FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS … ao ensino de Ciências, de forma a articular os conteúdos...
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FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS
NO CONTEXTO DA ADOLESCÊNCIA
Maria Sidinéia de Oliveira Martelosso1
Augusta Padilha**
Resumo
O presente texto objetiva relatar o trabalho realizado junto ao sétimo ano do ensino fundamental de nove anos. Pautou-se por estudar a respeito do ensino de Ciências para adolescentes focalizando os fundamentos e recursos didáticos necessários ao processo ensino-aprendizagem. Investigou-se, por meio da pesquisa bibliográfica, a questão da atividade lúdica como fonte de desenvolvimento intelectual dos alunos e investiu-se na proposta da Pedagogia Histórica-Crítica e em sua tese sobre a coincidência da formação cultural e humana dos alunos. Observou-se, durante a realização das aulas, que ao desenvolver por meio da abordagem dialética os conceitos fundamentais e suas inter-relações, essa forma metodológica despertou mais interesse e compreensão por parte dos alunos. Percebeu-se que quando é proporcionado aos alunos uma aprendizagem mais dinâmica e diferente das atividades rotineiras eles se tornam mais críticos e atuantes; assimilam melhor os conteúdos e demonstram mais importância à aprendizagem. Os resultados apontaram que esta forma de trabalho com os conteúdos escolares promove, nos alunos, mais condições de serem sujeitos transformadores, pois estão se apropriando de uma forma crítica do mundo e das relações humanas. Além de oferecer aos mesmos oportunidades de aprendizagens mais interessante e atrativas, tornando-as acessíveis e prazerosas, também garante a função social da escola pública na socialização dos conhecimentos científicos aos alunos.
Palavras-chave: Ensino de Ciências; Recursos Didáticos; Atividade Lúdica
1 INTRODUÇÃO
1 Professora PDE da Educação Básica.
* * Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá- UEM-PR Doutora em Educação pela PUC/SP.
No presente artigo, intitulado Fundamentos Teórico-Metodológicos para o
Ensino de Ciências no contexto da Adolescência, registramos parte de um processo
de formação continuada propiciada pela Secretaria de Estado da Educação do
Paraná – SEED, por intermédio do Programa de Desenvolvimento Educacional –
PDE, em parceria com a Universidade Estadual de Maringá – UEM.
Tendo por referencial básico estudos teóricos e metodológicos da Psicologia
Histórico Cultural e da Pedagogia Histórico-Crítica, esse processo de formação se
constituiu objetivando uma formação geral do professor para o entendimento da
relação homem/circunstâncias nas diferentes épocas históricas, bem como uma
formação específica a respeito da relação entre ensino escolar, aprendizagem e
desenvolvimento intelectual do aluno focalizada no âmbito da disciplina de Ciências.
Considerando que de longa data o processo de ensino e a formação do
homem têm sido matéria constante de estudos, em nossa sociedade, na atualidade,
é possível constatar que essa relação entre ensino e desenvolvimento humano
ainda é um problema a resolver. Tornar acessível aos alunos os conhecimentos
científicos, por exemplo, torna-se um desafio diante do quadro de desmotivação e
desinteresse de grande parte destes alunos e, inclusive, dos próprios professores.
Ao mesmo tempo, também, constatamos extraordinários avanços no sistema de
tecnologia e de informatização, diante dos quais o processo de ensino, logicamente,
deve se complementar e enriquecer. Sendo os livros, CDs, DVDs, sites na Internet
uma amostra do progresso e do aperfeiçoamento das práticas de comunicação, o
tema da metodologia do ensino, acompanhando a lógica da informática e outras
ferramentas, encontra-se com inumeráveis possibilidades de procedimentos para
organizar a transmissão dos conteúdos escolares aos alunos. Certamente,
encontramo-nos numa época histórica onde o ensino nas escolas, de forma
fabulosa, pode ser organizado tendo por base a imensa riqueza material e intelectual
historicamente construída pela humanidade.
Consideramos importante, conforme o exposto, que o trabalho escolar seja
planejado no sentido de eliminar as contradições que inviabilizam o processo de
educação específico dessa esfera social, como é o caso do desinteresse dos alunos
e professores na promoção de sua própria qualidade de vida ao não valorizarem ou
aproveitarem melhor o tempo/espaço escolar. Assim, no presente texto,
apresentamos um trabalho realizado pelo Professor PDE com alunos 8º ano do
ensino fundamental de nove anos tendo por eixo central a elaboração de atividades
relacionadas ao ensino de Ciências, de forma a articular os conteúdos escolares, a
metodologia e os procedimentos numa proposta lúdica de estudo para os alunos. A
proposta sustenta o enfoque histórico do desenvolvimento psicológico humano e
procura mostrar o vínculo entre as bases do desenvolvimento humano e a atividade
coletiva das pessoas. Assim, mantém como finalidade incidir na aprendizagem e no
desenvolvimento intelectual do aluno da Educação Básica.
2 A RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM E O FENÔMENO DA ADOLESCÊNCIA
Trabalhando com aluno do Ensino Fundamental em plena adolescência nos
deparamos com uma realidade preocupante diante das diversas manifestações de
indisciplina, muitas vezes o indivíduo tem certas atitudes de rebeldia (que chega a
ser violenta) na intenção de ser ouvido por alguém, é uma forma de expressar a sua
insatisfação diante de sua vivência em lares desestruturados, onde pais não se
respeitam e o amor, a fraternidade, a valorização familiar foram ignoradas.
O adolescente em conflito espera encontrar na escola alguma solução para
os seus descontentamentos, e as metodologias utilizadas em sala de aula, talvez,
estejam distantes de atingi-los. A escola como um órgão educacional que tem como
uma de suas funções a formação da construção do contexto histórico do cidadão,
deve refletir sobre a realidade do aluno diante da escola e da sociedade, desta
forma pode alcançar o sucesso, evitando a violência, a evasão escolar e o
desinteresse do aluno.
A inovação típica de nossa época, chamada era da informática, robótica,
entre outras denominações, com novas estratégicas pedagógicas, contando com a
participação de um professor comprometido, responsável e dedicado, pode
promover mudanças pessoais e sociais, as quais deverão contribuir para uma
mudança significativa na relação professor e aluno. A nosso ver, hoje o aluno vive
com uma variedade de recursos tecnológicos, o que deve levar o professor a uma
reflexão sobre sua prática pedagógica, a utilização do lúdico seria outro recurso ou
estratégia didática possível com as quais os professores poderiam buscar a
superação dos modelos clássicos do ensino de ciências, induzindo o aluno ao
raciocínio, à reflexão, ao pensamento e, consequentemente, à (re)construção do seu
conhecimento.
É sabido por todos, que muitas pesquisas são publicadas, no Brasil, tendo por
objeto de investigação a educação escolar e o processo de ensino-aprendizagem.
Um dos focos dessas investigações centra-se no trabalho docente e na formação do
professor, em função do baixo rendimento apresentado pelos alunos.
Qualquer forma de análise não pode desconsiderar que diversos e diferentes
fenômenos, entre eles, o da evasão, da repetência ou do analfabetismo estão
diretamente ligados à forma como a escola está estruturada e às condições em que
o trabalho escolar se efetiva. De qualquer forma, os baixos resultados apresentados
pelos alunos que são expostos com vários sistemas de avaliação da educação
básica, o SAEB, IDEB, PROVA BRASIL, por exemplo, são reveladores de que são
importantes os projetos de pesquisa que investiguem sobre métodos de ensino.
Ao depararmos, hoje, na escola, com alunos desinteressados,
descomprometidos, descontentes, agressivos e carentes, sem dúvida nenhuma,
podemos perceber que estes são fatos, dos quais derivam outros, como, por
exemplo, em relação ao comportamento do professor. Muitas pesquisas apontam
que o descomprometimento do aluno leva o professor ao stress,
descontentamentos, desmotivação, quando seus objetivos não são alcançados,
chegando à frustração.
Ao mesmo tempo, há uma irrefutável evidência de que os mesmos alunos
indisciplinados com alguns professores podem ser bastante disciplinados e
colaboradores com outros (AQUINO, 2000). O que nos coloca a questão: O que
fazer então?
Findada a primeira década do século XXI, o que constatamos, por meio de
estatísticas e outros dados publicados, são resultados reveladores da complexidade
que é trabalhar com a formação do aluno. Se, algumas décadas atrás, os órgãos
governamentais divulgavam o grande número de alunos que se evadiam das
escolas primárias em condições de semi-analfabetismo, como seria essa
informação, se fosse atualizada hoje? Como deveríamos analisá-la? Que relação se
estabelece hoje entre as dificuldades de aprendizagens dos alunos e os recursos
metodológicos utilizados pelos professores? Qual a influência das atividades lúdicas
na aprendizagem e desenvolvimento dos alunos?
Compreendemos que um ponto essencial desse trabalho, intitulado Análise e
produção de recursos didáticos para o ensino de Ciências: atividades lúdicas, é o de
focalizar o processo de ensino sem perder de vista a compreensão do processo de
aprendizagem dos alunos, como condição para o planejamento do que e como
ensinar.
Entendemos que a função do professor é composta de inúmeras exigências e
conhecimentos, os quais precisam ser buscados nas diferentes áreas, como a
Filosofia, Sociologia, Pedagogia, a Psicologia, entre outras. O professor, mesmo
sem saber, produz, com todos os outros elementos, a história político-pedagógica da
escola, pois atua todos os dias diretamente com dezenas de alunos sob
determinações pedagógicas, administrativas, financeiras e jurídicas. Numa
instituição escolar, além disso, se inter-relacionam inúmeros aspectos pessoais,
concepções, interesses e expectativas dos diferentes sujeitos que ali se encontram.
Apenas apontamos essas questões como ponto de partida para expor a
necessidade de estudos que vinculem a função social da escola pelo aspecto da
relação professor-aluno, mais diretamente nos processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos alunos. O que exige um enfoque que não separe a dinâmica
das relações e interações que constituem tanto o dia-a-dia escolar quanto a
aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos.
Sustentando o enfoque histórico do desenvolvimento psicológico humano e
mostrando as fontes sociais desse processo, a Psicologia Histórico-Cultural, fundada
por L. S. Vigotski (1896-1934), vincula as bases do desenvolvimento humano à
atividade coletiva das pessoas. Nesse sentido, a escola, a sala de aula e a própria
organização das atividades escolares por parte do professor, podem ser vistos como
órgãos sociais, por meio dos quais se processa a transmissão dos conteúdos
escolares aos alunos.
Se, na Psicologia Histórico-Cultural encontramos bases para o entendimento
do processo de desenvolvimento humano, bem como da relação de reciprocidade
entre o homem e o mundo, na Pedagogia Histórico-Crítica, fundada por Dermeval
Saviani, em 1944-, encontramos fundamentos para compreender o sentido da
pedagogia, como processo de formação cultural dos homens. Quer dizer, o homem
somente se constitui como tal na medida em que ingressa no mundo da cultura
(SAVIANI, 1985).
É possível perceber que não é nada fácil promover o desenvolvimento
humano nas escolas públicas brasileiras, que trabalham com turmas de alunos, nas
quais se apresentam com diferentes níveis de domínio da leitura, da escrita e do
cálculo. Aliás, é extremamente difícil aos professores o entendimento de como
proceder quando precisa preparar aulas para alunos com tanta diferença de
aprendizagens e desenvolvimentos intelectuais.
Não nos esqueçamos que cada professor opera uma pedagogia. Já em 1985,
no Brasil, Saviani destacava: “a palavra pedagogia traz sempre ressonâncias
metodológicas, processuais, isto é, de caminho através do qual se chega a
determinado lugar. Alias isto já está presente na etimologia da palavra: conduzir (por
um caminho) até determinado lugar” (SAVIANI, 1985, p. 27).
No caso do estudo em pauta, conforme dissemos acima, o aluno adolescente,
com o qual trabalhamos, muitas vezes espera encontrar na escola alguma solução
para os seus conflitos pessoais e seus descontentamentos. E, as metodologias
utilizadas em sala de aula, talvez, estejam distantes de atingi-los em suas
expectativas. Assim, o presente projeto caracteriza-se como uma proposta dinâmica
voltada a motivar e desafiar o aluno para a solução problemas.
Considerando que o desenvolvimento humano não esta relacionado somente
com aspectos cognitivos, mas também e, principalmente, com aspectos afetivos,
temos que o trabalho docente implica em apresentar sugestões que possam ser
consideradas ideais para que a aula promova não somente o aprendizado cultural,
mas a conquista da auto-estima dos alunos, por exemplo. Estes são aspectos
importantes e que demonstram uma proposta político-pedagógica, na medida em
que, como ponto de partida temos uma relação de respeito às diferenças de idéias,
autonomia e compreensão das funções do professor e do aluno.
De fato, ao professor cabe o domínio sistemático e intencional das formas
através das quais se deve realizar o processo de formação cultural dos alunos
(SAVIANI, 1985) e, ao aluno cabe a apropriação dessa formação não
desconsiderando a questão da afetividade no processo ensino-aprendizagem. A
relação entre ambos, professor e aluno, para além dessa essencialidade de cada
um, deve servir como instrumento para o contínuo desenvolvimento de cada um,
guardadas as devidas proporções, pois é o aluno a meta do processo ensino-
aprendizagem. Ele, o aluno, está na escola para desenvolver capacidades
específicas, necessárias à sua formação de aluno, obtendo bons resultados
escolares e consequentemente, em sua vida adulta.
Acreditamos que é por meio do conteúdo teórico, científico que o aluno
compreende seu cotidiano de forma mais crítica e, conforme afirma Snyders (1974,
p. 171), “compreendendo o mundo em que vivem e agindo nesse mundo, as
crianças apercebem-se de que o real vai trazer-lhes alegrias cada vez mais
completas”.
É possível notar que se trata de um complexo de relações entre o professor e
a turma de alunos e entre o professor e cada aluno individualmente. Também, que
essas relações podem ter início nas salas de aula, mas continuam fora dela com o
processo de inter-relações pessoais.
Como pesquisadores do PDE, pretendemos desenvolver estudos que
fundamentem o entendimento da relação professor-aluno e, nesse sentido,
buscaremos subsídios teóricos tanto sobre a natureza e especificidade da educação
e do ensino, quanto sobre a importância da organização do ensino considerando as
atividades lúdicas importantes para o aluno na fase da escolaridade nas séries finais
do Ensino Fundamental.
Nossa fundamentação, conforme apontamos anteriormente, pautar-se-á em
Vigotski e seus seguidores e em Saviani e outros que teorizam a educação do
homem contemporâneo e a educação escolar como fenômenos nos quais a
formação cultural vem a coincidir com a formação humana (SAVIANI, 1985).
Nosso entendimento é o de que a fundamentação teórica que devemos
perseguir deverá promover avanços em nossas concepções de homem, sociedade,
escola, ciências ensino, etc. A finalidade ainda é nos apropriarmos de perspectiva de
totalidade sempre que analisarmos qualquer dessas concepções.
A concepção de ciência, num primeiro momento, deve ser compreendido pelo
aspecto da totalidade do que significa a relação entre homem e natureza e,
consequentemente, a compreensão da natureza da educação enquanto um trabalho
de produzir nas gerações de homens a apropriação e o domínio dos objetos e
conhecimento que historicamente vem sendo elaborado. Nesse sentido, a escola diz
respeito a essa função, relativa ao conhecimento elaborado, que é a ciência da
história.
Quanto à especificidade da educação, compreendemos como centrada nos
conhecimentos, conceitos, valores, símbolos, etc., e por isso mesmo, a educação
escolar precisa contar com materiais e instrumentos o mais próximos da realidade
possível. É pela artificialidade que a escola poderá reproduzir, o mais próximo do
real, a compreensão dos conhecimentos historicamente acumulados pela
humanidade. Assim, o confronto de conceitos é uma forma de análise critica da
realidade e uma fase do método de análise que também deve ser preocupação do
trabalho do professor a ser incorporado pelos alunos.
Pretendemos, com essa perspectiva, buscar uma fundamentação teórica,
também para o ensino de Ciências, que seja calcada no Materialismo Histórico-
Dialético, no que tange à concepção de homem como ser ativo, pensante, ser de
projetos. E que, para tanto, compreenda a realidade em que vive para poder sair de
suas dificuldades e problemas, como bem vivemos hoje na sociedade capitalista.
Defendemos na proposta, intitulada Análise e Produção de Recursos
Didáticos para o Ensino de Ciências: Atividades Lúdicas, um trabalho teórico-prático,
cuja filosofia compreende o homem em seu vir-a-ser de forças produtivas
conquistadas, inclusive, pela sua atividade racional.
Nas palavras de Leontiev (1978), toda a atividade racional do homem não é
senão uma luta, a luta contra a luta pela existência, para que todas as pessoas na
Terra possam satisfazer as suas necessidades, para que não conheçam nem a
indigência, nem a fome.
Nossa preocupação incide, portanto, na busca de uma proposta político-
pedagógica, sem perder de vista que seja diferente e mais dinâmica do que as
atividades rotineiras da escola, na atualidade. É uma tentativa de oferecer ao aluno
uma oportunidade de ser humano, com papel transformador na sociedade, como
cidadão crítico e atuante. E, principalmente, com oportunidade de notar e perceber
os obstáculos e dificuldades reais em sua vida com vistas ao que fazer, como
analisar e proceder para se sair das situações difíceis com as quais se depara
cotidianamente.
3 ENCAMINHAMENTOS, METODOLOGIA E PRINCÍPIO EDUCATIVO
Definimos como objetivo geral, estudar a natureza e a especificidade da
educação e do ensino e o faremos relacionado, principalmente, à primeira fase da
pesquisa e como objetivo específico, elaborar atividades lúdicas, direcionadas ao
ensino de Ciências. A proposta é articular conteúdos da Disciplina de Ciências,
metodologia e técnicas numa perspectiva de acessibilidade, clareza e prazer do
aluno em estudar, sendo esta a última etapa da proposta.
Compreendemos que ambas as fases se interdependem para uma proposta
de ensino. A nosso ver, o planejamento do que fazer com os alunos para que atuem
com prazer nas aulas exige um trabalho com os conteúdos escolares em função do
desenvolvimento intelectual dos alunos coincidindo com a formação humana. Isto
implica em não ficarmos somente concentrados na área de Ciências, mas numa
proposta político-pedagógica.
Nossa intenção, nesse sentido, é termos como base de nossos estudos a
Teoria do Materialismo Histórico-Dialético, no que se refere à concepção do homem
social, isto é, humano, fundada por Karl Marx (1818-1888). E, ainda, articular
estudos realizados pelos autores inseridos na Psicologia Histórico-Cultural, no que
tange à formação do homem socialista, mais precisamente nos autores Vigotski e
Leontiev, juntamente com a Teoria Histórico-Crítica e a premissa da coincidência da
formação cultural/humana em Saviani e seus seguidores.
Como parâmetros para o planejamento da proposta prática, centraremos
estudos sobre a natureza e a especificidade da relação professor-aluno, tendo por
base o que rege a conduta humana e a realidade humana.
Compuseram toda a pesquisa, leituras e fichamentos; análises e sínteses
teórico-metodológicas; estudo e organização de atividades lúdicas para o ensino de
Ciências; operacionalização das atividades lúdicas com alunos da Educação Básica;
elaboração do relatório final e recursos materiais a serem definidos no curso do
estudo.
Nossa área de atuação na Educação Básica é a de Ciências, a qual atende a
um currículo formado por um rol de conteúdos escolares específicos. É com esse rol
de conteúdos que serão planejados os materiais e atividades lúdicas para a
proposta de intervenção do PDE. Como referencia adotaremos o Currículo Básico
para a Escola Pública do Estado do Paraná (1990) e outros autores além dos que
são ali referenciados.
Em consonância com a proposta teórica do Materialismo Histórico-Dialético,
esse Currículo Básico estabelece um rol de conteúdos, a serem apropriados pelos
alunos, numa perspectiva de totalidade, ou seja, a organização do trabalho docente
deve desenvolver os conceitos fundamentais e suas inter-relações. Essa proposta
do Currículo Básica é por nós tida como referencia para organizarmos as atividades
lúdicas em torno de três eixos: a) noções de astronomia; b) transformação e noção
da matéria e energia; c) saúde-melhoria da qualidade de vida.
Tratamos da segunda fase do presente projeto, intitulado Análise e Produção
de Recursos Didáticos para o Ensino de Ciências: Atividades Lúdicas, cuja
organização obedecerá a alguns princípios com vistas à apropriação pelo aluno,
pressupondo que o trabalho docente promoverá, com vistas ao Currículo Básico
para a Escola Pública do Estado do Paraná (PARANÁ, 1990, p. 128):
a) a explicitação do dinamismo das transformações da matéria e da energia,
com o objetivo de demonstrar a possibilidade de domínio do homem
sobre estas transformações e da ação transformadora sobre a natureza;
b) desvendamento de que as transformações são fenômenos da natureza,
porém as transformações dirigidas pelo homem, através do conhecimento
científico e tecnológico, ocorrem no tempo e no espaço em contextos
históricos que determinam efeitos vários, seja no aspecto social, político,
econômico e saúde, ecológico, etc.;
c) necessidade de se possibilitar ao aluno uma leitura e compreensão da
totalidade, isto é, um trabalho crítico do conteúdo, que possa levantar
questionamento e discussões sobre a prática social global;
d) organização da pratica pedagógica a partir de eixos que sustentem a
direção, a articulação e a avaliação dos mesmos.
Dessa forma, o projeto em pauta dirigirá a Análise e Produção de Recursos
Didáticos para o Ensino de Ciências: Atividades Lúdicas mantendo como premissa o
objetivo de incidir na formação intelectual do aluno da Educação Básica. Para tanto,
os principais pressupostos a serem perseguidos são os de definir a concepção de
homem, de escola e de ensino, bem como, a concepção de ciência, norteadoras da
fundamentação teórica para a produção didática relacionada às atividades lúdicas,
com as quais os alunos trabalharão.
4 PROCEDIMENTOS E RESULTADOS EM SALA DE AULA COM ALUNOS DO 8º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS
A implementação foi composta de um de uma Unidade Didática (A evolução
humana e os alimentos), que foi feita de um material elaborado para orientar o
desenvolvimento do conteúdo sobre tecidos com abordagem maior em tecido
adiposo dando ênfase à obesidade, o objetivo desta produção foi para estudar,
analisar e debater sobre análise e produção de recursos didáticos para o ensino de
Ciências : atividades lúdicas na perspectiva da Pedagogia Histórica-Crítica e nos
fundamentos da teoria do Materialismo Histórico-Dialético. Ocorreu de um ciclo de
32 aulas com 30 alunos da 7a série “D” do período matutino,em uma escola Estadual
no norte do Paraná.
Inicialmente foi apresentada a Direção e a Equipe Pedagógica o tema de
estudo e o trabalho desenvolvido durante os estudos realizados no ano de 2010 no
PDE, esclarecendo que a Produção Didática pedagógica foi elaborada no intuito de
priorizar as atividades lúdicas como componentes motivadores e incentivadores do
processo ensino-aprendizagem de conceitos científicos para estimular a imaginação,
a autonomia de modo a promover saltos qualitativos na aprendizagem.
Um cronograma com as ações foi organizado juntamente com a Equipe
Pedagógica e Direção para serem desenvolvidas durante a implementação da
Produção Didática Pedagógica.
O material elaborado para orientar o desenvolvimento do conteúdo, foi feito,
nos moldes de um caderno de estudos, por meio do qual semanalmente realizaram
leituras,discussão em grupo, visualização de Reportagem através de
vídeo,questionamentos,pesquisas e analise de tabelas.
De acordo com cada atividade proposta pode ser notado que os
questionamentos eram feitos em termos de curiosidade.
Quando foram submetidos, através de atividades propostas em situação
semelhante do homem primitivo que ia em busca de seus alimentos para sua
sobrevivência ficaram apreensivos e preocupados de como poderiam sair de tal
situação, considerando a facilidade que se tem hoje em obter os alimentos diante
evolução do homem e as novas tecnologias.Perceberam que essa evolução muito
custou para humanidade diante da depredação provocada ao meio ambiente.
Vários assuntos foram abordados cientificamente, tais como, genes, os
diversos tecidos, principalmente o tecido adiposo e outros, levando a uma
abordagem de conteúdos inter relacionados.
Em um pequeno texto sobre os genes da obesidade,foi abordado vários
assuntos inserindo o conteúdo cientifico, foi interessante como questionaram e
compreenderam que os fatores genéticos e o metabolismo podem contribuir para a
obesidade, mas que por meio de hábitos alimentares saudáveis pode-se garantir
uma boa qualidade de vida e que o ser humano, contudo, por poupar esforços, já
não gasta mais aquilo que consumia e este geraram, e ainda gera grandes
preocupações em termos de saúde.
Obesidade, hipertensão, apneia, problemas circulatórios e respiratórios,
depressão são alguns dos diversos exemplos que foram estudado e citados como
complicações deste desequilíbrio alimentar, aliado, especialmente nos dias atuais,
com hábitos pouco saudáveis, ligados a uma vida sedentária.
Para reconhecer a importância de uma alimentação saudável foi proposto
fazer um balanço da dieta anotando o que comeram durante a semana, pesquisar
quantas calorias contém cada alimento e analisar se a dieta estava sendo para um
futuro mais saudável, concluíram que as guloseimas estavam presentes na maioria
das refeições. Depois de várias outras atividades foi pedido para cada aluno trazer
um alimento; impressionante foi diversificada e saudável todo o alimento, percebeu-
se uma conscientização do que é alimentação saudável.
Para uma abordagem geral foi convidada uma nutricionista que não apenas
fez uma exploração do que é necessário para uma boa dieta, como também, serviu
diversos alimentos considerados saudáveis ,os quais alguns alunos embora não
tinham o hábito comer alguns do tipo do qual estava sendo servido,por julgarem que
não gostavam, comeram e gostaram.
Vale ressaltar o êxito dos diversos questionamentos, resultados das diversas
atividades que foram proporcionadas e o entrosamento entre os aluno, algo que não
ocorre em uma aula onde o professor fica centrado apenas no conteúdo científico,
não induzindo o aluno a pensar e agir como agente transformador na sociedade.I
Pode ser observado quando, em equipe, os alunos elaboraram os dez
mandamentos para uma alimentação saudável, a integração ou interação dos alunos
e o respeito entre todos durante a atividade, bem como a participação de todos
como elementos básicos para avaliar o processo educativo e, nesta implementação
e investimento oportunizado pelo Programa PDE, foi algo surpreendente.
Quando, finalmente, posto em prática o que foi abordado através do jogo de
memória, foi formidável perceber que aulas diversificadas, elaboradas e
desenvolvidas considerando a formação cultural e humana e a preocupação com a
formação dos homens na atualidade é mais prazeroso o processo ensino-
aprendizagem.
5 CONCLUSÃO
A partir de dados reais de vários sistemas de avaliação da escola, o SAEB,
IDEB, PROVA BRASIL, por exemplo, procuramos uma proposta de estudos para o
trabalho do professor de Ciências preocupado com a formação dos homens na
atualidade. Visamos, com isso, apresentar na organização do ensino de conteúdos
de Ciências para alunos do Ensino Fundamental uma proposta político-pedagógica,
sem perder de vista que seja diferente e mais dinâmica do que as atividades
rotineiras da escola, na atualidade.
Inserimo-nos diretamente no trabalho com os desafios da Educação Básica
na atualidade, pois, por meio da observação constante do comportamento dos
alunos em sala de aula, no Ensino Fundamental, levantamos dados importantes da
realidade da Educação Básica, no Brasil. Também nos propomos a estudar uma
pedagogia transformadora e formas de desenvolver atividades com alunos do
Ensino Fundamental com vistas a uma pedagogia que considere o aspecto lúdico,
próprio da essência humana e com isso promover um processo de aprendizagem
dos alunos que possa servir de base para que outros trabalhos sejam desenvolvidos
na Educação Básica por diferentes professores.
Nosso objeto de estudo - o ensino de Ciência para adolescentes, foi
focalizado levando-se em consideração os recursos didáticos para o ensino de
Ciências: atividades lúdicas, mas não se localiza somente neles porque compreende
esse objeto como a materialização de uma proposta de educação do homem
contemporâneo que se encontra na Educação Básica na atualidade. Buscamos
investigar a questão da atividade lúdica como fonte de desenvolvimento intelectual
dos alunos e investimos na proposta da Pedagogia Histórica-Crítica e em sua tese
sobre a coincidência da formação cultural e humana dos alunos.
Pudemos observar, durante a realização das aulas, que ao desenvolver por
meio da abordagem dialética os conceitos fundamentais e suas inter-relações, essa
forma metodológica despertou mais interesse e compreensão por parte dos alunos,
foi notado maior participação de todos, o que para nós suscitou bastante satisfação
docente. Percebemos que quando é proporcionado aos alunos uma aprendizagem
mais dinâmica e diferente das atividades rotineiras eles se tornam mais críticos
participativos e atuantes; assimilam melhor os conteúdos e demonstram mais
importância à aprendizagem. Desta maneira, certamente passarão a compreender
melhor a realidade em que vivem e terão mais condições de nessa realidade atuar.
E, inclusive, com mais condições de serem sujeitos transformadores, pois estão se
apropriando de uma forma crítica do mundo e das relações humanas. Também
percebemos que durante a implementação do projeto na escola os professores se
movimentavam, perguntavam sobre as aulas, a metodologia utilizada; tal fato
demonstrava que um trabalho escolar quando intencional e direcionado com
dinamismo, imaginação e inovação também torna pública essa possibilidade para
todos os docentes. Além de oferecer ao aluno mais oportunidades de aprendizagens
mais interessante e atrativas, tornando-as acessíveis e prazerosas, também garante
a função social da escola pública na socialização dos conhecimentos científicos aos
alunos.
Diante desses fatos, concluímos com satisfação o trabalho nesse projeto
como professora PDE, pois todos os dias encontramos colegas professores que se
interessam em discutir sobre as aulas; aspectos que estamos vivenciando com os
alunos; os comentários de outras turmas, enfim, estamos vivendo as possibilidades
da continuidade desse processo no fato do que os alunos potencialmente poderão
fazer na vida deles.
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