Franco Montoro · Web viewLarissa Cristina Brandino Dipieri de Souza E-mail:...

28
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Municipal Professor Franco Montoro como exigência parcial para obtenção do grau de graduada em Enfermagem. Orientador: Professor especialista Leonel Riese. Larissa Cristina Brandino Dipieri de Souza 1 A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM EM SITUAÇÃO DE PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA 1 E-mail: [email protected] Faculdade Municipal Professor Franco Montoro

Transcript of Franco Montoro · Web viewLarissa Cristina Brandino Dipieri de Souza E-mail:...

2

Larissa Cristina Brandino Dipieri de Souza[footnoteRef:1] [1: E-mail: [email protected] Faculdade Municipal Professor Franco Montoro]

A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM EM SITUAÇÃO DE PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Municipal Professor Franco Montoro como exigência parcial para obtenção do grau de graduada em Enfermagem.

Orientador: Professor especialista Leonel Riese.

MOGI GUAÇU2020

RESUMO: As paradas cardiorrespiratórias são um verdadeiro desafio para o sistema de saúde brasileiro. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cerca de 1110 pessoas morrem por mês, 46 a cada hora e uma pessoa a cada segundo. São informações assustadoras, mas que devem servir de alerta, sobretudo para os profissionais da área da saúde, sobremaneira aos enfermeiros que formam a linha de frente na questão da saúde pública. Essas mortes podem ser evitadas se os profissionais conseguirem se antecipar ao problema, reconhecendo os sinais de um ataque cardiorrespiratório. Este artigo analisará estudos científicos que versam sobre os conhecimentos que os enfermeiros possuem sobre os procedimentos concernentes à parada cardiorrespiratória.

PALAVRAS-CHAVE: Parada cardiorrespiratória. Prevenção. Corrente de sobrevivência. Treinamento de enfermeiros.

ABSTRACT: Cardiorespiratory arrest is a real challenge for the Brazilian health system. According to the Brazilian Society of Cardiology (SBC), about 1110 people die each month, 46 every hour and one person every second. This is scary information, but it should serve as a warning, especially for health professionals, especially for nurses who form the front line in the matter of public health. These deaths can be prevented if professionals are able to anticipate the problem, recognizing the signs of a cardiorespiratory attack. This article will analyze scientific studies that deal with the knowledge that nurses have about the procedures related to cardiorespiratory arrest.

KEY WORDS: Cardiorespiratory arrest. Prevention. Survival current. Training of nurses.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO4

2. DESENVOLVIMENTO5

2.1. Noções gerais sobre o sistema cardiorrespiratório e a parada cardiorrespiratória (PCR)5

2.1.1. A importância de saber identificar uma parada cardíaca10

2.2. Revisão bibliográfica14

2.3. Metodologia e materiais15

5. CONCLUSÃO16

REFERÊNCIAS17

1. INTRODUÇÃO

No sistema de saúde brasileiro, os enfermeiros são os guerreiros que atuam na linha de frente em prol do bem estar da população e não importa a situação eles sempre estão fazendo o possível e o impossível para salvar vidas. Com efeito, um dos muitos desafios que se desvela a esses profissionais da saúde é o enfretamento às paradas cardiorrespiratórias. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) possui um cardiômetro, disponível online no site dessa instituição, que conta cada morte no Brasil por problemas cardíacos. Qualquer pessoa que acesse esse site e fique uns cinco minutos diante da tela, certamente se assustará com o rodar do marcador. A cada giro, uma vida humana se vai por conta de problemas com o coração.

Com efeito, as paradas cardiorrespiratórias são um problema sério e que deve ser enfrentado com inteligência. Ora, é possível, por meio de sinais, identificar se uma pessoa está prestes a sofrer ou se está sendo acometida por um ataque cardíaco. No entanto, segundo Silva e Machado (2013) só é possível estar um passo à frente do problema se houver conhecimento técnico para tanto. Esse artigo científico versará justamente sobre isto: como os profissionais da enfermagem se saem diante da parada cardiorrespiratórias. Estão os profissionais preparados para esse desafio? Saberemos essa reposta por meio da análise de artigos acadêmicos que, por todo o Brasil, se debruçaram para trazer esses dados.

É fundamental que os enfermeiros estejam bem preparados para o enfretamento desse problema (ZANINI; NASCIMENTO; BARRA, 2006). Por conta disso é que esse estudo tem a sua importância, pois ele servirá como um pequeno norte aos que elaboram as políticas de saúde no Brasil. Se por ventura os resultados forem negativos, será sinal de que é urgente se trabalhar junto aos enfermeiros todos os conceitos básicos que envolvem a parada cardiorrespiratória.

Conhecer a “corrente de sobrevivência” intra-hospitalar, no âmbito das paradas cardiorrespiratórias, constitui-se como a pedra fundamental na formação dos enfermeiros. Infelizmente não teremos condições de aprofundar todas as etapas dessa corrente; nos reteremos mais no primeiro passo, que é a identificação do problema (FALCÃO, 2012).

Em suma, que esse trabalho possa contribuir para a relevância de se estudar cada vez mais a questão da parada cardiorrespiratória. O fomento e da discussão desse assunto são meios eficazes para a construção de uma enfermagem cada vez mais responsável e diferencial.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Noções gerais sobre o sistema cardiorrespiratório e a parada cardiorrespiratória (PCR)

Os enfermeiros são profissionais fundamentais para o bom funcionamento da sociedade. São eles que atuam na linha de frente no combate às mais diversas situações que envolvem risco à vida das pessoas. Em tempos de pandemia do Covid-19, percebe-se que se o Estado não olhar com deferência para esses profissionais, o sistema de saúde pode colapsar e os danos são simplesmente incalculáveis. Com efeito, diante da relevância desses profissionais de saúde, o foco do nosso estudo será a atuação dos enfermeiros em situações de parada cardiorrespiratória.

Nesse sentido, como podemos definir de forma simples o que vem a ser a parada cardiorrespiratória? “A parada cardiorrespiratória é caracterizada pela interrupção das atividades cardíacas e respiratórias, ficando o paciente inconsciente e sem sinais de circulação sanguínea, como a ausência de pulso” (PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA, s/p, 2020).

Primeiramente, para clarear o assunto, seria interessante analisarmos o que é o sistema cardiorrespiratório, e como ele funciona. O sistema cardiorrespiratório nada mais é do que a junção do sistema circulatório e respiratório. Para alcançar a homeostase do organismo, isto é, o bom funcionamento, esses sistemas trabalham juntos de forma incessante.

No sistema circulatório, temos o coração e seus vasos sanguíneos (veias e artérias). O coração tem a função de bombear o sangue para todo o corpo através de suas artérias e veias; elas, por sua vez, têm a função de “viajar” todos os órgãos do corpo irrigando-os com sangue oxigenado vindo do coração, e voltando ao coração, com o sangue composto de resíduos teciduais que o corpo precisa eliminar. O dióxido de carbono (resíduos teciduais) quando chega ao pulmão sofre a hematose, que nada mais é do que a troca de gás carbônico por oxigênio que ocorre nos alvéolos pulmonares. Esse sangue, já oxigenado e “limpo”, volta para o coração de onde será distribuído por todo o corpo novamente.

Vejamos abaixo uma figura, a imagem 1, que ilustra esse processo:

Imagem 1: O sistema cardiorrespiratório

Fonte: Fontes (2014)

Por sua vez. o sistema respiratório tem um conjunto de órgãos cuja principal função é absorver o oxigênio e eliminar gás carbônico (o produto residual tecidual que vimos acima). O pulmão, após enviar para o coração o sangue oxigenado, elimina para o ar, através das vias respiratórias (brônquio, traqueia, laringe, faringe e cavidade nasais), o gás carbônico que recolheu do organismo.

Dessa forma, é salutar que cuidemos desse sistema para garantir seu bom desenvolvimento evitando consequências indesejadas como é, no caso do estudo, a parada cardiorrespiratória.

Com efeito, tendo já explicado de forma sintética o funcionamento do sistema cardiorrespiratório, temos já condições de analisar a questão dos problemas cardiorrespiratórios. Assim sendo, quais são os fatores que podem levar uma pessoa a ter uma parada cardiorrespiratória? Segundo Amabis e Martho (2010), podemos elencar os seguintes itens como as principais causas desse problema:

- Hipovolemia – diminuição do volume sanguíneo.

- Hipóxia – falta de oxigenação.

- Hipoglicemia – queda significativa da concentração de açúcar no sangue. Os valores considerados normais, variam entre 70 e 110 mg/dl de sangue. A hipoglicemia acontece quando esses valores ficam abaixo de 70 mg/dl de sangue.

- Hipocalemia – baixa concentração de potássio no sangue (concentração normal entre 3,5 a 5,0 mEq/L).

- Hipercalemia - alta concentração de potássio no sangue (concentração normal entre 3,5 a 5,0 mEq/L).

- Hipotermia – a temperatura normal do corpo que é de 37 ºC, cai para menos de 35ºC.

- Trombose coronariana – infarto agudo do miocárdio.

- Embolia pulmonar – ocorre devido ao bloqueio de uma artéria pulmonar.

- Tensão no tórax (pneumotórax), entre outras.

Como se pode notar, a parada cardiorrespiratória não é um problema simples e encontrar a sua causa raiz pode, muitas vezes, constituir-se como um verdadeiro desafio para as equipes de saúde.

A essa extensa lista de causas que levam à parada cardíaca, podemos também atualizá-la e incluir o Covid-19. Ribeiro (2020, s/p, grifo nosso) tem um estudo interessante sobre essa questão. Vejamos:

De acordo com especialistas, apesar de muitos pacientes que têm problemas cardíacos, como portadores de hipertensão, insuficiência cardíaca, arritmias e doença coronariana, serem mais suscetíveis ao desenvolvimento de complicações em decorrência da doença, alguns infectados, que não tinham problemas no órgão, tiveram infarto em decorrência da infecção pelo vírus. ‘O paciente tem o infarto e, quando você vai olhar, a coronária é normal. O infarto é secundário à inflamação’, explica a cardiologista e professora do Instituto do Coração (Incor) de São Paulo, Ludhmila Hajjar, em entrevista à Folha de S.Paulo. De acordo com a médica, os danos mais frequentes ocorrem no músculo cardíaco e nos vasos sanguíneos, após complicações ocasionadas pela Covid-19. ‘Da mesma forma que ela causa pneumonia, a doença também gera inflamação no coração ou em qualquer artéria do coração e aumenta a suscetibilidade às arritmias e aos problemas no músculo e nos vasos’, enfatiza.

A relevância do nosso estudo não reside somente a longa lista de fatores que causam a parada cardiorrespiratória. Devemos ainda trazer à baila o drama que esse problema representa quando o representamos em números. O gráfico 1 nos ajudará a termos uma ideia da magnitude do problema.

Gráfico 1: Mortes por parada cardiorrespiratória no Brasil

Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), 2020.

Diante dos dados apresentados, é indiscutível a necessidade que temos de enfrentar cada vez mais esse problema. Há, segundo Lima et al. (2019) uma noção equivocada na população de que as paradas cardiorrespiratórias e, por conseguinte, mortes por esse motivo só ocorrem entre os idosos. Segunda essa autora, “sabe-se que 10% dos casos dessa doença ocorrem entre os indivíduos com idade inferior a 45 anos e que a parcela de casos na população adulto jovem é incomum, como comprovam estudos internacionais, que revelam uma incidência que varia entre 2 e 10%” (LIMA et al., 2019, p. 02).

Reforça essa nossa argumentação as seguintes palavras do Try-city Cardiology (grupo famoso por atuar na área da cardiologia nos EUA)

Embora muitas pessoas acreditem que os problemas cardíacos só preocupam quando o indivíduo atinge seus anos dourados, esse não é o caso. A doença cardíaca (ou seja, doença cardíaca) é a segunda causa mais comum de morte para homens com idade entre 35 e 44 anos e se classifica como a causa número um de morte para homens entre 45 e 54 anos de idade. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) afirmam que as doenças cardíacas também são a causa número um de morte para mulheres nos EUA. com quase o mesmo número de homens e mulheres morrendo desta doença a cada ano (HOW CAN CARDIAC, s/p, 2019, tradução nossa[footnoteRef:2]). [2: Although many people believe that heart problems are only of concern once an individual reaches his or her golden years, this is not the case. Heart disease (i.e., cardiac disease) is the second most common cause of death for men aged 35 to 44 years and ranks as the number one cause of death for men who are 45 to 54 years of age. The Centers for Disease Control and Prevention (CDC) states that cardiac disease is also the number one cause of death for women in the U.S. with close to the same number of men and women dying from this disease each year.]

Mas mesmo fazendo essa alerta de que jovens e adultos também podem sofrer com a parada cardiorrespiratória, há aqueles ainda que para desdenhar desse problema afirmam que somente pessoas que se alimentam mal e que possuem uma vida sedentária é que estão suscetíveis a esse problema. Infelizmente, esse tipo de raciocínio é falacioso e pode levar pessoas que não conhecem o assunto à desinformação. Até mesmo atletas profissionais, que aparentemente seguem todas as recomendações e não se enquadram em grupos de risco, sofrem de modo fulminante com a parada cardiorrespiratória. Nesse sentido, Passos (2012, s/p) fez um breve apanhado de alguns casos de atletas que morreram por parada cardíaca. Vejamos esse trágico memorando:

26.06.2003 - Marc Vivien Foé, de 28 anos, defensor da seleção do Camarões, morreu em Lyon, na França, durante jogo de seu país contra a Colômbia, pela semifinal da Copa das Confederações. Suspeita-se que ele tenha sofrido um ataque cardíaco ou aneurisma.

27.10.2004 - O zagueiro Serginho, 30 anos, jogador do São Caetano/SP, sofreu uma parada cardíaca aos 14 minutos do segundo tempo, numa partida contra o São Paulo. Exames feitos em fevereiro de 2004, no Instituto do Coração, revelaram que Serginho tinha arritmia devido à miocardiopatia, doença que dilata o músculo cardíaco.

30.04.2012 - O nadador norueguês Alexander Dale Oen sofreu uma parada cardíaca embaixo do chuveiro e morreu, depois de um treino, no centro de treinamento de Flagstaff, no estado americano do Arizona, onde se preparava para os Jogos Olímpicos de Londres.

Como a lista é grande, os nomes de atletas citados são apenas alguns. Esse nosso recorte é simplesmente para podermos demonstrar a gravidade do problema. Nenhuma pessoa pode se julgar livre de sofrer ou se presenciar uma parada cardiorrespiratória. Conforme demonstramos, esse problema é mais recorrente do que o simples senso comum julga ser.

2.1.1. A importância de saber identificar uma parada cardíaca

Conforme apontamos, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) tem números robustos para mostrar-nos que sobretudo os profissionais da área da saúde precisam estar tecnicamente preparados para enfrentar a questão da parada cardiorrespiratória. De acordo com Zanini, Nascimento e Barra (2006, p. 144)

O profissional de Enfermagem deve estar apto para reconhecer quando um paciente está em franca PCR ou prestes a desenvolver uma, pois este episódio representa a mais grave emergência clínica que se pode deparar. A avaliação do paciente não deve levar mais de 10 segundos. Na ausência das manobras de reanimação em aproximadamente 5 minutos, para um adulto em normotermia, ocorrem alterações irreversíveis dos neurônios do córtex cerebral. O coração pode voltar a bater, mas os ‘cinco minutos de ouro’ se perdem e o cérebro morre.

O doutor Paulo Chaccur, que é um cardiologista, alerta aos profissionais da área da saúde que eles devem estar atentos a alguns sinais básicos a fim de poderem reagir a tempo contra um ataque cardíaco e assim poderem ajudar a quem está em situação de risco. Vejamos as orientações desse experimentado doutor. Conforme Chaccur (2019, s/p), podemos elencar 11 sinais que devem despertar a nossa atenção para um possível problema cardiorrespiratório, ei-los:

1 - Fadiga ou esgotamento;

2 - Falta de apetite e náuseas;

3 - Perda de consciência ou desmaios;

4 - Dor no maxilar e no pescoço[footnoteRef:3]. [3: Segundo Chaccur (2019, s/p), “Esses sintomas muitas vezes não são valorizados pelas pessoas e trazem um risco bastante grave ao coração, uma vez [sic] que estão relacionados a doença coronária com obstrução das artérias e podem inclusive evoluir para um infarto do miocárdio”]

5 - Inchaço de pés e pernas;

6 - Fazer mais xixi do que o normal durante a noite;

7 - Tosse noturna;

8 - Sangramento, ferida ou inchaço nas gengivas;

9 - Suor frio ou sudorese intensa;

10 - Frios constantes nas mãos e pés;

11. Ganho de peso injustificado;

Diante desses sinais básicos, cabe aos enfermeiros terem muita atenção para poderem agir de forma proativa diante de problemas ligados ao coração. Uma vez identificado alguns desses sinais nos pacientes, urge que os profissionais de saúde os orientem a procurarem um profissional da área cardíaca a fim de se anteciparem ao que possivelmente poderá ocorrer, isto é, um ataque cardiorrespiratório.

O grande complicador é que, segundo Falcão (2012), nem sempre se consegue identificar todos os problemas cardiorrespiratórios e infelizmente o mais frequente é que as pessoas procurem os profissionais de saúde quando a situação já está de fato em termos anómalos. Desse modo, os enfermeiros devem também estar devidamente preparados para poderem agir corretamente quando a situação de enfermidade cardíaca não foi devidamente prevista e ela já se encontra em curso.

Nessa linha de raciocínio, segundo Silva e Machado (2013, p. 2)

Os enfermeiros devem estar preparados tecnicamente para enfrentar o desafio do evento súbito e grave, com a consciência da necessidade de diagnóstico precoce e intervenção efetiva, considerando que o prognóstico do paciente está diretamente ligado à rapidez e eficácia das ações. A aplicação das manobras de RCP precisa incluir a probabilidade de sobrevida da vítima relacionando com a ética, a cultura, a religião e a saúde. A avaliação de uma vítima e seu atendimento deve ser efetiva para proporcionar a diminuição das sequelas e aumentar as chances de sobrevida da vítima. Sobretudo, o atendimento imediato e adequado reduz a mortalidade e contribui de forma expressiva à preservação cardíaca e cerebral da vítima em PCR. As habilidades dos enfermeiros em desempenhar seu papel de forma apropriada e a capacidade de realizar as manobras de RCP influenciam diretamente sob o índice de mortalidade e morbidade. Estima-se que cada minuto em PCR reduz 10% a probabilidade de sobrevida, portanto, o fator tempo é fundamental”.

Diante disso, destacamos o que se chama na literatura da saúde de “corrente da sobrevivência”. O nome dado a essa prática é um tanto quanto lógico e sugestivo, isto é, já nos induz a pensarmos que se trata de práticas que estão interligadas e cujo objetivo fundamental é garantir a sobrevivência das pessoas. De acordo com Falcão (2012), essa “corrente da sobrevivência” constitui-se como algo a ser dominado por quem trabalha na área da saúde, sobretudo os que estão nos hospitais e pronto socorros. A Imagem 2 ilustrará para nós o que vem a ser essa corrente de sobrevivência.

Imagem 2: passo a passo da “corrente de sobrevivência”

Fonte: Falcão (2012)

Infelizmente, por questões de falta de espaço, não conseguiremos abordar com a profundidade necessária todos os itens da corrente de sobrevivência. O nosso foco será em estudar um pouco mais o primeiro item, que é justamente saber identificar quando está ocorrendo uma parada cardiorrespiratória.

Como já dissemos, os enfermeiros devem estar devidamente treinados para poderem reconhecer os sinais de que uma pessoa poderá ter um problema cardiorrespiratório e ainda saber identificar quando essa parada está em curso. Isso é condição sine qua non para salvar ou não uma vida. Ocorre que muitas vezes não são pessoas da equipe de saúde que estão na condição de identificar uma parada cardiorrespiratória. Na maioria dos casos, esse tipo de síncope ocorre fora do ambiente hospitalar e cabe aos leigos conseguirem identificar a ocorrência para assim poderem acionar o sistema de saúde. E esse é um grande problema e argumentaremos os motivos. Um estudo conduzido por Zanini, Nascimento e Barra (2006, p. 143), revelou que uma determinada equipe de uma UTI de Santa Catarina “84,6% [comprovaram] não saber identificar corretamente uma parada cardiorrespiratória, assim como 34,6% desconhecem as medicações nela utilizadas, podem comprometer o início, organização e rapidez das manobras”. Se em uma equipe médica de UTI há dificuldade de esmagadora parte dos profissionais identificarem uma parada cardiorrespiratória, entre a população isso deve ser em níveis que devem oscilar entre 95 a 100%.

Ou seja, o primeiro e mais importante elo da nossa corrente pode estar comprometido. E isso é um grande complicador, pois a falta de identificação e atendimento adequado são sérios fatores que podem fatalmente conduzir ao óbito. Esse é um motivo bastante sério que nos levou a realizar esse trabalho de conclusão de curso. Vemos a necessidade fundamental de disseminar cada vez mais os conhecimentos acerca de como agir em casos de parada cardiorrespiratória. Tendo em vista esse problema que apresentamos [isto é, a dificuldade de se reconhecer a parada cardiorrespiratória] é que se faz necessário um apelo ao poder público que, por meio do Ministério da Saúde, seja feito um trabalho intenso no sentido de preparar os profissionais de saúde para poderem bem agir nessa matéria. Financiar um programa de treinamento para identificar e combater os problemas cardíacos é a mesma coisa que investir na vida do contribuinte. Desse modo, quando o poder público investe nessa demanda ele mostra para a população que o dinheiro gasto com impostos e tributos está sendo bem utilizado (4 RAZÕES PELAS QUAIS, 2019, s/p).

Destacamos que nessa primeira fase, deve-se estar atento aos seguintes itens para que a corrente de sobrevivência possa surtir efeito e identificar o problema cardíaco:

• Toque intenso ao nível dos ombros da vítima;

• E com estímulo auditivo também intenso, se possível, chamando a vítima pelo nome.

• Verificar pulso e respiração simultaneamente

• Para avaliação do pulso é preferível a palpação da carótida, no seio carotídeo, na bifurcação entre o músculo esternocleidomastoídeo e a traquéia, em apenas um dos lados do pescoço, e com dedos, médio e indicador.

• Caso haja impossibilidade de verificar pulso na carótida, outro pulso 0possível é o da artéria femoral.

• A respiração pode estar ausente ou agônica.

• A respiração agônica, também como gasping, é caracterizada por um padrão respiratório lento, profundo e com ruídos característicos.

• Afim (sic) de realizar uma correta avaliação de resposta, pulso e respiração não deve-se (sic) ultrapassar 10 segundos e não sendo menos que cinco segundos para expor totalmente o tórax da vítima para melhor avaliação das incursões respiratórias (CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA, entre 2016 a 2020, s/p).

Como essa primeira parte da corrente de sobrevivência é a mais importante e como demonstramos, não há entre profissionais da saúde um domínio total dos sinais para identificar uma parada cardiorrespiratória é que advogamos pela necessidade de se investir cada vez mais nessa primeira etapa, que é a que garantirá a existência das outras.

2.2. Revisão bibliográfica

Bellan, Araújo e Araújo (2010) conduziram um estudo com 59 profissionais de saúde, que foram divididos em dois grupos. O objetivo da pesquisa é justamente avaliar os conhecimentos gerais dos profissionais sobre as etapas da corrente de sobrevivência. O resultado dos pesquisadores é que na fase de identificação do problema cardiorrespiratório, apenas 50% dos participantes tinham conhecimentos sólidos sobre como identificar o problema. Ou seja, há uma defasagem forte entre os profissionais quando o assunto é a identificação de uma parada cardiorrespiratória.

Moura et al. (2012) trabalharam sobre a temática com 33 profissionais de saúde, em Petrolina – PE. A constatação dos pesquisadores é que 54,5% dos profissionais alegaram não ter embasamento suficiente sobre a temática. Ou seja, esse estudo reforça a ideia de que é fundamental trabalhar junto aos profissionais de saúde conhecimentos básicos sobre a parada cardiorrespiratória, sobretudo com ênfase na identificação do problema.

Alves, Barbosa e Faria (2013) estudaram em Minas Gerais um grupo de 16 profissionais sobre os seus conhecimentos acerca dos procedimentos de ação em assuntos de parada cardiorrespiratória. 43,8% apresentaram graus de dificuldade em relação ao assunto e essas dificuldades versam sobretudo sobre identificação do problema e como agir diante de um caso de parada.

Silva e Machado (2013) estudaram o conhecimento de 41 enfermeiros de um hospital de Guaratinguetá. Constatou-se que 98% dos enfermeiros conseguem identificar uma parada cardiorrespiratória. Esse é um ótimo resultado e contrasta com o que obtivemos até o momento.

Ferreira, Ferreira e Casseb (2012) estudaram 31 profissionais de saúde, sendo que 23 eram médicos e 8 enfermeiros. Esse estudo foi conduzido num hospital em Rio Branco – AC. 71,4% da equipe têm sólido treinamento em Suporte Básico de Vida, e 78,6% dominam o protocolo CADB[footnoteRef:4]. Pereira et al. (2015) analisaram o conhecimento de enfermeiros do sertão da Paraíba. Quando questionados sobre a existência de um suporte básico e avançado bem definidos, 10 de 14 entrevistados disseram não ter nenhum protocolo definido para casos de parada cardiorrespiratória. No entanto, os 14 responderam que conhecem os procedimentos básicos. Ou seja, a equipe demonstra ter bons conhecimentos sobre o assunto, mas do ponto de vista protocolar o hospital poderia dar maior sistematicidade para otimizar ainda mais o atendimento a casos de parada cardiorrespiratória. [4: (A) abrir vias aéreas, (B) promover uma boa respiração, (C) circulação: compressões torácicas, (D) desfibrilação.]

Prestes e Menetrier (2017) entrevistaram a prática profissional de 31 enfermeiros de um hospital no Paraná. Desses, 50% conseguem identificar sinais de problemas cardiorrespiratórios, de acordo com as respostas que deram em questionário específico sobre esse assunto. De modo parcial, 77,8% da equipe conseguem identificar problemas de PCR. Dentre esses profissionais, apenas 59,3% buscam atualização constante sobre parada cardiorrespiratória, o que demonstra a necessidade de se investir em atualização da equipe.

2.3. Metodologia e materiais

A metodologia desse trabalho é de natureza qualitativa e quantitativa. É quantitativa, pois procurou-se mostrar em percentagem o conhecimento dos profissionais da saúde sobre o atendimento a parada cardiorrespiratória.

Já o lado qualitativo desse trabalho consiste em analisar as informações e assim darmos a nossa visão sobre o assunto, de tal forma que possamos contribuir com os conhecimentos na área de enfermagem, sobretudo no assunto de parada cardiorrespiratória.

Em geral, é um estudo eminentemente teórico e que tem bastante potencial de ir para uma segunda parte prática, isto é, usar algum hospital da região Guaçuana para podermos comparar os dados que colhemos dos hospitais espalhados pelas diversas regiões do Brasil.

5. CONCLUSÃO

Quanto mais conhecimento do que é um ataque cardiorrespiratório, então mais condições as equipes de saúde terão para poderem salvar a vida de pessoas que passarem por esse problema.

Pelos estudos que analisamos, destacamos os dados trazidos por Silvia e Machado (2013). Apontam essas pesquisadoras em seu estudo que 98% dos membros da equipe por elas avaliados possuem conhecimentos consolidados para poderem identificar uma parada cardiorrespiratória e assim aumentar a chance de vida dos pacientes.

Já os estudos de Moura et al. (2012) revelam um quadro bem diferente e um tanto quanto alarmante: apenas 45,5% dos profissionais de saúde conseguem identificar quando uma pessoa está passando por um problema cardiorrespiratório.

Ao colocar lado a lado esses estudos podemos concluir que não é possível classificar de uma forma só como os enfermeiros do Brasil estão preparados para lidar com problemas cardiorrespiratórios. O certo é que três pesquisas apontaram baixas performances dos enfermeiros na identificação de parada cardiorrespiratória Moura et al. (2012), Bellan, Araújo e Araújo (2010) e Alves, Barbosa e Faria (2013). Isso indica que o Ministério da Saúde deve olhar com mais atenção para esse problema e assim pensar em propostas a nível federal, com a efetiva participação dos estados, para a elaboração de políticas públicas nesse sentido. Enquanto uma equipe de saúde no Brasil estiver com baixo nível de conhecimento sobre parada cardiorrespiratória, todos estaremos perdendo para uma doença que, com estudo, pode ser combatida e superada.

REFERÊNCIAS

4 RAZÕES PELAS QUAIS as intituições devem investir na capacitação de atendimento à PCR. Redec, 2019. Disponível em: http://redec.com.br/blog/rcp/3-razoes-para-investir-na-capacitacao-de-atendimento-pcr/, acessado em 28 de outubro de 2020.

ALVES, Cristiele Aparecida; BARBOSA, Cinthia Natalia Silva; FARIA Heloisa Turcatto Gimenes. Parada cardiorrespiratória e enfermagem: o conhecimento acerca do suporte básico de vida. Cogitare Enfermagem, 2013. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/32579/20693, acessado em 28 de outubro de 2020.

AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. Biologia: biologia dos organismos. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2010.

BELLAN, Margarete Consorti; ARAÚJO, Izilda Ismenia Muglia; ARAÚJO, Sebastião de. Capacitação teórica do enfermeiro para o atendimento da parada cardiorrespiratória respiratória. Revista Brasileira de Enfermagem, 2010.

CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA ambiente intra-hospitalar. Blog da RCP, entre 2016 a 2010. Disponível em: http://blogdarcp.com.br/modulos/cadeia-de-sobrevivencia-2/, acessado em 28 de outubro de 2020.

CHACCUR, Paulo. 11 sinais que podem servir de alerta para um problema no coração. UOL, 2019. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/paulo-chaccur/2019/09/29/11-sinais-que-podem-servir-de-alerta-para-um-problema-no-coracao.htm, acessado em 27 de outubro de 2020.

FALCÃO, Sandra. Diretrizes de atendimento de parada cardiorrespiratória. Conselho Federal de Medicina/Conselho Regional de Medicina do Ceará, 2012. Disponível em: https://www.cremec.org.br/download/cursointer/Diretrizes%20de%20reanima%C3%A7%C3%A3o%20cardiovascular.pdf, acessado em 27 de outubro de 2020.

FERREIRA, José Vitor Benevides; FERREIRA, Silvana Margarida Benevides; CASSEB, Giovanni Bady. Perfil e Conhecimento Teórico de Médicos e Enfermeiros em Parada Cardiorrespiratória, município de Rio Branco, AC. Revista Brasileira de Cardiologia, 2012. Disponível em: http://www.onlineijcs.org/english/sumario/25/pdf/v25n6a04.pdf, acessado em 28 de outubro de 2020.

FONTES, Lucas. Anatomia do Sistema Cardiovascular. No Caminho da Enfermagem, 2014. Disponível em: http://nocaminhodaenfermagem.blogspot.com/2014/07/resumo-anatomia-do-sistema.html, acessado em 27 de outubro de 2020.

HOW CAN CARDIAC Arrest be Prevented? Try-city Cardiology, 2019. Disponível em https://www.tricitycardiology.com/how-cardiac-arrest-can-be-prevented/, acessado em 27 de outubro de 2020.

LIMA et al. Caraterização de pessoas jovens com infarto agudo do miocárdio. Revista baiana de enfermagem, 2019. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/enfermagem/article/view/33591/20113, acessado em 27 de outubro de 2020.

MOURA et al. Assistência ao paciente em parada cardiorrespiratória em unidade de terapia intensiva. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, 2012. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/3240/324027981018.pdf, acessado em 28 de outubro de 2020.

PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA. Biologia Net, 2020. Disponível em: https://www.biologianet.com/doencas/parada-cardiorrespiratoria.htm#:~:text=A%20parada%20cardiorrespirat%C3%B3ria%20%C3%A9%20caracterizada,como%20a%20aus%C3%AAncia%20de%20pulso, acessado em 27 de outubro de 2020.

PASSOS, Cleide. Morte súbita em atletas de alto rendimento chama atenção do mundo esportivo. Ministério da Cidadania, 2012. Disponível em: http://arquivo.esporte.gov.br/index.php/noticias/24-lista-noticias/36305-morte-subita-em-atletas-de-alto-rendimento-chama-atencao-do-mundo-esportivo, acessado em 27 de outubro de 2020.

PEREIRA et al. Atuação do Enfermeiro Frente à Parada Cardiorrespiratória (PCR). Revista Brasileira de Educação e Saúde, 2015. Disponível em: https://editoraverde.org/gvaa.com.br/revista/index.php/REBES/article/view/3583/3210, acessado em 28 de outubro de 2020.

PRESTES, Joceline Nunes; MENETRIER, Jacqueline Vergutz. Conhecimento da equipe de enfermagem de uma unidade de terapia intensiva adulta sobre a parada cardiorrespiratória. Biosaúde, Londrina, v. 19, n. 1, 2017. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/biosaude/article/viewFile/27905/22933, acessado em 28 de outubro de 2020.

RIBEIRO, Wandy. Covid-19 gera inflamação no coração e pode causar infarto. ICTQ, 2020. Disponível em: https://www.ictq.com.br/farmacia-clinica/1405-covid-19-gera-inflamacao-no-coracao-e-pode-causar-infarto, acessado em 27 de outubro de 20.

SILVA, Aliandra Bittencourt da Silva; MACHADO, Regimar Carla. Elaboração de guia teórico de atendimento em para cardiorrespiratória para enfermeiros. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, 2013. Disponível em: http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/11514/1/2013_art_absilva.pdf, acessado em 27 de outubro de 2020.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Cardiômetro. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: http://www.cardiometro.com.br/, acessado em 27 de outubro de 2020.

ZANINI, Juliana; NASCIMENTO, Eliane Regina Pereira do; BARRA, Daniela Couto Carvalho. Parada e Reanimação Cardiorrespiratória: Conhecimentos da Equipe de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, vol. 18, nº 2, Abril – Junho, 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbti/v18n2/a07v18n2.pdf, acessado em 27 de outubro de 2020.

Mortes diáriasMortes por horaMortes a cada 90 segundos1110461