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Fundação e Emancipação

de Pires do Rio

(1922 - 1930)

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JOÃO ALBANO NETO

CAPA: João Batista de Souza

Planeta Arte Comunicação Visual

DIGITAÇÕES: Agenor de Castro Moreira dos Santos.

José Lourenço Lemes.

Glênio José Martins.

REVISÃO: Sandra Rosa

(Goiânia)

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Pires do Rio

cidade planejada.

Fundada em 09 de Novembro de 1922

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Neste livro o autor mostra

para você o esquecimento de pessoas,

o nome de tantos que lutaram

pela vida desta cidade e

hoje eles não existem mais

entre nós.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a todos os amigos que empenharam

seus esforços, colaborando com este trabalho da história

de Pires do Rio, deixando suas marcas gravadas no

crescimento da cultura de nossa cidade.

Contribuindo, portanto, para a restauração e a

preservação de valores históricos, que ficarão para sempre

o conhecimento das futuras gerações, que terão o

privilégio de conhecer e se deliciar com a realidade, ou

seja, a consolidação de um desejo, que culminou na

fundação da nossa tão querida Pires do Rio.

______________ / / _______________

A Estrada de Ferro é um respeito para o povo

de Goiás, a capacidade realizadora do povo goiano que

sabe agradecer as dificuldades que a natureza colocou no

seu caminho, mas dia 09 de Novembro de 1922 o trem

chegou e nasceu a nossa querida Pires do Rio, a Terra dos

Beija-Flores.

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O autor.

HOMENAGEM PÓSTUMA

Esta obra é, também, uma homenagem aos que

se empenharam na fundação de Pires do Rio: os Senhores

Manoel Cavalcante Nogueira, Luciano Félix de Souza, Lino

Teixeira Sampaio, Cosme José Nascimento e Dr. Balduíno

Ernesto de Almeida. Seus nomes serão sempre lembrados

por nós e aqueles que deles tomarem conhecimento da

história.

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PREFÁCIO

Já que foi concedida a este modesto escriba a honra e, sobretudo,

a agradável tarefa de prefaciar este minucioso trabalho histórico,

todo ele dedicado à nossa querida PIRES DO RIO, é forçoso

deixar claro que o seu autor é um autêntico e brilhante autodidata,

isto é, não possui formação escolar completa, fato este que é

fartamente compensado pela sua brilhante memória.

Este detalhe, no entanto, aparecerá em toda extensão desta

primorosa obra, em momento diversos com o efeito singular de

abrilhantá-la ainda mais. Vejamos, por exemplo, o nome

escolhido para a nossa cidade, o qual por falta de informação,

ainda hoje inúmeros piresinos, jovens e adultos, ignoram o seu

real e histórico sentido, levando-os a acreditar que estivesse

relacionado ao rio que banha parte do nosso município, mas ver-

se-á naquele estudo, que a feliz escolha obedeceu a princípios

bem mais nobres.

Vale ressaltar que todo o conteúdo daquele trabalho foi obtido

graças a um intenso e laborioso estudo junto às fontes confiáveis

de literatura então existentes – escassas diga-se de passagem – e

também, na sua grande maioria através de pessoas de renome,

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bem informadas, as quais participaram direta ou indiretamente

em prol da edificação desta pujante cidade de Pires do Rio!!!

Ressalte-se ainda, ao final deste modesto (e prolixo) trabalho, que

todas aquelas pessoas acima mencionadas, já não pertencem mais

à classe dos seres viventes. Deram, cada uma a sua cota de

participação e, simplesmente... PARTIRAM!

Pires do Rio, 12 de Março de 2014.

Carlos José.

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Ponte “Presidente Epitácio Pessoa”

Sobre o Rio Corumbá – Inaugurada em 13.07.1922

Pires do Rio (GO)

Ponte do Rio Corumbá entregue ao trânsito ferroviário

em 13 de julho de 1922, posteriormente, colocada à disposição

no trânsito rodoviário e dos tropeiros e carreiros.

A ponte Presidente Dr. Epitácio Pessoa hoje vive no esquecimento total.

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6º BC – setembro de 1.922- Porto “Roncador”. Por ocasião da

transferência do quartel de Goiás para Ipameri.

De pé, da esquerda para direita:

2º Jose Antônio Pereira

4º João Batista da Costa

7º Major Urandy Pirami (Comandante do Batalhão).

Em junho de 1.922, o Governador de Goiás Dr. Eugênio

Jardim embarcou em Porto do Roncador para o Rio de Janeiro.

Em rápidas palavras anunciou que em breve o 6º Batalhão de

Caçadores seria transferido da cidade de Goiás para Ipameri.

No início de setembro do mesmo ano, o Major Urandy

Pirami, Comandante do 1º grupamento do referido Batalhão, após

realizar uma caminhada de 60 léguas, pernoita no Porto do

Roncador. No dia seguinte o grupo embarcou no trem com

destino a Ipameri, instalando-se nesse município no dia 07 de

setembro de 1.922.

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Pires do Rio “10 Anos de História.

“Fundação e Emancipação”

João Albano Neto

O rápido avanço da Estrada de Ferro Goyaz,

através do território goiano, trazia consigo o

desenvolvimento e o progresso em sua região sudeste,

fazendo surgirem, ao longo de seu trajeto, vilas e

povoados que logo se transformariam em cidades. Assim,

também, nasceu Pires do Rio, com a chegada da Ferrovia.

Como outras tantas que surgiram com a chegada dos

trilhos, era um sonho realizado pelo Diretor da Estrada de

Ferro Goyaz, Dr. Balduíno Ernesto de Almeida.

Quando por ocasião da visita do Ministro da

Viação e Obras Públicas, Dr. José Pires do Rio, ao Porto

do Roncador, Dr. Balduíno anunciou em seu discurso de

agradecimento, que a primeira estação após a ponte do rio

Corumbá teria o nome de “Pires do Rio” em homenagem

ao ministro ali presente e disse ter certeza de que um dia

iria surgir ali uma cidade.

Dr. José Pires do Rio, que se encontrava

presente, sensibilizado, retribuiu com palavras de

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agradecimento. Estava feliz em saber que o seu nome iria

constar na plataforma de uma Estação da Estrada de Ferro

Goyaz e pediu que agilizassem com urgência a montagem

da Ponte.

No dia 13 de julho de 1922, com menos de um

ano do reinício das obras da ponte metálica que recebeu o

nome de presidente Dr. Epitácio Pessoa, em homenagem

ao então presidente da República, foi liberado o tráfego

das locomotivas pertencentes à Estrada de Ferro,

assegurando o livre trânsito das locomotivas. Em breve, a

Estação Pires do Rio seria inaugurada.

No início de outubro de 1922, Dr. Balduíno

anunciou que a inauguração da estação e do Obelisco

seria no dia 9 de novembro próximo, e essa data já estava

marcada. Com essa notícia, os moradores do Roncador

começaram a mudar para a Estação Pires do Rio, as

primeiras mudanças se deram com as casas noturnas ao

lado direito da estação, transformando em uma vila de

barracos que era conhecida como “Rua do Fogo”.

Na Praça da Estação já residia Manoel Coletor e

Olinto Coletor, ambos eram carreiros. Manoel Cavalcanti

Nogueira (Maneco) tinha uma boa casa de comércio ao

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lado da estação, era dono de uma frota de carros de boi,

transportava mercadoria do Porto do Roncador para Santa

Cruz e até Pouso Alto, hoje Piracanjuba.

Luciano Félix de Souza era gerente de um posto

do Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais, no Porto

do Roncador, em seguida, deixa o banco e monta um

comércio de secos e molhados no arraial. Lino Teixeira

Sampaio e Cosme José do Nascimento eram fazendeiros.

Dr. Balduíno mandou os pedreiros da Ferrovia construírem

o Obelisco, o marco comemorativo de fundação de Pires

do Rio, na frente da casa do Sr. Maneco. O amanhecer de

9 de novembro de 1922 anunciava um belo dia, como de

verão, com céu limpo, um grande movimento de gente em

frente à estação, cavaleiros de todos os lados, Santa Cruz,

Campo Formoso, Pouso Alto, Bonfim (Silvânia) e

fazendeiros da região. Às 15 horas só se via cavalo

amarrado no cerrado, o tempo estava muito nublado,

escurecendo antes da hora e começou a chover, quando

se ouviu o barulho da máquina, muito distante. Um apito,

de repente, deixou o povo admirado, e o trem continuou

apitando enquanto se aproximava. O povo, em coro,

gritava: - Obrigado, Dr. Balduíno!

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Os cavalos que estavam amarrados por todos

os lados, ficaram assombrados com o barulho e o apito do

trem e arrebentaram os freios correndo pelo cerrado afora,

fazendo seus donos correrem atrás, foi outra festa.

À noite muitas pessoas foram procurar abrigo na

estação, porque chovia e não conseguiram alcançar seus

animais de montaria que haviam fugido.

Eram exatamente 16h30 quando o trem chegou

à estação de Pires do Rio. Dentro dele, destacavam-se os

senadores Ramos Caiado e Adolfo Teixeira, o Dr. Balduíno

de Almeida, o Dr. Eugênio Guimarães, o Dr. Álvaro Paca,

Manoel Cavalcanti Nogueira, Luciano Félix de Souza,

Cosme José do Nascimento, Lino Teixeira Sampaio e

Saulo Palmerston Guimarães, além de grande número de

pessoas que foram até o Roncador para voltarem no trem.

Como chovia muito naquela tarde, não houve

nenhum tipo de comemoração, apenas o Dr. Balduíno

gritou: “Pires do Rio nasceu!”, e o povo aplaudiu. Junto ao

Obelisco, falou o farmacêutico Saulo Palmerston

Guimarães, saudando o Dr. Balduíno de Almeida, a

comitiva e os demais presentes à solenidade.

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N.A: registre-se que em 1965 pessoa não

identificada, na calada da noite, tentou

destruir à marteladas parte daqueles registros

históricos da mais alta relevância.

O Sr. Tobias Diogo, comerciante respeitável,

radicado naquela região, teve seu sono

interrompido pelo ruído de marteladas e assomou

à janela ao tempo de aos brados impedir a

consumação daquele ato de vandalismo,

afugentando o individuo que evadiu-se do local.

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09 de novembro de 1922

Permitido o livre trânsito de locomotivas na Ponte

Presidente Epitácio Pessoa, no Rio Corumbá,

para a Estação de Pires do Rio.

A inauguração da Estação e do marco de

fundação de Pires do Rio não teve a presença do

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governador de Goiás. Em 1922, foi ano de mudança do

chefe do Executivo goiano. Eugênio Rodrigues Jardim

passou o comando para Miguel da Rocha Lima. Isso pode

ter impedido a presença do governador. Contudo,

acreditamos mais nas dificuldades do meio de transporte

entre Goiás e o Porto do Roncador.

O dia 10 de novembro de 1922 amanheceu

chovendo, mas o tráfego da Estrada de Ferro funcionava

normalmente, com os trens chegando e saindo para

Araguari (MG).

Os dois trens que trafegavam da Estação

Roncador para Araguari, um de passageiros com primeira

e segunda classes, e outro misto, passageiros e cargas,

saíram a partir desse dia, da Estação de Pires do Rio. Dr.

Balduíno chegou cedo à Estação, trazendo uma notícia

muito boa para o povo: aqueles que quisessem se mudar

da estação do Roncador para a nova estação, as pranchas

da Estrada de Ferro Goyaz estariam à disposição, a partir

dessa data, sem nenhuma despesa de transporte. Aí

começou a demolição total do povoado de Roncador.

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O Porto paralisou, os canoeiros encostaram

suas canoas, e o Porto e o povoado entraram em crise até

o desaparecimento total.

No início do mês de dezembro do ano de 1922,

o novo arraial, Pires do Rio, crescia rapidamente e, em

pouco prazo, cercou a Estação da Estrada de Ferro, as

pranchas da Estrada de Ferro, os carreiros e as tropas

transportavam as mudanças do Porto do Roncador, dia e

noite. Dr. Balduíno de Almeida sentia-se feliz com o

crescimento do povoado.

Havia sido determinado que Dr. Álvaro Paca

desenhasse a planta da nova cidade, mas o povo não

esperou, invadiu toda a área da Estação. Dr. Balduíno

pediu com todo empenho que se reservasse a Praça da

Estação para ser construída uma escola, mas chegou a

certo ponto que não podia obedecer à planta do

engenheiro.

A primeira rua instalada no arraial Pires do Rio

foi a Rua do Fogo, pelas casas noturnas ao lado direito dos

trilhos, onde havia grande movimento, sendo comandada

por uma senhora que era conhecida por Maria Rosa, uma

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pessoa muito honesta, que tinha muita amizade no bairro,

esposa de Salvador Machado, mãe do Divino Machado.

A segunda rua fundada foi a Rua da Estação,

hoje conhecida por Francisco Rodrigues Naves. Lá se

instalaram Luciano Félix de Sousa, Antônio Jorge, João

Rassi, Amim Rassi, José Cury, Michel Taham e Saba

Taham.

A terceira foi a Rua do Comércio, hoje Avenida

Castelo Branco, sendo os primeiros comerciantes: Elias

Ignácio Bufaiçal, David Abdala, Aristóteles Lacerda,

Antônio Abraão e Helias Helou. Outros comerciantes foram

para a Rua do Fogo, atraídos pelo movimento: Elias

Daguer, Cecílio Abrão, Abrão Cecílio, José Skaf, Abdala

David e Miguel Abraão, que era carroceiro, pai do saudoso

Issa Miguel. Foi uma correria à procura de local para se

instalar no arraial.

De certa forma, porém, a situação foi se

agravando, não ficando como Dr. Balduíno desejava. O

povo não esperou a hora certa, invadiu a área reservada

para construir uma escola, de acordo com a planta feita

pelo engenheiro Dr. Álvaro Paca. A verba para a

construção da escola ficou apenas no papel, e o Sr. Lino

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Sampaio entendeu que a Estrada de Ferro Goyaz deveria

pagar para ele os quatro alqueires de terra que tinha doado

e escriturado, no Cartório de Santa Cruz de Goyaz, em 05

de julho de 1922. Lino dizia que tinha sido convencido a

doar o terreno na esperança de um dia receber por ele. Dr.

Balduíno não sabia das intenções do Cel. Lino Sampaio, o

certo é que alguém foi enganado.

Luciano Félix de Souza estudou uma maneira

de conquistar o Dr. Balduíno, aguardando sua chegada de

Araguari. Preparou, então, um almoço em sua residência,

para o qual convidou o senador Adolfo Teixeira, Manoel

Cavalcanti Nogueira, Cosmo José do Nascimento,

Felesmino Viana, Levy Fróis e, também, Lino Teixeira

Sampaio, pois sua presença era importante para ouvir a

decisão do engenheiro diretor da Estrada de Ferro Goyaz.

No dia, Luciano abordou o assunto, dizendo que

estavam em festa, mas que, naquela oportunidade queriam

levar ao conhecimento do Sr. Dr. Balduíno, que o Cel. Lino

Sampaio desejava receber da Estrada de Ferro Goyaz os

quatro alqueires de terra. O Dr. Balduíno recusou a

proposta, dizendo que os quatro alqueires haviam sido

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doados e escriturados e que a Estrada de Ferro não tinha

verba disponível para comprar terreno e construir a cidade.

Lino Sampaio, já insatisfeito, começou a alterar

o tom da voz, expressando-se agressivamente. Levy Fróis

tentou acalmar Lino Sampaio que estava inconformado

com a resposta do diretor Dr. Balduíno. Outras pessoas

também tentaram acalmá-lo, mas ele não concordou,

levantando-se e deixando a reunião.

Dr. Balduíno Ernesto de Almeida explicou que

os quatro alqueires iriam ser devolvidos ao doador1, não

existindo, assim, mais nenhum donatário. O almoço que

era, simbolicamente, uma confraternização, finalizou em

um ambiente desagradável.

Dr. Balduíno, com aquele gesto muito sério,

falou:

– Vamos em frente, não houve estímulo à altura

da parte do proprietário da fazenda. Aqui o assunto está

encerrado! Ao invés de Pires do Rio, continuaremos as

obras da ferrovia em Tapiocanga e Ubatã.

1 O que aconteceu conforme escritura de distrato da primitiva doação

de 23.08.1929. NOGUEIRA, Wilson Cavalcanti, in Pires do Rio – Marco da História de Goiás, pp. 64-65.

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As pranchas da Estrada de Ferro Goyaz

continuaram prestando serviços nos transportes do Porto

do Roncador para a estação de Pires do Rio.

Muitos fatos podem comprovar a realidade

dessa polêmica que vem rolando sobre a fundação de

Pires do Rio, e a doação dos quatros alqueires de Terra

para construção da cidade. Podemos observar no livro de

Wilson Cavalcanti Nogueira, Pires do Rio – Marco da

História de Goiás, na página 64, que Lino Teixeira

Sampaio, fazendeiro do município de Santa Cruz, foi

convencido a doar uma área maior do que a da Estação.

Doou, assim, quatro alqueires de cerrado, conforme

escritura lavrada em 5 de julho de 1922. No mesmo livro,

pág. 65, pode-se observar que a dicotomização da cidade

permanecida longamente, mais precisamente até 1929,

quando chegou ao efetivo fim o processo instaurado junto

ao Ministério de Viação. Em decisão desse processo se

determinou a devolução das áreas de Terras a seus

doadores. O instrumento jurídico que efetivou a doação da

área maior de Lino Sampaio foi uma escritura do distrato

da doação lavrado pelo escrivão Severino Batista de

Oliveira, em 23 de agosto de 1929 e dada a registro sob o

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número 74, Livro 3, Folhas 137/138 do cartório competente

de Santa Cruz (Sede da Comarca).

A Estrada de Ferro não tinha autorização

legislativa para participar como donatário, e

menos para transferir, como havia projetado

que destacassem da área recebida (para

loteamento ao domínio particular). A área de

doação entrou numa condição de impasse

jurídico (In: Wilson Cavalcanti Nogueira, Pires

do Rio – Marco da História de Goiás, p. 65).

(Os dados biográficos acima foram repassados

pela Professora Senhora Graziela Félix de

Souza Nei, pessoa de alto conhecimento sobre

a história de Pires do Rio. No texto se

destacam outras informações de pessoas de

indiscutíveis conhecimentos).

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Em setembro de 1923, Dr. Balduíno de Almeida

visitou Pires do Rio, encontrou os amigos na residência do

Sr. Manoel Cavalcanti Nogueira, falou que o Arraial estava

crescendo exageradamente, já necessitando de um

administrador municipal, pedindo que o Sr. Maneco falasse

com o senador Adolfo Teixeira, interferindo junto aos

políticos de Santa Cruz. Falou que estava residindo em

Araguari (MG), até que se normalizasse a situação do

reinício das obras da Estrada de Ferro Goyaz junto ao

Governo Federal, pois quase todas as obras estavam

paralisadas no Governo Artur Bernardes. Na próxima vinda

iria trazer uma outra planta de acordo com o traçado da

cidade.

Visitou a farmácia do Sr. Manoel Galdino na Rua

da Estação e foi até a Rua do Fogo, ficando admirado com

o movimento do Bairro onde havia muitos botequins, o

sapateiro Enéias Porto, o fotógrafo Nestor Martins,

barbearias e salão de dança. Maneco relatou que no Bairro

havia muitos forasteiros e que estava acontecendo muitos

crimes no arraial.

Em 1922, antecipando-se aos acontecimentos,

Manoel Cavalcanti Nogueira decidiu comprar outra área ao

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lado direito dos trilhos onde construiu sua residência em

caráter definitivo em 1923. Ele acreditava no futuro de

Pires do Rio. Maneco, como era conhecido, chamou a

atenção de muitos com a casa que construiu, toda de

assoalho de madeira, quatro janelas, todas com vidraças, a

frente cercada por grades de ferro, permanecendo como a

única deste porte na cidade por muito tempo.

Em 9 de novembro de 1923, Dr. Balduíno

Ernesto de Almeida fez uma surpresa, chegou a Pires do

Rio. Em sua companhia se encontrava Dr. Álvaro Paca e

Dr. Eugênio Guimarães. Vieram passar o 1º aniversário de

fundação com os amigos, passaram telegrama para o

patrono Dr. José Pires do Rio, em São Paulo.

Falou que dia 01 de novembro os trilhos tinham

chegado a Ubatã, com um número muito reduzido de

operários. À tarde, retornaram para Araguari.

Em dezembro de 1923, chegou no arraial Pires

do Rio, o primeiro dentista, Dr. Manoel Rabelo, que

instalou seu consultório na Rua do Fogo.

Durante o ano de 1923, o arraial expandiu-se,

crescendo de maneira nunca vista em lugar nenhum deste

Estado. Comerciantes, donos de oficinas, trabalhadores

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braçais, pedreiros, carpinteiros, aqui chegavam

diariamente, dentre os quais merecem destaque especial

os seguintes: João Batista Soares, Tomas Pereira, Marçal

Galdino, Francisco Cavalcanti Nogueira, Wenefredo

Macedo, Augustinho Rodrigues, Antônio Francisco de

Lisboa, e outros muitos que tomaram conta do arraial,

trazendo muito futuro para a cidade e região.

Finaliza o ano de 1923 com muita esperança

para o ano vindouro. Toda cidade tem sua história, que em

derradeira análise é a história de seus fundadores.

Augustinho Rodrigues (fazendeiro) era pessoa

muito amiga de Manoel Cavalcante Nogueira (Maneco),

que cedeu um terreno ao lado de sua nova casa para

Augustinho construir uma casa residencial que existe até

hoje.

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Residência de Augustinho Rodrigues,

construída no final do ano de 1923

Rua Piauy, Bairro do Fogo

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Residência do Cel. Manoel Cavalcante Nogueira,

construída em 1923 - Pires do Rio

Rua Piauy, Bairro do Fogo

Em janeiro de 1924, chega ao arraial Pires do

Rio, Dr. Bezerra Cavalcanti e o Dr. Barros Pimentel Filho,

que instalam seus consultórios na Rua do Cruzeiro, hoje

Rua Maria Rosa, Bairro do fogo.

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Era um ano de muita chuva. As construções do

arraial foram todas paralisadas, e as águas do rio Corumbá

atingiram as vigas principais da ponte metálica, Presidente

Epitácio Pessoa. Há quem diga que foi o maior inverno já

visto na região Centro-Oeste.

Manoel Cavalcanti Nogueira sonhava com o

futuro de Pires do Rio, acreditava que o arraial um dia seria

uma cidade de futuro, falava que para isso acontecer

tinham que lutar pelo que era de melhor, para o povoado

crescer como vinha crescendo.

Maneco, como era conhecido, já estava

instalado em sua nova residência ao lado direito da

Estação da Ferrovia Goyaz. Certo dia, recebeu a visita do

senador Adolfo Teixeira que era primo de sua esposa, Sra.

Alzira Amélia Ferreira. Naquela ocasião surgiu a ideia para

Maneco comemorar o seu aniversário, que seria no mês

seguinte, sendo aceita a proposta do senador. Manoel

Cavalcanti fez convite para vários amigos, inclusive para

Dr. Balduíno e Dr. Álvaro Paca em Araguari (MG).

Na data festiva, quase todos os convidados

compareceram à residência de Manoel Cavalcanti. Foi um

dia de muita alegria, cantaram parabéns para o

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aniversariante e foi uma grande festa. Ao final, Dr.

Balduíno falou, trazendo muita esperança para o povo do

arraial. Falou que o serviço da ferrovia de Ubatã para

Tavares (hoje, Vianópolis) teria início ainda naquele mês.

Dentro de poucos dias, o fichamento seria feito na Estação

da Goyaz, em Pires do Rio, e teria uma composição para

transportar os trabalhadores segunda-feira cedo,

retornando sábado à tarde.

Dr. Balduíno fez um pedido ao senador Adolfo

Teixeira, para que interferisse junto ao intendente de Santa

Cruz em prol da criação do Distrito de Pires do Rio, tendo

em vista ser uma necessidade e o desejo do povo; falou

que, na semana seguinte, estaria de volta a Pires do Rio e

concluiu dizendo:

– Maneco, hoje é 04 de fevereiro de 1924, foram

41 anos de luta com sucesso. Parabéns.

– Obrigado, Dr. Balduíno! – respondeu Maneco.

Depois de ter sido muito aplaudido, Dr. Balduíno

retornou para Araguari.

O arraial Pires do Rio chamava a atenção e

preocupava a população das cidades vizinhas. O núcleo

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expandia, era motivo para que os santa-cruzanos não

vissem o caso com bons olhos.

Em junho do ano de 1924, o empresário Antonio

Dante Galassi e Fernando Blumenschein, italianos,

iniciaram a construção de uma charqueada na beira do

córrego do Laranjal, hoje ao lado do serviço de

bombeamento de água. No ano seguinte, a indústria

começou a funcionar, era conhecida como Charqueada

Santo Antônio.

Em 1924, Gabriel Gerbrin monta a primeira

padaria no arraial de Pires do Rio, na Praça da Estação.

Na época, o pão vinha de Araguari para Pires do Rio, pelo

trem, chegava com 10 a 12 horas de atraso.

Em junho de 1924, o farmacêutico, Dr.

Francisco Accioli instalava uma farmácia na Rua da

Estação, que foi muito bem-sucedida. Sendo um homem

culto e inteligente, fez um trabalho muito valoroso.

O trânsito de pessoas pelas ruas era grande.

Viajantes que chegavam de outras cidades geravam

necessidade de locais para hospedagem. A primeira

pensão do Sr. João Espanhol se instalou ao lado da

travessia dos trilhos, na sequência da Rua do Fogo.

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Em 07 de junho de 1924, conforme consta no

livro de Wilson Cavalcanti, Pires do Rio – Marco da História

de Goiás, página 68, uma correspondência do senador

Adolfo Teixeira para o compadre Maneco comunicava o

pedido ao Conselho Municipal para decretar o Distrito de

Pires do Rio antes do tempo que foi combinado, mas isso

iria depender de outros companheiros. Breve o arraial seria

Distrito.

Em agosto de 1924, com menos de dois anos

de fundação, o arraial de Pires do Rio foi elevado à

categoria de Distrito, pela Lei nº 66, de abril de 1924, do

Conselho Municipal de Santa Cruz. As autoridades

encarregadas da direção do Distrito foram as seguintes:

Sub-Intendente Distrital – o Sr. Manoel Cavalcanti

Nogueira; Juiz Distrital – o Sr. João Batista Soares;

Escrivão – Severino Batista de Oliveira; Agente da

Procuradoria Distrital – João Lima.

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Traços biográficos e de personalidade

Nasceu em Santa Cruz (GO), aos

4 de fevereiro de 1883. Seu pai, João

Nepomuceno Nunes Nogueira,

comerciante abastado, era sul-rio-

grandense, de Pelotas, A mãe, Emília

Amália Cavalcanti de Albuquerque era

pernambucana, de Olinda. Recebeu o nome que seu pai

lhe escolhera: Manoel. E o pai também lhe escolheu o

apelido, bem gaúcho: Maneco.

Melhor se haveria de conhecer pela vida inteira:

Maneco. Com menos de oito anos, tornou-se órfão, de pai

e mãe. Os bens que lhe deveriam caber por herança, com

a morte dos pais, desapareceram quase todos,

misteriosamente. Recebeu, então, os favores de um

padrinho de batismo, Francisco Vaz da Costa, homem de

bem e de influência que residia em Vai-Vem (Ipameri). Na

casa desse, residiu por algum tempo de sua infância,

recebendo as primeiras letras.

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Terminando o primário, único curso que fez, deixou

a casa do padrinho. Abandonou, também, os altos

padrões de educação que nela recebera. Maneco volta

para Santa Cruz, enfrenta a vida de carreiro.

Manoel Cavalcanti toma posse como Intendente

Distrital de Pires do Rio, em 24 de agosto de 1924.

Manoel Cavalcanti Nogueira sentia o peso da

responsabilidade como intendente distrital do Arraial Pires

do Rio. Havia, na localidade, grande tiroteio de armas de

fogo, o movimento nas casas noturnas da Rua do Fogo era

grande, tinham até campeões de tiro, os três mais famosos

eram Alfredo, o Alfredão, Elizeu Mariano e Francisco

Rincon. Maneco conseguiu com o senador Adolfo Teixeira,

dois policiais: o Cabo Rogério e o Soldado Chico, o

Paraíba.

De início, eles entraram em conflito com o irmão

de Francisco Rincon, um garoto de 14 anos que só andava

armado (Gaudêncio), mas não conseguiram pegar o 4º

campeão de tiro. Ele correu e deixou o cavalo amarrado

dois dias debaixo de um pé de baru, na Rua do Fogo, e foi

para a fazenda de seu pai. Maneco, contrariando os

policiais, mandou um portador entregar o animal ao

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proprietário da fazenda, Cel. João Rincon, pai de

Gaudêncio Rincon segóvia.

Em 1924, foi fundada a Igreja Adventista por

Eudóxio Mamede, na praça da estação.

O terceiro médico a se instalar no povoado de

Pires do Rio foi o Dr. Manoel Afonso Cavalcanti em

1924/1927, quando foi assassinado, a 24 de abril desse

último ano.

Em fevereiro de 1925, Manoel Cavalcanti

Nogueira instalou uma máquina de beneficiamento de

arroz (cuka), movida a locomove. Ergueu-se com o

trabalho de Antonio Lisboa, homem de muita confiança e

trabalhador. Certo dia, Antonio foi pego pela fatalidade: a

correia, com a polia, pegou a manga da camisa e triturou-

lhe o braço, deixando Maneco desorientado. Pegou o trem

e levou Antonio para Araguari, mas não teve jeito, Antonio

Lisboa acabou ficando sem o braço, porém, continuou

trabalhando com Manoel Cavalcanti Nogueira.

Cada indústria instalada criava, evidentemente,

novos empregos, muitas pessoas procuravam a Estrada de

Ferro e se deslocavam para Ubatã no serviço de

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avançamento dos trilhos para Tavares, outros preferiam

ficar em Pires do Rio.

David José Skaf instalou um laticínio e passou a

operar, também, uma serraria na Rua do Fogo. No mesmo

ano de 1925, o arraial se expandia, montaram mais duas

fábricas de manteiga, uma de Aristóteles Lacerda e outra

de David Abdala.

Já não era mais surpresa o número de pessoas

à procura de lugar para se estabelecer: Luiz Lefon,

padeiro; Apolinário Henrique, sapateiro; e Joaquim

Osmundo de Miranda, que pleiteava grande comércio de

secos e molhados.

Em 1925, chegou a Pires do Rio o farmacêutico

Domingo Sávio (como ele gostava de ser chamado),

trazendo em sua bagagem um diploma universitário de

Farmacêutico. Domingo Sávio não encontrou um lugar na

cidade para se instalar. Suas pretensões eram trabalhar e

morar em Pires do Rio. Construiu uma casa com um ponto

comercial (instalando ali uma farmácia) na Praça Dr.

Cavalcanti, hoje Praça Gaudêncio Rincon Segóvia. O

farmacêutico Domingo Sávio gostava de política e

conquistou muita amizade na cidade pelo seu conceito

41

profissional. Foi presidente do Conselho Municipal de Pires

do Rio, posteriormente assumiu a Intendência do Município

por 60 dias, ocasião em que o titular Dr. Câmara Filho se

afastou do Cargo por motivo de saúde. Nesse período,

Domingo Sávio assinou 60 decretos, e o primeiro foi a

obrigatoriedade do fechamento do comércio aos domingos

e feriados prevalecendo até hoje. Domingos Sávio veio do

sul de Minas Gerais e aqui viveu toda a sua vida. Foi um

dos fundadores da Loja Maçônica Amor e Luz IV, em 1927.

O farmacêutico Domingos Sávio casou-se com

Analita Cavalcanti, filha de Manoel Cavalcanti Nogueira.

Domingos Sávio faleceu em Anápolis (GO), onde se

encontrava em tratamento de saúde.

As pessoas que chegavam ao arraial, todos

tinham que construir, não havia local disponível, Dr.

Hermenegildo Dau e Miguel Simoni, dentistas, instalaram o

consultório juntos, na Rua da Estação. Dr. Hermenegildo

teve uma passagem rápida, mas Miguel Simoni residiu na

cidade até sua morte.

Em 1926, o Sr. João Rincon, proprietário de

grande fazenda na região do Laranjal (Fazenda Taubi), foi

a Uberaba e comprou um caminhão Chevrolet Tigre, o

42

primeiro do arraial, trouxe de trem. Ao chegar à Estação

Ferroviária não havia motorista para descer o carro da

prancha. Esse caminhão chamou muita atenção do povo

da cidade. O Sr. João Rincon era senhor de engenho,

fabricava açúcar, cachaça, criava gado e era político.

Chegou nessa terra, em 1913, vindo de Uberaba (MG),

com a família.

O movimento de carga e descarga dos trens fez

nascer na cidade nova fonte de economia, por exemplo, os

carroceiros que operavam diariamente na frente da

Estação da Ferrovia Goyaz, transportando mercadorias

que chegavam nos trens e faziam entregas aos

proprietários no comércio. As carroças com rodas de pau,

os raios de madeira, puxadas por um só animal. Esses

veículos se incorporaram à imagem da cidade em

constante vai e vem. Com elas se atendiam diariamente

carga e descarga dos vagões, bem como ao transporte de

bagagens de passageiros entre a Estação e a cidade.

Vários dos carroceiros daquele tempo ficaram

muito conhecidos na cidade, embora já falecidos, mas

sempre lembrados pelas suas características pessoais: o

Sr. Miguel Abrão, Sr. Antônio Ferreira Gomes (Batiché), Sr.

43

Antônio Costa (Toninho), Sr. José Antonelli (Bepe) como

era conhecido, Dimas, irmão do Sr. Antônio Lisboa, o Sr.

Gumercino Monteiro, o Sr. Pedro da Valenta que trabalhou

até a morte surpreendê-lo, e muitos outros, de quem

lembramos com saudade.

No final do ano de 1926, correu uma notícia pela

região de que no norte do Estado estava entrando um

grupo de bandidos, vindos do Estado do Piauí. Nesse

grupo, todos eram revoltosos, que roubavam, matavam e

estupravam. A notícia se espalhou por toda parte do

Estado. Outras notícias que acabavam de chegar davam

conta de que esses bandidos já tinham passado em Pedro

Afonso, cidade do norte goiano. Passados dias, outra

informação chegava pelo jornal, dizendo que os bandidos

tinham invadido Porto Nacional, eram mais de 100 homens

e que já estavam em Natividade, todos a cavalo e

armados, podendo surgir a qualquer instante. Ninguém

sabia onde eles estavam exatamente, todos temiam o seu

aparecimento.

Em janeiro do ano de 1927, Maneco, o

Intendente Distrital, estava muito preocupado com a falta

de segurança no arraial que já era uma cidade. Havia um

44

número muito grande de forasteiros, e a criminalidade

estava fora do que se pensava.

O cemitério era no meio do cerrado, onde hoje

funciona a garagem da Prefeitura. Maneco conseguiu a

doação do terreno com o coronel Cosmo José do

Nascimento e 4:000$000 (quatro contos de réis) com o

senador Adolfo Teixeira para a construção de outro

cemitério, onde existe até hoje o velho necrópole ao lado

do estádio de futebol, “O Monteirão”. Ali, no meio do

cerrado, era o cemitério onde sepultavam os trabalhadores

da construção da Ferrovia Goyaz.

A primeira escola de Pires do Rio era particular

e funcionou no local onde está instalado o Banco

Bradesco, era de dona Antonia Balem, nos anos de 1923 a

1926. No ano seguinte, transferiu-se para Santa Cruz.

Em 21 de janeiro de 1927, foi fundada a Loja

Maçônica Amor e Luz IV, na rua da estação, hoje Rua

Francisco Rodrigues Naves. Foram os fundadores:

Sebastião Dias Aranha, Zeferino Batista, João Rassi,

Antonio Jorge, David José Skaf, Jamil Weby, Ignácio Elias

Bufaiçal e Domingos Sávio. Tempos depois, foi instalado

45

na Rua Alagoas, atual Rua Rui Barbosa, onde funciona até

hoje. O terreno foi adquirido de João Gonçalves de Araújo.

No início do mês de fevereiro de 1927, um viajante

vindo de Gameleira, hoje Cristianópolis, informou que os

revoltosos já estavam em Pouso Alto, hoje Piracanjuba, a

caminho de Santa Cruz. Nessa altura, o povo já não sabia

o que fazer, a qualquer momento eles chegariam a Pires

do Rio, o Intendente Municipal de Santa Cruz, Sr.

Francisco Leopoldo dos Reis, já havia fugido.

Dia 9 de fevereiro de 1927, por volta das 23h30,

Maneco já dormia. Acordou com uma pessoa chamando- o

e levantou-se sem saber o que estava acontecendo. Era

um senhor por nome Aureliano, trazendo um bilhete do

Intendente Municipal de Santa Cruz.

A correspondência comunicava:

Prezado Maneco, hoje vivemos um dia de tormento. Os bandidos

do coronel Siqueira Campos invadiram a cidade, já cometeram

um crime logo de início, e tomaram conta de Santa Cruz, não

pudemos fazer nada, apenas pagar a quantidade exigida por eles.

Avise ao povo do Arraial para se esconder nas fazendas.

(Segundo relatos do Sr. Francisco Rodrigues de Araújo, nascido

em Santa Cruz de Goiás, no ano de 1907).

46

Na mesma noite, Maneco saiu nas casas dos

comerciantes avisando a todos. Muitos foram se esconder

no mato, outros esconderam o dinheiro, o que nada valeu.

O Aureliano cumpriu o seu dever e voltou para Santa Cruz

com obrigação cumprida.

Ao amanhecer do dia, Aureliano já estava bem perto

de casa, quando avistou à frente o batalhão de revoltosos.

Tentou se esconder no mato, mas não teve tempo. Um

deles com fuzil armado e apontado no peito do Aureliano,

perguntou com um tom de voz bem forte:

– Você está vindo de onde? Fale a verdade! Senão

vai morrer agora!

Aureliano respondeu:

– De Pires do Rio.

– Então, fale o que estava fazendo lá.

– Eu fui levar um aviso para o Sr. Maneco que os

revoltosos tinham chegado a Santa Cruz.

– Nós já estamos sabendo. Desce do cavalo, tira o

arreio, monta em pelo, e vamos voltar para Pires do Rio...

Segue na frente.

Aureliano já estava cansado e o cavalo muito mais.

Por volta das 7h, já chegando ao arraial de Pires do Rio, o

47

coronel Siqueira Campos parou, deu-lhe um bom conselho

e falou:

– Você está liberado Aureliano.

O Coronel Siqueira dividiu o grupo em três turmas,

uma na saída dos trilhos para Roncador, outra na parte

comercial do centro e a outra na estação ferroviária. Eram

aproximadamente 7h30 da manhã de 10 de fevereiro de

1927 quando um grupo de 150 homens tomou conta da

cidade de Pires do Rio, todos montados a cavalo e a

galope pelas calçadas, fazendo um ruído apavorante,

gritos e disparos frequentes de arma de fogo. A cidade

tremia. Um grupo procurou os trilhos na saída do Roncador

e, chegando lá, já foi arrancada parte dos trilhos,

impedindo saída ou entrada de máquinas da ferrovia.

Outro grupo seguiu para a estação, que foi ocupada

pelo coronel Siqueira Campos e seu imediato capitão

Alberto Costa. Os irmãos tenente Juarez Távora e capitão

Joaquim Távara tomaram conta da parte central.

Siqueira Campos, quando chegou à estação,

mandou cortar os fios da linha telegráfica e deu ordem de

prisão ao chefe, que era Cyrilo Reis, perguntando:

– Você fez comunicação de nossa chegada?

48

Cyrilo respondeu:

– Não, senhor!

O ponto inicial de partida do P-2 era Tavares (hoje

Vianópolis).

– Qual o horário de chegada aqui?

Cyrilo Reis respondeu:

– Às oito e quarenta. Às vezes se atrasa, mas é

muito raro.

– Onde fica o cofre da estação?

Cyrilo mostrou-lhe.

– Então abra o segredo – ordenou.

Saqueou todo dinheiro do cofre. Mandou Cyrilo Reis

sentar-se em uma cadeira e não se levantar. A estação

estava cercada de jagunços, o trem de passageiros já

estava atrasado.

Os minutos passavam, e o P-2 continuava atrasado,

havia suspeita de aviso na estação de Tapiocanga retendo

o trem. Os minutos continuaram passando e, de repente,

escutou-se o apito do P-2 ainda longe. O trem chegou à

estação e foi uma alegria para o povo, pois não havia mais

esperança. Cyrilo Reis até aquele momento não tinha mais

esperança, foi um alívio quando o P-2 chegou.

49

A estação estava lotada de amigos do Cyrilo

Reis, mas ninguém podia falar nada, nem chegar perto

dele. O trem na plataforma, todas as saídas dos carros

foram bloqueados pelos revoltosos. Os passageiros

receberam ordem para saírem, um a um. De cada pessoa

se exigia um documento. A locomotiva da composição era

a 301, o maquinista era o português Manoel Parada, o

chefe de trem era Joaquim Mesquita, um dos chefes de

trem mais estimado da estrada.

Siqueira Campos perguntou Mesquita pelo cofre

do trem. Mesquita respondeu:

– Está no carro breque.

– Então, vamos lá...

Mandou Mesquita abrir o segredo e pegou todo

o dinheiro que nele existia.

Deixando a estação, o capitão Alberto Costa,

com um grupo de revoltosos, dirigiu para a residência de

Maneco que no momento não se encontrava. Lá invadiram

a casa, fizeram abrir o cofre e levaram a importância de

cinco contos de réis.

Lançou uma comissão de pessoas locais e

ordenou, incisivo:

50

– Os senhores têm uma hora apenas para

transmitir aos comerciantes locais uma ordem de Siqueira

Campos: este comando requisita deles a importância de

cinquenta contos de réis, em dinheiro. Escolham, paguem

ou sofrerão no sangue. Vamos... Sem demora!

A ordem foi executada. A coleta rendeu apenas

a importância de dois contos e quatrocentos mil réis que foi

entregue a Siqueira.

O chefe revolucionário teve uma explosão de

raiva e atirou para o ar, chamou alguns comandados

encheu o peito de ar e ordenou forte e seco:

– Ao saque!

Tão definido e enérgico quanto a ordem, o

saque se cumpriu. Os pobres da periferia da cidade foram

buscados por grupos de revoltosos e obrigados a

participarem. Um furacão varreu todas as “vendas” da

cidade, as mercadorias foram retiradas das prateleiras,

para serem atiradas na rua ou colocadas sobre os ombros

da pobreza. As ruas ficaram, assim, cheias de coisas

abandonadas.

Um fato interessante: o coronel Siqueira

Campos não permitiu que seus comandados violassem o

51

recinto da Loja Maçônica Amor e Luz IV. Muitas pessoas

foram procurar abrigo no interior da Loja, tendo causado

grande repercussão, inclusive entre o clero, pelo fato de o

coronel Siqueira Campos ter tomado aquela decisão

(arquivo da Loja Maçônica, relatado por João Issa Skaf).

Outro fato interessante na história dos

revoltosos foi que grande quantidade de famílias da cidade

se escondeu no meio da mata em um desbarrancado na

fazenda Maratá (hoje bairro Jardim Maratá). Lá passaram

o dia e a noite. Era muito comentado que parecia uma

romaria. Quando chegou a notícia de que os bandidos já

tinham ido embora, alguém do grupo falou:

– É bom ficarmos mais um pouco, pode ser que

eles voltem!

Fomos informados pela senhora Graziela Félix

de Sousa Ney, que participou do fato com seus familiares:

seu pai Luciano Félix de Sousa, sua mãe dona Santinha e

seis irmãos.

52

Este grupo de revoltosos foi dividido em dois, por ocasião da chegada em

Carolina/MA”. O grupo do Luiz Carlos Prestes e Miguel Costa foram rumo a

Bahia, e o grupo do Coronel Siqueira Campos comandado por Capitão

Alberto Costa, Tenente Juarez Távora e Djalma Dutra seguiram para o sul de

Goiás.

Foto do Grupo de Revoltosos liderado por Siqueira Campos, por ocasião da chegada em Carolina/MA, de onde seguiram para Goiás percorrendo todo o Estado, de norte a sul, com rota à direita do rio Tocantins. No dia 10 de fevereiro de 1927, o grupo de 150 homens chegou a Pires do Rio, fazendo o maior dos absurdos na cidade: saquearam a estação da estrada de ferro, casas e comércio; humilharam muitas famílias; praticaram vandalismo. A cidade foi sacudida como nunca foi visto. Podemos observar os chefes sentados, sendo, da esquerda para a direita: 1º - Djalma Dutra, 2º - Coronel Siqueira Campos, 3º - Luiz Carlos Prestes, 4º - Miguel Costa, 5º - Ten. Juarez Távora, 6º - João Alfredo, 7º - Cordeiro de Faria; por trás do 4º, em pé, pode-se ver o capitão Alberto Costa e Joaquim Távora.

Um dos bandidos do grupo de Siqueira Campos com uma metralhadora, perfurou totalmente a caixa d’água que abastecia as locomotivas inutilizando-a totalmente, deixando a estação e as máquinas sem água por vários dias.

53

No armazém e na plataforma da estação, havia

mercadorias que estavam despachadas, uma grande

quantidade de manteiga Rainha de Goiaz de fabricação de

Aristóteles Lacerda, (o despacho era para São Paulo).

A linha ferroviária ao Sul estava interrompida.

Os revoltosos, à custa de armas, obrigaram os

populares a empurrarem uma gaiola carregada de

mercadorias em direção ao local em que os trilhos estavam

arrancados. A 301 também não escapou, foi lançada na

mesma direção, e o impacto foi como uma bomba. Com

tamanha velocidade atingiu vinte metros fora dos trilhos.

Um fato que se conta é que Sebastião Aranha,

dono de um circo local, escapou do saque, embora

possuísse bom dinheiro em casa. Para saqueá-lo, teria

sido destacado o imediato de Siqueira Campos, capitão

Alberto Costa, que era maçom, e Aranha era também

maçom (do livro de Wilson Cavalcanti Nogueira, Pires do

Rio – Marco da História de Goiás).

O coronel Siqueira Campos, mudou o nome da

estação Pires do Rio, onde escreveu “Prestes”. Como sua

ultima decisão, falou para o capitão Alberto Costa:

54

– Agora já podemos ir embora!

No alto da Rua do Fogo, um dos revoltosos pregou

uma placa em um pé de baru com os dizeres: “Pires do

Rio, terra de mulher bonita, cavalo bom, e homem frouxo”.

Seguiram para o Baú, onde pernoitaram. Pouco tempo

depois, a força policial chegou, atirando para todos os

lados, não respeitando nada, a casa do Maneco foi toda

perfurada de bala de metralhadora (é sempre assim)!

Os revoltosos já tinham ido embora. Acamparam na

fazenda do Senhor Augustinho Rodrigues e Benedito

Rodrigues do Nascimento, no Baú. Ficaram até o dia

seguinte, só foram embora à tarde para o Porto do

Cavalheiro, no rio Corumbá, levando o Sr. Benedito

Rodrigues onde foi libertado.

Em 24 de abril de 1927, foi assassinado o Dr.

Manoel Afonso Cavalcante, médico exemplar, notável e

amigo, profundamente humano, atendia incansavelmente a

todos que o procuravam: pobres e ricos sem distinção.

Tinha um verdadeiro carinho pelos menos favorecidos. A

gratidão popular fez dele um homem adorado.

Chegou a Pires do Rio, solteiro, com menos de 30

anos, veio para esta terra não sabendo que sua

55

permanência seria eterna. Nasceu a 20 de junho de 1894,

em Canudos, estado da Bahia, filho de um casal do grupo

de Antônio Conselheiro. No final da batalha em Canudos,

ele foi encontrado nos escombros da igreja Católica do

Arraial. Um oficial das forças legais, Clementino Fraga,

levou a criança para o Rio de Janeiro, adotou-o e o

educou. Deu-lhe o curso de médico, formado na Faculdade

da Praia Vermelha.

Dr. Manoel Afonso Cavalcante, escolheu a cidade

de Pires do Rio, onde prestou relevantes serviços e fez

muitas amizades. Figurava entre os mais ilustres

fundadores da cidade. Dr. Cavalcante foi executado a tiros

com premeditação, por Otaviano Gomes de Sá, um

conhecido assassino, o crime foi encomendado.

O povo, inconformado, levou o corpo para o Cine

Royal, onde foi velado durante toda a noite. O corpo do

médico foi sepultado no dia seguinte no cemitério local. A

cidade inteira compareceu. O cortejo de gente a pé foi o

maior já visto por muito tempo, muita gente chorava a

morte de Dr. Manoel Afonso Cavalcante.

No final do ano de 1927, foi fundado o primeiro

jornal em Pires do Rio, pelo farmacêutico José Alves. Os

56

exemplares traziam o nome da cidade “Pires do Rio”. Seu

fundador, lamentavelmente, teve um final infeliz, suicidou-

se na cidade de Urutaí, onde prestava serviço.

O primeiro automóvel chegou a Pires do Rio em

1928. O proprietário era o senhor Geminiano Carneiro de

Mendonça. Era um carro Lincoln presidencial conversível

de 8 cilindros. O veículo causou grande admiração no povo

da cidade. Quando correu a notícia de que tinha chegado à

estação um automóvel, todo mundo queria ver de perto o

carro que ainda estava em cima da prancha da estrada de

ferro. Quando Geminiano saía à rua, a meninada corria

atrás para vê-lo de perto.

Pires do Rio ainda não tinha campo de futebol. Em

1928, Francisco Cavalcanti Nogueira, filho do intendente

distrital, Manoel Cavalcanti Nogueira, fez um campo de

pelada em um terreno de seu pai, local onde está

construído o Mercado Municipal.

Todos os dias à tarde, tinham treinos, o que levava

muito gente para ver a turma brincar com a bola que tinha

uma câmara de ar e era cheia com uma bomba. Quando a

câmara de ar furava, a turma ficava sem treinar. A

garotada fazia bola de meia, de pano, para jogar. O chefe

57

do time dos garotos era o Mario Lacerda, e aproveitavam o

campo para treinar o dia inteiro. Os jogadores do time dos

adultos eram: Francisco Cavalcante, Tomé, Pedro Perigo,

João Cândido, João de Paulo, Aquilino Edreira,

Senhozinho Porto, Aristóteles Lacerda, Marcio Tatu,

Alberto de Paula, Artur Batista, Godofredo Batista, Clovis

Nascimento, David Troncoso, Armando Miranda Storni,

Nadra Bufaiçal e Benevides. Posteriormente, foram

aparecendo outros bons jogadores, até que um dia foi

fundado o Pires do Rio Futebol Clube e, depois, outros

times, (dados biográficos Artur Batista).

Dia 9 de maio de 1929, chegaram a Pires do Rio os

senhores João Dutra, João Guiotti e Virgílio Lopes

(Caetano). João Dutra chegou de Sacramento, era natural

de Araxá (MG); João Guiotti era natural de Conquista

(MG); O Virgílio Lopes veio de Conquista, mas era natural

de Batatais (SP).

Nesse dia era o aniversário da jovem Maria

Damasceno, filha do Sr. Francisco Damasceno, fundador

da banda de música da cidade, pessoa que trazia muita

alegria para o povo. Maria Damasceno era noiva e não

sabia o que o destino lhe tinha reservado.

58

Os recém-chegados a Pires do Rio foram

convidados para o baile e marcaram presença! João Dutra

tocava violão, e Francisco Damasceno o convidou para

tomar parte ao lado dos músicos. Logo se percebeu que

João e Maria trocavam silenciosos olhares de amor. Na

verdade, foi um final feliz. João e Maria se uniram na vida

conjugal, instalaram-se em Pires do Rio e montaram uma

grande Indústria de Ferragens e Madeiras, onde

fabricavam-se portão, carroças, carro de boi e carrocerias,

João Dutra construiu muitas casas na cidade.

Deixou uma numerosa família. Foi um dos

fundadores da Loja Maçônica Gênesis nº 10, em 1948. Era

político atuante sendo, inclusive, conhecido em suas

campanhas como o “Homem da Bigorna”. Adorava Pires

do Rio, onde viveu aqui até sua morte, João e Maria

descansam na eternidade.

No ano de 1929, chegou a Pires do Rio, Dr. Josino

da Gama Filgueiras Lima, recém-formado na Faculdade de

Medicina, na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Em

Seguida, chegou Dr. Taciano Gomes de Melo. Foram dois

médicos que marcaram seus nomes na História de Pires

do Rio.

59

Em janeiro de 1930, o senador federal, Dr. Antônio

de Ramos Caiado, na sua passagem para o Senado no

Rio de Janeiro, desceu em Pires do Rio e foi muito bem-

recebido pela população na residência do Sr. Manoel

Cavalcanti Nogueira. Houve rápida solenidade, almoço e

discursos.

Chefe do “Partido Democrata”, falou da necessidade

imperiosa de o Distrito de Pires do Rio ser elevado à

categoria de Município. Disse, entre outras palavras, o

seguinte:

– Há muito tempo, nas minhas passagens para

Senado Federal, no Rio de Janeiro, venho observando que

Pires do Rio tem progredido sensivelmente, mas nada

poderia fazer em seu benefício sem ouvir as palavras de

meu grande amigo senador Adolfo Teixeira, aqui presente.

Mas, agora que ele quer e precisa, Pires do Rio, senhores,

não mais será vila, mas cidade.

Muitos aplausos foram ouvidos com vivas ao

eminente homem público. Com isso, Pires do Rio lucrou. A

independência do então distrito já estava assegurada. O

senador Dr. Antônio de Ramos Caiado regressou para o

Rio de janeiro, deixando muita esperança, (F. Acciolli).

60

Em 4 de julho de 1930, a Lei Estadual nº 903 cria o

Município de Pires do Rio. Em 20 de Agosto de 1930, o

Decreto Estadual nº 10.895, nomeia Dr. Josino da Gama

Filgueiras Lima, para Intendente Municipal, e os

Conselheiros: Francisco Accioli Martins Soares, Domingos

Sávio, Cel. João Rincon, Elias Helou, Antônio Nicolau de

Paiva, Armando Miranda Storni e Armindo Teixeira França.

Em 7 de setembro de 1930, na Praça da Bandeira,

com a presença do Dr. Humberto Martins Ribeiro,

presidente do Estado de Goiás em exercício, tomam posse

Dr. Josino da Gama Filgueiras Lima, Intendente Municipal

e os Conselheiros nomeados.

Os piresinos comemoram essa data com grande

festa. Dr. Balduíno Ernesto de Almeida não conteve as

lágrimas ao receber a notícia em São Paulo.

Dia 8 de setembro de 1930, foi instalado o termo

judiciário pelo Juiz de Direito da Comarca de Santa Cruz

Dr. Cylleneu de Araújo, nomeando os seguintes cargos

para o judiciário: Tabelião 1o Ofício: Isaac Martins; Escrivão

de Órfãos: Ciriaco Geminiano Cabral.

Dr. Josino da Gama Filgueiras Lima, por motivo de

saúde, afasta-se do cargo de Intendente Municipal e vai

61

para o Rio de Janeiro à procura de tratamento, sua

enfermidade era grave. Não teve recurso, vindo a falecer

em 14 de novembro de 1930, junto a seus familiares, em

sua terra natal.

Dia 14 de novembro de 1930, o Conselho Municipal

recebeu a comunicação do falecimento de Dr. Josino da

Gama Filgueiras Lima.

A cidade ficou de luto, considerando que Dr. Josino

era o prefeito e sempre foi uma pessoa humana, de bom

relacionamento e prestígio, pela sua personalidade. Bom

médico e bom amigo.

62

Fazenda Vargem – Baú, 1930. Propriedade do senhor Benedito Rodrigues

Reunião Política na residência do Sr. Benedito

Rodrigues do Nascimento, na Fazenda Vargem – Baú,

1930. Propriedade do senhor Benedito Rodrigues.

Personalidades da fotografia: da esquerda para

direita:

01- João Rincon Segóvia 09- Aquilino Edreira

02- Guilherme Rodrigues 10- Amin Rassi

03- Geminiano Carneiro 11- Cecílio Abrão

04- Taciano Gomes Melo 12- Latif Rassi

05- Cosme José do Nascimento 13- Magid Helou

06- Benedito Rodrigues do Nascimento 14- Negi Abdala Rassi

07- Augustinho Rodrigues 15- Felício Nassar

08- David Abdala 16- José Mariano

63

Eduardo U. Silva nasceu em 13 de

outubro de 1895, em Estrela do Sul (MG)

e faleceu em 20 de janeiro de 1971, em

Pires do Rio. No dia 15 de novembro de

1930, o Sr. Eduardo U. Silva tomou posse

no cargo de Intendente Provisório de Pires

do Rio, para o qual foi designado pelo decreto nº 16, do

Governo Provisório do Estado de Goiás, permanecendo

neste cargo até da data 09/02/1931.

Com as presenças do Exmo. Sr. Dr. Cylleneu de

Araújo, digníssimo juiz de Direito da comarca de Santa

Cruz; do Sr. Delegado de Polícia da cidade; Agente do

Correio Postal; Agente da Estação da Estrada de Ferro

Goyaz; Coletor Estadual; Tabelião do 1º e 2º Ofício;

Escrivão do Registro Civil; respectivamente todos da

cidade de Pires do Rio.

O novo intendente municipal Eduardo U. Silva

apresentou os nomes de sua equipe para a nova

administração:

Secretário da Administração: Sebastião Silva;

Tesoureiro: Rodrigo Sandoval, acumulando o cargo

de chefe do patrimônio público municipal;

64

Fiscal: Lindolfo da Silva Rios;

Inspetor de Veículos: Tenente João Francisco

Póvoa.

Ata enviada ao Interventor Estadual, Dr. Carlos

Pinheiro Chaga, Intendente Municipal de Pires do Rio, 15

de novembro de 1930.

José Dotas, Secretário Provisório.

65

66

Ofício de posse do Intendente Eduardo U. Silva

67

Conselho Municipal :Armando de Miranda Storni

para presidente do Conselho, Acary de Moraes, Manoel

Cavalcanti Nogueira, Luiz Pitaluga, Manoel Getúlio Lobo,

Luciano Félix de Souza, João Evangelista Ferreira e João

Batista Soares. De início, gerou certo desentendimento no

meio político em Pires do Rio, não sendo aceitos para o

cargo do Conselho: Manoel Getúlio Lobo, João Batista

Soares e João Evangelista Ferreira. Foram designados

para substituí-los: Zeferino Batista, Otacílio França e

Francisco Rodrigues Naves.

Em 1930, Cosme José do Nascimento foi a

Araguari (MG) e comprou uma camioneta Ford (Fordinha -

1929) e a trouxe de trem. Guardou-a na garagem e nunca

aprendeu a dirigir o veículo, dois anos depois, vendeu-a

para o Sr. João Dutra.

Dr. Cylleneu de Araújo veio de Santa Cruz e de

início enfrentou sérios problemas políticos na Comarca de

Pires do Rio.

A situação política em Pires do Rio, entre o

Intendente Municipal e os conselheiros não era boa, não

se entendiam, havia uma formação de culpa. Dois

68

cidadãos de projeção local, pertencentes ao Conselho

Municipal: Acary de Moraes e Luciano Félix de Souza,

acabaram sendo levados à prisão.

O Intendente no dia 19 do corrente ordenou

medidas ilegais e violentas contra a liberdade,

quando estes procuravam exercer um direito

garantido pelas Leis da República.

Considerando ainda que muitas tenham sido

as reclamações dirigidas ao governo,

(conforme mostra ofício nº 30 da página 52 –

Marco da História de Goiás, de Wilson

Cavalcanti).

Um fato muito comentado na época foi que a

cadeia era particular e tinha sido construída pelo Cel.

Cosme José do Nascimento, no local onde hoje está

instalada a praça de esporte Angelino Oliveri. Por ocasião

da prisão do Dr. Acary de Morais e Luciano Félix de Souza,

Cosme José do Nascimento pegou duas juntas de bois de

carro e levou até a cadeia. Chegando lá, havia muita gente

na porta do presídio, Cosme falou:

69

– Soltem esses homens ou eu derrubo o prédio!

Pois fui eu que o construí, e os bois estão aqui para, se for

necessário, pôr o prédio no chão.

Dr. Acary e Luciano foram soltos

imediatamente, o povo aplaudiu.

_______________________________________________

“O Intendente Municipal decreta medidas violentas”

Offício nº. 30

Em 31 de dezembro de 1930.

Ilmo Sr. Delegado de Polícia, Nesta Cidade.

Cabendo-me, pelo disposto no artigo 11 do Decreto n°.267, de 24

de Novembro de 1930, do Interventor Federal neste Estado,

manter a ordem e a segurança publica neste Município,venho

solicitar de V. Exa expedição de editais e outras providência no

sentido de serem proibidos alguns abusos, tais como: excesso de

velocidade, contra mão, businar demasiadamente e aberturas de

canos de escapamento no automóveis e caminhões desta praça

os que por esta cidade transitarem, assim como a falta de

apresentação de cartas por parte dos pespectivos choufferes.

Tais medidas precisa também serem tomadas para repressão de

vadiagem, jogo de azar, inclusive o denominado jogo de bicho e

outros carteados, porte de armas, agrupamento em esquinas,

ruas e praças, tiros e algazarras meretrício escandaloso e outros

70

maus costumes contrários à moral pública. Saudações (a)

Eduardo U. Silva. Prefeito Municipal. (Transcrito da pag. 73).

71

72

Dr. Pedro Ludovico Teixeira, Interventor Federal em Goiás, em

vista dos fatos ocorridos em Pires do Rio, exonera o Intendente

Municipal Sr. Eduardo U. Silva do cargo e, para o mesmo,

nomeia o Dr. José Marinho Magalhães, bacharel em Direito.

Palácio da Presidência do Estado de Goiás 24 de Janeiro de 1931.

(a): Pedro Ludovico Teixeira, Interventor Federal de Goiás.

Dr. José Marinho tomou posse no cargo de

Intendente de Pires do Rio em 9 de fevereiro de 1931. De

início, municipaliza a cadeia e o cimitério da cidade

(patrimônio municípal). No dia 11 de julho de 1931, baixou

o decreto nº 22, dando denominação às ruas, praças e

travessas desta cidade.

...Em 14 de março de 1931, pagamento feito a Cyriaco

Gemeniano Cabral, tabelião do 1º Oficio desta Comarca, correspondente a

emolumentos e selos de registro de uma escritura de compra do prédio da

cadeia desta cidade, feita a Cosme José do Nascimento e transferida, de logo,

ao domínio deste estado...

... compareceu também o Sr. Vasco Cavalcante Nogueira, como

procurador de Manoel Cavalcante Nogueira, que apresentou requerimento

escrito pedindo pagamento da importância de um conto, oitocentos e quarenta

e três mil e quatrocentos réis (1:843$400), que o requerente se julga credor

desta prefeitura pelo restante do que dispendeu com a construção do

Cemitério Público desta cidade...

73

DECRETO Nº 22, DE 11 DE JULHO DE 1931.

Dr. José Marinho de Magalhães, Intendente

Municipal de Pires do Rio, usando das atribuições que lhe

confere o Decreto nº 237, de 24 de novembro de 1930, do

Interventor Federal do Estado de Goiás e considerando que as

ruas, praças e travessas desta cidade ainda não têm

denominação, decreta:

Artg. 1º: Ficam denominadas as seguintes ruas:

1ª denomina-se Rua Minas Gerais.

2ª denomina-se Rua Sergipe

3ª denomina-se Rua Bahia

4ª denomina-se Rua do Comércio (hoje Av. Castelo Branco)

5ª denomina-se Rua Djalma Dutra (hoje Joaquim Antônio

Teixeira)

6ª denomina-se Rua do Pará

7ª denomina-se Rua Alagoas

8ª denomina-se Rua Porto Alegre

9ª denomina-se Rua Rui Barbosa

10ª denomina-se Rua do Recife

11ª denomina-se Rua Amazonas

12ª denomina-se Rua Goiaz

74

13ª Praça, o largo onde acha situada a Igreja desta cidade

denomina-se Praça 24 de Outubro

14ª O largo central denomina-se Praça Dr. Cavalcanti

15ª denomina-se Travessa Ceará

16ª denomina-se Travessa Santa Catarina

17ª denomina-se Travessa Paraná, Bairro do Fogo

18ª denomina-se Av. João Pessoa, Bairro do Fogo

19ª denomina-se Rua Piauí

20ª denomina-se Rua Soledade, Bairro do Fogo

Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário

Pires do Rio, 11 de Julho de 1931

(a) José Marinho de Magalhães – Intendente Municipal.

No Decreto de 23 de Agosto de 1931, Artigo 1º, fica

determinada a criação da Praça São Paulo, onde hoje se situa a

Quadra de Esporte Angelino Oliveri e a Maternidade Carmelita

Dutra desta cidade.

Revoga-se as disposições em contrário.

O secretário faço registrar e publicar.

Pires do Rio, 03 de Agosto de 1931.

José Marinho Magalhães

Intendente Municipal.

75

(As ruas, avenidas, travessas e praças às quais foi dada

a denominação pelo decreto nº 22 de 11 de julho de 1931, todas

serão sorteadas pelo conselho municipal de Pires do Rio.

Intendente municipal Dr. José Marinho de Magalhães).

Em 1931, chega a Pires do Rio o primeiro sacerdote

o padre José Trindade, para dirigir a capela recém-

construída pelo Dr. Benedito Amorim e os católicos da

cidade. Dois anos depois, o padre Trindade foi transferido

para Anápolis e substituído pelo padre Ângelo Garcia. A

capela ficava na praça pública da cidade, praça Dr.

Cavalcanti, hoje atual Praça Gaudêncio Rincon Segóvia.

Jacy Siqueira em sua declaração em seu livro:

Um Contrato Singular, página 146, afirma:

Os atuais historiadores não se preocupam com a história, os

fatos, as personagens e o culto da verdade; desconhecem

figuras ilustres, pessoas que contribuíram para o progresso de

Pires do Rio e o levaram ao conhecimento da nação brasileira.

Referimo-me ao médico Dr. Taciano Gomes de Melo, alagoano,

vindo para Goiás nos primórdios do ano de 1930, casado na

família Xavier de Almeida, em Goiás.

__________________________________________________

76

Dr. Taciano Gomes de Melo nasceu em 12

de janeiro de 1904, na cidade de Capela,

estado de Alagoas. Veio para Morrinhos

Goiás, onde seu irmão Dr. Sílvio Gomes de

Melo era chefe político. Taciano mudou

para Pires do Rio, médico dedicado, foi

intendente (prefeito), nomeado por Dr. Pedro Ludovico, por

vários mandatos. Foi eleito pelo voto livre: em dois

períodos, deputado estadual de 1947 a 1951, foi

presidente da Assembleia Legislativa (neste período

ocupou o Governo de Goiás por ocasião do afastamento

de Dr. Pedro Ludovico Teixeira, para tratamento de saúde);

deputado federal em 1955-1959; senador da República em

1959, renunciando à cadeira em 1961 para Juscelino

Kubitschek se candidatar a senador por Goiás. Foi ministro

do Tribunal de Contas do Distrito Federal, 1960-1969,

aposentado em 30 de abril de 1969 pelo presidente da

República com base no AI-5, suspensos e cassados seus

direitos políticos por 10 anos. Faleceu em 4 de julho de

1986.

Não existem registros comprovando a data de

chegada do Dr. Taciano Gomes de Melo em Pires do Rio.

77

Segundo consta no livro Contrato Singular, pág. 146, de

Jacy Siqueira, sua vinda para Goiás se deu nos primórdios

dos anos 30.

Dr. Taciano não existe mais entre nós, a

saudade ficou para sempre e seu trabalho como memória.

“Memória do saudoso Francisco Accioli”

FUNDAÇÃO DA CIDADE DE PIRES DO RIO

Prof. Francisquinho Accioli, como era conhecido.

Francisco de Assis Martins Soares

*1913 +1999

Houve quem sustentasse que a fundação da

cidade não foi o que se evidencia no Obelisco sito ao lado

do Mercado Municipal – prédio iniciado e concluído na

gestão do ex-prefeito, Sr. Gaudêncio Rincon Segóvia.

78

Numa das faces do aludido Obelisco, há os

dizeres que assinalam a versão que dá como fundação da

cidade o dia 9 de novembro de 1922.

Foi erigido o mencionado marco pelo

engenheiro Balduíno Ernesto de Almeida, diretor da

Estrada de Ferro de Goyaz, o qual deu nome à nossa

estação em homenagem ao então ministro da Viação e

Obras Públicas, Dr. José Pires do Rio. Comentou-se, à

época, que naquele local, de vasta extensão, poderia ser

construída uma escola, para levar o ensino às crianças das

famílias dos trabalhadores da estrada de ferro e outros

locais já numerosos.

Outro não foi, portanto, senão o Dr. Balduíno o

construtor do Obelisco. Assistimos a esse trabalho do

ilustre diretor, orientando os pedreiros da estrada de ferro

que, açodadamente, davam os últimos retoques e o

respaldo, seguindo-se, então, a festiva inauguração oficial

de nossa estação com discursos ao pé do Obelisco.

Longos anos, permaneceu a Estrada de Ferro

de Goyaz com sua ponta de trilhos na estação de

Roncador, sem motivos justificáveis, com grandes

prejuízos para uma vasta zona do Estado que outros meios

79

de transportes não tinha a não ser carros de bois

rechinando, tardos e monótonos, em estradas poeirentas

no tempo da estiagem e ora cobertas de lama proveniente

das enxurradas fluviais; tropas de burros enfileirados e

obedientes, caminhando ofegantes em campos abertos,

sob a escaldante soalheira do verão e, quando no rigor das

chuvas, sobre terrenos alagadiços e com muitos atoleiros.

Tudo isso com graves riscos das mercadorias para as

cidades interioranas.

“A visita providencial do Ministro da Viação – Dr.

José Pires do Rio – até Roncador, em 25/08/1921,

observando em todo o longo da Goiás” as prementes

necessidades dela, deu lugar a que fosse intensificado o

prosseguimento da importante linha férrea, ordenando o

Ministro o lançamento mais breve possível da ponte

metálica sobre o majestoso rio Corumbá, inaugurada

simbolicamente pelo Dr. Balduíno e seus competentes

engenheiros.

Ele mesmo, Dr. Balduíno (segundo fomos

informados), acionando a alavanca da locomotiva a vapor,

seguro estava da sólida construção da referida ponte pelo

notável engenheiro, Dr. Eugênio Guimarães. Foi um

80

grande passo para o progresso desta vasta região. À

referida e tão linda ponte, foi dado o nome de “Epitácio

Pessoa”, em homenagem muito merecida ao ínclito e

saudoso presidente da República que, naquela época

difícil, fizera algo de bom para o nosso Estado, que,

parecendo filho enjeitado da Nação, anos decorreram em

triste abandono diante de todos os seus irmãos da

Federação.

Nenhum Presidente anterior à administração do

culto e inolvidável paraibano olhara tanto esse Estado,

sobretudo no terreno ferroviário. O lançamento da ponte

metálica sobre o rio Corumbá deve-se àquele brasileiro e

constituiu um traço de união entre o nosso Estado e o de

Minas Gerais pela importante ponte, também metálica,

sobre o rio Paranaíba, formando uma corrente de elos

indestrutíveis, ligando o Centro-Oeste com o Sul do País,

facilitando o comércio e as relações com o Sudeste do

Brasil.

Afinal, depois de alguns meses, a 9 novembro

de 1922, teve lugar a inauguração de nossa estação

férrea. Veio o “Trem de ferro” ligar essas paragens aos

grandes centros consumidores e adiantados do País,

81

máxime à antiga Metrópole deste Estado e desta cidade do

interior que, por longos anos, viveram isoladas desse meio

de comunicação rápido, tendo Araguari – ponto terminal da

“Companhia Mogiana” – como seu entreposto comercial.

Ao aproximar-se o Comboio Inaugural, silvos estridentes,

ininterruptos, eram ouvidos das locomotivas a vapor,

assinalando o despertar dessas paragens, então selvosas,

na sua taciturnidade, ao mesmo tempo em que

empolgando de entusiasmo a alma do povo aglomerado na

“Garagem” da estação e adjacências.

Entre três e quatro horas da tarde, mais ou

menos, céu claro e esplendente de sol e depois a chuva,

era enorme a assistência de pessoas de Roncador, de

Santa Cruz e fazendeiros vizinhos (inclusive nós). Estava

presente, também, o pioneiro número um de Pires do Rio –

o saudoso Manoel Cavalcanti Nogueira (Maneco – assim

mais conhecido do povo) que, então, aqui residia com sua

família e mantinha uma casa comercial na antiga praça da

estação. Estrepitosas palmas e vivas foram ouvidas.

Há um fato importante na história de Pires do

Rio: era intenção do engenheiro Balduíno ao ser

inaugurada a nossa estação, deixá-la como ponta de linha,

82

como fora Roncador. Isso para que Pires do Rio crescesse

populacional e comercialmente em futuro próximo.

Enquanto isso, ele, Dr. Balduíno, prosseguiria a construção

da estrada de ferro e de outras estações para frente, o que

levaria muitos meses, e os comerciantes e atacadistas da

praça do Roncador, logo se transfeririam para Pires do Rio,

trazendo o mesmo influxo de progresso que naquela

estação implantaram.

Era esse o plano concebido e delineado pelo

Diretor de nossa Via-Férrea, plano, aliás, muito

interessante. Pires do Rio seria, hoje, grande cidade, mas,

por razões que não queremos comentar para não ferir

suscetibilidades, nossa estação deixou de ser ponta de

linha. E lá se foi o Dr. Balduíno, Diretor da estrada no

limpa-trilhos do “Trem inaugural", rumo a Tapiocanga,

primeira estação adiante de Pires do Rio, inaugurada com

um simples vagão. Quando ali não havia construção de

prédio algum.

De caso premeditado, ou contrariado nos seus

objetivos com relação a Pires do Rio, o Dr. Balduíno

tomara aquela repentina resolução. Com aquele gesto

impulsivo do Diretor da Estrada de Ferro, ao invés de Pires

83

do Rio, fora Tapiocanga ponta de linha de relevo comercial

por alguns anos, não se transformando numa cidade

porque não houve estímulo à altura da parte do proprietário

da fazenda Pavão. Preferiu o seu sossego a ter perto de si

muito movimento. Assim, Tapiocanga acabou, não ficando

no local nenhuma construção, desaparecendo inteiramente

o antigo arraial bastante movimentado.

Anteriormente à escolha do local onde se

construiria a primeira estação à margem direita do rio

Corumbá, nós e os coronéis João Rincon e Antônio Alves

Teixeira propuséramos ao Dr. Balduíno, Diretor da Estrada

de Ferro de Goyaz a localização da primeira estação

aquém rio Corumbá, no lugar onde se construiu mais tarde

o Posto de “Soldado Esteves” da referida ferrovia.

Julgávamos que o local já mencionado atenderia

plenamente às exigências topográficas para sediar uma

estação. Dr. Balduíno achou muito interessante a nossa

sugestão, que atendia à exigência de doação de uma área

de quatro alqueires à Estrada de Ferro e ficou de deliberar

sobre o assunto em ocasião mais oportuna. Enquanto isso,

o Conselho Municipal de Santa Cruz trabalhava em prol da

construção da primeira estação à margem direita do rio

84

Corumbá, no local denominado Fazenda Brejo, de

propriedade do Cel. Lino Teixeira de Sampaio. Para isso,

solicitou o empenho do então presidente do estado de

Goiás, Cel. Eugênio Jardim, para aquele lugar denominado

Sampaio.

De volta de uma viagem que fizemos a Sergipe,

encontramos um ofício a nós dirigido pelo Dr. Balduíno

Ernesto de Almeida, do teor seguinte:

Não foi possível colocar a estação para servir a

cidade de Santa Cruz, no local que havíamos

examinado, em virtude do Conselho Municipal

daquela cidade empenhar-se junto ao

Presidente do Estado para ser no lugar

denominado Sampaio.

Estava frustrada a nossa pretensão, ficando

desprezada a nossa ideia, e a estação seria construída

mesmo no local denominado Sampaio. Deixemos de lado

essas querelas e passemos ao assunto que mais nos

interessa e que nos propusemos tratar.

“A história, disse o culto escritor Joaquim

Ribeiro, filho do filósofo João Ribeiro, não dispensará

85

documento”. Para o principal fim deste, na busca cansativa

de documentos, não os pude encontrar com facilidade,

faltando alguns, infelizmente.

Nas proximidades do lugar onde estava sendo

construída a Estação, começou a surgir um povoado que

cresceu rapidamente, deixando para trás a velha Santa

Cruz. Isso constituiu um dos motivos que geraram um

ressentimento recíproco entre os habitantes de Pires do

Rio e Santa Cruz. Enquanto isso, o núcleo populacional

expandia, o que constituía motivo para que os santa-

cruzanos não vissem o caso com bons olhos, talvez

receando um futuro bem melhor para Pires do Rio.

O novo arraial crescia rapidamente e, em menos

de dois anos, foi elevado à categoria de Distrito pela Lei n°

66, de agosto de 1924, do Conselho Municipal de Santa

Cruz. As autoridades para a direção do Distrito foram as

seguintes: Juiz Distrital – João Batista Soares; Sub-

Intendente Distrital – Manoel Cavalcanti Nogueira; Escrivão

Distrital – Severiano Batista de Oliveira; e Agente da

Procuradoria Distrital – João Lima.

Essas autoridades prestaram, nos seus cargos,

os mais relevantes serviços com o máximo critério e

86

probidade em toda linha, honrando os notáveis pioneiros

nos primórdios de Pires do Rio. Seus nomes serão sempre

evocados por nós e pelos que com eles militaram na

política em prol do progresso local. Saudosas

reminiscências, temos, desse passado honrado. A morte

que levou alguns deles para o túmulo não obscurecerá

jamais seus nomes. E repetimos: serão por toda Pires do

Rio recordados e sempre redivivos em todos os tempos na

memória. Severiano Batista, que pensamos ainda

sobrevive em Formosa, não levou de seus trabalhos a

economia feita aqui, deixando construída uma boa

residência, hoje pertencente à família do falecido Sr.

Francisquinho de Paula Soares, que antes pertencera ao

antigo chefe político, e já falecido também, Cel. Adolfo

Teixeira, por oferecimento dos seus amigos políticos de

Pires do Rio.

Pontos Históricos de Pires do Rio, pp. 19-21

Francisco Accioli.

-------------------------------------------------------------------------------

87

Saudade do professor Francisco de Assis

Martins Soares (Francisquinho Accioli). Filho do

farmacêutico Dr. Francisco Accioli e Maria Teófila Martins

Soares. Nasceu em 4 de outubro de 1913, em Orizona,

Goiás. De 1932 a 1934, foi professor da Escola Normal

Joaquim Bonifácio, na cidade de Pires do Rio. Foi Coletor

Federal e, posteriormente, exerceu o cargo de Secretário

da Administração da Prefeitura de Pires do Rio, em 4

períodos, professor do Colégio Sagrado Coração de Jesus,

dedicou sua vida à área da Educação exercendo o cargo

de professor, como ele gostava de ser chamado. Lá no

Céu, junto a Deus, em silêncio, sua alma descansa em

paz.

O autor.

88

DR. PEDRO FERREIRA DE AZEVEDO

Para todos nós, foi um grande

exemplo de força, trabalho, dignidade e

honestidade. Nasceu na cidade de Goiás

em 16 de abril de 1913. Concluiu o curso

de Direito em dezembro de 1936, na Faculdade de Direito

de Goiás (cidade de Goiás). Em dezembro de 1937,

chegou a Pires do Rio. Sua primeira atividade nessa

cidade foi assumir a Secretaria da Administração da

Prefeitura Municipal, convite feito pelo prefeito Dr. Taciano

Gomes de Melo. Conheceu dona Maria Abadia Rincon com

quem contraiu matrimônio em 15 de setembro de 1943, de

cuja união nasceram seis filhos: Ferreira, Heloisa, José,

Maria da Glória, Antônio Augusto e Eliane.

Dr. Pedro foi um exemplo em sua vida. Lembramos

que sempre foi uma pessoa querida, prestativa e amiga.

Foi grande defensor dos direitos humanos, sempre pronto

a ajudar os pobres, tinha uma conduta impressionante,

defendia os princípios morais da família.

Sentimos muito a falta do nosso Dr. Pedro Ferreira

de Azevedo, que faleceu em 11.01.1982.

89

Fontes e Origens das Pesquisas

Este trabalho só se tornou possível graças às

pesquisas realizadas no interior do rico arquivo histórico

pessoal da renomada e competente professora, dona

Graziela Félix de Souza Ney (in memoriam).

Maior brilho e fidelidade foram obtidos por meio

de relatos de pessoas de indiscutíveis conhecimentos e

fidelidade dos fatos, posto que vivenciaram muito do que

aqui se acha relatado, foram elas, entre muitas outras, as

seguintes pessoas:

I. Francisco de Assis Martins Soares (in memoriam)

II. Euclides Demóstenes Lobo (in memoriam)

III. Gaudêncio Rincon Segóvia (in memoriam)

IV. Manoel Rodrigues (in memoriam)

V. Eugênio Escremin (in memoriam)

VI. João Issa Skaf

VII. Antônio Rodrigues (in memoriam)

VIII. Wilson Cavalcanti Nogueira (in memoriam)

90

Não é demais ressaltar que grande parte desses

relatos históricos faz parte do rico acervo que pertence ao

patrimônio histórico da Prefeitura Municipal de Pires do Rio

e que, não obstante, está quase que relegado a um solene

abandono, muito embora, ressalte-se, entregue aos

cuidados da competente zelosa e atenciosa Paula Kenya

Martins Gomes.

‘‘Bibliografia’’

Incidente em Pires do Rio.

Marco da historia de Goiás.

Wilson Cavalcante Nogueira

______________ / / _______________

Ponto Histórico da Cidade de Pires do Rio.

Profº. Francisco Accioli

______________ / / _______________

Opus.

Pires do Rio

Um contrato singular

Jacy Siqueira

91

JOSÉ PIRES DO RIO

Nasceu em 26 de novembro de

1880, na cidade de Guaratinguetá, em São

Paulo. Foram seus pais: Rodrigo Pires do

Rio e dona Ana Rangel de Barros Pires do Rio.

Iniciou os estudos secundários no Ginásio São

Joaquim, em Lorena, e os terminou no curso anexo à

Faculdade de Direito de São Paulo.

Ainda muito moço, com 16 anos, matriculou-se

na famosa Escola de Minas de Ouro Preto, onde, em 1903,

recebeu o grau de engenheiro civil e de minas. Fizera esse

curso com tão alto brilho que a Congregação lhe conferiu a

recompensa máxima – o prêmio de viagem à Europa, que

o laureado aproveitou em demorada excursão ao antigo

continente para estudar, principalmente, os seus portos de

mar. Do que vira de útil, deu conta à sua antiga Escola, em

relatório publicado em seus Anais.

Muito embora a pesada tarefa na Escola de

Minas, ainda achou tempo para satisfazer a curiosidade

científica, matriculando-se simultaneamente durante os

92

últimos anos do seu curso de engenharia na Escola de

Farmácia de Ouro Preto, por onde também se diplomou.

Engenheiro, começou a trabalhar na antiga

Comissão do Porto do Rio de Janeiro e, durante o lapso de

1906 a 1910, a sua competência foi realçada em

importantes comissões de estudos na Argentina, na

Europa e na América do Norte. Nesse ínterim, passou

algum tempo no Panamá para examinar as obras do canal,

que então se concluíam. Voltando ao Brasil, foi destacado

para servir no porto e nas obras da barra do Rio Grande,

no estado do Rio Grande do Sul, posto de onde saiu para

dirigir, durante quatro anos (1911-1914), um dos distritos

da Inspetoria de obras contra a seca. Regressando dessa

comissão ao Rio de Janeiro em 1915, teve outra, na

Estrada de Ferro Central do Brasil, indo, então, ao Estado

do Rio Grande do Sul para estudar a questão do carvão

nacional quando teve oportunidade de publicar O

Combustível na Economia Universal, trabalho

profundamente mediato, que o consagrou sociólogo e

economista. A 1ª edição é de 1916 e, posteriormente,

saíram duas outras, respectivamente, em 1942 e 1944.

93

Ainda em 1916, o engenheiro Dr. Abrão Reis,,

que tivera o encargo de dirigir as obras de emergência que

se executavam no Nordeste para atenuar os efeitos de

devastadora seca de 1915, convidou-o para inspecioná-

los. Aceita a incumbência e, com o brio que punha no

desempenho da função pública, percorre no desconforto

dos sertões calcinados, todos os serviços, por mais

distantes e difíceis de acesso os locais de sua execução.

E, sobre cada um dos trabalhos inspecionados, dá conta

que vê em relatórios de extrema franqueza, modelos de

probidade fiscalizadora.

Vai, em seguida, ao extremo norte do País para

visitar a Amazônia, excursão imposta pelo desejo de

melhor conhecer o Brasil. E aproveita a viagem para ver

com olhos de engenheiro as estradas de ferro Madeira-

Mamoré, Alcobaça a Praia da Rainha, Belém a Bragança,

São Luiz a Terezina, e Central do Rio Grande do Norte.

Cada uma delas merece-lhes exaustivos estudos, todos

publicados no Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, de

onde lhe veio autoridade para aceitar o cargo de Inspetor

Federal de Estradas. Essa distinção lhe é dada pelo

Governo de Delfim Moreira, vice-presidente da República,

94

em Exercício da Presidência pelo impedimento, por

doença, do Dr. Rodrigues Alves. No exercício dessa

função, que se prolongou de 15 de novembro de 1918 a 28

de julho de 1919, relata no fim de 6 meses de

administração, com extrema franqueza, as condições

precárias de algumas de nossas ferrovias e aponta as

medidas para resolver as dificuldades existentes, em

documento que se tornou clássico na política ferroviária

brasileira.

Findo o governo Delfim Moreira, o seu sucessor,

Dr. Epitácio Pessoa, fá-lo seu ministro da Viação,

justificando a sua escolha com os seguintes conceitos

consagradores do seu mérito:

O Ministro da Viação é um homem novo.

Talvez ninguém esperasse ver nesta lista um

nome como o dele. Escolhi-o para significar o

alto apreço em que tenho a mocidade

brasileira, que se distingue pelo talento, pelo

estudo, pelo caráter, pelo trabalho. Quis

mostrar que não é só a política o caminho

para as mais altas posições e que no

95

funcionalismo e nas letras se pode fazer um

nome capaz de despertar a atenção do Chefe

da Nação. Além disso, sendo paulista de

nascimento, o Sr. Pires do Rio e um ministro

do norte. Raríssimos homens daquelas

regiões conhecê-lo-ão tão bem. Ele percorreu

a cavalo os nossos sertões, da Baía ao

Ceará, e dedicou a sua alta inteligência ao

estudo dos problemas daquela zona. Como

êsses problemas interessam particularmente

ao país, julguei acertado chamar para eles

cuidar um chefe de repartição com os dotes

do novo ministro (Diário Oficial de 29. VII.

1919. pág. 10692).

No exercício desse novo posto, dá conta de

como correspondeu à confiança do presidente da

República em trabalho que se encontra publicado no

relatório daquele departamento da administração pública,

datado de 1921. Quase a findar o quadriênio do presidente

Epitácio Pessoa, é nomeado para dirigir, cumulativamente

96

com a pasta que já ocupa, a pasta da Agricultura, na vaga

do ministro Simões Lopes, que se demitira.

Encerrado em 15 de novembro de 1922, o

governo do presidente Epitácio Pessoa, é eleito, em 1923

deputado federal pelo Estado de São Paulo. Em sua curta

passagem pela Câmara, tem oportunidade de defender o

contrato da Itabira Iron, contrato que levantara a imprensa

ruidosos debates. Assume, sozinho, inteira

responsabilidade desse ato e defende as suas vantagens

em trabalho que corre impresso sob o título: O Nosso

Problema Siderúrgico, monografia de 267 páginas, em que

o assunto, no seu sentido mais amplo é, conscientemente,

estudado, de vez tratar-se de matérias a que dedicara

longos anos de estudos e meditação.

Em 1923, renuncia ao mandato de deputado por

ter sido eleito prefeito da cidade de São Paulo, atividade

que se estende até 26 de outubro de 1930, data em que se

encerra a sua vida de administrador público, para somente

ser retomada em 1945, quando o presidente Linhares lhe

confia, no seu governo, o cargo de ministro da Fazenda,

cujo desempenho dura cerca de noventa dias, isto é, até o

97

término do governo provisório, imposto pela revolução de

1945.

Tendo ocupado a pasta da Fazenda, entendeu

ser seu dever demonstrar ao país – numa alentada obra: A

Moeda Brasileira –, que a realização de um bom governo

está principalmente dependente da prática de uma sábia e

honesta política monetária.

Em fins de 1949, empreende uma longa viagem

à Índia, com escalas por vários países da Europa, e pelo

Egito. Viagem interrompida pela sua morte em Nova Delhi,

em 23 de julho de 1950.

Dessa viagem, resultou uma série de estudos

publicados no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, todos

eles com o pensamento sempre voltado para as coisas do

Brasil.

NOTA: Os traços biográficos foram escritos pelo Dr. Paulo Faria que

serviu como Chefe de Gabinete do biografado no Ministério da Viação.

Ao Dr. Paulo Faria, devo, igualmente, poder oferecer ao leitor a

fotografia de José Pires do Rio.

Encontrar o precioso colaborador foi mérito do Dr. Paulo Pires do Rio,

exemplo do atendimento superior do Departamento Cultural do

Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

98

No texto deste trabalho inclui outra informação: Pires do Rio, homem,

foi a alma e o corpo da retomada da construção da Estrada de Ferro

de Goiás. Seu empenho nisso foi tão decidido, que por três vezes se

deslocou pessoalmente do Rio, para inspeção das obras em curso no

distante e incômodo sertão. Do empreendimento, resultou, de

imediato, o surgimento da cidade de Pires do Rio e, mais que isso,

poderoso impulso ao progresso de Goiás.

À obra do biografado acrescento outro livro, que citei atrás, publicado

pela Editora José Olympio: Realidades Econômicas do Brasil. Muito

antigo, mas muito atual. Essa obra é um hino de amor e respeito à

capacidade realizadora da gente brasileira, que soube e sabe vencer

as adversidades que a natureza colocou no seu caminho.

(Dados obtidos da Obra PIRES DO RIO – Marco Histórico de Goiás,

de Wilson Cavalcanti Nogueira, p. 124-126, 1977).

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Poema do Rio Corumbá

João Albano

25 de Agosto de 1921

Raiava um novo dia.

O sol brilhou no horizonte

O povo não sabia.

Estava chegando o progresso

Rumo ao Centro-Oeste.

Era o Ministério que trazia.

Foi ouvido um apito

De uma máquina Mallé.

Era o Ministério que chegava

Trazendo esperança e muita fé.

As juritis, em bando, cantavam

Oh, Deus! Muitos choravam,

Saudando o povo de pé.

Os ipês ornamentavam

As águas do Rio Corumbá.

Os pássaros cantavam

Insistentemente sem parar.

Nas galhadas das gameleiras

Onde pernoitavam os carreiros,

Preparando para viajar.

As seriemas cantavam

Eram ouvidas pelos fazendeiros

Matutos que ali habitavam

Também os tropeiros.

Cedo, ao amanhecer,

Tarde, ao anoitecer,

Transitavam os carreiros

A manhã era toda de alegria

As noites eram todas estreladas.

O rio manso caudaloso

Os pássaros faziam alvorada.

Ali nascia a beleza,

Do verde da natureza,

Os lobos uivavam festejando a madrugada.

O rio com muitas curvas

Caudaloso como sempre.

As andorinhas revoavam

À procura de alimento.

O majestoso Corumbá,

Quem conhece pode falar,

Porque não sai do pensamento.

As águas pareciam

Estar muito lentas.

A relva orvalhada

As borboletas em movimento.

Na barra do Roncador,

Um cerrado cheio de flor,

Uma história pra sempre.

Permita-me Senhor

Que eu volte para lá.

Para que eu conviva com a beleza

Que não existe por cá.

Para que aviste as pedreiras

À sombra das gameleiras,

Nas margens do Corumbá.

Garça – CE 09/11/2007

100

João Albano Neto

Nasceu em 28 de maio de 1937,

na fazenda Lagoa do Mucambo, no Distrito

de São Bento (hoje Amontada), município de

Itapipoca, estado do Ceará. É filho de

Washington Teles Menezes e Maria do

Carmo Albano Teles.

Iniciou seus estudos primários em escolas

particulares, posteriormente, ingressou na Escola Técnica

Federal do Ceará, onde concluiu o Curso de Admissão e o

Técnico de Mecânico Agrícola. Trabalhou na Construtora Alfa

S/A e no Departamento Nacional de Obras contra a Seca

(DENOCS).

Em 23 de dezembro de 1957, aos vinte anos de

idade, mudou-se para São Paulo à procura de trabalho e na

esperança de dias melhores. Em São Paulo, trabalhou na Lion

Importadora de Máquinas Caterpillar até julho de 1959, quando

ingressou na Companhia Construtora Camargo Correia S/A.

Seguiu para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até abril de

1960, foi transferido para Brasília, onde trabalhou até o ano

seguinte. João Albano viu o sol nascer e Juscelino Kubitschek

chorar em Brasília no dia 21 de abril de 1960.

Em janeiro de 1961, foi designado para prestar

serviços em Vilhena, no então Território de Rondônia. A serviço

da Companhia Camargo Correia S/A, residiu em Marco Rondon

101

e Pimenta Bueno, além de prestar serviços em Guajará-Mirim,

Porto Velho e Rio Branco, no Acre.

Em novembro de 1962, ainda a serviço da

Companhia, retorna ao Centro-Oeste, indo trabalhar em

Diamantino, Cuiabá e Jaciara no estado de Mato Grosso.

Em 26 de fevereiro de 1963, é transferido para Pires

do Rio (GO), onde a Companhia executou obras na Estrada de

Ferro, trecho Pires do Rio-Brasília.

Casou-se em 21 de novembro de 1963 com Lucimar

Rodrigues, de cuja união nasceram os filhos Washington (in

memoriam) e Nelita.

Em dezembro de 1963, terminadas as obras, a

Companhia Camargo Correia S/A segue para o estado do Rio

Grande do Sul, mas João já havia se casado e decidiu

permanecer em Pires do Rio. Deixa a Companhia, ingressando-

se na Prefeitura Municipal de Pires do Rio, onde trabalhou como

Fiscal Arrecadador e de Obras até 1980, aposentou-se no cargo

de Coletor Municipal.

Sua vida maçônica teve início em 04 de abril de

1970, na Augusta e Respeitável Loja Maçônica Amor e Luz IV nº

1159, à qual dedica grande parte de seu tempo que é dividido

entre a loja e a família.

102

Matriz Sagrado Coração de Jesus

Construída pelos padres Franciscanos de 1943 a 1945

Pires do Rio (GO).

103

Pires do Rio

A Terra dos Beija-Flores