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  • [...] gente das cercanias, moradores dos subrbios da histria, ns, latino-

    americanos, somos os comensais no convidados que se enfileiraram porta

    dos fundos do Ocidente, os intrusos que chegam funo da modernidade

    quando as luzes j esto quase apagando - chegamos atrasados em

    todos os lugares, nascemos quando j era tarde na histria, tambm no temos

    um passado ou, se o temos, cuspimos sobre os seus restos; nossos povos

    ficaram dormindo durante um sculo, e enquanto dormiam foram roubados -

    agora esto em farrapos; no conseguimos conservar sequer o que os

    espanhis nos deixaram ao ir embora; apunhalamo-nos entre ns.

    [] gente de afuera, moradores de los suburbios de la historia, los latinoamericanos somos los comensales no invitados que se han colado por la puerta trasera de Occidente, los intrusos que han llegado a la funcin de la modernidad cuando las luces estn a punto de apagarse -llegamos tarde a todas partes, nacimos cuando ya era tarde en la historia, tampoco tenemos un pasado o, si lo tenemos, hemos escupido sobre sus restos, nuestros pueblos se echaron a dormir durante un siglo y mientras dorman los robaron y ahora andan en andrajos, y no logramos conservar ni siquiera lo que los espaoles dejaron al irse; nos hemos apualado entre nosotros.

    Octavio Paz. El labirinto de la soledad

  • Etnias e sociedades latinoamericanas

    Setores sociais dos pases latinoamericanos, sobretudo a partir dos seus respectivos movimentos de independncia, comeam a se perguntar: QUEM SOMOS NS?Nas elites scio-culturais surge uma camada de mdicos, juristas e cientistas que comeam a construir um PENSAMENTO SOCIAL.Esse pensamento social o ncleo das cincias sociais latinoamericanas: antropologia, histria, sociologia, cincia poltica, economia.

  • Etnias e sociedades latinoamericanas

    Conjunto de processos, questes e dilemas.Reconstruo e compreenso a partir de um conjunto de ferramentas intelectuais:Histria, antropologia, sociologia, geografia, estudos literrios.Octavio Paz, Alfredo Bosi, Darcy Ribeiro, Marcello Carmagnani, Sergio Buarque de Holanda, A.J. Bauer, Serge Gruzinski, Gilberto Freyre...

  • Colnia / Colonia (Alfredo Bosi)(verbo latim): colo/colereParticipio passado: cultumParticipio Futuro: culturus

    Morar, ocupar a terraAgrcola: quem trabalha, cultiva o campo.Colono: quem se estabelece no campo, vindo de fora e toma conta.Quem toma conta: CUIDA povoadorQuem toma conta: MANDA conquistador

    Dimenso econmica e poltica.

  • Colnia / ColoniaParticipio passado: CULTUMSubstantivo: CULTUM cultoCulto dos mortos religioAdjetivo: CULTUSAger cultus: campo cultivado______________________________________NOME/VERBO:O que foi trabalhado SOBRE a terraO que est SOB a terra

    Dimenso econmica e religiosa

  • Colnia / Colonia

    Participio futuro: CULTURUMO que vai ser cultivado O que se vai trabalhar Para as geraes futuras:PROJETO EDUCAO

    CULTURA

  • Colnia / Colonia

    A AO COLONIZADORA REALIZA A DIALTICA DAS TRS ORDENS:do CULTIVOdo CULTOda CULTURA

    UM PROJETO DE PODER

  • Colnia / Colonia

    O domnio do alfabeto, reservado a poucos, marca uma diviso de guas:CULTURA OFICIAL x VIDA POPULAR

    que projeta a dialtica:SISTEMA COLONIAL / CONDIO COLONIALSISTEMA: poltica e economiaCONDIO: modos ou estilos de vida

  • Colnia / Colonia

    A essa dialtica pertencem DIFERENAS, CONFLITOS, CONTRASTES:Ao longo da histria da Amrica, ndios,

    brancos, negros, criollos, mestios, imigrados provocam e protagonizam

    Relaes inter-tnicasRelaes de classe

  • Ocidentalizao / Ocidentalizacin(Marcello Carmagnani)A ocidentalizao do subcontinente o produto da participao de todos os atores que atuam nos dois lados: os que da Europa se projetam para a Amrica e tambm os que, daqui, se projetam para o cenrio internacional. um processo de interrelaes, um percurso que aproximou as reas latinoamericanas s ibricas, europeias e ocidentais, permitindo a influncia recproca.

  • Ocidentalizao / Ocidentalizacin

    uma histria internacional, bilateral e multilateral. a histria de interaes econmicas, sociais, polticas e culturais que permitiram que os atores histricos latinoamericanos realizassem escolhas coletivas, transformando-se, assim, em atores ativos no processo de ocidentalizao.

  • Ocidentalizao / Ocidentalizacin

    Mas uma histria que no se limita s relaes diplomticas bilaterais ou

    multilaterais, porque tambm compreende as conexes que se criam em nvel informal,

    por efeito das projees dos atores histricos em nvel internacional, que so visveis, por

    exemplo, na religio, na lngua, nas artes e na literatura, na cultura material e nas

    migraes.

  • Ocidentalizao / OcidentalizacinIbricos e ndios foram quase obrigados a construir uma forma indita de colaborao, onde os conquistadores foram conquistados por uma pluralidade de formas ndias, enquanto os conquistados realizaram um processo de reconstruo criativa que acabar por torn-los culturalmente mais prximos dos Ibricos.Movimento duplo e dialtico:

    conflito e colaborao.

  • Ocidentalizao / Ocidentalizacinndios:Fortes diferenas lingusticas, ecolgicas, econmicas, culturais...Tribos nmades e/ou semisedentrias (Tupi, Guarani etc.) / grandes imprios (Azteca, Maya, Inca etc.)Elemento comum: forte ligao entre religio e sociedadeConstituem, tambm, uma categoria abstrata, produto da racionalizao ideolgica ibrica: so os no-europeus...

  • Ocidentalizao / Ocidentalizacin

    Ibricos:Provm de um contexto multicultural, por terem crescido em reas com forte presena rabe e judia e em cidades (Lisboa e Sevilla) onde tambm era consistente o nmero de escravos africanos.

    Tambm possuem uma forte dimenso relacional entre religio, sociedade e poltica: a coroa e o altar relacionam-se dialeticamente.

  • Ocidentalizao / Ocidentalizacin

    O encontro entre colonizadores e ndios gera a transformao e a atualizao de mitos e de imaginrios, e a criao de novas imagens cruzadas, que, por sua vez, projetam novos imaginrios.Esse mundo simblico, mtico e imaginrio ter um papel decisivo nos processos de ocidentalizao da Amrica e na formatao da realidade contempornea.

  • Ocidentalizao / Ocidentalizacin

    Concorrncia de vrios fatores dialticos:Relaes de foraRelaes econmicas e de trabalhoFluxos migratrios (externos e internos)Encontros e choques (frico intertnica)Imaginrio(s) e mitologiasCultura e modos de vidaFatores micro-regionais ou locais

  • Giovanni Battista TIEPOLO (1696-1770)Alegoria da Amrica (1752).

  • Jan Van der Straet, ou Johannes Stradanus (1523-1605)

    Alegoria da Amrica (circa 1580)

  • Francisco Pedro do Amaral (1790-1831)Alegoria da Amrica (circa 1825)

  • Jos Tefilo de Jesus (1758 1847)Amrica (1835)

  • As imagens do outro (a viso negativa)

    Estas sono las propiedades de los indios, por onde no merecen libertades. Comen carne humana en la tierra firme; son sodomticos ms que generacin alguna; ninguna justicia ay entre ellos: andan desnudos: no tienen amor ni verguena []. Son bestiales y prcianse de ser abominables em vicios; ninguna obediencia ni cortesia tienen mozos a viejos, ni hijos a padres [] Son traidores, crueles y vengativos [] inimicssimos de religin [] Son sucios: comen piojos y araas y gusanos crudos doquiera los hallan [].(Fray Toms Ortiz, 1524)

  • As imagens do outro (a viso positiva)Todas estas universas e infinitas gentes a toto gnero cri Dios las ms simples, sin maldades ni dobleces, obedientsimas, fidelsimas a sus seores naturales y a los cristianos a quien sirven; ms humildes, ms pacientes, ms pacficas y quietas, sin rencillas ni bollicios no rijosos, no querulosos, sin rancores, sin odios, sin desear venganzas, que hay en el mundo. Son as mesmo las gentes ms delicadas, flacas y tiernas en complisin y que menos pueden sufrir trabajos, y que ms fcilmente mueren de cualquiera enfermedad [...]. Son tambin gentes pauprrimas y que menos poseen ni quieren poseer de bienes temporales, y por esto no soberbias, no ambiciosas, no cubdiciosas. Su comida es tal que la de los sanctos padres en el desierto no parece haber sido ms estrecha ni menos deleitosa ni pobre. [] Son eso mesmo de limpios y desocupados y vivos entendimientos, muy capaces y dciles para toda buena doctrina, aptsimos para recebir nuestra sancta fe catlica y ser dotados de virtuosas costumbres, y las que menos impedimentos tienen para esto que Dios cri en el mundo.

    Bartolom de las Casas, Brevssima Relacin de la destruccin de las Indias (1539)

  • O testemunho Asteca sobre a queda de Tenochtitlan, em 1521

    (Miguel Leon-Portilla. A Viso dos Vencidos. A Tragdia da Conquista Narrada pelos Astecas)

    Y todo esto pas con nosotros. Nosotros lo vimos, nosotros lo admiramos. Con esta lamentosa y triste suerte nos vimos angustiados. En los caminos yacen dardos rotos, los cabellos estn esparcidos. Destechadas estn las casas, enrojecidos tienen sus muros. Gusanos pululan por calles y plazas, y en las paredes estn salpicados los sesos. Rojas estn las aguas, estn como teidas, y cuando las bebimos, es como si bebiramos agua de salitre. Golpebamos, en tanto, los muros de adobe, y era nuestra herencia una red de agujeros. Con los escudos fue su resguardo,Pero ni con escudos puede ser sostenida su soledad

    Isso tudo se passou conosco.Ns vimos e estamos estupefatos

    Com essa triste e lamentosa sorte.Nos vimos angustiados.

    Nos caminhos jazem dardos quebrados;Os cabelos esto espalhados.

    Destelhadas esto as casas,Ensangentados os seus muros.

    Vermes abundam por ruas e praas eAs paredes esto manchadas de miolos

    arrebentados.Vermelhas esto as guas, como se algum

    as tivesse tingido e, se as bebamos, pareciam-se como

    guas de salitre.Golpevamos os muros de adobe em nossa

    ansiedadeE nos restava por herana uma rede de

    buracos.Nos escudos esteve nosso resguardo,

    mas os escudos no detm a desolao.

  • A diferenciao indgena foi reduzida ou eliminada.Milhes de homens originalmente diferenciados em lnguas e culturas autnomas, cada qual olhando o mundo com viso prpria e regendo a vida por um corpo peculiar de costumes e de valores, foram conscritos em um nico sistema econmico e altamente uniformizados em seus modos de ser e de viver.Resultado foi uma.... ---->

  • Tipologia tnico-nacional (Darcy Ribeiro)

    Povos-testemunhoPovos NovosPovos TransplantadosPovos EmergentesCada um deles compreende populaes muito diferenciadas, mas tambm suficientemente homogneas quanto s suas caractersticas bsicas.

  • Povos-testemunhoSo os representantes modernos de velhas civilizaes originais sobre os quais se abateu a expanso europeia.Os sobreviventes das civilizaes Azteca, Maia e Inca, que desmoronaram ao impacto com os ibricos.

    Mexico, Guatemala, Peru, Equador, Bolvia, Chile.

  • Povos-testemunhoCerca de 80 milhes, antes da conquista.Cerca de 3,5 milhes, aps 150 anos.Processos de formao de identidades compostas, com elementos originais e novos, cada vez mais diferenciadas tanto da tradio antiga como do modelo europeu.A espanholizao jamais conseguiu erradicar todos os costumes, crenas e valores tradicionais, que sobrevivem ainda hoje no seu modo de ser povos modernos.

  • Povos-testemunho

    Bolvia, Peru e Equador.Falam lnguas quechuas e aimara.Influncia quechua sobre o espanhol:coca, condor, guano, llama, pampa, puma, quinina, quinoa, vicua etc.Combinam tcnicas, normas e valores novos de origem europeia e, arcaicos, sobreviventes das culturas indgenas originais.

  • Povos novosSurgiram da conjuno e da deculturao e caldeamento de matrizes tnicas indgenas, europeias e africanas.Resultado da principal atividade econmica da colnia nessas regies: a monocultura para exportao (acar, caf, algodo, tabaco, cacau, banana etc.).A PLANTATION e a FAZENDA.A fbula das 3 raas...

  • Povos novosBrasileiros, AntilhanosColombianos, Guianenses e VenezuelanosChilenos e Paraguaios*H povos novos tambm na Europa: os ibricos, os italianos, os franceses, os rumenos: resultado do projeto romano de colonizao mercantil.* Sem plantations

  • Povos novos

    A fazenda a instituio bsica conformadora do perfil de alguns povos novos. a matriz: das relaes de poder, de excluso/inclusodas discriminaes raciais e sociaisdas ideologias e das percepes sociais

  • Povos transplantadosResultados de correntes migratrias europeias.Regio rio-platense.Contato e competio com grupos mestios espanholizados, formados anteriormente.Perfil europeu.

    Argentinos, Uruguaios e Paraguaios.+ algumas reas do sul do Brasil, do Chile e da Costa Rica. E, naturalmente, EUA e Canada, Austrlia e Nova Zelndia.

  • Povos transplantados: Os Rio-Platenses

    Primeira etnia:mestios resultantes de dois sculos de interao ativa entre espanhis e indgenas.Ladinos (menos mestiados e mais europeizados; urbanos; agricultores)Gachos (mais mestiados e menos europeizados; atividades pastoris)---------> Chegam os emigrantes europeus

  • Povos transplantados: Os Rio-Platenses

    O povo-novo (ladinos, gachos, ndios) suplantado pelos europeus e nascem povos transplantados.Mas permanece uma nostalgia que aparece na auto-imagem nacional, fonte de inspirao patritica e afirmao tradicionalista.Chimarro, mate...

  • Um povo transplantado:os Paraguaios

    Asuncin, pouso de aventureiros espanhis que procuravam o rio da Prata (1537).Cruzamento de espanhis com ndias guarani: identificam-se com a etnia do pai e se opem da me mas falam a lngua materna (Guarani).Constituem um povo novo.No oriente, surge uma etnia guarani pacificada e cristianizada pelos jesutas.Mas, em 1865...

  • Povos transplantados:os Paraguaios

    Depois da Guerra de la Triple Alianza, ou Guerra do Paraguay: 80% da populao paraguaia foi assassinada.Sobreviveram 221mil pessoas, das quais somente 28 mil homens.Entram os emigrantes: alemes, italianos, japoneses, coreanos, srios, chineses, rabes, que complicam a composio tnica do Paraguai.

  • Povos EmergentesGrupos Tribais que ascendem a Naes (na frica, na sia)Na Amrica:

    No se trata de tribalidades emergentes, mas de contedos arcaicos de sociedades em que populaes maiores ou menores querem restaurar suas caras originais (identidades) como sociedades autnomas.

    Movimentos de reivindicao de uma identidade especfica (indigena ou quilombola) e diferenciada das matrizes brancas.

    (re)emergncia tnica / etnognese.

    Brasil

  • Povos EmergentesUm rpido exame da situao das populaes indgenas da Amrica Latina mostra que a maior parte delas desapareceu nos Povos-Novos, nos Povos-Transplantandos ou s sobrevive como pequenos enclaves tnicos marginalizados frente massa da populao nacional. []

    Ainda assim, nestes casos se observam algumas excees; isto , povos tribais que resistiro o suficiente para sobreviver e crescer como uma face tnica prpria no futuro. Isto suceder, por exemplo, com os Mapuche (700 mil) que representam atualmente 7% da populao chilena, mas que crescem a ritmo to intenso que tendem a dobrar e a triplicar sua proporo dentro da populao total do Chile nas prximas dcadas. Como esse crescimento se processa num povo consciente de sua individualidade, amargurado pela opresso secular que sofreu e continua sofrendo e reivindicante de seus direitos, de supor que voltem a ativar-se as tenses intertnicas que tantas vezes convulsionaram o Sul do Chile. O mesmo tende a ocorrer, ainda que dentro de um quadro menos tenso, com outros grupos indgenas que contam com populaes relativamente grandes, tais como: os Cuna do Panam (200 mil), os Guajiro (100 mil) das fronteiras da Venezuela com a Colmbia e os 175 Chiriguano (70 mil) do Paraguai. (Darcy Ribeiro)

  • Concluso: identidades(s)?Termo IDENTIDADE: falsamente claro

    - pertinncia ao grupo

    - pertinncia a um sistema de valores (+ prticas, condutas...)IDENTIDADE cultural/social/de gnero/tnica etc. etc.

    Insere-se o elemento DIFERENA:

    DIFERENA ALTERIDADE

    IMPOSSVEL AFIRMAR QUALQUER IDENTIDADE QUE NO SEJA ATRAVS OU POR MEIO DE ALGUMA DIFERENA:

    algum decide ser diferente

  • Concluso: identidades(s)?NOS GRUPOS E NOS SISTEMA DE VALORES, NA AMRICA LATINA, OS INDIVDUOS ENCENAM:

    - Contrastes e compartilhamentos- Relaes e diferenas.

    No s somos construdos, mas nos construmos a nos mesmos:atravs do PROCESSO HISTRICO e/ou da MEMRIA

    AS IDENTIDADES SO AFIRMADAS (politicamente) a partir de:

    - lugar de nascimento- linguagem- parentesco e/ou descendncia- classe e posio social- profisso- religio- raa e/ou corTUDO ISSO NO IDENTIDADE mas PASSVEL DE SE TORNAR IDENTIDADE.

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