Fracasso Escolar
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FRACASSO ESCOLAR: compreendendo os novos e velhos determinantes de um fenômeno que perpassou gerações
Ana Maria Rocha de Sousa1
Resumo
O Presente artigo se constitui em uma análise documental, que tem como objetivo compreender as novas e velhas perspectivas do fracasso escolar brasileiro, bem como as causas e causadores que levam as instituições de ensino a não alcançarem suas metas. Para apresentação de tal documento foram analisados 2 livros “A Produção do fracasso escolar” de Patto (1996), este sendo a leitura macro, e “Relação com o saber: formação de professores e globalização de Charlot, mais 8 artigos sobre o tema publicados entre 2008 e 2011, presentes nas seguintes bases: Scielo e Anais das Reuniões da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED). Assim, conclui-se que as explicações para o fracasso escolar desde seu início continuam vigentes, alternando-se as causas e causadores, porém longe de se focar em soluções possíveis.
Palavras-chave: Fracasso escolar, escola pública brasileira, causas/causadores, soluções possíveis.
Abstract
Article Gift constitutes a documentary analysis, which aims to understand the new and old prospects of the Brazilian school failure as well as the causes and causing leading educational institutions not to achieve their goals. To submit such a document were analyzed two books "The production of school failure" of Patto (1996), this being the macro read, and "Relationship to know: teacher training and globalization Charlot, plus 5 articles on the subject published between 2008 and 2011, on the following basis presents: Scielo and Proceedings of the Meetings of the National Association of Graduate Studies and Research in Education (ANPED). Thus, it is concluded that the explanations for school failure from the very beginning are still in force, alternating the causes and causing But far from focusing on possible solutions.
Keywords: School failure, Brazilian public school, causes / cause, possible solutions.
Introdução
Repensando o Fracasso Escolar: de onde partimos?
1 Acadêmica do VI período do curso de Licenciatura em pedagogia da Faculdade de ciências Humanas e sociais – Ages, apresentando artigo como um dos pré-requisitos para obtenção de nota da disciplina Optativa Eletiva II: Estudos Aprofundados, sob a orientação da professora Josefa Risomar Oliveira Santa Rosa.
O presente trabalho terá como objetivo compreender as novas e velhas
perspectivas do fracasso escolar brasileiro, bem como as causas e causadores que levam
as instituições de ensino a não alcançarem suas metas. Trata-se de uma das temáticas
mais reincidentes entre as discussões no meio educacional, por se constituir em um
problema que há muito está presente na escola, portanto, torna-o antigo, sem, no
entanto, deixar de ser atual.
Para Patto (1996) o fenômeno acende junto com a própria origem da escola no
Brasil, pois foi a partir da sua estruturação e organização que se deu o primeiro
problema e cunho educativo, a escola no Brasil foi reconhecidamente organizada do
modo desestruturado e segundo os moldes europeus, realidade contraria a brasileira.
Ao longo de nossa história as pesquisas sobre o fracasso escolar estiveram em
princípio marcadas por um discurso biológico em que as causas do fracasso estavam
relacionadas a fatores genéticos, raciais ou hereditários dos indivíduos. Foi por volta dos
anos 70 que essas teorias passaram a ser questionadas e um novo discurso passou a se
fazer presente, as explicações passaram a ser buscadas na proveniência cultural dos
alunos, dando origem as teorias da carência cultural.
Recentemente pesquisas de Patto (1996) procuram mudar o eixo de discussão
sobre o fracasso escolar, buscando “contextuar o problema dentro do pensamento
histórico brasileiro”, empenhando-se em conhecer como são construídas e consolidados
as ideias de desvalorização e os preconceitos em relação aos indivíduos da classe
trabalhadora e, muitas vezes legitimados sob um discurso verdadeiro, posto que a
ciência “comprova”.
Se de um lado estas pesquisas revelam que a escola se constitui como
reprodutora das desigualdades sociais e da dominação, por outro revelam que no interior
da escola, assim como na sociedade, surgem contradições que favorecem um embate de
ideias e atitudes que poderão provocar rupturas nos discursos e práticas cristalizadas que
ali se processam.
Parece-nos necessário fazer uma reflexão acerca do fracasso escolar, objetivando
entender como se caracterizou ao longo da história, numa tentativa de desmistificar e
explicitar os seus determinantes, a fim de promover uma reflexão no espaço
educacional. A partir daí, pretende-se buscar possibilidades e limitações no espaço
escolar, quanto à busca da construção do sucesso escolar.
Qualquer mudança que se pretenda promover em uma determinada situação,
requer, pelo menos, o conhecimento da realidade em que esta se dá. Neste sentido, surge
indagações: o que faz com que o fracasso escolar continue sendo uma realidade e
perpetue até os dias atuais nas escolas públicas? Quais são os mitos que foram e ainda
são utilizados para explicá-lo? Quais são os seus determinantes?
1.1 A culpa é da sociedade que perpetuam o dualismo educacional?
Em um contexto mundial, as explicações para as diferenças de classes sociais
existentes na sociedade capitalista, condição para que a burguesia se mantivesse
hegemônica no poder, foram estendidas para justificar as dificuldades de aprendizagem
dos seguimentos sociais explorados. Assim, a escola não só no Brasil, mas em todo
mundo passa por um processo de segregação de classe, raça e sexo.
De classe quando não havia escolas para os menos abastados, esses aprendiam com
a família o que sabiam e podiam ensinar, enquanto para os burgueses era ofertado
preceptores e posteriormente o ensino jesuítico. E esse modo de aprender e ensinar se
torna mais dual com o advento da industrialização. De formas mais marcada, percebe-se
que os indivíduos burgueses entram na escola com o proposito que gerir o que outrora
ser herdado, os emergentes entram para galgar postos mais altos das fábricas e assim
ascender socialmente, mas os filhos das classes operarias são obrigados a frequentar a
escola para melhor atender a demanda de trabalho, estes chamados por Marx, exército
de reserva.
Vale ressaltar que a escola não recebia alunos do sexo feminino ou de raças tidas
como inferiores, negros e os indígenas no Brasil. Havia uma justificativa para tanto, esta
era reforçada com a ideia de que a hereditariedade é ponto fundante do desenvolvimento
intelectual, portanto, se a família sabia pouco consequentemente seus filhos saberiam
também.
Segundo Patto (1999, p.67), “os destinatários deste diagnóstico foram, mais uma
vez, as crianças provenientes dos segmentos das classes trabalhadoras dos grandes
centros urbanos, que tradicionalmente integram em maior número o contingente de
fracassados na escola”. Nesse sentido, o movimento de higiene mental
(...) colaborou para justificar o acesso desigual das classes sociais aos bens culturais, ao restringir a explicação de suas dificuldades de escolarização ao âmbito das disfunções psicológicas. [...]. Seu prestígio foi tão forte que suplantou, na explicação do fracasso escolar, uma das premissas do pensamento escolanovista que não podia ser negligenciada: a de que a estrutura e funcionamento da escola e a qualidade do ensino seriam os
principais responsáveis pelas dificuldades de aprendizagem (PATTO, 1999, p.69).
Nesse período, a explicação começa a deixar de ser racial, no sentido biológico
do termo, passando a ser cultural, abandonando-se, assim, a afirmação da existência de
raças inferiores para a afirmação da existência de culturas inferiores, disseminando a
ideia de que o meio cultural do qual as crianças pobres fazem parte é pobre de
estímulos, valores, hábitos, habilidades e normas, o que dificultaria a aprendizagem.
Tal versão atingiu seu ponto mais alto nos anos 70, quando se elaborou a teoria
da carência cultural “que surge como resposta política aos movimentos reivindicatórios
das minorias raciais norte-americanas e dos grupos sociais mais atingidos pela
exploração econômica e pela dominação cultural que não aceitam a desigualdade e a
denunciam” (idem, p.68-71). “Quando as teorias ambientalistas se propõem a explicar o
insucesso escolar e profissional desigual entre os integrantes das classes sociais,
fundamentam-se em preconceitos e estereótipos que, com uma nova fachada científica,
passam a orientar a política educacional” (idem, p.72).
Desenvolve-se, então, uma forte tendência social de fazer do pobre o depositário
de todos os defeitos e os adultos dessa classe era tido como mais agressivos, relapsos,
desinteressado pelos filhos, inconstantes, viciados e imorais do que os das classes
dominantes.
Segundo essa vertente, a deficiência é do oprimido e, portanto, lhe prometem uma
igualdade de oportunidades impossível através de programas de educação
compensatória que já nascem condenados ao fracasso, quando partem do pressuposto de
que seus destinatários são menos aptos à aprendizagem escolar. A escola compensatória
supostamente reverteria às diferenças ou deficiências culturais e psicológicas de que as
classes “menos favorecidas” seriam portadoras. O resultado é a reafirmação das
deficiências da clientela como a principal causa do fracasso escolar.
1.2 A culpa da ação trabalhista, pois essa é tendenciosa?
Por causa dessa condição de pobreza em que vivem a maioria dos brasileiros,
muitas crianças em idade escolar precisam trabalhar para ajudar no sustento de suas
famílias. Todos sabem que é muito difícil trabalhar e estudar ao mesmo tempo. No
entanto, muitas dessas crianças trabalham duramente e procuram conciliar seu estudo de
forma que não fique perdendo seus anos escolares. O trabalho prejudica o rendimento
escolar, e o aluno acaba indo de reprovação em reprovação até desistir de tentar. As
crianças se dedicam a ele de tal maneira que quando precisam ir para a escola não
possuem força nem ânimo para desenvolver nenhuma atividade de modo que o fracasso
é coisa certa. [...] na verdade, a escola, é feita para aqueles que não precisam trabalhar,
ela faz de conta que ninguém trabalha e coloca as exigências que os que trabalham não
tem tempo nem condições de cumprir. Com o tempo as reprovações e repetências vão se
acumulando até que as crianças e os próprios pais desistem. (CECCON; OLIVEIRA e
OLIVEIRA, 1984, p.29). É importante ressaltar que esse problema se originou com a
revolução industrial e persiste até os dias de hoje.
1.3 A culpa é do professor e da unidade de ensino, pois são eles quem escolhem a
metodologia de ensino, o currículo e as avaliações?
Os pais dos alunos acham que a responsabilidade do professor é muito grande
nos bons e maus resultados escolares de seus filhos. Acreditam que se o professor fosse
dedicado seria capaz de fazer milagres com as crianças, mas se não o faz é porque não
se dedicou o bastante, porém Bahia (2009) afirma que é a escola como um todo que
promove a educação e não só os docentes. Para ela:
[...] a qualidade do ensino depende da existência de uma organização escolar eficiente, que desenvolva um projeto pedagógico articulado por meio da mobilização e do compromisso dos diretores, coordenadores, professores e comunidade, tornando a escola um local de articulação profissional. (p. 321)
Nesse sentido, torna perceptível o descaso que algumas instituições de ensino
têm pela realidade do aluno e de sua identidade, e assim acabam não aceitando nada do
que o aluno trás de casa: seus conhecimentos, suas atividades. Dessa maneira, a criança
se sente desvalorizada, pois, tudo que ela sabe não vale absolutamente nada. O
professor, então, fará um longo e doloroso processo de esvaziamento desse aluno de
maneira que possa incutir nele os conceitos que a norma culta estabelece pó meio de
seus padrões. Assim esse aluno fica ainda mais perdido do que já estava, pois, as
vivências que tinham, agora, de nada valem.
A criança pobre tem, então, muito poucas ocasiões de acertar, de responder certo
uma pergunta, de fazer bem um exame, porque o que ela sabe não é levedo em conta e o
que ela tem que aprender não tem nada que ver com sua experiência de vida fora da
escola. (CECCON; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 1984, p.64) As crianças que moram na
periferia, ou nas zonas rurais, aprender a se virar sozinhas: cuidam de si mesmas,
inventam seus brinquedos, aprendem a sobreviver na rua e começam a fazer pequenos
“bicos” para ganhar a vida. No entanto, dentro da escola tudo muda. Essas mesmas
crianças que aprenderam a se virar sozinhas, que aprenderam observando e fazendo, que
em casa e na rua são espertas e faladoras, na escola não entendem nada o que o
professor diz, se sentem incapazes de aprender, por isso se fecham em si mesmas, vão
se tornando caladas, tristes e passivas. Logo que entra na escola, a criança tem que
aprender a falar e escrever uma nova língua diferente daquela que sempre falou em casa
com seus pais, colegas e amigos. A língua da escola é uma língua bem falada, sem erros
de pronúncia ou de concordância. Nesse sentido Bahia (2009) assevera que:
Contudo, não podemos acreditar em impossibilidades, apesar das inúmeras dificuldades que o cotidiano de muitas escolas nos apresenta. Precisamos, sim, compreender cada vez mais a realidade da nossa escola pública, inserida num contexto social mais amplo. [...] A escola não pode se responsabilizar ou mesmo resolver sozinha o problema da exclusão dos indivíduos, mas pelo menos pode ser capaz de ampara-lo, (p. 401)
Em face disso, cabe a escola desenvolver prática exitosas de aprendizagem para
que se cumpra sua função na sociedade.
1.4 A culpa é da criança quando fecha um ciclo e não consegue adquirir
habilidades e competência previstas para esse?
Para muitos a culpa do fracasso escolar está na criança que não se esforça e não
dá valor aos sacrifícios que seus pais têm feito para que ela estude. Quando o problema
é muito complicado julga-se mais simples e prático jogar a culpa na própria vítima. Os
professores costumam ver o fracasso escolar como um fator de origem psicológica
como consequência dos problemas individuais pelos quais a criança está passando. Para
estes as crianças não conseguem aprender porque são afetivamente desajustadas, tem
problemas emocionais complicados, está sempre distraída, sem memória, não consegue
se concentrar, fala tudo errado, não entende nada que o professor diz, é preguiçosa e
rebelde. Ou seja, a culpa é da criança que não aproveita as oportunidades que lhe estão
sendo oferecidas.
Há também a desculpas ou justificativa biológica, é certo que o infante tem
algum problema, seja de discalculia, dislalia, disgrafia, dislexia. Na atualidade todos
esses fatores foram trocados por expressões como déficit de atenção, hiperativíssimo,
baixa autoestima e bullying. Inocentando assim, escola e família, tornando a criança a
única culpada.
1.4 A culpa é da família, pois se desestruturaram e não conseguem dá suporte
necessário aos seus filhos?
Em análise às premissas anteriores consideraremos: se a criança é a culpada pelo
seu fracasso por apresentar tantas complicações psicológicas, então, quem, ou o que é a
causa de tantos distúrbios? A partir dessa ideia, pouco a pouco foi ganhando forma uma
nova interpretação sobre o elemento que proporcionaria esse fracasso escolar dos
alunos: a família.
Os pais dessa criança têm tempo para ela? Os pais se dedicam a olhar os
cadernos do filho, ajudar nas tarefas, olhar datas de provas, ler bilhetes e recados
enviados pela direção, coordenação e professores? Será que esses pais vão à escola pelo
menos uma vez por bimestre pelo menos para verificar as notas do filho para tentar
ajudá-lo a superar as dificuldades com algumas matérias? Todos estão atarefados
demais, isso quando se tem uma constituição familiar ajustada, porque em sua grande
maioria essas crianças ditas fracassadas são oriundas de famílias esfaceladas, sem
qualquer organização e cuidado com os seus.
Todas essas situações somadas dariam um turbilhão de problemas. Imagine isso
tudo na cabecinha de uma criança! Realmente, uma família com tantos problemas
merecedores de especial atenção, não possibilita ajuda em favor do desenvolvimento da
criança e com isso, pouco a pouco vai causando o quase que “eminente” fracasso
escolar.
AFINAL, DE QUEM É A CULPA?
Em análise a cada um desses supostos causadores e causas, observa-se que todos
possuem uma parcela de culpa. Há ainda outros fatores que influem para o fracasso
escolar, a dualidade da escola, o racismo e também a submissão que a escola tem ao
estado, tornando esta um aparelho ideológico. Porém a culpa não é única e exclusiva de
um desses fatores aqui citados. A culpa é desse grupo de fatores associados que
coletivamente influenciam a “vítima”, o aluno, de maneira que sem saber como agir
acaba sem êxito na escola.
Dessa forma se observa que não existe um único “culpado” e uma única “culpa
“pelo fracasso escolar. Muitas vezes a escola situa o problema do fracasso no indivíduo,
considerando-o como portador de algum tipo de “desvio” ou “anormalidade”. Assim, o
“insucesso” é atribuído à debilidade das capacidades intelectuais, à cultura desviante e a
outras categorias como: as dislexias (dificuldades de leitura), as disortográficas
(dificuldades em ortografia) e as discalculia (dificuldade em cálculos) que servem como
rótulos.
Estes levam aqueles que fracassam a tratamentos diversos em instituições
especializadas e a classes especiais. Portanto, a criança que fracassa, muitas vezes a
escola e os profissionais da educação não levantam problemas como a estrutura da
escola, a estrutura social e a inadequação dessa estrutura à situação real de vida da
criança. Daí podem surgir os motivos do fracasso escolar: uma não-aproximação e
conhecimento do aluno e de suas necessidades. Principalmente se estes alunos
apresentarem uma realidade diferente da realidade do educador.
Portanto, buscar soluções para o fracasso escolar não consiste em atribuir
patologias ao aluno, mas em ampliar este foco, abrindo espaço para outras variáveis que
também influenciam no processo da aprendizagem como a instituição, o método de
ensino, as relações professor/ aluno, pais/professores, pais/alunos, gestor/pais,
gestor/professores, currículo/contexto social, os aspectos socioculturais, a história de
vida do sujeito, a realidade local. O certo é fazer análise conjunta de todos os indivíduos
envolvidos no processo, diagnosticar o problema local e ataca-lo para construir uma
realidade escolar vencedora.
Metodologia
Analisaram-se 2 livros “A Produção do fracasso escolar” de Patto (1996), este
sendo a leitura macro, e “Relação com o saber: formação de professores e globalização
de Charlot, mais 8 artigos sobre o tema publicados entre 2007 e 2012, presentes nas
seguintes bases: Scielo e Anais das Reuniões da Associação Nacional de Pós-Graduação
e Pesquisa em Educação (ANPED Os artigos foram selecionados pelos resumos e
palavras-chave: fracasso escolar, causas e ensino fundamental. A delimitação do
período para a seleção de artigos deveu-se ao fato de se querer investigar as pesquisas
mais atuais sobre o fracasso escolar, mas englobando, também, pelo menos dois livros
que pudessem subsidiar e da norte a pesquisa.
Considerações finais
Superar o fracasso escolar é um desafio para o Sistema Educacional Brasileiro,
pois o futuro do país quanto ao desenvolvimento econômico, social, cultural e científico
poderá ser comprometido diante de índices ainda tão elevados de evasão e repetência
nas escolas. Essa realidade refletirá na mão-de-obra futura, na possibilidade da
construção de uma sociedade mais justa e igualitária e, inclusive, na independência e
soberania da própria nação, pois nenhum sujeito e/ou Estado terá condições de lutar
contra qualquer forma de exploração se não tiver munido de ferramentas adequadas e
estas serão adquiridas com o domínio dos conhecimentos científicos já produzidos. Uma
proposta educacional que contemple a formação dos trabalhadores e que possa acenar
para a superação do fracasso escolar dos filhos destes seria, segundo Nosella (2006),
uma escola desinteressada, no sentido de não ser atrelada à formação de mão-de-obra
para atender às necessidades do modo de produção capitalista, mas de formação plena
do sujeito, “onilateral”, “uma instrução intelectual, física e tecnológica para todos [...]
pública e gratuita [...] de união do ensino com a produção [...] livre de interferências
políticas e ideológicas” (MARX apud MANACORDA, 2006). Segundo Nosella (2006),
essa educação superaria a dicotomia entre o trabalho produtor de mercadorias e o
trabalho intelectual, contemplando três dimensões fundamentais da interação homens-
natureza: comunicação e expressão, produção e fruição, sem privilegiar nenhum desses
elementos, denominada por ele, como sendo “a escola-do-trabalho, não burguesa, é a
escola que educa os homens para dominar e humanizar a natureza em colaboração com
os outros homens” (2006, p.15). Esse processo educativo recuperaria o sentido e o fato
do trabalho como libertação plena do homem. A superação desse desafio, o Fracasso
Escolar, passa por um aprofundamento maior nas discussões coletivas desse tema a
nível institucional, procurando identificar os condicionantes na comunidade escolar, as
possibilidades de superação e o planejamento de ações, objetivando a construção do
sucesso escolar nesta comunidade. Concordando com Patto, entendemos o fracasso
escolar, como fenômeno que expressa a complexidade da sociedade atual, produzido
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