Fsb comunicações share of time
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A era do Share of Time
Risoletta Miranda
A imposição e onipresença da nossa cantada e decantada “era da informação” tem nos feito
consumidores vorazes de informação em tempo real. Quando menos, nos faz evoluir como
neuróticos que sempre acham que perderam o último “buzz” publicado no Twitter, que a
concorrência já se apoderou dessa informação ou que vai chegar no próximo jantar com
amigos e não saberá dizer duas frases sobre aquela nova rede que está bombando desde... 5
dias passados. Parece um cenário caricatural? Talvez. Acho até que nem é tanto. Realmente a
Era da informação tem a sua faceta impositiva, catapultada pela genética humana do
exibicionismo que nos coloca orgulhosos “donos” de smartphones e iPads, exibidos por aí
como pets digitais . Nesse ambiente, quanto mais resiliente você for, melhor vai conseguir
navegar nos braços do onipotente Google, do irrequieto Twitter, do recém nascido Foursquare
e do gênio precoce e latifundiário chamado Facebook.
A vida está fácil. E está difícil. Não é um lamento e nem tampouco uma dúvida. É uma
constatação. E ela me ocorreu com muita clareza após o Digital Age 2.0 2010. O evento está na
minha lista de imperdíveis do ano. Sempre aparece ali algo que realmente nos deixa
desconfortáveis, criativamente falando. E é isso que faz a diferença. Eu, pelo menos sempre
estou procurando esse lugar. Obviamente há as palestras ou painéis que são um pouco mais
do mesmo, até porque isso é necessário quando é preciso nivelar platéias. Mas prevalece, de
todo jeito, o ânimo pelo novo.
Este ano poderia destacar os conceitos explorados por Brian Solis, nos levando a pensar sobre
a dinâmica das audiências que criam audiências, os nichos e as empresas que se tornam mídias
a ponto de já terem que começar a pensar em um novo CEO, o Chief Editor Office..... Não dá
para esquecer que Shiv Singh fez uma apresentação impecável sobre o case da Pepsi nos
mostrando que a palavra socialização pode – e deve! - ir muito além das próprias redes
sociais. É, antes de tudo, socialização ampla das causas. São elas que dão sentido à nossa vida,
que nos mudam, nos indignam, nos tornam melhores como raça. Isso completa e apura o que
também citou Solis: uma construção inexorável de capital social.
Uma marca do tamanho da Pepsi e com esse poder de mobilização, quando resolve envolver
seus consumidores para que apontem como ela deve investir seu dinheiro em comunidades e
suas causas sociais, consegue muitas coisas. Muito mais, inclusive, do que vender
refrigerantes, embora este seja, inevitavelmente, seu objetivo guarda-chuva. Espero que não
pareça antiético mas me parece que esta é uma situação onde os meios justificam os fins. É
um case quase aspiracional. Dá vontade de encontrar um em cada esquina. Mas, vamos
devagar, palcos como os do Digital Age 2.0 também tem a missão – importante – de apontar
tendências, destacar que temos que buscar sempre o “awesome” pontuado por Michel Lent.
Ou escutar de maneira mais cartesiana o que nos dizem as métricas e análises do SIM – Score
Influence Marketing, da Razorfish, sobre a conversação digital. É nesse toada que se caminha
pela superhigway. Sem esquecer que nestes palcos acontece o efeito passarela de moda ou
salões de automóveis. Muitas vezes o conceito não desce do palco na mesma forma
“awesome” ali exibida e é preciso entender isso. No dia-a-dia o “awesome” tem uma tradução
diferenciada. Olho nisso sem perder a ternura e nem a ousadia!
Bem, tudo foi muito instigante, mas, o que me deixou mais alerta foi um tema rapidamente
tangenciado por Michel Lent e sobre o qual eu venho desenvolvendo idéias há algumas
temporadas: o tempo. Já falamos tanto de “share of... market….of wallet... of heart”…. Pois
chegou a hora de saber encarar o “share of time”. Talvez essa seja a valência mais complexa
para entender essa equação informativa cibernética. Nós, os consumidores de marcas, que
socializamos nossas experiências através dessas plataformas gratuitas e integradoras, temos
esse limitador claro e inexorável. O tempo é inelástico e, como tal, permanecerá. Pelo menos
até que nos provem que não estamos sonhando, como disse Sidarta Ribeiro, doutor em
neurociências pela Universidade Rockefeller e chefe de laboratório do Instituto Internacional
de Neurociência de Natal, em seu artigo sobre o filme “A Origem” > http://bit.ly/caXQ3c.
Enquanto acreditamos que isto é a realidade e vivemos essa intensa virtualização dos
relacionamentos, o fato é que as marcas não concorrem mais apenas entre si, vertical ou
horizontalmente. Elas concorrem – e talvez de forma essencial – de maneira transversal com a
quantidade de tempo que temos para dedicar a elas.
Essa quantidade de tempo é, a cada dia, menor. Sendo isso uma verdade, eu pegaria tudo que
ouvi no Digital Age 20 e destacaria 3 delas: é fato que qualidade de conteúdo, relevância e
contexto se tornam condições imperativas. Posso amar 20 marcas, mas, se só tenho 30
minutos por dia para “conversar” com elas nas redes sociais ou em qualquer outro meio
virtual, elas entram em fila de espera difícil de andar. Precisam, efetivamente, ter algo
excepcional para me dizer. Mas isso não é tudo. Além de excepcional isso precisa ser dito na
hora mais adequada para mim (isto é, gerando relevância) e necessariamente deve estar
atrelada ao meu comportamento e contexto. Se estas variáveis se cruzam em alto nível temos
aí um grande potencial de interação e – lembrando “A Origem” novamente – de inserção. No
mais será quase lixo caprichosamente seletivo. Você até sabe que é bom, gosta da marca, mas
vai deletando. Faço isso com alguns emails que recebo. Quero ler, pedi para receber e não
tenho tempo de olhar. Coloco, com culpa mesmo, numa pasta especial e, depois de algumas
semanas, vou lá e deleto. Essa conclusão não é uma fórmula. Não precisamos disto. Estou
apenas provocando porque não tenho as respostas de fato. Considero que nesta transição, no
específico cada caso será um caso. No geral, até podemos repetir padrões. Planejar e buscar
métricas, por exemplo, sempre deve estar presente.
A parte mais atrativa das redes sociais é que elas têm derrubado qualquer tentativa de
estabelecer padrões exagerados. Definitivos?... nem pensar. Os planejamentos têm sido
duramente castigados mas... é neles que reside a única maneira de transformar essa
conversação toda das redes sociais em um ativo transformador para as marcas e para seus
consumidores, na mesma proporção. Quando planejamos nos obrigamos a montar diferentes
cenários, a analisar diferentes possíveis reações, a entender o que controlamos e o que não
controlaremos por mais esforço que façamos.
Fundamentalmente, perceber o que sabemos e o que não sabemos já resulta em um belo
caminho andado. Se não existe um dia de 24 horas e 1 segundo a mais isso também quer dizer
que não existe um consumidor com 24 horas e 1 segundo a mais de atenção para lhe dar.
Logo, a nossa aquisição de conhecimento 360 graus precisa considerar que o hiperlink – ou o
sistema de “followers”, por exemplo - é um labirinto que pode nos levar como protagonistas a
um lugar saudável e evolutivo como profissionais e como pessoas que querem ser melhores.
Mas, de qualquer forma, como todo labirinto, pode se transformar numa grande dispersão de
tempo e atenção, numa massa gigantesca de informação passando ao largo como passavam as
caravanas enquanto os cães ladravam. E então? A caravana está passando na sua última milha
ou não ? ;-))
Risoletta Miranda é Diretora-Executiva da FSB PR Digital (www.fsb.com.br), braço da FSB
Comunicações. Formada em jornalismo, MBA Marketing COPPEAD/UFRJ, especializada em
Planejamento Estratégico de Marketing e Comunicação Digital e uma das criadoras do
Conceito de VRM – Virtual Relationship Management. É colunista do portal IDGNow
(www.idgnow.com.br)
www.twitter.com/rizzomiranda