências e gostos comple-tamente opostos aos vossos? Como poderíeis admitir que ele se juntasse a vós de outra forma que não fosse a que Deus

determinou, isto é, passando pelo crivo da infância? Nela se confundem todas as idéias, todos os temperamentos, todas as variedades de seres gerados na imensidão dos mundos em que criaturas se multiplicam. E vós mesmos, ao morrer, vos vereis numa espécie de infância, entre novos irmãos, e, na vossa nova existência extraterrena, ignorareis os hábi-tos, os costumes, as relações desse novo mundo quanto a vós; manejareis com dificuldade uma língua que não estais habituados a falar, língua mais rápida do que é hoje o vos-so pensamento. (319)

A infância ainda tem outra utilidade: os Espíritos só entram na vida corporal para aperfeiçoar-se, para melho-rar; a fragilidade da primeira infância torna-os maleáveis, abertos aos conselhos da experiência e dos que devem fazê--los progredir; é então que se pode reformar-lhes o caráter e reprimir suas más tendências; este é o dever que Deus con-fiou aos pais, missão sagrada pela qual terão que responder.

Assim, a infância não é somente útil, necessária, indis-pensável, mas é também a consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o universo.

O Livro dos EspíritosAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 3

PERGUNTA: — Que nos dizeis sobre o período da infância do espírito encarnado na Terra?

RAMATÍS: — O espírito, realmente, encarna-se; não nasce, não cresce, não envelhece e não morre propriamente na carne. É centelha cósmica da Chama Criadora, que é Deus; portanto, não renasce nem é destruído. O ego espiritual desce vibratoriamente ao mundo carnal, a fim de desenvolver a consciência e ter noção de si mesmo, passando a existir como entidade emancipada, porém subordinada às leis do próprio Criador, pois, embora o espírito seja eterno e disponha do seu livre-arbítrio, jamais se isola do Todo. E o seu autoconhecimento, ele o adquire mediante as deduções do seu mundo interior, que resultam do seu contato com o mundo exterior.

Assim, o espírito do homem não vive propriamente os períodos de infância, juventude e velhice, conforme acontece ao corpo físico. Nascer, crescer, envelhecer e morrer são apenas etapas adstritas à concepção de tempo e espaço entre o berço e o túmulo. O espírito manifesta-se temporariamente através do equipo de carne, nervos e ossos, que é a sua instrumentação de trabalho e aprendizado consciencial no ambiente do planeta.

Como Deus é o pano de fundo da consciência de todos os homens, jamais o espírito humano desvincula-se da Consciência Cósmica que o originou e lhe garante o atributo de existir. Nas múltiplas existências físicas, ele apreende os conceitos do peca-do e virtude, do bem e mal, da saúde e enfermidade, do certo e errado, do inferior e superior, do impuro e puro, que assim lhe facultam apurar os valores divinos latentes em si mesmo.

Em conseqüência, o período de infância física do homem é uma etapa transitória, em que o espírito se manifesta algo reduzido na sua verdadeira capacidade já adquirida nas vidas pregressas. A sua ação amplia-se pela comunicação cada vez mais racional e consciente em equivalência com o crescimen-to do corpo. Diríamos que o espírito não nasce na Terra, mas acorda, aos poucos, da hipnose a que é submetido no Espaço, antes de encarnar, manifestando-se tão clara e conscientemente quanto seja a capacidade e sensibilidade do seu equipo carnal em relação com o meio material.

PERGUNTA: — Podereis explicar-nos mais claramente essa diferença entre a infância do homem carnal e a sua condição espiritual?

RAMATÍS: — Para habitar a carne, o espírito deve reduzir o seu perispírito ou invólucro espiritual, que lhe dá a configura-ção humana, até alcançar a forma de um “feto” perispiritual, ou seja, a condição “pré-infantil”, capaz de permitir-lhe o “encaixe” no útero-perispiritual da futura mãe encarnada, na contraparte imponderável do útero físico.

Não se trata de redução na sua faculdade mental ou capaci-dade astralina, já desenvolvidas no curso pretérito de sua evolução. Ele fica apenas temporariamente restringido na sua liberdade de ação durante o encolhimento perispiritual, colocado no ventre materno, onde deve materializar-se para atuar no ambiente físico. O espermatozóide, na sua corrida instintiva em direção ao ovário

feminino, é tão-somente o “detonador psíquico”, espécie de “elo” ou “comutador automático”, que em sua essência ectoplásmica funciona ligando o mundo astral ao mundo físico. É apenas um microrganismo nutrido de “éter-físico” do orbe terráqueo, o qual desata o energismo criador nesse limiar oculto da vida e acasala as forças do espírito com o campo físico da carne. Em seguida, o molde perispiritual do encarnante situado no útero da mulher preenche-se gradualmente de substância física, ante o automatismo atômico e a contextura molecular própria da Terra.1

A Vida Humana e o Espírito Imortal

Ramatís / Hercílio MaesEditora do ConhECimEnto

1 Não há uma encarnação ou desencarnação absolutamente semelhante a outra, acontecimento que depende, fundamentalmente, da especificidade magnética e do desenvolvimento psíquico do espírito encarnante ou desencarnante. Há casos em que os técnicos siderais aguardam primeiramente a cópula humana, para então processarem a redução perispiritual do encarnante até atingir a forma fetal. No caso de espíritos primários, que devem encarnar instintivamente atra-ídos pelas forças da carne, a redução do perispírito é feita com bastante anteci-pação à cópula e depois ligada imediatamente ao ato físico. (Nota de Ramatís.)

4 Conhecendo a Doutrina Espírita

10. Então uma mulher, que havia doze anos sofria de uma hemorragia, – que muito tinha sofrido nas mãos de vários médicos, e que, tendo despendido tudo que possuía, não tinha obtido qualquer alívio, mas encontrando-se cada vez pior, – tendo ouvido falar de Jesus, veio por trás, entre a multidão, e tocou-lhe as vestes; porque dizia: Se apenas conseguir tocar-lhe as vestes, ficarei curada. – No mesmo instante a hemorragia estancou e ela sentiu no corpo que estava curada daquela doença.Logo Jesus, reconhecendo que a virtude saíra de si mesmo, voltou-se para a multidão e perguntou: Quem me tocou as vestes? – Seus discípulos lhe disseram: Vês que a multidão te aperta de todos os lados e perguntas quem te tocou? – E ele olhava ao redor para ver aquela que o havia tocado.Então a mulher, que sabia o que se passara nela, tomada de medo e pavor, veio, lançou-se aos seus pés e lhe declarou toda a verdade. – E Jesus lhe disse: Minha filha, tua fé te salvou; vai em paz, e fica curada da tua enfermidade (Marcos, 5:25-34).

11. Estas palavras: “Reconhecendo que a virtude saíra de si mesmo” são significativas. Elas exprimem o movimento fluídico que se estabeleceu entre Jesus e a mulher enferma; ambos sentiram a ação que acabava de produzir-se. Digno de nota é o fato de o efeito não ter sido provocado por qual-quer ato da vontade de Jesus; não houve magnetização, nem imposição das mãos. Bastou a irradiação fluídica normal para operar a cura.

Mas, por que essa irradiação se dirigiu para aquela

mulher e não para outras, uma vez que Jesus não pensava nela, e estava cercado pela multidão?

A razão é bem simples. Tomado como matéria terapêutica, o fluido tem que atingir a desordem orgânica para corrigi-la; ele pode ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador, ou ser atraído pelo desejo do doente, pela confiança, enfim, pela fé do doente. Com relação à corrente fluídica, o primeiro produz o efeito de uma bomba de recalque e o segundo, de uma bomba aspirante. Às vezes a simultaneidade de ambos os efeitos é necessária, doutras, um só é suficiente. Foi o segundo que ocor-reu naquela circunstância.

Então, Jesus tinha razão ao dizer: “Tua fé te salvou.” Compreende-se que aqui não se trata da fé tomada como vir-tude mística, tal como certas pessoas a entendem, mas como uma verdadeira força atrativa, enquanto que aquele que não a possui opõe à corrente fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma força de inércia que paralisa a ação. A partir disso, compreende-se que, estando diante de um curador dois doentes atacados do mesmo mal, um possa ser curado e o outro não. Aí está um dos princípios mais importantes da mediunidade curadora e que explica, por uma causa perfeitamente natural, certas anomalias aparentes (cap. XIV, números 31 a 33).

A GêneseAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 5

I – Há três unidades primitivas, e de cada uma delas não se poderia ter senão uma só: um Deus, uma verdade, um pon-to de liberdade, quer dizer, o ponto onde se encontra o equilí-brio de toda a oposição.

II – Três coisas procedem de três unidades primitivas: toda vida, todo bem e todo poder.

III – Deus é, necessariamente, três coisas, a saber: a maior parte da vida, a maior parte da ciência, e a maior parte do poder; e não poderia ter uma maior parte de cada coisa.

IV – Três coisas que Deus não pode não ser: o que deve constituir o bem perfeito, o que deve querer o bem perfeito, e o que deve cumprir o bem perfeito.

V – Três garantias daquilo que Deus fez e fará: seu poder infinito, sua sabedoria infinita, seu amor infinito; porque não há nada que não possa ser efetuado, que não possa se tornar verdadeiro, e que não possa ser desejado por um atributo.

VI – Três fins principais da obra de Deus, como criador de todas as coisas: diminuir o mal, reforçar o bem, e pôr em evidência toda diferença; de tal sorte que se possa saber o que deve ser, ou, ao contrário, o que não deve ser.

VII – Três coisas que Deus não pode não conceder: o que há de mais vantajoso, o que há de mais necessário, e o que há de mais belo para cada coisa.

VIII – Três poderes da existência: não poder ser de outro modo, não ser necessariamente outro, não poder ser melhor pela concepção; e é nisso que está a perfeição de toda coisa.

IX – Três coisas prevalecerão necessariamente: o supre-mo poder, a suprema inteligência, e o supremo amor de Deus.

X – As três grandezas de Deus: vida perfeita, ciência per-feita, poder perfeito.

XI – Três causas originais dos seres vivos: o amor divino de acordo com a suprema inteligência, a sabedoria suprema pelo conhecimento perfeito de todos os meios, e o poder divi-no de acordo com a vontade, o amor e a sabedoria de Deus.

6 Conhecendo a Doutrina Espírita

20º. Sejam quais forem a inferioridade e a perversidade dos espíritos, Deus jamais os aban-dona. Todos têm seu anjo da guarda que vela por eles, espreita--lhes os movimentos da alma e se esforça por suscitar-lhes bons pensamentos, o desejo de progre-dir e de reparar, em nova exis-tência, o mal que tenham feito. No entanto, o guia protetor age na maioria das vezes de manei-ra oculta, sem exercer qualquer pressão. O espírito deve progredir por obra da sua própria vonta-de, e não devido a uma imposição qualquer. Ele age bem ou mal em virtude do seu livre-arbítrio, porém sem ser fatalmente impe-lido para um ou outro sentido. Se age mal, sofre as consequências disso por tanto tempo quanto permanecer no mau caminho; a partir do momento em que dá um passo na direção do bem, ele ime-diatamente lhe sente os efeitos.

Observação: Seria um erro supor que, em virtude da lei do progresso, a certeza de chegar cedo ou tarde à perfeição e à felicidade pode ser um motivo para perseverar no mal, com risco de arrepender-se mais tarde: primeiro, porque o espírito inferior não enxerga o fim da sua situação; em segundo lugar, porque o espírito, sendo o autor da própria infelicidade, acaba por compreender que depende dele fazê-la cessar, e porque, quanto mais tempo per-sistir no mal, mais será infeliz; porque seu sofrimento durará para sempre se ele próprio não lhe puser um fim. Seria pois, da sua parte, uma avaliação errada de que ele seria a pri-meira vítima. Se, ao contrário, segundo o dogma das penas irremissíveis, toda esperança lhe é vetada, não tem o menor interesse em voltar-se para o bem, que para ele é inútil.

Diante dessa lei, cai igualmente a objeção extraída da presciência divina. Deus, ao criar uma alma, sabe efetivamen-te se, em virtude do seu livre-arbítrio, ela seguirá o bom ou o mau caminho; sabe que ela será punida se fizer o mal; mas sabe também que esse castigo temporário é um meio de fazê--la compreender seu erro e de fazê-la entrar no bom caminho, onde cedo ou tarde chegará. Segundo a doutrina das penas eternas, Deus sabe que ela fracassará, e está previamente condenada a torturas sem fim.

21º. Cada qual é responsável por suas faltas pessoais;

ninguém sofre por erros alheios, a não ser que os tenha ocasiona-do, quer provocando-os por seu mau exemplo, quer não os impe-dindo quando poderia fazê-lo.

É assim, por exemplo, que o suicida é sempre punido; mas aquele que, por sua severidade, leva um indivíduo ao desespero, e daí ao suicídio, sofre uma pena ainda maior.

22º. Embora a diversidade das punições seja infinita, há algumas que são inerentes à infe-rioridade dos espíritos e cujas consequências, salvo detalhes, são quase idênticas.

A punição mais imediata, principalmente entre os que são apegados à vida material, negli-genciando o progresso espiritual, consiste na lentidão da separa-ção da alma do corpo, nas angús-tias que acompanham a morte e o despertar na outra vida, na duração da perturbação que pode durar meses ou anos. Ao contrário, naqueles cuja consci-ência é pura, que na vida atual se

identificam com a vida espiritual e são desligados das coisas materiais, a separação é rápida, sem abalos, o despertar é tranquilo, quase não há confusão.

23º. Um fenômeno muito frequente entre os espíritos de certa inferioridade moral consiste em se crerem ainda vivos, e essa ilusão pode prolongar-se por anos, durante os quais eles passam por todas as necessidades, todos os tormentos e todas as perplexidades da vida.

24º. Para o criminoso, a visão incessante das suas víti-mas e das circunstâncias do crime é um suplício cruel.

25º. Certos espíritos acham-se mergulhados em densas trevas; outros encontram-se totalmente isolados no meio do espaço, atormentados por ignorarem a sua situação e a sua sorte. Os mais culpados sofrem torturas muito mais cruciantes por não lhes avistarem o fim. Muitos são priva-dos da contemplação dos seres que lhes são caros. Todos, geralmente, suportam com relativa intensidade os males, as dores e as privações que impuseram aos outros, até que o arrependimento e o desejo de reparação lhes tragam alívio, deixando-os entrever a possibilidade de, por eles mesmos, porem um fim à sua situação.

26º. Para o orgulhoso, é um suplício ver acima dele, na

GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 7

glória, festejados, aqueles que na Terra desprezara, ao passo que ele está relegado às classes inferiores; para o hipócrita, também é um suplício ver-se traspassado pela luz que põe a nu seus pensamentos mais secretos, que todo mundo pode ler, sem que consiga esconder-se ou dissimular. Para o sensual, seu suplício é ter todas as tentações, todos os desejos, sem poder saciá-los; para o avarento, é ver seu ouro dilapidado e não poder reavê-lo; para o egoísta é ser abandonado por todos e sofrer tudo que fez os outros sofrerem: terá sede, e ninguém lhe dará de beber, terá fome, e ninguém lhe dará de comer, nenhuma mão amiga vem apertar a sua, nenhuma voz compassiva vem consolá-lo; durante a vida só pensou em si, ninguém pensa nele e não o pranteia após a morte.

27º. O meio de atenuar ou evitar as consequências dos próprios defeitos na vida futura, consiste em livrar-se deles o máximo possível na vida atual, e reparar o mal, para não precisar repará-lo mais tarde de modo mais terrível. Quanto mais demoramos para livrar-nos dos nossos defeitos, mais penosas são as consequências e mais rigorosa é a reparação a ser cumprida.

28º. A situação do espírito, a partir da sua entrada na vida espiritual, é a que ele mesmo preparou para si pela vida corpó-rea. Mais tarde, lhe é dada uma nova encarnação para a expia-ção e a reparação por novas provas; mas ele as aproveita mais ou menos, devido ao seu livre-arbítrio; se não as aproveita, há uma nova tarefa a recomeçar, e cada vez em condições mais difíceis, de modo que pode dizer-se que aquele que sofre muito na Terra tinha muito a expiar; os que gozam de uma felicidade aparente, apesar dos seus vícios e da sua inutilidade, infalivel-mente pagarão caro numa existência posterior. Foi nesse senti-do que Jesus disse: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V.)

29º. Sem dúvida, a misericórdia de Deus é infinita, mas não é cega. O culpado a quem Deus perdoa, não fica exo-nerado, e, enquanto não houver satisfeito à justiça, sofre as consequências das suas faltas. Por misericórdia infinita, deve--se entender que Deus não é inexorável e que sempre deixa aberta a porta do retorno ao bem.

30º. Sendo temporárias e subordinadas ao arrependi-mento e à reparação, que dependem da livre vontade do homem, as penas são, ao mesmo tempo, castigos e remédios que devem auxiliar na cura do mal. Os espíritos em punição não são, pois, como forçados das galés condenados por certo tempo, mas como doentes no hospital, que sofrem devido a doenças, de que frequentemente são culpados, e devido a métodos curativos necessários, mas que têm a esperança de ficar curados, e que se curam mais depressa à medida que seguem mais exatamente as prescrições do médico que cuida deles com solicitude. Se prolongam seus sofrimentos por culpa sua, o médico nada tem a ver com isso.

31º. Às penas que o espírito suporta na vida espiritual vêm juntar-se as da vida corpórea, que são a consequência das imperfeições do homem, das suas paixões, do mau uso das suas faculdades e da expiação das suas faltas presentes e passadas. É na vida corpórea que o espírito repara o mal das suas existências anteriores, que põe em prática as resoluções

tomadas na vida espiritual. Assim se explicam as misérias e as vicissitudes que, à primeira vista, parecem não ter razão de ser, mas que são justas, visto que são aquisições do passado e contribuem para o nosso progresso.

32º. Deus, pergunta-se, não daria maior prova de amor às suas criaturas se as tivesse criado infalíveis e, consequente-mente, isentas das vicissitudes inerentes à imperfeição?

Para tanto, seria preciso que criasse seres perfeitos, nada mais tendo a adquirir, quer em conhecimentos, quer em moralidades. Sem a menor dúvida, ele poderia tê-lo feito; se não o fez, é porque, na sua sabedoria, quis que o progresso fosse a lei geral.

Os homens são imperfeitos, e, como tal, sujeitos a vicissi-tudes mais ou menos penosas; é um fato que devemos aceitar, uma vez que existe. Inferir daí que Deus não é bom nem justo, seria uma insensata revolta contra ele.

Injustiça haveria se ele tivesse criado seres privilegiados, uns mais favorecidos do que os outros, gozando sem esforço da felicidade que outros só atingem com dificuldade, ou que jamais podem atingir. Mas, onde a justiça se revela, é na igualdade absoluta que preside à criação de todos os espíri-tos; todos têm o mesmo ponto de partida; nenhum que seja, na sua formação, melhor dotado do que os outros; nenhum cuja marcha ascencional seja excepcionalmente facilitada: os que chegam ao fim passaram, como os outros, pelo crivo das provas e da inferioridade.

Admitido isto, que há de mais justo do que a liberdade de ação deixada a cada um? O caminho da felicidade está aberto a todos; o fim é o mesmo para todos; as condições para atingi-lo são as mesmas para todos: a lei, gravada em todas as consciências, é ensinada a todos. Deus fez da feli-cidade o prêmio do trabalho, e não do favoritismo, a fim de que cada qual tenha seu mérito. Todos temos liberdade para trabalhar ou nada fazer para o próprio progresso; quem tra-balha muito, e depressa, mais cedo é recompensado; quem se extravia no caminho, ou perde tempo, retarda sua chegada e é o único responsável por isso. O bem e o mal são voluntá-rios e facultativos; sendo livre, o homem não é infalivelmente impelido para um ou para outro.

33º. Apesar da diversidade de gêneros e graus de sofri-mentos dos espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode resumir-se em três princípios:

– Todo sofrimento está ligado à imperfeição.– Toda imperfeição, e toda falta que lhe é consequente,

traz consigo seu próprio castigo, por seus resultados naturais e inevitáveis, como a doença é consequência dos excessos, o tédio da ociosidade, sem que seja necessária uma condenação especial para cada falta e cada indivíduo.

– Podendo livrar-se de suas imperfeições por ato da sua vontade, todo homem consegue evitar os males a elas ineren-tes, garantindo sua felicidade futura.

Tal é a lei da justiça divina: a cada qual segundo suas obras, no céu como na Terra.

O Céu e o InfernoAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

8 Conhecendo a Doutrina Espírita

3. Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao meu Pai, e Ele vos enviará outro consolador, para que fique eternamente convosco: o Espírito de Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará relembrar de tudo o que vos tenho dito. (João, 14:15-17 e 26).

4. Jesus promete um outro consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, porque não está suficientemente amadurecido para compreendê-lo. Se, pois,

É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona-se esta divina obra;faz-se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega-se este admirável código moral ao esquecimento.

o Espírito de Verdade deve vir mais tarde para ensinar to-das as coisas, é porque o Cristo não pôde dizer tudo. Se vem recordar o que o Cristo disse, é porque o que foi dito ficou esquecido ou foi mal compreendido.

O espiritismo vem, portanto, no tempo predetermina-do, cumprir a promessa do Cristo. E o Espírito de Verdade é quem preside à sua instituição; volta a chamar os homens a obedecer a Lei; e ensina todas as coisas, ao fazer compre-ender o que o Cristo disse apenas por meio de parábolas. O Cristo advertiu: “Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!”. Por isso, o espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos das criaturas, pois ensina de maneira clara, sem usar alegorias

ou linguagem figurada; vem erguer o véu deixado de propósito sobre alguns mistérios; vem, enfim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e àqueles que sofrem, atribuindo uma causa justa e uma finalidade útil para todas as dores.

O Cristo disse ainda: “Bem-aventurados os aflitos, pois serão consolados”. Mas, como ficar feliz por sofrer, se não se sabe por que se sofre? O espiri-tismo mostra que a causa dos sofrimentos está nas vidas anteriores e na própria destinação da Ter-ra, onde o homem expia o seu passado. Ele revela também que os sofrimentos são como crises salu-tares que levam à cura, pois constituem-se numa espécie de depuração que assegura a felicidade nas encarnações futuras. O homem compreende então que mereceu sofrer, e acha justo o sofrimento. Sabe que esse sofrimento contribui para sua evolução, e aceita-o sem se lamentar, como o operário aceita o trabalho que lhe assegura o salário. O espiritis-mo lhe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida cruciante não tem mais ação sobre sua alma. Ao fazê-lo ver as coisas do alto, a importância dos in-fortúnios se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele alcança, e a perspectiva da felicidade que o aguarda lhe dá paciência, resignação e coragem para ir até o fim do caminho.

Assim, o espiritismo realiza o que Jesus disse a respeito do Consolador Prometido: o conheci-mento das coisas, que faz com que o homem sai-ba de onde vem, para onde vai, e porque está na Terra; o chamado para o retorno aos verdadeiros princípios da Lei de Deus; e a consolação pela fé e pela esperança.

O Evangelho Segundo o EspiritismoAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto